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laboratório] chega aqui e ele quer vender. (...) Ele não quer saber se
vai fazer mal para o cliente. (Farmacêutico F1FM)
Os entrevistados expuseram também a engrenagem de pressão da indústria,
raiz da “empurroterapia”:
Aqui, algumas coisas estão mudando, mas nem tudo. Tem o lance
do bonificado, a “gueuta”, o genérico e o de referência. (...) O que
acontece nas farmácias hoje é que os balconistas estão empurrando
o genérico, que é muito mais fácil de empurrar do que o similar. (...)
O governo investiu muito, com propaganda em televisão e tudo mais,
e a população quer o genérico (...) Os próprios representantes
chegam na farmácia falando: “Esse é bonificado.” (...) .Há também
uma indústria de medicamentos de referência, que funciona assim:
se eu comprar 100 caixas do medicamento antiinflamatório X®, de
referência deles, vou comprar com 72% de desconto. (...) Esse
desconto é maior do que o similar dá. Então, eu tenho condição de
dar para o meu funcionário a comissão... Além disso, [o laboratório]
paga, ao balconista, um real em cada unidade vendida. (...) Até o
anticoncepcional que eles produzem, que é um remédio que eu não
tenho que fazer muita força para vender, eles dão comissão. Aí, de
novo, tenho que comprar muito deste mesmo laboratório (...) todo
mundo usa esse remédio todo mês. (...) Não preciso nem empurrar,
ele dá a comissão... Nesse caso, é mais para passar para o
balconista. A farmácia ganha também, mas é menos do que com o
antiinflamatório. Você compra hoje o medicamento similar com 70%
de desconto, e eu tenho que comprar muito mais do medicamento
X®, teria que ter uns 20 lotes, O laboratório chega para mim, e fala
que vai vender a sete reais, mas, se comprar 1000 caixas, ele vende
a dois reais e ainda dá um real ao balconista por unidade vendida. É
muito complicado (...) Tinha que ter na faculdade um momento que
explicassem a realidade do que acontece na farmácia comercial.
(Farmacêutico F2FM).
Como visto, as diversas estratégias perpassam todos os tipos de
medicamentos, dos de referência aos similares e genéricos. Este último, cuja
introdução tinha como um de seus objetivos o barateamento do medicamento — por
evitar a inclusão, no preço final ao consumidor, dos custos relativos à propaganda e
marketing — vem terminando por ser também objeto desse tipo de intervenção:
[...] o primeiro lugar em vendas, hoje, é o genérico. O genérico hoje
venceu, devido a dar comissão para os balconistas. Primeiro, é
devido à comissão. A comissão que o balconista recebe varia de 5 a
15 % [do preço] no genérico. (...) Segundo, o governo investe muito
na propaganda de genérico (...) Terceiro, a gente quer ganhar
também. Hoje, eu ainda tenho similar, são os bonificados, para não