51
Isaias Golgher emigra para o Brasil na década de 1920, fugindo de
perseguição política.
Na adolescência ele já tinha sintonia muito forte com esses
movimentos. E ele não tava organizado ainda... entendeu? Mas ele
pessoalmente tava muito envolvido na coisa. E ele se lembra... e a
polícia começou a persegui-lo, ele tinha uma efetividade no
pensamento dele que a polícia passou a persegui-lo.
Ele era ativo, (...), as idéias que ele estava transmitindo ali, não
estavam agradando a polícia. E a polícia romena ela é tão cruel
quanto corrupta.
Foi preso e começou a ser torturado, porque lá automaticamente se
torturavam presos políticos, começaram a torturar. E a tia dele ficou
muito preocupada, porque ele não... ele tinha que escapar. Porque
se continuasse na prisão ele... . E telefonou para uma senhora amiga
dela nessa cidade, judia, que tinha um prestígio enorme na cidade,
uma mulher de posses, e ela realmente subornou o guarda, e papai
pôde fugir.
E ele então teve oportunidade de fugir, mas com um sério problema.
Porque o controle dos trens era muito forte, o policiamento era muito
forte, estavam procurando elementos subversivos, mormente depois
da revolução bolchevique, o que ele comemorou, com muita
alegria... Ele ficou sabendo pela rádio galena, eles tinham rádio
galena lá, uma pedrinha... era mais primitivo, na própria pedra
galena o fone, então ele ouvia, ouvia muito mal. E tanto ficou
satisfeito, comemorou lá com os amigos dele, então..., ele tinha um
grupo de amigos, que houve a revolução bolchevique na União
Soviética. Então depois, a polícia romena ficou mais restrita ainda. E
ele não tinha documentação pra ir viajar, ele não tinha isso. Ele tinha
só o salvo conduto, que ele não podia pegar senão ele ia preso.
Então ele foi com um amigo dele, pediu ao amigo dele pra atravessar
a Romênia em direção à França pra ele pegar um navio pra vir pro
Brasil, que havia uma oportunidade que surgiu lá para vida dele. E
ele conta também que no trem ele foi com o amigo, e quando a
polícia veio, a polícia não, um cobrador com um tíquete, junto com a
polícia, pra pegar os tíquetes, ele tinha o tíquete, mas não tinha o
passaporte. Aí ele fingiu, logo que ele viu que estavam se
aproximando, fingiu que tava dormindo e conversou com o amigo
dele o que eles iam fazer. Então quando chegou pra pedir, papai
ainda fingiu que dormia, e ele começou a sacudir, e o amigo dele
falou pra polícia e para o cobrador: olha, ele é filho do Cônsul da
França, ele não ta entendendo o que vocês estão falando não, ele só
entende francês... agora, se vocês quiserem prender, tal e coisa,
vocês podem prender mas vocês vão se incomodar... que os
franceses eram... era quase um rei dentro da... o respeito lá com a
França, era muito... respeito e medo da França. Então... não, não,
ele é Cônsul da França. Não, tudo bem e tal... Quase que como um
milagre largaram papai lá e... papai escapou. Escapou e pegou um
navio e veio com os amigos... Pegaram o navio e chegou aqui em
1924.
86
Essa trajetória ajuda a compreender o valor atribuído a luta pela
liberdade por este intelectual. Isaias havia se envolvido nos anos 20 em um
86
GOLGHER, Marx. Depoimento sobre Isaias Golgher concedido a Airan Milititsky Aguiar, Rio
de Janeiro 5 dezembro 2008.