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arquitetônico como garantia de fidelidade às intenções
prefiguradas por Deus e misticamente reveladas, agora já
materializadas na igreja.
O mosaico era, obviamente, posterior à conclusão da
igreja, mas o momento registrado na imagem – como cosmogonia
– poderia ser anterior à construção da arquitetura, como uma
antevisão, uma maquete do projeto a ser construído. A imagem
histórica de Eclesius – podendo estar antes ou depois da obra –
adquiriu, então, uma amplitude atemporal, eterna.
Para o pensamento medieval, a passagem entre idéia e
obra, estaria magicamente garantida pelo aval divino. Contra as
intenções divinas nada poderia se opor permanentemente. É claro
que a construção enfrentaria dificuldades, e seria,
metaforicamente, uma batalha: uma luta direta com as forças da
natureza, que indiretamente revelaria a luta, subjacente, com as
forças do mal que se opõem a Cristo. Como soldados, no campo
das transcendências operariam os comandantes religiosos, com
orações e penitências, e no campo da natureza operariam os
soldados-artesãos valendo-se das ars meccanica.
Aos mechanikos, mestres-de-obras, mestres-construtores,
mestres-de-risco e arquitetos, formados na tradição da tecnologia
arquitetônica vitruviana, cabia entender, edificar corretamente e
materializar os planos transcendentais revelados por Deus aos
seus escolhidos.
“Estas artes, que presidem a outras, chamamo-las
arquitetônicas ou artes principais, e os que se dedicam a elas, e que
denominamos arquitetos, fazem jus ao nome de sábios.
Todavia, sendo que tais profissionais tratam dos fins em áreas
particulares, e não atingem o fim último e universal de todas as coisas,
denominamo-los sábios nesta ou naquela área, do mesmo modo como
São Paulo Apóstolo afirma “ter colocado os fundamentos como um
sábio arquiteto” (1 Cor 3,12). O nome de sábio, pura e simplesmente,
isto é, no sentido estrito do termo, está reservado àqueles que tomam
por objeto de sua reflexão o fim ou a meta do universo, que constitui ao
mesmo tempo o princípio de tudo. É neste sentido que, para o Filósofo,
o ofício do sábio é o estudo das causas mais altas (I Metafísica, I, 12).”