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MAM/RJ, fez sugestões de alterações para que o prédio pudesse ser o guardião de uma
“escola com características especiais: um centro de formação que teria por fim
desenvolver nos alunos, através de atividades criativas, qualidades artísticas e geradoras
de formas de arte adaptadas aos aspectos sociais da época” (NIEMEYER, 2000, p.70).
Cabe notar que o projeto educacional dessa nova Escola incorporava como modelo
pedagógico o mesmo da Escola Superior da Forma, ou a Escola de Ulm (UfG - Ulm)
137
.
Max Bense aponta que a sugestão proposta por Bill residia numa “simbiose
perfeita de ideologias que favoreciam a identificação da Escola de Ulm com o Rio de
Janeiro, a saber: o positivismo (JK, Brasília, ordem e progresso), o místico cultural bem
enraizado e a presença da arte concreta questionando os valores acadêmicos, em
particular da tradicional Escola de Belas Artes
138
” (apud NIEMEYER, 2000, p.70).
137 Em publicação da época, estava expresso o notório entusiasmo por parte da direção do MAM/RJ, no
tocante ao caráter doutrinário do curso, a saber: “o Museu adotou um ambicioso plano educativo que
representou uma das vigas mestras de sua filosofia, de sua razão de ser. Inspirado no pensamento da
Bauhaus, em franca e jovem sucedida execução na Hochschule für Gestaltung, de Ulm, Alemanha, tratou
de adaptar as normas daquela instituição à realidade universitária brasileira. Não cogitou da tentativa de
uma transposição de determinado tipo de organização educacional para o Brasil. Mas sim de constituição
de um núcleo de preparação cultural capaz de resolver importantes problemas na nossa formação estética,
sem contudo perder de vista as fecundas experiências obtidas em outros centros do mundo” (MAM-RJ,
apud NIEMEYER, 2000, p.75-76). Ainda a título de caracterizar essa importante Escola, faz-se
necessário apontar que a Hochschule für Gestaltung foi fundada nos idos anos de 1950 na cidade de Ulm.
Em 1954, Max Bill foi nomeado primeiro reitor, e sua inauguração oficial se deu em 2 de outubro de
1955. Sua missão atribuía ao designer o papel de “agente construtor da sociedade”. Tal aspecto expresso
no fragmento do folheto de sua fundação, assinado por Bill, a saber: “[...] Continuação da Bauhaus, esta
escola inclui alguns novos departamentos de design que há 20 ou 30 anos não tinham assumido a
importância que por ora atingiram. O princípio que a tudo sustenta é a associação de um amplo mas
intenso treinamento técnico com uma segura educação geral em linhas modernas e racionais. Por esses
meios, o empreendimento e o espírito construtivo da juventude pode ser infundido com um sentido
próprio de responsabilidade social e a ela pode ser ensinado que o trabalho cooperativo em problemas do
design contemporâneo é uma contribuição importante para a mais urgente tarefa do presente: humanizar a
mecanização cada vez mais crescente em nossa civilização” (LINDINGER, apud MELO, 2006, p.264).
Numa outra passagem, nota-se o caráter metodológico posto para essa instituição na sua fase primeira, a
saber: “Instrução e pesquisa, experimentos individuais e de equipe, se tornarão complementares uns aos
outros; a manutenção de um equilíbrio justo entre conhecimento teórico e sua aplicação prática sendo a
base de treinamento durante todo o curso. A cada estágio, os estudantes serão chamados a explicar e
justificar seu trabalho individual com a intenção de acostumá-los ao pensamento lógico e encorajar sua
autoconfiança. Viver em contato próximo com os professores e com eles trabalhando em equipes
assegurará a cada estudante uma educação abrangente em design e um forte balizamento em outros
campos” (Idem, ibidem). Segundo Silvia Fernández, a UfG “também é a escola que abre ao design as
dimensões: racional, projetiva, política, crítica, tecnológica, científica e ambiental. [...] o primeiro centro
projetado para o ensino, para a investigação e o desenvolvimento do design do ambiente humano [...] a
instituição que define a autonomia em relação à arte”. Ao se referir à fase posterior da escola, ela ressalta:
“Na UfG Ulm, o design deixou de ser entendido como uma disciplina artística e menos como arte
aplicada [...] que incorpora pela primeira vez a linguagem no âmbito projetivo, suas ciências e o ensino de
refletir e escrever sobre design” (apud MELO, 2006, p.282).
138 “Subjacente à proposta do curso estava a de ruptura radical com os padrões do que se chamava de
Belas Artes. Desse modo o Rio de Janeiro se constituía no lugar adequado para que este rompimento se
fizesse de modo sensível: nesta cidade estava a tradicional Escola de Belas Artes. Originária do início do
século XIX, o academicismo e o conservadorismo dos seus velhos mestres constituíam um alvo fácil para