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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE MATERNO-INFANTIL
MESTRADO ACADÊMICO
DESENVOLVIMENTO DE BEBÊS PREMATUROS:
análise de experiências maternas
SÃO LUÍS – MA – BRASIL
2006
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1
DESENVOLVIMENTO DE BEBÊS PREMATUROS:
análise de experiências maternas
MARIA DE NAZARETH MENDES
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Saúde Materno-Infantil da
Universidade Federal do Maranhão, para
obtenção do Título de Mestre em Saúde
Materno-Infantil.
Orientadora:
Professora Doutora Zeni Carvalho Lamy
Co-orientadora:
Professora Doutora Ednalva Maciel Neves
Coordenadora do Programa:
Professora Doutora Luciane Maria Oliveira
Brito
SÃO LUÍS – MA – BRASIL
2006
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2
Mendes, Maria de Nazareth
Desenvolvimento de bebês prematuros: análise de experiências maternas. /
Maria de Nazareth Mendes. – São Luís, 2006.
77 f.
Dissertação (Mestrado em Saúde Materno-Infantil) – Programa de Pós-
Graduação em Saúde Materno-Infantil da Universidade Federal do Maranhão –
UFMA, 2006.
1. Prematuridade. 2. Desenvolvimento infantil. 3. Relação mãe-filho. I. Título.
CDU 616_015.3.32_055.52
3
MARIA DE NAZARETH MENDES
DESENVOLVIMENTO DE BEBÊS PREMATUROS:
análise de experiências maternas
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Saúde Materno-Infantil da
Universidade Federal do Maranhão, para obtenção
do Título de Mestre em Saúde Materno-Infantil.
Aprovada em: ____/___/____
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________
Profa. Dra. Zeni Carvalho Lamy (Orientadora)
__________________________________________________
Profa. Dra. Ednalva Maciel Neves (Co-orientadora)
__________________________________________________
Profa. Dra. Anna Paula Ferrário Gonçalves
__________________________________________________
Profa. Dra. Denise Streit Morsch
___________________________________________________
Profa. Dra. Maria Vânia de Farias Aragão
4
Em memória do meu amado pai. Na certeza de
que, em sua atual morada, me guarda em seus
pensamentos. Paizinho, dedico-lhe este trabalho.
5
AGRADECIMENTOS
A Deus, por minha existência.
Aos meus pais, pelo amor, dedicação, paciência e sabedoria, princípios básicos que
me proporcionaram segurança e persistência na construção e realização dos meus sonhos.
A Adney Teles, meu marido, pelo amor, compreensão, companheirismo e apoio
em todos os momentos de nossa caminhada.
Aos meus filhos Allan e Lucas, estrelas que iluminam a minha vida.
A minha irmã Socorro, sempre solícita e acima de tudo amiga em todos os
momentos.
A minhas amigas Adriana e Elisângela, pelo ombro amigo, pelo incentivo,
companheirismo e dedicação.
À Profa. Dra. Zeni Carvalho Lamy, pela sabedoria, paciência, disponibilidade e
tranqüilidade.
À Profa. Dra. Ednalva Maciel, pela sabedoria, disponibilidade e colaboração
fundamental na construção deste estudo.
Ao Prof. José Augusto, Profa. Ihelma e Citya, pelo apoio e colaboração no
desenvolvimento deste trabalho.
Ao Prof. Expedito Alves de Melo e Prof. José Rodrigues Júnior pela confiança,
incentivo e oportunidades profissionais em especial na área da docência, fatores que muito
contribuíram para estar hoje finalizando esta etapa da minha vida.
A todos os professores do Mestrado, em especial ao Prof. Dr. Fernando Lamy
Filho e ao Prof. Dr. Raimundo Antônio da Silva, que me foram fundamentais no
amadurecimento científico.
Às minhas amigas Sandra, Anety, Danielle Moura, Francisca, Rosanna, Célia,
Andréia, Apolinário, Ana Cristina, Iêda, Alexandra, Ligia, Regina, Mazarello, Maria do
Carmo, Ana Maria, Ângela e a todas as pessoas que dispuseram do seu tempo para me ouvir e
encorajar, contribuindo de alguma forma para o desenvolvimento deste trabalho.
Às mães que participaram desta pesquisa, por sua colaboração.
A todos os colegas do Mestrado.
Enfim, a todos que de forma direta ou indireta contribuíram para a realização deste
estudo.
6
A prematuridade dá à mãe algo único: a
possibilidade de gestar seu bebê fora do
útero.”
Liseane Morosini
7
RESUMO
A percepção das mães sobre o desenvolvimento dos bebês prematuros. Objetiva identificar as
características socioeconômicas das mães, conhecer suas experiências de internação neonatal,
conhecer a percepção das mães sobre o desenvolvimento de recém-nascidos, conhecer sua
percepção sobre o seu papel no desenvolvimento dos bebês, através de um estudo descritivo
de abordagem qualitativa. Os dados foram coletados no Ambulatório de Seguimento da
Unidade Materno-Infantil do Hospital Universitário, através de ficha de coleta de dados e de
entrevista semi-estruturada, realizadas com dez mães. Os dados foram agrupados em três
categorias: experiências do nascimento à alta, a percepção materna sobre desenvolvimento do
bebê e o papel materno no desenvolvimento do bebê; posteriormente foram submetidos à
análise de conteúdo. Os principais resultados encontrados foram: que as mães apresentam
baixo nível socioeconômico, conceituam desenvolvimento como saúde e bem-estar do bebê,
preocupando-se com a relação entre prematuridade e desenvolvimento dos seus filhos,
reconhecendo seu papel como cuidadoras primárias, vigilantes e estimuladoras para o bom
desenvolvimento dos filhos, compreendendo que a família assume um papel secundário no
processo de desenvolvimento. Conclui-se desta forma que: o baixo nível socioeconômico das
mães deve ser considerado pela equipe no planejamento da assistência, visando ao
aprimoramento do conhecimento materno sobre prematuridade e desenvolvimento. A
valorização das experiências cotidianas vivenciadas pela mãe e pelo bebê ressaltam a
importância de estimular os demais membros da família a participar como rede de apoio no
processo de desenvolvimento dos bebês.
Palavras-chave: Prematuridade. Desenvolvimento infantil. Relação mãe-filho.
8
ABSTRACT
The present study had as objective to identify the mothers' socioeconomic characteristics, to
know the experiences of neonatal internment, to know the mothers' perception on their babies'
development, to know the mothers' perception on his/her role in the development through a
descriptive study of qualitative approach. The data were collected at the Clinic of
Continuation of the Infantile of the Academical Hospital Maternal Unit starting from the
record register and semi-structured interview, applied with ten mothers. The data were
separated in three categories: experiences from the birth to the discharge, the maternal
perception on the baby's development and the maternal paper in the baby's development; later
they were submitted to the content analysis. The found results were: that the mothers present
low socioeconomic level, they consider development as health and comfort of the baby,
worrying about the relationship between premature birth and their children's development,
recognizing his/her role as caretakers primary, vigilant and stimulating for the children's good
development, understanding that the family assumes a secondary paper in the development
process. It is concluded this way that: the mothers' low socioeconomic level should be
considered by the team in the planning of the attendance, seeking the improvement of the
maternal knowledge on premature and development. The valorization of the daily experiences
lived by the mother and the baby, the importance of stimulating the other members of the
family is emphasized to make part as support in the process of the babies' development.
Keywords: Premature birth. Child development. Mother-son relationship.
9
LISTA DE SIGLAS
AVD’s Atividades da Vida Diária
CEST Faculdade Santa Terezinha
HUUMI – Hospital Universitário – Unidade Materno-Infantil
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
OMS – Organização Mundial de Saúde
UFMA Universidade Federal do Maranhão
UI – Unidade Intermediária
UMB – Unidade Mãe-Bebê
UTI Unidade de Terapia Intensiva
UTIN Unidades de Terapia Intensiva Neonatais
10
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................11
2 OBJETIVOS.............................................................................................................13
2.1 Geral ..........................................................................................................................13
2.2 Específicos.................................................................................................................13
3 MARCO TEÓRICO.................................................................................................14
3.1 O bebê prematuro.....................................................................................................14
3.2 A mãe e o nascimento do bebê prematuro .............................................................17
4 PERCURSO METODOLÓGICO ..........................................................................20
4.1 Referencial teórico....................................................................................................20
4.2 Cenário do estudo.....................................................................................................20
4.3 Sujeitos da pesquisa..................................................................................................22
4.4 Coleta de dados e instrumentos...............................................................................22
4.5 Tratamento e análise dos dados ..............................................................................24
4.6 Questões éticas..........................................................................................................25
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................26
5.1 Entrada no campo: conhecendo os ambientes da pesquisa..................................26
5.1.1 O ambiente da UTI Neonatal......................................................................................26
5.1.2 O ambiente do Ambulatório de Seguimento..............................................................27
5.1.3 As visitas domiciliares................................................................................................28
5.2 Conhecendo os sujeitos.............................................................................................29
5.2.1 As mães ......................................................................................................................29
5.2.2 Os bebês......................................................................................................................31
5.3 Aproximando-se dos diferentes olhares maternos sobre a prematuridade ........31
5.4 Experiências do nascimento à alta..........................................................................32
5.4.1 O nascimento..............................................................................................................32
5.4.2 O hospital como espaço de aprendizagem..................................................................36
5.4.3 A volta para casa.........................................................................................................40
11
5.5 A percepção materna sobre o desenvolvimento do bebê ......................................43
5.5.1 Conceituando desenvolvimento..................................................................................43
5.5.2 Relacionando prematuridade e desenvolvimento.......................................................45
5.5.3 Percebendo as novas habilidades do bebê..................................................................48
5.6 Os diferentes papéis no desenvolvimento do bebê.................................................51
5.6.1 As funções da mãe......................................................................................................51
5.6.2 A função do pai ..........................................................................................................58
5.6.3 Conceito de função da família....................................................................................59
6 CONCLUSÃO...........................................................................................................62
REFERÊNCIAS .........................................................................................................64
APÊNDICES..............................................................................................................71
ANEXO......................................................................................................................76
11
1 INTRODUÇÃO
A capacidade de gerar um filho e lhe proporcionar condições de desenvolvimento
permeia as preocupações e as fantasias do cotidiano das mulheres que querem tornar-se mães.
Entretanto, o nascimento de um bebê relaciona-se a vários sentimentos positivos e mesmo
negativos vivenciados pelos pais e/ou famílias envolvidas no contexto. Esse sentimento
ambivalente, na maioria das vezes, é pouco verbalizado pela dupla parental e pela família,
podendo causar inquietações em relação à saúde da mãe e do bebê.
Neste contexto, os avanços tecnológicos das Unidades de Terapia Intensiva
Neonatais (UTIN), incluindo à sofisticação dos equipamentos, trabalhos de humanização da
equipe e da inclusão da família nos cuidados destes recém-nascidos, têm permitido a
sobrevivência de muitos bebês prematuros. O que tem gerado atualmente a preocupação para
o acompanhamento a curto e longo prazo do seu desenvolvimento (RUGOLO, 2005).
Essa preocupação originou a implantação de programas ambulatoriais conhecidos
como programas de follow-up ou de seguimento, em hospitais de referência. Tais programas
surgem tendo como objetivo principal acompanhar o desenvolvimento desta população
através de critérios específicos de avaliação para detectar o mais precocemente possível
desvios do desenvolvimento, oferecendo orientação para a busca de intervenções necessárias
bem como suporte à família para cuidar do seu bebê. É mobilizada para esta tarefa uma
equipe multiprofissional, com conhecimento e experiência em avaliação do desenvolvimento
infantil. Entre os profissionais envolvidos podemos citar, Pediatras, Terapeutas Ocupacionais,
Enfermeiros e Assistentes Sociais, Fonoaudiólogos e Psicólogos, entre outros.
Neste contexto, a atuação do terapeuta ocupacional envolve avaliações,
estimulações e orientações familiares sobre o desenvolvimento destas crianças que em virtude
de sua história neonatal podem vir a apresentar atraso em seu desenvolvimento
neuropsicomotor.
O interesse, em particular acerca do desenvolvimento do bebê prematuro,
despertou este estudo.Aliado a necessidade de aprimoramento de conhecimentos científicos e,
em especial, responder a uma questão que inquietava: as mães de forma geral são as
acompanhantes mais participativas do programa de prevenção e reabilitação nos
ambulatórios de seguimento (ou follow-up). O que significa para elas este acompanhamento?
O que ele representa para o bebê?
A partir disto, era freqüente o nosso questionamento sobre de que forma a mãe
valorizava o processo de desenvolvimento de seu filho, bem como se dava sua avaliação
12
quanto à aplicação de tantas orientações recebidas ao longo do programa. A vontade de
conhecer o olhar materno dirigido a estes programas de acompanhamento, a forma como elas
experimentavam estas orientações e a compreensão do que se passava com o bebê a partir das
mesmas foi a principal motivação para o desenvolvimento da presente pesquisa.
Da idéia à ação, nosso trabalho ficou assim estruturado: esta introdução, seguida
pelo capítulo 2 onde apresentamos os objetivos da pesquisa; o capítulo 3, contendo o marco
teórico, no qual se tecem considerações sobre o desenvolvimento do bebê prematuro e o papel
da mãe no processo de seu desenvolvimento. No capítulo 4 é traçado o percurso metodológico
da pesquisa, caracterizando o caminho percorrido para alcançar os objetivos propostos. O
capítulo 5 contempla os resultados do trabalho de campo, apresentando os ambientes da
pesquisa – a UTI Neonatal, o Ambulatório de Seguimento e as visitas domiciliares – bem
como os sujeitos da pesquisa, mães e bebês. Através dos relatos maternos, apresenta as
experiências familiares decorrentes da internação e alta, a percepção das mães sobre o
desenvolvimento de seus bebês e o papel dos atores sociais, mãe, pai e família, no
desenvolvimento do bebê. Neste mesmo capítulo tem início a discussão dos resultados
visando uma melhor compreensão do leitor.
Tendo em vista que a percepção das mães sobre o tema proposto se dá a partir de
suas experiências práticas, envolvendo todos os que estão inseridos no contexto, os resultados
irão contribuir para a construção de um espaço que privilegia o diálogo, as vivências e as
necessidades das mães e de seus bebês prematuros. Em especial, a terapia ocupacional poderá
fazer uso destas informações e desta discussão para desenvolver programas de orientação
focados na família.
13
2 OBJETIVOS
2.1 Geral
Analisar as experiências maternas em relação ao desenvolvimento do seu bebê
prematuro.
2.2 Específicos
Os objetivos específicos foram:
a) identificar as características socioeconômicas das mães;
b) conhecer as experiências maternas sobre o período de internação neonatal do
seu filho;
c) conhecer a percepção das mães sobre o desenvolvimento do seu filho
prematuro;
d) conhecer a percepção das mães sobre o seu papel no desenvolvimento do filho
prematuro.
14
3 MARCO TEÓRICO
3.1 O bebê prematuro
Os pais esperam sempre que o nascimento do seu bebê aconteça ao termo da
gravidez, quando tudo já estiver preparado. Contrariando a expectativas, alguns bebês nascem
de repente prematuramente, surpreendendo os pais e provocando uma série de experiências
que suscitarão importantes adaptações para atender a esta nova realidade.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2001), são considerados
bebês prematuros aqueles que nascem antes de completar 37 (trinta e sete) semanas de idade
gestacional.
É importante ressaltar que a incidência do nascimento prematuro no mundo tem
variado de 6% a 10%, sendo que a maior incidência é encontrada nos países em
desenvolvimento. Na realidade brasileira essa incidência tem variado entre 5% e 15 %
(BRASIL, 2001). Vários fatores podem contribuir para o nascimento prematuro. Santos et al.
(2001) apontam as condições fetais, problemas maternos, presença de gemelaridade,
multiparidade, histórico de aborto e/ou outros partos prematuros e fatores sócio-econômicos,
considerando ainda que 50% dos nascimentos prematuros são considerados de causa
idiopática.
Halpern et al. (2000) e Castro (2005) ressaltam que a vida intra-uterina do bebê
constitui um período de desenvolvimento seqüencial e ordenado de uma série de sistemas
funcionais interdependentes, que deixam o recém-nascido preparado com capacidades
funcionais básicas para crescer e se desenvolver em relação às habilidades
neurocomportamentais, desde que o ambiente seja favorável. Em relação aos bebês
prematuros, este tempo de preparação não ocorre em sua totalidade o que pode trazer riscos
para as suas futuras aquisições. Assim, Shea (2002) confirma que o nascimento prematuro é
freqüentemente associado a uma variedade de fatores pré e pós-natais, que constituem uma
ameaça ao desenvolvimento adequado do recém-nascido pré-termo. Por outro lado, quanto
menor for a idade gestacional e os problemas associados à prematuridade, maiores serão os
riscos para o desenvolvimento. Para Alin et al. (2001), apesar da maioria dos bebês
prematuros apresentarem um prognóstico favorável, um número ainda significativo pode
manifestar a curto e longo prazo seqüelas, entre elas paralisia cerebral, cegueira, surdez e
deficiência mental entre outras, levando assim a um ônus familiar e social.
15
Um bebê saudável, no ambiente uterino adequado, recebe condições necessárias
para organizar e amadurecer seus sistemas fisiológicos, sensoriais e motores, para que ao
nascer esteja apto para sobreviver e se adaptar ao novo ambiente. Com o nascimento
prematuro o bebê não se encontra preparado para enfrentar um meio totalmente diferente do
uterino, repleto de estímulos externos nem sempre prazerosos e continentes. É a essa nova
realidade que o bebê têm que se adaptar com vistas à sua sobrevivência.
Brazelton (1995), D’Agostino et al. (1998) e Dubowitz (2000) ressaltam que os
bebês prematuros são considerados um grupo de alto risco para o desenvolvimento, uma vez
que ficam expostos a diversas situações clínicas e ambientais que poderão interferir em seu
processo de desenvolvimento. Lembram ainda que à estas situações somam-se as condições
socioeconômica e emocional dos pais.
Todos estes autores citados mostram o bebê prematuro como um bebê de risco
para o desenvolvimento infantil. Dessa forma, para este estudo, faz-se necessário lançar um
olhar sobre alguns conceitos de desenvolvimento.
Entre os grandes teóricos do estudo do desenvolvimento podemos citar Gesell
(1999) que estudou o desenvolvimento das áreas motoras, adaptativas e da linguagem,
propondo inclusive uma avaliação de desenvolvimento amplamente usada no Brasil e em
diferentes lugares do mundo. Piaget (1999) deu grande contribuição sobre o desenvolvimento
da inteligência da criança. Le Boulch (1982) se preocupou de forma mais intensa com o
desenvolvimento psicomotor. Ressaltamos ainda Freud (1986) que apesar de não haver feito
como os demais autores estudos de observação e acompanhamento de crianças, entendeu,
através da reconstituição das histórias de seus pacientes adultos a dimensão emocional do
desenvolvimento infantil. Vigostsky (1996) apresentou uma nova dimensão no conhecimento
do desenvolvimento infantil, especialmente cognitivo através de uma abordagem sócio-
histórica. Podemos citar ainda Bowlby (1990) e Winnicott (1990) que através de conceitos
relativos ao desenvolvimento emocional inicial compreenderam as influências das
experiências dos primeiros anos de vida no desenvolvimento infantil.
Para a presente pesquisa será considerada a abordagem de Papalia quanto ao
conceito de desenvolvimento. Para este autor nenhuma teoria sobre o desenvolvimento
humano pode ser universalmente aceita, nenhuma por si só explica toda a complexidade do
ser humano. O desenvolvimento de um indivíduo é compreendido como um processo de
diferenciação e maturação contínua e ordenado, definido por padrões de comportamentos que
acompanham as diversas modificações que o ser humano apresenta no decorrer de toda sua
vida.
16
Este conceito nos é relevante, pois pensamos que apesar da existência de diversas
teorias que buscam explicar de diferentes ângulos do desenvolvimento infantil, cada criança é
única e deve ser respeitada como tal. O que nos lembra nosso objeto de estudo – o bebê
prematuro apresenta características próprias que não podem ser esquecidas no momento da
investigação acerca do seu desenvolvimento.
No que se refere ao nascimento prematuro, Als (1986) chama atenção afirmando
que ao nascer prematuro o bebê não pode ser comparado a um bebê de termo, a um bebê
deficiente ou mesmo a um feto, este deve ser concebido como um bebê único que reage de
acordo com seu estágio de desenvolvimento.
Nos bebês prematuros vários aspectos devem ser analisados e considerados tendo
em vista seu tempo maturativo. Entre eles ressaltam-se o tônus postural, os sistemas
sensoriais, o comportamento e a formação do vínculo. É importante ressaltar que, para um
melhor acompanhamento do desenvolvimento do bebê prematuro, faz-se necessário calcular a
idade corrigida, que, segundo Tecklin et al. (2002) é estabelecida pela subtração do número
estimado de semanas de gestação menos 40 semanas da idade cronológica. O calculo evitará
que sejam exigidas do bebê habilidades que não fazem parte ainda do seu processo de
desenvolvimento.
O desenvolvimento sensorial está diretamente relacionado ao desenvolvimento
motor, dessa forma, as experiências sensoriais vivenciadas a partir dos estímulos táteis,
vestibulares, visuais, olfativos, gustativos e auditivos terão ampla relação com as reações e
comportamento do bebê. No bebê prematuro deve-se levar em consideração a intensidade e a
qualidade dos estímulos sensoriais recebidos, facilitando uma maior compreensão de suas
reações.
Para Als (1986) e também para Meyerhof (1996), o modelo síncrono-ativo do
desenvolvimento criado delineia caminhos para a observação do funcionamento cerebral
através do comportamento do bebê. As capacidades autônoma, motora e de organização dos
estados de atenção/interatividade podem ser observadas, possibilitando a identificação do
limiar de estresse do bebê e uma intervenção mais adequada. O equilíbrio dos subsistemas é
fundamental para o bebê, bem como a capacidade de pais, cuidadores e profissionais em
reconhecer os sinais que o bebê prematuro emite.
O que não podemos deixar de lembrar é que controle postural e muscular tornam-
se limitados, dificultando os movimentos espontâneos do recém-nascido prematuro em
virtude das posturas necessárias nas incubadoras, para o uso de aparelhos, suporte
ventilatório, imobilização de braços e pernas em função de alimentação, hidratação, entre
17
outros. Tecklin et al. (2002) acrescentam que a evolução inadequada do tônus poderá
prejudicar marcos importantes do desenvolvimento sensório-motor do bebê prematuro, tais
como controle cervical, surgimento dos reflexos primitivos e habilidades perceptivas e
comportamentais.
Para Klaus e Kennell (1993), o desenvolvimento do vínculo afetivo é fundamental
para a interação mãe-bebê, pois este favorecerá uma melhor organização dos vários sistemas,
sensoriais e motores, contribuindo assim para o desenvolvimento do bebê. Neste contexto o
papel da mãe deve ser valorizado, visando favorecer a relação mãe-bebê e posteriormente o
desenvolvimento do seu filho.
A gravidez, o nascimento e a acolhida de um novo ser no ambiente familiar
requerem de seus membros diversas adaptações, seja no contexto econômico, social e/ou
emocional. Neste contexto as mães nas sociedades ocidentais são consideradas por muitos
autores eixo central do desenvolvimento dos filhos, tendo a partir das relações que se
estabelecem desde a gestação conseqüências positivas e/ou negativas no processo de
desenvolvimento do mesmo.
3.2 A mãe e o nascimento do bebê prematuro
Muito se tem escrito sobre a influência do cuidado materno no desenvolvimento
da criança, em especial na relação da mãe com o bebê prematuro e na importância da
reconstrução do vínculo iniciado na gravidez e dificultado com o nascimento prematuro. Para
Brazelton (1988) mostra que a partir dos contatos iniciais entre a mãe e o bebê em suas
relações iniciais formam-se paradigmas das futuras relações sociais. Portanto, a separação de
uma mãe do seu bebê, antes que a díade tenha estabelecido alguns processos interativos pode
dificultar as atuais e futuras ligações afetivas ao mesmo tempo em que interferem no
sentimento materno de competência bem como em sua auto-avaliação quanto sua importância
para o bebê.
Busnel (2003) ressalta que, de repente, por uma necessidade vital, o bebê é
submetido a um lugar distante e diferente de tudo que ele conhecia como próprio tendo que
aprender sozinho, longe de sua mãe, a sobreviver. A autora coloca que “este aprendizado,
quando realizado junto com a mãe, é mais importante que qualquer rotina hospitalar”. Assim
sendo, logo que seja possível, após o nascimento mãe e bebês devem permanecer juntos para
aprenderem e conhecerem esta nova realidade.
18
Para Bowlby (1998) e Dias (2000), o estabelecimento do vínculo emocional com
um determinado indivíduo é um componente básico da natureza humana. Quando
estabelecido, fortalecem-se relações que, no caso dos bebês, podem ser preciosas para sua
sobrevivência, pois os pais se sentirão mais próximos, importantes e comprometidos com o
filho, proporcionando para este uma maior segurança para vivenciar as experiências externas.
Dada, portanto, a importância da relação mãe-bebê para o desenvolvimento
infantil, surgem programas que buscam, dentro dos hospitais, garantir a permanência da mãe
no período de internação, favorecendo o fortalecimento do vínculo e do apego, o aleitamento
materno e a humanização dos espaços hospitalares.
De acordo com Lamy (2000), oferecer um atendimento humanizado na UTIN não
é uma utopia, partindo do pressuposto que o bebê necessita de muito mais do que
equipamentos para sua sobrevivência e desenvolvimento.
A presença da família, em especial da mãe, desde a internação, proporciona não
só aproximação com o bebê, mas gradualmente vai preparando-a para o desenvolvimento das
atividades de vida diária (alimentação, higiene, vestuário e manuseio) da criança. Participar da
rotina de cuidados é essencial para o desenvolvimento do bebê.
Winnicott (1994) afirma que a história do desenvolvimento infantil é uma história
de dependência absoluta, que gradualmente evolui para a independência. À medida que o
bebê se desenvolve, a confiabilidade do meio ambiente ocorre a partir das experiências de
proximidade e continuidade com a figura materna.
Para Martinez (2004), os pais se tornam elementos potenciais no ambiente
domiciliar, servindo de apoio e promovendo o desenvolvimento dos filhos. As formas como
os pais conduzem o ambiente e vivenciam as atividades diárias tem ampla repercussão no
desenvolvimento dos filhos. E aqueles pais que conseguem participar do processo de
internação de seu filho recém-nascido, tornam-se mais capacitados a tonarem-se estes
elementos potenciais, já no ambiente familiar.
A responsabilidade e a responsividade nos cuidados com os bebês é atualmente
considerada como fortes influenciadores no ambiente familiar. Lordelo (2002) define como
responsividade o grau de ajuste do ambiente aos estados comportamentais da criança, ou seja,
é a maneira como o adulto cuidador modifica seu comportamento para atender às
necessidades da criança. Para o referido autor a responsividade no ambiente domiciliar
geralmente é focalizada na figura materna. O nível de responsividade é visto como um fator
que poderá, de acordo com as vivências, favorecer uma maior participação das mães nas
19
brincadeiras, na motivação e na interação com a criança, promovendo assim melhores
condições para um desenvolvimento global da mesma.
Considerando, portanto, a mãe como essencial para o desenvolvimento do bebê
prematuro, esta deve ser estimulada a participar efetivamente dos cuidados com o filho,
aumentando gradativamente a segurança necessária para os cuidados com o bebê prematuro.
20
4 PERCURSO METODOLÓGICO
4.1 Referencial teórico
Ao definir o objeto de estudo da presente pesquisa, constatou-se que, para
compreender a percepção das mães sobre o desenvolvimento dos bebês prematuros, era
necessário utilizar uma metodologia que privilegiasse as falas e experiências vivenciadas por
essas mães. Dessa forma, optou-se por realizar uma pesquisa de abordagem qualitativa.
O desenvolvimento infantil é tema estudado por diferentes pesquisadores, que
buscam, a partir de diferentes focos, conhecer e compreender este processo que envolve a
criança, os pais, a família e o ambiente. Tratar da temática do desenvolvimento do bebê
prematuro, a partir do olhar materno, proporcionou uma aproximação para as diferentes
realidades vivenciadas pelas mães estudadas.
Segundo Minayo (1992):
A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares, preocupando-se com
um nível de realidade que não pode ser quantificado. Estes significados funcionam
como elementos que estabelecem conexões entre os sujeitos e o mundo, o qual é, ao
mesmo tempo, descoberto e construído, quer na dimensão individual quer na
construção coletiva.
A abordagem qualitativa tem colaborado significativamente para a compreensão
de grupos sociais, organizações, instituições ou de representações. De acordo com Andrade
(1997), a representação que um indivíduo tem do mundo é fruto do trabalho de sua relação
com ele.
4.2 Cenário do estudo
O estudo foi realizado no Hospital Universitário – Unidade Materno-Infantil
(HUUMI), da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em São Luís, fundado em 1985
com a finalidade de prestar assistência médico-hospitalar e oferecer campo de prática –
riquíssimo – para o ensino, pesquisa e extensão na área de saúde e áreas afins. O trabalho
desenvolvido pelo HUUMI tem reconhecimento regional e nacional nos programas que
desenvolve, sendo considerado hospital de referência no Estado do Maranhão para gestação
de risco.
Entre os diversos serviços oferecidos no HUUMI destaca-se a assistência ao
neonato, realizada por uma equipe multiprofissional, formada por médicos, enfermeiros,
21
assistentes sociais, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, psicólogos, e
auxiliares de enfermagem que buscam desenvolver suas atividades de forma interdisciplinar.
A equipe procura criar um ambiente adequado para a maturação e desenvolvimento do
neonato, envolvendo questões que vão além dos cuidados médicos e da tecnologia
necessários. Buscando melhorar a qualidade de vida das crianças assistidas, sobressai a
valorização da relação mãe-bebê, através da adoção da “Metodologia Canguru”, que levou o
hospital a ser um centro nacional de referência, apoiado pelo Ministério da Saúde.
A Unidade Neonatal do Materno-Infantil é composta de três ambientes: Unidade
de Terapia Intensiva (UTI), onde ficam os neonatos prematuros ou a termo que necessitam de
cuidados intensivos e contínuos; um segundo ambiente, denominado Unidade Intermediária
(UI), onde os neonatos com condições clínicas estáveis ficam em recuperação nutricional ou
aguardando algum procedimento diagnóstico; e o terceiro ambiente, que é a Unidade Mãe-
Bebê (UMB), onde mãe-filho permanecem juntos o tempo que a díade considerar necessário e
prazeroso, utilizando a metodologia “canguru”.
Quando o bebê e a mãe alcançam condições estáveis recebem alta e são
encaminhados ao Ambulatório de Seguimento, também conhecido como follow-up.
Segundo Vieira da Silva (2001, p. 8):
A organização dos programas de follow-up surgiu da necessidade de
acompanhamento dos bebês de risco, oriundos das UTI’s neonatais, que com todo
avanço médico e tecnológico das últimas décadas proporcionou a sobrevivência de
RNS com peso e idade gestacional cada vez mais baixo.
As crianças são acompanhadas no Ambulatório de Seguimento até os sete anos,
tendo como principais objetivos identificar fatores de risco para o desenvolvimento, realizar
acompanhamento para detecção e intervenção profilática o mais precocemente possível, dar
suporte e reconhecer a família no processo de assistência ambulatorial, inserindo-a no
processo do desenvolvimento biopsicossocial do filho.
O Ambulatório de Seguimento do Hospital Materno-Infantil foi implantado em
2000 e atualmente desenvolve suas atividades com uma equipe, composta por Assistentes
Sociais, Terapeutas Ocupacionais, Pediatras, Enfermeiras, Auxiliares de Enfermagem e
Psicólogos. Conta ainda com uma rede de apoio, que auxilia no diagnóstico, quando
necessário, nas áreas de oftalmologia, gastroenterologia, ortopedia e imagenologia
(cardiologia e neuropediatria). Atualmente, em média são atendidas mensalmente 600
crianças, que recebem atendimentos no Ambulatório e visita domiciliar.
No Ambulatório os retornos são sempre agendados após a consulta. Tal medida
facilita e funciona como estratégia para retorno das mães. As consultas consistem em
22
avaliação do estado clínico e do desenvolvimento das crianças, além de prestar orientação
familiar sobre o desenvolvimento e estimulação da criança. Quando necessário, as crianças
com alterações neurológicas são encaminhadas para atendimento de reabilitação,
principalmente na Clínica-Escola Santa Edwirges, da Faculdade Santa Terezinha (CEST) ou
para o Hospital Sarah Kubitschek, em sua rede São Luís.
4.3 Sujeitos da pesquisa
Participaram do estudo mães que tiveram seus filhos acompanhados no
Ambulatório de Seguimento do HUUMI no ano de 2005.
Os critérios de inclusão foram mães de bebês prematuros no primeiro ano de vida,
sem diagnóstico de doenças neurológicas e/ou síndromes, que estavam freqüentando as
consultas no ambulatório.
Os critérios de exclusão foram mães de bebês com faixa etária superior a um ano e
com doenças neurológicas e/ou síndromes diagnosticadas, uma vez que estas poderiam
possibilitar uma percepção diferenciada do desenvolvimento de seus filhos.
Atenderam aos critérios de inclusão uma população de 100 (cem) mães, das quais
foram levantados dados maternos e dos filhos, para conhecimento das características do
grupo.
Entre as cem mães foram efetuados sorteios sucessivos e realizadas entrevistas
para definição da amostra. A amostra foi definida, com 9 (nove) mães, a partir da repetição
das falas, sendo que o número de mães que fizeram parte da amostra foi considerado
suficiente para atender aos objetivos do estudo.
Segundo Minayo (1989), a amostragem na pesquisa qualitativa busca privilegiar
os sujeitos sociais envolvidos, sendo considerada suficiente a amostragem quando esta
permitir certa reincidência das informações, sem desconsiderar as informações ímpares.
4.4 Coleta de dados e instrumentos
A pesquisa foi realizada após autorização do Comitê de Ética em Pesquisa da
UFMA (ANEXO A) e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelas mães
(APÊNDICE A), conforme Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CONSELHO
NACIONAL DE SAÚDE. Resolução nº 196/96).
23
Esse Termo de Consentimento foi assinado após a leitura de Carta de
Esclarecimento às Mães pela pesquisadora (APÊNDICE B).
A investigação foi realizada em três etapas, descritas a seguir:
Primeira etapa: Os dados para caracterização dos sujeitos da pesquisa foram
coletados a partir dos prontuários existentes no Ambulatório de Seguimento. Para o registro
das informações foi elaborada uma ficha de coleta de dados para elaboração do cadastro
(APÊNDICE C). Da mãe buscaram-se dados socioeconômicos, como faixa etária, nível de
escolaridade, ocupação, situação conjugal, renda mensal, número de gestações, número de
abortos, número de filhos, assistência pré-natal, gemelaridade e tipo de parto. Sobre seus
bebês foram coletados dados referentes à faixa etária, peso de nascimento, avaliação de New
Ballard, tempo de internação, peso de alta, tempo entre alta e primeira consulta no
Ambulatório de Seguimento, acompanhamento na Terapia Ocupacional, avaliação de
Dubowitz.
Segunda etapa: A coleta de dados seguiu-se com o contato com as mães no dia
da consulta no ambulatório, para apresentação do pesquisador, esclarecimentos sobre os
objetivos da pesquisa, justificativa da escolha do entrevistado, garantia de anonimato e sigilo
sobre a autoria das respostas e, finalmente, o convite para participação e assinatura do Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE A). As entrevistas foram agendadas de
acordo com o horário e disponibilidades das mães.
Para esta etapa da pesquisa a técnica utilizada foi a entrevista semi-estruturada,
que teve como norteador um roteiro de entrevista (APÊNDICE D). O roteiro semi-estruturado
permite ao entrevistador explorar questões norteadoras, apoiadas em teorias e hipóteses da
pesquisa (TRIVIÑOS, 1992; LAKATOS; MARCONI, 2001; LOPES, 2005).
De acordo com Goldenberg (2004), o pesquisador deve preocupar-se em elaborar
um roteiro com questões claras, simples e diretas, que não confundam os sujeitos e venha
contribuir efetivamente para alcançar os objetivos propostos no estudo.
As entrevistas permitiram, a partir das conversas com as mães, uma aproximação
com suas idéias, sentimentos, crenças e opiniões. Segundo Minayo (1989), a entrevista,
tomada no seu sentido de comunicação verbal, permite serem coletados dados acerca de um
determinado tema científico, sendo esta uma das técnicas mais utilizadas no trabalho de
campo.
Terceira etapa: Após análise das primeiras entrevistas transcritas, observou-se
uma limitação nas falas, considerou-se necessário realizar, com todas as entrevistadas, uma
24
visita domiciliar, com o objetivo de aprofundar as entrevistas iniciadas no Ambulatório de
Seguimento.
Buscou-se através das entrevistas fazer um recorte na vida das mães, resgatando
suas concepções sobre o desenvolvimento do filho.
O mundo real não se apresenta como uma totalidade, mas como um recorte que
somos da totalidade. Esse recorte é concebido a partir do vista de onde nos
encontramos e dos pressupostos que trazemos conosco, o que nos possibilitam
experimentar e avaliar a totalidade do nosso cotidiano. (VICTÓRIA, 2000, p. 32).
Para Goldenberg (2004), em algumas situações de entrevista a presença do
gravador pode inibir o pesquisado, requerendo do pesquisador habilidade para negociação e
condução da pesquisa.
Nas entrevistas iniciais foi cogitada a possibilidade da visita domiciliar, visita esta
prontamente aceita pelas mães. As mães foram posteriormente contactadas por telefone,
domiciliares, comunitários ou de parentes, dessa forma tornando possível o agendamento de
todas as visitas domiciliares, realizadas durante a semana e algumas nos finais de semana, de
acordo com a disponibilidade das mães. Oito das mães selecionadas moram em bairros da
periferia e uma em bairro próximo ao centro.
4.5 Tratamento e análise dos dados
Os dados referentes ao perfil das mães e dos bebês foram organizados nos quadros
2 e 3, permitindo o conhecimento de aspectos socioeconômicos dos sujeitos da pesquisa. Os
dados referentes às entrevistas foram submetidas a uma das técnicas da Análise de Conteúdo,
a Análise Temática.
Segundo Minayo (1989), a Análise de Conteúdo busca os significados manifestos
e latentes no material qualitativo, utilizando-se de diversas técnicas para alcançar esses
objetivos entre elas, Análise de Expressão a Análise de Relações, a Análise Temática e a
Análise de Enunciação. A referida autora ressalta que, no âmbito das pesquisas em saúde, as
mais adequadas são a Análise de Enunciação e a Análise Temática.
Para Soares (2000), a análise das falas dos sujeitos é realizada através da
identificação de núcleos estruturadores recorrentes nos discursos, buscando-se a partir destes
núcleos ou temas a explicitação do sentido contido nos conteúdos das diversas falas, de forma
a permitir a compreensão das representações sociais.
De acordo com Bardin (1995, p. 105), “O tema é a unidade de significação que se
liberta naturalmente de um texto analisado segundo critérios relativos à teoria que serve de
25
guia de leitura. O significado dos temas deve ser explicitado a partir de categorias gerais e
especificas.”
Para Minayo (1989), a operacionalização da análise temática desdobra-se em três
fases. A primeira é a ordenação dos dados, que corresponde à etapa de transcrição dos
conteúdos das fitas, seguida de leitura flutuante e exaustiva do material. A leitura permite a
impregnação do conteúdo, que leva a uma aproximação entre os conteúdos e os objetivos da
pesquisa. No segundo momento, após a leitura exaustiva das entrevistas, realiza-se a
classificação dos dados, com o agrupamento dos temas que emergiram. E, finalmente, o
tratamento dos resultados obtidos e sua interpretação. Nessa fase propõem-se inferências e são
realizadas interpretações previstas no quadro teórico.
A partir dessa organização foram encontradas três categorias e suas respectivas
subcategorias explicitadas, a seguir:
CATEGORIAS SUBCATEGORIAS
Experiências do nascimento à alta
O nascimento
O hospital como espaço de aprendizado
A volta para casa
A percepção materna sobre o
desenvolvimento do bebê
Conceitos de desenvolvimento
Prematuridade e desenvolvimento
As novas habilidades do bebê
Papel materno no desenvolvimento do bebê
A função da mãe
A função do pai
A função da família
Quadro 1 – Categorias encontradas e suas subcategorias
4.6 Questões éticas
Por questões éticas, foi resguardado o anonimato das mães, sendo os seus nomes
substituídos por nomes de mulheres que iniciam com a letra M. Maria, Mariana, Marília,
Marta, Melissa, Márcia, Marcela, Marlúcia e Meire.
26
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Entrada no campo: conhecendo os ambientes da pesquisa
A entrada de campo é uma etapa preciosa, que representa um período de
aprendizagem contínuo, requerendo do pesquisador habilidade para conduzir a pesquisa.
Para Goldenberg (2004, p. 57), “o respeito pelos pesquisados, a flexibilidade e
criatividade para explorar novos problemas, a disposição de ouvir e a sensibilidade para saber
o momento de encerrar a entrevista são fundamentais”
Dado o contato inicial com a Unidade Materno-Infantil do Hospital Universitário,
ter se restringindo, até então, apenas a algumas visitas, tornou-se fundamental, para uma
melhor compreensão dos sujeitos da pesquisa, o reconhecimento dos ambientes que fizeram
parte das experiências maternas com o nascimento do bebê prematuro.
5.1.1 O ambiente da UTI Neonatal
Antes de iniciar a pesquisa no Ambulatório de Seguimento, considerou-se
importante lançar um olhar sobre a UTI Neonatal, pois os dois setores têm uma forte ligação,
ou seja, o trabalho iniciado na UTI, no cuidado com a sobrevivência dos bebês, prolonga-se
através das ações desenvolvidas junto às mães e seus bebês no Ambulatório de Seguimento.
O ambiente da UTI Neonatal é dividido em três espaços, a Unidade de Terapia
Intensiva (UTI), a Unidade Intermediária (UI) e a Unidade Mãe-Bebê (UMB). A definição do
espaço que o bebê vai ocupar depende de suas condições clínicas. Nos três espaços a presença
da mãe é marcante, permanecendo junto do bebê sempre que tem condições físicas e
emocionais, dormindo no hospital ou ali passando o dia. A rotina contempla a visita dos pais,
avós e irmãos. As visitas têm, entre outros objetivos, aproximar a família do bebê prematuro.
Segundo Kennel (1999), nos últimos anos as “paredes” das unidades neonatais
começaram a desmoronar e, hoje, as mães, os pais, e irmãos são bem-vindos, para observar,
tocar, abraçar e sentir os bebês.
Durante as visitas foi possível verificar que as mães ficam observando,
acompanhando e participando, na medida do possível, dos cuidados com o bebê. Na UMB é
rotina observá-las circulando com seus bebês, fazendo “canguru”, método adotado pela
instituição que, entre outros objetivos, favorece a construção do vínculo mãe-bebê. Neste
ambiente é também comum vê-las em pequenos grupos próximo a uma janela, sentadas em
27
cadeiras de balanço, embalando seus bebês, conversando ou simplesmente observando um
pouco a vida lá fora.
Em todos os ambientes as mães recebem orientações referentes à situação dos
bebês, que são baseadas nas diversas avaliações realizadas, entre elas a avaliação médica,
terapêutica ocupacional, fonoaudiológica e fisioterápica, entres outras. Além dos
atendimentos individuais, as mães participam de atividades em grupo que são planejadas e
conduzidas por diferentes profissionais componentes da equipe, sendo os temas propostos a
partir das necessidades emergidas no dia a dia da UTI.
Quando criança e mãe encontram-se em condições de alta, a equipe passa todas as
orientações necessárias e as encaminha para o Ambulatório de Seguimento. O primeiro
retorno após a alta é acompanhado pela equipe da UTI Neonatal.
5.1.2 O ambiente do Ambulatório de Seguimento
Após esse olhar sobre a UTI Neonatal, iniciam-se as visitas ao Ambulatório de
Seguimento dos bebês, egressos da UTI Neonatal. Este fica instalado no primeiro andar do
hospital e conta com 6 (seis) ambientes, onde as diversas categorias profissionais e
especialidades médicas realizam atendimento nas salas de avaliação auditiva, assistência
médica, de enfermagem, terapia ocupacional e sala de espera e uma pequena área livre.
Inicialmente os objetivos da pesquisa foram apresentados aos profissionais do
Ambulatório. O impacto inicial com a presença da pesquisadora foi normal e inevitável,
alguém que antes não fazia parte da rotina passa a circular e fazer parte do cenário, sem
efetivamente participar da equipe.
Neste período, antes de iniciar os primeiros contatos com os sujeitos da pesquisa,
observou-se a sala de espera, local onde as mães diariamente aguardam os atendimentos.
Algumas mães chegavam sozinhas com seus bebês, outras acompanhadas pelo pai, familiares
ou amigos. Enquanto esperam o atendimento elas conversam, trocam experiências e
informações sobre a assistência prestada, mas algo peculiar e muito interessante foi verificar
que ali as mães relatam diariamente as conquistas de seus bebês, tentando mostrar umas para
as outras ou para a atendente da recepção as suas “peraltices”. É bem verdade que algumas se
mostravam realmente preocupada com o peso e o crescimento de seus bebês. Em geral este
espaço, que poderia representar tão somente um espaço ocioso de espera do horário das
consultas, transforma-se aos poucos, num espaço riquíssimo de interações e troca de
informações, que se mostrou muito útil para esta pesquisa.
28
A circulação de mães, bebês, familiares e profissionais são constantes e a mãe,
dependendo da necessidade, recebe no mesmo dia atendimento e orientações do Pediatra, do
Terapeuta Ocupacional, Enfermeiro, Assistente Social, Fonoaudiólogo e do Psicólogo, entre
outros.
5.1.3 As visitas domiciliares
As visitas domiciliares proporcionaram à pesquisadora uma maior aproximação
com a realidade dos sujeitos da pesquisa, iniciando com as condições sanitárias dos bairros e
da dificuldade de acesso e transporte.
Segundo Medeiros (2003), crianças que vivem em ambientes familiares onde a
estimulação e o suporte social são inadequados estão mais sujeitas a atrasos no
desenvolvimento neuropsicomotor, potencializando o risco que estes bebês já apresentam.
De acordo com Levy-Shiff et al. (1994), a situação socioeconômica revela-se uma
variável importante para que os prematuros possam ter bons resultados. Concluíram que um
ambiente estimulador e de classe média contribui para bons resultados no desenvolvimento
dos filhos, enquanto aqueles que vivem em ambientes desfavorecidos tiveram resultados não
satisfatórios em longo prazo. Carvalho et al. (2001) acrescentam que vários estudos têm
salientado a condição de pobreza como associada a um prognóstico desfavorável ao
desenvolvimento global da criança pré-termo.
Todas as casas visitadas eram de alvenaria. Sete mães moravam com os pais,
irmãos, tios e/ou outros parentes. Uma casa tinha o piso de barro batido, em algumas os
cômodos não tinham portas e em outras apresentavam um número de cômodos inferior ao
número de pessoas que os dividiam, sendo que em duas casas um quarto era dividido pela
mãe, bebê, pai e tios. Duas casas ficavam em ruas muito estreitas, com esgoto exposto, aonde
se chegava por uma ponte de madeira.
Independentemente das condições de moradia, a visita domiciliar tornou-se
importantíssima para a construção e finalização da pesquisa, uma vez que as mães
conseguiram ficar à vontade. De todas as visitas realizadas, apenas uma das casas apresentou
excelentes condições sanitárias. A criança tinha um quarto amplo, cuidadosamente preparado
com variada oferta de estímulos. A mãe preparou um ambiente adequado, onde reproduzia as
orientações recebidas no Ambulatório de Seguimento.
29
A experiência da visita domiciliar levou a questionamentos sobre a aplicabilidade
concreta das orientações recebidas no Ambulatório. Como oferecer ao bebê um ambiente
favorável e rico em estímulos, se muitas vezes a maior necessidade da família consiste na
aquisição do alimento diário?
5.2 Conhecendo os sujeitos
5.2.1 As mães
Buscou-se, a partir dos dados coletados, retratar as principais características
socioeconômicas das mães entrevistadas, possibilitando assim um breve olhar sobre sua
realidade. Os dados foram organizados sob a forma de quadro, para uma melhor visualização
das informações coletadas.
Quadro 2 – Caracterização das entrevistadas
Das mães entrevistadas quatro eram adolescentes e destas, três estavam separadas
de seus parceiros. Com relação ao número de gestações, seis eram primíparas. Aragão et al.
(2004), em pesquisa realizada em São Luís para identificar os fatores de risco para a
prematuridade, encontraram como principais resultados a idade materna menor de 18 anos,
renda familiar menor ou igual a um salário mínimo, primiparidade e viver sem o
companheiro.
Observou-se entre as mães um baixo nível de escolaridade, destas só uma tendo
escolaridade superior. As mães estudantes, mesmo a casada, moram com os pais, que, além de
Codinome Idade
Escola-
ridade
Ocupação
Situação
conjugal
Renda
familiar
mensal
Número
de
gestações
Número
de
abortos
Número
de
filhos
Pré-
natal
Gemela-
ridade
Tipo
de
parto
Maria 15
Fundamental
Incompleto
Do lar
União
consensual
S/renda
fixa
01 – 01 Sim Normal
Mariana 17 Fundamental Estudante Separada 400,00 01 01 Sim Normal
Marília 18 Fundamental Estudante Separada 350,00 01 01 Sim – Normal
Marta 33 Médio Do lar Casada 260,00 02 02 Sim Cesárea
Melissa 19
Médio
Incompleto
Do lar Casada
S/renda
fixa
01 – 01 Sim Normal
Márcia 23 Médio Do lar Separada 300,00 03 02 02 Sim 01 Cesárea
Marcela 21 Médio Do lar
União
consensual
600,00 01 01 Sim Cesárea
Marlúcia 21 Médio Estudante Casada 300,00 01 01 Sim Cesárea
Meire 24 Superior Professora Casada 1.000,00 02 02 Sim Cesárea
30
assumir os cuidados com o bebê, auxiliam financeiramente para que possam continuar seus
estudos. A grande preocupação os pais é com a possibilidade, no caso das adolescentes, de
uma nova gravidez.
Allen (1993) confirma que a baixa escolaridade e o baixo nível socioeconômico
dos pais, ser mãe adolescente e histórias de relações desajustadas entre os pais podem
contribuir negativamente para o desenvolvimento do bebê prematuro.
Das nove mães, seis exerciam atividade exclusiva do lar, dedicando-se aos
cuidados da casa, do filho e do marido. Nesta pesquisa só uma mãe contribuía
financeiramente para a renda familiar, as demais tinham o marido ou os pais como
provedores. Das entrevistadas três mães têm renda mensal familiar superior ao salário
mínimo, destas só uma apresentando condições socioeconômicas aparentemente satisfatórias,
que permitem proporcionar ao seu bebê uma melhor condição de vida. É válido ressaltar que a
mãe que apresentou melhor renda é a que tem o nível de escolaridade melhor e,
conseqüentemente, exerce uma atividade profissional; as demais tem renda oriunda de
atividades informais. Para Medeiros (2003), entre os fatores mais significativos que afetam a
qualidade do ambiente domiciliar está a condição socioeconômica da família.
De acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2003) e
autores como Rocha (2000), o Nordeste vem confirmando tendência relacionada a uma
enorme desigualdade de renda e elevados níveis de pobreza, fato que leva a uma diminuição
na qualidade de vida da população. Para as crianças, as conseqüências mostram especialmente
dificuldade de acesso a serviços básicos de saúde, moradia, alimentação e, por fim, ambiente
pouco estimulador.
Quanto ao tipo de parto, cinco foram cesarianos e quatro normais. Segundo
estudos realizados pelo IBGE (2003), o aumento na incidência de parto cesariano é um
fenômeno comum em quase todos os países do mundo. Contudo não se sabe de nenhum outro
país onde a curva de aumento deste tipo de parto seja tão acentuada, nem tenham sido
alcançados níveis tão altos quanto no Brasil. Em relação aos nascimentos prematuros tem-se
que levar em consideração a necessidade real da realização deste tipo de parto.
Para Coelho et al. (1998) a combinação de fatores biológicos e sociais cria uma
situação de duplo risco para a criança, pois reduz a probabilidade de resultados favoráveis
para o desenvolvimento infantil.
31
5.2.2 Os bebês
Considerou-se importante conhecer as características dos bebês, uma vez que suas
condições clínicas no nascimento influenciam no tempo que os mesmos permanecerão na UTI
Neonatal, no tempo de internação. Ao mesmo tempo, a evolução do seu desenvolvimento
desde o nascimento exerce uma forte influência no contexto familiar, em especial na figura
materna que os acompanham.
Quadro 3 – Caracterização dos bebês
Os bebês, prematuros nasceram com idade gestacional entre 30s6d e 35s1d. O
peso de nascimento variou de 1.365g a 2.015g e o peso de alta entre 1.680g a 1.995g. O
período de internação esteve entre 15d a 34d. O tempo entre o dia da alta e dia da primeira
avaliação no Ambulatório variou de 6 a 28 dias. Todos foram atendidos pelo serviço de
Terapia Ocupacional. A passagem pelo serviço de Terapia Ocupacional é um dado
importante, uma vez ser a pesquisadora deste estudo um dos profissionais no ambulatório
responsável pela avaliação e orientação familiar sobre o desenvolvimento dos bebês.
5.3 Aproximando-se dos diferentes olhares maternos sobre a prematuridade
A perspectiva da participação familiar, onde as experiências cotidianas são
valorizadas, tem conduzido pesquisadores a questionamentos, novas hipóteses e,
Codinome Idade
Peso de
nascimento
New
Ballard
Tempo de
internação
Peso
de alta
Tempo
entre alta e
Terapia
ocupacional
Dubowitz
1ª avaliação
Bebê
(Maria)
7m5d 1.985g 34s3d 15d 1.970g 6d Sim Normal
Bebê
(Mariana)
7m 1.515g 30s6d 28d 1.705g 16d Sim Normal
Bebê
(Marília)
11m 1.800g 35s1d 17d 1.720g 17d Sim Normal
Bebê
(Marta)
8m 1.365g 36s 34d 1.680g 28d Sim Normal
Bebê
(Melissa)
1
a
3m 1.425g 32s3d 20d 1.735g 14d Sim Normal
Bebê
1
(Márcia)
7m13d 2.015g 35s 18d 1.715g 22d Sim Normal
Bebê
2
(Márcia)
7m13d 1.830g 35s 18d 1.875g 22d Sim Normal
Bebê
(Marcela)
3m 1.925g 35s 15d 1.995g 18d Sim Normal
Bebê
(Marlúcia)
6m 1.480g 32s1d 20d 1.990g 10d Sim Normal
Bebê
(Meire)
3m 1.320g 31s3d 30d 1.995g 8d Sim Normal
32
conseqüentemente, à busca de respostas para uma nova abordagem da realidade. Neste
contexto, a aproximação de conhecimentos teóricos e práticos vivenciados por profissionais
associa-se às experiências dos atores sociais envolvidos, possibilitando um espaço de
aprendizagem e troca de saberes para todos.
Transita-se a seguir através das falas maternas, nas impressões, sentimentos e
percepções sobre o desenvolvimento dos bebês prematuros, buscando de alguma forma
conhecer e comungar conceitos e experiências. Descobrir, no simples fato de ouvir, tarefa
nada fácil nos dias atuais, onde as exigências de soluções prontas e rápidas são cada vez mais
valorizadas, faz repensar a importância do respeito e acolhimento da experiência dos sujeitos
como fonte inspiradora para transformações e reflexões múltiplas.
Para Vieira da Silva (2002), o desenvolvimento é resultado da interação dinâmica
entre a criança e o ambiente, e cada um influencia e é influenciado pelas respostas do outro.
Avaliar os efeitos do nascimento prematuro sobre a família e, especialmente, sobre a mãe,
permite intervenções mais direcionadas às reais necessidades da família.
5.4 Experiências do nascimento à alta
Esta categoria retrata as experiências vivenciadas pelas mães no nascimento, no
período da internação, no momento da alta e no retorno ao lar. Observou-se que essas
vivências causaram um forte impacto nas mães, que no momento das entrevistas mostraram-
se emocionadas em recordar, muitas vezes de forma minuciosa, as experiências vividas,
destacando-se entre elas a surpresa do nascimento prematuro e o período de internação na
UTI Neonatal.
5.4.1 O nascimento
Eu não esperava que ia acontecer tudo isso. (Maria).
O nascimento prematuro expõe mãe e bebê a circunstâncias adversas, seja para o
bebê, que ainda está em desenvolvimento, ou para a mãe, que deve adaptar-se à situação
inesperada do nascimento prematuro do seu bebê. Diante dessa nova realidade, vários
sentimentos emergem como relata Melissa:
Imagina, foi super complicado né, eu tava esperando nascer uma criancinha sabe,
sadia, eu não esperava que ía acontecer tudo isso. Nossa, foi horrível. (Melissa).
Sentimentos como insegurança, angústia, ansiedade e medo afloram nas mães que
necessitam organizar-se emocionalmente para acolher seu bebê.
33
Para Carvalho (2003), o nascimento de um bebê prematuro pode ser comparado a
um evento de proporções marcantes, cujo impacto faz-se sentir não só nas vidas dos pais
como também no seio familiar, fazendo-se necessário um período de adaptação e
aproximação entre todos que vivenciam este contexto. A fragilidade do bebê faz aflorar
sentimentos inicialmente confusos na mãe, como relatado por Marlúcia:
Quando eu olhei foi um susto, tão pequeno, ele era tão pequeno, que eu nem sei.
Mas mãe sabe como é, né? Pra mim, achei a criança mais linda do mundo, que era
meu né, meu primeiro filho, meu primeiro. (Marlúcia).
O impacto pode ser maior quanto mais distante for o bebê real do bebê imaginado
pela mãe no período da gestação. Na maioria das gestações as mães sonham, idealizam como
serão seus bebês, que características terão, se mais parecidos com a família paterna ou
materna, sonhando com um bebê forte e saudável. Esta idealização Brazelton (1992)
conceitua como “bebê imaginário”. Aproximadamente por volta do sexto ao nono mês a mãe
passa por um período de transição do bebê imaginário para o bebê real que logo nascerá, o
nascimento prematuro surpreende à mãe que tem que adaptar-se a nova realidade, sem estar
preparada para tal.
Este momento é muito delicado e, ao mesmo tempo, especial, como demonstra
Melissa em sua fala:
No outro dia eu ainda estava com muita dor mas levantei da cama e eu fui lá olhar
ela, aí quando eu cheguei lá, nossa, me assustei quando eu olhei, eu não sabia o que
eu sentia, se era felicidade, se ficava tão assim meu Deus, olha o tamanhinho.
(Melissa).
O encontro proporcionou para Melissa sentimentos mistos de susto e
agradecimento pela sobrevivência do bebê. É importante ressaltar que o primeiro contato da
mãe com seu bebê deve ser muito bem apoiado e acompanhado pela equipe haja vista sua
importância para a formação dos vínculos afetivos. Este deve ser incentivado à medida que a
mãe encontre-se preparada, com vista a promover uma melhor interação mãe-filho. Segundo
Brazelton (1988), o desenvolvimento do vínculo é algo construído, desde a idéia de
concepção até o encontro dos pais com o bebê.
Pode-se ainda observar, nesse primeiro momento, que a primeira preocupação das
mães está relacionada à sobrevivência dos bebês, ficando em segundo plano a preocupação
com o seu desenvolvimento, como explicitam em suas falas Marlúcia e Meire:
Eu fiquei triste né, no dia do nascimento dele, eu não sabia se ele ia resistir.
(Marlúcia).
Eu não imaginava que ia ser desse jeito, foi tudo uma novidade pra mim, a gente
nunca espera né. Ele era tão pequenininho. Só que eu sempre tive esperança, que
ele fosse resistir, se desenvolver direitinho, foi um choque, porque ele nasceu muito
pequenininho, muito magrinho, perdeu peso. (Meire).
34
A fragilidade apresentada pelo bebê instiga questionamentos e inquietações aos
pais que convivem com o sofrimento do mesmo, com a expectativa da sua capacidade de
resistência e o medo da morte. Apesar de compreender a importância da UTI Neonatal para os
filhos, esta ainda é percebida como um lugar onde os conceitos de vida e morte estão muito
próximos.
Mathelin (1999, p. 67) chamou a atenção para esse problema: “como se sentir mãe
desse bebê que não dá sinal, que não mama no seio, que não olha, que não sendo momento
algum tranqüilizante, não fabrica mãe?”
Passado o impacto inicial do nascimento, mães e bebês enfrentam um novo
desafio, o de ter que permanecer por algum tempo no ambiente da UTI Neonatal. Este
período, para as mães entrevistadas, foi considerado marcante, único e difícil de esquecer.
Algumas mães, ao relatar suas experiências no decorrer da entrevista, mostraram-se bastante
emocionadas, algumas choraram, outras ao longo do relato paravam e ficavam algum tempo
em silêncio.
Braga e Morsh (2003) descrevem a UTI Neonatal como um ambiente de alta
complexidade tecnológica, cheio de aparelhos sofisticados e com um batalhão de
profissionais, ressaltando que, por suas próprias características, a UTI Neonatal apresenta-se
como um ambiente gerador de estresse.
Neste cenário, é possível imaginar o nível de ansiedade e medo vivenciados pelas
mães, como relatam Mariana e Marta:
Foi legal estar com minha filha, mas ali dentro da UTI (silêncio) vê ela assim,
minha filha, eu pedi a Deus para tirar ela dali de dentro da UTI. Eu queria levar ela
pra casa, mais era isso mesmo, hoje ela está comigo. (Mariana).
Foi difícil demais apesar de todo o apoio dos médicos, dos enfermeiros todo
acompanhamento foi maravilhoso, mais foi muito difícil. (Marta).
As mães demonstraram que participar da rotina da UTI Neonatal não é uma
situação fácil. Observa-se na fala de Mariana o reconhecimento da importância de estar junto
à filha, mas sobressai também uma reação de proteção quando expressa a vontade de não estar
ali, naquele espaço, compreendido por ela como um lugar doloroso, onde o conflito é
constante apesar de querer retirá-la, mas aceitando a necessidade daquele momento para a
sobrevivência da filha. É importante ressaltar que inserir as mães no ambiente da UTI por si
só não basta (como estratégia isolada), devendo a equipe ainda proporcionar às mães
possibilidades de maior compreensão das condições clínicas, dos procedimentos e da
importância de sua presença para a recuperação do bebê.
35
Para Moreira, Bomfim e Llerena Júnior (2003) é comum essa reação dos pais,
uma vez que o ambiente de uma UTI Neonatal parece assustador para todos os que nela
entram pela primeira vez. Principalmente para os casais, que ao planejar uma gestação não
cogitam a possibilidade de ter que freqüentá-la. Muitos inclusive desconhecem sua existência.
Marcela em sua fala confirma a dificuldade em ficar no ambiente da UTI Neonatal, mesmo
compreendendo a importância dos cuidados prestados para a sobrevivência do seu bebê.
Foi muito triste, foi ruim. Eu tive que ficar com ele. Não por ficar com ele entende?
Mas ver ele assim, tava tão esperado nascer normal, para vir de nove meses, foi
uma surpresa pra gente, boa, mais ao mesmo tempo (silêncio) ruim. (Marcela).
A UTI Neonatal proporciona às mães contato com tecnologias avançadas e com
uma equipe multiprofissional, além da convivência com outras mães que como elas estão
acompanhando seus bebês. O olhar materno então não fica restrito só ao seu bebê mas pode
provocar comparações com outras crianças internadas. As comparações às vezes podem
aparecer como um agente estressante, como relata Maria:
[...] Eu chorava, assim, porque eu via assim, que tinham outras crianças menores
que ela lá, tinha outras com muitos problemas também, aí eu pensava nela e
começava a chorar. (Maria).
Eu e meu bebezinho ali, eu não agüentava, de todo jeito eu chorava. As outras mães
chegavam e iam embora e eu ali. (Maria).
Eu chorava demais, não agüentava, aí chegou uma médica e disse: ‘J. você quer ir
para casa?’ (fala da profissional). Não gosto nem de lembrar que me dá logo
vontade de chorar. Todo mundo chegava e ia embora com seus filhos, só eu ficava
lá. (Maria).
Todas as mães enfatizaram as experiências da UTI Neonatal como marcantes,
mas de todas Maria foi a que mais se emocionou e evidenciou a dificuldade de ficar na UTI
Neonatal, como se vê acima. Aqueles quinze dias foram marcantes para essa mãe primípara e
adolescente de 15 anos, a mais jovem do grupo.
Para Silva (2002) as situações de risco enfrentadas pela mãe, acrescidas das
condições de vida e de normalidade de seu bebê, vão nortear todo o desenvolvimento do
relacionamento mãe-bebê. Tornar portanto este ambiente o mais acolhedor possível para mãe
e bebê torna-se um dos principais desafios para as equipes das UTI’s.
Para Lopes (2005) outras situações, como a morte de outra criança no período da
internação, colaboram para o estresse, evidenciando a incerteza das mães em relação ao futuro
dos seus próprios filhos.
As mães acompanhadas na UTI Neonatal do HUUMI observaram e
acompanharam toda a assistência prestada ao seu bebê. A possibilidade de ficar perto,
próximas aos bebês foi considerada por elas dolorosa mas, ao mesmo tempo, muito
36
importante, pois dessa forma elas conseguiram acompanhar o que realmente estava
acontecendo. Como relata Marcela:
Eu fiquei muito preocupada, ele era tão pequenininho, tão pouquinho, tão
bonitinho. A gente fica preocupada né, mas vê que tão fazendo tudo o que pode ser
feito né. A gente fica lá acompanhando. (Marcela).
Para Scochi et al. (2003), o fato de não poder pegar o bebê no colo, aconchegá-lo
e embalá-lo já é bastante frustrante para a mãe. Mesmo quando já é possível tocá-lo dentro da
incubadora, muitas mães se amedrontam nesse momento. O medo é justificado pelos
sentimentos de baixa auto-estima, pelo próprio ambiente e pela falta de autoconfiança em ter
capacidade de criar o filho.
Neste momento uma assistência direcionada à promoção do estabelecimento do
vínculo e do apego são essenciais para a relação mãe-filho, bem como o treinamento para o
desenvolvimento de habilidades maternas para o cuidado com a criança posteriormente no
domicilio.
5.4.2 O hospital como espaço de aprendizagem
[...] lá dentro aprendi como cuidar do meu bebê [...]. (Marília).
O ambiente hospitalar por muito tempo foi concebido como um lugar de
isolamento para as pessoas doentes que buscavam a cura. A responsabilidade de salvar a vida
da pessoa que necessitasse de cuidados estava pautada nos profissionais de saúde, normas,
equipamentos e todo o aparato tecnológico existente. Gradualmente esta concepção vem
mudando e o processo de humanização dos espaços hospitalares tem aos poucos inserido uma
nova rotina, onde todos, profissionais, pacientes e família são atores ativos na promoção da
saúde.
No período da internação as mães entrevistadas conseguiram ver o hospital como
um espaço de aprendizagem, no qual a equipe teve uma contribuição essencial para essa nova
visão.
Winnicott (1994) afirma que um bebê sozinho não existe. Cada recém-nascido
internado possui uma família que necessita de atenção e cuidados diferenciados por parte da
equipe. Esta deverá entender as mensagens verbais e não-verbais dos pais, com vista a
oferecer um melhor suporte emocional.
A preocupação com a humanização do ambiente hospitalar deve ser constante
entre todos que fazem parte deste contexto. “O ambiente agregado aos fenômenos que
rodeiam uma pessoa podem influenciar no seu desenvolvimento e em sua existência.”
37
(MASAGATANI, 2002, p. 145). A maneira como serão conduzidas as práticas assistenciais,
bem como a forma de atenção diferenciada aos pais terão grande influência na mudança de
comportamento dentro do ambiente.
O olhar materno no ambiente da UTI vai transformando-se gradativamente à
medida que a mãe vai desvendando este mundo novo e aprendendo uma série de novos
conceitos. Aquele espaço antes compreendido como assustador passa a ser um espaço
transformador, de aprendizagem e trocas mútuas entre mães, profissionais e bebês. Isso pode
ser observado no relato de Marília:
Para mim foi bom, porque a gente aprendeu muita coisa boa, lá dentro aprendi
como cuidar do meu bebê. (Marília).
Para Lamy (2000), em estudo realizado com pais de bebês internos em UTI
Neonatal, esse é um espaço de aprendizagem, de sofrimento e esperança.
Ele passou menos de um mês na UTI [...] nessa fase a gente passa com o bebê, pra
gente conhecer ele melhor, pra gente ter vínculo. (Marlúcia).
A construção do apego e do vínculo neste momento é fundamental para os futuros
cuidados maternos. Para Bowlby (2001), um vínculo estável, vivenciado como uma forte
segurança, e a renovação desse vínculo, podem ser considerados como uma fonte de energia.
Energia esta essencial para o bem-estar do bebê e da mãe. Ao contrário, a ausência do vínculo
poderá acarretar fortes conseqüências na futura relação.
Brazelton (1988) ressalta que a mãe fica insegura e ansiosa por acreditar não
poder cuidar do seu filho, por sua vez, a criança sente falta da segurança e do apego que lhe
fora transmitido pela mãe durante a gravidez. Para Marília, no depoimento acima, estar
presente no cotidiano da UTI proporcionou um espaço de aprendizagem, favorecendo uma
maior segurança nos cuidados dispensados ao seu bebê. Ficar junto na UTI com o bebê
favorece principalmente a construção e o fortalecimento da relação mãe-bebê, anteriormente
interrompida com o nascimento prematuro.
Klaus e Kennel (1993) acrescentam que o apego é de extrema importância para a
sobrevivência e o bom desenvolvimento da criança, visto que as relações estabelecidas
inicialmente entre pais e bebê influenciarão a qualidade de todos os laços futuros com outros
indivíduos.
Outras mães expressam entusiasmo ao afirmar que naquele ambiente elas também
estavam contribuindo ativamente na recuperação do filho, assumindo desde cedo suas
responsabilidades como mãe:
38
Lá a gente tinha que acordar de hora em hora né, para tirar leite, pra dá na sonda
[...] a medicação que ele tinha que tomar no horário certo, não é mais
responsabilidade do enfermeiro não, é da mãe. (Marlúcia).
Eu tive que aprender como dava de mamar, como tirar o leite, porque ela não tava
pegando o peito, aí eu tive que tirar o leite e fazer o canguru. (Marcela).
Eu aprendi a tirar o leite e fazer mãe-canguru. (Marília).
A humanização das UTI’s Neonatais nos últimos anos tem sido uma preocupação
constante do Ministério da Saúde, que entre as ações desenvolvidas tem colaborado de forma
significativa com a capacitação de recursos humanos e incentivado a utilização do método
“canguru”. Referido método proporciona à mãe e ao bebê condições de fortalecimento do
vínculo, promoção do aleitamento e capacitação materna para o cuidado com o filho
(FURLAN, 2003).
Para Klaus e Kennel (2000), após o contato “canguru”, muitas mães mencionaram
que, pela primeira vez, sentiram-se próximas a seus bebês e sentindo realmente mães de seus
bebês.
Participar ativamente dos cuidados com o bebê, logo que seja possível, é
considerado importante para os futuros cuidados no retorno ao lar. A estimulação das mães
quanto o desempenho das Atividades de Vida Diária (alimentação, higiene, vestuário e
manuseio) são essenciais para o bem-estar do bebê, bem como representa um importante
momento de estimulação sensorial e afetiva. Abéde e Ângelo (2005) acrescentam que durante
a permanência da criança na Unidade, que pode ser longa, os pais vão começando a se
sentirem mais aptos e à vontade para oferecer auxílio no cuidado com o filho.
Lá eu aprendi a cuidar dela, aprendi a dar banho, a amamentar e fazer tudinho.
(Melissa).
Para Teixeira et al. (2003), os primeiros cuidados com os bebês durante as
atividades de vida diária serão posteriormente aprimorados e generalizados. Com a
generalização, a mãe aprimorará e aprenderá a executá-los adequando-os às suas
necessidades.
Neste contexto o acolhimento, as orientações e principalmente o apoio da equipe
às mães são fundamentais para dar-lhes suporte emocional, corroborando para o
desenvolvimento do bebê e delas próprias. As mães relatam que, logo após o impacto do
nascimento, a insegurança é um sentimento constante, principalmente no que diz respeito aos
cuidados com os bebês. Definido por elas como tão pequeninos e tão frágeis, perguntam-se
constantemente se saberão cuidar dos bebês.
39
Para Winnicott (1994) as mães têm uma capacidade surpreendente de
identificação com o bebê, o que lhes possibilita ir ao encontro de suas necessidades básicas.
Essa capacidade é referida pelo autor como única e que de nenhuma forma poderá ser imitada
por uma máquina e que não pode ser ensinada.
Diante de tantas adaptações necessárias, as mães demonstram ainda uma
necessidade de cuidados, ou seja, além dos cuidados com o bebê, requerem uma atenção
individualizada que lhes deve ser prestada. Sentem-se na maioria das vezes isoladas, querendo
colo e atenção, com relatam Meire e Marta:
Eu gostei muito, fui muito bem acompanhada, me ajudaram bastante, as
enfermeiras são super mães. E são mães porque ficam com a gente. São mães dos
bebês e das mães também. (Meire).
Segundo Brazelton (1988), após a separação do nascido prematuro, a mãe pode
apresentar sentimentos de angústia, medo, ansiedade e depressão, que se não tratados
adequadamente podem levar a um distanciamento da mãe com relação ao seu bebê. Muitas
mães tendem a culpar-se pelo nascimento prematuro e se acham incapazes de cuidar do filho.
Para Klaus e Kennel (1993), a partir das dificuldades apresentadas pela mãe em
relação aos cuidados com o filho ainda na UTI, muitas se conformam em deixar os cuidados
maternos por conta do profissional de enfermagem, por se julgarem incapazes de cuidar de
seus filhos, sem colocá-los em risco. Referida relação deve ser conduzida adequadamente,
para que aos poucos a mãe entenda que cada profissional inserido na UTI tem um papel
destinado para melhorar as condições de seu filho. Desta forma, Marta se refere à boa relação
que teve e como esta foi importante para ela.
Ah! foi muito difícil, porque a gente fica dentro do hospital isolada, porque a gente
não sai né, fica aquela coisa, foi muito difícil pra mim, como se diz da preocupação
né, se dela ficar bem ou não né. (Marta).
A equipe deve estar preparada para compreender e atender adequadamente a esta
demanda materna, pois as mães encontram-se fragilizadas, fazendo com que o suporte
emocional seja indiscutível. A possibilidade das visitas de outros membros da família, além
do pai, como avós, os outros filhos e/ou amigos, pode apresentar-se como uma alternativa
importante para diluir o sentimento de isolamento das mães.
A equipe não pode esquecer que cada mãe tem uma história, um desejo, crenças e
mitos, que interferem nas suas próprias construções. Tais fatores devem ser respeitados e
levados em consideração, com vista a uma maior interação mãe-bebê. Ministério da Saúde
(BRASIL, 2001).
Com seus bebês fora de risco de vida, uma nova expectativa envolve as mães, e a
preocupação e a ansiedade voltam-se para o dia da alta.
40
5.4.3 A volta para casa
Chegando em casa: ‘[...] A primeira noite a gente não dorme [...]’ (Marlúcia).
O tempo e o espaço que representam o período de internação têm significados
diferentes para as mães. Uma semana pode representar uma eternidade, dependendo da
intensidade das experiências e das condições pessoais de cada mãe. As mães relatam que faz
parte do período de internação contar os dias e as horas para receber alta e retornar ao lar em
segurança com seu bebê.
O retorno ao lar e ao ambiente familiar é almejado com ansiedade por todas as
entrevistadas. Estas acompanham de maneira minuciosa as conquistas dos filhos, contando os
dias para o retorno. Referem-se ao dia da alta como um momento de muita alegria, com o
demonstram em suas falas Maria, Marta e Márcia.
Toda hora eu procurava o médico, eu não agüentava mais, eu tava doidinha para ir
embora. (Maria).
O momento da alta foi maravilhoso, apesar de todo acompanhamento do hospital, é
muito bom mesmo voltar para casa. (Marta).
O pediatra me disse que ia dá alta, só que eles não tinham atingido o peso ainda.
Quando ela me deu alta foi um alívio (sorrisos), um alívio. (Márcia).
As mães indicam um misto de sentimentos de alegria, alívio e vitória, pois
retornar ao lar com o bebê no colo representa que foram guerreiras e juntos conseguiram
superar as dificuldades.
Quando faltava um dia para um mês, ele alcançou o peso. Aí eles deram alta pra
gente. Eu disse, pronto, olhei pra ele e disse ‘ muito bem meu filho, você conseguiu.
(Meire).
Foi muito bom, foi bom demais, poder levar minha filha pra perto de mim. Porque
ela passou muitas dificuldades, ela precisou de um aparelho pra respirar né, ela
tinha problemas no pulmão né. Ela foi retirada de mim [...] mas agora estava tudo
bem. (Mariana).
Eu fiquei aliviada porque eu fiquei muito tempo. Já tava agoniada. Eu sabia que
estava sendo bom para o meu filho. Mas a gente fica sozinha, longe da família, a
gente sente saudade, assim de casa. (Marcela).
Para Zorzi (1992) a alta é um momento importante, no qual os pais estabelecem
uma nova relação com seus filhos. Para o referido autor este sentimento pode ser comparado
aos vivenciados no momento do nascimento, pois as angústias adormecidas durante a
internação afloram neste momento, tornando muitas vezes complexos e difíceis os primeiros
momentos em casa.
Pedromônico (1998) acrescenta que os pais, em especial as mães, precisam de
afirmação e devem acreditar que poderão compensar o período inicial de separação causada
com o nascimento prematuro.
41
A euforia vai passando e as mães percebem que, a partir daquele momento, o bebê
é de sua total responsabilidade, surgindo então a necessidade do apoio da rede familiar. Maria,
Márcia e Marília assim colocam:
Eu me senti muito alegre, eu fui logo para a casa da minha mãe porque ela era
pequenininha né, aí todo mundo ficou alegre todo mundo mesmo, os pais dele e
minha mãe. (Maria).
Foi bom, porque eu moro aqui com os meus pais, né. (Márcia).
Eu tive minha mãe para ajudar, ela sempre me ajudou. (Marília).
A filha que se tornou mãe necessita do suporte familiar e as mães relatam
sentirem-se seguras quando o acolhimento é realizado por suas mães, as avós dos bebês. Ao
se sentirem amparadas e protegidas, terão melhores condições de cuidar de seus filhos. A
experiência de suas mães servirá de parâmetro para os futuros cuidados com o bebê, e o
retorno à casa da mãe ou o deslocamento da mãe para suas casas foi apresentado como uma
prática comum entre as famílias, mesmo diante das diferentes histórias, contextos e
referências familiares.
Verifica-se portanto aqui, explicitamente, a chamada “maternagem ampliada”
definida como a capacidade dos avós de cuidar de forma mais ampla de duas gerações, dos
filhos e dos netos.
Conforme Braga e Morsh (2003, p. 85), os avós já viveram “[...] com seus filhos
outras situações que lhes ensinaram que, em alguns momentos, cabe aos pais esperar, dar
tempo ao filho descobrir seus próprios recursos para chegarem mais próximo, contando-lhes
alguns episódios que aconteceu com eles.” Assim, ao contrário dos pais que estão iniciando
sua história com esse recém-nascido, os avós já sabem que em alguns momentos ou períodos
da vida os filhos não podem corresponder aos desejos e às vontades maternas e paternas.
“Aos avós cabe mostrar aos netos o cume das montanhas e aos pais destes cabe
mostrar como se faz para chegar até lá.” (BRAZELTON, 1992, p. 433).
De todas as mães, Melissa apresenta uma fala diferenciada quando expressa certo
conflito com sua mãe:
Minha mãe ficou bastante preocupada ‘minha filha, quem vai cuidar dessa criança?
(a mãe)’ Quando ela (a mãe) veio me visitar aqui no hospital ela não queria que eu
levasse minha filha pra casa não, ela dizia ‘deixa ela aqui ou leva ela pra minha
casa’ (a mãe) mas eu dizia não mãe, eu tenho que ir pra casa, eu tenho que
apreender, porque sou eu quem vai cuidar dela mesmo. (Melissa).
Embora durante a internação Melissa tenha expressado à mãe o desejo de cuidar
do seu bebê, ao chegar em casa sentiu-se insegura, como se vê a seguir:
42
Quando eu chequei em casa eu olhei pra ela e disse: ‘meu Deus, o que eu vou fazer
agora [...] fiquei olhando ela assim, aquela coisinha, bateu um desespero [...] tão
pequenininha [...] tão frágil’. Falei pro meu marido ‘manda alguém pra cá por que
eu tô com medo.’ (Melissa).
Apesar da preparação para a alta, Melissa achava que não conseguiria cuidar
sozinha do filho. Estava cumprindo um papel antecipado pela mãe. É importante que a equipe
investigue a realidade que espera a mãe em casa, dessa forma poderão ser disponibilizadas
estratégias que possam minimizar a ansiedade do retorno ao lar. Zorzi (1992) considera de
extrema importância à preparação dos pais antes da alta do neonato. O acompanhamento da
equipe não se encerra no momento da alta, simplesmente muda de foco e outros atores sociais
entram em ação para prestar assistência aos pais.
Quando bem orientados a reconhecer em seus filhos sinais de sensibilidade aos
diversos estímulos recebidos e sendo reforçados seus pontos fortes, os pais demonstram-se
mais preparados para promover em casa um ambiente favorável ao estado de equilíbrio do
bebê. Apesar de todo o cuidado da equipe, após os primeiros momentos de euforia a chegada
em casa pode promover reações de desespero e angústia, como relatam Marta e Marlúcia:
Quando chega lá o medo é grande, dá vontade de voltar para o hospital. Fiquei com
medo né, de não saber cuidar dela, fiquei muito preocupada, olhava toda hora. A
primeira noite a gente não dorme. É porque ela era muito pequenininha, frágil.
(Marta).
No momento me deu uma insegurança, por que lá tinha o acompanhamento dos
médicos né, das enfermeiras, mas era uma vontade tão grande de ir para casa, mas
a primeira noite a gente não dorme em casa olhando direto. (Marlúcia).
A preparação da mãe para a alta deve abranger os cuidados básicos do bebê:
alimentação, banho e medicações, bem como as possíveis dúvidas do cotidiano e mitos
populares (BRASIL, 2001).
Scochi et al. (2003) ressaltam que o nascimento prematuro acrescido do período
de internação contribui para o estresse da mãe e da família. Neste contexto necessitam de
cuidados por parte da equipe para que possam novamente se organizarem frente à realidade
do bebê. A assistência prestada aos pais reflete ainda na preparação dos mesmos nos cuidados
com o bebê, quando do retorno ao lar. As visitas de parentes e amigos às vezes incomodam,
principalmente pelo receio à exposição da criança. Os comentários sobre o nascimento de
crianças prematuras aparecem como ameaças e provocam angústia, como relatam Maria e
Mariana:
Quando eu cheguei em casa toda vez que vinham olhar ela diziam, é muito
pequenininha. Teve até uma menina que chegou e disse, ela não vai sobreviver.
(Maria).
Diziam que criança de oito meses não sobrevive né, olha ela aí. (Mariana).
43
Observa-se que estas mães apresentam reações de proteção para com os bebês,
para elas eles ainda não deveriam nem ter nascido. Portanto, não deveriam estar expostos a
outros olhares, principalmente daqueles que chegam a resgatar no momento da visita histórias
de outras crianças prematuras que não conseguiram sobreviver.
Para as mães, voltar para casa já é uma grande vitória para ambos, mãe e bebê,
onde os sentimentos de alegria e gratidão com a sobrevivência passam a fazer parte do
discurso materno. Sua atenção, antes direcionada para a sobrevivência, agora será
compartilhada com o olhar voltado para o desenvolvimento e as possíveis seqüelas que seus
bebês possam ter.
5.5 A percepção materna sobre o desenvolvimento do bebê
O termo desenvolvimento tem sido alvo de diversos estudos com diferentes
enfoques, dependendo dos objetivos de cada pesquisador. A diversidade literária encontrada
também é extensa e oriunda dos diferentes olhares.
Em relação às crianças prematuras, estas são consideradas grupo de risco para o
desenvolvimento, devendo receber a longo prazo acompanhamento em programas específicos
que assegurem um melhor desenvolvimento.
Segundo Rugolo (2005), o aumento da sobrevivência de prematuros cada vez
menores e mais imaturos impõe vários questionamentos sobre a qualidade de vida dos bebês.
O referido autor acrescenta que a preocupação com seu desenvolvimento tem sido
amplamente expressa na literatura.
Neste contexto, a participação das mães é primordial. As mães entrevistadas
retratam um olhar sobre o desenvolvimento pautado nas condições de saúde, nos receios das
seqüelas do nascimento prematuro e, acima de tudo, na observação do que seus bebês já
conseguem fazer em seus cotidianos.
5.5.1 Conceituando desenvolvimento
[...] desenvolvimento é a saúde dela, né [...] (Marta).
Embora a literatura traga de forma bem especificada os conceitos de crescimento
e desenvolvimento, alguns profissionais na prática clínica, demonstram certa dificuldade em
diferenciar os referidos conceitos. Para as mães entrevistadas essa realidade não é diferente.
44
Crescimento e desenvolvimento aparecem freqüentemente em suas falas como palavras
sinônimas.
Eu acho que é ela crescer, se desenvolver. É a criança ter saúde, estar bem.
(Marília).
É se desenvolver, desenvolver o conhecimento, crescer saudável, é ela ter saúde.
(Márcia).
Pra mim desenvolvimento é a saúde dela né, ela estar bem, está crescendo,
ganhando peso, é a saúde dela. (Marta).
Desde o nascimento as mães escutam muito os dois termos, sua preocupação com
a perda e ganho de peso é constante, representando para estas um sinal de bem ou mal estar do
bebê. As mães não estavam preocupadas em diferenciar estes dois termos, uma vez que para
elas tinham o mesmo sentido já que envolvem sua avaliação de como o bebê mostra suas
competências a partir da história que esta sendo vivida.
De acordo com Bee (1996), o crescimento é o resultado da maturidade anatômica
e o desenvolvimento é compreendido como amadurecimento das habilidades cognitivas,
motoras, perceptivas e sociais.
Levin (1997) acrescenta que o crescimento pode ser definido como as mudanças
relacionadas ao tamanho, volume e peso corporal. Já o termo desenvolvimento implica o
desdobramento das diferentes funções motoras e fisiológicas. Para o referido autor, para que
haja desenvolvimento é necessário que nasça um sujeito, e com este toda uma lógica
subjetiva, que nunca será igual à de outro.
Para Melissa, Meire e Mariana, os conceitos de desenvolvimento e crescimento
estão diretamente relacionados ao conceito de saúde e à capacidade do bebê em movimentar-
se:
Pra mim é ela ser sadia, que se mexe, que vire pro lado do outro, que olhe bem, que
chore também. (Melissa).
Desenvolvimento é como se fosse a estrutura dela, mas também é desenvolver de
acordo com as outras crianças, como ela se exercita, como mexe as perninhas, os
braçinhos. (Meire).
É ela está bem, tá, fazendo tudo. (Mariana).
A partir do questionamento acerca do conceito de desenvolvimento, outras
definições vão sendo incorporadas para compor de forma mais ampliada a percepção das
mães e aos poucos a preocupação com a prematuridade vai surgindo, como apresentado nas
falas no próximo tópico.
45
5.5.2 Relacionando prematuridade e desenvolvimento
[...] Por ser prematuro, não ia se desenvolver bem [...]. (Marcela).
As mães entrevistadas apresentaram-se receosas a respeito do nascimento
prematuro de seus filhos, ressaltando a preocupação com possíveis dificuldades que
posteriormente pudessem surgir. Essa preocupação tem origem nas experiências vivenciadas
no hospital e no imaginário popular sobre crianças prematuras.
Nas famílias, em termos gerais, os pais têm sido os primeiros cuidadores dos
filhos, no entanto nem sempre estes se encontram preparados para ser pai e/ou mãe. Silva
(2002) ressalta que ninguém está preparado para se tornar pai de uma criança com problemas
de desenvolvimento. Dessa forma, pensar na possibilidade do filho apresentar alguma
deficiência ou problema no desenvolvimento poderá aumentar os níveis de estresse parentais
e familiares.
Antes eu não entendia direito o que ela tinha, na UTI quase todo dia chegava um
médico novo e dizia que ela não estava bem, que ela podia ficar com algum
problema. Eu começava a chorar, pensava que ela ia ficar com algum problema, né.
(Maria).
Eu tinha medo deles ficarem com alguma deficiência. (Márcia).
Maria e Márcia expressam sua preocupação com as possíveis seqüelas que seus
filhos venham a apresentar por conta da prematuridade. Coroborram assim com o que
Pedromônico (1998) ressalta, acerca da prematuridade - associada às condições clínicas
perinatais dela decorrentes, é considerada indicador de risco para alterações no
desenvolvimento.
Rugolo (2005) acrescenta que não é fácil fazer o prognóstico do desenvolvimento
de uma criança prematura, pois este dependerá de uma complexa interação de fatores
biológicos e ambientais atuantes no cérebro imaturo e vulnerável destas crianças.
Quando não relacionada diretamente a deficiência, as mães demonstram
preocupação em relação a possíveis conseqüências no desenvolvimento dos filhos. Como
expressam Melissa, Marcela e Marlúcia.
Eu fiquei muito, muito preocupada, eu tinha medo dela não se desenvolver, eu tinha
medo do cérebro dela não ter um desenvolvimento certo, a minha família ficou
bastante preocupada. (Melissa).
Fiquei preocupada, no começo fiquei mais, eu queria saber se ele estava se
desenvolvendo bem, se ia ser normal, porque eu sempre ouvia falar que criança de
oito meses não se criava né, eu ficava muito preocupada. (Marcela).
Fiquei preocupada, porque eu pensava porque ele era prematuro, e por ser
prematuro não ia se desenvolver bem. Ele era pra ser de nove meses né. (Marlúcia).
46
As mães acima citadas ressaltam mais uma vez os sentimentos de medo e
preocupação. O medo agora está relacionado ao conceito de “normalidade” que surge pelo
acompanhamento que elas fizeram e ainda fazem de seus bebês tanto na internação como no
ambulatório de seguimento. Esta preocupação deve ser acolhida e valorizada, pois à medida
que a mãe passa a conhecer e entender melhor as condições clínicas e as prováveis
dificuldades dos filhos, bem como conhecer suas competências e habilidades, poderá lidar
mais facilmente com a realidade dos filhos.
Em algumas situações é difícil para a mãe pensar na possibilidade do filho vir a
ter alguma deficiência ou problema no desenvolvimento. O sentimento de negação materno
pode ocorrer:
Não me preocupo não, de jeito nenhum. Agora na cabeça do meu esposo e da minha
mãe, da família todinha foi um abalo muito forte. Porque eu já tinha me preparado
psicologicamente, eu já tinha um preparo mental assim pra muitas coisas né, que eu
possa a vir passar na minha vida. (Meire).
Meire inicialmente quer demonstrar não estar preocupada com o desenvolvimento
do seu bebê, preocupação esta transferida para a família e posteriormente assumida de
maneira sutil quando ela demonstra nas entrelinhas que já estava preparada para lidar com
possíveis problemas que o filho viesse a apresentar. Meire confirma sua real preocupação na
fala a seguir:
Ele já acompanha direitinho. Eu tenho uma apostila, eu vejo na faixa etária das
crianças e vejo o desenvolvimento dele, eu o acompanho. Tudo o que é na faixa
etária dele eu faço com que ele acompanhe direitinho. (Meire).
Apesar de negar anteriormente a preocupação com o desenvolvimento do filho,
Meire recorre aos meios aos quais tem acesso e conhecimento para se certificar de como está
o desenvolvimento do filho. Neste caso específico, foi observado que o seu nível de
escolaridade, acima da média das entrevistadas, apesar da negação, fez diferença na vigilância
do desenvolvimento do bebê.
Coelho et al. (1998) concluíram, em pesquisa realizada sobre o que os pais de
recém-nascidos de alto risco conhecem sobre desenvolvimento, que pais com maior nível
sócio-econômico e de escolaridade têm mais acesso à literatura que trata de desenvolvimento
infantil, bem como uma maior compreensão dos conceitos, o que facilita o acompanhamento
do desenvolvimento dos filhos.
Araújo (2002) ressalta a necessidade atual de encontrar uma resposta acertada
sobre seus filhos é algo tão primordial que os pais lotam auditórios e consomem vorazmente
livros de auto-ajuda, principalmente as mães, que desde cedo se aliam aos especialistas, em
busca de um (suposto) saber científico sobre a criança.
47
Marta, Marcela e Maria sentem necessidade de ressaltar que, apesar de
prematuros, os seus bebês estão se desenvolvendo, como se tivessem que provar as
capacidades de seus bebês:
Prá ter oito meses e ser prematuro ele já está bem desenvolvido prá fazer isso.
(Marta).
Prá quem nasceu de oito meses, né, tá espertinho. (Marcela).
Pelo fato dela ter nascido prematuro eu às vezes fico olhando assim, o
desenvolvimento dela, né. Eu penso que parece que ela não era prematura não.
(Maria).
Fica nítida a constante preocupação das mães com o desenvolvimento de seus
filhos. Este tema com certeza emerge como um conceito que, apesar dos trabalhos já
desenvolvidos, necessita ainda de uma atenção especial. O desafio é estimular as mães a
conhecer melhor as questões relacionadas ao desenvolvimento, demonstrar a importância no
investimento da estimulação dos bebês e, principalmente, o papel da família no
desenvolvimento de seus filhos.
Para Trachtenbarg (2004) os pais devem ser alertados para a importância do
acompanhamento e da vigilância, sobre o desenvolvimento da criança prematura, nos
primeiros anos de vida. Tal medida possibilitará intervenção precoce, prevenindo assim
futuros problemas.
Para Coutinho (2004), intervir precocemente, de preferência logo após o
nascimento da criança, parece ser uma medida eficaz de prevenção ou minimização de
problemas futuros. O autor ressalta que, quanto mais cedo for iniciado o apoio e mais
abrangente e integrado for o modelo de atendimento maiores serão os benefícios para a
criança e a família.
Glascoe (2000) e Finnie (2000) corroboram afirmando que os profissionais
contribuem com seu conhecimento de desenvolvimento e sua compreensão dos problemas,
enquanto os pais podem contribuir com o seu conhecimento empírico da criança, baseado nas
experiências e necessidades do cotidiano. Desta forma, referidos autores consideram
importante a participação dos pais nos programas de acompanhamento do desenvolvimento,
pois estes apresentam uma alta sensibilidade e especificidade na detecção de problemas no
desenvolvimento do seu filho.
As mães entrevistadas confirmam a afirmativa dos autores ao mostrarem que
estão atentas, buscando identificar, através da observação diária, o que seus bebês já
conseguem fazer, referindo-se em suas falas a importantes marcos do desenvolvimento dos
seus filhos.
48
5.5.3 Percebendo as novas habilidades do bebê
Ele já consegue fazer [...]. (Marília).
É válido ressaltar que o desenvolvimento do bebê prematuro segue um ritmo
próprio referente as possibilidades da idade maturativa e não cronológica. Assim sendo, no
Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que seja levado em consideração o uso
da idade corrigida no acompanhamento do seu desenvolvimento. A idade cronológica deve
ser corrigida, para que não sejam exigidas do bebê habilidades antecipadas ou para que não
surjam fantasias de atraso no desempenho da criança.
O conseguir fazer de seus bebês assume um lugar privilegiado no diálogo, fato
que algumas mães fizeram questão não só de falar, mas também de demonstrar, revelando
assim sua sensibilidade e capacidade de observação. Como relata Marlúcia:
Já faz movimentos, levanta a cabeça, faz por ele mesmo, a gente bota numa posição
quando a gente olha já tá em outra. Ele rola, vai escorregando, vai descendo no
berço. (Marlúcia).
A observação no processo de desenvolvimento infantil é importante em qualquer
período, em especial no primeiro ano de vida, período em que a criança passa por inúmeras
aquisições em diferentes áreas, tais como, área motora, de linguagem, cognitiva, perceptiva e
social. De forma geral, estas aquisições são acompanhadas de perto pelos pais, que
comemoram cada conquista alcançada por seus filhos.
Segundo Newcombe (1999), quando nascem os bebês são bastante indefesos. Em
conseqüência disto, os adultos que assumem o papel de cuidadores precisam se adaptar ás
suas habilidades e ficar vigilantes enquanto estas se desenvolvem.
Para Rugolo (2005) o acompanhamento do desenvolvimento do recém-nascido
prematuro deve ser um processo contínuo, que envolve uma avaliação e exames
sistematizados, bem como a valorização da opinião dos pais. Ressalta que no primeiro ano de
vida do bebê prematuro uma atenção especial deve lhe ser dispensada, com vista à detecção
precoce de possíveis alterações.
As habilidades apresentadas pelos bebês surpreendem e encantam as mães, que no
dia-a-dia buscam acompanhar atentamente e comemoram as novas habilidades conquistadas:
Ah, ela tá danada demais, ela já vira até de um lado pro outro, se mexe bem, e mexe
em tudo. (Marília).
Ele está muito animado, ele se mexe, chora, antes se mexia, mas não era tanto, vira
pro lado pro outro. (Melissa).
Ele já consegue virar sozinho, segura a cabeça, gosta de uma pessoa segurando ele.
(Marcela)
Com dois meses ela ficou olhando, quando uma pessoa passa ela vira a cabeça, pra
olhar. Já tá pegando (Maria).
49
No primeiro momento observa-se que as habilidades motoras foram as que mais
chamaram a atenção das mães, provavelmente porque são os primeiros sinais no bebê que
informam sobre suas competências. São evidentes e fáceis de observar e possuem uma
expectativa muito grande da família maior e do entorno do bebê. Elas relacionam ainda a
movimentação como sinônima de bom desenvolvimento dos filhos já que também se
encontram no ambulatório de seguimento para receberem atendimento e orientação sobre a
mesma. A valorização também é da equipe que as acompanha.
Para Newcombe (1999), as habilidades motoras das crianças na primeira infância
(ou a falta delas) têm conseqüências importantes para os pais. Estes ficam atentamente
observando, ao longo dos anos, os desempenhos da criança.
Levin (1997) acrescenta que se espera da criança que se mova bem, possa tomar
com precisão os objetos (motricidade fina), que consiga andar, saltar, desenhar, correr e
mostrar diferentes e variadas destrezas e maestrias corporais.
Márcia e Marta demonstram, através de suas falas, que suas observações
ultrapassaram o olhar sobre o simples movimento, o seu foco de atenção voltando-se agora
para a seqüência ordenada apresentada por seus bebês:
Ah! Eles já levantam, já engatinham, já querem até andar. (Márcia).
Ele ainda não tinha sentado assim, levantado e sentado. Ele ontem deitou, rolou,
sentou. (Marta).
Ele tentou levantar, ele apoiou pra tentar levantar. (Marta).
Existe uma preocupação explícita nos detalhes das aquisições motoras. Marta
justifica sua empolgação quando fala das conquistas da filha, ressaltando que antes seu bebê
já sentava, desde que fosse colocado sentado e agora não, ele demonstrara uma nova
habilidade, a de sozinho, sem auxílio de adultos, conseguir passar da postura deitada para
sentar, numa seqüência ordenada. A observação de Marta é realmente importante, qualquer
movimento realizado não está resumido a um simples ato motor, este requer uma série
complexa de ações que envolvem o cérebro, ossculos, tendões e, o mais importante, o
significado do movimento para quem o faz, ou seja, a funcionalidade.
O movimento fascina a mãe desde a gestação, onde além do crescimento é através
dos movimentos realizados pelo bebê e sentidos pela mãe que uma nova estrutura de relações
se estabelece. Não só com a mãe, mas com o pai e parentes, quando a mãe orgulhosa tenta
mostrar que o bebê já está se movimentando ainda no ventre materno. Para Levin (1997),
quando o pai e a mãe falam à criança in utero, muitas vezes esta responde através dos seus
movimentos (em geral os pontapés), percebidos pela mãe, que dão um novo sentido e valor
50
discursivo. Para o autor se estabelece no imaginário parental um primeiro diálogo, que se dá
através do movimento.
Mariana aponta ainda que continuar fazendo mãe-canguru em casa foi importante
para que ela percebesse o desenvolvimento da filha.
Ela aceita fazer mãe-canguru em casa, daí eu sinto os movimentos que ela já faz né,
os movimentos do corpo dela, ela está bem sapequinha. (Mariana).
O método “canguru” está dividido em etapas, das quais a terceira etapa preconiza a
continuidade à assistência ao recém-nascido prematuro após a alta. Nesta, qual não só a mãe
como o pai e outros familiares são estimulados a colocar a criança na posição canguru, e neste
caso o método teria o objetivo entre outros, de dar continuidade ao trabalho iniciado na
maternidade e melhorar a confiança dos pais no manuseio do seu filho. (BRASIL, 2001)
Entre as entrevistadas, a fala de Maria chama a atenção para uma questão
importante, as condições do lugar onde mora. Por falta de estrutura física, às vezes ela limita
as experiências da filha, como relata a seguir:
Aí a gente bota ela assim no chão prá ela andar dando a mão. Ela já anda assim, só
não deixo assim mais no chão, porque o chão tá assim (aponta para o piso), é risco
né, eu fico com medo dela virar e bater a cabeça. (Maria).
A gente não deixa ela sentar assim no chão, e na cama ela já caiu três vezes, porque
ela vai rolando, né. (Maria).
Ás vezes eu levo ela pra minha casa (a casa da avó) porque lá tem piso lisinho.
(Maria).
Conhecer a realidade vivenciada pelas mães é fundamental para a equipe, pois as
orientações dirigidas às mães devem atender às suas realidades, muitas vezes distantes
daquela experimentada no ambulatório. Maria relata que seu bebê fica a maioria do tempo no
colo, desta forma ela acredita estar protegendo a criança do ambiente que julga perigoso. Às
vezes as mães não realizam em casa as orientações recebidas no ambulatório, por falta de
condições financeiras e estruturais. A criança cresce e se desenvolve vai necessitando de
novas experiências mas em virtude de seu ambiente físico acaba sendo prejudicada em sua
estimulação.
Sabe-se da influência do ambiente no desenvolvimento da criança, desta forma
faz-se necessário dar-lhe uma atenção especial, buscando junto com a mãe e a família as
melhores alternativas para contribuir para o desenvolvimento da criança. Os estudiosos que
defendem a influência do ambiente no desenvolvimento infantil argumentam que os
ambientes físico e social são as influências-chave que dão forma ao desenvolvimento. Eles
acreditam que a interação da criança com as pessoas e os objetos que a cercam são
responsáveis por grande parte das aquisições que a criança faz (NEWCOMBE, 1999).
51
Dentro do ambiente as relações estabelecidas surgem nas falas das mães como
termômetro para o bom desenvolvimento. As mães estão atentas, observando como seus
bebês estão reagindo aos diferentes contatos sociais, incluindo não só a relação mãe e filho,
mais também com o pai, outros parentes e vizinhos.
São muitos os estudiosos que apontam a importância do contexto familiar para o
bom desenvolvimento infantil. Segundo Guralnick (1997), os resultados alcançados pela
criança em termos de desenvolvimento têm relação direta com os padrões de interações
familiares, dos quais a qualidade das relações pais-criança, as experiências e vivências que a
família proporciona à criança, bem como aspectos relacionados com os cuidados básicos de
segurança e saúde surgem como determinantes importantes.
5.6 Os diferentes papéis no desenvolvimento do bebê
As relações estabelecidas entre os bebês e atores sociais que fazem parte do
contexto são consideradas nas falas das mães como termômetro para o bom desenvolvimento.
As mães estão atentas, observando como seus bebês estão reagindo aos diferentes contatos
sociais.
5.6.1 As funções da mãe
De forma geral, a sociedade gerou uma imagem da figura materna, representada
pela responsabilidade, pelos cuidados, pelo amor incondicional e, principalmente, por as mães
incansáveis na busca do bem-estar de seus filhos.
As mães entrevistadas assumem esta mesma imagem, vêem-se como a pessoa
mais importante, cuidadoras primárias, responsáveis pela vigilância e estimulação dos bebês,
assumindo toda a responsabilidade por tudo o que venha acontecer com eles. Os demais
membros da família aparecem para as mães como atores coadjuvantes nesse processo.
A mãe é a pessoa mais importante [...]. (Meire).
As mães elegem para si diferentes papéis, que vão ao encontro das necessidades
do bebê, acreditando que exercem uma função primordial e essencial no desenvolvimento dos
filhos. Afinal, se não for a mãe, quem mais assumirá tamanha responsabilidade, e logo com
eles, tão pequeninos e frágeis:
Só a mãe conhece o seu bebê, sabe o que ele tem e o que ele não tem, eu sei de tudo
[...]. (Marlúcia).
Minha função é cuidar dela, saber tudo, tudo. (Melissa).
A mãe é quem tem mais cuidado, cuida direitinho. (Marcela).
52
Para Marlúcia, Melissa e Marcela, a mãe deve estar na linha de frente,
acompanhando, observando de forma incansável as necessidades do bebê, porque são elas que
ficam vinte e quatro horas com eles, destacando-se que o fato de terem bebês prematuros
aumenta as suas responsabilidades.
A relação estabelecida entre a mãe e o bebê recebe uma atenção especial. Freud
argumenta em seus estudos que a criança apresenta necessidades fisiológicas que devem ser
satisfeitas, por uma figura humana, especificamente a mãe, por ela representar para o bebê
uma fonte de satisfação. No entanto, chama a atenção de que existem três condições
importantes que foram descritas e muito bem apresentadas por Winnicott: a primeira é o
holding, ou seja, a capacidade de cuidar do bebê, sustentá-lo física e psiquicamente. Os
segundo, handling, a capacidade de acolher as emoções do bebê, estabelecendo um contato
corporal, manejando-o e estimulando-o. E terceiro o object presenting, a capacidade de
apresentar o mundo ao bebê, como sendo um ambiente acolhedor e protetor.
De acordo com Silva (2002), os cuidados diários da mãe para com seu bebê, suas
interações cotidianas, permitem o fortalecimento do vínculo e da autoconfiança materna,
abalada com o nascimento prematuro, bem como capacita a mãe a conhecer e perceber as
necessidades do seu bebê.
Modéstia à parte, eu acho que sou porque eu que dou o carinho que ele precisa.
(Marcela).
Para Levin (1997), entre a mãe e o filho não se repete só à ação de ver, mas o ato
de olhar; não se repete só o dar o leite, mas o ato de amamentar; não se repete só a emissão do
som, mas o ato da palavra; não se repete só a ação de mover a criança, mas o gesto
significante. Levin chama a atenção para a importância do papel materno não só no campo
das ações mas principalmente no significado que estas ações terão para ambos, mãe e bebê.
A palavra cuidado aparece freqüentemente nas falas quando as mães querem
explicar a relação que estabelecem com seus bebês e a importância desse cuidado para o
desenvolvimento destes.
Função da mãe é cuidar e dar carinho. (Meire).
Segundo Winnicott (1994), as mães têm uma capacidade surpreendente de
identificar-se com seu bebê, o que lhes proporciona perceber e atender às suas necessidades
básicas.
Após o nascimento, o estabelecimento do apego da criança para com a mãe e do
vínculo da mãe para com a criança são desafios constantes a serem vencidos pela díade mãe-
bebê, reconhecendo-se que o tipo de relação estabelecida promoverá comportamentos que
53
favorecem ou não a exploração do meio ambiente, tendo, portanto, conseqüência direta no
desenvolvimento da criança (PIAGET, 1993; RABINOVIC et al., 2000).
É importante reconhecer a questão da dependência nos bebês humanos e o quanto
esta dependência tem estreita relação com o desenvolvimento infantil. O cuidado também se
apresenta nas falas de Marta e Marcela, como sinônimo de carinho e amor, ficando
subtendido por elas que a capacidade de cuidar do bebê está diretamente relacionada à
capacidade de amar:
O cuidado é praticamente o amor, é passar segurança pra criança. (Marta).
Dar carinho, amor, atenção, cuidado, prestar atenção no que ele está sentindo.
(Marcela).
Segundo Busnel (2003), o amor, a compreensão e a sensibilidade demonstrados
ao bebê é o que há de mais importante, mais do que qualquer outra ação a eles dispensada.
Para a autora o bebê precisa ser cercado de ternura e atenção.
Marília, Melissa e Marcela valorizam a função da mãe nos cuidados diários de
alimentação, vestuário e higiene do bebê, entendidas neste estudo como as Atividades da Vida
Diária (AVD’s).
Ter cuidado com o bebê, é dar comida, cuidar direitinho, levar pro médico, quando
fica doente. (Marília).
É tudo, é alimentar, banhar, essas coisas. Dar carinho, amor, é muito importante.
(Melissa).
Cuidar é alimentar bem, dar banho, tudo direitinho, ficar observando a criança e
olhar os gestos. (Marcela).
Para Teixeira et al. (2003), as AVD’s são aquelas relacionadas aos cuidados
pessoais (higiene, alimentação, vestuário) e à mobilidade (deambulação nos adultos e, no caso
das crianças, o manuseio). Nas AVD’s o bebê apresenta-se dependente da mãe,
posteriormente este caminhará para níveis de independência tanto do ponto de vista das
atividades de autocuidados, quanto nas atividades sociais. É importante ressaltar que o nível
de interação influenciará no nível posterior de independência funcional do indivíduo.As
AVD’s são atividades tão rotineiras que às vezes não se observa a riqueza escondida neste
espaço de construção para a mãe e de estimulação e desenvolvimento para o bebê.
As mães reconhecem-se como vigilantes ativas no desenvolvimento dos filhos e
buscam constantemente na interação identificar sinais de alerta.
A função de vigilante no desenvolvimento: ‘Eu fico atenta a cada detalhe’ (Marta).
A mãe fica bem atenta aos acontecimentos diários do bebê, mesmo dormindo um
simples choro pode despertar a corrida para verificar o que está acontecendo. Geralmente
54
estão ligadas a todas as situações que possam sugerir perigo aos bebês, colocando-as como
eternas vigilantes dos filhos.
[...] eu tô olhando, a cada coisinha que ela faz, pra mim já é uma coisinha sabe, pra
eu ficar percebendo. (Marta).
Glascoe (2000) corrobora ressaltando que os programas de acompanhamento do
desenvolvimento devem atender às necessidades cotidianas dos pais, uma vez que estes
apresentam uma alta sensibilidade e especificidade preditiva na detecção de problemas no
desenvolvimento de seu filho.
Marlúcia e Mariana afirmam que a responsabilidade maior é da mãe, porque ela
fica o dia todo com a criança. Tais observações devem a cada dia ser mais valorizadas, muitas
situações são difíceis de ser observadas no momento da avaliação no ambulatório. O
estreitamento dos laços entre profissionais e mães é essencial para o acompanhamento
adequado do desenvolvimento do bebê.
A função da mãe é conhecer o seu bebê, saber o que ele tem e o que ele não tem, eu
sei tudo o que ele faz, observo todos os movimentos. (Marlúcia).
É acompanhar direitinho tudo o que ela esta fazendo né, ficar atenta, se não for a
mãe quem vai fazer? A mãe é a pessoa mais importante, é ela quem cuida, tenho que
ficar de olho, ela é prematurinha. (Mariana).
Figueiras (2002) destaca que, na vigilância o desenvolvimento infantil a
participação de todos que convivem com a criança é fundamental, em especial a opinião dos
pais e a qualidade das interações estabelecidas no ambiente domiciliar e extradomiciliar,
devendo ser adequadamente explorados pelos profissionais, respeitando os contextos sócio-
culturais.
As mães acrescentam que o brincar é um momento importante para a vigilância,
bem como percebem-se como estimuladoras dos filhos.
A função de estimular o bebê através do brincar: ‘pra vê se ele brinca [...]’
(Marta).
À medida que se aprofunda o olhar sobre as falas maternas, novas funções são
atribuídas à mãe. Neste contexto surge o brincar dos filhos com a mãe ou sozinhos,
constituindo-se em momento fundamental para o desenvolvimento dos filhos.
O brincar é considerado por muitos estudiosos como uma linguagem própria da
criança, através dele a criança ativa os mecanismos de expressão, elaboração e mediação,
mecanismos esses que têm relação direta com a cultura, a história de vida pessoal, familiar e
grupal onde cada criança está inserida.
Segundo Piaget (1999), o brincar tem um fim em si mesmo, o brincar é
espontâneo, fornece prazer, favorece a organização e é supermotivador. Na criança o brincar
55
se inicia no período sensório-motor, compreendido por Piaget de zero a três anos e vai
ajustando-se ao longo do desenvolvimento nas diferentes etapas.
Meire reconhece o momento das brincadeiras como único e que deve ser
aproveitado pelas mães, para ela cada momento desses é valioso para estimular o bebê e não
pode ser desperdiçado.
Eu coloquei na minha cabeça que este é um momento único que não vai mais voltar,
então cada período que a gente tem com ele, é como se fosse único, é único.
(Meire).
Vygotsky (1996) confirma que o brincar serve para consolidar o conhecimento da
criança, através das repetições de suas realizações, extraindo do prazer inicial para
posteriormente dominar as situações.
Os autores concordam que as experiências lúdicas das crianças proporcionam um
avanço no espaço das realizações, onde as crianças passam de maneira evolutiva de
momentos dependentes para a realização autônoma.
Marta relata momentos construtivos com seu bebê. Para o bebê, o brincar
funciona como estimulação essencial, favorecendo uma série de estímulos de acordo com o
brinquedo e/ou brincadeira a ele oferecido. Para a mãe é um momento de descontração, sem
perder de vista o seu olhar vigilante ao desenvolvimento do bebê:
Eu acho que a gente tem que cantar, brincar, falar palavras pra elas, ela já vai
observando e acompanhando. (Marta).
Melissa, Márcia, Marcela revelam que as brincadeiras favorecem uma
oportunidade para estimular os movimentos dos bebês.
Mostrar um brinquedo levando pro lado e pro outro prá vê se ele acompanha com o
olhinho, eu acho que é ficar estimulando. Às vezes a gente fica virando ela, essas
coisas. (Melissa).
Brincar é importante prá ajudar eles desenvolver melhor, conversar com eles,
ajudando eles a colocar prá sentar. (Márcia).
Boto no berço, dou coisas pra ela agarrar, converso com ela, falo palavras
carinhosas, mostrando brinquedinho pra ela, eu faço ela olhar estimulando os
movimentos do corpo dela e fico olhando pra vê se ele acompanha. (Marcela).
Observa-se nas falas que através do brincar as mães realizam estimulações
sensório-motoras, estimulam a visão e etapas motoras tais como o rolar, o sentar, a preensão.
Observa-se ainda que a preocupação vai além da oferta de brinquedos, mas principalmente na
forma como as crianças reagem aos estímulos.
De acordo com Teixeira et al. (2003), é através do brincar e das brincadeiras com
o próprio corpo, com o corpo do outro e com os objetos que a criança desenvolve todo o seu
repertório motor, sensorial, cognitivo, social e emocional.
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Para Piaget (1999) e Moyles (2002), nos primeiros anos de vida ocorre uma
evolução significativa no desenvolvimento dos aspectos físicos, cognitivos e principalmente
sociais, recebendo principalmente grande influência da mãe e do ambiente. No ambiente a
criança explora uma série de experiências lúdicas, que servirão posteriormente para diferentes
propósitos.
Trazer o brincar para favorecer o desenvolvimento da criança tem sido uma
prática cada vez mais adotada por diversos profissionais. O brincar no desenvolvimento de
qualquer criança, em especial do bebê prematuro, deve ser incentivado e orientado,
possibilitando assim que as mães possam fazer uso desse recurso para a estimulação dos seus
bebês. Através dele vários conceitos podem ser trabalhados, entre eles as etapas motoras e a
linguagem, entre outras.
[...] mais de ajudar no desenvolvimento dele, de ajudar nos exercícios tipo assim
como a G. faz e ensina, as estimulações, na hora do banho, na hora de mamar.
(Meire).
Meire ressalta a importância das orientações recebidas da terapeuta ocupacional,
ela diz que tem aprendido muito, e tem conseguido levar para casa as orientações recebidas.
Chama-se atenção para a importância da valorização no momento das orientações da
realidade socioeconômica e cultural da mãe e, de forma mais ampla, da comunidade onde a
família esta inserida. Tal medida permitirá à mãe uma melhor compreensão das orientações e
a possibilidade dessas orientações fazerem parte da rotina. A valorização de suas próprias
experiências deve também ter um lugar privilegiado no diálogo profissional-mãe.
Winnicott (1994) coloca a questão de que a mãe não pode apreender a fazer as
coisas somente a partir dos livros e das orientações profissionais. Ela pode ter apreendido
principalmente a partir de suas experiências quando criança, na observação dos cuidados de
outros pais para com seus filhos, ajudando a tomar conta de seus irmãos ou até mesmo nas
brincadeiras de ser pai ou mãe.
Pereira e Emmel (1999) ressaltam ainda que no período de zero a dois anos, em
algumas situações, a presença do adulto é fundamental para que a atividade do brincar
aconteça. O papel do adulto, que já é reconhecidamente importante para a saúde, higiene,
alimentação e desenvolvimento emocional da criança, pode ser relevante também como
modelo e provedor de riquíssimas brincadeiras para a criança.
O brincar é importante recurso, seja para a observação materna ou dos
profissionais que as acompanham. A forma como a criança brinca revela muitas vezes a
57
vivência cotidiana, seja nos tipos de brinquedos utilizados, que revela parte de sua cultura e
realidade socioeconômica, seja na forma como ela se relaciona com os adultos que a cercam.
Diferentemente das outras mães, Marília retrata o brincar como uma atividade
exclusiva do filho, sendo sua função disponibilizar um local e brinquedos para o filho.
Eu brinco com ela. Ela fica ali brincando com os brinquedos dela, é bom porque
assim ela quase não chora. Quando ela quer dormir eu sei logo [...] eu pego boto
ela no peito, ela dorme. Aí é mais um dia. (Marília).
As mães apresentam diferentes realidades e estabelecem diferentes interações.
Marília, na fala acima sugere que o brincar ajuda a manter a filha “ocupada” o que poderia
ajudá-la na realização de outras atividades.
Neste processo de desenvolvimento encontramos nas falas de duas mães uma
realidade comum e vivenciada por todas elas - as comparações com o desenvolvimento de
outros bebês, sejam membros da família ou filhos de vizinhos.
Eu fico comparando ele com minha sobrinha de nove meses, ele já fala, já tá
andando. Quando ela era pequenininha ficava brincando pegando as coisas. O meu
bebê também já fica brincando, eu coloco um negocinho assim no berço, ele fica
sorrindo e batendo. (Melissa).
Eu acho. O JG é mais depressa pra aprender as coisas, levantou primeiro. O JV tem
mais medo. (Márcia).
Mesmo que inevitável, a mãe deve ser sensibilizada quanto a respeitar a
individualidade de cada criança e considerar a idade gestacional do seu bebê prematuro, seu
temperamento, sua forma de reagir no mundo, evitando dessa forma conclusões precipitadas a
respeito do desenvolvimento do seu bebê.
Para Winnicott (1994) não existem dois bebês iguais, da mesma forma como a
mãe não é a mesma com cada filho que tem, necessitando, portanto, de uma constante
adaptação com vista a atender as necessidades dos filhos.
Para Márcia, Marta e Maria, os primeiros sons produzidos por seus bebês têm um
significado todo especial, para elas, neste momento, o bebê já está começando a se comunicar
através da “fala”.
Eles já tão querendo começar a falar assim no linguajar deles. (Márcia).
Bom, assim dela brincar, se hoje ele faz uma coisa diferente, amanhã ela faz outra,
então é isso eu observo desenvolvimento no brincar, às vezes até na voz dela, nela
falar né. Porque a gente acha que está falando né. (Marta).
Ela já chama ‘pa’ ‘papa’ ‘mama’ (Maria).
Desde que nascem os bebês são rodeados de sons, e desde que não apresentem
nenhuma alteração escutam vozes, ruídos, melodias, bem como experimentam em alguns
momentos, o silêncio. Este movimento contínuo de sons, somado às condições biológicas do
58
bebê, as palavras que lhe são oferecidas em seu dia-a-dia pelas diferentes pessoas que os
cercam, vão possibilitando o desenvolvimento da linguagem do bebê. O recém-nascido emite
ao longo de seu desenvolvimento vários ruídos, caracterizado em diferentes fases, como
balbucio, lalação e fala. É importante ressaltar que a linguagem não é estabelecida somente na
emissão dos sons, o que nos chamaríamos apenas de fala. Segundo Ajuriaguerra (1997) as
palavras do outro são suas desde o momento em que o outro as pronuncia. No entanto a
expressão mímico-gestual do outro já é uma linguagem, e a atitude do corpo da criança já é
recepção e mesmo comunicação.
5.6.2 A função do pai
[...] depois da mãe é o pai n é [...]. (Marcela).
As mães entrevistadas reconhecem a importância do apoio da rede familiar. As
que contavam com a presença do pai reconheciam este como a segunda pessoa mais
importante. As outras mães ressaltaram a importância de outros parentes, em especial os avós,
seguidos dos irmãos e tios.
As interações familiares exercem forte influência no desenvolvimento humano em
termos de desenvolvimento infantil. Guralnick (1997) ressalta que os resultados alcançados
pelas crianças estão intimamente relacionados com a qualidade dos padrões de interações
familiares, onde os pais proporcionam à criança cuidados básicos, segurança e saúde.
O pai do bebê prematuro vivencia, desde o nascimento dos bebês, assim como as
mães, uma mudança brusca em sua rotina. A esposa necessita passar algum tempo dedicando-
se de forma especial ao bebê na UTI Neonatal, deixando em segundo plano os afazeres
profissionais, também com a casa e, dependendo da situação, os cuidados com os demais
filhos.
O pai passa também a participar da rotina da mãe e do bebê na UTI Neonatal,
através das visitas muitas vezes restritas pelas atividades profissionais que exerce.
Maria relata a importância da visita paterna na UTI Neonatal, mas vivia um
conflito, ao mesmo tempo em que queria ficar com a filha queria voltar para casa com o
marido:
Quando eu estava lá na UTI, ele ia me visitar e ficava falando, você vai ter que ficar
aqui. (Maria).
59
Ao voltar para casa Maria apresenta-se mais tranqüila com relação a interação do
pai com a filha:
Quando o pai dela chega do trabalho, ele fica com ela e eu fico olhando, fico feliz.
(Maria).
O retorno ao lar favorece a aproximação do pai com o bebê. Para Marlúcia e
Marta, o que atrapalha e ao mesmo tempo se justificado por uma necessidade econômica, no
caso destas duas mães, é que a única renda familiar provém das atividades profissionais
paternas. Para Papalia (2000), a falta ou escassez de recursos financeiros pode dificultar o
apoio do pai à mãe nos cuidados com os filhos.
O pai dele trabalha pela manhã, à tarde fica com ele também. (Marlúcia).
Ele trabalha, mas quando chega em casa, ele fica com ela. (Marta).
A valorização da relação pai-bebê é evidenciada por Maria em sua fala, que
demonstra intensa satisfação em contemplar os momentos que eles ficam juntos.
Quando o pai dela pega ela e fica brincando na cama, ela fica rindo. (Maria).
As mães confirmam que o retorno ao lar favoreceu uma aproximação maior do pai
com o bebê. Mariana demonstra sentimentos de felicidade ao relatar a maneira como a filha
reage aos apelos paternos:
Quando o pai dela chega perto e diz C. ela já olha, caça com o olho, já sorri, aí ele
pega ela, segura ela, eu acho legal. (Mariana).
Neste último relato encontramos o que informa Bee (1996) o pai passa o tempo
livre brincando com o bebê, com brincadeiras físicas, enquanto a mãe mais tempo
participando da rotina do bebê.Isto acaba oferecendo ao bebê dois tipos de estimulação que se
comportam como complementares. Em nosso estudo, das nove mães só uma trabalha, cinco
tem como único provedor da família o pai, três dependem da colaboração econômica dos
avós. Esta realidade em alguns momentos acaba impossibilitando o que encontramos na
literatura. Talvez fosse interessante num próximo estudo estarmos mais atentas a estas
questões.
5.6.3 Conceito de função da família
A família é importante. (Melissa).
A relação estabelecida com outros parentes também vem somar para o sentimento
de completude sobre a aceitação e os cuidados do bebê. Após o nascimento, a maneira como a
família recebe a criança em casa tem reflexos diretos nos sentimentos maternos. Estas
60
esperam e consideram o apoio da família essencial para viver este novo momento da vida.
Como confirmam Meire e Márcia:
A família é grande, todo mundo está torcendo para ele, dando a maior força.
(Meire).
Todos são importantes meus pais, minha irmã, minhas amigas e os padrinhos.
(Márcia).
Para Papalia (2000), o laço mãe-bebê não é o único laço significativo formado
pelos bebês. Outras pessoas, como irmãos, tios e avós, entre outros cuidadores, também fazem
parte da relação conforme brincam, dando-lhes um senso de segurança, mesmo que os pais
sejam as figuras centrais.
Melissa e Maria confirmam que a família foi responsável por uma melhor
aceitação de suas filhas. O acolhimento e apoio relativos aos primeiros cuidados foram
essenciais para aproximação com seu bebê:
[...] os avós, os tios. Tu sabia que no começo eu não gostava muito de criança, prá
ser sincera. (Melissa).
Às vezes eu mando lá pra casa da minha mãe, ou fica com a tia dela aqui. (Maria).
Segundo Coutinho (2004), a condição de vulnerabilidade da criança poderá
potencializar um aumento nos níveis de estresse parental e familiar, implicando a necessidade
de adaptação e um nível de organização do sistema familiar para essa nova etapa da vida.
Meire acrescenta que a família pode auxiliar na estimulação da criança, e que em
sua experiência este contato tem sido muito importante o para desenvolvimento do seu bebê.
Todo mundo fica conversando com ele, como se ele fosse uma criança grandona,
como se ele estivesse entendendo tudo sabe, fica estimulando. (Meire).
Para Carvalho et al. (2001), a literatura tem apontado que o nascimento pré-termo
pode ter um diferencial no desenvolvimento da criança, estando intimamente relacionado a
fatores sócio-ambientais. Um ambiente familiar adequado pode reduzir ou compensar os
efeitos adversos do risco perinatal e, em contrapartida, um ambiente familiar desfavorável
pode intensificar este risco.
Segundo Braga e Morsch (2003, p. 82),
As sensações vivenciadas no momento da internação, quando têm a oportunidade
de serem divididas com outras pessoas significativas para a mãe, farão com que o
bebê se sinta melhor recebido no mundo, à medida que este contará com mais
interlocutores para expandir a sua capacidade de comunicação.
Interagir, brincar e ensinar são ações importantes para o desenvolvimento de
novas habilidades na criança. Neste contexto o nível de motivação da família para estimular a
criança é fundamental (COUTINHO, 2004).
61
O apoio familiar no nascimento de criança prematura é fundamental, conhecer a
estrutura familiar permite aos profissionais uma intervenção mais adequada, valorizando as
pessoas que estão dando suporte à mãe. Para Silva (2002), a família tem um papel
fundamental, podendo potencializar o desenvolvimento do bebê ou exercer um efeito
devastador. Ressalta que as intervenções centradas nas famílias podem melhorar o
prognóstico das crianças e, quando necessário, devem ser incluídos na intervenção outros
parentes além dos pais.
Mariana reagiu diferentemente das outras mães, demonstrando um sentimento de
ciúmes e proteção para com a filha. Diz evitar contato com a família, ficando este restrito às
visitas de alguns familiares em sua casa.
Ah, não, a C. vive aqui em casa, quem quiser tem que vir aqui em casa vê ela,
porque quem vê ela não quer mais largar né. (Mariana).
Algumas mães desenvolvem um sentimento de super proteção para com seu bebê,
por acreditar que ele não esteja ainda em condições de ficar exposto a outros contatos.
62
6 CONCLUSÃO
A realização deste estudo, buscando conhecer as histórias vividas por um grupo
de mães de bebês prematuros, de compreender as experiências maternas de mães sobre o
desenvolvimento de seus bebês prematuros, proporcionou uma maior aproximação com a
realidade. As mães foram o eixo central e suas falas mostram, como, muitas vezes,
informações preciosas podem ficar perdidas se não se estiver atento às demandas reais dos
atores sociais envolvidos no processo do nascimento e do desenvolvimento de prematuros.
Em relação ao perfil destas mulheres,
a) as mães entrevistadas em sua maioria são casadas, pobres, com um único filho
e com baixa escolaridade;
Para elas,
b) a internação representou um período de crise permeado por momentos de
medo e angústia diante das adversidades vivenciadas no nascimento do bebê
prematuro,
c) apesar disto, o hospital pode representar um espaço de aprendizado nos
cuidados e na estimulação que poderão propiciar aos bebês, seus filhos;
d) o desenvolvimento é percebido como bem-estar e a saúde dos bebês sendo que
muitas vezes confunde-se com crescimento;
e) existe a preocupação com as conseqüências da prematuridade, fato que as leva
a acompanhar atentamente as conquistas diárias dos mesmos, bem como
freqüentarem o ambulatório.
Em relação à percepção que têm de si mesmas e do papel materno,
a) as mães identificam no seu cotidiano, importantes funções no processo de
desenvolvimento dos filhos, destacando a função materna como mais
importante do que os cuidados paternos e dos demais familiares, considerados
complementares.
Um importante ambiente de observação foi a sala de espera da unidade, onde foi
possível, conhecer as narrativas maternas de forma descontraída e maneira informal acerca do
desenvolvimento de seus bebês. Além disto surgiu a compreensão de estratégias que poderão
contribuir para o programa de follow-up:
a) a sala de espera seja explorada para orientações;
63
b) grupos de mães possam ser formados, tendo como foco as suas experiências
acerca do desenvolvimento dos seus bebês;
c) oficinas sobre a função dos brinquedos, jogos e brincadeiras, valorizando os
objetos cotidianos aos quais mães e bebês têm acesso de acordo com o seu
nível socioeconômico, bem como a construção de brinquedos;
d) que as visitas domiciliares possam ganhar um espaço privilegiado, com o
objetivo de sintonizar as orientações com as reais necessidades das mães.
64
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71
APÊNDICES
72
APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu, ______________________________________, RG____________, abaixo assinado, DECLARO
para fins de participação em pesquisa, na condição de (sujeito objeto da pesquisa), que fui devidamente
esclarecido do Projeto de Pesquisa intitulado: DESENVOLVIMENTO DE BEBÊS PREMATUROS: análise
de experiências maternas..
Desenvolvido pela pesquisadora do Curso de Pós-graduação Mestrado Saúde Materno-Infantil da
Universidade Federal do Maranhão, quanto aos seguintes aspectos:
a) justificativa, objetivos que serão utilizados na pesquisa;
b) desconfortos e riscos possíveis e os benefícios esperados;
c) forma de acompanhamento e assistência com seus devidos responsáveis;
d) garantia de esclarecimentos antes e durante o curso da pesquisa;
f) liberdade de se recusar a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem
penalização alguma e sem prejuízo ao atendimento do meu filho;
g) garantia de segredo quanto aos dados confidenciais envolvidos na pesquisa, assegurando-me
absoluta privacidade;
h) que não será realizada pagamento pelas informações prestadas;
i) formas de ressarcimento das despesas decorrentes da participação na pesquisa.
DECLARO, outrossim, que após convenientemente esclarecido pelo pesquisador e ter entendido o
que me (nos) foi explicado, consinto voluntariamente em participar desta pesquisa.
São Luís, ______ de ___________________ de 200 __
______________________________
Assinatura do Declarante
QUALIFICAÇÃO DO DECLARANTE
Objeto da Pesquisa (Nome): __________________________________________________________________
RG: _______________________________________ Data de nascimento: _______/_____________/ _______
Endereço: ____________________________________ Bairro: ___________________ Fone: _____________
São Luís, ______ de ___________________ de 200 __
______________________________
Assinatura do Declarante
DECLARAÇÃO DO PESQUISADOR
DECLARO, para fins de realização de pesquisa, ter elaborado este Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE), cumprindo todas as exigências contidas nas alíneas acima elencadas e que obtive,
de forma apropriada e voluntária, o consentimento livre e esclarecido do declarante acima qualificado para a
realização desta pesquisa.
São Luís, ______ de ___________________ de 200 __
______________________________
Assinatura do Pesquisador
73
APÊNDICE B – CARTA DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA
PESQUISA
CARTA DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA PESQUISA
Cara Senhora,
O objetivo deste estudo é de conhecer o que as mães de bebês que nascem antes do tempo
e são acompanhadas do Ambulatório de Seguimento do Hospital Materno-Infantil sabem sobre
desenvolvimento dos seus bebês, para a realização do estudo necessito que Senhora participe de uma
conversa que será realizada nos dias de atendimento do seu filho no Ambulatório e/ou se a senhora
achar melhor poderá ser realizada em sua casa.Caso aceite participar,informamos que o estudo não
envolve pagamento e não terá qualquer benefício direto, mas permitirá uma melhor compreensão de
como as mães do Ambulatório estão acompanhando o desenvolvimento de seus filhos. Qualquer
conclusão só poderá ser apresentada no final do estudo. Informamos ainda que qualquer despesa da
pesquisa é de responsabilidade da pesquisadora.
A senhora terá garantia de acesso e esclarecimentos de dúvidas, em qualquer momento da
pesquisa. Neste caso poderá procurar a pesquisadora ou entra em contato com o Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP) do Hospital Universitário Dutra da Universidade Federal do Maranhão, situado na Rua
Barão de Itaparica, nº 227, em São Luís-MA, fone/fax: (98) 32191223, e comunique-se com o
Coordenador do CEP o Prof. Dr. Raimundo Antônio da Silva.
A senhora poderá a qualquer momento da pesquisa retirar o seu consentimento sem
qualquer prejuízo à continuidade do acompanhamento do(a) seu(sua) filho(a) na instituição.
As informações obtidas serão analisadas em conjunto com outras mães, não serão
divulgados os nomes de nenhuma das participantes. Os resultados serão divulgados através de artigos
científicos em revistas especializadas e/ou encontros científicos e congressos, sem nunca tornar-se
possível à identificação das participantes.
São Luís, ______ de ___________________ de 200 _____
______________________________
Assinatura do Pesquisador
74
APÊNDICE C – FICHA DE COLETA DE DADOS
FICHA DE COLETA DE DADOS
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DA MÃE
Nome:___________________________________________________________________________
Idade: ___________________________________________________________________________
Nível de escolaridade: ______________________________________________________________
Ocupação:________________________________________________________________________
Renda familiar:____________________________________________________________________
Situação conjugal: _________________________________________________________________
Endereço: ________________________________________________________________________
HISTÓRIA GESTACIONAL
Nº de gestações: ____________________________________
Nº de aborto:_______________________________________
Nº de filhos: _______________________________________
Gemelaridade: _____________________________________
Tipo de parto:______________________________________
Pré-natal: Sim ( ) Não( )
DADOS DO BEBÊ
Nome:___________________________________________________________________________
Data do nascimento:________________________________________________________________
Peso de nascimento ________________________________________________________________
New Ballard: _____________________________________________________________________
Tempo de internação:_______________________________________________________________
Peso de alta_______________________________________________________________________
Data da alta: ______________________________________________________________________
Data da 1ª avaliação no ambulatório:___________________________________________________
Realiza atendimento de Terapia Ocupacional: Sim ( ) Não ( )
Resultado da avaliação do Dubowitz:___________________________________________________
75
APÊNDICE D – ROTEIRO DE ENTREVISTA
ROTEIRO DE ENTREVISTA
1) Como foi o nascimento do seu bebê?
2) O que você acha que aconteceu para o seu bebê nascer prematuro?
3) Você ficou preocupada por ele ter nascido prematuro?
4) Como foi o momento do nascimento?
5) Como foi o período da internação para você?
6) Como foi o momento da alta?
7) E a volta para casa?
8) Para você o que é desenvolvimento infantil?
9) Como você acha que seu bebê está se desenvolvendo?
10) Qual o seu papel no desenvolvimento do seu bebê?
11) E o papel da família?
76
ANEXO
77
ANEXO A – PARECER CONSUBSTANCIADO DO COMITÊ DE ÉTICA EM
PESQUISA