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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIÊNCIAS NATURAIS E EXATAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA E
GEOCIÊNCIAS
CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DA PEQUENA
CIDADE: UM ESTUDO SOBRE SÃO SEPÉ - RS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Fabiano Bolzan Scherer
Santa Maria, RS, Brasil
2009
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2
CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DA PEQUENA
CIDADE: UM ESTUDO SOBRE SÃO SEPÉ - RS
por
Fabiano Bolzan Scherer
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Geografia e Geociências do Centro de Ciências Naturais e Exatas,
da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS),
para obtenção do grau de
Mestre em Geografia.
Orientadora: Profª Drª Gilda Maria Cabral Benaduce.
Santa Maria, RS, Brasil
2009
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3
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Naturais e Exatas
Programa de Pós-Graduação em Geografia e Geociências
A Comissão Examinadora, abaixo assinada,
aprova a Dissertação de Mestrado
CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DA PEQUENA CIDADE: UM
ESTUDO SOBRE SÃO SEPÉ - RS
elaborado por
Fabiano Bolzan Scherer
para obtenção do grau de
Mestre em Geografia
Comissão Examinadora
__________________________________________________
Gilda Maria Cabral Benaduce, Drª (UFSM)
(Presidente/Orientadora)
__________________________________________________
Angela Maria Endlich, Drª (UEM)
__________________________________________________
Vilma Dominga Monfardini Figueiredo Drª (UNIFRA)
Santa Maria, 22 de Setembro de 2009.
4
Dedico este trabalho a duas pessoas importantes em
minha vida:
minha mãe e minha irmã por acompanharem-me sem
restrições no decorrer desta trajetória.
5
AGRADECIMENTOS
À Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) por proporcionar a oportunidade de
cursar o Mestrado em Geografia no Programa de Pós Graduação em Geografia e
Geociências, oferecendo moradia e alimentação.
Ao Mestrado em Geografia da UFSM pela formação em nível de Pós Graduação.
À minha orientadora professora Gilda Maria, pelo carinho e amizade e por estar me
conduzindo nesta pesquisa, contribuindo para minha formação profissional.
À minha mãe, pela dedicação e incondicional apoio durante todo tempo, abrindo
mão de muitas possibilidades em meu favor.
À minha irmã, pela amizade e carinho nesta caminhada.
Aos colegas do mestrado da turma 2007, com os quais enfrentei desafios e
obstáculos durante esses dois anos. A amizade ficará em nossos corações, mesmo
depois que nos separarmos.
Aos professores do Programa de Pós Graduação em Geografia e Geociências, que
contribuíram com seus saberes e possibilitaram a minha formação emvel de
mestrado.
À Prefeitura Municipal de São Sepé e a Companhia Riograndense de Saneamento
(CORSAN) pela disposição em fornecer informações e dados para o trabalho da
dissertação.
À Cooperativa Tritícola Sepeense Ltda (COTRISEL) pela atenção e colaboração na
pesquisa, fornecendo informações relevantes.
À professora Sandra Agostini pela companhia e amizade na Casa do Estudante da
UFSM.
Aos colegas professores da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom Pedro I,
na Linha Clara em Teutônia, pelo convívio e amizade.
A Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Teobaldo Closs, pelo
acolhimento na reta final da dissertação.
À todas as pessoas que, de alguma forma ou outra, contribuíram para eu chegar até
aqui.
6
“Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha,
é porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra.
Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha,
e não nos deixa só,
porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós.
Essa é a mais bela responsabilidade da vida
e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso”
(Charles Chaplin)
7
RESUMO
Dissertação de Mestrado
Programa de Pós-Graduação em Geografia e Geociências
Universidade Federal de Santa Maria
CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DA PEQUENA CIDADE: UM
ESTUDO SOBRE SÃO SEPÉ-RS
Autor: Fabiano Bolzan Scherer
Orientadora: Gilda Maria Cabral Benaduce
Data e Local da Defesa: Santa Maria, 22 de setembro de 2009, AnfiB2.
O presente estudo analisa em suas escalas espaciais e temporais os papéis e o uso
do solo urbano da pequena cidade de São Sepé cujas dinâmicas atrelam-se ao setor
agropecuário no qual a cidade está envolvida. Para isso destacam-se os papéis
econômicos desse setor, ligado especificamente a cooperativa COTRISEL. A
realidade dessa cidade se expressa pelos fluxos econômicos provenientes dos
negócios gerados pela cooperativa na região. Nesse contexto, a cidade fruto da
colonização portuguesa, da concessão de sesmarias, foi dominada durante muitos
séculos pelas elites, donas de terras, defendendo seus interesses. A economia de
São Sepé está centrada no setor agrícola, com o comércio e serviços dependendo
deste setor. Destaca-se ainda o agronegócio beneficiando parte da produção
primária, agregando valor aquela produção. Ainda foram analisados, o capital social,
os equipamentos urbanos e a infra-estrutura como forma de averiguar o quanto
aquele tipo de economia foi capaz de gerar empregos, equipamentos ou mesmo
infra-estrutura urbana para a realização de suas atividades.
Palavras - chave: Equipamento urbano; Pequena Cidade; Papéis Urbanos; Uso do
Solo Urbano; São Sepé.
8
ABSTRACT
Master Degree Dissertation
Post-Graduation Program in Geography and Geosciences
Federal University of Santa Maria
CONSTRUCTION OF THE URBAN AREA OF A SMALL TOWN: A
STUDY IN SÃO SEPÉ-RS
AUTHOR: FABIANO BOLZAN SCHERER
ADVISOR: GILDA MARIA BENADUCE CABRAL
Date and Location of Defense: Santa Maria, September 22, 2009,
AnfiB2.
The present dissertation is an analysis in its spatial and temporal scales and the
roles of urban land use in the small town of São Sepé in which dynamic is related to
the agricultural sector in which the city is part. Therefore, there are many roles in the
economic sector, specifically associated to the cooperative named COTRISEL. The
reality of this town is expressed by economic flows from the business generated by
the cooperative in the region. In this context, this town of Portuguese colonization,
the concession the ‘Sesmarias’ (large land properties), for many centuries it was
dominated by elites, owners of land, defending their interests. The economy of São
Sepé focuses on the agricultural sector, with trading and services depending on this
sector. It is also the agribusiness benefit from the primary production, adding that
production value. It was also analyzed, the capital, the urban equipment and
infrastructure in order to verify how this type of economy was able to generate jobs,
equipment or even urban infrastructure to conduct activities.
Keywords: urban equipment, Small Town, Urban Roles; Use of urban land, São
Sepé.
9
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 Mapa de Localização Geográfica do Município de São Sepé, RS Brasil.
..................................................................................................................................17
Figura 2 – Esquema da estrutura de Rede Urbana no Século XX. ...........................28
Figura 3 – Mapa da Distribuição Geográfica da População – RS – 2007. ................39
Figura 4 Mapa de Localização Geográfica das Proncias Geomorfológicas RS.
..................................................................................................................................40
Figura 5 – Mapa de Localização Geográfica das Bacias Hidrográficas – RS ...........42
Figura 6 – Mapa de Localização Geográfica do Tratado de Madrid - 1750...............45
Figura 7 Mapa da Invasão a Capitania de Rio Grande de São Pedro entre 1763-
1776 ..........................................................................................................................46
Figura 8 – Mapa de Localização Geográfica do Tratado de Santo Ildefonso - 1777.48
Figura 9 – Mapa dos Centros Urbanos com mais de 50 mil habitantes – RS ...........58
Figura 10 Mapas dos Municípios do Estado do Rio Grande do Sul em 1809, 1850,
1900 e 1959. .............................................................................................................61
Figura 11 – Imagem de Satélite de São Sepé, RS – 2009........................................65
Figura 12 – Sede das instalações da COTRISEL em São Sepé, RS – 2009............79
Figura 13 – Mapa de localização geográfica das unidades da COTRISEL - RS.......80
Figura 14 – Novas instalações do Supermercado da COTRISEL em São Sepé, RS
2008 ..........................................................................................................................83
Figura 15 – Carta de Uso do solo urbano de São Sepé, RS -1982...........................84
Figura 16 – Imagem de satélite da cidade de São Sepé – 2009...............................85
Figura 17 – Capelas Mortuárias - São Sepé, RS – 2008 ..........................................87
Figura 18 – Praças localizadas no bairro Centro - São Sepé, RS - 2008..................88
Figura 19 Quadra de esporte coberta da escola particular - São Sepé, RS 2008.
..................................................................................................................................89
Figura 20 Campo de futebol junto ao Complexo esportivo PAMADE - São Sepé,
RS - 2008 ..................................................................................................................90
Figura 21 – Escolas de Educação Infantil no bairro Centro - São Sepé - 2008 ........93
Figura 22 – Escola Municipal de Ensino Fundamental Padre Theo, no bairro Tastch -
São Sepé - 2007. ......................................................................................................94
Figura 23 Colégio Estadual São Sepé localizado no bairro Centro - São Sepé -
2007. .........................................................................................................................95
Figura 24 – Escola particular localizada no bairro Centro - São Sepé, RS - 2007. ...96
Figura 25 – Posto de Saúde no bairro Centro - São Sepé, RS - 2007......................97
Figura 26 – Delegacia de Policia e Presídio Estadual de São Sepé, RS - 2007 .......98
10
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – População Total e taxa de crescimento anual da população do Rio
Grande do Sul e do Brasil—1900 – 2007..................................................................36
Tabela 2 RS: Classes de população, número de municípios do Rio Grande do Sul,
de 1980 a 2007. ........................................................................................................37
Tabela 3 RS: População residente população urbana e rural e população total
entre 1970 a 2000. ....................................................................................................57
Tabela 4 RS: o Sepé - Principais Lavouras temporárias das principais culturas,
área plantada (ha) de 2001 a 2007. ..........................................................................67
Tabela 5 RS: São Sepé - número e porcentagem de estabelecimentos Industrial,
bens de consumo duráveis e o duráveis, prestadora de serviços filiados ao CDL -
2007 ..........................................................................................................................68
Tabela 6 RS: Movimentações Financeiras na Microrregião Geográfica de Santa
Maria - 2007 ..............................................................................................................70
Tabela 7 RS: São Sepé - Valor adicionado por atividade econômica e percentual
de 2004 a 2006. ........................................................................................................73
Tabela 8 – RS: População residente no município de São Sepé, de 1970 a 2000. ..75
Tabela 9 RS: População residente por domicílio nos distritos de São Sepé, de
1950 a 2000. .............................................................................................................77
Tabela 10 COTRISEL - Principais produtos comercializados nas cinco unidades
em 2004-2008. ..........................................................................................................82
Tabela 11 RS: São Sepé - Consumo de água por tipo de usuário e categoria da
CORSAN, 2007.......................................................................................................100
11
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Lógica da Organização Espacial das Empresas. ...................................29
Quadro 2 RS: São Sepé - Equipamentos urbanos e infra-estrutura nos bairros -
2008. .........................................................................................................................92
12
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................14
CAPÍTULO 1 – REESTRUTURAÇÃO URBANA E PEQUENAS CIDADES..............18
1.1 Alguns pressupostos teóricos da Geografia Urbana revisando
conceitos..............................................................................................................18
1.2 Rede Urbana...................................................................................................26
1.3 A Pequena Cidade nos Estudos Geográficos .............................................30
CAPÍTULO 2 – CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO NO RIO GRANDE DO SUL ..............35
2.1 Apresentando o território sulino ..................................................................35
2.2 Formação do território sul rio-grandense. ..................................................43
2.3 Bases históricas do surgimento das cidades no Rio Grande do Sul........51
CAPÍTULO 3 – FORMAÇÃO E CONSTITUIÇÃO TERRITORIAL DO MUNICÍPIO DE
SÃO SEPÉ................................................................................................................59
3.1 Bases histórico-geográficas do município de São Sepé - RS. ..................59
3.2 O Espaço geográfico de São Sepé – RS......................................................63
3.3 Bases Socioeconômicas do município de São Sepé .................................66
3.4 Sistema financeiro e bancário em São Sepé...............................................68
3.5 A estrutura da população residente.............................................................74
CAPÍTULO 4 – PAPÉIS URBANOS E USO DO SOLO URBANO DE SÃO SEPÉ ...78
4.1 Diversificação dos papéis da COTRISEL no perímetro urbano sepeense78
4.2 Uso solo urbano de São Sepé ......................................................................84
4.3 Equipamentos Urbanos e Infra Estrutura dos Bairros da Cidade São
Sepé (RS)..............................................................................................................86
4.3.1 Capela Mortuária.......................................................................................86
4.3.2 Praças.......................................................................................................87
4.3.3 Quadras de Esportes Cobertas.................................................................88
4.3.4 Área Verde ................................................................................................89
4.3.5 Campo de Futebol.....................................................................................89
4.3.6 Passeio Público.........................................................................................90
4.3.7 Telefone público........................................................................................91
4.3.8 Escolas de Educação Infantil ....................................................................93
4.3.9 Escola Municipal .......................................................................................94
4.3.10 Escola Estadual.......................................................................................94
4.3.11 Escola Particular .....................................................................................95
4.3.12 Posto de Saúde.......................................................................................96
4.3.13 Calçamento .............................................................................................97
13
4.3.14 Posto Policial...........................................................................................98
4.3.15 Coleta de lixo ..........................................................................................98
4.3.16 Iluminação pública e Energia. .................................................................99
4.3.17 Esgoto - Água .........................................................................................99
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................101
REFERÊNCIAS ........................................................................................................103
14
INTRODUÇÃO
Decorrente da dinâmica contida nos processos sociais, econômicos e
políticos, a urbanização registra um dos fenômenos mais importantes do século XX
e no século XXI. Transformações na relação cidade-campo, no crescimento das
cidades, na hierarquização da rede urbana, nos papéis urbanos são algumas das
manifestações ocorridas ao longo dos séculos em questão.
A cidade passa a ser o lugar concentrador das atividades comerciais,
industriais e de serviços e, portanto, de mão de obra. A população se concentra com
tamanha proporção nas cidades, que se propagam os valores, símbolos e bitos
urbanos, difundindo-se em todos os lugares e não especialmente no urbano, o que
permite dizer, que o processo de urbanização está longe de perder sua vitalidade,
pois ainda continua crescendo mundialmente.
A hierarquização da rede urbana altera-se permitindo à pequena cidade ser
vista não pelo seu tamanho populacional, mas como o lugar de possibilidades
econômicas, sociais e culturais, não ficando isenta nesse processo de urbanização.
Por sua vez, os seus papéis urbanos adquirem visibilidade e dinâmica. Desta forma,
as pequenas cidades relacionam-se estabelecendo fluxos com cidades conectadas,
sejam elas médias, metropolitanas regionais e/ou nacionais.
Determinar os papéis urbanos de uma cidade passa pela leitura das suas
conexões com o mundo exterior, com os fluxos existentes no/do seu território. Nesse
sentido, São Sepé, localizada na região central do estado, apresenta ampla
circulação rodoviária, ligando-se com o Porto de Rio Grande pela BR 392 e com a
capital do Estado pela BR 290 e com a fronteira pela mesma rodovia. Esta ampla
circulação lhe confere uma posição privilegiada em relação às trocas comerciais.
Tratando-se de uma cidade eminentemente prestadora de serviços para a
população local, vinculada direta ou indiretamente às atividades rurais, logo seus
papéis urbanos se conjugam a estas atividades representando baixa complexidade,
mas movimentando grandes volumes financeiros em relação ao conjunto
populacional.
Embora as pequenas cidades representem o maior número no território
brasileiro, ainda são poucos os estudos urbanos sobre suas dinâmicas. Tal realidade
motivou, em parte, essa pesquisa sobre São Sepé (Figura 1) cujo recorte territorial
15
transcende a cidade (pequena cidade, não pelo tamanho populacional, mas, pela
dimensão de seus papéis urbanos), analisando o município
1
de São Sepé.
O atual recorte municipal resultou de conquistas territoriais no sul brasileiro
entre portugueses e espanhóis, cujas invasões foram motivadas por territórios a
serem ocupados e colonizados. A formação, o traçado urbano de São Sepé, ocorreu
nos moldes da colonização portuguesa, cujas atividades de agricultura e pecuária
estiveram nas bases econômicas.
Ao longo dos séculos XIX e XX, o município de São Sepé exerceu papéis
representando essencialmente os interesses das elites. Ele surge, sobretudo,
influenciado pelos interesses e pelos embates entre estancieiros, os quais lutavam
por melhores condições para reproduzir suas práticas (domínio do território).
Contudo, essa situação tende a mudar na metade do século XX, quando
são eminentes novos desmembramentos territoriais. O município perde parte
importante não do território, mas da população ali estabelecida, como os distritos
de Formigueiro e Vila Nova do Sul.
O setor agrícola, representado pela agropecuária, é composto por cabanhas -
melhoramento genético - por criação do gado de corte e leiteiro, por criação de
cavalos crioulos e por lavouras com vários cultivares. Neste setor, ressalta-se a
COTRISEL (Cooperativa Tritícola Sepeense S.A.), cooperativa beneficiadora do
arroz (principal cultivo da região), armazenando e comercializando também a soja.
Além disso, a COTRISEL atua também em outros setores ligados ao comércio,
como supermercado, posto de gasolina e loja de insumos agrícolas e ao setor da
comunicação, tendo a concessão de uma rádio.
Objetivando analisar e discutir os papéis urbanos, resgatou-se uma
construção do espaço sul rio-grandense como forma de compreender a própria
história do município em questão. Também se buscou verificar a abrangência das
ações públicas na criação de infra-estrutura e equipamentos necessários para a
reprodução de suas funções urbanas, bem como para abrigar seu capital social a
população.
1
Endlich (2006, p. 302) afirma “Oficialmente, no Brasil, o município corresponde a uma pessoa
jurídica de direito público interno, participante do sistema federativo nacional, como um dos seus
níveis de governo e com autonomia para gerir os assuntos de seu interesse. No âmbito territorial,
existem também os distritos, que não são pessoas jurídicas, mas divisões administrativas do
território municipal. O município brasileiro tem como domicílio civil sua sede e uma sede jurídica que
é a comarca, não existente em todos os municípios. Na prática, a comarca representa os serviços
jurídicos na escala local”.
16
Para atingir aos objetivos propostos neste trabalho, o mesmo foi dividido em
quatro segmentos ou capítulos.
O primeiro capítulo, sem a pretensão de esgotar a temática, observou as
várias interpretações a respeito do urbano - cidade conceituando-os como forma de
construir o arcabouço teórico da pesquisa.
O segundo capítulo procurou fragmentos do povoamento e da urbanização
sul rio-grandense para fundamentar a estruturação do espaço sepeense até a
atualidade.
O terceiro capítulo foi pensado com o propósito de conhecer as
particularidades da formação e constituição do município levando em consideração
tais fenômenos como suportes para a realidade que se constitui.
E, por fim, o quarto capítulo resultou dos estudos anteriores, os quais
abordam os papéis urbanos da cidade em relação ao seu exterior, bem como os
equipamentos e as infra-estruturas alocadas ao longo da sua história econômica e
política.
17
Figura 1 Mapa de Localização Geográfica do Município de São Sepé, RS
Brasil.
Fonte: FEE (2008).
Elaboração: CAPOANE, V.
Org.: SCHERER, F. B.
18
CAPÍTULO 1 – REESTRUTURAÇÃO URBANA E PEQUENAS
CIDADES
“De uma cidade, não aproveitamos as suas sete
ou setenta e sete maravilhas, mas a resposta que
dá as nossas perguntas. Ou as perguntas que nos
colocamos para obrigar a responder”.
(Ítalo Calvino, As cidades invisíveis, 1990, p. 44).
As dinâmicas espaciais têm gerado mudanças muito rápidas e os espaços
urbanos se reestruturam gerando novos arranjos. Nesse sentido, identificam-se, ao
longo do século XX, mudanças na rede urbana e nas redes de cidades. As
reflexões, ora necessárias, apontarão para aspectos teóricos da Geografia,
especialmente no que concerne a produção urbana. Ainda merecem destaque as
abordagens sobre a rede urbana, enfatizado a rede de cidades, o significativa
neste mundo globalizado.
1.1 Alguns pressupostos teóricos da Geografia Urbana – revisando conceitos.
Em se tratando de conceituar, não poderia deixar de falar a respeito do
conceito de espaço, discutido na obra de Santos, e, em especial, o urbano, para
nortear as reflexões neste momento.
O espaço é um dos conceitos mais empregados na ciência geográfica,
considerado por alguns pesquisadores como o principal conceito. Santos, ao longo
de sua trajetória acadêmica, elaborou vários conceitos, discutindo inclusive o nome
da Geografia para Espaciologia
2
. O pensar sobre o conceito de espaço é importante
para o entendimento do urbano e da cidade conforme explica Santos (1997b, p. 70)
“(...) a noção de espaço parece fundamental para chegar a essa desejada história da
cidade; e a história do urbano que seja muito bem posta à noção de periodização”.
2
Milton Santos propôs do nome da Geografia para Espaciologia no seu livro Por uma Geografia
Nova: da crítica da Geografia a uma Geografia Crítica, publicado em 1978. Essa proposta não foi
bem aceita pela comunidade geográfica.
19
Ainda Santos (1997b, p.70) complementa “O estudo da cidade exige a necessidade
de articular o conceito de espaço, sem o que nem mesmo saberemos do que vamos
tratar. O espaço é uma categoria histórica e, por conseguinte, o seu conceito muda,
já que aos modelos se acrescentam novas variáveis no curso do tempo”.
A sociedade é indissociável do espaço, pois é transformada e ao mesmo
tempo, é resultante deste. Santos (1997, p. 49) enfatiza “A sociedade pode ser
definida através do espaço, que o espaço é o resultado da produção, uma
decorrência de sua história mais precisamente, da história dos processos
produtivos impostos ao espaço pela sociedade”. O espaço compreende a sociedade,
a qual reproduz suas necessidades e o seu modo de organização.
O espaço urbano o é um espaço homogêneo. Corrêa (2004) discute sobre
a articulação e a fragmentação no espaço urbano. Para este autor, ocorre ao mesmo
tempo articulação e fragmentação e, ainda, considera o espaço da cidade
condicionante e reflexo da sociedade. Dentro da cidade pode haver mais de um
núcleo, dificultando a construção da identidade urbana comum. Ao tratar da cidade
polinucleada, Sposito associa com a identidade urbana
A cidade polinucleada inviabiliza a própria constituição de uma identidade
urbana para seus habitantes e permite a construção de diferentes
representações de cidade, definidas não apenas pelo padrão
socioeconômico de seus moradores, mas pela localização que ocupam e
pelos lugares que vivenciam na trama de fluxos que se estabelecem no
interior dessas grandes áreas urbanas (SPOSITO, 2004, p. 95).
A fragmentação é decorrente das manifestações presentes na cidade. O
desenho da cidade acaba representando este processo. A cidade pode colaborar
para a ocorrência da fragmentação, sendo que os habitantes da cidade convivem e
até se reconhecem. Trindade Júnior explica
A cidade, que se fragmenta através das práticas espaciais e das
representações que se fazem em relação a ela, não mais existe, senão
como resíduo que o morador-usador-cidadão busca recuperar, quando
rejeita os rótulos de simples habitante, usuário e consumidor, integrantes de
redes de ação que pouco o valorizo como sujeito politicamente ativo
(TRINDADE JÚNIOR, 2001, p. 151).
Carlos (2004, p. 79) entende de forma diferenciada o espaço urbano,
explicando “(...) o espaço urbano é produto da materialização de relações sociais
que se realizam num determinado momento enquanto emprego de tempo”. As
20
relações sociais constituem-se importantes para compreensão do espaço, tornando
as dinâmicas sociais capazes de transformar e construir seu espaço.
As transformações do espaço urbano podem ser entendidas através de suas
partes, no entanto, sua totalidade é necessária. Neste contexto, resgata-se Trindade
Jr. (1996, p. 139) que esclarece “Considerando que as formas espaciais objetivam
na paisagem a dinâmica da sociedade, é possível, a partir delas e de suas funções,
compreender a dinâmica espacial, desde que situadas em face dos processos e da
estrutura social”.
Parece oportuno estabelecer, alguns conceitos, dos quais a Geografia se
utiliza e constrói a sua própria ciência. No bojo dessa discussão, e
concomitantemente ao delineamento da estruturação metodológica dessa pesquisa,
o arcabouço teórico metodológico define alguns conceitos importantes para entender
a temática, especificamente os conceitos de urbanização/urbano/cidade, que muito
freqüentemente, se confundem ou usam como sinônimos este termos.
Em primeiro lugar entende-se por urbanização aquela inerente a sociedade
de classe impulsionada pelo capitalismo, e, portanto, da estruturação de classes, da
divisão social do trabalho, dinâmicas as quais se materializam na cidade com
dimensões no espaço.
Sposito (2004, p. 40) explica a importância do capitalismo para o processo de
urbanização, dizendo que “A cidade assumiu, com o capitalismo, uma capacidade
de produção, que a diferenciava totalmente do processo da urbanização ocorrido na
Antiguidade”.
Singer (1973, p. 13) afirma “A constituição da cidade é, ao mesmo tempo,
uma inovação na técnica de dominação e na organização de produção”. O sistema
de produção capitalista realiza-se especialmente na cidade, sendo inoportuno
dissociar e separá-lo dela, pois na atual configuração é um sistema econômico
vigente na maior parte do mundo.
A urbanização não é um fato em si, mas um processo permeado pela
dimensão histórica e espacial cujas dinâmicas geram formas e conteúdos. Assim, a
urbanização, como o processo, suscita mudanças nos papéis desempenhados pelas
cidades. Nesse bojo, a cidade é a manifestação concreta desse processo, é a
materialização desse processo. Se a cidade é manifestação concreta desse
processo, pode-se atribuir ao urbano, aquele que gera os papéis desempenhados
pela cidade (fluxos, atividades e nexos).
21
Pela magnitude do processo de urbanização e pelos novos arranjos
processados por ele, desencadeia-se também a formação e a constituição de redes
urbanas, as quais se articulam redesenhando as paisagens urbanas.
Neste contexto, Sposito (2004, p. 66) aborda “A ampliação do processo de
urbanização (aumento do número de cidades e formação de grandes áreas
metropolitanas) determina a articulação entre os lugares e acentua a divisão social
do trabalho que o capitalismo provoca e de que necessita para se reproduzir”.
Davidovich ressalta
O desenvolvimento de base urbano-industrial constituiu em suporte da
chamada “modernização conservadora”, que produziu grandes
transformações na produção, na divisão do trabalho social entre setores
urbanos em expansão e oligarquias rurais e na conformação do território,
enquanto atividades anteriores, de caráter artesanal e doméstico, passaram
progressivamente a ser marginalizadas (DAVIDOVICH, 1995, p. 79).
O desenvolvimento do capitalismo, a divisão do trabalho, tem permitido que o
processo de urbanização se acelere em níveis imagináveis. Soja (1993, p. 123)
afirma “O processo de urbanização, não é autônomo e sim parte integrante da
espacialização envolvente e instrumental no desenvolvimento histórico do
capitalismo”.
Nessa linha, Endlich (2006b, p. 22) enfatiza “A urbanização tende a apagar a
distinção cidade-campo, mas em decorrência da maneira contraditória como ocorre,
com o império do valor de troca e com a permanência de ilhas de ruralidade”.
Certamente manifestações decorrentes dessas contradições e das formas como as
sociedades se articulam nesses espaços.
Carlos (2004, p. 83) lembra “(...) o processo de urbanização da sociedade faz-
se de modo ininterrupto, porém sucessivamente”. Assim, seus estudos devem ser
contínuos e sucessivos para poder fazer uma análise. Busca-se em Seabra (1997, p.
61) “O estudo da urbanização contemporânea tem que almejar os conteúdos mais
escondidos, as relações mais finas para que se possa avançar na questão do
método, compreendendo momentos e níveis dessa urbanização, descobrindo os
seus limites e indagando sobre as utopias possíveis”.
Com a aceleração do processo de urbanização e de produção, uma
redefinição nos papéis desempenhados pelas cidades, aumentando a mobilidade
22
interna, com novos conceitos de acessibilidade e introdução de arranjos espaciais
no território brasileiro na reorientação dos fluxos materiais e imateriais (Silva, 2006).
Assim, a urbanização redefiniu os papéis dos espaços urbanos, cujos fluxos
se alteraram numa nova direção. Outros fatores contribuíram para a urbanização,
como a mecanização do campo, a qual liberou mão-de-obra e aumentou a
população das cidades. Callai sintetiza (1993, p. 52) “A urbanização é um fenômeno
que toma conta de todo o espaço disponível. Com os avanços da tecnologia e das
pesquisas científicas na área de produção agropecuária, novos contingentes de
mão-de-obra do campo são liberados para as cidades”.
A urbanização no Brasil com base em Santos (1993) pode ser caracterizada
como uma concentração desconcentrada com a formação de um meio técnico-
científico informacional. Esse meio é permeado pelos espaços brasileiros. Nesse
processo estaria ocorrendo uma desmetropolização, ou seja, outras cidades do
território brasileiro estariam crescendo mais em relação às metrópoles.
Santos (1993, p. 121) lembra “A urbanização crescente é uma fatalidade
neste País, ainda que essa urbanização se dê com o aumento do desemprego, do
subemprego e do emprego mal pago e a presença de volantes nas cidades dias
e nas cidades pequenas”. Ainda sobre a urbanização brasileira, Davidovich constata
É preciso reconhecer que a urbanização no Brasil “deu certo” para o
crescimento econômico pretendido. Entre 1945 e 1980, o PIB aumentou em
mais de dez vezes, o incremento da indústria alcançou 9% ao ano, em
certos períodos, e os engajados nesse setor passaram de 275 mil em 1920
para onze milhões em 1980. As áreas urbanas vieram a concentrar dois
terços da população brasileira, correspondendo a uma taxa média
geométrica de crescimento anual do contingente urbano de 4,4%, enquanto
a da população total foi de 2,5% (DAVIDOVICH, 1995, p. 80).
Os estudos sobre a cidade são densos e as diversas formas de interpretá-las
são muito profícuas, pois de certa maneira propiciam análises diferenciadas sobre
essa temática. Mesmo na Geografia, constata-se uma multiplicidade de abordagens
nesta temática. Carlos (2004) alerta sobre a inexistência de uma forma de pensar a
cidade e o urbano, contribuindo assim para uma diversidade de idéias profícuas para
o entendimento e análise sobre a temática. Ainda, segundo esta autora,
A realidade urbana nos coloca diante de problemas cada vez mais
complexos, que envolve o desvendamento dos conteúdos do processo de
urbanização, hoje, uma tarefa que deve ser coletiva, através de um debate
23
fundado contemplando várias perspectivas teórico-metodológicas, como
possibilidades abertas com a pesquisa urbana em Geografia. Por outro
lado, não se pode ignorar o conhecimento acumulado sobre a cidade que
contempla um profícuo debate interdisciplinar como esforço das ciências
parcelares na direção de sua elucidação (CARLOS, 2004, p. 18).
Mas, a grande parte dos estudiosos concorda que o tempo é uma variável a
ser considerada quando se pretende estudar a cidade e o urbano. As
temporalidades são sucessões de acontecimentos em determinado tempo histórico.
A importância das diversas temporalidades no estudo sobre a cidade ficou evidente
nas palavras de Santos
A cidade é, ao mesmo tempo, uma região e um lugar, porque ela é uma
totalidade, e suas partes dispõem de um movimento combinado, segundo
uma lei própria, que é a lei do organismo urbano, com o qual se confunde.
Na verdade, há leis que se sucedem, denotando o tempo que passa e
mudando as denominações desse verdadeiro espaço-tempo que é a cidade
(SANTOS, 1997b, p. 71).
As pesquisas e os estudos nos quais são tratados os fenômenos urbanos e
as cidades mostram-se dinâmicos, pois se alteraram ao longo da sua trajetória.
Alguns autores fazem inferências sobre as diferenças de papéis desempenhados
pela cidade e sua função. A respeito da existência das cidades no mundo, George
comenta
A existência das cidades é um fato muito antigo na maior parte do mundo.
Ainda se discute sobre a questão de saber se é realmente verdade que a
África Central, até o presente considerado desprovidas de cidades, nunca
conheceu civilização urbana antes do período colonial. Em outros lugares, a
cidade ou as ruínas das cidades estão presentes em toda parte. Mas as
cidades atuais pertencem de fato a diversas gerações, que se distinguem
tanto em relação aos ritmos de crescimento quanto ao aspecto urbano
(GEORGE, 1983, p. 22).
Em certas situações entender a cidade passa pelo conhecimento do passado,
pelas suas lógicas e pelas transformações espaciais, cujos papéis se alteram
substancialmente, por isso a necessidade de compreender o processo para
estabelecer discernimentos. Geiger (1995, p. 23) diz “A cidade é um objeto
conceitual, abstrato, embora construído sobre uma base material formada por
edificações, arruamentos, monumentos, etc”. A compreensão da cidade exige um
conjunto de processos em questão a ser considerados pelos pesquisadores. Nesse
sentido, Sposito (2004, p. 11) menciona “Entender a cidade de hoje, apreender quais
24
processos dão conformação à complexidade de sua organização e explicam a
extensão urbanização neste século, exige uma volta às suas origens e a tentativa de
reconstruir, ainda que de forma sintética, a sua trajetória”.
Diversos autores comungam com a idéia das várias dimensões apresentadas
pela cidade. Dentre estes autores, destaca-se Lefebvre (1991, p. 65), que enfatiza
“A cidade tem uma dimensão simbólica, paradigmática e sintagmática”. Desta forma,
as questões culturais, sociais e econômicas podem se enquadrar dentro das
dimensões citadas pelo autor.
Beaujeu-Garnier (1997, p. 28) conceitua cidade dizendo: “A cidade é um
conjunto complexo: é, simultaneamente, ela própria (existe uma estrutura espacial,
social, econômica) e um intermediário, uma engrenagem num outro conjunto, o das
relações com o exterior”. A autora entende a cidade pelo viés da estrutura com suas
relações locais e regionais.
Outro conceito é dado por George (1983, p. 62) quando diz ser a cidade “(...)
caracterizada por suas coordenadas geográficas, a cidade é definida por certo
número de critérios descritivos, que a diferencia da aldeia, inserem-na em categorias
sistemáticas ou regionais, e introduzem o estudo de suas categorias”. O autor
apresenta uma conceituação diferente de Beaujeu-Garnier, com enfoque mais
descritivo e regional.
Assim, para Souza (2007), a cidade representa o concreto, sendo este
composto por objetos e estes são, muitas vezes, produtos da e para a sociedade,
visto as suas necessidades em um mundo globalizado. Souza compreende
A cidade é uma obra humana. Ela é um mundo de objetos, produzidos
segundo procedimentos, determinados por materialidades e regidos por
intencionalidades precisas. A cidade é uma intencionalidade. Isto, portanto,
quer dizer que a cidade é uma negação da natureza, daquilo que é físico
(SOUZA, 2007, p. 04).
O sistema capitalista encontrou na cidade a sua melhor forma de se
reproduzir e expandir. A importância das cidades no sistema capitalista foi desde a
formação deste sistema. A industrialização, outro fenômeno importante, ocorreu na
cidade, porém provocou grandes mudanças no campo. George (1983, p. 25) aborda
sobre a relação da industrialização com o desenvolvimento urbano dizendo “O
principal motor do desenvolvimento urbano no século XIX é a industrialização (...).
Mas a industrialização é um fenômeno tecnológico com múltiplas ressonâncias
25
econômicas e sociais”. O processo de industrialização foi importante, gerando
transformações tanto no campo quanto na cidade. Endlich afirma
Concomitantemente, o duplo processo-industrialização/urbanização
promoveu uma explosão/implosão da cidade. Esse processo de
explosão/implosão da cidade verificou-se no crescimento populacional, bem
como no crescimento territorial da cidade, que perdeu, entretanto, seus
atributos mais antigos (ENDLICH, 2006b, p. 21).
As escalas locais e regionais se entrelaçam em diferentes níveis sobre as
cidades. Sobre essa temática, George (1983, p. 206) comenta sobre a cidade e o
conjunto regional no qual afirma “(...) a cidade está à frente dos múltiplos sistemas
de serviços de interesse regional. Ela propaga ao seu redor, capitais, produtos
industrializados; organiza a vida coletiva rural em seus quadros administrativos,
difunde as técnicas e os serviços de nível elevado”.
A definição da cidade muitas vezes pode estar associada somente ao urbano.
Silva (1997, p. 85) diz “A cidade é a matriz do urbano um modo de vida que
contém todos esses elementos e outros mais. O urbano universaliza a cidade, cria
marca”.
A cidade de São Paulo, no quadro urbano do Brasil se configura como
principal sistema, por ser o local da articulação econômica do país com a cidade
mundial. A cidade do Rio de Janeiro teve reduzida sua atuação regional pela
transferência da capital nacional para centro do país Brasília (Geiger, 1995). As
dinâmicas das cidades o feitas pela sociedade, com suas formas de
transformação do espaço urbano para atender seus interesses.
A sociedade e suas dinâmicas dão sentido à cidade e a transformam,
conforme suas necessidades, sendo também influenciada pelo sistema político e
econômico. Esse sistema tem gerado diversas manifestações no espaço urbano,
seja para atender aos interesses das elites locais como para construir seu ideário.
Observam-se interesses de classes traduzidos no fazer a cidade, no fazer urbano,
mudando seu caráter homogêneo, muitas vezes atribuindo-lhe as funções à cidade.
Nesse sentido, a cidade pode ser considerada o locus” da oportunidade, também o
lugar da reprodução de movimentos sociais, do shopping Center, das favelas, da
violência. Ela expressa as contradições humanas, ao mesmo tempo que é um lugar
de reivindicações, estas geradas pelas ações dos atores.
26
A reprodução do espaço urbano está ligada à forma de uso e ocupação
conjuntamente com as ações de transformação de seus atores. Ainda segundo
Carlos,
O espaço urbano enquanto produto social em constante processo de
reprodução nos obriga a pensar a ação humana enquanto obra continuada,
ação reprodutora que se refere aos usos do espaço onde tempos se
sucedem e se justapõe montando um mosaico que lhe forma e impõe
característica a cada momento (CARLOS, 2004, p. 80).
A segregação sócio-espacial é um processo presente nas cidades brasileiras
e gera as diferentes classes e grupos sociais. O aumento da pobreza tem sido cada
vez maior nas cidades brasileiras e, conforme Geiger (1995, p. 33), “Há algumas
décadas, a pobreza no Brasil se concentrava no campo e em pequenas e médias
cidades desprovidas de iniciativas empresariais”.
A complexidade e a intensidade das relações ocorridas na cidade refletem os
diversos interesses (locais e globais) e se conjugam e se mesclam no espaço
urbano. Sposito (2004, p. 36) explica “O desafio que se apresenta é o de pensar
como podemos participar do processo de gestão do território da cidade em um
período em que as determinações de escala ampla interferem nesse processo”. Por
isso, a gestão das cidades, em nível da escala do local, não pode perder de vista a
escala global, pois certamente, tem significativas interferências na realidade local.
O risco da conceituação fica evidente nas várias abordagens identificadas,
pois dependem da temporalidade do fenômeno estudado e da sua metodologia.
1.2 Rede Urbana
A importância das redes urbanas deriva do significado que o processo de
urbanização passou a ter, especialmente a partir do século XIX, refletindo e
condicionando transformações na sociedade (Corrêa, 1989). Corrêa (2003) aponta
uma das escalas conceituais do urbano, que é a escala da rede urbana, entendendo
ser a rede urbana o conjunto funcionalmente articulado de cidades. Corrêa
considera
27
Das funções e fluxo emergente uma diferenciação entre as cidades, que se
caracterizado por ser de natureza hierárquica, com base no diferencial de
oferta de bens e serviços, combinada com diferenças devido às
especializações funcionais, geradoras de relações de complementaridade
entre cidades (CORREA, 2003, p. 135).
A rede urbana a partir das dinâmicas territoriais constitui os fluxos existentes
entre os espaços urbanos. Dessa forma, a extensão territorial da cidade é
insuficiente para inserir-se na rede. O tamanho da cidade não mais define sua
relevância e função. As redes urbanas apresentam hierarquias urbanas, no entanto,
estas hierarquias possuem especificidades. Na atual rede urbana, as cidades
pequenas, médias e metrópoles estão em níveis similares, visto que a regulação é
dimensionada pela intensidade dos fluxos do urbano que é capaz de absorver
(Scherer; Benaduce, 2007).
Santos (1979b, p. 47) considera “(...) a rede urbana é um conjunto de
aglomerações produzindo bens e serviços junto com uma rede de infra-estrutura de
suporte e com os fluxos que, através desses instrumentos de intercâmbio, circulam
entre as aglomerações”. Porém, Corrêa (1989, p. 8) considera a rede urbana “um
conjunto de centros funcionalmente articulados, tanto nos países desenvolvidos
como subdesenvolvidos, reflete e reforça as características sociais e econômicas do
território, sendo uma dimensão sócio-espacial da sociedade”. Os autores citados
concordam ser a rede urbana um conjunto articulado, cujas aglomerações urbanas,
cidades em vários níveis de complexidade, conjugam-se no espaço urbano.
Nesse sentido, não mais se estabelecem ou não se constitui níveis
hierárquicos entre as cidades, mas uma rede urbana, cuja relação depende do grau
de complexidade da relação entre demanda e consumo. No esquema abaixo (Figura
2), delineia-se a rede urbana no século XX. Em meados deste século, a rede urbana
se desenvolvia com base em uma lógica territorial. A cidade local apresentava uma
relação com o centro regional; este por sua vez se relacionava com a metrópole
regional. No final do século passado, outras lógicas se estabelecem e a rede urbana
se constituiu mais flexível: a cidade local poderia apresentar fluxos diretos não
apenas com o centro regional, mas também com a metrópole regional e nacional,
gerando um circuito imediato.
28
Figura 2 – Esquema da estrutura de Rede Urbana no Século XX.
Fonte: SANTOS, M. (1979).
Org.: SCHERER, F. B.
As alterações ocorridas no período analisado centraram-se na divisão social
do trabalho, as relações de trabalho e as formas de trabalho nos espaços
globalizados. Segundo Santos,
(...) a mudança de nível da rede rodoviária e a rapidez maior das
comunicações, vão provocar uma transferência de papel do que até os anos
60 chamávamos de cidade média. Hoje uma cidade intermediaria exige uma
dimensão econômica e demográfica bem maior talvez uns 100 000
habitantes. A cidade local se define como o lugar capaz de responde à
totalidade das demandas mínimas de toda a população residente nela e sua
área de influência. A cidade média a que prefiro chamar de intermediária
fica num patamar entre o consumo mínimo e o consumo mais exigente
sofisticado ou raro provido pela metrópole. As noções de cidade local
cidade media, metrópole, variam com os níveis de desenvolvimento e de
consumo. Isto, aliás, nos obriga a utilizar com circunspeção nas curvas
estatísticas das populações urbanas com cifras comparáveis (SANTOS,
1984, p. 3).
Conforme visto, as transformações socioeconômicas geram diferentes
papéis no espaço urbano. As mudanças ocorridas produzem lógicas de organização
espacial das empresas, refletido nas várias formas de utilização do espaço urbano.
O Quadro 1 mostra de forma sucinta estas diferentes lógicas de organização
espacial das empresas, no sistema urbano e na cidade.
29
Lógica da
Organização: níveis
e aspectos
Territorial Competitiva Em Rede
Sistema Urbano
Princípios Dominação Competitividade Cooperação
Estrutura Hierarquia embotada
(Christaller)
Especialização Redes de Cidades
Setores Agricultura, adm. Pública,
atividades terciária
tradicionais, econ. de
escala.
Ind. distrito, ind. de rede
especialização.
Atividades terciárias
avançadas.
Eficácia Economia de escala Integração vertical/horizontal Externalidades da rede
Estratégias de intervenção
pública
Nenhuma: tamanho
determina a função
Tradicional/nenhuma: base de
exportação determina o
crescimento. Hoje: reforço da
vantagem competitiva de cada
centro
Cooperação interurbana;
construção das redes de
infra-estrutura
Objetivos de cooperação
interurbana
Nenhuma (exceção dos
objetivos militares ou
diplomáticos)
Divisão interurbana do trabalho Colaboração econômica,
tecnológica e infra-estrutura
Rede de cidades Rede hierárquica vertical Rede de complementaridade Rede de sinergia e inovão
Cidade
Natureza Cidade tradicional Cidade fordista Cidade informatizada
Forma Homogeneidade interna
relativa
Zoneamento monofuncional Zoneamento multifuncional
Objetivos de política urbana Poder e imagem Eficácia interna (cidade a
Korlogerie)
Eficácia exterior e
atratividade
Símbolos Palácio, catedrais, mercado Chaminés, arranha-céus Aeroporto, feira
Quadro 1 – Lógica da Organização Espacial das Empresas.
Fonte: CAMAGNI (1993 apud BENADUCE, 1999).
Adap. e Org.: SCHERER, F. B.
No Quadro 1, é apresentada a organização espacial do sistema urbano e da
cidade em diferentes lógicas de organização, níveis e aspectos. Quanto à lógica de
organização, pode ser territorial, competitiva e em rede. A territorial está no período
fordista, a competitiva no toyotista e em rede no pós-toyotista. Nesta última lógica, o
meio técnico científico informacional se insere. No sistema urbano, temos desde
uma estrutura baseada nos lugares centrais de Christaller, passando por uma de
especialização e mais recente, a de Redes de Cidades. Em cada um destes
sistemas urbanos características distintas. Quanto a Cidade, três naturezas
com forma, objetivos de política urbana e símbolos diferenciados. Em cada lógica da
organização símbolos que se materializam, como por exemplo, na territorial, são
as catedrais e palácios; na competitividade, são as chaminés e os arranha-céus; e
na rede, constituem-se símbolos o aeroporto e a feira. As temporalidades permeiam
estas lógicas da organização espacial do espaço urbano e da cidade.
Pensando na importância que certamente recai sobre as pequenas cidades
neste atual período de globalização, lança-se um olhar sobre elas no território rio-
grandense e observa-se pequenas localidades ou vilas. Quais são as dinâmicas
30
presentes nestes fatos? Qual (is) processo(s) está (ão) implícito(s) neste quadro?
Questões suscitam estudo e análise da pequena cidade, conforme segue.
1.3 A Pequena Cidade nos Estudos Geográficos
Os estudos sobre pequenas cidades
3
têm sido muito pouco explorados pela
Geografia. As pesquisas sobre cidades metropolitanas e cidades médias se
encontram em um nível teórico e epistemológico mais pesquisado. Pensar sobre a
pequena cidade
4
no Brasil vai além do tamanho de sua população, envolve a
complexidade de suas relações econômicas e políticas frente a um contexto
regional. Muitas classificações utilizam ainda o tamanho da população como forma
de tipificar as cidades no Brasil, como é o caso do IBGE, e estas classificações são
válidas para os objetivos que se propõem estes trabalhos. Quais os critérios ou
parâmetros adotar referente à discussão conceitual e metodológica para caracterizar
a grande, média e pequena cidade?
Santos (1979b) prefere chamar cidade local em vez de pequena cidade, pois
associa esta denominação à noção de volume de sua população. O mesmo autor
(1979b, p. 71) conceitua “A cidade local é a dimensão mínima a partir da qual as
aglomerações deixam de servir às necessidades da atividade primária para servir às
necessidades inadiáveis da população, com verdadeira especialização do espaço”.
A cidade local, conceituada por Santos, não pode ser determinada pelos índices
populacionais, mas pelas dinâmicas que compõem no conjunto da rede urbana,
muitas vezes, atendendo as necessidades básicas da população local.
Santos (1993) considera as aglomerações urbanas com mais 20.000
habitantes cidades locais. Essas aglomerações apresentaram índices de
crescimento da população urbana notáveis nas cadas de 1960 a 1980. As
aglomerações urbanas com mais de 100.000 habitantes se encaixam nas cidades
médias, com formação de centros regionais, havendo expansão e diversificação de
3
Fresca (2001) em seu artigo nota a ausência de estudos sobre a pequena cidade nos livros
didáticos de geografia e defende-os no ensino de geografia.
4
Figueiredo (2007) faz resgate dos trabalhos publicados em periódicos sobre pequena cidade bem
como apresenta as classificações do tamanho das cidades na visão de vários autores e instituição.
Para tanto utiliza quadros em sua apresentação
31
consumo, elevação dos níveis de renda e difusão dos transportes modernos. A
identificação de uma pequena cidade envolve um conjunto de critérios como
tamanho de população, densidade demográfica, dinâmica econômica.
George (1968 apud FIGUEIREDO, 2007) identifica a pequena cidade como “o
agrupamento denso de habitações no interior do quais todos os deslocamentos, aí
incluídos os deslocamentos funcionais, se fazem a pé, cujos limites podem ser
atingidos, de um ponto qualquer da superfície edificada, em menos de 20 minutos de
marcha e onde o recurso para os transportes públicos diz respeito às relações com o
exterior”. Os critérios adotados por George não consideram o tamanho da população
e sim os deslocamentos e como estes deslocamentos são feitos dentro da cidade.
Tal conceituação reforça a idéia de movimento, de trocas, estabelecendo um nível
de representatividade e de fluxos com o exterior.
No conjunto da população, as pequenas cidades representam uma parcela
muito reduzida em relação à população total brasileira, porém o número de
municípios com uma pequena população é predominante em todas as regiões do
país (Wanderley, 2001). A dinâmica das pequenas cidades nos países
subdesenvolvidos se configura como situação ímpar, bem como o desenvolvimento
do processo de urbanização. Damiani (2006) reconhece um hiato nos países
subdesenvolvidos durante a década de 1970, como inexistência ou reduzida
quantidade de cidades médias, com grandes cidades incapazes de suprir o
desemprego e uma vida urbana atrativa. As cidades pequenas predominariam como
fronteiras dos processos interdependentes entre o urbano e o rural.
No atual período de globalização, as possibilidades permitem conexões entre
as diferentes dimensões de cidades, com uma definição de simultaneidade de
comunicação e cooperação numa rede intricada de fluxos. O estabelecimento da
rede de cidades se dimensiona sobre a idéia de complementaridade, solidariedade,
e as pequenas cidades se complementam diretamente com outras, podendo ser de
diversas dimensões (pequenas, médias ou metropolitanas).
Bernadelli (2004) afirma que as pequenas cidades não estão desarticuladas
num contexto mais amplo da constituição de um todo do espaço urbano. Desta
forma, a paisagem é totalidade, ao mesmo tempo se compõe, articula e são
articuladas por redes urbanas.
A globalização/modernidade criou necessidades nem sempre disponíveis nas
pequenas cidades. O termo “bucólico” quase sempre é associado à pequena cidade
32
(Bacelar, 2008). A televisão utilizando a antena parabólica passa, na maioria das
vezes uma realidade das cidades maiores, sem preocupação com a realidade das
cidades menores. Nesse sentido, as relações campo/rural adquirem hábitos
urbanos.
Segundo Bacelar (2008, p. 62), “As pequenas cidades, com todas as
características peculiares, o exemplo de contradições entre o novo e antigo; entre
o moderno e a tradição; entre a administração pública gerencial e o patrimonialismo;
entre as formas da modernidade e as heranças culturais”. Atualmente, a internet
está presente em quase todas as cidades brasileiras, possibilitando às pessoas das
pequenas cidades o acesso e troca de informações de diversos conteúdos.
Atualmente, a população tem maior facilidade de acesso aos bens e serviços,
mesmo não encontrando variedade, bons preços dos produtos e dos serviços em
relação à maiores cidades.
Muitas das pequenas cidades estão conectadas pela função agrícola e/ou
pela dependência de serviços às cidades dias ou metropolitanas. Nas
aglomerações urbanas menores intensificam-se as relações entre município e
cidade, muito mais do que nas áreas metropolitanas, cujo governo municipal é um
governo eminentemente urbano, dada à ausência significativa população rural
(Endlich, 2006).
Figueiredo (2007) considera as pequenas cidades inseridas na estruturação
do espaço como ponto de apoio nas atividades econômicas, gerando bens de
consumo para grandes áreas do território nacional. Grande parte destas cidades
está focada nas atividades rurais e agrárias, voltada ao abastecimento do consumo
interno de sua população urbana e, principalmente dos grandes centros urbanos do
país.
Os processos e as formas espaciais urbanas das grandes e médias cidades
não são iguais ou equivalentes em relação às pequenas cidades, que muitas vezes
superam os investimentos das médias ou grandes cidades. Nessas não
encontramos centros com especializações nas áreas centrais, geralmente estes
centros são espaços de residências e lazer (freqüentemente próximos a praça
central), comercial e de serviços e lócus dos órgãos da administração estatal. Os
conjuntos habitacionais, quando existentes, costumam não ser muito distantes da
área central. Ainda se evidenciam em muitas locais das pequenas cidades, as
relações de vizinhanças (Soares; Melo; Assunção, 2007).
33
A pequena cidade tem uma forte ligação com seu entorno rural e, em certos
aspectos, desempenha um papel semelhante com o espaço rural. O encerramento
de uma atividade econômica em uma pequena cidade pode ter grandes implicações,
condicionando esta cidade a rearranjo de suas atividades econômicas. Endlich
(2007a) considera um arranjo industrial adequado com um conjunto de pequenas
empresas em diversos setores. Ainda, a autora afirma
O estudo e a compreensão de pequenas e médias cidades não podem
prescindir do entorno espacial, fundamental para compreender a amplitude
dos papéis urbanos e a dinâmica regional que realimentam os mesmos. As
pequenas cidades e a relação com o campo compõem um primeiro patamar
de localidades na rede urbana (ENDLICH, 2006, p. 86).
Nas pequenas cidades se fortalecem o Estado-município social, de caráter
patrimonialista e assistencialista, com uma parcela da população criando uma
dependência com a administração municipal. A Prefeitura é, em muitas destas
cidades, a maior empregadora, como também faz gestão das políticas sociais,
culturais, econômicas e ambientais (Bacelar, 2008). A responsabilidade dos
problemas acaba sendo atribuída, em muitos casos, à administração municipal, pela
proximidade, mesmo quando não é encargo do município. Nota-se distância com o
governo do estado e a união. Essa distância, muitas vezes, se pela falta de
articulação política.
A sobrevivência em uma pequena cidade tem sido desafiadora
5
pela falta
(ausência) ou precariedade de alguns serviços e infra-estrutura para sua população
residente. Esta por sua vez, acaba recorrendo a uma cidade maior (média e/ou
metropolitana) para ter acesso alguns serviços de saúde e educação ausentes nas
pequenas cidades, caracterizando o baixo nível de complexidade dos seus serviços
oferecidos a população. Endlich considera
A dificuldade de pequenas cidades em oferecer serviços e equipamentos
suficientes e adequados, somada à atual relativa facilidade de
deslocamento provocam, freqüentemente, a busca destes em cidades
maiores. Contudo, quando ocorrem emergências que demandam soluções
rápidas, em especial, quando se trata de atendimentos na área de saúde e
de defesa civil, as distâncias ganham um peso maior. São desafios que
5
Endlich (2007) concorda com o incentivo de cooperação entre os municípios, principalmente os que
apresentam pequenos núcleos urbanos. No seu artigo fala sobre as experiências supramunicipais,
como os consórcios intermunicipais, segundo a autora ainda são escassas no Brasil se comparados
com outros países europeus como Espanha, França.
34
exigem o planejamento adequado e ações eficazes no sentido de resolvê-
las (ENDLICH, p. 4, 2007).
Por outro lado, um dos papéis das pequenas cidades, na atual conjuntura,
tem sido o de moradia. Esse papel se relaciona com a agricultura moderna e
agroindústria como apoio logístico de funcionamento (Endlich, 2006). um
movimento de migração das grandes para as pequenas cidades em busca de
qualidade de vida, tranqüilidade. Os papéis destas pequenas cidades, sendo pouco
complexos em relação às metrópoles, evidenciam um crescimento do papel
residencial, visto haver marketing das pequenas cidades por serem lugares
tranqüilos e sem grandes índices de violência. Ainda Endlich ressalta
(...) o papel residencial das pequenas cidades abrange, além da classe
trabalhadora, a mais afetada pelas mudanças, outros segmentos sociais,
como os vários proprietários rurais que aderiram à vida nas cidades. Deve-
se registrar, tamm, que muito recentemente esboça-se uma tendência de
mobilidade de aposentados para pequenas cidades, supostamente mais
tranqüilas, adotadas, por eles, como espaços de moradia (ENDLICH, 2006,
p. 188).
Conforme acordado anteriormente, as pequenas cidades estão presentes
em todos os estados brasileiros. A metade das cidades sul rio-grandenses é
considerada pequena em relação ao número de população. A partir desse dado,
resgatar-se-ão algumas manifestações do processo de formação histórico,
econômico e social desse estado, capazes de explicar e elucidar a formação do
espaço urbano conforme abordado no próximo capítulo.
35
CAPÍTULO 2 – CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO NO RIO GRANDE DO
SUL
“(...)Só quem é brasileiro,
Ou tem coração aberto, é que sente a ternura,
Que se espalha nos trilhos,
Nos caminhos e ruas e praças
Destas terras tão minhas
Tão tuas, tão nossas”
Elias José extraído do Livro Mágica Terra Brasileira
O desafio de pensar a cidade e o urbano é o momento seguinte para a
construção desse capítulo. Quais são as reflexões advindas deste desafio? Que
encaminhamentos deverão ser tomados? Inicialmente, analisou-se as bases
geográficas e históricas do Estado, uma vez que sem essa referência parece ser
impossível entender a complexa temática, ilustrada com dados organizados em
tabelas, quadros e figuras.
2.1 Apresentando o território sulino
Localizado na posição mais meridional
6
do Brasil, o Estado possui algumas
características peculiares, tanto no que diz respeito ao aspecto humano quanto no
aspecto físico.
Para Compreender a sua organização espacial e entender as diversas
características intrínsecas na vida do gaúcho, faz-se necessário resgatar um pouco
da história deste povo, como mencionado anteriormente. O atual território rio-
grandense é a manifestação de diversas lutas pela posse das terras, podendo
considerar-se um lugar de confrontos acirrados desde meados do século XVI.
6
O Estado do Rio Grande do Sul apresenta uma área de 282 184 Km², representando 3,32% da
superfície do Brasil. Quanto sua localização geográfica: 27º03’42’’ de latitude norte e 33º45’09’’ de
latitude sul; 49º42’41’’de longitude leste e 57º40’57’’ de longitude oeste. O extremo meridional do
país localiza-se na Barra do Chuí - município de Chuí.
36
Da mesma forma, para entender o urbano, as cidades, faz-se necessário
rever também este passado, as transformações delineadas ao longo do tempo,
conduzindo, muitas vezes, a vida no presente.
Somente em meados do século XIX (1872), no primeiro censo demográfico do
Brasil, o Estado promoveu seu primeiro recenseamento oficial. Nele foram
constatados 434 813 habitantes. Anos depois, em 1890, a região abrigava 897
455 habitantes. A casa do milhão de pessoas foi atingida na virada do século XIX
para o XX com 1 149 070 habitantes. Cinqüenta anos depois, em 1950, a população
somava 4 164 821 pessoas. Em 2000, cinco décadas depois, a população contava
com 10 187 798 habitantes. A Tabela 1, abaixo mostra, a partir de 1900, o número
de população, bem como a taxa de crescimento no estado e no Brasil.
Tabela 1 – População Total e taxa de crescimento anual da população do
Rio Grande do Sul e do Brasil—1900 – 2007.
ANOS POPULAÇÃO TOTAL TAXAS DE CRESCIMENTO ANUAL
(%)
RS BRASIL RS BRASIL
1900 1 149 070
17 438 434
2,50
1,98
1920
2 182 713
30 635 605
3,26
2,86
1940
3 320 689
41 236 315
2,12
1,50
1950
4 164 821
51 944 397
2,29
2,34
1960
5 366 720
70 992 343
2,57
3,17
1970
6 664 841
94 508 583
2,19
2,90
1980
7 773 849
121 150 573
1,55
2,51
1991
9 138 670
146 917 459
1,48
1,77
2000
10 187 798
169 799 170
1,21
1,62
Fonte: IBGE, Censo Demográfico.
Secretaria Estadual de Coordenação e Planejamento (2008)
Org.: SCHERER, F. B.
Observando as taxas de crescimento, os anos de 1960 fornecem um marco
em relação ao crescimento no estado. Isso significa dizer que a partir de 1900 até
1960 o estado apresentou taxas superiores em relação ao país, mas a partir da
década de 1960, seu crescimento declinou em todas as décadas, até 2000.
Isso posto, a Tabela 2 aglutina a classificação da população municipal,
distribuída ao longo de três décadas, a partir de sua população residente
7
. Assim,
nas décadas de 1980 e 1991 observaram-se diminuição do número de municípios e
de população com menos de 10 mil habitantes e a de 50 a 100 mil habitantes. O
7
Cabe aqui ressaltar que o processo de desmembramento foi intenso a partir de 1990, o qual deve
ser observado quando da leitura e interpretação dos dados apresentados a seguir.
37
crescimento, no entanto, ocorreu justo nas classes de municípios com maior número
de população, isto é, nos de 10 a 50 mil e nos de mais de 100 mil habitantes.
A partir da década de 1991 a 2000 houve aumento do número de
municípios no território rio-grandense, que de 333 passou para 496 municípios,
aumentando em quase 50%, número que se mantém até hoje. Assim, entre 1991 e
2000 a população e o número de municípios alteram-se significativamente. O
número de municípios com menos de 10 mil habitantes duplica, mas estabilizam as
demais classes. Contudo o maior crescimento populacional ocorreu na classe de
municípios com mais de 100 mil habitantes.
Tabela 2 – RS: Classes de população, número de municípios do Rio Grande do
Sul, de 1980 a 2007.
Classes 1980 1991 2000 2007 (projeção)
Municípios
População
Municípios
População
Municípios
População Municípios
População
menos de 10 mil hab 170
961 611
163
903 319
333
1 375 944
335
1 432 239
10 a 50 mil hab 128
2 504 888
131
2 693 504
121
2 472 546
120
1 574 373
50 a 100 mil hab 24
1 600 786
23
1 555 047
25
1 733 019
23
2 579 153
mais de 100 mil hab 11
2 706 552
16
3 986 800
17
4 606 289
18
4 997 122
Total do Estado 333
7 773 837
333
9 138 670
496
10 187 798
496
10 582 887
Fonte: Secretaria Estadual de Coordenação e Planejamento do RS - 2008
Org.: SCHERER, F. B.
Estabelecendo as percentagens, para a década de 1980, em relação ao total
de 333 municípios, os com menos de 10 mil habitantes representavam 51,05% dos
municípios; em 1991 era de 48,94% dos municípios e, em 2000, era de 67,13%,
mostrando, efetivamente, o grande número dos pequenos municípios. A projeção
para 2007 apontou um pequeno crescimento nesta classe de população dos
municípios, chegando a 67,54% dos municípios.
Os municípios com 10 a 50 mil habitantes em 1980, correspondiam a 38,43%;
em 1991 contavam com 39,33% e, em 2000, correspondiam a 24,39%. Estes
municípios possuem comportamentos flutuantes entre as décadas, mas certamente
reduziram a representatividade no conjunto de municípios, pela diminuição de sua
população. Inclusive, a projeção para ano de 2007 mostra esta diminuição mais
acentuada.
38
A classe de municípios entre 50 a 100 mil habitantes em 1980, representava
7,20% dos municípios; em 1991, correspondiam a 6,90%; e, em 2000, somavam
apenas 5,04%, ressaltando a perda de representatividade em relação ao total de
municípios, década após cada, embora houvesse aumento pouco significativo de
1991 para 2000, a tendência do ano 2007 é de aumento.
A classe de municípios com mais de 100 mil habitantes na década de 1980,
somava apenas 3,30% do total de 11 municípios do Estado. Em 1991 havia 4,80%
de 16 municípios e, em 2000, era de 7,42% de 17. Dentre as classes, esta
apresentou um crescimento no período analisado. A projeção de 2007 desponta
para o crescimento do número de municípios e população nesta classe. Significa
dizer que houve um aumento populacional nas cidades médias, concentrando estas
na região metropolitana de Porto Alegre.
Ainda pontuando a análise na população distribuída pelas classes de
municípios (Tabela 2), para 1980, os municípios na classe de menos de 10 mil
habitantes representavam cerca de 12%, enquanto que, em 1991, era de apenas
9,88% da população do Estado e, em 2000, contribuiu com 13,50%. A população
dos municípios com 10 a 50 mil habitantes, em 1980, correspondia a 32,22%; em
1991, ficou com 29,47%; e, em 2000, reduziu novamente para 24,26%. A classe de
municípios com 50 a 100 mil possuía 20,59% da população do Estado, para a
década de 1980; em 1991, a população foi reduzida para 17,01% e, em 2000,
diminuiu, ficando com 11,51%. A população residente nos municípios com mais de
100 mil habitantes, em 1980, representava 34,81%; em 1991, havia 43,62%; e em
2000, contribuía com 45,21% da população do Estado, acompanhando a mesma
tendência do número de municípios analisados anteriormente.
Em síntese, a distribuição da população pelas classes de municípios tem se
mostrado estabilizada ao longo as décadas analisadas. Apenas a classe de
municípios com uma população acima de 100 mil tem crescido ao longo do período,
além de concentrar quase a metade da população do Estado em apenas 17
municípios.
A espacialidade da distribuição da população (Figura 3) mostra a dispersão e
a concentração no Estado, na sua parte norte, nos municípios de Erechim (82 026
habitantes
)
, Santa Rosa (55 950 habitantes), Santo Ângelo (64 900 habitantes),
Passo Fundo (163 764 habitantes) são as principais concentrações populacionais;
na sua parte central, Santa Maria (230 696 habitantes) e Santa Cruz do Sul (93 786
39
habitantes) apresentam tais concentrações; e, ao sul do estado, os municípios de
Pelotas (301 081 habitantes) e Rio Grande (179 208 habitantes), representam
expressiva concentração.
Figura 3 – Mapa da Distribuição Geográfica da População – RS – 2007.
Fonte: Secretaria Estadual de Coordenação e Planejamento do RS - 2008
Org.: SCHERER, F. B.
As concentrações populacionais expressas na Figura 3 o manifestações de
um conjunto de fatores que se aglutinam na formação econômica, social e política
sul-rio-grandense facilitando a compreensão não da distribuição da população,
mas da sua concentração e das transformações paisagísticas que se fazem sentir.
40
Nesse bojo, o conhecimento das paisagens com o elemento agregador para
análises é o propósito conforme segue.
A paisagem sul-rio-grandense é formada pela conjunção de vários fatores
como geologia, hidrografia e geomorfologia, vegetação entre outros. Resultam desse
conjunto as seguintes unidades geomorfológicas: Planalto Meridional, a Depressão
Central, o Escudo Sul-Rio-Grandense e a Planície Costeira. Podemos observar o
mapa (Figura 4) a seguir com a localização destas províncias geomorfológicas.
Figura 4 Mapa de Localização Geográfica das Províncias Geomorfológicas
RS.
Fonte: Secretaria Estadual de Coordenação e Planejamento do RS - 2008
Org.: SCHERER, F. B.
As províncias geomorfológicas no estado são formadas pelo Escudo Sul-Rio-
Grandense, cuja formação geológica é considerada a mais antiga do estado,
41
composta de rochas ígneas, como o granito e metamórficas, como o migmatito, o
mármore e os xistos do período Pré-Cambriano. Outra província, denominada de
Depressão Periférica geomorfológica, é composta por terrenos sedimentares
formando uma área de deposição; esta depressão
8
é uma área rebaixada, localizada
entre o Escudo ao sul e, Planalto ao norte. Destaca-se também a província
geomorfológica denominada de Planalto da Bacia do Paraná, composta por rochas
vulcânicas provenientes dos derrames de lavas ocorridos na era Mesozóica. Ainda
temos a Planície Costeira, formada por terrenos arenosos e por lagoas e lagunas,
formação ocorrida durante o período quaternário da era Cenozóica.
Ross (2005) propõe uma classificação geomorfológica diferente da
apresentada anteriormente. Baseado em Ross, esse território apresentaria as
seguintes unidades geomorfológicas: Planaltos e chapadas da bacia do Paraná,
Planalto sul-rio-grandense, Depressão periférica sul-rio-grandense e Planície da
lagoa dos Patos e Mirim. Desta forma, os planaltos e chapadas da bacia do Paraná
estão sobre os terrenos sedimentares com idades desde o Devoniano até o
Cretáceo e no Mesozóico para as rochas vulcânicas básicas e ácidas, estando em
contato com a depressão periférica sul-rio-grandense. O planalto sul-rio-grandense
apresenta litologias diferenciadas em idades e gêneses variadas do Pré-Cambriano.
Seus níveis altimétricos não ultrapassam os 450m. As planícies das lagoas dos
Patos e Mirim decorrem da dinâmica deposicional marinha e lacustre sobre quase
todo o litoral gaúcho e também por algumas partes do território Uruguaio.
As paisagens estão moldadas pela ação do clima, cuja classificação
denomina-se mesotérmico úmido, com característica temperado do tipo subtropical.
As dinâmicas das massas de ar procedentes da região polar e da área tropical
continental e atlântica são reforçadas pela latitude. Quanto à temperatura, uma
grande variação sazonal, com verões quentes e invernos rigorosos, eventualmente
com a precipitação de neve em algumas das áreas mais elevadas. As temperaturas
médias oscilam entre 15º e 18ºC, sendo que a mínima pode ser de até -10ºC e a
máxima pode chegar aos 40ºC. As precipitações são relativamente bem distribuídas
ao longo do ano. O seu volume é diferenciado dentro do Estado, com maior ao norte
8
A Depressão Central ou Periférica do RS é uma área onde se cultiva a rizicultura, propiciadas pelas
suas condições. O município de São Sepé está sobre a transição do escudo e a depressão.
42
(1500 a 1.800 mm) em relação ao sul (1299 a 1500 mm) (Secretaria Estadual de
Coordenação e Planejamento, 2008).
Nesse conjunto de características do quadro físico não se pode deixar de falar
da hidrografia, cuja importância é secular, principalmente por ter sido ela um meio de
comunicação, uma via de acesso aos lugares. No caso do estado o foi diferente.
Os colonizadores se valeram desta rede hidrográfica para ocuparem o Brasil
meridional. Muito drenado, esse território apresenta três grandes bacias
hidrográficas (Figura 5): Bacia do Uruguai, formada pelo Rio Uruguai, funciona como
limite entre o estado do Rio Grande do Sul e Santa Catarina e a oeste com a
Argentina desaguando na bacia do Rio da Prata; Bacia do Guaíba, que drena uma
parte do planalto e depressão periférica tendo como um dos principais rios: o Jacui,
que deságua nas margens da capital gaúcha Porto Alegre; e Bacia Litorânea,
localizada próximo ao Oceano Atlântico tendo como um dos principais rios, o
Camaquã.
Figura 5 Mapa de Localização Geográfica das Bacias
Hidrográficas – RS
Fonte: Secretaria Estadual de Coordenação e Planejamento do RS - 2008.
Org.: SCHERER, F. B.
43
Estas bacias compreendem 57% da área total do Estado (Secretaria Estadual
de Coordenação e Planejamento, 2008) (Figura 5). Grande parte das cidades e
povoados estão localizados às margens dos rios, isso motivado pela ocupação
humana em meados do século XVI, quando as populações, e muitas vezes
imigrantes, seguiram os cursos dos rios para estabelecer suas moradias.
2.2 Formação do território sul rio-grandense.
Considerando a história do Rio Grande do Sul como a história da sua
ocupação pelo colonizador europeu, o processo foi desencadeado com o
estabelecimento das reduções jesuíticas, no culo XVII. Eles percorreram as terras
sulinas pelas terras paraguaias e argentinas e estabeleceram reduções às margens
dos afluentes do Rio Uruguai (Ijuí, Piratini e Ibicuí) (Singer, 1977). O atual recorte do
território se deve a inúmeros conflitos gerados pela posse de terras, ocorridos ao
longo dos culos passados, retratando transformações políticas e econômicas de
um Brasil Colônia/Império/República. Hoje possui uma extensa fronteira
internacional, com 3307 quilômetros de limites territoriais. Com a Argentina há 724
km de fronteira, 1003 km com o Uruguai, com o estado de Santa Catarina são 958
Km e 622 km com o Oceano Atlântico (Moreira; Costa, 1995).
Dessa forma, são 1727 km de fronteiras internacionais, as quais nem sempre
apresentaram tal dimensão, isso porque, nos séculos XVI e XVII, a disputa por
territórios envolvendo as coroas Portuguesa e Espanhola foi acirrada e passou por
vários acordos firmados por tratados.
Ocorreu em 1531, liderada pelo demarcador português Martim Afonso de
Pena (Noronha, 2006), a primeira expedição portuguesa às terras ao sul do Brasil,
pertencentes aos espanhóis, pelo Tratado de Tordesilhas. Ainda conforme o autor
(2006, p. 28) “serviu para Gaspar de Viegas fazer o primeiro mapa da região que
hoje compõe o território gaúcho”. A partir destas expedições, surgiram os primeiros
registros e descrições da costa gaúcha, bem como a divulgação das terras sob o
nome de “Rio Grande de São Pedro” (Pesavento, 1997).
44
O processo de incorporação do Rio Grande do Sul ao território brasileiro foi
lento e conflituoso, pois estavam envolvidas as duas importantes coroas ibéricas na
época. Vários tratados de demarcação de terras foram firmados entre essas coroas.
O primeiro deles, o Tratado de Tordesilhas estabeleceu à Espanha as terras do que
seria o atual Rio Grande do Sul. A Espanha, interessada nos metais preciosos, não
as ocupou de imediato, porque seu interesse estava localizado mais ao noroeste,
nas minas de prata, em Potosi na Bolívia. Essa situação perdurou por muitos anos.
As terras espanholas, mais a sudeste do continente sul americano, continuavam
abandonadas. Suas únicas investidas consistiram em permitir que os padres jesuítas
instalassem reduções jesuíticas na região, o que aconteceu em duas etapas. A
primeira, com a criação de 18 reduções, as quais, mais tarde, foram arrasadas por
bandeirantes paulistas até 1640; e a segunda, a partir de 1682, quando os jesuítas
voltaram ao território, depois de terem sido expulsos pelos bandeirantes paulistas,
quase meio século. Neste mesmo ano, duas reduções foram fundadas, próximas
a margem esquerda do Rio Uruguai: São Francisco de Borja e São Nicolau. Pouco
mais de duas décadas depois, fundaram outras cinco reduções (São Luiz Gonzaga –
1687; São Miguel Arcanjo 1687; o Lourenço Mártir 1690; São João Batista -
1697 e Santo Ângelo Custódio - 1706) formando os Sete Povos das Missões
9
(Figura 6).
A coroa portuguesa
10
, por sua vez, não mostrava interesse naquelas áreas
mais meridionais do Brasil, e na época, não havia ali produto de valor econômico
que justificasse sua ocupação, mas supervisionava-as com incursões pela região.
O segundo tratado se estabeleceu em decorrência dos acontecimentos
ocorridos por volta do ano de 1680, quando os portugueses, em uma destas
incursões fundaram a Colônia de Sacramento, nas margens do Rio da Prata, em
terras dominadas pelos espanhóis. A partir da existência desses dois pólos - Colônia
de Sacramento e Sete Povos das Missões - portugueses e espanhóis passaram a
lutar pelas terras do Rio Grande do Sul. Com a devolução da Colônia do
9
“Um conjunto de comunidades reunindo índios guaranis numa experiência de civilização sem
precedentes. Quando as missões foram parcialmente arrasadas por um exercito formado por
espanhóis e portugueses, em 1756, havia três gerações de guaranis vivendo num sistema
organizado pelos padres. Havia passado de uma cultura seminômade, que não pensava no dia
seguinte, para uma vida sedentária produtiva e planejada em todos os detalhes” (HISTORIA
ILUSTRADA DO RIO GRANDE DO SUL, 1998, p. 49).
10
Portugal explorava o Pau-Brasil na porção norte do país.
45
Sacramento para Portugal, em 1684 (História Ilustrada do Rio Grande do Sul, 1998),
o estranhamento entre as duas coroas se acentuou. Para resolver tal situação,
assinaram o Tratado de Madrid (Figura 6) em 1750, determinando a troca da Colônia
do Sacramento pelos Sete Povos das Missões, possibilitando, assim, aos
portugueses e espanhóis passarem a explorar tais terras, mas com fronteiras bem
definidas.
Na verdade, a demarcação estipulada pelo Tratado de Madrid (Figura 6)
nunca foi concluída, pois os índios das Missões não concordaram em entregar as
terras dos Sete Povos aos portugueses. Então, portugueses e espanhóis se aliaram
para tentar quebrar tal resistência. Enquanto isso, os portugueses pelo leste
avançavam na sua conquista, criando novos cleos de povoamento, como Rio
Grande, Porto Alegre
11
e Viamão.
Figura 6 – Mapa de Localização Geográfica do Tratado de Madrid - 1750.
Fonte: História ilustrada do Rio Grande do Sul - 1998
Org.: SCHERER, F. B.
11
Conforme Singer (1977, p.147) “A área onde se situa hoje Porto Alegre foi concedida em 1736,
como sesmaria, a Inácio Francisco, companheiro de João Magalhães na expedição que devassou
as terras rio-grandenses em 1726. Em 1752, chega ao que seria o então Porto de Viamão uma
comitiva de paulistas cerca de 60 pessoas que tinha por finalidade demarcar os limites entre os
domínios lusos e espanhóis fixados pelo tratado de Madri. Nessa ocasião é que se teria criado Porto
Alegre”.
46
As demarcações fronteiriças geradas por esse tratado foram entregues aos
representantes oficiais dos dois países. Como chefe da comissão portuguesa foi
nomeado o General Gomes Freire de Andrade, que ordenou de imediato a
construção de um depósito de provisões para seus soldados, na margem esquerda
do Rio Jacuí, nas proximidades da foz do Rio Pardo. Mais tarde, esse acampamento
foi transformado em fortaleza, com a denominação de Jesus-Maria-José, local que
abrigou o Regimento de Dragões, dando origem a cidade de Rio Pardo em torno
dessa Fortaleza. (Figura 7)
Figura 7 Mapa da Invasão a Capitania de Rio Grande de São Pedro entre
1763-1776
Fonte: História ilustrada do Rio Grande do Sul – 1998.
Org.: SCHERER, F. B.
47
A Figura 7 mostra o período de invasão 1763-76, como o da Colônia de
Sacramento e da Vila de Rio Grande. Inúmeras vezes os espanhóis tentaram
retomar as terras conquistadas pelos portugueses, planejando, nesse período,
estender seus domínios em todo o território pertencente aos portugueses, através da
tomada de lugares importantes como Porto Alegre, Rio Grande e Rio Pardo. Por
outro lado, as forças portuguesas resistiram às várias investidas, tendo papel
fundamental a atuação do Regimento dos Dragões da Fortaleza Jesus-Maria-José
em Rio Pardo, qual soube conter a ação tanto dos espanhóis como dos índios. Pelo
fato de nunca ter sido tomada por forças inimigas, essa fortaleza recebeu o nome de
Tranqueira Invicta e, por muito tempo representou um ponto estratégico importante,
contribuindo em muito para a inclusão do Rio Grande ao território brasileiro.
O terceiro tratado decorreu desse cenário. Uma trégua foi estabelecida entre
portugueses e espanhóis e às lutas no sul foram amenizadas, quando da assinatura
do tratado de Santo Ildefonso, de 1777 (Figura 8). Este estipulava que a Colônia do
Sacramento e as Missões ficassem designadas para a Coroa Espanhola e que
Portugal ficasse com a Ilha de Santa Catarina. O território do Rio Grande de São
Pedro ficou delimitado no sentido longitudinal, cujo recorte corresponde às
imediações da atual cidade de Santa Maria até as bacias do Guaíba e Litorânea
(Figura 8).
Lançando um olhar para outro movimento aquele provindo do centro do
Brasil, o bandeirismo paulista, com duas correntes diferentes: a corrente povoadora
e as expedições em busca de escravos. São estas últimas a atingir o Rio Grande do
Sul, deixando apenas destroços (Singer, 1977). A busca por novas terras foi em
decorrência da própria economia centrada na subsistência, que lucro não havia,
portanto, o colonizador paulista buscou expandir-se territorialmente. Dentre várias
incursões, a que se dirige para o sul em 1674 chega a Laguna, em Santa Catarina, e
ali permanece até meados de 1726. Quando um grupo de sertanistas, chefiado por
João Magalhães, chegou ao Rio Grande, estabeleceu sesmarias às margens da
lagoa dos Patos, tal fato marca o processo da ocupação do colono branco ao Rio
Grande do Sul.
Durante muitos anos a exploração econômica das terras sulinas ficou
reduzida a caça do índio, com a finalidade de utilizá-lo como mão-de-obra nas
plantações de cana-de-açúcar no Nordeste Brasileiro. A exploração econômica com
48
o gado bovino no Rio Grande do Sul, acelerou-se com o surgimento do mercado
consumidor decorrente da mineração em Minas Gerais.
Figura 8 Mapa de Localização Geográfica do Tratado de Santo Ildefonso -
1777
Fonte: Historia ilustrada do Rio Grande do Sul – 1998.
Org.: SCHERER, F. B.
Os portugueses percebem a presença de gado bovino oriundo das reduções
jesuíticas, que acabou se espalhado pelo resto da região quando do conflito entre os
jesuítas e os bandeirantes paulistas. Passaram a caçá-lo e a abatê-lo utilizando-p
para a produção de sebo, retirada do couro e das crinas, na comercialização com os
ingleses e franceses no estuário do Rio da Prata. Da mesma forma, os paulistas em
relação ao rebanho bovino levado até São Paulo e Minas Gerais, sendo
49
posteriormente, vendido para o abastecimento da população (Medeiros, 2005).
Desse movimento econômico prosperam duas importantes cidades: Pelotas e Rio
Grande, que tornaram-se postos de troca e de mercado para o comércio realizado
pelas charqueadas, caracterizando o surgimento da sociedade pastoril gaúcha.
A partir desses interesses e da visibilidade que agora adquiriam as terras
meridionais, a coroa portuguesa passou a conceder sesmarias como uma estratégia
de legalizar as terras desocupadas. Militarizou substancialmente a região fundando
fortes, presídios, guardas e acampamentos, como forma de garantir a posse da terra
com os núcleos de povoamento. Embora houvessem ocorrido algumas
expedições, a militarização portuguesa se manifesta quando da instalação do forte e
presídio Jesus-Maria-José, no ano de 1737, em Rio Grande (Bernardes, 1997).
Com vigência do Tratado de Madri, em 1750, e com o aumento das terras
sulinas, com o intuito de povoá-las, o governo português promoveu a vinda de
açorianos, constituídos de pequenos agricultores para estabelecer uma colonização
mais concentrada. A colonização açoriana
12
tornou-se uma estratégia de
povoamento português e teve um papel importante no governo provincial na posse
das terras meridionais do Brasil, tanto no povoamento quanto na fundação de
pequenos núcleos urbanos. São considerados os primeiros imigrantes no estado do
Rio Grande do Sul e sua imigração teve início na primeira metade do século XVIII e
intensificou-se a partir de 1752.
Nesse período, o Rio Grande do Sul estruturou-se socialmente e
economicamente. De um lado uma sociedade pastoril em desenvolvimento e, de
outro, pequenos agricultores dedicados à lavoura. Agora duas sociedades distintas
passaram a coexistir: pastoreio e lavouras; estancieiros e pequenos agricultores.
Mais tarde, a política do governo provincial promoveu a vinda de migrantes
alemães e, a partir de 1824 inicia a imigração alemã
13
, a qual ocupou as áreas de
mata. Os italianos
14
chegaram ao RS a partir de 1875, também ocuparam as áreas
de mata, porém se instalaram nas áreas mais acidentadas. Vieira; Rangel (1993, p.
7) ressaltam “Os processos etno-demográficos alemão e italiano, ao mesmo tempo,
que ampliaram o território econômico agropecuário (redimensionado pelos
12
A difusão espacial da imigração açoriana ocorreu em duas unidades morfoestruturais do Rio
Grande do Sul: Planície Costeira e Escudo Rio-Grandense (Vieira; Rangel, 1993).
13
Sobre Imigração Alemã ver Jean Roche (1969) e Cunha (1999).
14
Sobre Imigração Italiana ver Giron (1996).
50
açorianos), promoveram a ruptura do ciclo produtivo primário, instalando o processo
industrial”. A vinda de imigrantes ao território gaúcho resulta em novas dinâmicas
que transformaram o espaço rio-grandense ao reproduzir suas culturas e imprimir
seus traços sociais e econômicos.
Juntamente com este processo de ocupação proveniente da imigração alemã
e italiana aceleraram-se o processo de industrialização gaúcha
15
. A queda da
monarquia propiciou a ascensão do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) e
incentivou a modernização do Rio Grande do Sul por meio da diversificação da
economia. Neste contexto, Pesavento (1998, p. 32) afirma “(...) a emergência de
uma ordem urbano-industrial se processou lentamente, tendo por base as
disponibilidades do capital-dinheiro acumulado pela comercialização dos gêneros da
agropecuária colonial imigrante”. Pesavento (1998, p. 33) complementa afirmando “A
chaminé da fábrica, símbolo dos novos tempos industriais, começava a marcar sua
presença no Rio Grande de São Pedro”. Pesavento (1998) se refere a época do
PRR esteve no poder, durante a república velha. A industrialização marca uma nova
dinâmica econômica e social, redesenhando e reestruturando a econômica estadual.
A industrialização gaúcha, por sua vez, concentrou-se principalmente em Porto
Alegre e Caxias do Sul. Ainda, Pesavento enfatiza
A concepção de capitalismo enquanto modo de produção plenamente
configurado tende a identificar-se com o surgimento da fábrica. A indústria,
assim concebida, assinalaria o estágio final de um longo processo que
marcaria a real subsunção do trabalho ao capital (PESAVENTO, 1983, p. 7).
A ocupação sul rio-grandense terminou em 1940, quando, oficialmente,
decretou-se não haver mais terras devolutas, mas longe de ser um processo
concluído, alguns gaúchos buscaram novas áreas, partindo para outras regiões do
Brasil, como oeste de Santa Catarina e região Centro-Oeste.
O processo histórico de origem e formação das terras sulinas marcou as
dinâmicas que constituem a sociedade gaúcha. Strohaecker (2004, p. 167) afirma “A
configuração territorial do Rio Grande do Sul na atualidade é produto de formações
15
uma polêmica quanto à origem da industrialização gaúcha. Conforme Lagemann (1996, p. 134)
“a origem artesanal, por sua vez, é polêmica: Limeira Tejo representa os defensores da tese do
artesanato que identificam um crescimento harmônico das unidades industriais livre de crises e
contradições; Paul Singer contrapõe ao crescimento ao crescimento harmônico a contradição a
indústria não teve origem artesanal e, pelo contrário, a sua implantação exigiu a destruição do
artesanato”.
51
socioeconômicas que se constituíam ao longo da história, forjando uma trajetória
caracterizada pela diversidade cultural e por desequilíbrios econômicos e sociais”.
Quanto à configuração dos municípios gaúchos, a porção do sul se apresenta
menos recortada e com menor número de municípios, ao contrário da porção norte.
Fica nítido o contraste da estrutura fundiária entre o norte e o sul do estado.
Enquanto no norte predomina uma pequena propriedade, no sul predomina a grande
propriedade, região denominada de “Campanha Gaúcha” (Bernardes, 1997).
A tradição agrícola ainda se configura tanto no norte quanto no sul do estado,
porém com algumas diferenças. No sul, a pecuária em grandes propriedades
predomina e no norte prevalece a policultura (soja, trigo), na maior parte das vezes,
por pequenas propriedades, caracterizada como agricultura familiar.
2.3 Bases históricas do surgimento das cidades no Rio Grande do Sul
As atividades econômicas ligadas a terra tem lhe conferido uma tradição
agrícola. Até meados dos anos de 1990 era considerado o “celeiro agrícola
16
do
Brasil. As cidades, nem por isso tiveram menos importância. Elas fazem parte do
conjunto produtivo e constituem o arcabouço necessário para o campo se
reproduzir. Estes pressupostos ajudarão discutir a formação da rede urbana gaúcha.
A cada vitória conquistada pelos portugueses em terras sulinas contra os
castelhanos, o governo provincial premiava-os com sesmarias, que posteriormente
originaram as estâncias, fazendas ou cidades.
Sobre a formação da rede urbana no território sul-rio-
grandense, a
primeira rede urbana implantada neste território, segundo Peramas (1947 apud
NEVES, 1990, p. 120) “foi construída, com paixão, pelos jesuítas a partir de 1610.
Rede original pela sua organização urbanística certamente esboçada segundo o
modelo de Platão”. A estrutura dos jesuítas comprova o seu nível de organização,
revelando uma preocupação urbanística.
16
Pesavento (1997) acredita que os imigrantes contribuíram para que o Rio Grande do Sul chegasse
a ser considerado o “Celeiro do País”. Esses imigrantes introduziram outros produtos de exportação
do estado, por exemplo, os italianos se destacaram na produção de vinho.
52
Barroso (1992) ao abordar sobre o povoamento e urbanização do Rio Grande
do Sul dividiu-o em três fases: instalação (século XVIII), organização (século XIX) e
expansão (século XX).
O primeiro cleo urbano considerado estável foi com a fundação do
município de Rio Grande em 1737. A presença do presídio e do forte Jesus-Maria-
José
17
apresentava um caráter militar, justificado pelas disputas militares em curso.
Entretanto, o processo de urbanização gaúcha se definiu na primeira metade do
século XIX, segundo Barroso (1992). O início da rede urbana do Rio Grande do Sul,
segundo Rhoden (1999) foi com a fundação do presídio de Jesus-Maria-José, em 19
de fevereiro de 1737, pela expedição de Silva Paes. Dessa forma, Rhoden (1999)
não considera como rede urbana a estrutura construída pelos jesuítas. Constata-se
que a colonização era do litoral em direção ao interior do continente, especialmente
pelos vales dos rios (Jacuí, Sinos, Camaquã, entre outros).
Os portugueses
18
, por meio dos engenheiros militares, desenharam as
plantas das principais cidades mais antigas do Rio Grande do Sul. o se pode
negar a influência dos açorianos na fundação de muitas cidades, sendo Porto
Alegre, a expressão máxima da sua influência no estado. Rhoden enfatiza
À presença física dos colonizadores portugueses que trouxeram os seus
falares, cantares e modos de ser e de fazer típicos, o Rio Grande do Sul viu
acrescerem-se, ao longo do século XVIII, as contribuições da elite
intelectual no contexto português da época os engenheiros militares,
verdadeiros idealizadores da primeira rede urbana gaúcha (RHODEN, 1999,
p. 174).
As charqueadas
19
foram um importante movimento econômico permitindo ao
governo do sul estabelecer conexões com outras localidades do Brasil e até mesmo
17
Rhoden (1999) afirmou não haver no documento (carta régia) a instalação do presídio no traçado
urbano do povoado, pois este empreendimento tinha prioridade militar.
18
O traçado urbano gerado pela colonização espanhola e portuguesa apresentou formas muito
diferenciadas na construção das suas cidades (Rhoden, 1999).
19
Segundo Weimer (1987), sem ter conhecimento econômico, os charqueadores gaúchos culparam o
governo central ela variação de preço do charque, o que levou ao confronto armado. Este
denominado de Revolução Farroupilha deveu-se as divergências entre os charqueadores com apoio
dos estancieiros, fornecedores de matéria prima, contra a corte no Rio de Janeiro sustentada pelos
fazendeiros do Vale do Paraíba.
53
com outros países. A carne do charque
20
era vendida para diversos lugares do
Brasil, sendo um dos principais produtos de exportação do Rio Grande do Sul.
Utilizava-se a mão-de-obra escrava para esta atividade. Pesavento (1997, p. 18)
enfatiza “(...) o charque foi capaz de constituir no Rio Grande uma camada senhorial
enriquecida, sem que, contudo se repetisse no sul a aristocratização da sociedade
açucareira nordestina”. Este foi um fator importante para expansão dos núcleos
urbanos, decorrentes da venda de produtos (couro, sebo e charque). O charque
contribuiu para formação de uma classe, incentivando a fundação de cleos
urbanos. Conforme Barroso
(...) no primeiro quartel do século XIX, o surgimento de núcleos urbanos a
partir de Rio Grande-Pelotas, na órbita de Jaguarão, Erval, Bagé, Piratini e
Canguçu, motivado pelo bom desempenho das charqueadas. (...) grande
expansão aconteceu na Depressão Central no segundo quartel, com a
proliferação de povoados em sua maioria de origem germânica, a partir da
colônia-mãe, São Leopoldo. Desse epicentro brotaram, décadas depois,
linhas-troncos de comunicações nas direções sul e oeste, animando os
núcleos de Tapes, Camaquã, Encruzilhada, Caçapava, Lavras, o Gabriel
e Santa Maria. No rumo sudoeste a norte a criação de comunicações pulsou
Alegrete, Uruguaiana, Itaqui, São Borja, completando-se em Cruz Alta,
Passo Fundo e Vacaria (BARROSO, 1992, p. 50).
O processo de urbanização foi motivado concomitante ao processo de
ocupação e ao desenvolvimento econômico, este último movido inicialmente pelo
tráfico de escravos, depois pelo comércio do gado e também pelas charqueadas.
Momentos formadores de uma sociedade estruturada em classes sociais:
estancieiros e os pequenos lavradores. Sobre isso, Vieira; Rangel comentam
A concentração da população em núcleos espaciais determinados,
estabelecendo um sistema de fluxos com as unidades produtoras rurais,
provocou o surgimento de inúmeras atividades relacionadas ao comércio e
à prestação de serviços. Nem todos os povoados evoluíram com a mesma
intensidade (VIEIRA; RANGEL, 1993, p. 54).
No início do culo XIX, os núcleos urbanos de Rio Grande, Pelotas e Porto
Alegre indicavam rápido desenvolvimento do volume e valor das importações. O
porto de Rio Grande era uma das principais formas de entrada e saída de produtos.
20
Vieira; Rangel (1993) considera o charque o segundo ciclo econômico, sendo a courama o primeiro
ciclo econômico. A produção da carne salgada foi fortalecida pela exportação através do porto de
Rio Grande. São reconhecidas três fases da charqueada rio-grandense: carne seca de Sol, charque
salmoura e charque salgado.
54
Porto Alegre, com o porto do Guaíba e com instalação do poder político colaborou
para o rápido desenvolvimento de seu núcleo urbano. Pelotas, com de Laguna dos
Patos, formou uma conexão hidrográfica Jacuí – Guaíba - Patos (área nodal), dando
a Porto Alegre uma posição importante no sistema espacial no século XIX (Vieira;
Rangel, 1993). Essa conexão favoreceu Rio Grande e Pelotas no que tange ao
escoamento e compra de produtos.
A urbanização e a industrialização são processos completares e em muitos
casos estão interligados. Alguns autores chegam a, muitas vezes, denominar o
processo urbano/industrial pela íntima ligação entre esses dois processos
(urbanização e industrialização). Porém, a industrialização o ocorreu em todas as
cidades do estado, concentrou-se na região metropolitana de Porto Alegre, Caxias,
Rio Grande e Pelotas.
Lagemann (1996, p. 133) diz sobre a industrialização “Quanto à implantação,
sabe-se que aos imigrantes deve-se a expansão e diversificação da produção e não
o início, na medida em que se ausentaram das charqueadas”. Neste contexto,
emerge o desenvolvimento industrial alterando o perfil pecuário, destacando o
charque (Pesavento, 1998). Ainda segundo Pesavento (1983, p. 8) “(...) a
emergência da indústria é o elemento que o contorno da constituição da
sociedade urbano-industrial e que marca a presença da classe operária no
processo”. Relacionam ainda Vieira; Rangel (1993, p. 10) o desenvolvimento das
cidades com a industrialização “O desenvolvimento das cidades e das crescentes
necessidades da população estimularam a instalação de pequenas indústrias,
começando, dessa forma, o desenvolvimento dos complexos urbano/industriais”. A
industrialização, em algumas cidades teve papel importante para sua expansão e
desenvolvimento.
Vieira; Rangel (1993) identificou três feições analíticas distintas da
industrialização
21
no Rio Grande do Sul: unidades básicas iniciais, unidades com
especificidade fabril e unidades tecnológicas. As unidades básicas iniciais foram
decorrentes da imigração em seu espaço-tempo. As unidades com especificidade
fabril foram instaladas nos espaços urbanos específicos como em Pelotas e Rio
Grande, propiciando o desenvolvimento urbano daquelas cidades. As unidades de
21
A industrialização gaúcha emergiu das sociedades formadas pelos imigrantes e por estratégia
produtiva, muitos estabelecimentos industriais foram fundados e alguns transferidos para as cidades
maiores naquela época (Pelotas, Rio Grande e Porto Alegre) de colonização açoriana (Vieira;
Rangel, 1993).
55
feições tecnológicas constituíram tardia e lentamente o processo de
desenvolvimento do estado. Desta forma, a industrialização contribuiu para
profundas alterações em alguns espaços urbanos do Rio Grande do Sul. Entretanto,
a industrialização sofreu resistência conforme Vieira; Rangel afirmam
A ampliação do espaço industrial/urbano rio-grandense sofreu,
internamente, a influência negativa do poder político. A burguesia rural
exerceu o poder político dominantemente até época recente. O trato político
da economia era prioritariamente a estrutura e a organização da produção
rural. Afinal, o Rio Grande do Sul era o celeiro do Brasil! Enquanto outros
estados brasileiros avançavam na produção do espaço industrial,
dominando mercados, acumulando capitais e fortalecendo relações de troca
cêntricas, o Rio Grande do Sul envolvia-se em disputas típicas do
caudilismo rural (VIEIRA; RANGEL, 1993, p. 84).
Durante o Estado Novo (1937-1945), o modelo de desenvolvimento baseado
na agroexportação se consolida totalmente na indústria no Rio Grande do Sul. O
governo central não incentivava a industrialização, pois cabia ao estado fornecer
alimentos baratos para as áreas que estavam se industrializando, principalmente em
São Paulo (Pesavento, 1997). A industrialização se intensifica no estado novo e
surgem áreas industriais no estado. Embora a indústria tenha se consolidado, a
agropecuária continua tendo papel importante no contexto econômico gaúcho.
O processo de modernização da agricultura juntamente com o processo de
industrialização, contribuiu para intensificação da urbanização. Desta forma, a
industrialização foi um estímulo à urbanização. A população cresce num ritmo
acelerado, especialmente a população das cidades, com a vinda de trabalhadores
oriundos da zona rural para trabalhar nas indústrias ou no comércio. Vieira; Rangel
enfatizam
A urbanização do Rio Grande do Sul foi lenta e tardia, com significado maior
a partir dos anos 60. Esse marco de tempo introduz transformações nos
costumes, mudando, progressivamente, o estilo de vida da população. A
urbanização cresce rapidamente por intensa mobilidade espacial dentro da
territorialidade rio-grandense. O fluxo rural-urbano, motivado por alterações
na estrutura produtiva rural, é um fator importante no crescimento das
populações urbanas, particularmente, no mundo periférico das cidades de
médio e grande porte (VIEIRA; RANGEL, 1993, p. 153).
Em 1960, a população rural do estado representava 3 milhões de habitantes,
enquanto a população urbana 2 milhões e 445 mil de habitantes, em 67 cidades e 6
vilas (Medeiros, 1967). Neste contexto, o estado tinha como modelo as exportações
56
dos produtos agrícolas para outros estados do Brasil e países. Além das indústrias
em algumas regiões. Sobre essa época, Medeiros explica
A população urbana no Rio Grande do Sul não se encontra concentrada
numa área, gerando desequilíbrios demográficos. Cidades importantes,
demográfica, econômica, política e culturalmente, estão dispersas pelos
diversos quadrantes da região; é o caso de Pelotas, Rio Grande, Bajé,
Uruguaiana, Santa Maria, Passo Fundo, Caxias, Canoas e Pôrto Alegre,
tôdas com mais de 40 mil habitantes (MEDEIROS, 1967, p. 167).
A transição de um “estado rural” para um “estado urbano” ocorre entre a
década de 1960 e 1970. É interessante o contexto desta transição. Estava em curso
a modernização agrícola e a expansão das rodovias, da industrialização e do
aumento dos automóveis no Brasil. As diretrizes conduziam ao desenvolvimento do
país, favorecendo o desenvolvimento urbano e o crescimento das cidades. Houve a
construção de diversas estradas rodoviárias, em face à instalação de indústrias
automobilísticas no país. Resgata-se Medeiros
Vistas num plano econômico as cidades rio-grandenses oferecem
perspectivas as mais diversas. Desde aquelas que desempenham a função
de entreposto para a distribuição de produtos que a sua área importa e
coleta, daqueles que ela exporta, até aquelas que concentram intensa
atividade, reunindo, em grau significativo, os serviços administrativos,
sociais e culturais, tôdas desempenham modernamente importante papel
econômico em relação à própria área e à região e ao País. Daí o significado
especial que o fator econômico adquire para o desenvolvimento urbano
(MEDEIROS, 1967, p. 169).
As cidades de Pelotas e Rio Grande apresentavam, na década de 1980, os
índices mais altos de urbanização, sendo superadas pela região metropolitana de
Porto Alegre. Essas cidades constituíam área fronteiriça e estratégica, pela
proximidade como a foz do Rio da Prata. Atualmente, outras cidades de fronteira
como Santana do Livramento e Jaguarão são importantes núcleos urbanos. Estas
cidades apresentam densidade demográfica baixa, mas sua população urbana vem
aumentando. Schäffer (1990, p. 145) diz “As cidades da fronteira gaúcha expressam,
numa dada escala, contexto da urbanização do continente, que é, por seu turno, o
quadro dos países subdesenvolvidos, respeitadas especificidades nacionais e/ou
regionais”. Alguns projetos vêm trazendo uma nova dinâmica a esta região, como
investimentos na melhoria do porto e a construção de plataforma da Petrobras, em
Rio Grande.
57
Tabela 3 – RS: População residente – população urbana e rural e população
total entre 1970 a 2000.
População residente
Rio Grande do Sul
Ano Situação
1970 1980 1991 2000
Total 6 664 841 7 773 849 9 138 670 10 187 798
Urbana 3 554 239 5 250 024 6 996 542 8 317 984
Rural 3 110 602 2 523 825 2 142 128 1 869 814
Fonte: IBGE (2008)
Org.: SCHERER, F. B.
A população gaúcha (Tabela 3) apresentou um crescimento populacional de
3 522 957 de pessoas no período de 1970 a 2000, ou seja, passando de 6 664 841
milhões para a 10 187 798 milhões habitantes. A Tabela 3 ainda mostra a população
residente neste Estado sulino entre o período de 1970 a 2000. Na cada de 1970,
a relação entre rural e urbana se revelou a mais equilibrada, em relação ao período
analisado. A disparidade entre elas se acentua nos anos seguintes. Em 1980 a
população urbana correspondia a 67,53%, enquanto a população rural neste período
estava em 32,46%. Para o período de 1991 a população urbana atinge 76,55%
enquanto a população rural restringe-se a 23,44%. Em 2000 a população urbana
chega ao patamar de 81%, restando para a população rural somente 18,35%. Esse
movimento da população gaúcha foi, de certa maneira, semelhante em todo o país,
pois foi a política agrícola brasileira a definidora dos investimentos em tecnologia no
setor agrícola, esfacelando o trabalho agrícola.
A cidade metropolitana e as médias do Rio Grande do Sul estão dispersas
sobre território gaúcho. A Figura 9 ilustra os centros urbanos com mais de 50 mil
habitantes. Estes centros urbanos, em sua maioria, já apresentavam este número de
população a partir da década de 1970. 20 cidades fora da região metropolitana
se configurando com alguma centralidade e um destaque regional, podendo ser
enquadradas como cidades médias.
58
Figura 9 – Mapa dos Centros Urbanos com mais de 50 mil habitantes – RS
Fonte: MOURA, R.; KLIENKE, M. DE L. U. (1999).
Org.: SCHERER, F. B.
Os números mostraram a maior parte da população vivendo nas cidades, e
outra pequena parte vivendo no campo. Estas cidades não se revelaram
densamente povoadas e nem densamente concentradas. A maior concentração
para a década de 2000 ocorreu na capital (1 320 739) e sua região metropolitana
(3 509 384), seguida pela região de Caxias do Sul (333 391).
As pequenas cidades gaúchas praticamente predominam e coexistem entre
os centros urbanos com mais de 50 000 habitantes. A rede urbana articulada em
poucos níveis é o reflexo das desigualdades de concentração populacional do
estado. Assim, evidencia-se a predominância de uma urbanização assentada na
pequena cidade com feições de ruralidade e, entre estas pequenas cidades,
encontra-se São Sepé, área de estudo deste trabalho. Que fatores delineiam este
processo? Que urbanização é essa? São algumas indagações norteadoras das
analises, que serão exploradas no próximo capítulo.
59
CAPÍTULO 3 – FORMAÇÃO E CONSTITUIÇÃO TERRITORIAL DO
MUNICÍPIO DE SÃO SEPÉ
“A história do homem sobre a Terra é a história de
uma rotura progressiva entre o homem e o entorno.
Esse processo se acelera quando, praticamente ao
mesmo tempo, o homem se descobre como indivíduo
e inicia a mecanização do Planeta, armando-se de
novos instrumentos para tentar dominá-lo. A natureza
artificializada marca uma grande mudança na história
humana da natureza. Hoje, com a tecno-ciência,
alcançamos o estágio supremo dessa evolução”
(Milton Santos, 1997, p. 17).
Neste capítulo abordar-se-á a formação e constituição territorial histórico -
geográfica do município e da cidade de São Sepé, enfatizando o estudo geográfico,
o espaço urbano desse território.
3.1 Bases histórico-geográficas do município de São Sepé - RS.
A conquista das terras sul rio-grandenses foi marcada pela disputa de poder
entre as coroas portuguesas e espanholas. Em várias investidas, os portugueses
apoderaram-se das terras espanholas, tendo como marco a fixação de uma cruz no
local conquistado. Isso, simbolicamente, demarcava o domínio das terras pelos
portugueses
22
.
Assim, a colonização portuguesa fundou várias cidades sul rio-grandense,
cujos núcleos urbanos eram sempre marcados pela construção de uma capela ou
outro símbolo religioso.
Os primeiros registros de ocupação das terras do atual município datam de
1750, com um núcleo de povoamento formado por uma estância de índios
catequizados pelos jesuítas, denominada Fazenda São João. Após trinta anos, foi
22
O sentimento religioso moveu a construção de uma capela no Distrito de João, nome de São Sepé
quando era então distrito do município de Cachoeira do Sul. Esse sentimento levou Francisco
Antonio Vargas (morador de Formigueiro) a liderar a iniciativa pela construção de uma capela,
representando papel de um centro com significados religiosos, sociais e políticos.
60
concedida a primeira sesmaria
23
para José Carneiro da Fontoura, no lugar
denominado Durasnal de São Rafael. Outras concessões se seguiram e o
povoamento tomou tal impulso que, no início do século XIX, com elementos locais
se organizou a Companhia de Auxiliares do Distrito de São Rafael para guarda e
defesa da fronteira (Kraemer, 1982).
O núcleo populacional mais desenvolvido na época denominava-se
Formigueiro, formado por agricultores que abandonaram as estâncias, soldados que
deram baixa, ferreiros, carpinteiros, entre outros.
A conquista das terras sepeenses se processou dentro dos princípios
estratégicos da coroa portuguesa. Historiadores contam que o povoado foi
decorrente da instalação da capela de Nossa Senhora das Mercês ou Conceição
24
,
idealizada por Francisco Antonio Vargas
25
em 26 de Janeiro de 1830, quando da
solicitação ao Guarda r de requerimento para construção da cruz (Livro
Centenário da Fundação de São Sepé de 1930).
Em 1825, sob a liderança do carpinteiro Francisco Antonio de Vargas
ergueram próximo ao rio São Sepé, cruz dedicada a Nossa Senhora das Mercês. Tal
fato provocou o fazendeiro Joaquim Fraga e outros, que reivindicavam a posse da
terra naquele local. A licença para a construção da cruz desencadeou conflitos, até
que, em 1834, Plácido Gonçalves, convencido por Plácido Nunes de Melv - o
Chiquiti - comprou aquelas terras, doando-as para a edificação da capela, mais uma
vez adiada pela eclosão da Guerra dos Farrapos. Finalmente, a 6 de junho de 1846,
ergueu-se a capela Nossa Senhora da Conceição, por ter sido no seu dia que se
efetuou a compra do terreno.
Motivada pelo sentimento religioso, a população acabou fixando-se nas
imediações da referida capela, tornando-se mais tarde povoado, freguesia, distrito ,e
finalmente, município de São Sepé.
23
Foi concedia pelo Governador da Capitania de São Pedro (Kraemer,1982).
24
Lopes Sobrinho (1992) e Kraemer (1982) afirmam não haver documentos oficiais sobre a troca de
padroeira do município para Nossa Senhora das Mercês. O ano de 1830 pode ser considerado o ano
de fundação do que viria a ser a cidade posteriormente.
25
Com inspiração nos bandeirantes, o carpinteiro Francisco Antonio Vargas conquista de novas
terras a partir da fixação da cruz e fundação de uma capela. Ele morreu em 11 de março de 1834
(Centenário da Fundação de São Sepé, 1930). Para homenageá-lo a cidade destina rua com seu
nome.
61
Figura 10 Mapas dos Municípios do Estado do Rio Grande do Sul em 1809,
1850, 1900 e 1959.
Fonte: Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul.
Org.: Scherer, F. B.
As primeiras delimitações para a formação do atual município de São Sepé
26
foram o Distrito de São Rafael e o Distrito de Formigueiro, os quais pertenciam
26
O nome São Sepé denominado ao município e ao rio afluente do Rio Vacacaí é decorrente de
duas versões (Fundação Cultural Afif Jorge Simões Filho, 2002). A primeira versão é de crença
popular em homenagem ao índio Sepé Tiaraju, que nasceu, viveu e combateu nos Setes Povos das
Missões e lutando morreu em terras que hoje pertencem ao município de São Gabriel. Porto (1938
apud Kraemer, 1982, p.4) afirma “Velha lenda recolhida em vários lugares e entre remanescentes
de índios missioneiros, diz que o local em que hoje assenta a Vila de São Sepé era ocupado em era
muito remota por uma taba de índios guaranis de que seria cacique Tiaraju”. O índio SeTiaraju
se destacava pela sua capacidade de bravura e de combate. Segundo Kraemer (1982), o nome
Sepé é provavelmente proveniente de José ao ser batizado pelos jesuítas, porém conservaram o
apelido de Tiaraju. Sua morte foi às margens do rio Vacacaí em combate da demarcação dos limites
62
ao município de Cachoeira (figura 10) até o ano de 1827. O primeiro distrito São
Rafael, localizava-se entre a margem esquerda do Rio Santa Bárbara e Vacacaí
Grande e na margem direita do Rio São Sepé. O segundo distrito, Formigueiro, entre
o Vacacaí Grande e ao Arroio Sepé, até a localidade de Boqueirão.
O município de Cachoeira, em 1833, suprime o distrito de Formigueiro,
conservando apenas distrito, São Rafael. Ao mesmo tempo em que acontecem
tais alterações, outra área (atual município de Caçapava do Sul) foi incorporada a de
Cachoeira do Sul (Kraemer, 1982), desta forma, ampliando os domínios daquele
município.
Em apenas 20 anos, no dia sete de dezembro de 1850, foi elevada à
condição de freguesia, com a denominação de Freguesia de São Sepé, pela Lei
Provincial nº 201 (Fundação Cultural Afif Jorge Simões Filho, 2002).
A mudança da denominação de distrito à condição de município de São Sepé,
somente ocorreu em 29 abril de 1876, no governo do presidente da província,
Conselheiro Alencar Araripe, através da lei provincial nº 1029. Para a formação do
novo município sepeense, foram incorporadas áreas dos municípios de Cachoeira e
Caçapava do Sul. Mas somente após a sua emancipação
27
, o município delimitou
três distritos, a saber: Vila, Cerrito do Ouro e Formigueiro ou Santa Bárbara.
Durante os séculos XIX e XX Motta (1988) menciona ser a expansão do
crescimento de São Sepé motivada pela abolição da escravatura, pela divisão dos
antigos latifúndios e pelo cercamento das terras.
O núcleo urbano original é hoje a área compreendida entre a Rua Humaitá, ao
Norte, e Rua Coronel Chananeco, ao Sul; arroio da Bica a Leste; e a Oeste por outro
arroio, paralelo a Rua Riachuelo (Motta, 1988).
A abertura de estrada de rodagem por volta de 1890 (RS-149), até a Estação
Ferroviária de Restinga Seca, processou novo impulso para o município de São
entre Espanha e Portugal. Os religiosos na época diziam que o céu seria ganho a quem lutasse em
defesa das Reduções Cristã contra os exploradores. A lenda de Sepé Tiaraju advém do que os
religiosos pregavam na época e assim passou a ser chamado de São Sepé, tornando - se o símbolo
do sentimento indígena.
A segunda versão baseia-se em documentos históricos, em que a denominação o Sepé teve
origem em estância missioneira denominada San Sepé.
27
A Câmara de Vereadores do então município criado realizou eleições em 15 de fevereiro de 1877.
A solenidade de instalação do município ocorreu em 15 de março de 1877 por Pedro Antônio
Medeiros, presidente da Câmara de Vereadores da Vila de Caçapava (Fundação Cultural Afif Jorge
Simões Filho, 2002; Kraemer, 1982). Nota-se que a solenidade de instalação foi quase um ano
depois da emancipação.
63
Sepé. Nesta época, tornou-se uma das rodovias
28
com maior movimento no
município, até a década de 1940. A partir desta década, ocorreu a abertura da
estrada BR-392, que liga São Sepé a Santa Maria, entre 1942-43 (Motta, 1988).
Este fato contribuiu muito para a diminuição do tráfego ferroviário - Estação
Ferroviária de Restinga Seca.
Quanto ao desenvolvimento das comunicações, o sepeense Antão Faria,
ministro da Aviação do Governo Federal, ordena a construção do ramal telegráfico,
com ligação para Caçapava do Sul, Canguçu e Pelotas. A imprensa escrita somente
se desenvolve em meados da década de 1920, com o surgimento do jornal Gazeta
Sepeense (Motta, 1988).
O espaço que hoje se apresenta deve-se as contradições, lutas e embates
ocorridos em tempos pretéritos. Deve-se também as características paisasticas
dominantes, cujas populações encontravam-se dependentes delas para a realização
de seus domínios e colonização. Como não poderia deixar de ser, contempla-se um
pouco dessa temática a seguir.
3.2 O Espaço geográfico de São Sepé – RS
As dinâmicas existentes na cidade de São Sepé, assim como nas pequenas
cidades, manifestam-se pela estrutura urbana de baixa complexidade, pelas funções
com intermediação comercial primária, pelo baixo nível de urbanização e pela
estrutura política marcada pelas elites locais. A estrutura de poder, atrelada à
propriedade da terra, transfere para tais cidades apenas bens e serviços simples,
dentro do complexo mercado econômico local.
As conquistas e lutas estratégicas pela terra sul rio-grandense, e delas a
formação do município de São Sepé, refletem-se nos limites atuais, nas sociedades
locais, as quais sempre estiveram em consonância com as políticas dos governos
locais.
28
O automóvel surge pela primeira vez em São Sepé adquiridos por Camerino Correa, ex-prefeito,
por volta de 1914-15 (Motta, 1988).
64
Na atualidade, seus limites políticos territoriais estão assim configurados:
limita-se ao norte com os municípios de Santa Maria, Formigueiro
29
e Restinga
Seca; ao sul, com os municípios de Lavras do Sul e Caçapava do Sul; a leste, com o
município de Cachoeira do Sul e a oeste, com São Gabriel e Vila Nova do Sul
30
.
Atualmente, o município é subdividido em cinco distritos: São Sepé ou sede (1º
distrito); Cerrito do Ouro (2º distrito); Jazidas
31
(3º distrito); Vila Block (4º distrito) e
Tupanci (5º distrito).
O quadro geomorfológico no qual São Sepé está localizado corresponde às
bordas do escudo sul rio-grandense, permeando, em grande parte pela, depressão
periférica. Este fato tem significativa relevância, pois os colonizadores portugueses
penetraram inicialmente terras planas ou em terras de planície, visto a facilidade de
percorrê-las. Este fato foi relevante para a ocupação e povoamento da região.
O relevo compõe-se de coxilhas suavemente onduladas, de topo arredondado
nas partes do Escudo sul rio-grandense. As áreas mais baixas correspondem a
Depressão Periférica, com grande quantidade de várzeas, as quais são propícias
para a rizicultura. No sítio urbano, não apresenta altitude superior a 175 metros
acima do nível do mar.
29
Esse município emancipou-se de São Sepé no ano de 1963. Segundo Kraemer (1982, p. 7) o nome
Formigueiro foi dado por “Um dos engenheiros que fazia parte de uma comissão que transitava por
ali, ao parar para descansar da viagem, observando a existência de numerosas casa próxima uma
das outras e o incessante transitar de carretas rumando à fronteira falou: Isso aqui é um
formigueiro”.
30
Esse município emancipou-se de São Sepé no ano de 1992. Houve uma parte da área cedida pelo
município de São Gabriel.
31
O distrito de Jazidas também é conhecido como Terceiro.
65
Figura 11 – Imagem de Satélite de São Sepé, RS – 2009
Fonte: Google Earth (2009).
Org.: Scherer, F. B.
A composição geológica é basicamente formada por rochas cristalinas de
granulação grosseira, pedregosa e com formas onduladas (Kurtz, 1989). A transição
do Escudo sul rio-grandense para a Depressão Periférica é perfeitamente
66
observada, pois, no Escudo, as estruturas fundiárias predominantes o as
pequenas propriedades, nas quais se desenvolve a policultura; em relação a
Depressão Periférica, predominam as propriedades médias e grandes, abrigando
áreas com lavouras de arroz e soja.
3.3 Bases Socioeconômicas do município de São Sepé
A economia do município de São Sepé sempre esteve baseada no setor
agrícola. Os demais setores da economia, especialmente o comercial, estão
intimamente ligados ao desenvolvimento do setor agrícola.
O setor industrial tem pouco destaque, visto as dificuldades de atrair ou
mesmo criar novas indústrias para o município. A maior indústria de beneficiamento
de arroz do município é a COTRISEL, responsável por grande parte da produção,
geração de empregos e impostos para o município de São Sepé. A importância da
COTRISEL se reveste diante de sua expansão além fronteiras municipais e diante
de seu sistema cooperativo. O município conta também com a Arrozeira Sepeense,
beneficiadora de arroz, exportando para outros estados da federação brasileira, que
traz divisas ao município e, cujo desenvolvimento, permitiu expandir-se para outros
municípios do Estado. São Sepé conta ainda com mais duas empresas
beneficiadoras de arroz, a Cerealista Sepeense e o Engenho do Calixtro, porém são
de pequeno porte em relação à COTRISEL e Arrozeira Sepeense. Em 2007, 19 700
hectares foram destinados ao plantio do arroz, tal fator corrobora para o
fortalecimento destas empresas (Tabela 4).
As lavouras de arroz juntamente com as de soja são as culturas comerciais
com maior área plantada (Tabela 4). O processamento da soja não ocorre no
município. Algumas empresas apenas recebem e vendem o produto in natura para
outras partes do Brasil ou exportam através do Porto de Rio Grande. Em pequenas
propriedades, a agricultura familiar desenvolve culturas de subsistência como, por
exemplo, milho, feijão, mandioca.
67
Tabela 4 RS: São Sepé - Principais Lavouras temporárias das principais
culturas, área plantada (ha) de 2001 a 2007.
Área plantada (hectare)
Ano
Lavoura
Temporária
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
Arroz (em casca)
19 700
19 700
19 700
19 700
18 280
19 700
19 700
Milho
3 700
3 700
3 700
3 500
3 700
3 700
3 500
Soja
9 000
17 000
30 000
37 500
37 500
31 000
24 000
Trigo
1 400
1 400
2 900
2 900
1 700
2 000
5 000
Total
33 800
41 800
56 300
63 600
61 180
56 400
52 200
Fonte: IBGE/SIDRA
Org.: SCHERER, F. B.
Conforme a Tabela 4, a terceira maior área plantada corresponde a lavoura
de milho, cujo produto tem sido utilizado para subsistência e para alimento da
atividade pecuarista. Por outro lado, as lavouras de trigo têm, nos últimos anos,
apresentado uma redução das áreas plantadas. Isso decorre da falta de incentivos
para o seu plantio, do aumento da área cultivada pela lavoura da soja, da
concorrência com os países do MERCOSUL e das pragas que atacam esta cultura.
Surpreendentemente, no ano de 2007, obteve-se aumento expressivo da área da
plantada do trigo, com um crescimento de 150%. Se comparado ao ano de 2006, tal
fato foi motivado pelo aumento do valor do produto no mercado nacional e
internacional.
O setor comercial mostra-se vinculado e impulsionado pelo setor agrícola.
Alguns estabelecimentos comerciais estão associados a Câmara de Dirigentes
Lojistas de São Sepé (CDL), a qual tem papel regulador na defesa dos interesses do
setor. A Tabela 5 mostra o número e a porcentagem de filiados, totalizando 144
estabelecimentos. Desses, a maior concentração está no ramo de bens de consumo
não-duráveis (46,5%). As prestadoras de serviços representam 29,2% dos filiados,
ocupando ainda uma posição de destaque. Já os estabelecimentos cujo ramo é o de
bens de consumo duráveis totalizam 21,5%, ocupando posição importante junto
àquela câmara.
68
Tabela 5 RS: São Sepé - número e porcentagem de estabelecimentos
Industrial, bens de consumo duráveis e não duráveis, prestadora
de serviços filiados ao CDL - 2007
Estabelecimentos Nº de filiados % de filiados
Indústria 1
0,7
Bens de Consumo Duráveis 31
21,5
Prestadoras de Serviços 42
29,2
Bens de Consumo Não-Duráveis 67
46,5
Sem definição 3
2,1
Total 144
100
Fonte: Câmara de Dirigentes Lojistas (2007).
Org.: SCHERER, F. B.
Observa-se que alguns estabelecimentos industriais em São Sepé optaram
por não se filiar ao CDL. É o caso do setor industrial, com apenas um
estabelecimento filiado (Tabela 5).
A circulação de capital se estabelece a partir deste circuito entre a economia
rural, o comércio e o setor público, conforme se destaca a seguir.
3.4 Sistema financeiro e bancário em São Sepé
O sistema bancário se configura como forma de circulação do capital no atual
momento do capitalismo. Os bancos estão neste bojo do sistema bancário, cada vez
mais presentes nas pequenas cidades.
O número de agências bancárias instaladas nos municípios da microrregião
geográfica de Santa Maria não é homogêneo (Tabela 6). O número de população
não é o único fator para instalação de uma agência e, sim, outros fatores, como
operações de crédito e poupança. Também nesse complexo sistema financeiro, o
número de agências bancárias não implica necessariamente em maior valor de
movimentação financeira, operações de crédito, depósitos à vista e prazo e
poupança, como se observa na Tabela 6.
69
A economia sepeense absorve e desenvolve a partir de quatro agências
bancárias: Banco do Brasil
32
(BB), Banco Brasileiro de Descontos (Bradesco), Banco
do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) e Caixa Econômica Federal (CEF). Além
disso, está presente uma Cooperativa de Crédito denominada SICREDI (Sistema de
Crédito Cooperativo). Estas agências localizam-se no bairro Centro, próximas da
Praça Central Nossa Senhora das Mercês.
As movimentações financeiras de São Sepé somam mais de 61 milhões,
porém São Pedro do Sul apresenta maior movimentação, ultrapassando 74 milhões
(Tabela 6), mesmo com menor número de agências bancárias e população. Esse
tipo de acontecimento também ocorre em outros municípios da microrregião, como
em Nova Esperança do Sul e Mata.
A poupança, em 2007, apresentou valor superior 25 milhões de reais, com
operações de crédito de aproximadamente 61 milhões, havendo crescimento em
relação ao ano anterior quanto à poupança e às operações de créditos, em São
Sepé. Os valores são pouco significativos quando comparados a outras cidades da
mesma microrregião geográfica (Tabela 6).
A partir da Tabela 6, constatam-se quatro municípios em que não dados
sobre as instituições financeiras e suas movimentações, como no caso do município
de Itaara. Provavelmente, eles dependem dos serviços bancários de outros
municípios próximos.
Santa Maria, por ser uma cidade média e regional ao mesmo tempo,
apresenta as maiores quantidades de agências, com a presença de 26
estabelecimentos bancários. A presença militar e da Universidade Federal de Santa
Maria são alavancas para o desenvolvimento da cidade e de movimentação do setor
financeiro.
32
A instalação do Banco do Brasil em São Sepé ocorre quando uma comissão em que a COTRISEL,
Prefeitura Municipal, Câmara de Vereadores, Associação Comercial e demais segmentos viajaram ao
Rio de Janeiro no ano de 1960 para pedido de apoio a essa instalação (Ceconello, 2007). Após um
ano, ocorre a instalação da agência no município. Anteriormente, a população sepeense precisava se
deslocar até a cidade de Santa Maria para utilizar os serviços bancários. Foi um marco para o
município a vinda do Banco do Brasil, facilitando os financiamentos, principalmente para o setor
agrícola. Certamente, esta organização criada no município de o Sepé foi decisiva para a sua
instalação, pois o município de Caçapava do Sul, mais populoso e maior em área o foi privilegiado
com a instalação do Banco do Brasil.
70
Tabela 6 RS: Movimentações Financeiras na Microrregião Geográfica de
Santa Maria - 2007
Municípios Pop. total
em 2007
(estimativa)
de
agência
bancaria
Operações de
Crédito
Depósito a
vista- gov.
Depósito a vista-
privado
Poupança
Santa Maria 263.403 26 866.616.941,79 2.830.876,66 166.947.523,71 550.181.391,02
São Sepé 23.787 4 61.315.709,11 619.917,59 6.454.015,55 25.403.781,93
São Pedro do Sul 16.613 3 74.204.506,68 1.442.617,28 5.624.494,32 30.476.464,13
Jaguari 11.626 3 47.579.429,83 178.904,98 2.820.020,41 22.305.291,64
Cacequi 13.629 2 23.353.894,74 60.560,51 2.625.967,32 6.823.344,17
São Vicente do Sul 8.361 2 18.086.740,47 1.423.749,00 2.163.534,91 4.611.748,75
N. Esperança do Sul 4.775 2 7.591.906,78 208.411,01 1.749.193,51 1.930.048,29
Mata 5.291 1 18.206.857,45 59.605,08 928.812,47 3.118.669,07
Vila Nova do Sul 4.255 1 6.666.467,55 73.817,17 566.592,97 1.329.589,44
Dilermando de Aguiar 3.129 N/I N/I N/I N/I N/I
Itaara 4.633 N/I N/I N/I N/I N/I
S. Martinho da Serra 3.409 N/I N/I N/I N/I N/I
Toropi 3.070 N/I N/I N/I N/I N/I
TOTAL 365.981 44 1.189.233.732,74 6.898.249,28 189.880.155,20 646.180.328,40
N/I - Não informado
Fonte: IBGE/@CIDADES
Org.: SCHERER, F. B.
Os depósitos do governo à vista apresentam valores baixos em São Sepé, se
comparados com outros municípios (São Pedro do Sul e São Vicente do Sul) da
microrregião com menor população. O maior valor de depósitos do governo, à vista,
ocorre em Santa Maria, visto seu papel de cidade média e regional, ao mesmo
tempo com a presença de vários órgãos públicos (Tabela 6).
Os depósitos privados à vista, em o Sepé são maiores em relação aos
depósitos do governo à vista. Um dos fatores para o elevado valor deste tipo de
depósito é a presença da COTRISEL no município. Estranhamente, Santa Maria
apresenta menores depósitos privados à vista, em relação aos depósitos do governo
à vista (Tabela 6).
4.1.2 Circuito Econômico em São Sepé
O circuito econômico de algumas cidades estão estritamente ligado com suas
atividades agroindustriais. A partir de um circuito econômico, o capital circula
segundo a conformação do comando dos agentes dominantes globais e locais.
Dessa forma, os agentes locais são importantes para a reprodução das dinâmicas e
fluxos mundiais. São Sepé expressa essa reprodução com a manutenção de velhos
atores no seu comando.
71
Os impostos o gerados a partir da sociedade, nas suas atividades
financeiras, econômicas e de serviços. São importantes para geração e manutenção
de serviços e investimentos para a população.
O município de São Sepé, como parte do Rio Grande do Sul, tem o seu
Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) vinculado a esse
Estado, retornando ao município de acordo com sua arrecadação e outros critérios
estabelecidos
33
.
As alíquotas do ICMS variam entre os estados e de acordo com a mercadoria
e serviços. Para muitos municípios, o ICMS é uma das principais receitas da
Prefeitura junto com o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), esta última
receita é repassada pela União (Governo Federal).
A participação na geração de impostos do setor primário nas atividades
econômicas, de participação animal e vegetal, se expressa em São Sepé
representando mais de 50% no valor adicionado de ICMS. Mesmo com a diminuição
nessa atividade econômica no ano de 2005, devido ao período de estiagem, no ano
de 2006 houve aumento novamente nesse setor. A participação dessa atividade
econômica aumentou 5% de 2005 para 2006, passando de 51% para 56%. Em
2007, continuou crescendo essa atividade econômica, com quase 59% da
participação no município. O valor adicionado foi recorde, chegando a mais de 115
milhões de reais se comparado com o ano de 2004 (Tabela 7). Neste setor, estão as
duas maiores empresas em termos de arrecadação do ICMS de São Sepé:
COTRISEL e Arrozeira Sepeense.
As indústrias se revelam como setor importante, embora com menor
representação em relação à participação animal e vegetal. É interessante destacar
que a indústria de beneficiamento utiliza a produção primária, visto a grande área de
arroz (Tabela 7) plantada no município e vizinhos. Quando houve queda de valor
adicionado no setor primário, conseqüentemente a queda ocorreu nesta atividade
econômica. A Tabela 7 mostra essa indústria de beneficiamento representando
aproximadamente 13% de arrecadação de ICMS, com aumento de arrecadação de
33
Segundo o Site da Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul (SEFAZ), o Estado é obrigado a
repassar 25% do ICMS aos municípios, conforme determina a Constituição Federal. Assim, a
SEFAZ calcula o índice de participação de cada município a partir das seguintes variáveis e pesos:
75% valor adicionado, 7% área, 7% população, 5% numero de propriedades rurais, 3,5%
produtividade primária, 1% inverso da taxa de evasão escolar, 1% inverso do coeficiente de
mortalidade infantil e 0,5% pontuação no Programa Parceria. Porto Alegre é o município com maior
retorno de ICMS.
72
2005 para 2006, apontando para crescimento da área plantada de arroz nesse
período.
A indústria extrativa mineral sofreu redução de 208 184,57 reais para 196
785,70 (2004 para 2005). Em 2006, retoma-se o crescimento dessa atividade
econômica. O crescimento continuou em 2007, porém a participação no município
ainda é pouco significativa, com apenas 0,14%. No interior do município, a extração
dos paralelepípedos para o calçamento de ruas e base para alicerces de casas, é o
principal impulsionador deste tipo de indústria. Os trabalhadores desta atividade
econômica têm enfrentado alguns problemas referentes às licenças ambientais para
extração mineral.
A indústria de transformação cresceu no período de 2004 a 2006, com
pequena redução em 2007. Sua participação no município também apresentou
queda neste mesmo ano, passando de 3,23% para 2,68%. Foi uma das atividades
econômicas não afetadas pela estiagem de 2004. Registrou crescimento de mais de
50% para o ano de 2005 . Sua geração de impostos está atrelada principalmente a
indústria de parafinas, localizada no distrito industrial de São Sepé, que exporta
tanto para o mercado nacional e internacional.
Com base na Tabela 7, a indústria de montagem sofreu queda em quase
50%, de 2004 para 2005, no seu valor adicionado, efeito da redução nas atividades
ligadas ao campo. A partir de 2006, retoma seu crescimento atingindo mais de 17
mil, porém em 2007 não atinge o valor de 2004. Sua participação no município
cresceu discretamente de 0,01% em 2005 para 0,03% em 2006, mantendo-se
estável em 2007. Esse tipo de atividade econômica se destaca por algumas
indústrias moveleiras de pequeno porte localizadas no distrito industrial de São
Sepé.
73
Tabela 7 – RS: São Sepé - Valor adicionado por atividade econômica e percentual de 2004 a 2006.
Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO SEPÉ, SECRETARIA DE FINANÇAS, SETOR DE ICMS/ TRABALHO DE CAMPO (2007-2008).
Org.: SCHERER, F. B.
%Participação no Município Atividade Econômica Valor Adicionado
2004
Valor Adicionado
2005
Valor Adicionado
2006
Valor Adicionado
2007
2005 2006 2007
Participação e Extração
Animal e Vegetal
106 043 734,01
77 720 405,91
93 745 110,64
115 416 965,20
51,38
56,22
58,95
Ind. de Beneficiamento 28 073 943,80
15 669 774,54
21 785 256,66
27 446 569,59
10,36
13,06
14,02
Comércio Varejista 20 742 552,22
23 493 931,81
23 771 075,60
25 176 146,76
15,53
14,25
12,86
Serviços e Outros 19 736 006,53
22 605 300,25
13 855 478,30
13 839 350,51
14,94
8,31
7,07
Ind. de Transformação 2 303 775,90
4 784 795,77
5 387 033,79
5 258 395,57
3,16
3,23
2,68
Comércio Atacadista 841 094,20
6 791 682,30
7 920 054,95
8 316 617,01
4,47
4,78
4,25
Ind. Extrativa Mineral 208 184,57
196 785,70
215 067,10
264 827,07
0,13
0,12
0,14
Ind. de Montagem 72 448,68
17 534,68
41 787,33
58 540,15
0,01
0,03
0,03
Ind. Recondicionamento
e Acondicionamento
0,00
0,00
2 379,20
3 705,34
0,00
0,00
0,00
Valor Adicionado do
Município
178 021 739,91
151 250 210,96
166 723 243,57
195 781 117,20
100,00
100,00
100,00
Partic. Munic. no RS 0,184452
0,154398
0,156867
0,162832
74
A indústria de acondicionamento e recondicionamento não tinha participação
até 2005. A partir de 2006, começa a se desenvolver embora de forma inexpressiva
em relação às demais atividades econômicas, com apenas 2 379,20 reais, e cresce
em 2007, atingindo 3.705,34. Sua participação no município ainda é zero, pelo baixo
valor se comparados com as outras atividades (Tabela 7).
Conforme a Tabela 7, o comércio varejista ocupa o terceiro lugar, ficando
atrás da atividade econômica de extração animal e vegetal e da indústria de
beneficiamento. Esta atividade econômica esteve em ritmo de crescimento no
período analisado. Mesmo com queda em outras atividades econômicas, não
influenciou o varejo. Contudo, a participação no município declinou, pelo maior
crescimento das outras atividades econômicas no mesmo período.
O comércio atacadista teve grande salto de 2004 para 2005. Após esse
período, continuou crescendo em menor velocidade. Mesmo com esse grande salto,
sua participação no município esteve estável, em torno de 4% (Tabela 7). O atacado
em São Sepé passou a ser expressivo a partir desse crescimento significativo
ocorrido em 2005.
A atividade econômica baseada nos serviços e outros mostraram crescimento
de 2004 para 2005, porém, a partir de 2006, registrou quedas consecutivas. Essas
quedas são resultantes da crise gerada pela estiagem de 2005, refletida sobre esta
atividade econômica. Sua participação no município decresceu a partir de 2006
(Tabela 7). Assim, os serviços e outros foram os principais atingidos pela queda na
atividade econômica de participação e extração animal e vegetal.
3.5 A estrutura da população residente
Com base nos dados da FEE-RS (2007), o município de São Sepé possui
uma área de 2 188,8 Km² (2006), com uma densidade demográfica de 11,6 hab/km²
(2006). Quanto aos dados sociais disponíveis, destacam-se a mortalidade infantil
com 17,1 por mil, a taxa de analfabetismo de 10,12% (2000) e a expectativa de vida,
ao nascer, de 71,53 anos (2000). Esses dados sociais revelam uma preocupação,
75
principalmente da taxa de mortalidade infantil e analfabetismo, sendo consideradas
bastantes altas se comparadas com a média do estado do Rio Grande do Sul.
Conforme a Tabela 8, pode-se observar que, entre 1970 e 1991, houve um
crescimento da população urbana e um decréscimo da população rural. A população
total reduziu de 1991 para 2000, pela emancipação do então distrito de Vila Nova e,
após se, tornou o município de Vila Nova do Sul. O município tem mais de 70% de
população urbana e apenas 30% de população rural. A FEE-RS (2007) estimou que
a população total do município de São Sepé, no ano de 2006, foi de 25 446
habitantes, com uma população urbana de 20 794 habitantes e uma população rural
de 4 629 habitantes.
Tabela 8 – RS: População residente no município de São Sepé, de 1970 a 2000.
Ano Situação
1950 1960 1970 1980 1991 2000
Total 25 291
31 999
26 674
26 866
28 075
24 621
Urbana 2 666
-
8 621
11 906
19 195
18 926
Rural 22 625
-
18 053
14 960
8 880
5 695
Fonte: IBGE – 1950, 1960,1970,1980,1991 e 2000.
Org.: SCHERER, F. B.
A população distribuída entre os distritos de São Sepé revelou-se de modo
desigual. Na sede de São Sepé (1º distrito) concentra-se a população no urbano,
porém encontramos 775 habitantes com domicílio rural (Tabela 9). A concentração
comercial e industrial localiza-se nesse distrito. Estes habitantes podem ser
atribuídos as “chácaras” próximas ao centro e bairros. A sede sempre concentrou,
desde o ano de 1950, maior parte da população. Ao mesmo tempo, houve aumento
significativo da população urbana e diminuição da população rural, como se
observar na Tabela 9. No distrito de Vila Block ocorre o mesmo fenômeno da sede,
ou seja, a população urbana é superior à população rural.
A localização do distrito Vila Block permite haver concentração da população
urbana, fato atribuído ao melhor acesso, e à grande circulação de veículos, em
decorrência da rodovia federal que a aproxima do município de Santa Maria. Ainda
assim, população rural expressiva com 374 habitantes (Tabela 9), destacando a
lavoura do arroz como principal cultura propiciada pela presença de diversos rios
que cortam o município, como o Rio Vacacaí.
76
A população rural se concentra nos distritos de Cerrito de Ouro, Jazidas e
Tupanci, no ano de 2000. Nesses distritos, a atividade econômica predominante é a
agricultura e a pecuária. A população urbana destes distritos é muita pequena se
comparada à população rural, localizando-se na sede dos respectivos distritos. No
distrito de Cerrito do Ouro houve crescimento da população de 1991 para 2000,
contudo em Jazidas ocorreu diminuição de população no mesmo período (Tabela 9).
Esse capítulo foi o ponto de partida sobre São Sepé, explorando alguns
aspectos pertinentes a temática do trabalho. No capítulo 4 serão abordados os
papéis urbanos e os equipamentos urbanos da cidade de São Sepé. Para tanto, se
faz necessário investigar a COTRISEL nos seus papéis exercidos sobre o urbano.
77
Tabela 9 – RS: População residente por domicílio nos distritos de São Sepé, de 1950 a 2000.
Distritos 1950
1960
1970
1980
1991
2000
urbana rural total urb rural total urbana rural total urb rural total urbana rural total Urbana Rural Total
SãoSepé (sede)
2 359 14 776 17 135
-
- - 7 609 12 367 19 976 - - - 17 148 463 17 611 18 185 775 18 960
Cerrito do Ouro
- - -
-
- - - - - - - - 28 1 364 1 392 28 1 648 1 676
Jazidas
- - -
-
- - - - - - - - 87 2 153 2 240 57 1 681 1 738
Tupanci
- - -
-
- - - - - - - - - - - 7 1 217 1 224
Vila Block
- - -
-
- - 694 1 173 1 867 - - - 629 1 916 2 545 649 374 1 023
Vila Nova
- - -
-
- - 300 4 531 4 831 - - - 1 303 2 984 4 287 - - -
Formigueiro
307 7 849 8 156
-
- - - - - - - - - - - - - -
Total
2 666 22 625 25 291
-
- 31 999 8 603 18 071 26 674 - - 26 866 19 195 8 880 28 075 18 926 5 695 24 621
Fonte: IBGE/CENSO (1950, 1960, 1970, 1991, 2000).
Org.: SCHERER, F. B.
78
CAPÍTULO 4 – PAPÉIS URBANOS E USO DO SOLO URBANO DE
SÃO SEPÉ
“(...) Bem pertinho, do coração
Do Rio Grande, vivo em ti
Amado São Sepé
Recebi no calor do teu abraço
Tanto afeto pra viver de amor e fé (...)”
(Fragmento do Hino de São Sepé)
Os papéis urbanos e o uso do solo urbano das pequenas cidades são
importantes, pois revelam como estas se compõem às dinâmicas locais, regionais e
até globais. Estas dinâmicas, por sua vez, permitem a compreensão da
complexidade da rede urbana.
Ao pensar sobre os papéis urbanos, considerou-se as funções que a cidade
exerce tanto local como regionalmente e, para entender tal processo, verificou-se
como a cidade se organiza quanto ao uso do solo urbano para poder exercer as
funções que se propõe. Nesse sentido, as atenções se voltaram para as atividades
desenvolvidas pelo agronegócio, tendo a cooperativa o papel de organizar e
consolidar a organização que, a partir do poder público, gerencia o uso do solo
urbano especialmente na distribuição dos equipamentos no tecido urbano.
4.1 Diversificação dos papéis da COTRISEL no perímetro urbano sepeense
A Cooperativa Tritícola Sepeense Ltda (COTRISEL) (Figura 12) surge em
decorrência da criação da Associação Tritícola Sepeense, no ano de 1956, para
defender os interesses dos produtores de trigo de São Sepé, naquela época. Em
1957, a Prefeitura Municipal, com aprovação da Câmara de Vereadores, doa terreno
com 2 hectares (ha), sendo que nos anos seguintes, a cooperativa amplia suas
instalações adquirindo áreas vizinhas ao terreno.
79
A cooperativa surge em um momento em que o trigo era considerado o
“cereal rei”. Os produtores resolveram unir-se com o objetivo de organizar sua
comercialização e buscar melhores preços. Essa iniciativa foi necessária para
combater as dificuldades existentes, especialmente em relação ao trigo, culminando
com a fundação desta cooperativa.
Figura 12 – Sede das instalações da COTRISEL em São Sepé, RS – 2009
Fonte: www.cotrisel.com.br
Org.:SCHERER, F. B.
As atividades iniciaram em 1957 com a construção de um armazém para
depósito e secagem do trigo. Anteriormente, os produtores de São Sepé escoavam
sua produção para outros municípios como Santa Maria, São Gabriel e Cachoeira do
Sul.
Em 1960, a COTRISEL comprou um engenho e passou a beneficiar o arroz,
vendendo sem marca fantasia própria, para atacadistas do Estado de São Paulo,
graças aos depósitos de arroz no engenho da COTRISEL, efetuados pelos seus
produtores associados à cooperativa (Ceconello, 2007). Segundo esse mesmo autor
80
(2007, p. 23) “(...) ainda na primeira metade da década de 1960, a cooperativa abriu
suas portas para a soja, cultura que ganhou extrema importância a partir de 1965”.
Diante das mudanças ocorridas nas políticas agrícolas do Estado,
desencadeou-se um processo de redução das áreas de plantio de trigo, as quais
foram substituídas pelas culturas orizícola e de soja, que se fortaleceram com a
expansão da área plantada.
A COTRISEL, impulsionada por incentivos do governo federal, cresceu
expressivamente no final da década de 1970. Isso se deveu as diversas linhas de
incentivo à agricultura, às cooperativas, ao grupo de pessoas empreendedoras no
comando da cooperativa e a filiação de novos associados.
Pressionadas pelas mudanças econômicas (1979), as empresas buscaram
estratégias de dominação dos mercados produtores ao expandir suas instalações
para outros municípios, como o ocorrido com a referida cooperativa. Assim, para o
crescimento das suas atividades e necessidade de expansão de seus negócios, os
primeiros municípios com sede da COTRISEL foram Formigueiro e Restinga Seca,
estendendo-se posteriormente para Vila Nova do Sul e São Pedro do Sul (Figura 13)
(Ceconello, 2007).
Figura 13 – Mapa de localização geográfica das unidades da COTRISEL - RS
Fonte: www.cotrisel.com.br (2008).
Org.: SCHERER, F. B.
81
As cinco unidades da COTRISEL: São Sepé, Formigueiro, Vila Nova do Sul,
Restinga Seca e São Pedro do Sul, estão localizadas na região central do Rio
Grande do Sul. Neles foram criados escritórios e, posteriormente, engenhos de
beneficiamento do produto. Segundo informações junto a COTRISEL, não
previsão de abertura de novas unidades cooperativistas e sim o fortalecimento das
existentes, com ampliação da área construída.
Além da ampliação das zonas de atuação, a COTRISEL ampliou suas
atividades em relação ao recebimento, classificação, armazenagem e
comercialização de diferentes culturas e produtos, no final da década de 1970.
Adquiriu um posto de gasolina próximo a BR 392; construiu um mercado, conhecido
como “bodegão”, ao lado de suas instalações; criou estabelecimento para venda de
defensivos agrícolas, fertilizantes, corretivos para o solo, sementes, produtos
veterinários, rações, entre outros produtos. Além disso, fundou uma estação de rádio
para divulgação e controle das informações. Tais ações demonstraram os novos e
diversificados investimentos econômicos mudando sua atuação e permitindo acesso
aos serviços para atendimento da população local, na cidade de São Sepé.
Continuando em busca por expansão a cooperativa, em 1996, adquiriu vários
terrenos no distrito industrial e inaugurou fábrica de produção de rações, com marca
fantasia própria, para aves, ovinos, bovinos, suínos e eqüinos.
Até 1979, a cooperativa vendia o arroz em parceria com a cooperativa de
Itaqui. A partir daí, o arroz beneficiado pela cooperativa passou a ser comercializado
com marca da COTRISEL - Sepé e Tiaraju (Ceconello, 2007). No primeiro momento,
as vendas se dirigiam para o Estado de São Paulo, perdurando por três anos. A
concorrência aumentou e a cooperativa procurou novos mercados nos estados da
região Sudeste. A expansão atingiu os mercados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e
Espírito Santo e o arroz da marca Sepé é a marca líder, com 65%, no mercado
capixaba. Atualmente, a cooperativa entra no mercado baiano e em algumas regiões
do estado de Pernambuco.
O produto que mais se destaca na COTRISEL
34
, não pelo seu volume de
produção, mas pelo seu beneficiamento, é o arroz, responsável por
34
Recentemente, a COTRISEL divulgou o projeto de construção de indústria de produção própria
para o arroz parabolizado. O destino do produto será para o Espírito Santo e a região Nordeste. Os
recursos financeiros dessa construção serão obtidos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) pago no prazo de 12 anos e com juros abaixo de mercado. Essa
82
aproximadamente 50% do seu faturamento. A Tabela 10 mostra a comercialização
das sacas dos produtos arroz em casca, soja e trigo, apontando o arroz como o
produto que mais se destacou, desde 2004, na comercialização em sacas em
relação aos demais produtos.
Tabela 10 – COTRISEL - Principais produtos comercializados nas cinco
unidades em 2004-2008.
Produto/sacas 2004 2005 2006 2007 2008
Arroz em casca 2 689 573
2 587 924
3 243 036
3 047 103
3 194 139
Soja 835 899
661 093
800 577
953 005
907 356
Trigo 88 226
20 536
101 272
170 094
138 364
Fonte: www.cotrisel.com.br
Org.: Scherer, F. B.
O arroz é beneficiado nas cinco unidades da cooperativa. Ele é vendido em
locais onde escritórios e representações, especialmente de vendas, como Minas
Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e na região Nordeste.
Devido à concorrência com outras marcas mais consolidadas no mercado
gaúcho, o arroz beneficiado somente é vendido em seus supermercados. Em 2006,
a venda do arroz in natura para São Paulo, via porto de Rio Grande, foi uma
exceção frente à grande safra ocorrida naquele ano, pelo excesso do produto no
mercado. Tal situação não tem sido prática comum da cooperativa, pois sem o
beneficiamento do produto, ele tem menor valor e, conseqüentemente, menos
impostos ao município.
Em relação à soja, a empresa não armazena seus grãos, entregues pelos
associados da cooperativa. A logística adotada é transportá-los diretamente para o
Porto de Rio Grande, onde são armazenados em depósitos alugados.
Outro produto que a cooperativa recebe, além do milho e sorgo, é o feijão,
que é embalado e vendido em seus mercados. Quando os estoques de feijão
baixam, a COTRISEL compra de outras cooperativas da região, como Cooperativa
Agrícola Mista Nova Palma Ltda (CAMPAL), localizada no município de Nova Palma.
estratégia surge devido ao valor de mercado ser superior ao arroz comum. Notícia veiculada pela
rádio COTRISEL em 10.08.2009
83
O funcionamento da cooperativa ocorre com a reunião de núcleos de
associados para decidir sobre as ações da COTRISEL, baseado no modelo do
cooperativismo. As decisões dos cleos representam o quadro associativo dos
mais de 4 520 associados
35
. Atualmente, a COTRISEL conta 580 funcionários,
sendo 415 em São Sepé. Em 2007, iniciou a construção das novas instalações do
supermercado da COTRISEL (Figura 13) e com previsão de término no fim do ano
de 2008. As dimensões desse investimento perpassam as necessidades da
população local, mostrando uma estratégia para tentar absorver o mercado regional.
Nestes mais de 50 anos de fundação, contribuiu para o crescimento e
desenvolvimento de o Sepé. Mesmo sendo uma cooperativa agrícola, sua
importância vai além desse setor, pela sua atuação em outros setores e municípios.
É considerada a maior cooperativa da região central do Rio Grande do Sul e uma
das maiores do Estado.
Figura 14 Novas instalações do Supermercado da COTRISEL em São Sepé,
RS – 2008
Fonte: Trabalho de Campo (2008).
Org.: SCHERER, F. B.
35
Conforme o site da COTRISEL, 80% dos associados são pequenos e médios produtores, sendo
que a maioria reside nos municípios das unidades.
84
4.2 Uso solo urbano de São Sepé
Retomando questões já discutidas, o solo sepeense ainda retrata as heranças
históricas impressas no uso do solo urbano. A Figura 15 mostra a planta do solo
urbano de São Sepé
36
em um formato reticular ou xadrez, próprio da colonização
portuguesa / espanhola. A área urbana central é o setor mais elevado, daí surgindo
e sendo cortada por arroios afluentes
37
do Rio São Sepé. A concentração de uso
comercial se em torno da praça central. O uso misto (residencial e comercial) é
basicamente em torno da concentração de uso comercial. O calçamento das ruas se
encontra no bairro Centro e algumas partes dos outros bairros.
Figura 15 – Carta de Uso do solo urbano de São Sepé, RS -1982
Fonte: SILVEIRA, R. D. (2007).
36
A prefeitura do município elaborou novo mapa de uso do solo urbano, mas como este ainda não
foi aprovado pelos órgãos competentes, à referida pesquisa baseou-se no mapa oficial do uso do
solo urbano datado de 1982.
37
Silveira (2007) elaborou um mapa de riscos de inundação para área urbana de São Sepé.
85
O uso do solo urbano de São Sepé (Figura 15) mostra a localização das
áreas residenciais, comercial, industrial e ainda aquelas áreas de uso misto e área
verde.
Figura 16 – Imagem de satélite da cidade de São Sepé – 2009
Fonte: Google Earth
Org.: SCHERER, F. B.
Nas últimas décadas, as cidades brasileiras têm incorporado rodovias a sua
vida urbana. Elas acabam cortando e fragmentando o tecido urbano. No caso de
São Sepé, o processo é o mesmo. Muito lentamente verifica-se a locação de
comércio (Posto de gasolina da COTRISEL)e empresas (Correio do Povo) nas
proximidades da rodovia BR 392, e na rua Eugenio Simões Pires, que se liga a
RS-149, localiza-se a COTRISEL, mas a concentração comercial está circunscrita a
praça central (figura 16). O uso industrial tem sido dirigido para a zona industrial de
São Sepé.
86
A Figura 15 representa o perímetro urbano de 1982, entretanto, este sofreu
modificações, uma vez que a cidade cresceu, alargando o perímetro urbano.
Inúmeros afluentes do Rio São Sepé, percorrem o perímetro da cidade. A expansão
do tecido urbano toma a direção norte-sul do cleo urbano, aproximando-se do
arroio Lajeado do Moinho.
4.3 Equipamentos Urbanos e Infraestrutura dos Bairros da Cidade São Sepé
(RS).
O perímetro urbano está dividido em 20 bairros
38
, a saber: Centro, Pontes,
Kurtz, Isolanda, Tastch, Santo Antônio, Bela Vista, Cristo Rei, Lôndero, Santos, o
Francisco, Silveira, Lili, Rosa, Walter, Cooperativa, Schirmer, Zenari, Hípica e
Cristovão (Quadro 2).
A partir dos equipamentos urbanos e infraestrutura podemos identificar os
bairros com melhores condições para gerar qualidade de vida e também averiguar
suas deficiências. O bairro Centro, tradicionalmente, apresenta quase todos os
equipamentos urbanos e a melhor infra-estrutura. Nota-se em outros bairros poucos
equipamentos urbanos e uma infra-estrutura deficitária, como se vê a seguir.
4.3.1 Capela Mortuária
Em São Sepé, os serviços da capela mortuária existem em três bairros. Até
pouco tempo, o bairro centro não dispunha desses serviços, e sua instalação
ocorreu junto a uma funerária existente.
No bairro Tastch, localiza-se a capela mortuária mais antiga da cidade, na
qual podem ocorrer dois velórios ao mesmo tempo, pertencendo a Associação
38
A divisão dos bairros é regulamentada por lei municipal proposta pela Prefeitura Municipal com a
aprovação da Câmara de Vereadores. Alem disso, deve está em conformidade com o Plano Diretor
da cidade.
87
Beneficente São Vicente de Paula
39
(Figura 17). No Cemitério Municipal de São
Sepé, no bairro Pontes, um local destinado para pessoas de baixa renda
utilizarem este serviço de capela mortuária. Os demais bairros não possuem
nenhuma capela mortuária (Quadro 2).
Figura 17 – Capelas Mortuárias - São Sepé, RS – 2008
Fonte: Trabalho de Campo (2008).
Org.: Scherer, F. B.
4.3.2 Praças
As praças são espaços de lazer e integração para a comunidade utilizar em
vários momentos. O número de praças em São Sepé é mal distribuído entre os
bairros (Quadro 2). A maior parte dos bairros não apresenta nenhuma praça. O
maior número de praças encontra-se no bairro Centro, onde há quatro (Figura 18). A
Praça Nossa Senhora das Mercês é o lugar de maior centralidade na cidade e,
próxima a esta praça, estão localizados as agências bancárias e maior concentração
de comércio e serviços.
Os bairros Pontes, Londero e Kurtz apresentam apenas uma praça (quadro
2). Estas praças estão em condições inadequadas, pelo grau de destruição e pela
ausência de bancos e de árvores. As praças desses bairros estão seguidamente
sendo alvos de ataques de vandalismos.
39
A Associação Beneficente São Vicente de Paula é mantenedora do único asilo para pessoas
idosas e deficientes em São Sepé como também é proprietário pelas capelas mortuárias São
Vicente de Paula.
88
Figura 18 – Praças localizadas no bairro Centro - São Sepé, RS - 2008.
Fonte: Trabalho de campo (2008).
Org.: Scherer, F. B.
4.3.3 Quadras de Esportes Cobertas
Esse tipo de equipamento urbano tem mostrado ser ponto de encontro não
para a prática de esportes, mas, também, espaço de lazer da população local.
Observa-se na cidade apenas três quadras de esportes cobertas (Quadro 2) das
quais, duas no bairro Centro, uma pertencendo à escola particular e outra ao
Ginásio Municipal Neri Bueno Lopes (Figura 19). A Escola Estadual de Educação
Básica Francisco Brochado da Rocha, localizada no bairro Santos, é a única escola
dos bairros que possibilita a utilização desse tipo de quadra de esportes aos
moradores daquele bairro. A ausência desse tipo de equipamento urbano se faz
sentir nos demais bairros da cidade. Em decorrência das poucas quadras existentes,
é preciso pagar para utilizá-la. Tal realidade mostra a falta de investimentos e de
planejamento no que se refere à área esportiva e de lazer, sobretudo no que diz
respeito ao seu uso salutar para as práticas das diversas modalidades de esportes e
para integração das pessoas da localidade.
89
Figura 19 Quadra de esporte coberta da escola particular - São Sepé, RS
2008.
Fonte: Trabalho de campo.
Org.: SCHERER, F B.
4.3.4 Área Verde
Considerando que áreas verdes são espaços naturais cercados para
conservar e preservar as riquezas ecológicas de um local, a cidade de o Sepé
não apresenta qualquer área delimitada a partir desses padrões. O que se observa
no mapa de zoneamento da cidade é uma zona verde representando apenas um
espaço gramado e campo de futebol. Evidencia-se que a população sepeense não
se beneficia desse equipamento tão importante para a preservação da natureza e da
qualidade de vida para seus moradores. Em virtude dessa realidade, está em
tramitação projeto de doação de área, por parte de uma moradora local, à Prefeitura
Municipal de São Sepé, com o objetivo de transformá-la em área verde protegida.
Essa área se localiza próximo ao Ginásio Municipal Neri Bueno Lopes, no bairro
Centro, às margens do arroio Lajeado do Moinho.
4.3.5 Campo de Futebol
Mesmo sendo o futebol um dos esportes mais praticados no Brasil, em São
Sepé, são poucos campos existentes. Um deles está localizado no bairro Centro,
pertencente ao Clube Esportivo Bento Gonçalves (Figura 20). Ali se disputam
90
campeonatos de futebol armador em nível municipal; outro campo de futebol de uma
sociedade recreativa, localiza-se no bairro Pontes, e seu uso destina-se aos sócios.
Por fim, em mãos de uma empresa privada no bairro Santos, o campo de futebol
tem seu uso para fins lucrativos (Quadro 2).
Tal situação denota que a população sepeense tem poucas alternativas para
utilizar esses equipamentos, que poucos estão disponíveis para a população da
cidade. Por não ter outra alternativa muitos “campinhos” (terrenos baldios) são
utilizados como campos de futebol, principalmente pela população de baixa renda,
moradora dos bairros da periferia.
Figura 20 Campo de futebol junto ao Complexo esportivo PAMADE - São
Sepé, RS - 2008
Fonte: Trabalho de campo.
Org.: SCHERER, F. B.
4.3.6 Passeio Público
O passeio público serve para pessoas caminhar em um determinado lugar
com fins de lazer e/ou de prática esportiva. O bairro Centro é único com este
equipamento urbano e os demais bairros não possuem tal equipamento (Quadro 2).
A população conta apenas com um passeio público para realizar caminhadas e isso
torna o lugar muito freqüentado pelas pessoas que desejam fazer seus exercícios
diários.
91
4.3.7 Telefone público
Os telefones públicos estão distribuídos em todos os bairros da cidade São
Sepé (Quadro 2). Tal realidade se deve à pressão exercida pela população na
Câmara de Vereadores para instalação de telefones públicos nos bairros da cidade.
Nota-se no bairro Centro a maior concentração de telefones públicos em relação aos
demais bairros, porque esse bairro tem maior circulação de pessoas, comércio e
serviços.
Alguns telefones públicos estão em péssimas condições, devido às ações de
vandalismo, especialmente nos bairros considerados de baixa renda (Cristo Rei,
Lôndero, entre outros), onde esse serviço é tão necessário para uso da população.
92
EQUIPAMENTOS URBANOS INFRAESTRUTURA
Bairro
Capela
mortuária
Praça
Quadra de
Esportes
Coberta
Campo de
Futebol
Centro
Comunitário
Área Verde
Telefone
Público
Escola de Ed.
Infantil
Escola
Municipal
Escola
Estadual
Escola
Particular
Posto de
Saúde
Posto Policial
Calçamento
Passeio
Público
Coleta de
Lixo
Energia
Esgoto
Iluminação
pública
Centro
-
-
-
Pontes
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Kurtz
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Isolanda
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Tastch
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
S. Antonio
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Bela Vista
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Cristo Rei
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Lôndero
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Santos
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
S. Francisco
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Silveira
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Lili
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Rosa
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Walter
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Cooperativa
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Schirmer
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Zenari
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Hípica
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Cristóvão
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Quadro 2 – RS: São Sepé - Equipamentos urbanos e infra-estrutura nos bairros - 2008.
Fonte: TRABALHO DE CAMPO 2007/2008.
Org.: SCHERER, F. B.
Legenda:
Existente
Parcial
- Inexistente
Projetado
93
4.3.8 Escolas de Educação Infantil
As escolas de Educação Infantil anteriormente chamadas de “creches”, são
importantes locais para as pessoas deixarem seus filhos enquanto trabalham. Em
São Sepé, essas escolas se concentram em poucos bairros (Centro, Pontes e Cristo
Rei). Dessa forma, apenas no bairro Centro há escolas particulares e públicas nessa
modalidade (Figura 21). No bairro Cristo Rei, funciona uma escola de Educação
Infantil de forma voluntária, mantida pelas próprias pessoas da comunidade e por
doações para sua manutenção. No bairro Pontes, há uma escola de educação
infantil mantida pela prefeitura (Quadro 2).
A falta de vagas nas escolas públicas de Educação Infantil de o Sepé tem
gerado rios problemas na forma atender a população. A atitude emergente para
tal situação tem sido a de selecionar as crianças por sorteio. Assim, muitas pessoas
acabam recorrendo a parentes, por exemplo para cuidar de seus filhos durante o
período de trabalho. A prefeitura, como política de ampliação das escolas de
educação infantil, estuda projeto para construir tal escola, em terreno no bairro
Kurtz.
Figura 21 – Escolas de Educação Infantil no bairro Centro - São Sepé - 2008
Fonte: Trabalho de Campo
Org.: SCHERER, F. B.
94
4.3.9 Escola Municipal
A responsabilidade do município é a Educação Infantil e o Ensino
Fundamental. Em São Sepé há escolas municipais distribuídas por vários bairros:
Centro, Kurtz, Tastch, Cristo Rei, Santos, Lili, Hípica e Cristovão (Quadro 2).
Algumas escolas municipais não têm o ensino fundamental completo, tendo
em alguns casos, até quarta série ou quinto ano. A maior parte dessas escolas
municipais está localizada nos bairros mais carente da cidade. Essas escolas
enfrentam diversos problemas, devido a sua realidade social. A Figura 22 mostra
uma das escolas municipais localizada em um bairro que apresenta uma infra-
estrutura deficiente.
Figura 22 Escola Municipal de Ensino Fundamental Padre Theo, no bairro
Tastch - São Sepé - 2007.
Fonte: Trabalho de Campo.
Org.: SCHERER, F. B.
4.3.10 Escola Estadual
As escolas estaduais oferecem Ensino Fundamental e Médio, porém algumas
escolas oferecem apenas o ensino fundamental. A responsabilidade pelo
oferecimento do Ensino Médio é do Estado.
95
Em São Sepé, as escolas estaduais estão distribuídas por cinco bairros:
Centro, Kurtz, Santos, Pontes e São Francisco (Quadro 2). Embora existam nesses
bairros, o maior número de escolas está no bairro Centro, visto o tamanho
populacional e importância desse em relação aos demais bairros.
Na Figura 23, o Colégio Estadual São Sepé, única escola de Ensino Médio do
bairro Centro, que atende também outros bairros próximos. Além desse colégio, há o
Centro Integrado de Educação Pública (CIEP), na Escola Estadual de Educação
Básica Francisco Brochado da Rocha, localizado no bairro Santos, também
oferecendo Ensino Médio na cidade. Ainda na figura 23, aparece o Instituto Estadual
de Educação Tiaraju, com Ensino Fundamental, Ensino dio na modalidade
Normal e ainda Educação de Jovens e Adultos (EJA) no turno da noite, localizado no
bairro Centro.
Figura 23 – Colégio Estadual São Sepé localizado no bairro Centro - São Sepé -
2007.
Fonte: Trabalho de Campo
Org.: SCHERER, F. B.
4.3.11 Escola Particular
Estão centralizadas, em São Sepé, no bairro Centro, duas escolas
particulares (Quadro 2). Essas escolas oferecem Educação Infantil e Ensino
Fundamental, porém não o ensino médio, que é ofertado apenas pelas escolas
públicas.
96
O sistema educacional particular do município tem perdido importância nos
últimos anos. A Figura 24 mostra uma escola particular que foi considerada à
maior escola do município em número de alunos. O ensino médio nessa escola foi
fechado por falta de alunos. Recentemente, parte do prédio foi vendida, por não
estar sendo usada. Essa escola pertence à Congregação das Irmãs Religiosas Notre
Dame, tendo sua sede estadual na cidade de Canoas, Rio Grande do Sul. Também
mostra a Escola João 23, de Ensino Fundamental, localizada no bairro Centro.
Figura 24 – Escola particular localizada no bairro Centro - São Sepé, RS - 2007.
Fonte: Trabalho de Campo.
Org.: SCHERER, F. B.
4.3.12 Posto de Saúde
O posto de saúde é o primeiro local que a população procura quando
necessita de algum serviço de saúde. Atualmente, os postos de saúde são
denominados como Unidades Básicas de Saúde. Existem poucos postos de saúde
nos bairros, em São Sepé (Quadro 2). Muitas vezes, a população recorre às equipes
do Programa Saúde da Família (PSF), praticamente presente em todos os bairros,
com exceção do bairro Centro. Dessa forma, as equipes do PSF encaminham
consultas para as pessoas que necessitam.
O posto de saúde do bairro Centro (Figura 25) é o posto com maior
movimento em relação aos demais na cidade. É comum pessoas de outros bairros
se dirigirem a esse posto para procurar atendimento, devido ausência de postos nos
97
bairros. Além disso, apenas o bairro Pontes (Quadro 2) apresenta um posto de
saúde com poucos atendimentos, pois tem poucos profissionais e falta de
infraestrutura adequada.
O Hospital Santo Antônio é único hospital da cidade, atendendo pelo Sistema
Único de Saúde (SUS), convênios e particulares, com capacidade de 65 leitos. Sua
mantenedora é a Associação Beneficente Hospital Santo Antônio, contudo, a
prefeitura municipal repassa recursos mensais. Está localizado no bairro Centro,
bem próximo ao bairro Tastch.
Figura 25 – Posto de Saúde no bairro Centro - São Sepé, RS - 2007.
Fonte: Trabalho de Campo
Org.: SCHERER, F. B.
4.3.13 Calçamento
O calçamento das ruas na cidade significa maior qualidade de vida para
população ali residente. O bairro Centro é o único bairro com calçamento em todas
as ruas. Os outros bairros apresentam apenas algumas ruas calçadas.
Os bairros Zenari, Hípica e Cristo Rei (Quadro 2) não têm nenhuma rua
calçada. Nesses bairros, a maior parte da população é de baixa renda. No entanto,
existe projeto para calçamento das ruas do bairro Lôndero.
98
4.3.14 Posto Policial
O posto policial serve como um ponto em que os policiais estão disponíveis
para população, bem como para atender algum chamado. Em São Sepé, há três
postos policiais em três bairros diferentes: Centro, Tastch e Lili (Quadro 2).
Nos bairros Centro e Lili são postos policiais da Brigada Militar. A delegacia
(Figura 26) vinculada a Policia Civil atende os casos de queixas e denúncias. Caso
seja feita alguma prisão, o detento é encaminhado ao Presídio Estadual de o
Sepé (Figura 26). Tanto a delegacia quanto o presídio estão localizados no bairro
Tastch.
Figura 26 – Delegacia de Policia e Presídio Estadual de São Sepé, RS - 2007
Fonte: Trabalho de Campo.
Org.: SCHERER, F. B.
4.3.15 Coleta de lixo
A coleta de lixo é um serviço de responsabilidade da prefeitura. Na cidade de
São Sepé, esse serviço é terceirizado por uma empresa de fora do município. Todos
os bairros (Quadro 2) são atendidos por este serviço, no entanto, a freqüência de
dias da coleta varia. O bairro Centro possui coleta seis vezes por semana e os
demais bairros, três vezes por semana.
99
4.3.16 Iluminação pública e Energia.
A iluminação pública é cobrada na fatura de luz e seu valor está atrelado ao
consumo mensal de energia elétrica. Verifica-se que no bairro Centro e em outros
bairros, esta iluminação apresenta quase todos os postes com lâmpadas
funcionando. Esta realidade é diferente nos bairros: Kurtz, Santo Antonio, São
Francisco, Lili, Cristo Rei, Schirmer e Cristovão (Quadro 2), onde existem algumas
ruas completamente sem iluminação pública.
A energia elétrica é concessão da Aessul
40
Distribuidora Gaúcha de Energia
em todo o município de São Sepé. Todos os bairros são atendidos por essa
empresa privada.
4.3.17 Esgoto - Água
O esgoto não é tratado na cidade de São Sepé (Quadro 2), inexistindo
estação de tratamento para este fim. Na maioria das residências, o esgoto é ligado à
rede da CORSAN, para ser lançado, posteriormente, à captação de água no Rio São
Sepé. Contudo, evidenciam-se algumas residências, especialmente em zonas de
baixa renda, onde o esgoto não é ligado a esta rede, e o mesmo é lançado a céu
aberto ou em algum riacho.
Utilizando os dados da CORSAN (Companhia Rio-grandense de
Saneamento) foi revelado número baixo de usuários do tipo industrial em relação
aos demais usuários. Os usuários residenciais são maioria, com um total de 6409
usuários. Em segundo lugar, em termos de números de usuários, vem o comercial,
com um total de 719 usuários. Os órgãos públicos apresentam 57 usuários, ou seja,
este número representa a quantidade de pontos de abastecimento da CORSAN. A
maioria dos usuários possui hidrômetro para o consumo da água tratada na cidade,
e para o controle do consumo, colaborando para uso racional da água (Tabela 11). A
40
Essa empresa possui site para maiores informações http://www.aessul.com.br.
100
meta da companhia CORSAN tem sido a instalação de hidrômetros em todas as
residências abastecidas por ela.
Tabela 11 – RS: São Sepé - Consumo de água por tipo de usuário e categoria
da CORSAN, 2007.
Tipo
(usuário)
Com Hidrômetro
(usuário)
Sem Hidrômetro
(usuário)
Total
(usuários)
Residencial 4 821
1 588
6 409
Comercial 613
106
719
Público 55
2
57
Industrial 16
6
22
Total 5 505
1 702
7 207
Fonte: CORSAN/TRABALHO DE CAMPO, AGOSTO DE 2007.
Org.: SCHERER, F. B.
Com base nos dados da CORSAN confirmam-se 6 409 usuários da
companhia, isso significa dizer que mais de 95% das casas possuem água
encanada, que a cidade de São Sepé registra 6 500 casas. Alguns locais da
cidade, ainda utilizam poços rasos como forma de abastecimento de água,
principalmente nos bairros mais distantes do centro. Embora a tabela 6 separe
residencial do comercial, muitos usuários conjugam em uma mesma casa estes dois
tipos. A rede de abastecimento de água se estende apenas para o distrito de Vila
Block. Nos demais, seus moradores utilizam água de poços rasos ou outra forma de
abastecimento de água.
Esses equipamentos urbanos revelaram a concentração no bairro Centro. Os
demais bairros da cidade enfrentam a ausência dos equipamentos importantes como
de infra-estrutura, forçando a população a se deslocar a o bairro central. A
Cotrisel, embora com expressivo papel na cidade de São Sepé, apenas utiliza as
vantagens do território para sua reprodução, sem impulsionar o crescimento da
cidade.
101
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao lançar o olhar para o passado esta pesquisa pode analisar e resgatar o
processo formador e estruturador do espaço sul rio-grandense, com ele os primeiros
núcleos urbanos, os quais permitiram o desenvolvimento de São Sepé. Passado
este, marcado por lutas e disputas por terras, sinônimo de poder e controle do
território desde o período colonial até os dias atuais.
Essa trajetória, fortalecida pelo caráter destemido e desbravador do homem
ás terras gaúchas, deixou marca cujo cenário mescla-se entre o bucólico e o rústico.
Juntamente a tais condições forma-se um cenário rural abundante em terras,
desprovido de tecnificidade, mas mesmo assim eficiente para movimentar a
economia local e regional.
Nesse contexto, pequenos cleos populacionais foram constituindo-se em
pequenas cidades, as quais impulsionaram uma economia de baixa complexidade,
mas de grande dinamicidade. Essas dinâmicas partem especialmente do setor rural
e passam a exigir cada vez mais, especializações.
As cooperativas que surgem e em especial a COTRISEL é um exemplo dessa
especialização ou organização que vai acontecer resultado das novas funções
determinadas pela economia rural nas pequenas cidades, que tem se desenvolvido
nas últimas décadas.
Isso posto, a organização do espaço ocorreu em um primeiro momento tendo
como base nas lógicas territoriais as quais se utilizam da premissa territorial para
atuar em um determinado espaço, isto é, a cidade se organiza em torno da igreja e
da praça.
Em um segundo momento, as empresas (COTRISEL, Arrozeira Sepeense)
passam a organizar o espaço a partir da lógica concorrencial estendendo suas
ações em outros municípios criando postos de atendimento em cidades da região,
como é o caso de São Pedro do Sul, Restinga Seca.
Em um terceiro momento, as empresas mais eficazes passam a se organizar
em rede quando além da região estende seus empreendimentos em outros estados
da nação como é o caso da COTRISEL no Espírito Santo e em Minas Gerais.
102
Por tratar-se apenas de uma empresa sediada em São Sepé, e que assume
papel organizacional daquele espaço o seu controle é enorme frente a importante
participação na geração de impostos à Prefeitura Municipal e entre eles, destaca-se
o ICMS sendo considerada a empresa que mais arrecada dentro do município com
mais de um terço do total desse imposto. Essa cooperativa ao diversificar atua em
outros setores como supermercado e comunicação, comprovando a sua força e
influência na economia local e regional. Além disso, está presente em outros
municípios vizinhos ou próximos a São Sepé, sendo considerada a maior
cooperativa da região e uma das maiores do estado do Rio Grande do Sul.
As outras empresas geradoras impostos quase todas estão ligadas diretas ou
indiretamente ao setor primário da economia. Quando houve a seca em 2004 e
2005, atingindo as principais culturas (soja e arroz) afetou não apenas o setor
primário, mas quase todos os setores geraram menor valor em impostos,
especialmente no ICMS.
Desta forma, há um circuito da economia em São Sepé fluindo e tecendo uma
rede a partir do setor rural e com os demais setores, os quais são interdependentes.
Nota-se que mesmo abrigando uma das maiores cooperativas do Estado, a
cidade não possui um aporte condizente de infra-estrutura em toda a extensão do
tecido urbano, como mencionado, a maior parte dos equipamentos urbanos está
em torno da praça central. Os meios de transporte, especialmente o transporte
coletivo importante para a locomoção de mercadoria e de pessoas não tem se
mostrado eficiente no perímetro urbano, nem todos os bairros estão aptos a receber
este tipo de condução. Exceto o centro da cidade, os demais bairros não
apresentam infra-estrutura eficiente, os poucos equipamentos urbanos existentes
denotam o falta de uma política urbana no atendimento as populações residentes, as
quais se vêm obrigadas a se deslocar a zona central para usufruir dos equipamentos
de lazer, e ter acesso ao comércio e aos serviços.
As perspectivas para o crescimento e desenvolvimento da cidade de São
Sepé vão depender de um conjunto de ações entre os seus atores locais e regionais
desvelando-se das velhas práticas e buscando na dinâmica local o seu poder de
transformação em um espaço, cuja localização historicamente privilegiada
impulsione essa cidade, tornando-a capaz de ser “urbanamente” possível a todos os
seus habitantes.
103
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