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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
André Alves Farias
A Influência do Zen Budismo nas Artes Marciais Japonesas no
Brasil
MESTRADO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
SÃO PAULO
2009
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
André Alves Farias
A Influência do Zen Budismo nas Artes Marciais Japonesas no
Brasil
MESTRADO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
Dissertação apresentada à Banca Examinadora
da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, como exigência parcial para a obtenção
do título de MESTRE em Ciências da
Religião, sob a orientação do Prof. Dr. Frank
Usarski.
SÃO PAULO
2009
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Banca Examinadora
________________________
________________________
________________________
Ao meu Pai
(in memorian).
À minha mãe.
Ao Sensei Akira
(In memorian).
Ao Sensei Divino
(In menorian).
À todos meus alunos.
À todos companheiros(as) do Budo
“Portanto, possuo igualmente a natureza do Buda. Meu Mestre ministrou-me
hoje um ensinamento precioso que posso compreender por meio desse
espírito.”
As árvores, as pedras, os bosques, todos os elementos do cosmo inteiro
possuem a natureza o Buda.
Taisen Deshimaru
AGRADECIMENTOS
Ao orientador, Frank Usarski, que foi meu mestre no caminho acadêmico e
que muito me ensino. Agradeço principalmente sua confiança, paciência e
companheirismo.
Ao CNPq e ao Programa de estudos Pós Graduados em Ciências da Religião
da Pontifícia Universidade católica de São Paulo pela bolsa integral de Mestrado,
cujo auxílio financeiro possibilitou realização dessa dissertação.
À minha irmã, Adriana Alves Farias Lima, que com muita paciência, sempre
me ajudou.
Aos Professores Fernando Londoño, José J. Queiróz e João Edênio Reis
Valle com os quais pude ampliar meus conhecimentos não por meio das
disciplinas, mas também pelas conversas informais; e à gentilíssima secretária
Andréa.
Ao professor Emerson Franchini da Universidade de São Paulo, pelos
materiais fornecidos e grande incentivo no caminho acadêmico.
Aos membros da banca do exame de qualificação: Fernando Londoño e Silas
Guerriero.
À amiga Denise que prontamente me ajudou com o inglês do abstract
À querida amiga Tatiana Pitta, que muito me ajudou quando precisei.
Aos meus alunos e amigos que compreenderam minha ausência e que
sempre serviram inspiração.
RESUMO
Nessa dissertação procurou-se contextualizar as transformações ocorridas,
ao longo de períodos específicos da história japonesa, dos conteúdos de natureza
religiosos e marciais, pertencentes ao universo da arte marcial japonesa praticada
no Brasil. O conjunto das artes marciais japonesa é denominado BUDO (Caminho
das Artes da Guerra) e a arte marcial específica pesquisada, foi o Kendo (Caminho
da Espada).
A significativa importância de termos escolhido esta modalidade em relação
às demais artes marciais orientais presentes no Brasil se refere à coexistência de
aspectos históricos, étnicos e religiosos, que aparentemente, introduzem na cultura
brasileira, pressupostos éticos, morais da religião ensinada por Buda Gautama. Por
meio da pesquisa empírica ocupamo-nos de investigar algumas das manifestações
do universo não-corporal do Kendo a partir de entrevistas com praticantes da
modalidade divididos em dois grupos, de acordo com a graduação oficial,
regulamentada internacionalmente. As informações obtidas permitiram concluir que,
o entendimento filosófico, ético e religioso do Kendo vem adquirindo características
cada vez mais locais.
Palavras-chaves: Kendo, Budo, Budismo, transplantação religiosa.
ABSTRACT
This research aimed to contextualize the transformations observed through
specific eras of the Japanese history about religious and martial contents of the
Japanese martial in Brazil. Japanese martial arts is called Budo (The way of War)
and the specific one chosen for this research is called Kendo (the way of Sword).
The main difference regarding this kind of martial arts compared to others
existing in Brazil is the coexistence of historical, ethnic and religious contents that,
apparently, are bringing to the Brazilian culture ethical and moral assumptions from
Buda’s teachings. Through interviews we focused on the investigation about non-
physical manifestation which exists in Kendo. There were two groups, organized
according to their official scale. The information led us to conclude that the
philosophical, ethical and religious understanding about Kendo is gaining more and
more local characteristics.
Keywords: Kendo, Budo, Buddhism, religious transplantation.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES E TABELAS
Quadro 1 - Universo dos Praticantes ........................................................................78
Quadro 2 - Descendência dos Praticantes ...............................................................78
Quadro 3 - As Vias de Aproximação da Modalidade ............................................... 79
Quadro 4 - Objetivos e motivações para treinar o Kendo ........................................ 79
Quadro 5 - Entendimento do Termo Budo ...............................................................80
Quadro 6 - Conhecimento da História do Kendo.......................................................80
Quadro 7 - Filiação religiosa..................................................................................... 81
Quadro 8 - Simpatia por outras religiões ..................................................................81
Quadro 9 - Literatura de Interesse ............................................................................82
Quadro 10 - Filmes de Interesse . ............................................................................82
Quadro 11 - Crença na existência de ensinamentos religiosos no Kendo ...............83
Quadro 12 - Religiosidade na Arte Marcial ...............................................................83
Quadro 13 - Entendimento das terminologias japonesas no
grupo até Sandan ..........................................................................................84
Quadro 14 - Entendimento das terminologias japonesas no grupo
acima de Sandan ..........................................................................................85
Quadro 15 – Conhecimento de Histórias e de Lendas .............................................85
Quadro 16 - Conhecimento acerca dos princípios filosóficos do Kendo ..................86
Quadro 17 - Submissão ao Mestre ............................................................................86
Quadro 18 - Busca por outros recursos ....................................................................87
Quadro 19 – A Manifestação do Kendo Fora do Dojo ..............................................87
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .........................................................................................................13
CAPÍTULO 1 — O Budismo - Principais Características.....................................25
1.1 – Um breve relato histórico a respeito do Budismo.............................................25
1.2 - Uma Sinopse Histórica do Budismo Nipônico....................................................27
1.2.1 - Características do Budismo Japonês.............................,...............................25
1.2.2 - A Chegada do Zen no Japão.........................................................................30
1.2.3 - A Relação entre Budismo e Arte Marcial........................................................31
1.3 - O Budismo no Brasil........................................................................................32
1.3.1 - Considerações acerca dos primeiros momentos do Budismo
Japonês no Brasil ..........................................................................................34
1.3.2 - O Zen Budismo no Brasil ..............................................................................35
1.3.3 - O Templo e seus brasileiros ..........................................................................37
1.4 - A pesquisa do Budismo no Brasil ....................................................................39
1.4.1 - As dúvidas acerca da abordagem quantitativa nos estudos
sobre o Budismo no Brasil ............................................................................40
1.5 - Os catalisadores no processo de aproximação ao Budismo ............................43
1.5.1 - Budo um implícito proselitor do Budismo .......................................................43
CAPÍTULO 2 — Budo: As artes marciais no Japão .............................................47
2.1- O Que é Budo? Principais Características ........................................................47
2.1.1 - Origens e Transformação das Técnica Letais, Bujutsu,
em Caminho à Ser Seguido.......................................................................... 49
2.1.2 - O Bujutsu e sua Religiosidade ........................................................................49
2.1.3 - Zen e Samurai ............................................................................................... 51
2.1.3.1- Katana: a espada como objeto religioso e legitimador do poder ................53
2.1.3.2 - A Espada e o Samurai ................................................................................54
2.2 - A Era Meiji e sua influência na configuração do Budo .....................................55
2.2.1 - A transformação do antigo Kenjutsu em Kendo ............................................56
2.2.2 - Principais características do Kendo ...............................................................58
2.2.3 - No Dojo ..........................................................................................................60
2.3 - A simbiose entre Budismo e Budo: aspectos históricos .................................64
2.3.1 - Outras influências do Budismo na cultura japonesa ......................................66
2.3.1.1- Principais características da inseparabilidade
entre religião e cultura ..................................................................................66
2.3.2 - Algumas manifestações culturais do Zen Budismo no Japão ........................68
2.4 - O Budo como fator constituinte da identidade nacional
japonesa do Pós-Guerra ................................................................................70
2.5 - O Budo no Brasil - A Institucionalização do Budo no Brasil...............................72
CAPÍTULO 3 — Os Samurais Brasileiros .............................................................76
3.1 - O universo da pesquisa .....................................................................................76
3.1.1 - Resultados da Pesquisa ................................................................................78
3.2 Desembainhando Espada ...................................................................................89
3.2.1 – Conhecimento teórico do Kendo ...................................................................89
3.2.1.1 - Objetivos da prática do Kendo ....................................................................89
3.2.1.2 - Conhecimentos acerca do Kendo ......... .....................................................91
3.2.1.3 Conhecimentos da Terminologia e Iconografia das Academias....................95
3.2.2 - A religiosidade dos Entrevistados .................................................................97
3.2.2.1 - Para Além do Dojo: a transplantação dos princípios
do Kendo para a vida cotidiana .................................................................99
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................101
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................105
ANEXO 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO...........................................................116
ANEXO 2 - EXAME DE GRADUAÇÃO DE KENDO..............................................121
13
INTRODUÇÃO: A INFLUÊNCIA DO ZEN BUDISMO NO KENDO
BRASILEIRO
Ao longo das duas décadas dedicadas a aprendizagem e ao ensino de Budo
(Arte Marcial), encontramos inúmeras pessoas que procuravam um entendimento
mais apurado da mística que envolve o ensinamento de Budo. Essa mística está na
própria metodologia de ensino do Budo, que sob influência da religiosidade
japonesa, preconiza a “prática da técnica”, não apenas para alcançar resultados no
desempenho em competições, mas sim como um caminho de purificação,
tranqüilização e de regulação do mecanismo psicofísico.
Também há outras motivações como estudioso das religiões. A partir de
observações sem rigor de pesquisa, é possível constatar que muitos praticantes de
artes marciais incorporam práticas religiosas do Zen budismo ou do Xintoísmo, sem
conhecer seus fundamentos. Notam-se também informações desordenadas sobre o
Zen Budismo e outras religiões japonesas; oriundas dos mestres e alunos antigos de
algumas academias, que supostamente entenderiam do assunto. Daí, o desejo em
contribuir com duas áreas de conhecimento: Ciências da Religião e Educação
Física, aprofundando em uma pesquisa científica, a recepção e a influência da
religiosidade oriental em praticantes de artes marciais japonesas no Brasil.
Devemos destacar que não há, no Brasil, estudos que abordem a
religiosidade no Budo. Sendo assim, consideramos como estado da arte as obras
utilizadas para o embasamento teórico de nossa discussão, que nesse sentido é
inédita.
A pesquisa relacionada a esse universo qualitativamente relevante visa não
apenas complementar os trabalhos já existentes sobre a preparação física de atletas
de alto rendimento e de ensino e aprendizagem de determinadas artes marciais
japonesas (SASAKI 1995; FRANCHINI 1999, 2008), mas também criar uma ponte
para trabalhos sobre fenômenos análogos sobre a arte marcial chinesa no Brasil e
suas implicações (APOLLONI 2004), e especificamente, sobre a transplantação das
religiões do extremo oriente para o Brasil e suas implicações. Neste sentido, o
presente trabalho é homólogo aos realizados por Usarski (2002) em seu livro
Budismo no Brasil, onde o autor faz uma sistematização do panorama geral do
14
budismo brasileiro por meio de uma “tripla tipologia” para interpretá-lo. A primeira
delas seria o budismo de imigração, religiosidade articulada com a identidade étnica
dos imigrantes e seus descendentes. A segunda o budismo de conversão que é
dividido em duas correntes: a de primeira geração, na década de cinqüenta e
sessenta, e a de segunda geração, a partir dos anos setenta.
Buscando um embasamento sólido sobre a religião japonesa e a Arte Marcial,
serão utilizadas como referencial as obras clássicas disponíveis no ocidente,
especificamente no Brasil.
Sendo assim, será utilizado Daisetz Teitaru Suzuki, devido ao seu profundo
conhecimento teórico e prático do Zen. O referido autor, apesar de não ser monge,
era reverenciado como tal em diversos templos budistas, no Japão e em outros
países, devido ao seu profundo conhecimento acerca da temática do Zen Budismo e
espiritualidade. Em todas as obras do autor, até o momento, observa-se a dedicação
de no mínimo algumas ginas ao samurai e como este se utilizava do Zen em seu
cotidiano.
Na obra Introdução ao Zen Budismo, Suzuki (1992) disserta sobre os
elevados estados de consciência. Por meio das clássicas parábolas budistas,
ilustrações, comparações e um profundo conhecimento sobre a temática do Zen, e a
cultura ocidental. A partir daí, apresenta a natureza, a técnica e a prática do Zen,
exatamente onde ela deve estar, ou seja, além das conceitualizações intelectuais.
Em Zen Budismo e Psicanálise, Suzuki (1960) enfatiza que o humano vive de
maneira psicológica e não teórica. Partindo desse pressuposto, o autor faz algo
notável, que revela uma característica de crucial importância para que o ocidental
interessado no Zen internalize o Zen. Transmite-nos o Zen, por meio de reflexões
sérias e de natureza bastante pessoal, em torno do que seria a ideal experiência de
viver. Acima de tudo, por ser uma autoridade em Zen, embasado em seu
entendimento e estudo das obras originais em sânscrito, páli, chinês e japonês, traça
uma importante comparação entre a psicologia do Leste e a do Oeste. Para
aproximar o pensamento asiático do nosso, o referido autor utiliza-se de seu vasto
conhecimento do pensamento moderno ocidental mediante da psicologia de Freud e
das filosofias e poesias alemãs, francesas e inglesas, sendo, esta última, sua
principal língua de difusão do Zen no ocidente.
15
A partir disto, de maneira até controvertida, rotula o espírito ocidental como
analítico, objetivo, científico e generalizador, e o espírito oriental como sintético,
totalizador, integrador, dedutivo e intuitivo, ou seja, num contexto contemporâneo,
como holístico. Sendo assim, esta obra será de muita importância à pesquisa, por
tratar dos aspectos psicológicos do humano quando em contato com o Zen, por
meio de outras atividades ilustradas pelas diversas histórias de monges e samurais
narradas pelo autor.
Ainda com Suzuki, na sua obra Zen and Japanese Culture (1973), a partir de
uma documentação histórica e cronológica, traça um panorama histórico que elucida
como o Zen originário da China, frente às várias rejeições e conflitos com a religião
local, se instala e, posteriormente, se infiltra no Japão, modificando toda sua cultura.
Enfatiza, ao longo dos onze capítulos, as clássicas expressões do Zen, sendo os
mais destacados neste trabalho: o Zen e o Samurai, o Zen e o código de ética
Samurai (dois capítulos), o Zen e a poesia, o Zen e a cerimônia do chá. O autor
elucida que o Zen é uma experiência a ser vivida por meio de uma identificação, e
até fusão, com o que se está fazendo. Na arte, na cozinha, na luta marcial ou no
trabalho, o indivíduo, ao contrário do que ocorre no ocidente, não deve apartar do
objeto com que se relaciona e sim interagir com este num estado de consciência que
o desligue do mundo dual em que vivemos.
Em relação à experiência do Zen Budismo, sob uma ótica ocidental, tratada
por um ocidental, foi utilizada a obra de Christmas Humphreys (1999): O Budismo e
o Caminho da Vida, que trata do budismo aplicado à vida cotidiana, nos padrões
ocidentais. Aborda o processo de conversão ao Budismo pelos ocidentais
esclarecendo que tal processo ocorreria pelas vias da intelecção, ao contrário do
cristianismo que, segundo o autor, teria uma conversão movida mais pela emoção e
pela salvação. Acreditando na possibilidade de um dia haver a existência de um
Budismo ocidental distinto do oriental, que concilie a tradição asiática e o
pensamento analítico e investigativo do ocidente, expõe relevantes temas sobre
como se aplicar o Zen Budismo fora de seu torrão natal.
A obra A Experiência Mística do Zen (1984) de Allan Watts discorre sobre a
temática de viver o Zen, sob um enfoque metafísico da religião; já Takuan Soho que
foi um grande mestre de uma linhagem do Zen Budismo chamada Rinzai e
conselheiro do terceiro Xogunato (governante militar) Tokugawa. No livro Mente
16
Liberta (2000), apresenta três textos, entre os muitos volumes existentes escritos por
Takuan Soho, que discorrem fundamentalmente sobre três temas: a espada, a
técnica e a mente correta para utilizá-las. Aliado a outros clássicos de leitura
obrigatória, para estudiosos da arte samurai, o livro é um excelente guia de
estratégias que a exemplo dos líderes militares antigos do Japão, passou a ser
utilizado por praticantes de artes marciais, executivos e políticos em todo o mundo,
pois contém ensinamentos aplicáveis à competição e às disputas que estão
presentes em todos os aspectos da vida humana. Embasado nas filosofias budista e
confuciana, o livro tem por meta a invencibilidade e a vitória não pela brutalidade ou
deslealdade, mas sim pela compreensão e experiência do Zen.
Em se tratando especificamente de religião e Budo, o livro de Nitobe (2002),
Bushido, com mais de cem anos, desde sua primeira publicação, foi considerado de
fundamental importância, por ser um raro exemplar fundamentado na arte marcial,
que compara com seriedade as significantes diferenças culturais e religiosas entre o
Japão e o ocidente. Ao tratar das origens do Bushido, Nitobe (2002) narra
detalhadamente como as antigas filosofias e religiões (Budismo, Xintoísmo e
Confucionismo) foram codificadas e incorporadas no modo de vida do samurai e,
com maestria, traça comparativos com o cristianismo e a filosofia ocidental tornando
claro, ao leitor ocidental, princípios universais muitas vezes confundidos
simplesmente por terem sido ditos em outros contextos culturais e religiosos.
A singularidade do livro se pelo fato de Inazao Nitobe (1862-1933) ter
nascido em uma família de samurais de alto nível, na cidade de Morioka, no Japão,
o que lhe propiciou desde a infância, um treinamento ético dentro dos princípios
samurais. Outro fator importante e que permeia toda sua obra, é seu conhecimento
da Bíblia. Isso porque, enquanto universitário nos EUA, de 1884 a 1887, teve
contato com o cristianismo e formalmente se tornou membro da comunidade cristã
Quakers (Sociedade dos Amigos). Sendo assim, pelo fato de sua obra tratar sobre
os princípios éticos e morais da classe japonesa dos samurais, considera-se que ela
é sem dúvida, um referencial relevante, para todos os pesquisadores de
religiosidade e arte marcial nipônica.
Foi organizada uma síntese das idéias dos seguintes autores: Gusty L.
Herrigel autor de O Zen na Arte da Cerimônia das Flores (1995), Reinhard Kammer
em, O Zen na Arte de Conduzir A Espada (1995), Kenneth Kushener em O Arqueiro
17
Zen e a Arte de Viver (1992) e o clássico de Eugen Herrigel, A Arte Cavalheiresca
do Arqueiro Zen (1995). No estudo das obras dos referidos autores, constatou-se
que o mero domínio das técnicas não satisfaz verticalmente a consciência do
praticante, que sempre sabe que naquela arte praticada há algo a mais a ser
atingido ou descoberto. Entrementes, existe ali um mistério a ser descoberto e esse
mistério, para os autores estudados, pertence ao reino da metafísica, estando além
da compreensão analítica ocidental, surgindo da verdadeira “sabedoria
transcendental”, chamada no budismo de Prajna. Dessa forma, expressam os
autores que, arte e religião o intrínsecas e intimamente ligadas na história da
cultura japonesa. As artes por eles praticadas, expressas nos títulos de seus
livros, não se mostram como uma arte no seu sentido verdadeiro, mas sim, como a
expressão de uma experiência de vida extremamente profunda e particular.
A dissertação de mestrado de Apolloni (2004) é um dos pouquíssimos
trabalhos acadêmicos sobre arte marcial em Ciências da Religião, indica caminhos
para se conhecer como se o contato entre o conjunto semântico da religiosidade
brasileira e os elementos religiosos orientais (taoístas, budistas e confucionistas)
presentes na arte marcial chinesa, o Kung Fu. O autor, ao fazer uma pesquisa com
um número reduzido de pessoas, alcança em profundidade as raízes do Kung Fu no
Brasil, e então, estabelece como se a relação dos praticantes com o passado
histórico da arte praticada, com os mestres chineses e também como o
transmitidos os conhecimentos filosóficos, do Taoísmo e do Budismo Zen, conceitos
um tanto abstratos para a mente ocidental. Também faz uma detalhada identificação
da relação e do valor que os praticantes de arte marcial chinesa dão aos elementos
religiosos chineses presentes no Kung-Fu, e da relação dos mesmos com a
semântica dos ideogramas e a interpretação a respeito da forte iconografia
encontrada nas academias.
No entanto, há outro aspecto neste estudo que chama a atenção, e que
corrobora com as buscas, servindo assim como valiosa fonte é o enfoque
... pelo viés da chamada “religiosidade fragmentária”, isto é, pela análise de
como elementos religiosos de uma determinada cultura acabam
“contrabandeados” para dentro de outra a partir de atividades aparentemente
não relacionadas a qualquer forma de religiosidade. (APOLLONI 2004: 12)
18
Hiroshi Ozawa em, Kendo The Definitive Guide (1997), aborda desde as
técnicas básicas para os treinos combinados chamados de Kata, aos princípios de
combate. O livro é dividido em treinamentos formais e técnicas competitivas que
evolvem desde o preparo físico ao preparo mental. Também oferecem, em seu
anexo, informações fundamentais sobre o Kendo e um Glossário com todas as
terminologias utilizadas nas academias.
O antropólogo John J. Donohue fez um trabalho a partir de um antiqüíssimo
livro sobre esgrima japonesa, escrito pelo samurai Miamoto Musashi, o Complete
Kendo (1999). O livro é na verdade uma versão em linguagem moderna do que já foi
escrito por Musashi e dá maior ênfase aos aspectos filosóficos do kendo do que nas
técnicas. E exatamente por ser embasado em um clássico livro sobre Budo, se torna
relevante material de estudo.
A principal razão da importância deste trabalho é a inexistência, em território
brasileiro, pelo que a busca até agora aponta, de estudos que tenham como escopo
a religiosidade no Budo (arte marcial japonesa), um fenômeno que, segundo a
Confederação Brasileira de Judô (2006) congrega, no Brasil, mais de três milhões de
praticantes oficialmente registrados ou não e mais de quatro mil praticantes de
Kendo, segundo a Confederação Brasileira de Kendo (2006). Quanto ao Aikido não
um senso comum, muito provavelmente pelo grande número de “federações” ou
grupos oriundos de diferentes mestres que não congregam uma só federação, como
no caso do Jue Kendo, algumas delas: FEPAI (Federação Paulista de Aikido),
liderada pelo mestre Makoto Nishida ; Brasil Aikikai, liderada pelo prof. Wagner Bull
e outros; União Aikikai do Brasil, liderada pelo mestre Reichin kawai; AIZEN liderada
pelo mestre Ishitami Shikanai ; Associação Pesquisa de Aikido liderada pelo mestre
Keizen Ono.
As diversas formas de Budo crescem e ininterruptamente, no entanto
devemos nos atentar para a grande presença de simbolismo e pressupostos
existentes nessa arte. A palavra BUDO, por exemplo, tem como fator constituinte o
sufixo Do que tem uma íntima relação com a religião japonesa, nesse caso o
Budismo. Na palavra japonesa Budo, Bu é traduzido por “guerra” e o conceito de Do
(Tao em chinês) originou-se do Zen Budismo e se refere ao Caminho ou lugar para
se alcançar a iluminação.
19
Dojo, que é a designação para o local destinado para o treinamento das artes
marciais e de práticas religiosas, foi tomado emprestado do Zen Budismo. O
significado original, em língua Sânscrito, significa bodhimandala, ou local da
Iluminação (SUZUKI 1973).
Estes e outros mbolos presentes no universo do Budo são de fundamental
importância para serem estudados, não só pela Sociologia, Antropologia e História,
mas em especial pela a área das Ciências da Religião por ali estarem presentes
fortes indícios de uma implícita introdução clandestina, para dentro de nossa cultura,
de conteúdos religiosos budistas por meio de uma atividade que supostamente não
está relacionada a qualquer forma de religião
.
No que se refere ao crescimento do Budo no Brasil, vários são os fatores que
o estão impulsionando. Tomando como exemplo o estudo de Apolloni (2004), que
também aborda como a indústria do entretenimento do culo XX influenciou na
aproximação entre sociedade e arte marcial chinesa, Kung Fu, convém lembrar que,
a respeito da arte marcial japonesa, o mesmo aconteceu, pois muito tempo a
mídia exerce influência com uma contínua enxurrada de filmes de lutas, por
exemplo, Karate Kid I,II e III com o lendário Senhor Miagui, com as obras de Akira
Kurasawa sempre enaltecendo o Japão e a figura do Samurai e, por último, porém,
com maior evidência, o filme O Último Samurai, que aparece aliado com a nova
cultura de consumo, de literatura popular, as Mangás (um tipo de revistas em
quadrinhos japonesas), que trazem a lendária figura do samurai para junto de nossa
literatura infanto-juvenil.
Outro importante gênero de entretenimento, que não se pode preterir, são os
vídeo games, que desde sempre exploraram as lutas e que teve como novidade
para o ano de 2008 o jogo para Playstation 2, David Douillet Judo. O protagonista
deste novo jogo é o francês, tetra campeão mundial e bi campeão olímpico de Judô,
David Douillet.
Outros estudos, assim como o realizado por Apolloni (2004), foram feitos a
respeito da arte marcial chinesa. No entanto, ao comparar-se a arte marcial
japonesa com a chinesa, cujas imagens são resgatadas por Bruce Lee e Jack Chan,
nitidamente ver-se-á muitas diferenças. Tais diferenças podem ser visualizadas a
partir das técnicas utilizadas, mensagem, vestimenta, postura física dos lutadores
20
(as lutas tradicionais japonesas sempre preconizaram o Shizen Tai, que é a postura
natural do corpo).
Estas explicações são necessárias para indicar como este trabalho, assim
que concluído, abrirá precedentes para futuras investigações comparativas entre
dois campos (religiosidade e arte marcial japonesa e religiosidade e arte marcial
chinesa) ainda desconhecidos pelas ciências humanas em particular pelas Ciências
da Religião, pois ambas: arte marcial chinesa e japonesa, de maneira análoga,
mostram indícios de uma possível introdução clandestina, para dentro da cultura
brasileira, dos elementos religiosos orientais a partir de atividades esportivas
supostamente não relacionadas à religião, e que podem levar os indivíduos à
conversão religiosa.
O objeto de nosso estudo é a influência do pensamento Religioso japonês nos
praticantes de Artes Marciais Japonesas no Brasil, representados por professores e
atletas brasileiros praticantes de Kendo da cidade de São Paulo e Grande São
Paulo. O foco dessa dissertação está em investigar se influências implícitas ou
explícitas dos ensinamentos religiosos Japoneses Zen Budista nos praticantes da
arte marcial japonesa Kendo. Investigou-se se a religiosidade inerente ao kendo
interferiu na conduta de certos praticantes conceitos religiosos oriundos de uma
religião que ele não se converteu. Ou se eles, gradualmente, estariam se tornando
susceptíveis à religiosidade japonesa, por intermédio desses elementos religiosos
japoneses do budismo, que estão presentes nesta arte marcial.
Fizeram parte da amostra vinte pessoas praticantes de Kendo, de ambos os
sexos e com idade adulta. Estas pessoas foram divididas em dois grupos da
seguinte forma: oito com graduação acima de Sandan (3º grau) e 12 com praticantes
com graduação máxima de até Nidan (2º grau)
O enfoque foi de caráter sociológico, pois os estudos ocorreram dentro das
instituições de arte marcial, focando as relações dos praticantes de Budo com a
cultura religiosa japonesa no Brasil e como os substratos dessa relação influenciam
no cotidiano destas pessoas.
A modernização (e também ocidentalização) da prática de Budo acabou
tornando-a mais acessível a toda população, lembrando que essa atividade em sua
origem era destinada somente aos adultos que exercessem atividade militar no
21
Japão. Com essa transformação, todo o processo de transmissão tradicional dos
conteúdos e da prática tradicional foi modificado e adaptado à nova cultura para,
principalmente, melhorar o desempenho dos atletas em competições.
Enfim, a indagação central deste estudo foca a presença de indícios do
pensamento religioso japonês no Budo praticado no Brasil e como se manifestam
tais pensamentos.
Com o advento dos filmes, mídia, literatura popular e principalmente as
competições desportivas, o Budo (arte marcial japonesa) se popularizou muito. Em
se tratando de Budo, a revista Veja (2005) dedicou uma reportagem sobre Arte
Marcial e informava que todas as artes marciais no Brasil crescem 10% ao ano. O
curioso está no fato de que em uma cidade o violenta, como São Paulo, era de se
esperar que as pessoas procurassem essas artes como um tipo de defesa pessoal.
Entretanto, esse dado nem foi enfatizado pela reportagem, pois o que realmente
estaria motivando e levando as pessoas às academias seriam apenas os benefícios
que estas trazem ao corpo e à mente.
Por conta da mídia e de outras influências tais como: família e amigos, o Budo
tem fama de trazer benefícios ao corpo e à mente. É uma manifestação cultural
japonesa, que se tornou famosa e digna de confiança mesmo antes do indivíduo
ingressar na prática efetiva.
Nota-se que nos calendários de campeonatos das Federações Paulista de
Kendo há uma grande evidência de que o Budo brasileiro, além de ser um fenômeno
predominantemente urbano, é relativamente "forte" principalmente nos Estados de
São Paulo e Paraná. Tal fato fortalece a necessidade de se ter uma comunidade
japonesa, expressiva, por perto para a existência do Kendo. Esta afirmação é
relevante pelo fato de que muitas outras atividades esportivas são indiferentes à
presença de seus criadores como, por exemplo, o futebol, que dispensa a presença
de uma comunidade inglesa, para a manutenção dessa modalidade no Brasil.
Acerca da religiosidade nacional, sabe-se que, no Brasil, a predominância
religiosa é cristã, no entanto o Budo tem fortes ligações com o budismo e o
xintoísmo. Como os ensinamentos religiosos do Kendo não são explícitos e nem
catalogados nos sites e apostilas técnicas, muitos dos rituais e práticas místicas do
22
Kendo foram sincretizados pelos brasileiros que fazem leituras cristãs de práticas
budistas.
Por fim, destacamos que as características implícitas do Zen, presentes no
Budo, motivam os praticantes a estar procurando no Kendo, além dos benefícios
físicos, também um desenvolvimento espiritual.
A princípio tem-se por hipótese que as práticas mágico-religiosas e as
crenças místicas ainda podem ser encontradas entre Kenshis (praticantes de
kendo), apesar da crescente valorização dos resultados em competições e
profissionalização dessas modalidades.
A hipótese ou suposição preliminar deste trabalho está embasada no
questionamento de que haveria indícios implícitos e explícitos da religiosidade
japonesa no Kendo brasileiro e esses indícios poderiam levar seus praticantes à
aceitação e até a prática de rituais do Zen Budismo e do Xintoísmo. Para esclarecer
tais suposições é necessário observar que:
Em Budo, o nome designado ao local de treinamento poderia ser tido
como um símbolo religioso. A meditação antes e após o treinamento, principalmente
no Kendo, poderia ser considerada como parte de uma prática religiosa e o estado
mental objetivado por ela poderia ser visto como algo que integra a essência da
filosofia Zen budista. Estes indícios podem se apresentar de maneira implícita ou
explícita, como será demonstrado no decorrer desse estudo com base na simbologia
Zen Budista.
Sob uma influência subjetiva da simbologia religiosa japonesa, supõe-
se que com o tempo a prática exerceria grandes influências em seus praticantes. As
pessoas ingressariam no Budo por vários motivos e sob diversas influências e com
os anos de prática, mudariam seu foco de treinamento passando a valorizar mais os
aspectos filosóficos e religiosos da modalidade. Ou seja, o Budo poderia interferir no
conceito de moralidade do indivíduo, por conta do tempo de prática e por meio de
experiências práticas.
Devido à prática de Kendo estar quase que em sua totalidade voltada
para a comunidade japonesa e seus descendentes, ali se pode encontrar mais
presentes os aspectos tradicionais das religiões japonesas. Dessa forma, seus
praticantes podem ter maior susceptibilidade à influência das religiões japonesas
23
Ainda a respeito do Budo e sua religiosidade, trabalha-se com a
probabilidade de encontrar, junto com a religiosidade japonesa, traços religiosos que
se desenvolveram no Brasil, especificamente pela facilidade de sincretismo
pertencente ao Brasil.
Este trabalho teve por objetivo identificar as características do Zen Budismo,
presentes na arte marcial japonesa chamada Kendo, as quais não estão explícitas
na divulgação da mesma. As formalidades e “rituais” que envolvem esta prática
atraem muitas pessoas e por algum motivo, permite que seus adeptos aceitem e
eventualmente pratiquem os princípios religiosos japoneses, que muitas vezes não
lhes são pertencentes, na maioria das vezes, sem perceber.
Ao final, pretendemos subsidiar, com material de qualidade, professores de
Educação Física e mestres de Budo. Uma carência que necessita ser suprida, pois o
Budo, além de constituir atividade curricular em alguns colégios, cresce
ininterruptamente no Brasil e representa a nação em Olimpíadas e Campeonatos
Mundiais.
A pesquisa de campo ocorreu nas academias e competições. Seguindo GIL
(1995), foram utilizadas as técnicas de interrogação na forma de questionário. Nas
entrevistas foram adotadas questões fechadas, mas que propiciaram uma gama de
respostas suficientes (SILVA 2002). Foram empregadas quarenta e uma perguntas,
não íntimas, que não dessem sugestão de respostas, fáceis de entender e próprias
à elaboração de questionários.
O pré-teste do questionário foi realizado com um grupo de três kendokas com
razoável experiência e depois de verificado o tempo despendido para resposta, em
seguida foi reorganizado, analisado, corrigido e por último aplicado. A coleta de
dados ocorreu no âmbito das academias (Bunkyo e Piratininga) e nos campeonatos,
sendo que, procuramos oferecer aos participantes o máximo de privacidade durante
a aplicação dos questionários.
De volta ao nosso objeto específico, nas visitas realizadas às várias
academias de Kendo, encontramos elementos suficientes para informar que nas
academias de Kendo há indícios de elementos do Zen Budismo. No entanto, trata-se
de locais de prática onde, efetivamente, os alunos desenvolvem seu trabalho
marcial, sem grandes considerações pelo aspecto religioso, mas vale destacar que o
24
trabalho nessas academias inclui a meditação, que é um dos pilares, se não o
principal, do Zen Budismo.
No primeiro capítulo dessa dissertação foi a abordado o impacto do Budismo
nos diversos âmbitos da sociedade japonesa e como esse ultrapassou as barreiras
da religião, influenciando os mais inesperados campos como é o caso Arte Marcial.
Percorremos também pelas características sincréticas dessa cultura que mistura
budismo, xintoísmo e confucionismo.
Acerca da expansão do ultramar do Budismo japonês, foi mencionado que
elas ocorreram a partir do século XIX. No Brasil, sua história diverge muito das de
outros países ocidentais pela peculiaridade do total desinteresse por parte dos
primeiro imigrantes e até do governo japonês de estabelecerem templos e
missionários no Brasil.
Fizemos também um esboço da atual situação das pesquisas sobre o
budismo no Brasil destacando a história e a cronologia dos templos de São Paulo,
principalmente o Bushinji do bairro da Liberdade.
No segundo capítulo foi abordada a relação entre arte marcial japonesa e o
Budismo. Por meio da revisão bibliográfica esboçamos os principais fundamentos da
cultura japonesa para podermos compreender o processo histórico e de
transformação das artes marciais japonesas. O foco foi o resgate das heranças
religiosas oriunda da classe militar do Japão feudal e sua fusão como Zen Budismo.
No terceiro capítulo foram apresentados os métodos utilizados da coleta de
dados, apresentado os resultados e discutidos.
25
1. O Budismo - Principais Características
O Budismo surgiu na Índia e fez um longo percurso pelo extremo oriente até
chegar ao Japão, sendo importante observarmos que o Budismo nipônico
desenvolveu características particulares. Tais particularidades ocorreram devido a
fatores históricos e sócio-culturais e a combinações religiosas muito específicas, em
particular sua relação de interdependência com a cultura e suas manifestações
artísticas. Com uma história de quase mil e quatrocentos anos, o Budismo japonês
ultrapassou as fronteiras do Japão e de sua diáspora. Atualmente, é um dos
Budismos mais atuantes e divulgados no Ocidente.
Este capítulo apresenta uma breve história do surgimento do Budismo e sua
configuração no Japão como base para se entender suas características
fundamentais e sua manifestação na cultura nipônica, pois apesar de o Budismo ter
se espalhado por várias regiões do mundo, interessa-nos aquilo que ocorreu com o
Budismo no Japão, uma vez que o nosso foco o Budo é uma arte marcial
originária desta região e que sofreu forte influência do Budismo Zen.
1.1 – Um breve relato histórico a respeito do Budismo
O Budismo formou-se no nordeste da Índia, entre os séculos VI e IV a.C..
Este período corresponde a uma fase de alterações sociais, políticas e econômicas
nesta região do mundo. A antiga religiosidade Bramânica, centrada no sacrifício de
animais, era questionada por vários grupos religiosos, que geralmente orbitavam em
torno de um mestre (guru) (KÜNG 2004).
Portanto, o início do budismo estava intimamente ligado ao hinduísmo,
religião na qual Buda é considerado a encarnação ou Avatar de Vishnu (Deus do
panteão hindu). É mister lembrar que ambas as religiões tiveram seu crescimento
interrompido na Índia a partir do século VII, com o avanço do Islamismo e com a
formação do grande império árabe. Mesmo assim, os ensinamentos cresceram e se
espalharam pela Ásia, e a cada cultura foram adaptados, ganhando, assim,
características próprias em cada região que se estabilizava (KÜNG 2004).
26
É uma religião e filosofia baseada nos ensinamentos deixados por Siddharta
Gautama ou Sakyamuni (o sábio do clã dos Sakya) o Buda histórico, que viveu
aproximadamente entre 563 e 483 a.C. na Índia. De lá, o budismo se espalhou pela
Ásia, Ásia Central, Tibete, Sri Lanka (antigo Ceilão), Sudeste Asiático como também
para países do Leste Asiático, incluindo China, Myanmar, Coréia, Vietnã e Japão
(GARD 1964). Hoje, o budismo se encontra em quase todos os países do mundo e é
amplamente divulgado pelas diferentes escolas budistas (KÜNG 2004; GARD 1964).
A base do budismo é a compreensão das Quatro Nobres Verdades, ligadas à
constatação da existência de um sentimento de insatisfação (Dukka) inerente à
própria existência, que pode, no entanto, ser transcendido mediante a prática do
Nobre Caminho Óctuplo (YÜN 2004).
Outro conceito importante, que, de certa forma, sintetiza a cosmovisão
budista, é o das três marcas da existência: a insatisfação (Dukka), a impermanência
(Anicca) e a ausência de um "eu" independente (Anatta) (YÜN 2004).
Sendo assim, os ensinamentos sicos do budismo são: evitar o mal, fazer o
bem e cultivar a própria mente. Seu objetivo é levar à extinção do ciclo de sofrimento,
chamado Samsara, que significa um ininterrupto ciclo de renascimento e de morte.
Depois de findado este ciclo, busca-se despertar no praticante o entendimento da
realidade última, chamado de Nirvana
1
ou Iluminação (YÜN 2004; HUMPHREYS
1999).
O budismo dividiu-se em várias escolas, algumas das quais vieram a se
extinguir. A principal divisão que existe atualmente é entre a escola Theravada e as
linhagens Mahayana e Vajrayana (KÜNG 2004; GARD 1964).
Segundo Gard (1964) Mahayana significa o grande veículo ou ensinamento”
e se espalhou na direção norte, em países como Tibete, China, Vietnã, Coréia e
Japão. Theravada significa “escola dos anciãos ou monges” pejorativamente
conhecida como “Hinayana ou “o pequeno veículo ou ensinamento” e se
1
Nivana é a denominação para a libertação transcendente e singularmente indescritível, é o estado
de paz incomensurável e o objetivo final da prática budista: Página consultada em:
http://www.acessoaoinsight.net/caminho_liberdade/nibbana.php
27
popularizou mais nas regiões do sudeste asiático tais como: Sri-lanka (ex-Ceilão),
Mianmar (ex-Birmânia), Tailândia e outros países da Ásia do Sul.
1.2 - Uma Sinopse Histórica do Budismo Nipônico
No Japão, a primeira forma de Budismo que chegou foi o Mahayana, por volta
da metade do século VI, quando o rei do império de Packche/Baekje (território que
compreendia um dos três reinos constituintes da Coréia daquela época e que hoje
se chama Manchúria), objetivando estabelecer pacíficas relações com o Japão,
enviou, por meio de monges itinerantes, imagens do Buda e textos sagrados como
presentes para o imperador Japonês e toda sua corte (YOSHIDA s.d.). A data exata
em que o Budismo chegou ao Japão ainda é incerta e a única certeza que o autor
nos dá é que o Budismo foi transmitido para o Japão durante o período Kinmei (530-
571) em um território conhecido por Wa.
O período mencionado pelo autor se refere ao Período Asuka ou Budismo
Asuka. Esta época se refere a um momento histórico do Budismo onde este
dependia totalmente do patrocínio dado pelos fortes políticos do Estado de Wa,
como por exemplo: as poderosas famílias aristocratas (chamadas de uizoku),
especialmente a família Soga e os visitantes e imigrantes que tinha significativa
influência política. Este período pode ser descrito como Budismo ujizoku ou Budismo
das famílias mantenedoras. Ainda hoje existem no Japão cerca de cinqüenta ruínas
de templos construídos pelas famílias desta época e estes, se localizam ao redor de
Asuka em Yamato e em Kinai (Kansai) (YOSHIDA sd).
Segundo Gonçalves (1979) é nessa época que surge a figura do a hoje
idolatrado Príncipe Shotoku que, no reinado da imperatriz Suiko (592-628), assume
a regência (de 593 a 622) e introduz profundas reformas administrativas. Entre elas
se destaca a promulgação da chamada Constituição de Dezessete Artigos (604). É a
mais antiga lei escrita japonesa, promulgada, conforme a tradição registrada no
Nippon-Shoki (Crônica do Japão), no ano de 604. Esse documento tem uma
profunda influência do Budismo, e da ideologia ético-burocrática do Confucionismo.
Esse príncipe era um entusiasta do Budismo, o que o levou a construir templos e a
fazer, ele próprio, pregações na Corte. No artigo 2º da constituição está evidente que
28
ele apresenta uma exortação à veneração das Três Jóias do Budismo: o Buda
(Mestre), o Dharma (Doutrina) e o Sangha (Comunidade de Adeptos).
De sua chegada até a era Nara (710-794) foram períodos de grande
aceitação do Budismo. No entanto, é nessa época que o Zen chega ao Japão e
segundo Yoshida (sd) e Matsunami, (2004) este período não foi propício para
desenvolvimento do Zen. O Zen era considerado muito individualista, o que ia contra
as políticas públicas vigentes, que requeriam das “novas religiões” elementos que
contribuíssem com os propósitos do governo. Sendo assim, estas primeiras formas
de Zen não conseguiram se estabelecer e a contagem cronológica do Zen teve
início, de fato, na era Kamakura (1180-1333).
No período Heian (794-1185) o Budismo começa a se aproximar da cultura
japonesa (sincretismo) e se propaga paulatinamente no interior do país. Nesse início
o Budismo era um movimento de elite, voltado exclusivamente à nobreza.
o período Kamakura foi considerado muito importante para a história e
desenvolvimento do budismo japonês, em relação aos períodos anteriores, porque
foi naquela época que surgiram algumas escolas, com novas formas de
ensinamentos que tornaram o aprendizado do Budismo fácil e praticável (YOSHIDA
sd). As principais personalidades que configuraram este novo quadro do budismo
japonês foram: Honen, fundador da Jodo Shu; Shinran, fundador da Jodo Shin Shu;
Eisai, o introdutor do Zen; Dogen, fundador da escola Soto Zen Shu; Nichiren,
fundador da seita Nichiren, e Ippen, famoso monge itinerante propagador do
Budismo Terra Pura.
Ou seja, o Budismo era inicialmente uma religião da aristocracia e, lenta e
gradualmente, foi-se tornando uma religião das camadas populares do Japão
(MATSUNAMI 2004).
A era Kamakura também se destaca porque foi um período onde não o
Budismo despertava de quase 150 anos de inanimação, advinda de medidas
governamentais extremamente persecutórias, mas também pelo ressurgimento de
interesse na China, particularmente na produção cultural da dinastia Sung
(YOSHIDA s.d).
29
No período Tokugawa (1600-1868) o Budismo se torna religião oficial do
governo militar japonês, o xogunato, sob comando absoluto da família Tokugawa,
que era adepta do budismo da Jôdo-shû (YOSHIDA s.d). Nessa época é instaurado
um sistema “paroquial” (danka-seidô) para controle da população. Nesse sistema
cada família era obrigada a ter um certificado de filiação no templo de seu lugarejo,
independentemente da seita budista (ROCHA 2006).
A Restauração Meiji (1868-1912) pôs fim ao auto-recluso regime feudal e
deslanchou um projeto ambicioso de modernização do país. Nesse período, o
Budismo era uma religião em crise (SAUNDERS 1980). Primeiramente, porque
havia perdido sua vitalidade e apelo ao se tornar uma religião estatal durante o
período Tokugawa (1600-1868). Em segundo lugar, porque o novo governo (Meiji)
tentou excluir todas as influências budistas e confucionistas do universo xintoísta,
para que o Xintó fosse declarado, em 1870, a religião nacional, sob a denominação
Daikyô ou “A Grande Doutrina” (também conhecido como Kokka Shintô, “Xintoísmo
Estatal”). A atitude do governo incitou uma onda de violência contra as organizações
budistas, em que imagens e símbolos budistas foram destruídos, alguns templos
foram transformados em santuários xintoístas etc (SAUNDERS 1980).
1.2.1 - Características do Budismo Japonês
No mundo existem muitas tradições do budismo e dentro do Japão também.
Sendo assim, suas diferenças são explícitas, principalmente no que se refere aos
principais textos
2
a serem adotados como referência e práticas (BAUMANN 1994).
A popularização do Budismo demorou vários séculos e envolveu sua
“aculturação”, principalmente por meio de sincretismos com o Xintoísmo
3
e as
crenças populares. Esse processo produziu, por um lado, feições peculiares no
Budismo japonês, que o distingue do de outros países. Segundo Sakurai (2007) o
Budismo não somente teve um relacionamento sincrético com o Xintoísmo, mas
também desenvolveu uma espécie de “parceria” com o mesmo, no que refere aos
ritos de passagem: Se por um lado o Xintoísmo geralmente está relacionado com o
nascimento e o matrimônio, o Budismo dá seguimento no âmbito do culto aos
2
Escritos do tripitaka, que são as escrituras canônicas do Budismo. Escritas em páli e se referem ao
budismo indiano aproximadamente dos séculos II e IV
3
Religião xamânica nativa do Japão
30
antepassados e dos ritos funerários. Porém, não se deve esquecer que apesar de
não serem muito comuns, também há casamentos budistas e funerais xintoístas.
Também no Japão uma subdivisão dentro da tradição do Budismo
Mahayana, chamadas Zen, Terra Pura, Shingon e outras, porém, segundo Suzuki
(1973), de todas essas a que mais contribuiu para a constituição da cultura e moral
japonesa foi o Zen Budismo, em vários sentidos: amor á natureza, cerimônia do chá,
poesia haiku, cerimônia do chá e as artes marciais tipicamente japonesas chamadas
Budo. Sendo assim, para se atingir os propósitos deste trabalho, somente o Zen foi
abordado com maior ênfase.
1.2.2 - A Chegada do Zen no Japão
Zen é o nome japonês de um ramo do Budismo Mahayana praticado
sobretudo na China, Japão, Vietnam e Coréia.
Assim como todas as escolas budistas, o Zen remete suas raízes ao budismo
indiano e a palavra Zen vem do termo sânscrito Dhyana, que denota o estado de
concentração típico da prática meditativa (YOSHIDA 2003; SUZUKI 1986).
Antes de chegar ao Japão, primeiramente o Zen foi introduzido na China por
um aristocrata Sul-indiano, filho de rei, chamado Bodhidharma. Este por sua vez foi
praticamente um desconhecido em sua época, porém, hoje Bodhidharma é o
patriarca de milhares de Zen Budistas e praticantes de artes marciais (PINE 1989).
O autor ainda afirma que a contribuição cultural levada por Bodhidharma à China e
todo o oriente, não se restringe somente ao Zen, mas às artes marciais e aos
costumes mais elementares da sociedade oriental como, por exemplo, o hábito de
tomar chá, primeiramente adotado pelos monges com o intuito de se manterem
acordados, durante a meditação e depois popularizado em todo o Oriente.
Segundo Matsunami (2004) as primeiras sementes do budismo Zen foram
plantadas no Japão ainda no século VII pelo monge Dosho (638-700), o patriarca da
tradição Budista Hosso, que após ter retornado da China estabeleceu naquele país o
primeiro centro de meditação Zen.
31
Este pequeno centro de meditação Zen, que ficava em uma pequena cidade,
logo foi transferido para Nara, até então capital do Japão e se chamava Heijo-ukyo
zen-in. Ali, Dosho, manteve textos da tradição Zen, que também trouxera da China e
um pequeno número de discípulos.
Houve outros mestres que também contribuíram para a implantação do Zen.
O mestre chinês Tao-hsuan, que transmitiu o Zen para mestre Gyoho e que foi
mestre de Saicho da tradição Tendai, foi um deles. Este último, segundo Matsunami
(1993), foi muito influenciado pelo Zen, tanto que posteriormente introduziu a
meditação Zen como prática de outra seita budista chamada Tendai.
1.2.3 - A Relação entre Budismo e Arte Marcial
Acerca da influência do Budismo nas artes marciais japonesas, especial
atenção foi dedicada no segundo capítulo dessa dissertação. No entanto,
acreditamos ser necessário apresentarmos uma breve introdução, com o objetivo de
finalizarmos a contextualização do budismo no Japão antes de abordarmos o
Budismo no Brasil.
Desde o início do desenvolvimento do Budismo, o treinamento físico
sistemático se tornou um componente central da disciplina monástica. É dito que
Sidarta Gautama, o fundador do Budismo, era muito habilidoso nas artes marciais
indianas e que ficou impressionado com a eficácia daqueles métodos para a
unificação da mente e do corpo (DONALD 1984:5).
O desenvolvimento do Budismo chinês foi muito importante também para a
evolução das artes marciais chinesas (APOLLONI 2004). Como foi visto
anteriormente o agente da introdução do Zen budismo na China foi o monge budista
Boddhidharma, considerado o 28º patriarca de uma linha direta que descende do
Buda Sidarta Gautama. O budismo introduzido por ele pode ser chamado de Dhyana
(Sânscrito), Cha’n (chinês) e Zen (japonês).
Na china houve um período que Boddhidarma viveu no monastério budista
chamado Shaolin. Quando chegou àquele monastério, ele encontrou os monges
preocupados somente com o alcance da iluminação por via apenas das práticas
religiosa e totalmente displicentes com a saúde (DONALD 1984). Assim como o
32
Buda, ele também era de origens nobres, ele pertencia à casta dos kshatriya, ou
seja, a classe guerreira, por tanto ele era muito bem treinado nas artes marciais
indianas (PINE, 1989) e devido a essa formação marcial ele compreendia a
interdependência entre a saúde mental, física e espiritual. Além disso, a prática
budista ensinada por ele, o Zazen se mostrou muito difícil para aqueles monges que
freqüentemente dormiam nas sessões. Diante desse cenário, ele introduziu na rotina
do templo de Shaolin uma série de oito exercícios (as oito mão de Lo-han) não
para melhorar a saúde, mas também para protegê-los (DONALD 1984).
No Japão as inovações no âmbito das artes marciais se estabeleceram
juntamente com a classe guerreira (samurai) depois do século X e da introdução do
Zen no século XII. A partir desse período a cultura do Bushido, o Caminho do
Guerreiro, se desenvolveu basicamente a partir das idéias budistas, xintoístas e
confucionistas (NITOBE 2002). Juntamente com o treinamento militar os Samurais
passaram a treinar o budismo porque este lhes provia a coragem necessária para
enfrentar a morte. Na era tokugawa, muitos samurais que se transformaram em
monges adaptaram os ensinamentos budistas para transformar as artes marciais de
uma prática mesquinha, em um veículo para a libertação por meio da ênfase em
formas de treinamento que priorizassem o desenvolvimento espiritual dos
praticantes (DONALD 1984).
1.3 - O Budismo no Brasil
Tomando-se por base nossas pesquisas, observamos que os estudos sobre o
Budismo brasileiro, embora tenha sua própria história e desenvolvimento, de
maneira geral, esprofundamente relacionado à história e ao desenvolvimento do
Budismo Ocidental.
Segundo Baumann (2002) o processo de divulgação do budismo no Ocidente
teve início a partir da segunda metade do século XIX e foi uma fase centrada,
basicamente, somente nas traduções de texto. Ainda com o mesmo autor vemos
que, somente no final deste mesmo século é que houve uma difusão maior do
budismo no Ocidente impulsionada, principalmente, por meio das organizações
internacionais e dos imigrantes japoneses e chineses, na Europa e nas Américas.
33
Em se tratando expansão do budismo japonês, a primeira fase da expansão,
que vai da Era Meiji (1868-1912) à Segunda Guerra Mundial, existem alguns fatores
muito significativos, além da imigração para os Estados Unidos e Brasil, tais como: a
formação do Império Japonês; a atuação de certos budistas favoráveis à
modernização do Budismo e a sua difusão no Ocidente; e a participação de monges
budistas no Parlamento Mundial das Religiões de 1893, em Chicago (SHARF apud
ROCHA 2006).
Depois do retrocesso que as sociedades budistas, organizadas em diversos
países, tiveram devido à Segunda Guerra Mundial (BAUMANN 2002), no pós-
guerra, reforçando a ação de proselitistas budistas do porte de D.T. Suzuki, fatores
intrinsecamente ligados à globalização e à situação dos países receptores foram
responsáveis pela difusão do Budismo japonês em culturas estrangeiras. Entre
esses fatores destacamos: os movimentos da “geração beat” e da Contra-cultura e a
crescente democratização religiosa em vários países (LOPES 1995; SHARF 1995).
A partir dos anos setenta, há um rápido crescimento de pessoas que se
identificavam enquanto budistas (BAUMANN 2002). Usarski (2002) atribui esse
fenômeno ao surgimento de outro par de tipos ideais de budismo, ao lado da
dicotomia entre "budismo de imigração e de conversão". Seria o budismo
tradicionalista, com ênfase nos rituais e nas devoções; e o budismo modernista,
caracterizado pela mediação dos livros e por uma interpretação racionalista.
O budismo modernista ocorre no mesmo momento que o budismo de
conversão de "segunda geração (USARSKI 2002)", que teve destaque nos anos 70.
Esses budismos têm maior diversidade de adeptos, dispersão geográfica e doutrina
heterogênea. É um budismo de caráter internacional e globalizado, que tem
produzido um impacto muito forte na sociedade brasileira. Este Budismo é
representado em três sub-categorias: Zen-Budismo, Sôka Gakkai e Budismo
Tibetano (USARSKI 2002).
34
1.3.1 - Considerações acerca dos primeiros momentos do Budismo Japonês
no Brasil
Apesar de alguns autores defenderem a idéia de que o budismo não foi
disseminado no Brasil antes da Segunda Guerra Mundial (SAITO; MAEYAMA 1973;
NAKAMAKI 1994 apud ROCHA 2006) é o historiador e monge budista, Ricardo
Gonçalves que afirma que o primeiro navio japonês que aportou no Brasil em 1908,
trazia abordo o budismo japonês por meio do missionário Tomojirô Ibaragi
4
(1886-
1971) da tradição Honmon-butsuryû-shû (uma filial da tradição Nichiren). Ibaragi
teria estabelecido o templo mais antigo em Bauru, no Estado de São Paulo. Logo
depois veio um monge da tradição Shingon e em 1925, o primeiro monge da escola
Jodo Shinshu. Sendo que, o primeiro templo budista brasileiro foi estabelecido pela
Jodo Shinshu em 1932 na cidade de Cafelândia no Estado de São Paulo
(GONÇALVES 1990).
O cenário para a divulgação e expansão do Budismo naquela época não se
mostrou propício, pois os primeiros imigrantes japoneses que chegaram inicialmente
ao porto de Santos, em São Paulo, emigraram para trabalhar exclusivamente nas
plantações de café, algodão e de banana e com a intenção de permanecerem no
Brasil por um curto período tempo, suficiente pra acumular dinheiro e retornar ao
Japão assim que conseguissem o necessário (SAITO 1973).
Além disso, o sistema de primogenitura no Japão estipula que o primogênito
herda toda propriedade da família, bem como a responsabilidade de cuidar da casa
e de manter os cultos religiosos aos antepassados. Com isso, os imigrantes
masculinos japoneses, que migraram para o Brasil, não eram primogênitos.
Conseqüentemente, vieram ao Brasil crianças e jovens e, como eles não estavam
em idade de promover cerimônias religiosas para os antepassados, a religião não
imigrou de maneira expressiva e o contato desses com a religião ocorria, de fato,
nos funerais de seus familiares no Brasil (MAEYAMA 1973; ROCHA 2006)
4
Mais informações podem ser encontradas em NAKAMAKI (2002), que em seu texto, sobre a
Honmon-butsuryû-shû, relata a história de Ibaragi, um missionário dessa instituição religiosa que veio
ao Brasil abordo do primeiro navio de imigrantes japoneses. A história de Ibaragui confunde-se com a
história dos japoneses no Brasil e foi retratada em filmes como Gaijin, de Tizuka YAMAZAKI.
35
Existiram também sansões do governo, o Ministério Japonês de Negócios
Estrangeiros proibiu missionários de todas as tradições religiosas, de acompanhar
os imigrantes para o novo país porque sua presença poderia demonstrar uma
evidência da não assimilação da cultura brasileira, num país até então conhecido
como o maior país católico (MAYEAMA 1973).
Apesar de os primeiros momentos não terem sido profícuos, para o
enraizamento do budismo japonês no Brasil, o obstante, a relação entre
imigrantes e a religião japonesas mudaram completamente quando o Japão foi
derrotado na Segunda Guerra Mundial.
Os imigrantes tiveram que desistir de seu sonho de retornar à terra natal
porque o Japão fora destruído tanto economicamente como moralmente (ROCHA
2006). Sendo assim, a institucionalização do budismo japonês no Brasil veio a
ocorrer, de fato, nos anos de 1950, quando todas as instituições religiosas no Japão
enviaram missionários oficiais para estabelecer templos e propagar o Dharma. Este
período também marca a fundação da Federação das Seitas Budistas do Brasil
(USARSKI 2002; ROCHA 2006).
1.3.2 - O Zen Budismo no Brasil
O estabelecimento da missão Soto Zenshû no Brasil teve início em setembro
de 1955 quando Rosen Takashina Zenji, o então bispo do Eiheiji e do Sojijji
5
, os dois
principais mosteiros da traição Sôtôshû no Japão, percorreu as maiores e principais
colônias de imigrantes japoneses nas cidades de São Paulo e Paraná, sondando a
possibilidade do estabelecimento de uma missão da Soto Zenshu em terras
tupiniquins (GOLÇALVES 1990; ROCHA 2006).
O primeiro templo dessa tradição a ser fundado por ele foi o Zengenji, um
templo localizado numa cidade do interior paulista chamada Mogi das Cruzes e
antes de voltar ao Japão, ele criou trâmites legais que viabilizassem sua intenção de
criar um betsuin, ou seja, um templo que seria a sede oficial da missão Soto Zenshû
na América do Sul. Em 1956, foi estabelecido o Busshinji na cidade de São Paulo, e
5
A Escola Soto Zen iniciou-se com Eihei Dogen, o fundador do Mosteiro Eiheiji, e ganhou impulso
com Keizan Jokin, o fundador do Mosteiro Sojiji.
36
também chegou o primeiro Sokan (Superintendente-Geral) Ryôhan Shingu para
fortalecer o trabalho missionário e em 1958 foi criado um templo em Rolândia
(ROCHA 2006).
Em 1974, foi estabelecido em Ibiraçú, no estado do Espírito Santo, o
Hakuunzan Zenkoji ou, como é conhecido em Português, Mosteiro Morro da
Vargem, desta vez, ao contrário do outros dois anteriores, foi criado para fazer
atender aos brasileiros não-descendentes de japonês. Contrastando com os
numerosos centros Zen em todo o país que não pertencem à Sôtôshû, este templo é
também considerado como parte da missão, porque o abade, Daiju Bitti, um
brasileiro não descendente de japonês formado no Japão, mantém fortes laços com
a tradição (ROCHA 2006).
Atualmente a Sotoshu tem apenas 4 templos no Brasil e é a comunidade de
budismo japonês com menor número de famílias em relação às outras como por
exemplo a Jodo Shinshû (Higashi Hongwanji) que segundo Gonçalves (1990), tem
5000 famílias associadas.
Em se tratando do número das instituições budistas no Brasil em geral, com
base em uma contagem das instituições budistas do Brasil, feita por Rafael Shoji
(2004), em setembro de 2003 haviam 156 grupos estabelecidos no Estado de São
Paulo, 35 no Rio de Janeiro e 32 no Paraná. Sendo que, das 223 instituições nos
pontos de concentração de imigrantes asiáticos, foram registrados apenas 86 outros
templos e centros budistas no restante do território brasileiro (Cf. VIRGÍLIO 2002b,
2002b). Para o nosso trabalho, tais dados são relevantes, pois o mesmo acontece
com a demografia do Budo no Brasil.
Tudo isso aponta para o fato de que o Budismo, além de ser uma
religião predominantemente urbana, é apenas relativamente forte” nos
Estados antigamente preferidos pelos imigrantes asiáticos na busca de
um lugar de estabelecimento permanente. Fora desses “núcleos”, a
sua situação numérica é muito precária ou, até mesmo, tão limitada
que se pode dizer que, na maior parte do vasto território brasileiro, o
Budismo e praticamente inexistente. (USARSKI 2004: 310)
37
1.3.3 - O Templo e seus brasileiros
Os conversos ao budismo de primeira geração (Cf. USARSKI 2002) no Brasil
são representados por um grupo de intelectuais de classe média, que nas décadas
de cinqüenta e principalmente sessenta, convertem-se ao zen-budismo de origens
étnicas. Na onda daquele budismo modernista (caracterizado pela mediação dos
livros e outros artefatos da cultura nipônica) esses brasileiros iniciaram seu contato
com o Budismo Zen (USARSKI 2002; ROCHA 2006) por intermédio de artigos em
jornais e revistas, livros e pelo movimento poético Concretista o Zen.
A antropóloga Rocha (2006) disserta sobre diversas resignificações do zen-
budismo. Com base em suas observações, constata-se a existência de
diferenciados níveis de envolvimento e entendimento acerca dos ensinamentos
budistas, que permitem, inclusive, apropriações de pequenas partes do Zen por
qualquer pessoa. Com isso, podemos encontrar combinações do tipo new-age que
interpretam o budismo como ginástica, terapia ou auto-ajuda.
Os praticantes, segundo Rocha (2006), são indivíduos de classe média alta,
com nível superior, que tiveram seu primeiro contato com o zen por meio da
literatura especializada. Como exemplo o monge Ricardo Mário Gonçalves que no
texto A trajetória de um budista brasileiro, publicado em 2002, constrói sua trajetória
no budismo, desde as primeiras aproximações com o Budismo (Por meio de livros,
cinema e teatro) e suas viagens ao Japão. Ele também explica sua trajetória por três
outras diferentes escolas zen-budistas até a tradição à qual é fixo atualmente. Já na
década de oitenta, o trabalho monástico de um desses primeiros conversos ao
Zen budismo, e o engenheiro carioca Murillo Nunes de Azevedo, que consolidou
uma abertura do budismo Terra Pura, em Brasília, aos não descendentes de
japonês.
O que a pesquisa de Rocha (2006) aponta, é que em suas trajetórias
religiosas, esses conversos ao budismo, foram iniciados no catolicismo e também
tiveram passagem por várias outras denominações, tais como a teosofia e o
espiritismo. Para a autora, é recorrente neles a idéia de uma busca por
autoconhecimento, entremeada por concepções holísticas e gnósticas, porque eles
reproduzem uma trajetória interna que começa com as insatisfações culturais e
38
religiosas, dentro de seus quadros nativos de referência, passando pelo
conhecimento progressivo das tendências e variações de seus ramos até aportar
numa experiência tida como definitiva e existencialmente satisfatória.
A menção a essas e outras personalidades (Cf. ROCHA 2006) são
importantes porque eles se tornaram figuras centrais na divulgação não só do
Budismo Zen, mas também das diversas outras tradições budistas do Brasil. O
Budismo Zen paulista, especificamente do templo Busshinji
6
, foi uma instituição
crucial para a constituição do Budismo no Brasil.
Uma vez que esses novos adeptos se iniciaram no Budismo do
Busshinji, foi fácil para eles explorarem outras escolas do Budismo.
Para isso, alguns saíram do país, uma vez que o budismo japonês,
pelo menos até o começo dos anos 1990, era a forma primária de
Budismo existente no Brasil (...) eu explorei a vida desses seguidores,
que deixaram o Busshinji, para se tornarem figuras centrais na
divulgação de outras escolas do budismo. Eu também mostrei que
outros continuaram praticando Zen, foram treinar no Japão e que
quando voltaram estabeleceram seus próprios centros Zen. Ambas as
experiências que tiveram seus respectivos inÍcio no templo da Soto,
evidência o papel crucial que o templo Busshinji teve na história do
Budismo no Brasil. (ROCHA 2008: 92)
Tomando-se por base a obra de Usarski (2002), entendemos que o Zen
budismo, como elemento constituinte do Budismo brasileiro, ganhou visibilidade
social e além dos trabalhos missionário, tem a mídia como elemento fundamental
para a sua propagação; constrói elos com as esferas altas da sociedade e como a
classe política e artística angariando espaço e respeito das elites. Para o autor, é
fato que o Budismo nunca será um fenômeno de massa e que continuará a ser
restrito a certos segmentos da sociedade, porém não significa que não exerce
influências na sociedade como um todo.
6
Templo e sede oficial da missão Soto Zenshû do Brasil.
39
1.4 - A pesquisa do Budismo no Brasil
Apesar de Budismo ter uma história de mais que cem anos no país, até agora
o interesse acadêmico por assuntos afins ainda não se desenvolveu de maneira
satisfatória (USARSKI 2002a). Apenas mais recentemente a produção acadêmica
relevante, inclusive algumas dissertações (ALVES 2004; GENZ 2005) e teses de
doutorado (LOPES 2004; SOARES 2004; SHOJI 2004) está crescendo. Depois de
um moderado início no final dos anos 90 (ROCHA 1997; MATSUE 1998)
suportados somente por um pequeno número trabalhos de outra natureza
(GONÇALVES, 1971, 1990; OZAKI 1990) projetos tematicamente relacionados
incluíram pesquisas sobre manifestações regionais do Budismo (GONÇALVES, J.
2002), determinadas correntes (VERRÍSSSIMO 2001; ROCHA 2003), comunidades
(MARUCCI 2000; PEREIRA 2001; SILVA 2002; USARSKI 2002b), escolas
(NAKAMAKI 2002; ALBUQUERQUE 2002; GONZAGA 2006), instituições
específicas (SOUZA 2006), sub-divisões do campo em questão (GONÇALVES, J.
2008), bem como uma busca para elementos budistas “implícitos” em determinadas
expressões e técnicas culturais (FERNANDES 2001; APOLLONI 2004; BARREIRA
2004).
Uma retrospectiva à produção acadêmica acima resumida sob um olhar
substancial revela a dominância de duas abordagens. A primeira representa
esforços no sentido de uma recuperação da história do Budismo brasileiro
(ALBUQUERQUE 2008; GONÇALVES 2002; MAEYAMA 1973), a segunda é
caracterizada pelo foco em dados estatísticos em prol de uma avaliação do peso
numérico do referente sub-campo religioso em nosso país (SHOJI 2004; USARSKI
2004; 2008a; 2008b).
Diferentemente da unanimidade em avaliar as reflexões históricas como
pertinentes, as pesquisas orientadas em estatísticas oficiais referente à relevância
quantitativa do Budismo brasileiro estão não apenas em tensão com estimativas
alternativas, mas também confrontadas com críticas que questionam a adequação
de uma abordagem puramente “matemática” a um campo muito mais diferenciado
do que tabelas e porcentagens sugerem. Quanto a divergências sobre o peso
estatístico do Budismo no país, vale lembrar que o censo de 1991, por exemplo,
40
registrou a existência de 236.408 budistas no país e o de 2000 mostrou que esse
número baixou para 214.873. No entanto, a revista Elle publicou em junho de 1998 a
existência de cerca de 500.000 brasileiros que podem se considerados budistas, em
março de 1997, a revista Isto é chegou ao número de um milhão de budistas e em
fevereiro de 2001 a Folha de São Paulo se referiu ao mesmo número (USARSKI
2002a).
1.4.1 - As dúvidas acerca da abordagem quantitativa nos estudos sobre o
Budismo no Brasil
No que diz respeito a críticas a abordagem puramente numérica, Usarski
(2002a) afirma que tanto as especulações, por parte da mídia, como os números
oficiais do IBGE demandam algumas explicações e reflexões. Em vários casos
particulares pode ser presumida uma atitude multirreligiosa, cuja complexidade está
longe de ser representada pelo simples ato de assinalar um xis no questionário do
IBGE. Justamente, pela falta de instrumentos de pesquisas que avaliem a possível
combinação dessa religião com outras crenças e práticas. Gonçalves (2005) aponta
que dentro das instituições budistas do Brasil, a abordagem puramente numérica
também é questionada. Ao se referir aos números do IBGE, primeiramente
considerou-os exagerados, pois incluem devotos de religiões que não o
consideradas oficialmente como seitas budistas; em segundo lugar, postula as
variações estatísticas dizendo que ela se explica pelo fato da grande maioria dos
budistas no Brasil serem constituída de imigrantes japoneses e pelo Brasil não ser
mais um país de imigração. Por isso, para esses autores os dados estatísticos não
refletem necessariamente o real impacto do budismo sobre a sociedade brasileira:
A maior parte das organizações budistas abre suas portas para os
interessados em ouvir palestras, freqüentar cursos ou participar de
retiros de meditação sem exigir adesão formal dos mesmos ao
budismo. Muitas pessoas têm tido suas vidas influenciadas ou transfor-
madas pelo budismo sem necessariamente terem sentido necessidade
de se converter ao mesmo. Muitos cristãos, por exemplo, têm
participado de grupos de meditação budista para aprofundar sua
vivência da espiritualidade cristã. Temos também exemplos de pessoas
que foram tocadas pelo budismo exclusivamente através da leitura de
livros ou da participação em grupos de discussão pela Internet.
(GONÇALVES 2005: 206)
41
O presente trabalho leva as contradições e críticas, acima citadas, a sério
chamando atenção para a necessidade de complementação de pesquisas
orientadas em estatísticas oficias por uma abordagem qualitativa capaz de captar
também modalidades de adesão ao Budismo que por parte dos respectivos sujeitos
não se manifesta em uma afirmação explícita de uma identidade budista diante de
um entrevistador do IBGE ou outra entidade de pesquisa semelhante.
Trata-se de uma abordagem mais diferenciada sustentada por reflexões
teóricas sensíveis para a diversidade de formas, em que uma afinidade com o
Budismo pode se manifestar. Tweed (1999), por exemplo, notou em suas pesquisas
que muitos autores, principalmente nos Estados Unidos, historicamente consideram
a identidade religiosa como algo fixo e singular sendo a maioria dos estudos focados
exclusivamente em dois pólos, convertidos e não convertidos. O autor chama essa
forma de definição da identidade religiosa como normativa ou essencialista, e define
três estratégias padrão associadas com esta abordagem: aplicando normas,
observando assiduidade, ou contando números. Tweed conclui que este método
ignora a hibridez que espresente em todas as tradições religiosas, como prístinas
ou essências que são normalmente difíceis, quando não, impossível para localizar.
Tweed tem a aparente preocupação com a hibridez e a complexidade da identidade
religiosa em geral, nas discussões budistas ele permanece em terreno seguro e
propõe ainda outra categoria de budista: o simpatizante.
O termo simpatizante, juntamente com o "Dharma Hoppers”, cunhado por
Layman (1976) e os “night-stand budistas” de Tweed (1999) têm um potencial, de
categorização, para destacar a diversidade e a hibridização no budismo do Ocidente
(PADGETT 2000).
Preocupada com o mesmo problema, Danyluk (2003) inicia a sua discussão
explicando exatamente o que o termo não significa: o Budista simpatizante não é
alguém que se auto-identifica conscientemente com o budismo, nem aquele que
realiza qualquer tipo de meditação regularmente, simpatizante, refere-se aos
indivíduos que tem certa empatia por uma religião, mas que não a adotou
exclusivamente ou integralmente. Esses indivíduos podem a se identificar com
outra tradição diferente do budismo, mas se mantém em uma e se ssemos visitar
suas casas observaríamos sinais de influência budista (artefatos, imagens e livros
42
budistas). Eles freqüentemente assistem a palestras e aulas sobre o budismo,
navegam na internet ou assinam jornais e revistas budistas.
Com o objetivo de conceber de forma mais realista a problemática entre
adesão e afirmação de identidade religiosa, Danyluk (2003) observou que o adjetivo
budista faz surgir homólogas questões, às existentes no Brasil, tais como: Sobre
exatamente o que estamos nos referindo? Sobre um rótulo, uma categoria, uma
identidade ou alguma outra coisa? E será que todas as práticas, filosofias e
concepções de budismo se enquadram nesse termo?
No entanto, apesar da investigação acerca das pessoas que se identificam ou
não como budista parecer inocente, sob esta situação um emaranhado de
controvérsias, pressupostos e ambigüidades que geram uma grande tensão entre a
doutrina e a realidade social e entre a teoria e a prática (DANYLUK 2003; BERGER;
LUCKMANN 2002).
A respeito do Budismo, Danyluk (2003) afirma que o termo budista é muito
problemático, pois, antropologicamente a ação de nominar-se como pertencente de
um grupo religioso implica uma série de pressupostos e expectativas que, os
indivíduos agraciados com os nomes e identidades, se sentem compelidos a
cumprir. Além do que, a denominação religiosa é uma importante marca de
identidade social e de sentimento de pertença a determinado grupo. Segundo a
autora, isto é especialmente evidente na literatura sobre budistas na América do
Norte. Dependendo do que foi definido, pelo termo "budista", é esperado dessas
pessoas que pratiquem meditação regularmente, que recite mantras, que
freqüentem centros budistas e assim por diante.
Nas pesquisas de Danyluk (2003), mesmo se tratando de indivíduos adultos e
freqüentadores dos respectivos centros e templos budistas investigados, a questão:
”Você poderia descrever-se como um budista?” Inúmeras vezes ela se apresentou
ao entrevistado como a questão mais desafiadora. “Esta foi a questão que suscitou,
na maior parte das vezes, um olhar penetrante e cheio de idéias, um suspiro
profundo, e alguns longos momentos de silêncio com a questão e a resposta depois
considerada” (DANYLUK 2003: 129).
43
1.5 - Os catalisadores no processo de aproximação ao Budismo
O Zen Budismo chegou ao Brasil pelas mãos dos imigrantes japoneses e
também de intelectuais brasileiros que se interessaram pelo zen por intermédio da
literatura européia e mais tarde norte-americana desde o século XIX.
Sendo assim, a literatura é apontada nos estudos de diversos autores, como
o principal veículo de divulgação do Zen no Brasil (ROCHA 2006). Além disto, o
Budismo no ocidente é geralmente visto como dividido entre ‘étnico e ‘de
conversão’. Budismo ‘étnico’ é definido como devocional ou o repositório da
identidade cultural do grupo, e budismo ‘de conversão’ é caracterizado pela
meditação e estudo racional dos sûtra (textos budistas).
No universo brasileiro, constata-se em Usarski (2002a), um aprofundamento
sistemático na questão. No texto, o autor sistematiza um panorama geral da
situação e faz uma "tripla tipologia" para interpretar o budismo no Brasil.
A primeira delas seria o budismo de imigração, religiosidade articulada com a
identidade étnica dos migrantes e seus descendentes; budismo de conversão, que é
dividido em duas correntes: a de primeira geração, na década de cinqüenta e
sessenta, e a de segunda geração, a partir dos anos setenta. Ainda encontramos
nessa obra o texto de Martin Baumann, que agrega outro par de tipos ideais, ao lado
da tradicional dicotomia entre "budismo de imigração e de conversão". Teríamos
um budismo tradicionalista, com ênfase nos rituais e nas devoções; e um budismo
modernista, caracterizado pela mediação dos livros e por uma interpretação
racionalista e no momento, é este último tipo, o modernista, que também nos
interessa por convergir com nossas hipóteses.
1.5.1 - Budo um implícito proselitor do Budismo
No que se refere à simbiose entre arte marcial e a religião nela implícita,
segundo Apolloni (2004) no Brasil, como em quase todos os lugares do mundo, a
aproximação entre sociedade e arte marcial se deu, fundamentalmente, a partir da
indústria do entretenimento do século XX (literatura popular, cinema e televisão):
44
As pessoas podem até não conhecer a fundo esse conjunto de práticas
corporais e filosóficas – saber de onde veio ou qual sua História, por exemplo
mas certamente tiveram em mente o “arquétipo Kung-Fu”: a figura de um
oriental sorridente, franzino e conhecedor de uma venerável e terrível arte
que, vez por outra, lhe permite despejar socos e chutes “a torto e a direito”
contra facínoras de todos os gêneros. (APOLLONI 2004: 11)
Uma análise das matérias referentes à imigração japonesa para o Brasil e sua
cultura, principalmente por conta das celebrações dos cem anos de imigração,
mostra que de modo geral, a mídia brasileira apresenta maior sensibilidade para o
tema observando-o com base em campos temáticos bem definidos como o da arte,
da culinária, da medicina e da arte marcial.
No que se refere ao último campo temático, observa-se um embasamento em
informações possivelmente consolidadas decorrentes da representação ocidental da
arte marcial japonesa, concebidos a partir, principalmente, dos produtos da indústria
de entretenimento e da literatura especializada (UESHIBA 1996; UESHIBA 1993;
2001).
Na matéria “Ki-Aikidô para o público: mestre japonês faz palestra em São
Paulo” a jornalista Paula Moura (2006), da revista Made in Japan, relata os
benefícios pregados pelo mestre japonês de aikido, Koichi Kashiwaya.
A matéria revela coisas importantes, como a relação de respeito e veneração
entre discípulo e mestre e a extensão dos benefícios oriundos do universo marcial,
que inclui métodos terapêuticos. Ainda assim, se fixa em informações genéricas ou
um pouco místicas do tipo:
... as pessoas ficaram impressionadas com a força que tem um braço
relaxado, que não pode ser dobrado facilmente, ou mesmo a força de
concentrar sua mente no chamado ponto um”, um pouco abaixo do umbigo
(...) Koichi Kashiwaya teve seu primeiro contato com a arte marcial ao
conhecer o mestre fundador do estilo, o sensei Tohei. “Fui observar uma aula
para crianças e o mestre me convidou para participar. Ele me disse que, se a
mente move, o corpo move. Se a mente não move, o corpo não move.
(
MOURA 2006)
45
Tais informações obviamente fortalecem o imaginário brasileiro acerca do
Japão, idealizado na Europa do culo XIX como um país místico fonte de
“exotismo, sabedoria, sensualidade e paz” (ROCHA 2006: 38).
Outro exemplo relevante vem da modalidade de Kyudo, que é o nome da
prática do Arco e Flecha tradicional japonês. Segundo Shoji (2005) esta modalidade
se tornou famosa no ocidente devido à publicação do livro de Eugen Herrigel, A Arte
Cavalheiresca do Arqueiro Zen, em 1948. Este livro, segundo o autor, também foi
muito consultado como estudo da cultura japonesa, e ajudou a configurar o mito da
íntima relação entre Zen em Kyudo.
Em 1983, na Universidade de Tsukuba, Japão, foi conduzido um estudo que
investigava os principais motivos que levaram os alemães, da antiga Alemanha
ocidental, a praticarem o Kyudo. Foram entrevistadas 131 pessoas das quais 84%
responderam que o praticavam para o treinamento espiritual; 61% manifestaram
peculiar interesse no Zen e 49%, particularmente, disseram que iniciaram a prática
do Kyudo porque leram o livro de Herrigel (SHOJI 2005).
De volta ao nosso objeto específico, nas visitas realizadas às várias
academias de Kendo, encontramos elementos suficientes para informar que nas
academias de Kendo há indícios de elementos do Zen Budismo. No entanto, trata-se
de locais de prática onde, efetivamente, os alunos desenvolvem seu trabalho
marcial, sem grandes considerações pelo aspecto religioso, mas vale destacar que o
trabalho nessas academias inclui a meditação, que é um dos pilares, se não o
principal, do Zen Budismo.
O Budismo deixou sua marca em todos os setores da sociedade japonesa,
alcançando uma dimensão que ultrapassa o âmbito religioso. Como disse Pereira
(sd), “sua importância é tão grandiosa que não seria exagero afirmar que, de todos
os sistemas filosóficos e religiosos estrangeiros introduzidos no Japão, o Budismo foi
o que exerceu influência por um período mais longo e contínuo, com profundidade
nunca igualável”.
Na primeira parte deste capítulo, enfatizou-se a idéia, bastante veiculada,
de que o Budismo no Japão manteve-se muito aberto a combinações religiosas e a
46
sincretismos. Seguimos demonstrando como o Budismo surgido no Período
Kamakura merece destaque por ter sido, matriz de novos movimentos religiosos.
Sobre a difusão ultramarina do Budismo japonês, foi mencionado que elas
ocorreram a partir do século XIX. Que no Brasil, sua história diverge muito das de
outros países ocidentais pela peculiaridade do total desinteresse por parte dos
primeiro imigrantes e até do governo japonês de estabelecerem templos e
missionários no Brasil.
Fizemos também um esboço da atual situação das pesquisas sobre o
budismo no Brasil destacando a história e a cronologia dos templos de São Paulo,
principalmente o Bushinji do bairro da Liberdade.
Por fim, destacamos a necessidade de estudos qualitativos do Budismo
devido à diversidade de forma de aproximação do budismo por parte dos ocidentais.
Isso porque a mídia de massa e as manifestações culturais do Japão, com especial
destaque para as artes marciais, se mostram possíveis veículos de transmissão de
idéias budistas que permeiam toda a cultura nipônica.
47
2. Budo: As artes marciais no Japão
Este capítulo trata da relação entre arte marcial japonesa e o Budismo. Tem
como ponto de partida referências bibliográficas que abordam alguns fundamentos
básicos da civilização nipônica, acompanhando o processo histórico de
transformação das ideologias que resultaram na modernização das antigas artes
marciais japonesas, antes chamadas de Bujutsu (Artes da guerra), em Budo
(Caminho das Artes da Guerra). Portanto, Budo compreende todas as artes marciais
japonesas modernas, tais como: Judô, Kendo, Karate-do, dentre outras. A
preocupação crucial neste capítulo é a de abordar a herança religiosa dos antigos
sistemas de luta japonesa (Bujutsu) e como o budismo, e, particularmente, o zen
budismo pode se manifestar nessa sua versão moderna, o Kendo.
2.1- O Que é Budo? Principais Características
Levando-se em consideração o crescente número (VEJA 2005) de pessoas
interessadas em praticar ou que praticam Budo, é importante atentar para a
relevante significação e simbolismo da palavra BUDO, bem como para a sua íntima
relação com a religião asiática, em particular o Budismo.
Na palavra japonesa Budo, Bu é traduzido por “guerra” ou “Luta”; o
caractere japonês Do é traduzido por “Caminho”, que significa “Visível Caminho
para Viajar”. O conceito de Do (Tao em chinês) originou-se do Zen Budismo e se
refere ao “Caminho para se Alcançar a iluminação”. No entanto, quando relacionado
ao Budo, pode ser interpretado como: “O Caminho para se Desenvolver a Mente e o
Espírito através do treinamento da Arte Marcial” (TOMIKI 1969; SUZUKI 1972;
WESTBROOK; RATTI 2007).
A razão para a criação deste conceito, Budo, surgiu no Japão por volta de
1880, com o intuito de preservar parte da herança cultural e da concepção filosófica
deste antigo método de treinamento, para que o homem da civilização moderna
poderia se beneficiar. Foi a partir daquela época que, por meio de diversos
idealizadores, reformularam-se os antigos métodos de luta (Jiu-jitsu, Kenjitsu, Kyu-
jitsu, Aiki-ju-jitsu etc.) e deram origem aos diferentes sistemas; hoje, chamados de
Judô, Kendo, Kyudo, Karate-Do, Aikido etc. As cnicas e os métodos variam do
48
Karate-do (caminho das mãos vazias) com socos e chutes, ao Judô (caminho suave)
que tem por objetivo arremessar ou imobilizar o adversário, passando pelo Kyudo
(caminho do arco e flexa) que é a arquearia japonesa, indo até o Kendo (caminho da
espada), que usa uma espada de bambu para acertar determinados pontos em um
adversário com uma armadura. A maioria, por influência e representatividade do
simbolismo do termo DO, tem igual objetivo a ser almejado, qual seja: o
aperfeiçoamento técnico e espiritual.
Outro símbolo religioso importante presente nas artes marciais nipônicas é a
palavra Dojo, que é a designação referente ao local destinado para o treinamento.
Dojo, na conceituação do budismo Zen, se refere ao local onde o ser humano pode
se encontrar com a sua natureza Búdica. Segundo Suzuki (1973), este termo, dentro
das artes marciais, obviamente foi tomado emprestado do Zen Budismo.
O significado original, em língua Sânscrito, significa bodhimandala ou local da
Iluminação. Especificamente se refere ao local onde o Buda Shakyamuni se
iluminou, sendo este termo estendido a qualquer lugar ou templo que se destine ao
alcance da Iluminação. (VAN HIEN 2003). Dessa forma, Dojo, em japonês, pode ser
traduzido como local dedicado aos exercícios religiosos.
Dojo , literalmente significa “Lugar do Caminho”. Um Dojo é um ambiente
onde se pratica uma arte, um caminho de aperfeiçoamento pessoal. É o nome
usado para Templos Budistas e para todas as salas de treinamento onde um
Caminho é praticado. (...) Esse termo é originário do local onde os sacerdotes
budistas recebiam os ensinamentos divinos e praticavam a meditação zazen.
Como o Kendo compõe-se de ensinamentos de moral, semelhantes aos dos
sacerdotes, o local de treino chamou-se dojo.
É por esta razão que ao adentrar no dojo, devemos rogar para que possamos
receber o verdadeiro espírito humano e de cordialidade. E na saída
do dojo devemos reverenciá-lo, como sinal de agradecimento pelo que
recebemos espiritualmente e por todo o aprendizado adquirido.
Para os praticantes de Kendo, o dojo é um lugar especial e deve ser bem
cuidado. (FEDERAÇÂO PAULISTA DE KENDO
1
).
1
Texto disponível em: http://www.fpkendo.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=11&
Itemid=16. Acesso em: 13. 10. 2008)
49
2.1.1 - Origens e Transformação das Técnicas Letais, Bujutsu, em Caminho à
Ser Seguido
Historicamente, quando se fala das artes marciais japonesas, uma
distinção entre os conceitos de Bujutsu e Budo. De acordo com Donohue (2005),
alguns autores tendem a reservar o termo Bujutsu para as técnicas de combate
com finalidades puramente militares e exercitadas exclusivamente pelos Samurais
2
.
Por sua vez, a utilização do termo Budo ocorre apenas para o cognato moderno
desta última, destinado principalmente aos civis, em virtude de suas ênfases à
estética, à filosofia e à prática desportiva. No entanto, sabendo que as raízes do
Budo estão no Bujutsu, seria falta de precisão apresentar o Bujutsu como artes
sem sofisticação intelectual, religiosa ou filosófica (DONOHUE 2005).
2.1.2 - O Bujutsu e sua Religiosidade
Segundo Takeshito (s.d.), algumas dessas formas de Bujutsu eram
utilizadas no Japão, cerca de mil anos antes de Cristo. Porém, ao século XVI,
todas essas técnicas de lutas marciais eram ainda muito primitivas e pobres,
havendo a partir daquele século uma evolução muito grande, principalmente em
função da intensificação de seu uso por parte dos “Samurais”. Além do
aperfeiçoamento das técnicas existentes, eles, desenvolveram uma enorme
quantidade de novas técnicas de luta, com base em suas próprias experiências nas
situações reais dos campos de batalhas. Este desenvolvimento veio enriquecer e
consolidar as lutas chamadas kenjutsu (técnica da espada) e jiu jutsu (técnica
suave). Naquela época a guerra e os próprios treinamentos de lutas marciais eram
muitos brutais, não havendo leis ou princípios que tornassem os combates leais.
A partir da era Tokugawa (1603-1868), o Bujutsu começa a sofrer fortes
influências dos princípios filosóficos e religiosos do Budismo, Xintoísmo e
Confucionismo (NITOBE 2002; KAMMER 1994) e a partir daí, os fundamentos e
finalidades do treinamento de lutas marciais, praticadas pelos Samurais, começaram
a mudar.
2
Classe guerreira. Casta que existiu de 1192 a 1867.
50
Essas influências deram origem ao Bushido (caminho do guerreiro): o
código de honra, o escrito, que regia os guerreiros samurais. Este levava a um
modo de vida que fornecia todos os balizadores necessários para os samurais
viverem e morrerem com dignidade e honra (CARVALHO 2007). Essencialmente
esse código tratava da fidelidade para com o Estado, do autodomínio e do desapego
aos bens materiais e a vida (NITOBE 2002).
O Xintoísmo influenciou o Bushido por meio de seus preceitos de lealdade ao
seu soberano, veneração das memórias dos antepassados, amor filial, crença na
bondade inata e pureza divina da alma humana. Com tal lealdade para com a
memória de seus ancestrais, os samurais empenhavam essa mesma reverência ao
imperador e ao seu daimyo ou senhor feudal (KAMMER 1994). O Xintoísmo também
fomentava o patriotismo ao Japão (SAKURAI 2007), pois esta religião ensina que a
Terra não existe apenas para suprir as necessidades das pessoas, mas também é a
residência sagrada dos deuses e dos espíritos de seus antepassados. Por isso, a
Terra deve ser cuidada, protegida e alimentada por um patriotismo intenso
(SAKURAI 2007; NITOBE 2002).
O Confucionismo forneceu ao Bushido, o princípio de respeito para com as
relações entre os seres humanos e suas famílias. Ressalta o dever filial e as
relações hierárquicas que devem ser respeitadas e mantidas entre senhor e servo,
pai e filho, marido e mulher, irmão mais velho e mais novo e entre amigos, e esta é
muito explicita no que se refere à submissão dos samurais aos seus senhores. No
Confucionismo, aquele quem tem o objetivo de alcançar a plenitude espiritual a
consegue à medida que suas atitudes tiverem como idéia principal o bem estar para
a sociedade e para o Estado (KAMMER 1994).
O Zen Budismo se relaciona com o Bushido, por ensinar uma forma de
desapego à vida e destemor do perigo e da morte. O Zen Budismo trata do objetivo
de alcançar a iluminação espiritual, por meio da aceitação de que a vida é
sofrimento, partindo do princípio de entender, sentir e descobrir o caminho que
conduz a libertação da dor. Essa religião levou ao Samurai tranqüila confiança,
submissão pacífica ao inevitável, atitude estóica frente ao perigo e desdém à vida
além de uma familiaridade com a morte (NITOBE 2002).
51
O samurai não podia temer a morte, pois acreditava nos ensinamentos
budistas, que trouxera àquela civilização o conceito de reencarnação, ou seja, de
uma nova vida após a morte. Ele, o samurai, acreditava que voltaria no encargo de
guerreiro em suas contínuas reencarnações (KAMMER 1994; NITOBE 2002;
CARVALHO 2007).
Quando um homem vive graças as suas habilidades no manejo da espada, é
bastante compreensível o porquê da filosofia do Zen ter sido muito procurada
por aqueles que buscavam o conhecimento. O Iniciante no Kendo deve
entender que o Zen é a contemplação silenciosa da vida e que o Kendo na
era feudal do Japão era o movimento do Zen ou a ação da vida. (SASAMORI;
WARNER 2004: 47)
Na obra O Zen na Arte de Conduzir a Espada, Kammer (1994) acentua a
importância do pensamento Zen no processo de aprendizagem do manejo da
espada. Segundo o autor, esta arte — hoje especificamente representada pelo
Kendo é um dos caminhos Zen. O Zen budismo relaciona a prática correta da
esgrima com os exercícios para a obtenção da iluminação, da ubiqüidade da morte e
do desapego á vida e aos bens materiais, ao passo que o Confucionismo acentua o
seu significado ético e a equipara a um serviço que se presta ao Estado.
A congruência desses princípios religiosos que norteiam o Bushido se
manifestou em sete princípios éticos que o sustentam: Gi (justiça), Yuu (bravura), Jin
(benevolência), Makoto (verdade), Rei (polidez), Meiyo (honra) e Chuugi (lealdade)
(NITOBE 2002; KAMMER 1994; DESHIMARU 1982)
2.1.3 - Zen e Samurai
É um fato que a íntima relação entre o Zen Budismo e as artes marciais
remonta à época dos Samurais e a chegada do Zen no Japão. Porém, é importante
frisar que as características centrais dessa relação, que perpetuou até os dias
atuais, por meio das artes marciais japonesas, tiveram um expressivo processo
de aculturação a partir do final da era Meiji (OMENA E SILVA, 2008).
52
Os autores, Lishk (1978) e Suzuki (1973), apresentam em seus trabalhos que,
uma vez que o Japão estava unificado e não havia mais guerras, algumas das
performances “plásticas” do Zen foram adotadas pelos Samurais devido ao forte
incentivo dado pelo governo, numa tentativa de justificar sua obsoleta presença na
sociedade da era Tokugawa (1615-1867).
A idéia principal era a de que o Zen, por meio de seu treinamento austero e
ausência de misticismo, traria benefícios para a mente dos samurais, que aentão
viviam para e em função das guerras. É por isso que a classe samurai adotaria
algumas partes do enorme conceito de Zen para incorporá-las em suas próprias
artes.
No entanto, deve-se ressaltar que em todas as “artes” influenciadas pelo Zen,
a busca pela perfeição do eu interioré mais importante do que a perfeição técnica
(SUZUKI apud KAMMER 1994). No Budo, o estado mental do praticante deve ser o
mesmo que o de um praticante de Zen. O “Guerreiro Zen” tinha de ser
independente, estóico e com uma “mente única”. Uma vez que este guerreiro mítico
não poderia ser apegado nem à vida e nem à morte (seishin o choetsuu
“transcender a vida e a morte”), ele podia calmamente aceitar a ubiqüidade da morte
em sua profissão. Era, portanto, com uma postura estóica e com total confiança em
sua fé, que o “guerreiro Zen” era capaz de praticar a arte da não-arte, ou seja, a
forma de praticar que transcende a técnica (KAMMER 1994; SUZUKI 1973).
Essas idéias envolveram muitos mestres/praticantes do Budo
contemporâneos que freqüentemente preferem argüir sobre os princípios filosóficos
do ideograma Do ao invés das técnicas. Basta uma superficial observação nas
literaturas de Budo para constatar os inúmeros exemplos dessa tendência:
Apesar de nos anos 70 as artes marciais terem sido amplamente
reconhecidas nos Estados Unidos como uma ou todas das seguintes:
Defesa pessoal, como calistênico, como esporte ou como sistema de
manutenção da saúde Esta ainda é fundamentalmente conexa com
o Zen e portanto, é um treinamento do corpo , da mente e do espírito.
De fato, a disciplina é tão estrita que as artes marciais (especialmente
aikido, hapkido e kendo) e o zen podem ser considerados sinônimos.
(...). A maestria de qualquer arte marcial é extremamente difícil de ser
53
alcançada e o status de mestre não pode ser alcançado, a não ser que
o estudante seja treinado na doutrina Zen, no nível da iluminação. (MIN
1979: 97).
2.1.3.1- Katana: a espada como objeto religioso e legitimador do poder
O significado místico-religioso da espada japonesa e sua íntima relação com
a família imperial e toda a etnia japonesa estão presentes na história deste povo
desde tempos imemoriais e o relato sobre a criação do Japão e outras questões
como: a hierarquia entre sexos como base da ordem social, separação entre vivos e
mortos, a criação do Japão e outros conceitos éticos e morais peculiares à cultura
nipônica, se encontram no Kojiki (recordação dos acontecimentos antigos), escrito
em 712 (SAKURAI 2007).
Por isso, Sakurai (2007), em sua obra Japoneses, salienta a significativa
importância dada à divindade da espada japonesa, difundida pelo Xintoísmo. se
voz à autora:
... havia um céu muito azul salpicado de nuvens brancas onde viviam
os deuses (...) Sobre o mar, não havia qualquer ilha e a terra
propriamente dita ainda não existia. Num dia qualquer, os deuses
tomaram a decisão de criar o mundo, confiando a execução da tarefa a
dos jovens deuses: Izanagui Izanami. (...) Izanami levava consigo uma
espada de ouro e com ela começou a remexer água do mar imenso
logo abaixo deles. E eis que ocorre um milagre: quando retira a espada
do mar, a espuma que havia se grudado nela escorreu, voltando ao
mar, solidificando-se ao atingir a água, formando então a terra
(SAKURAI 2007: 49-50).
Outros autores também concordam que a espada japonesa desenvolveu-se
ao lado da gente do Japão durante milhares de anos e que este é um objeto de
grande impacto, quando se fala do espírito e da história do Japão antigo. Tanto que
54
a própria história do Japão por si ratifica a natureza da espada japonesa como
um reflexo da cultura, das atitudes e da tradição do povo japonês (CBK
3
2007).
A espada japonesa ou Katana, como pode ser chamada daqui em diante,
está intimamente ligada á religião Xintó
4
e não se trata de um símbolo, mas sim de
um objeto dotado de um misterioso poder (SUZUKI 1973).
Antes de começar sua fabricação, o espadeiro se purifica com água, assim
como se faz antes de entrar em um templo xintó; se veste com um manto cerimonial,
que afasta os espíritos maléficos, e invoca a ajuda de um deus guardião. Durante
todo o processo de forja, o espadeiro e seu ajudante acreditam que estão sendo
auxiliados por esse deus e extrapolam os limites de seus poderes mentais, físicos e
espirituais (SUZUKI 1973; SAKURAI 2007).
O ofício antigo de espadeiro japonês quase desapareceu depois da Segunda
Guerra Mundial, quando as forças aliadas confiscaram e destruíram
aproximadamente cinco milhões de espadas e interditaram a manufatura de novas.
Em entrevista para a National Geographic, Michihiro Tanobe (apud O’NEILL 2003),
curador principal do Museu da Espada Japonesa, emquio, disse que os soldados
americanos temeram a espada ou, mais precisamente, a sua mística, "... porque os
soldados japoneses faziam esses ataques banzai" ataques totalmente
desesperados "empunhando suas espadas como se acreditassem nos seus
poderes mágicos".
2.1.3.2 - A Espada e o Samurai
Em se tratando do status que a Katana (espada japonesa) tem no Japão e no
mundo, não se pode tardar a menção à principal figura que, em todas as suas
dimensões, mais se utilizou da espada Katana, o Samurai. A essa figura, foi dado
especial destaque por Sakurai que inicia o capítulo Samurai, de sua obra, dizendo:
Se ... existe um ícone que se associa ao Japão, esse é o samurai. Sua figura está
3
Confederação Brasileira de Kendo. Texto disponível em: www.cbkend.esp.br. Acesso em:
26.02.2007.
4
Segundo Küng (2004) o xintoísmo é entendido como a religião mais antiga e autóctone do povo
japonês. É a religião tradicional e está intimamente ligada à cultura e ao modo de vida nipônico,
constituindo um conjunto de crenças e práticas religiosas, do tipo animista, sendo visivelmente
expressas nas manifestações sociais e atitudes individuais dos japoneses.
55
na base da identidade japonesa, sendo uma referência em muitos momentos da
história do Japão desde o século XIX” (SAKURAI 2007: 327). Os Samurais
utilizavam diversas armas, tais como arco e flecha, lanças, espingardas (DRAEGE
1996). Porém, a arma que se tornou o símbolo desta classe é a espada Katana e
sua relação com ela começava muito cedo.
A criança samurai quando completava a idade de cinco anos era introduzida
num ritual. Sobre um tabuleiro de Go
5
, lhe era presenteada uma réplica de uma
Katana que dali em diante deveria ser carregada como um símbolo de seu status e
de seus deveres ( DONOHUE 1999; NITOBE 2002).
Sendo assim, a Katana é a herança material dos Samurais e está
intimamente ligada às religiões Zen Budista e Xintoísta; significa, na verdade, um
modo de vida representado pelo código de ética dessa classe, o mencionado,
Bushido. Morrer pela lâmina de uma espada não era desonroso e no caso de uma
derrota, alguns samurais preferiam o suicídio (por meio do ritual de sepukku
6
),
abrindo o abdômen, do que serem capturados ou morrerem de forma desonrosa
(SUZUKI 1973; DONOHUE 1999; NITOBE 2002).
2.2 - A Era Meiji e sua influência na configuração do Budo
Com o fim da era Tokugawa, em 1868, a classe Samurai deixou de existir e
com isso o perigo de desaparecimento de todo o seu legado. Isso se deu na
restauração Meiji (1868 -1912), também conhecida como Meiji Ishin, esse período
culminou numa sucessão de eventos que conduziram a profundas mudanças nas
estruturas política, econômica e social do Japão (OMENA & SILVA 2008).
No entanto, havia algumas pessoas que se preocupavam em preservar o
patrimônio marcial japonês e reformularam os antigos métodos de luta que
5
Uma espécie de jogo parecido com o xadrez originário da China.
6
O ritual do seppuku varia de era para era no Japão. Seppuku no campo de batalha era podia ocorrer
das seguintes maneiras: Se ele não tivesse tempo de tirar toda a sua armadura, ele simplesmente
cortava as veias de seu pescoço ou cairia em cima de sua própria espada. Se ele tivesse tempo para
as preparações formais, ele se vestiria de branco, simbolizando a pureza, escreveria um poema que
deveria gentilmente manifestar seu estado mental e a estação do ano; junto a ele teria outro samurai
de sua confiança para cortar-lhe a cabeça e diminuir o sofrimento; então ele abria suas roupas e
enfiava profundamente uma espada menor (tanto) da esquerda para a direita e abriria seu abdômen.
Disponível em: http://www.japan-101.com/culture/seppuku.htm.> Acesso em: 3.09.2007.
56
constituíam o antigo Bujutsu e deram origem aos novos sistemas de luta que até
hoje são chamados de Budo. Na vanguarda estavam o Professor Jigoro Kano
(1860-1938), criador do Judô; Gichin Funakoshi (1868-1957), criador do Karate e
Moriheir Ueshiba (1883-1969) criador do Aikido (STEVENS 2007).
Com base no antigo código de honra dos samurais, ou Bushido, estes
grandes mestres explicitaram que, por meio do treinamento árduo e disciplinado das
técnicas marciais, se cultivaria o corpo, a mente e o espírito para um
desenvolvimento não do indivíduo, mas também da sociedade. Dessa forma, o
que foi desenvolvido pelos principais mestres idealizadores do Budo, tinha por
finalidade explicitar o caráter formador e educacional em detrimento da busca pela
eficiência letal. Suas técnicas não visavam exclusivamente à guerra e à morte,
exclusivas dos samurais, mas sim os caminhos educacionais, para o
aperfeiçoamento humano que, a partir de então, poderiam se encontrar ao alcance
de qualquer pessoa (STEVENS 2007).
2.2.1 - A transformação do antigo Kenjutsu em Kendo
Desde os primeiros samurais que governaram o Japão, durante o período
Kamakura (1185-1233), a esgrima juntamente com a equitação e o arco e flecha,
foram as principais artes estudadas e praticadas pelos clãs militares (DRAEGE
1996).
É do conhecimento comum que a arte marcial Kendo hoje praticada por
milhões de pessoas no Japão e em todo o mundo, evoluiu a partir das
experimentadas e testadas técnicas reais de batalha (TOMIKI 1969). Com o avanço
da tenka taihei, ou "paz em todo o reino" durante o período Tokugawa (1603-1867),
as artes marciais assumiu um novo significado e papel para a classe samurai, como
governantes do Japão. Sem as guerras, por si só, as artes militares passaram a ser
estudadas como métodos de auto-desenvolvimento, com significativa ênfase
atribuída ao seu valor estético e espiritual e o apenas como um meio para mutilar
e matar os inimigos (DRAEGE 1996; TOMIKI 1969).
O período Tokugawa viu o florescimento das artes marciais com uma
popularidade sem precedentes e, durante os respectivos 250 anos de paz, muitas
57
escolas de artes marciais (bugei-ryuha) aumentaram em número exponencialmente
com algumas estimativas que ultrapassam mais de 700 escolas (TOMIKI 1969).
Nessa época o termo utilizado para treinamento de luta com espada era kenjutsu e
muitos daqueles samurais estabeleceram escolas de kenjutsu, que existiram durante
séculos e constituem a base ética e moral de sua versão moderna, chamada Kendo,
até os dias de hoje (TMIKI 1969; BENNETT 2005)
Os nomes das antigas escolas refletem a essência espiritual de seus
criadores, por exemplo: Itto ryu (Escola da uma espada) indica que de acordo
com os insights” de seu fundador que todos os cortes possíveis, com a espada,
emanam e estão contidas em um corte original e essencial; Mutǀ-Ryu (Escola sem
espada) exprime a compreensão do mestre Tesshu Yamaoka, que "Não espada
fora da mente"; Munen Musǀ-Ryu (Escola Sem intenção e Sem pré-concepção) de
modo semelhante manifesta o entendimento de que a essência do kenjutsu
transcende o processo reflexivo do pensamento (DRAEGER 1996).
No período Edo começa a florescer mementos acerca do Bushido e muitos
deles são lidos até hoje :
O Japão começou a vivenciar um período relativo de paz no começo da Era
Edo (1603-1867). Durante este período, técnicas de Ken (espada japonesa)
foram convertidas de técnicas de matar pessoas para técnicas de
desenvolvimento da pessoa através de conceitos tais como Katsunin-ken, o
qual incluía não teorias sobre a força do espadachim, mas também
conceitos do modo de vida disciplinado do Samurai. Essas idéias foram
copiladas em livros que elaboravam sobre a arte da guerra no início da Era
Edo. Exemplos destes incluem: “Heiho Kadensho (A espada que vida -
The Life-giving Sword)” por Yagyu Munenori; “Fudochi Shinmyoroku (A Mente
Livre - The Unfettered Mind )” por Padre Takuan, o qual foi a interpretação
escrita do livro de Yagyu Munenori’s Ken e Zen (Espada e Zen) - “Ken to Zen
(Sword and Zen)” escrito por Tokugawa Iemitsu, o terceiro Shogun para o
Governo Tokugawa; e “Gorin-no-sho (O livro dos cinco anéis - The Book of
Five Rings)” por Miyamoto Musashi. Muitos outros livros sobre teorias de
espadachins foram publicados durante o meio e o final da Era Edo. Muitos
desses escritos tornaram-se clássicos e influenciam muitos praticantes de
Kendo nos dias de hoje. (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE KENDO sd
7
)
7
Informações obtidas no site oficial da Federação Internacional de Kendo. Texto disponível em:
<http://www.kendo-fik.org/ > Acesso em 7.10.2008.
58
Mesmo assim, as práticas eram muito perigosas e geralmente resultavam em
ferimentos. Para amenizar os riscos de acidentes e principalmente efetivar as
técnicas, iniciou-se o uso da shinai (espada de bambu) e do bogu (armadura
constituída por um capacete, luvas e protetor de rax) (CBK 2007). Com isso, foi
possível executar os golpes com pleno vigor, mas sem ferir o adversário. Esses
avanços, juntamente com o desenvolvimento dos conjuntos de formas práticas,
definiram as bases do Kendo moderno (DRAEGER 1996).
Segundo o autor acima citado, a introdução da prática com espadas de
bambu (shinai) e armadura (Bogu) é atribuída à Naganuma Sirǀzaemon Kunisato
durante a Era Shotoku (1711-1715). Naganuma também aperfeiçoou as espadas de
madeira (bokuto) e as armaduras metálicas, pois foi ele quem adicionou uma grelha
metálica nos capacetes (Men) e algodão grosso nos Kote (luvas).
2.2.2 - Principais características do Kendo
Literalmente, Kendo significa Caminho da Espada; é a luta marcial japonesa
que mais se aproxima da esgrima (kenjutsu) praticada pelos Samurais. Seu
desenvolvimento técnico, na manipulação da espada, tem origens nas observações
das leis naturais dos campos de batalhas (TOMIKI 1986) e seus princípios resumem
os ensinamentos éticos, religiosos e morais do samurai (LUDWIG 2002).
Segundo Ozawa (1997), os princípios do Kendo podem ser contemplados em
três componentes principais:
O caminho do corpo como segurar a espada, maai (a distância
espacial que separa os dois oponentes).
O caminho da espada como executar o golpe, o momento correto
para executar um golpe, etc.
O caminho da mente – a correta atitude mental.
O principal artefato utilizado neste esporte, a espada, é a arma mais
significativa no apanágio cultural japonês e a mítica deste instrumento é o guia de
seus praticantes.
59
Desde tempos remotos, ela representa um importante papel na consciência
do povo nipônico. Feitas de bronze ou de pedra, as primeiras espadas tinham
propósitos muito mais ritualísticos do que bélicos. Elas eram ofertadas como tesouro
divino aos templos ou recebidas como símbolo da nomeação de um generalíssimo
(Xogun) (DRAEGER 2007).
A espada era eficaz como artefato de segurança e também necessária para
se proteger da invasão inimiga o que possibilitava a preservação da paz e da ordem
estabelecida. Além disso, era respeitada como alicerce espiritual de seu portador,
expressando o sagrado.
Essa tradição de ver a espada como objeto sagrado e como tesouro ainda,
hoje, persiste na cultura japonesa. Portanto, desde sua criação na idade média
japonesa até os dias de hoje, a espada (katana) está ligada a cultura japonesa e na
filosofia do Budo nos seguintes sentidos (FPK
8
)
Ser a justiça que exclui a maldade e os maus espíritos;
Ser o símbolo da majestade, da função e da posição;
Simbolizar o compromisso e dar valor a lealdade;
Simbolizar o domínio do grupo e a paz.
De acordo com Ito Tomoharu (FPK) mestre 8ºgrau em Kendo e Iaido
(Caminho de desembainhar a espada), desde 1970, quando foi criada a Federação
Internacional de Kendo, o número de praticantes de Kendo vem aumentando
continuamente (atualmente estima-se que, no Japão, existam cerca de 1.2 milhões
de praticantes de Kendo e, no mundo, 2.0 milhões).
No entanto, o aumento do número de praticantes e a popularização do Kendo
com campeonatos e competições, trouxeram o que o autor chamou de problema da
“deterioração do Kendo” (FPK). Para corrigir esta tendência, em 1975, com a
finalidade de popularizar o Kendo 'Correto', a IKF
9
instituiu a divulgação do correto
“Propósito do Kendo”:
8
Federação Paulista de Kendo. Texto disponível em: www.fpkendo.org.br. Acesso em: 26.02.2007.
9
Federação Internacional de Kendo. Texto disponível em: www.kendo-fik.org. Acesso em:
26.02.2007.
60
Kendo Rinen: O conceito do Kendo
10
é disciplinar o caráter humano por meio
da aplicação correta dos princípios da Katana (espada japonesa).
Kendo Shuuren no Kokoro Kamae: Postura Espiritual para o
Aperfeiçoamento do Kendo refere-se ao propósito do Kendo:
Dedicar se sempre a prática do Kendo 'Correto', por meio da busca do
aperfeiçoamento da técnica de manejo da verdadeira espada com
espírito e corpo, e com isto, fazer florescer a força espiritual com as
características marcantes do Kendo de respeito e moderação. E,
sobretudo, poder servir com amor a pátria e a sociedade, promovendo
a paz e harmonia entre as pessoas. (INTERNATIONAL KENDO
FEDERATION
11
)
2.2.3 - No Dojo
Dojo para a prática de Kendo pode ser qualquer espaço físico relativamente
grande. No Brasil, por exemplo, treinos em salões de festas, das associações de
cultura japonesa, ou em quadras poliesportivas. O ideal, para que se tenha mais
conforto e segurança, e como se treina descalço, que o piso seja de assoalho e
amortecedores que aliviem os impactos nos pés e joelhos.
Ao adentrar e sair deste espaço, todos seus membros sempre fazem uma
reverência, curvando-se o tronco e a cabeça e direção ao Shomen ou Kamiza.
Simbolicamente uma divisão em zonas que separam Superiores e
Inferiores. O lugar de honra para onde é feita a reverência é chamada de Kamiza
(Residência de Deus), que é uma pequena réplica de templo ou Shomen, que é
representada por uma caligrafia. Durante o início, rmino ou em eventos, os
professores sentam-se próximos e de costas para esses lugares enquanto os
estudantes sentam-se de frente e numa ordem decrescente de graduação da direita
para a esquerda.
10
O conceito do Kendo foi estabelecido pela Federação Japonesa de Kendo em 1975.
11
Federação.....Ibid
61
Nas academias ou Dojo que visitamos, observamos que o simbolismo
presente nos rituais e práticas de Kendo reforçam os temas acerca da estrutura
12
da
tradição marcial japonesa. Para atingir os propósitos dessa dissertação, isolaremos
dois temas dominantes no Budo brasileiro e japonês, por nós observados: A
importância da graduação, hierarquia nas relações sociais e da busca do
desenvolvimento espiritual.
A Hierarquia:
O comportamento no Dojo, com ênfase na hierarquia e rituais pode ser
diretamente relacionado com o comportamento da sociedade japonesa em geral e
esse sistema, hierárquico, é um reflexo de traços sociais daquele país.
Nesses Dojo, visitados por nós, a incontestável primazia do Sensei é uma
das mais distinguíveis características de um Dojo tradicional Japonês
13
e é
carregada de uma série de influências e pressupostos.
Um bom exemplo é foi citado por Rocha (2006) ao descrever a via sacra dos
monges Ricardo Mário Gonçalves e Arthur Azevedo, mediante três tradições de
Budismo Japonês existentes no Brasil:
Contudo, vale a pena notar que Azevedo e Gonçalves foram mais longe do
que a maioria dos brasileiros, eles foram ordenados monges em três
tradições diferentes de escolas budista e receberam três diferentes nomes
budista. No Japão, tais mudanças de escolas não seria tão facilmente aceita,
porque tradicionalmente um discípulo (deshi) é deve seguir o
mestre/professor (sensei) indefinidamente. (ROCHA 2006: 26)
Em nota a autora diz:
12
Hierarquia: reverência aos antepassados e obediência aos mestres.
13
De novembro a Dezembro de 2008, o pesquisador esteve no na Universidade de Tenri e visitou
não só o Dojo da Universidade, mas também outros menores e particulares.
62
Pelo tempo que vivi em Kyoto de 1992 a 1993, eu aprendi que a relação
deshi-sensei era aplicável à qualquer tipo de estudo, desde ballet e aulas de
música à tradicional cerimônia do Cha´. Muitas crianças que eu encontrei se
preocupavam em iniciar um novo curso, devido a impossibilidade de mudar
de professor caso eles não gostassem desse novo. (ROCHA 2006:26)
De fato, o Dojo é estratificado em grupos de alto nível e baixo nível. De
maneira geral, a distinção é feita da seguinte maneira: Entre o sensei e seus alunos
e nas fileiras dos alunos entre os que têm Dan
14
(grau) e os que apenas detêm Kyu
e os que são literalmente iniciantes shoshinsha.
De acordo com nossas pesquisas (KANO 1986; WESTBROOK & RATTI
2007; CBK 2007) essa estrutura hierárquica é presente em quase todas as artes
marciais japonesas que terminam com o sufixo Do. Os aprendizes o divididos em
duas categorias: uma congrega estudantes com a graduação de Kyu e a outra com
a graduação em Dan.
A categoria de Kyu precede a categoria de Dan e congrega aqueles que não
receberam a faixa preta, ou seja, a intitulação Dan. O Kendo, exige teste para
Ikyu (1º kyu), diferentemente de outras artes como o Judô e o Aikido que começam
com o ou Kyu (KANO 1986; WESTBROOK & RATTI 2007). Mesmo entre os
que têm Kyu, existem pequenas distinções sociais baseadas em critérios como a
altura dos membros e a intensidade de treinamento.
A categoria Dan, abarca aqueles praticantes que receberam a faixa preta, ou
seja, o status de graduado em Dan que de acordo com a experiência e habilidade
são subdivididos de 1º Dan (Shodan) a 8º Dan (Hachidan) (CBK 2007).
A estrutura dos testes, exercícios práticos chamados de Kata e
requisitos para a evolução hierárquica do foram incluídas nos anexo I, II, III e IV
dessa dissertação. poderão ser visualizadas as compilações da estrutura técnica
estipulada pela IFK (Federação internacional de Kendo) e outras federações.
14
O Kendo não usa faixas pra identificar o vel do praticante. Kyu é uma graduação que antecede o
Dan, a partir de então há desde de 1º Dan, chamado Shodan.
63
No entanto existem requisitos presentes no Kendo que sugerem uma
avaliação subjetiva mais aquisição de graus no Kendo e empenhos que foram muito
bem expressados pelo Mestre Hanshi Tateo Morishima (2008):
Agora pretendo explicar sobre os degraus existentes nas etapas de
aperfeiçoamentos do Kendo (೶੿ୃ؅ߩᲑ඿) (kendo shugyoo no dankai). O
primeiro é para iniciantes (Ě) (shokyuusha) (shoshinsha até Dan),
nesta fase é preciso fazer bastante o treinamento dos golpes básicos,
conseguirão criar uma base sólida.
O segundo degrau é para os medianos (Ě) (Tyuukyuusha) pode-se
considerar que é época da máxima desenvoltura, é para os praticantes de
4º,5º e Dan de Kendo. Esta fase é a mais árdua dos praticantes, pois é
preciso dar tudo de si nos treinos, tendo como respaldo o acúmulo de treinos
básicos corretos praticados até aqui, utilizando toda a força e técnica. Nesta
época é preciso mostrar aos outros praticantes que é forte nos treinos e
também nas competições. Aqueles que praticarem com todo o afinco nesta
fase, nota-se a diferença, quando entrarem na fase seguinte. O terceiro
degrau é da emancipação como praticantes de Kendo (਄⚖Ě) (jyookyuusha),
são pessoas de Dan e acima onde os golpes e a força espiritual tornam-se
afinados, direcionando para o aperfeiçoamento mais elevado tecnicamente e
como ser humano. Nesta fase é preciso modificar o Kendo praticado até aqui
que foi da técnica, força física e velocidade para o Kendo Espiritual (ᔃߩ೶੿)
(kokoro no kendo). O significado do Kendo Espiritual em poucas palavras
seria a de aplicar golpes como uma confirmação, após vencer espiritualmente
(kokoro). Antigamente existiam muitos mestres que demonstravam isto,
infelizmente hoje estamos carentes. (MORISHIMA 2007 apud CBK)
A busca pelo desenvolvimento espiritual:
Como aponta a citação acima, um momento da vida do praticante de
Kendo onde a prática da arte não tem por objetivo a maestria técnica, mas sim a
espiritual.
Porém, quem deve auxiliar o praticante deve ser o seu mestre. A Posição que
o Sensei ocupa é um lugar de destaque no Dojo, sendo que sua disciplina deve
orientar o discípulo tecnica e moralmente.
Segundo Donohue (1999) o Zen budismo exerceu forte influência no
desenvolvimento do Budo e a relação professor aluno no Kendo tem suas origens
64
nessa religião. No Budismo Zen, o mestre conduz o discípulo ao Satori (iluminação)
por vários caminhos, principalmente por meio do Mondo (período de perguntas e
resposta com o mestre) e da colocação do Koan (Charadas sem resposta que
caibam num raciocínio lógico) (SUZUKI 1973; 1993).
Para Donohue (1999) a posição do sensei é, também, salientada devido à
crença de que a transmissão da habilidade e perspicácia nas artes marciais pode
ser obtida a partir de um professor reconhecido pela comunidade do Budo.
2.3 - A simbiose entre Budismo e Budo: aspectos históricos
Segundo Suzuki (1973), o Zen budismo foi introduzido no Japão pelo monge
Eisai (1141-1215). No início ele tinha como sede de propagação da doutrina Zen, a
província de Kyoto. No entanto, esta cidade era o centro de divulgação das já
estabelecidas seitas Tendai e Shingon e a implantação de outra “fé era quase
impossível e, por essa razão, o início do entrelaçamento entre o Zen e a casta
Samurai, veio acontecer, com significativa expressão, um pouco mais tarde no
período Kamakura (1185-1338).
Em 1186, Yoritomo (1147-1199), da família Minamoto, conquistou todo o
império e estabeleceu o primeiro Governo Samurai, e se tornou Shogun
15
na
província de Kamakura. Apesar de constituírem uma casta entendida como vulgar e
sem cultura, os Samurais obtinham o total controle do Japão. O poder dessa classe
era tanto, que até os imperadores, que representavam um poder divino, chegaram a
ser destronados e exilados por ordens dos Shoguns (SADLER 1992; YOSHIDA
s.d.).
Nessa época a situação do Japão era quase que caótica. Por conta da
pobreza, da fome, da desigualdade e de outros problemas sociais - aliados ao medo
das invasões mongóis, que representavam o terror da Ásia - surgiu em toda a nação
nipônica um forte espírito de luta que curiosamente fez com que até os monges
budistas pegassem em armas na luta pelos seus direitos (NUKARIYA 1913).
15
Esse sistema militar de “Governo Samurai”, implantado por Yoritomo, através da sucessão de
diversas outras famílias e Shoguns (samurais), controlaram o Japão até 1867 e o fim desse sistema
se deu na era Tokugawa (1603-1868).
65
Outra peculiaridade da província de Kamakura estava em ser o território sede
do regime de governo militar da família Hojo. A história desta família de samurais,
até hoje se destaca, não pelo fortíssimo apoio ao Zen Budismo, mas pelo
importante papel que um de seus Shoguns, Hojo Tokimune (1251-1284), que
desempenhou no processo de unificação do Japão e principalmente pela efetiva
resistência contra a invasão Mongol, que definiu a imaculada história de um Japão
nunca invadido e dominado, por outro povo, até o final da Segunda Guerra Mundial
(Suzuki 1973).
Tokiyori Hojo e Tokimune Hojo, pai e filho respectivamente, apoiaram a
estadia de muitos monges budista vindos de Kyoto e da China. Estes monges
chineses, bem como os monges japoneses, que iam até a China para aprender o
Budismo, traziam artistas, objetos de artes e de literatura, que permanecem nos
museus japoneses até os dias de hoje (SUZUKI 1973).
Segundo Nukariya (1913), o regime ditado pela família Hojo, era notado pela
sua simplicidade, moralidade e principalmente pelo seu poder administrativo e
belicoso. Desde que este austero regime adotou o Zen Budismo como seu guia
espiritual, o Japão, desde o século XIII até o final da era Tokugawa, no final do
século XIX, não deixou de ter as suas influências (do Zen e do Espírito Samurai),
nas mais variadas manifestações culturais do Japão.
À parte as influências que os Hojos despertaram entre a classe dos samurais,
estes últimos, por sua vez, como qualquer classe militar de outros lugares, na sua
rusticidade e na sua simplicidade não se interessavam por filosofias e por doutrinas
complexas, como as representadas pelas seitas budistas Shingon e Tendai. Estas
eram muito complicadas e alienadas à sua natureza austera e simples. Mas, o zen
não, neste eles puderam encontrar algo compatível com sua natureza e que lhes
ensinassem os acordes da etiqueta e da solidariedade que lhes faltavam (SUZUKI
1973; NUKARIYA1913).
Outra compatibilidade encontrada pelos Samurais se refere ao estilo de vida
seguido por seus mestres do Zen (SUZUKI 1973). A vida do primeiro o reportava
facilmente à vida monástica do segundo, onde ambos tinham de se submeterem a
66
uma extrema disciplina em seus respectivos treinamentos; privações materiais,
psicológicas e físicas sem nunca reclamar (DONOHUE 2005).
Segundo Suzuki (1973), outro significativo atrativo que os Samurais
encontraram no Zen é o fato dele não ter uma doutrina especial ou filosofia
embasada em conceitos intelectuais. O objetivo central do Zen é libertar o indivíduo
do ciclo de nascimento e morte por meio de um específico desenvolvimento da
intuição, que permite o correto entendimento dos fenômenos.
O autor ressalta que outra grande peculiaridade do Zen, se comparado a
outras religiões, é ser altamente adaptável a qualquer filosofia ou doutrina moral,
com tanto que seu ensinamento, focado no desenvolvimento da intuição, não seja
interferido. Suzuki afirma que: “... ele pode ser incorporando ao anarquismo,
fascismo, comunismo ou democracia, ateísmo ou idealismo ou a qualquer sistema
político ou econômico dogmático (...)” (SUZUKI 1973: 63).
2.3.1 - Outras influências do Budismo na cultura japonesa
É altamente notável como o Budismo se tornou a base do desenvolvimento
da cultura e da ética sócio-religiosa de praticamente todo o extremo oriente e
especificamente do Japão (SUZUKI 1973).
A presença do Budismo naquele país está presente nos fatos históricos, na
arquitetura tradicional, na literatura, nas artes plásticas, artes marciais e na
sociedade, bem como na ética social japonesa. O folclore e a música clássica
japonesa têm sua marca budista saliente e até mesmo os feriados nacionais
japoneses são datas marcadas pelo calendário budista (SUZUKI 1973; MATSUNAMI
2004).
2.3.1.1- Principais características da inseparabilidade entre religião e cultura
Apesar de o budismo ter surgido na Índia; migrado para a China, onde
incorporou muito da filosofia confucionista e taoísta e passar pela Coréia, foi
somente no Japão que esta religião foi colocada em prática na vida diária de todo
um povo (SUZUKI 1973).
67
A essência do Zen budismo Japonês é a consciência plena, a consciência de
Buda, de que a realidade não é dualista, mas um estado existencial equânime.
Sua influência, naquela cultura, pode ser observada em vários aspectos no
cotidiano das pessoas. A expressão Itadakimasu, antes de comer, manifesta a
gratidão pelas refeições. Literalmente significa: “Com gratidão eu aceito essa
refeição, porém refletindo acerca do meu merecimento ou não disso. Gochisoma é
dito após a refeição e significa: que essa oferenda seja muito bem recebida para
manter meu corpo saudável e completar os bons desejos de todos os seres”
(MATSUNAMI 2004: 36). Segundo o autor, apesar de seu significado original ter se
perdido no tempo e as palavras serem ditas automaticamente, elas se originam de
profundos ensinamentos budistas acerca da gratidão a todos os seres sensientes
(vegetais, animais etc..) que deram suas vidas neste mundo para a alimentação de
outros.
O jogo (Janken) ou da maneira abrasileirada jokempo é muito popular ano
Brasil. Nesse jogo, os jogadores ao estender os dedos ou fechar a mão representam
as formas da tesoura, da pedra ou do papel. A tesoura ganha do papel, porque pode
cortá-lo; a pedra ganha da tesoura, porque esta não pode cortá-la; e o papel ganha
da pedra, porque pode embrulhá-la. Este jogo também transmite profundos
ensinamentos budistas acerca da interdependência e relatividade das coisas e dos
fenômenos (MATSUNAMI 2004).
Na esfera da arquitetura, o Japão é mundialmente reconhecido pela sua
interação quase orgânica, entre construções residenciais, edifícios religiosos, terra e
paisagismo (JOHNSON 1993).
Ao pesquisar a paisagem zen budista e a idéia de templo, em dois templos
zen do Japão (o Muso Kokushi e o Zuisen-Ji), Johnson (1993) interpreta o templo
como a relação mútua entre arquitetura, terra e paisagem, edifícios e principalmente
a participação ritual dos devotos. As arquiteturas dos templos pesquisados por
Johnson mostraram que os templos não são prédios, exclusivamente, mas é um
fenômeno espacial e temporal dos quais os edifícios são apenas componentes de
sua característica.
68
Corrobora com Johnson (1993), Blyth (1951), que afirma que a cultura
japonesa é totalmente influenciada pelo budismo, não por meio das
manifestações artísticas, mas também na arquitetura. Esse autor juntamente com
Suzuki (1973), afirma que os japoneses colocaram em prática os princípios do
Budismo Mahayana na maneira de morar, de comer, de beber, de andar, de falar,
dentre outras ações.
Um exemplo esta nas palavras de Blyth, que diz que o japonês está para o
budismo, assim como a água está para os patos: “É uma evidência, indireta, porém
completamente conclusiva o fato de que o povo japonês era Budista antes do
Budismo chegar no Japão. Eles entraram no Budismo “como um pato entra na
água”. O Pato não é coberto pela água e não se molha; porque ele é um ssaro
d’água” (BLYTH 1951: 311).
2.3.2 - Algumas manifestações culturais do Zen Budismo no Japão
Os primeiros veículos de inculturação do budismo no Japão foram algumas
das preferências artísticas (Chado, Ikebana, Haiku etc) que inicialmente eram
desejadas somente pela aristocracia japonesa (SUZUKI 1973; BLYTH 1951).
DO (ou Michi), é um ideograma presente em um significativo número de
atividades artísticas japonesa, compreende a idéia de movimento, de cabeça ou
líder. A princípio era usado para sugerir a idéia de via principal e finalmente se
tornou em via ou caminho. No Budismo tem o significado de caminho ou caminho
para a iluminação (DRAEGER 2007).
Fortemente influenciado pelo zen Budismo e pelo Taoísmo, o conceito de Do
ou Tao (Caminho do céu em chinês), sofreu por parte dos japoneses significantes
alterações para que se adaptasse à religião nativa (Xintoísmo) e às exigências
políticas vigentes. Ininterruptamente, este conceito foi incorporado a muitas artes
japonesas tais como: cerimônia do chá (chado), arranjos florais (kado), cerimônia do
incenso (kodo) e as artes marciais (Budo).
Chado (caminho do Chá) ou Chanoyu que literalmente significa “chá e água
quente”. É uma atividade multifacetada baseada no budismo e no Taoísmo. É uma
69
cerimônia onde um tipo de chá verde pulverizado é meticulosamente preparado e
servido para outra(s) pessoa(s) (HERRIGEL 1995; SUZUKI 1973).
Kado, caminho das Flores, é a arte do arranjo das flores, também conhecido
como Ikebana. Em contraste com os arranjos ocidentais repletos de flores, o arranjo
japonês é baseado nas linhas dos finos galhos e/ou das folhas de um reduzido
número de flores. Agregado a isso tem também o vaso que é um elemento chave na
composição. Essa arte é praticada no Japão mais seiscentos anos. Originou-se
do ritual budista de oferecer flores aos espíritos dos antepassados e no início era
praticada primeiramente por monges e membros da alta sociedade.
16
O Haiku ou Haikai é uma a forma de poesia estruturada na forma de
dezessete sílabas, arranjadas em grupos de cinco (5), sete (7), e cinco (5). Ele
deriva da primeira linha do verso ligado que alternadamente repete uma linha em
grupos de cinco (5), sete (7), e cinco (5) sílabas, e uma linha em grupos de sete (7)
e sete (7) sílabas. Essa forma de poesia, que perpetua ahoje, foi estabelecida na
era Edo (1603-1867) e seu idealizador foi Matsuo Basho (1644-1694). Basho, como
é mais conhecido, além de ser o mais famoso escritor de haiku, também era monge
budista e descendente de samurais (BLYTH 1951).
No cao do Budo o princípio fundamental desta arte está profundamente
arraigado ao conceito do ideograma Do e para um grande número de praticantes de
artes marciais, como por exemplo,Kenji Tomiki
17
, o conceito de Do foi o aglutinador
que fez com que o coração do Budo pulsasse. Do era o caminho a ser seguido como
processo e meio do auto-aperfeiçoamento nesta vida.
O que todas essas formulações têm em comum é a forte conexão com as
idéias centrais do Zen Budismo. Todas se referem á idéia de que assim como no
Zen essas formulações artísticas podem conduzir a Iluminação budista, chamada
satori, e que é por si um completo sistema de vida filosófico, moral, físico e
espiritual.
16
Ikenobo Origin Of Ikebana. Site oficial da Associação Japonesa de Ikbana estilo Ikenobo:
http://www.ikenobo.jp/english/LIBRARY/history01.html. Acesso em 17.11.2007.
17
Kenji Tomiki nasceu em 15 de Março de 1900 e faleceu em 25 de Dezembro de 1979. Foi aluno do
fundador do Judô, Jigoro Kano e do fundador do Aikido, Morihei Ueshibae alcançou o 8º Dan de Judô
e de Aikido. Mestre nas duas artes desenvolveu o “único” método de Aikido competitivo.
70
2.4 - O Budo como fator constituinte da identidade nacional
japonesa do Pós-Guerra
No final do século XIX a educação Japonesa tinha uma forte orientação moral
destinada a suprir as necessidades do Estado (kokka no tame no kyôiku). Nesse
período, a Educação Física japonesa tinha uma função social pensada sob a forte
influência das instituições militares e da medicina, e dela se esperava que provesse
à sociedade com Jovens saudáveis e de forte espírito nacionalista, para a
“construção” das fileiras de um exército e de uma economia forte (fukoku kyohei)
(NIEHAUS 2006). Sendo assim, o Judô que foi originalmente idealizado por Jigoro
Kano tinha três objetivos principais: acelerar a disputa com o ocidente (transpondo a
percepção de inferioridade física e militar); disseminar os ideais do Judô
mundialmente e como um sistema de educação para os praticantes (CARRS 1993).
Em 1889 a reação de Kano a essa filosofia educacional nacionalista foi:
Judô não é moralidade, mas sim uma educação moral num sentido amplo. Se
nós incluirmos o Judô como disciplina curricular em todas as escolas do
nosso país, isto pode certamente compensar os pontos fracos de nosso atual
sistema educacional, respaldar a formação de caráter dos nossos pupilos e
fortalecer seus sentimentos de patriotismo. Poderíamos até ter conflitos
internacionais e poderíamos até ser atacados por todos os lados, mas
seguindo os ensinamentos do Judô, nós não sentiremos medo e não nos
renderemos. E nos tempos de paz, os estrangeiros irão se admirar do
moderno desenvolvimento em nosso país, assim como, dos costumes e
hábitos. Se nós seguirmos os ensinamentos do Judô...o tempo em que nosso
país será um dos mais fortes países civilizados estará próximo. (KANO apud
NIEHAUS 2006: 1178).
Dessa forma Jigoro Kano implementou a idéia de criar um espírito patriótico
por meio do Judô e apresentou esse novo esporte marcial às instituições
governamentais como uma poderosa ferramenta para reacender a identidade
nacional japonesa, muito necessária à um Japão que sofria de um forte sentimento
de inferioridade frente ao ocidente (CARR 1993).
71
Portanto, o Judô estava predestinado a servir como uma metáfora para a
auto-imagem do japonês e da nação da era Meiji. O Judô era visto como a arte
marcial puramente japonesa onde o homem fisicamente fraco poderia
indubitavelmente sobrepujar outro fisicamente forte, mediante o correto uso das
técnicas e da força espiritual.
Em muitos dos textos, o próprio Jigoro kano, segundo Niehaus (2006), é
saliente seu constante confronto com a cultura do Ocidental, sendo sempre
representado como o protetor do Japão, que por meio do Judô iria mostrar ao
mundo inteiro o verdadeiro espírito japonês.
Mesmo vinte anos após sua criação o Juainda o era um sistema fixo e
ainda estava sofrendo modificações técnicas e teóricas. Foi então que em 1909, ao
ser eleito o primeiro membro do Comitê Olímpico para um país asiático, Kano entrou
em contato com o Movimento Olímpico e com os ideais Olímpicos. A partir de então
suas idéias mudaram expressivamente, no sentido de uma orientação mais pluralista
e internacionalizada.
Foi nessa época que Jigoro Kano incorporou a filosofia esportiva proposta por
Coubertin ao Judô e estabeleceu seu auspicioso objetivo de incluir as artes marciais,
especialmente o Judô e o Kendo, na programação dos Jogos: “Espero que as artes
marciais e o atletismo se desenvolvam de mãos dadas. Mesmo sendo diferentes,
seus objetivos ainda são os mesmos: O fortalecimento do corpo e da mente.
Portanto, seria sensato incluir o Kendo, o Judô e a atitude do Bushido nos Jogos
Olímpicos” (KANO APUD NIEHAUS, 2006: 1179).
Com Niehaus (2006) ainda vê-se que o ensino do pensamento
ultranacionalista, constituía uma disciplina curricular do ensino médio, desde o início
de 1911, e teve um crescimento tão grande que nos anos 30 e 40 o Japão estava
cada vez mais submerso neste pensamento e em 1931, consoante a essas novas
configurações políticas e sociais, foram incluídas nas escolas, como disciplinas
compulsórias, as modalidades de Kendo e Judô.
Durante esse período essas duas modalidades foram cada vez mais
associadas a uma educação pré-militar e foram peças importantes na constituição
72
do maquinário de guerra nipônico, e foram tão importantes que durante os anos de
ocupação, o Comando Supremo das Forças Aliadas proibiram a prática de todas as
formas de Budo, exceto o Sumo.
2.5 - O Budo no Brasil - A Institucionalização do Budo no Brasil
Pesquisas que abordem sobre a História do Budo no Brasil são muito raras,
sendo poucas publicações específicas. O pouco que se tem, são alguns relatos
comumente mencionados nos sites das federações e na introdução de livros
técnicos ou manuais (VIRGÍLIO 2002a; 2002b; FPK
18
; CBK). Sobre o Kendo,
especificamente, informações em sites e algumas poucas traduções de livros
técnicos.
Devido a essa escassez de material, a história do Budo no Brasil, seaqui
representada por meio do Kendo e Judô. Isso porque essas duas modalidades
iniciaram-se junto com todas as outras manifestações culturais japonesas do Brasil,
com a chegada dos primeiros imigrantes japoneses, em 1908, que vieram trabalhar
na lavoura do café, nas fazendas localizadas no estado de São Paulo e Paraná
(VIRGÍLIO 2002b; CBK). Inicialmente, foi praticado somente entre os membros da
colônia e seus descendentes, principalmente no interior desses respectivos Estados.
Em 1933, na comemoração dos 25 anos da imigração japonesa, os
praticantes de judô e kendo fundaram a primeira associação brasileira de judô
e kendo, a “Hakoku Ju-Kendo Ren-Mei”.
O Kendo passou a ser ensinado nas escolas de ngua japonesa existentes
nas colônias rurais. Com o advento da 2a Guerra Mundial a vida dos
imigrantes japoneses no Brasil foi afetada, assim como a continuidade do
Kendo, pois todas as escolas de ngua japonesa foram fechadas e qualquer
manifestação da cultura japonesa foi proibida. Somente após a 2a Guerra que
o Kendo voltou a ser praticado no Brasil, tomando contornos mais
organizados alguns anos de, com a fundação do “Zen Haku Kendo Ren Mei”
e, posteriormente, a ABRAKEN Associação Brasileira de Kendo. Considera-
se que a era moderna do Kendo no Brasil começou na década de 70
(14WKC)
19
.
18
Federação Paulista de Kendo
19
14WKC. Site Oficial do 14 Campeonato Mundial de Kendo. Texto em:
http://www.14wkc.com.br/site/kendo-no-brasil/>Acesso em: 7.11.2008
73
Seguindo os mesmo moldes educacionais do Japão as comunidades
nipônicas do Brasil se empenharam muito em proporcionar o Judô e Kendo como
complementação educacional para suas as crianças. Um exemplo é a biografia do
mestre Massao Shinohara: uma das personalidades mais respeitadas do Judô
nacional e portador do 9º grau desta arte (no judô o grau mais alto atingido foi o 10º).
Ele conta que junto com seus irmãos iniciou a prática de Kendo e depois Judô em
uma escola de ngua japonesa na cidade de Embu, interior de São Paulo, entre as
décadas de 1930 e 1940 (KIAI 1998: 46-47). Em outra publicação da mesma revista
ele diz:
Kiai: Depois que começou a praticar judô, nunca mais se dedicou ao Kendo?
Sensei Shinohara: Mas eu continuo estudando Kendo. Quem entra no
Kendo não sai mais. Ainda que não tenha tempo para dedicar-me mais a
essa arte da espada, sempre que tenho oportunidade, procuro assistir alguma
exibição. Afinal, dediquei-me firmemente ao Kendo durante 10 anos .(KIAI
1996: 18-26).
De acordo com as citações anteriores, vimos que o Judô e Kendo sempre
estiveram presentes nas atividades sócio-educativas das colônias e que com o
advento da Segunda guerra somente o Kendo passou por um período relativamente
inanimado. Se os dois chegaram juntos e foram apresentados a todos da
comunidade, por que somente um teve maior crescimento quantitativo?
Provavelmente o impacto deste período pós-guerra e outros fatores só se mostraram
contundentes
20
porque ao contrário do Judô não houve na história geral do Kendo
indivíduos engajados em sua divulgação efetiva para o povo além colônia, por meio
da mídia e da prática esportivizada, com ênfase em competições desafios e outros
eventos promocionais.
Não encontramos na história do Kendo indivíduos como: Mitsuyo Maeda
Yasuishi Ono e Ryuzo Ogawa. Os dois primeiros se desatacaram no cenário
esportivo brasileiro principalmente por seus desafios em atividades do tipo Luta Vale
20
Haja a vista que o Kendo no Brasil congrega apenas 900 face ao judô que tem 2.500.000
74
Tudo, no caso do terceiro, Ryuzo Ogawa, seu trabalho em prol da expansão do Judô,
no Brasil, lhe rendeu uma Espada Katana enviada pelo império Japonês, antes da II
Guerra e a Medalha Cultura e vica José Bonifácil de Andrade e Silva pelas
autoridade brasileiras (O.H.O, entrevista, São Paulo, 14/02/2009)
21
.
Yasuichi Ono chegou ao Brasil em 1928 e sua importância se manifesta em
seu estilo altamente competitivo e empreendedor. Devido a suas extraordinárias
participações em provas de Vale Tudo ele se tornou famoso na cidade de São Paulo.
Na década de 1930 ele inicia sua academia de Judô e suas academias rapidamente
se espalharam pela cidade. Além do valor técnico, que era muito elevado, suas
academias se destacaram devido suas localidades que, geralmente em regiões
nobres, sempre atraíram pessoas ilustres da sociedade paulistana, tais como os
membros da família Matarazzo entre outros (VIRGÍLIO 2002a)
O grande mestre Ryuzo Ogawa (1883-1975) foi uma das maiores autoridades
mundiais em judô. Nascido no Japão em 1883 iniciou sua prática com nove anos no
antigo Jiu Jitsu e aprendeu diversos estilos. Chegou ao Brasil em 1934,
acompanhado de sua esposa, Sr. Toku Ogawa e o único sobrevivente de seus onze
filhos Matsuo Ogawa (VELTE 1989).
Em 1938 Ryuzo Ogawa funda a Associação Budokan de Judô (Hombu
Budokan), que merece destaque em nossa pesquisa, por que foi a primeira
associação de Budo no Brasil com projeção e organização nacional. Com filiais nos
estado de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul,
Goiás entre outros, teve mais de cem entidades filiais em todo o Brasil. Seu neto o
Sensei Oscar Hitoshe Ogawa, em entrevista, afirma que sem a Budokan as
dimensões do judô brasileiro hoje, não seriam tão expressivas. As colocações do
Sensei Hitoshe fazem sentido porque é somente vinte anos depois da fundação da
Budokan que é instituída a primeira Federação de Budo no Brasil, a Federação
Paulista de Judô, fundada em 17 de abril de 1958 (KIAI 1998).
21
Neto do Sensei Ogawa.
75
Dizem que quando sensei Ono chegou ao Brasil alugou um boxe no mercado
municipal de São Paulo onde enfrentava qualquer adversário. Mais tarde
tendo estabelecido sua escola de judô, veio a se tornar uma figura lendária e
muito popular no estado de São Paulo, tendo treinado seu sobrinho Akira Ono,
que viria a se tornar o primeiro campeão brasileiro a vencer os Jogos Pan-
americanos em judô (VELTE 1989: 10).
Outra evidência de nossa suposição (falta de Marketing) pode ser notada no
fato de a federação Paulista de Judô depois de muitos anos vinculada à
federação Paulista de Pugilismo — ter sido fundada em 1958, ao passo que a
Federação Paulista de Kendo somente em 3 de outubro de 1981.
Obviamente que isso não reflete falta de interesse ou capacidade dos
precursores e líderes do Kendo brasileiro, mas sim a necessidade de outros estudos
que tenham como escopo o desenvolvimento do Kendo no Brasil e as peculiaridades
da comunidade nipônica do Kendo que, até cerca de vinte anos atrás receava a
entrada de brasileiros, sem descendência japonesa, na prática do Kendo.
76
3. Os Samurais Brasileiros
Após termos postulado as questões relativas ao zen-budismo e ao
Kendo nos capítulos anteriores, neste capítulo primeiramente tivemos como
intuito descrever todos os métodos utilizados na coleta de dados, bem como
apresentar os resultados obtidos, posteriormente fizemos a discussão dos
dados.
3.1 - O universo da pesquisa
Conforme colocado, este trabalho contou com pesquisa de campo e
valendo-se de um referencial consolidado, compreendendo os dados
colhidos no campo de estudo e tentando-se chegar a algum tipo de
generalização. Optou-se por método qualitativo, uma vez que tal todo
apresenta-se como o mais adequado para o nosso trabalho.
Por meio de entrevistas com representantes com três diferentes graus
de conhecimento de Kendo, buscamos mapear os elementos histórico-
religiosos do Kendo para a formação de uma identidade e tradição histórico-
religiosa no universo da arte marcial japonesa no Brasil. Tivemos por objetivo
observar a simbologia religiosa oriundas da tradição, que influenciaram na
conformação desse nosso universo. Valendo-se desses dados e de sua
confrontação com os levantamentos junto às fontes documentais adquirimos os
elementos essenciais para a confirmação ou refutação de nossas hipóteses e,
também, para a produção de prospecto do Kendo em relação a seus conteúdos
histórico-religioso.
Para se chegar aos objetivos desse estudo ainda foi necessário escrutar
outros conhecimentos dos praticantes, tais como: História do Kendo, filosofia
do Kendo e objetivos dos praticantes. Sendo assim, os resultados serão
apresentados conforme os objetivos específicos do questionário e somente
depois discutidos em acordo com os objetivos do trabalho.
A disposição geográfica das instituições e dos entrevistados foi levada
em consideração para que pudéssemos observar, mais claramente, a
77
existência de uma semântica comum. Os entrevistados, mesmo os que fazem
parte da seleção brasileira de Kendo, vivem e trabalham em outras atividades
na cidade de São Paulo. As entrevistas foram feitas, nas próprias academias e
durante os treinamentos para a competição do campeonato mundial de Kendo
que, auspiciosamente, será realizado nos dias 28, 29 e 30 de Agosto de 2009
em São Bernardo do Campo / SP. Ao todo foram entrevistadas vinte pessoas,
número que consideramos suficiente para a obtenção dos dados necessários
ao esclarecimento das questões propostas pela pesquisa.
Ao estabelecer o universo da pesquisa de campo, buscamos focalizar
um grupo de indivíduos ligados entre si por intermédio da Federação Paulista
de Kendo, ou seja, por uma “hierarquia marcial” direta, isto é, os
representantes acima do terceiro grau (Sandan) podem ser professores e
transmitem seus conhecimentos para os de segundo grau que, por sua vez, os
transmitem para os de primeiro grau (Shodan) abaixo (Shoshinsha). Essa
hierarquia parte da FIK (Federação Internacional de Kendo), vem para a CBK
(Confederação Brasileira de Kendo), e este último aliado à FPK (Federação
paulista de Kendo) são os responsáveis pelos exames de graduação e registro
oficial de seus filiados.
O fundamental para nosso estudo é a graduação dos praticantes e seu
nível de conhecimento teórico do Kendo, pois segundo a FPK
1
é a graduação
que determina a qualidade da transmissão do Kendo. Isso porque, para que a
pessoa mude de grau ela deve assumir algumas responsabilidades: acatar os
ensinamentos do mestre, respeitar os superiores e transmitir e inserir-se não só
na técnica, mas também na filosofia.
Participaram do estudo 20 kenshins
2
(praticantes de Kendo), inerentes a
diferentes locais de prática, selecionados de forma não intencional, e sem
exigências acerca do tempo de prática. Destes 17 do sexo masculino e 3 do
sexo feminino, com idades entre 18 a 46 anos, sendo mínimo de 2 e o máximo
de 25 anos de prática de Kendo.
1
Diário de campo, em 11.06.2009
2
Kenshi é uma das formas de se chamar os praticantes de kendo, sendo mais conhecido o
termo kendoka.
78
3.1.1 - Resultados da Pesquisa
Quadro 1 - Universo dos Praticantes
Dentro de nosso universo temos a majoritariamente indivíduos com a
graduação de Shoshinsha (iniciante sem graduação), Ikyu, Shodan e
Nidandan.
Apesar disso, temos um número relevante de pessoas com graduação
acima de Sandan (3º Dan), o que implica pensarmos que nosso universo sabe
ou tem, minimamente, uma inserção nos princípios filosóficos do Kendo
Quadro 2 - Descendência dos Praticantes
Em se tratando da herança cultural vemos que quatro indivíduos são
descendentes de japonês e que cinco não.
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79
Quadro 3 - As Vias de Aproximação da Modalidade
Sobre as vias que levaram os entrevistados à aproximação do Kendo,
temos como principal forma de aproximação foi o intermédio da família e
amigos. A mídia nesse momento não demonstrou um impacto significativo e o
interesse nascido do próprio indivíduo também não se mostrou relevante.
Quadro 4 - Objetivos e motivações para treinar o Kendo
3
O Quadro 4, mostra que quando perguntado a respeito do objetivo de se
praticar o Kendo, a partir das respostas dadas conseguimos formular três
categorias:
3
Prosseguindo a pesquisa com as perguntas 6, 39 e 40 questionou-se sobre os objetivos dos
praticantes no kendo.
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80
1ª Melhorar física e espiritualmente
2ª Praticar uma atividade desportiva
Ser um competidor de alto nível
Quadro 5 - Entendimento do Termo Budo
Conforme o Quadro 5, verifica se que sete dos entrevistados possuem
conhecimento acerca do termo. Porém a maioria de nossos entrevistados
(doze) não conseguiram responder corretamente e seis não responderam.
Quadro 6 - Conhecimento da História do Kendo
Quando questionados sobre o surgimento do Kendo, observa-se que
apenas oito dos entrevistados souberam responder e possuem conhecimento,
conforme a literatura e as duas instituições responsáveis pelo Kendo no Brasil
(CBK; FPK). A maioria desses que souberam, pertencem ao grupo acima de
Sandan. No entanto, entre o grupo de indivíduos com graduação até Nidan as
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ĐŝŵĂĚĞ^ĂŶĚĂŶ
81
respostas foram identificadas como não coerente, pode-se verificar que estes
possuem conhecimento do nome de algumas eras mais expressivas do Japão,
porém contextuaram de forma equivoca e outros cinco não responderam.
Quadro 7 - Filiação religiosa
Ao abordarmos sobre a filiação religiosa, constatamos que 11 se
declararam católicos; um católico/protestante; dois cristãos; um protestante;
quatro sem religião e apenas um budista.
Quadro 8 - Simpatia por outras religiões
Com a questão 18 tivemos como foco a identificação de uma possível
empatia por outras religiões. A religião que se mostrou mais simpática aos
entrevistados foi o Budismo, seguida pelo espiritismo.
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82
Com as perguntas 20, 21 e 22 objetivamos saber qual o conhecimento
que os entrevistados têm do Budismo. Do que se refere ao Budismo, a grande
maioria conhece o país de origem. Por outro lado cinco dos entrevistados não
conhecem.
Quadro 9 - Literatura de Interesse
De acordo com o Quadro 9, quando perguntado a respeito dos livros que
conhecem acerca do nosso tema, obtivemos os seguintes resultados na leitura
do gráfico. Destacam-se os livros referentes aos samurais com 48%, sobre
Kendo com 25%, sobre artes marciais com 13% e de auto- ajuda com 6%.
Quadro 10 - Filmes de Interesse
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83
Ao lermos o Quadro 10 constatamos que o filme o Último Samurai se
destaca nas preferências de filmes. Vale notar que este filme é relativamente
novo e outros filmes de Samurai tais como Os Sete Samurais e Depois da
Chuva, tidos como clássicos do gênero não tem muita expressão.
Quadro 11 - Crença na existência de ensinamentos religiosos no
Kendo
A pergunta 27 indagava sobre a existência ou não de ensinamentos
religiosos no Kendo. Da população entrevistada quase que a totalidade disse
não acreditar que exista algum ensinamento religioso no Budo.
Quadro 12 - Religiosidade na Arte Marcial
Ao lermos o Quadro 12, vemos que, ao serem questionados acerca da
suposta existência de religiosidade nas artes marciais, as respostas se
dividiram, em relação ao Quadro anterior. Como nós enxergamos o Kendo
como arte marcial, para nós a maioria que antes afirmavam não ter relação
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84
religião e Kendo agora afirma que relação entre arte marcial e religião. Isso
nos leva a supor que muitos praticantes não incorporam ou compreendem o
Kendo dentro do apanágio geral das artes marciais.
Quadro 13 - Entendimento das terminologias japonesas no grupo até
Sandan
Terminologias Correto Coerente Não
Coerente
Não
Respondeu
Kiai 11 0 0 1
Mokuso 12 0 0 0
Shinzen-ni-rei 4 4 2 2
Shomen-ni-rei 4 4 2 2
Sensei 12 0 0 0
No Quadro13 verificou-se que sobre o termo Kiai, que significa grito com
manifestação de seu estado de espírito apenas 1 dos 20 entrevistados não
soube responder. Sobre Mokuso , que significa esvaziar a mente todos os
entrevistados, apesar de não darem a mesma resposta, acertaram.
Nos termos Shinzen-ni-rei
4
, que na verdade sugere uma saudação em
direção á residência divina, representada por uma miniatura de templo Xintó ou
um kakejiku
5
, somente 4 entrevistados acertaram, outros 4 não acertaram, mas
mostraram coerência no significado tratando apenas por reverência à Deus, 2
erraram e outros 2 não responderam.
O termo Shomen-ni-rei sugere uma saudação ao lugar mais importante
do Dojo e mesmo sendo dizeres diferentes, em sua raiz, significam a mesma
coisa. Porém o primeiro, Shinzen-ni-rei, tem uma conotação mais religiosa do
que Shomen
6
. Sendo assim, constatamos que as resposta acerca do termo
Shinzen-ni-rei se replicaram na pergunta acerca do termo Shomen-ni-rei.
4
Diário de campo em 11.07.2009
5
Caligrafia japonesa exposta em forma de pergaminho pendurada na parede
6
Entrevista com, Zen Tachibana, grau, atleta da seleção nacional de Kendo e um dos
professores da academia Bunkyo de kendo. 11.07.2009
85
Em se tratando do termo Sensei, haja vistas que no ocidente essa
palavra foi amplamente divulgada como professor, todos os entrevistados
acertaram.
Quadro 14 - Entendimento das terminologias japonesas no grupo acima
de Sandan
Terminologias Correto Coerente Não
Coerente
Não
Respondeu
Kiai 8 0 0 0
Mokuso 8 0 0 0
Shinzen-ni-rei 7 0 0 1
Shomen-ni-rei 7 0 0 1
Sensei 8 0 0 0
Com os indivíduos do grupo acima de Sandan foram usados os mesmo
critérios de avaliação, ou seja, encimados nos mesmos autores e entrevista
utilizados para avaliar o quadro anterior. Sendo assim, nos quesitos Kiai,
Mokuso, e sensei todos indivíduos acertaram e nos quesitos Shinzen-ni-rei e
Shomen-ni-rei apenas um dos entrevistados não respondeu.
Quadro 15 – Conhecimento de Histórias e de Lendas
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86
De acordo com o Quadro 15, apenas sete dos vinte Kenshis
descreveram uma das lendas que deram base ao principal estilo de Kendo
praticado hoje no Brasil. Todos falaram da mesma lenda sobre um Samurai
chamado Miamoto Musashi. Por outro lado, sete dos entrevistados disseram
que conhecem alguma lenda, no entanto não descreveram ou falaram a
respeito dela e seis não conhecem nenhuma delas.
Quadro 16 - Conhecimento acerca dos princípios filosóficos do Kendo
Graduação Coerente Não Coerente Não Sabe
Até Nidan 4 2 6
Acima de Sandan 4 2 2
Um dos objetivos desse estudo foi investigar os conhecimentos dos
kenshis sobre os princípios filosóficos do Kendo. Tais princípios podem ser
facilmente encontrados nos Sites da IFK (Federação Internacional de Kendo) e
da FPK (Federação Paulista e Kendo). Com relação aos princípios do Kendo,
observa-se no Quadro 16 que oito dos vinte entrevistados disseram que
conheciam e descreveram-nas, quatro assinalaram que conhecia porém não
descreveu nenhum deles e 8 Kenshis responderam que não sabiam.
Quando perguntado a respeito da iconografia nas academias, isto é, a
existência de algum tipo de imagem ou figura oriental, não tivemos como
objetivo indagar diretamente sobre imagens religiosas, porém 15 dos 20
entrevistados identificaram o shomen e automaticamente o ligaram a Deus ou
altar à ser reverenciado e somente cinco identificaram, mas não souberam
interpretá-lo.
Quadro 17 - Submissão ao Mestre
Gra
duação
SIM
Não
Até Nidan
3 9
Acima de Sandan
3 5
87
Quadro 18 - Busca por outros recursos
Gra
duação
Yoga
Meditação
Não
Até Nidan
7 2 3
Acima de Sandan
4 2 2
Com as perguntas 36 e 37 tivemos por objetivo visualizar a
susceptibilidade dos praticantes em se envolverem com outras atividades além
condicionamento físico para sua evolução técnica e até que ponto a relação
mestre discípulo influência estes praticantes.
A respeito de complementação ao treino de Kendo por meio de outras
técnicas orientais a yoga teve maior aceitação compreendendo a preferência
de 11 de nosso entrevistados, 4 preferem a meditação e 5 não se interessam
por completo
Sobre a relação mestre discípulo, 14 dos entrevistados, não
participariam de atividades religiosas proposta pelo mestre, sendo apenas 6
que se mostraram disposto.
Quadro 19 – A Manifestação do Kendo Fora do Dojo
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ĚĞƐĞŵƉĞŶŚŽ
ĐŽŵŽƐĞƌ
,ƵŵĂŶŽ
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ĐŝŵĂĚĞ^ĂŶĚĂŶ
88
Quando perguntados sobre a relação e influência do Kendo e seu
desempenho humano, dezoito dos vinte entrevistados responderam que sim e
que conseguem fazer uma relação. Justificando os entrevistados disseram que
ambas as coisas são interdependentes e que o resultado dessa relação é a
calma nas relações profissionais e familiares, disciplina esforço e paciência.
Questionando sobre o pragmatismo do Kendo, com a questão 33. As
respostas confluem com as da análise anterior. Portanto, todos são unânimes e
destacam o ganho de paciência, disciplina e concentração como as mudanças
adquiridas após a entrada no Kendo.
89
3.2 Desembainhando Espada
No capítulo anterior apresentamos os dados obtidos. Agora, faremos a
discussão e a análise dos dados, a partir do entendimento do zen budismo e do
kendo. Para se facilitar o processo de produção da discussão dos resultados,
optamos por dividir as análises das questões em blocos pontuais referentes ao tema
geral de cada questão. Essa decisão foi tomada desde a elaboração do
questionário, que não as agrupou da mesma maneira, porque buscava distribuir as
questões de forma que a resposta de uma não refletisse na outra.
O primeiro bloco representa o conhecimento teórico do Kendo e é constituído
de duas subáreas: 1) objetivos da prática do Kendo e 2) conhecimento acerca do
Kendo, que compreende a História do Kendo, identificação da iconografia, noção de
alguns conceitos e das terminologias usadas no Kendo. O segundo Bloco aborda a
religiosidade dos entrevistados e a transplantação dos princípios do Kendo para a
vida cotidiana.
3.2.1 – Conhecimento teórico do Kendo
3.2.1.1 - Objetivos da prática do Kendo
As perguntas 6 e 39 vão ao encontro da questão 40 e tiveram como objetivo
conhecer os motivos e os objetivos que levaram nossos entrevistados a praticar
kendo. As duas primeiras indagam acerca do objetivo geral do praticante e a
segunda investiga pontualmente acerca dos objetivos nos treinos.
Constatamos por meio de nossa pesquisa que a prática se mescla com
aspectos físicos e mentais, havendo uma subdivisão no aspecto desportivo entre
uma prática para melhorar o físico e manter a saúde e outra, com menor expressão,
para melhorar o desempenho em competições.
Nos indivíduos do grupo acima de Sandan destacou-se a busca de melhor
condicionamento físico e a busca do alto-conhecimento. Nesse grupo houve também
a interpretação do kendo como esporte competitivo além de uma forma de atividade
física, seja para saúde, seja para o bem-estar do corpo e da mente. Nessa
90
população, pudemos encontrar significativa aproximação da proposta de Morishima
(2008)
1
, que sugere que indivíduos de Dan até Dan dêem maior ênfase no
aprimoramento físico, técnico e competitivo, inclusive considerando esta fase como
a mais árdua.
É preciso frisar que este esporte carrega todos os pressupostos da filosofia
Zen que não é do ponto de vista do senso comum lógico e coerente. A competição é
necessária, mas não pode ser vista como um fim em si mesma. Segundo Morishima
(2008), historicamente o kendo já esteve em crise, exatamente, devido à excessiva
busca de resultados:
O Kendo atual iniciou-se no ano de 1952, (...) Neste ano foi criada a
Federação Japonesa de Kendo (ోᣣᧄ೶੿ਗ਼⋖) (Zen nihon kendo renmei)
partindo da premissa de que seria uma entidade esportiva. Não tenho
certeza se é por este motivo, mas o Kendo tornou-se uma entidade que
visava apenas vitória através da competição. Nesta época o mestre
Shonosuke Nishiyama(ڿጊ᧻ਯഥ) da Universidade Educacional de Tóquio
criticou numa reportagem dada a uma revista que o Kendo futuramente
tornará um elemento apenas recreativo.
O Kendo original tinha como objetivo a pesquisa da Lei do Sentimento
Humano através da prática do Ken, mas tornou-se elemento para a busca da
vitória através da técnica do manuseio do Shinai ou em outras palavras
“recreação esportiva”. (MORISHIMA 2008)
Sobre os objetivos dos entrevistados do grupo até Nidan, observarmos por
meio do Quadro 4, que 7 dentre os12 entrevistados, priorizaram, como objetivo, a
busca pelo aprendizado da espiritualidade japonesa seguido da melhora do
condicionamento físico, sendo que ser um competidor não se mostrou relevante
para este grupo.
No grupo aNidan, observamos que os objetivos dos praticantes não vão ao
encontro do que é sugerido pelo mestre Hanshi Tateo Morishima (2008), pois no
nesse grupo (considerado iniciantes) maior interesse nos aspectos de formação
ética e moral do Kendo, do que nas técnicas. Ressaltamos que para o autor, nesta
 
1
Capítulo 2 dessa dissertação.
91
fase
2
os kenshis devem se dedicar mais aos aspectos técnicos, porque é somente
no terceiro degrau, o da emancipação, que às questões de evolução espiritual
devem ser trabalhadas.
Em se tratando da questão 40, essa indaga acerca da graduação e pode ser
dividida em duas categorias: a primeira, para melhorar o desempenho técnico e
competitivo e a segunda, adquirir mais conhecimento acerca da arte. Além disso,
quando os entrevistados pensam na sua graduação, uma cisão entre o
desenvolvimento técnico e filosófico do kendo e o pensamento basicamente de
atleta competidor.
Uma vez que existe uma predominância de respostas em melhorar o
condicionamento físico e buscar o autoconhecimento, vimos que a questão da
espiritualidade aparece principalmente naqueles que são do grupo até Nidan, o que
nos faz pensar que as possibilidades de aperfeiçoamento no campo físico e
espiritual oferecidos pelo kendo são do conhecimento comum, desde antes do
início da prática. No entanto, ao cruzarmos essas informações com as obtidas nos
Quadros 3 (As Vias de Aproximação da Modalidade), 9 (Literatura de Interesse) e 10
(Filmes de Interesse) constatamos que não foi possível a identificação da origem do
interesse nos aspectos espirituais do Kendo.
Por fim, as respostas obtidas também apontam que os kenshis m
conhecimento dos objetivos centrais do Kendo, mas não mostraram profundidade, o
que nos leva a perceber que, na prática, o Kendo, para estes iniciantes, é
transmitido de forma tradicional, ou seja, num primeiro momento limitado apenas às
atividades físicas, sem que seja apresentada e discutida a prática como forma de
desenvolvimento pessoal, espiritual, de autodomínio, dentre outros. É nesse sentido,
de confiança, paciência e tolerância que a relação mestre/discípulo, manifesta sua
importância
3
.
3.2.1.2 - Conhecimentos acerca do Kendo
Baseados no Quadro 5, discutiremos os resultados desse estudo
descrevendo os conhecimentos dos Kendokas ou Kenshis sobre o histórico do
 
2
O primeiro é para iniciantes (shokyuusha) (shoshinsha até 3º Dan), nesta fase é preciso fazer
bastante o treinamento dos golpes básicos, conseguirão criar uma base sólida.
3
A relação Sensei/Deshi é abordada no capítulo 2 dessa dissertação.
92
Kendo. Para tal, inicialmente questionou-se aos Kenshis qual o significado da
palavra Budo. Dos 20 entrevistados, sete deram resposta significativamente
próximas de Caminho da Guerra; sete deram respostas incorretas e outros seis não
souberam responder.
Conforme WESTBROOK & RATTI (2007) as palavras BU e DO significam
Caminho da Guerra. Como foi apontado no segundo capítulo dessa dissertação,
diversos outros autores traduzem de forma semelhante, utilizando palavras
diferentes, porém contendo o mesmo significado.
Tal resultado aponta que o fato de alguns entrevistados não possuir ou não
saber o significado da palavra Budo pode ser justificado por alguns fatores, tais
como: a falta de transmissão de conhecimento, a falta de interesse e a perda da
cultura ideológica da modalidade.
A importância de saber o significado da palavra Budo para um Kendoka dá-se
em função da própria justificativa da Federação Japonesas de Kendo, que ao
institucionalizar a antiga modalidade de luta de espada, fez questão de chamar de
Kendo, para diferenciar dos antigos estilos de ken-jitsu e acompanhar os ideais do
Japão da era Meiji, (NIEHAUS 2006). DO é caminho, enquanto JITSU é arte, ou
seja, Kendo significa Caminho da Espada.
Devemos ressaltar que a espada, nesse caso, é a Katana, a herança samurai,
permeada por ensinamentos religiosos e filosóficos que representa um modo de
vida, embasada num código de ética chamado Bushido
4
.
Sobre o surgimento do Kendo, ao voltarmos no Quadro 6 veremos que
apenas oito entrevistados dos vinte souberam responder acerca da criação do
Kendo. As respostas não foram bem elaboradas, mas em sua maioria citava a era
Meiji. No entanto, apenas uma das entrevistadas descreveu com clareza: “Dizem
que a origem do Kendo está ligada a história do japão, e que no início do século xvii,
adquire arcabouços filosóficos, evolui por 300 anos, até o final daguerra mundial,
quando tem sua prática proibida pelos americanos, e renasce com roupagem
esportiva nos ano 1970. (HYM, entrevista em junho de 2009)
 
4
Literalmente significa: Caminho do Guerreiro e foi tratado com maiores detalhes no capítulo II
dessa dissertação.
93
O Quadro 14 completa as inquirição do Quadro 6 e leva ao mesmo nível de
conhecimento, onde apenas sete dos vinte Kenshis descreveram uma das lendas
que deram base à um dos estilos de Kendo praticado hoje no Brasil
5
. Outros sete
afirmaram conhecer alguma lenda, mas como não citaram o nome tampouco,
consideramos que estes se somam aos seis que não conhece nenhuma delas.
Dos que comentaram, foi unânime a lenda sobre um Samurai chamado
Miamoto Musashi (1584-1645). Segundo De Barros (1996), ele foi um Samurai muito
famoso da história do Japão. Sua história é muito conhecida pelos japoneses, sendo
considerado um de seus heróis nacionais. A história desse samurai se destacou por
conta de seu caráter, sua força e sua habilidade descomunais. Ele também criou o
estilo de esgrima com duas espadas (Niten-Ichi), uma em cada mão, e escreveu o
livro Gorin-No-Sho (O Livro dos Cinco Elementos), sobre a arte da espada e as
estratégias de combate.
Deve se ressaltar que, 7 dos 20 Kenshis citaram, de diferentes formas e
brevemente, a lenda de Musashi. Isso nos leva a sugerir que a figura de Miamoto
Musashi pode ser entendida como central, dentro do repertório “mitológico” do
Kendo brasileiro.
Isso se deve, muito provavelmente, porque dentro da cultura popular do
Japão, muitas vezes ele é tido como Kensei,
o Santo da Espada.
Pesquisador: Quem inventou o Kendo sensei?
M.M Sensei: Miamoto Musashi
Pesquisador: E Quem é ele?
M.M Sensei: Kensei
Pesquisador: O que é isso? (riso)
M.MSensei: Você não sabe? Ele é o santo do Kendo (risos)
(M. M. 2006
6
)
Este samurai lutou e venceu mais de sessenta duelos, e nunca foi derrotado,
dedicou sua vida a alcançar a perfeição por meio da arte da espada, pintura,
escultura, caligrafia e poesia encimado na meditação Zen Budista. No Brasil seu
personagem se tornou famoso por meio do livro Musashi Volume I e II de Eiji
 
5
O Instituto Niten do Dan em Kendo, Jorge Kishkawa, diz ensinar a prática de kenjutsu praticada
por Musashi. Essas informações foram encontradas em:<
http://www.niten.org.br/>. Acesso em:
04.08.2008
6
Diário de campo entrevista em 12.10.2006 com Massao Matsumoto, professor de Kendo com mais de 90 anos.
94
Yoshikawa (1999) e principalmente pelo Mangá, Vagabond que conta sua história
em forma de quadrinhos. Suas principais características são: a austeridade nos
treinos, ascetismo e fidelidade em seguir o caminho da Espada (DE BARRO 1996).
Também devemos considerar que o mundo das artes marciais “... é baseado,
sobretudo, em uma tradição oral enriquecida por informações externas de fontes
que, normalmente, não explicitam a origem de seus dados” (APOLLONI 2004: 93).
Para manter os pressupostos teóricos práticos do kendo, deve-se conhecer sua
história e seus fundamentos, pois só desta forma consegue-se manter essa tradição.
Nossos dados não mostram um cenário favorável para esse tipo de perpetuação,
haja vista que doze de nossos entrevistados não acertaram a resposta. Pôde-se
verificar que estes possuem conhecimento do nome de alguns períodos do
feudalismo japonês, porém sem contextualização coerente.
Curiosamente nos Quadros 8 e 9, a literatura de Musashi não aparece e os
filmes sobre a sua vida também não foram mencionados. O destaque foi para o filme
O Último Samurai que, em se tratando de elementos que pudessem influenciar na
adesão ao kendo, não pôde ser tratado como relevante, pois o tempo de prática da
maioria dos entrevistados é maior do que a do lançamento do filme em 2003.
É fato que no início dessa pesquisa esperávamos encontrar um cenário com
muita influência da indústria do entretenimento, similar àquela ocorrida no universo
do Kung fu brasileiro:
Nos anos 80 e 90, com o fim do boom Bruce Lee e a abertura de academias
por professores não-chineses, houve uma consolidação do universo brasileiro
de Kung-Fu. Parte da produção cultural sobre arte marcial chinesa foi
nacionalizada, com revistas, apostilas, livros e sites desenvolvidos em
português por e para brasileiros. Esses produtos se inserem tanto no campo
da representação - o Kung-Fu visto "de fora" - quanto no da auto-
representação - como eu, como praticante, me insiro nesse universo.
(APOLLONI 2004: 90)
Porém, em nossas entrevistas foi indicado que os meios de aproximação do
kendo acontecem, de forma majoritária, pela influência da família e dos amigos,
dando a esse esporte contornos muito singular, que exigirá novas pesquisas que
tenham esse fenômeno como escopo.
95
3.2.1.3 Conhecimentos da Terminologia e Iconografia das Academias
O objetivo do estudo foi investigar os conhecimentos dos praticantes sobre o
significado de alguns elementos e “rituais” praticados durante os treinos. Os dados
referentes aos conhecimentos sobre a iconografia e sobre a terminologia do Kendo
estão contidos nos Quadros 12 e 13.
Nos materiais que abordam prioritariamente os aspectos técnicos e históricos
do kendo, não capítulos específicos sobre a religiosidade no estudo do Kendo
(DRAEGER 1996; 2007 OZAWA 1997 FPK). Não há referências ao papel das
religiões budista e xintoísta no contexto do atual Budo, ou, então, aos rituais como a
reverência ao entrar na academia e às saudações tradicionais, ou aos elementos de
natureza aparentemente religiosa presentes nas academias, tais como: os
ideogramas ᇞፉᄢ␹
7
(Kashima Taishin), o Kakejiku
8
, a meditação (Mokuso) e o
mudra
9
que é feito quando se realiza o Mokuso.
De todos os entrevistados brasileiros, apenas uma soube explicar em
detalhes o único elemento iconográfico, o “Kakejiku”: “Kashimidaishimyo (escritura -
kakejiku): remete ao templo Xintoísta Kashima, local tido como sagrado associado
às tradicionais escolas de artes marciais” (Z.T São Paulo, Maio de 2009)
10
. Os
demais, quando questionados sobre existência de imagens, somente indicaram o
kakejiku com outros termos (escritura, pergaminho etc), porém não souberam
explicar seu significado de acordo com a religiosidade japonesa.
Entre os sujeitos da pesquisa percebe-se que a grande maioria dezenove dos
vinte sabe o que é Kiai. Para se pontuar no kendo, esse item é primordial. No
questionário de graduação da Federação Paulista de kendo (2009), a segunda
questão é:
 
7
Kashima Jingu é o nome de um templo dedicado ao Deus do Xintoísmo chamado Takemikazuchi-
no-mikoto. Esse Deus é reverenciado como padroeiro das artes marciais. Entrevista com o professor
Zen Tachibana em 11.05.2009.
8
Kakejiku é um emblema em forma de pergaminho que tem os ideogramas como o nome do deus
Takemikazuchi-no-mikoto que nesse caso se como Kashima Taishin. Entrevista com o professor
Zen Tachibana em 11.05.2009.
9
Os mudras são gestos com as mãos de simbologia mágicas muito utilizado nas escolas esotéricas
de Budismo. Na iconografia budista todas as imagens são retratadas realizando um desse muitos
mudras (VAN HIEN 2003).
10
Zen Tachibana...Ibid
96
Qual é o golpe considerado "IPPON" (um ponto)?
R: É considerado "IPPON" o golpe que reunir os três fatores importantes no
Kendo: "KI”: sentimento, alma ou estado espiritual do Kenshi concentrado na
atitude expressado através do 'KIAI" (grito). - "KEN" : preciso movimento e
domínio da espada, entendo-se neste caso que a arma é a extensão do
Kenshi - "TAI" : movimento e atitude do corpo do Kenshi como um todo,
demonstrando sua total concentração no golpe. (FPK 2009) (O grifo é nosso)
A respeito do significado da palavra Sensei, as respostas obtidas não se
mostraram satisfatórias do ponto de vista da cultura japonesa. Para Morishima
(2008):
O primeiro estágio é aprender (ü) (shuu), significa ser orientado por um
verdadeiro mestre, o Mestre Budista Dôgen (੿ర) disse “Se não for orientado
pelo verdadeiro Mestre, é como se não ter aprendido nada”, mas isto não é
apenas privilégio de kendo, todas as artes ou aprendizados são a mesma
coisa.
Por isso o kendo que não recebeu orientação de um verdadeiro mestre não
será um kendo correto.
Quando perguntado sobre o significado da palavra Sensei, todos sabiam o
seu significado, porém essa não se encerra na tradução para mestre ou para
professor, como foi descrita pelos entrevistados, mas sim no seu significado dentro
do contexto marcial. Dentro do conceito de Sensei, de acordo com Rocha (2006)
deve existir a aceitação, a confiança, a devoção e principalmente a submissão.
Converge com a discussão acima a leitura do Quadro 17 que, a respeito da
submissão ao Mestre, em resposta à pergunta 36, apontou que quatorze de nossos
vinte entrevistados assinalou que não participariam de uma atividade religiosa por
orientação do sensei, um disse que dependeria: “Sim, Se eu achasse que
completaria faria” (B.A São Paulo Junho de 2009) e somente um demonstrou total
submissão e confiança no mestre:
Sensei sempre se preocupa conosco. Ele não nos obrigaria a nada que não
quiséssemos fazer. Ele simplesmente nos ajudaria a fazê-lo melhor. Vejamos
também a definição de mestre para este entrevistado: Mestre. “Um único Céu,
uma única Terra, um único Sensei”. (F.A.A.H São Paulo Junho de 2009))
97
Levando se em consideração que o contexto cultural dos brasileiros é
diametralmente diferente da cultura japonesa, acreditamos que esse fenômeno
cultural (a relação mestre discípulo) foi mudado e adaptado à nossa cultura.
Por isso, que o respeito e admiração pelo Sensei é presente em todas as
respostas, mas quando cruzamos a definição dada pelos entrevistados, do
significado da palavra sensei, com as respostas da questão 36, surgem ali algumas
dúvidas que por si destoam do que acontece no Japão. A relação mestre e
discípulo se mostraram adapta à cultura local e a relação religião e Budo se
mostraram, na prática, dissociadas, pelo menos para a maioria dos entrevistados.
Algumas respostas como a de F.A.G (Junho de 2009) podem ilustrar: “Por quê?
tenho meus princípios, somente as técnicas de Kendo são suficientes”
Por fim, se trazermos os estudos de Martin Baumann (1994) sobre a
implantação do budismo no Ocidente e a aculturação dos elementos da cultura
oriental pelos alemães, podemos encontrar em nossa pesquisa grandes indícios dos
cinco modos processuais de transplantação de uma tradição ultramar para um novo
contexto sociocultural. Estes são: contato, confrontação e conflito, ambigüidade e
alinhamento, reajustes (re-orientação), e auto-desenvolvimento inovador”
(BAUMANN 1994: 35-61).
3.2.2 - A religiosidade dos Entrevistados
Em se tratando da filiação religiosa dos entrevistados, temos um contingente
majoritariamente de cristãos, divididos entre protestantes e católicos. Apenas um
afirma ser Budista. Desses treze são simpatizantes de outras religiões, destacando-
se se o Budismo com sete simpatizantes e o espiritismo com cinco.
Quando questionados acerca do conhecimento de algum ensinamento
budista falam a respeito de um ensinamento que prega a conexão com todos os
seres da terra, calma e prática da bondade. Tais respostas não estão diretamente
ligadas a um conhecimento mínimo da doutrina proposta pelo budismo, uma vez que
os ensinamentos ou os tipos de conduta citado pelos entrevistados podem ser
encontrados por diversas instituições, muitas vezes, instituições não religiosas.
98
Também ressaltamos que, segundo Yün (2004), o básico do conhecimento
sobre a doutrina budista inicia-se com o conhecimento das quatro nobres verdades,
do caminho óctuplo e da jóia tríplice, conforme colocado no primeiro capítulo.
Quando inquiridos acerca da diferença entre budismo e cristianismo, pelo fato
da maioria ter uma formação cristã, os mesmos se utilizaram de chaves de leituras
cristãs, tais como: Deus, sacrifício e salvação, como formas de entendimento do
Budismo. Sendo assim, podemos levantar a hipótese que os praticantes de Kendo
entrevistados relêem o budismo a partir de uma chave cristã.
Na relação Budo e religião, inicialmente, pudemos notar que religião é vista
como uma coisa e a prática do budo como outra diferente. Porém, ao entrar no Dojo,
o kenshi primeiramente presta uma reverência em direção ao Kakejiku, que
simboliza o Shomen ou Shinzen. Ali existe o nome de um deus do xintoísmo.
Quando chega a hora de iniciar o treino, o mais graduado grita: Seiza e todos se
ajoelham; depois comanda Mokuso, e todos fazem o mudra; em seguida diz,
Shinzen-ni-rei e todos fazem uma reverência em direção ao kakejiku; depois
comanda Sensei-ni-rei e todos reverenciam o(s) mestre(s) e, então, começa o
aquecimento. Ao término do treino, o mais graduado, mais uma vez, avisa aos
demais para se ajoelharem, mas agora a ordem é diferente, depois da meditação, se
cumprimenta primeiro o sensei e por último o Shomen, que é o mais importante.
Curiosamente após todo esse ritual durante alguns anos de prática, quando
inquiridos sobre a existência de uma relação entre kendo e religião, conforme os
Quadros 10 e 11, quinze de nosso vinte kenshis disseram não haver nenhum
ensinamento religioso no kendo.
A saudação dirigida ao Kakejiku, a meditação e o mudra executados pelos
praticantes, quando no Dojo, nos parecem mostrar, claramente, uma prática ritual
relacionada a um culto aos antepassados, como é destacada por uma de nossas
entrevistadas. Em nosso entendimento, a presença do kakejiku e os rituais
(meditação e mudra) a ele relacionados indicam um aspecto institucional com
contornos religiosos.
Haja vista que a maioria de nossos entrevistados, mesmo os de ascendência
japonesa, tem religiosidade católica e evangélica, obtivemos interpretações do
significado desses rituais a partir de chaves cristãs, uma vez que no questionário,
99
que constitui a parte teórica do exame de graduação do Kendo no Brasil, não
encontramos respostas que esclarecessem os motivos de se fazer mudras,
reverência ao Deus / Templo do Japão ou a meditação. indicações para se
mostrar a força espiritual por meio do Kiai, mas não de como desenvolvê-la. Sendo
assim, aqui, podemos ver uma possibilidade do surgimento de crenças e de práticas
disjuntivas que podem até ser consideradas como sincréticas. Segundo Baumann:
Para membros da cultura hospedeira é possível apenas interpretar e
compreender símbolos, rituais ou idéias da tradição religiosa transplantada a
partir de suas próprias concepções. As bases da religião transplantada
compartilham problemas similares de compreensão a respeito da nova cultura
e sociedade. (BAUMANN 1994: 41)
3.2.2.1 - Para Além do Dojo: a transplantação dos princípios do Kendo para a
vida cotidiana
A maioria dos entrevistados não se mostraram inclinados a obter
conhecimentos sobre outros aspectos do Kendo além das técnicas. Por outro lado, a
Yoga se mostrou um grande atrativo como prática complementar do treinamento,
congregando onze simpatizantes.
Em se tratando dos benefícios do kendo para estes indivíduos, todos,
unanimemente, declararam que a prática trouxe benefícios e mudanças de atitude
na vida profissional e pessoal. Destacam-se como qualidades paciência, esforço e
disciplina.
A grande maioria dos entrevistados não estabeleceu relação entre religião e
Kendo, porém notamos certa ambigüidade, porque, ao mesmo tempo os mesmo
conseguiram estabelecer, em nível maior, uma relação entre religião e arte marcial
de maneira geral. Pudemos pensar, portanto, que a relação entre religião e kendo se
na prática e não teoricamente. Com isso, levantamos a hipótese de que o kenshi
não transfere o que ele vivencia ao lutar para o seu discurso.
Como foi mencionado, os livros cnicos, os sites e as apostilas não tratam
dos aspectos religiosos do Kendo, mas esses existem e são manifestados nas
lendas e na história de seus heróis:
100
Com o título de Capítulo do Vácuo escrevo aqui sobre os mandamentos da
Escola nitô-Ichi de arte militar. (...) Para alcançar o entendimento do vácuo, o
samurai deve aprender de modo seguro os mandamentos da arte militar e,
além disso, dominar perfeitamente as artes marciais, praticar com decisão e
firmeza espiritual os deveres de samurai. E aperfeiçoar com tenacidade e
diligência o espírito e a vontade, aguçando a capacidade de percepção e de
visão, eleminando qualquer nuvem de dúvida. então conhecerá o
verdadeiro vácuo.
Enquanto ignorar a essência dos verdadeiros mandamentos e não se apoiar
nas leis do Budismo nem nas leis terrestres, cada qual julga que os seus
mandamentos são certos e corretos. Contudo, à luz dos verdadeiros
mandamentos do espírito Jikidô
11
e segundo as grandes leis do mundo, está
se desviando da essência dos verdadeiros mandamentos por causa da
preferência pessoal, ou parcialidade, e da distorção da visão. (DE BARROS
1996: 152) (O grifo é nosso)
As pessoas não têm consciência da vivência da espiritualidade, mas quando
não se fala em religião elas a manifestam e não têm isso como religioso. Quase
todos entrevistados se preocupam com seu oponente, porém mais do que uma
pessoa a ser combatida, muitas vezes ele se manifestou como um espelho, mestre
que lhe ajuda a se desenvolver e discípulo que necessita de sua benevolência.
Em se tratando da influência do pensamento Zen nos praticantes de Kendo
sua manifestações, ainda que implícitas, foram identificados somente na rotina das
academias. Também foi observado, por meio dos resultados, a manifestação
implícita do Zen no fato de a maioria de nossos entrevistados, somando 43% do
grupo até Nidan e 57 % do grupo acima de Sandan. serem simpatizantes do
Budismo, somado ao fato de os benefícios obtidos com a prática do kendo terem
sido a paciência, esforço e disciplina que configuram alguns dos benefícios
divulgados pela religião Zen.
 
11
Jikido seria na língua búdica, o estado de Buda alcançado depois de muitas práticas ascéticas.
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internet: http;//www.ijf.org/events/WC/2001wc/conference2-02.htm.
Acesso em 20.08.2007.
WATTS, Allan.
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WHITING. Robert,
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publications/jjrs/pdf/644.pdf. Acesso em:.13.05.2006.
116
CONSENTIMENTO
Eu, André Alves farias RG 21948588-4, aluno no Programa de Pós Graduação em Ciências da
Religião, nível mestrado, na Universidade Pontifícia Católica de São Paulo (PUC-SP), estou
realizado uma pesquisa sobre a influência da religião Zen Budista na arte marcial japonesa
chamada Kendo.
Para tanto, preciso de sua colaboração, mas o (a) senhor (a) precisa declarar, por escrito, se aceita
as condições abaixo especificadas.
1. O (a) senhor (a) será entrevistado (a) e responderá algumas entrevistas relativas a sua
história de vida relacionada ao kendo.
2. Todas as informações prestadas serão mantidas em sigilo, pois serão utilizadas somente
neste estudo e os resultados gerais obtidos através de pesquisa serão utilizados apenas
para atingir os objetivos do trabalho, incluída a publicação na literatura cientifica
especializada.
3. Esclareço que o (a) senhor (a) poderá interromper a entrevista em qualquer momento,
sem nenhum prejuízo.
4. A entrevista não acarretará nenhum risco para o (a) senhor (a), pois sua identidade se
mantida em sigilo.
5. Caso necessite de maiores esclarecimentos, antes e após a entrevista, o (a) senhor (a)
poderá entrar em contato comigo pelo telefone ou e-mail abaixo.
6. Caso aceite estas condições, solicito que assine em duas vias o Termo de Consentimento
abaixo. Uma delas permanecerá com o (a) senhor (a).
TERMO DE CONSENTIMENTO
Eu,.............................................................................RG ou CPF............................
Aceito participar voluntariamente desta pesquisa e estou livre para, em qualquer momento, desistir de
continuar a entrevista, sem nenhum prejuízo para mim.
Assinatura:.............................................................................................
117
QUESTIONÁRIO
1- Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
2- Idade: __________ Nacionalidade __________________________
3- Se você é descendente de japonês qual a sua geração?_____________________________
4- Qual sua é a graduação no Kendo? ________________
5- Como você ficou conhecendo o Kendo
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
6- Por que você pratica Kendo e qual o seu principal objetivo?
__________________________ ________________________________________________
_______________________________________________________________________
7- Onde você pratica o Kendo? ___________ _________ _________ ____________________
8- Com que idade iniciou o kendo?______________Em que país? ______________________
9- O que você entende por Budô? Qual seu significado?
_________________________________________________________________________-
_________________________________________________________________________
10- Você se considera um Budoka ou Kendoka?___________
11- Mesmo com as supostas pausas no treinamento, quanto tempo se considera praticante ?
_______ anos / ou ________ meses
12- Quando surgiu o Kendo ?_______________________
13- Qual foi o objetivo de se criar a modalidade de Kendo?
14- Já praticou outra modalidade de Luta?
( ) sim ( ) não Ainda pratica? ( ) sim ( ) não
Se praticou, qual?________________Por quanto tempo?__________________
Se ainda pratica, há quanto tempo? _____________________________
118
15- Existem em sua academia qualquer tipo de imagens, escrituras ou figuras orientais?
( ) Sim ( ) Não
Por favor, descreva todas elas e seus significados?
__________________________________________________________________________
16- Qual é a sua Religião ? _____________________ Se considera praticante ( ) sim ( )não
17- Qual é a religião de seu Pai e de sua Mãe?
Pai:___________________________ Praticante ( ) sim ( ) Não
Mãe:__________________________ Praticante ( ) sim ( ) Não
18- Você se considera simpatizante de outras religiões além da sua? ( ) Sim ( ) Não
Em caso positivo cite alguma (s): ___________________________________________
19- Existem outras atividades culturais japonesas que lhe interessa? Quais? _________________
___________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
20- Em que país surgiu o Budismo?
________________________________________________________________________
21- Para você, qual é a diferença entre o Budismo e as religiões cristãs:
___________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
22- Você conhece algum ensinamento budista ? ( ) Sim ( ) Não
Em caso positivo cite os que você conhece: ________________________________________
________________________________________________________________________ _
23- Que tipo de Livros você gosta (você pode assinalar mais de uma opção):
( ) Os recomendados pela minha religião ( ) Religiosos em geral ( ) Sobre Samurais ( )
Sobre o Kendo ( ) Sobre artes marciais em geral ( ) De Auto-ajuda ( ) Somente os que
tem haver com o meu trabalho ou estudos.
Outros:___________________________________________________________
24- Cite um livro e um filme do gênero artes marciais, que mais lhe agradou:
__________________________________________________________________________
119
25- Cite um livro e filme do gênero religião ou auto-ajuda, que mais lhe agradou:
_________________________________________________________________________
26- Você conhece alguma das “lendas” ou “histórias”, que serviram de base para a idealização do
kendo? ( ) Sim ( ) Não. Se a resposta foi sim, por favor, descreva alguma e informe a fonte
da informação.
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
27- Existe algum ensinamento religioso no Kendo? ( ) Sim ( ) Não
Em caso positivo qual(s)? ____________________________________________
________________________________________________________________
28- Tem conhecimento de algum dos princípios filosóficos e/ou moral que alicerçam a
modalidade de kendo?
( ) Sim ( ) Não. Em caso positivo. Qual(is)? __________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
29- Você consegue fazer uma relação entre o seu desempenho no Dojo e o seu desempenho como
ser humano? ( ) Sim ( ) Não.
Justifique___________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
30- O que é o Kiai?______________________________________________________________
______________________________________________________________________________
31- O que é e para que serve o Kakejiku?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
32- Qual o significado e a importância dos termos:
Mokuso:_______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Shinzen-ni- rei:_________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Shomen-ni-rei:__________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
120
33- Você sentiu/percebeu mudanças nas suas atitudes após iniciar nesta modalidade de Luta?
( ) Sim ( ) Não. Em caso positivo, em quais situações e que tipo de mudanças?__________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
34- Existe algum tipo de conhecimento, além das técnicas, que você gostaria de aprender sobre a
sua arte marcial? ( ) Sim ( ) Não. Em caso positivo. Qual (is)?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
35- Você acredita que existe algum tipo de relação entre arte marcial e religião?
( ) Sim ( ) Não
Comente sua resposta:
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
36- Para melhorar o seu desempenho, você participaria de alguma atividade religiosa indicada
pelo seu mestre de Kendo, mesmo que fosse diferente da que você acredita?
( ) Sim ( ) Não
Por quê?____________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
37- Você já tentou aprender ou gostaria de aprender, algum tipo de yoga, meditação ou outras
técnicas orientais, para melhorar seu desempenho? Em caso positivo qual (is)?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
38- O que significa a palavra Sensei e o que representa para você?
__________________________________________________________________
39- Durante os treinos você procura:
( ) melhorar o seu condicionamento físico ( ) buscar o auto-conhecimento
( ) aprender um pouco da espiritualidade japonesa ( ) ser um atleta competidor de Kendo
( )outros:_________________________________________________________________
40- Qual a importância da graduação no kendo ?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________
41- Durante o treino preocupa-se com seu oponente ? ( ) Sim ( ) Não.
Justifique:__________________________________________________________________
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PHGLGRFRQVLGHUDQGRVHDYHORFLGDGHGHH[HFXomR
GRJROSHµ3VLFRORJLFDPHQWH¶R0$$,pRHVSDoR
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DGYHUViULRVTXHVHPDQWpPFRQVWDQWHPHVPR
TXHRVDGYHUViULRVVHDIDVWHPRXVHDSUR[LPHP
([SOLTXHRTXHp.<2GLVWUDomRH
-,768PDWHULDOHFRQFHQWUDomR
5.<2pWHU68.,EUHFKDRXVHMDQmR
SRVVXLUFRQFHQWUDomRQHPIRUoDHVSLULWXDOWRUQDGR
FRUSRHDOPDYXOQHUiYHLV-,768pRRSRVWRRX
VHMDFRQVHJXLUDWLQJLUDFRQFHQWUDomRWRWDOGDV
IRUoDVItVLFDVHHVSLULWXDLVWRUQDQGRFRUSRHDOPD
LQYXOQHUiYHLV
)DOHVREUH-,5,,77,FRQMXJDomRGH
IDWRSUiWLFDHWHRULD
5-,IDWRSUiWLFDUHIHUHVHjSUySULDWpFQLFD
RXWHFQRORJLDH5,WHRULDjDOPDRX
VHQWLPHQWR$SUiWLFDHDWHRULDVmRFRPRURGDV
GHXPFDUURGHYHPDQGDUMXQWDVSDUDTXHRFDUUR
ϭϮϴ
SRVVDFRUUHUSRUWDQWRGHYHVHUHVWXGDGDVHP
FRQMXQWR
([SOLTXHRTXHp6+,.$.(:$6$
22-,:$6$H'(%$1$:$6$
5%DVLFDPHQWHDVH[SUHVV}HVUHIHUHPVHD
WpFQLFDVRXHVWUDWpJLDVGHOXWD:$6$
6+,.$.(:$6$WpFQLFDGHSURYRFDomR
FRQVLVWHHPSURYRFDURDGYHUViULRIRUoDQGRRD
WRPDUDLQLFLDWLYDGRJROSHSDUDHQWmR
VXUSUHHQGHORUHDJLQGRLPHGLDWDPHQWHDWDFDQGRR
FRPXPFRQWUDJROSH
22-,:$6$WpFQLFDGHGHVYLRHGHIHVD
FRQVLVWHHPDQXODUXPDWHQWDWLYDGHDWDTXHGR
DGYHUViULRGHIHQGHQGRVHHFRQWUDDWDFDQGR
LPHGLDWDPHQWH
'(%$1$:$=$WpFQLFDGHDWDTXHLQLFLDO
FRQVLVWHHPDWDFDURDGYHUViULRQRPRPHQWRHP
TXHHVWHHVWLYHUGLVWUDtGRRXIL]HUDOJXP
PRYLPHQWRHPIDOVRTXHRGHL[HFRPDJXDUGD
DEHUWDRXHPSRVWXUDGHVHTXLOLEUDGD
'HVFUHYDRV6+,7DEXV.$,GR
.HQGR
55HIHUHVHDTXDWURVLWXDo}HVTXHGHYHPVHU
HYLWDGDV.<21VHUVXUSUHHQGLGR.8ILFDU
FRPPHGR*8,ILFDULQGHFLVR:$.8ILFDU
SHUSOH[RFRQIXVR1mRVHGHYHVHUVXUSUHHQGLGR
QHPILFDUFRPPHGRGRWDPDQKRItVLFRRXGR
JROSHGRDGYHUViULRHQHPPHVPRILFDULQGHFLVR
TXDQWRDVDo}HVGHOHHPXLWRPHQRVILFDU
SHUSOH[RHFRQIXVRTXDQWRDRVSUySULRV
PRYLPHQWRV
ϭϮϵ
([SOLTXHR7<8'$1.$0$(SRVWXUDGH
7<8'$1HVSDGDQDSRVLomRGHPpGLD
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57DPEpPFKDPDGDGH6(,*$1SRLVPDQWpP
DSRQWDGDHVSDGDDSRQWDGDSDUDRVROKRVGR
DGYHUViULRpSRVWXUDEiVLFDGR.HQGRVHQGR
FRQVLGHUDGDLQIDOtYHOVHPTXDOTXHUUHVWULomRe
SRVWXUDFRUSRUDOLGHDOWDQWRSDUDDWDTXHTXDQWR
SDUDGHIHVD1HVWDSRVWXUDRVKLQDLpHPSXQKDGR
QDWXUDOPHQWHFRPDVGXDVPmRV$PmRHVTXHUGD
GHYHVHJXUDUILUPHPHQWHDSRQWDGRSXQKRGR
VKLQDLPDQWHQGRVHSUy[LPDDRXPELJRWHQGRR
SXQKRYROWDGROHYHPHQWHSDUDGHQWUR$PmR
GLUHLWDGHYHVHJXUDUILUPHPHQWHDRXWUD
H[WUHPLGDGHGRSXQKRGRVLQDOGHIRUPDTXHR
VKLQDLVHSRVLFLRQHVHPSUHHPOLQKDUHWDWHQGR
VXDSRQWDDSRQWDGDSDUDRVROKRVGRDGYHUViULR
2SXQKRGLUHLWRWDPEpPGHYHILFDUYROWDGR
OHYHPHQWHSDUDGHQWUR
([SOLTXHRFRQFHLWRGH.(1'2LGHDOGR
.(1'2
5.HQGRpXPLQVWUXPHQWRGHIRUPDomRGH
FDUiWHUGDSHVVRDSRUPHLRGDSUiWLFDHHVWXGR
GDVUHJUDVWHyULFDVGR.(1HVSDGD
([SOLTXHR.(17$,,77,DYDQoRH
HVSHUDXQLILFDGRV
5$YDQoDUVLJQLILFDRDWDTXHHDHVSHUDR
SUHSDURGDGHIHVD$XQLmRGHVVHVGRLVHOHPHQWRV
VLJQLILFDWHURHVStULWRGHGHIHVDGXUDQWHRDWDTXH
HWHURHVStULWRGHDWDTXHGXUDQWHDGHIHVD7HUR
HVStULWRGHDWDTXHHGHIHVDDSRVWRVDRPHVPR
ϭϯϬ
WHPSRSHUPLWHQRVHVWDUSUHSDUDGRVSDUD
TXDOTXHUVLWXDomRDTXDOTXHUPRPHQWR
&LWHFLQFRH[HPSORVGH.$0$(SRVLomR
GHSRVWXUDFRPDHVSDGD
7<8'$16(,*$1
-<Ð'$1
*8('$1
+$768622
:$.,*$0$(
2TXHVLJQLILFD722<$0$120(768.(
IL[DURROKDUQDPRQWDQKDGLVWDQWH
5)L[DQGRVHRROKDUQDPRQWDQKDGLVWDQWHp
SRVVtYHODRPHVPRWHPSRHQ[HUJDURTXHHVWi
ORQJHHSUHVWDUDWHQomRQRVPRYLPHQWRVGRV
REMHWRVSUy[LPRV(VWDH[SUHVVmRUHIHUHVHj
WpFQLFDGHREVHUYDomRDRFRQIURQWDUVHFRPR
LQLPLJRGHYHVHIRFDUXPSRQWRGHREVHUYDomR
SDUDSRGHUHQ[HUJiORFRPRXPWRGRHDRPHVPR
WHPSRSRGHUSUHVWDUDWHQomRHPWRGRVRVVHXV
PRYLPHQWRV(VWDWpFQLFDWDPEpPpFKDPDGDGH
+$33212.8
)DOHVREUHRVHIHLWRVGR
.$.(*2(.,$,
5.$.(*2(YR]DOWDJULWRpRVRPHPLWLGRGR
LQWHULRUGRFRUSRGR.HQVKLTXHID]FRPTXHWRGR
R.,$,JULWRHVStULWRDFXPXODGRH[WUDYDVHFRP
WRGDIRUoD2.,$,DXPHQWDDFRQFHQWUDomR
SHVVRDOSRGHQGRLQWLPLGDURLQLPLJRDSRQWR
SDUDOL]iORQR'(%$1$6HUYHDLQGDSDUDFKDPDU
DDWHQomRGRDGYHUViULRTXHEUDQGRVXD
FRQFHQWUDomR3RGHVHGL]HUTXHTXDQWRPDLRUGR
.$.(*2(PDLRUDILUPH]DGDPmRHGRJROSH
ϭϯϭ
(PERUDDSDODYUD.,$,SRVVDVHUWUDGX]LGD
DSHQDVFRPRJULWRQXPDWUDGXomROLWHUDOPDLV
SURIXQGDR.,$,VLJQLILFDXQLURXFRQFHQWUDUD
DOPDRXVHMDR.,$,pXPDIRUPDGH
FRQFHQWUDomRSVLFROyJLFDDWLQJLGDDWUDYpVGRJULWR
([SOLTXHRVWUrVWLSRVGH6(1
DQWHFLSDomR
6(16(1126(1WDPEpPFKDPDGRGH
.$.$5,126(1FRQVLVWHQDKDELOLGDGHGH
DQWHFLSDUDLQWHQomRGRDGYHUViULRFRPUDSLGH]
GHVFREULUDOJXPDEUHFKDHJROSHDULPHGLDWDPHQWH
6(1FRQVLVWHQDKDELOLGDGHGHFRQWUDJROSHDU
RDGYHUViULRQRPRPHQWRTXHHVWHWHQWDDWDFDU
XPDEUHFKD&RPRDDQWHFLSDomRpH[HFXWDGD
TXDVHTXHVLPXOWDQHDPHQWHFRPRDWDTXHGR
DGYHUViULRR6(1WDPEpPpGHQRPLQDGR7$,
126(1RXVHMDDQWHFLSDomRVLPXOWkQHD
*2126(1FRQVLVWHQDKDELOLGDGHDQXODUR
JROSHGRDGYHUViULRSRUPHLRGH26$(SUHQVD
+$5$,UHPRomR685,$*8(HUJXHUH
DQWHFLSDUXPFRQWUDJROSH7DPEpPpFKDPDGR
GH7$,126(1
([SOLTXHR)8'Ð6+,1PHQWH
LQDEDOiYHO
55HIHUHVHDRHVWDGRGHHVStULWRHPHQWDOFDOPR
TXHVHPDQWpPLQDEDOiYHOHFRQVWDQWHVRE
TXDLVTXHUFLUFXQVWkQFLDVFRPRVHQDGDWLYHVVH
DFRQWHFLGR
2TXHVLJQLILFD,7,*$1ROKR1,
62.8SpV6$17$1
ItJDGRILUPH]D6+,5<.,IRUoD
55HIHUHVHDTXDWURSULQFtSLRVEiVLFRVGR.HQGR
ϭϯϮ
,7,*$1RROKRREVHUYDURHVWDGR
SVLFROyJLFRGRDGYHUViULRDQDOLVDQGRWRGRVRVVHXV
PRYLPHQWRVWDQWRGRFRUSRTXDQWRGDHVSDGD
1,62.82SpVPDQWHURVSpVOLYUHVH
OHYHVVHPSUHHPDOHUWDSURQWRVSDUDTXDOTXHU
PRYLPHQWRSDUDVHUYLUHPFRPRXPDPROD
SURSXOVRUDVHMDSDUDDWDTXHRXSDUDGHIHVD
6$17$12ItJDGRILUPH]DRItJDGRpR
yUJmRTXHVLPEROL]DDFRUDJHPILUPH]DH
GHWHUPLQDomRRXVHMDGHYHVHPDQWHUDFRUDJHP
TXHDSDJDRVWHPRUHVQRVPRPHQWRVGHDWDTXH
TXDQGRVHDUULVFDDSUySULDYLGD
6+,5<.,2IRUoDEXVFDUDIRUoDLQWHULRU
GDVPmRVTXHVHJXUDPDHVSDGDHDIRUoDLQWHUQD
GRFRUSRVHPUHFRUUHUDIRUoDEUXWDGRVEUDoRV
2TXHVLJQLILFDDXQLmRGHµ6+,1.,5<.,
HVStULWRSHQVDPHQWRYRQWDGHHIRUoD5
5HIHUHVHDRHVWDGRGHFRQFHQWUDomRQRTXDOR
HVStULWRSXULILFDGRHQFRQWUDVHXQLGRDR
SHQVDPHQWRGHFRPEDWHjKDELOLGDGHWpFQLFDHj
IRUoD
2TXHVLJQLILFD,768.8LPRELOL]DU"
5,768.8UHIHUHVHDSDUDOL]DomRPRPHQWkQHD
GRHVWDGRGHHVStULWRFRUSRRXPmRVRFDVLRQDQGR
DSHUGDGHUHIOH[RHOHQWLGmRGHUHDomRWRUQDQGRR
.HQVKLYXOQHUiYHO
2TXHVLJQLILFD6+8SURWHJHU5+$
TXHEUDUH/,VROWDU
55HIHUHPVHDIDVHVGHDSUHQGL]DJHP6+8
QDIDVHGRVSULPHLURVHQVLQDPHQWRVVLJQLILFDWRWDO
REHGLrQFLDHUHVSHLWRDRVHQVLQDPHQWRVUHFHELGRV
VHPFRQWHVWDo}HV
ϭϯϯ
5+$QDVHJXQGDHWDSDGHDSUHQGL]DJHP
WRPDQGRFRPREDVHRVHQVLQDPHQWRVUHFHELGRVQD
IDVHLQLFLDOSDVVDVHDHVWXGDUHWHVWDURXWURV
HVWLORVEXVFDQGRRDSHUIHLoRDPHQWRH[WUDLQGR
SRQWRVSRVLWLYRV
/,DSyVRHVWiJLR5+$SDVVDVHDEXVFDU
QRYRVFDPLQKRVVROWDQGRVHHDIDVWDQGRVHGRV
HVWLORVDQWHULRUHVQDWHQWDWLYDGHFULDUXPHVWLOR
SUySULR2VDQWLJRVIXQGDGRUHVGHHVWLORVVmR
SHVVRDVTXHDWLQJLUDPHVWHHVWiJLRILQDO
2TXHVLJQLILFD.$1.(1120(768.("
50(768.(VLJQLILFDWpFQLFDGHREVHUYDomR
.$1SRGHVHULQWHUSUHWDGRFRPR0(768.(
WpFQLFDGHREVHUYDomRYROWDGRSDUDRLQWHULRURX
VHMDSDUDR.2.252FRUDomRHVStULWRDOPD
GDSHVVRD'XUDQWHRFRPEDWHGHYHVHREVHUYDU
RVROKRVGRDGYHUViULREXVFDQGRHQ[HUJDUVHX
.2.252DQWHFLSDQGRVXDVLQWHQo}HVHSDUD
SRGHUDJLUDQWHVTXHGHOH.(1VLJQLILFDR
0(768.(YROWDGRSDUDRH[WHULRUGDSHVVRD
'XUDQWHRFRPEDWHGHYHVHREVHUYDUR
SRVLFLRQDPHQWRGRDGYHUViULRFRPRXPWRGRD
SRQWDGDHVSDGDRVSXQKRVRVSpVQmRVH
GHL[DQGRHQJDQDUSRUIDOVRVPRYLPHQWRVTXH
SRVVDPGHPRQVWUDUIDOVDVFKDQFHVGHDWDTXHe
QHFHVViULRPDQWHURHVStULWRFDOPRHDOHUWD
2TXHVLJQLILFD$8012.2.<88"
5(PMDSRQrV.2.<88VLJQLILFDUHVSLUDomR$
H[DODomR80LQDODomR$8012.2.<88
VLJQLILFDUHVSLUDomRSURIXQGD1R.HQGRXVDVHR
$8012.2.<88SDUDDFDOPDURHVStULWR
'XUDQWHDOXWDXVDVHDH[SLUDomR$SDUD
ϭϯϰ
SURGX]LUR.,$,HILFLHQWHHDLQDODomR80SDUD
UHID]HURI{OHJRSDUDDFXPXODUDHQHUJLDQR7$0
QRYHQWUH
2TXHVLJQLILFDP'$,.<2262.8
H.(,"
'$,VLJQLILFDJUDQGH]DJUDQGHFRPRR
XQLYHUVR1R.HQGRVLJQLILFDJROSHDUVHPPHGR
VHPOLPLWDo}HVVHPVHDWHUDRVSRUPHQRUHVGH
VHQWLPHQWRVLQWHUQRVGHG~YLGDRXPHGR6LJQLILFD
SUDWLFDUDWpFQLFDHPVXDPDJQLWXGHGHIRUPD
DPSODHQDWXUDO
.<22VLJQLILFDIRUoD1R.HQGRUHIHUHVHj
FRUUHWDLQWHQVLGDGHGDIRUoDGRJROSHFRQFHQWUDGD
QRVSXQKRVGHIRUPDDQmRGHL[DUG~YLGDTXDQWR
DVXDYDOLGDGH
62.8VLJQLILFDUDSLGH]1R.HQGRUHIHUHVHj
UDSLGH]GRJROSHRXjWpFQLFDGRJROSH
.(,VLJQLILFDOHYH]D.(<0<221R.HQGR
VLJQLILFDJROSHDUGHIRUPDSUHFLVDHiJLO
3RUTXHQR.HQGRVHSUH]DR5(,RX
5(,*8,HWLTXHWDFXPSULPHQWR
FRUWHVLD"
55(,FXPSULPHQWRGHPRQVWUDUHVSHLWRTXH
YHPGDVLQFHULGDGHGRHVStULWR([LVWHPYiULRV
WLSRVGH5(,FXPSULPHQWRD'HXVDRSURIHVVRU
DRVPDLVYHOKRVDRVFROHJDVDRVQRYDWRVHWF
$QWHVGRLQtFLRGRFRPEDWHR5(,GHYHVHUIHLWRV
SRUDPEDVDVSDUWHVFRPVLQFHULGDGHHPRGpVWLD
VHPRUJXOKRSHVVRDORXWHPRU&DVRFRQWUiULRR
FRPEDWHVHUiUHGX]LGRDXPDVLPSOHVOXWD
LUUDFLRQDOGHDQLPDLVRXORXFRVDUPDGRV2
UHVSHLWRjVUHJUDVGH5(,DSHUIHLoRDDDOPDD
ϭϯϱ
WpFQLFDGHHVSDGDVWRUQDQGRRUHVSHLWRSHVVRDO
XPKiELWR(VTXHFHUR5(,VLJQLILFDQHJOLJHQFLDU
DDSUHQGL]DJHPGDDOPDID]HQGRFRPTXH
TXDOTXHUYDLGDGHWpFQLFDOHYHDRFRQYHQFLPHQWR
DRHJRtVPRTXHVLJQLILFDDSUySULDGHVWUXLomR3RU
WRGDVHVVDVUD]}HVGHYHPRVUHVSHLWDURV
HQVLQDPHQWRVHYDORUHVGR5(,*8,
2TXHp6+,6+,1LQWHUUXSomRGR
SHQVDPHQWRVHQWLGR"
5'XUDQWHRFRPEDWHVLJQLILFDIL[DUDDWHQomRHP
DSHQDVXPSRQWRLQWHUURPSHQGRRXSHUGHQGRD
FRQFHQWUDomRQRWRGRFRPUHODomRDRDGYHUViULR
3RUH[HPSORILFDUDWHQWRDSHQDVQDIRUPD
.$0$(GRDGYHUViULRRXQRPRYLPHQWRGD
HVSDGD6+,1$,$LQWHUUXSomRGDFRQFHQWUDomR
QRWRGRJHUDGHVFXLGRHID]FRPTXHVXUMDP
68.,¶VSRQWRVIUDFRSDUDRDWDTXHIDFLOLWDQGRR
DWDTXHGRLQLPLJR$OpPGLVVRDFRQFHQWUDomR
HUU{QHDIRFDGDHPDSHQDVXPSRQWRWDPEpPID]
FRPTXHVHSHUFDPRSRUWXQLGDGHVGHDWDTXHXPD
YH]TXHQmRFRQVHJXLPRVGHVFREULURV68.,¶VGR
DGYHUViULR
2TXHp+286+,1OLEHUDomRGR
SHQVDPHQWR"
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