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sobre as coisas, “a natureza não é mais a ordem revelada e imutável da criação,
mas o ambiente da existência humana”. (ARGAN, 2006, p. 12)
De acordo com Argan, o século XIX adotava o modelo da arte greco-
romana como paradigma de equilíbrio, de proporção e clareza, em que arte Antiga
“condenava os excessos de uma arte que tinha sua sede na imaginação e aspirava
despertá-la nos outros”, a imaginação estaria apontando a característica da criação,
pois ele segue explicando que, “como a técnica estava a serviço da imaginação e a
imaginação era ilusão, a técnica era virtuosismo e até trucagem”. (ARGAN, 2006, p.
21)
A partir do final da segunda metade do século XVIII, os paradigmas
instituídos pelo Renascimento e pelo Barroco tornaram-se obsoletos e, por sua vez,
são substituídos por estudos referentes às obras de arte, propondo que as obras
fossem o ponto de partida para a avaliação e, não mais, teorias direcionadas às
obras. Argan refere-se ao Neoclássico como o início da Modernidade. Segundo o
autor, existem dois tipos de posturas para serem adotadas pelo artista novecentista,
a primeira trata-se do que já foi dito acima, a definição de Winckelmann em que a
arte revive os valores da tradição clássica, e a outra seria o momento em que a
cultura artística prestigia a História da Arte:
Quando se fala na arte que se desenvolveu na Europa e, mais tarde, na América do
Norte durante os séculos XIX e XX, com frequência se repetem os termos clássico e
romântico. A cultura artística moderna mostra-se de fato centrada na relação
dialética, quando não de antítese, entre esses dois conceitos. Eles se referem a
duas grandes fases da história da arte: o “clássico” está ligado à arte do mundo
antigo, greco-romano, e àquela que foi tida como seu renascimento na cultura
humanista dos séculos XV e XVI; o romântico, à arte cristã da Idade Média e mais
precisamente ao Românico e ao Gótico. Também já se propôs (Worringer) uma
distinção por áreas geográficas: clássico seria o mundo mediterrâneo, onde a
relação dos homens com a natureza é clara e positiva [expressado nas
representações artísticas]; romântico, o mundo nórdico, onde a natureza é uma força
misteriosa, frequentemente hostil. São duas concepções diferentes do mundo e da
vida, associadas a duas mitologias diversas, que tendem a se opor e a se integrar à
medida que se delineia nas consciências, com as ideologias da Revolução Francesa
e das conquistas napoleônicas, a ideia de uma possível unidade cultural, talvez
também política, européia. Tanto o clássico, como o romântico, foi teorizado entre a
metade do século XVIII e a metade do século seguinte: o clássico sobretudo por
Winckelmann e Mengs, o romântico pelos defensores do renascimento do Gótico e
pelos pensadores e literatos alemães (os dois Schelgel, Wackenroder, Tieck, para os
quais a arte é revelação do sagrado e tem necessariamente uma essência religiosa).
Teorizar períodos históricos significa transpô-los da ordem dos fatos para a ordem
das ideias ou modelos; com efeito, é da metade do século XVIII que os tratados ou
preceitísticas do Renascimento e Barroco são substituídos, a um nível teórico mais
elevado, por uma filosofia da arte (estética). Se existe um conceito de arte absoluta,
e esse conceito não se formula como norma a ser posta em prática, mas como um
modo de ser do espírito humano, é possível apenas tender para este fim ideal,
mesmo sabendo que não será possível alcançá-lo, pois, alcançando-o, cessaria a
tensão e, portanto, a própria arte. (ARGAN, 2006, p. 11)