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persistindo até hoje. Deita-se às 22 horas, levanta-se às 7; dorme em leito
commum a mais 3 irmãos. Brinca em casa e na Escola; brinquedo preferido:
carrinho. Tendência a dominar.
Na Escola, é dissimulado, desobediente, atormenta os collegas,
fanfarrão, tagarella, embirrante, mente às vezes. Esgaravata o nariz, suga o
pollegar. É medroso, agitado, ironico, aggressivo, com bizarrias periodicas.
Attenção e memória íracas. Muito suggestionável. Aprendizagem má. O exame
organico revelou symptomas de verminose, anemia secundaria, lymphatismo.
Do registro de observações da sua ficha:
“1936 – É uma creança instavel. Sua attitude em casa é irrequieta,
atormenta os collegas, desrespeita a professora. Repete o primeiro anno pela
terceira vez. As informações maternas consignam que o W. é um menino
“levado, bate nos outros e é pirracento”. A mãe faz-lhe mêdo e bate na creança.
“Erra sempre os exercícios escolares, troca letras e quando se fala com
ele, fecha os ouvidos e fica rindo, numa attitude irônica... Muito teimoso, não se
convence dos enganos perpetrados”.
Da orientação aconselhada:
“Correcção do ambiente familiar: mostrar aos paes os inconvenientes
dos castigos e ameaças à creança. Jogos ao ar livre, investigar o interesse do
menino e dar-lhe tarefas em correspondência com esses interesses, nas classes e
nos jogos”.
“Tratamento orgânico intensivo (calciotherapia, iodotanicos,
antihelminticos...)” (Ramos, 1939a, pp.58-9)
Obs. 5 (Escola “Estados Unidos”, ficha nº 42 do S.O.H.M.). O. S., menino de
12 annos, côr parda. O pae, brasileiro, profissão de pedreiro, alcooliza-se com
frequencia; torna-se colerico nestas occasiões, e espanca os filhos por qualquer
motivo. A mãe, brasileira, lavadeira, também trata os filhos com muito rigor,
espancando-os. 6 irmãos, duas meninas de 1 e 10 annos, e quatro meninos, de 3,
5, 13 e 14 annos. Diz o menino que os avós maternos eram indios; teria muitos
parentes maternos indios; “o pae e outros parentes foram a Matto Grosso buscar
quatro tios; foram armados e conseguiram encontrá-los, mas não puderam trazê-
los porque elles não podiam ver gente e os queriam matar”. Moram em casa
alugada, habitação collectiva; não ha accommodação para a creança, que dorme
no mesmo quarto de toda a família. O menino trabalha muito em casa
carregando peso na cabeça. Nada poude ser apurado sobre a historia obstetrica
materna e a primeira infancia do menino. Sub-alimentação. Deita-se ás 22horas,
levanta-se às 4 (?); dorme com dois irmãos no mesmo leito. Levanta-se de
madrugada, vae à feira fazer carretos, para ganhar dinheiro e entregar à mãe;
arruma a casa, limpa os pratos, faz o café da manhã, encera casas.
Não brinca em casa, porque não tem tempo e a mãe não deixa. Na
Escola, brinca com os companheiros, com tendencia a dominar; gosta da
companhia das meninas e dirige-lhes gracejos. Atormenta os collegas com
empurrões e tapas; é tagarella, muito descuidado e pouco asseiado. É insociavel,
ironico, aggressivo, irascivel e fanfarrão. Pesa 31 kilos e 500 grs., tem 1m50 de
altura. Dentes bons, porem mal cuidados. Nada de anormal ao exame physico,
Da orientação aconselhada:
“17/7/1935 – Instruir os paes, mostrando-lhes os inconvenientes dos
castigos corporaes e dos ralhos continuos. As atitudes de agressão na creança
exprimem uma reação psychologica à vida desajustada no lar. Mostrar aos paes
os inconvenientes do excesso de trabalho physico, produzindo a fadiga escolar.
Assistencia alimentar (merenda escolar). Ensinar ao menino habitos de higiene
dentaria e limpeza corporal.” (Ramos, 1939b, pp.08-9)
Àquela época, portanto, crianças vivendo em condição de pobreza já estavam