23
cuidado à saúde/doença, tenho observado que o Centro Espírita se apresenta como um espaço
dentro desse itinerário de cuidado à saúde/doença.
Na academia, como docente de enfermagem em saúde mental, tenho sido
questionada sobre a relação do Espiritismo com as várias formas de manifestação dos
transtornos mentais. Diante desses questionamentos me fundamento em Machado (1995),
para quem o transtorno é compreendido por alguns como expressão do sofrimento psíquico
resultante de situações adversas que são vivenciadas em momentos de suas vidas, enquanto
para outros o transtorno é visto como resultado de interferências espirituais que levam a
pessoa a ter um sofrimento psíquico.
Nos atendimentos individualizados aos alunos de enfermagem e pessoas da
comunidade universitária em geral, a questão espiritual tem sido trazida por eles e colocada
em discussão, muitas vezes por crença, prática pessoal, curiosidade e/ou até mesmo como
algo que faz parte da vida e a influencia no cotidiano. Assim sendo, essas constatações
despertaram meu interesse em referendar tais observações que vêm desde a minha passagem
pelo Curso de Mestrado em 1996, quando me iniciei na Doutrina Espírita.
1
Nos grupos espíritas acredita-se que a busca pela Casa Espírita, pela Doutrina
Espírita, pode ocorrer de duas maneiras: pelo amor ou pela dor, mas preponderantemente pela
dor. Foi através da dor, a dor da angústia, a dor da ansiedade, de uma dor que na verdade não
conseguia compreender, que fui em busca de ‘atendimento fraterno’, o que pode ser chamado
de uma ajuda terapêutica, recebida através dos médiuns
2
trabalhadores de um Centro Espírita.
A partir daí me inseri em um grupo de estudos que pertencia a esse Centro, nele iniciando o
estudo da Doutrina Espírita, à qual depois agregaria o trabalho mediúnico.
Durante o tempo de minha permanência nos trabalhos de atendimento realizados
1
Doutrina Espírita ou Espiritismo: doutrina codificada por Allan Kardec, também chamado de espiritismo
kardecista ou kardequiano, no sentido de diferenciá-lo do espiritismo afro-brasileiro. O Espiritismo é definido
por Kardec (2004, p.12) como “uma ciência que trata da natureza, da origem e da destinação dos Espíritos, e das
suas relações com o mundo corporal”.
2
“Toda pessoa que sente, em um grau qualquer, a influência dos espíritos, por isso mesmo, é médium. Esta
faculdade é inerente ao homem e, por conseqüência, não é privilégio exclusivo; também são poucos os quais não
se encontrem alguns rudimentos dela. Pode-se, pois, dizer que todo mundo é, mais ou menos, médium. Todavia,
usualmente, esta qualificação não se aplica senão àqueles nos quais a faculdade medianímica está nitidamente
caracterizada, e se traduz por efeitos patentes de uma certa intensidade, o que depende, pois, de um organismo
mais ou menos sensível. De outra parte, deve-se anotar que esta faculdade não se revela em todos do mesmo
modo; os médiuns têm, geralmente, uma aptidão para tal ou tal ordem de fenômenos,o que lhes resulta tantas
variedades quantas sejam as espécies de manifestações. As principais são: médiuns de efeitos físicos, os médiuns
sensitivos ou impressionáveis, audientes, falantes, videntes, sonâmbulos, curadores, pneumatógrafos, escreventes
ou psicógrafos” (KARDEC, 1996, p.181). Vários autores discutem sobre a mediunidade e os médiuns, tais como
Cavalcanti (1983), Dellane (1992), Balduino (1994), Oliveira (1994), Palhano Jr (1998a,1998b), Aizpúrua
(2000), Denis (2000), Facure (2001), Loeffler (2003), Aleixo (2003), Chagas (2004), Almeida, Lotufo Neto
(2004), Almeida (2005), Reis (2005).