Roberto, mutirante e almoxarife da obra Mutirão Paulo Freire
Ro – Exatamente, como ela sai dali do papel pra obra, como você...
Enfim, o que você quer saber é assim, na comparação da
empreiteira, pra mutirante o que eu vejo assim desse tempo que eu
estou aqui na Associação, desde o início, lógico, é que a
empreiteira, ela tem, no caso, o mestre de obra..., não, vem o
arquiteto, ela tem o arquiteto, tem o mestre de obra, provavelmente,
não sei, não tenho certeza, de repente teria um encarregado ali pra
estar comandando os pedreiros, os ajudantes. Basicamente, no
mutirante funciona mais ou menos quase a mesma coisa, tem o...,
que no caso é a Usina, que são os arquitetos, tem o mestre de obra,
porém já não tem o encarregado. Porque vamos colocar assim que
os encarregados seriam os próprios mutirantes, porque um cuida do
outro. Só que, eu vejo assim, a diferença é que o que você destaca
de um pro outro é que na empreiteira tem, do encarregado pra
baixo, fica limitado, fica ali, pára ali, porque de repente pode ter até
alguma pessoa interessada em querer subir ali, mas só que o
próprio..., acho que o encarregado ou o mestre de obra, acho que
eles não..., de repente pra eles não é interessante de repente estar
ensinando alguma coisa pro pessoal... Aqui eu já meio que...
T – Porque não é interessante?
Ro – Não, eu digo o encarregado, da empreiteira, de repente pra eles
não é interessante estar ensinando alguém, porque na correria
também eles de repente não têm tempo, acho que é desse ponto de
vista. Eu já cheguei a trabalhar numa empreiteira assim, pouco
tempo, nunca vi interesse do encarregado pra poder te ensinar, um
peão, vamos colocar assim, já vi peão querer, se interessar, mas a
pessoa, que saiba, que sabe daquele serviço não querer ensinar. Aqui
não, aqui já foi diferente. Eu, por exemplo, aqui, eu já aprendi muito
aqui, eu não conhecia planta, e hoje, se você me der uma planta, se
você me falar pelo menos o início do começo da planta, eu me enfio
no resto, essa é a diferença que eu estou vendo, referente assim, de
sair do papel pra construção. Porque queira quer não, o mestre de
obra ele vem com a planta pra você executar aquele serviço. Ele
aqui, pelo menos aqui no mutirão, você junta aquela quantidade de
pessoas que vai fazer aquele determinado serviço e ele explica como
é que vai fazer e, dentro desse grupo, uma pessoa ou outra se
destaca e a planta fica com ele e ele acaba executando sozinho...
T – Ele, essa pessoa do grupo?
Ro – É, essa pessoa do grupo, o encarregado passa a planta pra ele, ele
acaba se destacando do grupo ali, ele se interessa mais, como foi o meu
caso, eu me interessei mais e eu peguei pra mim a responsabilidade de
colocar a laje, de estar montando a laje. Passou a planta pra mim, pedi
algumas informações, “o que é isso, o que não é aquilo, o que significa
isso, o que significa aquele determinado ponto”, e eu toquei a laje com a
equipe que a gente montou aqui. E ninguém da equipe de laje nunca
trabalhou, assim, numa construção civil grande, dessa proporção que é
hoje aqui, que são 100 apartamentos. Um ou outro já fez..., já trabalhou
assim de ajudante, fazendo uma massinha pro pedreiro, uma ou outra
coisa assim, uma casinha pequena, mas desse tamanho, não.
_______
107