melhorar, já foram estabelecidos protocolos a serem aplicados. Os refratários representam
cerca de 30 a 40% dos pacientes com TOC e nestes casos têm-se como alternativas o uso de
clomipramina endovenosa, a eletroconvulsoterapia
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(quando o TOC está associado à
depressão), a estimulação magnética transcraniana
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e, nos casos mais severos, a
neurocirurgia. São terapias mais agressivas e mais próximas das antigas técnicas utilizadas
nos asilos. No entanto, elas também são descritas como menos invasivas do que suas
ancestrais porque são procedimentos que não necessitam da abertura do crânio para serem
efetuados. A matéria “Cirurgia sem sangue”, publicada na revista Pesquisa Fapesp, descreve
como esta nova modalidade de neurocirurgia é feita:
A cirurgia durou cerca de 12 horas. Os preparativos para a cirurgia
começaram logo pela manhã, quando os últimos exames de ressonância
magnética determinaram a área exata do cérebro a ser atingida. Com o
mapa em mãos, os médicos levaram o paciente à sala de operações: era um
portador de um sério problema psiquiátrico, o transtorno obsessivo-
compulsivo, mais conhecido como TOC, que não era controlado de
nenhuma outra forma. O paciente deitou-se na maca de uma câmara de
cobalto radioativo, parecida com um aparelho de ressonância magnética, e
foi sedado. Já estava dormindo quando lhe colocaram uma redoma de metal
que lembra um capacete, com 201 furos milimétricos. Por esses orifícios é
que passaram os raios gama vindos do aparelho, em direção a um único
ponto do cérebro. A radiação, em intensidades variáveis, eliminou um grupo
específico de neurônios envolvidos no problema. O paciente voltou para
casa no dia seguinte, sem ter sofrido nenhum corte (BICUDO, 2004).
Segundo o psiquiatra Antonio Carlos Lopes (1998), da Universidade Federal de São
Paulo, o TOC e a depressão maior são os únicos transtornos em que as neurocirurgias, no caso
de pacientes refratários, estão sendo empregadas. As neurocirurgias utilizadas na terapia do
TOC (capsulotomia anterior, cingulotomia anterior, tractotomia subcaudado, leucotomia
límbica) são procedimentos estereotáxicos, ou seja, compreendem uma “técnica cirúrgica que
permite orientar tridimensionalmente a extremidade de um instrumento delicado, por
exemplo, uma agulha ou um elétrodo, para atingir e destruir estruturas cerebrais
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A eletroconvulsoterapia, utilizada pela psiquiatria desde a primeira metade do século XX, é uma técnica que
consiste na utilização da eletricidade para a indução de uma crise convulsiva generalizada, com o paciente sob
efeito de anestesia. É considerada o tratamento antidepressivo mais eficaz, porém provoca efeitos colaterais
como confusão mental, dores de cabeça e náuseas após sua aplicação (ROSA et al., 2004).
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A estimulação magnética transcraniana baseia-se no princípio de indução eletromagnética. Uma bobina
pequena que recebe uma corrente elétrica é colocada sobre o crânio humano na região do córtex cerebral. Ela
gera um campo magnético capaz de atravessar alguns materiais relativamente isolantes como a pele e os ossos,
criando, por sua vez, uma corrente elétrica intracraniana que atua sobre os neurônios. Os psiquiatras Felipe
Fregni e Marco Antonio Marcolin destacam as vantagens dessa técnica sobre sua antecessora, a
eletroconvulsoterapia: “pela primeira vez, conseguiu oferecer uma estimulação elétrica cerebral não-invasiva de
modo indolor e com um perfil benigno de efeitos colaterais. Adicionalmente, este método apresenta uma
característica que as outras terapias elétricas falharam em demonstrar: ação focal no córtex cerebral” (FREGNI e
MARCOLIN, 2004).