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Para Carvalho (2003), o nascimento de um bebê prematuro pode ser comparado a
um evento de proporções marcantes, cujo impacto faz-se sentir não só nas vidas dos pais
como também no seio familiar, fazendo-se necessário um período de adaptação e
aproximação entre todos que vivenciam este contexto. A fragilidade do bebê faz aflorar
sentimentos inicialmente confusos na mãe, como relatado por Marlúcia:
Quando eu olhei foi um susto, tão pequeno, ele era tão pequeno, que eu nem sei.
Mas mãe sabe como é, né? Pra mim, achei a criança mais linda do mundo, que era
meu né, meu primeiro filho, meu primeiro. (Marlúcia).
O impacto pode ser maior quanto mais distante for o bebê real do bebê imaginado
pela mãe no período da gestação. Na maioria das gestações as mães sonham, idealizam como
serão seus bebês, que características terão, se mais parecidos com a família paterna ou
materna, sonhando com um bebê forte e saudável. Esta idealização Brazelton (1992)
conceitua como “bebê imaginário”. Aproximadamente por volta do sexto ao nono mês a mãe
passa por um período de transição do bebê imaginário para o bebê real que logo nascerá, o
nascimento prematuro surpreende à mãe que tem que adaptar-se a nova realidade, sem estar
preparada para tal.
Este momento é muito delicado e, ao mesmo tempo, especial, como demonstra
Melissa em sua fala:
No outro dia eu ainda estava com muita dor mas levantei da cama e eu fui lá olhar
ela, aí quando eu cheguei lá, nossa, me assustei quando eu olhei, eu não sabia o que
eu sentia, se era felicidade, se ficava tão assim meu Deus, olha o tamanhinho.
(Melissa).
O encontro proporcionou para Melissa sentimentos mistos de susto e
agradecimento pela sobrevivência do bebê. É importante ressaltar que o primeiro contato da
mãe com seu bebê deve ser muito bem apoiado e acompanhado pela equipe haja vista sua
importância para a formação dos vínculos afetivos. Este deve ser incentivado à medida que a
mãe encontre-se preparada, com vista a promover uma melhor interação mãe-filho. Segundo
Brazelton (1988), o desenvolvimento do vínculo é algo construído, desde a idéia de
concepção até o encontro dos pais com o bebê.
Pode-se ainda observar, nesse primeiro momento, que a primeira preocupação das
mães está relacionada à sobrevivência dos bebês, ficando em segundo plano a preocupação
com o seu desenvolvimento, como explicitam em suas falas Marlúcia e Meire:
Eu fiquei triste né, no dia do nascimento dele, eu não sabia se ele ia resistir.
(Marlúcia).
Eu não imaginava que ia ser desse jeito, foi tudo uma novidade pra mim, a gente
nunca espera né. Ele era tão pequenininho. Só que eu sempre tive esperança, que
ele fosse resistir, se desenvolver direitinho, foi um choque, porque ele nasceu muito
pequenininho, muito magrinho, perdeu peso. (Meire).