Em seu depoimento, pela primeira vez, Edson Portilho deixou transparecer
algum envolvimento mais profundo com a religião de matriz africana e discorre
sobre a necessidade de informação para os adeptos dos cultos afro:
Os evangélicos não aceitam e não convivem com as diferenças. Mas nós
respeitamos a religião e a fé das outras pessoas. Então por que não nos
respeitam? É intolerância isso, não tem outro nome. E nós temos que quebrar
essa intolerância, não é sendo intolerantes também, vamos quebrar esta
intolerância com trabalho, com unidade de ação, usando os meios de comunicação
que nós temos, não é nossa Zero Hora, nosso Correio do Povo, mas são nossos
jornais afro. Usar bem esses jornais aqui, e não é só dentro das casas, ser mais
atrevido, pensando alto, longe, fazer circular em todos os meios, mesmo sabendo
que a dificuldade financeira é grande. Mas temos que ter ousadia. Comunicação
ganha as pessoas, a comunicação, a informação, no mundo que nós vivemos é
fundamental. Se eu não sou uma pessoa informada, eu não leio, eu não escuto, eu
não debato os temas, com certeza eu serei conquistado ou enganado ou
convencido. Se eu não tenho opinião sobre as coisas, eu não tomo posições em
relação aos fatos, obviamente eu serei engolido, pela opinião pública, por pessoas
que não têm posições favoráveis a nós, por intolerância ou por outros motivos.
Portilho ressaltou que durante a Semana da Consciência Negra, tanto ele
quanto afro-religiosos são procurados para dar palestras em escolas,
universidades e associações de bairros e que falta gente para dar conta da
demanda:
Todo mundo quer que fale sobre o assunto, sobre cotas, sobre a lei 10. 639
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,
sobre a religiosidade de matriz africana. Nós temos que estar atentos, informados,
com disposição para a conversa. Porque diante de uma platéia de crianças e
adolescentes, nós ganhamos. De adultos nós também ganhamos basta que nós
tenhamos paciência, perseverança de mostrar a eles o que significa a pipoca, a
bala, os nossos orixás, para que eles existem? De onde eles vieram? Como eles
chegaram? Quem eles são? O que eles representam? Eu tenho certeza, se nós
passarmos uma hora conversando nós convencemos. Nós precisamos de tempo
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Esta Lei diz respeito à Inclusão da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo oficial da rede
de ensino. Mãe Angélica de Oxum, em entrevista cedida em 17 de outubro de 2007, ao falar sobre os
preparativos do 5º Seminário em Defesa das Religiões Afro-Brasileiras, promovido pela CEDRAB, salientou
as temáticas que seriam destacadas no evento: o respeito à religião de matriz africana, a preservação do meio
ambiente e a lei 10.639, sancionada em 9 de janeiro de 2003, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB), e que por abranger o estudo das religiões afro-brasileiras tem gerado protestos.
Disse a ialorixá:
“Não é das religiões, é da história africana, que inclusive, passa pela religião. Dizem que é ensino da
religião africana, acho que é por isso que tem essa resistência, acho que estão confundindo. Porque desde que
o mundo existe, a África é o berço da humanidade, e quantas mudanças de nomes de países, novos países
foram criados, uns foram dizimados, tem que atualizar o estudante. Não é um estudo religioso, é histórico,
mas passa pela religião. No currículo escolar fazem menção ao protestantismo, sobre Martinho Lutero, a
Reforma Protestante. Mas não sendo um colégio tipicamente religioso, o que não pode ser, porque o Brasil é
considerado um país laico, separando a igreja e o estado, então não pode ter nada focado para uma religião.
Uma escola deveria abranger todas as religiões”.