88
du structuralisme à l’égard du temps est donc très claire: le temps y est toujours un
temps d’actualisation, suivant lequel s’effectuent à des rythmes divers les éléments
de coexistence virtuelle. Le temps va du virtuel à l’actuel, c’est-à-dire de la structure
à ses actualisations, et non pas d’une forme actuelle à une autre. Ou du moins le
temps conçu comme relation de succession de deux formes actuelles se contente
d’exprimer abstraitement les temps internes de la structure ou des structures qui
s’effectuent en profondeur dans ces deux formes, et les rapports différentiels entre
ces temps. Et précisément parce que la structure ne s’actualise pas sans se
différencier dans l’espace et dans le temps, sans différencier pra là même des
espèces et des parties qui l’effectuent, nous devons dire en ce sens que la structure
produit ces espèces et ces parties elles-mêmes. Elle les produit comme espèces et
parties différenciées. Si bien qu’on ne peut pas plus opposer le génétique au
structural que le temps à la structure. La genèse, comme le temps, va du virtuel à
l’actuel, de la structure à son actualisation; les deux notions de temporalité multiple
interne, et de genèse ordinale statique, sont en ce sens inséparables du jeu des
structures
126
.
Pode-se afirmar que a conceituação realizada por Deleuze das estruturas e do
estruturalismo foi escrito algum tempo depois da publicação das principais obras de Braudel,
assim como se pode afirmar também que Deleuze não tinha em mente, neste texto, avaliar a
utilização da ferramenta estrutural por parte dos historiadores. No entanto, retomando a
distribuição dos assuntos na obra O Mediterrâneo... podemos notar como sua conceituação se
aplica admiravelmente ao trabalho de Braudel.
Como citado anteriormente, o livro O Mediterrâneo... divide-se inicialmente em três
partes. Estas três grandes seções estão antes ligadas a uma divisão temporal que propriamente
126
DELEUZE, Gilles. “A quoi reconnait-on le structuralisme?” In: CHATELET, François (direction). Histoire
de la philosophie: idées, doctrines. Paris : Hachette, 1973. (8 v.) pp. 313-315.
“O que é que coexiste na estrutura? Todos os elementos, as relações e valores de relações, todas as
singularidades próprias ao domínio considerado. Semelhante coexistência não implica nenhuma confusão,
nenhuma indeterminação: são relações e elementos diferenciais que coexistem num todo perfeita e
completamente determinado. Acontece que este todo não se atualiza como tal. O que se atualiza, aqui e agora,
são as relações, tais valores de relações, tal repartição de singularidades; outras atualizam-se alhures ou em
outros momentos. (...)
Toda diferenciação, toda atualização, é feita segundo dois caminhos: espécies e partes. As relações diferenciais
encarnam-se em espécies qualitativamente distintas, ao passo que as singularidades correspondentes se encarnam
nas partes e figuras extensas que caracterizam cada espécie. Assim, as espécies de línguas, e as partes de cada
uma na vizinhança das singularidades da estrutura linguística; os modos sociais de produção especificamente
definidos, e as partes organizadas correspondendo a cada um de seus modos etc. Convém observarmos que o
processo de atualização sempre implica uma temporalidade interna, variável segundo aquilo que se atualiza. Não
somente cada tipo de produção social tem uma temporalidade global interna, mas suas partes organizadas têm
ritmos particulares. Portanto, a posição do estruturalismo relativamente ao tempo é bastante clara: o tempo é
sempre um tempo de atualização, segundo o qual se efetuam, em ritmos diversos, os elementos de coexistência
virtual. O tempo vai do virtual ao atual, isto é, da estrutura às suas atualizações, e não de uma forma atual a outra
forma. Ou, pelo menos, o tempo concebido como relação de sucessão de duas formas autais contenta-se em
exprimir abstratamente os tempos internos da estrutura ou estruturas que se efetuam em profundidade nessas
duas formas, e as relações diferenciais entre esses tempos. E é justamente porque a estrutura não se atualiza sem
se diferenciar no espaço e no tempo, sem diferenciar, assim, espécies e partes que a efetuam, que devemos dizer,
neste sentido, que a estrutura produz essas espécies e essas partes. Ela as produz como espécies e partes
diferenciadas, embora não possamos opor o genético ao estrutural mais do que o tempo à estrutura. A gênese,
como o tempo, vai do virtual ao atual, da estrutura à sua atualização; as duas noções de temporalidade múltipla
interna, e de gênese ordinal estática, são, neste sentido, inseparáveis do jogo das estruturas.”
DELEUZE, Gilles. “Em que se Pode Reconhecer o Estruturalismo?” In: CHATELET, François (direção).
História da Filosofia: Idéias, Doutrinas. Rio de Janeiro : Zahar, 1974. (8v.) pp. 283-285.