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Ela era tão linda que ele não pôde deixar de olhá-la, e curvou-se e deu-lhe
um beijo [...] Então comemorou-se com toda a pompa o casamento do
príncipe com Rosinha dos Espinhos, e ambos viveram felizes para sempre.
(GRIMM
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, 1996, p.19)
O rei, vendo-a assim, pensou que estivesse dormindo, chamou-a: mas já
que ela não acordava, por mais que fizesse, o rei, aquecendo-se com tanta
beleza [...] (BASILE, 1996, p.55)
Um dia embrenhou-se muito pelo mato, dando aí com uma casa, do que ele
ficou muito admirado, e para ela dirigiu-se. Chegando lá, viu uma moça
muito bonita, ficando o rei logo muito apaixonado por ela. (ROMERO, 1996,
p. 69)
A partir do Renascimento, em âmbito literário, percebe-se que a mulher
começou a ser vista sob um novo prisma, porém, em nível social, ela continuou a ser
mero objeto, passiva e obediente a atitudes paternais. Aliás, essa visão social e,
diga-se generalizada, ultrapassa a Antigüidade e prolonga-se até fins da Idade
Média. E somente com a chegada do Renascimento é que a mulher principia a
renascer, transformando-se em sujeito da ação. Novaes Coelho sustenta que:
É só compararmos o registro histórico com o registro literário das relações
Homem/Mulher, nas cortes medievais, e compreendermos a enorme
distância que ia da realidade dos fatos à idealização dos valores. Ao nível
da História, vê-se tais relações marcadas pela violência e pela
promiscuidade mais rude, mostrando que o respeito pela mulher era
praticamente nulo, pois ela era apenas uma peça útil ou inútil no jogo dos
interesses pelo poder. Enquanto, ao nível literário, se impunha a idealização
mais absoluta, que transformava a Mulher, do ser inferior e dominado que
era na vida real, em um valor superior e precioso a ser atingido por todo
homem que procurasse sua realização humana integral [...] (COELHO,
1991, p. 50, grifos da autora)
De outro modo, no século XX, Marina Warner destaca que a personagem
feminina, outrora passiva, transformou-se em sujeito de ações más. De certa forma,
inclusive Walt Disney, através dos filmes Branca de neve e os sete anões e
Cinderela, contribuiu para que a crueldade feminina se acentuasse através da
madrasta e da bruxa má, as quais roubaram a cena dos protagonistas príncipes e
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Essas passagens foram retiradas de:
GRIMM, Irmãos. In: A princesa que dormia: nas versões dos Irmãos Grimm, de Charles Perrault, de
Giambattista Basile e de Sílvio Romero (Edição plurilíngüe). Florianópolis: Paraula/EDUNISC, p. 19, 1996.
BASILE, Giambattista. In: A princesa que dormia: nas versões dos irmãos Grimm, de Charles Perrault, de
Giambattista Basile e de Sílvio Romero (Edição plurilíngüe). Florianópolis: Paraula/EDUNISC, p. 55, 1996.
ROMERO, Sílvio. In: A princesa que dormia: nas versões dos irmãos Grimm, de Charles Perrault, de
Giambattista Basile e de Sílvio Romero (Edição plurilíngüe). Florianópolis: Paraula/EDUNISC, p. 69, 1996.