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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO SÓCIO-ECONÔMICO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
REJANE ROECKER
DESEMPENHO EM ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS: AS
CONCEPÇÕES DOS ATORES ENVOLVIDOS
Florianópolis
2009
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REJANE ROECKER
DESEMPENHO EM ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS: AS
CONCEPÇÕES DOS ATORES ENVOLVIDOS
Dissertação apresentada como requisito parcial
para a obtenção do título de Mestre em
Administração pelo Programa de Pós-
Graduação em Administração da Universidade
Federal de Santa Catarina.
Orientadora: Profa. Dra. Eloise Helena
Livramento Dellagnelo
Florianópolis
2009
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TERMO DE APROVAÇÃO
REJANE ROECKER
DESEMPENHO EM ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS: AS
CONCEPÇÕES DOS ATORES ENVOLVIDOS
Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do Grau de Mestre em
Administração na área de concentração em Organizações e Sociedade do Curso de
Pós- Graduação em Administração da Universidade Federal de Santa Catarina e
aprovada, em sua forma final, em 31 de Julho de 2009.
____________________________________
Prof. Dr. Maurício Roque Serva de Oliveira
Coordenador do Curso
Apresentada à Comissão Examinadora composta pelos professores:
_________________________________________________________
Profa. Dra. Eloise Helena Livramento Dellagnelo
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
__________________________________________________________
Prof. Dr. Hans Michael van Bellen
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
__________________________________________________________
Profa. Dra. Simone Ghisi Feuerschutte
Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC/ESAG
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente aos meus pais e minhas irmãs que, de maneira
incansável e amorosa, estão sempre ao meu lado, me apoiando e encorajando a
assumir novos desafios.
À minha filha Julia, por ser fonte constante de alegria em minha vida.
À Universidade Federal de Santa Catarina e ao Curso de Pós-Graduação em
Administração que, por meio do seu corpo docente, possibilitaram o
desenvolvimento de mais esta etapa acadêmica.
À minha orientadora, professora Eloise, pela paciência e disposição em
contribuir com a realização deste estudo.
Aos grandes amigos que conquistei durante o curso: Ketlle, Karin, Henrique e
Rafael e aos queridos PIBICs: Guilherme, Lucas, Danilo e Ana.
As queridas Flávia e Brunah, pelo amparo nos momentos difíceis.
Ao professor Rolf e à Marina, pela amizade.
O que nos falta é a capacidade de traduzir em
proposta aquilo que ilumina nossa inteligência
e mobiliza nossos corações...
Herbert de Souza - Betinho
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo principal verificar quais as concepções
predominantes de desempenho em uma organização sem fins lucrativos na
perspectiva de cada grupo de atores envolvidos em sua dinâmica, tendo como
objetivos específicos: identificar atores importantes na dinâmica do funcionamento
da organização em estudo; identificar os critérios de avaliação de desempenho
predominantes na perspectiva de cada grupo de atores envolvido; verificar a
predominância de critérios utilizados pelos diferentes grupos de atores frente aos
modelos de eficácia organizacional abordados na revisão de literatura; analisar
comparativamente as diferentes concepções de desempenho dos grupos de atores
envolvidos. Para o alcance destes objetivos, o trabalho caracteriza-se como uma
pesquisa predominantemente qualitativa do tipo estudo de caso, descritivo e
interpretativo, com corte transversal. A categoria utilizada para as análises das
concepções de desempenho contemplou o desempenho organizacional. Para
identificação das concepções de desempenho foram abordados os tópicos: o
conceito de desempenho; o modo como a avaliação ocorre; como a avaliação de
desempenho deveria ocorrer na perspectiva dos atores entrevistados; e, ainda,
como a organização poderia ser mais eficaz. A etapa de coleta de dados se deu por
meio de entrevistas semi-estruturadas, observação direta e análise de documentos.
A análise dos dados primários foi realizada através da análise categorial, própria da
análise de conteúdo e para os dados secundários foram efetuadas análises
documentais. Através da análise dos dados foi possível confrontar as concepções de
desempenho identificadas neste trabalho com os modelos de valores de eficácia de
Quinn e Rohrbaugh (1983). Como resultado, pode-se concluir com este trabalho
que, para o caso pesquisado e no período analisado, as concepções de
desempenho dos atores envolvidos estão relacionadas com todos os modelos de
valores de eficácia abordados, no entanto, há maior preocupação com o
atendimento das metas organizacionais, relacionada ao modelo de eficácia de
objetivos, e com a reputação da organização e seu relacionamento com o meio que
está inserida, características do modelo de eficácia de sistema aberto. Observou-se,
também, que os conceitos de eficácia estão relacionados à construção social.
Palavras Chave: Organizações sem fins lucrativos, concepções dos atores,
desempenho.
ABSTRACT
This work has as main objective to verify that the prevailing concepts of performance
in a non-profit organization in relation to each group of actors involved in its
dynamics, with the specific objectives: to identify important actors in the dynamics of
the functioning of organization under study, identifying the criteria for evaluating
performance in relation to each main group of actors involved, check the prevalence
of criteria used by different groups of actors against the models of organizational
effectiveness discussed in the literature review; comparatively analyze the different
conceptions of performance of groups of actors involved. To reach these objectives,
the work is characterized as a predominantly qualitative research of the type case
study, descriptive and interpretative, with cross-section. The categorie used for the
analysis of concepts of performance include organizational performance. To identify
the concepts of performance were the topics discussed: the concept of performance,
how the assessment is, as the assessment of performance should occur in view of
the actors interviewed, and also how the organization could be more effective. The
stage of data collection was through semi-structured interviews, direct observation
and analysis of documents. The primary data analysis was performed by categorical
analysis, the analysis of content and the secondary data analysis were made
documentary. Through analysis of data was possible to compare the concepts of
performance identified in this work with the model values of the effectiveness of
Quinn and Rohrbaugh (1983). As a result, we can conclude this work with that for the
case investigated and the analysis period, the concepts of performance of the actors
involved are related to all models of the values of efficiency approached, however, is
more concerned with the care of organizational goals, related to the model of
efficiency goals, and the reputation of the organization and its relationship with the
environment that is inserted in the model of efficiency characteristics of open system.
There was also that the concepts of efficiency are related to social construction.
Key words: nonprofit organizations, concepts of actors and performance.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: ABORDAGEM DOS VALORES CONCORRENTES ........................................................ 29
FIGURA 2: FORMAS DE ANÁLISE ORGANIZACIONAL ................................................................... 33
FIGURA 3: PERSPECTIVAS DO BALANCED SCORECARD ............................................................ 40
FIGURA 4: ESTRUTURA GERAL DO INSTITUTO GUGA KUERTEN................................................ 61
FIGURA 5: REGIÕES ATENDIDAS PELO FAPS ............................................................................... 62
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1: MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE DESEMEPNHO ORGANIZACIONAL ........................ 35
QUADRO 2: PONTUAÇÃO SEGUNDO MÉTODO MARTINDELL ..................................................... 37
QUADRO 3: SIGMA............................................................................................................................. 48
QUADRO 4: MODELOS DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE ORGANIZAÇÕES SEM
LUCRATIVOS....................................................................................................................................... 49
QUADRO 5: DEFINIÇÃO OPERACIONAL DA CATEGORIA DE ANÁLISE DESEMPENHO
ORGANIZACIONAL ............................................................................................................................. 56
QUADRO 6: DESCRIÇÃO DOS ELEMENTOS ANALISADOS NOS ATORES ENVOLVIDOS ......... 70
QUADRO 7: DESCRIÇÃO DOS CONCEITOS DE EFICÁCIA RESSALTADOS PELOS ATORES
ENVOLVIDOS NO IGK E A RELAÇÃO COM MODELOS DE EFICÁCIA ........................................... 87
QUADRO 8: ANÁLISE DA FORMA COMO A AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO OCORRE NO IGK.. 91
QUADRO 9: ANÁLISE DA FORMA COMO A AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DEVERIA OCORRER
E A RELAÇÃO COM OS MODELOS DE EFICÁCIA ........................................................................... 94
QUADRO 10: DESCRIÇÃO DE COMO O IGK PODERIA SER MAIS EFICAZ .................................. 96
QUADRO 11: FORMA COMO A AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO OCORRE VERSUS COMO O IGK
PODERIA SER MAIS EFICAZ ............................................................................................................ 97
QUADRO 12: ANÁLISE DAS CONCEPÇÕES DE DESEMPENHO NO IGK VERSUS MODELOS DE
EFICÁCIA .......................................................................................................................................... 103
QUADRO 13: MODELOS DE EFICÁCIA LIGADOS À PERSPECTIVA GERAL DE
DESEMPENHO.................................................................................................................................. 104
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................. 2
1.1 OBJETIVOS ........................................................................................................................................................ 8
1.1.1 Objetivo Geral ............................................................................................................................................. 8
1.1.2 Objetivos Específicos ................................................................................................................................. 8
1.2 JUSTIFICATIVA ................................................................................................................................................... 9
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................................................... 13
2.1 AS ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS: CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA .................................................. 13
2.1.1 As Organizações classificadas como sem fins lucrativos .................................................................. 15
2.1.2 As Organizações sem fins lucrativos no Brasil .................................................................................... 17
2.1.3 As organizações sem fins lucrativos e seus atores ............................................................................. 20
2.2 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO ORGANIZACIONAL ............................................................................................ 23
2.2.1 Métodos de avaliação de desempenho organizacional ...................................................................... 33
2.2.2 Avaliação de desempenho nas Organizações sem fins lucrativos ................................................... 43
3 METODOLOGIA ............................................................................................................................................ 51
3.1 ABORDAGEM DA PESQUISA ............................................................................................................................. 51
3.2 UNIVERSO DA PESQUISA ................................................................................................................................. 52
3.3 DEFINIÇÃO DAS CATEGORIAS DE ANÁLISE ...................................................................................................... 53
3.3.1 Definição constitutiva das categorias de análise ................................................................................. 53
3.3.2 Definição operacional das categorias de análise ................................................................................. 54
3.4 COLETA DE DADOS .......................................................................................................................................... 55
3.5 ANÁLISE DOS DADOS ...................................................................................................................................... 56
3.6 LIMITAÇÕES DO ESTUDO ................................................................................................................................. 57
4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ..................................................................................................... 58
4.1 O INSTITUTO GUGA KUERTEN ........................................................................................................................ 58
4.1.1 Fundo de Apoio a Projetos Sociais (FAPS) .......................................................................................... 60
4.1.2 Programa Esporte e Educação Campeões da Vida ............................................................................ 62
4.2 OS ATORES ENVOLVIDOS NO IGK .................................................................................................................. 65
4.3 AS CONCEPÇÕES DE DESEMPENHO ............................................................................................................... 70
4.3.1 Membros da Diretoria ............................................................................................................................... 70
4.3.2 Funcionários remunerados ...................................................................................................................... 73
4.3.3 Voluntários ................................................................................................................................................. 77
4.3.4 Usuários ..................................................................................................................................................... 79
4.3.5 Financiadores ............................................................................................................................................ 81
4.4 ANÁLISE COMPARATIVA DAS CONCEPÇÕES DE DESEMPENHO ....................................................................... 83
5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ....................................................................................................... 97
5.1 RECOMENDAÇÕES ........................................................................................................................................ 109
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................ 111
2
1 INTRODUÇÃO
Na sociedade, as organizações fazem parte do cotidiano das pessoas, sendo
responsáveis pelo fornecimento de bens e serviços necessários para a subsistência
humana. Elas podem ser agrupadas de diversas formas, como, por exemplo, a
classificação usada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que as
agrupa em quatro setores: 1) agropecuária, 2) indústria, 3) transporte e comunicação
e 4) energia. Uma outra classificação segmenta-as conforme suas finalidades e
constituição jurídica (AGUIAR, 2004). Bastante utilizada atualmente, tal divisão se
refere aos três seguintes setores: Primeiro Setor (formado pelo Estado), Segundo
Setor (composto por empresas de direito privado e fins lucrativos) e Terceiro Setor
(formado por uma diversidade de organizações de direito privado sem fins lucrativos,
ou seja, não empresariais).
Para Salles (2004), tipologias organizacionais nada mais são do que
tentativas de caracterizar as organizações que existem em determinada realidade,
utilizando-se de certos critérios que ajudem a classificá-las em diferentes grupos.
“Os critérios podem ser os mais diversos, desde complexos a outros bastante
simples. A utilidade da tipologia está vinculada ao propósito do estudo” (SALLES,
2004. p. 10). Neste trabalho, a diferenciação entre organizações que compõem o
terceiro setor, ou organizações sem fins lucrativos, das demais organizações que
formam a esfera governamental e a esfera do mercado, é essencial para o
entendimento do universo a ser estudado.
Segundo Andion (2005), o conceito de terceiro setor, originário de países
anglo-saxões, refere-se à natureza das organizações que não pertencem ao
aparelho burocrático do Estado nem ao conjunto das empresas privadas e demais
instituições que compõem a economia de mercado. A expressão terceiro setor – ou
outras equivalentes, como setor sem fins lucrativos – é carregada de eficácia
simbólica, encarnando ideias e ideais de diversas fontes de inspiração, entre elas,
religiosas, espirituais, morais ou políticas (LANDIN; BERES, 1999).
Nesse caso, a expressão organizações sem fins lucrativos diferencia as
organizações do setor privado e do setor público. Fernandes (1994, p. 127) lembra
que “a ideia de um ‘terceiro setor’ supõe um ‘primeiro’ e um ‘segundo’, e nesta
medida, faz referência ao Estado e ao mercado. A referência, no entanto, é indireta,
obtida pela negação – ‘nem governamental, nem lucrativo’”.
3
Hudson (1999) salienta que o traço comum a unir tais organizações é sua
orientação por determinados valores pelos quais são criadas e, na medida do
possível, mantidas por pessoas que acreditam serem necessárias as mudanças e
que desejam, elas mesmas, tomar providências nesse sentido. Landin e Beres
(1999) destacam que a noção de ‘terceiro setor’ evoca não apenas um conjunto
diversificado de organizações, mas também, metaforicamente, um espaço de
afirmação de valores e práticas sociais que não pertencem ao terreno do mercado,
como altruísmo, compromisso social, solidariedade, laços comunitários,
ambientalismo etc. Bava (2000, p. 50) sustenta que “o elemento de identidade é o
fato de tais instituições serem sem fins lucrativos, não se pautarem, portanto, pelas
leis mercantis e caracterizarem-se pela promoção de interesses coletivos”.
Nos últimos anos as organizações sem fins lucrativos vêm alcançando grande
visibilidade, embora essa terminologia seja ainda pouco compreendida. Para Fischer
e Falconer (1998, p. 13), “[...] o terceiro setor foi se ampliando sem que esse termo,
usado para designá-lo, seja suficientemente explicativo da diversidade de elementos
componentes do universo que abrange”. Alves (2002b, p. 13) afirma que o “terceiro
setor é um termo guarda-chuva em que se incluem vários tipos de organizações e,
no qual, ao mesmo tempo, incluem-se também diferentes marcos teóricos”. No
âmbito global, para se referir ao terceiro setor, são encontrados termos como setor
da caridade, setor voluntário, organizações não governamentais, economia social,
filantropia e organizações sem fins lucrativos.
Em que medida há diferenciação entre as organizações sem fins lucrativos e
as empresas e outras organizações comuns continua a ser uma disputada questão;
no entanto, parece haver evidência convincente o suficiente para concluir que as
organizações sem fins lucrativos são diferentes (HERMAN; RENZ, 1999). Assim, os
mitos que cercam a identidade do terceiro setor revelam, também, a carência de
profissionalismo, devido ao fato de que o ensino e a pesquisa em Administração se
dedicam quase que exclusivamente aos setores estatal e empresarial. Salm (1993)
corrobora a afirmação, ao mencionar a falta de interesse dos cursos de
administração na discussão de tecnologias gerenciais para grupos isonômicos.
A negligência das ciências administrativas em produzir estudos que envolvam
os espaços não econômicos também é percebida por Chanlat (1993, p. 23) ao
defender que, “instalado o econômico, o quantitativo e as organizações no centro de
seu universo, nossa sociedade parece ter esquecido o resto, isto é, tudo o que não é
4
redutível à formalização”. Diante disso, Fischer e Fischer (1994), Rodrigues (1998),
Fischer e Falconer (1998), Salamon (1998), Andion (1998), Carvalho (2000), Martins
(1999), Cunha (1997) e Motta (1979) argumentam a pouca atenção da área
organizacional para estudos voltados à gestão das organizações sem fins lucrativos
em relação à dedicação observada principalmente no que se refere às organizações
empresariais.
Herman e Renz (1999) afirmam que, na prática, muitas ideias que foram
instituídas e popularizadas, no mundo empresarial (tais como planejamento
estratégico, visão, gestão da qualidade, entre outros), são adotadas por associações
sem fins lucrativos. Da mesma forma, os demais atores sociais (mídia, poderes
públicos, financiadores etc.) passaram a cobrar das organizações sem fins lucrativos
competência, produtividade e eficiência, bem como uma estrutura hierarquizada e
um acentuado grau de burocracia. A acirrada competição interorganizacional por
recursos leva estas organizações a adotar mecanismos se espelhando em outras
organizações, normalmente de um mesmo campo de atuação, em um processo que
pode ter motivações diversas, para aumentar as chances de sobrevivência no
ambiente de competição (DIMAGGIO; POWELL, 1983). Naturalmente, a expectativa
reside no pensamento de que o que funciona nas empresas também deve funcionar
em associações sem fins lucrativos (HERMAN; RENZ, 1999). No entanto, é
importante ressaltar que simplesmente transplantar para essas organizações os
métodos e procedimentos de gestão empregados nos setores público e privado,
calcados na instrumentalidade, representa um perigo potencial (CUNHA, 1997).
Baruch e Ramalho (2006), em um estudo, examinaram artigos relacionados à
avaliação de desempenho e eficácia organizacional, publicados entre 1992 e 2003.
Os mesmos autores concluíram que uma gama de critérios é comum às
organizações, independentemente de suas naturezas, como: eficiência e
produtividade, crescimento, orientação para o cliente e qualidade. No entanto,
medidas adicionais, como imagem ou reputação pública e desempenho social, foram
identificadas, apenas, nos artigos que focaram organizações sem fins lucrativos. Na
análise de Kalleberg et al. (2006), que pesquisaram práticas de alto desempenho em
organizações nas esferas governamental, privada e sem fins lucrativos, as
organizações sem fins lucrativos são mais voltadas ao trabalho em equipe e à
utilização de comitês para tomada de decisões, além de serem as que menos
5
utilizam práticas de incentivo ao desempenho (como bônus, premiações e
comissões), ao contrário do setor empresarial.
Com base no exposto, acredita-se que as organizações sem fins lucrativos
necessitem de estudos apropriados às suas características peculiares, como por
exemplo, a avaliação e a mensuração de sua eficácia organizacional. Sowa et al.
(2004) afirmam a respeito da importância do tema para o campo em questão.
Segundo os autores, poucos tópicos de pesquisa na prática de organizações sem
fins lucrativos receberam uma atenção maior, em anos recentes, do que a eficácia
organizacional.
Um sistema de mensuração de desempenho é importante à medida em que
todo o tipo de organização possui um objetivo intrínseco; sendo assim, argumenta-
se a respeito da importância de que o seu alcance seja discutido ou refletido
apropriadamente. Dellagnelo e Dellagnelo (1996, p.57) ressaltam a importância do
estudo sobre eficácia organizacional, como forma de avaliação nas organizações, e
apontam uma série de razões para que o assunto seja abordado:
conceitualmente, a eficácia organizacional encontra-se no centro de
todos os modelos organizacionais, isto é, todas as conceituações de
organização possuem implicitamente noções sobre eficácia
organizacional; empiricamente, o construto de eficácia organizacional
é a variável dependente última na pesquisa organizacional; e
finalmente, na prática a necessidade de avaliar organizações é muito
importante.
As abordagens organizacionais das últimas décadas têm vindo destacar que
a gestão eficaz pode ser determinante fundamental para se medir o desempenho
organizacional (HAMEL; PRAHALAD, 1990). Bowditch e Buono (1992), também
acreditam que as tentativas de avaliação organizacional apresentam-se como um
grande desafio, pois os pesquisadores ainda não conseguiram chegar a um
consenso sobre os critérios mais importantes para se tomar decisões nas
organizações. Neste estudo, a avaliação organizacional pode ser entendida como
um método para a distinção entre organizações eficazes e ineficazes. Segundo
Mistry (2007), o crescimento da pesquisa sobre desempenho das organizações sem
fins lucrativos, desenvolvendo o tema de acordo com as características particulares
do setor voluntário, tem demonstrado o quanto o conceito de eficácia organizacional
tradicional é furtivo, contestado e particularmente difícil de adotar.
6
Mesmo com o interesse intelectual voltado ao tema, para Sowa et al. (2004),
pouco consenso surgiu, teórico ou empírico, a respeito do que constitua a eficácia
nesse tipo de organização e qual a melhor forma de medi-la. Herman e Renz (1999)
apontam a eficácia organizacional como uma construção social, uma realização dos
agentes organizacionais e outros atores, convencendo um ao outro de que uma
organização está procurando os objetivos certos da maneira certa. Assim,
argumenta-se que a análise da eficácia e desempenho organizacional a partir da
perspectiva dos atores envolvidos torna-se particularmente importante no estudo das
organizações sem fins lucrativos, constituindo-se em uma importante lacuna teórica
e empírica a ser trabalhada.
A fim de compreender a realidade apresentada, nesse tipo de organização, a
presente pesquisa analisa o caso de uma organização sem fins lucrativos
estabelecida já há algum tempo e reconhecida pela sociedade onde se encontra
inserida. Por meio do exemplo estudado, busca-se analisar a dinâmica das diversas
perspectivas dos atores envolvidos com relação a avaliação de desempenho da
organização. A despeito de uma abundância de teorias envolvendo a questão, há
poucas que primam por universalidade e compreensão. Uma abordagem com
perspectivas múltiplas, segundo Mistry (2007), oferece uma ajuda no entendimento
do assunto, porque reconhece a diversidade e a subjetividade dos atores envolvidos,
enquanto também leva em conta elementos como metas, sistemas e aproximações
e reputação. Para Forbes (1998), o assunto eficácia organizacional em organizações
sem fins lucrativos é importante tanto para os gestores quanto para os
pesquisadores.
Muitas pesquisas dentro de organizações sem fins lucrativos focam a
comparação entre organizações como unidades básicas de análise e avaliam as
visões diferentes de desempenho que elas eventualmente apresentam.
Stone e Cutcher-Gershenfeld (2002) revisam estudos empíricos sobre
avaliação de desempenho nas organizações sem fins lucrativos e mostram que uma
larga variedade de teorias gerais ou modelos de eficácia foi usada e,
semelhantemente, uma gama extensiva de critérios foram medidos. A revisão
demonstra que nenhuma dimensão geral foi proposta ou adotada. Forbes (1998)
identificou vários estudos utilizando uma aproximação entre critérios de eficácia em
organizações sem fins lucrativos e um modelo multidimensional. Em pesquisa sobre
eficácia em organizações de artes sem fins lucrativos, Kushner e Poole (1996)
7
implicitamente discutem que eficácia não só é uma realidade objetiva, mas
unidimensional. Eles apresentam um modelo de eficácia que combina os
componentes satisfação, aquisição de recursos, processos internos, e alcance de
metas.
Herman e Renz (1997) desenvolveram uma pesquisa para identificar os
julgamentos de eficácia em diferentes organizações sem fins lucrativos. Depois de
um teste piloto e a sua revisão, o instrumento final conteve temas sobre
administração financeira, angariação de fundos, público e relações de mídia,
comunidade, colaboração, trabalho com voluntários, administração de recursos
humanos, governo, relações (complacência reguladora, administração de contratos e
advocacia) e governança corporativa.
Apesar das contribuições geradas pelos trabalhos citados, Mistry (2007)
afirma que há uma necessidade de pesquisas que se concentrem em uma única
organização e que analisem a gama de percepções de seus atores, visto que o
trabalho das organizações sem fins lucrativos é normalmente baseado em valores
sociais e isso implica que qualquer discussão sobre avaliação de desempenho
comece com uma problemática sobre quais os critérios de eficácia devem ser
empregados (HERMAN; RENZ, 1999).
Forbes (1998), numa revisão de estudos empíricos realizados entre 1977 e
1997, a respeito das formas de mensurar desempenho organizacional, chama a
atenção para um padrão emergente, uma visão do conceito de eficácia
organizacional como produto negociado de interações que se repetem entre os
atores organizacionais e o meio em que funcionam. Essa visão confere uma ênfase
no entendimento das interações com e entre as organizações que buscam o
desenvolvimento de critérios de avaliação do desempenho organizacional tão bem
quanto desenvolvem as informações e a comunicação, construindo julgamentos de
eficácia (FORBES, 1998). Sob a luz de tais teorias, é possível caracterizar o
conceito de eficácia empregado, conforme Herman e Renz (1997) colocam: uma
construção social. De acordo com o conceito emergente, as avaliações de
desempenho não são regradas como fatos objetivos e nem mesmo como arbitrárias
ou irrelevantes. Ao contrário, o conceito emergente segue a definição e avaliação de
desempenho como pensamento a) criado por indivíduos ou atores organizacionais
envolvidos; b) especificado para o contexto em que é criado; e c) capaz de envolver
a contínua interação dos atores (FORBES, 1998).
8
Além disso, buscar entender a perspectiva de cada ator envolvido, em relação
ao desempenho da organização, estando relacionado à forma com que cada grupo
afeta a organização e influencia a gestão da mesma, considerando as diferentes
posições de poder que os mesmos possuem. Portanto, é necessário abordar as
diferentes maneiras como os patrocinadores, stakeholders, voluntários e outros
atores envolvidos numa organização sem fins lucrativos entendem a sua avaliação
de desempenho sem chegar a conclusões rápidas e simplistas sobre a eficácia
relativa dessas organizações (HERMAN; RENZ, 1997). Muitas vezes os
pressupostos da avaliação de desempenho próprios de organizações empresariais
são transplantados para organizações sem fins lucrativos sem a definida reflexão
sobre o tema em si (a dinâmica interna de sua definição), bem como sobre as
peculiaridades do tipo de organização em análise.
Sendo assim, a presente pesquisa objetiva analisar o tema da avaliação do
desempenho em organizações sem fins lucrativos com base na perspectiva dos
diferentes atores envolvidos na sua dinâmica diária. Para tanto, definiu-se como
problema de pesquisa o seguinte: “Quais as concepções de desempenho para os
grupos de atores envolvidos no Instituto Guga Kuerten?”
1.1 Objetivos
1.1.1 Objetivo Geral
Analisar quais as concepções predominantes de desempenho em uma
organização sem fins lucrativos na perspectiva de cada grupo de atores envolvidos
em sua dinâmica.
1.1.2 Objetivos Específicos
a. Identificar atores importantes na dinâmica do funcionamento da organização
em estudo;
b. Identificar os critérios de avaliação de desempenho predominantes na
perspectiva de cada grupo de atores envolvido;
9
c. Verificar a predominância de critérios utilizados pelos diferentes grupos de
atores frente aos modelos de eficácia organizacional abordados na revisão
de literatura;
d. Analisar comparativamente as diferentes concepções de desempenho dos
grupos de atores envolvidos.
1.2 Justificativa
Segundo dados do IBGE (2005), no Brasil atuam mais de 338 mil
organizações sem fins lucrativos, empregando mais de um milhão e meio de
pessoas. De acordo com pesquisa realizada pela antropóloga Leilah Landin e pela
economista Neide Beris, no fim da década de noventa, atuavam nas organizações
sem fins lucrativos cerca de 330 mil voluntários. O total de profissionais em atividade
no setor compõe 1,7% da população ocupada no País, em 2005.
Os dados levantados, agregados a outras informações, conferem ao setor
uma relevância que não pode mais ser ignorada. Rifkin (1997) afirma que o setor
das organizações sem fins lucrativos está crescendo mais rapidamente que os
outros dois (estado e mercado). Isso confere às organizações sem fins lucrativos
uma visibilidade, considerando o crescente aumento no número de iniciativas como
também o desenvolvimento de novas práticas que vêm se mostrando no cenário de
atuação das organizações em estudo, nas últimas décadas. Segundo Bava (2000,
p.45),
de fato, a questão social se inscreve cada vez com maior força na
agenda de amplos setores da sociedade civil, através de bandeiras,
como a redução de desigualdades sociais, o investimento em
educação, a criação de oportunidades de desenvolvimento para as
pessoas mais pobres.
Mesmo com o fato de representar um fenômeno significativo e ocupar
reconhecidos espaços na prestação de serviços públicos, o grupo das organizações
sem fins lucrativos continua necessitando de pesquisas empíricas que considerem
sua especificidade, sobretudo no campo da administração. Montaño (2005) destaca
que as dificuldades conceituais identificadas e abordadas se resumem na escassa
teorização sobre esse tipo de organizações, por tratar-se de uma área relativamente
10
nova. A carência é percebida quando se discute o ponto de equilíbrio que deve ser
encontrado entre o voluntarismo e a profissionalização na gestão de tais
organizações, uma vez que ações e esforços isolados, tanto por parte dos gestores
que constituem o quadro permanente, quanto por parte dos voluntários, já não são
suficientes para garantir a sustentabilidade e a consequente sobrevivência destas
organizações (FRASSON, 2001).
Acredita-se existir no Brasil uma carência de estudos voltados à investigação
da gestão das organizações sem fins lucrativos e, assim sendo, estudos
relacionados aos critérios utilizados na avaliação de desempenho nas mesmas
entidades. Segundo Andion (1998), a literatura que trata da gestão nas organizações
sem fins lucrativos, praticamente em sua totalidade, baseia-se em uma visão
unívoca e tradicional da gestão, que é trazida das atividades econômicas lucrativas.
Herman e Renz (1999) sugerem que as organizações sem fins lucrativos estejam
“desenfatizando” valores morais enquanto adotam valores comerciais. Segundo
Hudson (1999), o terceiro setor se compõe de organizações cujos principais
objetivos são sociais em vez de econômicos.
Para Singer (2002), a empresa solidária é (formada) basicamente de
trabalhadores, que apenas secundariamente são seus proprietários. Portanto, sua
finalidade básica não é maximizar o lucro, mas a qualidade e a quantidade de
trabalho. Herman e Renz (1999) apontam que, possivelmente em decorrência de
deficiências dos estudos disponíveis, muitos praticantes e alguns estudiosos das
entidades sem fins lucrativos assumem que a eficácia é semelhante à eficácia
empresarial.
A partir daí, entende-se a necessidade de trabalhos científicos no campo da
administração, voltados para o exame das organizações analisadas. De acordo com
Mistry (2007), estudos empíricos sobre a eficácia nas organizações sem fins
lucrativos, utilizando perspectivas múltiplas, são limitados em quantidade. Os
existentes tendem a usar uma pequena parcela de colaboradores dentro da
organização e um grande número de organizações.
Estudos preliminares do Observatório da Realidade Organizacional e outros
grupos, como os efetuados por Salles e Dellagnelo (2005) e Silva e Dellagnelo
(2005), abordaram a avaliação de desempenho e a relação com as fontes
financiadoras; Monte e Carvalho (2004) verificaram o poder e as relações de
parcerias no Terceiro Setor, com base nos atores nacionais envolvidos no processo;
11
Dias e Rodrigues (2002) analisaram a avaliação de impacto nas organizações do
Terceiro Setor baseados na Teoria dos Stakeholders; e Silva e Silva (2002)
estudaram a relação entre fontes de financiamento e o nível de burocratização nas
organizações não governamentais (ONGs) de Alagoas. Apenas alguns exemplos do
direcionamento de esforços para ampliar o conhecimento sobre o tema em
destaque.
Diante do exposto, o interesse pelo campo das organizações sem fins
lucrativos, além de mover inquietações em pesquisadores da área, também possui
cunho pessoal, pois tem me acompanhado desde o ano de 1999, quando comecei a
atuar como voluntária e, posteriormente, como profissional em uma entidade de
caráter assistencial. Em meus trabalhos na graduação em Administração, identifiquei
as particularidades da gestão nesse tipo de organização, bem como as dificuldades
dos profissionais relacionadas às questões administrativas no setor, visto que a
maior parte da literatura e dos trabalhos científicos aproximava a gestão de
organizações sem fins lucrativos da gestão de empresas. Nesse sentido, Herman e
Henz (1999) afirmam que os estudos acadêmicos de eficácia em organizações
empresariais se tornam inconclusivos e confusos, pois não são feitos para
organizações sem fins lucrativos. Cameron e Whetten (1983 apud MISTRY, 2007,
p.6) compartilham do mesmo ponto de vista, ao afirmar que “muitas das dificuldades
em entender a eficácia das organizações voluntárias provêm de um pensamento
enraizado na construção social, com limites já estabelecidos nas organizações
tradicionais”.
Na ocasião da elaboração de meu trabalho de conclusão de curso, pude
buscar algumas respostas, pesquisando a estrutura organizacional e as formas de
captação de recursos em duas organizações sem fins lucrativos, classificadas como
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs) e localizadas em
Florianópolis (Instituto Ambiental Ratones e Instituto Guga Kuerten).
Assim, quando iniciei o mestrado, em 2007, defini como tema de minha
dissertação o desempenho em organizações sem fins lucrativos. O estudo foi
amadurecido e intensificado pela participação no grupo de pesquisa do Observatório
da Realidade Organizacional, que tem desenvolvido estudos a fim de proporcionar
maior entendimento dos novos modelos organizacionais, nos quais, segundo Salles
e Dellagnello (2005), as entidades sem fins lucrativos podem se enquadrar, à
medida que exemplificam formas organizacionais alternativas ao modelo burocrático.
12
Nesse contexto, o presente estudo justifica-se pelo interesse da
pesquisadora, além de tratar de uma área com grande crescimento e capacidade de
desenvolvimento, seja no âmbito científico ou social. A importância do tema também
é salientada à medida que as próprias organizações sem fins lucrativos buscam
respostas para as formas de gestão e avaliação adequadas as suas
particularidades, demonstrando, assim, uma justificativa prática do estudo.
A pesquisa mostra sua originalidade quando fomenta a discussão de um novo
tema, promovendo aprofundamento nos estudos sobre novos modelos
organizacionais e suas formas de avaliação de desempenho. Além disso,
desenvolver uma pesquisa como esta, é um empreendimento que pode vir a ser útil
a todos aqueles que estudam as organizações sem fins lucrativos.
13
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O embasamento teórico que será apresentado contém as premissas e os
pressupostos básicos coerentes com os objetivos propostos. Para tanto, foram
utilizados livros, artigos na área de administração e informações de sites
especializados no tema, com o objetivo de expor as referências mais recentes
acerca do assunto.
2.1 As organizações sem fins lucrativos: contextualização do tema
Ao longo da história da humanidade se percebe a ação de pessoas, isoladas
ou organizadas, voltadas para a ajuda, para a resolução de problemas individuais ou
coletivos. Vontades que se unem para contribuir, defender, preservar causas sociais,
aspectos culturais, vidas humanas e o meio ambiente.
Segundo Oliveira (2005), o fato de pessoas que fazem parte de um mesmo
grupo ou comunidade se juntarem para somar esforços e se ajudarem uns aos
outros a enfrentar problemas comuns, não é por certo uma novidade. Desde tempos
imemoriais, carinho, compaixão e ajuda mútua têm sido atributos específicos da raça
humana.
Apesar da iminência do termo, as organizações sem fins lucrativos abrigam
iniciativas tão remotas quanto a existência do homem. Segundo Salamon (1998), é
difícil saber se o fenômeno é de fato novo ou se trata da descoberta de um setor
longamente ignorado. Registros da história nas civilizações egípcia, indiana e
judaica apontam para o cuidado, atenção a enfermos, inválidos, idosos e crianças.
Registram leis, incentivos, ordenanças religiosas que indicavam a obrigatoriedade de
acolher, dividir, atender aqueles que se encontravam em situação vulnerável e de
risco (HUDSON,1999; SALAMON, 1998).
No entanto, das atitudes isoladas, ou de pequenos grupos, se observa um
mesmo fenômeno: a participação cidadã. Trata-se da solidariedade que chegou à
esfera pública numa escala global. Para Montaño (2005, p.183), “alguma coisa está
efetivamente ocorrendo na atualidade; a sociedade civil está desenvolvendo
14
atividades antes atribuídas ao Estado”. É o que Melo Neto e Froes (2005) designam
como a “nova” ordem social, na qual se estabelece uma gigantesca reforma nas
relações entre o cidadão e o governo. Sobre o assunto, Montaño (2005) afirma que,
nos países em desenvolvimento, o rápido crescimento do terceiro setor encobre a
reforma neoliberal do Estado, que culmina com a retirada paulatina de suas
responsabilidades em relação a uma série de questões sociais. Assim, Bava (2000,
p. 44) destaca que:
De uma economia de mercado que antes era regulada pela ação do
Estado com o propósito de garantir uma cobertura de demandas
sociais, reconhecidas como direitos por força das mobilizações da
sociedade civil, passamos a uma sociedade de mercado, onde as
regras de convivência social são ditadas pela disputa entre os mais
fortes e os mais fracos.
Para Meireles e El-Aouar (2002), a forma neoliberal traz no seu escopo o
enxugamento da máquina estatal, por meio de privatizações, desregulamentação,
reforma fiscal, descentralização e, principalmente, redução da aplicação de recursos
na área social. E da sociedade civil organizada surgem iniciativas em que
predominam a ação comunitária, a abertura de novos canais de ação e reivindicação
e a emergência de uma verdadeira rede de solidariedade social.
No cenário descrito, é penalizada a democracia não só no âmbito nacional,
mas em uma escala quase que planetária, gerando possibilidades das mais diversas
rupturas institucionais (BAVA, 2000). Meireles e El-Aouar (2002, p. 6) corroboram:
Essas mudanças foram decisivas, sob essa nova ótica, inclusive por
contribuir para realçar as chamadas “ONGs”, organismos não
governamentais sem fins lucrativos, que assumiriam o papel de
ocupar espaços, sobretudo no âmbito social, deixados pelos
governos que adotaram políticas e estratégias neoliberais.
Enquanto o neoliberalismo reforma o Estado, a sociedade civil dá suas
contribuições em forma de ações sociais de importância fundamental. Bava (2002, p.
53) afirma que “para o Banco Mundial e outras instituições multilaterais, o terceiro
setor, tendo à frente as ONGs, tem um importante papel executor de políticas
sociais, articulado e complementar à ação do Estado”.
Assim, segundo Montaño (2005), o desenvolvimento das organizações sem
fins lucrativos acontece como resposta à desresponsabilização do Estado, à
desoneração do capital e à auto-responsabilização do cidadão e da comunidade em
15
geral. Segundo Oliveira (2001, p.2) “este protagonismo dos cidadãos e de suas
organizações tem como características a espontaneidade e a diversidade”. A
primeira se caracteriza pelo fato de que as iniciativas surgem do desejo voluntário,
da participação popular, não advindo de um eixo controlador, de uma iniciativa única
ou centralizadora. A diversidade se configura a partir da extensa e variada esfera de
situações e temas então abordados: a assistência social, educação, saúde,
habitação, transporte, defesa do meio ambiente, cultura, defesa de minorias, etnia e
gênero. (RIFKIN, 1995; NANUS e DOBBS, 2000). Configura-se também pela
abrangência, pois tais iniciativas podem ocorrer em nível local, regional ou mesmo
em escala mundial, como também pelo caráter temporal, indo de ações
permanentes a iniciativas pontuais ou efêmeras. (OLIVEIRA, 2001; NANUS e
DOBBS, 2000).
2.1.1 As Organizações classificadas como sem fins lucrativos
Diversas denominações têm sido usadas para tentar agrupar e identificar as
organizações privadas, sem fins lucrativos e que buscam a produção do bem comum
(COELHO, 2000; FERNANDES, 2001; HUDSON, 1999): organizações beneficentes,
filantrópicas, voluntárias, organizações sem fins lucrativos, ONGs; ou ainda setor de
caridade, setor voluntário, setor ONG, setor sem fins lucrativos e, mais
recentemente, economia social. O que as denominações mencionadas possuem em
comum é o fato de tentarem retratar um universo formado por iniciativas voluntárias
da sociedade civil, voltadas para o público e sem intenção de lucro.
No Brasil, a expressão organizações sem fins lucrativos aparece pela primeira
vez nas obras de Leilah Landim e Rubem César Fernandes, sendo que a
terminologia mais usualmente aplicada na literatura brasileira para designar
entidades sem fins lucrativos é “organização não governamental”. (COELHO, 2002).
Para Fernandes (2001), o terceiro setor é composto por organizações sem
fins lucrativos, criadas e mantidas pela ênfase na participação voluntária, em um
âmbito não governamental, dando continuidade às praticas tradicionais da caridade,
da filantropia e do mecenato, expandindo seu sentido para outros domínios, graças,
sobretudo, à incorporação do conceito de cidadania e de suas múltiplas
manifestações na sociedade civil.
16
Coelho (2000) define como o setor que agrega organizações cujas atividades
não seriam nem coercitivas, nem voltadas para o lucro, visando ao atendimento de
necessidades coletivas e públicas.
Para Hudson (1999), a expressão organizações sem fins lucrativos agrega
organizações que têm em comum o fato de:
a) possuírem um objetivo social, sem fins lucrativos;
b) serem independentes do Estado e do mercado, no que diz respeito a sua
administração;
c) reinvestirem todos os seus resultados financeiros na prestação de serviço a que
se propõem ou na própria organização.
O campo de atuação das organizações sem fins lucrativos não é homogêneo,
a não ser pelo fato de congregar diversas organizações com características similares
e distintas. Segundo Andion (2005), essas organizações atuam em setores diversos,
tais como saúde, educação, transporte, lazer, desenvolvimento urbano, proteção do
meio ambiente, defesa de direitos, etc. e têm como objetivo comum a promoção do
interesse geral.
Na intenção de melhor entendê-las, a literatura especializada passa a utilizar
numerosas tipologias que, de acordo com o aspecto posto em destaque, classifica-
as conforme os objetivos da análise (CARVALHO, 2000). As organizações podem
ser caracterizadas como não governamentais (ONGs), cooperativas, associações,
entidades beneficentes, instituições assistenciais, fundações e institutos, as quais,
em suas áreas de atuação, abrangem um variável leque de temas: defesa do meio
ambiente, assistência social, educação, saúde, trabalho e renda, moradia, cultura e
arte, gênero, etnia e memória, religião, tecnologia, direitos civis (PANCERI, 2001;
OLIVEIRA, 2001).
De acordo com Landim e Vilhena (1998), no cenário contemporâneo
brasileiro, podem ser identificados três subconjuntos principais:
Organizações do tipo beneficente, filantrópico ou assistencial, as quais,
segundo as autoras, são as mais numerosas e cuja atuação pode ser
percebida na manutenção de creches, abrigos, asilos, atuando em setores
vulneráveis. Estabelecem parceria com o Estado e buscam apoio do meio
empresarial e da comunidade para a sustentabilidade de seus projetos.
As ONGs, que atuam no ideário da cidadania e da democracia. O termo
passou a ser utilizado a partir dos anos 70, na intenção de identificar
17
organizações que faziam contraponto às ações dos governos autoritários
(FISCHER e FALCONI, 1999). Geradas a partir década de 70, marcadas pelo
antiinstitucionalismo e mais centradas na sociedade civil, têm como objetivo
central organizar a sociedade de maneira autônoma e plural, atuando como
propositoras e controladoras das políticas públicas (TENÓRIO, 2005).
As fundações e institutos doadores de recursos voltados aos instrumentos
sociais, geralmente de origem empresariais ou ligados a personalidades do
cenário nacional, dedicam-se à ação cultural e social, atuando como
investidoras e fomentadoras da ação cidadã e no âmbito da responsabilidade
social.
Segundo a Cartilha do Terceiro Setor da OAB (2005, p.7), as entidades do
terceiro setor são regidas pelo Código Civil (Lei nº 10.402/02) e juridicamente
constituídas sob a forma de associações ou fundações. Apesar de serem
habitualmente utilizadas as expressões “entidade”, “ONG” (Organização Não
Governamental), “instituição”, “instituto” etc., as denominações servem apenas para
designar uma associação ou fundação, as quais possuem importantes diferenças
jurídicas entre si.
Nessa legislação, é instituída como Associação uma pessoa jurídica de direito
privado, sem fins econômicos ou lucrativos, que se forma pela reunião de pessoas
em prol de um objetivo comum, sem interesse de dividir resultado financeiro entre
elas. A Fundação é instituída pela pessoa jurídica de direito privado, sem fins
econômicos ou lucrativos, que se forma a partir da existência de um patrimônio
destacado pelo seu instituidor para servir a um objetivo específico, voltado a causas
de interesse público.
2.1.2 As Organizações sem fins lucrativos no Brasil
Segundo Rodrigues (1998), a preocupação com os aspectos sociais no Brasil
surgiu no período de sua colonização, no qual a Igreja Católica tinha interesse em
atrair fiéis para contribuir com o seu fortalecimento. Para tanto, o que oferecia em
troca era a promoção do bem-estar social da população e dos menos favorecidos,
de acordo com o regime da época. Por fazer parte do governo, as suas atividades
eram enquadradas como sendo de cunho social e público (LANDIM, 1993).
18
Em 1889 ocorreu a separação entre a Igreja e o Estado com a Proclamação
da República. A evolução do fortalecimento do Estado lhe incumbiu, entre outras
coisas, o papel de promover o bem-estar social, restando para a Igreja uma função
complementar (LANDIM, 1993). Lembra Andion (1998) que data da mesma época o
surgimento da Escola Reformista Cristã (1891), tendo como proposta a criação da
economia social para diminuir a distância entre os ricos e os pobres sem afetar e se
comprometer com o sistema; e a Escola Solidária (1890), a qual propôs o aumento
de salários e do tempo para o lazer, a realização pessoal no trabalho, a previdência
e a independência econômica.
Conforme Landim (1993), no ano de 1916, a Lei n. 3.107 do Código Civil
Brasileiro regulamentou a função social não só da Igreja, mas também das
organizações denominadas sem fins lucrativos. Foi a primeira vez que se
distinguiram as organizações com fins econômicos daquelas com fins não
econômicos. Mais tarde foi criado no governo Getúlio Vargas, em 1938, o Conselho
Nacional de Serviço Social (CNSS), que passou a representar as organizações de
“utilidade pública”. Esse último termo, por sua vez, só foi regulamentado em 1961 e
por ele se entendia as sociedades civis, associações e fundações que objetivavam
atender aos interesses da sociedade. As organizações assistidas pelo CNSS tinham
na época isenção fiscal e subvenções do governo.
No período da ditadura militar, que teve início em 1964, foi que se instalou o
papel social das organizações sem fins lucrativos. Isso aconteceu por questões
políticas e pelo crescimento econômico acelerado, no qual o governo queria exercer
ao máximo a centralização da ação social. (LANDIM, 1993). Foi naquela época, em
1966, que surgiu o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), promotor da
universalização dos benefícios sociais, até então privilégios de apenas algumas
categorias sindicais. Ainda durante a ditadura os movimentos associativistas
(partidos políticos, sindicatos e universidades) foram banidos da esfera pública;
porém a Igreja Católica, mesmo apoiando movimentos como este, manteve-se
intacta.
Contudo, é possível notar que o papel social das organizações sem fins
lucrativos foi pouco difundido na era militar por questões meramente políticas.
Somente a partir da década de 70 foi que surgiram as primeiras Organizações Não
Governamentais (ONGs), financiadas por ONGs internacionais. Tinham, no entanto,
um comportamento contrário ao autoritarismo estatal vigente, querendo a separação
19
total do governo e do empresariado nacional (LANDIM, 1993). Nessa época, a Igreja
também começou a agir mais pelas comunidades eclesiais de base. A década de 70,
segundo Fernandes (1994), foi representada por duas expressões: comunidade e
movimentos sociais. O fato de se falar em comunidade em um período autoritário
ocorreu devido à impossibilidade de agir sobre a sociedade, restando como
alternativa o trabalho de base sobre grupos menores denominados comunidades. A
justificativa para o crescimento dos trabalhos comunitários num cenário tão
repressor, segundo Fernandes (1994), se deve ao fato de que a polícia perseguia
militantes políticos e sindicatos, deixando uma lacuna para que os trabalhos de base
nas comunidades ganhassem espaço.
Já a expressão movimentos sociais significou a mobilização de pessoas para
solucionar problemas locais como a falta de água, esgotos, luz e poluição. Esses
movimentos surgiram pelo processo dramático de urbanização que passava não só
o Brasil, mas toda a América Latina.
Na década de 80, com a redemocratização do País, as ONGs passaram a se
preocupar, também, com assuntos mais polêmicos, como AIDS, meio ambiente e
minorias excluídas. Trouxeram também ideias novas, como a possibilidade de
abertura de canais de financiamento de projetos para comunidades carentes, o que
não acontecia na década anterior, na qual as ONGs da era militar não
desempenhavam (e não queriam desempenhar) funções assistencialistas e de
caridade (BAYAMA, 1997). Os anos 80 podem ser sintetizados, de acordo com
Fernandes (1994), pelos termos cidadania e sociedade civil. Por sociedade civil e
cidadania, sua correlata, entende-se grupos e indivíduos que se relacionam entre si
de acordo com os direitos prescritos na lei. “Enfim, a última década ficou marcada
pelas expressões “sem fins lucrativos” e não governamentais”, características de
organizações que compõem o terceiro setor (FERNANDES, 1994). O crescimento no
número de entidades nele enquadradas aumentou muito nos últimos anos. Segundo
dados do IBGE (2005), entre os anos de 1991 e 2002, as fundações privadas e
associações sem fins lucrativos no Brasil tiveram um crescimento de 157%,
passando de 107.000 para 276.000 unidades. Isso ocorre, no País, de acordo com
Montaño (2005, p. 192) em concordância com os objetivos da “reforma gerencial” do
Estado, promovida pelo ex-ministro Bresser Pereira, no governo Fernando Henrique
Cardoso.
20
Hoje o movimento de recursos nas organizações sem fins lucrativos gira em
torno de 1,5% do PIB do País, situação bastante modesta se comparada aos 4,7%
da média internacional. Outro dado que confirma a expansão do setor é o fato de
que, em 1995, existiam entre as pessoas físicas, no Brasil, 15 milhões de doadores,
número que em 1998 já havia duplicado para 44,2 milhões de pessoas, o
equivalente à metade da população adulta brasileira (site REDE DE INFORMAÇÕES
PARA O TERCEIRO SETOR: www.rits.org.br).
2.1.3 As organizações sem fins lucrativos e seus atores
A existência de uma imensa gama de atores em uma organização sem fins
lucrativos é altamente reconhecida na literatura (Mistry, 2007). Trata-se de é um elo
comum das organizações do setor: o fato de serem responsáveis ou atenderem aos
interesses de diferenciados públicos: membros, beneficiados, entidades financeiras,
conselheiros, patrocinadores, voluntários; todos se relacionam de formas distintas e
manifestam interesses diversos, podendo influenciar significativamente os destinos
da organização (HUDSON, 1999).
A nomenclatura para identificar o público das organizações sem fins lucrativos
é variável. Os beneficiados pelos serviços prestados são identificados como:
clientela (NANUS e DOBBS, 2000), usuários (HUDSON, 1999); Drucker (2001), para
fins didáticos, optou pela utilização da expressão cliente. Tenório (2005) propõe o
termo cidadão-beneficiário, em substituição a população-alvo, grupo-alvo,
beneficiários, usuários ou cliente e, ao fazê-lo, demonstra a preocupação em
incorporar ao termo o conceito de cidadania, elencando-o à formulação,
implementação e avaliação das políticas públicas. Nessa perspectiva é resgatado o
caráter participativo e democrático que permeia (ou deve permear) as relações das
organizações sem fins lucrativos com todos os que são alcançados por suas ações.
De acordo com Hudson (1999, p XI), o tipo de organização estudada é
orientado por valores incorporados e vividos por pessoas que acreditam e lutam por
transformações. Valores como solidariedade, iniciativa individual, compromisso,
capacidade de agir e de mudar o ambiente são vivenciados, tornando-os atores,
sujeitos-cidadãos, não importando em que condições estejam em relação à
organização, se beneficiados por suas ações ou se promotores, fazedores ou
apoiadores da mesma. Trata-se de uma relação baseada na participação ativa de
21
todos os inseridos no contexto da organização (WAUTIER, 2001; DINIZ e MATTOS,
2002).
Goldschmidt (2003) identifica como grupos ou pessoas influenciados pelo
trabalho de uma organização sem fins lucrativos todos os beneficiários diretos,
familiares, colegas de escola ou de trabalho dos beneficiários; empresas situadas
próximas ao local de desenvolvimento das atividades e/ou próximas ao local de
residência dos beneficiários; funcionários, voluntários, conselheiros; empresas
parceiras e seus funcionários; doadores; fornecedores e seus funcionários; governos
locais e outras organizações sem fins lucrativos que prestam serviços similares ou
complementares. Para a autora, todos constituem público-alvo da organização, “são
todos grupos muito diferentes e, certamente, com necessidades e desejos bastante
diferentes em relação aos serviços prestados pela organização” (GOLDSCHMIDT,
2003, p.2).
Dentre os principais aspectos que garantem a legitimidade dessas
organizações, Lister (2003) destaca a responsabilidade, a representatividade e o
desempenho. Segundo a autora, para garantir a sustentabilidade de sua
legitimidade, a organização deve agir com responsabilidade sobre suas ações e,
para exteriorizar os padrões de responsabilidade interna, reduzir a distância entre a
organização e o seu público-alvo. Vidal (2005) aborda essa exigência como caráter
ou natureza vital da missão, destacando que a maioria das organizações tem como
objetivos institucionais a promoção de uma série de valores e bens públicos
(solidariedade, voluntariado, equidade, justiça etc.). Assim, o compromisso com tais
princípios e valores são aspectos que as distinguem de outros atores sociais, como
as empresas, que baseiam a sua existência e atuação nos benefícios econômicos.
A representatividade, de acordo com Pearce (apud LISTER, 2003), está
relacionada não somente ao direito de representar e ao consentimento do
representado, como também à eficiência da organização. Segundo Vidal (2005), a
representatividade implica promover e defender os interesses de determinados
grupos sociais, que podem ser tanto os destinatários finais da ação das entidades
(beneficiários ou usuários) como os próprios membros da organização (sócios,
voluntários, colaboradores, etc.). Conforme o autor, para que exista uma
representatividade autêntica, é necessário as organizações estabelecerem canais
que permitam o fluxo contínuo de informações, admitindo a participação de todos os
membros em iguais condições.
22
O desempenho caracteriza-se pelo terceiro principal aspecto na busca por
legitimidade, o qual está relacionado ao atingimento das metas organizacionais.
Para Vidal (2005), a organização que realiza um trabalho de qualidade e gera
impacto positivo e significativo na sociedade será reconhecida não só moralmente
como também em termos técnicos. Portanto, o desempenho se torna um dos
critérios mais importantes no processo de legitimação.
Fowler (2002) destaca as três características centrais que permeiam os
desafios de administrar organizações sem fins lucrativos:
a) Mesmo com o fato de essas organizações, em conjunto com o governo, lidarem
com questões de domínio público, como pobreza, injustiça, exclusão ou degradação
ambiental, elas não têm autoridade legal para agir. Sua atuação é voluntária e por
escolha própria, fazendo com que muitas delas tenham que justificar
constantemente sua presença e seus valores à sociedade.
b) O poder e a influência dessas organizações são baseados em engajamento civil,
mobilização social e apoio de capital social, e não em mandatos políticos, exércitos
armados, capital financeiro ou tendências de mercado.
c) Tais organizações se posicionam como intermediárias, já que os recursos
necessários para o seu trabalho não derivam de seus beneficiários. Elas têm que
negociar com os provedores de recursos e com a população, para a qual justifica
sua experiência.
Enjolras (apud ANDION, 1998) destaca o eixo econômico como novo fator
central que configura a legitimidade das organizações sem fins lucrativos,
percebendo-se uma cultura econômica que conjuga, ao mesmo tempo, as funções
de distribuição (recursos públicos), reciprocidade (trocas com a comunidade) e troca
mercantil (venda de produtos e serviços).
Porém Fowler (2002) atenta para os riscos que a busca exacerbada pela
legitimidade diante dos atores externos pode trazer, fazendo com que, muitas vezes,
os reais objetivos da organização fiquem em segundo plano. Segundo Salles e
Dellagnelo (2005), apesar do importante papel dos financiadores na manutenção
das organizações sem fins lucrativos, esses atores podem também se tornar uma
ameaça, na medida em que, através dos critérios de avaliação adotados para o
direcionamento dos recursos, podem contribuir para o distanciamento do alcance
dos objetivos das organizações financiadas, considerados mais substantivos.
23
Contudo, Goldschmidt (2003) aponta que conciliar as diferenças de interesses
dos diversos atores envolvidos nas organizações sem fins lucrativos é uma tarefa
difícil. Conclui que “as necessidades e expectativas de cada um destes grupos
variam e é importante que cada um deles sinta que suas necessidades e
expectativas estão sendo satisfeitas” (GOLDSCHMIDT, 2003, p.4).
2.2 Avaliação de desempenho organizacional
O conceito de eficácia organizacional é central para a investigação de
estrutura, processo e produção organizacional (CAMERON e WHETTEN, 1981). A
maioria das pesquisas, conduzidas ao nível organizacional de análise, está ligada,
pelo menos implicitamente, ao conceito de eficácia (LEWIN e MINTON, 1986).
Outros termos também são utilizados para designar a idéia central de eficácia
organizacional, entre os quais se podem citar: modelo de eficácia, modelo de
desempenho, modelo de avaliação, modelo de avaliação de desempenho.
Recorrendo-se ao histórico do conceito de eficácia na área organizacional,
pôde-se observar que as diferentes teorias administrativas estabelecem, segundo
Lewin e Minton (1986), relações entre a eficácia e os princípios administrativos.
Dessa forma, os estudos de eficácia ficaram condicionados a distintas e
concorrentes abordagens, tornando sua compreensão ainda mais complexa e
polêmica na literatura organizacional (LEWIN e MINTON, 1986).
Considerando os conceitos de avaliação de desempenho que caracterizam a
avaliação de políticas públicas e sociais, o que mais se aproxima da realidade de
organizações sem fins lucrativos, Silva (2001, p. 48) destaca que o termo
“avaliação”, nesse contexto, tem como base um julgamento valorativo, “[...]
eminentemente político que integra o contexto de um programa público, exigindo
postura de objetividade e de independência, sendo, por natureza, uma atividade
interdisciplinar”; e, portanto, tem como relação as ligações de poder envolvidas.
As formas de avaliar o desempenho de organizações, segundo Kendall e
Knapp (apud PATON, 2003), apresentam como ponto central as discussões
referentes aos argumentos racionalistas/positivistas e à perspectiva sócio-
construtivista. Os métodos tradicionais que caracterizam a visão racionalista têm
como base o desempenho. Amplamente utilizados em empresas, em sua maioria,
são inadequados às organizações sem fins lucrativos, pois possuem como berço
24
uma visão técnica empresarial que costuma medir o custo-benefício de ações em
curto prazo, visando ao lucro.
Avina (2002) defende a perspectiva racionalista. Segundo o autor, motivações
inapropriadas, planejamento insuficiente, delineamento inadequado dos programas,
inadequação dos recursos humanos e financeiros e incompetência gerencial ou
pressões externas podem causar o fracasso no processo de expansão, gerando, na
maioria das vezes, impactos tão negativos que podem culminar no colapso da
organização.
As limitações dos modelos racionalistas, conforme Paton (2003), estão no
próprio conceito de desempenho, o qual soa como um único atributo, mas que na
verdade se apresenta de forma multidimensional e de difícil operacionalização. As
grandes aspirações técnicas em realidades distorcidas, a constante perseguição
pelo controle e a parcialidade nas medições são fatores críticos nos modelos
racionalistas (PATON, 2003). O foco na medição dos resultados desejados pode ser
muito útil como incentivo, mas tem valor limitado como indicador contínuo de
melhoria de desempenho presente e futuro.
No que se refere aos constantes esforços gerenciais na perseguição pelo
controle para garantir a precisão na medição dos resultados, Paton (2003) ressalta
uma importante consequência disfuncional que envolve esse processo, pois a visão
tradicional de medidas de desempenho como um meio de controle é ingênua. Assim
que medidas de desempenho são utilizadas como um meio de controle, as pessoas
começam a manipulá-las (PATON, 2003).
E, no que diz respeito às limitações devido à parcialidade nas medições
citadas por Paton (2003), destaca-se o fato de que o desempenho é comumente
resultado da interação de diferentes atores envolvidos no processo, tanto internos
quanto externos à organização. Assim, mesmo que seja possível verificar o grau de
melhoria no desempenho, as razões apontadas podem ser contestadas.
Já a perspectiva sócio-construtivista (KENDALL; KNAPP apud PATON, 2003),
que tem sido difundida para avaliar organizações sem fins lucrativos, apresenta
como base a eficácia e considera não somente o nível técnico (relacionado à
qualidade e ao resultado dos serviços), mas também o institucional (direcionado à
legitimidade diante dos atores externos) e o gerencial (ligado ao uso dos recursos).
Para Paton (2003), o significado de desempenho é diferente, em variados níveis e
25
domínios. Portanto, variam também as formas de medição e o gerenciamento das
mudanças.
O nível institucional, conforme Paton (2003), amplia a avaliação de
desempenho de forma a criar uma estrutura de governança, ou seja, aborda os
elementos necessários para garantir a legitimidade da organização perante os
diferentes atores envolvidos.
O nível técnico, assim como nos modelos racionalistas, também é
considerado na perspectiva sócio-construtivista, porém, segundo Paton (2003),
apenas como parte do processo de avaliação de resultados, através do
monitoramento das metas.
E, no nível gerencial, o autor destaca a necessidade de se abandonarem
posturas tradicionais e aceitar que desempenho é e continuará sendo uma
concepção contestatória, cujos sistemas de medições estabelecidos representam,
em verdade, o pensamento de um grupo dominante ou um compromisso negociado
com diferentes atores envolvidos.
Para Mistry (2007), a avaliação organizacional nas organizações sem fins
lucrativos é um desafio, porque as metas e missões estão muito frequentemente
ligadas às mudanças na sociedade ou às mudanças políticas, que estão fora da
organização. Bowditch e Buono (1992) também acreditam que as tentativas de
avaliação organizacional apresentam-se como um grande desafio, pois os
pesquisadores ainda não conseguiram chegar a um consenso sobre os critérios
mais importantes para se tomar decisões nas organizações. Para muitos autores, a
avaliação organizacional pode ser entendida como um método para a distinção entre
organizações eficazes e ineficazes.
Miles (apud LEWIN e MINTON, 1986), por meio de suas pesquisas, identificou
cinco escolas de pensamento sobre eficácia organizacional: Administração
Científica, Relações Humanas, Sócio-Técnica, Desenvolvimento Organizacional e a
Clássica Teoria Econômica da Firma. Após a proposta de identificação, Miles dividiu
as referidas escolas de pensamento em dois modelos de eficácia: modelos de
alcance de objetivos e modelos de sistemas. Miles discutiu os problemas
relacionados aos modelos de alcance de objetivos e de sistemas e, dessa maneira,
sugeriu a convergência dos mesmos, em um modelo denominado Modelo Ecológico.
Por meio dele, a eficácia organizacional seria definida como a capacidade da
organização de atender às necessidades de suas coalizões estratégicas, ou seja,
26
atender às necessidades de pessoas que, de alguma forma, se relacionam com a
organização.
Uma característica crucial da noção de eficácia é sua constante mutação no
decorrer do tempo. Os líderes e dirigentes organizacionais sempre tiveram
dificuldade em encontrar um significado compartilhado para o termo eficácia.
Certamente há uma tendência, por causa da dificuldade em encontrar um significado
comum, de ligar eficácia a resultados financeiros. A redução do significado a
resultados financeiros acaba sendo aceita devido ao fato de esses tipos de objetivos
serem, muitas vezes, facilmente mensuráveis e compreendidos.
Entretanto, para Gold (1998), parece importante estar ciente que, de acordo
com o contexto e com a situação, outras medidas de eficácia podem ser levadas em
conta, tais como medidas de desenvolvimento social, e que as mesmas podem ser
constantemente reavaliadas.
Na opinião de Lachman e Wolfe (1997), a eficácia organizacional pode ser
avaliada sob diferentes pontos de vista; nesse sentido, o que é considerado eficaz
através de uma perspectiva pode ser interpretado também como medíocre através
de outra. Logo, acredita-se que uma única medida de avaliação de desempenho é
insuficiente para capturar a complexidade de toda uma organização. A razão
fundamental para isso é uma impossibilidade, é que a troca crucial que elas ajudam
a ordenar é medida em moral ou cláusulas de valor (HERMAN e HENZ, 1999).
Utilizar uma única medida de desempenho para tomar decisões é
simplesmente criar um falso sentido de segurança. A gerência pode sentir que está
sendo objetiva, mas, na realidade pode estar destruindo o processo de avaliação de
desempenho (GERST, 1995). Para Mistry (2007), há uma lacuna no entendimento
das questões sobre eficácia bem como das percepções em virtude do limitado
número de pontos de vista estudados.
Como resultados desses questionamentos, desenvolveram-se modelos
múltiplos e híbridos para verificar o desempenho organizacional. Assim, o interesse
descolou-se de um foco organizacional interno, modelo de objetivos, para um foco
externo, tal como a influência e o impacto da organização em seu ambiente
(LAUCHMAN e WOLFE, 1997).
Para Forbes (1998) o conceito de eficácia organizacional é ao mesmo tempo
poderoso e problemático. Poderoso no sentido de que representa uma ferramenta
para verificar criticamente a evolução do trabalho das organizações; problemático
27
porque envolve diferentes pessoas e diferentes alternativas de mensurar a eficácia
organizacional.
Hall (2004) também acredita que a eficácia organizacional, enquanto conceito,
contém contradições, ou seja, possui diversos modelos concorrentes na literatura. O
autor caracteriza o modelo de contradição como uma forma híbrida de avaliação da
eficácia organizacional. Um modelo de contradição da eficácia irá considerar as
organizações como mais ou menos eficazes com relação à variedade de metas que
elas buscam atingir, à variedade de recursos que tentam obter, à variedade de
constituintes dentro e fora da organização – façam eles parte ou não do processo
decisório – e à variedade de intervalos de tempo através dos quais a eficácia é
avaliada. A ideia de variedade nas metas, recursos e assim por diante é uma ideia
chave aqui, por sugerir que uma organização pode ser eficaz em alguns aspectos de
suas operações e, em outros, nem tanto (HALL, 2004).
É importante salientar que, segundo Hall (2004), o fato de que diferentes
indivíduos e grupos tenham perspectivas diferentes acerca da eficácia não deve
surpreender e é, em certa medida, reconhecido na literatura. Bowditch e Buono
(1992) acreditam que há bastante discordância entre os teóricos da administração
sobre o que constitui uma organização eficaz. De acordo com Thibodeaux e Favilla
(1996), diversos modelos emergiram para o estudo da eficácia organizacional e cada
um tem uma ênfase original.
Campbell (1977 apud QUINN e CAMERON, 1981; LEWIN e MINTON, 1986)
também corrobora com a existência de uma variedade de modelos e diversos
indicadores de eficácia e elabora uma listagem com os principais critérios utilizados
para medir eficácia organizacional encontrados na literatura. Com o intuito de
sistematizar tais critérios, Quinn e Rohrbaugh (1983 apud QUINN e CAMERON,
1983) utilizaram a listagem de Campbell e a apresentaram a uma série de
especialistas em eficácia organizacional. Diante da listagem, os especialistas foram
solicitados a reduzir e organizar os critérios para que ficassem todos no mesmo nível
de análise, sem sobreposição. Posteriormente, Quinn e Rohrbaugh criaram um
modelo denominado abordagem dos valores concorrentes. Os autores perceberam,
diante dos resultados encontrados, que a eficácia organizacional é avaliada com
base em três dimensões de contínuos:
a) Controle – flexibilidade: essa dimensão indica se a organização dá mais
ênfase ao controle ou à flexibilidade;
28
b) Interno – externo: essa dimensão refere-se ao enfoque da organização; e
c) Meios – fins: essa dimensão refere-se a uma preocupação com os meios ou
com os fins.
Tais dimensões e a abordagem dos valores concorrentes podem ser ilustrados
conforme a figura a seguir:
Cada um dos quadrantes do modelo, concluíram os autores, coincide com os
quatro principais modelos de eficácia identificados na literatura: modelo de relações
humanas, modelo de processos internos, modelo de sistemas abertos e modelo de
metas.
O modelo de atingimento de metas ou modelo de objetivos é, segundo
Bowditch e Buono (1992), o mais largamente utilizado na avaliação da eficácia
organizacional. A eficácia, na perspectiva do modelo de metas, é alcançada quanto
maior o grau em que as metas organizacionais forem atingidas. Nesse sentido, são
critérios de avaliação do modelo de atingimento de metas o estabelecimento e
alcance de objetivos, a eficiência e a produtividade (QUINN e CAMERON, 1983).
Figura 1 - Abordagem dos valores concorrentes
Fonte: Adaptado de Quinn e Cameron (1983).
29
A visão centrada na meta faz uma suposição razoavelmente explícita de que
a organização se encontra em mãos de um conjunto racional de decisores que têm
em mente um conjunto de metas as quais desejam cumprir. Além disso, essas
metas são em número suficientemente reduzido para serem gerenciáveis e podem
ser definidas de modo a ser compreendidas [...]. No contexto de tal orientação, o
modo de avaliar eficácia organizacional seria desenvolver critérios de medida para
avaliar o grau em que as metas estão sendo cumpridas (CAMPBELL apud HALL,
2004).
Hall (2004) esclarece que as metas são idealizadas pelos indivíduos e sofrem
influência do ambiente e do sistema interno. Uma vez estabelecidas, serão adotadas
como padrão para o julgamento das ações. No entanto, o autor salienta que, ao
longo do tempo, elas podem sofrer transformações, as quais, por sua vez, são
causadas por três principais fatores: a interação direta com o ambiente, alterações
organizacionais internas e pressões indiretas do ambiente como, por exemplo, o
avanço tecnológico. Brewer (1983) complementa afirmando que atenção
desproporcionada é gasta na identificação e coleta de "dados" de relevância
duvidosa e validação em perseguição de representações simples, estáveis para a
determinação de um mundo que possui pouco desses atributos.
A aplicação desse modelo apresenta algumas restrições. De acordo com Hall
(2004) e Bowditch e Buono (1992), a grande maioria das organizações tem metas
múltiplas e muitas vezes conflitantes, como consequência da complexidade
organizacional. Diferentes unidades organizacionais podem estabelecer metas
distintas e por vezes conflituosas. Outra limitação do modelo refere-se à natureza
das metas estabelecidas. Se forem metas simples, a organização poderá atingi-las
com relativa facilidade, o que não garante necessariamente que a mesma seja eficaz
(BOWDITCH e BUONO, 1992).
Os principais problemas evidenciados nos modelos em questão são a
possibilidade de uma multiplicidade de metas organizacionais, a especificidade das
metas e a dimensão temporal (HALL, 2004). A multiplicidade de metas pode
confundir e desgastar os processos organizacionais. A necessidade de maior
especificidade no delineamento das metas torna o processo mais complexo. Metas
muito generalistas podem não contribuir para o aumento da eficácia. E a dimensão
temporal engloba os problemas em focar em visões de longo ou curto prazo, que
variam muito com a atividade da organização.
30
O modelo de recursos do sistema ou sistema aberto foi desenvolvido por
Yuchtman e Seashore (1967). Os autores do modelo entendem que a eficácia
organizacional é definida como a habilidade de captar, no ambiente, recursos
fundamentais para o seu funcionamento. Os seguidores desse modelo, citam Quinn
e Cameron (1983), defendem que a habilidade em se conseguir recursos,
flexibilidade e crescimento são os critérios apropriados para se medir o sucesso
organizacional.
Assim, é preciso considerar que algumas organizações operam em ambientes
ricos, enquanto outras estão em ambientes mais pobres. Além disso, há de se
considerar a importância de utilizar o ambiente de maneira racional, já que se as
organizações utilizarem-no de maneira depredatória, poderá ocorrer uma escassez
total dos recursos disponíveis.
Dellagnelo e Dellagnelo (1996) aludem a teóricos e pesquisadores que
estudam as organizações sob tal perspectiva, preocupam-se primordialmente com a
análise de critérios relacionados à sobrevivência da organização, ou seja, sua
relação com o ambiente externo. Bowditch e Buono (1992) argumentam que o
modelo de recursos do sistema apresenta duas restrições básicas: a primeira refere-
se à visão limitada que o modelo causa, pois está focada somente nos inputs; a
segunda restrição questiona se a obtenção do recurso por si só é tão importante
quanto a sua real aplicação.
Hall (1984) salienta que, embora a proposição de Yuchtman e Seashore
apresente-se como convincente, alguns problemas podem ser elencados, por
exemplo: a obtenção de recursos não se dá ao acaso, mas está baseada naquilo
que a organização vem tentando alcançar, ou seja, em seus objetivos.
O terceiro modelo, o modelo de recursos humanos ou modelo de
satisfação dos participantes, está baseado, segundo Bowditch e Buono (1992), no
argumento de que eficácia representa o grau em que os participantes da
organização estão satisfeitos com ela. Nessa perspectiva, os indivíduos representam
o centro do modelo de avaliação.
Nos modelos baseados na satisfação dos participantes, “[...] a eficácia reside
na concepção de quem a avalia, com a exceção importante de algumas pessoas
serem mais poderosas que as demais” (HALL, 2004, p. 234). Os modelos em
questão possuem como principal referência os julgamentos dos indivíduos ou
grupos, no que tange à qualidade da organização. Hall (2004) destaca a contribuição
31
de Barnard (1938) para esse modelo, autor que acreditava serem os indivíduos
participantes os principais determinantes para suas operações.
[...] os incentivos no âmbito das organizações precisam ser
adequados para manter as contribuições dos membros
organizacionais e também conter um excedente para desenvolver
capacitações de poder para lidar com o ambiente (GEORGIOU apud
HALL, 2004, p. 235).
Cummings (1977 apud HALL, 2004) argumenta que uma organização eficaz
será aquela em que a maior percentagem de participantes se perceba como estando
livre para usar a organização e seus subsistemas como instrumento para seus
próprios fins. Com isso, variáveis como lucratividade e produtividade deixam de ser o
objetivo final e passam a ser apenas meios para sobrevivência organizacional.
Assumem relevância critérios de avaliação como desenvolvimento de recursos
humanos, moral, coesão e satisfação de necessidades humanas (QUINN e
CAMERON, 1983).
As principais desvantagens dos modelos em destaque, citadas por Hall
(2004), são os diferentes graus de envolvimento dos indivíduos, impossibilitando a
conformidade individual e das metas em muitas organizações; o foco em aspectos
instrumentais para os indivíduos, que limita as operações das organizações; e o
impacto das ações da organização nos indivíduos fora dela, ignorando os atores
externos à mesma.
Por fim, o modelo de processos internos aborda, como o próprio nome
sugere, os processos internos da organização. Ele, afirmam Dellagnelo e Dellagnelo
(1996), procura reunir os pontos fortes do modelo de sistema aberto e do modelo de
metas, pois segundo tal perspectiva, a eficácia refere-se à capacidade da
organização de adquirir e utilizar prontamente recursos escassos e valiosos na
perseguição de seus resultados operacionais.
No referido modelo, segundo Cameron (1978), a eficácia é verificada através
dos processos internos de aquisição e utilização de recursos, em vez de ser
verificada em um estado final. O modelo em questão tem seu foco voltado para a
dinâmica interna da organização.
Bowditch e Buono (1992) apontam como exemplo de critérios de eficácia
organizacional, segundo o modelo de processos internos, a ausência de tensões
internas, boa integração dos membros, elevado nível de confiança entre os
integrantes da organização e benevolência para com eles, fluxo regular de
32
informações vertical e horizontalmente. Quinn e Cameron (1983) salientam como
critérios de avaliação desse modelo o gerenciamento de informações, comunicação,
estabilidade e controle.
Para Cameron e Whetten (1981), aspectos relacionados à melhoria de
procedimentos internos demonstram uma pequena atenção, por parte da
organização, para as questões que se referem aos mecanismos e processos que
possam vir a facilitar o alcance das metas desejadas.
Quinn e Rourbaugh (1983) apontam as semelhanças entre os modelos de
eficácia: o modelo de relações humanas e os modelos de sistemas abertos
compartilham uma ênfase sobre a flexibilidade; o modelo de sistemas abertos e o
modelo racional de metas são focados, principalmente, em fins com foco externo; o
modelo de metas racionais e o modelo de processos internos são enraizados em
atributos de controle e, finalmente, o modelo de processos internos e modelo de
relações humanas compartilham um foco interno.
Os mesmos autores ainda dividem em dois âmbitos gerais os critérios de
eficácia: abordagem racional e abordagem de sistemas naturais, conforme a figura
que segue.
Figura 2 - Formas de análise organizacional
Fonte: Adaptado de QUINN e ROHRBAUGH (1983).
33
Cabe destacar que, além dos quatro modelos discutidos anteriormente, Hall
(2004) apresenta outro tipo de modelo de eficácia denominado modelo de função
social. O autor menciona que os modelos de função social se baseiam na questão
referente ao que fazem as organizações com ou para a sociedade de que são parte
e descreve duas abordagens referentes a tal modelo: a abordagem de Parsons
(1960) e a de Perrow (1977).
A mais representativa, para o autor, é a abordagem de Parsons. Nela os
sistemas sociais devem equacionar os seguintes problemas: adaptação (adequar o
sistema social às exigências do ambiente); realização da meta (estabelecer e
alcançar os objetivos traçados); integração (coordenação das unidades do sistema
de modo a canalizar os esforços para um mesmo sentido) e latência (manutenção do
sistema). A eficácia, portanto, está diretamente relacionada à capacidade para
resolver tais problemas apresentada pela organização.
Já a abordagem de Perrow (1977) destaca que a eficácia organizacional é, na
grande maioria dos estudos, mensurada por meio de variáveis. Como alternativa, o
autor sugere outros dois tipos de estudos sobre a eficácia: análise do mau
funcionamento grave, que se refere à tentativa de isolar organizações que operem
precariamente e tentar melhorar seus produtos e serviços; e análise revelatória, que
lida mais precisamente com a questão da eficácia-para-quem. Dessa forma, não se
pode inferir que a análise revelatória enfatiza a relação da organização com a
sociedade, não se restringindo apenas às variáveis do nível micro-organizacional,
como é o caso dos demais modelos aqui apresentados.
2.2.1 Métodos de avaliação de desempenho organizacional
Os modelos de mensuração da eficácia organizacional, abordados
anteriormente, influenciaram no desenvolvimento de diversos métodos de avaliação
de desempenho aplicados, fundamentalmente, em organizações empresariais.
Horneaux Junior et al. (2005) apontam um quadro com os principais métodos de
mensuração e avaliação de desempenho das organizações, retratados pela
literatura, conforme segue.
34
Data de origem
Método de Avaliação de
Desempenho
Autores
Início do século XX
Tableau de Bord
Engenheiros franceses
1950 Método de Martindell J. Martindell
1954 Administração por objetivos P. Drucker
1970 Método de Buchele R. Buchele
1990
Balanced Scorecard
R. Kaplan e D. Norton
1997
Skandia Navigator
L. Edvinsson
1999
SIGMA Sustainability
Scorecard
British Standards Institution
2006 Modelo de gestão global T. Tachizawa
O Método Tableau de Bord
Segundo Horneaux Júnior (2005), o pioneiro dos métodos de avaliação de
desempenho organizacional é o método Tableau de Bord, criado na França, no
início do século XX, quando engenheiros de processos procuravam novas formas de
melhorar a produção, desenvolvendo um melhor entendimento das relações de
causa e efeito (EPSTEIN; MANZONI, 1997) e assim denominaram o método devido
a sua semelhança funcional com um painel de instrumentos ou de navegação,
existente em um avião ou navio (LAUREL; CIBERT, 1959).
Lauzel e Cibert (1959) colocam que o Tableau de Bord funciona como um
método para responder quatro perguntas:
quem? Deve representar quem são os responsáveis dentro da estrutura
administrativa; como se dá a delegação das tarefas e como funcionam os
sistemas de comunicação e informação na empresa;
o quê? Deve tornar possível saber quais as informações que interessam a
uma determinada função e a uma determinada responsabilidade na
organização;
como? Deve assinalar as tendências ou os acontecimentos incomuns e
orientar em direção à análise mais aprofundada;
quando? Deve ter a frequência necessária para comunicar uma mesma
informação em um ou mais níveis hierárquicos, ou em um mesmo nível
hierárquico, variando a natureza das informações. Deve-se ainda respeitar as
características dos negócios e da estrutura de cada organização.
Quadro 1 – Métodos de avaliação de desempenho organizacional
Fonte: Adaptado de Horneaux Junior et al. (2005).
35
O Tableau de Bord é definido como um conjunto de medidas que incluem
tanto indicadores financeiros como não financeiros, que pretendem traduzir a missão
e a visão da organização em objetivos dos quais se derivariam os fatores críticos de
sucesso da organização (KSF – Key Sucess Factors), cujos respectivos indicadores
(KPI – Key Performance Indicators), devido à sua criticidade, devem ser monitorados
para se mensurar o desempenho da organização (DeBUSK et al., 2003). Para
Lauzel e Cibert (1959, p. 131), trata-se da “organização das informações
permanentes destinadas a facilitar o exercício das responsabilidades na empresa”.
As vantagens do uso do Tableau de Bord seriam:
Prover a cada gerente uma visão geral e concisa do desempenho de sua
unidade para guiar a tomada de decisão;
Informar o próximo nível sobre o desempenho de cada unidade;
Forçar cada unidade a se posicionar com relação ao contexto da estratégia
global da empresa e com relação às responsabilidades das demais unidades
e identificar os correspondentes fatores críticos de sucesso e dos indicadores-
chave de desempenho;
Contribuir para estruturar a agenda e dirigir o foco e as discussões
administrativas (EPSTEIN & MANZONI, 1997).
Dessa forma, seria possível a representação do que se passa na organização
em um sistema que age como um monitor, servindo como referência para os
administradores guiarem a empresa (LEBAS, 1994).
O Método de Martindell
Em 1950, Jackson Martindell, presidente do American Institute of
Management, publicou The Appraisal of Management, no qual descreve uma
ferramenta que permitiria a realização de uma análise completa das organizações,
dos mais diferentes tipos. Para Martindell apud Corrêa (1986), um método de
avaliação deve atender aos seguintes requisitos: (a) flexibilidade – a sua aplicação é
estendida a diversos tipos de administração e a vários campos do conhecimento; (b)
inteligibilidade – entendimento quanto às questões que serão abordadas e retratarão
a situação da organização; (c) comparabilidade – possibilidade de comparação entre
as várias organizações; (d) mensurabilidade – as medidas refletem a qualidade da
36
administração; e (e) enfoque sistêmico – consideram-se as várias inter-relações e a
interdependência que ocorrem dentro das organizações.
O método Martindell tem enfoque quantitativo, composto de uma pontuação
máxima de 10.000 pontos. Segundo Bezerra (2005), essa ferramenta possui um
questionário com 300 perguntas divididas entre as categorias de análise: função
econômica, estrutura da empresa, saúde dos negócios, tratamento dado aos
acionistas, P&D, composição da diretoria, políticas financeiras e fiscais, eficiência da
produção, vigor das vendas e qualificação dos executivos, conforme mostra o
quadro a seguir.
Item Índice máximo atingível
Função econômica 400
Estrutura organizacional 500
Saúde da rentabilidade 600
Justiça para com os acionistas 700
Pesquisa e desenvolvimento 700
Análise da direção 900
Políticas fiscais 1.100
Eficiência na produção 1.300
Vigor das vendas 1.400
Avaliação dos executivos 2.400
Total 10.000
O Método da Administração por Objetivos
Outro método de avaliação de desempenho é aquele decorrente da chamada
Administração por Objetivos (APO), criada por Peter Drucker. Scheleh apud Lodi
(1974, p. 58) coloca que a “administração por objetivos surgiu como método de
controle sobre o desempenho de áreas e organizações em crescimento rápido”. No
entender de Maximiano (2004, p. 79), “a administração por objetivos difundiu-se
como um processo participativo de estabelecimento de objetivos e avaliação do
desempenho das pessoas” e havia sido desenvolvida inicialmente por Alfred Sloan,
na década de 1920, quando ele dirigia a General Motors e, posteriormente, foi
complementada por Drucker (MAXIMIANO, 2004).
Nas palavras de Lodi (1974, p. 21), “a administração por objetivos é um
método de planejamento e controle administrativo baseado na premissa de que para
atingir resultados, a empresa precisa definir em que negócio está e aonde pretende
Quadro 2 – Pontuação segundo o método Martindell
Fonte: Martindell apud Horneaux Junior, 2005, p. 39.
37
chegar”. Para Odiorne apud Giegold (1980), a administração por objetivos é um
processo de administração através do qual o supervisor e o subordinado, operando
sob uma definição clara das metas e prioridades comuns da organização,
estabelecidas pela administração da cúpula, identificam em conjunto as principais
áreas de responsabilidade do indivíduo, em termos de resultados que se esperam
dele, e usa tais medidas como guias para operar a unidade e avaliar as
contribuições de cada um de seus membros. O processo da Administração por
Objetivos, de acordo com Daft e Marcic (2004), constitui-se de quatro etapas:
estabelecimento de metas; desenvolvimento de planos de ação; revisão dos
progressos e avaliação do desempenho global.
Foi em seu livro, de 1954, A Prática de Administração de Empresas, no qual
expôs aquilo que se tornaria a base da administração por objetivos, que Drucker
enfatiza o desempenho da organização como sendo “o alvo da empresa e a razão
da sua existência” (DRUCKER, 1954, p. 16).
Assim, Drucker apud Lodi (1974, p. 25) descreve as oito áreas como sendo
chaves para que os objetivos a elas atribuídos venham a afetar de forma essencial
“a sobrevivência e a prosperidade do negócio” e sirvam de base para a mensuração
do desempenho da organização. São elas:
Posição no mercado;
Inovação;
Produtividade;
Recursos físicos e financeiros;
Rentabilidade;
Desenvolvimento dos gerentes;
Desempenho e desenvolvimento dos empregados; e
Responsabilidade pública.
O Método de Buchele
Em 1970, Robert Buchele, da Universidade do Havaí, publicou um livro por
ele considerado o “manual para avaliação de empresas, seja como um todo, seja em
alguns de seus aspectos” (BUCHELE, 1971, p. 15). O autor considera a necessidade
de se avaliar analiticamente as organizações e mensurar o seu desempenho
38
quantitativamente. Segundo ele, são dois os focos que devem ser explorados pelos
administradores: o primeiro, “a habilidade da empresa em aperfeiçoar
incessantemente o desempenho de suas operações atuais”; o segundo, a situação
futura da empresa, em termos de políticas e programas, análise das ameaças e
oportunidades, capacidade de inovação, habilidade para desenvolver novos
produtos e serviços e, finalmente, a possibilidade de atração e desenvolvimento por
parte dos administradores (BUCHELE, 1971, p. 181).
Com base nas premissas elencadas, Buchele (1971) cria o método da
avaliação direta que, por meio da análise dos processos administrativos, consiste em
realizar a:
Análise da força competitiva, por meio de perspectivas no passado, presente e
futuro, em que são avaliados: planos e objetivos, produtos ou serviços e capacidade
de desenvolvimento de produtos ou serviços.
Análise dos departamentos principais, em que são avaliados: extensão do
desenvolvimento dos departamentos, registro do desempenho e características da
administração.
Análise financeira, em que são avaliados: tendências da situação geral, posição
atual, aproveitamento das informações, estrutura do capital e valor da empresa.
Análise da administração de cúpula, em que são avaliados: identificação e registro
da administração de cúpula, tendências da capacidade da administração de cúpula e
sucessão administrativa.
Para Corrêa (1986), o método de Buchele não é integrado e não são claras as
maneiras de implementá-lo. O próprio criador do método admite falhas, afirmando
que, em função de uma simplificação, só estão consideradas algumas das variáveis
organizacionais, abrindo a possibilidade de algum outro fator relevante ser deixado
de lado em um caso específico (BUCHELE, 1971).
O Método Balanced Scorecard
Os autores Kaplan e Norton foram os idealizadores do método Balanced
Scorecard. O uso do BSC, como é conhecida a metodologia, permite construir,
implementar e manter uma gestão alicerçada na tomada de decisões estratégicas
com vista à competitividade da organização no seu meio ambiente.
39
O BSC é uma abordagem que busca transpor as fronteiras definidas pelos
modelos baseados apenas em indicadores financeiros e que tendem a mostrar
resultados de fatos já ocorridos, não indicando a relação causa-efeito e o que está
sendo feito de maneira correta ou errada (KAPLAN e NORTON, 2001).
O BSC propõe originariamente quatro perspectivas básicas de avaliação:
Financeira – estratégia para crescimento, lucro e risco percebido pela
perspectiva dos acionistas;
Clientes – estratégia para criação de valor e diferenciação pela perspectiva do
cliente;
Processos de negócios internos – prioridades estratégicas para vários
processos de negócios que levam à satisfação do cliente e do acionista;
Aprendizado e crescimento – prioridades para criar uma atmosfera que dê
apoio ao crescimento, à inovação e às mudanças organizacionais.
As chamadas perspectivas adicionais à perspectiva tradicional de finanças
podem dar uma visão mais de longo prazo acerca do desempenho da organização.
A abordagem do BSC vem sendo utilizada por grandes organizações em nível
mundial e já tem despertado interesse também nas organizações de menor porte. O
sucesso constatado da abordagem se deve, entre outras coisas, à sua simplicidade
e forte capacidade de estabelecer a correlação entre a visão da organização e as
ações do dia a dia, que invariavelmente impactam a visão e que, uma vez
gerenciadas, podem somar resultados necessários ao alcance da visão.
Figura 3 – Perspectivas do Balanced Socrecard
Fonte: Kaplan e Norton (2001).
40
O Método Skandia Navigator
Dentro da perspectiva da chamada Gestão do Conhecimento, no início dos
anos 1990, a Skandia, uma empresa sueca da área de seguros e de serviços
financeiros, criou uma ferramenta de mensuração denominada Skandia Navigator,
que passou a orientar a mensuração do desempenho na organização e se tornou
uma das “forças-motrizes no movimento do capital intelectual” (SVELBY, 1998, p.
222), pois permitiria “identificar os resultados para a empresa decorrentes de uma
estratégia baseada na criação de conhecimento” (VON KROGH et al, 2001, p. 118).
O Navigator ou Navegador de Capital Intelectual (CI) “fornece uma imagem
equilibrada do capital financeiro e intelectual” (VON KROGH et al, 2001, p. 118). O
mesmo consiste em cerca de trinta indicadores-chave, divididos em cinco áreas, e o
foco financeiro se refere aos resultados ocorridos (passado); os focos nos clientes,
nos recursos humanos e nos processos voltados ao que ocorre no momento na
empresa (presente). O foco restante está relacionado à capacidade de renovação e
de desenvolvimento da organização, competências que permitem vislumbrar o futuro
da empresa. Cada um dos focos apresenta os chamados indicadores CI, que
“traduzem cada foco em resultados utilizáveis, com a atenção voltada, sobretudo, à
posição estratégica”, possibilitando o uso estratégico do conhecimento (VON
KROGH et al, 2001, p. 118).
Leif Edvinsson, o criador da idéia do Navigator, acrescenta-lhe ainda três
funções:
Apontar as mensurações: deve “indicar a posição, a direção e a velocidade da
organização, formando um conjunto correto de medições, agrupadas
coerentemente em categorias, que formam um todo também coerente;
Olhar para o alto, em direção a medidas mais abrangentes de valor: a
operacionalização das medidas deve permitir uma abstração de um ponto de
vista mais global, facilitando uma análise da organização e a comparação
com outras;
Olhar para fora, em direção ao usuário: apesar das dificuldades que isso
represente, dada a contabilidade tradicional (EDVINSSON e MALONE, 1998).
Para Bokowitz e Pertash apud Yeniyurt (2003), a grande diferença entre o
Skandia Navigator e o Balanced Scorecard é a ênfase que o primeiro dá às pessoas,
41
estando o foco humano no centro das demais perspectivas, ressaltando a satisfação
dos indivíduos e a importância do capital intelectual na aquisição de vantagens
competitivas sustentáveis.
O Método SIGMA Sustaintability Scorecard
O objetivo do modelo é garantir a criação de valor para uma empresa ou
organização por meio do chamado triple bottom line: o resultado econômico, o
resultado da contribuição social e o resultado das ações ecológicas e ambientais
(KAPLAN e NORTON, 2004). A analogia usada para demonstrar a importância
dessa perspectiva é de que os três aspectos, econômico, social e ambiental, seriam
as três únicas pernas de uma mesa, as quais deveriam ter um equilíbrio entre si para
que a própria mesa (a organização) estivesse equilibrada (BENNETT, 2004).
Partindo desses pressupostos, o British Standards Institution, o Forum for the Future
e a organização Accountability, instituições britânicas, ao lado do Departament of
Trade and Industry do Reino Unido, criaram um framework para a mensuração e a
avaliação de desempenho das organizações do mundo inteiro. (SIGMA, 2003).
Para esse fim, há duas grandes mudanças com relação aos tradicionais
scorecards. A primeira delas é que se busca um enfoque de sustentabilidade, em
vez do financeiro; a segunda é que se busca um enfoque dos stakeholders, ao invés
dos clientes (SIGMA, 2003, p. 4).
O SIGMA Sustainability Scorecard é composto por quatro perspectivas
básicas de avaliação de desempenho: perspectiva da sustentabilidade; perspectiva
do stakeholder externo; perspectiva do stakeholder interno e perspectiva do
conhecimento e habilidade. Como processo que envolve toda a organização, a
implementação do SIGMA segue quatro passos:
a) Identificação e concordância da visão, missão e valores organizacionais;
b) Identificação e concordância das principais áreas de desempenho do negócio
para que sejam atingidos a visão, a missão e os valores organizacionais;
c) Construção e concordância dos fatores que relacionam as principais áreas de
desempenho, a visão e a missão; e
d) Identificação e concordância quanto aos indicadores de sucesso, tanto atuais
quanto aqueles a serem desenvolvidos como alvo.
42
Para Crawford (2002), o SIGMA Sustainability Scorecard deve ser implementado
conjuntamente com outras ferramentas e conceitos de sustentabilidade, como
relatórios de responsabilidade social, de impactos ambientais e outros, e deve ser o
grande responsável pelo monitoramento das ações da organização na busca do
equilíbrio nos três eixos.
O Modelo de Gestão Global
Tachizawa (2006) aborda o modelo de gestão de negócios, que tem como
base os conceitos da teoria contingencial e da organização orgânica, de Morgan
(1996). Esse modelo possui como foco os objetivos estratégicos, as decisões
estratégicas e as decisões operacionais, considerando:
Objetivos estratégicos: fornecimento de produtos e serviços com
qualidade voltado à satisfação dos clientes. Indicadores são
relacionados a negócios, como: satisfação dos clientes, rentabilidade
do patrimônio líquido, evolução dos preços de produtos no mercado
etc.;
Decisões estratégicas: implementação de novas tecnologias
desenvolvidas e/ou adquiridas. Prioridade em investimentos para
ampliação da capacidade produtiva e renovação tecnológica.
Indicadores relacionados à qualidade, como: vendas por colaborador
da empresa, participação nos mercados interno e externo etc.; e
Decisões operacionais: programação do processo produtivo para
crescimento uniforme e ordenado. Engajamento e valorização dos
colaboradores. Indicadores relacionados a desempenho, como:
produtividade da mão-de-obra, utilização da capacidade instalada,
investimento em treinamento etc.
Em uma breve comparação entre os modelos de avaliação de desempenho
organizacionais apresentados, pode-se citar a semelhança entre o Balanced
Scorecard, o Skandia Navigator e o SIGMA Sustainabilty Scorecard, que
apresentam, praticamente, os mesmos enfoques, porém num direcionamento
diferente, principalmente no caso do último. Percebe-se, também, uma mudança de
43
um foco, mais direcionado para questões financeiras, como era regra no Tableau de
Bord, até se atingir uma visão Tripple Bottom Line, proposta pelo SIGMA, passando
pela integração de elementos não financeiros, defendida arduamente por Kaplan e
Norton. É possível apontar, ainda, um movimento no sentido de serem diminuídos os
enfoques propostos pelos métodos – quatro ou cinco, no máximo, para os mais
recentes, enquanto que Martindell e Drucker, por exemplo, sugeriam uma maior
quantidade de aspectos a serem analisados.
2.2.2 Avaliação de desempenho nas Organizações sem fins lucrativos
A preocupação com acompanhamento, avaliação, desempenho e resultados
é fato recente no contexto das organizações sem fins lucrativos. (DINIZ e MATOS,
2003). Segundo Tenório (2005), as organizações em questão estiveram, no curso do
século XX, protegidas das turbulências do ambiente externo; nesse período, o
mercado ocupou o centro do palco das mudanças.
Sendo assim, para o atendimento de expectativas e necessidades
relacionadas aos diferentes atores envolvidos, as organizações sem fins lucrativos
se viram obrigadas a avaliar suas atividades e resultados. Observa-se, no entanto,
que as realizações nas organizações sem fins lucrativos raramente são exatas,
possuindo caráter mais subjetivo, com dados difíceis de serem quantificados
(HUDSON,1999).
Conforme Tenório (2005), o trabalho realizado pelas organizações do Terceiro
Setor apresenta dificuldade para ser avaliado, seja pela perspectiva do longo prazo
ou por seu caráter mais qualitativo; segundo o autor, ele é medido pela promoção
social que venha gerar. Corroborando com a ideia, Nanus e Dobbs (2001) afirmam
que o trabalho das organizações sociais não é medido pelo lucro, mas em termos de
promoção do bem social. Para os autores, “bem social” é o fim, o propósito e a
missão fundamentais pelos quais as organizações sem fins lucrativos existem. São
benefícios sociais, educacionais, culturais e outros que acontecem na sociedade por
meio da ação das organizações sem fins lucrativos.
De acordo com Gohn (1998b), os doadores mantinham a renda sem
perguntar pela capacidade de atendimento das necessidades e da eficiência na
utilização dos recursos; conseqüentemente, o quadro de estabilidade conduziu a
uma acomodação das organizações do Terceiro Setor. Ainda no entender de Gohn
44
(1998), tal ambiente mudou drasticamente quando ocorreu o aumento da demanda e
dos níveis de exigência em relação à eficiência das organizações em estudo: de
iniciativas introvertidas passaram à abertura das portas voltadas para o ambiente;
isso significou que a sociedade lançou o desafio à relevância social dessas
organizações, ao mesmo tempo em que ampliou as demandas por seus serviços e
passou a questionar sua eficácia.
A ênfase passou a residir na sustentabilidade financeira e na concepção de
resultados mensuráveis, levando as organizações sem fins lucrativos a se
apropriarem de métodos administrativos profissionais, incorporando conceitos e, em
muitos casos, a lógica utilizada no setor privado e público (ROSSI JÚNIOR, 2001).
Jordan (1997), em artigo onde analisa a carreira do administrador no Terceiro Setor,
identifica que o mesmo “deve conhecer o papel das instituições sem fins lucrativos,
modelos de gestão adequadas a essas instituições, fund raising (captação de
doações de empresas), marketing voltado para a divulgação da ação social (...)”.
Continua o autor, “Ele se defrontará com uma série de dificuldades, tais como
avaliação do impacto e dos resultados de seus projetos, planejamento da aplicação
dos recursos (...) desenvolvimento de marketing apropriado” (JORDAN 1997, p.4). É
perceptível, no pequeno trecho transcrito, várias expressões que denotam o caráter
iminente das exigências feitas às organizações sem fins lucrativos no que diz
respeito ao acompanhamento e à avaliação do seu desempenho.
Tenório (2005) propõe para avaliação, a adoção das medidas de eficiência –
melhor forma de fazer algo com os recursos disponíveis; eficácia – fazer o que deve
ser feito, cumprir o objetivo determinado, eficácia – capacidade de atender às
expectativas da sociedade. Entende o autor que, a partir das medidas sugeridas,
busca-se não só o desenvolvimento, como também a sobrevivência das
organizações do Terceiro Setor, pois a partir desses referenciais, as organizações
encontrarão a melhor forma de atenderem às expectativas de todos os envolvidos
em suas ações e também o modo de realizarem o trabalho necessário à produção e
prestação de serviços, aproveitando da melhor maneira possível os recursos
disponíveis (TENÓRIO, 2005).
Segundo Aguilar e Ander-Egg (1994), considerando o contexto de programas
sociais, a avaliação de desempenho tem como intuito conhecer o andamento dos
processos, ou seja, identificar até que ponto os objetivos estão sendo alcançados,
45
como está ocorrendo a prestação de serviços ou de que forma uma situação-
problema está sendo modificada.
Barreira (2002) alerta que a avaliação de políticas e programas sociais atuais
vai além das características de medição, transformando-se em um processo de
julgamento de mérito, valor e validade.
Cohen e Franco (1993) descrevem os tipos de avaliação de desempenho
aplicados a projetos sociais: em função do momento em que se realiza, de quem
realiza, da escala de projetos e dos destinatários.
a. Em função do momento da aplicação – os tipos de avaliação são descritos
por Cohen e Franco (1993) como avaliação ex-ante e ex-post. A avaliação
ex-ante refere-se à análise da viabilidade e relevância do programa antes
de sua implantação. A avaliação ex-post é aquela efetuada após a
execução do projeto, quando se “pretende estabelecer o grau de eficiência
do desempenho do projeto e determinar em que medida se está atingindo
os objetivos procurados na população-meta do mesmo” (COHEN e
FRANCO, 1993, p.139).
b. Em função de quem as realiza – os tipos de avaliação são categorizados
como externas, quando são efetuados avaliadores externos
especializados, contratados pela organização; internas, quando são
efetuadas por membros da organização; mistas, quando são efetuadas por
avaliadores externos e internos; e, participativas, as que “têm como
interesse central conciliar o uso dos dados da avaliação para a solução de
problemas práticos inseridos em um específico contexto organizacional”
(BARREIRA, 2000, p. 72).
c. Em função de escala dos projetos – os tipos de avaliação estão divididos
em projetos grandes e projetos pequenos; e as avaliações em função dos
destinatários, que são aplicadas em indivíduos ocupando diferentes
posições na organização: dirigentes, administradores e técnicos.
d. Em função dos destinatários – os tipos de avaliação são aplicados em
indivíduos ocupando diferentes posições na organização: dirigentes,
administradores e técnicos.
Baptista (2000, p.117) destaca as avaliações de eficiência, eficácia e eficácia.
A avaliação de eficiência, segundo a autora, incide diretamente sobre a ação
46
desenvolvida e tem como principal objetivo “reestruturar a ação para obter, ao menor
custo e ao menor esforço, melhores resultados”. Os critérios de eficiência englobam
o rendimento técnico e administrativo da ação. A avaliação da eficácia refere-se à
adequação da ação para o alcance dos objetivos e das metas previstas,
considerando também o grau em que os mesmos foram alcançados. Já a avaliação
da eficácia refere-se ao estudo do impacto do planejado sobre a situação, bem como
o estudo dos efeitos da ação sobre o objetivo do planejamento.
Para Mendonça e Araújo (2005, p. 8), a análise da accountability e
aprendizado organizacional, em organizações sem fins lucrativos, pode ocorrer tanto
de forma vertical quanto horizontal. Verticalmente “para baixo, atendendo
beneficiários e estruturas de base da organização, e para cima, atendendo aos
financiadores, principalmente”. E horizontalmente, “atendendo a parceiros e outros
stakeholders”.
Segundo Bettiol Junior (2005), a análise dos resultados de instituições sem
fins lucrativos pode abranger os benefícios diretos, aqueles recebidos pelos
beneficiários diretos dos serviços prestados pelas entidades sem fins lucrativos; e
benefícios indiretos, aqueles que se irradiam pela sociedade, influenciando o
comportamento e o modo de vida da população.
Tenório (2005) destaca como formas de mensuração de resultados em
organizações sem fins lucrativos a observação direta e o contato pessoal; métodos
automáticos; relatórios orais e escritos; gráficos e tabelas e testes com amostras. A
principal vantagem da técnica de observação direta, segundo o autor, é a rápida
percepção da situação e dos atuais problemas de gestão. Além de proporcionar uma
forma mais eficaz de comunicação e compreensão, através do contato direto,
reduzindo interferências entre receptor e transmissor. A principal desvantagem
reside no tamanho e complexidade da organização que, de acordo com o nível
encontrado, dificulta muito o processo de análise somente através de observação e
contato direto.
No que se refere aos métodos automáticos, Tenório (2005, p.106) os
descreve como forma de “incremento na precisão e na rapidez da mensuração,
muitas vezes, substituindo o homem neste papel ou desempenhando uma função
que está além das possibilidades do ser humano”.
Os relatórios orais e escritos podem ser descritos como a normatização da
observação direta, através da sistematização e transmissão de informações relativas
47
ao objeto observado. Tenório (2005) destaca como principal vantagem desse
método, o maior detalhamento das informações, sendo de grande valia para a
mensuração de padrões qualitativos, os quais exigem tratamento mais analítico.
Além disso, a circulação de tais relatórios na organização contribui para o aumento
da transparência e democratização dos processos.
Os gráficos e tabelas “permitem a representação de situações muitas vezes
complexas e cuja compreensão seria dificultada sem a sua utilização” (TENÓRIO,
2005, p.106). O autor destaca o uso complementar da técnica em relatórios, como
forma de ilustração das afirmações obtidas. Além disso, facilitam o processo
comparativo de resultado no tempo e espaço, em especial os resultados
quantitativos.
Os testes com amostras também são destacados por Tenório (2005, p. 107),
“em situações em que as características do objeto a ser mensurado permitem a
seleção de amostras representativas do universo em questão”.
O SIGMA Sustainability Scorecard é um dos modelos aplicados às
organizações sem fins lucrativos, o qual, segundo Hourneaux Junior et al. (2005) é
composto por quatro perspectivas básicas de avaliação de desempenho: perspectiva
da sustentabilidade; perspectiva do ator externo; perspectiva do ator interno; e
perspectiva do conhecimento e habilidade, conforme ilustrado a seguir:
Perspectivas Pressupostos
PERSPECTIVA DA SUSTENTABILIDADE A forma como se vê/entende o sucesso da
organização em termos de sustentabilidade.
PERSPECTIVA DO ATOR EXTERNO A forma com que a organização se compromete e se
responsabiliza por seu público externo, a fim de
alcançar contribuições para o desenvolvimento
sustentável.
PERSPECTIVA DO ATOR INTERNO A forma com que as atividades administrativas e
operacionais devem ser realizadas a fim de
satisfazer o público interno e alcançar sua
contribuição para o desenvolvimento sustentável.
PERSPECTIVA DO CONHECIMENTO E
HABILIDADE
A forma com que a organização aprende, inova e
melhora suas atividades e processos administrativos,
a fim de alcançar contribuições para o
desenvolvimento sustentável.
Quadro 3: SIGMA Sustainability Scorecard
Fonte: Hourneaux Junior et al. (2005). Elaborado pela autora
48
Numa pesquisa do Observatório da Realidade Organizacional e com base nos
modelos de avaliação de desempenho aplicados a projetos e programas sociais,
Cunha (2008) elaborou um quadro que relaciona diferentes modelos de avaliação
aos principais fatores analisados, citados por autores neste tema, a fim possibilitar a
configuração do quadro de indicadores, conforme pode ser visto a seguir:
MODELOS DE
AVALIÃO
PRINCIPAIS AUTORES FATORES ANALISADOS
Modelos de avaliação
ex-ante e ex-post
Cohen e Franco
• Avaliação ex-ante: análise da viabilidade e
relevância do programa.
• Avaliação ex-post: análise do grau de
eficiência e do alcance dos objetivos.
Modelos de
Mensuração do
Resultado Econômico
Slomski • Margem bruta: identifica-se a receita
econômica e subtraem-se os custos dos
serviços.
• Resultado econômico: é o resultado da
subtração da depreciação e dos custos
indiretos identificáveis do serviço, da margem
bruta apurada.
Modelo
Multidimensional
Integrated Model of
Nonprofit
Organizational
Effectiveness
(MINMOE)
Sowa
• Eficácia da gerência: indicação formal da
missão/planejamento estratégico/os sistemas
dos recursos humanos/auditoria financeira
externa/sistema ou sistemas da tecnologia de
informação.
• Eficácia do programa: a tecnologia usada
nos processos de entradas e saídas de suas
operações/análise documental das etapas de
implementação das ações/nível de recursos
materiais fornecidos a um programa.
Modelos de pesquisas
avaliativas
Aguilar e Ander-Egg
• Grau de PIEEE (pertinência, idoneidade,
efetividade, eficácia e eficiência): verificação
da avaliação da adequação e oportunidade
do projeto/alinhamento das metas e
objetivos/medição do custo pressuposto.
• Êxitos e fracassos: disposições
legais/identificação do apoio político da
organização/análise dos recursos
financeiros/influência das condições sociais e
econômicas/valores culturais ou religiosos.
• Tomada de decisões: obstáculos devidos a
práticas utilizadas nos processos de tomada
de decisões técnico-administrativas.
High-Performance
Work System (HPWO)
Kalleberg
• Funcionamento de equipes: uso de equipes
de trabalho/autonomia para desenvolver as
atividades/encontros para solução de
problemas/análise do processo de escolha do
líder/número de equipes autodirigidas.
• Multitarefa: número de treinamentos
cruzados/práticas de rotatividade de
funções/frequência de transferências para
atuação em outros projetos.
• Práticas de incentivo: compartilhamento de
ganhos/prêmios pelo desenvolvimento de
novas habilidades/divisão de lucros ou
programas de bônus.
• Gestão de comitês: implementação de
novas tecnologias/controle de qualidade ou
melhoria/gargalos de produção/saúde e
segurança.
Modelo de avaliação Johnson e Greening • Relações com a comunidade/diversidade de
49
com base na presença
de stakeholders
questões abordadas/ relacionamento entre os
colaboradores/clima organizacional/questões
relacionadas a produtos ou
serviços/representação da comunidade no
corpo diretivo/representação dos clientes no
corpo diretivo/representação dos
colaboradores no corpo
diretivo/representação de fornecedores no
corpo diretivo/tamanho do corpo
diretivo/tamanho da organização/segmento
de atuação.
Modelo do bem
social/do capital
organizacional/da
energia social
Nanus e Dobbs
Bem social: grau do beneficiamento da
sociedade, com determinada ação, através
da medição do nível de aproveitamento do
programa ou o número de pessoas atendidas.
• Capital organizacional: aumento de capital
humano e financeiro e de instalações e
equipamentos; as alianças estratégicas, a
qualidade e eficácia dos sistemas
operacionais e a importância da organização
para a comunidade.
• Energia social: análise do
comprometimento, ética e entusiasmo dos
envolvidos.
Modelo Social Return
on Investiment (SROI)
The Roberts Enterprise
Development Fund – REDF
Medição do valor do negócio, para
evidenciar a criação de valor econômico.
• Medição do valor da causa social, para
evidenciar a criação de valor sócio-
econômico.
• Medição do valor do conjunto: para
evidenciar a criação de valor sócio-
econômico.
Matriz do Marco Lógico
(MML)
United States Agency for
International
Developments (USAID) e
o BID
• Análise dos impactos do projeto.
• Análise dos resultados diretos a serem
alcançados.
• Definição dos componentes do projeto
(produtos e serviços utilizados).
• Descrição das atividades do projeto e
cronograma dos componentes.
Ainda segundo a autora, a análise comparativa proposta permite perceber
que fatores como critérios financeiros, planejamento e alcance das metas são
características comuns nas ferramentas de avaliação de desempenho aplicadas a
projetos e programas sociais. O predomínio desses critérios que, segundo o
enquadramento de Quinn e Rohrbaugh (1983), compõem os modelos de metas
racionais, pode ser justificado pela razão instrumental preponderante na sociedade
de hoje (CUNHA, 2008).
Alguns elementos marcantes característicos das ferramentas aplicadas às
organizações sem fins lucrativos, apesar de não serem predominantes, são critérios
de avaliação relacionados aos elementos externos à organização, no que se refere à
Quadro 4 - Modelos de avaliação de desempenho de organizações sem fins lucrativos
Fonte: adaptado de Cunha (2008).
50
preocupação com o impacto na comunidade, às relações entre os atores envolvidos
e à transparências das ações (CUNHA, 2008).
Contudo, salienta Silva (2005), a questão de como entender e avaliar a
eficácia de organizações sem fins lucrativos continua a deixar pesquisadores
desgostosos, à medida que a área social não dispõe de um acúmulo teórico sobre o
tema e necessita de respostas específicas que podem diferir das procuradas pelo
campo empresarial.
Segundo Mistry (2007), a maioria dos pesquisadores faz comparações entre
os métodos de avaliação das organizações, mas poucos publicam pesquisas que
explorem uma gama maior de visões. Enquanto se pode argumentar que cada
indivíduo envolvido com a organização tem um pensamento diferente, fica irreal
isolar cada ponto de vista e assim estudá-lo (CONNOLY et al, 1980). No entanto,
quando usado um exemplo representativo que defina indivíduos ou grupos de
acordo com a sua relação com a organização, diferenças significativas nas
percepções da avaliação de desempenho podem ser identificadas (MISTRY, 2007).
51
3 METODOLOGIA
O presente capítulo tem como objetivo delinear a forma da pesquisa proposta,
bem como auxiliar na compreensão do processo de pesquisa. Segundo Deslandes
(1994), é no capítulo da metodologia que acontece a descrição dos métodos e
técnicas utilizados pelo pesquisador. Sendo assim, verifica-se que a metodologia
científica atua como estrutura da pesquisa, para que se possa, de forma organizada,
desenvolver os processos que a envolvem.
3.1 Abordagem da pesquisa
Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa predominantemente
qualitativa, uma vez que não pretende levantar fatos e medir a frequência de certos
padrões. Segundo Roesch (1999), a pesquisa qualitativa procura as suas respostas
dando ênfase à perspectiva dos indivíduos pesquisados, buscando captar as
perspectivas e interpretações das pessoas em relação à realidade na qual estão
inseridas, sem fazer uso de medidas objetivas em sua coleta e de estatísticas para
fundamentar suas análises e interpretações.
Para Vieira (2004, p. 17), “a pesquisa qualitativa pode ser definida como a
que se fundamenta principalmente em análises qualitativas, caracterizando-se, em
princípio, pela não utilização de instrumental estatístico na análise dos dados” e,
ainda, a versão qualitativa de pesquisa garante a riqueza dos dados, permite ver um
fenômeno na sua totalidade, bem como facilita a exploração de contradições e
paradoxos (VIEIRA, 2004).
Conforme Triviños (1994), entre os tipos de pesquisa qualitativa, o estudo de
caso talvez seja um dos mais relevantes. Godoy (1995) e Triviños (1994) entendem
que o estudo de caso é uma categoria de pesquisa cujo objetivo é analisar
profundamente uma unidade específica. O presente trabalho caracteriza-se como
um estudo de caso, pois tem o intuito de analisar os critérios de avaliação de
desempenho, na perspectiva dos atores envolvidos na dinâmica de uma
organização sem fins lucrativos específica.
52
Babbie (1998) ressalta que existem dois tipos de classificação do estudo em
relação ao tempo: estudo de corte transversal e longitudinal. Na presente pesquisa
adota-se a perspectiva transversal, uma vez que se investiga uma situação num
período de tempo específico, ou seja, busca-se visualizar a resposta para o
problema de pesquisa em um momento determinado e não verificar as
transformações que eventualmente tenham ocorrido nessa realidade.
De maneira resumida, pode-se dizer que o trabalho ora apresentado
caracteriza-se por ser uma pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso, na qual
se pretendeu analisar as concepções de desempenho na visão dos atores
envolvidos na dinâmica de uma organização sem fins lucrativos. Pode-se dizer,
também, que é um estudo descritivo e interpretativo, já que teve por finalidade
detalhar e analisar as posições, as perspectivas dos diferentes grupos em foco e é
também um estudo com corte transversal, tendo em vista que a análise foi
referente a um momento específico na vida da organização, o segundo semestre de
2008.
3.2 Universo da pesquisa
Para o atendimento dos objetivos do estudo, o universo de pesquisa consiste
nos atores envolvidos em uma organização sem fins lucrativos, ou seja, os diversos
grupos de sujeitos envolvidos com a organização Instituto Guga Kuerten – seus
diretores, funcionários, voluntários, usuários e financiadores. A escolha dos
entrevistados segue o critério da acessibilidade, neste caso, a própria organização
em estudo indicou um número de sujeitos (cinco) de cada grupo de atores e a
definição da quantidade de entrevistados ocorreu na medida em que se encontrou a
saturação nas respostas (repetição dos mesmos tipos de depoimentos sobre os
temas em discussão). Assim sendo, observou-se que para o atendimento da
proposta do estudo, três indivíduos de cada grupo de atores envolvidos na
organização, seriam suficiente.
A pesquisa objetiva extrair tais versões e percepções diferentes, a fim de
compará-las. A percepção de cada grupo de atores envolvidos numa organização
sem fins lucrativos será observada, pois se parte do pressuposto que cada sujeito
possui uma construção do que deve ser avaliado em termos de desempenho
organizacional. Sendo assim, o estudo não objetiva avaliar a organização.
53
A escolha do caso estudado – o Instituto Guga Kuerten – deu-se a partir da
aproximação da pesquisadora com a organização em questão, o que permitiu maior
facilidade no acesso às informações e no contato direto com os indivíduos
pesquisados.
3.3 Definição das categorias de análise
Dando continuidade ao estudo e baseando-se no problema de pesquisa
proposto, pretendeu-se identificar quais as concepções de desempenho na
perspectiva dos atores de uma organização sem fins lucrativos. Assim, concepções
de desempenho organizacional constitui a categoria de análise do estudo. Nesse
sentido, busca-se identificar se existem ou não diferentes concepções de
desempenho, considerando-se cada grupo de atores analisado ou se a mesma
perspectiva de desempenho é compartilhada por diferentes tipos de sujeitos. A
categoria de análise definida deve oferecer subsídios para a compreensão das
possíveis relações de hierarquização, subordinação ou composição que podem
ocorrer entre as concepções de desempenho existentes na organização. Ressalta-
se, assim, que as análises a serem obtidas podem oferecer subsídios para outros
trabalhos que visem aprofundar o entendimento da complexidade dessa dinâmica.
De acordo com os autores pesquisados, há duas formas de se estabelecer
uma definição de categorias de análise – a constitutiva e a operacional. A
constitutiva refere-se à definição de palavras a partir da utilização de outras
palavras, sendo que normalmente são definições do dicionário e usadas por todos
(KERLINGER, 1980). A definição operacional “atribui significado a um construto ou
variável, especificando as atividades ou operações necessárias para medi-lo ou
manipulá-lo” (KERLINGER, 1980, p. 46).
Seguem as definições constitutivas e operacionais das categorias de análise
desta pesquisa.
3.3.1 Definição constitutiva das categorias de análise
Adotou-se como definições constitutivas da categoria de análise,
anteriormente relacionada:
54
Desempenho organizacional – o desempenho pode ser mensurado pela
avaliação e medição da eficiência, eficácia, qualidade, produtividade, inovação,
lucratividade etc. da organização, tendo como pressuposto o objetivo ou a meta da
mesma.
Conforme o conceito proposto por Quinn e Cameron (2005), o desempenho
organizacional pode ser avaliado por meio da eficácia, em quatro modelos:
Modelo de objetivos: propõe medir o grau de alcance dos objetivos
organizacionais, tal como produtividade, número de unidades/serviços
produzidos, dados de receita e de despesa e qualidade, sendo o
planejamento um meio para a eficácia organizacional.
Modelo de sistemas abertos: neste modelo de avaliação há ênfase na
maximização de sua posição de barganha e otimização de recursos no
ambiente.
Modelo de recursos humanos: por meio desse modelo, pode-se observar que
as características comportamentais de indivíduos ou grupos dentro da
organização, tais como coesão, satisfação e qualificação profissional,
possuem importância no contexto organizacional.
Modelo de processos internos: modelo que possui uma significativa
preocupação com a estabilidade e o controle dos processos, dando ênfase à
disponibilidade das informações acerca dos recursos materiais e
tecnológicos existentes. (SILVA apud QUINN e CAMERON, 2005).
3.3.2 Definição operacional das categorias de análise
A categoria desempenho organizacional será obtida por meio da percepção
dos diferentes atores envolvidos em uma organização sem fins lucrativos a respeito
do assunto. A fim de operacionalizar a categoria em questão, a concepção de
desempenho foi abordada a partir dos tópicos: o conceito de desempenho; como a
avaliação de desempenho ocorre no IGK; como a avaliação de desempenho deveria
ocorrer no IGK; e como o IGK poderia ser mais eficaz, na perspectiva dos atores
pesquisados.
Busca-se, neste estudo, relacionar a concepção dos atores selecionados aos
elementos constitutivos dos diferentes modelos de desempenho encontrados na
literatura, operacionalizados conforme os apontamentos no quadro que segue.
55
ModelodeEficácia Características
Metasracionais
Estabelecimentodeobjetivosquantificáveis
Custodosserviçosprestados
Dadosdasreceitas/despesas
Padrõesdequalidade
Númerodeprodutos/serviçosoferecidos
Produtividade
Tomadadedecisãoecontrolecentralizados
Planejamentointensivo
Qualidadenoatendimento
Processosinternos
Comunicaçãoeficaz
Ênfasenaprevisibilidade
Mecanismosdecontrole
Disponibilizaçãodasinformaçõespormeiodedocumentos
Planejamentointensivodasatividades
SistemasAbertos
Aquisiçãoderecursos
Parceriascomoutrasorganizações
Divulgaçãodosprodutos/serviços
Relaçõessociaisedepoder
Flexibilidade
Preocupaçãocomoimpactosocial
Satisfaçãodoclienteexterno
RelaçõesHumanas
Desenvolvimentoecapacitaçãodosenvolvidos
Qualificação/Habilidadesexigidasdosenvolvidos
Satisfaçãodopúblicoalvo
Flexibilidade
3.4 Coleta de dados
A coleta de dados é uma etapa de grande importância no processo de
pesquisa. Segundo Loriggio (2002, p.101) “na coleta de dados, a preocupação
alcança maior abrangência que o próprio problema, pois é nessa fase que será
montada uma base de dados que servirá para o processo de análise das possíveis
causas dos problemas”.
Este estudo utiliza-se, como forma de coleta de dados, a entrevista
semiestruturada. Para Triviños (1994), a entrevista semiestruturada parte de certos
questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses que interessem à
pesquisa e que, em seguida, ofereçam amplo campo de interrogativas, fruto de
novas hipóteses que vão surgindo à medida que vão sendo recebidas as respostas
Quadro 5 – Definição operacional da categoria avaliação de desempenho organizacional
56
do informante. Para tanto, há um roteiro definido para guiar o pesquisador nas
entrevistas, na intenção de que as mesmas sigam os objetivos específicos da
pesquisa.
Para o melhor entendimento do universo de pesquisa, o estudo utiliza-se,
ainda, de observação direta. Segundo Chizzotti (2001, p. 90), “a observação direta
é obtida por meio do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado,
para recolher ações dos atores em seu contexto natural, a partir de sua perspectiva
e seus pontos de vista”.
Neste trabalho, a observação caracteriza-se como de tipo aberta, visto que a
pesquisadora a executará a partir de visitas, com o objetivo de interpretar os
mecanismos de avaliação de desempenho, utilizados pelos atores envolvidos na
organização, e os indivíduos/organização pesquisados ficarão cientes do estudo
realizado.
Como fontes de dados secundários, são utilizados documentos
organizacionais e informações colhidas no site da entidade. Segundo Roesch
(1999), uma das fontes de dados mais utilizadas em trabalhos de pesquisa em
Administração é a análise de documentos emitidos pelas organizações, como
relatórios anuais de administração. Normalmente tais fontes são utilizadas para
complementar os levantamentos de dados feitos por entrevistas e observações.
Sendo assim, a análise documental será utilizada para obter informações
necessárias ao desenvolvimento da pesquisa, principalmente no que tange à
caracterização da organização pesquisada.
3.5 Análise dos dados
A fase de análise de dados coletados caracteriza-se pelo tratamento conferido
aos mesmos. Por se tratar de pesquisa predominantemente qualitativa, optar-se-á
pela técnica de análise de conteúdo.
Segundo Richardson (1985, p. 162), o pesquisador que utiliza a análise de
conteúdo tem a possibilidade de não somente ater-se ao conteúdo manifesto obtido
na pesquisa, mas também ao conteúdo latente que esta possui, o qual abre
perspectivas, muitas vezes, “[...] para descobrir ideologias, tendências, etc. das
características dos fenômenos sociais que se analisam”.
57
A principal forma de análise de conteúdo empregada neste estudo será a
categorial. A categorização, de acordo com Bardin (1977), permite reunir maior
número de informações à custa de uma esquematização e assim correlacionar
classes de acontecimentos para ordená-los. A categorização representa a passagem
dos dados brutos aos dados organizados. Após a transcrição das entrevistas, os
dados serão analisados, efetuando-se um comparativo entre as informações e as
categorias de análise definidas para este trabalho. Logo, será possível observar os
modelos de valores de eficácia predominantes em ambos os atores pesquisados.
Além da utilização da técnica de análise de conteúdo, também serão
efetuadas análises documentais. Segundo Richardson (1985, p. 182), “[...] a análise
documental consiste em uma série de operações que visam estudar um ou vários
documentos para descobrir as circunstâncias sociais e econômicas com as quais
podem estar relacionados”. O método possibilita a investigação de documentos
relacionados ao estudo e à confrontação com os dados colhidos nas entrevistas e
nos questionários, para garantir o maior número de informações, de modo a
responder a pergunta de pesquisa.
3.6 Limitações do estudo
Uma limitação do estudo é o fato de tratar-se de um estudo de caso, o que
implica a restrição da investigação ao caso analisado e ao período abarcado, sendo
que seus resultados não se aplicarão a outras organizações sem fins lucrativos.
Assim, os resultados obtidos ao final da presente proposta de estudo não poderão
ser generalizados. Contudo, servirão para aprofundar os conhecimentos acerca do
tema, permitindo um olhar mais crítico sobre a discussão.
O fato de a organização em estudo ter indicado os sujeitos que foram
entrevistados, pode ser considerado uma limitação, haja vista que as respostas
apresentadas podem apresentar algum tipo de viés.
A pesquisa tem, também, como limitação, a aproximação da pesquisadora
com o objeto pesquisado. Outro registro é que as conclusões do estudo estarão
limitadas à definição operacional das categorias de análise adotadas pela autora.
58
4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
O capítulo que se inicia tem como objetivo caracterizar o caso estudado – o
Instituto Guga Kuerten, bem como seus atores e as concepções de desempenho
dos mesmos. O estudo optou por tal recorte em virtude da escassez de pesquisas
que concentrem uma única organização e analisem a gama de percepções de
atores dentro da mesma.
São expostos, primeiramente, o histórico e a caracterização da organização e,
na sequência, as características dos atores envolvidos na mesma, sistematizadas da
seguinte forma: tipo de vínculo com a organização, tempo de atuação, atividade
desenvolvida, envolvimento no processo decisório e conhecimento sobre a
organização. Apresentada a caracterização, são mostradas as concepções de
desempenho na perspectiva de cada ator.
Para entendê-las, buscou-se identificar, a partir dos depoimentos coletados, o
entendimento dos sujeitos sobre qual seria o papel da organização e qual o alcance
do mesmo; o modo como acontece e como deveria ocorrer a avaliação de
desempenho na organização, na concepção dos entrevistados.
Por último, procurou-se comparar as concepções de desempenho dos atores
envolvidos no Instituto Guga Kuerten entre si e com os modelos de eficácia
organizacional apresentados no capítulo de fundamentação teórica deste estudo.
A seguir, são apresentados os dados coletados por meio das entrevistas
semiestruturadas, aplicadas junto aos atores e da análise de documentos
disponibilizados pela organização estudada.
4.1 O Instituto Guga Kuerten
O Instituto Guga Kuerten (IGK) é uma organização sem fins lucrativos e,
segundo a presidente, Alice Kuerten, surgiu como uma forma de organizar e ampliar
o envolvimento da família de Gustavo Kuerten em ações sociais. Com o sucesso do
tenista brasileiro e suas vitórias em grandes campeonatos internacionais de tênis de
alto nível, a família Kuerten mobilizou esforços, recursos e estabeleceu parcerias
para o desenvolvimento de ações sociais. Seus objetivos são exclusivamente
educacionais, esportivos e sociais, de caráter filantrópico.
59
É uma associação civil, ou seja, pessoa jurídica de direito privado, sem fins
lucrativos, com sede e foro na cidade de Florianópolis, estado de Santa Catarina,
situada na Avenida Madre Benvenuta, 1168, sala 201, Centro Executivo Aldo
Kuerten, Santa Mônica, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Como uma
organização sem fins lucrativos, rege-se por um Estatuto Social e possui órgãos
estatutários: Conselho de Administração; Diretoria; Conselho Consultivo; e Conselho
Fiscal.
O Instituto Guga Kuerten foi lançado oficialmente no dia 17 de agosto de
2000, na sua cidade sede. A missão da entidade é bastante ampla e, conforme a
coordenadora social, consiste em: "articular, promover e apoiar ações que visem
oferecer oportunidades de desenvolvimento e integração social para todos os
cidadãos, buscando fortalecer a cultura de solidariedade entre os membros de nossa
sociedade".
O IGK possui um quadro funcional composto de 19 membros dos órgãos
estatutários (“diretores”), 09 funcionários remunerados, 04 estagiários e 05
voluntários, divididos em duas áreas:
o Área social – é responsável pelo Programa do Fundo de Apoio a Projetos
Sociais e conta com 04 funcionários (sendo uma Coordenadora Social e
uma supervisora), que são profissionais das áreas de Administração,
Serviço Social e Pedagogia; e
o Área de esporte – é responsável pelo Programa Esporte e Educação
Campeões da Vida e conta com 05 funcionários (sendo um Coordenador
Esportivo e um Supervisor), 04 estagiários e 05 voluntários; todos
pertencem às áreas de Educação Física, Psicologia, Pedagogia e Serviço
Social.
A estrutura geral do IGK pode ser visualizada na figura a seguir:
60
Figura 4 – Estrutura geral do IGK
Fonte: Elaborado pela autora.
Conforme a coordenadora social, Silvana Medeiros, os objetivos do IGK são
exclusivamente educacionais, esportivos e sociais, e guiados pelo caráter
filantrópico, consistindo em:
a) Incentivo, manutenção e acompanhamento de atividades esportivas,
identificando e desenvolvendo novos talentos, despertando o espírito de
equipe e atuando na prevenção à marginalidade, sempre condicionando a
participação à frequência escolar; e
b) Atendimento ao portador de deficiência, seja por meio de estudos e
projetos de prevenção, pesquisa, educação, integração e/ou
desenvolvendo ações relacionadas ao lazer, habitação, saúde e
profissionalização desse segmento.
A entidade possui dois programas principais que orientam sua dinâmica geral:
4.1.1 Fundo de Apoio a Projetos Sociais (FAPS)
A entidade possui o programa FAPS, que financia projetos sociais voltados
para a integração da pessoa com necessidades especiais, e/ou que utilizem o
esporte como estratégia de desenvolvimento integral de crianças e adolescentes.
O FAPS foi criado em 2001, a partir de cotas doadas por parceiros do IGK –
atualmente, Aurora, Baesa, Banco do Brasil e Fundação Lemann. Cada parceiro é
convidado a investir uma cota anual conforme sua preferência, utilizada para
financiar diretamente os projetos selecionados e para custear o processo de
Conselho Fiscal
Coordenação Social
Supervisão Social Supervisão Esportiva
Coordenação Esportiva
Conselho Consultivo
Diretoria
Assembléia Geral
61
acompanhamento técnico dos referidos projetos. Os valores que cada parceiro
investiu não foram informados.
A cada ano são abertas inscrições na área de atuação e região previamente
estabelecidas, a fim de que as organizações sociais apresentem projetos a serem
financiados.
Os Projetos são revisados, primeiramente, pela Comissão Técnica do IGK,
formada pela coordenadora e pela supervisora da área social, para análise de sua
viabilidade e qualidade técnica. A seleção final é feita pelo Comitê Avaliador, que
conta com a participação de representantes dos parceiros financiadores e membros
do Conselho do IGK.
O acompanhamento técnico e a avaliação dos projetos são realizados por
profissionais da área social do IGK e por membros dos órgãos estatutários, que
atuam como consultores. De acordo com a coordenadora social, durante esse
acompanhamento são oferecidas oportunidades de orientação e capacitação,
visando ao fortalecimento institucional das organizações sociais para que elas
atinjam plenamente os objetivos estabelecidos nos projetos.
Desde 2001, quando o programa foi implantado, até o final de 2004, o FAPS
financiou as ações de 162 projetos, num total de R$ 2.648.310,85, em sete
microrregiões do estado, conforme mostra a figura:
Figura 5 – Regiões atendidas pelo FAPS
Fonte: www.igk.org.br/programas_faps.htm
62
4.1.2 Programa Esporte e Educação Campeões da Vida
O segundo programa desenvolvido pelo IGK é o Programa Esporte e
Educação Campeões da Vida, que acontece a partir de parcerias com entidades que
já desenvolvem ações educativas com crianças e adolescentes e ainda não dispõem
de estrutura para as atividades esportivas, buscando, assim, a integração de várias
atividades que assegurem o desenvolvimento integral dessas crianças e
adolescentes.
Os financiadores do programa em questão são divididos em dois blocos:
o Patrocinadores - aqueles que contribuem com recursos financeiros.
São eles: Hantei Engenharia, Koerich Incorporações, Pedra Branca
Urbanismo Sustentável, Enercan Campos Novos Energia S.A.,
Baesa, Fundação Lemann e Centauro Esportes; e
o Apoiadores - organizações que contribuem de forma institucional, ou
seja, por meio de recursos não monetários, como instalações,
transporte e equipamentos. São eles: Associação Catarinense de
Medicina, Jotur, Eletrosul, Unisul, Udesc, Diadora e Head.
Conforme o coordenador de esportes, Perseu Lehmkuhl, o objetivo é
desenvolver projetos que utilizem o esporte, inicialmente o tênis, como estratégia de
desenvolvimento pessoal, educacional e social de crianças e adolescentes de baixa
renda, buscando sua plena inclusão social. Por isso, ainda segundo o coordenador
de esportes, é fundamental que crianças e adolescentes estudantes de escolas
públicas tenham acesso a oportunidades como essas. E é assim que o IGK propõe
articulações também com outros parceiros que queiram investir nessa área para
disponibilizar às entidades interessadas local, recursos humanos, equipamentos
esportivos e acompanhamento técnico para tais projetos.
Atualmente, o Programa Campeões da Vida possui quatro núcleos:
Itacorubi, Saco Grande, Palhoça e São José, conforme se pode ler a seguir.
63
Núcleo do Itacorubi
Foi criado em 2002, atende 160 crianças e adolescentes com idade entre 7 e
14 anos, estudantes dos colégios públicos do Bairro do Itacorubi e alunos da APAE
(Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), que não têm limite máximo de
idade para participar no programa. O atendimento das crianças e adolescentes
acontece duas vezes por semana, nas quartas e sextas-feiras, no horário das 8h às
11:30h e das 14h às 17:30h, no contraturno da escola. As oficinas oferecidas são:
tênis, esporte e cultura, dança e música e informática.
Essa ação visa oferecer oportunidades educacionais e esportivas para
promoção do desenvolvimento integral de crianças e adolescentes e também
oportunidades de inclusão das pessoas portadoras de necessidades especiais.
Núcleo de Palhoça
Criado em 2006, o núcleo atende 80 crianças e adolescentes na faixa etária
de 07 a 14 anos, estudantes das escolas públicas do bairro Pedra Branca. O
atendimento das crianças e adolescentes acontece por meio da oficina de tênis,
realizada duas vezes por semana, nas terças e quintas-feiras, das 8:30h às 11:30h e
das 14h às 17h, no período em que não estão na escola. Cada período tem 40
educandos. As turmas são divididas por faixa etária, para melhor aproveitamento
das atividades. As crianças e adolescentes são inscritos e triados nas próprias
escolas. Cada uma recebe o número de vagas por idade e modalidade, podendo,
assim, fazer a inscrição coletiva dos seus alunos.
Núcleo Saco Grande
O núcleo atende 90 crianças e adolescentes entre 07 e 14 anos, desde
2006, que estudam na escola pública do bairro.O atendimento das crianças e
adolescentes acontece às segundas e quartas-feiras, das 8h às 11:30h e das 13:30h
às 17h, no contraturno da escola. Em todos os dias de atendimento, as atividades
são desenvolvidas nas oficinas de esportes complementares e cultura, num trabalho
em conjunto com as áreas (Educação Física, Psicologia, Pedagogia e Serviço
64
Social), a partir de um planejamento interdisciplinar. As duas turmas realizam um
rodízio nas oficinas oferecidas.
Núcleo São José
Esse núcleo está formado desde 2007 no bairro Sertão do Imarui e atende
100 crianças e adolescentes de 07 a 14 anos da escola Estadual José Martins
Zimmerman. O atendimento ocorre duas vezes por semana, nas quartas e sextas-
feiras, das 8:30h às 11:30h e das 13:30h às 16:30h, no contraturno da escola.
Nessas três horas de atendimento os educandos participam de dois momentos: a
oficina de tênis e a de esportes complementares.
Trabalhando com a parte interdisciplinar, duas pedagogas se unem aos
profissionais de educação física e de tênis para, em conjunto, planejarem e
executarem as oficinas de uma forma totalmente educacional.
Encontro de integração de projetos esportivos do IGK
O principal objetivo desse evento é reunir e integrar as crianças e
adolescentes participantes dos projetos esportivos do IGK, proporcionando um dia
repleto de atividades esportivas, recreativas e culturais. Realizado pela primeira vez
em 2004, o Encontro de Integração acontece anualmente, configurando-se em um
evento periódico do Instituto.
O “Encontrão”, como é chamado carinhosamente pelas crianças, é realizado
sempre em outubro, em comemoração ao Dia das Crianças. Devido à expectativa do
encontro, os educandos motivam-se, desde o início do ano, a elaborar
apresentações para o dia, trocando experiências e vivências.
Torneio Interprojetos de Tênis IGK
O Torneio Interprojetos do IGK tem como objetivo proporcionar a vivência de
um torneio de tênis aos educandos dos projetos esportivos. A intenção é realizar o
torneio anualmente, já que essa estratégia motiva as crianças e adolescentes e
auxilia os educadores na organização das seletivas para o torneio, no qual as
crianças atendidas têm a chance de demonstrar suas habilidades no tênis.
65
A competição é organizada observando as mesmas regras de um
campeonato profissional, para que os educandos experimentem a realidade e a
dificuldade da prática de um esporte de alto rendimento. Atrelado ao fator
competitivo, o torneio do IGK preocupa-se em ressaltar a cooperação e o respeito
como habilidades indispensáveis na prática de qualquer esporte; e é realizado no
mês de agosto, nas quadras da Federação Catarinense de Tênis.
É válido ressaltar que, em ambos os programas, o Instituto Guga Kuerten
funciona como um organismo articulador, ou seja, a entidade não atende a
população-alvo diretamente, mas canaliza os recursos, a fim de financiar tais ações.
A gestão dos recursos financeiros, humanos e materiais de todos os projetos é
realizada pela presidente do instituto, Alice Kuerten, com o apoio dos coordenadores
de cada área – social e de esportes.
4.2 Os atores envolvidos no IGK
Para o cumprimento dos objetivos deste estudo, buscou-se identificar os
atores envolvidos na dinâmica de funcionamento do Instituto Guga Kuerten, bem
como suas características e suas concepções sobre desempenho.
Quanto ao tipo de vínculo que os atores possuem com a organização,
identificaram-se: membros dos órgãos estatutários (assembleia geral, diretoria,
conselho consultivo e conselho fiscal), funcionários remunerados, voluntários,
usuários e financiadores. Foram entrevistados três indivíduos de cada grupo de
atores, cuja indicação foi feita pela coordenadora social, Silvana Medeiros.
Os membros dos órgãos estatutários, aqui designados de forma genérica
como diretores, são pessoas físicas que possuem atividades não remuneradas e
respondem juridicamente pela entidade. Os indivíduos pesquisados foram duas
mulheres e um homem: dois profissionais da área de administração que se
encontram aposentados e uma profissional da área de serviço social. Participam da
entidade desde a sua fundação, ou seja, o tempo de atuação dos mesmos na
organização é de nove anos.
66
Quando questionados sobre a atividade que desenvolvem, responderam que
está ligada à seleção, acompanhamento e avaliação dos projetos do FAPS. A
referida atividade é descrita por um dos diretores entrevistados:
Organizamos e selecionamos os projetos enviados pelas entidades e
participamos da comissão julgadora dos mesmos, como membros
avaliadores. Além disso, acompanhamos a coordenadora do
programa nas visitas às entidades que se habilitam a essa premiação
e nos treinamentos relacionados à elaboração e avaliação de
projetos sociais oferecidos e ministrados pelo Instituto. (Dalva Maria
Pereira, membro da Diretoria do IGK)
Acerca do envolvimento no processo de tomada de decisão da organização,
os diretores afirmam que o mesmo acontece, principalmente, por meio da
participação deles em reuniões de avaliação das atividades do Instituto e de
planejamento, realizadas, geralmente, no final de cada ano. Contudo, um dos
entrevistados afirmou que considera os diretores como conselheiros, pois as
principais decisões são tomadas pela presidente da entidade e pelos coordenadores
de cada área (social e de esporte).
Os diretores entrevistados disseram conhecer bastante a entidade, uma vez
que participam dela desde sua fundação e por estarem em constante contato com a
dinâmica e com os processos do IGK. Além disso, afirmaram receberem relatórios
via e-mail, consultarem o site para obter outras informações; consideram ainda que
as ações do IGK são bastante transparentes, o que facilita o conhecimento por parte
de todos os atores envolvidos.
Quanto aos funcionários entrevistados, ou seja, indivíduos remunerados,
contratados pela entidade para prestar algum tipo de serviço e que são regidos
pelas normas da CLT, estão na entidade, em média, há cinco anos. Desenvolvem
atividades relacionadas à coordenação e supervisão dos programas, que englobam
as ações de:
captar recursos, avaliar projetos e acompanhar todas as atividades
de forma geral. Realizar a supervisão dos profissionais e voluntários
envolvidos no Instituto, além do envolvimento em questões
pedagógicas e administrativas do IGK. (Marcelo Bittencourt Neiva de
Lima, supervisor de esportes)
No que diz respeito ao envolvimento no processo de tomada de decisão da
entidade, os funcionários entrevistados expuseram que se consideram com um
envolvimento grande, pois todas as decisões são tomadas em grupo; logo, todos os
membros da entidade estão envolvidos. Segundo os funcionários pesquisados, eles
67
possuem grande conhecimento sobre a organização, pois estão diretamente ligados
aos programas e participam rotineiramente das ações do instituto.
Outro tipo de ator envolvido no Instituto Guga Kuerten são os voluntários, ou
seja, indivíduos não remunerados, que dedicam parte do seu tempo ao IGK, a fim de
promover o bem-estar social ou por afinidade à causa. Conforme os
questionamentos realizados, os voluntários fazem parte da organização, em média,
há um ano. Os voluntários são estudantes de áreas específicas (Educação Física,
Psicologia e Fisioterapia) e possuem uma carga horária de, aproximadamente, oito
horas semanais no Instituto. Apenas o programa esportivo Campeões da Vida
possui um corpo funcional voluntário.
Os voluntários geralmente desenvolvem trabalho postural de fisioterapia e
atendimento psicológico às crianças e adolescentes que fazem parte do programa
esportivo. O trabalho é desenvolvido conforme o encaminhamento dos educadores
de cada núcleo e as necessidades que os mesmos diagnosticam.
A parcela de voluntários entrevistada considera pequeno o seu grau de
envolvimento no processo de tomada de decisão da entidade; no entanto, aponta
que há abertura para sugestões de melhorias, conforme o depoimento a seguir.
Dou conselhos, ideias e sugestões das atividades a serem
realizadas; vejo que outros voluntários também o fazem e que,
muitas vezes, essas sugestões são levadas em consideração.
(Louise Rosa, fisioterapeuta voluntária no IGK)
No que tange ao conhecimento sobre a organização, os voluntários afirmaram
que possuem informações recebidas no início do trabalho voluntário, além daquilo
que veem na mídia ou pesquisam, mas que o conhecimento mais aprofundado é
obtido no dia a dia e oriundo da área na qual trabalham, ou seja, o programa
esportivo.
Os usuários do Instituto – indivíduos e organizações aos quais se destinam as
ações da entidade – participam dos projetos, em média, há um ano e meio.
Possuem envolvimento relacionado ao FAPS, ou seja, são organizações
beneficiadas com o financiamento de atividades envolvendo pessoas com
necessidades especiais e com o programa esportivo Campeões da Vida, por meio
de ações que integrem crianças e adolescentes de baixa renda em atividades
esportivas.
68
Os usuários beneficiados pelo FAPS relataram não possuir envolvimento com
o processo de tomada de decisão do IGK; já os envolvidos com o programa
esportivo afirmaram possuir parcialmente, pois “se há necessidade de tomar alguma
decisão que envolva as crianças e adolescentes no projeto, então esta decisão é
tomada em conjunto com a entidade”, aponta um dos entrevistados.
Em relação ao conhecimento que os usuários têm sobre o Instituto, os
entrevistados demonstraram conhecer a missão, os propósitos e as atividades atuais
da entidade, por meio do contato diário com as ações do IGK. Não possuem
conhecimento sobre o desempenho passado ou os planos futuros.
E, por último, foram pesquisados os financiadores do IGK, ou seja, empresas
que apoiam financeiramente os projetos do Instituto: Baesa, Instituto Lemann e
Aurora. Dentro desse universo, as empresas pesquisadas são financiadoras do IGK
há dois anos. Apontam como suas atividades, o financiamento dos programas FAPS
e do programa esportivo Campeões da Vida. Segundo os mesmos, isso engloba “o
planejamento e assistência na execução das ações”, além do aporte financeiro.
Os pesquisados consideram que possuem um envolvimento considerável no
processo de tomada de decisão do Instituto, conforme depoimento de um dos
financiadores:
Realizamos reuniões de diretoria com o IGK periodicamente, onde é
possível tratar de diversos assuntos, inclusive dar sugestões,
manifestar opiniões. O IGK sempre demonstrou muita consideração
e respeito à opinião dos parceiros. (Silvana Silveira Medeiros,
coordenadora social no IGK)
No tocante ao conhecimento sobre o IGK, os financiadores pesquisados
apontam que o possuem de forma bastante satisfatória, que financiam os projetos
por ter conhecimento do comprometimento da entidade com sua missão e pela
mesma apresentar excelente reputação. Os mesmos salientam que consideram o
Instituto uma organização bastante transparente:
Acompanhamos várias atividades realizadas pelo IGK que
comprovam sua eficiência na realização de ações sociais para as
comunidades participantes dos programas e projetos sociais em
geral. Além disso, recebemos relatórios elaborados pelo IGK com os
registros das ações sociais realizadas, em que foram apresentados
os resultados obtidos com indicadores de melhorias. (Aline Serafini,
Responsável pela Área de Responsabilidade Social na Baesa)
69
Os atores identificados no IGK, bem como os elementos analisados nesta
etapa do estudo, podem ser visualizados no quadro síntese a seguir:
DESCRIÇÃO GERAL DOS ATORES IDENTIFICADOS NO IGK
Elementos
A
tores
Diretores Funcionários Voluntários Usuários Financiadores
Tempo de
organização
9 anos. 5 anos, em
média.
1 ano. 1,5 anos. 2 anos.
Atividade
desenvolvida
Seleção,
acompanhamento
e avaliação do
FAPS.
Coordenação
e supervisão
dos
programas.
Apoio
psicológico e
fisioterapia.
Beneficiários
do FAPS e do
Programa
Esportivo.
Financiamento,
planejamento e
assistência
técnica na
execução das
ações.
Envolvimento
no processo
decisório
Envolvimento na
avaliação e
planejamento da
entidade.
Envolvimento
no processo
de tomada de
decisão.
Pequeno
envolvimento,
com abertura
para
sugestões.
Não há
envolvimento,
no caso dos
beneficiados
pelo FAPS.
No programa
esportivo é
parcial,
relacionado às
atividades
desenvolvidas.
Envolvimento por
meio de
sugestões e
opiniões dadas
nas reuniões.
Conhecimento
que os atores
afirmam deter
sobre a
organização
Grande
conhecimento,
em virtude do
tempo que
participam do
IGK.
Grande
conhecimento,
em virtude do
envolvimento
diário.
Conhecimento
parcial, mais
voltado para
área que
atuam.
Conhecimento
parcial,
relacionado às
atividades
atuais do
instituto.
Grande
conhecimento,
obtido por meio do
acompanhamento
das ações e por
fontes externas ao
IGK.
Observa-se que os diretores e funcionários participam do Instituto há mais
tempo, afirmam possuir maior conhecimento sobre a organização e estão envolvidos
no processo de tomada de decisão. Os voluntários, usuários e financiadores estão
na entidade há menos tempo (em média, um ano e meio), possuem pequeno
envolvimento no processo de tomada decisão, no que diz respeito aos voluntários e
usuários, e possuem conhecimento parcial da entidade. Os financiadores apontaram
em seus depoimentos ter envolvimento no processo de decisão do IGK e grande
conhecimento sobre a organização, por estarem em constante acompanhamento
das ações e buscarem informações externas, como as relacionadas à reputação da
organização, em outros meios.
Após a identificação dos atores envolvidos no Instituto Guga Kuerten, buscou-
se coletar os dados que pudessem contribuir para o entendimento da perspectiva de
desempenho de cada um deles em relação à organização. Os relatos e demais
informações obtidos estão descritos no item que segue.
Quadro 6 – Descrição dos elementos analisados nos atores envolvidos no IGK.
70
4.3 As concepções de desempenho
A partir das informações coletadas e em consonância com o problema de
pesquisa deste estudo, buscou-se verificar as concepções de desempenho na
perspectiva dos atores envolvidos no Instituto Guga Kuerten, apontamentos que
serão descritos a seguir.
4.3.1 Membros da Diretoria
No que se refere aos membros pesquisados, da diretoria do Instituto Guga
Kuerten, eles acreditam que a entidade é eficaz, ou seja, que cumpre o seu papel, o
qual, conforme os relatos:
É um papel que foi definido quando da sua constituição e reafirmado
a cada assembleia, qual seja, apoiar projetos e organizações que
trabalhem a causa da pessoa portadora de necessidades especiais,
bem como que trabalhem o esporte como forma de inserção social.
(Ana Maria do Vale, membro do Conselho Consultivo do IGK)
Seu papel é atuar em segmentos sociais específicos, que são os
portadores de necessidades especiais, bem como as crianças e
adolescentes oriundos de famílias de baixo poder aquisitivo, as quais
não podem oferecer aos seus filhos atividades esportivas
complementares, que auxiliam na formação da cidadania. (Aldo Brito,
membro do Conselho Consultivo do IGK)
Segundo os mesmos, as informações que ajudam a fazer tal julgamento são:
Relatos e depoimentos das entidades que atuam no atendimento às pessoas
portadoras de deficiência beneficiadas com os programas do IGK,
expressados nas reuniões de avaliação do FAPS. As declarações relacionam-
se ao aumento da visibilidade dessas entidades junto à comunidade, com a
consequente ampliação de parcerias, melhorias quantitativas e qualitativas
com relação ao conforto dos alunos, número de atendimentos, sistema de
ensino-aprendizagem, entre outras;
Avaliações das crianças e adolescentes participantes dos programas,
expressas em depoimentos dos mesmos e de familiares; em cartazes, cartas
e jornais por eles elaborados;
71
Relatórios de atividades do IGK, de cunho quantitativo e qualitativo, elaborado
anualmente e encaminhado a todos os atores envolvidos na organização;
Informações obtidas nos meios de comunicação, divulgando as atividades do
IGK.
Os membros da diretoria afirmam, ainda, que julgam tais informações
suficientes para concluírem que o IGK é eficaz e cumpre sua missão.
No que tange às formas de avaliação de desempenho utilizadas pelo Instituto,
atualmente, os membros da diretoria pesquisados afirmam que a organização
demonstra grande preocupação em relação a todas as suas ações e esta se dá por
meio de relatórios avaliativos de todos os projetos desenvolvidos, apresentados ao
final da execução dos mesmos ou ao final de cada ano, em reuniões com esse
objetivo específico. Relatam que a avaliação de desempenho sempre ocorreu na
organização, conforme esclarece o depoimento a seguir:
a avaliação de seus projetos e ações sempre aconteceu, desde sua
constituição, até porque todas as suas ações e projetos contam com
a parceria de outras empresas e organizações, o que faz com que a
avaliação se torne uma questão importante a ser apresentada a
esses parceiros. (Dalva Maria Pereira, membro da diretoria do IGK)
As avaliações realizadas são utilizadas, conforme as informações dos
membros da diretoria, para o planejamento de novas ações, sendo que os
resultados são disponibilizados para todos os atores envolvidos na organização. Os
mesmos consideram que a forma de avaliação realizada é a ideal para a entidade e
não propuseram modificações.
Quanto à existência de canais utilizados para ouvir opiniões, os pesquisados
afirmaram que os membros da diretoria podem apresentar avaliações pessoais e
sugestões nas reuniões com tal finalidade e que os parceiros e usuários também
têm acesso a essas reuniões, previstas no planejamento de cada programa. E,
ainda, que são realizadas “visitas domiciliares (no caso dos programas com crianças
e adolescentes) para saber a opinião dos usuários, relatórios são enviados via
correio eletrônico, são organizados encontros etc”.
Os membros diretores afirmaram que divulgariam o IGK como uma entidade
exemplar no cumprimento de seus objetivos, “principalmente em relação à busca de
parcerias e envolvimento de vários atores na execução dos projetos” (Ana Maria do
Vale Pereira, membro do Conselho Fiscal do IGK). Leia-se o depoimento:
72
Eu o divulgaria como uma entidade séria, de credibilidade e
comprometida com a causa que abraçou. Até porque a criação do
Instituto foi a concretização de um ideal [...] relacionado aos
portadores de necessidades especiais. O corpo técnico é qualificado
e competente. Esta avaliação inclui também os monitores que
trabalham diretamente com a população atendida. Acredito que o
profissionalismo do IGK é seu grande referencial. (Dalva Maria
Pereira, membro da diretoria do IGK)
Questionados quanto à forma como que o IGK poderia executar melhor sua
missão, os membros diretores afirmaram que isso só poderia acontecer a partir da
ampliação de financiadores, conforme os relatos que seguem:
Acredito que o IGK atua de forma exemplar, mas, com certeza, se
pudesse contar com um número maior de parcerias, principalmente
financeiras, poderia executar ainda mais e melhor. (Dalva Maria
Pereira, membro da diretoria do IGK)
Tudo está sendo realizado a contento, com muito ‘pé no chão’,
dentro do que é possível realizar no momento. (Ana Maria do Vale,
membro do Conselho Consultivo do IGK)
No que concerne às mudanças organizacionais ocorridas nos últimos anos,
os entrevistados consideram que foram poucas, restringindo-se à ampliação no
número de ações realizadas e, consequentemente, num aumento do quadro
funcional. No entanto, a ampliação resultou na busca por formas de avaliação mais
eficientes, ou seja, que pudessem transparecer, principalmente aos financiadores, os
resultados positivos alcançados pela entidade.
Quanto aos planos futuros, os membros diretores demonstraram uma
preocupação quanto à captação de recursos, conforme os depoimentos que
seguem.
Penso que na medida em que as parcerias forem ampliadas, grandes
mudanças podem ser implementadas, pois o conhecimento que foi
adquirido nesses anos de trabalho são uma grande fonte de
informação para novos projetos que possam fazer realmente a
diferença, nas áreas onde possam ser implementados. (Aldo Brito,
Membro do Conselho Consultivo do IGK)
Esta questão pode estar relacionada à captação de recursos, que
hoje é feita através do empresariado. É sabido que a maioria das
empresas quando estabelece uma parceria está preocupa com o
marketing do seu produto e com o retorno que sua colaboração
possa trazer ao seu negócio. Por isso preferem aliar seu produto a
uma imagem que se encontra em evidência. Como a pessoa que
emprestou seu nome à instituição (Guga Kuerten) se afastou do
mundo dos esportes, temo que isso possa trazer alguma dificuldade
à captação de recursos futuros. Creio que, em curto prazo, novas
73
estratégias terão que ser buscadas pelo IGK. (Dalva Maria Pereira,
Membro do Conselho Consultivo do IGK)
4.3.2 Funcionários remunerados
Os funcionários do IGK pesquisados afirmaram que a organização cumpre
seu papel com determinação e dedicação; sendo assim, apontam-na como uma
organização eficaz. Consideram tal papel, conforme um dos entrevistados, como o
de “colaborar no processo de desenvolvimento da sociedade” (Juliana Garcia
Hackebart, supervisora social) e, ainda,
é o de articular, promover e apoiar ações que visem oferecer
oportunidades de desenvolvimento e integração social para todos os
cidadãos, de modo que se estabeleçam marcas e hábitos de
solidariedade entre todos. Para tanto, ações efetivas nas áreas de
educação, esporte e cultura formam o viés de atuação do IGK.
Institucionalmente, o desenvolvimento de metodologias inovadoras e
eficazes, bem como a capacitação permanente do corpo de
voluntários, estagiários e profissionais, é fator fundamental na busca
pela excelência. (Marcelo Bittencourt Neiva de Lima, supervisor de
esportes)
As informações que levam a essa conclusão são aquelas obtidas no dia a dia,
a partir do acompanhamento das ações do IGK, ou seja, as informações que
recebem diretamente dos usuários, além do que é divulgado por meio de relatórios e
na mídia, de acordo com o relato que segue:
As informações vêm da experiência profissional vivenciada na
instituição, a interdisciplinaridade nas ações com feedback constante,
o retorno positivo da comunidade direta e indiretamente envolvida
com as nossas ações, bem como a comunidade científica, quando
acontece a apresentação de palestras, mesas redondas,
conferências e trabalhos científicos sobre as ações e experiências do
IGK. (Marcelo Bittencourt Neiva de Lima, supervisor de esportes)
Os pesquisados afirmam que julgam tais informações suficientes para concluírem
que o IGK é eficaz e cumpre sua missão. Segundo os funcionários, a avaliação de
desempenho na organização não acontece de forma sistemática, embora haja a
elaboração e o preenchimento de relatórios formais. Isso pode ser evidenciado no
depoimento que segue.
Na verdade há uma avaliação constante do trabalho, não existe uma
metodologia própria para isto, nem um momento definido. Os
resultados são apresentados aos financiadores, por meio de
relatórios, conforme eles solicitam, geralmente no fim da execução,
74
mas isso varia de projeto para projeto, e aos diretores, nas reuniões.
Quem avalia o trabalho dos funcionários é a diretoria. (Silvana
Silveira Medeiros, coordenadora social do IGK)
As avaliações ocorrem no cotidiano de cada projeto, não há um
período estipulado, a avaliação ocorre in loco pelos coordenadores e
supervisores dos projetos. (Marcelo Bittencourt Neiva de Lima,
supervisor de esportes)
De acordo com documento disponível, pôde-se observar que as entidades
atuantes no atendimento às pessoas portadoras de deficiência (beneficiadas com o
programa FAPS), podem expressar suas opiniões por meio de um documento
designado “Relatório de Avaliação” (Anexo 1), elaborado pela coordenação social da
entidade, constituído de treze questões abertas e fechadas e dividido em quatro
“áreas”. A primeira serve para identificação da entidade, do projeto e do responsável
pelo mesmo. A segunda questiona sobre o gerenciamento do projeto, enfatizando a
coerência das ações com as metas estabelecidas, as dificuldades e facilidades
durante o processo e a adequação dos recursos recebidos em relação ao projeto
proposto (se foram suficientes ou não).
Quanto à terceira área do relatório, descreve os resultados do projeto,
identificando o número de beneficiados e de profissionais envolvidos, os principais
resultados alcançados em relação aos objetivos propostos e o número total de
parceiros envolvidos. Em todos os questionamentos dessa área do relatório, é
enfatizado o aumento ou não nos números analisados.
Na quarta área do relatório de avaliação são abordadas questões referentes
ao apoio técnico, realizado por indivíduos envolvidos no IGK – funcionários e/ou
diretores – por meio de visitas técnicas e encontros de capacitação das entidades
beneficiadas pelo FAPS. A área em questão avalia a frequência e a duração das
visitas técnicas e dos encontros, os conteúdos trabalhados, o envolvimento dos
profissionais da entidade e a colaboração do apoio recebido para o aprendizado
organizacional e para gestão da entidade. É realizado um comparativo de como a
entidade estava antes do apoio técnico e como ficou após. Os itens observados
referem-se à capacidade da organização de fazer projetos e planejamento, gerenciar
suas atividades e pessoas, conhecer com clareza suas competências, conhecer sua
comunidade, criar práticas de intervenção, realizar ações em conjunto, trabalhar em
grupo e buscar outros parceiros. Quanto às pessoas, são observadas as
capacidades de: conhecer melhor sua organização, ser multiplicador dos
75
conhecimentos obtidos, promover mudanças, estar aberto para o trabalho em equipe
e lidar com as diferenças.
Além do relatório de avaliação destinado ao FAPS, também foi verificada a
existência de um relatório de resultados do IGK (Anexo 2), enviado anualmente aos
parceiros financiadores e membros da diretoria, via correio, e disponível aos
funcionários, voluntários e comunidade, por meio do site da entidade, juntamente
com o balanço patrimonial e demonstração do resultado do exercício (documentos
de cunho contábil, com medidas puramente econômicas). O relatório anual do IGK é
elaborado por funcionários das coordenações (área social e esportiva) e apresenta a
descrição detalhada das ações desenvolvidas pela entidade no respectivo ano, com
informações qualitativas, e os resultados de tais ações, de forma
predominantemente quantitativa.
Os resultados relativos ao FAPS são focados no número de parcerias que as
entidades obtiveram após a inclusão das mesmas no programa, principalmente no
que se refere ao acompanhamento realizado pela equipe do IGK e ao recebimento
do apoio técnico, ou seja, quantos parceiros e qual o montante que a entidade
conseguiu alavancar após o processo de apoio técnico.
No que tange ao programa esportivo, os resultados apresentados no relatório
anual são representados, principalmente, por meios de gráficos e abrangem várias
temáticas, dentre as quais:
A frequência geral dos alunos nos núcleos, obtida por meio das
informações fornecidas pelos educadores atuantes no programa;
Avaliação dos educadores, obtida por meio da aplicação de
questionários aos alunos, utilizando critérios como pontualidade,
domínio do conteúdo, relacionamento com a turma, didática e recursos
utilizados, observando as opções de resposta: insatisfatório, regular,
satisfatório, bom e ótimo;
Autoavaliação dos alunos, obtida por meio da aplicação de
questionários, utilizando critérios: pontualidade, participação em aula,
relacionamento com o grupo, leituras complementares e interesse dos
alunos, observando as opções de resposta: insatisfatório, regular,
satisfatório, bom e ótimo;
76
Avaliação dos núcleos, obtida por meio de reuniões dos educadores,
apresenta as conquistas, desafios e propostas levantadas por cada
equipe;
Avaliação das famílias, obtida por meio de questionários enviados às
famílias dos educandos, baseada nos critérios: interesse nos estudos e
na busca de novos conhecimentos (se as notas escolares do educando
melhoraram e se o interesse pela escola aumentou), motivação para os
esportes (se praticam mais atividades físicas e se demonstram
interesse em outros esportes, além do tênis), atitudes de respeito e
disciplina (se relacionam de forma positiva na família e resolvem seus
conflitos com respeito e diálogo) e autoestima (se os educandos
apresentam atitudes de autocuidado e estão confiantes no seu grupo
de amigos), observando as opções de resposta: sim, não e não sabe;
Avaliação das escolas, obtida por meio de questionários aplicados aos
professores dos educandos do programa, utilizando os mesmos
critérios da avaliação das famílias; e
Relatório estatístico das ações realizadas no programa de esportes
“Campeões da Vida”, durante o período de um ano, contemplando os
itens: número de visitas domiciliares, número de contatos com a
escola, número de reuniões com a família, número de contatos com os
pais e responsáveis, número de encaminhamentos sociais, número de
contatos com a rede sócio-assistencial, número de passeios, número
de pesquisas de avaliação e número de capacitações dos educadores.
Os funcionários entrevistados afirmam que, desde que fazem parte do
Instituto, a avaliação é realizada da forma descrita anteriormente, a qual é
considerada ideal para a organização e as informações dela resultantes são
utilizadas para o planejamento de outras ações. Consideram, ainda, que a forma de
avaliação realizada é satisfatória e não propuseram modificações.
Quanto à existência de canais utilizados pelo IGK para ouvir opiniões, os
funcionários informaram que, a exemplo dos outros atores envolvidos na
organização, podem se expressar por meio de e-mail, relatórios ou, ainda, nas
reuniões de planejamento.
77
Os funcionários pesquisados afirmaram que divulgariam o IGK como uma
entidade pautada na transparência e comprometida com sua missão, conforme o
depoimento que segue.
Temos uma boa apresentação do trabalho do IGK através de
relatórios e de nosso site, sempre divulgamos nosso trabalho como
sendo de qualidade, com transparência, que busca a disseminação,
não se atrela a quantidade e, sim, a uma ação afirmativa que possa
ser inspiradora a outras pessoas e organizações. (Marcelo
Bittencourt Neiva de Lima, supervisor de esportes)
Quando questionados sobre a forma como o Instituto poderia executar melhor
o seu papel, os entrevistados informaram que a organização executa muito bem a
sua tarefa e que acertos são realizados quando necessário, conforme o
monitoramento das ações.
Sobre as mudanças organizacionais e na forma de avaliação do desempenho
que ocorreram nos últimos anos, os funcionários apontaram, além da ampliação no
número de ações, mudanças relacionadas ao financiamento, conforme segue.
Tivemos uma mudança no que se refere ao gerenciamento de
recursos. Anos atrás estávamos numa situação mais favorável para a
captação de recurso e hoje isto tem sido um trabalho mais intenso.
Claro que isto mudou a forma de avaliar nossas ações, pois
precisamos ser mais precisos com nossos parceiros e estar em
busca constante da melhor escolha de novas parcerias. (Silvana
Silveira Medeiros, Coordenadora Social)
No quesito planos futuros do Instituto, os funcionários entrevistados afirmaram
que desconhecem a intenção de mudanças e que a preocupação está relacionada à
garantia da continuidade das ações desenvolvidas, conforme os depoimentos que
seguem.
O IGK não tem pretensão de grandes mudanças, temos programas e
público-alvo bem definidos desde o começo, nossa intenção é a
continuidade do que já fazemos cada vez melhorando a qualidade.
(Silvana Silveira Medeiros, coordenadora social)
Acredito que não haverá grandes mudanças, mas vejo que para
garantir a atuação da entidade nos próximos anos, a atenção deve
ser na área de captação de recursos. (Juliana Garcia Hackebart,
supervisora social)
4.3.3 Voluntários
A partir dos questionamentos realizados, os voluntários do IGK consideram a
organização como eficaz, ou seja, cumpridora do seu papel. Eles afirmam que esse
78
papel está ligado à inserção social, tanto de indivíduos portadores de necessidades
especiais, quanto de crianças e adolescentes de baixa renda. O depoimento, a
seguir, esclarece o que foi afirmado:
O papel do IGK é importante no âmbito social para possibilitar às
crianças e deficientes um crescimento e desenvolvimento mais
saudável, utilizando meios esportivos, culturais e educacionais.
(Louise Rosa, fisioterapeuta voluntária no IGK)
Segundo os voluntários pesquisados, as informações que possuem são
suficientes para tal julgamento e que as que contribuem para, o mesmo são as
relacionadas aos relatos que as crianças/adolescentes e seus familiares dão ao
projeto, conforme trecho a seguir:
As famílias das crianças atendidas pelo IGK enviam para nós um
pequeno texto, informando o que estão achando sobre o projeto, o
que seu filho tem dito em casa sobre o projeto, se está gostando ou
não etc., se seu filho tem melhorado, ou não, seu comportamento.
Algumas coisas desse tipo. Muitos desses textos que eu dei uma
olhada, neste ano, os pais estão aprovando o IGK, inclusive dando
algumas "dicas" do que seu filho gosta mais, dicas de outras
atividades que poderiam ser feitas etc. e o mais importante,
agradecendo ao IGK pela oportunidade. (Gustavo Sperry,
fisioterapeuta voluntário no IGK)
Para os voluntários, o tipo de avaliação utilizado é muito importante; os mesmos
apontaram que a sociedade, os educadores, as escolas/entidades parceiras, além
das famílias e dos próprios atendidos, devem avaliar as ações do instituto e
completam:
Possivelmente a avaliação poderia ocorrer por meio de
questionários, aplicados semestralmente ou anualmente, onde deve
ser avaliada, principalmente, a influência do IGK no dia a dia dos
usuários [...] os educadores, os educandos e todo o contexto social
do IGK deve ser avaliado. (Gustavo Sperry, fisioterapeuta voluntário
no IGK)
Os pesquisados afirmaram também, sobre as formas e oportunidades de
expressar opiniões a respeito do desempenho e atuação do IGK, que as utilizam e
de modo bastante satisfatório, por meio do contato direto e verbal com os
coordenadores e supervisores dos programas, além do contato via e-mail e convite a
participar das reuniões de planejamento realizadas.
Ao serem questionados sobre se, de alguma forma, o IGK poderia
desempenhar melhor seu papel, os voluntários afirmaram que isso poderia
acontecer com a ampliação do atendimento, tendo em vista que as ações do
79
programa esportivo abrangem, apenas, os usuários que cursam o ensino
fundamental, ou seja, aqueles que têm até 15 anos de idade, aproximadamente.
O Instituto poderia melhorar seu desempenho ampliando seu
atendimento com um número maior de parceiros, desenvolvendo
mais atividades e dando continuidade para os jovens que saem dos
projetos após a idade máxima aceita ser atingida. (Louise Rosa,
fisioterapeuta voluntária no IGK)
No que se refere às expectativas dos voluntários em relação ao futuro do
Instituto, afirmaram que elas estão relacionadas diretamente às atividades que
realizam. Segundo os mesmos, gostariam de ter uma maior gama de atividades e
estender os atendimentos realizados (fisioterapêuticos e psicológicos) não somente
aos usuários, mas também aos outros membros da entidade, como os funcionários.
4.3.4 Usuários
Os usuários do Instituto Guga Kuerten, quando questionados sobre a eficácia
da organização, informaram que esta cumpre seu papel. Os mesmos apontam a
promoção do bem-estar das pessoas atendidas e a formação da cidadania como os
principais objetivos do IGK, conforme depoimentos a seguir:
O papel dos projetos é contribuir com a escola e comunidades na
formação de cidadãos, auxiliando-os a ter respeito pela sua
comunidade, transformando–os em pessoas que saibam seus
direitos e seus deveres, pessoas educadas, enfim, pessoas que
possam a vir contribuir com nossa sociedade. (Érica Santos,
Assistente Pedagógica da Escola Estadual José Martins Zimmerman)
Os programas e projetos desenvolvidos pelo instituto abrangem
inúmeros cidadãos e municípios, que com o apoio fazem o possível
para criar oportunidades de desenvolvimento pessoal, educacional e
social às crianças, adolescentes e pessoas com deficiência. (Verania
de Bona, Assistente Social da APAE de Cunha Porã/SC)
Segundo os usuários pesquisados, as informações que contribuem para o
julgamento apresentado, estão relacionadas ao retorno dado pelos usuários e as
informações divulgadas na mídia. Os relatos, a seguir, corroboram a afirmação:
Podemos concluir isso através dos resultados observados e sentidos
em nossos alunos e nas famílias desses alunos. Além disso,
sabemos dos resultados de outros projetos desenvolvidos pelo IGK,
que também são resultados positivos, obtemos informações por meio
80
de jornais, ás vezes televisão, por meio de pessoas com as quais
conversamos etc.
Essa conclusão se deve à divulgação dos trabalhos realizados, seja
através da página do Instituto na internet, seja nas notícias na mídia
escrita e falada. (Érica Santos, Assistente Pedagógica da Escola
Estadual José Martins Zimmerman)
Questionados sobre o conhecimento em relação à avaliação de desempenho
que acontece no IGK, os usuários informaram que, no caso do projeto esportivo, não
há uma forma de avaliação pré-determinada, conforme torna claro um dos
depoimentos:
Bem, o projeto aqui na escola acaba sendo avaliado constantemente,
uma vez que há uma ligação muito boa entre a escola e os membros
do Instituto. Não há uma avaliação formal, mas podemos observar o
bom resultado no comportamento de nossas crianças, em relatos por
escrito, nas conversas com os pais das crianças que frequentam o
projeto, em atitudes como essas. (Érica Santos, Assistente
Pedagógica da Escola Estadual José Martins Zimmerman)
No caso dos usuários do FAPS, os mesmos informaram que a avaliação
acontece por meio de uma visita dos membros do IGK ao projeto, além do
encaminhamento de questionários de acompanhamento semestrais.
Os usuários de ambos os programas afirmaram que o Instituto deve ser
avaliado pelas entidades envolvidas e pela sociedade em geral, que acompanha e é
beneficiada de alguma forma pelas ações.
No que tange ao momento em que a avaliação deve ocorrer, os usuários
informaram que a mesma deve ter frequência anual ou, ainda, ser feita quando os
profissionais sentirem necessidade, como meio de redirecionamento, segundo
palavras do depoimento transcrito:
Depende do que acontece no decorrer do projeto, se as pessoas
envolvidas sentirem necessidade de parar para fazer uma avaliação
e seguir por outro caminho, essa avaliação é sempre bem-vinda.
(Verania de Bona, Assistente Social da APAE de Cunha Porã/SC)
Sobre o que deve ser avaliado na organização, os usuários apontaram,
conforme os dados coletados:
Investimentos, programas e projetos desenvolvidos;
Eficácia, eficiência e efetividade das ações realizadas;
Impacto para o desenvolvimento social local; e
Coerência das ações com os objetivos estipulados no início do projeto.
81
Para os usuários, a avaliação de desempenho deve abranger o IGK como um
todo, ou seja, a totalidade dos atores envolvidos na organização deve ser avaliada:
“escolas, entidades, crianças, professores, funcionários, a gestão do Instituto etc.”
No referente às formas e oportunidades de expressar opiniões sobre o
desempenho e atuação do IGK, os usuários informaram que os possuem, conforme
os relatos:
O pessoal do IGK é bem aberto para dialogar o tempo todo. Os
meios podem ser pessoalmente, por telefone, e-mail, marcar uma
conversa, participar das reuniões na entidade etc. (Margarete Souza,
Assistente Pedagógica da Escola Básica Donícia Maria da Costa)
Como temos uma parceria com o IGK através do desenvolvimento de
nosso projeto, é por meio dos questionários de acompanhamento do
projeto temos o espaço para expressar nossa opinião. Além disso, já
fizemos vários contatos por e-mail e por telefone, sempre somos
prontamente atendidos. (Verania de Bona, Assistente Social da
APAE de Cunha Porã/SC)
Quando questionados sobre as formas como o IGK poderia desempenhar
melhor o seu papel, os usuários concluíram que a atuação poderia ser maior se
houvesse mais parceiros que colaborassem para que outros projetos pudessem se
realizar, beneficiando assim mais pessoas. Os usuários pesquisados afirmaram que
desconhecem os planos ou preocupações do IGK com o desempenho futuro;
acreditam, apenas, que o IGK deva garantir a continuidade dos projetos e ações
realizadas.
4.3.5 Financiadores
Segundo os financiadores do IGK pesquisados, a organização cumpre o seu
papel que, conforme o entendimento dos mesmos, pode ser expresso pelas falas a
seguir:
O papel do IGK é realizar ações sociais que venham a contribuir com
a melhoria de vida das comunidades e sociedade em geral,
proporcionando inclusão social e desenvolvimento saudável de
crianças de diversas localidades. (Marta Zafra Sider, Gerente de
Projetos da Fundação Lemann)
O objetivo do IGK e desta parceria é contribuir para o futuro e o
desenvolvimento das nossas crianças e adolescentes. (Isabel
Cristina Machado, responsável pela Área de Responsabilidade Social
na Aurora)
82
As informações que comprovam essa eficácia, segundo os financiadores, são
oriundas de relatórios e dos relatos das entidades que fazem parte da área de
atuação do Instituto, como o trecho que segue:
Acompanhamos as atividades realizadas pelo IGK na área social e
de esportes, que comprovam sua eficiência na realização de ações
sociais para as comunidades participantes dos programas e projetos
sociais em geral. Além disso, nossa empresa recebeu relatórios
elaborados pelo IGK com os registros das ações sociais realizadas,
em que foram apresentados os resultados obtidos com indicadores
de melhorias. (Aline Serafini, responsável pela Área de
Responsabilidade Social na Baesa)
Os financiadores afirmaram que a avaliação do IGK acontece, principalmente,
por meio de informações dos relatórios que estes recebem de forma anual, conforme
acordado na celebração das parcerias e por visitas aos projetos financiados.
Relataram, ainda, que quem realiza as avaliações são funcionários das áreas de
responsabilidade social, designados especificamente para a tarefa; que a avaliação
sempre ocorreu dessa forma e que julgam os resultados e o processo bastante
satisfatórios.
Segundo afirmação de um dos financiadores, há grande preocupação em
visualizar a realidade de cada localidade e os impactos visíveis dos projetos
financiados na mesma. Isso pode ser evidenciado na fala em que o financiador
descreve, de maneira sucinta, a avaliação nas fases do processo de financiamento,
de acordo com o que segue:
Os projetos recebidos por nossa empresa são avaliados e
selecionados em reunião geral, com todos os envolvidos, inclusive os
membros das entidades que buscam o financiamento. Além do
projeto impresso, é realizada, também, apresentação de filmagens
das instituições, que é a parte mais importante, para demonstrar a
realidade dos projetos em cada localidade e facilitar a avaliação.
(Aline Serafini, responsável pela Área de Responsabilidade Social na
Baesa)
Ao responderem a questão acerca da existência de canais de comunicação
com a entidade, os pesquisados afirmaram que os mesmos existem e as formas
utilizadas são, principalmente, as reuniões anuais que o Instituto realiza com seus
parceiros, conforme o relato a seguir:
Nas reuniões com a diretoria do IGK, realizadas anualmente, é
possível tratar de diversos assuntos, inclusive dar sugestões e
manifestar opiniões. O IGK sempre demonstrou muita consideração
e respeito à opinião de todos os parceiros. (Marta Zafra Sider,
Gerente de Projetos da Fundação Lemann)
83
Os financiadores demonstraram em seus relatos que estão satisfeitos com a
forma de avaliação da entidade e que divulgariam o IGK como uma organização de
importância para todo o Estado, um “dos Institutos mais sérios de Santa Catarina” e
que “sem dúvidas, o trabalho realizado é considerado excelente e muito importante
para toda a região que abrange”. (Isabel Cristina Machado, responsável pela Área
de Responsabilidade Social na Aurora)
Questionados sobre as mudanças organizacionais do IGK nos últimos anos e
o impacto delas na avaliação de desempenho da organização, os financiadores
afirmaram que desconhecem, pois são parceiros do Instituto há apenas dois anos,
não possuindo informações anteriores a esse período.
Quanto à forma como IGK poderia executar melhor seu papel e quais
poderiam ser as mudanças para o futuro, os financiadores relataram:
O trabalho do IGK é extraordinário. Sugeriria ampliar cada vez mais
os projetos sociais para outros municípios de Santa Catarina e, quem
sabe, para outros estados do País. (Marta Zafra Sider, Gerente de
Projetos da Fundação Lemann)
Acho que deveria ampliar a área de atuação, atendendo entidades
de todo o país, pois o nome que leva o Instituto tem reconhecimento
a nível nacional e outras empresas, com certeza, iriam apoiá-lo.
(Aline Serafini, responsável pela Área de Responsabilidade Social na
Baesa)
A partir dos dados coletados, procurou-se, no item que segue, tecer uma
análise comparativa entre as perspectivas de desempenho dos atores envolvidos no
Instituto Guga Kuerten com o referencial teórico e os modelos de eficácia apontados
na literatura, seguindo as categorias de análise explicitadas no capítulo de
metodologia deste estudo.
4.4 Análise comparativa das concepções de desempenho
A existência de diversos atores em uma organização sem fins lucrativos que
possuem expectativas e objetivos distintos é reconhecida pela literatura. Para Mistry
(2007), uma pesquisa que concentre uma única organização e analise a gama de
percepções de seus atores é fundamental para o entendimento da dinâmica da
mesma. Assim sendo, a descrição dos apontamentos dos atores pesquisados
possibilita, neste tópico do estudo, comparar as concepções de desempenho dos
envolvidos no Instituto Guga Kuerten com o referencial teórico apresentado, bem
84
como com os modelos de eficácia estudados na literatura. Foram abordados os
tópicos: o conceito de desempenho; o modo como a avaliação ocorre no IGK; como
a avaliação de desempenho deveria ocorrer no IGK na perspectiva dos atores
entrevistados; e ainda como o IGK poderia ser mais eficaz, segundo os mesmos.
4.4.1 O conceito de desempenho
Para obter a perspectiva de cada ator envolvido no Instituto, no que tange ao
conceito de desempenho organizacional, procurou-se abordar qual o papel do IGK e
o que o torna uma organização eficaz.
Quando questionados sobre o papel que o Instituto Guga Kuerten tem e o
cumprimento do mesmo, os diretores afirmaram que este papel seria aquele
motivador da criação do Instituto, ou seja, o de atender pessoas com necessidades
especiais e utilizar o esporte como meio de inserção social para crianças de baixa
renda. As informações que tornam possível a conclusão de que o IGK cumpre tal
papel, segundo os sujeitos pesquisados, são oriundas de relatos e depoimentos dos
usuários, relatórios elaborados pela entidade e informações obtidas pela divulgação
das ações do IGK na mídia.
Nesse mesmo sentido, os voluntários do IGK pesquisados relataram que o
papel do Instituto é importante no âmbito social para possibilitar às crianças e
deficientes um crescimento e desenvolvimento mais saudável, utilizando meios
esportivos, culturais e educacionais, evidenciando, também, a preocupação com o
bem social.
Os funcionários pesquisados afirmaram que o papel do IGK é o de articular
ações de desenvolvimento e integração social por meio de ações nas áreas de
educação, esporte e cultura, além do desenvolvimento de metodologias inovadoras
e capacitação permanente dos voluntários, estagiários e profissionais.
O bem-estar social, inclusão, desenvolvimento pessoal e formação da
cidadania foram os conceitos utilizados pelos usuários e financiadores, a fim de
definir o papel do IGK. Segundo os relatos obtidos, o mesmo está ligado às ações
sociais que venham contribuir com a melhoria de vida das crianças e deficientes
atendidos. Os financiadores apontaram o impacto na melhoria de vida das
comunidades e sociedade em geral, como papel do IGK e o fato de que tal papel
85
pode ser identificado pela importância do Instituto para todo o estado de Santa
Catarina.
Todos os atores pesquisados relataram conceitos semelhantes no que se
refere ao desempenho do IGK – atender pessoas com necessidades especiais e
utilizar o esporte como meio de inserção social – e consideram que o IGK cumpra
seu papel de forma satisfatória. Os funcionários e financiadores ampliaram um
pouco o conceito, quando apontaram o desenvolvimento e impacto na melhoria de
vida das comunidades, como sendo papel do IGK. Para Hudson (1999), as
organizações sem fins lucrativos são orientadas, basicamente, por valores
incorporados e vividos por pessoas que acreditam e lutam por aquela causa. Os
valores aludidos são de solidariedade e compromisso, não importando se
beneficiados por essas ações ou promotores das mesmas. Os apontamentos
realizados pelos atores envolvidos no IGK, no que tange ao papel que a organização
exerce, vão ao encontro dessa afirmação. Os atores pesquisados acreditam que o
objetivo do IGK seja o de desenvolvimento social e consideram-no legítimo, pois a
organização faz o que faz, dizendo o que diz, e desfruta do suporte de
colaboradores identificáveis. (Edwards apud Lister, 2003)
O que torna o IGK uma organização considerada eficaz, para os diretores,
são os relatos dos usuários, os relatórios com informações quantitativas e
qualitativas elaborados pela entidade, além das informações divulgadas na mídia.
Essa visão também é compartilhada pelos outros atores envolvidos no IGK, sendo
que os funcionários, voluntários, usuários e financiadores acrescentaram e
salientaram, como forma de concluir que o IGK é uma organização eficaz, os relatos
externos à entidade, como o da comunidade.
A partir dos depoimentos dos atores sobre o que torna o IGK uma
organização eficaz, observa-se o predomínio de dois modelos de eficácia,
considerando aqueles identificados na literatura por Quinn e Rohrbaugh (1983): o
modelo de objetivos e o modelo de sistema aberto. Os relatos estão relacionados ao
modelo de objetivos à medida que há preocupação com a missão da organização,
ou seja, ao “bem social”, em que os usuários e serviços prestados representam o
centro da avaliação. Quando fatores externos ao IGK, como divulgação na mídia e o
reconhecimento da comunidade, são citados como forma de concluir que a
organização é eficaz, pode-se observar a existência do modelo de eficácia de
sistema aberto, pois há a análise de critérios relacionados à sobrevivência da
86
organização, sua reputação e relação com o meio externo. É interessante evidenciar
aqui a forte aproximação entre os dois modelos de desempenho: objetivos e
sistemas abertos, algo que não ocorre necessariamente em organizações
empresariais. Ressalta-se que no tipo de organização em estudo existe uma forte
relação entre seus objetivos o ambiente externo no qual ela está inserida.
Os itens descritos, referentes ao conceito de eficácia na perspectiva dos
atores envolvidos no Instituto Guga Kuerten, podem ser visualizados no quadro
síntese que segue.
ANÁLISE DO CONCEITO DE EFICÁCI
A
Atores Características apontadas Informações apontadas Modelo de eficácia
relacionado
Diretores Bem social
Relatos dos usuários
Relatórios de resultados
Informações na mídia
Modelo de objetivos
Sistema Aberto
Funcionários Bem social
Inovação e capacitação
Relatos dos usuários
Relatórios de resultados
Relatos da comunidade
Modelo de objetivos
Sistema Aberto
Voluntários Bem social Relatos dos usuários
Relatórios de resultados
Relatos da comunidade
Modelo de objetivos
Sistema Aberto
Usuários Bem social Relatos dos usuários
Relatórios de resultados
Relatos da comunidade
Modelo de objetivos
Sistema Aberto
Financiadores Bem social
Impacto regional
Relatos dos usuários
Relatórios de resultados
Relatos da comunidade
Modelo de objetivos
Sistema Aberto
Percebem-se, nos depoimentos de todos os atores entrevistados, que o
conceito de eficácia organizacional está relacionado aos modelos de eficácia de
objetivos e sistema aberto, evidenciando simultaneamente a preocupação em definir
a missão da organização e com a sua reputação.
Conforme Cameron (1981, 1984), um objetivo é uma situação desejada que a
organização procura atingir e pode servir de parâmetro para avaliar o seu
desempenho. O estudo dos objetivos precede a análise das abordagens de
desempenho organizacional, visto que eles são pontos de referência para o
funcionamento interno das organizações. Esse tipo de abordagem parte do
pressuposto de que uma organização pode ser dirigida por um conjunto racional de
pessoas as quais, com base nessa racionalidade, elege um conjunto bem definido e
não muito grande de metas, capazes de serem inteiramente apreendidas por todos
os membros da organização. No caso em estudo, o argumento da orientação para
os objetivos é claro, porém o caráter racional do seu estabelecimetno, bem como de
sua consecução é algo que pode ser questionado.
Quadro 7 – Descrição dos conceitos de eficácia ressaltados pelos atores envolvidos no IGK e a
relação com os modelos de eficácia.
87
A preocupação com a mídia, relatada várias vezes, diz respeito a
características do modelo de sistema aberto, o qual considera que as organizações
são dependentes de fatores do ambiente externo (variáveis explicativas), ou seja,
que os fatores externos são capazes de explicar os internos. Há uma inter-relação
dinâmica e constante entre os sistemas externo e interno. O esforço contínuo da
organização em relacionar-se com o ambiente externo exprime-se nos atributos
(estrutura e tecnologia), processos e desempenho organizacionais. A organização é
vista não apenas em termos de alcance de objetivos, mas como um sistema social
que procura atender suas necessidades de adaptação e sobrevivência
(THOMPSON, 1976; ZEY-FERREL, 1979; HALL, 1984). Tais aspectos puderam ser
fortemente observados por meio dos depoimentos dos entrevistados. Pode-se
verificar, no trabalho, a ênfase que os atores atribuem às informações apresentadas
pela midia a respeito do Instituto.
4.4.2 Como a avaliação de desempenho ocorre no IGK
Conforme abordado no referencial teórico utilizado pelo presente estudo, para
o entendimento de expectativas e necessidades relacionadas aos diferentes atores
envolvidos numa organização sem fins lucrativos, estas se viram obrigadas a avaliar
suas atividades e resultados. Assim sendo, buscou-se, a partir dos relatos dos
atores, da observação direta e de pesquisa documental, verificar as formas de
avaliação adotadas pelo IGK.
As formas de avaliação conhecidas pelos diretores do IGK são os relatórios
enviados aos parceiros, visitas às entidades beneficiadas pelo FAPS e as crianças
atendidas no programa esportivo, além dos encontros recreativos promovidos aos
usuários. Os voluntários afirmaram que conhecem como forma de avaliação do IGK
os depoimentos dos usuários dos programas. De acordo com tais dados, evidencia-
se a presença de elementos de avaliação próprios dos modelos de objetivos,
processos internos e sistemas abertos.
Os usuários do IGK, por serem beneficiários de dois programas distintos (o
FAPS – de cunho assistencial, voltado a portadores de necessidades especiais, e o
programa esportivo – de cunho assistencial e educativo, voltado para a inclusão
social de crianças e adolescentes de baixa renda, por meio do esporte),
demonstraram opiniões diferentes, quando questionados sobre a forma de avaliação
88
de desempenho que conhecem. Os usuários do FAPS afirmaram que os
mecanismos de avaliação são visitas de membros do IGK aos projetos financiados e
o relatório de avaliação, aplicado aos integrantes do projeto. Esse relatório
específico do FAPS envolve questões que avaliam a coerência das ações em
relação às metas propostas, as facilidades e dificuldades existentes durante o
processo de implementação do projeto e a adequação dos recursos às ações
pretendidas (se foram suficientes ou não). O relatório traz ainda informações sobre o
número de beneficiados, de profissionais e parceiros envolvidos. São avaliados,
também, itens que englobam resultados obtidos pela gerência e pelos profissionais.
Assim sendo, no que tange à forma de avaliação de desempenho do FAPS,
observa-se que a mesma é definida pela maximização dos resultados e pela
centralização-integração das ações pretendidas, que acentua o planejamento, a
eficiência e a produtividade, características do modelo de objetivos (BOWDITCH e
BUONO, 1992). A preocupação com a capacidade de parcerias está relacionada ao
modelo de eficácia de sistema aberto, que entende a eficácia como a capacidade de
a organização explorar seu ambiente a fim de adquirir recursos e manter seu
funcionamento. (YUCHTMAN e SEASHORE, 1967)
No programa esportivo, os critérios de avaliação de desempenho realizados,
conforme depoimento dos usuários são, principalmente, o relato dos pais e o
comportamento das crianças, relatados pelos profissionais das escolas, pais e pelos
próprios educadores. A partir da análise do relatório anual de atividades, elaborado
pelos profissionais do IGK, observou-se que são utilizados critérios de avaliação
relacionados aos alunos, aos professores, aos núcleos e ao programa, conforme
segue:
Critérios de avaliação dos alunos: frequência no projeto, autoavaliação,
avaliação da família realizada e avaliação da escola, ambas realizadas
por meio de aplicação de questionário.
Critérios de avaliação dos professores: realizada por meio da aplicação
de questionários aos alunos, engloba os critérios: pontualidade,
domínio do conteúdo, relacionamento com a turma, didática e recursos
utilizados.
Critérios de avaliação dos núcleos: são relatadas as conquistas,
desafios e propostas de cada núcleo, separadamente. A elaboração
dessa avaliação ocorre por meio de reuniões dos núcleos.
89
Critérios de avaliação do programa: número de visitas domiciliares,
número de contatos com a escola, número de reuniões com a família,
número de contatos com os pais e responsáveis, número de
encaminhamentos sociais, número de contatos com a rede sócio-
assistencial, número de passeios, número de pesquisas de avaliação e
número de capacitações dos educadores.
Os critérios de avaliação utilizados no programa esportivo Campeões da Vida
estão relacionados, principalmente, às características do modelo de eficácia de
recursos humanos. Embora utilize indicadores predominantemente quantitativos
referentes às metas e objetivos do IGK, observa-se a preocupação com medidas
relacionadas ao desenvolvimento, satisfação, comprometimento e moral dos atores
envolvidos, determinando a proeminência dos atributos citados no estabelecimento
da eficácia organizacional (COULTER, 1979). Observam-se, ainda, critérios
relacionados com o modelo de processos internos, quando abordados aspectos
referentes à melhoria dos procedimentos internos (CAMERON e WHETTEN, 1981),
como a avaliação de cada núcleo e do programa esportivo, no seu todo.
Tais conclusões podem ser extraídas do relato dos funcionários e
financiadores quanto às formas de avaliação de desempenho existentes no IGK,
pois eles apontaram, também, os mesmos relatórios, além dos relatos dos usuários
e da avaliação in loco, ou seja, uma avaliação realizada no dia a dia, à medida que
as ações dos programas são realizadas, demonstrando preocupação com a
concretização das ações planejadas, característica do modelo de eficácia de
objetivos. A partir dos dados descritos neste tópico, chegou-se ao seguinte quadro
síntese:
Análise da forma como a avaliação de desempenho ocorre no IG
K
Atores Características apontadas Modelo de eficácia relacionado
Diretores
Relatórios
Satisfação dos envolvidos
Preocupação com feedback aos
financiadores
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
Funcionários
FAPS:
Visitas técnicas e relatório de
avaliação
Metas versus ações
Número de produtos/serviços
oferecidos
Capacidade de parcerias
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
PROGRAMA ESPORTIVO:
Satisfação dos envolvidos
Avaliação in loco
Preocupação com os processos
Recursos Humanos
Modelo de Objetivos
Processos Internos
Voluntários
Relatos dos usuários Modelo de Objetivos
Recursos Humanos
90
Sistema Aberto
Usuários
FAPS:
Visitas técnicas e relatório de
avaliação
Metas versus ações
Número de produtos/serviços
oferecidos
Capacidade de parcerias
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
PROGRAMA ESPORTIVO:
Satisfação dos envolvidos
Recursos Humanos
Modelo de objetivos
Sistema Aberto
Financiadores
Satisfação dos envolvidos Impacto
regional
Relatórios do FAPS e do programa
esportivo
Recursos Humanos
Sistema Aberto
Modelo de objetivos
Processos internos
As informações evidenciadas neste quadro síntese demonstram que a
avaliação de desempenho no IGK ocorre a partir de diferentes perspectivas,
considerando cada grupo de atores envolvido, bem como a sua área de atuação
específica (se atuante na área social do instituto – ligada ao FAPS ou atuante na
área esportiva – ligada ao programa esportivo Campeões da Vida). E ainda que
essas perspectivas podem encontrar-se ligadas aos quatro modelos de eficácia
organizacional abordados, sendo que há predominância do modelo de eficácia de
Objetivos e modelo de eficácia de Recursos Humanos e Sistema Aberto, ou seja,
preocupação com o atendimento às metas da organização e com a satisfação dos
participantes, enquanto o modelo de eficácia com menor frequência é o de
Processos Internos.
4.4.3 Como a avaliação de desempenho deveria ocorrer no IGK
Depois de questionados sobre as formas de avaliação existentes no IGK, os
atores apontaram a forma como a avaliação de desempenho deveria ocorrer. Os
diretores afirmaram que a avaliação de desempenho do Instituto deve ser coerente
com os objetivos da entidade, ou seja, deve ser avaliado se o objetivo em questão, o
atendimento de pessoas com necessidades especiais e crianças de baixa renda,
está sendo cumprido. Segundo Hall (2004), nesse modelo, uma vez estabelecidas,
as metas serão adotadas como padrão para o julgamento das ações. Outro critério
de avaliação levantado pelos diretores foi relacionado à equipe do IGK, pois,
Quadro 8 – Análise da forma como a avaliação de desempenho ocorre no IGK.
91
segundo os mesmos, a competência dos recursos humanos e a coesão entre os
membros é um aspecto importante para a avaliação de desempenho.
Os depoimentos dados são coerentes com as características do modelo de
eficácia de objetivos, no qual a organização funciona como um conjunto de partes
intencionalmente planejadas e interligadas e cada uma desempenha um papel
claramente definido para o todo, na busca de metas finais relacionadas à eficiência e
à produtividade (QUINN e CAMERON, 1983). Apresentam, também, características
relacionadas ao modelo de eficácia de recursos humanos e processos internos, à
medida que a ausência de tensões internas, a boa integração dos seus membros e o
elevado nível de confiança entre os integrantes da organização são critérios de
eficácia (BOWDITCH e BUONO, 1992), além da preocupação com a capacidade de
parcerias, característica do modelo de sistema aberto, que demonstra preocupação
com a análise de critérios relacionados à sobrevivência da organização
(DELLAGNELO e DELLAGNELO, 1996).
Os funcionários deixaram clara a preocupação com critérios de avaliação que
possibilitem a divulgação do Instituto, ou seja, a imagem externa que a entidade
passa, em relação à qualidade de suas ações e atividades realizadas. Observa-se,
nesse ponto, o predomínio do modelo de eficácia de sistema aberto, pois as
características descritas apontam a relação da organização com seu ambiente
externo. Além disso, a relação mencionada pode ser vista como a capacidade que a
organização tem de explorar seu ambiente e a imagem que possui perante o
mesmo, a fim de adquirir recursos para manter seu funcionamento. (YUCHTMAN e
SEASHORE, 1967)
No que tange aos voluntários do IGK, os mesmos afirmaram que a entidade
deveria ser avaliada a partir dos depoimentos dos diversos atores nela envolvidos,
ou seja, todos deveriam ser ouvidos sobre suas opiniões em relação às ações que o
Instituto desenvolve. Sendo assim, pode-se identificar características do modelo de
eficácia de recursos humanos, segundo o qual a organização eficaz é aquela em
que as pessoas se sentirão realizadas se virem a organização como um
instrumento-chave para a realização de suas necessidades (HALL, 1984).
Características do modelo de eficácia de objetivos e de sistema aberto podem ser
identificadas, também, à medida que a satisfação dos envolvidos reporta aos
objetivos da organização e sua relação com o ambiente externo.
92
Quanto aos depoimentos dos usuários a respeito da forma como o IGK
deveria ser avaliado, os mesmos afirmaram que a avaliação deveria ser realizada
pela comunidade, pelos beneficiados diretamente e pelos funcionários da entidade,
por meio de critérios como eficácia, eficiência e efetividade das atividades, retorno
dos investimentos, impacto na comunidade e coerência das ações com os objetivos
dos projetos do Instituto. Da mesma forma que os voluntários, observam-se
características do modelo de eficácia de recursos humanos, complementados, no
caso, por medidas que reportam ao modelo de eficácia de objetivos, pois estão
voltadas ao alcance de metas da entidade, bem como à eficiência e à produtividade,
e ao modelo de sistema aberto, em virtude da preocupação com o impacto das
ações do IGK na comunidade.
Para os financiadores pesquisados, as formas de avaliação atuais do IGK
estão a contento, ou seja, o relatório anual de atividades, as visitas aos projetos e os
relatos dos usuários são suficientes para avaliar as ações do Instituto; sendo assim,
o mesmo possui predominantemente características do modelo de eficácia de
objetivos e do modelo de sistema aberto, conforme descrito quando analisada a
avaliação de desempenho no IGK.
A fim de se obter a visualização da forma como a avaliação de desempenho
deveria ocorrer no IGK, na perspectiva dos atores envolvidos, se formulou um
quadro, conforme segue:
Análise da forma como a avaliação de desempenho deveria ocorrer no IG
K
Atores Características apontadas Modelo de eficácia relacionado
Diretores Ações versus objetivos
Competência dos RH e coesão
Modelo de Objetivos
Processos Internos
Recursos Humanos
Funcionários Divulgação
Satisfação do público externo
Sistema Aberto
Voluntários Satisfação dos envolvidos Recursos Humanos
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
Usuários Satisfação dos envolvidos
Padrões de qualidade
Dados receitas/despesas
Ações versus objetivos
Impacto na comunidade
Recursos Humanos
Modelo de Objetivos
Sistema aberto
Financiadores Satisfação dos envolvidos
Impacto regional
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
Quadro 09 – Análise da forma como a avaliação de desempenho deveria ocorrer, na
perspectiva dos atores envolvidos, e a relação com os modelos de eficácia.
93
O quadro síntese possibilita visualizar que a forma como a avaliação de
desempenho deveria ocorrer no IGK, conforme o relato dos grupos de atores
pesquisados, possui diferentes perspectivas. E ainda que as perspectivas dos
voluntários, usuários e financiadores aproximam-se, haja vista que nos seus relatos
há ênfase no modelo de recursos de objetivos e de sistema aberto, ou seja, no
alcance da missão organizacional, que seria a satisfação das pessoas envolvidas na
organização, aspecto que também guarda forte relação com o ambiente externo.
4.4.4 Como o IGK poderia ser mais eficaz
A fim de identificar, por meio dos dados coletados, o modo como o IGK
poderia ser uma organização mais eficaz, ou seja, ter um desempenho superior ao
atual, foram abordadas as formas como o IGK poderia desempenhar melhor o seu
papel e as preocupações futuras dos atores em relação ao desempenho da
organização.
Os diretores afirmaram que, a partir da captação de mais recursos, o IGK
poderia ampliar seus projetos e maximizar suas ações. A preocupação com o
financiamento também foi identificada quando os diretores foram questionados sobre
as preocupações futuras com o desempenho do IGK. Eles apontaram que a imagem
do instituto está ligada à figura de Guga Kuerten e, pelo fato de o tenista estar se
afastando do mundo dos esportes, temem que as parcerias com empresas
financiadoras diminuam. Esclareceram que o IGK possui um know-how adquirido por
meio dos anos de atuação e esperam que o mesmo seja usado para o
desenvolvimento de novas estratégias de captação de recursos.
Ao serem questionados acerca da forma como o Instituto poderia executar
melhor o seu papel, os funcionários informaram considerar que a organização
executa muito bem a sua tarefa e que acertos são realizados quando necessário,
conforme o monitoramento das ações. No que tange aos planos futuros do Instituto,
os funcionários entrevistados afirmaram que desconhecem a intenção de mudanças,
que a preocupação está relacionada à garantia da continuidade das ações
desenvolvidas, com foco em novas formas de captação de recursos. Sendo assim,
tanto os diretores como os funcionários apontaram questões referentes à captação
de recursos, como característica para que o IGK desenvolva melhor o seu papel e
94
essas informações são coerentes com características principalmente do modelo de
eficácia de sistema aberto, mas também do modelo de processos internos, no qual
uma organização é considerada eficaz na medida em que maximiza sua posição de
barganha e aperfeiçoa a obtenção de recursos (DELLAGNELO e DELLAGNELO,
1996) e, ainda, os critérios relacionados à mensuração de resultados na organização
cedem lugar para o desempenho no processo de aquisição e utilização de recursos,
em vez de verificá-lo no estado final. (CAMERON, 1978)
Os voluntários destacaram que o IGK poderia executar melhor o seu papel
com a ampliação do atendimento, tendo em vista que as ações do programa
esportivo abrangem, apenas, os usuários que cursam o ensino fundamental, ou seja,
os que têm até 15 anos de idade, aproximadamente. Em relação ao futuro do
Instituto, os voluntários pesquisados afirmaram que estas questões estão
relacionadas diretamente às atividades que realizam. Segundo os mesmos,
gostariam de ter uma maior gama de atividades e estender os atendimentos
realizados (fisioterapêuticos e psicológicos) não somente aos usuários, mas aos
outros membros da entidade, como os funcionários, por exemplo. Tais
características levantadas pelos voluntários do IGK convergem com os
apontamentos tanto do modelo de eficácia de recursos humanos, no qual o ser
humano é o centro dos processos e objetivos organizacionais, quanto do modelo de
objetivos, quando reportam ao atendimento das metas organizacionais, ou seja, a
ampliação do atendimento às crianças e portadores de necessidades especiais.
Na opinião dos usuários, o IGK poderia desempenhar melhor o seu papel se
houvesse mais parceiros a colaborar para que outros projetos pudessem se realizar,
beneficiando, assim, mais pessoas. Os usuários pesquisados afirmaram
desconhecer os planos ou preocupações do IGK com o desempenho futuro, mas
que as mesmas devem estar relacionadas com a continuidade dos projetos e ações
realizados.
Para os financiadores, o trabalho do IGK é “extraordinário” e poderia ser
melhor executado com a ampliação dos projetos sociais para outras regiões.
Afirmaram que tal deveria ser uma preocupação futura, pois o Instituto tem
reconhecimento em nível nacional e isso traria apoio de novos financiadores. Da
mesma forma que os diretores e funcionários, os usuários e financiadores
demonstram atenção à obtenção de parcerias financeiras para a ampliação das
ações e projetos do IGK, coerente com os conceitos do modelo de eficácia de
95
sistema aberto e com o modelo de processos internos, que possui como ênfase as
formas de captação de recursos no meio externo à organização. Características do
modelo de eficácia de objetivos são visualizadas quando usuários e financiadores
apontam a ampliação do atendimento como forma do IGK ser mais eficaz.
Os dados coletados podem ser explicitados, a partir do quadro síntese a
seguir:
Como o IGK poderia ser mais eficaz
Atores Características apontadas Modelo de eficácia relacionado
Diretores Aquisição de recursos
Novas parcerias
Sistema aberto
Processos Internos
Funcionários Aquisição de recursos
Novas parcerias
Sistema aberto
Processos Internos
Voluntários Ampliação do atendimento
Desenvolvimento dos envolvidos
Modelo de Objetivos
Recursos Humanos
Usuários Aquisição de recursos
Novas parcerias
Planejamento
Sistema aberto
Processos Internos
Modelo de Objetivos
Financiadores Ampliação do atendimento
Novas parcerias
Sistema aberto
Processos Internos
Modelo de Objetivos
Percebe-se, por meio do quadro síntese apresentado, que todos os grupos de
atores pesquisados demonstram preocupação com critérios característicos do
modelo de eficácia de sistema aberto, prevalecendo questões relacionadas à
captação de recursos e de novas parcerias, a fim de garantir a continuidade das
ações desenvolvidas pelo Instituto.
A fim de estabelecer comparações entre a forma como os atores veem o
desempenho atual do IGK e como consideram que o mesmo poderia ser mais eficaz,
um quadro com o seu desempenho atual, conforme a perspectiva dos grupos de
atores versus a forma como o Instituto poderia ser mais eficaz, foi construído e
apresentado na seqüência:
Forma como a avaliação de desempenho ocorre no IG
K
versus como o IGK poderia ser mais eficaz
Atores Modelo de eficácia relacionado
à avaliação atual
Modelo de eficácia relacionado a como o
IGK poderia ser mais eficaz
Diretores
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
Processos Internos
Sistema Aberto
Funcionários
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
Processos Interno
Sistema Aberto
Recursos Humanos
Modelo de Objetivos
Processos Internos
Recursos Humanos
Modelo de Objetivos
Voluntários
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
Quadro 10 – Descrição de como o IGK poderia ser uma organização mais eficaz, na perspectiva
dos atores envolvidos e relação com os modelos de eficácia.
96
Recursos Humanos Processos Internos
Usuários
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
Processos Internos
Recursos Humanos
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
Processos Internos
Financiadores
Sistema Aberto
Processos internos
Recursos Humanos
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
Processos Internos
Observa-se, predominantemente, a identificação do modelo de eficácia de
objetivos na forma de avaliação de desempenho que ocorre no IGK, considerando a
perspectiva dos entrevistados, No que tange à forma de o IGK tornar-se uma
organização mais eficaz, há apontamentos para elementos dos modelos de eficácia
de sistema aberto e de processos internos. Acredita-se que essa ampliação, na
percepção do desempenho da organização seja consequência da preocupação de
todos os atores com novas formas e fontes de captação de recursos, a fim de
garantir a continuidade e ampliação das ações do Instituto.
Quadro 11 – Forma como a avaliação de desempenho ocorre no IGK versus como o IGK poderia
ser mais eficaz, na perspectiva dos atores envolvidos e relação com os modelos de eficácia.
97
5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
O presente capítulo apresenta as conclusões relativas ao estudo
desenvolvido, tendo como referência os objetivos de pesquisa estabelecidos e aqui
novamente elencados:
a. Identificar atores importantes na dinâmica do funcionamento da organização
em estudo;
b. Identificar os critérios de avaliação de desempenho predominantes na
perspectiva de cada grupo de atores envolvido;
c. Verificar a predominância de critérios utilizados pelos diferentes grupos de
atores frente aos modelos de eficácia organizacional abordados na revisão de
literatura;
d. Analisar comparativamente as diferentes concepções de desempenho dos
grupos de atores envolvidos.
Após a definição da organização a ser estudada – o Instituto Guga Kuerten –,
foram identificados os atores envolvidos na entidade, quais sejam: diretores,
funcionários, voluntários, usuários e financiadores. Para o cumprimento dos
objetivos do presente estudo, buscou-se descrever as características dos atores
envolvidos no IGK, no que tange à dinâmica de funcionamento do Instituto, a partir
dos elementos: tempo de atuação na organização, atividade desenvolvida,
envolvimento no processo decisório e conhecimento sobre a organização, conforme
segue.
Os diretores e funcionários possuem maior tempo de atuação na organização,
pois estão no IGK há mais de cinco anos, enquanto os demais atores – voluntários,
usuários e financiadores – participam das ações do instituto há, aproximadamente,
um ano e meio. Quanto às atividades desenvolvidas, conforme o relato dos
entrevistados, aqueles que apontaram maior envolvimento no processo de
avaliação, bem como no processo de tomada de decisão no IGK, foram os diretores,
funcionários e financiadores. No caso dos diretores e funcionários, compreende-se
esse fato, uma vez que estão há mais tempo na organização. No que tange ao
conhecimento da organização, diretores, funcionários e financiadores afirmaram
possuir grande conhecimento e acesso às informações da entidade, em virtude do
tempo de atuação dentro da organização, ao seu envolvimento diário ou por meio do
98
acompanhamento constante de atividades, além de informações como relatórios e
jornais fornecidos pela entidade, e daquelas divulgadas pela mídia e comunidade.
Os voluntários e usuários informaram possuir um conhecimento parcial sobre as
ações do IGK, pois têm uma relação mais estreita com áreas que possuem maior
contato. Tal fato pode ser consequência do envolvimento parcial dos atores em foco
na organização e por eles não terem acesso aos relatórios e informações oferecidas
pela entidade aos outros atores.
Sendo assim, conclui-se que o envolvimento dos atores com a dinâmica
organizacional do IGK pode estar relacionado proporcionalmente a um maior tempo
de atuação na entidade e ao poder financeiro, pois os atores que apontaram maior
envolvimento com o Instituto, principalmente no que cabe à tomada de decisão
dentro da organização, são os diretores e funcionários com mais de cinco anos na
organização seguidos pelos financiadores. Enjolras (apud ANDION, 1998) destaca o
eixo econômico como novo fator central que configura a legitimidade das
organizações sem fins lucrativos; tal afirmação pode explicar o grau de participação
e influência dos financiadores na dinâmica organizacional do IGK em relação aos
demais atores.
Conforme relatado anteriormente, existem diversas maneiras de mensurar a
eficácia organizacional; no entanto, Schmid (2002) acredita que em organizações da
sociedade civil sem fins lucrativos, considerando a natureza das suas atividades, as
quais muitas vezes envolvem serviços intangíveis, seja mais difícil mensurar eficácia
organizacional do que em entidades que visam ao lucro. E ainda que muitas
pesquisas dentro de organizações sem fins lucrativos focam a comparação entre
organizações e a avaliação das suas visões diferentes de efetividade. Há uma
necessidade de pesquisas que concentrem uma única organização e analisem a
gama de percepções de seus atores dentro da organização. (MISTRY, 2007)
Diversas características apontadas neste trabalho, por meio dos dados
coletados, podem ser destacadas como próprias das organizações sem fins
lucrativos: baixo nível de formalização das atividades e processos, participação dos
membros na tomada de decisão, comprometimento dos indivíduos com os objetivos
das organizações, objetivos voltados ao bem social, qualitativos, de difícil
mensuração, bem como os diferentes grupos de interesse a serem atendidos. Para
Lachman e Wolfe (1997), a eficácia organizacional pode ser avaliada sob diferentes
pontos de vista; assim, conforme foi sustentado neste trabalho, o que é considerado
99
eficaz através de uma perspectiva pode ser interpretado de maneira distinta com a
adoção de uma outra visada.
No estudo apresentado, analisou-se a concepção de desempenho apontada
por cada grupo dos atores envolvidos em uma organização sem fins lucrativos – o
IGK, em quatro perspectivas principais: o conceito de desempenho, a forma como a
avaliação de desempenho ocorre na organização, a forma como a avaliação de
desempenho deveria ocorrer na organização e como o IGK poderia ser mais eficaz,
comparando-as aos modelos de eficácia propostos pela literatura abordada.
Diante dos dados analisados identificou-se que, no que tange ao conceito de
desempenho, todos os atores envolvidos na organização – diretores, funcionários,
voluntários, usuários e financiadores – apresentam características e informações
que reportam aos modelos de eficácia de objetivos e ao modelo de eficácia de
sistemas abertos, pois demonstram atenção ao bem social, impacto regional,
inovação e capacitação do capital humano, como papéis fundamentais do IGK e que
estão ligados, fundamentalmente, aos objetivos organizacionais. Além disso, utilizam
relatos dos usuários, relatórios de resultados, relatos da comunidade e informações
da mídia para chegarem a tais conclusões, aspecto que demonstra a influência da
perspectiva do modelo de avaliação de sistema aberto nesse processo.
A linha de análise do modelo de sistema aberto considera que as
organizações sejam dependentes de fatores do ambiente externo, ou seja, que os
fatores externos são capazes de explicar os internos. Há uma inter-relação dinâmica
e constante entre os sistemas externo e interno. O esforço contínuo da organização
em relacionar-se com o ambiente externo exprime-se nos atributos (estrutura e
tecnologia), processos e desempenho organizacionais. A organização é vista não
apenas em termos de alcance de objetivos, mas como um sistema social que
procura atender suas necessidades de adaptação e sobrevivência (THOMPSON,
1976; ZEY-FERREL, 1979; HALL, 1984), elementos que puderam ser claramente
verificados nos relatos dos entrevistados.
Em resposta ao questionamento sobre a forma como a avaliação de
desempenho ocorre no IGK, os usuários e funcionários apontaram características
diferenciadas relacionadas ao FAPS e ao Programa Esportivo. No FAPS, conforme
os relatos obtidos, a avaliação ocorre por meio de visitas técnicas e relatório de
avaliação, abrangendo critérios de metas planejadas versus ações executadas,
número de produtos/serviços oferecidos, capacidade de parcerias e preocupação
100
com os mecanismos internos. Tais características reportam aos seguintes modelos
de eficácia:
- Modelo de objetivos, quando evidenciam preocupação com a coerência
entre as ações da entidade, os objetivos planejados, a eficiência e a produtividade.
Um objetivo é uma situação desejada que a organização procura atingir e pode
servir de parâmetro para avaliar o seu desempenho. Esse tipo de abordagem parte
do pressuposto de que uma organização pode ser dirigida por um conjunto racional
de pessoas que, com base nessa racionalidade, elege um conjunto bem definido e
não muito grande de metas, capazes de serem inteiramente apreendidas por todos
os membros da organização;
- Modelo de sistema aberto, quando a atenção é voltada à capacidade de
efetivação de parcerias, ou seja, à capacidade de captar recursos no meio em que a
organização está inserida. Assim, o desempenho é definido em termos da posição
de barganha da organização, que é reflexo da capacidade para explorar o seu
ambiente na aquisição de recursos escassos e valiosos; e
- Modelo de processos internos, quando direcionadas à melhoria dos
procedimentos internos, a fim de facilitar o alcance de metas desejadas. Na
abordagem em destaque há a combinação dos pontos fortes das abordagens de
sistema aberto e de objetivos, pois considera as características dos processos
organizacionais internos como definidoras do desempenho e procura verificá-lo no
processo de aquisição e utilização de recursos, em vez de fazê-lo no estado final.
Dessa forma, o desempenho pode ser definido como a habilidade de a organização
adquirir e utilizar racionalmente recursos escassos e valiosos na consecução de
seus objetivos operacionais. (STEERS, 1977)
Ainda como forma de avaliação de desempenho no IGK, para os voluntários
pesquisados, os relatos obtidos dos usuários por meio de visitas e contato direto
com as crianças/entidades beneficiadas são importantes, demonstrando, assim,
características do modelo de eficácia de objetivos e sistema aberto, pois está
relacionada à satisfação de necessidades de seus membros. Os diretores também
relataram critérios que se relacionam com o modelo de eficácia de objetivos, no que
se refere à forma de avaliação de desempenho no IGK, como visitas às entidades
beneficiadas pelas ações do FAPS e avaliação das crianças participantes do
programa esportivo. Além disso, apontaram a elaboração dos relatórios da entidade
como imprescindíveis para que as informações e resultados dos projetos possam ser
101
apresentados aos parceiros financiadores do IGK, demonstrando, assim, ligação
com o modelo de eficácia de sistema aberto, na medida em que se preocupa com
atores externos à organização, ou seja, com a reputação do Instituto. Os
financiadores, por sua vez, afirmaram que a avaliação de desempenho ocorre,
principalmente, por meio de visitas aos projetos, relatos dos usuários e pelo impacto
social percebido por meio das ações que a entidade exerce junto à região onde atua,
corroborando com os modelos de eficácia de objetivos e sistema aberto.
No que refere à forma como a avaliação de desempenho deveria ocorrer
no IGK, de acordo com o relato dos diretores, ela deveria apontar se as ações do
Instituto estão coerentes com seus objetivos, além de englobar critérios de avaliação
da competência dos funcionários e coesão da equipe. Tais características reportam,
respectivamente, aos modelos de eficácia de objetivos e processos internos. Os
funcionários identificaram quesitos relacionados ao modelo de eficácia de sistema
aberto como importantes para a avaliação de desempenho do IGK, a saber:
divulgação e satisfação do ator externo.
Satisfação dos envolvidos, padrões de qualidade, dados de receitas e
despesas, coerência das ações do IGK em relação aos objetivos traçados e impacto
na comunidade foram características apontadas pelos usuários do IGK, como
exemplos de critérios que deveriam ser avaliados. Tais critérios demonstram
coerência com os conceitos do modelo de eficácia de recursos humanos, modelo de
objetivos e sistema aberto. Os voluntários afirmaram que a avaliação deveria ocorrer
focando a satisfação dos envolvidos, característica do modelo de eficácia de
objetivos. O mesmo apontamento foi realizado pelos financiadores, que definem a
forma atual de avaliação de desempenho como a ideal para o Instituto, acrescido,
apenas, da verificação do impacto regional, item do modelo de eficácia de sistema
aberto.
Comparando-se a perspectiva dos atores referente à forma como a avaliação
de desempenho ocorre no IGK e como deveria ocorrer, observa-se que, para os
diretores, a avaliação deveria redimensionar seu foco, de medidas como satisfação
dos envolvidos e resultados fornecidos aos financiadores (modelo de eficácia de
objetivos e sistema aberto) para a ênfase na coerência das ações do Instituto com
os objetivos estipulados, competência dos recursos humanos da organização e
coesão da equipe (modelo de eficácia de objetivos e processos internos) também.
Os demais atores – funcionários, voluntários, usuários e financiadores – apontaram
102
como medidas que devem ser avaliadas pelo IGK, critérios já descritos pelos
mesmos anteriormente, como integrantes do processo de avaliação existente.
Perguntados sobre como o IGK poderia ser uma organização mais eficaz,
os grupos de atores envolvidos – diretores, funcionários, voluntários, usuários e
financiadores – demonstraram atenção a novas formas de captação de recursos,
financiamento e com a ampliação das ações, revelando afinidade com
características do modelo de eficácia de sistema aberto e processos internos. Ocorre
a ênfase no relacionamento entre a organização e o seu ambiente externo, pois a
mesma procura inserir a incerteza do sistema externo no contexto das suas
preocupações, bem como com a habilidade de a organização adquirir e utilizar
racionalmente recursos escassos e valiosos na consecução de seus objetivos
operacionais (STEERS, 1977).
Os voluntários ainda demonstraram que o IGK poderia ser mais eficaz
ampliando seu atendimento para atender os diversos públicos envolvidos,
demonstrando, assim, ligação com o modelo de eficácia de objetivos e de recursos
humanos que, segundo Bowditch e Buono (1992), está baseado no argumento de
que eficácia representa o grau em que os participantes da organização estão
satisfeitos com ela, indo ao encontro das metas organizacionais do IGK.
O quadro a seguir resume as concepções de eficácia dos atores envolvidos
no IGK e os modelos de eficácia aos quais estão relacionados.
Atores
Análise das concepções de desempenho versus
modelos de eficácia organizacional.
1. Conceito de
desempenho
2. Como a avaliação de
desempenho ocorre
3. Como a avaliação
de desempenho
deveria ocorrer
4. Como o IGK
poderia ser mais
eficaz
Diretores
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
Modelo de Objetivos
Recursos Humanos
Processos Internos
Sistema aberto
Processos Internos
Funcionários
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
Modelo de Objetivos
(FAPS e PE)
Sistema Aberto (FAPS)
Recursos Humanos(PE)
Processos Internos (PE)
Sistema Aberto
Sistema aberto
Processos Internos
Voluntários
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
Recursos Humanos
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
Recursos Humanos
Modelo de Objetivos
Recursos Humanos
Usuários
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
Modelo de Objetivos
(FAPS e PE)
Sistema Aberto (FAPS)
Recursos Humanos (PE)
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
Recursos Humanos
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
Processos Internos
Financiadores
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
Recursos Humanos
Sistema Aberto
Modelo de Objetivos
Processos Internos
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
Modelo de Objetivos
Sistema Aberto
Processos Internos
Quadro 12 – Análise das concepções de desempenho versus modelos de eficácia organizacional
abordados na literatura
103
A partir das concepções de desempenho relatadas por cada grupo de atores
envolvidos no IGK, por meio das quatro perspectivas utilizadas no estudo (o conceito
de desempenho, a forma como a avaliação de desempenho ocorre na organização,
a forma como a avaliação de desempenho deveria ocorrer na organização e como o
IGK poderia ser mais eficaz) e a comparação das mesmas aos modelos de eficácia
propostos pela literatura, pode-se agrupar tais conceitos, a fim de refletir a respeito
da perspectiva geral de desempenho que cada grupo de atores envolvidos no IGK
tem, conforme mostra o seguinte quadro:
Perspectiva geral de desempenho dos atores envolvidos no IGK
Modelos de eficácia ligados
à perspectiva
geral de desempenho.
Diretores Funcionários Voluntários Usuários Financiadores
- Modelo de
Objetivos
- Sistema
Aberto
- Processos
Internos
-Recursos
Humanos
- Sistema
Aberto
- Modelo de
Objetivos
- Recursos
Humanos
- Processos
Internos
- Modelo de
Objetivos
- Recursos
Humanos
- Sistema
Aberto
- Modelo de
Objetivos
- Sistema
Aberto
- Recursos
Humanos
- Processos
Internos
- Modelo de
Objetivos
- Sistema
Aberto
- Recursos
Humanos
- Processos
Internos
Quadro 13 – Modelos de eficácia abordados na literatura ligados à perspectiva geral de desempenho
de cada grupo de atores envolvidos no IGK
Observa-se que, na concepção dos cinco grupos de atores envolvidos no
IGK, os modelos de eficácia de objetivos e sistema aberto estão presentes e
aparecem como as principais características apontadas na perspectiva geral de
desempenho que os mesmos possuem em relação à organização.
Acredita-se que isto tende a significar, primeiramente, que há preocupação da
organização com a consecução de suas metas, ou seja, com a coerência de suas
ações em relação ao cumprimento de sua missão. Segundo Bowditch e Buono
(1992), o modelo de eficácia de objetivos é o mais antigo e mais largamente utilizado
na avaliação da eficácia organizacional. Esta, na perspectiva do modelo de metas, é
alcançada quanto maior o grau em que as metas organizacionais forem também
atingidas. Nesse sentido, são critérios de avaliação do modelo de atingimento de
metas o estabelecimento e alcance de objetivos, a eficiência e a produtividade
(QUINN e CAMERON, 1983). Na literatura especializada dois objetivos são
normalmente ressaltados: oficiais e operacionais. Os primeiros são os propósitos
gerais da organização, e constam em relatórios anuais, comunicados e declarações
104
públicas de autoridades. Eles existem para legitimar a organização frente a seu
público ou ambiente de interesse. Os últimos são aqueles verdadeiramente
perseguidos por meio das políticas, planos e ações da organização,
independentemente dos objetivos oficiais. Eles designam os fins procurados por
meio das políticas operacionais da organização e demonstram o que ela realmente
está fazendo. (KEELEY, 1978; HALL, 1984)
No contexto da abordagem de objetivos, o desempenho é basicamente
definido em termos do grau ou medida da eficácia organizacional. Esse tipo de
abordagem parte do pressuposto de que uma organização pode ser dirigida por um
conjunto racional de pessoas que, com base nessa racionalidade, elege um bloco
bem definido e não muito grande de metas, capazes de serem inteiramente
apreendidas por todos os membros da organização. Uma organização é eficaz,
assim, quando alcança os objetivos fixados. No caso do IGK, a avaliação de
desempenho está pautada, segundo depoimento dos grupos de atores pesquisados,
na satisfação dos envolvidos e no “bem social” de crianças com baixa renda familiar
e portadores de necessidades especiais. Essas características estão de acordo com
os objetivos, metas e com a missão estipulada pela organização, aquilo que se pode
chamar de objetivos oficiais, os quais são claramente legitimados socialmente. Sua
medição é certamente um fator altamente complexo, muitas vezes controverso. No
entanto, a afirmação desses objetivos é um elemento importante na legitimidade da
organização, na afirmação de sua reputação na sociedade local.
Há, em segundo lugar, preocupação com a sobrevivência da organização em
seu meio. O desempenho, dentro dessa perspectiva, é definido em termos da
posição de barganha da organização, reflexo da capacidade para explorar o seu
ambiente na aquisição de recursos escassos e valiosos. O processo permanente de
competição entre as organizações por tais recursos determina a posição relativa de
cada uma na sociedade. É nesse contexto que o desempenho das organizações
pode ser avaliado comparativamente, sendo medido pela capacidade de a
organização maximizar a sua posição de barganha e otimizar a obtenção de
recursos. Segundo Salles e Dellagnelo (2005) algumas fontes de financiamento
enfatizam a vinculação de suas imagens ao trabalho realizado pela organização
beneficiada. Assim o alcance de resultados concretos do ponto de vista de algum
avaliador externo é importante para a projeção do projeto e, conseqüentemente, da
empresa patrocinadora (SALLES; DELLAGNELO, 2005).
105
No caso do IGK, os atores envolvidos têm consciência de que a reputação da
entidade é fator importante, visto que os recursos para financiamento de iniciativas
sociais são escassos e de que há necessidade de buscar novas fontes de
financiamento. Assim, a afirmação desse aspecto na avaliação de desempenho da
organização é uma constante.
Tal conclusão é corroborada em outros estudos realizados – como os
efetuados por Salles e Dellagnelo (2005), nos quais são abordadas a avaliação de
desempenho e a relação com as fontes financiadoras; por Monte e Carvalho (2004),
os quais verificam o poder e as relações de parcerias no terceiro setor com base nos
atores nacionais envolvidos no processo; por Dias (2002), que analisa a avaliação
de Impacto nas Organizações do Terceiro Setor pautado na Teoria dos
Stakeholders; por Silva (2002), o qual estuda a relação entre fontes de
financiamento e o nível de burocratização nas ONGs de Alagoas; e por Cunha
(2008), que verifica os critérios de avaliação de financiadores internacionais – que
apontaram o destacado papel do eixo econômico na realidade das organizações
sem fins lucrativos. A escassez dos recursos faz com que o financiamento tenha
cada vez mais destaque, pois, muitas vezes, torna-se responsável pela
sobrevivência das organizações.
Características do modelo de eficácia de processos internos foram
identificadas, nas falas dos diretores, quando demonstraram preocupação com
planejamento, competência organizacional e meios de captação de recursos. A
abordagem de processos internos busca a combinação dos pontos fortes das
abordagens de sistema aberto e de objetivos, daí uma de suas denominações
(abordagem de objetivos-recursos). Ela considera as características dos processos
organizacionais internos como definidoras do desempenho e procura verificar o
desempenho no processo de aquisição e utilização de recursos, em vez de verificá-
lo no estado final; por isso, ela é denominada de modelo de processos internos. No
contexto da abordagem em questão, o desempenho pode ser definido como a
habilidade de a organização adquirir e utilizar racionalmente recursos escassos e
valiosos na consecução de seus objetivos operacionais. (STEERS, 1977)
A definição de desempenho nesses termos fundamenta-se na estratégia de
sistema aberto, bem como na estratégia de sistema fechado. A organização é
entendida como uma unidade social intencionalmente orientada para a consecução
de objetivos e está continuamente ajustando-se ao contexto social em que se insere.
106
Ela pode definir, avaliar e tratar constantemente os elementos de incerteza do
ambiente externo, mas precisa, ao mesmo tempo, submeter-se à necessidade de
racionalidade funcional (comportamento dirigido para objetivos), requerendo
previsibilidade e certeza para poder sobreviver. (THOMPSON, 1976; STEERS, 1977;
ZEY-FERRELL, 1979)
Os funcionários, usuários e financiadores, quando questionados sobre o
desempenho do IGK, também citaram, em menor frequência, características
relativas ao modelo de eficácia de recursos humanos que, segundo Quinn e
Rohrbaugh (1983), considera a moral e a coesão da força de trabalho no que tange
aos meios e analisa o valor dos recursos humanos da organização no que se refere
aos fins.
Salienta-se que os esforços para integrar a literatura sobre desempenho
organizacional refletem consensos e desacordos. Para vários especialistas, o
desempenho é um construto, e o estabelecimento de seu significado e avaliação
estão baseados em valores e preferências individuais (CAMPBELL, 1977; SCOTT,
1977; SEASHORE, 1983; CUMMINGS, 1983). Entretanto, a noção de “concepções”
de desempenho só começa a ser trabalhada a partir do modelo de valores
competitivos proposto por Quinn e Rohrbaugh (1983). De acordo com esses
pesquisadores, o construto desempenho, como estava sendo empregado, era vago
o suficiente para gerar divergências. Os métodos tradicionais não eram apropriados
para resolver o problema. Por isso, Quinn e Rohrbaugh (1983) criaram o Modelo
Espacial de Análise do Desempenho das Organizações, na direção de uma
abordagem de valores concorrentes da análise organizacional. O Modelo Espacial
rompeu com os fatores analíticos empregados nos estudos anteriores do
desempenho organizacional e tornou explícitas e precisas noções implícitas e
abstratas de vários teóricos, ou seja, o que eles realmente pensavam sobre o
construto desempenho.
Este estudo procurou utilizar as dimensões estabelecidas na abordagem de
valores concorrentes, a fim de obter as concepções de desempenho de cada grupo
de ator envolvido no IGK. Observou-se, então, que o modelo espacial aproximou-se,
efetivamente, da situação em estudo, na medida em que permitiu a conjugação de
perspectivas de desempenho. Cada um dos quatro modelos de eficácia – Objetivos,
Sistema Aberto, Recursos Humanos e Processos Internos – é útil para explicar
determinados aspectos do comportamento da organização. Por tal motivo, ignorar
107
qualquer um deles é ter apenas uma visão parcial do desempenho. Isso sugere que
as organizações devem desempenhar-se bem em todos os quatro conjuntos de
critérios. Porém, em um dado momento, poderá haver necessidade de optar por um
critério e dar maior ênfase a ele.
A partir da análise realizada, foi possível esclarecer o conceito de eficácia
como uma construção social (HERMAN e RENZ, 1997). De acordo com os autores
pesquisados, as avaliações de desempenho não são regradas como fatos objetivos
e nem mesmo como arbitrárias ou irrelevantes. Ao invés disso, o conceito de eficácia
segue a definição e avaliação de desempenho como pensamento a) criado por
indivíduos ou atores organizacionais envolvidos, b) especificado para o contexto em
que é criado e c) capaz de envolver a contínua interação dos atores. (FORBES,
1998)
Em suma, através deste trabalho, foi possível analisar as perspectivas e a
“construção” do conceito de eficácia por parte de cada grupo de ator envolvido no
IGK, supondo-se uma maior influência dos grupos de atores, diretores, funcionários
e financiadores. Essa maior influência está ligada, possivelmente, ao tempo em que
as pessoas estão ligadas à organização, bem como ao poder financeiro que
exercem em sua dinâmica.
Além do exposto, o presente estudo evidenciou a análise dos modelos de
valores de eficácia de Quinn e Rohrbaugh (1983), na medida em que as concepções
de desempenho apresentaram elementos dos quatro modelos descritos pelos
autores. Da mesma forma, estudos preliminares de Silva e Dellagnelo (2005) e
Salles e Dellagnelo (2005) evidenciaram a diversidade de critérios empregados em
organizações sem fins lucrativos nas avaliações de desempenho, que remetem aos
modelos de processos internos, relações humanas, sistemas abertos e metas
racionais.
Observa-se, nos depoimentos dos atores entrevistados, que a predominância
do modelo de eficácia de objetivos pode estar ligada à transferência de práticas de
avaliação empresarial a organização pesquisada, pois, segundo Bowditch e Buono
(1992), ele é o modelo mais largamente utilizado na avaliação da eficácia de
empresas. Este modelo, que se tornou polêmico na área empresarial, não seria
diferente em organizações cujos resultados voltam-se para questões de âmbito
social (SILVA e DELLAGNELO, 2005). Conforme identificado, os objetivos
perseguidos por organizações sem fins lucrativos concentram-se,
108
fundamentalmente, em aspectos intangíveis, diferentes daqueles do campo
empresarial. Nesse sentido, de acordo com os dados levantados, pôde-se perceber
que geralmente as avaliações relativas ao alcance de objetivos no IGK referiam-se
ao bem social, ampliação do atendimento, satisfação dos usuários. Além disso,
quanto aos critérios de avaliação de desempenho que remetem ao modelo de
processos internos, é interessante destacar que a literatura apresenta o fato de a
ênfase em procedimentos internos não ter sido foco de interesse de organizações
civis sem fins lucrativos. A prática da formalização geralmente associada a essas
preocupações tem sido fortemente questionada por membros e estudiosos das
organizações. Cabe destacar aqui que a ênfase em controles internos, típicos de
organizações empresariais tem sua aplicabilidade limitada referidas organizações,
uma vez que o controle normativo possa ser muito mais efetivo no contexto
estudado.
Nota-se que o grau incertezas e de complexidades que cercam as
organizações sem fins lucrativos e suas inter-relações têm se acentuado com o
passar do tempo e com o aumento da “superfície de contato” deste setor com os
demais. Naquilo que diz respeito ao financiamento das atividades, o encontro dos
valores defendidos pelas organizações sem fins lucrativos com a realidade da
necessidade de conseguir recursos para garantir sua sustentabilidade pode expor
divergências, em princípio, inconciliáveis com os agentes financiadores
(CARVALHO, 2001). Muitas vezes estes financiadores fazem exigências aos
financiados, que, diante da escassez de recursos, se submetem.
Para Cunha (2008) a esfera econômica, representada fortemente pelos
financiadores de forma a viabilizar projetos e garantir a sustentabilidade dessas
organizações, é inegavelmente um ator importante no contexto em que as
organizações sem fins lucrativos vêm vivenciando. Porém, a sua influência nos
processos de desenvolvimento destas organizações, se não controladas, podem
culminar na descaracterização de sua essência, alterando os objetivos para
satisfazer interesses dos financiadores e não dos beneficiários. Salles e Dellagnelo
(2005) afirmam que, muitas vezes, a avaliação das atividades nas organizações sem
fins lucrativos é centralizada na fonte financiadora por meio dos relatórios. Desta
forma, os financiadores exercem controle sobre as organizações, condicionando a
liberação dos recursos das etapas subseqüentes ao cumprimento das atividades
109
previstas para o período anterior. Dessa forma, a exigência destes relatórios
demanda grande esforço da equipe técnica pelo nível de detalhamento exigido.
Assim, no IGK conclui-se que, mesmo afirmando que não há uma cultura de
avaliação de desempenho sistemática, os diretores e funcionários preocupam-se em
construir um instrumento de avaliação que possa ser reportado, principalmente, aos
financiadores, demonstrando os efetivos resultados da organização.
Apesar de o estudo ter se limitado à análise de apenas uma organização, é
possível sinalizar que parece não existir uma perspectiva relacionada ao conceito de
desempenho que esteja ligada a um único modelo de eficácia ou que possa ser
aplicada de forma padrão por tais atores. Isso significa que, mesmo demonstrando
grande preocupação com critérios relacionados ao modelo de sistema aberto, não
existe consenso quanto à forma de avaliação de desempenho; o que se percebe são
critérios avaliativos que têm maior ou menor destaque, de acordo com cada
contexto, e que costumam ter como foco processos internos e externos.
5.1 Recomendações
O presente trabalho teve como intuito contribuir para os estudos acerca das
concepções de desempenho dos diversos atores que atuam em uma organização
sem fins lucrativos.
Sugere-se que mais estudos sejam realizados abordando as concepções dos
atores de uma mesma organização, em âmbito nacional e internacional e que atuem
não somente em áreas assistenciais, a fim de possibilitar o maior esclarecimento no
que se refere à construção do conceito e aos critérios de avaliação utilizados.
Acredita-se que organizações sem fins lucrativos ligadas à cultura e educação
realizam atividades cujos resultados não podem ser facilmente mensuráveis, o que
poderia sugerir interessantes discussões envolvendo a construção do conceito de
desempenho.
Conforme Mistry (2007), os estudos empíricos sobre a eficácia nas
organizações sem fins lucrativos, usando perspectivas múltiplas, são limitados em
quantidade. Os que existem tendem a usar uma pequena parcela de colaboradores
dentro da organização e um grande número de organizações (MISTRY, 2007).
110
Sendo assim, o aprofundamento desses estudos faz-se necessário para que tal
lacuna nos estudos organizacionais seja preenchida.
Outra questão que deverá ser aprofundada, nesse sentido, será a discussão
sobre as disputas internas entre os diferentes grupos de atores, no que tange ao
conceito de eficácia organizacional, em busca de argumentos que possam elucidar a
forma como alguns autores são capazes de influenciar ou não essa questão.
111
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Anexo 1
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Anexo 2
Livros Grátis
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Milhares de Livros para Download:
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