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C. S.: Acabamento. Aí, meu irmão derrubou um angelim, a lua estava
grande ele arrasou, começou cavoucar, começou aparecer uma racha,
canoa boa, uma madeira boa, aí ele veio embora e falou, minha canoa
lascou. É ruim. Ele falou, não, lascou mesmo, a gente foi lá, lascou, abriu
pelo fundo, perdeu a madeira toda não pode fazer mais, quanto mais
cavava mais ela abria.
S. M.: Depois, aqui embaixo, você vai...
C. S.: Depois da puxada é a segunda bitola para deixar ela no acabamento
final, pronta para uso. Se deixar ela fina na mata, pode dar uma pancada
no descer o morro e dar uma pancada numa pedra, numa árvore parte e
fica lá mesmo e aí não dá para aproveitar mais.
S. M.: Esta bitola vocês tem uma madeirinha, não, é só de cabeça?
C. S.: A gente tem de cabeça e faz. É tipo, vou fazer uma para senhora,
vou mostrar.
CONFECCÇÃO DO REMO
Nós fizemos a entrevista com o senhor E.J. que, atualmente, é o único que
sabe fazer remo no Bonete e é referenciado em toda a região:
E. J.: Agora, o remo é mais fácil, o remo eu aprendi quase sozinho, fui uma
vez no mato com meu cunhado, que, agora, ele faleceu, ele me ensinou
tirar a primeira vez, na segunda vez, fui sozinho já tirei.
S. M.: O que precisa ver na madeira para tirar?
E. J.: Uma madeira fina assim, mais ou menos, esta espessura assim, a
gente tem que lascar no meio, é uma lasca de dois palmo de comprido só,
comprimento do remo que a gente usa na canoa, a gente tem que lascar
com o machado no meio, porque senão fica com o miolo, aí ele entorta,
não pode ficar com o miolo, este lascado que a gente dá no meio é para
tirar o miolo da madeira, sabe, senão ele entorta, aí a gente faz a pá no
mato, dá mais ou menos o acabamento mais ou menos no mato, trás para
casa, dá para trazer dois de vez. Em casa, a gente dá o acabamento.
S. M.: Uma árvore dá dois remos?
E. J.: Dá quatro remos dependendo do comprimento, de quatro metro,
assim, dá quatro remo.
S. M.: É o mesmo tipo de árvore da canoa?
E. J.: Não. A madeira do remo tem que ser, a melhor madeira para remo é
o guacar, a madeira boa, guacar, depois vem caxeta, bocuí do sul e
bocuiba, só estas quatro madeira que é boa para remo. Eu faço bastante
remo, eu vendo aqui para o pessoal memo, pessoal do Bonete.
S. M.: O senhor tem remo aí para fotografar?
E. J.: Eu tenho um ali mas está pintado da canoa, eu fiz.
S. M.: A canoa está aí também?
E. J.: A canoa está lá na praia, lá embaixo, o remo é fácil de fazer, mas a
canoa dá muito trabalho.
S. M.: A canoa, né.
E. J.: Canoa dá muito trabalho.
S. M.: O que é mais difícil na canoa?
E. J.: O mais difícil na canoa é cavoucar com o machado, porque é cada
pedacinho de madeira, mais de quarenta centímetros que tem que cortar
com o machado, uma canoa de comprimento nove metros e meio para
cavar tudo isto no machado, o tempo que não leva de madeira dura, dura
mesmo.
S. M.: Tem um ponto ideal que tem que parar?
E. J.: É o cavouca, a gente trabalha um pouco, descansa, para come
alguma coisa, aí vai o dia todo, no outro dia sobe novamente para o mato,