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“É o meio acadêmico que te avalia e te dá nota.”
“E tem toda uma pressão, porque senão ele vai ser um ‘outsider’. Como é que ele vai ficar
retirado disso, pai, mãe, ele se envergonha enquanto o irmão dele tem boas notas e ele está
de fora. E se ele não consegue absorver [sic] todas aquelas informações, e aí ele vai fazer
uso disso [medicamento]. Tá vendo? Mais do que uma produção do indivíduo, mais a pressão
de um produto social.”
Além disso, eles pensam que a realização dessas tarefas se torna mais importante do
que suas conseqüências para a saúde e, por isso, os riscos de efeitos colaterais são deixados
para depois, como está expresso na seguinte fala:
“Então eu não sei, se de repente, se eu tivesse acesso a um medicamento desse, e uma
demanda dessas a ser exigida, se eu não ia fazer uso. Eu não sei... sem pensar às vezes em
conseqüências. Entendeu? Porque a pressão, [sic]
Teria que pensar no imediato, vários [sic],
até mesmo a dependência, aí depois eu penso...”
Há também o entendimento que deixar-se levar pelas pressões dos prazos é uma
doença; um ciclo ‘neurótico’ de querer ser melhor, pois na verdade sempre existe alguma
possibilidade de escolha. O próximo trecho revela esse raciocínio:
“Porque quando você se deixa se engolir pelo tempo, por essa pressão já é a doença em si,
ou antes, do uso que seja, de tentar se turbinar ou o quê seja, quando você se deixa se engolir
por isso porquê... eu vejo assim, é uma doença, é discurso, mas todo sistema por mais que
tenha pressão eu acho que é uma escolha, sempre há uma escolha né? Essa coisa que fala no
texto ‘pretexto’ que fala aqui, acho que é isso, não sei, mas eu acho que a doença não é em
decorrência do uso, sabe? Já é antes que leva a pessoa a entrar num ciclo neurótico de ser o
melhor né?”
Contudo, a compreensão de que sempre existe uma escolha é confrontada pela idéia de
que existe uma doença social, pois o social molda e regulamenta o comportamento e a forma
de ser da pessoa. Não estar enquadrado gera exclusão que, por sua vez, impossibilita a
realização dos desejos. A seguir, dois exemplos dessa representação da pressão social:
“Porque você tem um enquadramento social que você deve atender. Então ‘neura’, essa
neurose toda, tipo essa doença toda ela vem mastigada pra gente, a gente vai entrando nisso,
para uniformizar a coisa, senão você está fora. Se você está fora você não tem o carro que
você quer, não tem a casa que você quer, conseqüentemente, vamos dizer assim, num plano
de reino animal, a fêmea vai ficar com o macho mais forte, que é o dominante. No nosso
mundo capitalista também você não vai ter o que você quer. E rola muita pressão.”
“Eu só acho que sim, tem que ser o melhor na sua área. Não tem como. Se o cara vai querer
passar dias vendo o por do sol e o amanhecer, ele vai ter que ser o melhor naquilo para [sic]
vida dele nisso. Sobreviver disso. Porque com certeza o outro não vai dar pão pra ele. O
outro está estudando e se matando de ficar acordado, tomando Ritalina ou qualquer outra
coisa, pra ficar acordado, depois não vai olhar pra ele com complacência.”
A pressão social, para esse grupo, leva tanto a uma competição com os outros como
também a competição consigo mesmo. Tais idéias ficam claras nos seguintes trechos:
“... esses cientistas, eles estão em cheque o tempo todo, eles estão lançando uma pesquisa, e
tem outro ali que pode estar desconstruindo a pesquisa dele no próximo livro. [sic] vem com
uma tese em cima dele, destruindo o trabalho da vida inteira.”
“Porque minha nota [caso fosse baixa], com ela, eu não faço mais a pós-graduação que eu
quero. Eu acho que há uma olimpíada nesse sentido, e ela não é às vezes só contra o outro, é
contra você mesmo.”