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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE MATERNO-INFANTIL
MESTRADO ACADÊMICO
RONIZE COUTO DE SÁ MONTEIRO
CRIANÇAS PRÉ-ESCOLARES NASCIDAS COM MUITO BAIXO PESO:
CARACTERÍSTICAS LÚDICAS
São Luís
2008
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RONIZE COUTO DE SÁ MONTEIRO
CRIANÇAS PRÉ-ESCOLARES NASCIDAS COM MUITO BAIXO PESO:
CARACTERÍSTICAS LÚDICAS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação Saúde Materno Infantil da Universidade
Federal do Maranhão para obtenção do título de
Mestre em Saúde Materno Infantil.
Orientadora: Profª Drª Vânia Maria de Farias
Aragão
São Luís
2008
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RONIZE COUTO DE SÁ MONTEIRO
CRIANÇAS PRÉ-ESCOLARES NASCIDAS COM MUITO BAIXO PESO:
CARACTERÍSTICAS LÚDICAS
Dissertação apresentada ao Centro Programa de
Pós-graduação Saúde Materno Infantil da
Universidade Federal do Maranhão para obtenção
do título de Mestre em Saúde Materno Infantil.
A Banca Examinadora da Dissertação de Mestrado, apresentada em sessão pública,
considerou a candidata aprovada em ____/____/____.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Profa. Dra. Dilercy Aragão Adler - Examinadora
Faculdade do Maranhão
_________________________________________________
Profa. Dra. Vânia Maria de Farias Aragão – Presidente
Orientadora
Universidade Federal do Maranhão
_________________________________________________
Profa. Dra. Zeni Carvalho Lamy - Examinadora
Universidade Federal do Maranhão
_________________________________________________
Prof. Dr. Vinícius José da Silva Nina - Examinador
Universidade Federal do Maranhão
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Ao Mestre Maior – Deus.
Aos meus pais, Teresa e Genésio, pela
confiança incondicional.
Aos meus irmãos: Ana Elisa, Rosanna,
Carolina e Rafael pelo constante apoio e
carinho.
Ao meu amado filho, Iago Couto, por me
ensinar a brincar.
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AGRADECIMENTOS
À Profª Drª Vânia Aragão pela coragem de me acolher, pela dedicação nas
orientações e pela capacidade de me tranqüilizar, meus sinceros agradecimentos.
A todas as crianças participantes desta pesquisa, por aceitarem meu convite à
brincadeira e às mães e pais pela confiança e contribuição.
Às minhas queridas e inesquecíveis amigas do mestrado, mulheres poderosas, aqui
representadas por Margaret e Aparecida, obrigada pelos exemplos de vida.
As grandes amigas do Ambulatório de Seguimento – UFMA: Roberta, Joama,
Luísa, Gisele, Alaíde, Shesly, Cristiane, Patrícia pela paciência, compreensão e incentivo.
A todos os professores, pela dedicação e esforço em nos ensinar.
Aos amigos Santiago Filho e Nilton Mangueira pela ajuda inestimável e pelo bom
humor inabalável.
A amiga virtual e Terapeuta Ocupacional Madalena Sant’Ana, pela generosidade
em compartilhar seus conhecimentos.
Ao Corpo Administrativo da Faculdade Santa Teresinha (CEST) por compreender
meu tempo escasso.
As minhas queridas sobrinhas Letícia e Natália por acolherem Iago em minhas
ausências e as babás Marilene e Rosinha pelos cuidados com o trio e atenção essenciais.
Aos meus queridos sobrinhos Felipe, Iana, Eduarda e Guilherme que mesmo
distantes e sem saberem me fortaleceram com sua existência.
Aos meus avôs: Elisa e Osmundo, agradeço pela vida.
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RESUMO
Introdução: A sobrevivência de crianças nascidas com muito baixo peso (<1.500g), exige
melhor conhecimento dos aspectos determinantes do seu desenvolvimento global, na medida
em que, ao longo das suas vidas apresentam desvantagens em várias esferas. Por
considerarmos o brincar como uma atividade humana reveladora e significativa de um tempo-
espaço social, o elegemos como estratégia para observamos suas características nesta
população. Objetivo: Avaliar as características lúdicas (ação, interesse e atitude lúdicas) de
crianças em idade pré-escolar, nascidas de muito baixo peso correlacionando-as com nível
sócio-econômico e percepção dos genitores. Metodologia: pesquisa do tipo série de casos,
com amostra constituída por 36 crianças que são acompanhadas no Ambulatório de
Seguimento do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão. Utilizamos dois
protocolos: Entrevista Inicial com os Pais e Avaliação do Comportamento Lúdico (versões
brasileiras, adaptadas por Sant’Anna, 2006). Resultados: verificamos que extremo baixo peso
e desenvolvimento atípico influencia a atitude lúdica; observamos que o prazer e a
curiosidade são as características mais freqüentes nas brincadeiras, e que o senso de humor e
o gosto pelo desafio foram as atitudes menos presentes. Conclusão: O ambiente doméstico
parece favorecer as características e as práticas lúdicas visto que há espaço físico e afetivo
garantido cotidianamente para as brincadeiras, inclusive as mães de crianças com
desenvolvimento atípico referem presença de comportamento lúdico em seus filhos.
Palavras-chave: Baixo peso. Criança. Características lúdicas.
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ABSTRACT
Introduction: The survival of children born with very low birthweight (<1,500 g), requires
better knowledge of determinant aspects of their development, hence throughout their lives
they present a variety of disadvantages in many spheres. Since considering playing as a
revealing and significant time-space human activity, it was chosen as the strategy to observe
its characteristics in this population. Objective: The aim of this study is to evaluate the
playful features (action, playful attitude and interest) of children in preschool age, with very
low birth weight correlating them with their socio-economic level and perception of their
parents. Methodology: This survey was based on type-series of cases, carried out with 36
children who are followed up in the Ambulatório de Seguimento do Hospital Universitário da
Universidade Federal do Maranhão. Two different protocols were applied: an initial parental
interview and the Brazilian version of Playful Behavioral Assessment (adapted by Sant'Anna,
2006). Results: The playful attitude is influenced by the extremely low birthweight and the
atypical development. It was observed that the pleasure and curiosity are the most frequent
features in recreation, though the sense of humor and interest for challenges were less present
attitudes. Conclusion: The mother of these children referred a playful behavior and domestic
environment seems to be favorable to the playful characteristics and practices hence the
children have assured daily physical and affective space to their recreation.
Keywords: Low weight. Child. Playful Features.
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LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Freqüência da idade gestacional, média em semanas, de acordo
Classificação de New Ballard. HU-UMI, em São Luís- MA, 2007 (n =
35) .................................................................................................................... 33
Gráfico 2 - Freqüência do peso de nascimento, em gramas. HU-UMI, em São Luís-
MA, 2007 (n = 36) ........................................................................................... 34
Gráfico 3 - Freqüência da idade das mães e dos pais, no ano de nascimento dos
filhos. São Luís-MA, 2007 ............................................................................... 35
Gráfico 4 - Freqüência da renda familiar, em salários mínimos, São Luís-MA, 2007
(n = 36) ............................................................................................................. 35
Gráfico 5 - Freqüência do grau de instrução do pai (n= 34) e da mãe (n = 36). São
Luís-MA, 2007 ................................................................................................. 36
Gráfico 6 - Correlação entre desenvolvimento atípico e atitude lúdica (informação
dos entrevistados). São Luís-MA, 2007 ........................................................... 44
Gráfico 7 - Correlação entre EBP e atitude lúdica. São Luís-MA, 2007 ........................... 45
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Correlação entre interesses e capacidades quanto à ação e utilização dos
objetos e do espaço. São Luís-MA, 2007 ........................................................... 40
Tabela 2 - Comparação entre pontuação obtida nas avaliações com o escore máximo
esperado, através do Teste t-Student .................................................................. 42
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LISTA DE SIGLAS
AIG - Adequadas para a Idade Gestacional
BP - Baixo peso
DM - Deficiência mental
EBP - Extremo baixo peso
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente
GIG - Grandes para Idade Gestacional
IG - Idade gestacional
HUUMI - Hospital Universitário Unidade Materno-Infantil
MBP - Muito baixo peso
OMS - Organização Mundial de Saúde
PC - Paralisia Cerebral
PIG - Pequenas para Idade Gestacional
PN - Peso de nascimento
RN - Recém-nascido
RNBP - Recém-nascido de Baixo Peso
SINASC - Sistema de Informação de Nascidos Vivos
SM - Salário mínimo
SVS - Secretária de Vigilância da Saúde
TDAH - Transtorno do desenvolvimento da atenção e hiperatividade
UFMA - Universidade Federal do Maranhão
USTF - Ultra-sonografia Transfontanelar
UTIN - Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 12
2 OBJETIVOS ................................................................................................................. 14
2.1 Geral ............................................................................................................................... 14
2.2 Específicos ...................................................................................................................... 14
3 MARCO TEÓRICO .................................................................................................... 15
3.1 Delineando o brincar ................................................................................................... 15
3.1.1 Contribuição da cultura européia, ameríndia e negra ..................................................... 17
3.1.2 Direito a brincar: contexto legislativo no Brasil Contemporâneo .................................. 19
3.1.3 Brincar nas instituições de saúde e de ensino ................................................................ 19
3.2 Baixo peso de nascimento ............................................................................................ 22
3.2.1 Comorbidades relacionadas ao baixo peso de nascimento ............................................ 23
3.2.2 Dados epidemiológicos do baixo peso ao nascer ........................................................... 27
4 METODOLOGIA ........................................................................................................ 28
4.1 Tipo de pesquisa ............................................................................................................ 28
4.2 População da pesquisa .................................................................................................. 28
4.3 Universo da pesquisa .................................................................................................... 28
4.4 Instrumento de pesquisa ............................................................................................... 29
4.4.1 Definição Operacional de termos .................................................................................... 29
4.4.2 Recursos lúdicos utilizados na pesquisa ......................................................................... 30
4.5 Variáveis quantitativas ................................................................................................. 30
4.6 Variáveis ordinais ......................................................................................................... 31
4.7 Procedimentos de coleta ............................................................................................... 31
4.8 Análises dos dados ......................................................................................................... 32
5 RESULTADOS ............................................................................................................. 34
5.1 Dados neonatais ............................................................................................................ 34
5.2 Dados obtidos através das entrevistas: aspectos sócio-econômicos ......................... 35
5.3 Dados obtidos através das entrevistas: aspectos lúdicos .......................................... 37
5.4 Dados obtidos pela avaliação do comportamento lúdico .......................................... 40
5.5 Dados referentes aos subgrupos ................................................................................... 44
6 DISCUSSÃO ................................................................................................................. 47
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7 CONCLUSÃO .............................................................................................................. 52
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 53
APÊNDICES .................................................................................................................. 57
ANEXOS ....................................................................................................................... 63
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1 INTRODUÇÃO
Apesar dos avanços tecnológicos dos equipamentos hospitalares e do
conhecimento científico dos profissionais de saúde, a sobrevivência de neonatos de muito
baixo peso (< 1.500g), exige melhor entendimento quanto à repercussão que esse fato provoca
na vida dessas crianças no decorrer dos anos (MANCINI et al., 2004; MAGALHÃES et al.,
2003; CASTRO, 2005; DAHL et al., 2006; SCHMIDHAUSER et al., 2006;
SWAMINATHAN; ALEXANDER; BOULET, 2006).
Para possibilitar esse entendimento elegemos o brincar como meio de conhecer o
universo destas crianças na medida em que as brincadeiras são momentos importantes na vida
delas, pois “ a brincadeira é a prova evidente e constante da capacidade criadora que quer
dizer vivência” (WINNICOTT, 1982)
Contemporaneamente, infância e brincadeira funcionam culturalmente como um
binômio, sendo esperado que haja disponibilidade de tempo e interesse das crianças por
brincar. Knox (2002) acredita que brincar seja uma das atividades humanas mais
significativas e expressivas por proporcionar avanços cognitivos, psicomotores, afetivos e
culturais indispensáveis ao convívio social e ao desempenho profissional, portanto, revelador
do bem-estar físico e mental do indivíduo que brinca.
Por outro lado Brougère (2001) alerta para a tendência de tornar o brincar a
“panacéia do desenvolvimento”, quando o ato de brincar pressupõe iniciativas, acordos dos
participantes e imprevisibilidade, não sendo, portanto compatível com algumas diretrizes
educacionais. Brougère (2002) enfatiza ainda que quando se brinca o que se aprende antes de
tudo é a brincar e só posteriormente pode-se expandir o aprendido em outras esferas da vida.
Defende que o jogo (equivale a brincar) só é considerado como tal na medida em que os
atores sociais assim o identificam, diante da imagem que têm sobre o ato de brincar. Portanto,
há diversificadas maneiras de interpretar as brincadeiras e o brincar, que o referido autor
compreende como decorrentes das “culturas lúdicas”.
Ferland (2006) define o brincar como toda atividade desprovida de fins
econômicos, sustentada pelo prazer, liberdade, interesse e espontaneidade, realizado no
determinado espaço-tempo. A autora defende que o brincar engloba necessariamente 3
pilares: a ação lúdica (constituído pelas habilidades psicomotoras), o interesse lúdico
(definido como desejo de agir) e a atitude lúdica (caracterizada pela curiosidade, iniciativa,
senso de humor, gosto pelo desafio, espontaneidade e prazer). São esses determinantes que
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em última instância proporcionam bem-estar àqueles que brincam. Sendo o bem-estar
compreendido como satisfação das necessidades físicas e ausência de tensões psíquicas.
O conhecimento sobre as características lúdicas é uma estratégia de conhecimento
da própria criança na medida em que o brincar é constituído e constituinte de valores e
normas culturais, sendo representativo das relações sociais estabelecidas, assim como,
indicativo do processo de integração desta criança em sua comunidade. Desta forma, viabiliza
o planejamento de ações terapêuticas mais eficazes tanto na prevenção quanto na intervenção
das crianças nascidas com muito baixo peso que estão sujeitas às diversas alterações no
decorrer de seu desenvolvimento. Portanto, conhecer as características lúdicas de crianças
pré-escolares nascidas com muito baixo peso é a motivação central desse estudo.
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2 OBJETIVOS
2.1 Geral
Avaliar as características lúdicas de crianças pré-escolares nascidas com muito
baixo peso, atendidas no ambulatório de seguimento de uma maternidade-escola de São Luís -
MA.
2.2 Específicos
a) Caracterizar a população da pesquisa, de acordo com dados sócio-econômicos;
b) Relatar aspectos predominantes do ambiente humano e sensorial no contexto
lúdico;
c) Descrever os interesses a as capacidades lúdicas, assim como a capacidade de
expressão dos sentimentos;
d) Verificar associações entre informações das entrevistas e dados observados nas
avaliações.
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3 MARCO TEÓRICO
3.1 Delineando o brincar
Jogar, brincar dependendo de fatores lingüísticos e históricos pode ser designado
por um mesmo vocábulo ou por vários. Considerando o latim, o termo lúdico é derivado de
Ludus, de ludere que abrange todos os jogos infantis, segundo Huizinga, 2005.
Dantas (2002) afirma que “[...] brincar e jogar: dois termos em português e
fundidos nas línguas de cuja cultura somos devedores: o francês (jouer) e o inglês (play)”. E
diz que “o termo “lúdico” abrange os dois: a atividade individual e livre e a coletiva e
regrada”, referindo-se ao brincar e ao jogo, respectivamente. A autora defende que brincar e
jogar são ações diferenciadas, pois na língua portuguesa há distinção conceitual, sinalizando
as diferenças lingüísticas. Acaba reforçando dois aspectos: primeiro que o termo jogo pode
ser utilizado como sinônimo de brincar, desde que os esclarecimentos sejam expostos e a
segunda que o jogo e o brincar constituem o universo lúdico. Portanto, em nosso estudo
sempre que utilizamos o termo lúdico estamos fazendo referência ao brincar.
Desvendar o brincar é um percurso intrigante, pois brincar é um vocábulo popular
e amplamente utilizado. De fato, é uma ação possível de ser identificada corriqueiramente,
mas mesmo assim um desconhecido. Talvez a aproximação provoque a perda de um olhar
panorâmico e enfoque o brincar numa situação paralisante e simplista de ser um momento
exclusivo da infância por permitir a esta desenvolver-se globalmente, um recurso para
aquisição de inúmeras habilidades como critica e alerta Brougère (2001) .
Brougère (2001) afirma ainda, que brincar é uma descoberta, que precisa ser
iniciada e valorizada por outro sujeito, sendo esse um “vetor cultural”. Afinal, o ser humano
pertence a uma estrutura cultural, aos códigos, símbolos, valores, regras aceitas e reforçadas
socialmente.
Para Parham e Primeau (2000), o ato de brincar como objeto de conhecimento
pode ser compreendido, analisado sob a luz de várias abordagens teóricas, desde as teorias
clássicas de necessidade de gasto de energia até as teorias mais modernas como a de
perspectiva psicodinâmica, desenvolvimental e sócio-histórica.
Seja qual o referencial teórico, parece que contemporaneamente o brincar e a
criança funcionam como binômio no imaginário popular. Embora as oportunidades ao brincar
e as brincadeiras possam sinalizar as diferenças sociais não só quanto ao acesso aos
brinquedos, mas também, quanto ao tempo disponível para brincar. É salutar considerar que
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existam crianças e infâncias, portanto há universos lúdicos diversos como defende Silva
(2002), em sua pesquisa sobre o lúdico e o trabalho das meninas-mulheres e mulheres-
meninas.
Delinear o brincar, sob a perspectiva sócio-cultural foi possível a partir do
encontro com a literatura de Huizinga (2005), pois esse afirma que “é no jogo e pelo jogo que
a civilização surge e se desenvolve”. É indispensável esclarecer que, jogo como aqui definido
equivale ao brincar, pois em outras línguas não há distinção entre ambos como na língua
portuguesa. O autor ao deparar-se com as diferenças lingüísticas, diz que “[...] todo ser
pensante é capaz de entender à primeira vista que o jogo possui uma realidade autônoma,
mesmo que sua língua não possua um termo geral capaz de defini-lo. A existência do jogo é
inegável”. Em respeito aos seus escritos, sempre que forem referidas suas idéias o termo jogo
será conservado.
Na “impossibilidade” de definir o termo jogo, Huizinga (2005) o caracteriza como
sendo
[...] uma atividade livre, conscientemente tomada com” não-séria “e exterior à vida
habitual, mas ao mesmo tempo capaz de absorver o jogador de maneira intensa e
total. É uma atividade desligada de todo e qualquer interesse material, com a qual
não se pode obter qualquer lucro, praticada dentro de limites espaciais e temporais
próprios, segundo uma certa ordem e certas regras. Promove a formação de grupos
sociais com tendência a rodearem-se de segredo e a sublinharem sua diferença em
relação ao resto do mundo por meio de disfarces ou outros meios semelhantes.
A definição do brincar por Ferland (2006) e a caracterização do jogo descrito por
Huizinga (2005) compartilham das mesmas idéias, assim como, as de Bundy (2000), ao
delinearem o brincar como sendo toda atitude motivada intrinsecamente, com controle interno
dos participantes, quando a realidade é suspensa e onde há indícios sociais de que aquilo é do
universo das brincadeiras.
Huizinga (2005) deixa claro que os jogos infantis representam a essência mais
pura da qualidade lúdica, podendo causar uma impressão no primeiro momento que brincar,
que jogar o jogo, é algo não-sério. No processo de elaboração das idéias, o autor esclarece o
que considera como comportamento não-sério. Este afirma que seriedade é a negação do jogo
e diz “[...] seriedade significando ausência de jogo ou brincadeira e nada mais [...] a seriedade
procura excluir o jogo, ao passo que o jogo pode muito bem incluir a seriedade”. Em todos os
momentos em que a criança joga envolvida intensamente no jogo, as características lúdicas:
ordem, tensão, movimento, mudança, solenidade, ritmo e entusiasmo se farão marcadamente
presentes. Então, a criança joga na mais perfeita seriedade, embora saiba que é um jogo.
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O grande espectro que envolve o ato de brincar que vai desde um sorriso de
criança até as comemorações carnavalescas, tende a unificar o discurso em generalizações
conceituais. O senso comum reforça as brincadeiras nos moldes do universo adulto, como
aquilo que não é sério, de pouco valor social, transferindo quase que sem redimensionamento,
sem re-significações essa perspectiva pra o universo de descobertas e desafios vividos pelas
crianças.
Brincar é um movimento interno e fundamental para existência, pois permite o
envolvimento, o encantamento por si, pelas pessoas, pela vida, pois é na brincadeira que a
criança cativa, conquista o adulto e coloca-se prazerosamente em desafio, numa contínua
busca pela superação. Os olhares trocados com os pais, o acalanto, os embalos, os sorrisos são
brincadeiras tanto quanto as demais atividades lúdicas, conforme defende Dolto (1999).
3.1.1 Contribuição da cultura européia, ameríndia e negra
As brincadeiras constituíam a base do contato da sociedade antiga, compartilhadas
intensamente por adultos e crianças nas cerimônias religiosas. Os brinquedos e as brincadeiras
passaram a ser domínio das crianças quando os adultos deixaram de simbolizar o sagrado,
sendo estas receptoras das manifestações coletivas da sociedade dos adultos, segundo
afirmação de Áries (1981)
[...] partimos de estado social em que os mesmos jogos e brincadeiras eram comuns
a todas as idades e todas as classes. O fenômeno que se deve sublinhar é o
abandono desses jogos pelos adultos dessas classes sociais superiores, e,
simultaneamente, sua sobrevivência entre o povo e as crianças dessas classes
dominantes.
Na medida em que as comemorações religiosas coletivas foram perdendo valor e
influência na vida cotidiana é que os jogos começaram a ser “destinados” a uma determinada
idade e gênero. A discriminação por idade era bem estabelecida até os 3 anos, após essa idade
os jogos e brincadeiras eram compartilhados igualmente por crianças e adultos. Os jogos, na
sociedade antiga, eram um dos principais meios de interação coletiva, e não o trabalho, como
ocorre atualmente.
Altman (2006) destaca os brinquedos e as brincadeiras dos índios brasileiros e a
influência desses no processo de aculturação, possibilitado pela convivência em espaços
comuns entre crianças indígenas, brancas, em especial nas catequeses jesuíticas, assim como
pela miscigenação entre índios, brancos e negros. Denomina de “objeto-brinquedo: natureza”,
os chocalhos feitos de cascas de frutas secas; os ossinhos de animais, as conchas, a água, a
terra, o barro com o qual mães e crianças índias faziam os licocós (bonecas de barro).
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A contribuição da cultura negra no brincar e nas brincadeiras brasileiras, fora
proporcionada pela convivência das crianças brancas com as babás negras, as yayás, e através
das lendas como a mula - sem - cabeça, o saci - pererê, o boitatá, o caipora, o bicho-papão, o
zumbi, o papa-figo e as canções de ninar que enriqueceram o universo imaginário e relacional
das crianças brasileiras.Porém a escassez de registros sobre as brincadeiras africanas deixa
dúvidas sobre sua origem, pois “[...] as migrações fazem com que brinquedos e brincadeiras
universais sejam transmitidas da Europa e do Oriente para a África, acrescida das influências
tribais e religiosas” (ALTMAN, 2006).
Altman (2006) enfatiza que a influência européia dos portugueses, franceses e
holandeses (esses últimos importantes na cultura maranhense) é descrita principalmente
através das cantigas, brincadeiras de roda e jogos em equipe. Entre elas destaca-se ciranda-
cirandinha; eu sou pobre-pobre; mando tiro, tiro, lá, cantigas para escolha de componentes da
equipe nos jogos coletivos do tipo uni-duni, tê, cabra cega, serra-serra, as parlendas os jogos
de pega, línguas em código, brincadeiras de chateação, enfim as brincadeiras de transmissão
oral nas quais o brinquedo-objeto era dispensável.
Dessa forma, os brinquedos e as brincadeiras a partir do final do séc XIX foram
sendo re-significados na medida em que emergia uma nova ordem sócio-econômica ocidental
decorrente da evolução no processo industrial e conseqüente incremento das cidades. A
transição da vida rural para a urbana, redimensionou a confecção do brinquedo que passou do
artesanal para a industrialização e hoje tem um forte aparato de marketing e uma crescente
consolidação do mercado especializado em brinquedos eletrônicos, mas isso também requer
um outro espaço de discussão, não sendo objetivo do presente trabalho.
Altman (2006) se refere ao brinquedo industrializado como “objeto-brinquedo:
mercadoria”, e faz menção especial às bonecas (apreciadas pelas mulheres como objeto
decorativo ou como boneca-manequim do séc XV até XIX) e aos trenzinhos, destinados os
primeiros às meninas e os últimos aos meninos, pois no séc XIX já ocorria a separação do que
é “apropriado” para meninos e meninas. Descreve, entusiasmada, as brincadeiras de rua,
quando nas cidades ainda era possível ter liberdade e segurança para se apoderar “[...] das
ruas sem calçamento e nelas, além das outras brincadeiras, domina a bola de gude [...]. A rua
é das crianças, as brincadeiras se espalham de bairro a bairro [...] a criança solta pipa e balão,
seja moleque ou” filhinho de papai”.
Muitas brincadeiras foram amplamente difundas no universo lúdico das crianças
brasileiras, como: passa-anel, gato-e-rato, esconde-esconde, amarelinha, chicotinho-
- 19 -
queimado, estátua, iô-iô, batatinha frita, cinco-marias, corre-cotia, corda de pular, bambolê,
marcha soldado, bonecas e aviõezinhos de papel entre outras.
Atualmente, os impedimentos em usufruir os espaços públicos, encarceram as
crianças, distanciando-as do contato com outras crianças, da descoberta salutar com as
diferenças, do confronto na criação das regras dos jogos coletivos, condições fundamentais
para convívio em sociedade.
3.1.2 Direito a brincar: contexto legislativo no Brasil Contemporâneo
Segundo Brasil (1990), embora o ECA (Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990) no
cap. II, art. 16 determine que o direito à liberdade abrange o direito de ir e vir nos logradouros
públicos e espaços comunitários, bem como, o direito de brincar, praticar esporte e divertir-se,
o poder público parece impotente diante da violência urbana, que atinge a todos,
indiscriminadamente. O acesso ao lazer precisa ser prioridade ao se pensar sobre
desenvolvimento saudável, físico e mental da criança.
A Legislação Brasileira reflete a atual concepção da infância ao estabelecer como
direito da criança e dever da família e de toda a sociedade garantir acesso às práticas lúdicas.
Fato esse revelador do avanço político-social na construção do sujeito-criança como cidadão
ativo na sociedade. A Lei 11.104, de 21 de Março de 2005, determina a obrigatoriedade da
instalação de brinquedotecas em qualquer estabelecimento de saúde que ofereçam
atendimento pediátrico em regime de internação. Define que a brinquedoteca deve ser um
espaço de brinquedos e jogos educativos, destinados a estimular a criança e seus
acompanhantes (BRASIL, 2005).
Magalhães e Pontes (2002) alertam que as brinquedotecas passaram a ser um
espaço que atende as demandas e os objetivos das instituições, nem sempre condizentes com
as necessidades das crianças.
3.1.3 Brincar nas instituições de saúde e de ensino
O brincar e as brincadeiras tornaram-se estratégia de marketing, conforme enfatiza
Brougère (2002), para a indústria de brinquedos, assim como, para as escolas. A escola, diante
das mudanças sócias-políticas, da violência urbana tornou-se o lugar seguro e apropriado para
brincar. No entanto, os dados nacionais do Ministério da Educação e Cultura (MEC) sobre o
- 20 -
brincar nas instituições de ensino infantil revelam uma situação bem distante daquilo previsto
pelas diretrizes curriculares do MEC. Sendo detectada grande desvalorização no planejamento
do brincar e a restrição do brincar aos intervalos ou nas brinquedotecas como afirma, Barreto
(2003).
Barreto (2003) critica a má qualidade do ensino oferecido às crianças pela
precária estrutura dos prédios escolares e inadequada formação dos professores. Destaca
dados do Censo de Educação Infantil do Ministério da Educação e Cultura (MEC) de 2000,
no qual informa que na pré-escola só 36,8% tinham parquinhos. No Nordeste o percentual é
de apenas 13%.
Ainda segundo Barreto (2003), há quintal em quase 55% das pré-escolas
nordestinas, bem como o uso de sucatas também é registrado em mais de 70%, sendo segundo
o autor indício dos poucos recursos materiais disponíveis nesses espaços educacionais, visto
que todos os outros indicadores analisados (existência de brinquedoteca, biblioteca,
parquinho, horta, viveiro, brinquedos) apresentam percentual bastante insatisfatório, em
especial no Norte e Nordeste Brasileiro.
A rudimentar estrutura física das escolas infantis compromete o desejo de brincar
já que o ambiente é um fator desencadeador deste. Kishimoto (1998, p.131), critica a prática
pedagógica brasileira por não associar materiais, espaços e brincadeiras e diz que “[...] o
brincar livre torna-se utópico, uma vez que a criança não dispõe de alternativas, de objetos
culturais, ou espaços para implementar seus projetos de brincadeira”.
Sager e Sperd (1998) estudaram a relação entre os brinquedos, as brincadeiras e os
diversos ambientes, como pátio, sala e oficina de uma pré-escola pública de Porto Alegre com
episódios de conflito entre crianças. O grupo estudado continha 18 crianças com idades entre
3 e 4 anos, identificaram 77 episódios de conflito. As brincadeiras simbólicas (faz de conta)
em sala de aula tiveram correlação significativa com situação de conflito, principalmente
entre os meninos. Conflitos foram mais presentes entre os meninos tanto em brincadeiras
simbólicas como as que envolviam regras, como dominó, jogo de futebol. Entre as meninas os
conflitos foram mais significativos nas brincadeiras de acoplagem, como quebra-cabeça, lego.
Os autores argumentam que grande oferta de brinquedos que favorecem a imaginação em
ambiente de sala pode levar a conflito entre os participantes, sendo importante o uso adequado
deste espaço.
- 21 -
Carvalho, Alves e Gomes (2005) pesquisaram em 5 instituições de ensino,
públicas e privadas, as relações entre o contexto dessas instituições e o comportamento de
brincar de seus educandos. Participaram do estudo 40 crianças entre 4 e 5 anos e 10
educadores. Constataram, ainda, que os professores entrevistados optam por brincar para
alcançar objetivos pedagógicos. O brincar “livre” fica restrito aos intervalos e horário de
chegada à escola. Verificaram também que o ambiente influencia nas brincadeiras e
sinalizaram ambivalência quanto ao brincar na escola que ora era atividade livre e de rotina,
ora assumia a função de recurso pedagógico. Os autores declaram que os achados corroboram
com pesquisas sobre o tema.
Motta e Enumo (2004), em Vitória-ES, realizaram pesquisa relacionando
estratégia de enfrentamento da hospitalização e o brincar no hospital com 28 crianças com
idades entre 6 e 12 anos, internadas para tratamento de câncer. Categorizaram o brinquedo
segundo o Sistema ESAR, a saber: E - jogos de exercício; S - jogos simbólicos; A - jogos de
acoplagem e R- jogos de regras e adicionaram mais uma categoria, a de atividades recreativas
diversas (AD). Verificaram que 92% das crianças do estudo utilizavam o brincar como
recurso de superação da hospitalização.
Motta e Enumo (2004) ainda definiram o brincar como divertido, alegre e
prazeroso em 67,8% das crianças no referido estudo. Os autores constataram que 79,6% das
crianças tinham pretensão de brincar no hospital, independente do que fosse a brincadeira,
porém observaram que recortar e colar foram rejeitados e considerados não divertidos.
Rejeição também freqüente foi visto em cantar e dançar, entretanto a recusa parece ter
acontecido por vergonha. Assistir TV e jogar bingo tiveram índices de rejeição inferior a
10%. As outras atividades escolhidas com mais de 80% de aceitação foram tocar instrumento,
brincar com palhaço, montagem, modelagem, quebra-cabeça, ouvir histórias e ler.
Portanto as pesquisas demonstram que brincar faz parte do universo infantil
mesmo em situações adversas como nos casos de hospitalização. No entanto, para estudarmos
as características lúdicas das crianças do nosso estudo é necessário descrever a influência do
peso de nascimento no desenvolvimento global destas na medida em que esse é um evento
comum a toda população.
- 22 -
3.2 Baixo peso de nascimento
É crescente o interesse da comunidade científica quanto ao desenvolvimento
global da criança nascida com muito baixo peso como podemos vislumbrar pelas inúmeras
pesquisas sobre o tema que tiveram grande avanço a partir de 1960 como nos informa Dahl et
al. (2006).
Segundo a United Nations Children’s Fund e World Health Organization (2004),
o peso corporal de nascimento é um indicador mundial de saúde, e de acordo com Monteiro et
al. (1994), de caráter eminentemente biológico e sua classificação ao longo da infância é um
dado antropométrico que sinaliza o crescimento adequado do indivíduo sendo, portanto, de
grande repercussão nas condutas terapêuticas escolhidas pela equipe de saúde.
O peso corporal influencia fortemente o olhar dos familiares, especialmente dos
pais e conseqüentemente influenciará no investimento afetivo destes, bem como, afetará o
acolhimento social das crianças, dependendo dos valores culturais da comunidade na qual
estão inseridas. Para De Carlo (2001), “[...] o desenvolvimento tanto está sob influência das
leis biológicas como depende, fundamentalmente, das possibilidades oferecidas, dos limites
impostos ou das necessidades estabelecidas pelo meio social [...]”.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (2000), o peso mínimo esperado
para o nascimento de termo é de 2500g, e quando inferior a esse valor o recém-nascido
apresenta baixo peso de nascimento (BP). Mancini et al. (2002; 2004), Magalhães et al.
(2003), Méio, Lopes e Morsch (2003), Castro (2005) e Dahl et al. (2006), citam que o
incremento da tecnologia hospitalar e o maior preparo técnico da equipe da neonatologia
possibilitam a sobrevivência de recém-nascidos com peso de nascimento cada vez menor.
A Organização Mundial da Saúde (2000) classifica os bebês nascidos abaixo de
1500g como muito baixo peso (MBP) e os abaixo de 1000g como extremo baixo peso (EBP).
Para Castro (2005), Swaminathan, Alexander e Boulet (2006), Dahl et al. (2006) e Reijneveld
et al. (2006), a condição de nascer de baixo peso sinaliza a necessidade de uma atenção
especializada na medida em que são crianças em situação de risco biológico e psicoafetivo,
inclusive a longo prazo.
Corrêa Filho (2002), esclarece que “as definições de peso ao nascer – baixo;
muito baixo e extremamente baixo - não constituem categorias mutuamente exclusivas.
Abaixo dos limites estabelecidos, elas são totalmente inclusivas e, portanto, se superpõem”.
Mesmo nos países desenvolvidos onde as estatísticas quanto à sobrevivência são
favoráveis, com menos de 15 mortes a cada 1000 nascidos vivos, a prematuridade, e portanto,
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indiretamente o baixo peso são responsáveis por 40% das mortes neonatais (ocorridas do 7º ao
28º dias de vida), segundo informações de Lawn, Cousens e Zupon (2005). Os autores
ressaltam, ainda, que as estratégias de prevenção dos nascimentos de baixo peso em geral não
têm logrado sucesso, sendo necessário incremento no acompanhamento e intervenção
realizados junto às crianças nascidas com MBP.
3.2.1 Comorbidades relacionadas ao baixo peso de nascimento
Dahl et al. (2006) constataram que as presenças de problemas comportamentais e
emocionais dependem da idade gestacional (IG), peso de nascimento (PN) e gênero sendo
variável a trajetória de desenvolvimento por está vinculada aos aspectos culturais.
As dificuldades psicomotoras, sócio-afetivas, cognitivas estão presentes na vida
das crianças nascidas com MBP. Daí a importância de melhor conhecer esse grupo de
crianças, conforme constataram em suas pesquisas científicas Mancini et al. (2004), Castro
(2005), Swaminathan, Alexander e Boulet (2006), Dahl et al. (2006) e Reijneveld et al.
(2006).
O cenário de inúmeras desvantagens decorrentes do peso inadequado de
nascimento e a importância desse fator na construção das experiências vivenciadas pelas
crianças reforçam o brincar como momento apropriado para melhor conhecermos sobre os
interesses e atitudes das crianças, por se desenrolarem necessariamente no âmbito sócio-
cultural, sendo, fruto do investimento afetivo da família.
Reijneveld et al. (2006) estudaram 402 crianças aos 5 anos de idade que nasceram
muito prematuramente ( PT - com menos de 32 semanas de gestação) e/ ou com MBP, com o
objetivo de investigar a associação entre problemas emocionais e comportamentais e outras
alterações do desenvolvimento infantil, em comparação ao grupo controle formado pelas
demais crianças de 5 anos da etnia Dutch – Netherlands (Holanda). Com relação às
características sociais da população estudada, a baixa escolaridade materna (no máximo 8
anos de estudo) foi mais significativa no grupo de estudo. Encontraram uma diferença
estatisticamente significativa entre os grupos, com relação a comportamentos de retraimento,
problemas sociais e de atenção, dificuldades cognitivas e comportamentos delinqüentes mais
freqüentes no grupo PT/MBP, sendo mais extensos os problemas sociais e de atenção.
Observaram também uma prevalência maior de comportamento de retraimento nas meninas,
enquanto nos meninos estavam mais presentes problemas sociais e cognitivos.
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Resultado similar foi verificado no estudo de Dahl et al. (2006), realizado com os
pais de adolescentes entre 13 e 18 anos que nasceram com MBP, em North-Norway.
Constataram uma discordância entre as dificuldades apresentadas pelos jovens e as relatadas
por seus pais, principalmente no grupo feminino. Ao grupo de adolescentes masculinos
referem-se poucos problemas e maior competência em atividades relacionadas ao grupo
controle, enquanto os pais destacam problemas sociais e de atenção significativamente
superior, e menor desempenho acadêmico em relação aos relatos dos pais do grupo controle,
porém após análise de correlação intraclasse as diferenças apontadas entre filhos e pais não
foram significativas. Situação oposta com os resultados obtidos no grupo de adolescentes
feminino, em que são relatados problemas de atenção e comportamento delinqüente e
agressivo que não são assinalados por seus pais.
No estudo de Reijneveld et al. (2006), as variáveis preditivas para problemas
emocionais e comportamentais, foram às crianças PT/MBP que tiveram complicações
neonatais como hemorragias de graus 3 e 4, necessitando de ventilação mecânica por mais de
1 semana, e principalmente, uso de corticoesteróides. No trabalho de Dahl et al. (2006), ser
pequeno para idade gestacional (peso de nascimento menor que percentil 10) e gênero foram
as variáveis significativas indicativas de risco para problemas futuros. Os autores sugerem,
apropriadamente, a necessidade de acompanhamento dos nascidos PT/MBP especialmente no
início da vida escolar, visto que, é um momento decisivo para a detecção dos problemas
acima descritos.
Lefebvre, Mazurier e Tessier (2005) estudaram sobre o desempenho cognitivo e
educacional de jovens adultos que nasceram com EBP em Quebec, Canadá. O grupo de
estudo foi submetido a testes de coeficiente de inteligência. Os aspectos demográficos, as
complicações neonatais e a situação econômica da família foram variáveis analisadas e
comparadas com grupo controle de jovens adultos nascidos com peso adequado. Observaram
que na análise entre os resultados dos testes de QI realizados no início da vida escolar e no
adulto jovem do grupo de estudo não houve evolução significativa, isto é, os coeficientes
permaneceram inalterados. Sinalizando, segundo os autores, a continuidade das desvantagens
cognitivas, visto que, esses aos 18 anos de idade tiveram uma performance significativamente
inferior ao grupo controle.
Schmidhauser et al. (2006) avaliaram 84 crianças aos 6 anos de idade nascidas
com MBP. Objetivaram conhecer e correlacionar a performance motora e a qualidade de
movimento com fatores de riscos perinatais, analisando, portanto os fatores preditivos para
alterações no desempenho neuromotor. Detectaram um escore menor em todos os itens do
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teste em comparação à população de referência. As performances motora fina e grossa
adaptativa foram as mais afetadas.
Schmidhauser et al. (2006) ainda alertam para a importância de pesquisa com
relação ao desempenho escolar visto que as alterações psicomotoras e neurológicas
encontradas provavelmente interferiram no desempenho acadêmico por serem habilidades
necessárias às aprendizagens. Portanto é mais um estudo que reforça a suscetibilidade às
alterações no desenvolvimento global e desvantagens no desempenho das atividades
cognitivas sofridas pelos nascidos com MBP.
Platt et al. (2007) em estudo multicêntrico (16 países europeus) averiguaram a
distribuição, determinantes e clínica da paralisia cerebral (PC) entre recém nascidos (RN) com
MBP e EBP, entre os anos de 1980 a 1996. Salientaram, ainda, que o risco relativo de PC
aumenta entre 20 a 80 vezes em RNMBP em comparação ao grupo de RN nascidos acima de
2.500g. Observaram diferença entre os gêneros, sendo mais prevalente nos meninos nascidos
com MBP. Constataram ainda prevalência maior de PC espática hemiplégica entre os
nascidos com EBP e um declínio significativo, no final do século XX, da PC espástica
bilateral entre os de MBP. Sugerindo que os cuidados intensivos neonatais tem contribuído
para o controle da leucomalácia periventricular, e conseqüentemente reduzindo a prevalência
de PC bilateral ou dupla hemiparesia. São dados animadores por revelarem declínio de
morbidades mais severas e incapacitantes. Embora evidencie que o seguimento e intervenção
junto a essa população são prioritariamente por longo período.
Swaminathan, Alexander e Boulet (2006) reconhecendo a mudança na dinâmica
familiar e o maior desgaste financeiro decorrentes de um nascimento com peso abaixo do
esperado, realizaram pesquisa longitudinal na Florida – EUA. Verificaram, ainda, a
probabilidade de separação nas famílias que tiveram filhos nascidos com MBP e constataram
que havia o risco duas vezes maior de separação nos dois primeiros anos de vida do bebê. Um
outro fator de risco encontrado foi à baixa escolaridade paterna. Por outro lado, a
gemelaridade é um fator de proteção para a continuidade do casamento, assim como o maior
tempo de união e o desejo do casal quanto à paternidade e maternidade.
Em Belo Horizonte (MG), Magalhães et al. (2003) realizaram pesquisa
comparativa do desempenho percepto-motor na idade escolar em crianças nascidas pré-termo
e a termo. O grupo de estudos constituído por 35 crianças nascidas até 34 semanas e/ou peso
abaixo de 1.500g sem seqüelas neuromotoras aos 5 e 7 anos de idade e o de controle por 35
crianças com dados epidemiológicos similares aos do grupo estudado. Os resultados
apresentam diferenças estatísticas significativas em 10 dos 11 itens avaliados, com o grupo de
- 26 -
estudo demonstrando desempenho inferior, principalmente em controle postural. As autoras
afirmam que o grupo estudado faz parte de um programa sistemático de seguimento e mesmo
assim déficits foram observados, o que enfatiza a importância do acompanhamento em longo
prazo, visto que os distúrbios de comportamento e dificuldades escolares são manifestados
tardiamente. Alertam que, as crianças com seqüelas leves ainda não têm recebido atenção
devida e recomendam novas pesquisas incluindo entre outros aspectos os hábitos e interesses
no brincar.
Mancini et al. (2004), em Minas Gerais, realizaram estudo transversal, sendo
analisadas as variáveis de risco biológico e de risco social para avaliar o impacto da interação
nascimento prematuro e nível socioeconômico da família no desempenho funcional e na
independência em tarefas da rotina diária, em crianças de 3 anos de idade. Os autores
destacam que o risco social pode ter efeito moderador que interfere e modifica a relação entre
risco biológico e desempenho funcional infantil. Os resultados revelam interação entre risco
biológico e social em 2 áreas do desempenho funcional: habilidades de mobilidade e
independência em função social.
Mancini et al. (2004) inferem ainda, que a maior escolaridade dos pais, maior
acesso à informação e maior poder aquisitivo parecem contribuir para minimizar ou
compensar os efeitos dos riscos biológicos. Entretanto revelam a complexidade do
desenvolvimento ao constatarem que o mesmo fator social (nível sócio-econômico alto) que
protege quanto aos déficits supra citados, pode ser fator limitante para o desempenho
independente em crianças de alto risco biológico, pois essas recebem maior ajuda para a
realização de tarefas.
No Maranhão, Castro (2005) realizou pesquisa analítica com 186 recém nascidos
com idade gestacional menor ou igual a 34 semanas para estudar as alterações
neurocomportamentais mais freqüentes e os fatores de riscos no ambiente de uma unidade
intensiva neonatal. Constatou que 66,7% no segundo dia de vida; 41% na 37ª semana de idade
gestacional e 58,8% na alta hospitalar apresentaram alterações. Sendo que o tônus hipotônico
foi mais prevalente (28,9%) no segundo dia de vida; na 37ª semana o tônus hipertônico estava
presente em 31,9%, sendo o mais prevalente entre as alterações encontradas. A alteração
comportamental do tipo irritabilidade (31%) foi mais significativa no período da alta. A
autora conclui que com o aumento da idade gestacional e do peso, as alterações
neurocomportamentais vão se modificando. É importante frisar que em todas as etapas da
pesquisa o peso foi um dos fatores de risco estatisticamente significativo.
- 27 -
Esses estudos retratam as especificidades decorrentes do nascimento de MBP, e
paralelamente lançam um novo desafio aos profissionais da saúde e da educação ao
demonstrarem a urgência de melhoria no acompanhamento junto à essa clientela.
3.2.2 Dados epidemiológicos do baixo peso ao nascer
O baixo peso de nascimento é um fator de risco para desenvolvimento infantil,
portanto registrar a incidência desse é indispensável por conferir a magnitude da situação-
problema.
Os índices mundiais estimam que mais de 18 milhões de crianças nasçam com
baixo peso, o que corresponde a 14% de todos os nascimentos. Porém esse número pode ser
maior, afinal só metade dos recém-nascidos é pesada ao nascer como afirmam Lawn, Cousens
e Zupon (2005). Dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2004,
fazem referência a 20 milhões de RNBP, sendo que na Ásia e África as incidências são
alarmantes com 40% e 22%, respectivamente. Na América Latina há 1,2 milhão de RNBP e
na Oceania 27 mil.
O Ministério da Saúde (MS) e a Secretaria de Vigilância da Saúde (SVS), através
do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC), informam nos indicadores de
morbidade e fatores de risco que no Brasil 8,2% de recém-nascidos foram de baixo peso, no
Nordeste a proporção é de 7,4 e no Maranhão 6,8. Afirmar-se ainda, que em 2003, no
Maranhão 6,66% nasceram com BP e destes 63,83% foram pré-termos; 5,94% crianças de
termo e 4,71% foram crianças pós-termo. Os índices nacionais confirmam a estimativa
mundial quanto ao crescente número de nascimentos de baixo peso ou crescente identificação
destes nascimentos (BRASIL, 2005; 2007).
Dados de 2005 do SINASC revelam o nascimento de 874 bebês de baixo peso, no
Maranhão. Destes, 30 nasceram abaixo de 500g, 293 entre 500g e 999g e os demais, 651
bebês, nasceram entre 1000g e 1499g (BRASIL, 2007).
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4 METODOLOGIA
4.1 Tipo de pesquisa
Investigou-se, através de pesquisa do tipo série de casos o brincar (a atitude, o
interesse e a ação lúdicas) de crianças nascidas com MBP. Para melhor investigação das
características lúdicas desta população analisou-se os dados obtidos sob diferentes aspectos, a
saber: extremo baixo peso, desenvolvimento atípico, pequeno para idade gestacional e idade
gestacional inferior a 32 semanas.
Pereira (1995) define esse estudo como uma abordagem de pesquisa utilizada nas
investigações iniciais sobre um evento, a partir da observação de alguns casos e da descrição
do perfil das principais características destes.
Considerações éticas:
Pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Universitário da
Universidade Federal do Maranhão (UFMA – Processo Nº 33104-130/2006) (ANEXO A).
4.2 População da pesquisa
Encontrou-se, após consulta aos prontuários do ambulatório de seguimento, uma
população de referência formada por 91 crianças nascidas com MBP entre 1º de Julho de
2001 a 31 de Junho de 2003, estando atualmente em idade pré-escolar. Sendo nossa amostra
de conveniência constituída por 36 crianças, pois foram verificados casos de crianças que
mudaram de residência, inclusive estando em outros Estados da Federação, outras evadidas há
alguns anos e com as informações de endereço e telefônicas alteradas, não sendo possível o
contato.
A idade pré-escolar compreende a faixa etária de 4 a 6 anos conforme o
determinado pela Lei de Diretrizes e Base da Educação Brasileira, Lei Nº 9.394/1996, no
capítulo II, seção II no art. 30º (BRASIL, 1996).
4.3 Universo da pesquisa
Todas as crianças avaliadas neste estudo são sistematicamente acompanhadas no
ambulatório de seguimento do serviço de neonatologia do Hospital Universitário – Unidade
Materna Infantil (HU-UMI) da UFMA.
- 29 -
As normas e objetivos do Ambulatório de Seguimento são determinados pelo
Método Canguru – atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso constituindo a
terceira etapa dessa metodologia, de acordo com o Manual Técnico do Método Mãe-Canguru,
Brasil (2002). O método foi implantado como política pública de atenção à saúde materno-
infantil desde 1999.
As atividades do Ambulatório de Seguimento do HUUMI em São Luís-MA,
foram iniciadas em 2000, no qual fazem parte uma equipe multiprofissional, formada por 4
pediatras, 2 enfermeiras; 3 auxiliares de enfermagem; 2 terapeutas ocupacionais; 1 assistente
social; 1 psicóloga; 1 neuropediatra; 1 cardiologista; 2 oftalmologistas. Sendo que as outras
especialidades, como por exemplo, gastropediatra, ortopedia, fisioterapia e fonoaudiologia
atendem por encaminhamentos, quando necessário.
4.5 Instrumento de pesquisa
Elegeu-se a Avaliação do Comportamento Lúdico e a Entrevista Inicial com os
Pais (ANEXO B) idealizados por Ferland (2006), por ser um instrumental, referente aos
aspectos lúdicos, já submetido ao processo de tradução transcultural e verificado a
confiabilidade entre 3 pesquisadores, de acordo com a pesquisa de Sant’Anna (2006), sendo
utilizada a versão final proposta por essa.
Além do aspecto científico considerado, a estrutura conceitual e o procedimento
de avaliação do comportamento lúdico fornecem subsídios para uma observação mais
estruturada e reflexiva sobre o brincar, reforçando os motivos da escolha.
4.5.1 Definição Operacional de termos
De acordo com o Modelo Lúdico, brincar é uma “atitude subjetiva em que o
prazer, o interesse e a espontaneidade se esbarram; essa atitude se traduz por uma conduta
escolhida livremente e para a qual nenhum rendimento específico é esperado” (FERLAND,
2006).
Portanto, uma situação de brincadeira, ou seja, um comportamento para ser lúdico
necessita de elementos que o caracterizam, elementos esses identificados como: atitude
lúdica, interesse pelo brincar e ação do brincar.
- 30 -
De modo que o brincar é dimensionado como um meio de descoberta do prazer e
da capacidade do agir, as quais possibilitam a prática da autonomia e o sentimento de bem-
estar daquele que brinca.
Ferland (2006) define a atitude lúdica como toda “[...] atitude caracterizada por
prazer, curiosidade, senso de humor e espontaneidade, pelo gosto de tomar iniciativas e de
superar desafios”, sendo o interesse conceituado como a atração pelo brincar e a ação do
brincar formada pelos componentes instrumentais (sensoriais, motores, perceptivos e
cognitivos) que permitem a atividade do brincar.
Faz-se necessário abordar dois termos o prazer e o senso de humor, pois podem
ocasionar dúvidas quanto ao entendimento utilizado na pesquisa. Portanto, prazer na pesquisa
é compreendido como sensação agradável decorrente do interesse em determinada atividade
advinda da experimentação do ambiente físico e pela interação com os outros. O senso de
humor é utilizado como habilidade de apreciar esportivamente as diversas situações surgidas
durante as brincadeiras, mesmo que sejam adversas e contrárias aos interesses do momento.
Quanto ao termo desenvolvimento atípico utilizado nessa pesquisa esclarece-se que,
esse faz referência a todas as alterações neurológicas e psíquicas encontradas na população do
estudo.
4.5.2 Recursos lúdicos utilizados na pesquisa
A metodologia de Avaliação do Comportamento Lúdico não determina a
utilização de recursos lúdicos previamente estabelecidos. Ferland (2006) esclarece que, “[...]
essa avaliação não requer nenhum material particular, apenas o brinquedo habitualmente
presente nos serviços de terapia ocupacional; ela exige, entretanto, um bom senso de
observação, um bom conhecimento do brincar normal e uma sólida avaliação clínica”. Desta
forma, listou-se os objetos (APÊNDICE A), aos quais as crianças tiveram acesso livre, tanto
na escolha quanto no uso.
4.6 Variáveis quantitativas
As variáveis clínicas do período neonatal avaliadas no estudo foram: idade
gestacional (Classificação de New Ballard); peso de nascimento em gramas e Classificação de
Lubchenco (APÊNDICE B).
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Dentre as variáveis sócio-econômicas da família avaliou-se: a idade (anos de vida
dos pais na data do parto), renda mensal familiar (em salário mínimo vigente em 2007). E as
variáveis referentes às crianças do estudo: idade, número e idade dos irmãos.
4.7 Variáveis ordinais
Foram consideradas variáveis ordinais: o interesse pelo ambiente humano (adulto
e infantil); interesse pelo ambiente sensorial (visual, tátil, vestibular, auditivo e olfativo);
interesse e capacidade lúdica em relação aos objetos e ao espaço; atitude lúdica (curiosidade,
iniciativa, senso de humor, prazer, gosto pelo desafio, espontaneidade) e expressão dos
sentimentos (prazer, desprazer, tristeza, raiva e medo).
Dois itens foram eliminados na avaliação, um na utilização dos objetos quanto o
interesse e a capacidade para enroscar/desenroscar (ainda há dúvida semântica no processo de
tradução) e o outro item se refere à utilização do espaço quanto ao uso de elevador (não faz
parte do contexto social e econômico da população estudada). Sendo os pontos referentes a
esses itens subtraídos do total esperado, não causando prejuízo à pontuação final alcançada
pelas crianças do estudo.
Além das variáveis citadas acima se incluiu: grau de instrução (ensino: fundamental,
médio e superior, podendo ser completo ou incompleto), profissão, estado civil dos genitores
(considerou-se casado todo casal com matrimônio formal ou não).
4.8 Procedimentos de coleta
Os familiares foram contatados por telefone, momento este, que receberam
informações preliminares sobre o objetivo da nossa pesquisa, e após acolhimento da proposta,
agendado dia e hora da avaliação lúdica.
No dia marcado, os familiares recebiam o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (APÊNDICE C), nesta ocasião forneceu-se tempo livre para leitura e posterior
esclarecimento. Após concordância e assinatura do referido termo, iniciava-se a avaliação
com a criança, sendo o ambiente anteriormente organizado para esse fim, assim como,
posicionava-se, antecipadamente, a filmadora Panasonic (VHS com transferência posterior
para DVD).
Na sala da terapia ocupacional do ambulatório supracitado, aplicou-se a avaliação,
e a presença do familiar em sala no momento da brincadeira ficava a critério da criança.
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Foram realizadas avaliações individuais, de dupla e em grupo de no máximo 4
crianças. Inicialmente optou-se por avaliações individuais, porém dados importantes não
estavam sendo verificados como interesse da criança frente à outra criança. Fez-se contato por
correio eletrônico com a pesquisadora responsável pela validação do instrumental no Brasil,
Profª Ms. Maria Madalena Sant’Anna sendo autorizada a realização em grupo.
Desde então, priorizou-se as avaliações em duplas ou em trios, constituídos
considerando-se a idade, sempre que possível.
Nas avaliações individuais invariavelmente, na presença de criança com alteração
motriz e sempre que solicitada pela(s) criança(s), mesmo em situação de grupo, a terapeuta-
avaliadora participava ativamente das brincadeiras.
Os preenchimentos dos protocolos da avaliação eram feitos em seguida à coleta
ou ao observar as filmagens. Priorizou-se o registro imediato, para salvaguardar os dados
colhidos, pois em 3 ocasiões a filmagem não foi realizada: em uma situação estava-se sem
aparelhagem e nas outras 2 o registro não foi feito, embora o equipamento estivesse
posicionado e ligado. Ressalta-se que embora o registro visual seja importante por permitir
reavaliações do mesmo episódio, não houve prejuízo de coleta nos casos não filmados na
medida em que as pontuações foram registradas imediatamente após o término das avaliações.
Em 94,4% dos casos foram as mães que responderam às entrevistas, realizadas
após a avaliação, no mesmo dia ou posteriormente através de nova marcação. O impedimento
de coletar todas as informações no mesmo dia foi decorrente do tempo, visto que a avaliação é
feita em torno de 1 hora. A própria entrevista é extensa, demorando aproximadamente 40
minutos para ser concluída. Em algumas exceções fez-se processo contrário, a entrevista
anterior à avaliação, devido à escassez de tempo e organização da agenda de marcação. No
momento da entrevista também se coletou dados sócio-econômicos.
Para melhor apresentar os dados coletados organizou-se estes em: a) interesse
geral; b)expressão dos sentimentos; c) interesse por brincar; d) atitude lúdica e finalizando e)
atividades cotidianas da criança, quando se relata sobre as informações obtidas nas
entrevistas. As informações obtidas nas avaliações foram organizadas em: a) interesse pelo
ambiente humano; b) interesse pelo ambiente sensorial; c) interesse e capacidade lúdica em
relação à ação e utilização dos objetos; d) interesse e capacidade em relação à ação e
utilização do espaço; e) expressão das necessidades e dos sentimentos e f) atitude lúdica.
4.9 Análises dos dados
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Os dados foram processados nos programas de bioestatística Epi Info 3.4.1 e
SPSS 16.0 para análise estatística descritiva expressa por médias e DP, e analítica com
inferências por meio do Teste t-Student para analisar a diferença estatística entre duas
amostras. Para verificar a direção e o grau de associação entre duas variáveis numéricas de
forma linear utilizou-se o Coeficiente Linear de Pearson e para variáveis ordinais utilizou-se o
Coeficiente de Spearman.
- 34 -
5 RESULTADOS
A amostra de conveniência foi composta por 36 crianças que corresponde a 39,5%
da população de referência.
5.1 Dados neonatais
Quanto à idade gestacional (IG), de acordo com a Classificação de New Ballard, a
menor foi de 26 semanas e 3 dias, sendo a maior de 37 semanas e 1 dia. A média foi de 31
semanas com DP ± de 2,4 semanas (gráfico 1).
Gráfico 1 - Freqüência da idade gestacional, em semanas, de acordo Classificação de New Ballard. Dados
obtidos em prontuários do Ambulatório de Seguimento-HU-UMI, em São Luís- MA, 2007 (n=36).
Quanto o peso de nascimento das 36 crianças o menor foi de 825g e o maior de
1.495g. Dezoito crianças com peso maior de 1330g, a média de peso foi de 1.241g com DP ±
198g (gráfico 2).
- 35 -
Gráfico 2 - Freqüência peso de nascimento, em gramas. Dados obtidos em prontuários do Ambulatório de
Seguimento do HU-UMI, em São Luís-MA, 2007 (n=36).
Em 30 prontuários foi possível obter informação sobre a Classificação de
Lubchenco que correlaciona peso de nascimento com idade gestacional (ressalta-se que esse é
um dado obtido em prontuário, portanto corresponde aos procedimentos da época, atualmente
o serviço referido faz uso da Classificação de Alexander). Foram classificadas como
adequadas para idade gestacional (AIG) 20 crianças que corresponde a 66, 7% do total.
Devido à relevância para desenvolvimento infantil das condições neonatais citadas
acima, verificou-se os dados lúdicos sob diversos olhares, isto é analisando isoladamente
(subgrupo) o EBP, PIG e IG< 32 semanas, além destes também se observou o subgrupo das
crianças com desenvolvimento atípico.
A seguir apresenta-se os dados obtidos nas entrevistas: sócio-econômicos e
aspectos lúdicos da população do estudo, e por fim os dados coletados nas avaliações.
5.2 Dados obtidos através das entrevistas: aspectos sócio-econômicos
Agrupou-se por faixa etária, a idade dos genitores no ano de nascimento do filho,
conforme utilizado pelo Instituto Brasileiro Geográfico e de Estatística (IBGE). Do grupo
estudado, obteve-se informação da idade de todas as 36 mães, no entanto só foi possível saber
a idade de 33 pais. A média de idade materna foi de 24,2 anos com DP ± de 5,1 anos. A média
de idade paterna foi de 27,4 anos com DP ± de 7,4 anos (gráfico 3).
- 36 -
Gráfico 3 - Freqüência idade das mães e dos pais, no ano de nascimento dos filhos, São Luís-MA, 2007.
Quanto à renda familiar, considerando salário mínimo (SM) vigente no Brasil. As
36 famílias (44,4%) possuem renda entre 1 e 2 SM. A metade das famílias do estudo
sobrevivem com 1 SM ou menos (gráfico 4).
Gráfico 4 - Freqüência da renda familiar, em salários mínimos, São Luís-MA, 2007 (n=36).
Os pais são casados em 55,6% das famílias pesquisadas, considerando tanto
matrimônio formal como informal. Em 16,7% as mães são solteiras e são as responsáveis
pelos cuidados com o filho; pais separados compreendem 27,8% da população estudada.
Quanto a escolaridade, todas as mães têm no mínimo o fundamental completo (de
oito ou mais anos de estudo), sendo que 63,9% têm ensino médio completo. O ensino superior
está sendo realidade em curso para 2 mães das 36 pesquisadas. Quanto à escolaridade paterna,
18 (52,9%) dos 34 pais dos quais se obteve informações, concluíram o ensino médio; 14,7%
não cursaram nem o ensino fundamental completo (gráfico 5).
- 37 -
Gráfico 5 - Freqüência grau de instrução do pai e da mãe, São Luís-MA, 2007.
Quanto a profissão materna, 12 se consideram “do lar”, 4 são estudantes, 6 são
empregadas domésticas ou fazem serviço similar como ajudante de cozinha, camareira. Duas
são professoras do ensino fundamental, 2 são auxiliares de enfermagem e as demais declaram
atividade no comércio como balconista, vendedora, recepcionista, manicure, confeiteira.
Quanto a profissão paterna, apenas 1 é estudante, há 1 funcionário público, 4
foram declarados como autônomo; 5 trabalham na construção civil (pedreiro, pintor,
carpinteiro), 3 são mecânicos, 2 são técnicos e outros 2 são eletricistas, e os demais exercem
profissão de guia de turismo, fotógrafo, serigrafista, zelador, vendedor, motorista, cobrador.
Em cinco casos as mães não souberam responder sobre a profissão do pai biológico do filho.
5.3 Dados obtidos através das entrevistas: aspectos lúdicos
O grupo estudado é composto por 20 meninos (55,6%) e 16 meninas (44,4%),
com média de idade de 4,7 anos e DP ± de 0,8 anos. A moda foi de 5,02 anos. Vinte crianças
(55,5%) têm irmãos ou irmãs. Apenas uma criança não freqüenta a escola, segundo
informação materna devido ao não aproveitamento do filho e dificuldade de adaptação
escolar. Essa criança tem alteração comportamental com diagnóstico a ser esclarecido.
a) Interesse geral: ambiente sensorial e humano
Há uma rejeição em 62,9% dos casos a texturas rugosas, ásperas como a barba do
pai, sendo que 44,4% não souberam responder se os filhos tinham interesse por textura macia.
Os entrevistados destacaram grande interesse dos filhos por brincar com água (94,4%), com
- 38 -
areia (83,3%) e com gelo (63,9%). Em 36,1% as mães não souberam responder se filho tinha
interesse por grama, devido à falta de oportunidade de estar neste tipo de ambiente.
Ser deslocada, isto é, rodopiada, lançada no ar é muito atrativo para 77,8% das
crianças, assim como são interessadas por sons domésticos (75%), em serem abraçadas
(63,9%) e por cheirar (55,6%).
Quanto à disponibilidade de brinquedos que apresentem estímulos: táteis,
auditivos, visuais, de imitação, de imaginação e de interação e o interesse da criança em
brincar com estes, de um total possível de 7 pontos, 36,1% atingiram a nota máxima, sendo a
média de 5,5 com DP ± de 1,5. Destes a bola, neste estudo considerado brinquedo de
interação, é o mais disponível e mais apreciado pelas crianças em 94,4% dos casos. Os
brinquedos de estímulos visuais (coloridos, iluminados, com contrastes) e os de estímulos
sonoros foram os menos disponíveis, presentes em 30,6% e 27,8% dos casos,
respectivamente. Provavelmente por serem brinquedos que exijam maiores condições
financeiras para aquisição.
Em 91,4% dos casos os entrevistados afirmaram que seus filhos demonstram
grande interesse em manter contato com outras crianças. O interesse por outras crianças pode
também ser evidenciado pela preferência em brincar com primos, vizinhos, colegas em 45,7%
dos casos. Apenas 8,6% das crianças demonstraram preferência por brincar com os irmãos,
sendo, no entanto, estes os parceiros habituais em 31,4%, conforme identificado pelos
entrevistados. Portanto, parece haver uma preferência marcante em compartilhar brincadeiras
com crianças que não pertencem ao seio familiar, visto que, só em três casos os irmãos são os
escolhidos como parceiros mais desejados.
O pai é parceiro habitual para seis crianças durante a brincadeira, assim como a
mãe é para outras seis crianças (17,1%). Outras quatro crianças preferem ter a mãe como
parceira, embora seja habitual brincar com os irmãos.
b) Expressões dos sentimentos e das necessidades
Das crianças do estudo, 91,4% expressam oralmente para os pais seus interesses
diante de um ambiente ou de brinquedos ou de situações que lhe atraem.
Verificou-se pelas informações dos entrevistados que: 94,4% das crianças pedem
verbalmente para ir ao banheiro ou para comer; 50% solicitam por palavras ou frases a
atenção dos pais e 61,1% verbalizam necessidade de segurança na presença de estranho ou
quando com medo de algo.
Os entrevistados revelaram que em 66,7% das crianças falam que estão com
medo; assim como dizem quando sentem prazer e desprazer em 41,7% dos casos. A raiva é
- 39 -
expressa em 72,2% dos casos por gritos, gestos e expressão facial e a tristeza em 50% através
da expressão facial e por gestos.
Em 80% dos casos, os entrevistados disseram que dão explicação verbal, isto é
conversam com os filhos nas diversas situações cotidianas.
c) Interesse por brincar
Em mais de 97% dos casos os entrevistados observaram que os filhos gostam de
brinquedos novos e de explorar espaços externos, tipo varanda, quintal, praça. Disseram em
85,7% dos casos que os filhos gostam de brincar de faz de conta, porém em 41,7% dos casos
não gostam de repetir a brincadeira para dominá-la, isto é, acreditam que os filhos não têm
interesse em aperfeiçoar ação diante dos desafios impostos pelos brinquedos.
Brincar foi resposta unânime, ao ser solicitada informação da atividade preferida
dos filhos. Jogar bola e correr são preferidos por 13 crianças e uma delas também gosta de
empinar pipa. Nove crianças preferem atividades de imaginação que envolve desenhar, pintar,
sendo que para uma destas ir a escola é a melhor atividade. Atividades de imitação (faz de
conta) que abrange brincadeiras com boneca, carro são preferidas por cinco crianças. Andar
de bicicleta é preferido por duas crianças, outras duas crianças preferem cantar/dançar; uma
criança prefere jogo de montar e outra de pular na cama.
Três mães não souberam especificar do que o filho mais gostava e responderam
dizendo “mexer nas coisas”, “de tudo um pouco” e “brincar em seu cantinho”.
Quanto à atividade preterida, 21 entrevistados não souberam responder,
correspondendo a 55,5% do grupo pesquisado. Atividades da vida diária que envolve tomar
banho, escovar dentes, alimentar-se são rejeitadas por cinco crianças e atividades escolares
por duas, outras duas não gostam de ficar quieto, segundo relato das mães. Brincar de faz de
conta é preterido por cinco crianças e uma não gosta de bola.
As duas crianças que não gostam de ficar “quietas”, uma delas após a escola fica
no ambiente de trabalho da mãe que é empregada doméstica. A outra faz elaboradas pela mãe,
“atividades escolares extras”, conforme definição desta.
d) Atitude lúdica
O prazer e a curiosidade por brincar foram às únicas atitudes lúdicas a serem
declaradas como presente por todos os entrevistados. Em quase 70% dos casos a
espontaneidade e a iniciativa durante as brincadeiras estavam freqüentemente presentes. O
gosto pelo desafio estava presente em 50% dos casos e o senso de humor ao brincar sempre
presente em apenas 36,1%, segundo relato dos entrevistados.
e) Atividades cotidianas da criança (cronograma semanal)
- 40 -
Quanto às atividades cotidianas da criança, das 36 crianças, 19 (50%) tem
rotineiramente horário para as atividades escolares em casa; brincar é atividade diária para
todo o grupo, sendo, no entanto intensificada nos finais de semana.
As mães fazem a distinção entre brincar e assistir TV, pois citam um e outro,
sinalizando assim que, assistir TV pode ser divertido, um lazer, uma distração, mas é diferente
do ato de brincar no qual a criança tem participação direta no processo das brincadeiras.
Observou-se que aos sábados 13 crianças freqüentemente fazem visitas aos
familiares, em especial à casa da avó materna, outras nove crianças assistem TV. Ir a igreja é
freqüente em cinco famílias, outras quatro vão à praia, atividades escolares são realizadas por
três crianças também aos sábados. Em um caso a resposta foi “fica em casa”, justamente da
mãe cuja filha a acompanha no trabalho.
Aos domingos as visitas são mais freqüentes para 16 crianças, sendo a ida à casa
da avó materna a mais preferida; a TV aos domingos só foi referida por três entrevistados. Os
passeios, idas a praia, pizzaria, praça são freqüentes para nove crianças, ir à igreja é uma
rotina dominical para cinco crianças; sair de casa foi referido como muito raro por uma mãe.
Só uma criança utiliza computador.
Apenas uma criança participa de atividades desportivas, faz balé duas vezes por
semana. Outras três freqüentam serviço de reabilitação com fisioterapeuta e terapeuta
ocupacional uma vez por semana cada.
5.4 Dados obtidos pela avaliação do comportamento lúdico
A seguir expõem-se as informações colhidas nas entrevistas, conforme
organização descrita na metodologia:
a) Interesse pelo ambiente humano (adulto e criança)
Verificou-se o interesse demonstrado pela criança na presença, na ação, na
interação verbal e não verbal diante do adulto e de outras crianças. Dos 12 pontos máximos a
serem alcançados, frente à figura do adulto, a média foi de 10,6 com DP ± 1,6.
O interesse da criança em relação à outra teve média de 5,8 com DP ± de 5,3 de
um total de 12 pontos. No entanto só 21 crianças foram avaliadas em duplas ou em grupo.
b) Interesse ambiente sensorial
Dos 15 pontos possíveis de serem alcançados nesta variável, a média foi de 11,3
com DP ± 2,3.
As crianças, 69,9% dos casos, demonstraram grande interesse por estímulos táteis,
seguidos pelo interesse auditivo (63,9%) e por elementos vestibulares que engloba balanços,
- 41 -
embalos (58,3%). Os estímulos visuais foram de grande interesse para 20 crianças (55,6%). A
rejeição, isto é, a falta de interesse por elementos olfativos esteve presente em 22 crianças,
correspondendo a 61,1% do total.
c) Interesse e capacidade lúdica em relação à ação e utilização dos objetos
Agir diante dos objetos envolve a observação do soltar, apertar, segurar, bater e
pegar. Dos 18 pontos possíveis de serem alcançados quanto ao interesse a média foi de 15,3
com DP ± 1,4, e a capacidade teve média de 12 com DP ± 2,0 sendo a pontuação máxima
de 12.
Utilização dos objetos envolve habilidades para jogar bola, esvaziar, descobrir
propriedades e funcionamentos dos objetos, imitar gestos, encontrar soluções, utilizar tesoura,
lápis e colher entre outras habilidades. De 63 pontos máximos quanto ao interesse à média foi
de 47,4 com DP ± 6,0. Dos 42 pontos máximos quanto à capacidade a média foi de 37,6 com
DP ± 6,1.
Correlacionou-se interesses e capacidades na ação e utilização dos objetos e do
espaço e foi constatado estatísticas significativas entre essas variáveis com exceção do
interesse e capacidade de ação diante dos objetos (tabela 1).
Tabela 1 - Correlação entre interesses e capacidades quanto à ação e utilização dos objetos e
do espaço. São Luís-MA, 2007
Coeficiente de Correlação
de Spearman
P
Ação
Objeto 0,1923 0,2612
Espaço 0,3324 0,0476
Utilização
Objeto 0,7103 0,0001
Espaço 0,3496 0,0366
Valor de p < 0,05
d) Interesse e capacidade lúdica em relação a ação e utilização do espaço
Mudanças posturais, deslocamento, exploração visual do ambiente, manter-se
sentado são capacidades e interesses avaliados em relação ao espaço. Dos 15 pontos possíveis
de serem alcançados quanto ao interesse, a média foi de 12,9 com DP ± 1,5. Já em relação à
capacidade de agir no espaço, de um total máximo de 10 a média foi de 9,6 com DP ± 1,2.
- 42 -
Locomover-se empurrando e segurando objeto, explorar fisicamente o espaço,
abrir e fechar porta, são habilidades referentes ao interesse e a capacidade na utilização do
espaço. De 12 pontos máximos a serem alcançados no interesse, a média foi de 9,9 com DP ±
1,7. Quanto a capacidade na utilização do espaço de 8 pontos possíveis a média foi de 7,7
com dp+ de 1,3.
Correlacionou-se os interesses e as capacidades na ação e utilização dos objetos e
do espaço com idade atual das crianças do estudo e com o peso de nascimento destas, sendo
verificada significância entre a capacidade de ação e de utilização do espaço com a idade.
Não houve relação estatisticamente significativa entre interesse na ação e utilização do espaço
ou do objeto com as variáveis: idade atual e peso de nascimento.
e) Expressão das necessidades e dos sentimentos
Quanto à expressão das necessidades fisiológicas não foi possível de ser
observada em 24 crianças (66,7%), acredita-se pelo tempo da avaliação de aproximadamente
de uma hora. A necessidade de atenção foi expressa verbalmente em 61,1% das crianças,
assim como, foi comunicado oralmente por 27,8% das crianças a necessidade de segurança,
sendo que em 44,4% não foi possível a observação.
A expressão verbal neste estudo engloba as capacidades comunicativas humanas,
sendo constituída por gesto, expressão facial, grito e a fala.
O prazer foi o único sentimento possível de ser observado em 100% dos casos,
sendo em 41,7% expresso verbalmente. O desprazer foi verbalizado por 31,4% das crianças.
A raiva e o medo não foram observados em mais de 80% dos casos, seguidos pela tristeza em
58,3% e o desprazer em 22,9% dos casos.
A pontuação máxima possível de ser alcançada quanto à expressão dos
sentimentos é 20, nenhuma criança atingiu esse pico e a média foi extremamente baixa, de
apenas 7,2 com DP ± 3,4, haja vista o grande percentual de expressão dos sentimentos não
observados.
Verificou-se correlação entre dados obtidos nas entrevistas junto aos familiares
com os dados registrados nas avaliações das crianças do grupo de estudo e não houve
nenhuma associação significante quanto à atitude lúdica, expressão das necessidades e dos
sentimentos.
f) Atitude lúdica
Dos 12 pontos possíveis quanto às características da atitude lúdica a média foi de
9,6 com DP ± 2,2.
- 43 -
A curiosidade foi a característica mais marcante em 80,6% das crianças, seguida
pela espontaneidade 69,4%, pelo prazer 63,9% e pela iniciativa 61,1%. O senso de humor e o
gosto pelo desafio foram às características menos presentes, tendo sido observados somente
em 55,6% e 38,9%, respectivamente.
Analisou-se a correlação entre atitude lúdica com o peso de nascimento e a idade
atual das crianças do grupo de estudo e não se observou.
Comparou-se pontuação média obtida nas avaliações com o escore máximo e foi
verificado diferença significativa, em todas as variáveis analisadas com exceção da
capacidade de ação junto ao objeto e na capacidade de utilização do espaço (tabela 2).
Tabela 2 - Comparação entre pontuação obtida nas avaliações com o escore máximo
esperado, através do Teste t-Student.
Escore Total
Média ± DP p
Ambiente Humano
Adulto
12
10,6 ± 1,6 0,0001*
Criança
12
5,8 ± 5,3 0,0001*
Ambiente Sensorial
15
11,4 ± 2,3 0,0001*
Interesse
Ação objeto
18
15,3 ± 1,4 0,0001*
Ação espaço
15
12,9 ± 1,5 0,0001*
Utilização objeto
63
47,4 ± 6,0 0,0001*
Utilização espaço
12
9,9 ± 1,7 0,0001*
Capacidade
Ação objeto
12
12,0 ± 0,2 0,1621
Ação espaço
10
9,6 ± 1,2 0,0453
Utilização objeto
42
37,6 ± 6,1 0,0001*
Utilização espaço
8
7,7 ± 1,3 0,0646
Atitude Lúdica
12
9,6 ± 2,2 0,0001*
Expressão
Necessidade
12
8,6 ± 2,3 0,0001*
Sentimento
20
6,7 ± 3,2 0,0001*
*Valor de p <0,05
Após apresentação dos dados de toda a população desse estudo, é exposto a seguir os
resultados considerando os subgrupos.
- 44 -
5.5 Dados referentes aos subgrupos
Conforme escrito anteriormente, após análise das 36 crianças do estudo correlacionou-
se isoladamente, isto é, subdividiu-se esse grupo em 4 subgrupos (PIG, IG < 32 semanas, EBP
e desenvolvimento atípico) para observação mais pontual do brincar e da alteração ou o fator
de risco marcador de cada subgrupo. Portanto as crianças nascidas com EBP também
integram o subgrupo dos nascidos com IG < 32 semanas, isto é, as inclusões nos subgrupos
foram simultâneas.
a) Subgrupo com desenvolvimento atípico
Sete crianças apresentaram desenvolvimento atípico (uma com deficiência mental
grave, quatro com paralisia cerebral do tipo diparética espástica, uma com transtorno do
desenvolvimento da atenção e hiperatividade e uma com déficit comportamental a ser
esclarecido o diagnóstico-esse ausente da escola). Esse grupo corresponde a 19,4% da
população do estudo. Seis crianças (85,7%) desse grupo nasceram com menos de 32 semanas
de gestação. A paralisia cerebral foi o comprometimento mais freqüente correspondendo a
57,1% dos casos (quatro crianças).
Relacionou-se a condição de desenvolvimento atípico com a capacidade e
interesse na ação e utilização do espaço e dos objetos, e observou-se correlação significativa
com o interesse na utilização do espaço. Constatou-se também correlação significativa entre a
condição de ter desenvolvimento atípico e as respostas dos entrevistados quanto à atitude
lúdica dos filhos (gráfico 6). No entanto, 71,4% das mães referiram o não incentivo em casa
das características lúdicas, em especial a iniciativa e o gosto pelo desafio.
- 45 -
Gráfico 6 - Correlação entre desenvolvimento atípico e atitude lúdica (informação dos entrevistados), São Luís-
MA, 2007.
Quanto à expressão dos sentimentos em 100% dos casos a tristeza é comunicada
corporalmente, assim como a raiva em 86%. A verbalização é meio de comunicação em 70%
dos casos para o medo, seguida pelo prazer que é falado em 57%.
O gosto por brinquedos e lugares novos está presente em todas as crianças do
grupo. Das crianças deste grupo, 85,7% têm grande interesse por gelo e pela água, assim
como, em serem deslocadas no espaço e por estímulos sonoros.
Todas as crianças deste grupo mantêm contato semanal com as avós, seis as
visitam nos fins de semana e uma morava com mãe e avó materna.
b) Subgrupo Pequeno para Idade Gestacional - PIG
Nove crianças foram classificadas como pequenas para idade gestacional,
corresponde a 25% da população do estudo. Neste grupo duas crianças (22,2%) apresentaram
desenvolvimento atípico.
O medo é o sentimento mais verbalizado pelas crianças deste grupo em 88,8% dos
casos. Os demais sentimentos são preferencialmente comunicados por gestos, gritos,
principalmente a tristeza (88,8%) e o prazer e desprazer (66,6%).
c) Subgrupo com nascimento ocorrido antes da 32ª semana de gestação
- 46 -
Vinte crianças constituem esse grupo, que corresponde a 55,6% da população de
estudo, sendo, portanto, o grupo mais freqüente. A média da IG desse grupo foi de 29,7
semanas com DP ± 1,3 semanas.
Deste grupo 30% das crianças apresentaram desenvolvimento atípico. Não foi
verificada correlação significativa, pelo Coeficiente de Correlação de Spearman, com esse
fator (IG < 32 semanas) e a capacidade e interesse na ação e utilização dos objetos e do
espaço, assim como, não foi observada correlação com a atitude lúdica.
d) Subgrupo com extremo baixo peso de nascimento - EBP
Cinco crianças nasceram com EBP, correspondendo a 13,9% da população de
estudo. A média de peso foi de 891gr com DP ± de 68gr.
Deste grupo 40% das crianças apresentaram desenvolvimento atípico, a saber:
deficiência mental grave e comprometimento comportamental a esclarecer.
Observou-se correlação significativa entre EBP e interesse na ação do espaço e na
capacidade e interesse na utilização dos objetos, assim como na atitude lúdica registrada na
avaliação (gráfico 7) e na expressão dos sentimentos relatadas nas entrevistas.
Gráfico 7 - Correlação entre EBP e atitude lúdica (coleta das avaliações). São Luís-MA, 2007.
A seguir discuti-se informações relevantes obtidas nesse estudo com a
literatura referente sobre o termo.
- 47 -
6 DISCUSSÃO
Considerando os dados sócio-econômicos das famílias da população do estudo
verificou-se a presença predominante de genitores jovem-adultos com proventos de pelo
menos 1 salário mínimo, união estável e a escolaridade materna acima de 8 anos. Essas
condições de acordo com Mancini et al. (2004) e Reijveneld et al. (2006) são favoráveis ao
desenvolvimento e, portanto, podem ter contribuído para os achados apresentados a seguir,
visto que os aspectos ambientais foram relevantes nas correlações significativas desse estudo,
assim como verificado nos trabalhos de Kishimoto (1998), Sager e Sperd (1998) e Carvalho,
Alves e Gomes (2005).
As pesquisas (CASTRO, 2005; DAHL et al., 2006; LEFEBVRE; MAZURIER;
TESSIER, 2005; REIJNEVELD et al., 2006; PLATT et al., 2007) verificaram o peso de
nascimento como um dos fatores de riscos relevante para atraso ou alteração do
desenvolvimento global da criança no continuum de sua vida. Porém, diferentemente da
literatura não encontrou-se nenhuma correlação significativa com as variáveis analisadas e
peso de nascimento muito baixo no que se refere ao brincar. Só foi possível observar a
influência do peso quando analisado o subgrupo de extremo baixo peso, no qual 40% das
crianças desse subgrupo apresentaram alterações significativas no seu desenvolvimento social
e cognitivo. Considerando os subgrupos, o extremo baixo peso foi o fator de risco
predominante nessa pesquisa. Além disso, constatou-se que as alterações presentes são
altamente incapacitantes, na medida em que os aspectos comportamentais dificultaram o
convívio social e familiar, estando uma das crianças excluída do ambiente escolar.
Observou-se uma relação diretamente proporcional entre EBP de nascimento e o
interesse na ação lúdica; desempenho na atitude lúdica registrada na avaliação e na expressão
dos sentimentos no lar, condições que parecem reforçar a influência do peso no processo de
formação das habilidades lúdicas e sociais.
Considerando o subgrupo de crianças com desenvolvimento atípico, a seqüela
mais freqüente foi à paralisia cerebral do tipo diparesia espástica, dado esse que segue a
tendência relatada por Platt et al. (2007) ao verificar uma diminuição quanto à gravidade dos
comprometimentos motores. Verificou-se que o fator de risco mais freqüente nessa pesquisa
foi à idade gestacional inferior a 32 semanas, já que, apenas uma das crianças com alterações
nasceu com IG superior a essa.
A correlação significativa entre as alterações presentes nesse subgrupo e as
características da atitude lúdica relatadas pelas mães parece ser reveladora da complexidade
- 48 -
do universo familiar de uma criança especial, na medida em que as mães referiram presença
de atitude lúdica e, no entanto mais da metade destas relataram a ausência de incentivo ao
gosto pelo desafio, curiosidade, iniciativa e espontaneidade durante as brincadeiras de seus
filhos. Portanto, a maioria das mães dessas crianças sinalizou que não brincam com seus
filhos, mas afirmaram a presença da atitude lúdica nos momentos identificados como de
brincadeira. Valorizou-se esse achado por considerá-lo um potencial marcante da criança e da
mãe, aquela por “saber brincar” e dessa por “ver a brincadeira”.
É provável que os escassos momentos lúdicos entre mães e filhos neste estudo
decorram das inúmeras tarefas cotidianas exigidas pelos comprometimentos da criança,
conforme declara Mancini et al. (2004) ao verificar que as crianças de risco para atraso ou
com comprometimento recebem maiores cuidados do que as crianças ditas normais. Talvez
essa ajuda extra fornecida pelas famílias de crianças com dificuldades neurológicas promova
uma dinâmica cotidiana mais desgastante e isso é o contra-ponto de uma situação lúdica.
Por outro lado, verificou-se nesta pesquisa que as barreiras impostas pelas
limitações físicas não interferem no interesse em explorar e utilizar o espaço circundante, de
acordo com o verificado por Ferland (2006). Da mesma forma, Carvalho e Vieira (2005), em
trabalho desenvolvido em escola especial de Belo Horizonte, relataram a presença de tomada
de decisões, iniciativas, progresso na socialização em crianças comprometidas durante as
brincadeiras destas.
De fato constatou-se na rotina de todas as crianças deste estudo, horários
destinados às brincadeiras e uma disponibilidade no ambiente doméstico de brinquedos de
modalidades sensoriais diferentes. Essa condição pode ter contribuído na grande apreciação
das diferentes sensações táteis, como o contato físico, a água, a areia e o gelo apresentadas
pelas crianças avaliadas. Observou-se um marcante interesse em relação às diversas
modalidades sensoriais, as quais são importantes para percepção do ambiente físico e humano
e, portanto facilitadoras do brincar já citado neste trabalho. O interesse por tais elementos da
natureza é ressaltado por Altman (2006) ao escrever sobre as brincadeiras indígenas.
A despeito desses jogos com água tão apreciados pelas crianças de todas as etnias,
Dolto (1999) relembra os aspectos psíquicos de elaboração afetiva e cognitiva vivenciados no
contato com “[...] a magia desse objeto fluido, sinônimo da vida, que escorre por entre seus
dedos [...]” e continua “[...] fica cada dia mais inteligente graças aos problemas que a água lhe
apresenta: sua densidade, flutuação [...]”.
- 49 -
A influência do ambiente no interesse lúdico da criança já foi discutida em outros
trabalhos (KISHIMOTO, 1998; BROUGÈRE, 2001 e 2002; CARVALHO; ALVES;
GOMES, 2005). Brougère (2001) enfatiza que “[...] o círculo humano e o ambiente formado
pelos objetos contribuem para a socialização da criança e isso através de múltiplas interações,
dentre as quais algumas tomam a forma de brincadeira ou, pelo menos de um comportamento
reconhecido como tal pelos adultos”, reforçam a importância do entorno para o indivíduo no
que se refere ao seu desenvolvimento cultural-relacional.
Um dado que merece destaque se refere ao grande interesse pela novidade
demonstrado pelas crianças da pesquisa, constatado pela preferência em brincar com
brinquedos novos e estar em lugares novos, bem como pela presença da curiosidade, esses são
aspectos potenciadores do brincar, na medida em que segundo Dolto (1999) é fundamental
experimentar sensações e desafios provocados por novos brinquedos, pois “Um jogo que não
reserva mais nenhuma surpresa, que não questiona mais, é totalmente inútil guardar: ele
estorva a criança”. A autora defende o empréstimo de brinquedos, no mesmo molde que há o
uso dos livros, como um grande incentivo ao lúdico e as descobertas.
Porém, no Brasil, os espaços públicos destinados às práticas lúdicas-educacionais
como creches e pré-escolas que deveriam garantir desenvolvimento pleno da criança,
apresentam fragilidades. No Nordeste brasileiro os brinquedos estão ausentes em quase 60%
das pré-escolas e os jogos didáticos em torno de 40%. As bibliotecas existem em apenas 13%
das pré-escolas nordestinas, segundo o censo relatado por Barreto (2003).
Poletto (2005) constatou em seu estudo com 40 crianças com idade entre 7 a 10
anos, advindas de família com baixa renda, sobre ludicidade que estas não se referem à escola
como local para brincar parecendo haver uma desvinculação da escola com o cotidiano
prazeroso da criança. A referida autora também constatou que a família valoriza as
brincadeiras, declarando haver tempo e espaço para estas no convívio diário, sendo o prazer
associado ao brincar, conforme verificado neste estudo.
Outro achado que aponta para a interferência do ambiente é a correlação
significativa entre interesses e capacidades na ação no espaço, na utilização do espaço e dos
objetos sinalizando que a atração promovida pelo meio estimula a exploração de habilidades
manipulativas e cognitivas. O grupo pesquisado tem acesso em suas casas a brinquedos de
estímulos sensoriais diversos, espaço físico e afetivo garantido para brincar, além disso, a
curiosidade foi à característica lúdica predominante nas avaliações.
- 50 -
As características da atitude lúdica mais expressivas foram o prazer também
verificado no trabalho de Motta e Enumo (2004) e a curiosidade, sendo essas às únicas
apontadas como presentes por todos os entrevistados e as que mais se destacaram durante a
avaliação.
Dolto (1999) é enfática ao afirmar que a privação do brincar equivale à privação
do prazer, sendo essa condição uma atitude perversa, isto é, uma condição que impossibilita o
desenvolvimento saudável da criança. Portanto a evidente presença do prazer apresentado
pelas crianças é outro forte indicativo que as brincadeiras fazem parte de suas vidas.
O senso de humor e o gosto pelo desafio foram às características menos
freqüentes. O incentivo dos pais em despertar o gosto pelo desafio e pela curiosidade estava
ausente em mais da metade das famílias. Incentivar essas características parece significar
favorecer o perigo, isto é, colocar o filho em situações de risco.
Em contrapartida o prazer (83,3%) e o senso de humor (66,6%) são incentivados
pelos familiares. O relato de irritabilidade fornecido pelos entrevistados os quais apontaram a
ausência de senso de humor dos filhos no grupo estudado, mobilizam os familiares na
valorização dessas atitudes lúdicas como alternativa de superação.
A presença de irritabilidade foi detectada no período da alta hospitalar em
prematuros, conforme Castro (2005), portanto supõe-se que esse comportamento precisa ser
analisado nesta população ao longo dos anos, na medida em que há indícios de persistência
deste.
A expressão dos sentimentos dos filhos, de acordo com o relato dos entrevistados,
também merece apreciação, pois observou-se estratégias diferenciadas na comunicação
destes, além disso, correlação diretamente proporcional com EBP.
O sentimento de prazer foi o único sentimento 100% identificado em casa e na
avaliação, mesmo quando não verbalizado. O prazer e desprazer estão associados segundo
Montagu (1988) aos sentidos de proximidade: o tato, o paladar e o olfato. Sentidos esses
muito apreciados por nossa população de estudo, como referido anteriormente.
O medo foi o sentimento mais verbalizado (66,7%). A tristeza e a raiva foram
sentimentos expressos por gestos e gritos, respectivamente. O medo é um sentimento aceito
culturalmente como próprio do universo infantil, inclusive é utilizado como estratégia de
coibição quando se diz “o lobo vai te pegar” ou “vou chamar ou vou dizer pro papai”. Talvez
por isso, possa ser verbalizado com mais freqüência.
- 51 -
Dolto (1999) ressalta que é insuportável para os pais verem os filhos sofrerem, vê-
los arriscar-se, escreve que “[...] quando eles exprimem um sofrimento por [...] choros, gritos,
gestos e quando não sabemos como ajudá-los, concluímos que a maldade é deles. Aquele
comportamento que não conseguimos explicar,exigimos deles que o camuflem”. Por outro
lado, Winnicott (1982) cita que o choro é um mecanismo tranqüilizador nos momentos
difíceis, sendo um recurso bom por auxiliar a criança.
Dias, Vikan e Gravas (2000) observaram que o contexto e a idade influenciam nas
estratégias de regulação da tristeza e da raiva. Verificaram que as crianças brasileiras buscam
mais interação social para a tristeza e as norueguesas fazem uso de estratégias cognitivas para
a raiva. O brincar foi uma solução recorrente para distração de ambas situações.
Por fim pressupõe-se que a ausência de correlação estatisticamente significativa
entre os dados obtidos nas entrevistas e os coletados nas avaliações pode ter sido influenciada
por elementos espaciais-temporais-relacionais na medida em que o ambiente de avaliação foi
espaço-laboratório, no qual o tempo era inapropriado para observação de algumas
necessidades (fisiológicas e de segurança) e sentimentos (raiva, medo, tristeza), assim como
dificultava a constatação de alguns interesses em especial por estímulos vestibulares, pois as
situações sabidamente perigosas foram evitadas.
Acrescenta-se que a diferença estatisticamente significante entre a média obtida e
a esperada nos quesitos atitude lúdica, expressão dos sentimentos e das necessidades,
capacidades e interesses, atração pelos ambientes humano e sensorial ratifica a importância de
um acompanhamento multiprofissional nos primeiros anos de vida, configurando uma
estratégia preventiva de saúde mental ao promover o bem-estar, na medida em que, as
discretas dificuldades apresentadas pelas crianças podem ser detectadas precocemente quando
há o seguimento neste período.
- 52 -
7 CONCLUSÃO
a) A população pesquisada é predominantemente caracterizada por família
constituída por pais adultos-jovens, em união estável, renda mensal de um SM
e escolaridade materna acima de 8 anos de estudo.
b) O brincar foi uma atitude prevalente na população estudada, inclusive naqueles
com EBP ao nascer e com desenvolvimento atípico.
c) O ambiente, a disponibilidade de brinquedos e a presença de outras crianças
favoreceram comportamento lúdico.
d) Embora o interesse em brincar tenha sido observado em todas as crianças,
evidenciou-se nelas redução do senso de humor nas brincadeiras e recusa em
superar situações inesperadas impostas pelo brinquedo ou pela brincadeira, os
quais estiveram associados à falta de incentivo dos pais quanto ao gosto pelo
desafio.
e) O EBP ao nascer e o desenvolvimento atípico afetaram, neste estudo, os
interesses, as atitudes lúdicas e a expressão dos sentimentos.
f) Os escores obtidos neste estudo foram ineriores aos esperados, e portanto,
apontam para a necessidade de acompanhamento do desenvolvimento destas
crianças aos primeiros anos de vida.
g) Sugere-se estudos analíticos posteriores com grupo de crianças com e sem
alterações motoras quanto ao comportamento lúdico, assim como, estudo
qualitativo do discurso dos familiares quanto ao comportamento lúdico de seus
filhos dada a importância da influência dos aspectos culturais nesse processo.
- 53 -
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- 57 -
APÊNDICES
- 58 -
APÊNDICE A – Lista dos recursos lúdicos
Foram disponibilizados em todas as avaliações, os seguintes recursos:
- Animais de plástico: boi, cavalo, girafa, ovelha, porco, tendo mais um cavalo de palha
e outro manipulável;
- Bacia plástica;
- Bancos pequenos;
- Boneca de pano;
- Bolas de tamanhos diferentes e texturas variadas;
- Bola de silicone com filamentos;
- Bola grande de reabilitação;
- Bolsas;
- Cachorro com rodinhas;
- Chave de fenda de plástico;
- Carro com cachamba acoplável;
- Conjunto completo de cozinha (fogão, panelas com tampas, talheres, pires, xícaras);
- Copos de plástico;
- Cubos;
- Cunha;
- Escova de cabelo;
- Esponjas de diferentes texturas;
- Gaveteiro;
- Giz de cera;
- Jogo quebra-gelo (esse ausente em algumas avaliações);
- Lápis de cores;
- Lençol;
- Livros infantis ilustrados;
- Marionete de boi bumbá;
- Máscara de sapo e rato;
- Móbile;
- Pá de lixo;
- Pandeiro;
- Papel A4;
- Pasta de dente;
- 59 -
- Piano;
- Pincel de parede;
- Sabonete;
- Serrote de plástico;
- Tatames;
- Tesoura;
- Tiro ao alvo de bolinhas.
- 60 -
APÊNDICE B – Ficha dos dados sócio-econômicos e clínicos neonatais
Dados sócio-econômicos
Mãe____________________________________________
Idade:______ Instrução:__________________
Profissão_______________________
Pai__________________________________________
Idade:_________________Instrução_______________________________
Profissão:__________________________________
Estado Civil:______________________________________
Renda familiar:_________________________________________
Dados clínicos neonatais
Idade gestacional:____________
Peso de nascimento:______________
Classificação de Lubchenco: PIG ( ); AIG ( ); GIG ( )
- 61 -
APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Universidade Federal do Maranhão
Hospital Universitário Presidente Dutra – Unidade Materno Infantil
Pós-Graduação Mestrado em Saúde Materno Infantil
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Este documento informa sobre a pesquisa “Comportamento lúdico das crianças nascidas
com muito baixo peso na idade pré-escolar”, a ser realizada por Ronize Couto de Sá
Monteiro, terapeuta ocupacional do serviço de neonatologia – ambulatório de seguimento do
Hospital Universitário – Unidade Materno-Infantil(HUUMI), sob a orientação da Profª Drª
Vânia Maria de Farias Aragão e sobre a qual recebi os seguintes esclarecimentos:
1. O estudo tem como objetivo analisar os interesses e atitudes lúdicas (brincadeiras)
vivenciadas pelas crianças na idade pré-escolar nascidas com muito baixo peso,
egressas da Unidade de Terapia Intensiva (UTIN) do HUUMI.
2. Para alcançar esse objetivo serão coletadas informações através de questionários
estruturados sobre aspectos sócio-culturais e lúdicos com os pais ou responsáveis pela
criança e avaliação do comportamento lúdico da criança. Sendo as avaliações
registradas em filmadora VHS Panasonic.
3. Essa pesquisa não implica nenhum risco à saúde dos familiares e filho(a) participantes,
visto não haver utilização de procedimentos terapêuticos ocupacionais que possam
levar a seqüelas ou danos na qualidade de vida do(a) participante.
4. O participante poderá desistir de continuar a qualquer momento da pesquisa sem
nenhum prejuízo ou exclusão ao acompanhamento realizado no ambulatório de
seguimento do HUUMI, assim como de qualquer assistência oferecida pelo Hospital
Universitário.
5. Considerando as normas que regulamentam os aspectos éticos da pesquisa
envolvendo seres humanos, e o devido respeito aos participantes, firma-se o
compromisso de divulgar os dados obtidos somente no meio científico, de acordo com
a Resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde (Ministério da Saúde). Será
sempre mantido o sigilo sobre os dados de identificação dos participantes.
6. Em qualquer etapa do estudo a pesquisadora poderá ser encontrada nos seguintes
telefones: (98) 3226-0010 e 8821-7487.
7. A pesquisa foi submetida à avaliação e aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa do
Hospital Universitário Presidente Dutra, localizado na Rua Barão de Itaparaí, 227,
Centro em São Luís-MA.
8. Sua participação irá contribuir para a realização dessa pesquisa, assim como na
melhoria da compreensão e intervenção das necessidades lúdicas das crianças nascidas
com muito baixo peso.
Após a leitura, declaro ter sido devidamente esclarecido (a) sobre as dúvidas que tive,
como também me foi assegurado que dados pessoais (nome, endereço, telefone) serão
- 62 -
mantidos em sigilo, sendo utilizados para efeito de publicação somente os dados relativos a
avaliação lúdica.
Sendo assim, concordo em participar da pesquisa como responsável legal de
_______________________________________________________________.
São Luís, de de 2007.
Ciente e de acordo: _______________________________________________________
Declaração da pesquisadora
Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido
deste representante legal para participação neste estudo.
Data:
_________________________________
Ronize Couto de Sá Monteiro
(pesquisadora)
- 63 -
ANEXOS
- 64 -
ANEXO A - Aprovação do CEP
- 65 -
ANEXO B – Entrevista com os pais e Avaliação do Comportamento Lúdico
- 66 -
- 67 -
- 68 -
- 69 -
- 70 -
- 71 -
Monteiro, Ronize Couto de Sá
Crianças pré-escolares nascidas com muito baixo peso:
características lúdicas. – São Luís, 2008.
70 f. : Il.
Impresso por computador (fotocópia)
Orientadora: Vânia Maria de Farias Aragão
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Maranhão,
Mestrado em Saúde Materno Infantil, 2008.
1. Baixo peso – características lúdicas 2. Neonatologia I.
Título
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