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Eu acho que ainda tem, apesar de muita gente estar vindo para cá, que está se
formando. Se você tem uma boa formação, uma especialização, ainda tem bastante
campo aqui.
Voltando ao Brasil... Como você ainda percebe o Brasil? Pelo menos em
relação à economia, à política, à empregabilidade, à situação da saúde, à
segurança. Como você vê hoje o Brasil?
Olhe, no meu caso, se eu voltar pro Brasil, hoje, em termos de trabalho, acho bem
complicado, porque estou fora do mercado, tô fora, eu tenho consciência disso.
Quanto à segurança, também tenho muito medo; antes eu não tinha medo. Antes
quando eu passava a ponte, ficava tensa porque eu tinha medo do Paraguai.
Porque eu me sentia brasileira, só era brasileira, não sabia falar a língua deles.
Hoje não! Hoje eu já tenho mais segurança aqui do que lá; assim, em questão de
assalto, aqui nunca aconteceu nada com a gente. Lá eu já passei por um assalto.
No trânsito, eu tenho medo de parar num semáforo à noite, sozinha. De carro não
vou, eu tenho medo. Já aqui, eu tenho uma certa segurança. Vou para a faculdade
à tarde, de carro; eu ando, eu vou, volto. Sabe tenho um pouco de medo, isso em
todos os lugares, mas no Brasil eu me sinto mais insegura, bem mais.
E a economia de lá, digamos que eu acho que é bem mais complicada do que aqui.
Aqui eu posso trabalhar; se eu for atrás, eu tenho. Em algumas áreas em que
posso atuar, eu sei que eu vou, em termos de salário, ter um salário muito melhor
que lá, isso de começo. Aqui eu não estou trabalhando porque não fui procurar,
estou parada mesmo! Porque em Santa Rita eu trabalhava, gostava, mas, quando
eu vim para cá eu fui ficando.
Quais são as vantagens e desvantagens que você observa entre Brasil e
Paraguai? Se você puder catalogar, mais ou menos? O que você acha que
aqui tem vantagens e que lá não tem? Aqui, o que você percebe como
desvantagens e lá você vê que pode ser uma vantagem?
Olha, uma vantagem aqui é a financeira; no Brasil está mais difícil. Uma
desvantagem aqui, é a educação, com menos preparo. Quanto à saúde, eu tenho
confiança de ir a um médico no Brasil; aqui eu não tenho, não tenho mesmo. Então,
mesmo que seja um brasileiro que venha pra cá, eu já vou ficar meio assim, porque
não sei, não sei por que ele está aqui.
A educação! Eu sempre pensava, quando morava em Santa Rita, que lá é pior
ainda, em termos de educação.
Quanto aos médicos, lá é bem mais precário que aqui. Aqui, a gente ainda vive
num grande centro; lá é mais interior, se podemos falar assim, e eu sempre
pensava: não vou ter filho aqui: Porque como é que eu vou estudar? Eu não vou
pôr meu filho numa escola aqui. Hoje eu já não sei. Se eu tiver um filho aqui, vai
nascer no Brasil! vai ser brasileiro! Vai morar aqui, mas vai ser brasileiro e não sei
se eu não o colocaria para estudar aqui, hoje eu já penso, já mudei um pouco. Em
Santa Rita eu já não faria isso, porque aqui ainda tem melhores escolas que em
Santa Rita. Lá é complicado a educação... Eu acompanhei um pouco, porque
quando eu fui pra lá, em me matriculei numa escola, digamos assim que seria nível
quinta série. E falei: - Eu vou aprender o espanhol. Então freqüentava só as aulas
de espanhol deles. Foi terrível! Assim, eu não agüentei ficar, eu ficava pensando:
Meu Deus, como essas crianças vão aprender alguma coisa? Não tem condições
mesmo. Daí, eu ficava vendo um filho meu passando por isso. Sabe, eu não quero.
Eu sempre falava: - Eu não vou ter filho aqui. Daí, quando surgiu a oportunidade de
vir pra cá, eu achei ótimo, porque aqui eu posso estar no Brasil que é perto, tem
transporte que leva, tem transporte que busca. Aqui tem o Colégio Anglo-
americano, que é um colégio bom. Tem uns três colégios que eu considero assim,