Download PDF
ads:
I
MARIA DO PERPETUO SOCORRO SILVA
ALCANCES E LIMITES DO EXAME CITOPATOLÓGICO
COM A COLORAÇÃO DE PAPANICOLAOU
NO DIAGNÓSTICO DAS CÉRVICO-VAGINITES:
um estudo citológico e microbiológico de 2.169 casos
de um total de 10.064 exames citopatológicos
RECIFE
2004
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
II
MARIA DO PERPETUO SOCORRO SILVA
ALCANCES E LIMITES DO EXAME CITOPATOLÓGICO
COM A COLORAÇÃO DE PAPANICOLAOU
NO DIAGNÓSTICO DAS CÉRVICO-VAGINITES
RECIFE
2004
ads:
III
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
Reitor
Prof. Amaro Henrique Pessoa Lins
Vice-reitor
Prof. Gilson Edmor Gonçalves e Silva
Pró-reitor para assuntos de Pesquisa e Pós-Graduação
Prof. Celso Pinto Melo
Centro de Ciências da Saúde
Diretor
Prof. José Thadeu Pinheiro
Hospital das Clínicas
Diretora
Prof ª. Heloísa Mendonça de Morais
Departamento de Patologia
Chefe
Prof ª. Ana Virgínia Guendler
Programa de Pós-graduação em Anatomia Patológica
Coordenador
Prof. Roberto José Vieira de Mello
Vice- Coordenadora
Prof ª. Maria do Carmo Carvalho de Abreu e Lima
IV
MARIA DO PERPETUO SOCORRO SILVA
ALCANCES E LIMITES DO EXAME CITOPATOLÓGICO
COM A COLORAÇÃO DE PAPANICOLAOU
NO DIAGNÓSTICO DAS CÉRVICO-VAGINITES
um estudo citológico e microbiológico de 2.169 casos
de um total de 10.064 exames citopatológicos.
Tese que apresenta ao Programa de
Pós-Graduação em Anatomia
Patológica do Centro de Ciências da
Saúde da Universidade Federal de
Pernambuco, para obtenção do título
de Mestre em Anatomia Patológica.
ORIENTADORA
PROF. DRA. MARIA DO CARMO CARVALHO DE ABREU E LIMA
V
SILVA, Maria do Perpetuo Socorro
Alcances e limites do exame citopatológico com coloração de Papanicolaou
no diagnóstico das cérvico-vaginites. Um estudo citológico e microbiológico de
2169 casos de um total de 10.064 exames citopatológicos.
189 folhas:il. tab.,graf.,fotos
Tese (Mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco. CCS. Anatomia
Patológica,2004
Inclui referências bibliográficas.
1. Esfregaço cérvico-vaginal. 2.Cérvico-vaginites. 3. Doenças sexualmente
transmissíveis do trato genital feminino.4. Coloração de Papanicolaou. I. Título.
UFPE
VI
" A Ciência, por exemplo, é boa?
- Boa , má ou indiferente, conforme o modo de professá-la
e o uso que se faz dela. Boa, má ou indiferente, em
primeiro lugar, para os próprios cientistas, do mesmo
modo que a arte e a erudição podem ser boas, más ou
indiferentes para os artistas e os eruditos. Boa, se facilita
a libertação; indiferente se nem facilita nem dificulta...."
Aldous Huxley
VII
DEDICATÓRIA
In memoriam:
À minha mãe Maria Helena, com quem aprendi
muitas lições, a maior delas - a fé em Deus.
Ao meu pai, Paulo, por seus momentos de coragem e
ética na sua vida de funcionário público.
VIII
AGRADECIMENTOS
À UFPE que me acolheu como pós-graduanda, compreendendo que a trajetória dos
nordestinos pelas terras brasileiras deve trazer benefícios para a nossa região e para o
país.
À Prof. Dra.Maria do Carmo Carvalho Abreu e Lima e Prof. Dayse N.O.Lima, pela
habilidade e sinceridade com me receberam em Recife. A formação científica sólida de
Maria do Carmo foi fundamental para definir o perfil definitivo deste trabalho.
À equipe do Laboratório Sabin de Patologia Clínica de Maceió, especialmente à Dra.
Denise Almeida Bandeira, principal responsável pelos exames microbiológicos e ao Dr.
Denis S. Casado Valente de Lima, pela sua capacidade de organização e operosidade.
À Prof. Dra. Dinalva Bezerra da Rocha ex-professora de Patologia da FMUFAL e da FM
de Alagoas, por ter sabido tão bem me conduzir pela mão, nesta caminhada.
Ao Dr. Carlos Marigo que me iniciou em pesquisa mostrando detalhes de biópsias e
autópsias ou acompanhando os primeiros trabalhos científicos para congressos e, por
isso, é o primeiro da lista dos caros professores da Santa Casa de São Paulo e da
FMUSP que contribuíram para a minha formação como patologista.
Ao meu filho Eduardo Henrique, que me compreendeu nas horas de estudo e me chamou
logo a atenção de que o nome dos microorganismos deve ser escrito em itálico.
Ao Dr. Fernando Silva Caldas, Ana Gisa e Dra. Amanda D. Silva Caldas, amigos e
profissionais competentes.
IX
Ao Dr. Mário Velloni, Citopatologista experiente, Patologista e ex- Chefe da disciplina de
Anatomia Patológica na FM de Santo Amaro. Velloni é um amigo, um exemplo de força
de trabalho, com humanismo e retidão, sem perder o senso de humor.
À Dra. Valéria Hora de Melo, que implementou a prevenção do câncer ginecológico com o
exame citopatológico em Maceió e outras localidades de Alagoas, e se fez presente nos
momentos necessários desta caminhada.
À equipe da Biblioteca da UFAL, especialmente Maria Bernadete Pedrosa Pereira, amiga
dos tempos de colégio, pela ajuda valiosa que facilitou a pesquisa bibliográfica, além da
pontualidade na obtenção das referências. A mesma valiosa ajuda recebi de Leandra
Elon da Silva, da Biossintética Assistance.
Aos professores de Língua Inglesa pelo conhecimento que me facilitou entender a
metodologia científica, comentários e conclusões da maioria dos trabalhos da literatura
consultada.
Ao Prof. Dr.Antonio Fernando Bezerra e Maria Lusia de Morais pelo apoio com a
computação dos dados, situando-nos com relação ao teor da amostra e estimativa dos
dados gerais, no início deste trabalho .
Ao Prof. Dr. Adonis de Carvalho pelo estímulo e colaboração com os cálculos estatísticos.
Às pacientes que fazem parte da amostra, sem as quais não seria possível a realização
deste trabalho. Com uma pesquisa, não somente ensinamos mas também aprendemos e,
por isso, constatei que há necessidade de que as mulheres tenham uma assistência
X
médica mais completa, para que desempenhem os seus múltiplos papéis na sociedade
atual com uma melhor qualidade de vida..
Aos companheiros de trabalho, professores e funcionários, do Departamento de Patologia
da FM - UNCISAL ( antiga ECM ), com os quais enfrentamos e superamos tantas
dificuldades, sem dispensar as confraternizações dos finais de ano.
Aos alunos e ex-alunos - são tantos, e quando os encontro, perceber o que construímos
juntos, renova a minha esperança de que dias melhores virão.
À minha turma de Residentes da Santa Casa de São Paulo, especialmente a Dra.
Consuelo Antunes Barreto Lins, que se destacou desde o primeiro ano pelos
conhecimentos que trazia de Pernambuco e por sua consideração e estima pelos colegas
e amigos.
Aos meus examinadores, esperando corresponder à expectativa que os senhores
merecem.
Aos familiares e a todos que direta ou indiretamente contribuem para elevar os meus
passos no caminho da vida ou me seguram nos tropeços.
XI
LISTA DE ABREVIATURAS
AGUS - Atypical glandular cells of undetermined significance
AHO - Anticoncepcional hormonal oral
AIDS (SIDA) - Síndrome da imunodeficiência adquirida
AMP - Adenosina monofosfato
ASCUS - Atypical squamous cells of undetermined significance
ATP - Adenosina trifosfato
BCC - benign cellular changes
BV (VB) - Bacterial vaginosis (Vaginose bacteriana)
C3 - Fração 3 do complemento
CD - grupamento (cluster) de diferenciação
Cl - cloro
CLIA 88 - Clinical Laboratory Improvment Act
CO
2
- gás carbônico
C V V - Candida vulvo-vaginitis (Vulvo-vaginite por Candida)
DIP - doença inflamatória pélvica
DIU - dispositivo intra-uterino
DNA - ácido desoxirribonucleico
DST (STD) - doença sexualmente transmissível (sexually transmited disease)
EI - inclusão eosinofílica intracelular (por clamídia)
ELISA - EIA- enzyme-linked immunoabsorbent assay
EUA - Estados Unidos da América
F1 a F11- códigos de floras para exame citológico cérvico-vaginal, adotado em 1976
Fc - fragmento cristalizável de anticorpo
GCTF - formação de alvo central granular (por clamídia)
H - hidrogênio
XII
H
2
O
2
- peróxido de hidrogênio
HCO
2
- ácido carbônico
HCTF - formação com alvo central homogêneo (por clamídia)
HI - inclusão hematoxilinofílica intracelular (por clamídia)
HIV - vírus da imunodeficiência humana
HLA - antígeno leucocitário de histocompatibilidade
HPV - papiloma vírus humano
HSV - herpes vírus hominis ( ou herpes simplex virus)
HSIL ou HGSIL - high grade squamous intra-epithelial lesion (lesão de alto grau)
IAC - International Academy of Cythology
IgG, IgM,IgE - imunoglobulinas
IF (DFA) - imunofluorescência direta
Il - interleucina
INF (IFN) - interferon
K - potássio
KOH - hidróxido de potássio
L - linfócito
LB - linfócito B (bursa), da imunidade humoral
LCR - light chain reaction
LSIL ou LGSIL - low grade squamous intra-epithelial lesion (lesão de baixo grau)
LT - linfócito T (timo), da imunidade celular
LTh - linfócito T-helper (linfócito T-auxiliar)
ME - microscopia eletrônica
MPC - mucopurulent cervicitis (cervicite muco-purulenta)
Na - sódio
NaCl - cloreto de sódio
NI - inclusão nebular (por clamídia)
XIII
NIC - neoplasia intra-epitelial cervical
NSV - non-specific vaginitis (vaginite bacteriana inespecífica)
O
2
- oxigênio
OMS (WHO) - Organização Mundial de Saúde (World Health Organization)
PAS - periodic acid Schiff
PCR - polimerase chain reaction (reação de polimerase em cadeia)
PGE - prostaglandina E
PH - potencial hidrogênio-iônico
PMN - polimorfonuclear neutrófilo
PPLO - pleuropenumonia-like organisms
RN - recém-nascido
RNA - ácido ribonucleico
RVVC - infecção vaginal recorrente por Candida
SARA - artrite reativa sexualmente adquirida
SIL - squamous intraepithelial lesion
SUS - Sistema Único de Saúde
TBS - The Bethesda System (Sistema Bethesda)
TCR - receptor de célula T
TRIC - trachoma-inclusion conjuntivitis
T+ M - exame bacterioscópico positivo e negativo para tricomonas e / ou monília
UNG (NGU) - uretrite não gonocócica (non-gonococic uretritis)
Zn- zinco
XIV
RESUMO
O impacto do exame citológico cérvico-vaqinal de Papanicolaou na redução das taxas de
carcinoma escamocelular invasor obscureceu o papel desse exame no diagnóstico das
cérvico-vaginites, com reflexos sobre o Sistema Bethesda (TBS). Os aperfeiçoamentos do
TBS no terreno das lesões intra-epiteliais escamosas não foram alcançados no que diz
respeito às infecções, apesar dos avanços da pesquisa microbiológica.
A autora estudou, a partir de uma amostra de 10.064 exames citopatológicos, dos quais
86% apresentavam inflamação (12,34 % leve, 66,22% moderada e 7,44% intensa), 2169
casos em que foram solicitados exames microbiológicos a critério clínico. O exame
microbiológico, representado pela cultura em 94,85% dos casos, revelou freqüência
relativa semelhante entre os três tipos de floras mais encontradas no exame
citopatológico e microbiológico (p< 0,001): as de Lactobacillus sp., Candida sp., e
Gardnerella vaginalis, esta última diagnosticada pela ocorrência de “célula-guia”.
Confirmou-se a possibilidade de diagnóstico citológico pelo método de Papanicolaou, dos
Lactobacillus sp., Candida sp., Leptotrix vaginalis, Trichomonas vaginalis. O diagnóstico
de Gardnerella vaginalis é seguro, quando se identifica a “célula guia”. São ainda
diagnosticáveis o Actinomyces spp., Chlamydia trachomatis, Streptococcus sp. e
provavelmente, Mobiluncus spp. Confirmamos que a codificação das floras F1 a F11 não
deve ser utilizada. Como conseqüência do estudo, propomos as seguintes modificações
no sub-ítem “Infecções” do TBS, em relação às especificações dos microorganismos:
1) Manutenção do item Lactobacillus sp.
2) Substituição de “Alteração da flora vaginal compatível com vaginose” por
Gardnerella vaginalis com presença de célula-guia”
3) Inclusão do tópico “Alteração da flora a esclarecer com exame microbiológico”.
Esta última observação permitirá ao citopatologista, comunicar ao clínico, a
necessidade de investigar os casos suspeitos de infecção ao exame citológico,
XV
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS ............................................................................................X
RESUMO........................................................................................................................XIII
1.0 - INTRODUÇÃO...........................................................................................................1
1.1 - RESUMO HISTÓRICO ..............................................................................................2
1.2 - O INTERESSEDOSMICROBIOLOGISTAS NO POTENCIAL DA CITOPATOLOGIA
EM DIAGNOSTICAR INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO GENITAL NA MULHER..........10
1.3 - O ECOSSITEMA VAGINAL......................................................................................14
1.3.1 - O desenvolvimento do conhecimento sobre a microflora vaginal..........................15
1.3.2 - As características da microflora e do ecossistema vaginal....................................15
1.3.3 - O habitat da microflora...........................................................................................17
1.3.4 - As bactérias que compõem a microflora................................................................20
1.3.5 - As espécies de Lactobacillus da microflora, protetoras do ecossitema.................21
1.3.6 - Os fatores do hospedeiro que influenciam a microflora vaginal durante a vida.....23
1.3.7 - Os fatores exógenos que desequilibram o ecossitema vaginal.............................23
1.4 - A VAGINOSE BACTERIANA ( BACTERIAL VAGINOSIS).......................................24
1.4.1 - As descobertas após a pesquisa de Gardner e Dukes e o teste do KOH.............26
1.4.2 - A identificação das bactérias anaeróbicas associadas à Gardnerella vaginalis....27
1.4.3 - A produção de aminas na BV.................................................................................29
1.4.4 - Os "critérios de Amsel" para o diagnóstico da BV..................................................29
1.4.5 - A denominação Vaginose bacteriana e as conclusões de Spiegel.........................31
1.4.6 - Mobiluncus sp. e Mycoplasma hominis incluídos como flora patogênica da BV....32
1.4.7- A ausência de leucócitos característica da BV........................................................34
1.4.8 - As complicações da BV...........................................................................................35
1.4.9 - Principais conclusões sobre a BV que se aplicam ao seu diagnóstico com o exame
citológico..................................................................................................................36
XVI
1.5 - OS MICOPLASMAS GENITAIS.................................................................................37
1.5.1 - Os achados do exame citológico na presença de micoplasmas genitais...............38
1.5.2 - Principais características dos micoplasmas............................................................40
1.5.3 - Os micoplasmas patogênicos mais frequentes no homem.....................................41
1.5.4 - A exacerbação dos micoplasmas genitais e as características da infecção..........42
1.5.5 - Possíveis complicações da infecção por micoplasmas genitais.............................44
1.5.6 - As doenças infecciosas comprovadamente causadas por micoplasmas genitais..46
1.6 - A INFECÇÃO VAGINAL E CERVICAL POR TRICHOMONAS VAGINALIS.............46
1.6.1 - Alguns dados sobre a patogenicidade da Trichomonas vaginalis...........................48
1.6.2 - Características histopatológicas da infecção cervical por T.vaginalis....................49
1.6.3 - Características citológicas da infecção por T. Vaginalis.........................................50
1.7 - A VAGINITE POR CANDIDA E OS ESTUDOS DA IMUNOLOGIA DA VAGINA......52
1.7.1 - As formas clínicas da infecção e as espécies de cândida isoladas......................52
1.7.2 - O desenvolvimento do fungo e a transformação da colonização em doença........52
1.7.3 - Fundamentos básicos de imunologia da vagina e a contagem de leucócitos.......56
1.7.4 - A imunidade humoral na cérvice e vagina.............................................................58
1.7.5 - A imunidade celular na defesa do hospedeiro na vagina.......................................59
1.7.6 - A relação entre a imunidade celular e o ciclo hormonal.........................................64
1.8 - O ACHADO DE CLAMÍDIA NO ESFREGAÇO CÉRVICO-VAGINA..:......................65
1.8.1 - Principais características da clamídia e do seu ciclo reprodutivo..........................65
1.8.2 - Os achados do exame citológico na infecção por clamídia...................................66
1.8.3 - A infecção por Chlamydia trachomatis suas formas clínicas, imunobiologia e
a pesquisa de uma vacina.............................................................................................68
1.8.4 - Os métodos de diagnóstico da infecção genital por clamídia...............................71
1.9 - O SISTEMA BETHESDA (TBS)..............................................................................72
2.0 – OBJETIVOS............................................................................................................80
3.0 - MATERIAL E MÉTODOS.........................................................................................82
XVII
3.1 - Material:............................................................................................................... 82
3.1.1 - Material para exame citológico............................................................................82
3.1.2 - Material para exame microbiológico....................................................................82
3.2 - Método:.................................................................................................................83
3.2.1 - Obtenção e processamento do material para exame citológico..........................83
3.2.2 - Obtenção e processamento do material para exame microbiológico..................84
3.3 - Avaliação da flora (F) ao exame citológico.............................................................86
3.4 - Avaliação da intensidade da inflamação ao exame citológico................................88
3.5 - Estudo estatístico....................................................................................................89
4.0 – RESULTADOS.......................................................................................................91
4.1 - CARACTERÍSTICAS GERAIS DA AMOSTRA ( 10.064 CASOS ..........................91
4.2 - ANÁLISE ESTATÍSTICA DAS FLORAS MAIS COMUNS......................................96
4.3 - ANÁLISE DOS CASOS SUBMETIDOS A EXAME CITOPATOLÓGICO E
MICROBIOLÓGICO – ( 2.169 CASOS ).........................................................................99
4.4 - FOTOMICROGRAFIAS DE ALGUNS CASOS ESTUDADOS...............................113
5.0 – DISCUSSÃO..........................................................................................................121
5.1 - A avaliação das amostras e a prevalência de inflamação nos exames de citologia
cérvico – vaginal.............................................................................................................121
5.2 – Principais observações sobre a prevalência dos agentes identificados com o exame
de citologia cérvico-vaginal e exame microbiológico................................................... 124
5.3 - O conhecimento do ecossistema vaginal aplicado à presença de Lactobacillus no
esfregaço......................................................................................................................125
5.4 - A interpretação da flora bacteriana patogência na ausência de Lactobacillus......129
5.5 - Os estudos da BV e sua correlação com o exame citológico.................................132
5.6 - A infecção por T. vaginalis e o papel da Citopatologia no seu diagnóstico............138
5.7 - A infecção por Candida sp., a mais frequente desta amostra.................................141
5.8 - A infecção por clamídia, nesta amostra...................................................................146
XVIII
5.9 – A Citopatologia no diagnóstico da intensidade e localização das inflamações –
dificuldades e possibilidades.........................................................................................149
5.10 – A infecção genital ao exame citológico e a atualização dos tópicos do
laudo referentes aos agentes identificados com a coloração de Papanicolaou.............155
6.0 - CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................162
7.0 - CONCLUSÕES........................................................................................................164
8.0 – ANEXOS..................................................................................................................167
9.0 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................169
10.0 –SUMMARY.............................................................................................................183
1.0 INTRODUÇÃO
1
2
1.0 – INTRODUÇÃO
O exame de Papanicolaou tem como principal objetivo a detecção das lesões pré-
cancerosas do colo uterino e o câncer do trato genital inferior feminino em estágio inicial
ou avançado. Como alvos secundários do exame, incluímos a identificação das
alterações reativas e processos inflamatórios assim como a flora normal ou patogênica.
No nosso meio, devido ao baixo poder aquisitivo da população, o teste de Papanicolaou
assume um papel relevante no estudo da microbiologia vaginal, apesar de
reconhecermos que não substitui os métodos microbiológicos da cultura, considerada de
eleição devido a sua maior sensibilidade e especificidade diagnóstica. ( 2,30,69,116,126 )
A abordagem das pacientes com corrimento vaginal envolve diferentes
especialidades médicas compreendendo a Ginecologia, a Citopatologia e a Microbiologia.
Os profissionais dessas áreas, contudo, rotineiramente, trabalham individualmente e não,
como uma equipe multidisciplinar como seria o ideal. (8,9,26,30,31,110,111)
Do ponto de vista clínico, as características macroscópicas da secreção vaginal,
com relação á sua consistência, cor e odor são pouco específicas para indicar a sua
etiologia, com exceção daquelas resultantes das infecções por Gardnerella vaginalis,
Candida sp. e Trichomonas vaginalis. Atualmente a Ginecologia reconhece a importância
dos raspados cérvico-vaginais no diagnóstico dos processos inflamatórios e agentes
microbianos. A intensidade leve, moderada ou acentuada pode ser aferida através da
análise de alterações citoplasmáticas ou nucleares e podem ser seguramente
identificados microorganismos tais como Lactobacillus sp., Gardnerella vaginalis, Leptotrix
vaginalis, Actinomyces sp., Trichomonas vaginalis e Candida sp, além das alterações
citopáticas pelo papiloma vírus humano, o HPV e herpes simplex, o HSV.
(4,27,38,77,110,122 )
A Microbiologia, por sua vez, assegura a identificação precisa do(s) agente(s)
etiológico(s) mas, no nosso estudo, observamos que são solicitadas culturas da secreção
vaginal que resultam em microorganismos que podem ser identificados com a coloração
3
de Papanicolaou. Por outro lado, são comuns os casos sugestivos de infecção ao exame
citológico sem que a cultura, ou outro exame microbiológico tenha sido solicitado, embora
não tenhamos verificado se a investigação do agente etiológico nesses casos, foi
solicitada a critério clínico, posteriormente. Os microbiologistas reconhecem que o
diagnóstico de inflamação através do exame de Papanicolaou é mais seguro que o
exame a fresco e este é um dos motivos pelos quais mantém expectativas de que seja
definido o seu papel como exame complementar no diagnóstico das cérvico-vaginites
habituais na prática ginecológica, favorecendo o seu tratamento adequado. ( 30, 63, 66,
113 )
O exame citológico dos raspados cérvico-vaginais foi apresentado à comunidade
científica americana em 1933 por Papanicolaou que, ao visualizar células malignas de
câncer cervical, enfatizou a importância desse achado na prevenção do câncer de colo e,
nas décadas seguintes, o emprego do novo método de exame resultou em redução
significativa dessa neoplasia, quando o teste foi aplicado em larga escala na população.
O próprio Papanicolaou apontou, no seu trabalho original, as "grandes flutuações do
número de leucócitos sob diferentes condições", quantidade "também afetada pela
presença de certas formas bacterianas", mas de "limitado valor diagnóstico para câncer
uterino" e classificou a inflamação como da Classe II, em 1954. ( 64,92 )
O Sistema Bethesda ( TBS ) em 1988 e 1991 introduziu novos termos como
Alterações Celulares Benignas (BCC) que, para os especialistas norte-americanos, são
“um largo espectro de processos não neoplásicos e reativos que ocorrem na cérvice e
raramente associa-se com NIC ou carcinoma cervical” . No relatório do TBS 1991 e no
relatório do Exame de Citopatologia Vaginal do SUS, dois tópicos constituem as
Alterações Celulares Benignas: Infecções e Alterações reativas, que não devem ser
substituidas apenas pela indicação "Negativo para lesão intra-epitelial ou malignidade",
proposta pelo TBS 2001. ( 1,9,30,45,46,68,81,84,85,89,117,126 )
4
Com este trabalho, idealizado porque o reconhecimento dos microorganismos
vaginais habituais, no esfregaço citológico, foi facilitado pelo acesso aos resultados dos
exames de bacterioscopia, cultura e imunofluorescência, esperamos contribuir para o
aperfeiçoamento da nomenclatura da Citopatologia para as infeções cérvico-vaginais.
Com a associação desses diferentes métodos de diagnóstico, acreditamos ser possível
orientar melhor o ginecologista, na propedêutica das secreções patológicas cérvico-
vaginais. A inesperada escassez de estudos na revisão bibliográfica, enfocando a
correlação citológica com os exames convencionais microbiológicos, representou um
estímulo adicional a esta pesquisa. ( 18,26,27,30,31,38,63,73,77,91,93,116,119,126 )
1.1 - RESUMO HISTÓRICO – CITOLOGIA E CITOPATOLOGIA
“A história não deve servir apenas como fim em si, para recordar somente pessoas
e acontecimentos, senão para nos ensinar e nos alertar”, ( Saumann ) ou “é a bússola
que nos guia para o futuro” ( Sigerist apud Kline ). ( 64,99 ).
O conceito de célula começou a se estabelecer na Europa no século XIX, quando
Schleiden e Schwann em 1848, anunciaram que a célula é a unidade básica dos seres
vivos, sendo este o princípio da história da Citologia. Sua história se estabeleceu
aparelhada com o microscópio e um dos centros de maior interesse é o estudo do câncer.
Em 1838, Johannes Muller, fisiologista em Berlim, já publicava monografia sobre a
natureza e características do câncer: afirmou que as células estavam livres, separadas
umas das outras e diferenciou os carcinomas dos sarcomas; definiu também critérios
microscópicos para diferenciar os tumores benignos dos malignos, embora os
microscopistas da época estivessem interessados nas condições normais e nas
inflamações. Ainda em meados do século XIX, Lebert demonstrou que as células
malignas tinham aumento da relação núcleo-citoplasma, descreveu o polimorfismo, o
aumento do núcleo e do nucléolo. ( 99 )
5
Rudolf Virchow ( 1821-1902 ) tomou o conceito da célula como componente unitário
de todos os sistemas vivos e o colocou no centro da Medicina, marcando o início da
Patologia celular. Dentre os seus antecessores, destaca-se Bichat ( 1771-1802 ). Virchow,
que junto com Reinhardt, fundou em 1847 ,em Berlim, os Arquivos de Patologia,
Fisiologia e Medicina Clínica, tinha sido discípulo de Muller e declarou que seu mérito foi
demonstrar que os tumores malignos estavam relacionados fisiologicamente entre si. (99)
Mesmo que a Citologia só tenha adquirido importância e difusão com
Papanicolaou cem anos depois, antes - no século XIX na Europa - já eram feitos
diagnósticos por meio do que hoje se conhece como citologia exfoliativa, termo
introduzido por Papanicolaou. Julius Vogel, em Gottingen, 1843, foi o primeiro a fazer
esse tipo de diagnóstico em abcesso do pescoço e em tumor ulcerado da mama; Bennet,
em Paris, 1849, foi o primeiro que examinou líquido ascítico em um caso de neoplasia
maligna de ovário; Beale, em Londres, usou secreções do trato respiratório no diagnóstico
de câncer faríngeo e foi o primeiro a comparar células exfoliadas com material de
autópsia. Lambl, em Praga, 1856, diagnosticou células cancerosas na urina e definiu a
citologia como método de diagnóstico. Em 1886, Friedlander utiliza o método citológico
porém recomenda retirar pequeno fragmento de tecido, em caso de dúvidas, o que se
conhece agora como biópsia. ( 99 )
George Nikolas Papanicolaou ( 1883-1962 ) nasceu em Kymi na Grécia, médico
graduado em 1904, concluiu o Doutorado em Munique e, após a guerra dos Balcãs,
quando foi encorajado por voluntários greco-romanos a emigrar para a América, onde
eram promissoras as oportunidades de carreira científica, George e sua mulher e
colaboradora Andromache chegaram em New York em 1913. Tinham apenas $250, não
falavam inglês e aceitaram pequenos serviços em lojas, no jornal grego Atlantis ou em
restaurantes e cafés tocando violino. Após três semanas, George fez contato com o D.
T.H. Morgan da Columbia Uiniversity, que o encaminhou ao Dr. William Elser do New
York Hospital que, por sua vez, o encaminhou para a Cornell Medical College, com o Dr
6
Charles Stockard, chefe do departamento de Anatomia. Em 1914, um ano após sua
chegada, ambos estavam trabalhando na Cornell University. No início, Papanicolaou
participou de pesquisas com porcos da Guiné junto com Stockard e recebeu permissão
para fazer experiências de determinação de sexo e testar o conceito de que é
determinado pelos cromossomas X e Y. Como a ovulação só podia ser determinada com
o sacrifício dos animais. Papanicolaou começou a colher material com pequeno espéculo
nasal, após deduzir que o ciclo ovulatório dos animais devia ser semelhante ao
humano.As primeiras lâminas com material dos animais e as lâminas com material
humano mostraram uma variedade de células e uma seqüência de padrões citológicos
nunca vistos. Em 1917, quando publicou “The existence of a typical estrous cycle in the
guinea pig with a study of its histological and physiological changes”, no American Journal
of Anatomy, tendo Stockard como principal autor, deu início à Citologia Hormonal. Em
1933, publicou “The sexual cycle in human female as revealed by vaginal smears” no
Journal of Anatomy. Esses estudos levaram à descoberta do estrógeno e de vários outros
hormônios. ( 64,99,120 )
Datam de 1923, as primeiras observações de Papanicolaou, sobre a presença de
células malignas em esfregaços vaginais e os achados foram apresentados, sem êxito,
em 1928, porque não havia nenhum elo de ligação entre a citologia e a patologia
cirúrgica, e o diagnóstico de câncer era somente feito através da biópsia. Aureli Babes,
patologista romeno, publicou, também em 1928, na Presse Medicale, seu trabalho sobre
o diagnóstico de câncer com a citologia exfoliativa, mas aparentemente, um não sabia
das investigações do outro. ( 66,99,120 )
Novo projeto foi elaborado com Papanicolaou em associação com Herbert Traut, do
Cornell Medical College e especializado em patologia ginecológica, que fornecia as
amostras. Papanicolaou e Traut iniciaram a Citologia Oncótica Vaginal com a publicação
The diagnostic value of vaginal smears in carcinoma of the uterus” no American Journal
of Obstetrics and Gynecology, 1941. Essa publicação e a monografia “Diagnosis of
7
uterine cancer by vaginal smear” em 1943, despertaram o interesse dos ginecologistas e
da American Cancer Society porque a taxa de mortalidade por câncer nos Estados
Unidos era de 26.000 mulheres por ano. Em 1948, o 1th National Cytology Congress
aclamou o novo meio de diagnóstico para o câncer do colo uterino como o único capaz de
detectar o câncer antes que fosse visível. A vantagem do esfregaço com relação à biópsia
- nas palavras de Papanicolaou - “que não pode ser aplicada na escala necessária para
revelar lesões precoces”, a comprovação da eficácia do teste e a formação de pessoal
treinado levaram à implementação de fundos federais para os programas de screening
que baixaram a taxa de mortalidade por câncer do colo uterino, atualmente de 4.800
mulheres por ano, nos Estados Unidos. ( 39,64,92,99,120 )
Em 1954, no Atlas of Exfoliative Cytology, Papanicolaou descreveu o sistema das
cinco classes, que atendia às necessidades de terminologia em Citopatologia e que
perdurou por 35 anos:
Classe I: ausência de atipias ou de células anormais
Classe II: citologia atípica, mas sem evidência de malignidade
Classe III: citologia sugestiva, mas inconclusiva para malignidade
Classe IV: citologia fortemente sugestiva de malignidade
Classe V: citologia conclusiva para malignidade
Papanicolaou considerou a classe V como “o único grupo conclusivo”, reconheceu
que “graus variados de erros de interpretação são esperados em cada um dos outros
grupos” e enfatizava que “o esfregaço não elimina a necessidade de investigação clínica
cuidadosa e do exame completo do corte de tecido por patologista qualificado”. ( 64,92 )
Segundo Frable, “a história da Citologia é breve em tempo e rica em
personalidades”, como George Wied, Leopold Koss, James Reagan, além do próprio
Papanicolaou, que foi o autor de 158 publicações, premiado, estampado em selos, na
cédula de 10.000 dracmas e em 1960, foi indicado para o prêmio Nobel de Fisiologia e
Medicina, ficando em terceiro lugar. Wied desenvolveu estudos sobre as inflamações e
8
infecções cérvico-vaginais; Koss usou o nome coilócito ( koilos = cavidade ), em 1956,
para a célula denominada por Papanicolaou “célula navicular discariótica”; Reagan usou
critérios objetivos para análise e formulação de critérios reprodutíveis, iniciando a
metodologia em citologia e definiu os termos displasia, carcinoma in situ e carcinoma
invasivo em 1957. Reagan e Koss conseguiram colocar a citologia ginecológica em base
morfológica sólida, através da correlação dos achados do esfregaço com a histopatologia,
construindo a ponte entre a Citopatologia e a Patologia cirúrgica. ( 39,64 )
A descrição do coilócito por Koss e Durfee em 1956 - a teoria de J. Ernest Ayre
publicada em 1960, de que essa alteração pré maligna poderia ser resultante da ação de
um vírus carcinogênico e a sua interação com o DNA viral, uma etapa da carcinogênese -
a detecção de células infectadas pelo herpes vírus hominis, por Naib, em 1961 e -
finalmente - a detecção do papiloma vírus humano dentro do coilócito por Meisels, na
década de 70 - estabeleceram uma relação de casualidade entre a infecção pelo HPV e
as lesões epiteliais do colo uterino. Desde então, poucos citopatologistas alertam para
que a ponte entre a a Citopatologia e os agentes infecciosos seja reconstruída.( 24,66,99)
O interesse pela carcinogênese viral e a capacidade de se identificar vários tipos de
células descamadas das lesões do colo uterino, descritas nas décadas de 50, 60, 70,
vinham mostrando incômodas variações entre os laboratórios e inquietação no sentido de
que fosse adotada uma nomenclatura melhor. O teste de Papanicolaou, referido na
literatura como “um triunfo da Medicina moderna na luta contra o câncer” estava sendo
questionado por advogados e testemunhas experientes, os laboratórios submetidos à
pressão para reduzir os custos sem levar em conta o trabalho humano intenso para um
procedimento altamente especializado e o uso da tecnologia era comprovadamente muito
caro. Mas as providências só foram tomadas quando o Wall Street Journal ( November
2,1987, p.1-20 ) publicou matéria alertando o público para as falhas do teste que foram
imputadas aos microscopistas e laboratórios; foram divulgadas outras matérias em
jornais, revistas ( Wall Street Journal, Dec 29, 1987, p. 17; Newsweek, Jan 25, 1988,
9
p.54; Washington Insider´s Focus, July 24, 1987, p.1 ), televisão e rádio, sobre a taxa de
falso-negativos em torno de 20% e, como resultado da preocupação do público frente ao
noticiário alarmente, o Congresso americano aprovou emenda rigorosa à lei Clinical
Laboratory Improvment Act – HR 5471 ( apud Koss,1989 ) e a CLIA 88 passou a
regulamentar as atividades dos laboratórios nos Estados Unidos da América do Norte. Em
vista disso, o National Cancer Institute patrocinou a conferência realizada em Bethesda,
Maryland, em 1988, direcionada para os problemas dos profissionais da área de
Citopatologia, muito preocupados com os processos judiciais de má prática que, no
momento, ainda é um grande problema da Medicina norte-americana. Na primeira
conferência multidisciplinar, as controvérsias com relação à terminologia emergiram e as
emoções tornaram-se difíceis de serem contidas. O Sistema Bethesda e grupos
internacionais como a Organização Mundial de Saúde,1973, Munich Nomenklature,1974,
Royal College of Pathologists e British Society for Clinical Cytology, 1986, consideraram
que as categorias definidas por Papanicolaou apresentavam quatro maiores deficiências,
citadas como razões para serem abolidas: 1) não refletia o conhecimento atual do câncer
cervical, 2) não tinha equivalência na terminologia de diagnóstico histopatológico, 3) não
apresentava diagnóstico para lesões não cancerosas e 4) como resultado de numerosas
modificações ao longo do tempo, não refletiam uma interpretação diagnóstica uniforme.
( 6,7, 24,,35,39,64,66,99,100,102,109,118 ).
Uma avaliação do Sistema Bethesda como proposta de discussão permanente
sobre a Citopatologia moderna mostra pontos positivos que são a discussão sobre
conteúdo científico versus sua prática e sua remuneração, que continuaram nos
workshops realizados em 1991- em que foram apresentados alguns resultados e feitas
algumas correções - e em 2001- quando pouco foi acrescentado ao que tinham admitido
por consenso. ( 1, 9,35,68,69,70,77,78,79,80, 81,100,102,117,118,121,126 )
No Brasil, onde a história da ciência e de suas personalidades é limitada, e a
cooperação entre Instituições é incipiente, um fato marcante ocorreu na década de 70,
10
quando os anátomo-patologistas em São Paulo, foram continuamente convocados pelos
ginecologistas, para realizarem exames de citologia vaginal e ampliar a prevenção do
câncer do colo uterino iniciada em outros Estados como Rio de Janeiro e Pernambuco.
Desde então, todos vem prestando adequado atendimento a esse grupo de pacientes. A
perspectiva do tempo, no entanto, vem mostrando que, devido ao grande número de
exames de Citologia Oncótica Vaginal nos laboratórios públicos ou privados, muito maior
que o número de biópsias, atuamos mais como citopatologistas do que patologistas. O
raciocínio de um exame de citologia oncótica é indutivo, enquanto que o anátomo-
patologista utiliza o raciocínio dedutivo e indutivo. O prejuízo do raciocínio dedutivo do
patologista segue paralelamente à queda na eficiência do atendimento médico à
população como um todo, crise nas Instituições e sacrifícios para o médico brasileiro
como ser humano e trabalhador. Ao contrário, nos hospitais com padrão de qualidade
reconhecido, o serviço de Anatomia Patológica acompanha o padrão de qualidade no
mesmo nível. ( 33,40,86 )
1.2 - O INTERESSE DOS MICROBIOLOGISTAS NO POTENCIAL DA CITOPATOLOGIA
EM DIAGNOSTICAR INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO GENITAL NA MULHER:
Os microbiologistas adotam classificações e critérios para descrever a flora
encontrada no ecossistema vaginal, o que teve seu marco inicial com Doderlein em 1892.
Mais de um século depois, consideram que ainda há compreensão insuficiente dos
agentes etiológicos, falta de critérios reprodutíveis e nomenclatura pouco compreendida.
Eschenbach ( 1993 ) observa que "novos métodos práticos de diagnóstico necessitam ser
desenvolvidos" para infecções do trato genital feminino como a vaginose bacteriana (BV).
Brunham et al. ( 1984 ) refere que o diagnóstico clínico das doenças sexualmente
transmissíveis é dificultado pela falta de critérios objetivos para classificar e diagnosticar a
inflamação cervical. O resultado é uma nomenclatura confusa para designar os processos
11
inflamatórios cervicais, como: cervicite "aguda" e "crônica", "erosão cervical", "doença
inflamatória cervical", "descontinuidade cervical", "cervicite muco-purulenta", "cervicite
papilar", "cervicite folicular" e "cervicite hipertrófica". As designações misturam ou
confundem os processos inflamatórios com as alterações fisiológicas que ocorrem na
cérvice durante a vida reprodutiva e o ciclo menstrual, e não diferenciam ectopia cervical
de cervicite. Esses termos para a reação inflamatória são adotados por ginecologistas,
citopatologistas e anátomo-patologistas mas são escassos os estudos de correlação entre
o agente etiológico ou fatores predisponentes e a histopatologia cérvico-vaginal, com
exceção das lesões causadas pelo HPV .( 18,30,34 )
Embora os microbiologistas não sejam treinados para reconhecer as variações
fisiológicas do número de leucócitos presentes na vagina durante o ciclo menstrual, que
são evidenciadas no esfregaço citológico, reconhecem o que chamam de mucopus e
estabelecem as bases de apoio para o diagnóstico de endocervicite ( cervicite muco-
purulenta ) ou cervicite, que são: 1) Os dados clínicos referentes à inflamação da
endocérvice: ectopia, sangramento, corrimento endocervical amarelo, esverdeado ou com
odor característico e 2) A contagem de leucócitos ao exame bacterioscópico corado pelo
Gram. Brunham et al. ( 1984 ) foi quem primeiro propôs os critérios objetivos para
diagnóstico de cervicite nos esfregaços corados pelo Gram e que são adotados como
critérios internacionais: 21-30 neutrófilos ( PMN ) por campo com aumento de 400 vezes
em 10 campos em média, ou 10 ou mais PMN por campo com aumento de 1000 vezes.
Vários autores na literatura afirmam que a cultura é tediosa por ser demorada, além de
cara. ( 18,110,115 )
Nas publicações em que o exame citológico é comparado com exames
microbiológicos da secreção vaginal, autores da área de Microbiologia expressam seu
interesse sobre as possibilidades de diagnóstico de inflamação e dos agentes etiológicos
de infecção visíveis com a coloração de Papanicolaou. Apresentam como principais
requisitos para que esses diagnósticos sejam firmados: que seja especificado se a
12
colheita da secreção foi realizada na vagina ou cérvice, para que seja determinada a
origem do processo, e que sejam definidos critérios para o diagnóstico microscópico.
Eckert et al. ( 1995 ), usando como critério de inflamação a presença de 3+ ou mais PMN
/ campo, consideraram "inflamação densa" quando 50% das células epiteliais estavam
obscurecidas pelos PMN e verificaram extrordinária coincidência entre a presença de
inflamação densa no esfregaço de Papanicolaou e no Gram, este avaliado com o critério
de 30 ou mais PMN / campo de 1000 vezes. Em 1.829 pacientes divididas em grupos de
alto e baixo risco para doenças sexualmente transmissíveis, Eckert observou associação
entre os dados clínicos, os agentes pesquisados - N. gonorrhoeae, C. trachomatis, HSV
e T. vaginalis - e a presença de inflamação em 92% pacientes de alto risco e 74% das
pacientes de baixo risco com inflamação densa e ectrópio; e ainda, em 33% e 19% com
inflamação densa, também denominada mucopus. Os autores acrescentam que os
achados do Papanicolaou não devem substituir culturas; que a maioria das citologias são
feitas em clínicas em que a detecção dos patógenos é limitada e que a conduta para as
pacientes sem patógenos detectados mas com presença de inflamação no esfregaço
citológico necessita ser determinada. ( 26,30,63,91 )
Os microbiologistas também tem interesse que o exame citológico e
microbiológico se aproximem e apresentem resultado comum ou compartilhado por causa
da preocupação com a incidência das doenças sexualmente transmissíveis ( DST ). Faye
Kette et al. ( 1993 ), do Instituto Pasteur, comentam que "não se sabe a dimensão do
problema" das DST; Sweet ( 1998 ) refere-se à cervicite muco-purulenta como "o maior
problema de saúde pública" enquanto também refere que "o diagnóstico de cervicite
muco-purulenta- MPC, não é dado nos Estados Unidos". Brunham et al. ( 1984 ) foram
ainda mais enfáticos ao afirmarem que a MPC é o correspondente ignorado da uretrite
não gonocócica ( NGU ) no homem" e "enquanto a NGU é logo reconhecida e tratada, a
cervicite é raramente reconhecida e, mesmo quando reconhecida, nem a mulher nem o
parceiro são tratados com antibióticos". Baldy ( 1985 ) acrescenta que as DST são
13
endêmicas em todo o mundo, importantes do ponto de vista epidemiológico e os
preconceitos que ainda prevalecem passaram a ser afetados pelo impacto psico-social
causado pela AIDS e pelas observações científicas de que a inflamação genital predispõe
à infecção pelo HIV. Sweet ( 1998 ) refere ainda, que vem sendo observada maior
incidência de HPV, de SIL e de disseminação do HIV associada à cervicite muco-
purulenta e que três mecanismos potenciais estão implicados para que a inflamação seja
o maior fator predisponente á infecção pelo HIV pela via cervical: ( 8,18,30,36,37,38,77,
110,111 )
1 - recrutamento de células inflamatórias para a mucosa cervical produzindo
aumento da concentração de linfócitos CD4 infectados pelo HIV e de monócitos-
macrófagos infectados
2 - a replicação do HIV torna-se aumentada na presença de inflamação
3 - cervicite com micro-ulceração e mucosa friável torna-se uma porta de
entrada para o vírus ou para células infectadas pelo vírus. ( 110 )
Alguns Citopatologistas como G. Wied e M. Bibbo, ainda nas décadas de 50 a 70,
na Universidade de Chicago, iniciaram estudos sobre a potencialidade do exame de
citologia cérvico-vaginal em diagnosticar inflamação ou infecção e codificaram os agentes
visíveis com a coloração de Papanicolaou de F1 a F11, classificação que foi adotada pela
Organização Mundial de Saúde e apresentada formalmente no Brasil em 1976, durante o
Tutorial of Cytology, em São Paulo. Desde então, o exame do esfregaço vaginal não vem
acompanhando o conhecimento atualizado da Microbiologia, apesar de continuar sendo
utilizado na prática com a mesma finalidade devido à fácil obtenção, rotina e baixo custo.
A solução do problema é afetada por duas tendências opostas. A primeira delas admite
que a conclusão de inflamação e / ou infecção não deve constar do laudo do exame
citológico, o que se torna inevitável se utilizada a citologia em meio líquido. Young e Kline
( 1994 ) comentam ainda, que “a revisão das alterações reativas ou reparativas tem a
potencialidade de aumentar dramaticamente a carga de trabalho dos patologistas”;
14
comentário semelhante também foi publicado por Malik et al. ( 2001 ). Entretanto, se o
citopatologista constata determinado microorganismo e inflamação no esfregaço de
Papanicolaou e não registra esse achado no laudo, estará deixando de informar ao
clínico, um achado importante para a avaliação da amostra na prevenção do câncer
ginecológico. Do mesmo modo, está se omitindo de auxiliar a triagem dos casos em que
há possibilidade de infecção por via ascendente como doença inflamatória pélvica ou
puerperal e ainda, infecção pelo HIV. ( 7,40,66,81,86,110,111,122,126 )
A outra opção é que o citopatologista obtenha maior conhecimento sobre as
inflamações e agentes de infecções ou DST na mulher e atue em conjunto com o
microbiologista, de modo que a combinação dos dois exames possa fornecer ao
ginecologista, o esclarecimento necessário para a solução dos casos. O Sistema
Bethesda e o SUS mantém as especificações, ou tópicos, referentes aos
microorganismos visíveis com a coloração e Papanicolaou, pela evidência do papel do
exame citológico nesses diagnósticos e possível interesse nesses estudos. ( 1,2,6,11, 26,
31,77,117 )
1.3 - O ECOSSISTEMA VAGINAL
Estudos de Microbiologia mostram que a vagina não é estéril e que inúmeros
microorganismos fazem parte do ecossistema vaginal, de maneira semelhante ao que
ocorre em outras cavidades do corpo como a boca e o intestino. A pesquisa
microbiológica compreende estudos do tipo qualitativo e quantitativo, considerando os
seguintes aspectos: 1) Incidência e prevalência: faz-se apenas a identificação dos
microorganismos presentes na amostra, sem quantificar ; 2) Estudos quantitativos: são
usadas diluições, vários meios seletivos e a contagem de colônias é quantificada em
log10 ; 3) Estudo com meio seletivo para isolar determinado microorganismo ; 4) Provas
de DNA homólogo. Atualmente a flora vaginal é conhecida como uma combinação de
microorganismos aeróbicos e anaeróbicos, mas há debates e questões, na área da
15
Microbiologia: A presença ou a ausência de organismos indica saúde ou doença? Uma
infecção no trato genital inferior é causada por determinada bactéria ou resulta de
alterações quantitativas da flora existente? Quais são os microorganismos e fatores
envolvidos? Se a vagina não é estéril, por que fazer cultura? ( 42,53,71,72 ).
1.3.1 -
O desenvolvimento do conhecimento sobre a microflora vaginal:
A microbiologia descritiva da flora vaginal iniciou-se com Doderlein em 1892, que
evidenciou bacilos Gram positivos na vagina normal. Doderlein e seus contemporâneos
consideraram a flora homogênea e os bacilos de Doderlein foram depois classificados
como membros do gênero Lactobacillus. No início do século XX, alguns pesquisadores se
destacaram e ainda são citados nas publicações, dentre eles Schroeder que em 1921,
classificou a flora vaginal usando a coloração pelo Gram em três tipos: 1) A menos
patogênica, com predominância de lactobacilos; 2) Estágio intermediário; 3) A mais
patogênica, na qual os lactobacilos eram ausentes e com presença de outras bactérias
ainda não identificadas. A classificação de Schroeder, que continua sendo usada em
trabalhos recentes, é conhecida como flora tipo I,II e III, respectivamente. ( 14,34,96 )
No espaço de 80 anos até os nossos dias, várias publicações vem demonstrando a
variedade de microorganismos presentes na vagina, que habitualmente contém flora
heterogênea, mesmo considerando-se as dificuldades para a comparação dos resultados
dos estudos. Há falta de uniformidade na seleção das pacientes e dos meios de cultura
seletivos nos vários trabalhos, as técnicas disponíveis para identificação de bactérias em
gêneros e espécies variam de um laboratório para outro ou não estão adequadamente
padronizadas e além disso, há controvérsias sobre o emprego da taxonomia, bem como
controvérsias acerca do que é normal ou patológico.( 14,17,34,71,72,96 )
1.3.2 -
As características da microflora e do ecossitema vaginal:
Microflora é a coleção única de microorganismos presente em cada área do
corpo e que é dependente das condições fisiológicas locais. Apenas os microorganismos
16
com propriedades genéticas e bioquímicas que lhes permitam o melhor uso das
condições ambientais existentes serão capazes de sobreviver, proliferar e constituir a
microflora normal. A microflora vaginal é variável dentro de certos limites porque é
dinâmica e não estática, e ainda difere em regiões anatômicas da vagina e da cérvice: o
orifício externo do colo e o canal cervical inferior apresentam flora semelhante à vaginal,
mas o canal cervical superior é estéril, ou contém escassos microorganismos.( 14,71,
72,96 )
A microflora associada aos tecidos na vagina, forma o ecossistema
delicadamente equilibrado, com o meio vaginal controlando os microorganismos e estes,
por sua vez, controlando o meio vaginal. O ecossistema altera-se apenas sob pressão de
estímulos externos, ou por estímulo hormonal, e volta ao equilíbrio com a retirada ou
desaparecimento do estímulo. Segundo Redondo-Lopez ( 1990 ), o desequilíbrio entre os
microorganismos que têm função fisiológica pode resultar em predisposição à doença, de
modo que microorganismos que não são patogênicos no local onde habitam, poderão
provocar doença local ou a distância sob circunstâncias que predisponham à sua
virulência. Para a investigação do papel das bactérias na infecção vaginal é necessário o
conhecimento da microflora normal. Larsen e Galask ( 1980 ) sugerem que na
colonização, há uma relação simbiótica entre os microorganismos, enquanto que no
aparecimento de doença, estabelece-se uma relação sinérgica favorecendo os patógenos
oportunistas; além disso, a ineficiência do antagonismo da flora nativa também pode
favorecer os patógenos. Aceita-se largamente que a infecção originada na flora endógena
depende não apenas do tipo de microorganismo presente, mas da intensidade da sua
proliferação ou abundância e das condições favoráveis ao aumento da sua virulência, em
hospedeiro suscetível. ( 14,17,42,71,96 ).
O Lactobacillus. é o organismo numericamente dominante na vagina normal, tendo
sido descritas cerca de 80 espécies. Há um consenso de que a maioria dos lactobacilos
são aeróbios ou anaeróbios facultativos - microorganismos capazes de se replicar
17
imediatamente na presença ou ausência de oxigênio - ou são anaeróbios obrigatórios ou
estritos - algumas espécies de microorganismos incapazes de replicar na presença de
O2. Os microbiologistas discutem se os anaeróbios facultativos deveriam ser agrupados
como “totalmente anaeróbios” ou “totalmente aeróbios” e o motivo da confusão é que a
atmosfera usada nos testes é que determinará se as espécies de lactobacilos vão ser
classificadas como anaeróbios obrigatórios ou não. O Lactobacillus pode crescer no ar ou
em atmosferas com 3 a 10% de CO2 , denominadas microaerófilas. De maneira geral, na
mulher em idade reprodutiva, a proporção de anaeróbios é maior ou igual aos aeróbios.
Os anaeróbios constituem 50 a 90% da flora, o que mantém certa estabilidade durante a
vida. Há diminuição da quantidade de bactérias no período do ciclo menstrual em que
ocorre o pico de estrógeno e aumento durante a descamação do epitélio. Na semana que
precede a menstruação, a diminuição significativa dos aeróbios é relacionada ao influxo
de leucócitos. O maior número de espécies de bactérias é verificado durante a
menstruação. ( 14,71,96 )
1.3.3 -
O habitat da microflora:
No trato genital inferior feminino, formam o habitat da microflora: a mucosa, as
secreções e o pH vaginal. A mucosa é constituida pelo epitélio não queratinizado que se
torna espesso ou adelgaçado pela ação hormonal. O que está classicamente
estabelecido é que os estrógenos ovarianos exercem influência trófica sobre o epitélio
vaginal causando o seu espessamento e o glicogênio é produzido à proporção que as
células amadurecem desde a camada basal até a superficial, o que resulta em auto-
fermentação e produção de ácidos. O depósito de glicogênio é também proporcional ao
número de células. O nível de glicogênio e dos ácidos produzidos pelo seu metabolismo
mantém-se constante nas células epiteliais, e o meio ácido restringe a flora às espécies
de bactérias ácido-tolerantes. A morfometria confirma a ação do estrógeno na maturação
do epitélio, que já está espessado no meio do ciclo, fase a partir da qual passa a
18
predominar a produção de progesterona pelo corpo lúteo, produzindo descamação
superfícial do epitélio, que se torna adelgaçado. Através das gap junctions - junções
comunicantes, passam fluidos mas não macromoléculas; essa transudação é também
controlada pelo nível de estrógeno e consequentemente se reduz, quando diminui a
espessura do epitélio, na segunda metade do ciclo. As secreções que estão presentes no
canal vaginal e banham o epitélio, são provenientes apenas em mínima quantidade- 1 a
3g / 24 hs- da própria vagina, que não contém glândulas secretoras, e a secreção de
aspecto físico mucoso, provém das glândulas de Bartholin, de Skene, das glândulas
endocervicais ( que produzem 20 a 600mg do muco cervical por dia ) das glândulas
endometriais e das trompas de Fallopio. A secreção produzida pela vagina contém
proteínas, provenientes da transudação de proteínas séricas- albumina, imunoglobulinas,
aminoácidos- e contém carbohidratos, uréia e ácidos gordurosos, estes responsáveis pelo
odor. O muco cervical, que é um importante componente da secreção excretada na
vagina, contém 90 a 95% de água, sais orgânicos e inorgânicos, lisozima e mucina. A
mucina, uma glicoproteína, é o mais importante componente do muco cervical, sendo que
a sua taxa de secreção é função do número de unidades secretoras do epitélio
endocervical e da resposta hormonal. Estão também presentes na secreção vaginal
células epiteliais e leucócitos, conforme a data do ciclo. O pH vaginal e das secreções,
têm como especial característica, a de ser variável durante a vida, desde a vagina
pseudomatura neonatal, passando pelo ciclo menstrual e vida reprodutiva até a
menopausa. O pH é o log 10 [ H+] , um termo físico-químico e [ H+], ou concentração de
íons hidrogênio, é uma função recíproca do pH: quando o [ H+] aumenta, o pH diminui e
vice-versa, devendo ser considerado da mesma maneira que o [ H+], Na+, K+, CO2-,
HCO2- e Cl- e podendo-se tomar como base o pH da água = 7.0 ou [ H+ ] = 10 7 moles
/ litro. O pH define a acidez de uma solução e o pH ácido resulta em aumento do potencial
de oxidação-redução, ou pressão de elétrons. O potencial redox alto inibe diretamente o
crescimento de bactérias; no pH neutro, menor potencial redox, o que
19
favorece o crescimento dos anaeróbios facultativos no lúmen vaginal, onde o oxigênio
normalmente é baixo. O consumo de O2 pelos leucócitos também pode diminuir o
potencial redox e aumentar o pH e por isso, o muco cervical, que tem pH 7,0, torna-se
alcalino quando ocorre cervicite. A relação do pH ácido com a predominância de
Lactobacillus não está comprovada ou é considerada desconhecida, mesmo que sejam
acidófilos e proliferem em pH de 3,5 a 4,5, níveis encontrados na vagina. A relação de
causa e efeito não é explicada porque o pH vaginal frequentemente não se correlaciona
nem com a presença nem com a ausência de Lactobacillus. Nas pacientes submetidas à
terapia com estrógeno, há modificação do pH mas não, da quantidade de Lactobacillus.
Na menopausa, a diminuição do glicogênio do epitélio nem sempre é acompanhada da
diminuição de Lactobacillus; Larsen e Galask ( 1982 ), administrando estrógeno em
mulheres na pós-menopausa, verificaram discreto aumento da flora anaeróbica de
Lactobacillus. Acredita-se que o pH vaginal ácido é o fator primário que controla a
composição da microflora vaginal. O ácido lático produzido pelos Lactobacillus contribui
para a acidez, mas há controvérsias se é o principal responsável pelo controle do pH, ou
se outros ácidos gordurosos produzidos pelas células do epitélio vaginal e liberados na
secreção são mais importantes. O glicogênio é quebrado por enzimas secretadas por
células epiteliais escamosas ou por bactérias do meio vaginal e muitas linhagens de
Lactobacillus são capazes de metabolizar o glicogênio em glicose e ácido lático por
fermentação homolática; outras linhagens realizam a fermentação heterolática em que a
metade da glicose produzida é convertida em ácido lático e o restante forma dióxido de
carbono, álcool, ácido fórmico ou ácido acético. No ciclo menstrual, a variação do pH é
muito conhecida: no início do fluxo menstrual, o pH já está aumentado, atingindo o pico
de 7.0 durante o fluxo máximo no 2º ou 3º dia, quando a pressão parcial de O2 está
aumentada ; o pH então cai para 4,0 a 4.5 nos próximos três dias e permanece constante
até o 21º dia. As razões para essa variação do pH, também são desconhecidas mas
pensa-se que está ligada à influência do estrógeno sobre o metabolismo do glicogênio e
20
proliferação celular. Nos últimos dias do ciclo menstrual, o pH aumenta de 4.5 para 7.0.
pela diminuição do glicogênio proporcional à descamação das células epiteliais e diminui
também a quantidade de ácidos produzidos pelo epitélio e pelas bactérias. Na relação
sexual, o esperma e o muco lubrificante são fortemente alcalinos tamponando a secreção
vaginal e aumentando imediatamente o pH de 3.5 ou 4.0 para 7.0 e assim permanece por
mais de 8 horas. Durante a gravidez, aumenta o conteúdo de glicogênio, a concentração
do ácido lático e o pH ácido, condições mais do que favoráveis às bactérias acidófilas: o
Lactobacillus prolifera e a flora torna-se mais homogênea, o que é considerado um
mecanismo de proteção ao feto. ( 14,25,42,71,90,96 )
1.3.4 -
As bactérias que compõem a microflora:
A lista de gêneros e espécies de bactérias que compõem a microflora vanal
normal pode ter interesse apenas acadêmico. Redondo-Lopez cita Brown et al. ( 1989 ),
que identificou 40 gêneros e 94 espécies, entre o total extravagante de 4997 morfotipos,
dos quais 1495 não puderam ser identificados nas amostras de 54 mulheres durante três
ciclos menstruais completos, mas há poucos estudos quantitativos da flora vaginal
normal. A comparação desses estudos resulta em lista extensa de bactérias detectadas,
em concentrações que variam extremamente: Aeróbios / anaeróbios facultativos:
Lactobacillus sp, Staphylococcus sp, Staphylococcus epidermidis, Staphylococcus
aureus, Corinebacterium sp, Streptococcus sp, Enterococcus sp, Gardnerella vaginalis,
Mycoplasma hominis, Enterobacteriaceae, Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae;
Anaeróbios obrigatórios: Lactobacillus sp, Streptococcus sp, Pepetostreptococcus sp,
Eubacterirum sp, Bacterioides sp, Bacterioides fragilis, Bacterioides melaninogenicus ,
Bacteriodes oralis, Prevotella bivia ou disiens, Bacterioides asaccarolyticus, Bacterioides
ureolyticus, Veillonella sp, Fusobacterium sp, Propionibacterium sp, Bifidobacterium sp,
Clostridium sp, Ureaplasma urealyticum e Sarcina sp. A maior concentração, de
Lactobacillus aeróbios e anaeróbios, é seguida pelas espécies de Peptococcus,
21
Bacterioides sp, Staphylococcus epidermidis, Corynebacterium sp e Eubacterium sp,
nesta ordem . Redondo-Lopez relaciona em seguida aos lactobacilos, os cocos Gram
positivos, o Ureaplasma urealyticum e as bactérias anaeróbicas. ( 17,57,71,72,96 )
1.3.5 -
As espécies de Lactobacillus da microflora, protetoras do ecossitema
vaginal:
Lactobacillus e Actinomycete são as duas bactérias chamadas Leptotrix
encontradas na vagina; os Lactobacillus são Leptotrichia sp. e Actinomycete são
Bacterionema sp. Desde os primeiros estudos de Rogosa e Sharpe em 1960, as espécies
de Lactobacillus geralmente identificadas com o Gram ou em cultura vaginal, foram: L.
acidophillus e L. fermentum , e menos frequentemente isoladas, o L. plantarum, L. brevis,
L. jensenii, L. casei, L. delbrueki e L.salivarius; além desses, a lista ainda inclui: L.
catenaforme, L.crispatus, L.gasseri, L. leishmanii e L. minutus. Estudo recente com DNA
homólogo coloca dúvidas sobre a especificação do L. acidophillus e outras espécies
seriam predominantes, na vagina. Considera-se improvável que as diferenças na
prevalência de Lactobacillus representem apenas variação geográfica e o que mostram
esses estudos é que as espécies isoladas variam de uma mulher para outra e em uma
mesma mulher em épocas diferentes. É largamente aceito que a colonização da vagina
pelos lactobacilos, que chegam a constituir 50 até 96% da flora aeróbica, em
concentração de log 7..2 a log 8 . 7 / ml de secreção, protege o ecossistema contra a
proliferação da flora nativa potencialmente patogênica e dos patógenos exógenos. São
atribuídos ao Lactobacillus, propriedades antagonistas com relação aos patógenos, ou
mecanismos de defesa, e a primeira dessas propriedades é a manutenção do pH ácido.
O segundo mecanismo é a produção de H2O2, que é bactericida, e de outras substâncias
anti-microbianas como a lactocidina, acidulina, lactacina B, que são incluídas como
bacteriocinas, inibidores proteináceos poderosos, detectados como produtos de bactérias
Gram positivas, com espectro anti-microbiano limitado, usualmente incluindo a
22
linhagem produtora, mas os inibidores produzidos pelo Lactobacillus que se assemelham
a bacteriocinas, não agem contra a linhagem produtora. A produção de H2O2 pelos
Lactobacillus, publicada por Wheather et al. ( 1952 ) na Nature, pode ser um método de
antagonismo bacteriano direto ou através do sistema mediado pela peroxidase. A
produção de H2O2 ocorre por ação enzimática das flavoproteinas e não é espécie-
específica, de modo que, entre lactobacilos da mesma espécie, há os produtores de
H2O2 e os não produtores. O H2O2 atua como auto-inibidor ou é tóxico para bactérias,
fungos, vírus e células de mamíferos. Hillier et al. (1993), em estudo com 171 mulheres
grávidas entre 35 a 42 semanas de gestação, e classificando a flora em tipo I, II e III,
encontraram predominância de Lactobacillus produtores de H2O2 e produtores
associados a não produtores em 61% das mulheres com flora tipo I, 37% com flora tipo II
e 5% com flora tipo III; Lactobacillus não produtores de H2O2 foram encontrados em
34% de flora tipo I, 48% tipo II e 60% tipo III; deduziram que, na flora tipo III, a
diminuição dos lactobacilos é devida aos tipos produtores de H2O2; foi verificada ainda,
ausência de lactobacilos em 5% de normais, 15% da flora intermediária e 35% da flora
tipo III ( esta preferencialmente denominada pelos microbiologistas como vaginose
bacteriana ). Outro mecanismo de ação do Lactobacillus para o equilíbrio da microflora
vaginal é a competição por aderência por meio da aderência ao muco, formando uma
barreira que previne a colonização, ou competição por receptores das células epiteliais.
Acredita-se que, para colonizar a vagina, um microorganismo necessita aderir à superfície
das células epiteliais, o que ocorre pela interação entre as cargas da membrana celular
do hospedeiro e as cargas da superfície bacteriana. O potencial elétrico pode ser medido
experimentalmente no uroepitélio e na vagina, onde se pode observar que é também
influenciado pelo estrógeno. Experimentalmente, o Lactobacillus mostra maior afinidade
pelos receptores das células do epitélio vaginal e competem com a
Cândida albicans e Gardnerella vaginalis podendo deslocar esses patógenos.
Entretanto, não está devidamente esclarecido se Lactobacillus interferem com a
23
aderência de patógenos ao epitélio vaginal in vivo, quando não deve ser excluída a
influência do ciclo menstrual. Ainda atuam na aderência os biossurfactantes, que são
compostos liberados pelos microorganismos com principal função de facilitar a absorção
de substratos insolúveis em água e tem atividade antibiótica contra vários
micróbios.(10,14,42,57,96 )
1.3.6 -
Os fatores do hospedeiro que influenciam a microflora vaginal durante
a vida:
É estabelecido como premissa, que a microflora vaginal normal defende o
hospedeiro contra a colonização anormal, o que conduz o interesse dos investigadores
para os fatores do hospedeiro que controlam a flora, nas diferentes fases da vida da
mulher: pré-pubertal, pós-pubertal, gravidez e pós-menopausa. São considerados o nível
de estrógeno, o pH, o conteúdo de glicogênio e potencial redox. Essas condições são
praticamente idênticas na fase pré-pubertal e menopausa, em que há baixo nível
hormonal, pH neutro e flora de bactérias menos ácido-tolorantes; na menopausa, as
alterações ocorrem lentamente, em um período de 5 a 8 anos e após esse período é que
é possível caracterizar a flora característica da idade. Na gravidez, o nível hormonal é o
mais alto, mas as demais condições são semelhantes à fase pós-pubertal: pH ácido e
grande número de microorganismos tolerantes ao meio ácido. Em seguida ao parto, a
flora muda com acentuado aumento dos anaeróbios, o que é atribuído à ação mecânica e
queda do nível hormonal. ( 17,71,72,90,96 )
A influência da fisiologia cíclica vaginal, ou ciclo hormonal, sobre a microflora é
controversa devido a discrepâncias nos resultados dos estudos. A principal observação é
a influência hormonal sobre os Lactobacillus, que tem maior prevalência durante a idade
reprodutiva e gravidez, e menor antes da puberdade e depois da menopausa. (14,90,96 )
1.3.7 -
Os fatores exógenos que desequilibram o ecossistema vaginal:
24
Os fatores exógenos que alteram a microflora vaginal são: cirurgia do trato genital
inferior, tratamento anti-microbiano, imunossupressão, câncer invasivo, a atividade
sexual e métodos anti-concepcionais. ( 42,71,90,96 )
1.4 - A VAGINOSE BACTERIANA ( BACTERIAL VAGINOSIS )
A pesquisa original de Gardner e Dukes em 1954, Haemophillus vaginalis Vaginitis
é considerada por Eschenbach ( 1993 ), o marco inicial da epidemiologia clínica. A
publicação inicia-se afirmando que a tricomoníase e monilíase eram conhecidas há duas
décadas, porém, o terceiro tipo de infecção, denominada “vaginite bacteriana
inespecífica” era diagnosticada por exclusão e não tinha o reconhecimento adequado à
sua importância clínica. Achava-se que era causada por muitas bactérias como
estafilococos, estreptococos, coliformes, micrococos, difteróides, mas nenhum
microorganismo era incriminado como agente etiológico. Era considerada uma
coincidência rara, as características físicas idênticas da leucorréia, nessas pacientes. E,
obviamente, havia dificuldades nas pesquisas, próprias de 50 anos atrás.( 4,34,43 )
Gardner e Dukes partiram do pressuposto que a “vaginite bacteriana inespecífica” é
uma entidade infecciosa específica causada por um único agente etiológico.
1
Dukes
conseguiu, com meio de cultura enriquecido, no segundo caso examinado, cultivar o
bacilo pequeno, pleomórfico e imóvel que denominou Haemoplillus vaginalis, com a
concordância de Gardner. O estudo foi realizado com um total de 1181 pacientes, 138
com diagnóstico primário de vaginite bacteriana, e dentre estas, 127 ( 92%) com um
único agente etiológico. Os sinais e sintomas foram correlacionados com o exame a
1
As denominações inespecífica e específica são usadas em várias circunstâncias em
Medicina, o que dificulta avaliar a propriedade do seu uso; em Patologia, classificam-se
como inflamações específicas apenas as granulomatosas.
25
fresco, Gram ou Giemsa e cultura obtida após 48 horas a 37ºC, em um total de 1.033
exames. Gardner e Dukes descreveram: a) as características clínicas da leucorréia de
volume moderado, homogênea, aderente à parede vaginal; b) o odor “menos ofensivo
que na tricomoníase”; c) o pH entre 5.0 e 5.5; d) com o exame a fresco, as células que
denominaram clue cells ou células-guia, em que chamava a atenção a associação do
H.vaginalis com as células epiteliais e não com os leucócitos, escassos ou ausentes, e
também notaram a ausência dos lactobacilos; e) com a coloração pelo Gram,
consideraram um “aspecto surpreendente”, a grande quantidade de pequenos bacilos
pleomórficos Gram negativos formando aglomerados fora dos limites celulares; f)
descreveram as características das colônias, o crescimento das bactérias em ambiente
microaerófilo e a produção de ácidos por fermentação de açúcares; g) verificaram ainda,
a presença do Haemophillus vaginalis em maridos e a transmissão sexual. ( 43 )
Para estabelecer o Haemophillus vaginalis como agente etiológico, foram aplicados
os postulados de Koch, mas apenas dois foram preenchidos: isolaram a bactéria de 92%
das pacientes ( 127 de 138 casos ) e obtiveram 141 culturas “puras” positivas. Não
apresentaram cultura positiva nem sinais clínicos da doença, 10 de 13 voluntárias
inoculadas com material das culturas “puras” de H. vaginalis e apenas 2, apresentaram
cultura positiva. No entanto, a inoculação da secreção vaginal de mulheres com vaginite
inespecífica ( negativas para sífilis e gonorréia ) produziu a doença em 11 de 15
voluntárias em período menor do que sete dias.( 43 )
Em 1965, Dunkelberg foi quem primeiro avaliou adequadamente o diagnóstico do
H. vaginalis com a coloração pelo Gram em 132 de 300 pacientes cedidas por Gardner e
Dukes, e concluiu que, devido às clue cells, a exatidão do exame a fresco era de 95,5% e
a do Gram 87,2%, portanto confiáveis, especialmente se utilizados juntos, além de serem
adequados à prática de consultório. Mas, até os anos 70, a pesquisa de Gardner e Dukes
encontrava apoio de alguns autores e contestação por parte de outros, ao ponto de serem
forçados a publicar retificações por não terem detectado o H. vaginalis em
26
baixa concentração. O achado do bacilo com o uso de meios seletivos, em mulheres
normais, sem vaginite, e a detecção frequente de infecção assintomática levantavam a
questão sobre a sua patogenicidade como agente causal da doença. Mc Cormack, um
dos mais radicais contestadores de Gardner e Dukes, desenvolveu estudos sobre os
micoplasmas genitais. Verificava-se ainda, a presença do H. vaginalis em mulheres com
vaginite, em percentagem menor do que 92%, apesar da diversidade na seleção das
pacientes e dos métodos de cultura que variavam demais, gerando controvérsias. Em
1959, em estudo subsequente, Gardner e Dukes detectaram o H. vaginalis em 52,3% do
total de vaginites. A bactéria não requeria hemina para seu crescimento e passou a ser
denominada Corynebacterium vaginale, mas era catalase-negativa e não se incluiu
também nesse gênero. Em 1980, Greenwood e Picket re-classificaram finalmente a
bactéria com DNA homólogo, como único membro do gênero Gardnerella, em
homenagem ao Dr. Gardner. (4,28,34,44 )
1.4.1 -
As descobertas após a pesquisa de Gardner e Dukes e o teste do
KOH:
Na década de 70, quando o metronidazol estava sendo testado no tratamento da
vaginite inespecífica - NSV, a Universidade de Washington tornava-se um centro de
pesquisa clínica e microbiológica da entidade. Em 1978, Pheifer et al, investigando a
causa da NSV e a eficácia do metronidazol no seu tratamento, fez estudo com rigoroso
controle que incluía 13 freiras, separando as pacientes em 2 grupos: “normais” ao exame
clínico, ou assintomáticas, e “anormais” ou sintomáticas, com base no aspecto e odor da
secreção. Pheifer introduziu o teste do hidróxido de potássio – KOH a 10% que,
adicionado à secreção no exame a fresco, liberava o “odor de peixe”, sinal clínico mais
evidente nas pacientes sintomáticas. Verificou a eficácia do novo fármaco em 110
pacientes tratadas e a considerou compatível com o papel etiológico de bactérias
anaeróbicas na etiologia da NSV, em combinação com o Haemophillus vaginalis, uma
27
vez que o metronidazol erradicava os anaeróbios e sua atividade in vitro contra o H.
vaginalis, um aeróbio facultativo, era modesta . O crescimento dos anaeróbios, em ágar
sangue de carneiro e avaliação semi-quantitativa foi igual ou acima de 3+ , maior nas
pacientes anormais e identificados em 44 pacientes com culturas mais exsuberantes,
como peptostreptococos, Bacterioides corrodens e Bacterioides malaninogenicus.
Avaliando os resultados com base na comparação de 18 casos com 18 controles em que,
os dois grupos, tinham as mesmas características de idade, raça, estado civil, número de
parceiros e mesma clínica de origem, Pheifer demonstrou o H. vaginalis como o
microorganismo predominante em 17 de 18 casos (94%), 13 com clue cells e apenas em
1 dos 18 controles, nenhum destes com clue cells. O número de leucócitos / mm
3
foi três
vezes maior nas 18 pacientes (88.300 / mm
3
) do que nos 18 controles ( 29.100 / mm
3
);
verificou ainda, um aumento da prevalência da colonização por micoplasmas genitais, o
M. hominis isolado em 10 pacientes e o U. urealyticum em 16 pacientes e 12 controles. O
M. hominis persistiu em 19 de 47 pacientes tratadas e o U. urealyticum em 63 de 64
pacientes e concluiu que o metronidazol era relativamente ativo in vivo contra o M.
hominis mas não contra o Ureaplasma urealyticum. ( 59,94,108 )
1.4.2 -
A identificação das bactérias anaeróbicas associadas à Gardnerella
vaginalis
A presença de bactérias anaeróbicas na vagina normal havia sido publicada por
Harris e Brown no Bulletin of the John Hopkins Hospital em 1928, o que foi seguido por
registros esporádicos na literatura, até que em 1973, Gorbach et al. estabeleceram
definitivamente que os anaeróbios eram um componente importante da flora normal do
trato genital. A identificação dos anaeróbios com o Gram é precária, é impossível a sua
diferenciação da Gardnerella sem a cultura e também são dificílimos de serem cultivados;
podem ser identificados em pesquisas por seus produtos bioquímicos, para o que são
ainda necessários equipamentos sofisticados e caros. A pesquisa de anaeróbios é -
28
digamos assim - para universidades selecionadas, mesmo no chamado Primeiro Mundo.
( 51,96 )
Entre a década de 70 e início dos anos 80, quando a microbiologia quantitativa
estava apenas se iniciando, Spiegel et al. ( 1980 ), em trabalho com cultura quantitativa
para anaeróbios, identificou a presença dos seguintes Bacterióides e Peptococcus em
53 pacientes com NSV: B. capillosus. B. bivius, B. disiens, B. asaccharolyticus; P. prevotti,
P.asaccharolyticus. Comparando com os controles, verificou a mudança da flora de
lactobacilos produtores de lactato, para flora predominante de G. vaginalis, que produz
principalmente acetato, associada aos bacterióides, que em geral produziam succinato e
a espécies de peptococos, que em geral produziam butirato e acetato. Esses metabólitos
de ácidos orgânicos de cadeia curta voláteis e não voláteis, foram detectados por
cromatografia e o resultado definido pelo pico de succinato em relação ao lactato ,
considerado o mais expressivo e maior do que 0,4mm nas pacientes com NSV, tornando-
se s / l um padrão usado pelos microbiologistas para identificar culturas “puras“ de
anaeróbios, infecção assintomática e avaliação da resposta à terapia com o
metronidazol. Spiegel ( 1980 ) demonstrou padrão cromatográfico característico de
acetato, propionato, isobutirato, butirato e isovalerato, coerente com o aumento da
prevalência de bacterióides, peptococos e G. vaginalis, e com a presença de aminas.
Acetato e lactato são produzidos por todas as mulheres, sendo anormal o pico de acetato
maior que 2 mm, ou quando são detectados, propionato e butirato. A cultura quantitativa
mostrou que a bactéria predominante na NSV, a Gardnerella vaginalis, atingia a
concentração de 10
7
/ mm de secreção, que os bacterióides eram o segundo
microorganismo mais frequentemente isolado e que os lactobacilos eram ausentes, assim
como outras bactérias que poderiam produzir esses ácidos orgânicos como subprodutos
do seu metabolismo. Spiegel considerou que o papel relativo dos anaeróbios e da G.
vaginalis ainda não estava esclarecido e que talvez os anaeróbios fossem os
colonizadores primários e a G. vaginalis o colonizador secundário, ou vice-versa, ou
29
poderiam ser sinérgicos. E que, embora a Gardnerella possa ser detectada em pacientes
normais, com pH vaginal ácido, talvez seja estimulada a se tornar o organismo
predominante na NSV, devido à presença das bactérias anaeróbicas que produzem
amônia ou aminas, a partir da ação de descarboxilases sobre aminoácidos, aumentando
desse modo o pH vaginal. Não era, no entanto, possível, estabelecer os mecanismos
pelos quais os anaeróbios agiam, nem quais eram os fatores do hospedeiro capazes de
determinar se uma mulher iria ou não apresentar a infecção sexualmente transmissível. (
34,105,108 )
Estudos subsequentes demonstraram a presença dos seguintes anaeróbios:
Bacterioides spp, Peptostreptococcus spp, Mobiluncus spp, Eubacterium spp,
Fusobacterium spp, Veillonella parvula, Prevotella bivia (B.bivia), Prevotella disiens (B.
disiens), Porphyromonas spp e Prevotella spp.( 108 ).
1.4.3 - A produção de aminas na BV:
A suspeita da presença de aminas era devida ao odor porque as diaminas, que são
sais não voláteis, são liberadas em pH alcalino, tornando-se voláteis. Com o teste do
KOH a 10% o “odor de peixe” é exacerbado e foi relacionado especialmente à liberação
da trimetilamina por Brand e Galask ( 1986 ). As principais aminas liberadas na NSV, a
putrescina e cadaverina, demonstradas por Chen et al.( 1982 ) são produtos da
descarboxilação da lisina e arginina, respectivamente, e além dessas, foram detectadas a
histamina, feniletilamina, tiramina, isobutilamina e metilamina. O sêmen, que tem pH 7,0,
também pode liberar as aminas. A Gardnerella vaginalis não produz diaminas, o que
sugere que são produzidas pelas bactérias anaeróbicas, mas nenhum padrão compatível
de produção foi relacionado com a grande variedade de bactérias anaeróbicas que já
vinham sendo identificadas. ( 12,59,108 )
1.4.4 -
Os “critérios de Amsel” para o diagnóstico da BV:
30
Na década de 80, os autores mais destacados de estudos realizados na
Universidade de Washington foram Amsel e Carol Spiegel. Amsel et al. ( 1983 ) estavam
interessados no valor diagnóstico de observações e procedimentos simples que podiam
ser feitos em consultório, comparados como os métodos caros, menos disponíveis. Por
isso realizaram estudo com 397 pacientes consecutivas, para correlacionar os vários
critérios clínicos, bioquímicos e microbiológicos já em uso, que mostravam resultados
contraditórios na literatura. Amsel comentava que essas contradições ocorriam porque “a
maioria dos trabalhos enfocava o micróbio e não a doença” ou “uns pesquisam apenas os
sintomas, outros os sinais ou a leucorréia ou as clue cells”. O resultado da sua pesquisa
definiu os critérios para o diagnóstico clínico, que ficaram conhecidos como “critérios de
Amsel” e foram adotados pela Organização Mundial da Saúde. Amsel aplicou: a)
Métodos clínicos: medida do pH vaginal, teste do KOH a 10%, exame a fresco para clue
cells ( em 10 campos separados com pequeno aumento, acompanhadas ou não de
células exfoliadas ) e colheita de material para cultura e análise bioquímica; b) Métodos
bioquímicos: medida do pH, pesquisa de aminas e de ácidos orgânicos; c) Métodos
microbiológicos: cultura para Gardnerella vaginalis em ágar chocolate de carneiro e
ágar sangue humano. Os critérios estabelecidos para o diagnóstico da NSV foram: 1 -
Corrimento fino e homogêneo, 2 - pH vaginal maior do que 4,5, 3 - Liberação do
odor com KOH a 10%, 4 - Presença de aminas anormais na secreção vaginal e 5 -
presença de clue cells. As pacientes que apresentavam dois ou três desses critérios, ou
três dos quatro (1-2-3-5) eram consideradas portadoras de NSV e o diagnóstico foi feito
em mais de 25% dos casos, a metade assintomática, confirmando a existência da NSV
como entidade clínica e talvez com etiologia multifatorial. O pH 4,5 foi estabelecido como
o ponto discriminatório, a partir do qual o número de pacientes com NSV aumentava
conforme ia aumentando o nível do pH. As bactérias sobre as clue cells eram Gram
variáveis. A G. vaginalis foi isolada com a cultura, em 51,3% do total da amostra, em
maior concentração nas pacientes com NSV ( e detectada em 4 de 18 pacientes sem
31
experiência sexual ); com o ágar chocolate de carneiro não foi detectada a Gardnerella
em baixa concentração. Spiegel, em artigo de revisão, em 1991, refere que não foi
publicada nenhuma avaliação atualizada desse procedimento. (4,108 )
A NSV foi relacionada por Amsel et al, ( 1983 ) com a atividade sexual, infecção
prévia por tricomonas, anticoncepcional oral e DIU. Sweet ( 2000 ) refere que, embora
não se conheça exatamente a causa da BV, os fatores predisponentes incluem duchas,
DST prévia, mudança de parceiro sexual e uso de DIU. ( 4,111 )
1.4.5 -
A denominação Vaginose bacteriana e as conclusões de Spiegel;
Na literatura médica, a NSV era reconhecida com frequência, mas com nome
inaceitável: o termo “inespecífico” era contestado, a etiologia microbiana e patogênese
ainda estavam sendo elucidadas e havia controvérsias devido à ausência de resposta
inflamatória da parede vaginal. Holmes et al.( 1981) usaram o nome Vaginose
inespecífica; em 1983, Blackwell e Barlow sugeriram o nome Vaginose anaeróbica,
considerando que a infecção era primariamente anaeróbica; em 1983, Spiegel et al.
usaram o nome Vaginose bacteriana que foi considerado, em 1984, o termo mais
apropriado. Schnadig et al. (1989), Hay e Taylor-Robinson ( 1996 ) concordam que
Bacteriose vaginal, nome casualmente mencionado por Hill em 1982, é gramaticalmente
mais correto, em língua inglesa. (13,54,59,101,106 )
Spiegel foi autora e co-autora de vários trabalhos e, em 1983, na publicação em que
propôs o nome Vaginose bacteriana ou BV, re-avaliou o exame direto com o Gram em
60 lâminas de 397 pacientes consecutivas Os morfotipos e as colônias foram
quantificados de 1+ a 4+ e o resultado comparado com os critérios clínicos,
microbiológicos e bioquímicos. Spiegel observou a “extraordinária relação inversa entre a
quantidade de Lactobacillus e Gardnerella ” e notou que os lactobacilos podiam aderir às
células epiteliais, confundindo-as com clue cells. As clue cells foram encontradas em 30
de 31esfregaços de pacientes com BV e em nenhuma sem BV. Gardnerella vaginalis e
32
Bacterioides spp foram os microorganismos predominantes, os bacterióides ausentes
nas pacientes sem BV; em 11 de 25 pacientes com BV notou os bastonetes curvos Gram
variáveis que não estiveram presentes em nenhuma paciente normal; duas pacientes
tinham BV associada a tricomonas e duas a monília. A cultura demonstrou a Gardnerella
vaginalis associada a Bacterioides spp, Peptococcus spp, bastonetes curvos e
Eubacterias spp. Spiegel classificou flora tipo II como normal, considerando outros dados
e, na discussão, considerou que os microorganismos descritos anteriormente por outros
autores como coliformes, talvez fossem bacterióides; que os “difteróides” descritos por
Hunter e Long (1938 ), que acreditaram serem lactobacilos - e estreptococos que
cresciam também nas culturas, talvez fossem, G. vaginalis; que a “vaginite dominada por
cocos” de Bergman et al. (1965 ) e a Kokken Kolpitis de Schnell e Meinriken ( 1973 )
eram compatíveis com BV. O Gram concordou com o diagnóstico clínico em mais de 90%
dos casos. O Gram e a cultura foram ambos positivos ou ambos negativos em 49 dos 60
casos ( 25 com diagnóstico clínico de BV e 35 normais ou com vaginite por cândida ),
com exceção de duas pacientes positivas apenas na cultura; quando havia grande
quantidade de morfotipos com o Gram, também era grande a quantidade de colônias ou
vice-versa. (4,59,105,106,107,108 )
1.4.6 -
Mobiluncus sp. e Mycoplasma hominis incluídos como flora
patogênica da BV:
Em 1983, Spiegel et al. publicaram a prevalência dos bastonetes anaeróbicos
curvos e móveis na BV e sua resposta ao tratamento. Os bastonetes curvos e móveis,
isolados pela primeira vez por Curtis ( 1914 ) em paciente com infecção puerperal e só
foram registrados novamente em 1954, por Moore, como “víbrios anaeróbicos”, que não
vinham sendo detectados nos estudos sobre anaeróbios. Até que, em 1980, Durieux e
Dublanchet identificaram 18 tipos em 11% de 330 pacientes com “leucorréia patológica”
associada aos víbrios que não podiam ser do gênero Vibrio por serem anaeróbios, e
33
desapareciam com o uso do metronidazol. Verificaram que os víbrios eram produtores de
succinato ( vibrions succinato producteurs ), móveis e os dividiram em dois grupos: VSP 1
menores, resistentes ao metronidazol e VSP 2 maiores, ambos flagelados. Spiegel
encontrou 10 sub-tipos pequenos, com 1,7um, Gram variáveis, 3 sub-tipos maiores, com
2,9 um, Gram negativos e 3 sub-tipos Gram positivos, imóveis, que cresciam em
anaerobiose ou microaerofilia e que talvez fossem parte da flora normal, além da
presença de microorganismo semelhante, o Vibrio succinogenes. Os bastonetes curvos
foram detectados mais facilmente com o Gram, em 31 de 61 pacientes com BV, do que
em 6 destas 31 com a cultura, e não foram detectados em nenhum dos controles. Spiegel
concluiu que a presença dos bastonetes curvos é também um indicador de BV, com o seu
papel na infecção a ser esclarecido. Os bastonetes curvos apresentavam algumas
características comuns com os Anaerobiospirillum, Succinvibrio, Campylobacter e V.
succinogenes ou Wolinella, mas eram suficientemente diferentes desses gêneros e era
necessário colocá-los em outro gênero. Em 1984, Spiegel e Robertis propuseram o nome
Mobiluncus ( mobil=móvel, uncus=curvo ) para os bastonetes vaginais, que teve
prioridade sobre Falcivibrio, proposto por outros autores. Foram identificadas, com DNA
homólogo, duas espécies: M. curtisii (F. vaginalis) pequeno e Gram variável ou positivo e
M. mulieris (F. grandis ) maiores e Gram negativos; e duas sub-espécies: M curtisii curtisii
e M. curtisii holmsii. Produzem os ácidos succínico, acético, lático e málico; o M. mulieris
produz grande quantidade de ácido a partir do glicogênio e o M. curtisii produz amônia a
partir da arginina. O Mobiluncus pode aderir às células epiteliais com pH de 7,5 a 5,5 e
sua prevalência na BV vem sendo referida como maior que 77% à microscopia com o
Gram e 14 a 96% com a cultura. ( 12,21,101,107 )
Schnadig ( 1989 ) em estudo de 150 pacientes com BV, positivas para Mobiluncus
em 24% de 104 culturas e para Gardnerella em 60% de 118, verificou que o exame direto
é provavelmente o melhor método para diagnosticar a presença de Mobiluncus e que
tanto o Gram como o Papanicolaou são satisfatórios, este com sensibilidade próxima da
34
cultura e especificidade quase de 100%. Denominou comma cells as células encontradas
em 13 casos, com os bacilos curvos “pendurados por uma das extremidades sobre as
bordas dessas células, criando uma aparência de tapete”; verificou ainda, além da
presença das clue cells recobertas “pela flora heterogênea da BV”, a presença de
pseudoclue cells recobertas por lactobacilos. Quando havia comma cells, havia também
clue cells. (101,107 )
Um estudo da BV em pacientes grávidas acrescentou outro critério de avaliação
citado na literatura, introduzido por Nugent et al. ( 1991 ), do Vaginal Infection
Prematurity Study, um grupo de centros médicos, e já conceituaram a BV como síndrome
clínica causada pela mudança da flora vaginal de Lactobacillus spp, para G. vaginalis,
Bacterioides spp, Mobiluncus spp e Mycoplasma hominis. Nugent propôs um sistema de
pontos, ou score, que permite a gradação da gravidade da BV possivelmente associada a
risco de complicações na gravidez, e a contagem de cada morfotipo bacteriano com o
Gram, somada a pesos, produziam o score de 0
a 10, sendo 0 a 3 normal, 4 a 6
intermediário e maior do que 7, BV. . Os pesos eram maiores para os morfotipos
identificados com maior confiabilidade: Lactobacillus spp, G. vaginalis, Mobiluncus spp e
M. hominis. O “score de Nugent” não depende do clínico, é considerado de fácil execução
e reprodutível com concordância, entre microbiologistas do mesmo centro e de diferentes
centros. ( 87,88 )
A presença do Mycoplasma hominis na BV é considerada uma associação
independente, encontrado em 24 a 75% dos casos e em 13 a 20% não associado à
BV. ( 12,114,116 )
1.4.7 -
A ausência de leucócitos característica da BV:
Do ponto de vista da Microbiologia, os autores consideram que está cada vez mais
claro, que as interações microbianas no ecossistema vaginal são complexas tanto na
saúde como na doença. Mackovick ( 1979 ), sugere que, quando bactérias agem
35
sinergicamente, podem aumentar a sobrevivência umas das outras favorecendo os
fatores de crescimento, melhorando o ambiente local para a provisão de nutrientes
essenciais, inibindo os mecanismos de defesa do hospedeiro ou compartilhando fatores
de virulência. A reação inflamatória produz fatores quimiotáticos como citocinas, C5, e a
quimiotaxia assegura o acúmulo de leucócitos para que a fagocitose subsequente
represente a primeira linha de defesa. Entretanto, a BV difere das infecções maciças pela
completa ausência de PMN. Admite-se que algum mecanismo evita o contato precoce
com os PMN inibindo a quimiotaxia dos monócitos e PMN por um período longo o
bastante que permita o crescimento suficiente dos organismos associados para escapar
da fagocitose e estabelecer a infecção. ( 3,42,96 )
Os estudos da inibição dos agentes quimiotáticos são dirigidos aos ácidos
gordurosos de cadeia curta e o ácido succínico produzidos por bactérias anaeróbicas,
inibição que representa importante fator leucotóxico de virulência desde o início da BV. O
interesse pelos ácidos gordurosos voláteis é devido aos seus efeitos biológicos nas
células eucarióticas como alteração na forma, diferenciação, alteração na composição
da membrana e inibição do crescimento. No estudo de Al-Musrhif et al. ( 2000 ),
Prevotella, Mobiluncus e Gardnerella inibiram a quimiotaxia: Prevotella e Mobiluncus
produzem ácido acético, succínico e ácidos orgânicos voláteis; Gardnerella vaginalis
produz ácido succínico e acético. O ácido succínico inibe acentuadamente a migração
das células, o ácido acético tem efeito menor e o ácido lático não mostrou inibição
significativa da quimiotaxia quando comparadas as pacientes com BV e os controles.
Após o tratamento com metronidazol, diminui a grande quantidade de ácido succínico e
acético nas pacientes com BV e aumenta o ácido lático. ( 3,59 )
1.4.8 -
As complicações da BV:
A BV aumenta o risco de complicações ginecológicas e obstétricas representadas
por sérias infecções, principalmente a doença inflamatória pélvica – DIP não gonocócica:
36
salpingite, endometrite ou ambas, por ascensão dos microorganismos da vagina ou
endocérvice até o endométrio ou trompas. As complicações obstétricas são a DIP pós-
aborto ou pós-cesárea, parto prematuro, rutura prematura de membranas e
corioamnionite comprovada histologicamente, com recém-nascido de baixo peso. A BV
aumenta o risco de infecção de incisão cirúrgica pós-cesária e pós-histerectomia ( cuff
celulitis ). As bactérias encontradas nos estudos variam, ou as bactérias da BV são
detectadas nos casos complicados, associadas a M. hominis, U. urealyticum, S. aureus,
C. trachomatis, T. vaginalis, C. Albicans; o significado da incidência e prevalência dos
microorganismos é então avaliado por cálculo estatístico. (12,108,114 )
1.4.9 -
Principais conclusões sobre a BV que se aplicam ao seu diagnóstico
com o exame citológico:
Atualmente a BV é uma das três principais vaginites conhecidas, junto com a
vaginite por tricomonas e por fungos. A BV é a mais comum, ocorrendo em 40 a 50% de
todos os casos. Parece ocorrer por alteração da flora endógena por mecanismos
desconhecidos, mas também pode ser adquirida. Mais de 90% dos parceiros de mulheres
com BV tem colonização uretral por Gardnerella vaginalis. A quantidade de bactérias na
BV aumenta mais de 100 vezes, passando a 10
9
ou 10
10
e a quantidade de Gardnerella
aumenta de 100 a 1000 vezes. A formação das clue cells ocorre devido a propriedade de
aderência da Gardnerella à célula epitelial; adere melhor com o pH de 5 a 6 e mais
frequentemente do que as outras bactérias da BV; Mobiluncus aderem com pH de 7,5 a
5,5. Na BV os Lactobacillus produtores de H
2
O
2
estão diminuidos. Os ácidos gordurosos
voláteis, a Gardnerella e o succinato inibem a quimiotaxia dos leucócitos; as aminas e o
ácido málico causam irritação e descamação das mucosas. Holmes et al, 1981,
relacionam a presença de leucócitos na BV, com cervicite causada por outros
micoorganismos. ( 12,34,38,58,59,101 )
37
Na literatura, procura-se uma completa concordância entre os autores acerca dos
critérios e métodos de diagnóstico da BV, inclusive do teste de Papanicolaou. O índice de
falso-positivo do pH é 47%, da leucorréia 3%, do teste do KOH 1% e das clue cells 6%.
Spiegel afirma que “são necessários mais estudos sobre a utilidade do esfregaço de
Papanicolaou” e Hillier justifica: “porque são usados rotineiramente, seria de grande
benefício se pudessem ser usados como base”. Em estudos de avaliação do esfregaço
de Papanicolaou no diagnóstico de BV, Platz-Christensen et al. ( 1989 ) e Giacomini et al.
( 1997 ) encontraram resultados praticamente idênticos: o primeiro verificou que a
presença de clue cells foi 90% sensível, 97% específico, com valor preditivo positivo de
94% e valor preditivo negativo 95%; o segundo, verificou sensibilidade de 88,7% e
especificidade 98,8% com valor preditivo positivo 89,8% e valor preditivo negativo 98,7%.
Schnadig ( 1989 ) encontrou valor preditivo positivo de 88% quando as clue cells estão
presentes e 86% quando não são vistas; com o exame a fresco foram detectadas em
apenas 67% dos casos. E há uma tendência entre os Microbiologistas, em adotar o Gram
e as clue cells como diagnóstico definitivo por ser simples, facilmente disponível, com
valor preditivo positivo de 75 a 100%. A cultura não é indicada como teste de cura.
(12,47,54,58,59,95,101,108 )
1.5 - OS MICOPLASMAS GENITAIS
Na prática de exame citológico, a coloração de Papanicolaou não permite que o
citopatologista identifique, nos esfregaços inflamatórios, qual é o segundo componente de
uma flora tipo II ou de que é composta uma flora tipo III sem clue cells. A cultura para
micoplasmas genitais é frequentemente solicitada pelo ginecologista, como parte da
propedêutica de leucorréia e, neste estudo, a correlação do exame citológico com essas
culturas mostrou que a hipótese de que micoplasmas genitais sejam parte de flora tipo II
ou tipo III não deve ser excluída. Os micoplasmas genitais são frequentes na nossa
região, registrados por Teixeira et al.( 1999 ), em Recife, com padrão microbiológico
38
diferente da BV devido à ausência de Gardnerella vaginalis em 6,94% de 421 mulheres
e em 3% de 100 gestantes. A exacerbação dos micoplasmas genitais nas mulheres
sexualmente ativas foi representada em 53% pelo Ureaplasma urealyticum, 16%
,Mycoplasma hominis e 31% M. hominis e U. urealyticum associados, semelhante ao
grupo das gestantes: 51%, 21% e 28%, respectivamente. ( 116 )
O primeiro micoplasma de origem humana, o Mycoplasma hominis, foi detectado
por Dienes e Edsall (1937) em abcesso de glândula de Bartholin e desde então, são
encontrados como habitantes, saprófitas ou comensais, do orofaringe e da mucosa
genital. Em 1954, Shepard isolou outro organismo PPLO ( pleuropneumonia-like
organisms ) de negros com uretrite não gonocócica ( UNG ) primária ou recurrente e o
denominou T-strain ( tiny ) ou T-micoplasma porque formavam colônias muito pequenas;
em 1970, Shepard e Taylor-Robinson o classificaram como Ureaplasma urealyticum, o
ureaplasma. O M. fermentans e M. penetrans, isolados mais recentemente, parecem
estar associados com a progressão do HIV. ( 41,112,113,114 )
1.5.1 -
Os achados do exame citológico na presença de micoplasmas
genitais:
Em 1967, Jones e Davson publicaram na Nature, a detecção do Mycoplasma
hominis no esfregaço de Ayre, que é o mesmo que esfregaço de Papanicolaou, e que é
submetido na sua confecção, a fixação menos traumática do que o calor usado para o
Gram, preservando a morfologia desses microorganismos e permitindo que sejam
visíveis, se estiverem presentes em quantidade suficiente devido à intensa proliferação.
Em 233 pacientes, foi feita a correlação entre o exame citológico e a cultura, positiva
para M. hominis em 24% dos casos, e quando havia intensa proliferação na cultura da
cérvice, o esfregaço de Ayre apresentava-se em pequeno aumento, com o aspecto do
“esfregaço sujo” de Koss e Durfee: com inúmeros microorganismos pequenos e
hematoxilinofílicos cobrindo as células ou entre as células epiteliais, frequentemente
39
formando cadeias azuladas entre elas. Os autores relacionaram o aspecto “sujo” a
exsudato, restos celulares, citólise e aglomerados de bactérias, também visto em
inflamações da cérvice e vagina causadas por outros agentes. Jones e Davson
verificaram a correlação direta entre a proporção de esfregaços citológicos considerados
positivos para micoplasmas e a intensidade do crescimento do M. hominis avaliada pelo
número de colônias; quando o crescimento era discreto, o reconhecimento dos
microorganismos era menos confiável. Verificaram que era também possível distinguir o
“esfregaço sujo” em que as bactérias presentes eram lactobacilos associados a
coliformes, ou o Haemophillus vaginalis, da forma “cocóide” apresentada pelo M. hominis.
E sugeriram ainda, que micoplasmas podem causar alterações nucleares. ( 47,62,75 )
Quando o Ureaplasma urealyticum e menos frequentemente, o Mycoplasma
hominis são diagnosticados com cultura e comparados com o exame citológico, seu
aspecto no esfregaço correspondia à codificação de “bactéria cocóide”, termo apenas
morfológico. O termo foi originado quando Wied e Christiansen ( 1953 ) descreveram
meticulosamente os esfregaços com o fundo coberto por uma flora, morfologicamente
coco-bacilar abundante, com lactobacilos ausentes e espaços vazios entre as células;
denominaram esses microorganismos Streptococcen-Typ e um ano depois, Wied os
denominou kokken-typ ou “bactérias cocóides”, o que obteve concordância de
Papanicolaou. Acreditava-se, na época, que sua etiologia era devida à lise de
tricomonas, mas também não era afastada a possibilidade de causa hormonal ou
infecciosa. Verificava-se que o esfregaço era encontrado na maioria das pacientes na
menopausa ou com deficiência de estrógeno, que estreptococos não eram a única
bactéria presente e também que os espermatozóides eram vistos frequentemente e os
leucócitos escassos. Esse tipo de esfregaço era também observado após o coito, sua
formação era aparentemente rápida e a presença de espermatozóides era concomitante
com a ausência de lactobacilos ou com a sua transformação em pequenos “cocobacilos”,
vista em cultura e que poderia ocorrer em condições fisiológicas. O esfregaço ainda
40
parecia representar, ao exame citológico, o H. Vaginalis transmitido sexualmente. Logo
após a publicação de Gardner e Dukes, Pundel notou que o Streptococcen era, em sua
maioria, o Haemophillus vaginalis ; Jones e Davson, o Mycoplasma hominis. O passo
seguinte foi o desenvolvimento por Wied e Bibbo, da classificação das floras F1 a F10
visualizadas com a coloração de Papanicolaou, que perdurou por mais de 20 anos e
ainda hoje é usada no Brasil. Wied e Bibbo fizeram a distinção entre o H. Vaginalis - F4,
que apresenta clue cells e F3 - a “bactéria cocóide”; a classificação também compreendia
a “bacteria mista”- F2, quando são visualizados os Lactobacillus associados às “bacterias
cocóides”, e que corresponde à flora tipo II de Schroeder. Wied publicou em 1957, estudo
realizado no Chicago Lying-in Hospital durante três anos, e concluiu que o esfregaço
citológico tanto é capaz de determinar a localização principal da reação inflamatória, se
na vagina, ectocérvice ou endocérvice, como o grau de intensidade e as características
aparentemente aguda ou crônica da inflamação. (11,47,75,122 )
1.5.2 - Principais características dos micoplasmas:
Micoplasmas são Mollicutes, uma classe de bactérias sem parede, que evoluíram
de ancestrais Gram positivos ( alguns clostridia ) por deleção de gen e redução do
tamanho do genoma, de modo que o genoma de um micoplasma tem pouco mais de
duas vezes o tamanho de genoma de alguns vírus maiores e são os menores organismos
livres existentes, com 125-250 nm, no que se comparam também à clamídia. Os
micoplasmas não revertem à sua forma bacteriana parental, mas é interessante notar que
outras bactérias sem parede de defesa, não relacionadas geneticamente com os
micoplasmas, podem ser originadas por mutação ou ação de substâncias químicas sobre
a sua parede. Assim, as Eubactérias dão origem aos protoplastos e esferoplastos,
originados de Gram positivos e Gram negativos respectivamente, e alguns desses
41
organismos são estáveis e outros instáveis, capazes de reverter à sua forma parental.
(15,114 )
Os micoplasmas, uma vez que não tem parede, não tem forma ou são
extraordinariamente pleomórficos, desenvolvem-se nas superfícies celulares e tem
afinidade pelas membranas das células dos mamíferos, a que se ligam por meio de
adesinas e de outras proteínas ricas em prolina.; agem por lesão direta citotóxica ou
citolítica, ou por competição metabólica; são o único microorganismo que necessita de
esteróides para o seu crescimento e síntese de membrana; o Ureaplasma urealyticum é
o único que necessita de 10% de uréia como fonte de energia metabólica; possui urease
que transforma a uréia em amônia, aumentando o pH. O M. hominis metaboliza a arginina
em uréia, aumentando também o pH. Os micoplasmas não podem ser detectados pelos
métodos bacteriológicos usuais porque sua morfologia varia de acordo com o método de
exame ( p.ex. Giemsa, imunofluorescência ), não são identificados com o Gram; suas
colônias podem ser muito pequenas, também de aspecto variável e são avaliadas pela
contagem semi-quantitativa em placa; outra característica é a de crescerem em meio de
cultura completamente livres de células. Os testes bioquímicos e sorológicos apresentam
alta incidência de testes positivos em indivíduos normais e a sorologia pode apenas
ajudar a diferenciar colonização de infecção; os antígenos, detectados por
imunofluorescência ou ELISA, são espécie-específicos e são utilizados para identificar
espécies, do mesmo modo como o DNA homólogo e o PCR. (15,112,115)
1.5.3 -
Os micoplasmas patogênicos mais frequentes, no homem:
Das 150 espécies de Mollicutes isoladas, pelo menos 16 tem origem humana. A
infecção é hospedeiro-específica, uma vez que os micoplasmas também infectam animais
e plantas. No homem, os micoplasmas potencialmente patogênicos atingem o trato
genital e respiratório, e parecem ser parasitas intra-celulares com preferência pelas
células mesoteliais. O ureaplasma pode ser detectado no interior das células epiteliais da
42
uretra. Taylor-Robinson ( 1998 ) relaciona como principais colonizadores do trato genital:
Mycoplasma hominis, Ureaplasma urealyticum, Mycoplasma primatum, Mycoplasma
genitalium, Mycoplasma spermatophilum e Mycoplasma penetrans. A patogenicidade dos
micoplasmas ainda está sendo esclarecida, ou faltam evidências de patogenicidade, mas
são definidos como patogênicos: o U. urealyticum, M. genitalium, além do M.
pneumoniae do trato respiratório; como possivelmente patogênicos são apontados o M.
hominis, M. penetrans e M. fermentans. ( 15,114 )
Os micoplasmas mais frequentemente encontrados no trato genital humano são o
M. hominis e o U. urealyticum. No homem, colonizam a mucosa uretral e na mulher, são
mais encontrados em vaginite do que no canal endocervical, fórnix posterior e área peri-
uretral, mas há dificuldades em se estabelecer a patogenicidade dos micoplasmas
principalmente devido à sua ubiquidade - estão presentes em várias localizações. O U.
urealyticum pode ser isolado da vagina de muitas mulheres sexualmente ativas e
frequentemente o homem é exposto a esses microorganismos. No homem, procura-se
entender por que a uretrite não gonocócica - UNG, por micoplasmas não é muito mais
comum e por que micoplasmas são detectados em indivíduos sem uretrite; os testes
sorológicos não auxiliam na detecção de algum sorotipo com maior potencial de causar
doença. Na mulher, há falhas na interpretação dos estudos por falta de definição clínica
precisa se as pacientes apresentam cervicite ou vaginite. ( 42,112,114 )
1.5.4 -
A exacerbação dos micoplasmas genitais e as características da
infecção:
A colonização pode ocorrer no recém-nascido durante a passagem pelo canal de
parto, mas tende a desaparecer com a idade. Raramente os micoplasmas são
encontrados na urina ou uretra de meninos antes da puberdade, mas já foram detectados
em meninas. Após a puberdade, a colonização resulta do contato sexual. Autores como
Mc Cormack sugerem que a colonização, principalmente do ureaplasma, aumenta com a
43
experiência sexual e com o número de parceiros, tanto no homem como na mulher, e a
mulher é mais suscetível. M. hominis e U. urealyticum estão presentes na mucosa
genital de mais de 50% dos adultos sexualmente ativos, a colonização dos adultos sem
contato sexual não é frequente e a prevalência da colonização diminui após a
menopausa. No homem adulto, a infecção tende a ser transitória, podendo regredir
espontaneamente e talvez a uretrite ocorra somente quando o homem é exposto pela
primeira vez, mas pode ser persistente. No entanto a persistência pode ser mais aparente
do que real, devido ao contato sexual repetido. Em 1977, Taylor-Robinson et al.
publicaram estudo de auto-inoculação de dois autores que desenvolveram a doença e a
manifestação principal foi a presença de PMN na descarga uretral, que persistiu seis
meses após tratamento e essa persistência é considerada misteriosa. Esses resultados
levaram a se admitir que o ureaplasma é capaz de iniciar a doença crônica. Não se sabe
a proporção de homens que tem NGU devida a micoplasmas, referida de 50 a 95%, e há
poucos estudos quantitativos. Os estudos verificam que o ureaplasma ocupa o terceiro
lugar como causa de NGU, atrás da Chlamydia trachomatis e do Mycoplasma genitalium,
este encontrado em 20% de NGU persistente ou recurrente depois do ataque agudo.
Excepcionalmente causam prostatite e epididimite. ( 112,113,114 )
Na mulher sexualmente ativa, a infecção pode ser sintomática ou assintomática,
mas a interpretação é difícil. Taylor Robinson e Mc Cormack ( 1980 ) referem que, além
da falta de definição clínica de vaginite ou cervicite, não pode ser excluída a possibilidade
de que outro microorganismo cause a doença e, ao mesmo tempo, proporcione as
condições favoráveis para a proliferação dos micoplasmas. O M. hominis é isolado com
frequência maior do que duas vezes, de mulheres com vaginite ou cervicite em relação às
normais, frequentemente associado a outros microorganismos como T. vaginalis, N.
gonorrhoeae, G. vaginalis, C. albicans e com pH aumentado mas faltam esclarecimentos
sobre o papel patogênico de cada um deles. O M. hominis não age sinergicamente com
C. trachomatis e sua presença na BV é considerada atualmente uma associação
44
independente. O U. urealyticum é isolado tão frequentemente tanto de pacientes com
vaginite quanto dos controles. Paavonen et al (1986 ) estabeleceu associação significativa
dos micoplasmas com cervicite muco-purulenta-MPC, em estudo com 323 pacientes,
dentre as quais 236 com diagnóstico de MPC, associada ao U. urealyticum em 108 de
130 casos e ao M. hominis em 55 de 129 casos. Comentando os achados de Paavonen,
Sweet ( 1998 ) refere que, depois do interesse pela clamídia, perdeu-se o interesse da
associação dos micoplasmas com MPC. Kiviat et al. ( 1985 ) encontrou o U. urealyticum
com prevalência de 79% (86 de 109 pacientes selecionadas ao acaso) e 77% (117 de
152 pacientes com suspeita de cervicite) e o M. hominis com prevalência de 48% ( 52 de
109 ) e 42% ( 64 de 152 );no entanto, após os cálculos estatísticos, apenas a C.
trachomatis e T. vaginalis foram significativamente associados com alterações citológicas
inflamatórias. Taylor Robinson e Renton ( 1999 ) afirmam que poucas STD são
consideradas como causadas pelos micoplasmas e que a identificação do ureaplasma
quase não tem valor para o paciente de clínica de doenças sexualmente transmissíveis,
útil apenas em algumas ocasiões, porque tanto o ureaplasma como o M. genitalium
respondem aos mesmo antibióticos e a cobertura com antibióticos na DIP também inclui
o M. hominis. Apesar dos debates e controvérsias, os micoplasmas estão incluídos no
Control of Sexually Transmitted Diseases: a Handbook for the Design and Management of
Programs (Family Health International), 1996, o U.urealyticum como agente patógeno
bacteriano “Transmitido em adultos predominantemente pela relação sexual” e o M.
hominis como “Transmissão sexual relatada, mas não definida claramente, ou não sendo
esta a forma predominante de transmissão”. (27,63,90,110,112,113,114 )
1.5.5 - Possíveis complicações da infecção por micoplasmas genitais:
Os micoplasmas genitais podem atingir o trato genital superior e urinário por via
ascendente a partir da vagina ou da cérvice e são investigados como agentes etiológicos
de DIP não gonocócica e complicações obstétricas, mesmo que a comprovação seja
45
difícil. A DIP não gonocócica não tem uma única causa: aeróbios e anaeróbios intestinais
e clamídia são mais encontrados que os micoplasmas, que podem ser o patógeno
primário em alguns casos. A ME mostrou que o M. hominis causa apenas edema dos
cílios, nas células epiteliais das trompas e não, lesão evidente como na salpingite
causada pelo gonococo. Durante o parto, do mesmo modo como outros organismos
presentes na vagina, os micoplasmas podem ser encontrados na corrente sanguínea,
invasão que não parece persistir nas pacientes sem febre; nos dois dias após o parto,
são detectados com a hemocultura, em pacientes com febre pós-parto ou pós-aborto,
talvez devido a endometrite. Em mulheres com abortos repetidos, a detecção de
micoplasmas no endométrio, líquido amniótico e membranas fetais pode ser apenas o
resultado de contaminação; quando são encontrados nos pulmões do feto ou natimorto,
sugerem aspiração do líquido amniótico; quando são encontrados nos pulmões e
também no cérebro, coração e vísceras, sugerem disseminação hematogênica pelo
cordão umbilical. Essas observações não respondem à pergunta se o aborto ocorreu
devido à infecção, ou se o feto morreu por outra causa seguida pela invasão dos
micoplasmas, ou de qualquer outro microorganismo que atingiu a cavidade amniótica. A
invasão da cavidade amniótica principalmente por ureaplasma, é aceita quando há
corioamnionite comprovada histologicamente. O ureaplasma é encontrado colonizando a
mucosa nasal ou faríngea de RN de baixo peso e admite-se que as mulheres que tem
predisposição a terem bebês menores sejam seletivamente colonizadas e que
micoplasmas podem ser fator de morbidade e mortalidade peri-natal. Há ainda estudos
sobre o papel dos micoplasmas na infertilidade humana porque em amostras de sêmen, o
ureaplasma é uma das bactérias capazes de aderir aos espermatozóides e então
observa-se diminuição da sua mobilidade e quantidade, com maior número de formas
aberrantes; o mesmo pode acontecer no trato genital feminino, obtendo-se melhora após
tratamento. Relaciona-se a infertilidade feminina relaciona-se com a detecção de
ureaplasma em aspirados de endométrio, sendo pouco encontrados nas trompas. Esses
46
achados não esclarecem se os micoplasmas tem papel na infertilidade humana, mas há
referências de fertilidade em alguns casais após tratamento. O M. hominis não causa
infertilidade. ( 113 )
1.5.6 -
As doenças infecciosas comprovadamente causadas por micoplas-
mas genitais:
Taylor-Robinson (1998) relaciona as doenças infecciosas genitais em que os
micoplasmas podem ter um papel: o U urealyticum e M. genitalium na NGU aguda e
crônica; o M. hominis duas vezes mais que o U. urealyticum na BV; o U. urealyticum na D.
de Reiter, ou artrite com hipogamaglobulinemia duas vezes mais que na artrite reativa
adquirida sexualmente - SARA; o M. hominis e U. urealyticum em parto prematuro; o M.
genitalium em DIP: o M. hominis é pouco implicado em DIP e o U. urealyticum pouco
implicado em epididimite. ( 114 )
1.6 - A INFECÇÃO VAGINAL E CERVICAL POR TRICHOMONAS VAGINALIS
As infecções por Trichomonas vaginalis e Candida albicans no trato genital inferior
feminino foram as primeiras a serem reconhecidas. O protozoário flagelado Trichomonas
vaginalis tem 8 a 20 um, pertence à classe Zoomastigophora e foi descoberto na
secreção vaginal e descarga uretral masculina, com o exame do material diluído em
solução salina, por Donné em 1836, antes mesmo que a leucorréia fosse descrita como
sinal clínico por Kronig, em 1895. Em 1916, Hoehne começou a associar a presença do
parasita com o quadro clínico de vaginite. ( 98 )
Na década de 50, calculava-se que uma em cada quatro ou cinco mulheres
estavam infectadas por tricomonas e dados mostravam que 16% em média,
apresentavam o parasita - 21% sintomáticas e 6,5% assintomáticas. Krieger et al. ( 1988 )
referem a estimativa de que o parasita infecta 180 milhões de mulheres por ano em todo
o mundo e os pacientes assintomáticos são importantes epidemiologicamente porque
47
representam risco de disseminação da doença. Na América Latina, dados do Instituto
Mexicano de Seguro Social ( 1993 ) mostraram incidência de infecção por T. vaginalis de
3,1% em 800 mulheres, contra 14,39% de infecção por Candida sp. (36,37,67,98 )
O diagnóstico depende da identificação microscópica da Trichomonas vaginalis na
secreção vaginal e os principais métodos usados são o exame a fresco, que confirma a
motilidade devida ao flagelo e o exame citológico considerado o método mais conveniente
porque não há custo adicional. A cultura é o método mais sensível (sensibilidade de 86 a
97%) mas é demorada, pouco disponível nos Estados Unidos e é indicada para o
diagnóstico da infecção no homem. As técnicas de coloração com Giemsa, Leishman,
Diff-Quik, Fontana, PAS não foram comparadas com a cultura. O valor da
imunofluorescência direta com anticorpo monoclonal ainda não está determinado e vem
sendo utilizado apenas em pesquisa. ( 67,78 )
Krieger et al. ( 1988 ) referem que o esfregaço de Papanicolaou, raramente
comparado com os outros métodos de diagnóstico, é 56% sensível, 99% específico e tem
valor preditivo positivo que chega a 88% em populações de alto risco, quando o exame
citológico tem importante papel no controle da infecção. Nos grupos de pacientes em que
a frequência de T. vaginalis é baixa, é indicado o exame a fresco que detecta a infecção
em 60% a 70% dos casos. Entretanto, Krieger et al. ( 1988 ) questionaram a acuidade do
exame a fresco que, em uma população de 600 pacientes com 15% de prevalência, as
tricomonas foram detectadas em apenas em 60% dos casos; o Papanicolaou foi positivo
ou suspeito em 63% mas 31% eram infecções falsas. Lossick ( 1988 ) do Centers for
Disease Control em Atlanta, em mais de 2000 pacientes, identificou tricomonas com o
exame a fresco em 64% das pacientes assintomáticas e em 75% com vaginite,
comparados com a cultura; os autores comentam que o Papanicolaou e o exame a
fresco são métodos limitados para o diagnóstico de tricomonas e que embora a
sensibilidade do Papanicolaou se aproxime do exame a fresco, tem especificidade
imperfeita: em uma população com prevalência média de 5%, a identificação de
48
tricomonas características ou suspeitas (especificidade de 95%) com o exame citológico
teria valor preditivo positivo de apenas 40% ( 60% de falso-positivos). O exame a fresco
deve ser executado imediatamente após a colheita e, se negativo, durante dois minutos
porque sua sensibilidade depende do estágio da infecção ou quantidade de parasitas (10
4
a 10
5
) e também do observador, atingindo até 80% quando os sintomas são
característicos, ou 92% com um observador experiente. ( 67,78 )
1.6.1-
Alguns dados sobre a patogenicidade da Trichomonas vaginalis:
Estudos recentes indicam que a barreira física representada pelo muco que
recobre as células epiteliais no local da infecção é a primeira superfície encontrada pelas
tricomonas na interação inicial com o hospedeiro. As propriedades de defesa contra a
invasão microbiana da mucina, a principal glicoproteína da secreção mucosa, são: o
tamanho da molécula, a constituição de peptídio glicosilado resistente à ação proteolítica
e a presença de pontes dissulfídicas hidrofóbicas que dão a consistência de gel. O
mecanismo pelo qual as tricomonas atravessam a barreira mucosa é desconhecido mas
Lekker e Sweeney (1999) sugerem que a penetração requer adesão, atividade
proteolítica e motilidade do parasita. A Trichomonas vaginalis possui adesinas e
proteinases e sua aderência à mucina é um pré-requisito para a colonização. A aderência
é seguida pela secreção de mucinases que solubilizam a matriz mucosa, deslocando o
parasita, que penetra na camada de muco devido ao movimento flagelar, até atingir as
células epiteliais; ocorre ainda, a inativação de outras moléculas de defesa como
imunoglobulinas e lactoferrina. O pH de 4.5 a 7.0 no ambiente vaginal favorece a
atividade das proteinases secretadas pelas tricomonas, e a cisteíno-proteinase tem papel
evidente na adesão, evasão imune e aquisição de nutrientes. A aderência às células
epiteliais é mediada por adesinas e depende da presença de Fe e da atividade das
proteinases. A citoaderência permite que as tricomonas persistam no ambiente vaginal.
49
Estudos detalhados sobre a disseminação e patogenicidade do parasita continuam
escassos. ( 74 )
1.6.2 -
Características histopatológicas da infecção cervical por T. vaginalis:
A Trichomonas vaginalis produz o aspecto inflamado da cérvice, com hiperemia,
edema, erosão ou ulceração, leucorréia e, na década de 50, começou a despertar
interesse na prática de exame citológico, quando era investigado se causaria alterações
epiteliais que poderiam ser confundidas com carcinoma in situ do colo uterino. Por isso,
Koss e Wolinska (1959) realizaram estudo com 172 pacientes infectadas e descreveram
as alterações histopatológicas da cérvice, correlacionando-as com as alterações
citológicas descritas anteriormente por Wolinska; estabeleceram que o parasita causa
inflamação intensa do epitélio cervical, mas não afeta a morfologia nem o comportamento
do carcinoma in situ, que não apresentou progressão em 4 pacientes, comparadas com
10 controles. A agressão do parasita exógeno provoca principalmente cervicite e atinge
especialmente o epitélio escamoso, ao contrário dos agentes bacterianos que parecem
preferir o canal endocervical. ( 65 )
Ao exame histopatológico, o epitélio da ectocérvice apresenta intensa congestão
vascular com vasos evidentes ao nível das papilas e hemácias extravazadas, que são
características histológicas da presença das tricomonas e correspondem ao sinal clínico
da “cérvice em morango”. O epitélio apresenta-se descamado na superfície, recoberto por
exsudato purulento mas não são frequentes úlceras ativas. As células das camadas
subjacentes tem núcleo irregularmente aumentado, ou picnótico indicando necrose e por
vezes notam-se células bi-nucleadas. Em todas as camadas do epitélio há edema com
alargamento das pontes intercelulares, vacuolização intra-celular peri-nuclear com
aumento variável no volume do núcleo, e as células são permeadas por leucócitos. A
camada basal pode apresentar-se hiperplásica, com quatro, cinco ou mais fileiras de
células pequenas e irregulares atingindo até a metade do epitélio. Histologicamente
50
chama a atenção que a inflamação no epitélio é muito mais intensa que no estroma, mas
essas alterações histopatológicas não são exclusivas da infecção por T. Vaginalis, com
exceção da congestão vascular ao nível do epitélio. Na transição ecto-endocérvice, o
epitélio colunar pode estar completa ou parcialmente substituido por epitélio metaplásico
com graus variáveis de maturação; a metaplasia incipiente sem alterações nucleares é
frequente. A endocervicite com formação de projeções papilares na mucosa,
correspondendo à "erosão cervical" ou "eversão", associa-se à inflamação focal no
estroma e não, às tricomonas, ou ao processo inflamatório e congestão vascular cervical.
O parasita é raramente encontrado em meio ao exsudato na superfície epitelial. Em 32%
dos casos estudados por Koss e Wolinska ( 1956 ) as alterações histopatológicas eram
insignificantes ou ausentes. ( 65,98 )
1.6.3 -
Características citológicas da infecção por T. vaginalis:
O esfregaço citológico apresentou inflamação de maior ou menor intensidade em
76% dos casos, com PMN, histiócitos, plasmócitos, linfócitos, alterações das células
epiteliais escamosas, raramente das endocervicais, e presença das tricomonas. As
alterações das células epiteliais ou atipias, originam –se na superfície do epitélio
pavimentoso ou na portio, são representadas por: a) células com halo peri-nuclear e
núcleo picnótico correspondentes à vacuolização peri-nuclear vista no tecido; b)
eosinofilia de células superficiais que não atingiram a completa maturação e de células
intermediárias talvez devido à mudança do pH ou à congestão vascular; c) núcleos e
células escamosas discretamente aumentados de volume, cariorrexe e bi-nucleação. A
cervicite por tricomonas não causa discariose, ou seja, nenhuma alteração das células
escamosas preencheu
satisfatoriamente os critérios de discariose, definida como
alteração nuclear que se assemelha a câncer mas com citoplasma normalmente
diferenciado, ou, de acordo com Papanicolaou, o núcleo tem de estar aumentado,
hipercromático e apresentar cromatina anormal. A citólise associada à infecção por
51
Trichomonas vaginalis, em qualquer fase do ciclo menstrual ocorreu em 20% dos casos,
acompanhada de bacilos Gram positivos, o B. vaginalis; a citólise e o exsudato purulento
formavam o "esfregaço sujo". Koss e Wolinska ( 1959 ) consideraram possivel que a
frequência da citólise era devida à degeneração das células escamosas. Células para-
basais aumentadas em número, excediam os 5% de células escamosas jovens
descamadas fisiologicamente e que podem estar presentes no esfregaço da mulher em
idade reprodutiva ou pré-menopausa; as células para-basais ainda apresentavam pontes
intercelulares indicando que não houve morte celular antes da confecção do esfregaço e
são portanto, relacionadas com a descamação e regeneração do epitélio e não, com
alteração hormonal; essas células desaparecem após tratamento da infecção e
apresentam atipias menos frequentemente do que as células superficiais e intermediárias;
as atipias não são frequentes nas células endocervicais. (65,78 )
A pesquisa da flora bacteriana associada à T. vaginalis realizada em 75 casos por
Koss e Wolinska confirmou que o parasita é capaz de causar o processo inflamatório,
sem agir necessariamente em associação com outro agente bacteriano. Os autores
consideraram significativa apenas a associação com Staphylococcus aureus, em 6 casos.
Krieger et al. ( 1988 ) refere dados de co-infecção mais comum com Ureaplasma
urealyticum em 96%dos casos, Gardnerella vaginalis 91%, Mycoplasma hominis 89%,
BV 57%, Neisseriae gonorrhoeae 29% e Chlamydia trachomatis 15%. ( 65,67)
Com o follow-up, Koss e Wolinska verificaram que as atipias são reversíveis. Com
base em estudo de 66 casos de infecção por tricomonas e carcinoma in situ
concomitante, de 1953 a 1959 no mesmo hospital, e, em estudo experimental da infecção
em olho de coelho com lesão do cristalino, concluiram que é a lesão do epitélio
pavimentoso do trato genital feminino, inclusive o carcinoma in situ, que favorece a
multiplicação do parasita e não, o contrário. ( 65,67)
52
1.7 –
A VAGINITE POR CANDIDA E OS ESTUDOS DE IMUNOLOGIA DA
VAGINA:
Wilkinson, em 1849, foi quem primeiro descreveu o corrimento vaginal associado a
fungos. (104)
A vulvo-vaginite por Candida sp. (C V V ) é encontrada em todo o mundo,
conhecida como a causa mais comum de vaginite nos trópicos e atinge mulheres de
todas as camadas sociais com alta prevalência nas mulheres com menor nível sócio-
econômico. Nos EUA, a prevalência não é monitorada, mas C V V é a segunda causa de
infecção vaginal, precedida apenas pela BV. Hurley e De Louvois ( 1979 ) que
consideravam que a cândida nunca era um comensal, mas sempre um patógeno,
calcularam que 75% das mulheres tem pelo menos um episódio de C V V durante a vida
reprodutiva; 40 a 50% tem um segundo e provavelmente, 5% sofrem de episódios
repetidos, recurrentes, frequentemente intratáveis. (36,37,60,98,103 )
1.7.1 -
As formas clínicas da infecção e as espécies de cândida isoladas:
A CV V é classificada em primária ( idiopática ), secundária, e - com relação à
freqüência - em esporádica ou recurrente. Em 85 a 90% dos casos de C V V, a espécie
isolada com a cultura é a Candida albicans e nos casos restantes, são isoladas a
Torulopsis glabrata (C. glabrata), C. tropicalis, e raramente a C. guillermondii, C.
parapsilosis, C. krusei, C. kefyr (C. pseudotropicalis) e Saccharomyces cerevisiae. (
97,103 )
1.7.2 -
O desenvolvimento do fungo e a transformação da colonização em
doença:
A Candida sp. é um fungo polimórfico e suas formas fenotípicas representam fases
do seu desenvolvimento ou crescimento, que dependem das condições ambientais e
nutricionais. As fontes de contágio são a área peri-anal, boca, dedos, genitália masculina
53
e objetos como o diafragma. Os blastosporos são formas unicelulares e brotos do fungo.
A forma fenotípica filamentosa de blastoconídia, as pseudohifas, representam a
colonização assintomática ou são responsáveis pela transmissão e disseminação -
inclusive a disseminação hematogênica. O fungo germinado, com formação de micélio
ou hifa é a forma fenotípica de invasão tecidual, responsável pela doença sintomática.
Hifas são múltiplas unidades celulares divididas por septos e ramificam-se de outra hifa
ou por formação do tubo germinativo ( germ tube formation ), que é a germinação de
blastosporo. (97,103,104 )
A colonização da mucosa pode iniciar-se com um pequeno inóculo de 10
2
células /
ml, seguida da aderência da cândida ao epitélio, propriedade de virulência que é
relacionada com a manoproteína, uma proteína de superfície, e à produção de
fosfolipases. A aderência da C. albicans in vitro varia muito entre as pacientes mas a
ancoragem da cândida ao epitélio deve ser suficiente para que não seja deslocada pela
cinética do fluxo da secreção vaginal. Na colonização são encontrados esporos e pseudo-
hifas em pequeno número: <10
3
/ ml. Em seguida à ancoragem, ocorre a formação do
tubo germinativo, estágio intermediário entre pseudo-hifa e hifa, que in vitro aumenta a
capacidade de aderência e facilita a proliferação e a invasão da mucosa vaginal,
causando a doença. Acredita-se que a penetração do tubo germinativo na mucosa intacta
é facilitada por enzimas hidrolíticas, uma vez que foram isoladas de espécies de cândida,
várias proteinases ácidas, dependentes de pH, que são otimamente ativas no pH vaginal
normal de 4.0 a 4.5; no entanto não se sabe se o aumento da secreção dessas enzimas
proteolíticas é consequência da transformação das pseudo-hifas em hifas, ou se é um
fator independente, capaz de determinar qual paciente portadora assintomática irá ter
vaginite. A produção de toxinas não é comprovada. A cândida prolifera em uma larga
margem de pH e, no pH ácido, é capaz de proliferar em anaerobiose. ( 60,97,103 )
54
Nas pacientes sintomáticas, predominam as formas de tubo germinativo e hifa, em
número menor ou igual a 10
3
ou 10
4
/ ml; há aumento da atividade proteolítica e as
colônias tornam-se opacas ( switching colonies ) com a transformação do fungo, que se
torna mais virulento, característica que passa a ser hereditária. Sobel ( 1989 ) considera
que a germinação é o fator crítico de virulência na patogênese da vaginite por cândida.
De acordo com Rodgers e Beardall (1999 ) há 4 fatores que podem contribuir para a
virulência: 1) o uso de antimicóticos, que são mais fungostáticos que fungicidas e então
capazes de selecionar espécies resistentes de Saccharomyces cerevisiae, C. glabrata e
C. tropicalis, 2) a transição dimórfica da C. albicans do blastosporo a hifa, 3) as
expressões genotípicas e fenotípicas, que podem modificar a expressão dos antígenos de
superfície e escapar da vigilância imunológica e 4) a secreção de proteinase. (
60,97,103,104 )
É desconhecido o mecanismo, ou mecanismos pelos quais a colonização vaginal
assintomática - cujos dados de incidência variam largamente de 10 a 55% , com
concordância de 15 a 25% e história natural desconhecida - transforma-se em vaginite
sintomática. Considera-se que vários mecanismos envolvidos são dependentes do
hospedeiro e por isso as manifestações clínicas variam de eritema, prurido a exsudação.
Na vagina, a infecção é considerada hormônio-dependente porque pacientes na fase pré
pubertal e na pós-menopausa são mais resistentes. Os fatores do hospedeiro que
facilitam a colonização por Candida sp. ou a vaginite sintomática são: gravidez (aumento
de 30% na taxa de colonização), diabetes mellitus descompensado, anti-concepcionais
orais com alto conteúdo de estrógeno, terapia com corticóides, imunossupressores ou
infecção pelo HIV, terapia anti-microbiana local ou sistêmica (aumento de 10 a 30% na
taxa de colonização), roupas sintéticas apertadas, práticas higiênicas e aumento na
frequência do coito. Esses fatores alteram o microambiente vaginal e o pH, aumentando a
quantidade de nutrientes e alterando traços de metais como Zn, como também do CO
2
e
disponibilidade de O
2
. Os mecanismos naturais de resistência como a flora nativa e o
55
sistema imune da mucosa são removidos. A deficiência de Zinco é associada à
diminuição da imunidade celular. A falência na resposta dos linfoblastos aos antígenos da
Candida sp. é a alteração da imunidade celular mais comumente observada in vitro, na
infecção oral. Na vagina, os antibióticos de largo espectro eliminam a flora nativa que
normalmente representa uma resistência à colonização, p. ex. a interferência esteárica
dos Lactobacillus à aderência e formação do tubo germinativo da Candida sp., e a
alteração da flora modifica ainda a competição pelos nutrientes e a ação das
bacteriocinas. Na gravidez, o alto conteúdo de glicogênio é fonte de carbono para o
crescimento da Candida sp. e o estrógeno aumenta a avidez da célula epitelial. Admite-se
então, que a vaginite sintomática desenvolve-se sob a ação de fatores que exacerbam a
virulência da Candida ou é o resultado da perda dos mecanismos locais de defesa. (
60,97,103 )
A inflamação é devida à invasão direta do epitélio pelas hifas, o que é observado
in vivo, in vitro e com microscopia óptica e eletrônica. A microscopia eletrônica de
varredura mostra verdadeiros buracos no epitélio, causados pelas hifas, e também as
pseudo-hifas. A invasão dos tecidos provoca eritema, edema, descamação das células
epiteliais, e são vistos poucos leucócitos no Gram, gota a fresco e microscopia de
varredura, embora sejam encontrados leucócitos na lâmina própria com a biópsia. Sobel (
1989 ) descreve que a ausência de PMN é característica da vaginite por cândida: são
escassos nos esfregaços corados com o Gram, em solução salina e à ME, mas a biópsia
mostra leucócitos presentes na lâmina própria; Witkin (1991 ) também refere que os
leucócitos “são tipicamente ausentes”. Acredita-se que os PMN e monócitos tem papel
importante em limitar a infecção sistêmica e a invasão dos tecidos profundos pela
cândida, mas não influenciam a colonização, nem previnem a invasão superficial da
mucosa porque histologicamente, PMN e monócitos são escassos, no epitélio
estratificado dos humanos; os PMN concentram-se na lâmina basal, mas não parecem
apresentar quimiotaxia que os leve às camadas superficiais e a alcançar a secreção
56
vaginal. Linfócitos previnem a invasão da mucosa e as células T e macrófagos inibem a
proliferação da cândida e a formação do tubo germinativo. ( 97,123 )
Sobel ( 1989 ) refere ainda, que espécies de cândida podem também induzir á
inflamação exsudativa por hipersensibilidade ou reação alérgica, especialmente nas
pacientes com C V V recurrente idiopática e que talvez dependa do nível de IgE
específica anti-cândida, por hipersensibilidade adquirida, em que as manifestações
clínicas são mais evidentes na genitália externa. A infecção vaginal recurrente por
Candida (R V V C) é definida como 4 ou mais episódios sintomáticos, comprovados, por
ano, atribuídos mais à persistência da cândida do que re-infecção porque é encontrada a
mesma espécie em 25 a 50% das recidivas; também não é relacionada à infecção do
parceiro porque o tratamento do parceiro não reduz a taxa das recurrências.
(60,97,103,123 )
1.7.3 – Fundamentos básicos de imunologia da vagina e a contagem de
leucócitos:
A imunologia da vagina despertou o interesse dos pesquisadores desde que se
procura explicar como o sêmen infectado pelo vírus HIV depositado na vagina, infecta os
linfócitos da mulher. A vaginite por Candida sp. por sua vez, é mais frequente em
pacientes em uso de corticoterapia ou com AIDS, e outras infecções por cândida, como a
oral, aparece em pacientes debilitados, com a imunidade celular deprimida ou
imunossuprimidos, caracterizando a Candida sp. como um patógeno oportunista típico.
(103,124 )
O conhecimento que se desenvolve atualmente sobre os componentes imunes que
agem na vagina e sobre o transporte de macromoléculas através do epitélio, tomam por
base a ultra-estrutura da vagina humana descrita por Burgos et al. (1978) que
estabeleceram definitivamente que o epitélio é composto por cinco camadas: superficial,
transicional e intermediária, com dez fileiras de células cada uma e as camadas
57
parabasal e basal com uma ou duas fileiras de células que se apoiam sobre a lâmina
basal ou membrana basal. O epitélio é permeado por uma rede de canais intercelulares
por onde macromoléculas, fluidos e células migram da lâmina basal para o lúmen vaginal
ou no sentido contrário. Na lâmina basal estão presentes macrófagos, linfócitos,
plasmócitos, células dendríticas ou células de Langhans, eosinófilos e mastócitos;
raramente há polimorfonucleres neutrófilos - PMN. A mucosa vaginal é então constituida
pelas células epiteliais, células dendríticas tipo Langhans, macrófagos e células T, e
acredita-se que a vagina é um compartimento celular imunocompetente independente da
imunidade sistêmica.. O ciclo menstrual influencia os canais epiteliais e a concentração
de linfócitos, que são as principais células que migram pelos canais, em maior número na
fase luteínica, mas estão presentes no lúmen vaginal apenas durante a menstruação; as
células de Langhans e os macrófagos também migram pelos canais. (60,97,103,124 )
Hill e Anderson (1992) quantificaram os leucócitos CD45, CD2, CD3, CD4 e CD8
em amostras padronizadas com <2 x 10
4
leucócitos /mm, obtidas de 5 mulheres normais
durante três ciclos consecutivos, após 48 horas de abstinência sexual, em um total de 60
amostras e concluíram que os leucócitos, incluindo linfócitos e macrófagos, não são
frequentes na secreção cérvico-vaginal normal da mulher, exceto durante a menstruação.
Os achados das 60 amostras indicaram que: a) o aumento do número de leucócitos
vaginais é consideravelmente >2 x 10
4
/ mm apenas durante a menstruação, menor na
fase proliferativa do ciclo menstrual e constituidos por numerosos macrófagos e
granulócitos, que são abundantes no endométrio humano, mas há poucos LT, LB ou
plasmócitos; b) na fase peri-ovulatória e secretora há < 10
4
leucócitos; c) poucos
linfócitos foram encontrados em qualquer estágio do ciclo menstrual; d) o lavado
menstrual e da fase proliferativa mostrou os mesmos tipos de células, em número
relativamente baixo e quase nenhum LB, que foram considerados leucócitos residuais.
Em condições fisiológicas, o pH baixo inibe a função de defesa dos linfócitos mas não
58
tem nenhum efeito na fagocitose dos macrófagos, indicando que os fagócitos
provavelmente tem papel ativo na defesa do hospedeiro no ambiente vaginal; a ativação
e proliferação dos linfócitos é suprimida durante a menstruação, no meio do ciclo e após o
coito. Witkin ( 1993 ) refere que o sêmen induz a grande aumento na concentração dos
LT, macrófagos e PMN na cérvice, que migram para a vagina após o coito e, por sua vez
o sêmen contém LT CD4, CD8, e células γ δ, capazes de ativar a imunidade celular na
vagina e aumentar a concentração local de citocinas e linfócitos vaginais; 4 horas após o
coito, a proliferação dos linfócitos é suprimida.( 56 ).
Infecções comuns ( com exceção da BV ), também resultam em acúmulo de
macrófagos, linfócitos e granulócitos no lúmen vaginal, durante todos os estágios do ciclo
menstrual, conhecimento que é ainda fragmentado, mas vem despertando interesse
porque o pH vaginal nas infecções e o aumento do número das células infectadas e
infectáveis representam alto risco para o HIV. Na infecção por fungos, Hill e Anderson
(1992 ) detectaram 2 a 3 x 10
5
leucócitos nas fases proliferativa e peri-ovulatória,
constituidos em sua maioria por macrófagos e granulócitos; foram detectados linfócitos
CD4, linfócitos com receptor de Il-2, poucos CD8 ( >10
4
) supressores / citotóxicos e
nenhum LB; com uma semana de tratamento, desapareceram os leucócitos e as hifas.
(56,97,103,110 )
1.7.4 -
A imunidade humoral na cérvice e vagina:
Rodgers e Beardall (1999) referem que os mecanismos protetores vaginais contra os
patógenos são: a imunidade da mucosa, o ciclo menstrual, as secreções
reprodutivas bio-ativas, o pH baixo e os produtos metabólicos dos organismos
comensais. Considera-se como primeira linha de defesa, a imunidade local da mucosa
cervical, capaz de produzir grande quantidade de IgA. A mucosa vaginal não tem
glândulas nem epitélio secretor, o que não sugere que haja resposta imune local. No
entanto, a presença de anticorpos IgG, de linfócitos e plasmócitos produtores de IgA na
59
lâmina basal, de IgM na inflamação aguda e também a presença dos canais que dão
acesso ao lúmen, sugerem que a vagina é capaz de efetuar uma resposta localizada com
anticorpos, permitindo que uma inflamação seja induzida na própria mucosa vaginal. IgG
na secreção vaginal é um transudato do soro, enquanto que IgA é principalmente
produzida no trato genital. Quando há a presença de alérgenos no lúmen vaginal, ou de
antígenos da cândida, sua passagem pelos canais e sua ligação com IgE específica dos
mastócitos na lâmina basal libera histamina, que induz à liberação de PGE 2 dos
macrófagos; a PGE 2 bloqueia a ativação dos linfócitos por inibição da Il-2, o que pode
explicar a vaginite alérgica na mulher suscetível. Anticorpos anti-Candida albicans IgA e
IgG são encontrados no soro de 20 a 64% dos adultos normais, originados de outros
órgãos além da vagina, podendo atingir o lúmen vaginal por difusão ou mecanismo de
transporte dependente de receptor Fc. A ligação de IgA e IgG a espécies de cândida
podem reduzir a aderência e prevenir a invasão, mas não parecem prevenir níveis baixos
de colonização. Não são, portanto, anticorpos protetores, nem há aumento da incidência
da vaginite por cândida nas mulheres com deficiência da imunidade humoral; ao contrário,
há aumento da prevalência quando há deficiência da imunidade celular. (97,103 )
1.7.5 -
A imunidade celular na defesa do hospedeiro na vagina:
A imunidade celular é promovida por células mononucleares e linfócitos, incluindo
células T citotóxicas, natural killer, macrófagos e os mecanismos de defesa mediados
pelos granulócitos. Células T citotóxicas são CD8, ligam moléculas MHC classe I e
eliminam células que contém micróbios enquanto que células T-helper são CD4, ligam
moléculas MHC classe II e ajudam a ativar respostas de outros leucócitos e macrófagos,
através de medidores linfocinas, interleucinas e citocinas. ( 97,123,124,125 )
As células de Langhans, a função dos linfócitos γ δ, das proteínas de stress, da
PGE 2, IFN γ e β-endorfinas são consideradas por Witkin ( 1991,1993 ) como achados
60
importantes para o conhecimento da imunologia da vagina e da infecção por C. albicans.
(123,124 )
a) As células dendríticas de Langhans, presentes no epitélio e na lâmina própria da
vagina e da cérvice, fazem parte do conjunto de células apresentadoras de antígeno
que são derivadas da medula óssea e ativam linfócitos T-helper; acumulam-se no
foco inflamatório de modo semelhante aos macrófagos mas a população de células
dendríticas e de macrófagos na vagina é ainda desconhecida. As células de
Langhans expressam receptores Fc para IgG e C3 e antígeno de
histocompatibilidade classe II, o HLA-DR. O HLA-DR permite à célula de Langhans
apresentar antígenos ao LT-helper e iniciar a resposta imune; a ativação inicial da
célula T, por sua vez, geralmente ocorre quando se reconhece um peptídio estranho
á molécula MHC, na superfície da célula-alvo - uma célula apresentadora de
antígeno. Experimentalmente as células de Langhans são capazes de absorver
proteínas exógenas administradas intra-vaginalmente e é possível que possam
transportar antígenos para os linfonodos regionais e aí funcionarem como células
apresentadoras de antígeno. ( 97,124 )
b) Os LT γ δ migram através do epitélio na vagina de ratas e a maioria das células Tγ δ
associa-se às células da camada basal, indicando que tenham função imune na
vagina; na mulher, sua concentração é menor que nas ratas. Os linfócitos γ δ que tem
receptor de célula T (TCR) composto de cadeia α e cadeia β são diferentes da maioria
dos LT circulantes, 95% dos quais possuem receptor de antígeno na superfície de
cadeia α ou β e são LT αβ (principal alvo do HIV). A maioria dos Lγ δ não tem
moléculas de superfície CD4 e CD8 co-receptoras de células T necessárias para a
adesão e ativação, no que diferem dos L αβ mas são CD3, no que são semelhantes
aos Lαβ; porque não são nem CD4 nem CD8, só reconhecem antígenos
apresentados ou fragmentos antigênicos processados e não são células líticas,
61
capazes de responder a substâncias tóxicas e produtos bacterianos e virais; porque
são CD3 são capazes de transmitir sinal, mesmo sem contato com o antígeno.
Embora a função dos LT γδ seja ainda pouco conhecida, os estudos vem sugerindo
que promovem uma primeira linha de defesa contra as infecções na mucosas, com
função de imunovigilância da superfície epitelial, sendo capazes de reconhecer
mínimas alterações específicas na superfície das células epiteliais, mais do que os
antígenos dos numerosos agentes microbianos; in vitro podem proliferar, liberar
citocinas e ativar os Lαβ. Essa função de imunovigilância das mucosas pelas células
γδ provavelmente está ligada ao reconhecimento dos determinantes antigênicos das
proteínas de stress, antes denominadas proteínas de choque térmico (heat shock
proteins ), produzidas tanto por células de mamíferos como de bactérias que alteram
sua expressão gênica quando há ameaças à sua vitalidade no meio ambiente. Em
laboratório, nota-se aumento da temperatura de incubação antes da produção das
proteínas durante o stress. Os microorganismos comensais da pele e mucosas
mantém resposta imune potente à proteínas de stress. A infecção nos mamíferos,
com a indução de febre e fagocitose, provoca a síntese preferencial das proteínas de
stress em muitas bactérias e como consequência, a maioria dos humanos torna-se
sensibilizada cedo, na vida. A capacidade de resposta, reconhecimento dos epítopos
e a extensão da resposta às proteínas de stress são determinadas geneticamente e
sequências de aminoácidos homólogos nas células de mamíferos e bactérias podem
ser compartilhados em até 50%. Há hipótese de que as células γ δ tem capacidade
de responder a qualquer infecção, sem a necessidade de reconhecimento de
antígenos específicos e, nas infecções por patógenos intra-celulares, podem
reconhecer proteínas de stress produzidas pelo hospedeiro. As células γ δ ativadas
também produzem citocinas e recrutam fagócitos e células αβ para o local da
inflamação. No epitélio vaginal após infecção, muda a quantidade e as condições de
62
ativação das células γ δ em relação a diferentes patógenos, mas são ainda
desconhecidas a sua capacidade de reconhecer proteínas de stress locais e a
expressão destas proteínas pela microflora ou pelos patógenos vaginais. ( 123,124 )
c) Nas mulheres assintomáticas, em que a cândida existe na vagina como comensal,
o seu número é limitado pela imunidade celular e provavelmente por outros
microorganismos e seus produtos. A C. albicans difere assim das bactérias, cujo
número é regulado tanto pela imunidade humoral, como pela imunidade celular.
Macrófagos e linfócitos T são as células que regulam o crescimento da cândida na
vagina. A prostaglandina E2 ( PGE 2 ) liberada pelos macrófagos e o interferon
gama ( IFN-γ ) pelo LT-helper ( Th1 ) atuam na proliferação e morfogênese da C.
albicans. A PGE 2 é um imunossupressor potente, age sobre o LT-helper
aumentando o AMP-cíclico intra-celular, que estimula a proliferação do tubo
germinativo, e também inibe a produção de Il-2, suprimindo a proliferação dos LT -
isso representa a fase de sensibilização. Na presença de PGE 2 - é o IFN-γ produzido
pelo LT-helper que inibe a formação do tubo germinativo. Por outro lado, a
fagocitose da cândida pelos macrófagos desloca os antígenos da sua superfície, que
são conjugados com os antígenos de histocompatibilidade classe II; o LT-helper
reconhece o complexo antigênico na membrana do macrófago, é ativado e produz
IFN-γ ; o IFN-γ induz a fagocitose mais eficiente e induz o macrófago a liberar Il-1, o
que estimula o LT-helper a liberar Il-2 - o maior estimulador da proliferação dos LT.
Desse modo, quando há imunossupressão dominada pela PGE 2, a capacidade dos
macrófagos e LT de inibir o crescimento da cândida é
limitada; quando há ativação da
imunidade celular, aumenta a concentração local de IFN-γ e a sua capacidade de
eliminar a cândida é máxima. ( 123 )
c) Algumas evidências indicam ainda, a ação do neuropeptídio β-endorfina, produzido
pela hipófise anterior principalmente em condições de stress. A β-endorfina é um
63
imunomodulador que se liga a receptores de superfície do LT e dos macrófagos,
ligação que induz à produção de PGE 2 e inibe a síntese de IFN-γ.
Experimentalmente, concentrações fisiológicas de β-endorfina aumentam em até
160% em duas horas, a formação do tubo germinativo, somente em mulheres que
ovulam. Além disso, a β-endorfina exerce seu efeito neurológico através de
receptores opiáceos que provavelmente são semelhantes aos receptores de β-
endorfina da C. albicans, sugerindo que um microorganismo unicelular eucariótico
tenha capacidade de comunicar-se diretamente com o sistema nervoso e com o
sistema imune dos humanos. A C. albicans pode desenvolver essa capacidade e
possui ainda receptores que reagem com os hormônios esteróides em resposta às
variações endócrinas. ( 123 ).
A hipótese de Witkin de que a redução da reatividade dos linfócitos T aos antígenos
da cândida resulta do bloqueio da proliferação dos linfócitos por inibição da produção
de Il-2, devido à ação da PGE 2 dos macrófagos, necessita ser confirmada.
Anticorpos IgE ou um fator sérico seriam os responsáveis pela função anormal dos
macrófagos. Outros autores como Wormley et al. ( 2001 ) salientam que a imunidade
celular mediada pelos LT-helper do tipo 1 ( Th1 CD4 ) é a principal defesa contra a
infecção mucosa por cândida. Células Th1 secretam Il-2, Il-12, INF-γ e atuam auxiliando
células T citotóxicas e macrófagos. Admite-se que a resposta imune local
depende mais da ativação das células T residentes dispersas na mucosa, do que da
circulação de células sistêmicas efetoras CD3 e CD25 drenadas dos gânglios
linfáticos para a vagina e requer adesão regulada e sequenciada aos receptores
selectinas e integrinas expressos nos sítios de deposição de antígeno durante a
inflamação. Os estudos experimentais sobre a infiltração de células T sistêmicas
provenientes dos gânglios linfáticos na infecção por Candida albicans não são
conclusivos. As α e β integrinas são importantes na infiltração dos linfocitos do trato
64
genital em resposta á infecção por Chlamydia trachomatis, mas, na infecção experimental
por Candida albicans, a resposta dos LT residentes e do endotélio vaginal é modesta e
insuficiente para ter algum efeito na infecção, talvez pela tolerência à cândida como
comensal. ( 49,103,105,123,124 )
1.7.6 -
A relação entre a imunidade celular e o ciclo hormonal:
A resposta imune celular é considerada o maior mecanismo de defesa contra a
infecção sistêmica ou mucosa por Candida sp. Os canais inter-epiteliais tornam o epitélio
vaginal permeável a proteínas com diferentes pesos moleculares e então, antígenos
solúveis podem estimular as células de Langhans, apresentadoras de antígeno e capazes
de estimular os LT residentes na sub-mucosa a migrar para a superfície epitelial em
resposta a fatores quimiotáticos. Na mulher, observa-se que a incidência de vaginite por
cândida é mais comum na fase luteínica pré-menstrual; Witkin ( 1991 ) refere um estudo
com três mulheres normais em que a resposta imune celular durante a fase luteínica foi a
mais baixa e a capacidade do soro em favorecer a indução do tubo germinativo foi a mais
alta; estudos subsequentes mostraram que os níveis de progesterona da fase luteínica
(25ng / ml ) inibem a proliferação de linfócitos induzida pela cândida 50% mais do que
com níveis de progesterona da fase proliferativa ( 0,15 ng / ml ). Os níveis de estrógeno
não inibiram essa proliferação nem na fase proliferativa, nem na fase luteínica, mas talvez
haja relação do estrógeno com a diminuição do número de macrófagos vaginais. A
inibição da proliferação dos linfócitos mediada pela progesterona parece ser dependente
dos macrófagos porque a resposta dos linfócitos é normal quando os macrófagos são
removidos. A resposta imune à Candida albicans e também o desenvolvimento do fungo
com a sua transformação em tubo germinativo são influenciados pelas condições
hormonais da paciente, entretanto, há falta de uma resposta imune realmente protetora,
capaz de evitar as recidivas e recurrências. (123,124)
65
1.8 - O ACHADO DE CLAMÍDIA NO ESFREGAÇO CÉRVICO-VAGINAL
Reconhecida em 1957, como agente etiológico de infecção no récem-nascido,
infecção cervical da mãe e uretrite não-gonocócica do pai, a clamídia foi detectada com a
coloração de Papanicolaou em 1970, por Naib, em esfregaços da conjuntiva e do colo
uterino. Naib verificou a presença de vacúolos peri-nucleares com 0,5 a 3,0 um contendo
inclusões, além de inflamação, e denominou os microorganismos agentes TRIC
(trachoma-inclusion conjuntivitis ), atualmente conhecidos como Chlamydia trachomatis,
microorganismo sexualmente transmissível. Há apenas mais duas espécies: C.
pneumoniae e C. psittaci, não sexualmente transmissíveis.( 16,48,55 )
1.8.1 -
Principais características da clamídia e do seu ciclo reprodutivo:
A clamídia é o único patógeno que apresenta características tanto de vírus como de
bactéria. Possui genoma circular que se assemelha a cromossomo bacteriano. Nas
espécies de clamídia faltam os mecanismos de produção de energia metabólica, por isso
não produzem ATP e dependem da energia fornecida pela célula do hospedeiro - é um
parasita intra-celular obrigatório, multiplicando-se no interior da célula. A infecção e o
ciclo reprodutivo inicia-se com o corpúsculo elementar, que é a partícula infectante
estável, medindo 0,3 um, contendo um nucleóide eletron-denso e adaptada à existência
extra-celular devido à sua parede rígida e resistente, semelhante à das bactérias Gram
negativas, pelo conteúdo lipídico, mas constituída também por glicosaminoglican, que é
responsável pela sua aderência à célula do hospedeiro. Em seguida à aderência ao
receptor de membrana, a partícula é fagocitada mas não há fusão com os lisossomos da
célula do hospedeiro e, no fagossomo, em 6 a 8 horas, o corpúsculo elementar é re-
oorganizado, transformando-se em corpúsculo reticulado sem nucleóide e maior,
com 0,5 a 1,0 um de diâmetro, que é a forma metabolicamente ativa e infectante.
Acredita-se que o corpúsculo reticulado utiliza as mitocôndrias da célula do hospedeiro
66
para a síntese de DNA, RNA, proteínas e glicogênio. No vacúolo, aumenta de tamanho,
multiplica-se por divisão binária, formando em algumas horas, a colônia de novos
corpúsculos elementares ou corpúsculos iniciais, que aparece como inclusão no
interior do vacúolo, aumentado de volume para acomodar o maior número de
organismos no seu interior, em meio a matriz de carbohidrato. O ciclo se completa em
24 a 48 horas, a multiplicação cessa e as partículas vão ser liberadas com a rutura do
vacúolo para infectar novas células e recomeçar o ciclo. Tanto DNA como RNA estão
presentes nos corpúsculos elementares e reticulares; os corpúsculos elementares contém
igual quantidade de DNA e RNA, com quase todo o DNA concentrado no nucelóide e
maior quantidade de RNA nos ribossomos. Os corpúsculos elementares coram-se com o
Giemsa em vermelho ou púrpura e os reticulares em azul. Massas de corpúsculos
elementares tendem a ser maiores e granulares, as de corpúsculos iniciais aparecem
homogêneas e uniformes e são comuns as inclusões contendo os dois tipos de partículas.
O acúmulo de glicogênio da matriz de carbohidrato da C. trachomatis cora-se pelo lugol.
A clamídia é rapidamente inativada pelo calor, perdendo completamente o seu princípio
tóxico a 60ºC durante 10 minutos, mas se mantém infectante até a –70ºC ou –50ºC
durante anos; não são afetadas pela luz ultra-violeta e são resistentes à dessecação. (
16,48,55 )
1.8.2 - Os achados do exame citológico na infecção por clamídia:
Gupta et al, em 1979, demonstraram a presença de inclusões citoplasmáticas do
tipo I, II e III em células cervicais exfoliadas e relacionou as inclusões com os estágios da
infecção. Denominou a inclusão do estágio inicial, “corpos cocóides” ou do tipo I,
encontrada em meio ao citoplasma de aspecto poroso, e com tendência a se localizar
na região peri-nuclear; a inclusão do tipo II constituida por vacúolo de 2 u de diâmetro,
único ou múltiplo, com borda bem definida e condensação basofílica ou eosinofílica
central circundada por halo claro; a inclusão do tipo III foi relacionada com o estágio final,
67
quando os vacúolos intra-citoplasmáticos tornavam-se relativamente maiores
apresentando condensação homogênea central e halo periférico, com aspecto de alvo,
distendendo o citoplasma e deslocando o núcleo para a periferia. Nem Naib nem Gupta
utilizaram os termos “corpúsculos elementares” e “corpúsculos reticulares”. Em 1985,
Shiina descreveu as inclusões de modo mais compreensível em 5 tipos: dois tipos de
inclusão em alvo, uma com formação de alvo central granular ( GCTF) e a outra com alvo
homogêneo ( HCTF ); dois tipos de grandes vacúolos com parede nítida e espessa,
contendo inclusões múltiplas- a inclusão eosinofílica ( EI ) e a inclusão hematoxilinofílica
(HI); o quinto tipo foi denominada por Shiina, inclusão nebular ( NI ), a qual não distendia
o citoplasma, mas foi a única que apresentou coloração positiva para Chlamydia
trachomatis. Em l993, Henry et al. do National Naval Medical Center em Bethesda,
constataram, com microscopia eletrônica em estudo de 15 pacientes positivas com
ELISA, o conteúdo de numerosas clamídias nas inclusões do tipo nebular e, nas demais
inclusões, apenas material amorfo ou estruturas semelhantes a microvilos. ( 48,55 )
No esfregaço citológico também são descritas a inflamação com neutrófilos, ou
cervicite muco-purulenta ( MPC ), histiócitos, linfócitos, e a metaplasia, atipias ou NIC. Os
estudos em geral, falham em correlacionar as inclusões citoplasmáticas com infecção por
clamídia comprovada pelos métodos de diagnóstico. Kiviat et al. ( 1985 ) correlacionando
o exame citológico e a cultura de 77 casos de infecção por C. trachomatis verificaram
que a maioria dos vacúolos não contém inclusões, que devem ser diferenciados os
vacúolos degenerativos e que são encontradas inclusões em pacientes sem infecção por
C. trachomatis. Em estudo subsequente, as inclusões foram identificadas por
imunofluorescência em apenas ¼ das pacientes infectadas, representados por
corpúsculos elementares extra-celulares. De acordo com esses autores, as únicas
alterações epiteliais associadas com clamídia são a metaplasia reativa e atípica,
alterações reativas das células endocervicais, e que devem ser observadas as seguintes
características da inflamação: a) a presença de linfócitos transformados ( imunoblastos e
68
células dos centros germinativos ) no muco cervical, que foram quantificados de 0 a 10
com aumento de 400 vezes em pelo menos três campos adjacentes, acompanhados de
linfócitos, histiócitos e plasmócitos; b) a presença de aumento do número de neutrófilos
quantificados de 0 a 3+ até quando mais de 50% das células epiteliais estavam
obscurecidas pelos PMN, em combinação com outras células inflamatórias ou MPC; c) a
presença de 30 ou mais histiócitos com aumento de 400 vezes em pelo menos três
campos adjacentes. Esses achados podem guiar o ginecologista ou o citopatologista na
escolha de testes mais específicos para infecção; além disso a publicação refere que a
relação entre a colposcopia, citologia e cultura não foi avaliada. Há outras citações, de
persistência de vascularização aumentada e eritema na zona de transformação após
tratamento, epitélio imaturo ou presença, na biópsia, de cervicite folicular com focos de
infiltrado linfocitário e centros germinativos, o que nem sempre é confirmado. ( 23,55,63 )
1.8.3 -
A infecção por clamídia, suas formas clínicas, imunobiologia e a
pesquisa de uma vacina:
A infecção cervical por Chlamydia trachomatis tem ocupado espaço na literatura
médica por ter superado o número de casos novos de infecção por Neisseriae
gonorrhoeae e por atingir mulheres jovens, especialmente associada a ectrópio porque
ambas tem afinidade pelo epitélio colunar. Nos países industrializados, a N. gonorrhoeae
pode ser isolada de 0,7 a 6% de todas as mulheres sexualmente ativas, em idade
reprodutiva e aproximadamente ¼ das mulheres com cultura positiva para o gonococo
tem também cultura positiva para clamídia. Nos países industralizados, a C. trachomatis
pode ser detectada no colo uterino através de cultura, em 5 a 15% de mulheres
assintomáticas em idade de reprodução e em 4 a 20% de todas as gestantes; outras
referências apontam incidência variando de 8 a 40% . Calcula-se ainda, que 40% dos
casos de salpingite aguda nos Estados Unidos e 60% dos casos de doença inflamatória
pélvica na Suécia são causados por C. trachomatis, a qual parece ter a mesma
69
virulência que o gonococo quando atinge a trompa; a salpingite por clamídia é
praticamente sempre precedida por cervicite, ou por endometrite, muitas vezes
assintomáticas. Henry et al. (1993 ), em 11 de 15 pacientes, e Cavaliere et al. ( 1993 )
em São Paulo, verificaram a associação da infecção cervical por C. trachomatis com
outras infecções sexualmente transmissíveis, este em 123 de 130 pacientes estudadas,
10 com infecção concomitante por HPV. ( 22,23,48,55 )
A Chlamydia trachomatis é implicada como causa de cervicite muco-purulenta,
uretrite em ambos os sexos, bartolinite, linfogranuloma venéreo ( predominantemente
masculino ), DIP não gonocócica causada por clamídia - endometrite e salpingite com
risco de gravidez ectópica pela formação da cicatriz pós-infecciosa, além do risco de
morbidade e mortalidade peri-natal. O récem-nascido adquire a infecção durante a
passagem pelo canal de parto, 15 a 20% manifestam a conjuntivite de inclusão, parecida
com tracoma mas se resolve em uma a duas semanas; 10 a 20% dos recém-nascidos
manifestam comprometimento do trato respiratório. Um aspecto que chama a atenção na
infecção genital, é que frequentemente se estabelece um equilíbrio entre o hospedeiro e a
clamídia, cujo resultado é a persistência e maior duração da infecção, que se torna
crônica e com manifestações sub-clínicas. Altos títulos de anticorpos produzidos pelo
hospedeiro podem ser detectados e permanecem elevados, mas não significam
imunidade adquirida uma vez que pode ocorrer re-infecção, e, a presença dos
anticorpos também pouco se relaciona com a presença das inclusões. A soronegatividade
ajuda a excluir uma infecção genital, mas a frequência de soropositivos é tão alta, que
raramente a determinação dos títulos de anticorpos tem valor na clínica ginecológica.
Outro aspecto da infecção genital envolve a transmissão entre os parceiros: no homem, a
clamídia é a primeira causa de UNG, responsável por cerca de 40% dos casos, seguida
pela N. gonorrhoeae e U. urealyticum e pode ocorrer UNG por clamídia associada ao
ureaplasma. Brunham et al. ( 1984 ) referem que a prevalência de C. trachomatis é maior
70
nas mulheres com cervicite muco-purulenta do que nos homens com uretrite não
gonocócica.( 16,18,19,23,48,55 )
A pesquisa de uma vacina contra a clamídia em modelos animais vem contribuindo
para a compreensão da patogênese e imunobiologia da doença. O recrutamento precoce
de células dendríticas e LT-helper tipo 1 -Th1, para dentro da mucosa genital é
observado na fase aguda e é decisivo para atenuar a infecção, evitando a doença
inflamatória pélvica e suas complicações. Como a clamídia é um parasita intra-celular, os
estudos que procuram esclarecer o papel da interação linfo-epitelial vem mostrando que a
interação de Th1 com células infectadas e não infectadas ocorre via moléculas de
superfície incluindo o produto dos gens dos complexos de histocompatibilidade,
adressinas, co-receptores e co-estimuladores das moléculas de adesão. As moléculas de
adesão ICAM-1, 2, 3 funcionam in vitro: a) na apresentação de antígeno, b) na ativação
das células T, seu recrutamento e retenção nos tecidos e c) na citotoxicidade. Essas
funções dependem da interação com receptores -integrinas, o principal deles é o
antígeno de função leucocitária, LFA-1, o que ocorre na defesa e em condições
patológicas; ICAM-1 apresenta a mais alta afinidade pelo LFA-1. Células dendríticas
móveis transportam antígeno através do epitélio estratificado da vagina e cérvice até os
sítios de indução imune da mucosa e tem a capacidade de ativar a resposta primária das
células T, especificamente Th1 contra vários antígenos, incluíndo Ag anti-clamídia. A
apresentação dos antígenos ao LT após a infecção, é associada ao aumento da
expressão de ICAM-1 pelas células dendríticas levando à rápida ativação de Th1 e
diminuindo a multiplicação da clamídia. Os Th1 por sua vez, secretam INF-γ que induz a
expressão de ICAM-1 nas células epiteliais, aumentando a interação entre o epitélio e os
LT. In vitro, o aumento da expressão de ICAM-1 pelas células em alvo infectadas por
clamídia, aumenta a sua lise por LT CD8 específicos e células T citotóxicas. Entretanto,
as flutuações hormonais do ciclo menstrual, que afetam a espessura do epitélio, a
71
distribuição de células dendríticas e a atividade endocítica das células epiteliais,
suprimem a expressão de ICAM-1 e retardam a ativação de Th1, comprometendo a
eficácia das vacinas. ( 61)
1.8.4 -
Os métodos de diagnóstico da infecção genital por clamídia:
Os microorganismos clamídia apresentam antígeno compartilhado gênero-
específico e os anticorpos contra esses antígenos podem ser detectados por fixação do
complemento, ou mais comumente na prática, por imunofluorescência direta ( IF ou DFA).
Apresentam ainda, antígenos espécie-específicos ( serovar specific antigens ), também
detectáveis por imunofluorescência e uma clamídia pode apresentar vários desses
antígenos espécie-específicos. Já foram identificados 15 antígenos espécie-específicos
de C. trachomatis: A, B, Ba e C, associados com tracoma endêmico; D e K associados
com a infecção sexualmente transmissível; L1 ,L2 ,L3 associados com linfogranuloma
venéreo. A cultura em células de Mc Coy também demonstra replicação diferente da
Chlamydia trachomatis isolada dos três tipos de doenças e é o método gold standard para
diagnóstico, embora complexa e cara. A detecção dos antígenos espécie-específicos por
imunofluorescência , de material da conjuntiva e do colo uterino utiliza anticorpo
monoclonal para o componente proteico da membrana da clamídia e é um dos métodos
comercialmente disponíveis, com resultados referidos como semelhantes ao da cultura,
com 80 a 90% de sensibilidade e 98 a 99% de especificidade. Outro método
comercialmente disponível é a detecção dos antígenos lipopolissacarídios gênero-
específicos do corpúsculo elementar com o teste ELISA ( enzyme-linked
immunoabsorbent assay – EIA ou Chlamydiazyme ), com sensibilidade referida de 60%
ou 80 a 95% e especificidade 98 a 99%. Há ainda, os métodos baseados na detecção de
ácidos nucleicos por hibridização, teste de imunoperoxidase, PCR, LCR ( em amostras de
urina ou para detectar gonococo e clamídia em uma mesma paciente ) que parecem
72
apresentar especificidade próxima de 100%, mas não tem definição da sensibilidade. (
16,55,115 )
A utilidade do teste de Papanicolaou para diagnosticar clamídia varia nas avaliações de
diferentes autores, desde insensível a útil, contanto que sejam considerados os critérios
morfológicos para infecção por C. trachomatis e a presença de células endocervicais no
esfregaço. A sensibilidade do Pap-teste é referida de 5,3 a 38% ou até 95% e a
especificidade de 4,5%, 75%, ou até 95,5%. Campos et al,1989, em São Paulo,
encontraram índice de positividade de apenas 0,13% (40 casos de 30.000 amostras) e
descreveram as alterações citológicas atribuíveis à clamídia; esse índice varia na
literatura internacional de 8 a 43,8%. Em 1991, o Sistema Bethesda eliminou a Chamydia
trachomatis do seu léxico, considerando que a reduzida exatidão do diagnóstico deste
microorganismo com o exame citológico já é reconhecida, mas o citopatologista não fica
impedido de registrar o achado, se assim decidir. ( 19,22,23,48,83,117 )
1.9 - O SISTEMA BETHESDA – TBS
O workshop promovido pela Early Branch and the Cytopathologic Section of the
National Cancer Institute dos Estados Unidos da América do Norte, em Bethesda,
Maryland, em 1988 e 1991, originou o The Bethesda System – TBS, o Sistema Bethesda.
A primeira conferência realizada em 12 e 13 de dezembro de 1988 estabeleceu que era
necessário padronizar a terminologia citológica e uniformizar o formato do laudo do
esfregaço de Papanicolaou, para melhorar a comunicação com o clínico e fornecer as
informações importantes por meio de terminologia padronizada. Os participantes
aprovaram unanememente três normas: a) o exame citopatológico é uma consulta
médica; b) as classes de Papanicolaou não são mais aceitáveis por não comportar os
conhecimentos da citopatologia moderna; c) o TBS é um guia para o exame
citopatológico das amostras cérvico-vaginais. Um dos resultados mais importantes do
TBS 1988 foi a inclusão da avaliação da amostra no laudo, e o Sistema Bethesda
73
introduziu também as novas especificações: Alterações reativas, Alterações celulares
benignas, (BCC) Anormalidades nas células epiteliais, Atipia de células escamosas de
significado indeterminado –ASCUS, Atipia de células glandulares de significado
indeterminado –AGUS, Lesão escamosa intra-epitelial –SIL, Lesão escamosa intra-
epitelial de baixo grau LSIL ou LGSIL, Lesão escamosa intra-epitelial de alto grau- HSIL
ou HGSIL. ( 102,109,117 )
A nova terminologia causou tamanho impacto, que tornou necessária uma
segunda conferência, realizada em 29 e 30 de abril de 1991. Foram convidados 182
citopatologistas, citotecnologistas e ginecologistas, na sua grande maioria norte-
americanos e canadenses, que discutiram a experiência prática com o TBS, para que
fosse feita a re-avaliação e revisão da classificação aceita na primeira conferência. Quase
todos os participantes apoiaram a nova terminologia e por unanimidade, foram aprovadas
a avaliação da amostra e a redução das alterações celulares pré-invasivas para dois
grupos de classificação: de "baixo grau" ( LSIL) e de "alto grau" ( HSIL). As maiores
controvérsias foram relacionadas com a inclusão das alterações causadas pelo vírus HPV
como lesão de “baixo grau” ( LSIL), devido às dificuldades encontradas em distinguir
efeito citopático do HPV de formas moderadas de neoplasia intra-epitelial - NIC II. De
maneira geral, o Sistema Bethesda de classificação recebeu, na segunda conferência, o
apoio combinado da citopatologia acadêmica e dos laboratórios comerciais dos EUA.
Com o surgimento das necessidades de modificações em algumas especificações, no
TBS 1991, foram formados dois comitês: o Comitê Editorial com responsabilidade de
sugerir emendas necessárias ao formato do laudo e da terminologia do TBS, baseadas
nas críticas, apresentações científicas, avaliações dos laboratórios e comentários
individuais; o outro, Comitê de Critérios, tinha a responsabilidade de definir os critérios
morfológicos para diagnóstico e para a adequação da amostra. ( 79,102 )
O formato geral para os laudos de laboratório, resultado das duas conferências
(1988 e 1991), apresenta três tópicos-chave: 1) Adequação da amostra, 2)
74
Categorização geral e 3) Diagnóstico descritivo. As especificações para microorganismos
e inflamação fazem parte dos tópicos Diagnóstico descritivo - Alterações celulares
benignas - sub-item "Infecção": ( 79,117)
INFECÇÃO:
Trichomonas vaginalis
Fungos morfologicamente compatíveis com Candida spp.
Predominância de cocobacilos compatível com alteração na flora vaginal
Bactéria morfologicamente compatível com Actinomyces spp.
Alterações epiteliais associadas com herpes simplex vírus
Outros (*) (*) HPV
ALTERAÇÕES REATIVAS associadas com:
Inflamação (inclui reparação atípica)
Atrofia com inflamação (“vaginite atrófica”)
Radiação
Dispositivo intra-uterino ( DIU )
Outro
No TBS 2001, realizado de 30 de abril a 2 de maio com cerca de 500 participantes, a
opção geral foi de fazer poucas modificações ao que havia sido estabelecido no TBS
1991, para aguardar a discussão com a American Society for Colposcopy and Cervical
Pathology no sentido de atender ao interesses de ambas as especialidades. As
modificações foram: 1) a exclusão de "Satisfatório porém limitado", 2) a substituição de
"Dentro dos limites da normalidade" por "Negativo para lesões intra-epiteliais ou
malignidade", 3) retirada de "Alterações celulares benignas", mantendo-se "Infecção" e 4)
foram eliminadas as conjecturas de "ASCUS - ou AGUS - favorece reativo". ( 9, 80 )
Terminologia é definida como um sistema de termos usado em campo específico
da ciência. Classicamente, a terminologia é desenvolvida por um grupo de especialistas
que resumem conceitos que estão em uso há anos e evoluíram do conhecimento
científico, do aumento da compreensão sobre a patogênese das doenças e das
necessidades no atendimento ao paciente. Outra necessidade dos workshops meetings
de Bethesda, é a de evitar implicações legais devido a falhas do teste de Papanicolaou,
75
especialmente pelas taxas de 20% de falso-negativos da citologia cervical, adequando-se
à CLIA 88 que determina requisitos para a eficiência do teste e restrição do volume de
exames a serem vistos por dia. No sentido de adequar-se às exigências científicas, há
importantes obstáculos a serem vencidos na implementação da nova nomenclatura da
Citopatologia. O primeiro deles é a falta de critérios morfológicos descritivos para as
alterações celulares especificadas com o TBS, tendo-se somente fotomicrografias, como
o recurso de que se dispõe para comparação. Além disso, há dificuldades de correlação
entre os termos do exame citológico e histopatológico. Principalmente a linha divisória
entre as alterações celulares em transformação como os diferentes graus de displasia, ou
NIC, ou SIL não pode ser definida precisamente pela citologia, histologia ou tipagem viral.
Nenhuma terminologia resolve esse problema, os pontos de corte arbitrários tem um
caráter excessivamente subjetivo, demonstrado pelas variações entre os laboratórios e
que são dependentes do observador. O outro obstáculo é a aceitação internacional,
objetivo da Academia Internacional de Citologia ( IAC )- de que uma classificação seja
aceita em todo o mundo, objetivo considerado por membros da própria academia, como
"desejável, mas pouco realista". Mesmo nos EUA, que propuseram o TBS oficialmente e
sob o aspecto legal, um levantamento em 1994, enviado aos membros do College of
American Pathologists Interlaboratory Comparison Program in Cervico.vaginal Cytology,
respondido por 1197 participantes, mostrou que 90% usavam o termo displasia, 89%
usavam lesão escamosa intra-epitelial-SIL, 70% usavam neoplasia intra-epitelial cervical
e mais da metade deles usavam todas as três nomenclaturas, independentemente da
quantidade de exames. ( 64,100,109 )
Na maioria dos outros países, os sistemas de saúde adotados ao longo da sua
história, apresentam diferenças de tipo, estrutura, qualidade e disponibilidade de
recursos. Os países de língua alemã usam classificação estabelecida pelas sociedades
de Citologia da Alemanha, Austria e Suíça e preservam conclusões como p. ex.
"aumento do núcleo de células escamosas sem atingir o grau de displasia" e "suspeito de
76
displasia moderada"; no Reino Unido, ASCUS corresponde a bordeline nuclear changes e
é usado o termo "discariose" ao invés de displasia. Esses países mantém suas próprias
normas de diagnóstico e conduta com relação às pacientes em seus programas de
screening, ou rastreamento em massa para prevenção do câncer cervical, mesmo tendo
sido os americanos os pioneiros no uso do Pap-test para a prevenção do câncer
ginecológico. E não se pode deixar de notar, na literatura médica, comentário afirmando
que os países que tem "screenings oportunistas" mais facilmente aceitam as novas
classificações, o que provavelmente se refere a países que não são do Primeiro Mundo,
onde há falta de compromisso com a produção do conhecimento. ( 100 )
O Sistema Bethesda, que o Brasil adotou não somente pela situação continental,
pouco se estende no que se refere ao tópico "Infecção", incluído no "DIAGNÓSTICO
DESCRITIVO". As modificações nas especificações referentes a microorganismos, que
vem sendo feitas pelo TBS, quando comparadas com as floras codificadas de F1 a F11
da classificação da Universidade de Chicago, mostram que há um recuo no terreno da
reação inflamatória. Não há uma determinação dos limites da coloração de Papanicolaou
na identificação de microorganismos presentes na secreção vaginal e no esfregaço, nem
há outra justificativa baseada no conhecimento atualizado de Microbiologia. A discussão
sobre Inflamação ao exame citológico portanto, deverá acontecer nos EUA quando as
discussões sobre Neoplasia chegarem a um bom termo, ou poderá não acontecer,
dependendo de interesse dos especialistas americanos. A conclusão de Inflamação ou
Infecção, que os patologistas e / ou citopatologistas brasileiros, diferente dos norte-
americanos, acrescentam, nos laudos de Citologia Oncótica Vaginal, não é "um dos
aspectos dos screenings oportunistas" referido na literatura - compreendendo-se que não
é então conhecida a frequência dos patógenos vaginais na população - mas tem o
objetivo de complementar o atendimento médico-ginecológico de rotina, de pacientes que
não apresentam lesões pré-cancerosas ou câncer cervical e que representam a maioria
77
dos casos de qualquer amostra. A literatura consultada neste estudo demonstra isso.
(79,80,100,117)
Desde a primeira conferência, o TBS vem fazendo algumas modificações nas
especificações referentes a microorganismos ou agentes de infecção e houve acertos
como a eliminação de "cocos" ou "bactérias cocóides", "bacilos" e "cocobacilos", que são
denominações somente morfológicas, e a exclusão da clamídia devido problemas de
diagnóstico com o exame citológico. Entretanto, a retirada dos Lactobacillus é
incompatível com a manutanção do tópico AVALIAÇÃO HORMONAL, no relatório. As
sucessivas mudanças na especificação referente à BV - "microorganismos
morfologicamente compatíveis com Gardnerella spp." (TBS 1988), "predominância de
cocobacilos compatíveis com alteração da flora vaginal" (TBS 1991), "alteração da flora
compatível com vaginose" (TBS 2001) mostram que ainda não foram encontrados termos
que estejam de acordo com a Microbiologia da BV e com a acuidade do exame citológico
no diagnóstico dessa entidade. Foram mantidas a identificação de Trichomonas vaginalis,
Candida spp., Actinomtces spp., "Outros" e vírus HSV além do HPV.
(1,45,46,47,79,117,126 )
Desde 1988 então, sucedem-se workshop de Bethesda, conferências e tutorial de
especialistas internacionais da IAC- Task Force on Terminology, Diagnostic Cytology
Towards the 21th Century. Entretanto, a proposta de linguagem do Sistema Bethesda não
representa o fim das discussões sobre terminologia citológica das lesões pré-neoplásicas
ou neoplásicas e, encontrar um equilíbrio depende dos resultados obtidos com as
pacientes. Em junho de 1992, o National Cancer Institute promoveu mais um workshop
atendendo ao desejo de estabelecer normas de conduta para as pacientes mas, devido
aos grandes obstáculos representados pela experiência limitada do TBS, comportamento
incerto de LSIL e dados limitados sobre comprovações clínicas, além das controvérsias,
os participantes sugeriram que as normas estabelecidas para conduta e exame de
controle, apenas das pacientes classificadas como LSIL e ASCUS, fossem consideradas
78
interinas. Além de serem dirigidas especialmente às pacientes com lesões pré-
neoplásicas, essas normas não foram alteradas pelo TBS 2001. ( 1,70,100 ).
Uma análise crítica rigorosa do Sistema Bethesda parece evidenciar que, mesmo
com relação à prevenção e diagnóstico do câncer ginecológico, o estágio atual do
Sistema Bethesda é o de que ainda está sendo testado: a nova nomenclatura não foi
assimilada globalmente pelos experts norte-americanos, até agora pouco tem influenciado
na conduta para a maioria das pacientes da clínica ginecológica e faltam estudos de
correlação dos novos termos com a histopatologia. ( 64,70,89,100,109 )
79
2.0 OBJETIVOS
80
2.0 - OBJETIVOS:
1- Verificar a prevalência dos microorganismos encontrados no material, avaliado
por meio da correlação do exame de citologia cérvico-vaginal com exames
microbiológicos.
2- Avaliar a acuidade diagnóstica do exame de citologia cérvico-vaginal e da
coloração de Papanicolaou na identificação de microorganismos especificados
por tópicos no laudo do exame citopatológico preventivo ( Exame Citológico
Cérvico-vaginal ou Exame de Citologia Oncótica Vaginal )
3- Aplicar o conhecimento da Microbiologia no relatório citopatológico dos
processos inflamatórios e doenças sexualmente transmissíveis do trato genital
inferior feminino.
81
3.0 MATERIAL E MÉTODOS
82
3.0 -MATERIAL E MÉTODOS
3.1 - Material:
3.1.1 - Material para exame citológico:
Nosso material consiste de 10.064 exames de Citologia Oncótica Vaginal, realizados
no período de abril de 1990 a dezembro de 1994, no Laboratório Sabin de Patologia
Clínica, em Maceió - Alagoas. Os exames foram solicitados por ginecologistas, obstetras
ou clínicos, pela existência de sinais e / ou sintomas ginecológicos, ou como exames de
controle e prevenção do câncer ginecológico.
A maioria das pacientes era encaminhada para a colheita do material no laboratório e
eram recomendadas a não fazer uso prévio de duchas, creme vaginal ou contato sexual
antes da colheita, em período adequado para a obtenção de uma boa amostra. Outras
pacientes eram encaminhadas com o esfregaço da secreção vaginal, previamente
colhido pelo médico requisitante, em uma duas ou três lâminas fixadas e identificadas.
Para cada esfregaço citológico utilizava-se um formulário de Requisição para
encaminhamento do exame citopatológico ( Anexo I ), onde constavam informações
clínicas obrigatórias, além de informações adicionais consideradas importantes como
gestação, tempo de gestação, pós-parto, exame pré-nupcial, lesão prévia por HPV ou
terapia de reposição hormonal.
3.1.2 - Material para exame microbiológico:
No mesmo período, de abril de 1990 a dezembro de 1994, um total de 2.254 exames
de microbiologia da secreção vaginal foram solicitados concomitantemente com o exame
citológico.
Em 2138 casos ( 94,8%) os exames consistiam de culturas ou cultura para
micoplasmas genitais; dentre estes, 1892 ( 88,4%) culturas foram comparadas neste
estudo, com a codificação citológica para microorganismos e distribuídas em tabelas e
gráficos. Em apenas 31 (1,3 %) pacientes foram diagnosticadas bactérias com a
83
bacterioscopia pelo Gram, não acompanhada da solicitação de cultura pelo clínico. A
pesquisa de Chlamydia trachomatis com imunofluorescência foi requisitada em 85 (
3,7%) casos, junto com a cultura.
O material para exame microbiológico era colhido simultaneamente com a amostra
para exame citológico no laboratório, ou eram um ou outro, ou ambos eram enviados já
colhidos pelos ginecologistas.
Os exames microbiológicos vinham acompanhados de uma ficha de requisição que
incluía dados clínicos relevantes ( Anexo 2 ).
3.2
- Método:
3.2.1 - Obtenção e processamento do material para exame citológico:
O esfregaço citológico foi obtido por via endovaginal, com o uso de espéculo e
espátula de Ayre’s e para cada caso, foi realizada uma única preparação citológica: da
parede vaginal ao nível do fundo de saco posterior e da ectocérvice e do orifício externo
do colo mediante rotação de 360º da espátula. A partir de 1993, a colheita da endocérvice
passou a ser realizada com o uso de cytobrush. Os três esfregaços foram colocados na
lâmina, com a secreção vaginal junto à borda fosca e o raspado cervical e endocervical
ao longo da lâmina, sendo imediatamente fixados com polietileno-glicol. ( Carbowax ). Os
esfregaços já colhidos pelos ginecologistas foram recebidos em lâmina única, em duas
lâminas ou esfregaços com colheita tríplice, também já fixados com Carbowax e alguns
com álcool-éter.
Se o esfregaço obtido apresentava-se inadequado para o exame microscópico, as
pacientes eram solicitadas a fazer nova colheita no laboratório. Foram excluídos deste
estudo os casos de esfregaço insatisfatório por material insuficiente ou mesmo ausente,
como pode ocorrer p. ex. em pacientes virgens ou na pós-menopausa, como também os
casos de pacientes com o esfregaço representado apenas por hemorragia, como pode
84
ocorrer p. ex., em ectrópio extenso. Outros exames não foram incluídos na amostra por
extravio das anotações.
Os esfregaços citológicos, depois de colhidos e fixados, foram corados de acordo
com a técnica de Papanicolaou e cada lâmina coberta com lamínula de 24 x 32 mm,
montada com entelan, para exame microscópico.
O relatório citopatológico continha informações sobre a ausência ou presença de
neoplasia, ou de lesão pré-neoplásica, e sobre a reação inflamatória ou ocorrência de
inflamação ou infecção.
3.2.2 - Obtenção e processamento do material para exame microbiológico:
A colheita era realizada também com o uso de espéculo e swab descartável e o
material colocado em tubo de ensaio que foi previamente submetido à secagem na estufa
a 100ºC e contendo solução salina. O material era obtido da cérvice após a remoção de
excesso de muco e, dependendo da justificativa do clínico, era obtido material do fundo
de saco vaginal posterior. Quando a amostra já havia sido colhida, o swab era recebido
em tubo de ensaio com o meio de transporte de Stuart. Para a pesquisa de Chlamydia, o
material para imunofluorescência (.Biolab-Mérieux ) era colhido depois da remoção do
muco, introduzindo-se o swab no canal endocervical e girando-o para ambos os lados.
Em todos os casos foi feita a microscopia a fresco para a identificação de tricomonas e
monília e houve casos em que somente o T+M era solicitado pelo clínico. Para a
coloração pelo Gram, o esfregaço era feito com leves movimentos circulares sobre a
lâmina. Com o Gram podiam ser identificadas bactérias como a G.vaginalis, Mobiluncus
sp., Neisseriae gonorrhoeae ou outros.
A semeadura nos meio de cultura era feita com o swab do meio de transporte em
placa com ágar sangue humano desfibrinado a 5% e em Mac Conkrey, em seguida
estirado com alça de platina. O swab, novamente retirado do tubo com o meio de
85
transporte ,nos casos em que era solicitado pesquisa de micoplasmas, era semeado na
placa com o meio A7 ( Mycogen ).
Após o período de incubação dos meios, era verificado o crescimento das colônias e
realizados testes com o material do meio de cultura, primeiramente submetido à prova
da catalase, para diferenciação entre estafilococos e estreptococos. Os organismos
catalase-positivos eram identificados como estafilococos e submetidos à DNASE . Após
o teste da DNASE, era feito o teste de coagulase, ou Staphytest, ambos positivos para o
Staphylococcus aureus . Os organismos catalase-negativos eram identificados como
estreptococos e verificada a presença de alfa, beta ou gama-hemólise (ausência de
hemólise). Na presença de alfa-hemólise, a identificação de enterococos era feita, após a
reação negativa à optoquina, pela reação positiva ao NaCl a 6,5% positiva à bile esculina.
Na presença de beta-hemólise, a identificação de enterococos era feita, após a reação
negativa à bacitracina, pela reação positiva ao NaCl e positiva à bile esculina. Os
microorganismos com reação negativa ao NaCl eram submetidos ao Camp test para
detecção da positividade pelo Streptococcus agalactiae. Na ausência de hemólise (gama-
hemólise), a identificação do enterococo era feita com a reação positiva ao NaCl e
positiva à bile esculina. O teste da bile esculina foi também utilizado para detectar
estreptococos do grupo D não- enterococcos, ou Streptococcus spp, pela reação
positiva à bile esculina e negativa ao NaCl.
Com relação aos micoplasmas, após a incubação a 37ºC por 48 horas no meio A7,
foi feita a avaliação semi-quantitativa por contagem de colônias na placa, com objetiva
de 10 vezes, verificando-se o número de colônias de Mycoplasma hominis e Ureaplasma
urealiticum, considerando-se exacerbada a quantia de 50 UFC (unidade formadora de
colônias) em um quadrante de placa de Petri de 6 cm de diâmetro, o que equivale a 105
organismos e estabelece sua etiopatogenicidade.
Os aeróbios Gram negativos, como a Escherichia coli, e os gêneros Klebsiella,
Proteus, foram identificados pelas provas bioquímicas da lisina, SIM, uréia, TSI e indol.
86
Os relatórios de exames microbiológicos atendiam a uma ou mais de uma das
seguintes requisições clínicas: Cultura da secreção vaginal (que inclui T+M), Cultura para
micoplasmas genitais, Pesquisa de clamídia (com imunofluorescência), T+M ou Pesquisa
de tricomonas e monília, ou somente bacterioscopia.
3.3 - Avaliação da flora ( F ) ao exame citológico:
Para a avaliação dos microorganismos foi utilizada a classificação, ou codificação,
de Bibbo et al.( 1976 ) adotada à época, pelo SUS - Sistema Único de Saúde - e que
estratifica a flora em onze categorias:
F1 - Lactobacillus sp.:
A flora constituida por lactobacilos, antes denominados bacilos de Doderlein,
é representada na coloração e Papanicolaou, por quantidade variável de bacilos de
tamanho médio, por flora exacerbada de bacilos pequenos ou, em outros casos, de
bacilos longos.
F2 - Flora mista :
É constituida por lactobacilos e presença de proliferação variável de bactérias
que se coram levemente, não apresentam a forma de bacilos mas não podem
identificadas com segurança, ao exame citológico.
F3 - Flora de cocos ou bactérias "cocóides" :
A presença de cocos com disposição linear permite reconhecê-los
como estreptococos ao exame citológico , mas não podem ser especificados.
Outros possíveis cocos não são reconhecidos com facilidade nem podem ser
especificados. A morfologia “cocóide” também não especifica nem cocos nem
micoplasmas. A proliferação bacteriana cora-se levemente com o Papanicolaou e pode
ser discreta, ou mais ou menos intensa.
F4 - Gardnerella vaginalis :
87
De acordo com Gardner e Dukes (1954), e Giacomini (1997), o esfregaço
citológico apresenta o fundo coberto por intensa proliferação bacteriana levemente
basofílica, formando em vários campos, espaços claros entre as células epiteliais e
também cobrindo células epiteliais que podem ser reconhecidas como clue cells ou
células- guia.
F5 - Leptotrix vaginalis :
Tipicamente são maiores que lactobacilos longos, podem estar encurvados,
ou mesmo serem vistos como uma letra ômega. Em alguns esfregaços, é difícil
.diferenciá-los de lactobacilos longos. Podem ser diferenciados de Actinomyces spp.
.porque não formam tufos.
F6 – Trichomonas vaginalis :
As tricomonas apresentam-se menores ou maiores, íntegras ou degeneradas,
em meio às células epiteliais descamadas e à inflamação moderada ou intensa, poucas
vezes leve. O diagnóstico citológico somente é possível quando estão presentes
tricomonas íntegras, com núcleo conservado.
F7 – Chlamydia trachomatis :
É raramente encontrada em células endocervicais ou metaplásicas. Apresenta-
se sob a forma de um ou mais corpúsculos dentro de vacúolo intra-citoplasmático.
Quando essas células não estão presentes no esfregaço citológico, deve ser
impossível identificar a clamídia.
F8 - Candida sp.:
A cândida é vista sob a forma de esporos arredondados acidófilos,
aproximadamente do tamanho de um lóbulo do núcleo de neutrófilo, sob a forma de
pseudo-hifas, um pouco maiores que os esporos, alongadas ou semelhantes gotas de
água, e ainda, sob a forma de hifas, que se assemelham a bastões de
comprimento variável, acidófilos.
F9- Vírus HPV, HSV :
88
São parasitos intra-celulares e as formas microscópicas típicas do HPV são o
coilócito, as atipias nucleares, ou as demais alterações descritas por Schneider, em
1987. O HSV produz efeito citopático caracter[istico, descrito como “olho de coruja”.
F10- Flora ausente:
Nota-se ausência de flora principalmente em esfregaços atróficos ou de virgens,
em esfregaços hemorrágicos ou algumas vezes, em mulheres em idade reprodutiva com
inflamação intensa e em mulheres no pós-parto.
F11- Flora não classificada:
Pode ser representada por proliferação de pequenos bacilos pequenos, por
uma proliferação mais ou menos intensa de bactérias que não podem ser
identificadas pela coloração de Papanicolaou, presentes no fundo do esfregaço ou em
meio às células epiteliais, ou a flora é escassa.
3.4 - Avaliação da intensidade da inflamação ao exame citológico:
Pela falta de padrões de contagem de células inflamatórias no esfregaço citológico,e
das falhas na correlação das alterações das células epiteliais com a reação inflamatória,
adotamos uma avaliação simplificada acerca da intensidade da reação inflamatória nesta
amostra.: as inflamações leves apresentavam apenas pequenos desvios do padrão
normal do esfregaço em relação à data do ciclo como pseudo-eosinofilia das células
epiteliais e poucos leucócitos adicionais ( a BV não foi classificada como inflamação leve
em nenhum esfregaço, por tratar-se de infecção bacteriana ); as inflamações moderadas
eram de intensidade intermediária e as inflamações intensas corresponderam
aproximadamente ao padrão em que 50% das células epiteliais, ou mais, estavam
obscurecidas por neutrófilos e piócitos, padrão definido pelos Microbiologistas no
esfregaço corado com o Gram.
89
3.5 - Estudo estatístico:
Para a computação geral dos dados foi utilizado o programa Epi-Info, que
determinou as características gerais da amostra (10.064 casos).
As tabelas confeccionadas para cada grupo de flora (F1 a F11) foram expressas em
gráficos construídos com a planilha Excel da Microsoft.
O estudo estatístico realizado a partir das tabelas de freqüência 7 e 8, utilizou o
pacote estatístico Primer of Biostatistics, Versão 4.02 de Stanton A. Glantz, Mc Graw-Hill
Company Inc.
90
4.0 RESULTADOS
91
4.0- RESULTADOS:
4.1- CARACTERÍSTICAS GERAIS DA AMOSTRA:
A amostra é representada por um total de 10.064 exames citológicos cérvico-
vaginais de pacientes que compareceram ao laboratório, no período de abril de 1990 a
dezembro de 1994. Em 2.169 casos ( 21,5%), a requisição do exame citológico foi
acompanhada de solicitação de culturas e / ou bacterioscopias.
A distribuição por faixa etária mostra que 6.235 pacientes ( 61,9%) tinham de 20 a
39 anos de idade, portanto, em fase de vida sexual ativa e idade reprodutiva. ( tabela 1,
gráfico 1)
Tabela 1
– DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS SUBMETIDOS A EXAME
CITOLÓGICO, DE ACORDO COM A FAIXA ETÁRIA:
Gráfico 1 - DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS SUBMETIDOS A EXAME
CITOLÓGICO, DE ACORDO COM A FAIXA ETÁRIA
Faixa Idade Freqüência Percentual
Não consta ou<10 180 1,79%
10 – 19. 505 5,02%
20 – 29. 3.108 30,88%
30 – 39. 3.127 31,07%
40 – 49. 1.778 17,67%
50 – 59. 848 8,43%
60 – 69 496 4,93%
Até 90 22 0,22%
Total 10.064 100,0%
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
3.500
Frequência
Faixa Etária
1,79
%
5,02
%
30,88%
31,07%
17,67%
8,43%
4,93%
0,22%
10 - 19 20 - 29 30 - 39 40 - 49 50 - 59 60 - 69 Até 90Não C.
92
Um total de 5.840 ( 58,0%) pacientes tinham de 1 a 5 filhos e o número de
abortos variou de 1 ( 1.724 casos ) a 10 ( 1 caso ), tendo sido verificada uma relação
inversa entre o número de filhos e o número de abortos. ( tabela 2, gráfico 2 )
Tabela 2 - DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS EM RELAÇÃO Nº DE FILHOS E DE
ABORTOS
Nº de abortos Nºde
filhos
- 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Total
N/C 735 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 735
0 0 2.694 298 60 11 4 1 1 0 0 0 0 3.069
1 – 5. 0 3.940 1.305 414 123 39 8 9 0 0 2 0 5.840
6 –10 0 131 102 49 27 13 9 1 1 1 1 1 336
Mais de 11 0 25 19 24 4 2 4 2 2 2 0 0 84
Total 735 6.790 1.724 547 165 58 22 13 3 3 3 1 10.064
Gráfico 2: DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS EM RELAÇÃO AO NUMERO DE
FILHOS E DE ABORTOS:
Podemos observar que o gráfico confirma a relação inversa entre número de
filhos x número de abortos.
A distribuição dos casos de acordo com as informações clínicas pode ser vista na
tabela 3. Essas informações foram obtidas em 6.225 casos, de um total de 10.064
exames.
1
10
100
1.000
10.000
0 1 - 5. 6 –10 Mais de
11
Filhos
Abortos
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
93
Tabela 3 - DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS DE ACORDO COM OS DADOS CLÍNICOS
EM DE 6.225 CASOS ( DE UM TOTAL DE 10.064 )
Nuliparidade 3.426
34,04%
Gravidez 261
2,59%
Pós-parto 153
1,52%
Anti-concepcionais 861
8,56%
Menopausa 864
8,59%
Histerectomia total ou parcial 660
6,56%
A avaliação da amostra cérvico-vaginal pode ser vista na tabela 4, gráfico 3.
Resultou em 3.437 esfregaços satisfatórios ( 34,1%), 6.128 satisfatórios porém limitados
(60,8%) e 499 insatisfatórios ( 4,9%), de acordo com o Sistema Bethesda ( TBS ),1991.
Tabela 4 - DISTRIBUIÇÃO DOS ESFREGAÇOS CÉRVICO-VAGINAIS DE
ACORDO COM A AVALIAÇÃO DA AMOSTRA DO SISTEMA BETHESDA,1991:
Ins. Sat Sat-L Total
499 3437 6128 10.064
Gráfico 3 - DISTRIBUIÇÃO DOS ESFREGAÇOS CÉRVICO-VAGINAIS DE
ACORDO COM A AVALIAÇÃO DA AMOSTRA PELO SISTEMA BETHESDA,
1991:
Em 1.089 exames citológicos ( 10,8%), o esfregaço apresentava-se normal para a
data do ciclo ou idade da paciente. Os esfregaços que apresentavam inflamação e / ou
infecção totalizaram 8.655 casos ( 85,9 %), e 11 ( 0,1%) neoplasia intra-epitelial cervical
AVALIAÇÃO DA AMOSTRA
60,89%
4,96%
34,15%
SATISFATÓRIO
SATISFATÓRIO -
LIMITADO
INSATISFATÓRIO
94
( tabela 5 e gráfico 4 ). Muitas pacientes apresentavam mais de uma dessas alterações
mencionadas.
Tabela 5 - ACHADOS DO EXAME CITOPATOLÓGICO EM 10.064 CASOS:
Normal 1089
10,82%
Inflamatório 8655
86,00%
Metaplasia 2323
23,08%
Atrofia 584
5,80%
Atipias (OMS) 239
2,37%
NIC I 4 -
NIC II 6 -
NIC III 1 -
Gráfico 4 - ACHADOS DO EXAME CITOPATOLÓGICO EM 10.064 CASOS
Os exames microbiológicos realizados foram, por ordem de frequência: cultura,
correspondendo a 2.138 casos ( 94,8%), imunofluorescência para clamídia em 85 casos
( 3,7%) e bacterioscopia em 31 ( 1,3%).
Como se pode notar, ao exame da tabela 6 e gráfico 5, culturas acompanhadas de
bacterioscopias ( T+M ) foram solicitadas na maior parte dos casos ( 2.169 ), porém
bacterioscopias isoladas foram muito pouco requisitadas ( 31). Os 2.138 casos em que
1089
8655
2323
584
239
461
0
2000
4000
6000
8000
10000
1
Normal
Inflamatório
Metaplasia
Atrofia
Atipias
NIC I
NIC II
NIC III
95
foram realizadas culturas, incluíam, em parte da amostra, a pesquisa de micoplasmas
genitais
Tabela 6 - DISTRIBUIÇÃO DOS TIPOS DE EXAMES MICROBIOLÓGICOS
REQUISITADOS PELOS CLÍNICOS:
Cultura, cultura para micoplasmas genitais 2138
94,85%
Imunofluorescência para clamídia 85 3,77%
Bacterioscopias 31
1,38%
TOTAL DE EXAMES MICROBIOLÓGICOS 2254 100,0%
Gráfico 5 - DISTRIBUIÇÃO DOS TIPOS DE EXAMES MICROBIOLÓGICOS
REQUISITADOS PELOS CLÍNICOS:
Os exames microbiológicos foram realizados no laboratório, por médicos
especializados e, por orientação do laboratório Sabin, o resultado do(s) exame(s)
microbiológico(s) aguardava o resultado do exame citológico, ou vice-versa. Os dois
exames somente podiam ser liberados conjuntamente e compatíveis um com o outro, a
fim de que não houvesse discrepâncias no diagnóstico de inflamações e infecções
cérvico-vaginais. Na identificação de microorganismos, o exame microbiológico contribuiu
para acrescentar p. ex.esporos de Candida sp. ao exame citológico, nos casos em que
havia dúvidas ou mesmo, os que não eram vistos no material colhido para o exame de
Papanicolaou. Por outro lado, o exame citológico contribuiu com informações sobre
2138
85
0
500
1000
1500
2000
2500
1
Cultura ou cultura para
micoplasmas genitais
Bacterioscopias
Imunofluorescência par
a
clamídia
31
96
esfregaços em que havia uma provável infecção a ser investigada e era necessário que a
paciente realizasse a cultura da secreção vaginal, ou cultura para micoplasmas genitais,
p. ex. nos casos com BV e exsudato e casos de inflamação purulenta.
4.2 – ANÁLISE ESTATÍSTICA DAS FLORAS MAIS COMUNS:
As tabelas 7 e 8 demonstram as dez floras mais prevalentes ao exame
citopatológico e microbiológico, respectivamente. Como se pode notar, as três mais
prevalentes ( Lactobacillus sp, Candida sp. e Gardnerella vaginalis ) são coincidentes no
exame citopatológico e microbiológico.
Tabela 7 - FREQUÊNCIA DOS DEZ TIPOS DE FLORA MAIS COMUNS AO
EXAME CITOPATOLÓGICO
Lactobacillus e citólise 4.550
45,21%
Cândida - lactobacilos 1.519
15,09%
Gardnerella
1.194
11,86%
Mista 866
8,60%
“Cocóide” 380
3,78%
Não classificada 377
3,75%
Lactobacilos - leptotrix 325
3,23%
Ausente 169
1,68%
Leptotrix
143
1,42%
Mista - cândida 70
0,70%
97
Tabela 8 - FREQUÊNCIA DOS DEZ TIPOS DE FLORA MAIS COMUNS AO
EXAME MICROBIOLÓGICO
Gráfico 6 - TRAÇADOS DA COMPARAÇÃO DAS DUAS SÉRIES
INDEPENDENTES, REFERENTES AOS DEZ TIPOS DE FLORA MAIS
COMUNS AO EXAME CITOLÓGICO E AO EXAME MICROBIOLÓGICO:
0
1000
2000
3000
4000
5000
12345678910
Tipos de flora microbiana
0
200
400
600
800
Citologia
Microbiol
No eixo Y esquerdo os algarismos indicam os casos diagnosticados pela
citopatologia, no eixo direito os diagnósticos dados pelo sub-set dos casos em que foi
feita a cultura bacteriana. No eixo X os números seguem a seqüência das indicações de
flora das tabelas 7 e 8.
O gráfico 6 mostra que as curvas de freqüência correm paralelamente entre si, em
patamares diferentes. Os estudos de correlação entre as duas séries (Citologia e
Lactobacillus
684
31,54%
Cândida - lactobacilos 265
12,22%
Gardnerella
234
10,79%
Lactobacilos - ureaplasma 142
6,55%
Negativa 109
5,03%
Clamídia 94
4,33%
E. coli
70
3,23%
Ureaplasma 64
2,95%
Lactobacilos - estafilococos 53
2,44%
Lactobacilos - leptotrix 43
1,98%
98
Microbiologia) resultaram em valor de r de 0,9975, i.e., são virtualmente iguais. O valor
máximo possível é 1 (correlação linear perfeita positiva). Em nosso material o valor de r
se afastou da correlação perfeita positiva por 0,0025, isto é, milésimos, virtualmente uma
correlação perfeita. O valor de P foi menor que 0,001.
Na comparação das categorias com maior número de casos ( Lactobacillus sp.+
citólise, Candida sp.+ Lactobacillus sp. e Gardnerella vaginalis ), r foi de 0,9997, diferindo
da correlação perfeita positiva em 0,0003, i.e., em décimos-milésimos, uma
correlaçãoainda maior. O valor de P foi de 0,01.
Gráfico 7 - REGRESSÃO LINEAR MOSTRANDO ADERÊNCIA
VIRTUALMENTE PERFEITA ENTRE AS CURVAS COMPARATIVAS PARA OS
DIAG -NÓSTICOS DE FLORA PELO EXAME CITOLÓGICO E PELO EXAME
MICROBIOLÓGICO:
O cálculo do coeficiente de correlação de Spearman (R
s
) resultou em R
s
= 1 (o
máximo possível; -1 o mínimo) demonstrando uma correlação positiva perfeita, sendo
P< 0,001
Esses resultados mostram que as duas curvas são iguais, ( gráfico 7) i.e., houve
correspondência perfeita entre a caracterização da flora pelo exame citopatológico e a
obtida pela cultura bacteriana.
99
4.3 – ANÁLISE DOS CASOS SUBMETIDOS A EXAME CITOLÓGICO E
MICROBIOLÓGICO ( 2.169 ):
A predominância de Lactobacillus, que corresponde à codificação F1, foi verificada
em um total de 4.550 casos ( 45,2%), dentre os quais 320 ( 7,0%) esfregaços citolíticos.
A cultura identificou apenas Lactobacillus em 684 casos ( 15,0%).
Houve associação de lactobacilos com outros agentes como a bactéria Leptotrix em
325 casos ( 3,23%).
Dentre os casos classificados como flora formada por Lactobacillus sp., tivemos 22
casos ( 0,4%) positivos para clamídia pela imunofluorescência.
Os Lactobacillus também constituíram a flora mista ( F2 ) em 866 ( 8,6%) casos.
Desse total, em 313 ( 36,1%) foram também realizados exames microbiológicos assim
distribuídos: 289 ( 33,3%) culturas ou cultura para micoplasmas genitais, 7
bacterioscopias e 17 ( 5,4%) imunofluorescências positivas para clamídia.
O resultado das culturas ( tabela 9, gráfico 8 ) mostrou os Lactobacillus associados
com estafilococos em 53 casos (18,3%) representados pelo S. aureus, e com
estreptococos em 37 (12,8%), representados pelo Streptococcus spp., que é o
estreptococo do grupo D não enterococo, e pelo Streptococcus sp.
Houve maior frequência da associação dos Lactobacillus com os micoplasmas
genitais : o Ureaplasma urealyticum em 142 casos (49,1%), Mycoplasma hominis em 3
(1,0%) e em 9 casos ( 3,1%) estavam presentes cocos associados a micoplasmas. A
flora mista visualizada ao exame citológico foi mais frequentemente representada pela
exacerbação dos micoplasmas genitais ( 50,1%) do que infecção por cocos ( 31,1%). Em
16 casos a cultura identificou apenas Lactobacillus e 1 teve resultado negativo (indicando
necessidade de repetição ou pesquisa de micoplasmas).
100
A flora mista foi ainda representada pela associação dos Lactobacillus com a
Escherichia coli, demonstrada com cultura em 17 casos ( 5.8%) e em 8 ( 2,7%) havia
também a exacerbação de micoplasmas genitais. Foram ainda detectados pela cultura,
outras bactérias patogênicas associadas aos Lactobacillus : G.vaginalis, Klebsiella sp,
Proteus sp., Mobiluncus e Corynebacterium com S. aureus, ao todo 11 casos ( 3,8%).
A correlação da citologia com a cultura mostrou até 3 bactérias por esfregaço e, em 2
casos, até 4 bactérias.
A bacterioscopia identificou: 1 coco Gram negativo intracelular - Neisseriae
gonorrhoeae
Tabela 9 - RESULTADO DE 289 CULTURAS DOS ESFREGAÇOS
CITOLÓGICOS CODIFICADOS COMO FLORA MISTA ( F2 )
Lactobacilos 16
5,54%
Lactobacilos –estafilococos 53
18,34%
Lactobacilos –estreptococos 37
12,80%
Lactobacilos -U. urealyticum 142
49,13%
Lactobacilos -M. hominis 3
1,04%
Lactobacilos -micoplasmas e cocos 9
3,11%
Lactobacilos- E. coli 9
3,11%
Lactobacilos- E. coli- micoplasmas 8
2,77%
Outros 11
3,81%
Negativa 1
0,35%
TOTAL 289 100,0%
101
Gráfico 8 - RESULTADO DE 289 CULTURAS DOS ESFREGAÇOS
CITOLÓGICOS CODIFICADOS COMO FLORA MISTA ( F2 )
Os cocos ( F3 ) foram encontrados em um total de 69 casos ( 0,6%), dentre os
quais 59 ( 85,5%) foram diagnosticados com a associação do exame citológico e
microbiológico distribuídos em 51 culturas e 8 bacterioscopias. O resultado das culturas
(tabela 10, gráfico 9 ) mostrou o S aureus em 27 casos ( 52,9%), Streptococcus spp ou
o Streptococcus sp. em 23
(45,0%) e 1 Neisseriae gonorrhoeae ( 2,0%).
Em 4 casos ( 5,7%) a imunofluorescência foi positiva para clamídia.
Tabela 10 - RESULTADO DE 51 CULTURAS DOS ESFREGAÇOS
CITOLÓGICOS CODIFICADOS COMO FLORA DE COCOS ( F3 )
Staphylococcus aureus
27 52,94 %
Streptococcus spp (grupo D não enterococo)
ou Streptococcus sp.
23 45,10 %
Neisseriae gonorrhoeae
1 1,96, %
TOTAL 51 100,0%
F2 - CULTURAS
49,13%
12,80%
18,34%
5,54%
0,35%
3,81%
2,77%
3,11%
3,11%
1,04%
Lactobacilos
Lactobacilos-estafilococos
Lactobacilos-estreptococos
Lactobacilos-U. urealyticum
Lactobacilos-M. hominis
Micoplasmas e cocos
E. coli
E. coli- micoplasmas
Outros
Negativa
102
Gráfico 9 - RESULTADO DE 51 CULTURAS DOS ESFREGAÇOS
CITOLÓGICOS CODIFICADOS COMO FLORA DE COCOS ( F3 )
Foi verificada com maior frequência a forma “cocóide” ( F3 )das bactérias, em um
total de 380 casos ( 3,7%), em que 222 pacientes ( 58,4%) tinham idade acima dos 50
anos. A cultura foi solicitada em apenas 47 pacientes (12,3%) e o resultado ( tabela 11,
gráfico 8 ) mostrou 38 casos ( 80,9%) em que havia exacerbação dos micoplasmas
genitais: 35 U urealyticum e 8 M. hominis; em 6 casos, os micoplasmas estavam
associados a cocos e 1 a Mobiluncus ( tabela 11,gráfico 10 ).
A correlação da citologia com a cultura mostrou até 2 bactérias/ esfregaço.
Em 4 casos (1,0%) a imunofluorescência foi positiva para clamídia.
Tabela 11 - RESULTADO DE 47 CULTURAS DOS ESFREGAÇOS
CITOLÓGICOS CODIFICADOS COMO FLORA "COCÓIDE" ( F3 )
Ureaplasma urealyticum
24 51,10%
U. urealyticum e Mycoplasma hominis 6 12,80 %
M. hominis
2 4,30 %
U. urealyticum e cocos ( 1 N. gonorrhoeae ) 5 10,60 %
U. urealyticum e Mobiluncus 1 2,10 %
Mobiluncus
1 2,10 %
Lactobacillus
1 2,10 %
Negativa 7 14,90 %
TOTAL 47 100,0%
F3 - CULTURAS
52,94%
45,10%
1,96%
Staphylococcus aureus
Streptococcus spp (grupo D não
enterococo) ou Streptococcus sp.
Neisseriae gonorrhoeae
103
Gráfico 10 - RESULTADO DE 47 CULTURAS DOS ESFREGAÇOS
CITOLÓGICOS CODIFICADOS COMO FLORA "COCÓIDE" ( F3 )
A infecção bacteriana mais frequente foi a vaginose bacteriana ( F4 ) com um total
de 1.197 casos ( 11,8%) e em 832 ( 69,5%) o aspecto citológico era característico
mostrando intensa proliferação bacteriana com presença de clue cells, ausência de
Lactobacillus e leucócitos ausentes ou escassos. Em 308 casos ( 25,7%) a flora era
sugestiva de Gardnerella vaginalis, mas acompanhada de numerosos neutrófilos e
piócitos. Em 47 casos ( 3,9%) a BV estava associada à infecção por Candida sp, 9
(0,7%) associada a Trichomonas vaginalis e 1 HPV.
Foram realizados um total de 354 ( 29,5%) exames microbiológicos distribuidos
em 333 culturas, 2 bacterioscopias e 19 ( 1,5%) imunofluorescências positivas para
clamídia.
A correlação da citologia com a cultura mostrou até 3 microorganismos / esfregaço
e 4 em 1 caso.
Nas pacientes com citologia característica de BV, o resultado de 279 culturas
(tabela 12, gráfico 11) identificou apenas a G. vaginalis em 200 casos ( 71,7%); em 36
(13,0%) a Gardnerella vaginalis estava associada à exacerbação dos micoplasmas
"Cocóide" CULTURAS
2,10%
2,10%
2,10%
4,30%
12,80%
10,60%
14,90%
51,10%
Ureaplasma urealyticum
U. urealyticum e Mycoplasma hominis
M. hominis
U. urealyticum e cocos (1 N. gonorrho-eae)
U. urealyticum e Mobiluncus
Mobiluncus
Lactobacillus
Negativa
104
genitais: 35 Ureaplasma urealyticum e 6 Mycoplasma hominis; a infecção concomitante
por Candida sp. foi confirmada em 32 casos ( 11,4%) e 5 ( 1,7%) em que a BV estava
associada à Candida sp. e aos micoplasmas genitais; em 4 casos ( 1,4%) foi confirmada
a infecção concomitante por Trichomonas vaginalis; outros microorganismos
identificados foram a 1 Escherichia coli e 1 Corynebacterium.
Em 18 pacientes a imunofluorescência foi positiva para clamídia.
Tabela 12 - RESULTADO DE 279 CULTURAS DOS ESFREGAÇOS
CITOLÓGICOS CODIFICADOS COMO FLORA DE Gardnerella vaginalis ( F4 )
Gardnerella
200 71,68 %
Gardnerella – U. urealyticum
30 10,75 %
Gardnerella – M. hominis
1 0,36 %
Gardnerella – U. urealyticum - M. hominis
5 1,79 %
Gardnerella – cândida 32 11,47 %
Gardnerella – micoplasmas – cândida 5 1,79 %
Gardnerella - T. vaginalis
4 1,43 %
Gardnerella - E. coli
1 0,36 %
Gardnerella – Corynebacterium
1 0,36 %
TOTAL 279 100,0%
Gráfico 11 - RESULTADO DE 279 CULTURAS DOS ESFREGAÇOS
CITOLÓGICOS CODIFICADOS COMO FLORA DE Gardnerella vaginalis ( F4 )
F4 - CULTURAS:
71,68%
1,79%
0,36%
1,43%
0,36%
11,47%
10,75%
0,36%
1,79%
Gardnerella
Gardnerella - U. urealyticum
Gardnerella - M. hominis
Gardnerella - U. urealyticum - M.
hominis
Gardnerella - Candida
Gardnerella - nicoplasmas Candida
Gardnerella - T. vaginalis
Gardnerella - E. coli
Gardnerella - Corynebacterium
105
Nas pacientes em que a citologia sugeria BV mas era acompanhada de exsudato,
o resultado de 54 culturas ( tabela 13, gráfico 12 ) identificou somente a G. vaginalis em
34 casos ( 62,9%); em 12 ( 22,3%) a G. vaginalis estava associada ao U. urealyticum e
apenas 1 M. hominis; em 5 casos ( 9,3%) foi confirmada infecção concomitante por
Candida sp; foi identificado 1 Mobiluncus e 3 culturas foram negativas ( indicando
necessidade de repetição ).
Em 1 paciente o resultado da bacterioscopia mostrou cocos Gram negativos.
Tabela 13 - RESULTADO DE 54 CULTURAS DOS ESFREGAÇOS
CITOLÓGICOS CODIFICADOS COMO FLORA SUGESTIVA DE G.vaginalis
(sug. F4 )
Gardnerella
34
62,96%
Gardnerella - U. urealyticum
10
18,52%
G.vaginalis- U.urealyticum - M. hominis
1
1,85%
Gardnerella – cândida 4
7,41%
Gardnerella - U. urealyticum – cândida 1
1,85%
Gardnerella – Mobiluncus
1
1,85%
Negativa 3
5,56%
TOTAL 54 100,0%
Gráfico 12 - RESULTADO DE 54 CULTURAS DOS ESFREGAÇOS
CITOLÓGICOS CODIFICADOS COMO FLORA SUGESTIVA DE G. vaginalis
(sug.F4 )
F4 - (Sugestiva) CULTURAS:
5,56%1,85%
1,85%
18,52%
1,85%
7,41%
62,96%
Gardnerella
Gardnerella - U. urealyticum
Gardnerella - U. urealyticum - M.
hominis
Gardnerella - Candida
Gardnerella - U. urealyticum -
Candida
Gardnerella - Mobiluncus
Negativa
106
A bactéria denominada Leptotrix (F5) que pertence à mesma família dos
Lactobacillus, esteve presente em 468 casos ( 3,4%), isoladamente ou associada a
Lactobacillus. Ainda estavam presentes nesta amostra, associados a microorganismos
patogênicos, totalizando 609 casos ( 6,0%)
A infecção por Trichomonas vaginalis ( F6 ) foi diagnosticada em 133 casos (1,3%
), 63 (47,3% ) com microscopia característica ao exame citológico, representada pela
presença de leucócitos em maior ou menor quantidade, alterações das propriedades
tintoriais das células epiteliais devido à inflamação, alteração da flora bacteriana vaginal
e presença das tricomonas. Em 40 casos ( 30,0%) os Lactobacillus ainda faziam parte
da flora vaginal, em 7 ( 5,2%) estavam presentes Leptotrix vaginalis; em 9 casos (6,7%)
havia tricomonas e BV ; em 12 casos ( 9,0%) havia infecção concomitante por T.
vaginalis e Candida sp. No esfregaço citológico de 55 pacientes ( 41,3%) havia
inflamação purulenta e 40 eram insatisfatórios. A infecção por tricomonas foi
diagnosticada somente com o exame citológico em 75,9% dos casos.
Foram realizados 32 exames microbiológicos: cultura, em 15 casos, e / ou o
exame direto T+M ( tabela 14, gráfico 13). A flora bacteriana associada à T. vaginalis foi
pouco investigada com a cultura que mostrou a exacerbação dos micoplasmas genitais
em 8 casos: 7 U. urealyticum e 1 M. hominis ( 57,1%), em 4 casos ( já referidos )
Gardnerella vaginalis, 2 E. coli (14,2%) e 1 Staphilococcus aureus ( 7,1%). Nos demais
casos, o T+M confirmou a infecção por tricomonas, em 4 casos ( 3,0%) associada à
Candida sp.
A correlação da citologia com a cultura ou T+M mostrou até 3 microorganismos /
esfregaço.
107
Tabela 14 - BACTÉRIAS PATOGÊNICAS ASSOCIADAS A TRICOMONAS ( F6).
RESULTADO DE 21 CULTURAS (até 3 microorganismos / esfregaço)
U. urealyticum
7
50,00%
M. hominis
1
7,14%
G. vaginalis
4
21,43%
Staphylococcus aureus
1
7,14%
Escherichia coli
2
14,29%
TOTAL 15 100,0%
Gráfico 13 - BACTÉRIAS PATOGÊNICAS ASSOCIADAS A TRICOMONAS (F6)
RESULTADO DE 21 CULTURAS (até 3 microorganismos / esfregaço)
A infecção por Chlamydia trachomatis totalizou 94 casos ( 0,9%), dos quais 85 (90,4%)
foram diagnosticados com imunofluorescência e somente em 9 casos ( 9,5%), o exame
citológico sugeria clamídia; 63 pacientes ( 67,0%) tinham menos de 30 anos de idade; as
células metaplásicas estavam presentes em 36 casos ( 38,2%) e as células endocervicais
em 4 ( 4,2%). Nas pacientes com clamídia, o total de 80 culturas e 1 bacterioscopia
realizadas mostrou Lactobacillus em 30 casos ( 37,5%), 44 ( 55,0%) de infecção por C.
trachomatis associada a infecção bacteriana ou exacerbação de micoplasmas genitais, e 11
(13,7%) associada à Candida sp.
F6 - Bactérias patogênicas - (CULTURA)
14,29%
50,00%
7,14%
21,43%
7,14%
U. urealyticum
M. hominis
G. vaginalis
S. aureus
E. coli
108
A frequência de C V V ( F8 ) foi de 17,7% ( 1.785 casos ) e superou a BV. O
exame citológico diagnostica a Candida sp. do mesmo modo que o exame direto,
identificando esporos, pseudo-hifas e hifas no esfregaço. Ao exame citológico, a
proliferação da Candida sp. com lactobacilos exacerbados aderidos às células epiteliais,
vista em 1.519 casos ( 85,0% ) correspondia - ou à colonização, ou à infecção
primária, esta com leucócitos indicando reação inflamatória. As hifas estavam presentes
em 817 esfregaços ( 45,7% ) indicando doença invasiva. A associação da Candida sp.
com outros microorganismos, ou uma infecção secundária por cândida, foi ainda
encontrada em 47 casos de BV e 12 casos de T. vaginalis, já referidos.
Em 1.334 ( 74,7% ) casos, a vulvo-vaginite por Candida sp ou C V V, foi
diagnosticada somente com o exame citológico e, em 451 ( 25,2% ), o exame
microbiológico ( cultura, T+M ) foi também solicitado pelo clínico. Os Lactobacillus sp.
faziam parte da flora identificada com a cultura em 331 ( 80,3%) casos e Leptotrix
vaginalis em 23 ( 5,58%). A cultura, realizada em 412 pacientes, identificou 127 ( 28,1%)
em que a Candida sp. estava associada a bactérias ( 69 casos), ou Mollicutes ( 48 casos),
e ainda, a associação de bactérias, micoplasmas e cândida (10 casos). A distribuição
desses microorganismos patogênicos pode ser vista na tabela 15, gráfico 14, onde houve
predomínio do Ureaplasma urealyticum ( 41,6%), seguida da Gardnerella vaginalis (
30,6%)
A correlação da citologia com a cultura ou T+M mostrou até 4 microorganismos/
esfregaço.
A imunofluorescência foi positiva para clamídia em 12 casos ( 0,6%).
A incidência da Candida sp em gestantes foi de 32,9% : 86 de um total de 261
gestantes.
109
Tabela 15-BACTÉRIAS PATOGÊNICAS ASSOCIADAS A CANDIDA ( F8 ).
RESULTADO DE 123 CULTURAS - de um total de 412 ( até 4
microorganismos / esfregaço )
U. urealyticum
57
41,61%
M. hominis
1
0,73%
Gardnerella vaginalis
42
30,66%
Escherichia coli
20
14,60%
Staphylococcus aureus
6
4,38%
Streptococcus sp
5
3,65%
Klebsiella sp
4
2,92%
Proteus sp
2
1,46%
TOTAL 137 100,0%
Gráfico 14 - BACTÉRIAS PATOGÊNICAS ASSOCIADAS A CANDIDA (F8).
RESULTADO DE 123 CULTURAS - de um total de 412 (até 4microorganismos
/ esfregaço)
Em 377 casos ( 3,7%) não foi possível identificar a flora ( F11 ) com a coloração
de Papanicolaou e 52 destes esfregaços ( 13,7%) foram classificados
como insatisfatórios devido à inflamação intensa, hemorragia ou ambas, o que dificultou
a colheita em algumas pacientes. A flora não classificada também foi encontrada em 68
pacientes na menopausa ( 18,0% ), e o esfregaço apresentava ou uma flora escassa ou
inflamação intensa. Foram realizadas 154 culturas ( tabela 16, gráfico 15 ), 60 com
F8 - Bactérias patogênicas associadas
- CULTURA:
3,65%
4,38%
14,60%
30,66%
0,73%
41,61%
1,46%
2,92%
U. urealyticum
M. hominis
Gardnerella vaginalis
Escherichia coli
Staphylococcus aureus
Streptococcus sp
Klebsiella sp
Proteus sp
110
resultado negativo ( 38,9%) e 94 ( 61,0%) positivas, demonstrando bactérias que não são
identificáveis com a coloração de Papanicolaou.
A correlação da citologia com a cultura mostrou até 3 bactérias / esfregaço.
Em 3 casos ( 0,7%) a imunofluorescência foi positiva para clamídia.
Tabela 16 – RESULTADOS DE 154 CULTURAS DA FLORA NÃO
CLASSIFICADA COM O EXAME CITOLÓGICO ( F11 )
Escherichia coli
65
42,21%
Klebsiella sp
9
5,84%
Proteus sp
3
1,95%
Mobiluncus
3
1,95%
Corynebacterium
5
3,25%
Lactobacillus
1
0,65%
Micoplasmas (1 M. hominis) 8
5,19%
Negativa 60
38,96%
TOTAL
154 100,0%
Gráfico 15 – RESULTADO DE 154 CULTURAS DA FLORA NÃO
CLASSIFICADA COM O EXAME CITOLÓGICO ( F11 )
O processo inflamatório foi identificado, ao exame citopatológico, em 8.665 casos
(86 %) desta amostra. A classificação das inflamações de acordo com a intensidade:
leve, moderada e intensa resultou na distribuição vista na tabela 17, onde se nota
predomínio de inflamação moderada ( 77,0%):
F11 - CULTURAS:
3,25%
1,95%
1,95%
5,84%
42,21%
5,19%
0,65%
38,96%
Escherichia coli (1 HPV)
Klebsiella sp
Proteus sp
Mobiluncus
Corynebacterium
Lactobacillus
Micoplasmas (1 M. hominis)
Negativa
111
Tabela 17 - DISTRIBUIÇÃO DAS INFLAMAÇÕES DE ACORDO COM A
INTENSIDADE
Nº total de 8.655 total de10.064
Inflamação leve
1242
14,35% 12,34%
Inflamação moderada
6664
77,00% 66,22%
Inflamação intensa
749
8,65% 7,44%
Outros
1409
- 14,00%
TOTAL
10.064 100,00% 100,00%
A análise de 171 culturas de 749 pacientes que apresentavam cervicite muco-
purulenta ( CMP ) ou inflamação intensa, e esfregaço insatisfatório, mostrou 32 casos
em que não havia bactérias patogênicas e foram identificados somente Lactobacillus, e
28 em que o resultado da cultura foi negativo ( tabela 18, gráfico 16 ). Esses 60 casos
(35,0%) sugerem alteração da flora endógena, ou fatores não relacionados com infecção
associados ou não à cervicite, a menos que a repetição dessas culturas negativas
detectasse algum microorganismo patogênico. No entanto, apenas 69 ( 0,60%) pacientes
desta amostra, realizaram outro exame citológico no mesmo laboratório, com intervalo de
6 meses, num total de 64 retornos.
A infecção bacteriana foi diagnosticada em 35 casos ( 20,4%), a exacerbação
dos micoplasmas genitais em 21 ( 12,2%) e em 9 casos ( 5,26%) havia associação
de infecção bacteriana com micoplasmas genitais. A inflamação intensa também
ocorreu: a) em 31 casos (18,1%) em que havia Candida sp., 11 associados com infecção
bacteriana ou exacerbação de micoplasmas genitais; b) em 11 casos ( 6,4%) em que
havia T. vaginalis, 9 associados a infecção bacteriana ou exacerbação de micoplasmas
genitais; c) em 4 casos ( 2,3%) em que havia infecção por T. vaginalis e Candida sp. (
tabela 18, gráfico 16 )
A imunofluorescência para clamídia foi positiva em 10 casos ( 1,3%).
Observa-se que a frequência dos casos de inflamação ( 32 casos ) somada às
inflamações bacterianas ( 35 casos ): 39,1% é superior à exacerbação dos micoplasmas
112
genitais ( 21 casos ): 12,2 %, que, nesta amostra, não apareceram como a principal
causa de inflamação intensa.
Tabela 18 – RESULTADO DE 171 CULTURAS DAS INFLAMAÇÕES
INTENSAS:
Inflamação 32
18,71%
Inflamação bacteriana 35
20,47%
Exacerbação de micoplasmas genitais 21
12,28%
Inflamação bacteriana + exacerbação.de
micoplasmas genitais
9
5,26%
Infecção por Candida sp. 20
11,70%
Infecção por T. vaginalis 4
2,34%
Infecção por cândida e tricomonas 2
1,17%
Cândida + infl.bact. ou ex. micoplasmas 11
6,43%
Tricomonas+infl.bact.ou ex.micoplasmas 9
5,26%
Negativa 28
16,37%
TOTAL 171 100,0%
Gráfico 16 – RESULTADO DE 171 CULTURAS DOS ESFREGAÇOS
CITOLÓGICOS COM INFLAMAÇÃO INTENSA:
Inflamação intensa - CULTURA:
1,17%
6,43%
11,70%
2,34%
5,26%
12,28%
20,47%
18,71%
16,37%
5,26%
Inflamação
Inflamão bacteriana
Exacerbação de micoplasmas genitais
Inflamão bacteriana + ex.de micoplasmas
Infecção por Candida sp
Inflamão por T. vaginalis
Infecção por Candida e Tricomonas
Candida + infl.bact., ou micopl.
Tricomonas + infl. bact. ou micopl.
Negativa
113
4.4 – FOTOMICROGRAFIAS DE ALGUNS CASOS ESTUDADOS:
Figura 1- Inflamação leve. Notar o exsudato em meio a muco e às células
epiteliais; flora de
Lactobacillus sp.
Original: Papanicolaou 100X
Figura 2 - Inflamação leve. Notar grupamento de células intermediárias e superficiais com
halo peri-nuclear, entremeadas por alguns neutrófilos.
Original: Papanicolaou 1000X.
114
Figura 3 - Inflamação moderada. Notar o exsudato inflamatório em meio às células
epiteliais e célula sincicial;
Lactobacillus sp. exacerbados.
Original: Papanicolaou 400X
Figura 4 - Inflamação moderada.Notar o fundo seroso do esfregaço, leucócitos, células
epiteliais picnóticas, atipias inflamatórias e flora escassa.
Original: Papanicolaou 400X
115
Figura 5 - Infllamação intensa. Notar o exsudato inflamatório cobrindo mais de 50% do
esfregaço insatisfatório. Cervicite muco-purulenta (CMP)
Original: Papanicolaou 100XV
Figura 6 - Inflamação intensa. Notar as células epiteliais e a flora obscurecidas pelo
exsudato purulento.
Original: Papanicolaou 400X
116
Figura 7 - Notar as células epiteliais entremeadas por alguns leucócitos; flora tipo mista. A
cultura identificou
Lactobacillus sp e Ureaplasma urealyticum.
Original: Papanicolaou 400X
Figura 8 - Infecção por Gardnerella vaginalis ( B V ). Notar a presença de ”célula-guia” e o
exsudato predominantemente neutrofílico. A cultura não foi solicitada pelo clínico.
Original Papanicolaou 400X
117
Figura 9 - Notar as células superficiais e intermediárias entremeadas por leucócitos e
filamentos de muco; flora tipo mista. A cultura identificou
Lactobacillus sp e S. agalactiae.
Original: Papanicolaou 400X
Figura 10 - Notar as células epiteliais e leucócitos em meio a intensa proliferação bacteriana.
Células núcleo hipercromático. A cultura identificou
Streptococcus spp.
Original: Papanicolaou 1000X
118
Figura 11 - Infecção por Trichomonas vaginalis. Notar o protozoário em meio às células
epiteliais, leucócitos e proliferação bacteriana, dando aspecto de “esfregaço
sujo”. Não foi realizada a cultura para investigar se há infecção bacteriana
associada às tricomonas.
Original: Papanicolaou 400X
Figura 12 - Infecção por Candida sp. ( CV V ). Notar as pseudo-hifas e algumas hifas em
meio às células epiteliais e leucócitos agrupados,
Lactobacillus sp. e Leptotrix
vaginalis.
Original: Papanicolaou 1000X
119
Figura 13 - Notar as células epiteliais entremeadas por neutrófilos e outros leucócitos; flora
representada pela proliferação de bacilos não identificados. A cultura não foi realizada.
Original: Papanicolaou 400X
Figura 14 – Cervicite crônica . Notar as células metaplásicas agrupadas e neutrófilos; flora
escassa e fundo claro, sem muco aparente.
Original: Papanicolaou 1000X.
120
5.0 - DISCUSSÃO
121
5.0 - DISCUSSÃO
A análise dos resultados mostra que as pacientes que habitualmente comparecem à
consulta ginecológica estão em fase de vida sexual ativa ou em idade reprodutiva,
representadas nesta amostra, por 8.013 pacientes ( 79,6 %) com 20 a 49 anos, dentre
estas, 6.235 ( 61,9 %) na faixa de 20 a 39 anos; 5.840 pacientes ( 58,0 %) tinham de 1 a
5 filhos, 420 ( 7,1%) tiveram de 6 a 11 filhos e 314 ( 4,1%) estavam gestantes ou no pós-
parto. Esses dados que demonstram a fertilidade que é verificada em estudos da
população brasileira.
No entanto, também chama a atenção o grande número de mulheres sem filhos,
que totalizaram 3.426 pacientes ( 34,0 %), dentre estas 735 não informaram o número de
filhos e 2.694 eram nulíparas, que representaram 26,7 %, percentagem significativa no
total de pacientes avaliadas neste estudo.
Nas mulheres que tiveram maior número de filhos, foi menor o número de abortos,
mas o número de pacientes com 1 a 2 abortos: 2.271casos, ou 1
a 5 abortos: 2.516
casos, é alto, quando comparado com o total de 5.840 pacientes que tiveram de 1 a 5
filhos: dentre as pacientes com 1 a 5 filhos 38,8 % tiveram 1 a 3 abortos e 43,0 % 1 a
5 abortos.
Somente 861 ( 8,5 %) pacientes informaram o uso de anti-concepcional, 662 (76,8
%) AHO; 660 ( 2,5 %) haviam sido submetidas à histerectomia total ou parcial e 864 ( 8,5
%) estavam na menopausa.
5.1 - A avaliação das amostras e a prevalência de inflamação nos exames
e citologia cérvico-vaginal:
De acordo com as normas do Sistema Bethesda, 1991, 3.437 ( 34,1%) esfregaços
foram qualificados como “satisfatórios” e, somados aos qualificados como “satisfatórios
porém limitados”, totalizaram 9.565 ( 95,0 %); somente 499 esfregaços ( 4,9 %) eram
“insatisfatórios”, o que atende às exigências do Sistema Bethesda no que se refere ao
122
padrão dos esfregaços. Em 2001, o Sistema Bethesda eliminou "satisfatório porém
limitado". Todos os esfregaços "satisfatórios" desta amostra apresentavam células
colunares e / ou metaplásicas, de origem endocervical e os exames foram enviados com
os dados clínicos completos. Os "satisfatórios porém limitados" não apresentavam células
endocervicais ou metaplásicas. Os "insatisfatórios" eram principalmente esfregaços com o
material representado por inflamação que prejudicava a avaliação oncótica, ou esfregaços
hemorrágicos. ( 117 )
Nesta amostra, a baixa prevalência de neoplasia intra-epitelial cervical ( NIC ) – 11
casos ( 0,099 %) também mostra que é interessante valorizar a pesquisa de agentes
inflamatórios. A baixa prevalência de neoplasia pode ainda ser relacionada com
características próprias da população estudada, constituída de pacientes atendidas pela
clínica privada e com maior facilidade de acesso à realização anual do exame citológico
para a prevenção do câncer ginecológico; essas possibilidades não foram avaliadas neste
estudo, mas necessitam ser confirmadas. Em 239 ( 2,3 %) casos foram observadas
células atípicas, ou atipias, ( OMS ), e o laudo foi acompanhado da recomendação da
necessidade de acompanhamento clínico e controle com exame citológico, ou realização
de biópsia do colo uterino. (2,33,40,86,110 )
O exame citológico cérvico-vaginal, que é Oncótico por definição, detectou
paralelamente, 8.655 ( 86,0 %) casos de inflamação e / ou infecção vaginal ou cérvico-
vaginal e somente 1.089 (10,8 %) esfregaços normais. Estes dados correspondem ao
que ocorre rotineiramente: pacientes sem lesões neoplásicas ou pré-neoplásicas, não
apresentam somente o esfregaço normal, mas apresentam, inflamação e / ou infecção do
trato genital inferior, em percentagem muito maior que os normais e facilmente vista ao
exame citológico. No entanto, essa conclusão é compreendida na prática, como um
diagnóstico secundário, mesmo na ausência de neoplasia, e em geral, faz parte do laudo
no Brasil, mas em outros países, frequentemente é comunicada informalmente ou por
telefone. Assim, enquanto neste estudo, a inflamação e / ou infecção esteve presente em
123
86,0 % dos casos, esse índice é pouco citado na literatura norte-americana, de 5 a 25%,
referido por Eckert et al. (1995); Malik et al.( 2001) encontraram alterações celulares
benignas em 23% de 1.103 esfregaços citológicos, 8% com infecções que chamou de
“específicas” e 92% com alterações reativas; 92 pacientes ( 8,3%) foram submetidas à
biópsia, que apresentou alterações consideradas de “nenhum significado patológico”;
Malik comenta que, de acordo com o College of American Pathologists, 9% dos
laboratórios nos EUA tem taxa de alterações celulares benignas menor que 20%. Outros
autores como Carrera et al.(1977) referem o esfregaço inflamatório coincide em 85% com
a inflamação vista à colposcopia. (20,25,30,81,126 ).
A revisão bibliográfica mostrou que a inflamação no trato genital inferior feminino -
não relacionada ao vírus HPV - e as infecções, encontradas com o exame citológico
cérvico-vaginal, são pouco estudadas por meio da correlação com exames
microbiológicos, o que depende ainda, de qual ou quais tipos de agentes patogênicos
foram investigados. Após as conferências que originaram o Sistema Bethesda,
publicações sobre as Alterações Celulares Benignas, ou BCC, são raras.
Este estudo foi realizado com amostra não selecionada, representada por 10.064
pacientes encaminhadas ao laboratório para exame de citologia vaginal e, em 21,5 % ou
2.169 casos, foi também realizada a cultura e / ou bacterioscopia da secreção vaginal.
Esses exames foram solicitados a critério clínico durante a rotina do atendimento médico
a essas pacientes. A cultura da secreção foi o exame microbiológico mais solicitado e
representou 94,8 % do total de 2.254 exames microbiológicos realizados. A microflora
vaginal visível com a coloração de Papanicolaou foi classificada de acordo com a
codificação de F1 a F11 e correlacionada com o resultado das culturas, que confirmou
ou especificou os microorganismos presentes no esfregaço citológico. O exame
citológico foi realizado com atenção às principais características do processo inflamatório.
A classificação antiga foi então re-avaliada, em comparação com as especificações para
124
microorganismos propostas pelo Sistema Bethesda para o laudo do exame citológico.
(11,30,63,73,77,79,80,81,117,122,126 )
5.2
- Principais observações sobre a prevalência dos agentes
identificados com o exame citopatológico e microbiológico nesta
amostra:
A prevalência dos microorganismos detectados com a coloração de Papanicolaou,
mostrou predominância de Lactobacillus ( 4.550 casos - 45,2 %) seguida pelas infecções
por Candida sp ( 1.519 casos –15,0 %) e Gardnerella vaginalis ( 1194 casos-11,8 %),
confirmados com a cultura em 31,5 %, 12,2 % e 10,7 %, respectivamente, onde esses
agentes também foram predominantes, conforme os resultados das Tabelas 7 e 8.
Lactobacillus foram encontrados nesta amostra, em esfregaços normais sem
atrofia, em esfregaços citolíticos e em esfregaços inflamatórios. Quando acompanhados
de inflamação, podem ser relacionados à alteração do ecossistema vaginal ou à citólise
e podem ainda estar associados a bactérias patogênicas causadoras de infecção a ser
pesquisada. Em esfregaços de pacientes na menopausa, Lactobacillus presentes ou
remanescentes, podem ser relacionados a uma microflora ainda preservada, apesar da
atrofia epitelial e o consequente declínio do glicogênio nas células epiteliais. A Candida
sp. e Gardnerella vaginalis, microorganismos patogênicos mais prevalentes nesta
amostra, são também mundialmente reconhecidos como os agentes mais frequentes de
infecção do trato genital inferior feminino. (36,37,38,77,103,108 )
A avaliação geral dos demais microorganismos detectados entre os dez mais
prevalentes neste estudo, mostra que os demais resultados do exame citológico e
microbiológico não são coincidentes e podem ser comparados somente quendo
relacionados em ordem decrescente de frequência, apesar da expectativa do clínico ou
ginecologista, de que os exames de uma mesma paciente não apresentem resultados
discrepantes ou incompatíveis. Essa expectativa justifica-se também pelo também
125
pelo fato de que os processos inflamatórios do trato genital na mulher são
comuns, embora não sejam graves, e as pacientes muitas vezes voltam ao ginecologista
devido à re-infecção, recidiva ou falha na resposta ao tratamento ou à auto-medicação.
Nos casos orientados adequadamente, a experiência clínica reconhece que o tratamento
é compensador. ( 38,110 )
5.3 –
O conhecimento do ecossitema vaginal aplicado à presença de
lactobacilos no esfregaço:
Nesta amostra, a predominância de Lactobacillus foi verificada em 4.550 esfregaços
( 45,2 %) e em 866 ( 8,6 %) constituíam uma flora mista. Esses dados correspondem à
flora tipo I e II de Schroeder, podendo-se relacionar a flora denominada “a menos
patogênica”, tipo I, normal ou com inflamação, e a denominada “estágio intermediário”,
tipo II, com inflamação ou com provável infecção em que estão ainda presentes o
Lactobacillus. Foram realizadas 684 (15,0 %) culturas de pacientes com esfregaço
citológico codificado como F1, que é o mesmo que flora tipo I, e 289 ( 33,3%) culturas de
pacientes com esfregaço citológico codificado como F2, que é o mesmo que flora tipo II.
Atualmente, o conhecimento da microflora e do ecossitema vaginal são indispensáveis
para uma melhor compreensão desses resultados e também são necessários para a
compreensão do papel das bactérias nas infecções vaginais. O conceito de ecossistema,
que é a interação entre o meio vaginal e a microflora, assim como os conhecimentos
sobre a BV e sobre a imunologia da vagina representam grandes avanços da
Microbiologia e Imunologia do trato genital inferior feminino. (4,42,72,73,96,124 )
A aplicação dos conhecimentos sobre o ecossistema vaginal em Citopatologia,
explica em parte que - o afluxo de leucócitos em quantidade maior do que ocorre com as
variações do ciclo menstrual, a aceleração da descamação do tecido epitelial, ou a
citólise, e flora constituída por Lactobacillus acidophillus, observados comumente nos
esfregaços - provavelmente representam o desequilíbrio do ecossistema decorrente dos
126
fatores endógenos ou exógenos conhecidos. A inexistência de agente infeccioso ou de
cervicite entretanto, dificulta a explicação desses fenômenos pelos Microbiologistas, cujas
publicações são geralmente dirigidas ao isolamento de algum agente etiopatogênico. Lira
Neto ( 1984 ), estudando 118 pacientes com esfregaços citológicos apresentando esses
fenômenos, concluiu que os bacilos não são a causa e sim o efeito; a exacerbação dos
Lactobacillus decorre de condições que aumentam o teor de glicogênio epitelial como
gravidez e fase luteínica do ciclo menstrual, uso de anovulatórios ( 42 pacientes ) e
anovulação crônica ( 47 pacientes ) ou outras condições metabólicas e hormonais, de
observação clínica; Lira Neto observou que essas pacientes podiam também manifestar
sinais e sintomas clínicos exsuberantes de citólise e há casos que são resistentes ao
tratamento. Na literatura norte-americana, Cibley e Cibley (1991) fazem referência à
citólise, que é a exacerbação do Lactobacillus com consumo do glicogênio
citoplasmático das células epiteliais, um fenômeno primeiramente denominado “citólise
de Doderlein”, depois citada por Bibbo, M. e Wied, G.M., como um achado comum no
esfregaço citológico, reconhecido pela Citopatologia. Atualmente, é uma entidade clínica
denominada Vaginose citolítica mas permanecem dúvidas se é uma entidade patológica
porque muitas pacientes não apresentam queixas. Os estudos microbiológicos não
produzem esclarecimentos e colocam dúvidas se apenas o Lactobacillus produz a
citólise. Cibley e Cibley comentam ainda, que Bibbo não descreveu a citólise como
achado clínico e que a denominação "citólise de Doderlein" talvez seja incorreta, sendo
muito mais indicada Vaginose citolítica. Neste estudo, 320 ( 3,1%) pacientes
apresentavam esfregaços citolíticos, com predomínio da citólise e Lactobacillus
exacerbados mas com leucócitos ausentes ou escassos. A bactéria Leptotrix vaginalis,
da família dos Lactobacillus, foi identificada com o exame citológico em 607 casos ou
6,0% do total da amostra e esteve associada à citólise em número não determinado de
esfregaços. Apesar da escassez de publicações sobre Leptotrix e Bacterionema sp.
registramos a ocorrência da espécie Leptotrix vaginalis amostra. ( 10,11,25,76 )
127
A alteração da microflora interpretada por Shroeder como “estágio intermediário”,
observada nesta amostra em 866 casos ( 8,6 %), indica que a predominância de
Lactobacillus ainda não foi superada pela proliferação de outros microorganismos
endógenos ou exógenos, que constituem o segundo componente dessa flora,
visivelmente heterogênea, e que provavelmente, os mecanismos de defesa promovidos
pelos Lactobacillus ainda estão atuando no ecossistema. A flora intermediária ou mista
pode representar algum grau de preservação do ecossitema ou fase de transição entre o
normal e o patológico, ou atrófico. O exame microbiológico nesses casos, identifica
tipos de bactérias que podem variar nas amostras, dependendo da população estudada.
Neste estudo, os micoplasmas genitais associados aos Lactobacillus compondo a flora
tipo II foram identificados em 50,1% das 289 culturas, seguidos por estafilococos e
estreptococos em 110 casos ( 31,1%); em 17 ( 5,8%), a Escherichia coli, 8 dos quais
(2,7 %) associada também a micoplasmas; outras bactérias identificadas em 11 casos
foram: G. vaginalis, Klebsiella sp., Proteus sp., Mobiluncus sp e Corynebacterium. A
prevalência do Ureaplasma urealyticum ( 142 casos-49,1% ), está de acordo com a
frequência dos micoplasmas genitais na nossa região Nordeste do Brasil, publicada por
Teixeira et al.(1999 ), em estudo de correlação do exame citológico e microbiológico.
(34,96,117 )
Os patógenos identificados como parte da flora tipo II nesta amostra, provavelmente
foram capazes de induzir à reação inflamatória representada no esfregaço citológico
principalmente pelo exsudato, com maior ou menor número de neutrófilos, acompanhada
por células epiteliais descamadas com pseudoeosinofilia e secreção de quantidade
variável de muco cervical. A correlação do exame citológico com a cultura para
micoplasmas genitais mostrou que a presença de inflamação significativa no esfregaço,
facilmente podia levar à interpretação pelos dados de laboratório, de que eram agente de
infecção. Nos casos em que as alterações inflamatórias eram discretas ao exame
citológico, eram admissíveis outras hipóteses como colonização na genitália
128
externa, dúvidas que irão depender da interpretação do ginecologista. Uma flora tipo II
constituida por Lactobacillus e micoplasmas genitais exacerbados não pode ser
diagnosticada com a coloração de Papanicolaou mas a frequência do Ureaplasma
urealyticum ( 49,1%) pode colocar o citopatologista diante da suspeita de que estão
presentes nos esfregaços com flora tipo II associada à inflamação, e há necessidade de
que sejam investigados para definir se são agentes de infecção, considerando-se que a
patogenicidade dos micoplasmas é controversa. ( 62,114 )
As publicações indicam que a colonização ou a infecção por micoplasmas resulta
do contato sexual. Mc Cormack ( 1980 ) refere que o M. hominis e o U. urealyticum estão
presentes na mucosa genital de mais de 50% dos adultos sexualmente ativos. E ainda,
que a mulher é mais suscetível à infecção sintomática ou assintomática e por isso, é
importante que a organização Family Health International tenha incluído os micoplasmas
entre os agentes de doença sexualmente transmissível. Faibis et al. ( 1994 ) afirmam que
os micoplasmas tiveram, na clientela do Institut Pasteur de Madagascar, uma parte de
responsabilidade no aparecimento de cervicite porque o M. hominis foi identificado em
21,4 % e o U. urealyticum em 41,6 % dos casos. Teixeira et al. ( 1999 ) encontraram em
Recife, frequência semelhante, de exacerbação dos micoplasmas genitais na cérvice e
vagina de mulheres sexualmente ativas, representada pelo U. urealyticum em 53 % de
421 mulheres, 16 % M.hominis e 31% associados; esses autores salientaram a
importância da avaliação semi-quantitativa em placa do número de colônias, para
diferenciar colonização de exacerbação indicando os casos em que são agente de
infecção e a correlação com o exame citológico também mostrou que a presença de
micoplasmas no esfregaço é diferente da BV. Taylor Robinson ( 1998 ) definiu os
micoplasmas genitais como causa de NGU e BV e ainda, como causa de parto
prematuro, o que esclarece em parte, as controvérsias e confirmam que os micoplasmas
são agentes etiológicos de doença inflamatória pélvica ou puerperal, que devem ser
prevenidas. (15,27,36,112,113,114,116 )
129
5.4 –
A interpretação da flora bacteriana patogênica na ausência de
Lactobacillus:
A flora tipo III de Schroeder, interpretada como “a mais patogênica” é comumente
relacionada em Microbiologia com a Vaginose bacteriana, a BV. No esfregaço citológico,
a presença de inflamação com exsudato e flora tipo III, em que estão ausentes as clue
cells, podia ser relacionada com a especificação confusa de Streptococcen-Typ ou
kokken-typ, ou “bactérias cocóides”. Essa especificação já está em desuso e é
inadequada porque se refere apenas ao aspecto morfológico de bactérias que não podem
ser identificadas com a coloração de Papanicolaou. A indicação de "bactérias cocóides"
era ainda frequentemente usada por exclusão, significando a presença de uma bactérias
mal identificadas, ou na falta de especificação mais apropriada para a flora encontrada
nas pacientes na menopausa ou pós-menopausa que presentavam inflamação no
esfregaço citológico, decorrente de alteração no ecossistema vaginal pela queda no nível
hormonal, ou talvez causada por infecção. Correspondiam à codificação F3 para cocos e
“cocóides” que pouco davam esclarecimento ao ginecologista, mas permaneceu a
distinção entre F3 e F4, feita por Wied e Bibbo, F4 indicando somente a Gardnerella
vaginalis. O Sistema Bethesda retirou apropriadamente, a especificação de cocos ou
“cocóides” sem, no entanto, indicar se há necessidade de identificação com a cultura, das
bactérias vistas nesses esfregaços associadas à inflamação. (11,34,47,75,117 )
De acordo com os resultados desta amostra, 69 pacientes ( 0,6 %) apresentavam
uma flora tipo III constituída por cocos patogênicos, em 51 casos (73,9%) identificados
com a cultura: Staphylococcus aureus 27 ( 52,9 %), Streptococcus spp. ( grupo D, não
enterococo ) 23 (45,1%) e Neisseriae gonorrhoeae 1 (1,9 %); Larsen e Galask ( 1980 ),
afirmam que é difícil o consenso na literatura, sobre a presença dos cocos aeróbios
devido à incompatibilidades na nomenclatura e na apresentação dos dados por diferentes
130
autores; o Staphilococcus epidermidis, não patogênico, é o mais comumente encontrado
- em 12 a 92% das amostras - e o Staphilococcus aureus é encontrado em menor
percentagem de pacientes, ou é encontrado na vagina durante a fase menstrual; os
estreptococos que causam infecção do trato genital inferior feminino são ainda
diagnosticados com base na hemólise dos grupos de Lancefield, com predomínio do -
hemolítico ou do grupo B, que tem relação com infecção neo-natal; o grupo D,
enterococo, foi identificado por Larsen e Galask, em 36% de um grupo de pacientes e
mostrou-se resistente a mudanças mais extremas no ambiente que os outros cocos; o
grupo A não é frequente. Nesta amostra, a baixa incidência de Neisseriae gonorrhoeae
(1caso - flora tipo II e 2 casos flora tipo III ) pode também ser relacionada com o declínio
da infecção verificada em todo o mundo, com incidência de 0,3% de 3.985 pacientes e
3,2% de 6.603 pacientes, encontrada na África por Faibis et al. ( 1994 ) e Faye Kette et
al.( 1993 ) respectivamente. ( 36,37,50,71 )
As bactérias morfologicamente "cocóides", foram identificadas em 380 ( 3,7%)
casos, dentre estes, 222 ( 58,4 %) pacientes tinham mais de 50 anos. A cultura foi
realizada em 47 (12,3%) casos e identificou 38 ( 80,8%) U. urealyticum, 6 (12,7%) U.
urealyticum e M. hominis e 2 (4,3%) somente o M. hominis; outras bactérias com
morfologia “cocóide” ao exame citológico foram 2 Mobiluncus e 1Lactobacillus. Com
relação as micoplasmas genitais, os achados desta amostra são semelhantes aos de
Jones e Davson ( 1967 ), que descreveram pela primeira vez o M. hominis no esfregaço
citológico, confirmado com a cultura em 24% de 233 pacientes, principalmente em
esfregaços com proliferação bacteriana intensa em meio às células epiteliais; nos
esfregaços com proliferação discreta, comentaram que o reconhecimento do M. hominis
não era confiável e que havia crescimento de menor número de colônias na cultura. Os
achados desta amostra também correspondem aos de Teixeira et al. ( 1999 ), que
identificou um padrão microbiológico de exacerbação dos micoplasmas genitais diferente
131
da BV devido à ausência de Gardnerella vaginalis e de clue cells, ao exame citológico.
(62,114,116 )
A coloração de Papanicolaou, ou outra usada em Citopatologia, não permite
identificar tipos de cocos, nem "bactérias cocóides", representadas muitas vezes por
micoplasmas genitais, e orientar esses casos continuará a ser um problema, se não
existir no laudo, especificação ou tópico, que indique a necessidade de diagnóstico com
exame microbiológico, principalmente a cultura, nos casos em que não tenha sido
solicitada a critério clínico. "Cocos", "cocóides" ou "cocobacilos" devem ser eliminados
definitivamente, do laudo do exame citológico, de acordo com preceitos básicos de
Microbiologia e com as seguintes conclusões de publicações atuais: a) Cocos são
identificados ao exame direto, com uso da objetiva de grande aumento, nos seus dois
grandes grupos: Gram positivos e Gram negativos, e não, com a coloração de
Papanicolaou; b) Não foi ainda esclarecido pelos Microbiologistas, quais os tipos de
estafilococos ou estreptococos mais frequentes e patogênicos para o trato genital
feminino; c) O Staphilococcus epidermidis é o coco mais frequentemente encontrado na
vagina e uma vez que não é patogênico, não é causa de infecção, e deve-se evitar que
seja confundido com outro coco patogênico, quando visível com a coloração de
Papanicolaou; d) A frequência dos micoplasmas genitais deve ser lembrada quando há
uma flora morfologicamente "cocóide" ou uma flora sugestiva de cocos, o que não pode
ser resolvido somente com a coloração de Papanicolaou; e) A proliferação dos
micoplasmas genitais não deverá ser confundida com infecção por N. gonorrhoeae na
prática do exame citológico, por citopatologista que reconheça os limites da coloração de
Papanicolaou na identificação desse agente e considere que a gonorréia é atualmente
menos frequente em todo o mundo, alcançada pela eficiência da antibioticoterapia no seu
tratamento. ( 15,50,62,71,116 )
De acordo com os resultados deste estudo, foi observada uma flora tipo III,
patogênica, que não é BV e pode estar acompanhada de inflamação de intensidade
132
variável ao exame citológico, mas a sua etiologia poderá ser esclarecida somente com a
cultura. Nos casos em que a cultura não tenha sido solicitada a critério clínico, essa
informação poderá ser indicada no laudo de exame citológico para facilitar a aproximação
entre os especialistas e evitar que haja discrepâncias entre os dois exames de
laboratório, o que facilitará também, a decisão do ginecologista. Por outro lado, embora
seja necessário um maior número de casos para confirmar as observações preliminares
deste estudo, a presença de inflamação ou exsudato de neutrófilos e piócitos ao exame
citológico poderá complementar a positividade da cultura, auxiliando a determinar a
patogenicidade dos micoplasmas genitais e justificar a antibioticoterapia. Nos esfregaços
tróficos ou atróficos com discreta proliferação de micoplasmas, a decisão sobre
patogenicidade irá depender da interpretação do ginecologista.
( 27,30,31,116 )
Nos casos de infecções associadas é necessário investigação mais cuidadosa.
Arya et al. ( 2000 ), avaliando a incidência do M. hominis e do M. hominis associado a
outras infecções como BV, tricomonas, clamídia, verrugas genitais e cândida em 341 de
1.200 pacientes, salientam a importância de que as investigações sejam feitas por etapas,
a partir da eliminação da influência dos agentes da infecção associada aos micoplasmas;
esses autores encontraram dificuldades em determinar a patogenicidade e não
observaram diferença estatisticamente significativa na resposta inflamatória representada
pelo número de PMN nos esfregaços corados pelo Gram e pela leucorréia, nas pacientes
positivas ou negativas para M.hominis. ( 5 )
5.5 -
Os estudos da BV e sua correlação com o exame citológico:
A Vaginose bacteriana – BV, que Gardner e Dukes ( 1954 ) denominaram Vaginite
por Haemophillus vaginalis, descreveram suas características clínicas, o agente
sexualmente transmissível e as características microscópicas da infecção, é
atualmente reconhecida como entidade clínica e microbiológica, e é a infecção bacteriana
133
mais frequente no trato genital inferior feminino. A bactéria predominante, re-classificada
com DNA homólogo em 1980, como Gardnerella vaginalis, é identificada com o Gram ou
com cultura e também ao exame citológico, pela presença das clue cells ou "células
guia". A identificação das bactérias anaeróbicas, que são cocos Gram positivos ou Gram
negativos e que se associam à Gardnerella vaginalis na BV não tem aplicação prática
porque são necessários equipamentos e técnicas sofisticadas. A identificação dos
gêneros e espécies de bactérias anaeróbicas, constituindo a "síndrome polimicrobiana",
seus produtos e a identificação bioquímica das aminas foram os principais conhecimentos
acrescentados à descrição original da entidade. (12,34,43,44,105, 106,108)
Amsel et al. ( 1983 ) estabeleceram os critérios para o diagnóstico clínico, que foram
adotados pela OMS, mas Sweet ( 2000 ) demonstra preocupação com a necessidade de
que a BV seja diagnosticada: " Apesar dos riscos associados com a vaginose bacteriana
e de sua alta prevalência na mulher em idade reprodutiva, a vaginose bacteriana continua
a ser ignorada pelos clínicos, particularmente na mulher assintomática". Mais de 50% dos
casos de BV são assintomáticos e mesmo as mulheres não demonstram preocupação
com a BV. ( 4,111 )
De acordo com Giacomini et al. ( 1997 ), o aspecto da BV é “típico e inequívoco, foi
um dos primeiros descritos na citologia vaginal e em regra, associa-se ao quadro clínico”.
Descreve que o mais importante nesses esfregaços é o fundo coberto pela intensa
proliferação bacteriana, com espaços ao redor das células epiteliais e, com maior
aumento, a ausência de lactobacilos e a presença de clue cells, que são mais visíveis ao
exame a fresco. ( 47 )
Neste estudo, 1.197 pacientes ( 11,8 %) apresentaram a infecção por Gardnerella
vaginalis vista no esfregaço citológico, 333 ( 27,8%) confirmados com a cultura. Ao exame
citológico foram observados dois aspectos microscópicos distintos: 1) 832 (69,5 %)
esfregaços apresentavam microscopia típica de BV; 2) 308 ( 25,7 %) esfregaços
134
apresentavam quantidade significativa de neutrófilos, piócitos e muco em meio à intensa
proliferação bacteriana e às clue cells. A inibição da quimiotaxia dos leucócitos é a
característica da BV que levou Spiegel ( 1983 ) a propor a denominação Vaginose
bacteriana, ao invés de vaginite, para essa síndrome. Portanto, a BV acompanhada de
exsudato difere do aspecto típico, dificulta o diagnóstico ao exame citológico e, para
liberar o exame, o citopatologista recorre a observações imprecisas como "compatível
com BV" ou "sugestiva de BV", que poderão influenciar até a decisão terapêutica. A
presença do exsudato sugere que há outro agente, ou outros fatores responsáveis pelo
afluxo de leucócitos, e talvez o ginecologista já tenha suspeita disso, mas na prática
médica, a interpretação desses achados fica prejudicada se não for indicado que o exame
microbiológico - a cultura, ou o Gram, deve ser realizado. ( 4,59,106,111)
Em vários trabalhos publicados e co-autorias, Spiegel ( 1980,1983,1983,1991) não
faz referência a leucócitos ou quantidade de leucócitos vaginais na BV, nem mesmo
quando inclui bactérias como Mycoplasma hominis e Mobiluncus sp., como parte das
bactérias que compõem a BV; também não descreveu se havia leucócitos nos casos em
que observou infecção por coliformes, tricomonas e monília concomitante com a BV.
Pheiffer et al. ( 1978 ) registraram leucócitos na BV. Holmes et al. ( 1981 ) referem que a
presença de muitos PMN na ausência da Trichomonas vaginalis ou C. albicans, sugere
cervicite devida a N. gonorrhoeae, Chamydia trachomatis ou vírus HSV, ao invés de
vaginite. Sweet ( 2000 ) refere que a cervicite não responde a tratamento até que a BV
seja tratada. ( 4,43,59,94,106,107,111 )
Neste estudo foram realizadas 279 culturas das 832 pacientes em que o esfregaço
citológico era típico de BV. O resultado da maioria dessas culturas - 71,7% ou 200 casos,
identificou unicamente a Gardnerella vaginalis. No restante, a presença de 35
Ureaplasma urealyticum, 6 Mycoplasma hominis, 32 ( 11,4% ) Candida sp., 4
(1,4%)Trichomonas vaginalis, 1 Escherichia coli, 1 Corynebacterium e ainda, 18
imunofluorescências positivas para clamídia não modificaram significativamente as
135
características do esfregaço. Nos casos que não eram típicos porque apresentavam
exsudato, a Microbiologia contribui decisivamente para confirmar a BV ou esclarecer a
etiologia da infecção bacteriana concomitante, mas o exame citológico foi acompanhado
da investigação da flora com cultura, somente em 54 ( 17,5% ) dos 308 casos. As
culturas das pacientes em que a Gardnerella vaginalis estava associada a exsudato
mostraram 12 casos ( 22,2 %) com exacerbação dos micoplasmas genitais, 5 Candida sp.
( 9,2 %) e 1 Mobiluncus sp. ( 1,8 %); em 34 casos ( 62,9 %) foi identificada somente a
Gardnerella. Nas pacientes em que somente a G. vaginalis foi identificada, é mais
provável que o exsudato ou cervicite precedeu a BV e é possível que maior quantidade
de neutrófilos e piócitos estejam presentes na secreção e no esfregaço citológico, quanto
maior seja a intensidade ou a duração da cervicite. Nas pacientes com outros patógenos
associados à BV, vistos ao exame citológico ou identificados com cultura, a conclusão é
de que há dupla infecção: BV associada a Candida sp. ou à exacerbação do Ureaplasma
urealyticum, neste estudo. (59,94 ).
A comparação dos dados mostra que a exacerbação dos micoplasmas genitais
ocorreu mais frequentemente, sem alterar o aspecto microscópico característico da BV
(12,3% de 333 culturas) do que nos casos com presença de exsudato ( 3,6% de 333
culturas). Metaplasia pode ser decorrente de cervicite e a cervicite é considerada pelos
autores, a mais provável causa de aparecimento do exsudato na BV, mas nesta amostra,
a metaplasia ocorreu com frequência aproximada nos dois grupos: 21,8% ( 182 casos
típicos de BV ) e 25,7 % ( 78 casos de BV com exsudato ). A presença de exsudato nos
casos de BV desta amostra, não mostrou associação significativa com a presença de
Candida sp, Trichomonas vaginalis, ou Chlamydia trachomatis,, nem com alterações
hormonais como o uso de anticoncepcional ( 22 pacientes) ou menopausa ( 16
pacientes). Estes resultados não devem, entretanto, sugerir que cervicite com ou sem
metaplasia e proliferação de outros agentes patogênicos deixem de ser investigados
nessas pacientes. É provável ainda, que a investigação clínica sobre DST prévia e sua
136
duração, comportamento sexual, influência hormonal, uso de DIU, falha de tratamento
anterior ou auto-medicação possa acrescentar outros dados que possam ter relação com
o aparecimento do exsudato na BV. A relação entre as bactérias anaeróbicas e o
exsudato não é estudada. De acordo com Paavonem et al. ( 1986 ), critérios clínicos
uniformes para vaginose bacteriana e cervicite muco-purulenta deverão ser usados em
futuros estudos clínicos sobre de que maneira as duas condições estão interrelacionadas.
O citopatologista poderá auxiliar a triagem dos casos em que a cultura não tenha sido
solicitada a critério clínico. ( 47,59,90 )
A associação da BV com infecção por outros patógenos tem sido registrada na
literatura por Gardner e Dukes ( 1959 ), Pheiffer et al. ( 1978 ), Holmes et al.( 1981 ),
Spiegel ( 1983, 1991), Schnadig ( 1989 ) mas a atenção dos estudos para compreender a
entidade é voltada principalmente para o papel do Mycoplasma hominis e Mobiluncus sp.
que vem sendo incluídos como parte da flora patogência que causa a vaginose
bacteriana. A presença do M. hominis na BV é considerada uma associação
independente em 24 a 75 % dos casos, mas é também encontrado em 13 a 20 % das
mulheres normais. O Mobiluncus sp. adere às células epiteliais formando as comma cells
descritas por Schnadig (1989) com o Gram e com a coloração de Papanicolaou; com a
cultura, Biswas ( 1993 ) refere que o Mobiluncus é identificado em 14 a 96 % das
mulheres com BV e em menos de 6 % dos controles. Taylor Robinson ( 1996 ) afirma que
a vaginose bacteriana ocorre com ou sem sintomas como uma entidade distinta, não
relacionada com a presença de outra infecção. Nesta amostra nota-se uma baixa
incidência na cultura, dessas bactérias que são incluídas como parte da flora da vaginose
bacteriana: o M. hominis identificado em 8 casos e Mobiluncus em apenas 1 caso. A
possibilidade de as clue cells serem diferenciadas das comma cells ( e das pseudoclue
cells ) ao exame citológico poderá levar ao aumento da frequência de Mobiluncus nas
amostras. (12,44,59,94,101,106,108 )
137
Avaliações comparativas vem estabelecendo a sensibilidade, especificidade, valor
preditivo positivo e valor preditivo negativo, para os tipos de exames indicados para
confirmar o diagnóstico de BV e ainda, por meio da correlação entre a cultura ou o Gram
e os achados do exame de citologia cérvico-vaginal. Ao exame citológico, o aspecto
típico de BV com clue cells presentes é semelhante ao que é visto no Gram e as
avaliações vem mostrando que, para o diagnóstico de BV, o exame citológico é 88,7 %
sensível, 97 a 98,8 % específico, com valor preditivo positivo de 88 a 94 % e valor
preditivo negativo de 98,7 %, portanto confiável. O Sistema Bethesda mantém a
especificação que corresponde à flora anteriormente codificada como F4, mas as
discussões tem levado a modificações na especificação em cada conferência realizada:
em 1988, o TBS adotou "microorganismos morfologicamente compatíveis com espécies
de Gardnerella", mas Giacomini e Schnadig discordaram justificando que a BV é uma
síndrome polimicrobiana causada não somente pela Gardnerella; em 1991, o TBS adotou
"predominância de cocobacilos compatíveis com alteração na flora vaginal" e em 2001,
adotou "alteração da flora sugestiva de Vaginose". (12,46,47,54,58,95,101,117 )
Com relação a essas incertezas, alguns comentários podem ser feitos a partir das
observações deste estudo: a) uma especificação ou um termo deve ter sua validade
confirmada com o seu uso na prática e o diagnóstico de BV em laboratório, baseia-se na
identificação da G. vaginalis e das clue cells porque as bactérias anaeróbicas somente
podem ser identificadas em laboratórios equipados para pesquisa; b) as clue cells
representam a aderência da G. vaginalis às células epiteliais em número muito maior do
que outras bactérias e quando estão presentes no exame citológico, a sensibilidade é de
90 % e especificidade 97 % para o diagnóstico de BV; c) denominações como
"cocobacilos" são tão inadequadas quanto "cocóides" e nem poderiam ser empregadas
para indicar outras bactérias responsáveis por infecção secundária à BV porque devem
ser empregados métodos como a cultura para identificar esses patógenos,
especialmente se modificam o aspecto típico da BV ao exame citológico; d) "alteração
138
da flora sugestiva de Vaginose" não é adequado para indicar a BV com exame de
laboratório, sem que o diagnóstico dessa entidade seja também indicado pelos sinais e
sintomas clínicos que são os "critérios de Amsel". É adequado propor para o exame de
citologia cérvico-vaginal a especificação: "infecção por Gardnerella vaginalis, com
presença de "células-guia". ( 4,45, 47,117 )
5.6 -
A infecção por tricomonas e o papel da Citopatologia no seu
diagnóstico:
A revisão bibliográfica leva a considerar a infecção por tricomonas, uma das
primeiras doenças sexualmente transmissíveis conhecidas, sob dois aspectos: o primeiro
deles, com relação ao registro das DST no mundo e o outro, com relação ao papel do
exame citológico no diagnóstico da infecção por Trichomonas vaginalis no trato genital
inferior feminino. ( 8,27,67 )
Baldy, em 1985, referia que a denominação doenças sexualmente transmissíveis
adotada na década anterior, significou uma mudança e uma ampliação do conceito de
doença venérea porque a nova denominação estendeu-se às doenças com múltiplas
manifestações, devidas a vários agentes que podem ser transmitidos durante o ato
sexual. Assim, doenças como a hepatite, amebíase ou outras, podem ser transmitidas
durante o contato sexual, além das venéreas clássicas, que ainda carregam a conotação
repulsiva e o sentimento de culpa e peso por tê-las contraído, dificultando a abordagem
médica e científica, tornando mais difícil interferir nas suas causas. Atualmente são
incluídos pela organização Family Health International, microorganismos pouco
conhecidos ainda, como agentes de DST, como o vírus HTLV-1 e 2, herpes humano tipo
8, Epstein-Baar, citomegalovírus, vírus do molusco contagioso, as bactérias
Calymmatobacterium granulomatis, Shigella spp, Campylobacter spp, e fungos ou
protozoários como Phthirus pubis e Sarcoptis scabiei. As DST são doenças endêmicas,
urbanas, atingem todas as camadas sociais, sua incidência continua a aumentar, mas a
139
primeira dessas doenças que se tornou de notificação compulsória é a AIDS. A
recomendação da OMS, levando em conta essas particularidades das DST, é de que
sejam intensificados os esforços no sentido da educação para a prevenção dessas
doenças. ( 8,27,82 )
A infecção por Trichomonas vaginalis sintomática ou assintomática atinge milhões
de pessoas em todo o mundo mas algumas frequências encontradas na literatura
demonstram as variações que ocorrem nas populações dos continentes: na África, 8,2 %
no estudo de Faye Kette et al. ( 1993 ) com 6.603 pacientes e 10,2 % no estudo de Faibis
et al.( 1994 ) com 3.985 pacientes; no México, a infecção por tricomonas foi identificada
por Sanchez Vega et al. ( 1993 ) em 3,13 % de 800 pacientes. Nesta amostra, a
incidência de infecção por Trichomonas vaginalis foi de 1,3 % ( 133 casos ), próxima da
incidência encontrada na América Latina. ( 36,37,98 )
As características da inflamação no esfregaço citológico e o aspecto
histopatológico da agressão da Trichomonas vaginalis ao epitélio causando cervicite
com congestão vascular foram descritas por Koss e Wolinska ( 1959 ). Nesta amostra,
133 ( 1,3% ) pacientes apresentavam infecção por tricomonas dentre estas 55 ( 41,3 % )
com inflamação purulenta e 40 esfregaços eram insatisfatórios para a avaliação
oncótica. Nesses casos, a investigação clínica pode indicar possíveis causas da maior
intensidade da inflamação como a duração da infecção, contaminação do parceiro, falhas
de tratamentos anteriores especialmente auto-medicação. Entretanto, a investigação
com a cultura, do papel de bactérias patogênicas associadas à infecção por tricomonas
provocando o aparecimento de exsudato mais intenso não deve ser excluída. ( 65 )
Uma observação comum na prática de exame citológico é que dificilmente é
encontrada somente a tricomonas em meio ao esfregaço inflamatório e é visualizada uma
maior ou menor proliferação de uma flora bacteriana que, modificada, ou mesmo
sugerindo ser patogênica, não desperta muito a atenção, já que a tricomonas justifica a
presença dos leucócitos e de outros sinais de inflamação. Nesta amostra o exame direto
140
(T+M ) ou a cultura foram realizados em 32 pacientes e com a correlação entre o exame
citológico e microbiológico, havia até 3 microorganismos por esfregaço incluindo as
tricomonas. As bactérias patogênicas identificadas com a cultura foram: micoplasmas
genitais 8 casos (57,1%), Gardnerella vaginalis 3 ( 21,4 %), Escherichia coli 2 (14,2 %) e
Staphylococcus aureus 1 ( 7,1%); a Candida sp. foi confirmada em 4 casos. A
associação da infecção por tricomonas com o Ureaplasma urealyticum, Mycoplasma
hominis e Gardnerella vaginalis também foi encontrada por Krigger et al. ( 1988 ) e com
o Staphylococcus aureus, por Koss e Wolinska ( 1959 ). ( 65,67 )
Este estudo está de acordo com as publicações que referem a utilização rotineira e
prática, do exame citológico no diagnóstico da infecção cérvico-vaginal por tricomonas,
que diagnosticou 75,9 % dos casos. Isso ocorre porque na prática de atendimento
médico, a cultura para tricomonas torna-se desnecessária, é demorada enquanto que a
identificação da Trichomonas vaginalis com o exame citológico apresenta as vantagens
conhecidas e citadas por Krigger et al ( 1988 ), de ser "conveniente porque não há custo
adicional". Além disso, quando o citopatologista observa que a inflamação presente no
esfregaço é muito intensa ou há intensa proliferação bacteriana provavelmente
patogênica, a identificação dessas bactérias com cultura poderá ser necessária se a cura
clínica não for obtida após a eliminação das tricomonas pelo tratamento. ( 67,76,98 )
A especificidade do exame citológico em diagnosticar Trichomonas vaginalis é
avaliada em 95 a 97%, mas sua sensibilidade é discutida por causa do problema dos
resultados falso-positivos, registrados pelos autores em 31% a 60 % das amostras. Na
prática de exame citológico no nosso meio, também é comum o problema dos falsos-
negativos porque podem ser encontradas em alguns esfregaços, estruturas que sugerem
ser tricomonas mas apresentam alterações degenerativas e são impróprias para
identificação, quer haja inflamação intensa, hemorragia, ou não. Nesses casos é
necessário comunicar ao ginecologista, que o parasita deve ser pesquisado com exame
141
microbiológico, o mais indicado é o exame a fresco que chega a 92 % de sensibilidade
com um observador experiente. ( 67,78 )
5.7 -
A infecção por Candida sp. a mais frequente nesta amostra:
A infecção por Candida sp. ou C V V, foi a mais frequente nesta amostra,
encontrada em 1.785 casos (17,7 %), dos quais 74,7 % foram diagnosticados somente
com o exame citológico, uma vez que a coloração de Papanicolaou permite a
identificação do fungo nas suas formas fenotípicas e o exame termina sendo utilizado
para o diagnóstico com as mesmas conveniências reconhecidas para o diagnóstico da
infecção por tricomonas. O Sistema Bethesda mantém o tópico referente à identificação
da Candida sp, mas não foram encontradas na literatura, avaliações comparativas para
determinar a sensibilidade ou especificidade do exame citológico no diagnóstico da
infecção por Candida albicans, espécie isolada em 85 a 90 % dos casos, ou outras
espécies do fungo. ( 117 )
A vulvo-vaginite por Candida sp. ou C V V, que, nos Estados Unidos, é a segunda
causa de infecção vaginal precedida apenas pela BV, ocorre em todo o mundo e sua
frequência é avaliada por registros de diferentes autores como Faye-Kette et al.( 1993 ) e
Faibis et al.( 1994 ) que encontraram frequências de 25 % em 6.603 pacientes e 27 %
em 3.985 pacientes na África, e Sanchez-Vega et al.( 1993 ), de 14,39 % em 800
pacientes no México, América Latina. Nesta amostra, a infecção por cândida ocorreu em
17,7 % de 10.064 pacientes, frequência relativamente menor que a encontrada no
continente africano e aproximada dos dados do nosso continente latino-americano.
(36,37,98,104,117 )
A revisão bibliográfica mostrou que são conhecidas as formas clínicas da vulvo-
vaginite por cândida – C V V, que são a colonização, infecção primária, secundária e
recurrente e há interesse em estabelecer a relação entre o seu aparecimento e os fatores
que atuam nas diferentes formas da infecção contribuindo para que seja mais ou menos
142
intensa. Esses fatores podem estar ligados: a) ao próprio fungo durante as fases do seu
crescimento e desenvolvimento e são as hifas as formas mais agressivas à superfície
epitelial; ou b) ao hospedeiro, principalmente sua imunidade, condições patológicas como
diabetes mellitus e condições fisiológicas como gravidez, atividade sexual e c) ao uso de
medicamentos como antibióticos, antimicóticos, corticóides, imunossupressores, anti-
concepcionais. Tais fatores são capazes de causar modificações iatrogênicas no
microambiente vaginal, favorecendo a proliferação do fungo oportunista. Deve ser
lembrado que o uso de medicamentos pode ser consequência da auto-medicação ou
aquisição de medicamento sem receita médica. (60,72,97,103 )
Neste estudo, foram observados ao exame citológico, três aspectos
microscópicos principais:
1) a colonização, em que há presença de esporos de Candida sp. e de
Lactobacillus, com ausência de leucócitos mas geralmente há exacerbação dos
Lactobacillus.
2) a infecção, em que há esporos e pseudo-hifas ou hifas, Lactobacillus e
leucócitos com maior número de neutrófilos; notamos comumente nesses esfregaços, que
a presença ou ausência de muco pode ser um diferencial porque - se o muco é escasso
ou ausente, observa-se leucocitoclasia com fragmentos dos núcleos dos leucócitos
(neutrófilos ), e os Lactobacillus exacerbados, esporos, psoudohifas e hifas aderidos à
superfície das células epiteliais e - na presença de muco, há inflamação do tipo catarral
tendo em meio leucócitos ( com neutrófilos fragmentados ou não ), Lactobacillus e as
formas fenotípicas da Candida sp.
3) a colonização ou infecção por Candida sp. associada a infecção bacteriana
com presença de flora provavelmente patogênica e alterações inflamatórias vaginais ou
cérvico-vaginais. Lira Neto et al. ( 1985 ) refere algumas dessas observações como a
exacerbação dos Lactobacillus e associação com outros microorganismos patogênicos.
( 77,104 )
143
No entanto, não foram encontradas, na literatura consultada, descrições desses
achados corriqueiros no esfregaço citológico, ao menos a presença das hifas, que são o
sinal inequívoco de doença invasiva e foram encontradas nesta amostra em 817 casos-
45,7 %. Sonnex e Lefort (1999 ) do Addenbrooke's Hospital, em Cambridge, publicaram
os achados microscópicos de 267 pacientes com Candida sp. e, em 182 casos ( 78%)
positivos à bacterioscopia com o Gram e cultura, identificaram "apenas esporos" em 65
(28%) pacientes, "apenas hifas" em 16 ( 7%) e "esporos e hifas" em 101 ( 43%); a
correlação dos exames de laboratório com os dados clínicos mostrou que 68% do total de
234 pacientes com cultura positiva eram sintomáticas, porém não foi possível estabelecer
associação (s) entre a sintomatologia e a morfologia do fungo. ( 104 )
No nosso país, durante a rotina diária dos laboratórios, é possível que a descrição
dos achados de microscopia pareça de menor importância porque a identificação do
fungo atende à necessidade de diagnóstico e de que a paciente receba tratamento
imediato devido à exsuberência do quadro clínico, tornando-se então preponderante em
relação à observação das características da resposta inflamatória à Candida sp. na
vagina e suas prováveis relações com a recidiva e a recurrência. Assim o exame
citológico que na C V V, realiza o exame microscópico da secreção vaginal de maneira
semelhante ao exame a fresco, deixa de ser avaliado se contribui de fato, para que o
clínico defina se há colonização ou infecção ( doença invasiva ), ou se o exame citológico
é capaz de sugerir que há necessidade de investigar com cultura, a presença de infecção
bacteriana associada à infecção por Candida sp, nos casos em que não tenha sido
solicitada a critério clínico. Sonnex e Lefort ( 1999 ) comentam que a experiência do
microscopista pode ser relevante, como também a acuidade da microscopia.
(36,37,77,98,104 )
De acordo com a correlação entre o exame citológico e 451 exames
microbiológicos (cultura ou T+M ) realizados nas pacientes com C V V desta amostra,
havia até 4 microorganismos por esfregaço. A colonização e a infecção foram
144
diagnosticadas em 1.519 ( 85,0 %) esfregaços citológicos com Candida sp., 265 (17,4%)
correlacionados com a cultura. Os Lactobacillus foram identificados em um total de 331
pacientes ( 80,3%) que apresentavam CV V ou C V V e infecção bacteriana. As bactérias
patogênicas identificadas com 127 culturas ( 28,1%) foram: Ureaplasma urealyticum 57 (
41,6 %), M. hominis 1 ( 0,7 %), Gardnerella vaginalis 42 ( 30,6 %) , Escherichia coli 20 (
14,6 %), Staphylococcus aureus 6 ( 4,3 %), Streptococcus sp. 5 ( 3,6 %), Klebsiella 4 ( 2,9
%), e Proteus sp 2 (1,4 %). A infecção concomitante por Candida sp. e Trichomonas
vaginalis ocorreu em 12 casos. ( Já foram referidas anteriormente as associações com BV
e tricomonas )
Nas infecções vaginais, algumas publicações vem registrando que, com exceção da
BV, há acúmulos de macrófagos, linfócitos e granulócitos no lúmen vaginal, que
representam a resposta inflamatória à modificação do ecossitema ou aos patógenos
exógenos mas em geral, os autores apenas citam esses achados, sem descrever o que
observam nos esfregaços. Os estudos modernos com material de lavado vaginal avaliado
por citometria de fluxo parecem não despertar muito interesse e apresentam resultados
quantitativos, sem descrever as características do processo inflamatório que podem ser
vistas ao microscópio óptico. Além disso, Microbiologistas pesquisam micróbios,
consequentemente a quantidade e o tipo de leucócitos presentes nas infeções vaginais e
/ ou cervicais não estão no foco das suas atenções e por isso esperam que
citopatologistas se posicionem com relação a esses problemas. Com relação á vulvo-
vaginite por Candida sp., as afirmações de Sobel (1989) e Witkin (1991), de que a C V V
é caracterizada pela ausência de neutrófilos, ou que os PMN não apresentam quimiotaxia
para o lúmen vaginal são surpreendentes porque não correspondem aos achados dos
esfregaços citológicos dos casos de infecção por Candida sp.; também não
correspondem aos esfregaços que apresentam bactérias patogênicas associadas ou
esfregaços com flora tipo I e inflamação. Ao exame citológico de rotina, é comum
145
observar que a ausência de neutrófilos e de outros leucócitos na infecção por Candida sp
relaciona-se apenas com a colonização. (29,30,56,77,91,97,103,123)
Na literatura, as atenções estão voltadas para a C V V como modelo para os
recentes estudos sobre imunologia da vagina porque o interesse sobre a relação da
infecção com indivíduos imunodeprimidos vem se desenvolvendo relacionado com o
interesse pela AIDS. Os estudos de imunologia da vagina, por sua vez, são realizados
com técnicas de imunohistoquímica com marcadores para linfócitos, o que não leva a
esclarecer as controvérsias com relação à presença dos neutrófilos. A presença de
exsudato de neutrófilos, ou eosinófilos, que observamos na rotina de exame citológico,
deve ser investigada e a avaliada como sinal de inflamação aguda ou alérgica, da
infecção por Candida sp., com sinais e sintomas clínicos também agudos. As
controvérsias devem ser adequadamente investigadas no sentido de desenvolver o
conhecimento sobre a importância da fase aguda e da fagocitose em relação à resposta
imune celular, que é mecanismo de defesa contra a infecção por cândida na vagina.
Rodgers e Beardall ( 1999 ) incluem os granulócitos quando afirmam que na C V V, a
defesa é promovida tanto pela células T como por LT citotóxicos, natural killer e
macrófagos, como pelos mecanismos de defesa mediados pelos granulócitos. A
contagem de leucócitos vaginais feita por Hill e Anderson ( 1992 ) mostraou que
aumentam para 2 a 3 x 10
5
na infecção por fungos, nas fases proliferativa e peri-
ovulatória, constituídos na sua maioria por macrófagos e granulócitos, com LT presentes,
LB ausentes e, após tratamento, desapareceram tanto os leucócitos como as hifas.
(56,97,125 )
A relação da quantidade de leucócitos vaginais com as fases do ciclo menstrual é
também conhecida pela Citopatologia, foi descoberta e descrita inicialmente por
Papanicolaou como Citologia Hormonal, antes da introdução da Citologia Oncótica
Vaginal e do seu êxito na prevenção do câncer ginecológico. O exame de citologia
hormonal foi substituído pelas dosagens modernas dos hormônios no sangue, mas o
146
conhecimento do esfregaço citológico normal, que inclui a avaliação quantitativa dos
leucócitos vaginais, ainda é a base a partir da qual poderá ser estabelecida a quantidade
anormal de leucócitos que ocorre nas inflamações e infecções genitais como a C V V,
cujo conhecimento vem sendo enriquecido recentemente pela Imunologia. A maior
frequência da C V V na fase luteínica pré-menstrual e na gravidez já está relacionada à
capacidade de reação da cândida aos hormônios esteróides através de receptores,
associada à inibição da proliferação de linfócitos dependente dos macrófagos e mediada
pela progesterona. (1,26,31,99,124 )
A revisão bibliográfica mostra ainda que a C V V é registrada pela sua alta
prevalência mas poucos autores como Faye-Kette et al. ( 1993 ) e Faibis et al. ( 1994 )
registraram sua associação com infecção por bactérias ou tricomonas, observações que
são semelhantes à desta amostra e fazem parte do atendimento de inúmeras pacientes
com sinais e sintomas ginecológicos que são submetidas a exames de laboratório -
citopatológico e microbiológico. Com base nos estudos de imunologia da vagina, a C V V
depende da imunidade celular e consequentemente, ocorre quando há falha nesse
mecanismo de defesa. Quando a C V V se apresenta associada à infecção bacteriana, a
proliferação das bactérias, que é regulada tanto pela imunidade humoral como pela
imunidade celular, favorece a proliferação da cândida pelo comprometimento dos
mecanismos de defesa e pelas características do fungo, que é um oportunista típico,
sexualmente transmissível. Essas afirmações reforçam a necessidade de que esses
conhecimentos que vem sendo adquiridos beneficiem as pacientes na prática, no sentido
de que a C V V seja adequadamente diagnosticada e tratada, evitando-se suas recidivas
e recurrências, que significam comprometimento ainda maior dos mecanismos de defesa
vaginais. ( 36,37,77,123,124 )
5.8 -
A infecção por clamídia, nesta amostra:
147
A sensibilidade 5,3 a 38 ou 95% e especificidade de 4,5 a 75 ou 95 %, do exame de
citologia cérvico-vaginal no diagnóstico de clamídia mostram que as avaliações de
diferentes autores variam amplamente, são controversas e justificam a decisão do
Sistema Bethesda de retirar a especificação referente à Chlamidia trachomatis do laudo
do exame citológico. A frequência da infecção detectada no colo uterino de mulheres
assintomáticas em idade reprodutiva, citada na literatura, é 5 a 15 % ou 8 a 40 % mas
Kiviat et al. ( 1985 ) refere que a relação entre a colposcopia, citologia e a cultura não foi
avaliada e as alterações histopatológicas também são pouco estudadas. Paavonen et al.
(1986 ), afirmam que a histopatologia da cevicite por clamídia é caracterizada por intenso
infiltrado com formação de folículos linfóides no estroma. (19,22,23,48,63,91,117)
Nesta amostra, 94 ( 0,9%) pacientes apresentavam infecção por clamídia e
somente 9 esfregaços apresentavam alterações de células epiteliais ao exame citológico,
que sugeriam clamídia, mas a imunofluorescência não foi solicitada nesses casos. A
clamídia foi diagnosticada em 85 ( 90,4%) pacientes com a imunofluorescência, que é um
método específico. Além do exame citológico preventivo e da pesquisa de clamídia com
imunofluorescência, a cultura da secreção vaginal de 80 (85,1%) pacientes foi também
solicitada a critério clínico. O resultado das culturas mostrou 44 ( 46,8%) casos de
infecção por clamídia associada a micoplasmas genitais ou bactérias patogênicas, 11
(13,7%) associada ainda a Candida sp. Esses dados da frequência de clamídia nesta
amostra, são também um exemplo de que especialistas atuam individualmente gerando
resultados que parecem contraditórios para pesquisa, mas são esses resultados que
retornam ao Ginecologista responsável pelo tratamento das pacientes. Os estudos e
pesquisas, por sua vez, devem apontar falhas e procurar soluções e saídas possíveis. A
falta de correlação do exame citológico com outros métodos de diagnóstico de clamídia
são comparáveis às dificuldades que ocorrem no diagnóstico de HPV, quando os
resultados apresentam contradições entre o exame clínico e colposcópio, o exame
citológico e a biópsia. (2,19,23,33,40,63 )
148
A incidência de clamídia, encontrada com o exame citológico em 9 de 10.064
pacientes nesta amostra, aproxima-se da incidência encontrada por Campos et al. (1986)
com o exame de citologia cérvico-vaginal e imunofluorescência, em 40 pacientes de um
total de 30.000 amostras; a associação com outras infecções foi encontrada por
Cavalière et al. ( 1993 ) em 123 de 130 casos, 10 com HPV e, neste estudo, em 44 de 94
casos. A associação da infecção por clamídia com outras infecções é portanto, frequente
na prática médica e provavelmente dificulta a avaliação da etiologia da cervicite. ( 19,23 )
A revisão bibliográfica mostra que o microorganismo clamídia é conhecido pelas
suas características microbiológicas, ciclo reprodutivo e seus antígenos, estes
identificados por imunoflurescência e por ELISA. A infecção do trato genital feminino
causa cervicite que poderá ser do tipo muco-purulenta, a MPC, que parece iniciar-se nas
células do epitélio colunar da endocérvice, pela afinidade da clamídia com a célula
cilíndrica. A infecção pode evoluir para doença inflamatória pélvica e de gravidez tubárica
após cicatrização de salpingite assintomática por clamídia. Em outros casos, a DIP não
gonocócica por clamídia atinge o feto tornando-se um fator de mortalidade peri-natal, ou
a infecção atinge o récem-nascido com manifestações oculares e pulmonares.
(16,48,55)
O papel da citopatologia no diagnóstico de clamídia é incerto mas a possibilidade
de indicar infecção por clamídia é discutida desde que Naib ( 1970 ) Gupta ( 1979 ) e
Shiina (1985) descreveram as alterações citológicas que relacionaram com clamídia.
Kiviat et al. ( 1985 ) sugeria que a clamídia deve ser pesquisada quando - um maior
número de neutrófilos, de linfócitos transformados ( imunoblastos e células dos centros
germinativos ) e de 30 ou mais histiócitos com aumento de 400 vezes em três campos
adjacentes - está presente no esfregaço citológico. No entanto, ao exame citológico, a
infecção parece ser rara e por isso, um longo prazo parece ser necessário para que uma
boa casuística seja obtida e avaliada adequadamente. Na literatura, as publicações de
Campos et al. ( 1986 ) e Cavaliere et al. (1993), do Instituto Adolfo Lutz no Brasil,
149
preenchem esses requisitos de investigação continuada, das alterações citológicas em
correlação com os métodos imunológicos de diagnóstico da clamídia. Com microscopia
eletrônica, em 15 pacientes do National Naval Medical Center em Bethesda, positivas
com ELISA, Henry et al. ( 1993 ) demonstrou presença da clamídia somente nas
inclusões do tipo nebular de Shiina. De acordo com o Sistema Bethesda, indicações
como essas não representam bases seguras de diagnóstico da Chlamidia trachomatis
com a Citopatologia. ( 19,23,48,55,63,117,126 )
5.9 – A Citopatologia no diagnóstico da intensidade e localização das
inflamações - dificuldades e possibilidades:
Em meados da década de 50, as publicações de George Wied, discípulo de
Papanicolaou, destacavam a citologia exfoliativa como uma técnica com precisão
diagnóstica adequada e de valiosa aplicação prática em Ginecologia e Obstetrícia, que
podia ser utilizada na localização e diferenciação das reações inflamatórias. Wied
comentava que, durante a primeira consulta ginecológica, é geralmente difícil acertar a
extensão e o tipo de reação inflamatória, ou decidir se a reação é aguda ou crônica,
discreta ou avançada, difusa, ou localizada na vagina, cérvice e endocérvice. Seus
estudos definiram que, com a citologia exfoliativa era possível diferenciar as reações
inflamatórias em:
1- Reação inflamatória localizada na vagina
2- Reação inflamatória localizada na cérvice
3- Reação inflamatória localizada na endocérvice
4- Reação inflamatória difusa
5- Reação inflamatória aparentemente moderada
6- Reação inflamatória aparentemente acentuada
7- Reação inflamatória aparentemente aguda
8- Reação inflamatória aparentemente crônica.
150
Para isso, era indispensável uma colheita adequada do material para o esfregaço
citológico e exame microscópico baseado na quantidade e estado de preservação dos
leucócitos, e na presença de alterações degenerativas ou "atipias inflamatórias" das
células epiteliais. Wied e Bibbo estabeleceram ainda, os agentes de inflamação ou de
infecção visíveis com a coloração de Papanicolaou e que fizeram parte da codificação de
F1 a F11, até que tiveram início os workshops que originaram o Sistema Bethesda de
reavaliação da Citopatologia. ( 9,11,117,122 )
De Wied até os nossos dias, a trajetória de sucesso do exame citológico cérvico-
vaginal seguiu a direção dos demais exames citológicos dos deferentes órgãos e
cavidades, no sentido de detectar lesões neoplásicas e pré-neoplásicas, a colposcopia
tornou-se um meio clínico de visualização macroscópica mais detalhada da mucosa do
colo uterino e vagina, e manteve-se a ênfase nas lesões causadas pelo vírus HPV. A
Microbiologia, por sua vez, ampliou seus conhecimentos científicos sobre o trato genital
inferior feminino e agentes de infecção ou de doenças sexualmente transmissíveis, as
DST, com o uso de técnicas específicas e, para o diagnóstico de cervicite, foram
determinados critérios internacionais de diagnóstico para uso na prática, nos esfregaços
corados com o Gram. ( 39,64,66,89,96,109,118,121 ).
A “categoria que compreende alterações que são reativas, em resposta a fatores tais
como inflamação ... (e) inclui alterações reparativas”, ou “alterações que são de natureza
benigna, associadas com inflamação incluindo reparação típica,atrofia com inflamação
(vaginite atrófica)” são definições ou o significado de reativo, reparativo ou alterações
celulares benignas (benign
cellular changesBCC). Estão incluídas na lei norte-
americana CLIA 88, a Clinical Laboratory Improvement Act e no The Bethesda System,
com recomendações para rescreening. Young e Kline ( 1994 ) comentam que essas
alterações são comuns nos laboratórios de citologia, mas consideram que essas
definições são ambíguas e interrogam: “Qual é o grau de alterações reativas e reparativas
que se associa com inflamação?” “Quais alterações estão além do limite normal
151
e são BCC ou –de fato- o que é normal?” Young e Kline ( 1994 ) acrescentam ainda, que
BCC deveria ser colocada na agenda para uma futura conferência em Bethesda. (80,
121,126 )
O diagnóstico das inflamações cérvico-vaginais ou da leucorréia baseia-se no tripé:
história clínica, exame físico e testes laboratoriais que são o exame a fresco, exame
citológico e exames microbiológicos. As discussões sobre esse tema são consideradas
atuais, não importa em que ano sejam publicadas. Com relação ao exame citológico, as
conclusões de Wied podem parecer minuciosas e inaplicáveis na prática, mas não foram
completamente esquecidas nos arquivos porque certamente, é impossível ignorar os
leucócitos ( neutrófilos, piócitos, histiócitos ), as alterações inflamatórias das células
epiteliais e os agentes de infecção na secreção vaginal e no esfregaço, embora não se
saiba ao certo o que fazer com eles. Durante a rotina, quando o citopatologista julga ser
conveniente informar ao clínico a intensidade da inflamação, o esfregaco citológico é
adequado a essa avaliação pela sua riqueza de material: Koss ( 1989 ) refere que o
esfregaço citológico tem, em média, 50.000 a 300.000 células e pode chegar a meio
milhão de células para análise; de acordo com Berek ( 2003 ) o esfregaço citológico
convencional deveria ter de 8.000 a 12.000 células epiteliais bem preservadas e bem
visualizadas; Lira Neto ( 1985 ) refere também o "excelente detalhe morfológico dado pela
coloração de Papanicolaou" na identificação de inflamação e de determinados agentes. (
9, 38,66,77 )
A potencialidade do exame citológico na avaliação microscópica da inflamação
presente na secreção vaginal encontra, entretanto, importantes dificuldades à sua
aplicação no atendimento médico-ginecológico e o primeiro desses obstáculos é o
reconhecimento pelos especialistas. Consequentemente, a falta de reconhecimento
dificulta a utilização do exame e o estabelecimento de políticas públicas que incluam o
exame citológico como recurso para o diagnóstico e controle de DST no atendimento
ginecológico e pré-natal, sem excluir a prevenção do câncer ginecológico. Nos Estados
152
Unidos atualmente, é comum que a inflamação não seja registrada no laudo do exame
citológico. Young e Kline ( 1994 ) comentam que o diagnóstico e follow up de BCC nos
EUA variam tanto, que a comunicação entre o citopatologista e o clínico é essencial. No
Brasil, como a maioria dos citopatologistas é também anátomo-patologista, o
conhecimento dos processos patológicos nos tecidos e da classificação das inflamações
são aplicados nos esfregaços com inflamação ou infecção e são comuns conclusões no
laudo, como Cervicite com metaplasia, Cervicite muco-purulenta, Endocervicite,
Inflamação intensa, conclusões que podem ser incluídas como Recomendações,
conforme o formato do laudo do Sistema Bethesda. Outro obstáculo para os especialistas
é a falta de padrões de contagem de leucócitos e de critérios para comparação durante a
rotina em casos de dúvidas, capazes de fazer com que as conclusões ou os diagnósticos
citológicos, ao invés de carregarem a conotação "subjetiva", que é depreciativa,
passassem a ser vistos como dependentes do conhecimento e da habilidade do
observador, do citopatologista. ( 2,8,38,86,122,126 )
Os fatores que influenciam o número de leucócitos e a flora bacteriana no
esfregaço cérvico-vaginal podem ser distribuidos em três grupos: 1) O ciclo hormonal, 2)
Fatores não relacionados com infecção e 3) Infecções. No esfregaço normal, a
percentagem e o tipo de células epiteliais descamadas na secreção vaginal,
acompanhadas dos leucócitos, eram descritos nos exames de citologia hormonal, nas
fases do ciclo: estrogência, pré-ovulatória ou ovulatória, luteínica e pré-menstrual ou
menstrual. Atualmente, a quantidade de células epiteliais descamadas e de leucócitos no
esfregaço vaginal normal poderá ser re-avaliado utilizando medida ou técnica de precisão
que atenda às exigências científicas modernas como a análise morfométrica ou ainda, a
citometria de fluxo. E a Citopatologia é a especialidade médica mais adequada para
definir o padrão de contagem dessas células, considerando as variáveis inter-
relacionadas do efeito dos hormônios e da imunidade. ( 26,29,56,57,120 )
153
Os fatores não relacionados à infecção, citados por Cooper e Sonnex ( 1993 ) são:
AHO, gravidez, parto, atrofia pós-menopausa, intercurso sexual, pólipos, ectrópio e
alguns dispositivos
anti-concepcionais; Bibbo et al. ( 1976 ) citavam: lesão traumática,
diminuição da acidez vaginal, atrofia, irradiação e neoplasia. Todos esses fatores devem
ser considerados durante o exame e causam inflamação que varia de intensidade em
cada caso, mas o citopatologista encontraria extrema dificuldade se exigências científicas
determinassem ser necessário estabelecer padrões de contagem de leucócitos em
relação a cada uma dessas variáveis; além disso, nesses casos, o interesse maior é que
seja confirmada a ausência de infecção e que a paciente seja tratada adequadamente.
(11,26 )
A revisão bibliográfica mostrou que os microbiologistas utilizam critérios baseados
na contagem de leucócitos para diagnosticar cervicite ( 21 a 30 neutrófilos - PMN - por
campo com aumento de 400 vezes em 10 campos em média na bacterioscopia com o
Gram, ou 10 ou mais PMN por campo com aumento de 1.000 vezes para o diagnóstico de
cervicite ) e para diagnosticar inflamação densa, ou intensa ( 30 ou mais PMN por
campo de 1.000 vezes, que corresponde a 50%, ou mais de 50%, das células epiteliais
do esfregaço citológico obscurecidas pelos leucócitos ). Esses critérios são
internacionais, foram estabelecidos com métodos práticos de contagem por campo ou por
percentagem para determinar o padrão de leucócitos em relação à localização e
intensidade da inflamação, e podem servir de modelo na Citopatologia moderna. O
diagnóstico de
inflamação intensa já é indispensável para avaliar as amostras
insatisfatórias, atendendo às exigências do Sistema Bethesda. Mas atualmente, são
raramente publicados estudos como o de Lawley et al. ( 1990 ) da Universidade de
Washington, que avaliou 596 pacientes Classe I, propondo os seguintes critérios de
inflamação:
1+ Focal, não obscurece o esfregaço
2+ Focal, PMN leve a moderado
154
3+ Moderada: Difusa, não obscurece o esfregaço ou obscurece até 10% do
esfregaço
4+ Intensa: Difusa, obscurece 10 a 99% do esfregaço. Prejudica o exame,
prejudica x% do esfregaço, ou Insatisfatório ( 18,30,73,89,109,110 )
Essa margem de 10 a 99% é muito ampla para inflamação intensa, sendo preferível
o percentual de 50% das células do esfregaço citológico obscurecidas pelos leucócitos,
mais fidedigno em relação ao que comumente é observado na prática médica. Em
estudos posteriores, as características das infecções devem ser determinadas em
correlacão com a biópsia, descritas e conhecidas até agora, apenas para casos de
tricomonas e HPV. (18,26,30,63,65,83,110,126 )
Neste estudo, as inflamações foram avaliadas conforme sua intensidade, em leves
– 1.242 casos ( 12,3 %), moderadas - 6.664 casos ( 66,2 %) e intensas - 749 casos (
7,4 %). Outros achados, em 1.409 pacientes ( 14,0 %) foram esfregaços normais ( 1 089
pacientes - 10,8%), citolíticos e atrofia sem inflamação em pacientes pós-menopausa.
A análise do resultado de 171 culturas de 749 pacientes que apresentavam
inflamação intensa mostrou infecção de causa bacteriana em 35 casos ( 20,4 %), Candida
sp. 20 casos (11,7%) Trichomonas vaginalis 4 casos ( 2,3 %) e 2 (1,1 %) com infecção
concomitante por cândida e tricomonas. A frequência de inflamações bacterianas foi
maior que a exacerbação dos micoplasmas genitais, identificados em 21 casos ( 12,2% ),
e esse achado está de acordo com as controvérsias sobre a sua patogenicidade: apesar
de frequentes nesta amostra., os micoplasmas genitais não foram a principal causa de
inflamação intensa encontrada.
O resultado dessas culturas mostrou ainda inflamação intensa mas sem infecção
diagnosticada em 32 casos ( 18,7%) e cultura negativa em 28 ( 16,3 %), somando 60
casos ( 35,0 %) em que o acompanhamento clínico ou a repetição da cultura são
necessários para esclarecimento e para que a paciente seja adequadamente tratada.
155
5.10- A infecção genital ao exame citológico e a atualização dos tópi cós do
laudo referentes aos agentes identificados com a coloração de Papanicolaou
A literatura mostra que a infecção cérvico-vaginal ao exame citológico é um tema
cercado de expectativas com relação à acuidade diagnóstica e, consequentemente, ao
seu reconhecimento. Cooper e Sonnex ( 1993 ) comentam que "a maioria dos
laboratórios de Citologia notará a presença de algumas alterações inflamatórias quando
examina um esfregaço mas pode não ser capaz de comentar sua causa básica" pela
"falta de correlação entre o laudo citológico e o resultado da cultura"; por outro lado,
acrescentam que "basear o tratamento somente na evidência de infecção com o
esfregaço de Papanicolaou é uma das causas de falha no tratamento." Uma das
maneiras de enfrentar essas dificuldades e superar o desafio é que os resultados dos
exames citológico e microbiológico sejam correlacionados antes que os laudos sejam
expedidos, como foi realizado neste estudo, em benefício das pacientes, o que também
favorece a comunicação do laboratório com o ginecologista. ( 2,26,30,31,32,45,58,80,12)
A identificação de determinados microorganismos com o exame citológico, em geral
corado pelo método de Papanicolaou, é realizada com técnica semelhante à
bacterioscopia ou exame direto - a fresco ou corado com o Gram - e em várias ocasiões,
os três tipos de exames chegam ao mesmo resultado, não havendo necessidade de
repetição. A coloração pelo Gram tem a vantagem de classificar bactérias nos dois
grandes grupos - Gram positivas e Gram negativas e favorece muitas vezes, que o
microbiologista treinado identifique espécies ou decida qual o meio de cultura mais
apropriado para ser utilizado. Na prática, como os ginecologistas brasileiros não são
habituados a realizar o exame a fresco, a bacterioscopia da secreção vaginal termina
sendo realizada por meio do exame citológico com a conveniência de que, na mesma
ocasião, é feita também a prevenção do câncer ginecológico, cuja periodicidade não é
sempre controlada pelos médicos ou pelas pacientes. Na investigação propedêutica da
156
leucorréia, a cultura é o método de maior acuidade diagnóstica para bactérias e outros
microorganismos, identificados pelo crescimento das colônias e classificação em
espécies. Solicitada a critério clínico, a cultura representou 94,8 % do total de 2.254
exames microbiológicos realizados nesta amostra. ( 2,27,30,31,32,83,86 )
Para que seja definida a situação da Citopatologia em relação á propedêutica das
inflamações e infecções genitais, é indispensável estabelecer os limites da coloração de
Papanicolaou na identificação de microorganismos presentes no ecossitema vaginal
normal ou alterado. Neste estudo, as bactérias "não classificadas" em 377 ( 3,7%)
exames citológicos, foram especificadas somente quando a cultura foi solicitada em 152
casos: Eschericha coli 65 (42,2%), Klebsiella sp. 9 ( 5,8%), Proteus sp. 3 (1,9%),
Mobiluncus sp. 3 (1,9%), Corynebacterium 5 ( 3,2%), Lactobacillus 1 ( 0,6%), Ureaplasma
urealyticum 7 ( 3,2%) e Mycoplasma hominis ( 1,9%) ; o resultado da cultura pode ainda
ser negativo, o que foi verificado em 60 casos ( 38,9%) ou porque não foi solicitada pelo
clínico, a cultura para micoplasmas genitais, ou devido a inflamação intensa, hemorragia,
flora escassa ou outro motivo, e é necessário que os especialistas decidam se a cultura
deve ser repetida, nesses casos. Essas exemplos de bactérias que não podem ser
identificadas pela coloração de Papanicolaou, quer sejam visíveis ou apresentem
proliferação discreta, mostram que esses casos só poderão ser encaminhados se for
incluído o tópico "Alteração da flora a esclarecer com exame microbiológico", ou
"Alteração da flora a esclarecer", que é uma indicação mais segura do que "não
classificada", utilizada anteriormente no Brasil. Assim, o citopatologista comunica que há
necessidade de investigar os casos suspeitos de infecção, ou permite que o ginecologista
possa depois concluir que a inflamação é devida a outros fatores endógenos ou
exógenos, ou seja, em todo caso em que a solicitação da cultura possa resultar em
benefício para a paciente. (11,77,118 )
A avaliação teórica e prática de microorganismos ao exame de citologia cérvico-
vaginal foi realizada neste estudo para que cada especificação possa ser acompanhada
157
da sua respectiva justificativa e foi acrescentado o tópico que indica a pesquisa
microbiológica como se segue:
Lactobacillus sp.
Bactérias com características de Actinomyces sp., ou Leptotrix vaginalis.
Gardnerella vaginalis com presença de "células guia"
Trichomonas vaginalis
Fungos com características de Candida sp.
Alteração da flora a esclarecer com exame microbiológico
Efeito citopático por vírus - HPV
Outros ( se possível,especificar )
As justificativas são:
a) Lactobacillus sp. são o principal componente da microflora vaginal e são identificados
com o exame citológico, sem necessidade de cultura, a não ser nos casos pós-tratamento
para controle de cura. Lactobacillus ou Lactobacillus acidophillus foi o resultado de 684
ou 31,5% do total de 2.169 culturas solicitadas a critério clínico. Estavam presentes em
esfregaços normais, em "esfegaços citolíticos" ou como flora tipo I - normal, ou tipo II de
Schroeder - flora intermediária ou mista acompanhadas de inflamação. Assinalando
Lactobacillus sp. e o tópico "Alteração na flora a esclarecer com exame microbiológico" o
citopatologista pode comunicar ao clínico a necessidade de investigação de uma flora
mista com a cultura.
b) O Sistema Bethesda manteve a especificação de Actinomyces spp. que são bactérias
também chamadas Leptotrix; Dois tipos de leptotrix são encontrados na vagina: os
Lactobacillus que são Leptotrichia e Actimomycete que são Bacterionema. As pacientes
que apresentam Leptotrix vaginalis ou Actinomyces sp. são submetidas a tratamento com
antibióticos. Na revisão bibliográfica raras publicações fazem referência a essas
bactérias, seu significado ou frequência.
158
c) A especificação de Gardnerella vaginalis é possível sempre que estejam presentes as
"células guia", enquanto que Vaginose bacteriana ou ainda, Vaginose, é um diagnóstico
clínico e laboratorial e não somente laboratorial. A sensibilidade e especificidade das
"células guia", ao exame citológico, avaliada e publicada por diferentes autores, é em
torno de 90% e o valor preditivo positivo de 75 a 100%.
Nos casos em que há cervicite ou provavelmente, há outra infecção associada,
alterando a microscopia típica de BV pela presença de leucócitos e piócitos, ou exsudato,
o citopatologista poderá indicar a necessidade de cultura assinalando o tópico "Alteração
da flora a esclarecer com exame microbiológico". Nesta amostra, a cultura não foi
solicitada nesses casos, a critério clínico, em 254 pacientes ( 21,2%) e deixou de ser
indicada pelo citopatologista pela falta do tópico correspondente.
Não é possível identificar com a coloração de Papanicolaou, o Mycoplasma hominis,
incluído por Spiegel como parte da flora da BV, mas deve-se considerar a possibilidade
de serem identificadas com objetiva de grande aumento, as comma cells descritas por
Schnadig ao exame citológico, na infecção por Mobiluncus sp.
c) A especificação de Trichomonas vaginalis, indicada pelo Sistema Bethesda, é de
aceitação praticamente universal devido à descrição da infecção por Koss e Wolinska
(1959 ) ao exame citológico e histopatológico. São publicados nos EUA, índices de 31 a
60% de falso-positivos ao exame citológico e essa é uma das razões que caracterizam o
exame a fresco como melhor para identificar tricomonas, com a vantagem de perceber a
mobilidade do protozoário. A sensibilidade do exame a fresco depende de que o
observador seja experiente e a identificação das tricomonas ao exame citológico também
depende da colheita do material e do treinamento do citopatologista. Quando são
encontradas estruturas com alterações degenerativas, que sugerem tricomonas,
resultando em falso-negativos o clínico deve ser informado para que esses casos sejam
investigados. O desaparecimento de sinais e sintomas clínicos relacionados à infecção
159
por Trichomonas vaginalis pode ainda depender da cura de infecção bacteriana
associada, investigada de acordo com a orientação médica.
d) A especificação de Candida sp. também faz parte dos tópicos do laudo do Sistema
Bethesda e é de aceitação praticamente universal, mas não foram encontradas
referências bibliográficas com avaliações da sensibilidade e especificidade do exame
citológico no diagnóstico do fungo. As descrições dos achados microscópicos no
esfregaço citológico, presentes nas formas clínicas de colonização ou de doença, em que
as hifas agridem e invadem o epitélio, também não são publicadas. Os achados deste
estudo contradizem as afirmações de que é típica a ausência de PMN nas formas clínicas
de doença: a ausência de leucócitos é típica da colonização. Comumente estão presentes
Lactobacillus sp. exacerbados associados à Candida sp. e ambos devem ser assinalados
nos seus tópicos. Nos casos em que a cândida prolifera associada a reação inflamatória
por provável infecção bacteriana, isso poderá ser indicado assinalando-se a "Candida sp"
e "Alteração da flora a esclarecer com exame microbiológico".
e) O tópico "Alteração da flora a esclarecer com exame microbiológico" é proposto com
este estudo, para substituir "cocos", "cocóides", "bacilos", "cocobacilos" ou "flora não
classificada", nos casos em que há provável infecção bacteriana primária, associada ou
não a lactobacilos, ou associada a outro microorganismo especificado nos demais tópicos
do exame citológico cérvico-vaginal. Ao assinalar "Alteração da flora a esclarecer com
exame microbiológico", o citopatologista conclui que a identificação do (s) agente (s)
ultrapassa os limites da coloração de Papanicolaou, mas deve ser identificado através de
exame (s) microbiológicos (s) . Consequentemente, evita resultados discrepantes entre o
resultado dos exames citológico e microbiológico, facilitando a interpretação do caso pelo
ginecologista e beneficiando a paciente.
f) De acordo com o Sistema Bethesda, não é recomendável que a Citopatologia
comprometa-se com o diagnóstico de clamídia, ao ponto de existir tópico referente à
clamídia no laudo, até que pesquisas esclareçam sua frequência e a relação do exame de
160
citologia cérvico-vaginal com os métodos modernos de diagnóstico e o exame
histopatológico, bem como a frequência das infecções associadas. A Chlamydia
trachomatis, e outros achados raros de agentes biológicos responsáveis por inflamação
no esfregaço citológico como eventuais ovos de vermes, incluem-se na especificação
"Outros" do Sistema Bethesda, podendo constar em "Recomendações", a critério do
citopatologista, que seja investigada a causa de cervicite ou endocervicite.
g) Em geral, no Brasil, consideramos ainda, que a prática de “tratar e repetir” não é
condenável - desde que não seja abusiva - e representa o acompanhamento da paciente
pelo citopatologista e pelos demais especialistas responsáveis pelo caso, auxiliando a
avaliar a eficácia do tratamento. É recomendável que a paciente retorne aos mesmos
médicos, nos casos em que não é previsível a cura imediata.
(9,27,35,46,68,69,79,81,102,117,126 )
161
6.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS
162
6.0 - CONSIDERAÇÕES FINAIS:
A Citopatologia é uma especialidade relativamente nova, que se desenvolveu no
século XX, e o exame de Citologia Oncótica Vaginal é o que alcançou o maior êxito na
luta contra o câncer, salvando incontáveis vidas nos diferentes países ricos ou pobres do
planeta.
Outros benefícios, resultantes da conclusão da presença de afecções ginecológicas
como inflamação, atrofias, infecção, DST, no esfregaço, não são devidamente registrados
e por isso são desconhecidas quantas doenças inflamatórias pélvicas ou puerperais
foram evitadas, quantas vezes patógenos presentes no esfregaço citológico foram
confirmados microbiologicamente e puderam ser eliminados após tratamento, ou quantas
vidas na fase intra-uterina ou neo-natal também já foram salvas Essa prática médica
solidária, que faz parte da rotina dos Citopatologistas e / ou Patologistas brasileiros, não
pode dispensar os conhecimentos atualizados da Microbiologia, nem as exigências de
acuidade que os exames complementares devem ter para esclarecer ou confirmar as
observações clínicas. Uma vez que se apresentou a oportunidade - pouco comum - de
contar com material para fazer a correlação do resultado do exame citológico com
exames microbiológicos, especialmente a cultura, realizamos este trabalho esperando
que seja útil e possa contribuir para atualizar conhecimentos e para que o exame de
citologia cérvico-vaginal seja reconhecido não somente pela eficiência na realização do
seu objetivo primário. Para que os agentes biológicos visíveis com a coloração de
Papanicolaou e indicados no laudo, atendam aos requisitos de acuidade diagnóstica, as
especificações para o laudo do exame de citologia cérvico-vaginal foram avaliadas
comparando os resultados deste estudo com as publicações de outros autores e a
especificação que indica a necessidade de pesquisa com a Microbiologia foi incluída para
melhorar a comunicação com o clínico e beneficiar a paciente.
163
7.0 - CONCLUSÕES
164
7.0 - CONCLUSÕES
1 - Para a realização do exame citopatológico é indispensável que o clínico ou
ginecologista envie ao citopatologista os dados solicitados na requisição, completos e que
seja obtida uma amostra adequada durante a colheita do material.
2- O exame citológico e microbiológico mostrou prevalência de Lactobacillus sp, Candida
sp. e Gardnerella vaginalis.
3 - O esfregaço cérvico-vaginal corado pelo método de Papanicolaou atende à
necessidade de diagnóstico de inflamações cérvico-vaginais na população brasileira e
tem precisão científica suficiente para detectar Lactobacillus sp., Leptotrix vaginalis,
Trichomonas vaginalis, e a infecção por Candida sp. primária ou adquirida.
O diagnóstico de Gardnerella vaginalis é seguro, desde que esteja presente no
esfregaço, a "célula guia", enquanto que Vaginose é um diagnóstico clínico e laboratorial.
A codificação F1 a F11 não deve mais ser usada.
4 - São também visíveis: Actinomyces spp., Chlamydia trachomatis, Streptococcus sp. e
possivelmente, Mobiluncus sp, além do efeito citopático pelo HPV e HSV. Esses
microorganismos podem ser indicados na especificação "Outros" e, a critério do
Citopatologista, com comentários em "Recomendações", conforme o laudo proposto no
Sistema Bethesda.
5 - Nos casos em que a flora presente, associada ou não a lactobacilos, ultrapassar os
limites de conclusão ao exame citológico, deve-se chamar a atenção no relatório, para
que seja realizada a pesquisa microbiológica. É recomendável que a paciente seja
informada de que isso se faz em seu benefício.
165
6 - Como consequência do nosso estudo, propomos as seguintes modificações no sub-
ítem INFECÇÕES, adotado pelo Sistema Bethesda, com relação às especificações para
microorganismos:
Manutenção do ítem Lactobacillus sp.
Substituição de "Alteração da flora compatível com Vaginose" por Gardnerella
vaginalis com presença de "células guia".
Inclusão do ítem "Alteração da flora a esclarecer com exame microbiológico"
166
8.0 - ANEXOS
167
8.0 - ANEXOS
ANEXO I:
Nome:________________________________________
Idade________ Data da última menstruação:_________
Filhos_____________Aborto:_____________________
Resumo clínico:________________________________
_____________________________________________
Dados colposcópicos:____________________________
Tratamento em uso: Anticoncepcional ( ) Radioterapia ( )
Creme vaginal ( ) Cirúrgicos ( )
Antibiótico ( ) Hormônios ( )
Outro ( )
Data da colheita:_________________________________
Médico requisitante:______________________________
ANEXO II:
Idade:_________________________
Data da última menstruação:_______
Atividade sexual:________________
Uso de medicamentos:___________
Sintomas ou queixas:____________
168
9.0 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
169
9.0 – REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
1- ABREU E LIMA, M. C. C. O Sistema Bethesda versão 2001 – para o diagnóstico
citológico cérvico-vaginal: grandes acertos e pontos polêmicos. Jornal da Sociedade
Brasileira de Cancerologia. Ano IX,nº 39,nov / dez, 2001.
2- ALVES, V.A.F.,LIMA, M.A.N.,UTAGAWA, M.L., MAEDA, M.Y.S. Programa de controle
de qualidade em citologia ginecológica do Instituto Adolpho Lutz: estratégias e
análise critica dos resultados de sua implantação-piloto. Rev.Ass.Med.Bras.37(1):
36-42,1991.
3- AL-MUSHRIF, S., ELEY, A., JONES, B. M. Inihibition of chemotaxis by organic acids
from anaerobic may prevent a purulent response in bacterial vaginosis.
J.Med.Mcrobiol.
49 (11):1023-1030, 2000.
4- AMSEL, R.,TOTTEN, P.A.,SPIEGEL,C.A.,CHEN,K.C.S., ESCHENBACH, D., HOLMES,
K K. Nonespecific vaginitis: diagnostic criteria and epidemiologic associations. Am.
J. Med 74:14-22,1983.
5- ARYA,O.P.,TONG,C.Y.W.,HART,C.A.,PRATT,B.C.,HUGHES,S.,ROBERTIS,P.,KIRBY,
B., HOWEL, J., MC CORMICK, A., GODDARD, A.D. Is Mycoplasma hominis a vaginal
pathogen? Sex. Transm Infect. 77 (1):58-72, 2001.
6- ASHFAQ,R., THOMAS, S., SABOORIAN, M. H. Efficiency of P A P N E T in detecting
infectious organisms in cervicovaginal smears. Acta Cytolol.40 (5):885-888, 1996.
7- AUSTIN, R .M., MC LENDON, W. W. The Papanicolaou smear - Medicine’s most
successful cancer screening procedure is threatened. [Editorial]. JAMA 277(9):754-755-
1997.
8- BALDY, J .L.S. Doenças infecciosas e parasitárias transmitidas por contato sexual:
aspectos epidemiológicos e de saúde pública Rev Ass. Med. Bras.31( 9/10 ):146-151,
1985
.
9- BEREK, J.S. Simplification of the Bethesda 2001 classification system Am. J.Obstet.
170
Gynecol. 188 ( 3 Suppl ):S2-5; discussion S6-7, 2003.
10- BIBBO, M., HARRIS, M.J. Leptotrix. [Letter to Editor]
Acta Cytol. 16 (1):2-4,1972.
11- BIBBO,M.,HARRIS,M.J.,WIED,G.L. Microbiology and inflamation of the female genital
tract in Compendium on diagnostic Cytology. 4
th
edition. Tutorials of Cytology, Chicago,
Illinois,1976. p.61-75.
12- BISWAS, M.K. Bacterial vaginosis.
Clin.Obstet. Gynecol. 36 (1):166-176,1993.
13- BLACKWELL, A.L.,PHILLIPS, I., FOX, A. R., BARLOW, D. Anaerobic vaginosis (non-
specific vaginitis ): clinical, microbiological and therapeutic findings. Lancet II ( 8359 ):
1379-1382,1983.
14-BORIS, S., BARB
É
S, C. Role played by lactobacilli in controlling the population of
vaginal pathogens ( Review ). Microbis Infect. 2 (5):543-546, 2000.
15- BROOKS, G.F., BUTEL, J.S., MORSE, S.A. Mycoplasmas ( Mollicutes ) & Cell Wall-
Defective Bacteria in Jawetz Melnick & Aldelberg`s Medical Microbiology 21th edition.
Appleton & Lange, 1998. p.299-303.
16- BROOKS,G.F.,BUTEL,J.S.,MORSE,S.A Chlamydiae in Jawetz, Melnick & Alderberg’s
Medical Microbiology. 21th edition. Appleton & Lange, 1998. p.310-318.
17- BROWN, W.J. Variations in the vaginal bacterial flora. Ann. Intern.Med. 96 ( 6 pt2 ):
931-934,1982.
18- BRUNHAM, R.C.,PAVOONEM, J.,STEVENS,C.,KIVIAT, N., KUO,C.,CRITCHLOW,C.,
HOLMES, K.K. Mucopurulent cervicitis - the ignored counterpart in women of uretritis
in men. N.Engl.J.Med. 311(1):1-6,1984.
19-CAMPOS, E. P., MAEDA, M.Y.S., SHIH, L., W. S., PACHECO, G. R., ALVES, V. A. F.
Rastreamento de alterações morfológicas atribuíveis a clamídias em 30.000 amostras
de esfregaços vaginais. Rev. Inst. Adolfo Lutz 46 (1/2):59-64,1986.
20-CARRERA, J. M.,DEXUS JR.,S.,COUPEZ, F.Tratado y atlas de colposcopia. 2ª editión
Salvat Editores AS, Barcelona,1977.
21-CATTAPAN, A Vaginose bacteriana com especial atenção ao Mobiluncus sp Revisão.
171
Rev. Bras. Doenças Sex. Transm.1 (1):23-33,1996.
22- CAUDILL,J. L.,HUMPHREY, S. K.,GOELLNER,J. R. Cervicovaginal cytology and the
diagnosis of Chlamydia trachomatis: a comparison with immunofluorescent results
Diagn.Cytopathol. 11:20-22,1994.
23- CAVALIERE, M. J., MAEDA, M.Y.S., SHIRATA, N. K., LONGATTO FILHO, A., SHIH,
L. W. S., SIQUEIRA, M., CORREA, M. G. B. M., OLIVEIRA, H. F. Cérvico-vaginal
Chlamydia trachomatis infection in pregnant adolescent and adult women: a
morfologic and immunofluorescent study. Arch. Gynecol.Obstet. 253 (4):175-182,1993
24- CHAVES,E. Lesões precursoras do câncer de colo do útero.J.Bras.Ginec.96 (6):235-
237,1986.
25- CIBLEY,L.J.,CIBLEY,L.J. Cytolitic vaginosis. Am. J.Obstet.Gynecol. 165 ( 4pt2 ):1245-
1249,1991.
26 -COOPER, P.,SONNEX,C. Inflammatory cervical smears. (Special report) Practitioner
237 (1532):816-818,1993.
27- DALLABETA,G.,LAGA, M.,LAMPTEY,P. Controle das DST: Uma prioridade de Saúde
Pública in Controle de doenças sexualmente transmissíveis: Manual de planejamento
e coordenação de programas. Rio de Janeiro. Te Corá Editora / Associação Saúde
da Família ( AIDSCAP/ Brasil.Family Health International ),1997.323p.
28- DUNKELBERG, W.E. Diagnosis of Haemophillus vaginalis vaginitis by direct Gram-
stained smears. Am. J. Obstet Gynecol. 91(7):998-1000,1965.
29- DRAPPER, D.L., LANDERS, D.V., KROHN, M.A., HILLIER, S., WIESENFELD, H. C.,
HEINE, R.P. Levels of vaginal secretory leucocyte protease inhibitor are decreased in
women with lower reproductive tract infections. Am. J. Obstet. Gynecol. 183 (5):1243-
1248, 2000.
30- ECKERT, L. O., KOUTSKY, L. A., KIVIAT, N. B., KRONE, M. R., STEVENS, C. E.,
ESCHENBACH, D. A. The inflammatory Papanicolaou smear: what does it means ?
Obstet. Gynecol. 86 (3):360-366,1995.
172
31- EDWARDS, S.K., SONNEX, C. Influence of genital infection on cervical cytology.
Sex. Transm. Inf. (Original article) 74:271-273,1998.
32- ELTABBAKH, G.H., ELTABBAKH, G.D., BROEKHUIZEN, F.F., GRINER, B.T. Value
of wet-mount and cervical cultures at the time of cervical cytology in assyntomatic
women. Obstet. Gynecol. 85 (4):499-503,1995.
33- ELUF-NETO, J. ,NASCIMENTO, C.M.R. Cervical cancer in Latin América Sem.Oncol.
28(2):188-197,2001.
34- ESCHENBACH, D. History and review of bacterial vaginosis.
Am.J. Obstet.Gynecol.
169 (2pt2) :441-445,1993.
35 -EVANS, D.M.D., HUDSON, E.A., BROWN,C.L.,BODDINGTON, M.M.,HUGHES, H.E.,
MACKENZIE, E. F., MARSHALL, T. Terminology in Gynecological Cytopathology:
report of the Working Party of the British Society for Clinical Cytology ( Review
article ) J. Clin. Pathol: 39:993-944,1986.
36- FAIBIS, F.,PECARRERE, J. L. MENARD, D. Étude de 3985 prélèvements genitaux
fémenins effectués au Centre de Biologie Clinique de l’Institut Pasteur de Madagascar.
Arch. Inst. Pasteur Madagascar 61 (2):105-107,1994.
37- FAYE-KETTE, Y.H., KOUASSI, A. A., SYLLA-KOKO, D. F., KAKOU - N’DOUBA, A..,
AKOUKA-KOFFI,G., ACHO,Y.B., CISSE, L.,BOUZID, S.A., KOUAOU, K., DOSSO, M.
Prévalence de quatre agents des maladies transmises sexuellement au cours des
leucorrhées à Abdjan (Côte d’Ivoire). Bull.Soc.Path.Ex .86:245-247,1993.
38- FLEURY, F.J. Adult vaginitis. Clin.Obstet.Gynecol.24:407-438,1981.
39- FRABLE, W. J. Integration of Surgical and Cytopatholgy : a historical perspective
[Editorial] Diagn. Cytopathol. 13 (5):375-378,1995.
40- FRANCO, E.L.F. A epidemiologia do câncer no Brasil. Médicos HC-FMUSP Ano II.
7:96-100,1999.
41- FREIBERG, J. Genital mycoplasma infections
. Am.J.Obstet.Gynecol.132 (5): 573-
578,1978.
173
42- FRIEDRICH, E.A. The vagina: an ecologic chalenge. Ariz. Med.36: 443-445, 1979.
43- GARDNER, H.L., DUKES, C.D. Haemophillus vaginalis vaginitis. Am. J. Obstet.
Gynecol 69:962-976,1955.
44- GARDNER, H.L., DUKES, C.D. Haemophillus vaginalis vaginitis.
Ann. NY Acad.
Sci. 83(2):280-289,1959.
45- GIACOMINNI, G., PAVOONEM, J., RILKE, F. Microbiologic classification of cervico
vaginal flora in Papamicolaou smear. Acta Cytol.33(2):276-278,1989.
46- GIACOMINI, G ., SCHNADIG, V. J. The cervical Papanicolaou smear: bacteria
infection
and the Bethesda System. Acta Cytol. 36 (1):109-110,1992.
47- GIACOMINI, G., CALCINAI, A., MORETTI, D., CRISTOFANI, R. Accuracy of cervical /
vaginal cytology in the diagnosis of bacterial vaginosis. Sex. Transm.Dis. 25 (1):24-27,
1997.
48- GIAMPAOLO, C., MURPHY,J., BENES,S., MC CORMACK, W.M. How sensitive is the
the Papanicolaou smear in the diagnosis of infections with Chlamydi a trachomatis ?
Am. J. Clin. Pathol. 80,844-849.1983.
49- GIRALDO, P.C., WITKIN,S.S.Candidíase vaginal: um desafio incompreendido.
J.Bras.
Doenças Sex.Transm.10 (5):31-36,1998.
50- GONÇALVES, A.A.G., ALCÂNTARA,M.F.L.P., SILVA,L.A. Incidência de gonorréia em
população previdenciária da Baixada Santista. Rev.Bras.pat.Clin.20 (2):47-52,1984.
51- GORBACH, S .L., MENDA, K .B., THADEPALLI, H., KEITH, L. Anaerobic microflora
in healthy women
Am.J. Obstet. Gynecol.117 (8):1053-1055, 1973.
52- GUIJION, F., PARASKEVAS, M., RAND, F., HEYWOOD, E., BRUNHAM, R., M. C.
NICOL, P. Vaginal microbial flora as a cofactor in the pathogenesis of cervical
intraepithelial neoplasia. Int. J. Gynecol.Obstet. 37 (3):185-191,1992.
53- HAMILL, H.A. Normal vaginal flora in relation to vaginitis. Obstet. Gynecol. Clin.
North Am. 16 (2):329-336, 1989.
54- HAY, P.E., TAYLOR-ROBINSON, D. Defining bacterial vaginosis: to BV or not to BV
174
BV, that is the question [Editorial review]. Int. J.STD AIDS 7:233-235,1996.
55- HENRY, M.J., JENSEN,.K. L. M., SKOLUND,C.D., ARMSTRONG, D. W. Chlamydia
trachomatis in routine cervical smears: a microscopic and ultrastructural analysis.
Acta Cytol. 37 (3):343-352,1993.
56- HILL, J. A., ANDERSON, D. J. Human vaginal leukocytes and the effects of vaginal
fluid on lymphocyte and macrophage defense functions.
Am.J.Obstet.Gynecol.166:(2):
720-726,1992.
57- HILLIER, S.L., KROHN, M.A., RABE. L.K., KLEBANOFF, S.J., ESCHENBACH, D.A.
The normal vaginal flora H2O2 producting Lactobacilii and Bacterial vaginosis in
in pregnant women. Clin. Infect.Dis 16 (4) Suppl.:273-281,1993.
58- HILLIER,S.L. Diagnostic microbiology of Bacterial vaginosis. Am.J. Obstet 169 (2pt2):
455-459,1993.
59- HOLMES, K. K., SPIEGEL, C., AMSEL, R., ESCHENBACH, D. A., CHEN, K. S. C.,
TOTTEN, P. Nonespecific vaginosis. Scand. J. Dis. Suppl. 26:110-114,1981.
60- HURLEY, R., DE LOUVOIS, J. Candida vaginitis. Postgrad.Med.J .55:645-647,1979.
61- IGETISIEME,J. U., ANANABA, G.A., BOLIER.J., BOWERS,S., MOORE,T., BELAY, T.
LYN, D., BLACK,C.M. The intercellular adhesion molecule type-1 is required for rapid
rapid activation of helper type-1 lymphocytes that control early acute phase of genital
chlamydial infection in mice. Immunology 98 (4):510-518,1999.
62- JONES,D.M., DAVSON, J. Mycoplasma hominis in Ayre’s smears. Nature 213:828-
829,1967.
63- KIVIAT, N., PAVOONEM, J., BROCKWAY, J., CRITCHLOW, C.W., BRUNHAM, R.C.,
STEVENS, C. E., STAMM, W. E., KUO, C., DE ROUEN, T., HOLMES, K. Cytologic
manifestations of cervical and vaginal infections. I. Epithelial and inflammatory
cellular changes. JAMA 253 (7):989-996,1985.
64- KLINE,T. S. The Papanicolaou smear: a brief historical perspective and where we
are today. Arch. Pathol.Lab Med.121:205-209,1997.
175
65- KOSS, L.G., WOLINSKA, W.H. Trichomonas vaginalis cervicitis and its relationships
to cervical cancer: a histocytological study. Cancer 12:1171-1193,1959.
66- KOSS, L.G. The Papanicolaou test for cervical cancer detection: a triumph and a
tragedy. (Review) JAMA 261(5):737-743,1989.
67- KRIEGER, J.N., TAM, M.R., STEVENS,C.E., NIELSEN, I.A, HALE, J.H. KIVIAT,N.B.,
HOLMES, K.K. Diagnosis of trichomoniasis: comparison of conventional wet-mount
examination with cytologic studies, cultures and monoclonal antibody staining of
direct specimens. JAMA 259:1223-1227,1988.
68- KRIEGER,P., BIBBO,M. Our journey towards improved accuracy in Cytology: the role
of new tecnologies. [Editorial]. Acta Cytol. 41(1):11-14,1997.
69- KURMANN, R.J., SALOMON, D. The Bethesda System for reporting cevical / vaginal
cytologic diagnosis: definitions, criteria and explanatory notes for terminology and
especimen adequacy. 1th edition.1994. Springer-Verlag New York Incorporation .81p.
70- KURMANN, R.J., HENSON, D.E., HERBST, A L., NOLLER, K.L., SCHIFFMAN, M. H.
Interim guidelines for management of abnormal cervical cytology. JAMA 271(23):
1866-1869,1994.
71- LARSEN, B., GALASK, R.P. Vaginal microbial flora: practical and theoretic relevance
Obstet. Gynecol. 55 (5) Suppl.:100-113,1990.
72- LARSEN, B.,GALASK, R.P.Vaginal microbial flora: composition and influences of host
physiology. Ann. Intern. Med 96 (2): 926-930,1982.
73- LAWLEY, T.B., LEE, R.B., KAPELA, R. The significance of moderate and severe
inflammation on Class I Papanicolaou smear. Obstet. Gynecol.76 (6): 997-999, 1990.
74- LEHKER, M. W., SWEENEY, D. Trichomonad invasion of the mucous layer requires
adhesins, mucinases and motility. Sex Transm.Infect. 75 (4):231-238,1999.
75- LEPPALUOTO,P. A. The etiology of cocci type “Strepcokokkentyp” vaginal smears.
Acta Cytol.15 (3):211-215,1971.
76- LIRA NETO,J.B.Leucorréia causada por exacerbação dos bacilos de Dodelein.J.Bras.
176
Ginec. 94 (3):67-71,1984.
77- LIRA NETO,J.B. Achados colpocitológicos em 1787 casos de vaginites.J.Bras.Ginec.
95 (11e 12):529-535,1985.
78- LOSSICK, J. G.The diagnosis of vaginal trichomoniasis [Editorial] JAMA 259 (8):1230,
1988.
79- LUFT, R.D.The Bethesda System for reporting cervical / vaginal cytologic diagnosis:
Report of the 1991 Bethesda Workshop. Hum. Pathol.23 (7):719-721,1992.
80- LUFF, R.D. Benign cellular changes: have we inadvertently reinvented the Class I
sign-out ? Diagn.Cytopathol.10 (4):309-310,1994.
81- MALIK, S.N., WILKINSON, E.J., DREW, P.A., HARDT, N.S. Benign cellular changes
in Pap smears. Causes and significance. Acta Cytolol. 45 (1):5-8,2001.
82 - MASSAD, E. Epidemiologia matemática. Médicos HC-FMUSP Ano I 3:76-81,1998.
83 - MOHERDAUI, F., VUYLSTEKE, B., SIQUEIRA, L.F., DOS SANTOS JÚNIOR, M. Q.,
JARDIM, M. L., DE BRITO, A . M., SOUZA, M. C., WILLERS, D., SARDINHA, J. C.,
BENZAKEN, A. S., RAMOS, M.C., BUENO, H., RODRIGUES, L.G.,CHEQUER, P.J.
National programme on STD / AIDS Ministry of Health, Brasília, Brasil. Validation
algorithms for the diagnosis of sexually transmited diseases in Brazil: results from a
multicentric study. Sex. Transm. Dis. 74 Suppl.1: S38-43,1998.
84- MONTZ, F.J., MONK, B.J., FOWLER, J.M., NGUYEN, Natural history of minimally
abnormal Papanicolaou smear. Obstet. Gynecol. 80 (3pt1):385-388,1992.
85- MOUNT,S.L., PAPILILO,J.L. A study of 10.296 pediatric and adolescent Papanicolaou
smears diagnosis on Northern New England. Pediatrics 103 (3):539:545,1999.
86- NASCIMENTO, C.M., ELUF-NETO, J., REGO, R.A. Pap-test coverage in São Paulo
municipality and characteristics of the women tested. Bull .Pan. Am. Health. Organ.
30 (4):302-312,1996.
87- NICAND, E.,CAVALLO, J.D.,CRENN, Y.,MEYRAN, M. Valeur du score au Gram dans
le diagnostic des vaginosis bactériennes. Path. Biol. 42 (5):539-543,1994.
177
88- NUGENT, R. P., KROHN, M. A, HILLIER, S. L. Reliability of diagnosing bacterial
vaginosis is improved by a standardized method of Gram stain nterpretation. J.Clin.
Microbiol.29:297-301,1991.
89- OLLAYOS, C.W. Update on Papanicolaou smear: new issues for 1990s. Mill. Med.
162:521-523,1997.
90- PAAVOONEM, J. Physiology and ecology of the vagina. Scand.J. Infect.Dis. Suppl.
40:31-35,1983.
91- PAAVONEM, J., CRITCHLOW, C. W., DE ROUEN, T., STEVENS, C. E., KIVIAT, N.,
BRUNHAM, R.C., STAMM, W.E., KUO,C., HYDE, K. E.,COREY, L., HOLMES, K. K.
Etiology of cervical inflammation. Am.J.Obstet.Gynecol.154 (3): 556-564, 1986.
92- PAPANICOLAOU, G.N., TRAUT, H.F. The diagnostic value of vaginal smears in
carcinoma of the uterus. Arch. Pathol. Lab. Med.121:211-224,1997.
93- PETINELLI, E., GRECO, M. K., ORTEGA, X. R., MORA, M. J., SAEZ,E. F. Analisis,
classification microbiologica y valoration de raciones inflamatorias de 25.000
extendidos citologicos de cuello uterino. Rev.Chil. Obstet.Ginecol.49 (1):26-32,1984.
94- PHEIFER, T. A., FORSYTH, M. S., DURFEE, M. A., POLLOCK, H.M., HOLMES, K.
K. Nonespecific vaginitis - Role of Haemophillus vaginalis and treatment with
metronidazole. N. Engl. J. Med. 298 (26):1429-1434,1978.
95- PLATZ-CHRISTENSEN, J. J., LARSSON, P.G., SUNDSTROM, E., BONDESON, L.
Detection of Bacterial Vaginosis in Papanicolaou smears. Am. J. Obstet. Gynecol.
160 (1):132-133,1989.
96- REDONDO-LOPEZ, V., COOK,R.L., SOBEL,J.D. Emerging role of lactobacilii in the
control and maintenance of the vaginal bacterial microflora. Rev. Infect.Dis.12 (5):
856-872,1990.
97- RODGERS,C.A., BEARDALL, A.J. Recurrent vulvovaginal candidiasis: why does it
occur ? Int. J.STD AIDS 10 : 435-441,1999.
98- SANCHEZ-VEGA ,J.T.,TAY-ZAVALA,J., RUIZ-SANCHEZ,D., RUIZ-HERNANDEZ,A.,
178
ROBERT-GUERRERO, L, FERNANDEZ-PRESAS, A.M, MARTINEZ, S. Frecuencia
de tricomoniasis y candidiasis vaginal y su relación com el cuadro clinico. Rev. Lat.
Amer. Microbiol. 35:211-216,1993.
99- SAUMANN, A. B. Los origenes del Papanicolaou.
Rev.Chil. Obstet. Gynecol. 57 (6):
461-463,1992.
100- SCHENCK,U.,HERBERT,A.,SOLOMON, D., MMA,N.S.,COLLINS, R.J.,GUPTA,S.K.,
JIMENEZ AYALA, M., KOBILKOVÁ, J., NIELSEN, M., SUPRUN, H. Z. Terminology.
International Academy of Cytology Task Force Summary. Acta Cytol.42(1) 5-15,1998.
101- SCHNADIG, V. J., DAVIE, K. D., SHAFER, S. K.,YANDELL, R. B.,HANNIGAN, E. V.
The cytologist and bacteriosis of the vaginal-ectocervical area: clue, commas and
confusion. Acta Cytolol. 33 (3):287-297,1989.
102- SCHNEIDER, V. The Bethesda System - the European perspective: report on the
Second Conference on the Bethesda System for reporting cervical / vaginal
Cytological diagnosis. Cytopathology 3 (1):27-29,1992.
103- SOBEL, J.D. Pathogenesis of Candida vulvovaginitis. ( Review ) Curr.Top.Med.Micro
3:86-108,1989.
104- SONNEX, C., LEFORT, W. Microscopic features of vaginal candidiasis and their
relation to syntomatology.
( Original article ) Sex Transm. Inf. 75:417-419,1999.
105- SPIEGEL, C.A., AMSEL, R., ESCHENBACH,D., SCHOENKNECHT, F, HOLMES, K.
K Anaerobic bacteria in nonespecific vaginitis.
N.Engl.J.Med.303 (11):601-607,1980.
106- SPIEGEL,C.A., AMSEL,R., HOLMES,K.K. Diagnosis of bacterial vaginosis by direct
Gram stain of vaginal fluid. J. Clin. Microbiol. 18 (1):170-177,1983.
107- SPIEGEL, C.A., ESCHENBACH, D. A., AMSEL, R.,HOLMES,K. K.Curved anaerobic
bacteria in bacterial (nonspecific) vaginosis and their response to antimicrobial
therapy J. Infect.Dis.148 (5):817-822,1983.
108- SPIEGEL, C. Bacterial vaginosis. Clin. Microbiol. Rev. 4 (4):485-502,1991.
109- STACK, P.S. Pap smears: still a reliable screening tool for cervical cancer. Postgrad.
179
Med. 101(4):207-214,1997.
110- SWEET, R.L. The enigmatic cervix. Dermatol. Clin.16 (4):739-745,1998.
111- SWEET, R.L.Ginecologic conditions and Bacterial vaginosis: implications for the non-
pregnant patient. Infect.Dis.Obstet.Gynecol.8 (3-4):184-190, 2000.
112-TAYLOR-ROBINSON, D., MC CORMACK, W.M. The genital mycoplasmas ( First
of two parts ) N. Engl. J. Med. 302 (18):1003-1010,1980.
113-TAYLOR-ROBINSON, D., MC CORMACK, W. M. The genital mycoplasmas ( Second
of two parts )
N. Engl. J. Med. 302 (19):1063-1067,1980.
114-TAYLOR-ROBINSON, D., FURR, P.M. Update on sexually transmited mycoplasmas
Lancet 351 ( Suppl. III ):12-15,1998.
115-TAYLOR-ROBINSON, D., RENTON, A. Diagnostic tests that are worthwhile for
patients with sexually transmitted bacterial infections in industralized countries.
( Review ) Int. J.STD AIDS 10:1-4,1999.
116-TEIXEIRA,C.V., MORAIS,M.G.F., NETO,J.R., SILVA,J.D.,MORAIS, V.L.S.A. Fixação
de padrões de flora do trato cérvico-vaginal. Contestação ao uso da classificação de
Doderlein e modificações de Bozzini,1993 e Linhares et al,1995. Rev. Bras. An. Clin.
31 (2): 47-51,1999.
117-The Bethesda System for reporting cervical / vaginal cytologic diagnosis: revised
after the second National Cancer Institute Workshop, April, 29-30, 1991. Acta
Cytol. 37(2):115-124,1993.
118- Threat to medicine’s most successful cancer screening test. College of American
Pathologists. Del. Med. J. 69 (4):219,1997.
119- VILLAGRA, E., MARTINEZ, M. A., OVALLE, A. Flora microbiana genital en una
poblacion de alto riesgo obstetrico.
Rev. Chil. Obstet.Gynecol. 59 (1):32-38,1994.
120- VILOS,G.A. After office hours: the history of the Papanicolaou smear and the odssey
of George and Andromache Papanicolaou.
Obstet. Gynecol. 91 (3): 479-483,1998.
121- VOOIJG, G. P. Opinion poll on quality assurance and quality control. Conducted by
180
the Cometee on Continuing Education and Quality Assurance of the International
Academy of Cytology. Acta Cytol. 40 (1):14-24, 1996.
122- WIED, G. L. The interpretation of inflammatory reactions in the vagina, cervix and
endocervix by means of cytologic smears. Am.J.Clin.Pathol.28: 233-242,1957.
123- WITKIN, S.S. Immunological factors influencing susceptibility to recurrent candidal
vaginitis. Clin. Obstet. Gynecol.34 (3): 662-668,1991.
124- WITKIN, S.S. Immunology of the vagina. Clin. Obstet. Gynecol. 36:122-128,1993.
125- WOORMLEY JR., F.L., CHAIRBAN, J., FIDEL JR., P. Cell adhesion molecule and
lymphocyte activation marker expression during experimental vaginal candidiasis.
Infect. Immun. 69 (8):5072-5079,2001.
126-YOUNG, N.A., KLINE, T.S. Benign cellular changes: allied ambiguity in CLIA 88 and
The Bethesda System. [Editorial] Diagn. Cytopathol. 10 (4):307-308, 1994.
181
10.0 SUMMARY
182
10.0 - SUMMARY
The effect of Papanicolaou cytological cervical-vaginal examination on the reduction
of the incidence of squamous-cell carcinoma failed to clarify the importance of this
examination, regarding the diagnosis of cervical vaginitis, calling into question the
Bethesda System (TBS). The improvements in TBS in the area of squamous intra-
epithelial lesions were not noted, where infections are concerned, despite advances in
microbiological research.
The author did a study based on a sample of 10,064 cytopathological exams of which 86%
presented inflammation, (12.34% minor inflammation 66.22% moderate inflammation and
7.44% severe inflammation). Clinical criteria were applied in 2,169 cases which required
microbiological tests. The microbiological test was represented by the culture in 94.85% of
the cases. It showed similar relative frequencies, among the three most commonly-found
types of flora in both cytopathological and microbiological tests (P< 0,0001), i.e.
Lactobacillus sp, Candida sp. and Gardnerella vaginalis. The latter was diagnosed based
on the occurrence of ‘clue cells’.
It was confirmed that the Papanicolaou method could be used in the cytological diagnosis
of Lactobacillus sp., Candida sp., Leptotrix vaginalis and Trichomonas vaginalis.
Moreover, the diagnosis of Gardnerella vaginalis based upon the identification of ‘clue
cells’ is reliable. The diagnosis of Actinomyces spp.,Chlamydia trachomatis,
Streptococcus sp. is also possible, along with the probable presence of Mobiluncus spp.
We can confirm that the codifying of the F1 and F11 floras is not applicable. As a
consequence of this study, we propose the following modifications in the category of TBS
infections, in relation to the specification of the microorganisms:
1) Retaining the Lactobacillus sp. Item.
2) Substituting ‘Shift in the vaginal flora compatible with Vaginosis’ for ‘Gardnerella
vaginalis with the presence of ‘clue cell”.
183
3) Including the topic concerning ‘Alteration of flora to be clarified by way of a
microbiological test’. The latter point would enable the cytopathologist to inform
the clinic of the necessity of investigating suspected cases of infection which had
been subjected to a cytological examination.
184
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo