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gnóstico geral. José Montserrat Torrents (1990: 57) nos diz que esse líder gnóstico
também foi reconhecido mestre eclesiástico. Valentim esteve em Roma no mesmo
período que Justino, o mártir e Marcião, sendo este também gnóstico, no entanto, só há
a notícia da denúncia de Justino contra Marcião (TORRENTS, 1990: 57).
Vejamos uma exposição da doutrina gnóstica valentiniana:
Eles dizem que existia, nas alturas, invisíveis e inenarráveis, um Éon
perfeito, anterior a tudo, que chamavam Protoprincípio, Protopai e
Abismo. Incompreensível e invisível, eterno e ingênito que manteve
em profundo repouso e tranqüilidade durante uma infinidade de
séculos. Junto a ele estava a Enóia, que também chamavam Graça e
Silêncio. Ora, um dia, este Abismo teve o pensamento de emitir, dele
mesmo, um Princípio de todas as coisas; essa emissão, de que teve o
pensamento, depositou-a como semente no seio de sua companheira, o
Silêncio. Ao receber esta semente, ela engravidou e gerou o Nous,
semelhante e igual ao que tinha emitido e que é o único capaz de
entender a grandeza do Pai. Este Nous é também chamado de
Unigênito, Pai e Princípio de todas as coisas. Juntamente com ele foi
gerada a Verdade e esta seria a primitiva e fundamental Tétrada
pitagórica que chamam também de Raiz de todas as coisas. Ela seria
composta pelo Abismo e o Silêncio, o Nous e a Verdade. O Unigênito
tendo aprendido o modo como foi gerado, procriou, por sua vez, o
Logos e Zoé, Pai de todos os que viriam após ele, Princípio e
formação de todo Pleroma. Por sua vez, foram gerados pelo Logos e
Zoé, segundo a sizígia, o Homem e a Igreja. Esta seria a Ogdôada
fundamental, Raiz e substância de todas as coisas, que por eles é
chamada com quatro nomes: Abismo, Nous, Logos e Homem. Cada
um deles é masculino e feminino, da seguinte forma: inicialmente o
Protopai se uniu, segundo a sizígia, à sua Enóia, que eles chamam
também Graça e Silêncio; depois o Unigênito, também chamado
Nous, uniu-se à Verdade; depois o Logos, à Zoé; por fim, o Homem, à
Igreja. (Adv. haer : I, 1)