como se pode perceber, uma grande proximidade temporal entre o sonho e o
respectivo relato. Enquanto prepara seu café,
(GUIMARÃES, 1995, p.10), um sonho que o
impressiona (GUIMARÃES, 1995, p.10).
A partir do momento em que o relato tem início, a narrativa entretece uma
narração simultânea dos dois momentos vividos e contados pelo narrador: o agora
tempo/espaço presente em que está acordado e relatando o suposto sonho,
além de apresentar-nos seu cotidiano. E o passado mundo do sonho no qual
divide a sua vida com sua esposa Heloísa. Temos assim, dois momentos com
características diferentes: o primeiro, o presente, representa a realidade, da qual
nos fala o narrador; ele é a única personagem. Ai também, nós o encontramos
relatando o seu sonho, no qual ainda há marcas tangentes do que aconteceu. O
segundo momento é o passado, ou seja, o tempo do sonho, espaço/tempo, em
que o narrador vive por alguns momentos em companhia de sua esposa. São
duas personagens, mesmo que Heloísa somente surja a partir do relato do
narrador. É também a partir de tal espaço que a sua falecida mulher faz-lhe
recomendações sobre sua vida real. É deste modo que temos aqui uma inegável
ambigüidade: um passado, o sonho, em que a esposa parece surgir para fazer
recomendações sobre o presente, e o próprio presente com marcas físicas que
provariam a suposta veracidade dos acontecimentos do sonho. É preciso
esclarecer aqui, que não estamos falando de um simples sonho, mas de um em
que existiria um ser, Heloísa, que já morreu há mais de dois anos e que, ao
aparecer, deixou marcas de sua presença. É, portanto, um fato extraordinário.
O passado, tempo do sonho e o presente, tempo da realidade, se conjugam
nesta história, de modo que um alimenta o outro e ambos, simultaneamente,
alimentam a ambigüidade que percorre a narrativa. O presente é o parceiro das
afirmações que fazem crer que tudo que é declarado pelo narrador poderia ser
somente um sonho, pois é dele que vem a afirmação da morte de Heloísa, fato
que por si só já bastaria para suprimir dúvidas. Mas é também no presente que
encontramos as marcas físicas, que provocam questionamentos e alimentam
fortemente a ambigüidade que não se resolverá.