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de cada vez, para guardar os brinquedos de forma adequada. Assim que
terminaram a arrumação, sentaram-se todos no chão, iniciando a escuta
das músicas. Todos conheciam a música Borboletinha, e a observadora já
tinha, até, visto a professora substituta cantar com as crianças do Nível II,
como está descrito nas páginas anteriores. No entanto, a outra música
proposta – O meu chapéu tem três pontas - nenhuma criança conhecia. As
professoras repetiram por cinco vezes as músicas, utilizando-se do gestual
a ser feito, sendo que cada frase tinha um gesto pré-determinado, que
seguia rigorosamente o que era dito na letra da música. Havia pouco
interesse por parte das crianças, que pareciam “papagaios”, repetindo o
que as professoras diziam e imitando os gestos que faziam. Muitos não
participavam e eram chamados à atenção a todo momento. A ausência de
um contexto que pudesse dar significado ao aprendizado das canções e a
ausência de qualquer proposta que incentivasse a criatividade dos alunos,
abrindo-lhes possibilidades de inventar, tinha como resultado essa apatia e
dificuldade em se envolver com a proposta. As professoras pediam
insistentemente para que cantassem mais forte, havendo momentos em que
as crianças chegaram a gritar.
Instantes mais tarde foi notado que essa maneira de ensaio não cabia
em uma apresentação consistente, pois, embora as crianças fossem
bastante afinadas, devido ao volume em que cantavam, transformavam a
música em gritos ensurdecedores, comprometendo a afinação, o que não
contribuía para a aprendizagem musical. Em determinada hora, as
professoras pediram para que os alunos cantassem em pé. Embora eles
tivessem se levantado, conservaram a mesma posição; não faziam nenhum
movimento corporal, mas mantinham-se estáticos, gritando e repetindo
gestualmente o que lhes era ensinado. Desse modo, uma atividade que
poderia incentivar o desenvolvimento de ações criativas nos alunos, como,
por exemplo, elaborar uma melodia e pequenas frases para cantar na
comemoração do Dia das Mães, tornou-se um exercício repetitivo, devido à
falta de criatividade das professoras ao proporem a atividade.
Foi muito útil ter a oportunidade de observar as professoras
trabalhando numa classe de Educação Infantil, pois ficou claro que elas
precisam ser orientadas para que possam vivenciar e compreender alguns
conteúdos de música, aprendendo de que modo trabalhar música dentro da
sala de aula. Consulte-se, a esse respeito, John Paynter (1972), em especial
o capítulo 1 – “Today´s music is for everyone”, em que discute a