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acima é a de que tal música é pensada em termos “puramente musicais”, evitando assim quaisquer
referências a sentimentos, emoções ou a qualquer outro tipo de estado psicológico. Tais
características podem ser confirmadas por uma própria afirmação de Stravinsky, quando ressalta a
questão do significado na música:
“Considero a música, pela sua essência, impotente para exprimir o que quer que
seja: um sentimento, uma atitude, um estado psicológico, um fenômeno da
natureza, etc. A expressão não foi nunca a propriedade imanente da música. A
razão de ser desta não é de forma alguma condicionada por aquela. Se, como é
quase sempre o caso, a música parece exprimir qualquer coisa, trata-se apenas de
uma ilusão e não de uma realidade... O fenômeno da música foi-nos dado com o
único fim de instituir uma ordem nas coisas, incluindo - e principalmente - uma
ordem entre o homem e o tempo. Para ser realizado, exige, pois, necessariamente e
unicamente, uma construção...” (STRAVINSKY, 1936, p.91)
Embora, como visto acima, descrito inicialmente como uma organização sonora construída a
partir de elementos “puramente musicais”– o que de certa forma, o coloca bem inserido dentro das
preocupações estéticas do século XX –, o Neoclassicismo foi visto, por muito tempo,
acentuadamente a partir da década de 1950, como um movimento menor, reacionário, nostálgico e
conservador. O próprio Stravinsky rejeitava o termo e por longo tempo foi intensamente criticado
por sua postura neoclássica.
No entanto, a partir da década de 1970, nota-se uma revalorização do Neoclassicismo,
quando autores e pensadores pós-modernos viram no movimento definições semelhantes dadas à
música pós-moderna
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, como, por exemplo, a afirmação da “utilização de técnicas e linguagens
musicais fora de seu contexto original” (SALLES, 2003, p.94). Nesse sentido, o Neoclassicismo
(tendo especialmente Stravinsky como figura central) ganha um novo valor dentro da história da
música; de reacionário passa a ser considerado precursor, de regressivo torna-se, mais uma vez e
por outra razão, antecipador de idéias futuras.
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Para se aprofundar tal relação entre o Neoclassicismo e a música Pós-moderna consultar livro (SALLES, 2003)
sobre o pós-modernismo na música (ver referências bibliográficas).