os sindicatos oficiais rurais dar se ia ao longo do governo Goulart, as posturas
radicais do grupo de Julião tornaram, é verdade, as “Ligas” mais próximas das
postulações mais autônomas da base camponesa, entretanto cediam
crescentemente aos sindicatos maior poder de controle sobre o movimento
camponês no período.
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Há uma significativa gama de referências historiográficas e verbetes sobre
as “Ligas Camponesas”. Importante para reconstituição da trajetória política
da Ligas foi o verbete organizado por Aspásia Camargo no Dicionário
Histórico Biográfico Brasileiro Pós 30 da Fundação Getúlio Vargas.
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Noutro
trabalho acadêmico, já clássico e amplamente citado, o sociólogo Fernando
Antonio Azevedo, em sua dissertação de Mestrado, traz à tona a importância
histórica e política do movimento camponês no Nordeste brasileiro da
década de 60. De fato, se discorre no trabalho de Azevedo sobre a
dimensão histórica e o papel político da “questão agrária” na conjuntura em
questão. Dentre outros objetivos, Azevedo tenta dar conta do processo de
modernização capitalista conservadora do campo, abarcando para isso, as
formas de poder e controle social exercidos pelos grupos dominantes, bem
como a relação entre setores (dominantes) agrários e não agrários que
permitiram no Brasil, a manutenção do monopólio da terra, a sobrevivência
das grandes propriedades e das “oligarquias”, além da exclusão política do
campesinato. Da mesma forma, Azevedo se volta precisamente às
mudanças ocorridas na área canavieira de Pernambuco que levaram ao
despojamento e à expropriação produtor direto da terra, condicionando-o à
“proletarização”. Na seqüência de seu trabalho, o referido autor refaz a
trajetória política e ideológica das Ligas Camponesas situando-a no contexto
da luta do campesinato na segunda metade da década de 1950 e início dos
anos 60, coube, de certo, o exame do posicionamento das Ligas
Camponesas com o movimento social agrário, partidos políticos e os
governos do período em questão.
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Em termos biográficos, a trajetória do principal líder político das Ligas
Camponesas, Francisco Julião, foi refeita em publicação recente do
jornalista Vandeck Santiago.
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O trabalho supracitado mostra as nuances
do envolvimento de Julião com o movimento camponês, bem como o
posterior radicalismo assumido por seu grupo dentro das “Ligas”, ao
defender a idéia de que a reforma agrária deveria vir na lei ou na marra. Não
obstante, a proposta central de Santiago é a de refazer a vida do advogado
Julião que, desde a sua formação, já defendia trabalhadores camponeses, e
que, posteriormente, se transformaria no agitador “agrarista” bem expresso
na famosa palavra de ordem “reforma agrária na lei ou na marra”. Uma
expressão que, anos depois, em 1994, Julião explicaria como um
“radicalismo” que significava “ir à raiz do problema”.
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