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RESUMO
AIDS E RELIGIOSIDADE: INFLUÊNCIAS INTERSUBJETIVAS AOS
ACOMETIDOS PELA EPIDEMIA
Nos dias atuais, apesar de todas as informações inerentes aos mais diversos tipos de
doenças, algumas delas ainda são motivos de angústia, receios e preconceitos. Na
antiguidade, a lepra e a peste e, a partir do século XIX, o câncer, a sífilis e a tuberculose
permeavam as mentalidades e marcavam seus portadores, uma vez que os significados das
doenças iam além de seus diferentes sintomas. Algo semelhante vem ocorrendo no mundo
contemporâneo no que diz respeito à Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS).
Para muitos, a soropositividade, entendida como a pessoa portadora do HIV, ainda é
sinônimo de morte, nesse sentido, a pessoa é estimulada a profundas reflexões sobre a
própria vida; se lhe foi satisfatória sua trajetória de vida, se houve algum desenvolvimento
emocional, se pôde criar vínculos afetivos fortes e permanentes ou mesmo se pôde auxiliar
a outros seres humanos. Portanto as crenças, opiniões, valores pessoais e de grupo devem
ser valorizados no diálogo e considerados tanto no formato como no conteúdo das
abordagens no campo da promoção da saúde. O estudo teve como objetivo: Avaliar a
qualidade de vida dos portadores de HIV/aids na cidade de João Pessoa/PB; Investigar a
influência da religiosidade no enfrentamento da aids; Verificar a influência da categoria
“raça”/cor aliada ao fator religioso na forma de enfrentamento do soropositivo. Trata-se de
um estudo exploratório descritivo com abordagem quanti-qualitativa, realizado em um
hospital de referencia da cidade de João Pessoa. Foram entrevistadas 76 pessoas, nessa
amostra foi constatado que 50% dos participantes do estudo são do sexo masculino e 50%
do sexo feminino, com idade em ambos os sexos variando entre 20 e acima de 60 anos,
também foi verificado que a maioria dos entrevistados pertencem a raça negra com pouco
grau de instrução. Ao se fazer um cruzamento entre o grau de instrução e o poder
aquisitivo observou-se que esse fato, aliado a baixa escolaridade reforça a evidência a
respeito da pauperização da epidemia. Quanto ao perfil religioso observou-se uma alta
incidência entre católicos e evangélicos. A aproximação com os sentidos percebidos no
estudo mostram que o diagnóstico da aids se apresenta com significados que mobilizam,
nos indivíduos, surpresa e dor psíquica, em virtude de esperarem um desfecho duvidoso,
tanto que eles não apresentam medo do futuro, no sentido de não guardarem grandes
perspectivas. Isso reforça a necessidade de uma assistência interdisciplinar entre todos os
soropositivos e não apenas com o doente de aids com o objetivo de construir, com eles,
outros sentidos para sua vida e, até mesmo, possibilidades para que eles se sintam
participantes do processo de superação da doença. A partir do enfoque religioso constatou-
se que a “cara da aids” pode não mais ser uma “cara” da morte, mas uma “cara” da vida,
porque as pessoas tentam aprender a viver com a doença, transformando seu dia-a-dia em
uma “batalha” constante para encontrar um sentido de vida, para dessa forma resgatar o
respeito e a dignidade, e, assim, dizimar os estigmas causados no transcurso da epidemia,
que as fazem ficar quase que isolados, sem o direito de viver como as demais pessoas. Essa
luta fará com que as pessoas que tem o vírus circulando no sangue não sejam vistas como
pessoas anormais, dessa forma subjetivando a sua condição de portador e relegando a aids
como mais um percalço que terão que ultrapassar em sua jornada de vida.
Palavras chave: Qualidade de vida; aids; enfrentamento; religião.