Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS UFMG
Júlia Escalda Mendonça
Relações entre prática musical, habilidades auditivas e
metalingüísticas de crianças de cinco anos
Belo Horizonte
2009
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Júlia Escalda Mendonça
Relações entre prática musical, habilidades auditivas e
metalingüísticas de crianças de cinco anos
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Música da UFMG como requisito parcial
à obtenção do grau de Mestre em Música.
Linha de Pesquisa: Educação Musical
Orientadora: Profa. Dra. Cecília Cavalieri França
Co-orientadora: Profa. Dra. Stela Maris Aguiar Lemos
Belo Horizonte
Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais
2009
ads:
M539r Mendonça, Júlia Escalda
Relações entre prática musical, habilidades
auditivas e metalingüísticas de crianças de cinco
anos / Júlia Escalda Mendonça. --2009.
132 fls., enc. ; il.
Acompanha um compact disc
Dissertação (mestrado) Universidade Federal
de Minas Gerais, Escola de Música
Orientadora: Profa. Dra. Cecília Cavalieri França
Co-orientadora: Profa. Dra. Stela Maris Aguiar Lemos
1. Música e linguagem. 2. Música - análise e apreciação.
3. Fonoaudiologia. 4. Transtornos da audição. I. Título.
II. França, Cecília Cavalieri. III. Lemos, Stela Maris
Aguiar. IV. Universidade Federal de Minas Gerais.
Escola de Música
CDD: 780.13
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Cecília, pela orientação e enorme disponibilidade. Por sua leveza, carinho e
por todos os momentos de grande aprendizado na construção desse trabalho. Gostaria
de expressar minha admiração por seu trabalho e por seu comprometimento com a
Educação Musical.
À Stela, caríssima co-orientadora, que algum tempo me abriu as portas desse trilhar
acadêmico e científico e desde então tem incentivado e apoiado minhas escolhas.
À Betânia Parizzi, por todo o carinho e acolhida no Núcleo Villa-Lobos, cujo apoio foi
fundamental na realização desse trabalho.
À Paula, pela grande colaboração e disponibilidade.
À todos os professores, pais, alunos e funcionários do Núcleo Villa-Lobos, Centro de
Musicalização Infantil da UFMG, Instituto Machado Cinelli, Instituto Era Uma Vez, Villa
Santo-Antônio e República do Baby.
À Walênia Marília Silva, Regina Coelho e Helena Mauro, pela cooperação e abertura do
Centro de Musicalização Infantil da UFMG para a realização da pesquisa.
À Edilene Oliveira e Luana Santos, pelo apoio dado em todos os momentos.
Ao Professor André Cavazzotti pelas contribuições dadas na banca de qualificação.
Ao Frederico Dias da Rocha Coutinho, pela contribuição na análise estatística.
Agradeço à CAPES pelo apoio financeiro a essa pesquisa.
Aos professores e colegas da Escola de Música, pelo aprendizado. Obrigada
especialmente à Karla Jaber e Daniela Vilela, por dividirem comigo as inseguranças e
inquietações, sempre com muito bom humor.
Meu grande carinho e agradecimento à minha família, em especial às pessoas que são
meu alicerce, minha mãe e minha avó, Patrícia e Maria. Este trabalho é dedicado a
elas.
RESUMO
MENDONÇA, Júlia Escalda. Relações entre prática musical, habilidades auditivas e
metalingüísticas de crianças de cinco anos. 2009. 132 f. Dissertação (Mestrado em
Música) Escola de Música, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
Acredita-se que a prática musical seja um fator que aprimora habilidades auditivas e
fomenta o desenvolvimento de habilidades metalingüísticas de crianças em
desenvolvimento. Os objetivos do presente estudo foram investigar as relações entre
tais variáveis por meio da comparação entre os resultados da Avaliação Simplificada do
Processamento Auditivo, Teste de Consciência Fonológica e Tarefa de Apreciação
Musical entre grupos de crianças de cinco anos com e sem prática musical. Foi
realizado um estudo descritivo-comparativo de recorte transversal, com amostragem
não-probabilística por tipicidade, entre grupos de crianças de cinco anos, musicalizadas
e não-musicalizadas. Os critérios de inclusão adotados na seleção da amostra
abrangeram a aquisição fonológica completa avaliada por meio da Avaliação
Fonológica da Criança e presença do reflexo cócleo-palpebral. Foram selecionadas 56
crianças que foram distribuídas entre o grupo de estudo (n=30) grupo controle (n=26). A
primeira etapa do estudo envolveu a aplicação de um questionário a fim de caracterizar
a amostra, analisado por meio do teste Qui-quadrado, que definiu as variáveis
independentes com diferenças estatisticamente significantes entre grupos. A segunda
etapa do estudo considerou os testes de localização sonora em cinco direções,
memória seqüencial para sons verbais e não-verbais com três e quatro estímulos
sonoros, teste de consciência fonológica (tarefas de síntese silábica, síntese fonêmica,
identificação de rimas, segmentação fonêmica e exclusão fonêmica) e tarefa de
apreciação musical. A análise dos dados coletados foi realizada por meio do teste não-
paramétrico Mann-Whitney a fim de comparar o desempenho de cada grupo nos testes
e tarefas avaliados. A fim de estimar a associação entre os resultados obtidos e as
variáveis explicativas foram realizados procedimentos de regressão logística binária
múltipla. Foram consideradas como associações estatisticamente significantes, os
resultados que apresentaram um nível de significância de 95% (p-valor 0,05). Na
primeira etapa da análise estatística, observou-se diferença estatisticamente
significante entre grupos nas seguintes características: escolaridade materna, idade de
início de escolarização dos sujeitos e hábito de ouvir música clássica. Essas foram as
variáveis selecionadas como elementos de comparação entre grupos e foram incluídas
na análise de regressão logística binária múltipla. Na segunda etapa de análise de
dados, observou-se diferença estatisticamente significante entre os resultados obtidos
nos testes de memória seqüencial para sons verbais e não-verbais com quatro
estímulos sonoros, sub-testes de consciência fonológica de síntese fonêmica,
identificação de rimas e exclusão fonêmica e tarefa de apreciação musical. A análise de
regressão logística binária múltipla demonstrou que, com exceção do teste de memória
seqüencial para sons verbais com quatro estímulos sonoros, a diferença observada no
desempenho nos testes e tarefas avaliados associou-se com significância estatística
somente à prática musical dos sujeitos. A prática musical de crianças de cinco anos
associou-se com habilidades de processamento auditivo, consciência fonológica e
apreciação musical, com significância estatística e pode ser considerada como
instrumento terapêutico na prática fonoaudiológica.
Palavras-chave: prática musical, processamento auditivo, consciência fonológica,
apreciação musical.
ABSTRACT
MENDONÇA, Júlia Escalda. Relations among musical practice, auditory and
metalinguistic abilities of five-year-old children. 2009. 132 f. Dissertation (Master
Degree in Music) Escola de Música, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte.
It is believed that musical practice is a factor that improves auditory skills and the
development of children’s metalinguistic skills. The aims of this study were to investigate
the relations among these variables and to compare the results of the Auditory
Processing Simplified Assessment, Phonological Awareness Test and Audience-
Listening Task between groups of five-year-old children with and without musical
practice. This was a descriptive-comparative cross-sectional design study with non-
probability sampling, among groups of five-year-old children, with and without musical
practice. The selection criteria adopted required full phonological acquisition assessed
by the Phonological Assessment of Child and the presence of cochlear-palpebral reflex.
56 children were selected and separated in two different groups: study group (n = 30)
and control group (n = 26). The first stage of the study involved the application of a
questionnaire to characterize the sample, analyzed by the Chi-square test, which
defined the explanatory variables with statistically significant differences between
groups. The second phase of the study considered the tests of sound localization in five
directions, sequential memory for verbal and non-verbal sounds with three and four
sound stimuli, phonological awareness test (tasks of syllabic synthesis, phonemic
synthesis, rhyming, phonemic segmentation and phonemic exclusion) and musical
audience-listening task. The data analysis was performed using the Mann-Whitney
nonparametric test to compare the performance of each group in the tests and tasks
evaluated. In order to estimate the association between the results and the explanatory
variables, multiple binary logistic regressions procedures were performed. The
associations were considered statistically significant when the results showed a
significance level of 95% (p-value 0.05). At the first part of the data analysis, it was
observed a statistically significant difference between groups in the following
characteristics: maternal education, age that the child first went to school and the habit
of listening to classical music. These variables were selected as comparison between
groups and were included in the multiple binary logistic regression analysis. In the
second stage, there was a statistically significant difference between the results of the
sequential memory for verbal and non-verbal sounds with four sound stimuli tests,
phonological awareness tasks of phonemic synthesis, rhyming, phonemic exclusion and
musical audience-listening task. The binary multiple logistic regression analysis showed
that, except for the sequential memory test for verbal sounds with four sound stimuli, the
difference in performance on tests and tasks evaluated was associated with statistically
significance only to the musical practice of the subjects. The musical practice of five-
year-old children is associated with auditory processing skills, phonological awareness
and music audience-listening tasks, with statistical significance and should be
considered as a therapeutic practice in speech and language therapy.
Keywords: musical practice, auditory processing, phonological awareness, music
audience-listening.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1. DESENHO ESQUEMÁTICO DAS VIAS AUDITIVAS AFERENTES .......................
20
FIGURA 2. ESQUEMA REPRESENTATIVO DO PROCESSAMENTO FONOLÓGICO VILA,
2004, P.819)........................................................................................................
35
FIGURA 3. GRÁFICO ILUSTRATIVO DO DESEMPENHO DOS SUJEITOS DO GRUPO
CONTROLE E GRUPO ESTUDO NO TESTE DE MEMÓRIA SEQÜENCIAL NÃO-VERBAL
COM QUATRO INSTRUMENTOS ................................................................................
88
FIGURA 4. GRÁFICO ILUSTRATIVO DO DESEMPENHO DOS SUJEITOS DO GRUPO
CONTROLE E GRUPO ESTUDO NO TESTE DE MEMÓRIA SEQÜENCIAL VERBAL COM
QUATRO SÍLABAS ..................................................................................................
89
FIGURA 5. GRÁFICO ILUSTRATIVO DO DESEMPENHO DOS SUJEITOS DO GRUPO
CONTROLE E GRUPO ESTUDO NA TAREFA DE SÍNTESE FONÊMICA DO TESTE DE
CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA ..................................................................................
97
FIGURA 6. GRÁFICO ILUSTRATIVO DO DESEMPENHO DOS SUJEITOS DO GRUPO
CONTROLE E GRUPO ESTUDO NA TAREFA DE RECONHECIMENTO DE RIMAS DO
TESTE DE CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA ...................................................................
98
FIGURA 7. GRÁFICO ILUSTRATIVO DO DESEMPENHO DOS SUJEITOS DO GRUPO
CONTROLE E GRUPO ESTUDO NA TAREFA DE EXCLUSÃO FONÊMICA DO TESTE DE
CONSCIÊNCIA ......................................................................................................
98
FIGURA 8. GRÁFICO ILUSTRATIVO DO DESEMPENHO DOS SUJEITOS DO GRUPO
CONTROLE E GRUPO ESTUDO NA TAREFA APRECIAÇÃO MUSICAL ............................
106
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1. VIAS AUDITIVAS E SUA FUNÇÃO NO PROCESSAMENTO AUDITIVO.............
17
QUADRO 2. PROCESSAMENTO DA INFORMAÇÃO LINGÜÍSTICA ..................................
19
QUADRO 3. TESTES O PROCESSAMENTO AUDITIVO DE ACORDO COM A HABILIDADE
AVALIADA ............................................................................................................
26
QUADRO 4. TESTES DE AVALIAÇÃO DO PROCESSAMENTO AUDITIVO POR FAIXA
ETÁRIA ................................................................................................................
27
QUADRO 5. RESPOSTAS ESPERADAS PARA OS TESTES DA AVALIAÇÃO SIMPLIFICADA
DO PROCESSAMENTO AUDITIVO POR FAIXA ETÁRIA .................................................
28
QUADRO 6. SINOPSE DOS ESTUDOS RELACIONADOS AO TREINAMENTO MUSICAL E
HABILIDADES DE PROCESSAMENTO AUDITIVO REALIZADOS NO BRASIL .....................
50
QUADRO 7. SINOPSE DOS ESTUDOS RELACIONADOS AO TREINAMENTO MUSICAL E
HABILIDADES CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA ...............................................................
55
QUADRO 8. APRESENTAÇÃO DO P-VALOR CALCULADO DAS VARIÁVEIS CUJAS
FREQÜÊNCIAS FORAM ESTATISTICAMENTE DIFERENTES ENTRE GRUPOS ...................
84
QUADRO 9. APRESENTAÇÃO DO P-VALOR CALCULADO E RAZÕES DE CHANCE DOS
TESTES DA AVALIAÇÃO SIMPLIFICADA DO PROCESSAMENTO AUDITIVO
QUE FORAM ESTATISTICAMENTE DIFERENTES ENTRE GRUPOS .................................
94
QUADRO 10. APRESENTAÇÃO DO P-VALOR CALCULADO E RAZÕES DE CHANCE DAS
TAREFAS DO TESTE DE CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA ESTATISTICAMENTE
DIFERENTES ENTRE GRUPOS .................................................................................
104
QUADRO 11. APRESENTAÇÃO DOS TESTES E TAREFAS AVALIADOS CUJAS ANÁLISES
DEMONSTRARAM RESULTADOS ESTATISTICAMENTE SIGNIFICANTES
ENTRE GRUPOS ...................................................................................................
108
LISTA DE TABELAS
TABELA 1. APRESENTAÇÃO DE FREQÜÊNCIA E P-VALOR CALCULADO COM BASE NAS
RESPOSTAS DADAS ÀS PERGUNTAS RELATIVAS ÀS VARIÁVEIS DEMOGRÁFICAS E
SÓCIO-ECONÔMICAS DO GRUPO CONTROLE E GRUPO DE ESTUDO ........................
75
TABELA 2. APRESENTAÇÃO DE FREQÜÊNCIA E P-VALOR CALCULADO COM BASE NAS
RESPOSTAS DADAS ÀS PERGUNTAS RELATIVAS AO PERFIL ESCOLAR DOS SUJEITOS
DO GRUPO DE ESTUDO .......................................................................................
78
TABELA 3. APRESENTAÇÃO DE FREQÜÊNCIA E P-VALOR CALCULADO COM BASE NAS
RESPOSTAS DADAS ÀS PERGUNTAS RELATIVAS AO LOCAL ONDE OS SUJEITOS
ESCUTAM MÚSICA E O TIPO DE MÚSICA QUE ESCUTAM DOS SUJEITOS DO GRUPO
CONTROLE E GRUPO DE ESTUDO ........................................................................
81
TABELA 4. APRESENTAÇÃO DE FREQÜÊNCIA CALCULADA COM BASE NAS
RESPOSTAS DADAS ÀS PERGUNTAS RELATIVAS AO TEMPO DE ESTUDO DE MÚSICA E
PRÁTICA DE INSTRUMENTOS MUSICAIS DOS SUJEITOS DO GRUPO DE ESTUDO .........
82
TABELA 5. OCORRÊNCIA DE ACERTOS NO GRUPO CONTROLE E GRUPO DE ESTUDO
NOS TESTES DE MEMÓRIA SEQÜENCIAL O-VERBAL COM TRÊS E QUATRO
ESTÍMULOS SONOROS, MEMÓRIA SEQÜENCIAL VERBAL COM TRÊS E QUATRO
ESTÍMULOS SONOROS E LOCALIZAÇÃO SONORA EM CINCO DIREÇÕES E P-VALOR
CALCULADO NA COMPARAÇÃO ENTRE GRUPOS .....................................................
87
TABELA 6. MEDIDAS ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS CALCULADAS COM BASE NOS
RESULTADOS OBSERVADOS PARA OS GRUPOS CONTROLE E GRUPO ESTUDO
OBTIDOS NOS TESTES DE MEMÓRIA SEQÜENCIAL NÃO-VERBAL COM TRÊS E QUATRO
ESTÍMULOS SONOROS, MEMÓRIA SEQÜENCIAL VERBAL COM TRÊS E QUATRO
ESTÍMULOS SONOROS E LOCALIZAÇÃO SONORA EM CINCO DIREÇÕES .....................
88
TABELA 7. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA REGRESSÃO LOGÍSTICA BINÁRIA
MÚLTIPLA PARA ASSOCIAÇÃO DOS TESTES DE MEMÓRIA SEQÜENCIAL NÃO-VERBAL
COM TRÊS E QUATRO ESTÍMULOS SONOROS, MEMÓRIA SEQÜENCIAL VERBAL COM
TRÊS E QUATRO ESTÍMULOS SONOROS COM AS VARIÁVEIS EXPLICATIVAS ................
90
TABELA 8. OCORRÊNCIA DE ACERTOS NO GRUPO CONTROLE E GRUPO DE ESTUDO
NAS TAREFAS DE SÍNTESE SILÁBICA, SÍNTESE FONÊMICA, RECONHECIMENTO DE
RIMAS, SEGMENTAÇÃO FONÊMICA E EXCLUSÃO FONÊMICA E P-VALOR CALCULADO
NA COMPARAÇÃO ENTRE GRUPOS ........................................................................
96
TABELA 9. MEDIDAS ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS CALCULADAS COM BASE NOS
RESULTADOS OBSERVADOS PARA OS GRUPOS CONTROLE E GRUPO ESTUDO
OBTIDOS NAS TAREFAS DE SÍNTESE SILÁBICA, SÍNTESE FONÊMICA,
RECONHECIMENTO DE RIMAS, SEGMENTAÇÃO FONÊMICA E EXCLUSÃO FONÊMICA
DO TCF .............................................................................................................
97
99
105
105
106
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................
13
CAPÍTULO 1. PROCESSAMENTO AUDITIVO E FONOLÓGICO: DESENVOLVIMENTO E
AVALIAÇÃO ....................................................................................................................
16
1.1. BASES NEUROFISIOLÓGICAS DA AUDIÇÃO E LINGUAGEM ..........................................
16
1.2. PROCESSAMENTO AUDITIVO .................................................................................
21
1.3. PERCEPÇÃO E PROCESSAMENTO FONOLÓGICO .......................................................
31
1.4. CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA ..................................................................................
36
CAPÍTULO 2. RELAÇÕES ENTRE MÚSICA, AUDIÇÃO E LINGUAGEM......................................
42
2.1. MÚSICA E NEUROPLASTICIDADE ............................................................................
42
2.2. PRÁTICA MUSICAL E PROCESSAMENTO AUDITIVO....................................................
46
2.3. PRÁTICA MUSICAL E CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA....................................................
51
CAPÍTULO 3. MÉTODOS ..................................................................................................
57
3.1 DELINEAMENTO .....................................................................................................
57
3.2 QUESTÕES DE PESQUISA E HIPÓTESE .....................................................................
57
3.3. FAIXA ETÁRIA ......................................................................................................
58
3.4. CENÁRIO DE ESTUDO ............................................................................................
58
3.5. SELEÇÃO DA AMOSTRA .........................................................................................
60
3.6 PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO ............................................................................
62
3.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS DADOS ..........................................................................
69
CAPÍTULO 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO..........................................................................
74
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA .............................................................................
75
4.2 TESTE DA HIPÓTESE .............................................................................................
86
4.3. SÍNTESE DOS RESULTADOS ...................................................................................
108
CAPÍTULO 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................
110
REFERÊNCIAS..................................................................................................................
114
ANEXOS..........................................................................................................................
123
INTRODUÇÃO
13
INTRODUÇÃO
A prática musical depende, em grande parte, do sentido da audição, um dos
principais fatores responsáveis pela comunicação humana efetiva. O processo
de interpretação das informações recebidas via audição exige habilidades do
ouvinte tais como localização, discriminação, ordenação e memória auditiva.
Tais habilidades exercem papel indispensável para o aprendizado, tanto para
adultos quanto para crianças.
O aprendizado e o desenvolvimento musical dependem das experiências
acústicas vivenciadas, incluindo a discriminação de sons, a habilidade para
perceber temas musicais, a sensibilidade para ritmos, texturas e timbre, e a
habilidade para produzir e/ou reproduzir música (GARDNER, 1994). Por meio
da audição, o indivíduo adquire conhecimentos sobre o mundo físico a sua
volta. Esse sentido é uma das formas pelas quais as primeiras palavras são
aprendidas. Os diversos comportamentos auditivos compõem uma das
condições favoráveis para a aquisição e desenvolvimento da linguagem infantil
(PEREIRA, 2005). O aprendizado da comunicação por meio da linguagem
sofre influência da qualidade da vivência acústica propiciada no ambiente
familiar e escolar. Dessa forma, é de grande relevância o estudo dos fatores
que podem exercer influências no desenvolvimento auditivo e lingüístico de
crianças.
Música e linguagem são vastos campos de pesquisa, já que ouvir, falar, cantar,
ler, comunicar, envolvem muitas das funções cognitivas humanas, desde
habilidades motoras sicas até funções cognitivas complexas como a
memória e emoções. Estudos têm sido realizados a fim de investigar quais
mecanismos neurais estão envolvidos no processamento e produção de
estímulos lingüísticos como a fala e não-lingüísticos como a música. Existem
também esforços em verificar a influência da prática musical em outros
domínios cognitivos, possibilitando aquisição de novas habilidades, inclusive
auditivas e lingüísticas. Muitos deles verificam que música e linguagem
14
compartilham não apenas regiões cerebrais, mas também mecanismos de
produção e processamento. No entanto, a maior parte da literatura que
investiga relações entre música, audição e linguagem é estrangeira, sendo
escassas as pesquisas sobre o tema no Brasil.
Dada a relevância do tema para áreas que estudam o desenvolvimento
musical, auditivo e lingüístico infantil, esta pesquisa foi delineada com o
objetivo de:
Investigar as relações entre a prática musical, habilidades auditivas e
metalingüísticas de crianças de cinco anos;
Comparar os resultados da Avaliação Simplificada do Processamento
Auditivo, Teste de Consciência Fonológica e Tarefa de Apreciação Musical
entre grupos de crianças de cinco anos com e sem prática musical.
Este estudo foi organizado em cinco capítulos. O primeiro capítulo apresenta
os conceitos de Processamento Auditivo e Consciência Fonológica, suas
etapas de desenvolvimento e formas de avaliação. O segundo capítulo
apresenta as interfaces entre música, audição e linguagem, e traz a revisão de
estudos sobre o tema. O capítulo três apresenta o delineamento da
metodologia de pesquisa utilizada. O capítulo quatro apresenta os resultados
encontrados e sua discussão e o capítulo cinco traz as conclusões do estudo.
Este trabalho poderá contribuir para voltar o olhar dos educadores musicais
para a importância de seu papel no desenvolvimento infantil. Poderá também
possibilitar uma maior valorização da educação e práticas musicais infantis,
para além do contexto artístico e cultural, mas também como uma forma de
contribuição significativa no desenvolvimento cognitivo, auditivo e de linguagem
de crianças.
Capítulo 1
PROCESSAMENTO AUDITIVO E FONOLÓGICO: DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO
16
1. PROCESSAMENTO AUDITIVO E FONOLÓGICO: DESENVOLVIMENTO E
AVALIAÇÃO
A audição é o sentido por meio do qual os sons são percebidos. O sistema auditivo é
o aparato anatômico que permite a captação de sons, sua condução e
transformação em estímulos elétricos que serão analisados, codificados e
interpretados pelo ouvinte. O processamento de informações recebidas via audição,
tal como o processamento das informações de fala e da música, depende da
integridade das vias do sistema auditivo e também dos mecanismos cerebrais
envolvidos nessa tarefa. O sistema auditivo, a audição e o processamento das
informações auditivas são aspectos de grande importância para o presente estudo,
uma vez que estão envolvidos com a percepção e a produção de fala assim como a
percepção e a produção musical.
1.1. BASES NEUROFISIOLÓGICAS DA AUDIÇÃO E LINGUAGEM
As informações recebidas via audição são captadas pelo ouvido externo e
conduzidas ao ouvido médio. O ouvido médio é formado pela membrana timpânica,
uma cavidade aerada e três ossículos auditivos (martelo, bigorna e estribo) além de
músculos e membranas. Os ossículos do ouvido médio possuem duas funções
principais: transmitir as vibrações sonoras do meio aéreo, no ouvido médio, para o
meio líquido, no ouvido interno, de forma eficiente, sem grandes perdas de energia e
evitar que vibrações excessivamente fortes cheguem a ele, atenuando-as (ZEMLIM,
2000, p. 458).
Quando os estímulos sonoros chegam ao ouvido interno, a energia das ondas de
pressão geradas pelo som são transformadas em impulsos neurais. A cóclea é o
componente sensorial responsável por essa transformação, onde se dá o início da
análise do estímulo sonoro em seus componentes de freqüência e intensidade. A
representação inicial de freqüências sonoras origem a um mapeamento
tonotópico no Órgão de Corti, um complexo especializado de células que se
estende ao longo de toda a cóclea (PURVES , 2005, p. 279-280).
17
As células do Órgão de Corti estão em contato com as fibras do nervo auditivo com
as quais fazem conexões (sinapses). A codificação de freqüência e intensidade é
mantida nas fibras nervosas do nervo auditivo que apresentam freqüência
característica (afinação) e codificação de intensidades. Os impulsos nervosos
originados no ouvido interno são enviados para o córtex auditivo pelo ramo coclear
do nervo auditivo, percorrem as fibras auditivas até o tronco encefálico e chegam
aos hemisférios direito e esquerdo onde serão processados e interpretados
(AQUINO; ARAÚJO, 2002, p. 25-27).
QUADRO 2. VIAS AUDITIVAS E SUA FUNÇÃO NO PROCESSAMENTO AUDITIVO
Estrutura
Função
Ouvido externo e médio
Captação, condução e amplificação das informações auditivas.
Ouvido interno
Transdução mecano-elétrica, codificação temporal e tonotópica.
Nervo Auditivo
Condução da informação auditiva, codificação de freqüência e
codificação temporal.
Núcleo Coclear
Representação tonotópica, aumento do contraste sinal ruído.
Complexo Olivar Superior
Análise da localização do estímulo sonoro; Integração binaural.
Colículo Inferior
Aumento das modulações no sinal acústico;
Processamento de padrões temporais complexos
Corpo Geniculado Medial
Codificação de estímulos com diferenças temporais de
parâmetros acústicos como vogais e sílabas; Integração e
retransmissão das informações auditivas para o córtex cerebral.
Córtex Auditivo Primário
Análise dos sons complexos; Localização dos sons e
representação do espaço auditivo; Discriminação fonêmica para
as consoantes.
Córtex de Associação
Reconhecimento e compreensão dos estímulos lingüísticos.
O destino final da informação auditiva aferente é o córtex auditivo, localizado no
giro temporal superior, ou giro de Heschl, nos hemisférios direito e esquerdo. As
áreas corticais auditivas se relacionam nos dois hemisférios por meio de fibras que
cruzam o corpo caloso. O giro de Heschl difere-se nos dois hemisférios em
humanos, sendo maior no hemisfério esquerdo (AQUINO; ARAÚJO, 2002, p. 29).
Bellis (2003, p. 37) relata estudos referentes às assimetrias das áreas auditivas
corticais como a região de associação temporal relacionada à linguagem
denominada plano temporal
1
, fissura de Silvius e o giro de Heschl
2
, que são
maiores no hemisfério esquerdo em relação ao no hemisfério direito do cérebro
1
GERSHWIND, N; LEVITSKY, W. Human brain: left-right asymmetries in temporal speech region.
Science, v.161, n. 3837, p. 186-187, 1968.
2
MUSIEK, F. E. REEVES, A. Asymmetries of the auditory areas of the cerebrum. Journal of the
American Academy of Audiology, v.1, n. 4, p. 240-245,1990.
18
humano. A autora cita que, para a maioria das pessoas, o hemisfério esquerdo é
dominante para a linguagem, incluindo-se as funções sintáticas, processamento
semântico, análise fonológica e discriminação e memória de palavras
3
. o
hemisfério direito serve à percepção de estímulos não-lingüísticos, como a música
sem letra, e inclui o processamento de ritmo, acento, contornos acústicos de
estímulos lingüísticos e não lingüísticos, discriminação e ordenação de estímulos
tonais e elementos prosódicos do discurso.
Purves (2005, p. 598) menciona estudos que comprovam a lateralização hemisférica
das funções da linguagem. Cita estudos recentes, que utilizam técnicas de
neuroimagem, que permitem a investigação de regiões relacionadas à linguagem de
forma mais precisa e menos invasiva. Tais pesquisas têm demonstrado resultados
que desafiam as visões excessivamente rígidas de localização e lateralização da
linguagem no cérebro. Os autores ressaltam a grande variabilidade na localização
da linguagem no cérebro, que difere de forma imprevisível entre indivíduos (Ibid., p.
599).
Em relação ao processamento de sons lingüísticos, tais como os sons de fala,
muitos estudos foram realizados tomando diversos pontos de partida, tais como
seus elementos constituintes: fonemas, elementos léxicos, sintáticos e semânticos.
O processamento fonológico é o responsável pela análise e armazenamento do
componente fonológico das palavras, de base auditiva e, portanto o de maior
importância para o presente estudo.
O caminho percorrido pelo estímulo lingüístico recebido via audição é processado
nas áreas de associação do córtex cerebral. Algumas funções dessas regiões são
conhecidas, mas os processos precisos do processamento de linguagem em nível
cortical são complexos. Tradicionalmente duas regiões que se encontram no
hemisfério esquerdo são relacionadas à linguagem: as áreas de Wernicke e de
Broca. A área de Broca é considerada a sede da produção da fala e a área de
Wernicke, a sede da compreensão da linguagem. As demais regiões relacionadas à
linguagem encontram-se nos dois hemisférios cerebrais como as áreas
3
GAZZANICA et al. Cognitive neuroscience: The biology of the mind. New York:W.W. Norton e
Company, Inc.
19
suplementares da fala, as regiões faciais do córtex motor e somatossensorial (KOLB;
WHISHAW, 2002, p.341).
Para que a linguagem se realize de forma plena, a necessidade de integração de
diversas regiões anatômicas, incluindo as áreas auditivas e visuais primárias nos
lobos temporal e occipital. Quando os estímulos lingüísticos o recebidos via
audição, percorrem as vias auditivas até alcançar o giro de Heschl, avançam em
direção à área de Wernicke, onde são decodificados e são então encaminhados à
área de Broca, onde ocorre o planejamento motor da fala (DURO, 2003, p. 18-19).
Toda informação auditiva lingüística percorre um caminho até alcançar o córtex
cerebral onde é decodificada, armazenada, integrada e sintetizada. O funcionamento
do córtex auditivo associa-se a atividades de análise de sons complexos, percepção
do espaço auditivo, formação de conceitos auditivos entre outros. Para compreender
os processos relativos à audição são necessárias contribuições de diversas áreas do
conhecimento. Utilizam-se conceitos e terminologias da psicologia, tais como a das
habilidades de figura-fundo e fechamento, da pedagogia como os conceitos de
aprendizagem como processo de informação, da fisiologia, lingüística e física
(PEREIRA, 2004, p. 547).
O processamento da informação lingüística recebida via audição está representado
no Quadro 2 (adaptado de KOLB; WHISHAW, 2002, p.338).
QUADRO 2. PROCESSAMENTO DA INFORMAÇÃO LINGÜÍSTICA
COMPREENSÃO
ÁREA DE BROCA
(PLANEJAMENTO MOTOR DA FALA)
ÁREA DE WERNICKE
(PROCESSAMENTO FONOLÓGICO)
CÓRTEX MOTOR
ÁREA AUDITIVA PRIMÁRIA
NERVOS CRANIANOS
FALA (OUVIDA)
FALA (PRODUZIDA)
20
FIGURA 1. DESENHO ESQUEMÁTICO DAS VIAS AUDITIVAS AFERENTES.
Fonte: www.sistemanervoso.com, acesso em 20/01/2009.
21
1.2. PROCESSAMENTO AUDITIVO
O Processamento Auditivo foi definido pela American Speech-Language Hearing
Association (ASHA, 1996), como os mecanismos e processos do sistema auditivo
responsáveis pelos seguintes fenômenos comportamentais: localização sonora e
lateralização; discriminação auditiva; reconhecimento de padrões auditivos; aspectos
temporais da audição, incluindo resolução temporal, mascaramento temporal,
integração temporal, ordenação temporal; performance auditiva frente a sinais
acústicos competitivos e performance auditiva frente a sinais acústicos degradados.
Segundo esse documento (ASHA, 1996) tais mecanismos e processos devem ser
aplicáveis a sinais verbais e não verbais e afetar também as áreas da fala e da
linguagem.
Segundo Katz e Wilde (1999; p. 486), o Processamento Auditivo é a construção feita
pelo ouvinte sobre o sinal auditivo a fim de que a informação acústica torne-se
funcionalmente útil. Envolve a percepção dos sons e a forma como o identificamos,
localizamos, analisamos, memorizamos, estamos atentos e recuperamos a
informação sonora. Além disso, implica na associação da informação auditiva com
estímulos visuais e demais estímulos sensoriais.
Pereira, Navas e Santos (2002, p. 76) conceituam o Processamento Auditivo como
uma série de processos e operações mentais realizadas na análise e interpretação
das informações auditivas. Tais processos permitem que o sujeito realize análises
tanto acústicas como metacognitivas dos sons. O Processamento Auditivo está
relacionado às habilidades de decodificação, organização e codificação da
informação sensorial auditiva e depende de sua capacidade biológica inata, da
integridade orgânica e da experiência acústica do ouvinte.
1.2.1. HABILIDADES E PROCESSOS AUDITIVOS
A audição tem início na detecção do som, vibração que chega mecanicamente à
cóclea e é transduzida em potenciais que são codificados e decodificados ao longo
22
do percurso até o córtex cerebral e culminam no reconhecimento de padrões
complexos como os sons da fala (PEREIRA, 2005, p. 111). Ouvir, falar, ler e
escrever são habilidades associadas. Qualquer prejuízo na detecção ou na
interpretação de dados sensoriais recebidos via audição de indivíduos em
desenvolvimento, pode comprometer o desenvolvimento adequado de fala e
linguagem (PEREIRA, NAVAS, SANTOS, 2002, p. 75-76).
Pereira, Navas e Santos (2002); Souza e Souza (2002); Pereira (2004) descreveram
os processos e habilidades auditivas que estão envolvidos no Processamento
Auditivo:
Detecção do som: habilidade de receber o estímulo sonoro, capacidade de
identificar a presença ou ausência de som.
Atenção: habilidade de se preparar e focar um estímulo sonoro e também estar
pronto a receber outro a qualquer tempo. A atenção pode ser classificada como:
o Atenção seletiva: habilidade de selecionar o estímulo sonoro sobre outro
estímulo sensorial;
o Atenção dividida: habilidade de partilhar atenção entre dois estímulos;
Reconhecimento de fala: habilidade de se identificar sons de fala no silêncio;
Figura fundo: habilidade de se selecionar um estímulo auditivo na presença de
ruído de fundo;
Fechamento: habilidade de identificar sons da fala acusticamente incompletos;
Localização: refere-se à habilidade de identificação do local de origem do som,
habilidade de analisar diferenças de tempo e intensidade de sons recebidos e
transmitidos entre uma e outra;
Discriminação: habilidade de se perceber as diferenças e semelhanças entre
sons verbais refere-se também às habilidades de resolução temporal, de
freqüência, intensidade e duração;
o Resolução temporal: habilidade de identificar quantos sons estão ocorrendo
sucessivamente considerando o intervalo de silêncio entre eles;
o Resolução de freqüência, intensidade, duração: habilidade de identificar
variação de freqüência, intensidade e duração;
Identificação: habilidade de memorizar padrões de freqüência e duração de um
ou mais sons; inclui também as habilidades de atenção seletiva e dividida;
23
Síntese: habilidade de se identificar sons de fala de forma distorcida, porém
complementar;
Ordenação temporal: capacidade de identificação da ordem em que os eventos
sonoros ocorreram:
o Ordenação temporal simples: identificar dois, três, quatro ou mais eventos
sonoros não verbais no silêncio que se sucedem no tempo;
o Ordenação temporal complexa: identificar sons verbais competitivos
mantendo a ordem solicitada;
o Reconhecimento de padrão temporal: descrever o padrão dos eventos
sonoros sucessivos no tempo.
Compreensão: habilidade de interpretação de eventos sonoros integrados a
outras formas sensoriais. Implica no estabelecimento de significados para a
informação auditiva e envolve os processos de memória, análise e síntese
auditiva e fechamento.
1.2.2. DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES AUDITIVAS
Para que as habilidades auditivas sejam desenvolvidas a necessidade de
integridade e neuromaturação das estruturas do sistema nervoso que processam a
informação auditiva (PEREIRA, 2004, p. 549). Dois aspectos contribuem para o
desenvolvimento das habilidades auditivas e conseqüentemente para o
desenvolvimento de uma comunicação eficiente: o aspecto biológico inato e o
aspecto maturacional (PEREIRA, 2005, p. 113). A parte biológica diz respeito à
constituição anatômica do indivíduo inclusive o sistema nervoso central. O aspecto
maturacional está associado ao desenvolvimento de estruturas físicas que
dependem da experiência acústica do indivíduo no meio em que vive (Ibid.).
Os dados de observação de crianças sem problemas de audição e/ou comunicação
foram reunidos por Pereira, Navas e Santos (2002; p. 80) e descritos por essas
autoras segundo os processos de audição:
24
Detecção: Crianças a partir de dois anos possuem a habilidade de detectar tons
puros de 20 dBNA
4
ou menores.
Discriminação: O desempenho nas tarefas de discriminação melhora com o
aumento da idade. Aos oito anos não há diferenças quanto ao sexo.
Localização sonora em cinco direções: A partir dos três anos as crianças
respondem por solicitação e identificam as direções à direita e à esquerda e duas
das direções à frente, acima ou atrás. Em estudo comparativo entre crianças de
escolas públicas e de escolas particulares, não foi verificada interferência do
nível socioeconômico-cultural sobre o desenvolvimento dessa habilidade.
Sons o-verbais em seqüência: Aos três anos as crianças compreendem a
solicitação de ordenar três sons. Nesta idade influência do nível
socioeconômico-cultural. Este deixa de interferir sobre a memória seqüencial
não-verbal aos cinco anos. Aos quatro anos as crianças ordenam três sons e a
partir dos seis anos realizam a ordenação temporal de quatro sons.
Sons verbais silábicos em seqüência: A partir dos três anos as crianças são
capazes de repetir três sílabas adequadamente. Aos seis anos repetem
seqüências de quatro sílabas. Entre seis e oito anos dificuldade para memória
seqüencial verbal com quatro palavras dissilábicas em escuta dicótica. Aos nove
anos o desempenho é semelhante ao do adulto.
Reconhecimento e atenção seletiva: Aos dois anos as crianças identificam
palavras apontando figuras, aos três compreendem histórias. Aos três anos e
meio identificam palavras e frases com mensagem competitiva. Aos sete anos há
vantagem da orelha direita para labas em escuta dicótica. Aos oito anos a
vantagem da orelha direita indica a dominância hemisférica esquerda para sons
da fala. Em torno dos doze ou treze anos os processos de audição se
assemelham aos do adulto.
4
dBNA são decibéis nível de audição, quantidades em decibéis medidas no audiômetro, que
apresentam o nível de audição de uma pessoa, usando como referência o limiar de audição de
indivíduos normais.
25
1.2.3. AVALIAÇÃO DO PROCESSAMENTO AUDITIVO
A avaliação do Processamento Auditivo permite caracterizar o comportamento de
cada sujeito frente a diversas situações e estímulos sonoros (verbais e não-verbais)
e é de grande importância para verificar o uso funcional da audição de indivíduos de
diferentes faixas etárias (PEREIRA, 2005; p. 111-112). A bateria de testes
comportamentais utilizada na avaliação do Processamento Auditivo é composta por
tarefas monóticas, nas quais os sons são apresentados de forma distorcida em uma
orelha de cada vez; tarefas dicóticas, onde estímulos auditivos diferentes são
apresentados nas duas orelhas simultaneamente e tarefas dióticas, nas quais os
estímulos são idênticos e apresentados às duas orelhas simultaneamente em campo
livre (sem a utilização de fones) (SOUZA; SOUZA, 2002, p. 131).
A avaliação deve ser composta pela anamnese, abrangendo dados de identificação,
história pregressa, desenvolvimento auditivo e de linguagem, e também da avaliação
audiológica convencional, que fornece informações sobre a integridade do sistema
auditivo periférico (PEREIRA; SCHOCHAT, 1997; PEREIRA; NAVAS; SANTOS,
2002; SOUZA; SOUZA, 2002; PEREIRA, 2004). Pereira e Schochat (1997) propõem
uma bateria de testes que avaliam o Processamento Auditivo e devem ser realizados
em cabine acústica com audiômetro.
Os testes descritos por essas autoras (PEREIRA; SCHOCHAT, 1997) podem ser
utilizados para avaliar indivíduos a partir de três anos e seis meses. Os testes
dióticos o: localização sonora em cinco direções, memória seqüencial verbal e
não-verbal. Os testes monóticos são: teste de fala filtrada, teste de fala com ruído,
teste de palavras e frases com mensagem competitiva ipsilateral (PSI), teste de
frases com mensagem competitiva ipsilateral (SSI). Os testes dicóticos são: teste de
fusão binaural, teste dicótico consoante-vogal, teste dicótico com sons não verbais
competitivos (TDNV), testes PSI e SSI com mensagens competitivas contralateral,
teste SSW e teste dicótico de dígitos. O Quadro 3 (adaptado de SOUZA; SOUZA,
2002, p. 133) apresenta a síntese dos testes especiais do Processamento Auditivo e
as habilidades que avaliam.
26
QUADRO 3. TESTES DO PROCESSAMENTO AUDITIVO DE ACORDO COM A HABILIDADE AVALIADA
Testes
Habilidades testadas
Dióticos
Localização sonora em cinco direções
Memória seqüencial verbal e não-verbal
Localização
Ordenação Temporal
Monóticos
Fala com ruído (ipsilateral)
Fala filtrada
PSI / SSI (ipsilateral)
Fechamento e atenção seletiva
Fechamento
Figura-fundo
Dicóticos
Fusão binaural
Dicótico consoante-vogal (separação binaural)
Dicótico com sons não verbais (separação
binaural)
PSI e SSI (contralateral)
SSW
Dicótico de dígitos
Síntese binaural
Atenção seletiva
Atenção seletiva
Figura-fundo e memória
Figura-fundo
Figura-fundo
A seleção de testes por idade procura respeitar as etapas do desenvolvimento e a
maturação do sistema auditivo da criança (PEREIRA,1997, p. 51). A escolha e
análise dos testes aplicados na avaliação do Processamento Auditivo dependem
principalmente da idade das crianças, pois o desempenho nas tarefas de
Processamento Auditivo melhora com o avanço da idade até a adolescência
(SOUZA; SOUZA, 2002; p. 131). O Quadro 4 (adaptado de SOUZA; SOUZA, 2002,
p. 134) apresenta a síntese dos testes especiais do Processamento Auditivo
indicados para cada faixa etária.
Outros testes são utilizados para avaliar a habilidade de reconhecimento de padrões
temporais, como o Teste de Padrão de Freqüência de Sons e o Teste de Padrão de
Duração de Sons (PEREIRA, 2004, p. 550). Com o avanço da tecnologia, novos
métodos comportamentais, cada vez mais específicos, são criados para avaliação e
pesquisa em audição.
27
QUADRO 4. TESTES DE AVALIAÇÃO DO PROCESSAMENTO AUDITIVO POR FAIXA ETÁRIA
Faixa Etária
Testes
3 anos e meio
a
4 anos e meio
Localização sonora em cinco direções
Memória seqüencial verbal e não-verbal (três estímulos sonoros)
PSI (frases)
5 anos incompletos
a
6 anos incompletos
Localização sonora em cinco direções
Memória seqüencial verbal e não-verbal (três estímulos sonoros)
PSI (palavras e frases)
Teste dicótico com sons não-verbais
6 anos completos
a
8 anos incompletos
Localização sonora em cinco direções
Memória Seqüencial verbal e não-verbal (quatro estímulos sonoros)
PSI
Fala Filtrada e Fusão Binaural
Dicótico com sons não-verbais
Fala com ruído
Dicótico de dígitos
TDCV
8 anos em diante
Todos os testes disponíveis
1.2.4. AVALIAÇÃO SIMPLIFICADA DO PROCESSAMENTO AUDITIVO (ASPA)
A Avaliação Simplificada do Processamento Auditivo foi descrita por Pereira (1993)
(como Triagem do Processamento Auditivo Central). Desde então vem sendo
amplamente utilizada na prática fonoaudiológica para fins clínicos e de pesquisa. A
Avaliação Simplificada do Processamento Auditivo é composta pela pesquisa do
reflexo cócleo-palpebral (RCP) e pelos testes de localização sonora em cinco
direções, memória seqüencial verbal e não-verbal (Ibid.).
O teste de localização sonora em cinco direções deve ser realizado com um
instrumento musical ou por estalo de dedos, com olhos vendados em cinco
posições. O procedimento deve ser demonstrado para a compreensão da tarefa pelo
sujeito avaliado. A avaliação é realizada com a apresentação dos sons nas posições
à esquerda, à direita, à frente, acima e atrás em relação à cabeça. A direção de
onde o som provém deve ser apontada pelo indivíduo avaliado. A partir dos três
anos espera-se que o sujeito acerte pelo menos quatro das cinco direções
apresentadas, sendo o erro esperado em uma das direções à frente, acima ou atrás
da cabeça (PEREIRA, 1993, 1997).
O teste de Memória Seqüencial para sons não-verbais deve ser realizado com três
ou quatro estímulos sonoros diferentes (coco, sino, guizo e agogô) em ordens
variadas. O procedimento deve ser demonstrado de olhos abertos até que o
28
indivíduo tenha compreendido a tarefa. Durante a apresentação dos estímulos, o
sujeito avaliado permanece de olhos vendados e a cada seqüência deve apontar
para os instrumentos na ordem em que foram tocados. Aos três anos, espera-se que
a criança acerte pelo menos uma seqüência de três sons em três tentativas. Dos
quatro aos seis anos, deve acertar pelo menos duas seqüências de três sons em
três tentativas. A partir dos seis anos, espera-se que a criança acerte pelo menos
duas seqüências de quatro sons em três tentativas (PEREIRA, 1997).
O teste de memória seqüencial para sons verbais descrito por Pereira (1993) utiliza
três sílabas (/pa/, /ta/, /ka/). O teste é realizado com a apresentação verbal sem pista
visual das sílabas pelo avaliador. Após cada seqüência, o sujeito deve repetir
oralmente as sílabas na mesma ordem em que foram apresentadas. Aos três anos
deve-se acertar pelo menos duas seqüências de três sílabas em três tentativas
(PEREIRA, 1997). A partir dos seis anos, o procedimento deve ser realizado com
quatro sílabas (/pa/, /ta/, /ka/, /fa/) e deve-se acertar pelo menos duas de três
seqüências de quatro sílabas (CORONA et al., 2005).
As respostas corretas esperadas para os testes da Avaliação Simplificada do
Processamento Auditivo estão apresentadas no Quadro 5.
QUADRO 5. RESPOSTAS ESPERADAS PARA OS TESTES DA AVALIAÇÃO SIMPLIFICADA DO
PROCESSAMENTO AUDITIVO POR FAIXA ETÁRIA
Faixa Etária
Memória
seqüencial
não-verbal
3 sons
Memória
seqüencial
verbal
3 sons
Memória
seqüencial
não-verbal
4 sons
Memória
seqüencial
verbal
4 sons
Localização
Sonora
3 anos
1 acerto em 3
tentativas
2 acertos em
3 tentativas
-
-
4 acertos
Erro: acima,
à frente ou
atrás
4 a 6 anos
2 acertos em 3
tentativas
A partir dos
6 anos
-
-
2 acertos em
3 tentativas
2 acertos em
3 tentativas
Segundo Pereira (1997, p. 51) os testes de localização sonora e memória seqüencial
podem ser utilizados em sujeitos de qualquer faixa etária acima dos três anos de
idade. Tais procedimentos são de fácil realização, que não exigem aparelhagem
específica, podendo ser aplicados em diferentes locais, desde que em um ambiente
silencioso.” (SOUZA; SOUZA, 2002; p. 132). Pereira (2005; p. 126) afirma que, em
29
conjunto, os testes dióticos de localização sonora em cinco direções e de memória
seqüencial verbal e não-verbal são instrumentos com sensibilidade da ordem de
oitenta por cento à identificação de desordens do Processamento Auditivo em
crianças na faixa etária de quatro a seis anos.
1.2.5. ESTUDOS REALIZADOS COM A AVALIAÇÃO SIMPLIFICADA DO PROCESSAMENTO
AUDITIVO
A Avaliação Simplificada do Processamento Auditivo tem sido utilizada em estudos
com objetivos de caracterizar as habilidades auditivas de crianças em diversas
faixas etárias e condições sociais. A seguir apresenta-se uma breve revisão de
estudos realizados utilizando os testes da Avaliação Simplificada do Processamento
Auditivo.
Soares et al. (1998) utilizaram os testes de localização sonora, memória seqüencial
verbal e não-verbal para a caracterização do desempenho de 126 crianças na faixa
etária de três a cinco anos e onze meses em nível pré-escolar. Os resultados
encontrados demonstraram que crianças do sexo masculino obtiveram resultados
estatisticamente inferiores às do sexo feminino na terceira seqüência de sons não-
verbais. No teste de memória seqüencial não-verbal a freqüência de respostas
incorretas foi maior que a de respostas corretas em todas as faixas etárias,
ocorrendo a diminuição da proporção de respostas correta à medida que as
seqüências foram apresentadas. Em relação ao teste de memória seqüencial verbal
observou-se que o desempenho das crianças do sexo feminino foi estatisticamente
melhor que as crianças do sexo masculino na primeira seqüência de sons.
Observou-se o aumento das respostas corretas com estímulos verbais de acordo
com o aumento da faixa etária. As respostas comportamentais de localização sonora
evidenciaram melhor desempenho para a localização à direita e à esquerda. Não
houve diferenças estatisticamente significantes em relação às variáveis sexo e faixa
etária nas respostas comportamentais para a habilidade de localizar sons nas cinco
direções estudadas.
Toniolo et al. (2001) realizaram estudo com indivíduos na faixa etária de 4 a 7 anos,
alunos da rede pública. Os sujeitos foram submetidos à Avaliação Simplificada do
30
Processamento Auditivo
5
e pesquisa do RCP. O desempenho de todos os sujeitos
avaliados nas diversas faixas etárias foi melhor na tarefa de memória seqüencial
verbal que na de memória seqüencial não-verbal.
Felippe e Colafêmina (2002) avaliaram 62 alunos da 5ª à série, do sexo
masculino, que não apresentavam perda auditiva periférica e nem histórico de
problemas neurológicos e psicológicos, com o objetivo de comparar os resultados da
Avaliação Simplificada do Processamento Auditivo e o desempenho em tarefas de
leitura-escrita. Os resultados do estudo evidenciaram existir relações entre
desordens do Processamento Auditivo e dificuldades de leitura-escrita. Foi
encontrada associação significante entre alteração na prova de memória seqüencial
não-verbal e baixo desempenho nas tarefas de leitura-escrita.
Furbeta e Felippe (2005) verificaram por meio da aplicação da Avaliação
Simplificada do Processamento Auditivo a existência de relação entre as desordens
do Processamento Auditivo e a dificuldade de leitura e escrita. Nove crianças de
classe especial com dificuldades de leitura e escrita sem perda auditiva periférica e
histórico de problemas neurológicos e/ou psiquiátricos foram avaliadas. Verificou-se
relação estatisticamente significante entre apresentar dificuldade de leitura-escrita e
falhar nas tarefas de memória verbal com quatro sílabas e não-verbal com sons
instrumentais.
Dessa forma, os estudos com os testes da Avaliação Simplificada do Processamento
Auditivo revelam que as respostas corretas nas tarefas da ASPA aumentam de
acordo com a idade. O teste de memória seqüencial verbal relaciona-se com o sexo
e é de mais fácil realização que o teste de memória seqüencial não-verbal. O teste
de Localização Sonora em cinco direções não se relaciona com o sexo ou idade.
Existem relações entre desordens do Processamento Auditivo, avaliadas por meio
dos testes da Avaliação Simplificada do Processamento Auditivo, e dificuldades de
leitura-escrita.
5
No estudo de Toniolo et al. (2001) a Avaliação Simplificada do Processamento Auditivo é
denominada “Triagem do Processamento Auditivo”. Sabendo que se tratam dos mesmos testes, com
os mesmos padrões de referência, optou-se por adotar a terminologia Avaliação Simplifica do
Processamento Auditivo em todo o texto do presente estudo.
31
1.3. PERCEPÇÃO AUDITIVA E PROCESSAMENTO FONOLÓGICO
A audição é uma das formas pelas quais as primeiras palavras são aprendidas. Os
comportamentos auditivos são uma das condições favoráveis para aquisição e
desenvolvimento da linguagem (PEREIRA, 2005; p. 111). A percepção e a produção
da fala são eventos relacionados. A produção de fala inteligível depende das
habilidades auditivas para processar as características prosódicas e do espectro
acústico e do interlocutor (PEREIRA; NAVAS; SANTOS, 2002; p. 76). Nesse sentido,
as perdas auditivas e as desordens do Processamento Auditivo podem levar a
comprometimentos na aquisição de linguagem (PEREIRA; NAVAS; SANTOS, 2002;
p. 79).
Para adquirir uma língua, a criança tem de dominar o inventário fonético e o sistema
fonológico encontrados na média do falante adulto de sua comunidade lingüística, o
que permite a comunicação lingüística (YAVAS, 1991, p. 50). O desenvolvimento da
língua requer o aprendizado de suas partes componentes tais como palavras,
sílabas e fonemas. Além das habilidades de Processamento Auditivo, o
desenvolvimento lingüístico envolve mecanismos cognitivos de memória e
processamento fonológico.
1.3.1. AUDIÇÃO, MEMÓRIA E LINGUAGEM
Aprendizado é a aquisição de novos conhecimentos e memória é a retenção da
informação aprendida. Os sistemas de memória mais conhecidos são a memória de
longo prazo, a memória de curto prazo e a memória de trabalho ou operacional. A
memória de longo prazo é subdivida em memória declarativa, responsável pela
recordação de experiências e conceitos (memória semântica) e fatos e eventos
datados no tempo e espaço (memória episódica) e memória não-declarativa que
engloba a recordação de habilidades motoras e perceptivas. A memória de trabalho
é responsável pelo armazenamento e manipulação de quantidades limitadas de
informações por um curto período de tempo (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002).
32
O sistema da memória de trabalho é composto pelo executivo central, responsável
pelo controle e regulação da atenção e manipulação das informações por meio da
recordação, atenção seletiva, raciocínio lógico. A alça fonológica, responsável pelo
processamento do material verbal e pela aquisição do vocabulário. O esboço
espaço-visual, especializado no processamento e armazenamento do material que
pode ser representado em termos de suas características visuais e espaciais. E o
buffer episódico um sistema de representação capaz de integrar representações da
memória de trabalho e de longo prazo em representações de memória unitárias e
possui papel importante no aprendizado (ALLOWAY, et al., 2004).
A memória é de fundamental importância para o desenvolvimento das habilidades
auditivas, pois permite armazenar, arquivar informações acústicas e recuperá-las. A
memória de seqüência dos sons, tais como a memorização da ordenação temporal
dos fonemas é um dos fatores que garantem a comunicação humana efetiva. Ao
ouvir palavras, a ordem em que os sons acontecem define seu significado
(PEREIRA; CAVADAS, 2003; p. 143). A memória é uma função do sistema nervoso
que se relaciona com o aprendizado por meio dos sentidos por meio das
experiências (PEREIRA, 2004; p. 549). Sendo assim, a memória auditiva é a
habilidade de armazenar e recuperar os estímulos auditivos, lembrar a duração, o
número e a ordem exata dos mesmos (SOUZA; SOUZA, 2002; p. 131).
Ao avaliar o processamento de informações recebidas por meio do
sentido da audição também é possível observar como o indivíduo
utiliza o seu sistema de gerenciamento de informações, denominado
memória de trabalho ou operacional. (...) Sendo assim, um evento
acústico relacionado à fala que causa sua sensação, percepção,
memória, também traz conhecimento sobre a língua usada no
processo de comunicação humana e, portanto, possibilita o
aprendizado e a organização do sistema de linguagem do indivíduo
(PEREIRA, 2004; p. 549).
A linguagem é um sistema que envolve elementos da fonologia, referente à
estrutura e padrões de sons da língua, da sintaxe, organização dos estímulos em
padrões com significado, e da semântica, estímulos sonoros com significado. O
processo envolvido no aprendizado de uma língua por meio da audição é a
transformação da linguagem externa (ouvida) em linguagem interna (representações
33
dos sons da fala em padrões organizados com significado) e pode ser chamado de
gnosia (PEREIRA; NAVAS; SANTOS, 2002, p. 78). Segundo essas autoras, são
três os processos gnósticos:
Decodificação: aquisição de conhecimentos por meio da integração acústica
de eventos sonoros (PEREIRA; NAVAS; SANTOS, 2002; p. 78). Está
relacionada com a aquisição das informações dos fonemas da língua
(PEREIRA, 2004; p. 551), ou seja, com a habilidade de se atribuir significado
aos aspectos fonêmicos da linguagem (SOUZA; SOUZA, 2002; p. 133).
Codificação: aquisição de conhecimentos por meio da integração das
informações sensoriais auditivas com outras não auditivas (PEREIRA;
NAVAS; SANTOS, 2002; p. 78), pode estar associada à aquisição de
informações das regras de significação da língua, memória sintática,
semântica e fonológica (PEREIRA, 2004; p. 551);
Organização: aquisição de conhecimentos por meio a ordenação temporal
dos sons, em uma seqüência particular determinada pelas regras de uma
língua (PEREIRA; NAVAS; SANTOS, 2002, p. 79), pode ser associada ao
planejamento e organização da seqüência de eventos no tempo (SOUZA;
SOUZA, 2002; p. 133).
1.3.2 PROCESSAMENTO FONOLÓGICO
O processamento fonológico refere-se às operações mentais de processamento de
informações baseadas na estrutura fonológica da linguagem oral (CAPOVILLA;
CAPOVILLA, 2002, p. 226; 2003, p. 28). Segundo esses autores (Ibid.), existem três
tipos de processamento fonológico: o acesso ao léxico metal, a memória de trabalho
fonológica e a consciência fonológica
O acesso ao léxico mental refere-se à habilidade de acessar rápida e facilmente a
informação fonológica armazenada na memória de longo prazo. A memória de
trabalho fonológica refere-se ao processamento ativo e ao armazenamento
34
transitório de informações fonológicas (CAPOVILLA; CAPOVILLA, 2002, p. 226;
2003, p. 28). Essa habilidade pode ser avaliada por meio de tarefas de nomeação
rápida, que necessitam de acesso rápido à informação armazenada (ÁVILLA, 2004,
p. 819).
A memória de trabalho fonológica é a codificação da informação fonológica em um
sistema de representação baseado nos aspectos acústicos, temporais e seqüenciais
da informação verbal auditiva para o armazenamento temporário (ANTHONY;
FRANCIS, 2005, p. 255). Diz respeito ao processamento ativo e ao armazenamento
transitório de informações fonológicas responsável pela representação das
características fonológicas da linguagem (CAPOVILLA; CAPOVILLA, 2002, p. 226;
2003, p. 29)
Segundo Ávila (2004, p. 819), em conjunto, o acesso fonológico ao léxico mental e a
memória de trabalho fonológica constituem e permitem o processamento e a
organização da linguagem. Ambos fazem parte de seu desenvolvimento e estão
envolvidos na realização de qualquer tarefa de processamento de linguagem,
inclusive as de consciência fonológica. As três habilidades de processamento
fonológico são fortemente interrelacionadas e têm relação com a aquisição de leitura
(ANTHONY; FRANCIS, 2005, p. 255).
Navas e Santos (2002, p. 16) exemplificam um modelo de processamento de
linguagem escrita que envolve quatro tipos de processadores: processador
fonológico, processador semântico, processador contextual e processador
ortográfico. Segundo esse modelo, os elementos fonológicos da fala são analisados
e armazenados pelo processador fonológico, de base auditiva. O processador
semântico fornece o acesso ao significado das palavras identificadas. O processador
contextual escolhe o melhor significado dentro de um contexto específico e o
processador ortográfico representa o conhecimento visual das palavras escritas.
35
O processamento fonológico pode ser representado da seguinte maneira:
FIGURA 2. ESQUEMA REPRESENTATIVO DO PROCESSAMENTO FONOLÓGICO
Fonte: Ávila (2004, p. 819)
36
1.4. CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA
Um dos focos do presente estudo são as relações existentes entre habilidades de
consciência fonológica de crianças em fase inicial de escolarização e sua prática
musical. Dessa forma, dentre os aspectos do processamento fonológico, a
consciência fonológica será enfatizada.
A consciência fonológica é um tipo de consciência metalingüística, ou seja, é a
habilidade de desempenhar operações mentais sobre o que é produzido por
mecanismos envolvidos na compreensão de sentenças” (CAPOVILLA; CAPOVILLA,
2003, p. 29). Refere-se à compreensão da fala em seus elementos constituintes
(CAVALCANTE; MENDES, 2003) e relaciona-se às habilidades do indivíduo refletir e
manipular os segmentos da fala, incluindo as operações de contar, segmentar,
adicionar, excluir, substituir e transpor fonemas, rimas, sílabas e aliterações (BRITO
et al., 2006).
1.4.1. DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA
O desenvolvimento da consciência fonológica pode ocorrer naturalmente, seguindo
um ritmo paralelo ao desenvolvimento de linguagem oral. Entretanto, a consciência
fonológica também é afetada pelo tipo de experiência que a criança tem. Ainda que
a criança mostre-se capaz de manipular elementos lingüísticos, o nível de
consciência dependerá de sua idade e escolaridade (ÁVILA, 2004, p. 815).
Existem níveis diferentes de consciência fonológica, alguns precedem a
aprendizagem da leitura e escrita e outros parecem ser resultados dessa
aprendizagem (BARREIRA; MALUF, 2003). Um grande número de estudos
demonstra que a consciência fonológica evolui no sentido de aquisição de
consciência de segmentos maiores como palavras para segmentos menores como
sílabas e fonemas e que a consciência da sílaba é adquirida em idades anteriores
que a consciência fonêmica (CAPOVILLA; CAPOVILLA, 1998; SALLES et al., 1999;
LAZZAROTO; CIELO, 2002; CIELO, 2003).
37
A consciência fonêmica parece estar relacionada ao aprendizado de sistemas
alfabéticos de leitura e escrita. O estudo de Morais et al. (1979)
6
, citado por
Capovilla e Capovilla (1997) e por Godoy (2003), relata que adultos não
alfabetizados não são capazes de realizar manipulações fonêmicas quando
comparados a adultos alfabetizados, mas que, conseguem realizar tarefas de
manipulação silábica. Grande parte dos estudos já realizados no Brasil verifica que o
desenvolvimento da consciência fonológica tem estreita correlação com o
desenvolvimento da alfabetização, ocorrendo de forma paralela (CAPOVILLA;
CAPOVILLA, 1997; LAZZAROTO; CIELO, 2002; CAVALCANTE; MENDES, 2003;
SANTAMARIA; LEITÃO; ASSÊNCIO-FERREIRA, 2004; PEDRAS; GERALDO;
CRENITTE, 2006).
Barreira e Maluf (2003), bem como Godoy (2003), relatam estudos que verificam ser
a instrução formal no sistema alfabético o principal fator para o desenvolvimento da
consciência fonológica. Mas se referem também a estudos que demonstram o
desenvolvimento dessa habilidade fora do contexto de aprendizagem escolar formal.
Os autores concordam que o desenvolvimento das habilidades metafonológicas e a
aquisição da leitura são de causalidade recíproca.
De maneira geral, o desenvolvimento da consciência fonológica ocorre de acordo
com o aumento da idade (SALLES et al., 1999; CIELO, 2003), é favorecido pelo
tempo de escolaridade (CAPOVILLA; CAPOVILLA, 1997; CIELO, 2003) e independe
do sexo (SALLES et al., 1999).
1.4.2. AVALIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA
Barreira e Maluf (2003) nos indicam que a consciência fonológica tem sido estudada
por meio de provas visando avaliar as habilidades dos sujeitos em realizar
julgamentos sobre características sonoras das palavras (tamanho, semelhança,
diferença), isolar e manipular fonemas e outras unidades supra-segmentares da fala,
tais como sílabas e rima.
6
MORAIS, J. CARY, L. ALEGRIA, J. BERTELSON, P. Does Awareness of speech as a sequence of
phones arise spontaneously? Cognition, v. 7, p. 323-331, 1979.
38
Segundo Ávila (2004, p. 818) a avaliação da consciência fonológica permite verificar
o nível metalingüístico de crianças e a qualidade de seu sistema fonológico.
Segundo essa autora, no Brasil têm sido propostas diversas formas de avaliação
para verificar o desempenho de crianças nas tarefas de consciência fonológica. A
maioria dos testes e provas considera os seguintes aspectos:
Tipo da tarefa a ser realizada: análise, síntese, subtração, substituição,
reversão, seqüenciação, manipulação, transposição, aliteração, julgamento,
emparelhamento, contagem, isolamento, apagamento, elisão, combinação,
mistura;
Extensão do segmento a ser identificado: palavras de uma sentença, rimas de
palavras, sílabas de uma palavra, fonemas de uma sílaba;
Carga de significado dos elementos: palavras, não-palavras, morfemas ou
fonemas;
Posição do segmento a ser identificado ou manipulado dentro da estrutura
sonora à qual pertence (ÁVILA, 2004, p. 818).
No Brasil, alguns instrumentos de avaliação de consciência fonológica foram
elaborados e testados. A seguir, apresenta-se uma breve revisão sobre três testes
de consciência fonológica.
Santos e Pereira (1997), com base no trabalho de Hatcher (1994)
7
propuseram uma
tradução e adaptação para o português do Teste de Consciência Fonológica (TCF),
que consiste de seis tarefas: síntese silábica, síntese fonêmica, identificação de
rimas, segmentação fonêmica, exclusão fonêmica e transposição fonêmica.
Segundo as autoras (Ibid.) o TCF pode ser usado para medir como e quanto
crianças em estágio inicial de desenvolvimento de leitura, podem manipular sons
dentro de palavras. O TCF constitui um instrumento de diagnóstico de habilidades de
consciência fonológica de fácil aplicação e interpretação.
7
HATCHER, P. Sound Linkage: An integrated programme for overcoming reading difficulties.
London:Whurr Publishers, 1994.
39
O estudo realizado pelas autoras do teste (SANTOS; PEREIRA, 1997) avaliou
habilidades de consciência fonológica por meio do TCF de 32 crianças de primeira e
segunda série do ensino fundamental, sendo 15 sem queixas escolares e 17 com
queixas escolares. Os resultados demonstraram que as crianças avaliadas sem
queixas escolares obtiveram desempenho superior nas tarefas propostas no TCF
que as crianças com queixas escolares.
Sales et al. (1999) avaliaram crianças entre seis e oito anos de primeira e segunda
séries do ensino fundamental por meio do TCF. Os autores constataram que o
melhor desempenho dos sujeitos ocorreu na tarefa de Síntese Silábica e o pior
desempenho na tarefa de Segmentação Fonêmica. Em estudo posterior, Cavalcante
e Mendes (2003), confirmaram tais achados. Os achados do estudo de Cavalcante e
Mendes (2003) evidenciaram que o desenvolvimento da consciência fonológica
aumenta de acordo com a idade, tempo de escolaridade e independe do sexo. Além
disso, todas as tarefas do TCF foram intercorrelacionadas e não houve diferenças
estatisticamente significantes entre crianças alfabetizadas com ênfase no treino das
relações fonema-grafema e os níveis de consciência fonológica.
Capovilla e Capovilla (1998) elaboraram a Prova de Consciência Fonológica (PCF),
com base no TCF (SANTOS; PEREIRA, 1997), desenvolvida para analisar
habilidades de crianças de manipular sons da fala, composta por dez subtestes
Síntese Silábica, Síntese Fonêmica, Rima, Aliteração, Segmentação Silábica,
Segmentação Fonêmica, Manipulação Silábica, Manipulação Fonêmica,
Transposição Silábica e Transposição Fonêmica com quatro itens cada um. Os
autores, (Ibid.) aplicaram a PCF em crianças de pré-escola e de segunda série do
ensino fundamental, e verificaram que as tarefas em ordem de dificuldade crescente,
foram: síntese silábica, segmentação silábica, manipulação silábica, aliteração, rima,
transposição silábica, síntese fonêmica, manipulação fonêmica, segmentação
fonêmica e transposição fonêmica. Em estudo posterior, Pedras, Geraldo e Crenite
(2006), aplicaram a PCF em crianças com idades inferiores, na faixa etária entre
cinco anos e cinco anos e onze meses e confirmaram que as tarefas de ntese e
segmentação silábica foram as mais fáceis e as tarefas de segmentação e
transposição fonêmica as tarefas mais difíceis.
40
Cielo (2003) relata a elaboração e aplicação do Protocolo de Tarefas de Consciência
Fonológica (PTCF) composta por doze tarefas 1. Segmentação de Palavras no
Fluxo Oral, 2. Realismo Nominal, 3. Deteção de Rimas, 4. Síntese Silábica, 5.
segmentação Silábica, 6. Detecção de Sílabas, 7. Reversão Silábica, 8. Exclusão
Fonêmica, 9. Detecção Fonêmcia, 10. Síntese Fonêmica, 11. Segmentação
Fonêmica, 12. Reversão Fonêmica. A autora (Ibid.) relata que crianças de cinco
anos realizam adequadamente as tarefas de segmentação de frases, detecção de
rimas, síntese e segmentação silábica, detecção de sílaba inicial, final e medial e
detecção de fonemas inicial. Lazarotto e Cielo (2002), em avaliação com o PTCF de
crianças em idades entre sete e oito anos, verificaram que as tarefas consideradas
mais difíceis foram as de segmentação e reversão fonêmica.
Em resumo, nos estudos revisados observou-se que, em crianças brasileiras, a
consciência fonológica desenvolve-se em paralelo com o aumento da idade e o
tempo de escolaridade. Tal habilidade independe do sexo e do método de
alfabetização. Tanto para crianças em idades pré-escolares como em idades
escolares, o melhor desempenho ocorre nas tarefas de síntese silábica e o pior
desempenho nas tarefas de segmentação, reversão e transposição fonêmica,
indicando o desenvolvimento anterior de habilidades de consciência silábica em
relação à consciência fonêmica.
No presente estudo, o Teste de Consciência Fonológica (SANTOS; PEREIRA, 1997)
será utilizado para avaliar as habilidades de crianças de cinco anos em manipular
segmentos de fala. Os procedimentos de avaliação aplicados são apresentados no
Capítulo 3, referente aos Métodos de Pesquisa.
CAPÍTULO 2
RELAÇÕES ENTRE MÚSICA, AUDIÇÃO E LINGUAGEM
42
2. RELAÇÕES ENTRE MÚSICA, AUDÃO E LINGUAGEM
2.1. MÚSICA E NEUROPLASTICIDADE CEREBRAL
O principal foco deste estudo é a investigação de como a prática musical, o
desenvolvimento auditivo e de linguagem, estão relacionados. Pesquisas em
diversas áreas do conhecimento vêm sendo realizadas a fim de testar a hipótese de
que o treinamento musical influencia o desempenho em outros domínios cognitivos.
A literatura revela a existência de estudos que concernem à audição, memória,
linguagem, realizados com músicos e com o músicos com objetivos e métodos
diversos. Os efeitos da prática musical sobre a organização cortical tem sido objeto
de inúmeros estudos. Existem evidências de diferenças entre as características
anatômicas e funcionais de cérebros de sujeitos músicos e não-músicos. O avanço
tecnológico impulsiona a realização de pesquisas com técnicas de neuroimagem,
que permitem a identificação de áreas corticais que processam estímulos sonoros
lingüísticos e não-lingüísticos. Embora o escopo deste trabalho não permita um
aprofundamento sobre o tema, foram selecionados alguns estudos que evidenciam
processos neurofisiológicos que podem ser responsáveis por diferenças
comportamentais entre sujeitos com e sem experiência musical.
Zatorre, Beline e Penhune (2002) argumentam que o rtex auditivo direito e
esquerdo são relativamente especializados. A resolução temporal é melhor nas
áreas auditivas do hemisfério esquerdo e a resolução espectral é melhor nas áreas
auditivas do hemisfério direito. As assimetrias corticais foram desenvolvidas como
uma forma de solucionar a necessidade de aperfeiçoar o processamento do
ambiente acústico tanto nos domínios temporais como de freqüência. Segundo os
autores, existem evidências de que a prática musical causa mudanças estruturais e
anatômicas no cérebro por meio da neuroplasticidade.
Gaser e Schlaug (2003) realizaram um estudo com 20 músicos destros do sexo
masculino e 20 não-músicos a fim de relatar as mudanças estruturais no cérebro
devido à prática musical contínua. Utilizando cnica de alta resolução, imagens dos
cérebros dos sujeitos foram coletadas e os resultados demonstraram diferenças no
43
volume de matéria cinzenta nas regiões motora (córtex cerebelar), auditiva (giro de
Heschl esquerdo) e viso-espacial do cérebro de músicos profissionais quando
comparados com os grupos de músicos amadores e de não músicos. Os autores
consideram que apesar de algumas dessas diferenças possam depender de
predisposições inatas, aparentemente são adaptações estruturais em resposta a
prática de habilidades musicais de longo prazo.
Em artigo de revisão realizado por Peretz e Zatorre (2005) são citados estudos que
demonstram diferenças anatômicas entre o cérebro de músicos e não-músicos.
Existem evidências de que os cérebros de músicos possuem áreas mais avançadas
estruturalmente incluindo áreas auditivas, com aumento de volume de matéria
cinzenta no giro de Heschl. Os autores afirmam existir mecanismos neurais
específicos para a música e mecanismos compartilhados por outros aspectos
cognitivos como a linguagem, mas consideram que a natureza detalhada de tal
reorganização associada com o treinamento musical ainda está distante de ser
compreendida.
Ohnishi et al. (2001) realizaram um estudo com estudantes de música entre 20 e 27
anos a fim de examinar o padrão de atividade cerebral associada com a percepção
musical de músicos e o-músicos. Os resultados encontrados revelaram que na
tarefa de se ouvir música passivamente, músicos apresentaram dominância
hemisférica esquerda (hemisfério dominante para linguagem) e o grupo de não-
músicos demonstrou dominância direita. Houve ativação do plano temporal (área de
associação temporal relacionada à linguagem) correlacionada com a idade na qual o
sujeito iniciou o seu treinamento musical e também com a habilidade de identificar
tons absolutos. Os autores sugerem que tais padrões de ativação cerebral possuem
relação com a reorganização cerebral funcional produzida pelo treinamento musical
de longo prazo.
Em estudos com sujeitos com danos cerebrais, Patel et al. (1998), estudaram o
processamento de padrões prosódicos e musicais tanto na fala como na música e
seus achados sugerem que o processamento prosódico e o processamento musical
compartilham dos mesmos recursos neurais. Em estudo posterior, Moreno e Besson
(2006) realizaram um estudo com o objetivo de determinar a influência do
44
treinamento musical na habilidade de detectar mudanças na prosódia da fala. Foram
avaliadas 28 crianças de oito anos que não estudavam música em tarefa de
reconhecimento de palavras prosodicamente incongruentes em sentenças. Foi
realizada testagem antes e depois, um grupo exposto a aulas de música e outro
grupo exposto a aulas de pintura. Foram analisados os tempos de reação, taxas de
erros e potenciais cerebrais evocados. Para os dois grupos, a incongruência
prosódica fraca foi a de mais difícil detecção. O grupo com o treinamento musical
apresentou mudanças nos resultados dos potenciais evocados para incongruências
prosódicas fortes. Os resultados do estudo sugerem que uma curta exposição
musical e conseqüentemente ao processamento de alturas exerceu influência no
processamento prosódico na linguagem
A fim de testar a hipótese de que o treinamento musical pode melhorar a memória
verbal de crianças com treinamento musical, Ho et al. (2003) realizaram
experimentos com sujeitos destros do sexo masculino com idades entre seis e
quinze anos. A memória verbal foi avaliada por meio de protocolo com dezesseis
palavras apresentado oralmente três vezes e o sujeito deveria falar o maior número
de palavras das quais se lembrarem após dez e trinta minutos. Aqueles que foram
acompanhadas por um ano e que participaram de atividades musicais
demonstraram melhoras na memória verbal, o que não foi observado no grupo que
não participou de atividades musicais. Segundo os autores, os resultados sugerem
que o treinamento musical afeta sistematicamente o processamento de memória de
acordo com possíveis modificações neuroanatômicas no lobo temporal esquerdo.
Koelsch et al. (2005) investigou a neuroanatomia funcional da percepção musical.
Foram estudados 30 sujeitos distribuídos em três grupos: crianças de dez anos com
diferentes níveis de treinamento musical, adultos músicos e adultos não-músicos. Os
estímulos utilizados foram seqüências de acordes com finais sintaticamente
regulares ou irregulares. Os resultados demonstraram que no hemisfério direito, o
padrão de ativação de crianças e adultos foi semelhante. Os padrões de ativação
encontrados no estudo foram similares às ativações encontradas em investigações
do processamento sintático e sugerem que o processamento musical e o
processamento lingüístico dependem de recursos neurais que se sobrepõem. O
mesmo autor (KOELSH, 2005) investigou também o processamento sintático e
45
semântico na escuta musical. O estudo verificou que as mesmas estruturas
envolvidas no processamento de seqüências de informações auditivas complexas e
na identificação de relações seriais e estruturais são ativadas no processamento
sintático da música. o processamento semântico na escuta musical envolveu a
ativação de regiões temporais posteriores. Tais resultados indicam que os processos
e estruturas cerebrais envolvidas na percepção sintática e semântica na escuta
musical têm considerável sobreposição àqueles envolvidos na percepção da
linguagem.
Tallal e Gaab (2006) afirmam que o treinamento musical pode ser benéfico para
aspectos do processamento auditivo e para melhorar habilidades cognitivas e de
linguagem. A prática musical, segundo as autoras, leva à maturação precoce e à
alterações da anatomia funcional em áreas cerebrais auditivas. Em revisão de
estudos relacionados à influência do treinamento musical sobre habilidades de
linguagem e de leitura, os resultados demonstraram forte relação entre tais
variáveis. Entretanto, os mecanismos neurais envolvidos nesses processos ainda
não são conhecidos. As autoras concluem que além de compartilhar padrões
similares de desenvolvimento, música e linguagem representam o uso cognitivo
mais complexo da informação acústica, e ambas se beneficiam das modulações
dinâmicas dos parâmetros acústicos. A utilização de uma para melhorar a outra
parece ser uma forma de compreender como o cérebro aprende a linguagem oral e
escrita e quais os sistemas neurais comuns estão envolvidos nesse processo.
46
2.2. PRÁTICA MUSICAL E PROCESSAMENTO AUDITIVO
Nesta sessão estão revisados os estudos encontrados na literatura brasileira que
utilizaram testes que avaliam o Processamento Auditivo com objetivo de relacionar a
prática musical e habilidades auditivas. Buscou-se revisar estudos comparativos
entre grupos de sujeitos com e sem experiência musical em habilidades auditivas e
de consciência fonológica, tais como as avaliadas no presente estudo.
Silva et al. (2000)
8
citados por Silveira et al. (2002) realizaram um estudo com o
objetivo de verificar a existência de diferenças entre dez músicos e dez não-músicos
nos testes de padrões sonoros de freqüência, intensidade e duração. Com base dos
resultados obtidos, os autores concluíram que, de forma geral, em todos os testes
aplicados, os músicos obtiveram melhores resultados superiores quando
comparados com indivíduos não-músicos. A diferença mais significativa observada
ocorreu no teste de padrão de freqüência sonora. Os autores concluíram que o
treinamento musical favorece a eficácia das habilidades auditivas como atenção e
discriminação de freqüência, intensidade e duração de estímulos sonoros.
Gil et al. (2000) avaliaram a resolução temporal de vinte adultos de ambos os sexos
com idades entre 17 e 34 anos, dez músicos e dez não-músicos. Os sujeitos foram
submetidos à avaliação audiológica básica incluindo os testes de localização sonora,
memória seqüencial para sons verbais e não-verbais, fala com ruído, dicótico de
dígitos, testes de padrão de freqüência e de duração. Os resultados demonstraram
que no teste de padrão de duração, o grupo de músicos apresentou resultados
discretamente melhores, sem significância estatística. O treinamento auditivo para a
percepção musical teve interferência estatisticamente significante no desempenho
dos músicos sujeitos no teste de padrão de freqüência em relação aos não-músicos.
Amatucci e Lupion (2001) estudaram as habilidades auditivas de localização sonora,
memória seqüencial para sons verbais e não verbais e figura-fundo para palavras
8
SILVA, G. M; et al. Processamento Auditivo Central e testes de padrões sonoros de
freqüência, intensidade e duração em músicos e não-músicos. Monografia. Universidade de
Franca. Franca. 2000.
47
(Teste SSW) em indivíduos participantes de coral. Foram avaliadas 20 crianças
integrantes do coral e 20 crianças não-participantes de coral, de ambos os sexos,
com idades entre 7 e 14 anos. Para o teste de memória seqüencial não-verbal
foram utilizados quatro instrumentos e para o teste de memória seqüencial verbal
foram utilizadas seqüências de três sílabas. As crianças participantes de coral
apresentaram habilidades auditivas de memória para sons em seqüência com
respostas mais organizadas em relação às não-participantes. Em relação ao SSW,
o desempenho de crianças participantes do coral foi superior ao das crianças não-
participantes, sem diferenças estatisticamente significantes. Os autores sugerem
que crianças que participam de coral desenvolvem melhor as habilidades de
recepção, detecção, atenção reconhecimento, associação e integração dos
estímulos acústicos.
Ishii, Arashiro e Pereira (2006) realizaram um estudo com cantores que recebiam
orientação profissional, cantores amadores independentes e cantores amadores
desafinados, a fim de comparar seu desempenho em testes de Processamento
Auditivo. Participaram do estudo 78 sujeitos, de ambos os sexos, com idade entre 18
e 55 anos. Os participantes foram avaliados segundo os testes de padrão de
freqüência sonora e teste de detecção de gap (RGDT) a fim de avaliar as
habilidades de ordenação temporal e resolução temporal respectivamente. Os
resultados demonstraram desempenho superior do grupo que recebia orientação
profissional no teste de padrão de freqüência em relação ao grupo de amadores e
destes melhor do que o grupo de amadores desafinados. Os autores consideraram
que a exposição à teoria musical e ao treinamento auditivo são fatores importantes
para a análise e desempenhos dos resultados na tarefa de reconhecimento de
padrões de freqüência.
Com base na hipótese de que o aprendizado musical pode ser considerado uma
forma de treinamento das habilidades temporais auditivas e pode exercer
interferências no aprendizado das habilidades fonológicas, Borges e Shochat (2005)
pesquisaram o desempenho de 20 crianças com idades entre nove e doze anos com
e sem o estudo de música. As crianças foram avaliadas por meio do Teste Temporal
Progressivo Auditivo composto por dois testes de discriminação de duração e dois
testes de ordenação de duração (curto/longo). Os resultados encontrados não
48
demonstraram diferenças estatisticamente significantes entre os grupos de crianças
para os testes de discriminação e de ordenação de duração, entretanto, as crianças
do grupo com prática musical apresentaram resultados superiores para a maioria
dos testes.
O estudo realizado por Soncini e Costa (2006) buscou verificar se o treinamento
auditivo proporcionado pela prática musical exerce influência na habilidade de
reconhecer a fala no silêncio e no ruído. Foi formado um grupo de músicos, militares
destros do sexo masculino com idade entre 25 e 40 anos, e outro de não-músicos.
Foi realizada a pesquisa do limiar de reconhecimento de sentenças no silêncio
(LRSS) e no ruído (LRSR) e foi calculada a relação sinal/ruído, usando o teste listas
de sentenças em Português (LSP)
9
. Os resultados encontrados não evidenciaram
diferença estatisticamente significante entre os valores médios dos LRSS, nos dois
grupos. Entretanto, os músicos apresentaram melhor desempenho que os não-
músicos nas tarefas de reconhecimento de sentenças apresentadas diante de ruído
competitivo. Os autores concluíram que a prática musical é uma atividade que
melhora a habilidade de reconhecimento da fala quando esta ocorre em ambiente
ruidoso ou em situações nas quais a condição de escuta é desfavorável.
Cioqueta (2006) comparou o desempenho de crianças de 7 a 14 anos com e sem
treinamento musical em tarefas de Processamento Auditivo (SSW, Fala com ruído,
Teste de Padrão de Freqüência e Duração). O grupo com prática musical
apresentou resultados superiores, sem diferenças estatisticamente significantes
entre os dois grupos nos testes SSW, Fala com Ruído e Teste de Padrão de
Duração. Os resultados do grupo de sujeitos com prática musical foi melhor, com
significância estatística, no Teste de Padrão de Freqüência. Os resultados do grupo
com prática musical foi qualitativamente melhor que os resultados do grupo sem
prática musical.
Rios et al. (2007) realizaram estudo com objetivo de testar a hipótese de que pistas
musicais melhoram o reconhecimento de palavras familiares em escuta dicótica
9
COSTA, M. J. Lista de sentenças em português: apresentação e estratégias de aplicação na
audiologia. Santa Maria: Pallotti, 1998.
49
devido à maior contribuição do hemisfério direito no processamento de fala em
situações com estímulos musicais. Os autores elaboraram um teste denominado de
Teste de Padrão Harmônico em Escuta Dicótica com Dígitos, baseado no teste
Dicótico de Dígitos, composto de uma etapa de integração biaural e duas etapas de
separação biaural (direita/esquerda). Foram avaliados 40 indivíduos adultos, de
ambos os sexos com faixa etária entre 19 e 52 anos. Os resultados foram
comparados com os obtidos na aplicação do teste dicótico de dígitos convencional
nos mesmos sujeitos. Os indivíduos apresentaram desempenho de
aproximadamente 99% de acertos durante a aplicação do teste com estímulos de
fala cantada em todas as etapas, sendo este desempenho superior ao observado no
teste convencional com estímulos de fala, nas etapas de separação biaural. Os
autores consideram que o melhor desempenho observado com estímulos musicais
deve-se à participação de ambos os hemisférios durante a aplicação do teste.
A revisão da literatura de estudos realizados no Brasil, com os testes de
Processamento Auditivo entre grupos de músicos e não-músicos demonstra que, em
geral, as respostas dos grupos de músicos são mais homogêneas e organizadas,
mesmo quando não diferença estatística entre grupos. O teste que demonstrou
de forma mais significativa as diferenças entre músicos e não-músicos foi o Teste de
Padrão de Freqüência. Esse teste se refere à organização de freqüências em
seqüência, uma tarefa amplamente realizada em aulas de percepção musical como,
por exemplo, em ditados melódicos, o que pode ser um elemento facilitador para
sujeitos com de treinamento musical. É importante ressaltar o fato de os resultados
nos testes SSW e Fala com Ruído, que avaliam as habilidades de figura-fundo e
fechamento auditivo, também demonstrarem melhor desempenho dos grupos de
músicos avaliados. Tais habilidades auditivas relacionam-se com a capacidade de
selecionar um estímulo auditivo em detrimento de outro ou na presença de ruído de
fundo e são essenciais para o reconhecimento de fala e conseqüentemente o
aprendizado da língua quando nos referimos a crianças em desenvolvimento.
A seguir, apresenta-se o Quadro 6, com a síntese da relação dos estudos revisados
com grupos de músicos e não-músicos avaliados por meio de testes do
Processamento Auditivo no Brasil.
50
QUADRO 6. SINOPSE DOS ESTUDOS RELACIONADOS AO TREINAMENTO MUSICAL E HABILIDADES DE PROCESSAMENTO AUDITIVO REALIZADOS NO BRASIL
Autores
Sujeitos
Faixa
etária
ASPA
Habilidades
Avaliadas
Testes
utilizados
Resultados
Silva, et al.
(2000)
10 não-músicos
10 músicos
-
Não realizada
Ordenação temporal
TPF, TPI. TPD
Músicos obtiveram resultados
superiores nos TPF, TPI, TPD.
Gil et al.
(2000)
10 não-músicos e
10 músicos com 5 anos de
aulas de percepção musical
17 a 34
anos
Sem diferenças entre
grupos.
Ordenação temporal
TPF, TPD
Músicos obtiveram resultados
superiores no TPF.
Amatucci,
Lupion
(2001)
20 integrantes do coral com
um ano de participação e
20 não integrantes
7 a 14
anos
Respostas mais
organizadas de crianças
participantes de coral
Figura-fundo
(palavras)
Teste SSW
Desempenho superior de crianças
participantes do coral nos aspectos
quantitativos do SSW.
Ishii,
Arashiro e
Pereira
(2006)
Cantores profissionais: aulas
de canto por 4 anos;
Amadores afinados: sem
queixas de afinação;
Amadores desafinados: com
queixas de afinação
18 a 55
anos
Não realizada
Ordenação temporal
Resolução Temporal
TPD
RGDT
Desempenho estatisticamente
significante somente no TPF.
Borges,
Shochat
(2005)
10 não-músicos e
10 músicos com aulas de
flauta desde a pré-escola
9 a 12
anos
Não realizada
Discriminação e
ordenação de
duração
Teste Temporal
Progressivo
Auditivo
Sem diferenças ente os grupos em
nenhuma das habilidades avaliadas.
Soncini,
Costa (2006)
45 não-músicos e
55 músicos profissionais
de banda militar há 5 anos
25 a 40
anos
Não realizada
Reconhecimento de
fala no silêncio
Reconhecimento de
fala no ruído
LRSS
LRSR
Melhor desempenho dos músicos
nas tarefas de LRSR.
Cioqueta
(2006)
15 não-músicos
15 músicos escolares
participantes de aulas de
música por Método Suzuki
7 a 14
anos
Não realizada
Figura-fundo
(palavras)
Ordenação temporal
SSW e Fala
com ruído
TPF, TPD
Músicos com desempenho superior
no SSW, Fala com Ruído e TPD,
sem significância estatística.
Desempenho superior de músicos
com significância estatística no TPF.
Ríos et al.
(2007)
27 não-músicos
19 a 52
anos
Não realizada
Figura-fundo
TDDH
Desempenho superior nas etapas de
separação biaural em comparação
ao observado no teste dicótico de
dígitos convencional.
TPF Teste de Padrão de Freqüência, TPD Teste de Padrão de Duração; TPI Teste de Padrão de Intensidade; LRSS- Limiar de reconhecimento de sentenças
no silêncio; LRSR Limiar de reconhecimento de sentenças no ruído; SSW Staggered Spondaic Words; RGDT Random Gap Detection Test (Teste de detecção de
Gap); TPHD Teste de Padrão Harmônico em Escuta Dicótica com Dígitos
51
2.3. PRÁTICA MUSICAL E CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA
Foram encontrados na literatura internacional estudos que relatam experimentos que
visam examinar a relação entre a percepção/prática musical e o desempenho de
indivíduos em tarefas de consciência fonológica. Não foram encontrados estudos
realizados no Brasil com tais objetivos. Nesta sessão, são revisados estudos da
literatura internacional com esse foco.
Lamb e Gregory (1993) investigaram a relação entre habilidades musicais e
competências de leitura infantil em 18 crianças entre quatro anos e nove meses a
cinco anos e quatro meses. O objetivo do estudo foi investigar a relação
entre a consciência de mudanças de altura na música e consciência fonêmica. Os
sujeitos passaram por uma avaliação de leitura com testes de escrita,
correspondência de palavras, leitura de letras e leitura de palavras. Além disso,
foram administradas uma tarefa de leitura fonêmica e uma avaliação de habilidade
musical. Os resultados demonstraram que as crianças com desempenhos mais altos
na tarefa de consciência fonêmica também obtiveram escores altos nos testes de
leitura. Além disso, esse mesmo grupo de crianças obteve bom desempenho na
avaliação de discriminação de alturas, na avaliação da habilidade musical. Os
pesquisadores sugerem um estudo longitudinal a ser conduzido para estudar as
relações entre discriminação altura, habilidades musicais e habilidades de leitura.
Em estudo sobre a interseção entre a música e o início da alfabetização, Fisher e
Mcdonald (2001) enfatizam a utilização da música como material instrucional no
início da alfabetização. Segundo os autores (Ibid.), a música pode ser utilizada como
ferramenta para fornecer exemplos para destacar conceitos de impressão/escrita, de
organização temporal em histórias, consciência fonêmica, vocabulário, padrões
ortográficos e atividades de soletração e escrita. Para a abordagem da consciência
fonêmica, os autores sugerem atividades de identificação de rimas e jogos de
palavras dentro de canções. O artigo termina com um convite para a colaboração
entre educadores e professores música.
Anvari et al. (2002) examinaram a relação entre processamento musical e
consciência fonológica em uma amostra de 100 crianças de quatro e cinco anos
52
falantes do inglês. Os autores também examinaram como estes fatores são
relacionados ao desenvolvimento da leitura. A avaliação da habilidade musical
envolveu tarefas de discriminação rítmica, melódica e harmônica, produção rítmica e
análise sonora. A avaliação de consciência fonológica envolveu habilidades de
geração e identificação de rimas, síntese fonêmica, exclusão silábica, além de tarefa
de leitura e de vocabulário. Os achados evidenciaram relação entre a percepção da
música e a habilidade da leitura em crianças de quatro e cinco anos. A percepção da
música correlacionou-se com significância estatística à consciência fonológica e
também com o desenvolvimento precoce da leitura. Os autores consideraram que a
relação entre consciência fonológica e percepção musical pode ser devida ao
compartilhamento de alguns dos mesmos mecanismos auditivos que a
consciência fonológica e a percepção musical requerem que o ouvinte seja capaz de
segmentação em unidades menores componentes a fim de reconhecer o discurso e
as composições musicais.
Peynircoglu, Durgunoglu e Oney-Kusefoglu (2002) realizaram experimentos com 32
crianças de três a seis anos, que não sabiam ler, falantes do inglês e do turco em
tarefas de exclusão fonêmica e aptidão musical. A tarefa verbal foi realizada com
palavras e pseudo-palavras pareadas. A tarefa de exclusão tonal foi realizada com
trechos de melodias conhecidas compostos por duas a cinco notas musicais e
trechos não conhecidos. Os participantes foram solicitados a falar os itens verbais
sem um dos fonemas alvo e murmurar, cantar ou assoviar as melodias sem a nota
alvo. Os sujeitos foram avaliados ainda em tarefa de leitura e aptidão musical
(reprodução de intervalos, melodias e ritmos). Os achados do estudo demonstraram
que crianças classificadas com alta aptidão musical obtiveram melhores
performances que as crianças com aptidão musical baixa, tanto para os falantes do
inglês como para os falantes do turco nas tarefas verbais de consciência fonológica.
Os autores discutem que a ligação entre a consciência fonológica e as tarefas de
exclusão tonal pode envolver as mesmas habilidades de processamento. A alta
habilidade musical indica melhores habilidades de análise de padrões, o que parece
melhorar a manipulação do som em geral, incluindo a habilidade de manipular sons
de fala.
53
Hansen e Bernstorf (2002) discutem que existem poucas pesquisas que visam à
investigação a fim de estabelecer correlações entre música e leitura. Os autores
citam alguns pesquisadores que estão iniciando a pesquisa da música como uma
função cerebral e também, estudos que defendem o compartilhamento de funções
cerebrais nos dois hemisférios, que estão envolvidos em todas as atividades. O
artigo discute a necessidade de pesquisas adicionais a fim de definir as relações
entre música e aprender a ler textos, notação musical, bem como a seqüência de
desenvolvimento de cada um. Tais pesquisas podem fornecer argumentos para
oferecer a música como parte do currículo escolar em função, não da arte, mas
também em programas de comunicação a fim de atingir metas para a alfabetização
e leitura.
Gromko (2005) realizou um estudo com o objetivo de determinar se a instrução
musical está relacionada com o desenvolvimento da consciência fonêmica, em
especial na habilidade de segmentação fonêmica em pré-escolares. O estudo foi
realizado com crianças falantes do inglês avaliadas por meio do teste Dynamic
Indicators of Basic Early Literacy Skills” em tarefas de identificação de fonema inicial,
nomeação de letras, segmentação fonêmica e leitura de pseudo-palavras em pré-
escolas, onde um grupo de crianças recebeu aulas de sica e outro não recebeu
instrução musical. A autora observou que após quatro meses de instrução musical,
as crianças do grupo que recebeu aulas de música mostraram desempenho
estatisticamente superior no desenvolvimento da habilidade de segmentação
fonêmica quando comparadas às crianças que não foram expostas à instrução
musical. Os autores argumentaram que a segmentação fonêmica depende
diretamente das habilidades auditivas, aprimoradas pela instrução musical e que as
demais habilidades testadas dependem do reconhecimento de grafemas, o que
explica a diferença observada entre grupos.
David et al. (2007) realizaram um estudo longitudinal durante três anos com 53
crianças de idade média de seis anos, nas ries iniciais de escolarização. Os
autores investigaram relações entre ritmo, consciência fonológica, velocidade de
nomeação e leitura. As tarefas de consciência fonológica testadas foram:
reconhecimento de fonema inicial, síntese fonêmica, síntese de fonema inicial, rima
e isolamento de som. A tarefa rítmica envolveu cinco tarefas de acompanhamento
54
rítmico de melodias com palmas, pés e caminhada. A análise dos resultados foi
realizada com regressão hierarquizada, controlando variância compartilhada entre
consciência fonológica e velocidade de nomeação. Os resultados do estudo
indicaram que correlações estatisticamente significantes entre produção rítmica e
consciência fonológica, velocidade de nomeação, e também entre habilidade de
leitura na primeira série, efeito que perdura nos quatro primeiros anos de
escolarização.
A revisão da literatura dos estudos que buscam relações entre habilidades
metalingüísticas de consciência fonológica e a percepção/prática musical evidencia
que existe correlação entre habilidades musicais, consciência fonológica e
habilidades de leitura. Alguns estudos sugerem a inclusão de aulas de música no
currículo escolar a fim de colaborar com o desenvolvimento de consciência
fonológica e contribuir em atividades de leitura e escrita.
É interessante notar que a maioria dos estudos avalia a habilidade musical dos
sujeitos por meio de tarefas de discriminação e reconhecimento auditivo. Em alguns
casos envolvem também a repetição de padrões rítmicos ou melódicos, mas em
nenhum dos estudos revisados as habilidades musicais foram avaliadas de forma
global, com atividades de composição/improvisação ou apreciação musical. Por isso,
a parte empírica do presente estudo incluirá uma tarefa de Apreciação Musical.
A atividade musical tem sido amplamente praticada na educação infantil e parece
exercer influência na maturação cerebral, no desenvolvimento cognitivo, auditivo e
lingüístico de crianças. Não foram encontrados estudos realizados no Brasil
buscando investigar relações entre habilidades auditivas e prática musical com
crianças na faixa etária de cinco anos. Também não foram encontrados estudos na
literatura nacional acerca do desenvolvimento da consciência fonológica de sujeitos
com experiência musical. Os estudos aqui revisados evidenciam a importância do
tema e a necessidade em aprofundar o conhecimento na área. Considerando esses
fatores propõe-se o presente estudo.
A seguir, apresenta-se o Quadro 7, com a relação dos estudos revisados com
grupos com e sem prática musical avaliados em tarefas de consciência fonológica..
55
QUADRO 7. SINOPSE DOS ESTUDOS RELACIONADOS AO TREINAMENTO MUSICAL E HABILIDADES CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA
Autores
Sujeitos
Faixa etária
Avaliação Musical
Avaliação de linguagem
Resultados
Lamb,
Gregory
(1993)
18 pré-escolares
falantes do inglês
4:9 a 5:4
Percepção melódica (discriminação
de alturas) e reconhecimento de
timbres.
Avaliação de leitura: testes de
escrita, correspondência de
palavras, leitura de letras e leitura
de palavras, leitura fonêmica.
Correlação entre consciência
fonêmica, leitura, discriminação
de alturas e habilidade musical.
Fisher,
Mcdonald
(2001)
Artigo de revisão
Sugestões de atividades
musicais relacionadas à
estimulação da consciência
fonológica. Convite para a
colaboração entre educadores
e professores música.
Anvari et al.
(2002)
100 crianças de
falantes do inglês
4 a 5 anos
Discriminação (igual/diferente)
rítmica, melódica e harmônica,
produção rítmica, análise sonora.
Geração de rimas, identificação de
rimas, síntese fonêmica, exclusão
silábica, leitura e vocabulário.
Correlação estatisticamente
significante entre habilidades
de percepção musical,
consciência fonológica e
leitura.
Peynircoglu,
Durgunoglu,
Oney-
Kusefoglu
(2002)
32 crianças que não
sabiam ler, falantes do
inglês e do turco
3 a 6 anos
Cantar melodias e intervalos
maiores e menores, reproduzir
ritmos de diversos tamanhos e
complexidades.
Exclusão fonêmica (inicial e final)
de palavras e pseudo-palavras.
Correlação entre alta aptidão
musical e alto desempenho em
tarefas verbais de consciência
fonológica.
Hansen,
Bernstorf
(2002)
Artigo de revisão
Necessidade de pesquisas a
fim de definir as relações entre
música e aprender a ler textos,
notação musical, bem como a
seqüência de desenvolvimento
de cada um.
Gromko
(2005)
43 crianças expostas à
aulas de música e 60
crianças não-expostas
(grupo controle)
Pré-
escolares
Não especificado
Identificação de fonema inicial,
nomeação de letras, segmentação
fonêmica e leitura de pseudo-
palavras.
Desempenho estatisticamente
superior das crianças expostas
em tarefa de segmentação
fonêmica.
David et al.
(2007)
53 crianças
canadenses
Idade média
de 6 anos
Tarefas de produção rítmica (bater
palmas, bater os pés e caminhar de
acordo com o ritmo de uma
música).
Consciência fonológica, velocidade
de nomeação e leitura.
Correlações estatisticamente
significantes entre produção
rítmica e consciência
fonológica, velocidade de
nomeação, e também entre
habilidade de leitura.
Legenda: 4:9 - 4 anos e 9 meses; 5:4 5 anos e 4 meses.
CAPÍTULO 3
MÉTODOS DE PESQUISA
57
3. MÉTODOS DE PESQUISA
Neste capítulo são apresentados os critérios para a seleção dos indivíduos, a
descrição da amostra, os procedimentos da avaliação fonoaudiológica e apreciação
musical realizados a fim de comparar os resultados obtidos na Avaliação
Simplificada do Processamento Auditivo, Teste de Consciência Fonológica e Tarefa
de Apreciação Musical de dois grupos de crianças, com e sem experiência musical.
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Federal de Minas Gerais (ETIC n
o
641/07) (ANEXO A).
3.1 DELINEAMENTO
O presente estudo caracteriza-se como de delineamento descritivo-comparativo,
com amostra não-probabilística por tipicidade, de recorte transversal entre grupos de
crianças com e sem prática musical. As pesquisas descritivas têm como objetivo
principal a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou
o estabelecimento de relações entre variáveis (GIL, 1991; p. 46).
3.2 QUESTÕES DE PESQUISA E HIPÓTESE
A atividade musical sistemática, por meio da participação em aulas de musicalização
é um fator que exerce influência sobre habilidades auditivas e metalingüísticas?
A prática musical fomenta habilidades de processamento auditivo e de consciência
fonológica de crianças de cinco anos?
Estas questões serão investigadas baseadas na verificação da seguinte hipótese:
58
Hipótese:
A prática musical exerce influência positiva sobre habilidades auditivas e de
consciência fonológica de crianças em desenvolvimento na idade de cinco anos.
3.3. FAIXA ETÁRIA
A faixa etária de cinco anos foi escolhida pois crianças nessa idade, em geral,
apresentam a aquisição fonológica do português completa (OLIVEIRA et al., 2004,
p.171), frequentam a pré-escola e estão em fase inicial de alfabetização, e do
desenvolvimento de habilidades de leitura e escrita. Dessa forma, garantiu-se que as
respostas dadas aos testes verbais não sofressem interferência de possíveis
alterações de fala e que as respostas dadas às tarefas de consciência fonológica
fossem baseadas na estrutura sonora das palavras e não em sua representação
gráfica.
3.4. CENÁRIO DE ESTUDO
O presente estudo foi realizado em duas escolas de música especializadas e em
cinco escolas regulares de educação infantil de Belo Horizonte.
3.4.1. ESCOLAS DE MÚSICA
Foram selecionadas duas escolas de música especializadas de Belo Horizonte, com
longa história na área. A escola de música A localiza-se na região Centro-Sul e
atende a crianças, jovens e adultos. Conta com professores que ainda cursam a
graduação em música, professores de nível superior e s-graduação em música. A
escola A oferece às crianças de cinco anos uma aula de musicalização semanal
com uma hora de duração e também aulas de instrumento opcional, com duração de
trinta minutos ou uma hora.
59
A escola de música B está localizada na região da Pampulha e atende a crianças de
três a doze anos. Os professores são alunos de graduação em música que são
orientados por professores doutores, mestres e especialistas. Essa escola também
oferece aulas de musicalização semanais às crianças de cinco anos com uma hora
de duração.
Em ambas as escolas as turmas de musicalização oferecidas para crianças na idade
de cinco anos, são denominadas “iniciação musical”. Participam das aulas entre
cinco e sete alunos. Os conteúdos musicais oferecidos às crianças matriculadas nas
aulas de iniciação musical abrangem os parâmetros de duração, altura, timbre,
intensidade, caráter expressivo, iniciação da estruturação e notação musical. As
atividades são estruturadas de forma a abordar os conteúdos musicais de forma
lúdica e condizente com a faixa etária das crianças.
3.4.2. ESCOLAS REGULARES
Foram selecionadas as primeiras escolas regulares com as quais se fez contato por
telefone e cuja coordenação manifestou o interesse em participar do estudo, desde
que não possuíssem aulas de musicalização em seu currículo. Optou-se por escolas
regulares de pequeno porte a fim de garantir a similaridade dos cenários de estudo,
que oferecem aulas para grupos reduzidos de alunos tal como as escolas de
música. Foi necessária a seleção de cinco escolas regulares a fim de selecionar os
26 sujeitos do grupo controle.
Todas as escolas regulares que participaram do estudo oferecem recreação no
período da manhã e aulas regulares no período da tarde. As turmas das escolas
regulares possuem entre sete e doze alunos.
3.5. SELEÇÃO DA AMOSTRA
Foi utilizado o método de amostragem não-probabilística por tipicidade, no qual os
elementos são escolhidos intencionalmente pelo pesquisador, de acordo com as
necessidades de seu estudo (LAVILLE; DIONNE, 1999; p.170).
60
Os critérios que determinaram a participação dos sujeitos na pesquisa foram os
seguintes:
3.5.1 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO:
Ter idade cronológica entre cinco anos e cinco anos e onze meses;
Estar regularmente matriculado nas escolas participantes do estudo;
Não apresentar evidências de alterações neuropsicomotoras;
Não relatar alteração auditiva no questionário do estudo;
Apresentar Reflexo Cócleo-Palpebral presente observado durante a Avaliação
Fonoaudiológica do estudo;
Não apresentar alteração de fala ou linguagem observada por meio da Avaliação
Fonológica da Criança aplicada na Avaliação Fonoaudiológica do estudo;
Concordar em participar do estudo por meio do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) (ANEXO B).
3.5.2 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO:
Realizar menos de 100% das tarefas de Apreciação Musical e Avaliação
Fonoaudiológica;
Desistir da participação no estudo.
Nas escolas de música os pais e responsáveis pelas crianças foram convidados a
participar da pesquisa por meio de telefonema ou contato pessoal da pesquisadora
ou secretária da escola. os pais e responsáveis pelas crianças matriculadas nas
escolas regulares, foram convidados a participar do estudo por meio de bilhete
enviado pelas professoras nas agendas das crianças, que é uma prática comum nas
escolas regulares, por meio da qual acontece a comunicação entre pais e
professores.
O TCLE foi enviado ou entregue aos pais que tiveram o interesse de que seus filhos
participassem do estudo e todas as crianças cujos pais que o assinaram foram
avaliadas. Foram realizadas 71 avaliações, das quais 56 foram selecionadas para
61
análise. As perdas ocorridas deveram-se à alterações de fala, alterações auditivas
ou à saída da criança da escola participante. Todos aqueles que foram avaliados
receberam relatórios de avaliação e as crianças diagnosticadas com alguma
alteração fonoaudiológica foram encaminhadas para o devido acompanhamento. As
56 crianças selecionadas compuseram a amostra do estudo e foram distribuídas nos
seguintes grupos:
Grupo de Estudo: Composto por trinta crianças com idade entre cinco anos e
zero meses a cinco anos e onze meses matriculadas em escola de música
especializada, participantes de aulas de musicalização.
Grupo Controle: Composto por vinte e seis crianças, da mesma faixa etária, não
matriculadas em escola de música especializada sem aulas de música formal de
qualquer espécie.
A caracterização dos sujeitos do Grupo de Estudo e Grupo Controle está descrita no
Capítulo 4 referente aos Resultados e Discussão.
62
3.6 PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO
Para cumprir os objetivos do estudo, o trabalho foi realizado em duas etapas.
3.6.1 PRIMEIRA ETAPA: SELEÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
Buscou-se compor a amostra do estudo com base nas características que poderiam
exercer influência sobre o desenvolvimento infantil. Para tanto, foi aplicado um
questionário aos pais e responsáveis que objetivou levantar questões acerca de
características demográficas, sócio-econômicas, musicais e escolares dos sujeitos e
também selecionar aqueles que preenchessem os critérios de inclusão
anteriormente estabelecidos.
Parte da seleção da amostra baseou-se nas respostas ao conjunto temático 5,
relativo ao Perfil de Saúde dos sujeitos. A caracterização da amostra foi realizada
com base nas respostas dadas às questões dos conjuntos temáticos de perguntas 1
a 4. O instrumento de coleta de dados foi elaborado pelas pesquisadoras (ANEXO
C) com questões fechadas relativas aos seguintes conjuntos temáticos de
perguntas:
1) Identificação dos sujeitos
Nome, endereço e telefone;
2) Características demográficas e sócio-econômicas:
Sexo, idade, naturalidade,
Escolaridade e profissão dos pais,
Número de irmãos e de cômodos na casa;
3) Perfil Escolar:
Idade em que foi matriculado (a) na escola,
Gostar de freqüentar a escola/ dificuldades de adaptação escolar,
Possuir amigos na escola,
63
Identificação de leras e números,
Leitura e escrita do próprio nome e de outras palavras,
Participação em atividades extracurriculares;
4) Perfil Musical:
Hábito de ouvir música,
Local onde os sujeitos ouvem música,
Gêneros musicais ouvidos,
Participação em aulas de musicalização na escola regular e em escola
especializada,
Participação em aulas de instrumentos musicais,
Tempo de participação em aulas de musicalização;
5) Perfil de Saúde:
Queixa ou alteração auditiva,
Queixa ou alteração de fala ou linguagem,
Necessidade de acompanhamento médico especial;
3.6.2 SEGUNDA ETAPA: AVALIAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA E APRECIAÇÃO MUSICAL
As avaliações fonoaudiológicas selecionadas para a coleta de dados do presente
estudo são utilizadas na prática clínica e em pesquisas na área. Além disso, podem
ser levadas pelo pesquisador até o sujeito, não implicando em nenhum transtorno
com deslocamento. Todas as avaliações foram realizadas pela pesquisadora
individualmente com cada criança nas escolas de música e escolas regulares em
horários estabelecidos com os pais e com a direção das escolas.
a) Pesquisa do Reflexo Cócleo-Palpebral por meio de sons instrumentais
O Reflexo Cócleo-Palpebral (RCP) é a contração do sculo orbicular do olho que
pode ser observada por meio da movimentação palpebral (AZEVEDO; VILANOVA;
64
VIEIRA, 1995; p. 29). Em outras palavras, é a reação de piscar de olhos ao se ouvir
um som de alta intensidade. O RCP é uma resposta reflexa inata, que é eliciado
preferencialmente por estímulos sonoros superiores a 90 dB NPS
10
(ibid, p. 45). A
pesquisa do RCP foi realizada por meio da percussão do agogô, campânula grande,
a uma distância de vinte centímetros do pavilhão auricular das crianças, de acordo
com o proposto por Azevedo, Vilanova e Vieira (1995; p. 29).
A pesquisa do RCP foi realizada com a intenção de excluir alterações auditivas
significativas, uma vez que Rabinovich (2005) observou que o RCP é encontrado em
crianças com audição normal ou com perdas auditivas até o nível moderado, se
estas forem recrutantes. Em casos de perdas auditivas moderadas não recrutantes,
severas e profundas, e em casos de crianças com presença de líquido em orelha
média, o RCP não é observado.
b) Avaliação Fonológica da Criança
A Avaliação Fonológica da Criança (AFC) (ANEXO E) é composta por cinco
desenhos temáticos (ANEXO F): Veículos, Sala, Banheiro, Cozinha, Zoológico que,
em conjunto, possibilitam a produção de 125 palavras comuns ao vocabulário de
crianças a partir de três anos. As palavras da AFC possuem mais de uma ocorrência
dos fonemas do português em posições diferentes dentro das palavras. O teste
possui 97 palavras básicas, que têm no nimo três possibilidades de ocorrência
para cada consoante do português em todas as posições, com exceção dos
encontros consonantais (YAVAS et al., 1991; p. 12-14).
Os cinco desenhos da AFC foram apresentados às crianças, que foram estimuladas
a produzir as palavras neles contidas. Algumas das palavras, como os verbos, não
se encontram representadas diretamente nos desenhos temáticos e, para sua
produção, foram feitas perguntas às crianças. A amostra de fala de cada sujeito foi
coletada com a presença da pesquisadora e de cada criança individualmente. Todas
10
dB NPS é uma unidade utilizada na medida da intensidade do som que varia de acordo com o
aumento ou a diminuição do nível de pressão sonora.
65
as avaliações foram gravadas em áudio e transcritas foneticamente ao mesmo
tempo em que a avaliação foi aplicada, de acordo com as recomendações dos
autores do teste. Para fins de análise, somente as palavras básicas da avaliação
foram utilizadas.
Alise da Avaliação Fonológica da Criança
Foi realizada a análise descritiva dos resultados encontrados na AFC segundo a
descrição fonética e análise por processos fonológicos. A descrição fonética verifica
os sons que a criança é capaz de produzir. A análise por processos fonológicos
permite visualizar possíveis simplificações realizadas por crianças retirando as
características difíceis dos fonemas, como reduções (placa paca), apagamentos
(martelo matelo) ou substituições (carro calo). As crianças que apresentaram
processos fonológicos em sua fala foram excluídas da amostra por não cumprirem
os critérios de inclusão estabelecidos para o estudo.
c) Avaliação Simplificada do Processamento Auditivo
A Avaliação Simplificada do Processamento Auditivo (ANEXO D) foi aplicada de
acordo com o descrito por Pereira (1993, 1997) e Corona (2005). Foram realizadas
as seguintes tarefas que compõem esta avaliação:
Teste de localização sonora em cinco direções (LS): O estímulo sonoro da
percussão do sino foi apresentado à cada criança em cinco direções diferentes, à
direita, à esquerda, à frente, atrás e acima da cabeça da criança. A cada
apresentação do estímulo as crianças, de olhos vendados, foram solicitadas a
apontar para a direção na qual ouviram o som.
Teste de memória seqüencial para sons o-verbais (MSNV): Foram apresentadas
três seqüências de instrumentos (coco, sino e guizo) e três seqüências de quatro
estímulos sonoros instrumentais (coco, sino, guizo e agogô) em ordens variadas.
Durante a apresentação dos estímulos as crianças permaneceram de olhos
66
vendados e ao fim da apresentação de cada seqüência, as crianças foram
solicitadas a apontar para os instrumentos na ordem em que foram tocados.
Teste de memória seqüencial para sons verbais (MSV): Foram apresentadas três
seqüências de três sílabas (/pa/, /ta/, ka/) e três seqüências de quatro sílabas
diferentes (/pa/, /ta/, ka/, /fa/). Após cada seqüência, as crianças foram solicitadas a
repetir oralmente as sílabas na mesma ordem em que foram faladas.
Todas as 56 crianças foram avaliadas individualmente e as respostas dadas aos
testes foram transcritas em protocolo específico.
Alise segundo os critérios de referência da Avaliação Simplificada do
Processamento Auditivo:
Teste de localização sonora em cinco direções: A criança deve acertar quatro das
cinco direções apresentadas a partir dos três anos de idade. O erro pode ocorrer nas
direções acima, à frente ou atrás da cabeça.
Teste de memória seqüencial para sons não-verbais: Crianças com idades entre
quatro e seis anos devem acertar duas seqüências de três sons em três tentativas. A
partir dos seis anos devem acertar duas seqüências de quatro sons em três
tentativas.
Teste de memória seqüencial para sons verbais: A partir dos três anos de idade,
deve-se acertar pelo menos duas das três seqüências de três sílabas apresentadas.
Aos seis anos, as crianças são capazes de repetir seqüências de quatro sílabas.
d) Teste de Consciência Fonológica (Santos, Pereira, 1997)
O Teste de Consciência Fonológica (ANEXO G) foi aplicado conforme descrito na
literatura de apresentação do estudo. Foram aplicadas cinco tarefas compostas por
cinco itens cada uma. Todas as tarefas foram precedidas por dois exemplos,
67
apresentados pela avaliadora e utilizados como treinamento para a realização dos
itens do teste. As respostas foram transcritas em protocolo específico.
Síntese silábica: cinco palavras foram apresentadas separadas em sílabas, emitidas
pela avaliadora com um segundo de intervalo entre elas. As crianças foram
solicitadas a reconhecer e emitir a palavra apresentada.
Item de teste: “Vou falar como um robô. Tente descobrir o que o robô
falou”: [por] + [ta].
Resposta esperada: [porta];
Síntese fonêmica: cinco palavras foram apresentadas pela avaliadora segmentadas
em fonemas, com um segundo de intervalo entre eles. As crianças foram solicitadas
a reconhecer e emitir a palavra.
Item de teste: “Agora o robô vai falar mais esquisito, um som bem curtinho.
Tente adivinhar o que ele está falando.” /p/+/é/.
Resposta esperada: [pé];
Reconhecimento de rimas: grupos de três palavras, das quais duas compõem uma
rima, foram falados pela avaliadora. As crianças foram solicitadas a identificar
aquela palavra que não rima com as demais.
Item de treino: “Batatinha quando nasce esparrama pelo chão,
mamãezinha quando dorme põe a mão no coração! Chão, mão e coração
são palavras diferentes que terminam com o mesmo som. Quais outras
palavras você conhece que terminam com o som [ão]?
Item de teste: “Qual a palavra que não tem o som parecido?” [cal, mal, foi].
Resposta esperada: [foi];
Segmentação Fonêmica: as crianças foram solicitadas a segmentar palavras dadas
pela avaliadora em seus fonemas.
Item de teste: “Agora é a sua vez de falar como robô. Como o robô falaria
a palavra [vá]?”
Resposta esperada: /v/+/á/;
68
Exclusão fonêmica: a avaliadora apresentou palavras das quais um determinado
fonema foi retirado e uma nova palavra foi formada. As crianças foram solicitadas a
reconhecer e emitir a nova palavra.
Item de teste: “Que palavra fica se eu retirar o som /m/ da palavra
[molho]?”
Resposta esperada: [olho].
O item de Transposição Fonêmica do Teste de Consciência Fonológica não foi
realizado, pois os estudos revisados na literatura apontam que essa é uma
habilidade que não se desenvolve até os sete anos (CIELO, 2003) e considerou-se
suficiente a avaliação de três tarefas de consciência fonêmica.
Alise do Teste de Consciência Fonológica:
O Teste de Consciência Fonológica foi analisado em cada uma de suas tarefas com
uma pontuação de zero a cinco acertos.
e) Tarefa de Apreciação Musical
A tarefa de Apreciação Musical foi elaborada pelas pesquisadoras com o objetivo de
observar a interface de uma atividade de audição com uma atividade cognitivo-
musical. A tarefa foi realizada com a sica O meu carango (LY, 2007) (ANEXO J)
que é composta por sons verbais e onomatopaicos que descrevem sons de carro:
O meu carango
(LY, 2007)
No meu carango fui dar um rolé
Brum brum brum brum
Bem apressado o carro ultrapassou
Uemmm uemmm
Levei um susto, logo buzinei
Bii bii fon fon
E nervosinho, ele então freiou
Hummmm
69
A escolha da música foi determinada por apresentar tema familiar às crianças da
faixa etária dos cinco anos, ser uma peça de curta duração (o que beneficia a
preservação da atenção) e por possuir elementos seqüenciais que favorecem a
avaliação da ordenação temporal.
Foram realizadas quatro audições da música seguidas de questões direcionadas,
que foram apresentadas às crianças após cada audição, conforme o descrito por
França Silva (1998, p. 151). As duas primeiras audições referem-se à compreensão
global da música e foram seguidas das questões: Diga-me tudo o que você
percebeu nessa música. O que a música nos conta e o que acontece? A terceira
audição refere-se à evocação dos sons onomatopaicos ouvidos pelas crianças e foi
seguida pela questão direcionadora: Que sons de carro aparecem nesta música? A
quarta e última audição objetivou investigar a ordenação dos sons onomatopaicos
em seqüência. A questão direcionadora apresentada para a tarefa foi: Em que
ordem os sons de carro acontecem?
Alise da Apreciação Musical
As respostas foram gravadas e transcritas. Para fins de análise, foram consideradas
somente as respostas da última audição, relativas à ordenação dos sons
onomatopaicos em seqüência. As respostas da Tarefa de Apreciação Musical foram
analisadas buscando similaridades com os parâmetros de análise dos Testes de
Memória Seqüencial Verbal e Não-Verbal, podendo variar entre nenhum e quatro
acertos.
3.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS DADOS
Foi realizada a análise descritiva da distribuição de freqüência análise das medidas
de tendência central e de dispersão das variáveis. A análise das relações entre os
dados coletados do grupo controle e do grupo de estudo, foram utilizados os testes
Mann-Whitney e Qui-quadrado. Os dados foram processados e analisados
70
utilizando-se o pacote estatístico SPSS 13.0. Foram consideradas como
associações estatisticamente significantes, os resultados que apresentaram um nível
de significância de 95% (p-valor 0,05). Os valores estatisticamente significantes
foram assinalados com um asterisco (*).
3.7.1. PRIMEIRA ETAPA: CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
O teste Qui-quadrado foi utilizado para a comparação entre as variáveis categóricas
da primeira parte do estudo referente à caracterização da amostra. Foram
identificadas as variáveis que apresentaram diferença estatisticamente significante
na comparação entre grupos nos conjuntos temáticos 2, 3 e 4, relativos às
Características Demográficas e Sócio-econômicas, Perfil Escolar, Perfil Musical,
respectivamente. Uma variável explicativa de cada um desses conjuntos foi
selecionada como elemento de comparação entre grupos.
As variáveis explicativas foram incluídas na análise de regressão logística binária
múltipla realizada na segunda etapa da análise estatística. Tal escolha foi embasada
na literatura e também nos critérios para conduzir análises de regressão, que
pressupõem uma pequena colinearidade entre as variáveis explicativas para
produzir um modelo confiável (PAGANO; GAUVREAU, 2004, p. 405). Quando
grande relação entre as variáveis explicativas, não é possível isolar o efeito de cada
uma na variável dependente.
3.7.2. SEGUNDA ETAPA: AVALIAÇÃO SIMPLIFICADA DO PROCESSAMENTO AUDITIVO, TESTE
DE CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E TAREFA DE APRECIAÇÃO MUSICAL
O teste Mann-Whitney foi usado para a comparação entre os resultados entre os
testes da Avaliação Simplificada do Processamento Auditivo, Teste de Consciência
Fonológica e Tarefa de Apreciação Musical entre o Grupo de Estudo e o Grupo
Controle. Foram identificados os testes e tarefas que apresentaram diferença
estatisticamente significante na comparação entre grupos que foram analisados por
meio de regressão logística binária múltipla.
71
A análise de regressão múltipla deve ser realizada quando um fenômeno não pode
ser explicado por um único agente causal, mas sim por uma multiplicidade de
fatores, assim, uma variável dependente deve ser posta em função de diversas
variáveis explicativas (VIEIRA, 2003, p. 182). Esse tipo de regressão é caracterizado
por sua variável dependente ter duas categorias (binária) e ser realizada com mais
de uma variável explicativa (múltipla). O objetivo principal da realização de
regressões logísticas é verificar possíveis relações causais entre variáveis.
Foram incluídos nos modelos como variáveis dependentes os resultados das
avaliações fonoaudiológicas e da tarefa de apreciação musical e como variáveis
explicativas aquelas selecionadas na primeira parte da análise dos dados. Além
delas foi incluída a variável Sexo como uma variável demográfica e a variável Grupo
relativa ao sujeito estar no grupo de estudo ou no grupo controle.
As variáveis dependentes foram transformadas em variáveis binárias de acordo com
o número de acertos dos sujeitos nos testes.
Para os testes da Avaliação Simplificada do Processamento Auditivo:
Desempenho ruim: nenhum ou um acerto no teste;
Desempenho ótimo: dois ou três acertos no teste.
Para os testes de Consciência Fonológica:
Desempenho ruim: nenhum, um ou dois acertos na tarefa do teste;
Desempenho ótimo: três, quatro ou cinco acertos na tarefa do teste.
Para a tarefa de Apreciação Musical:
Desempenho ruim: nenhum, um ou dois acertos na tarefa;
Desempenho ótimo: três ou quatro acertos na tarefa.
Dessa forma foram ajustados os modelos de regressão logística com a intenção de
estimar a associação entre os resultados das avaliações fonoaudiológicas e da
tarefa de apreciação musical e cada uma das variáveis explicativas. Os resultados
dos modelos foram apresentados como razão de chances (odds ratio, OR), tendo
como referência intervalos de confiança de 95% (IC95%). Os intervalos de confiança
72
são a medida da incerteza associada às predições dadas pelas regressões. A reta
da regressão descreve o fenômeno, mas é apenas uma estimativa da relação entre
as variáveis na população, uma vez que foram usados dados de uma amostra
(VIEIRA, 2003, p. 134). Quanto menor é o intervalo de confiança, melhor é a
explicação do modelo para o fenômeno estudado.
As representações gráficas foram apresentadas em Box Plots, gráficos de dispersão
unidimensionais que exibem o resumo dos dados contínuos. A caixa central
estende-se do 25º ao 75º percentil dos dados e a linha central marca o 50º percentil,
ou seja, a mediana das observações. As linhas que se projetam para fora
correspondem aos valores adjacentes ao gráfico e as observações mais extremas,
consideradas fora do padrão (dados atípicos) que são representadas por círculos
(PAGANO; GAUVREAU, 2004, p. 19).
CAPÍTULO 4
RESULTADOS E DISCUSSÃO
74
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste capítulo estão apresentados os resultados referentes aos dados obtidos na
Avaliação Simplificada do Processamento Auditivo, Teste de Consciência
Fonológica e Tarefa de Apreciação Musical de 56 sujeitos que compuseram a
amostra do presente estudo. Em seguida apresenta-se a análise crítica dos
resultados que são confrontados com estudos referidos na literatura.
Seguindo a mesma disposição utilizada na exposição dos procedimentos de
avaliação, o presente capítulo está divido em quatro partes nas quais são
apresentados, analisados e discutidos de forma comparativa entre o Grupo de
Estudo e Grupo Controle os resultados referentes a:
1. Caracterização da Amostra: dados coletados por meio da aplicação do
questionário aos pais e responsáveis dos sujeitos;
2. Avaliação Simplificada do Processamento Auditivo: testes de Localização Sonora
em cinco direções, Memória Seqüencial Verbal e Não-Verbal com três e quatro
estímulos sonoros;
3. Teste de Consciência Fonológica: Tarefas de Síntese Silábica, Síntese Fonêmica,
Reconhecimento de Rimas, Segmentação Fonêmica e Exclusão Fonêmica;
4. Apreciação Musical: quarta audição da tarefa de Apreciação Musical.
SELEÇÃO DA AMOSTRA
Verificou-se por meio da Avaliação Fonológica da Criança (YAVAS et al., 1991) que
todos os sujeitos que participaram do estudo apresentaram aquisição fonológica
completa, sem evidências de processos fonológicos
11
ou de outras alterações.
Todos os participantes apresentaram também reflexo cócleo-palpebral presente
(AZEVEDO; VILANOVA; VIEIRA, 1995; RABINOVICH, 2005) cumprindo, portanto,
os critérios de inclusão estabelecidos.
11
Os processos fonológicos são simplificações realizadas por crianças retirando as características
difíceis dos fonemas, como por exemplo: reduções (placa paca), apagamentos (martelo matelo)
ou substituições (carro calo).
75
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
Buscou-se caracterizar a amostra do estudo com base nas características que
podem exercer influência sobre o desenvolvimento infantil. Os dados coletados por
meio do questionário elaborado para o estudo foram tratados estatisticamente por
meio do teste Qui-quadrado (
2
) e estão apresentados nas Tabelas de 1 a 4
comparativamente entre Grupo Controle e Grupo de Estudo. Dados relativos à
história de vida dos sujeitos (naturalidade e região onde vivem) encontram-se nos
anexos (ANEXO H).
4.1.1 CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS E SÓCIO-ECONÔMICAS DOS SUJEITOS
TABELA 1. APRESENTAÇÃO DE FREQÜÊNCIA E P-VALOR CALCULADO COM BASE NAS RESPOSTAS
DADAS ÀS PERGUNTAS RELATIVAS ÀS VARIÁVEIS DEMOGRÁFICAS E SÓCIO-ECONÔMICAS DO
GRUPO CONTROLE E GRUPO DE ESTUDO.
Questões
Grupo Controle
Grupo Estudo
Estatística
n
%
n
%
p-valor
Sig
Sexo
0,206
NS
Masculino
13
50,0
20
66,7
Feminino
13
50,0
10
33,3
Idade
0,743
NS
5 a 5:6
15
57,7
16
53,3
5:7 a 5:11
11
42,3
14
46,7
Escolaridade da mãe
0,015*
p ≤ 0,05
Ensino Médio
8
30,8
1
3,3
Superior Incompleto
3
11,5
1
3,3
Superior Completo
13
50,0
23
73,3
Pós-graduação
2
7,7
6
20,0
Escolaridade do Pai
0,368
NS
Não declarada
0
0,0
1
3,3
Fundamental
1
3,8
0
0,0
Ensino Médio
4
15,4
1
3,3
Superior Incompleto
2
7,7
1
3,3
Superior Completo
15
57,7
20
66,7
Pós-graduação
4
15,4
7
23,3
Número de cômodos na casa
0,101
NS
De 4 a 10
18
69,2
16
53,3
Acima de 10
6
23,1
14
46,7
Não declarada
2
7,7
0
0,0
Número de Irmãos
0,119
NS
0
15
57,7
10
33,3
1
7
26,9
16
53,3
2 ou mais
4
15,4
4
13,4
NS Não significante estatisticamente
*p ≤ 0,05 (Teste Qui-quadrado) - Resultado estatisticamente significante
Sig Significância estatística
Com base nas características sócio-demográficas dos sujeitos do estudo,
demonstradas na Tabela 1, observou-se que a amostra está distribuída
76
uniformemente em relação ao sexo e a idade. Como se trata de amostra
selecionada por meio de método não-probabilístico por tipicidade (LAVILLE;
DIONNE, 1999) essas são características específicas dos grupos estudados, com as
quais não é possível fazer comparações com amostras populacionais.
Os dados do presente estudo revelam que, a maioria dos pais dos sujeitos possui o
ensino superior completo em ambos os grupos (Tabela 1). Em relação ao papel do
pai no desenvolvimento infantil, o estudo de Maria-Mengel e Linhares (2007) aponta
que quanto menor a escolaridade do pai, maior a chance de risco para problemas de
desenvolvimento. Contudo, vale lembrar que os pais do presente estudo são
escolarizados e possuem, em sua maioria, o ensino superior completo.
O nível de escolaridade materna, entretanto, não se mostrou uniformemente
distribuído, que no grupo de estudo 93,3% das mães possui ensino superior
completo ou pós-graduação e no grupo controle 57,7% possui esse nível de
escolarização. A diferença observada entre a escolaridade materna dos dois grupos
mostrou-se estatisticamente significante, sendo as mães do grupo de estudo com
escolaridade superior às mães dos sujeitos do grupo controle. Entre grupos, não
foram observadas diferenças significativas entre o nível de escolaridade dos pais
das crianças.
A diferença observada entre o nível de escolaridade materna merece destaque, uma
vez que a literatura aponta essa variável como um fator de proteção para o
desenvolvimento global da criança (MONTEIRO; FREITAS 2000; EICKMANN; LIRA;
LIMA, 2002; SAPIENZA; PEDROMÔNICO, 2005). Cabe como exemplo o estudo de
Andrade et al. (2005) no qual verificou-se que o nível da escolaridade materna tem
associação positiva com a qualidade da estimulação ambiental recebida pela criança
em relação à organização do ambiente físico e temporal, a maior oportunidade de
variação na estimulação diária e maior envolvimento emocional e verbal da mãe
com a criança. Estudos voltados para áreas específicas, como fonoaudiologia e
psicologia, também observam influências entre a escolaridade materna e aspectos
relevantes da linguagem, como a alta prevalência de alterações de fala associada
diretamente à escolaridade dos pais das crianças avaliadas (GOULART; CHIARI,
77
2007) e também maior a proporção de acertos em tarefas de linguagem
correlacionada com o maior nível de escolaridade materna (FRAGA et al., 2008).
O nível cio-econômico também foi pesquisado, que a literatura evidencia
relações causais entre essa variável e o desenvolvimento de funções
neurocognitivas de linguagem (NOBLE; NORMAN; FARAH, 2005) e também sua
associação com o desenvolvimento neuropsicomotor de crianças (PILTZ;
SCHERMAN, 2007). Em habilidades auditivas, entretanto, como a localização
sonora e memória seqüencial não-verbal, essa é uma variável que não parece ter
impacto (PEREIRA; NAVAS; SANTOS, 2002).
O indicador utilizado para a caracterização da amostra em relação ao nível sócio-
econômico foi o número de cômodos na casa dos sujeitos. É importante pontuar
que, em alguns casos em que a pesquisadora teve oportunidade de conversar com
os pais dos sujeitos, alguns deles afirmaram ter respondido a questão com base no
número de quartos da residência. Considerando esse fato, tal questão, pode não
oferecer respostas fidedignas. Contudo, as respostas obtidas nessa questão
revelaram que a maioria dos sujeitos da pesquisa (69,2% dos sujeitos do grupo
controle e 53,3% dos sujeitos do grupo de estudo) vive em casas com mais de
quatro cômodos, o que caracteriza condições adequadas de moradia sem
evidências de fatores de risco social.
Em relação ao número de irmãos, no presente estudo, observou-se que a maioria
dos sujeitos possui um ou nenhum irmão (Tabela 1), o que representa, segundo
Andrade et al. (2005) melhor qualidade de estimulação no ambiente doméstico e
está diretamente relacionado com o desempenho cognitivo infantil.
Considerando o conjunto de informações demográficas e sócio-econômicas dos
sujeitos da pesquisa, pode-se afirmar que se trata de sujeitos que não se encontram
em situação de risco e nem vulnerabilidade social evidente.
Em relação às variáveis estudadas, evidenciou-se diferença estatisticamente
significante entre os dois grupos em relação à escolaridade materna. As mães das
crianças do grupo de estudo possuem maior nível de escolaridade que as do grupo
78
controle. Assim, esta variável foi selecionada como variável explicativa e sua
influência sobre os resultados das avaliações aplicadas será discutida nas sessões
posteriores. Considerou-se a variável escolaridade materna como o indicador das
variáveis sócio-demográficas.
4.1.2 PERFIL ESCOLAR
É notória a relevância da entrada na escola para uma série de aspectos do
desenvolvimento, tais como o convívio social, o aprendizado de regras, a introdução
ao ensino formal de leitura e escrita. A caracterização do perfil escolar da amostra
objetivou identificar questões do aprendizado inicial da leitura e escrita e também
aspectos de socialização dos sujeitos no ambiente escolar.
A Tabela 2 apresenta as respostas dadas às questões do questionário relativas ao
Perfil Escolar dos sujeitos da amostra.
TABELA 2. APRESENTAÇÃO DE FREQÜÊNCIA E P-VALOR CALCULADO COM BASE NAS RESPOSTAS
DADAS ÀS PERGUNTAS RELATIVAS AO PERFIL ESCOLAR DOS SUJEITOS DO GRUPO DE ESTUDO.
Questões
Grupo Controle
Grupo Estudo
Estatística
n
%
n
%
p-valor
Sig
Período /Série
1º período
1
3,8
3
10,0
0,185
NS
2º período
25
96,2
23
76,7
3º período
0
0,0
2
6,7
1ª série
0
0,0
2
6,7
Idade em que foi
matriculado (a)
na escola (meses)
Não declarado
2
7,7
1
3,3
0,035*
p ≤ 0,05
3 a 12
16
61,5
9
30,0
13 a 24
6
23,1
15
50,0
Após 25
2
7,7
5
16,7
Gosta de ir à escola?
Sim
26
100,0
30
100,0
NA
NA
Teve dificuldades de
adaptação?
Sim
3
11,5
2
6,7
0,524
NS
Não
23
88,5
28
93,3
Possui amigos na escola?
Sim
26
100,0
30
100,0
NA
NA
Identifica letras e
números?
Sim
26
100,0
30
100,0
NA
NA
Lê e escreve o próprio
nome?
Sim
26
100,0
30
100,0
NA
NA
Lê e escreve outras
palavras?
Sim
25
96,2
22
73,3
0,020*
p ≤ 0,05
Não
1
3,8
8
26,7
Participa de atividades
extracurriculares?
Sim
21
80,8
26
86,7
0,549
NS
Não
5
19,2
4
13,3
NA Não se aplica
NS Não significante estatisticamente
* p ≤ 0,05 (Teste Qui-quadrado) Resultado estatisticamente significante
Sig Significância estatística
Pode-se observar na Tabela 2 que todas as crianças freqüentam escolas regulares e
a maioria delas freqüenta o segundo período da Educação Infantil (76,7% do Grupo
79
Controle e 96,2% do Grupo Experimental). Todos os pais referiram que seus filhos
gostam de freqüentar a escola, possuem amigos na escola, identificam letras e
números e sabem ler e escrever o próprio nome. Um número pequeno de crianças
(n=5) teve dificuldades de adaptação na escola.
Comparando-se os dois grupos, observou-se diferença estatisticamente significante
entre a idade em que as crianças foram matriculadas na escola (p-valor = 0,035). As
crianças do grupo controle foram matriculadas mais cedo na escola, com idades
entre três e doze meses, em sua maioria (61,5%). a metade das crianças do
grupo de estudo foi matriculada na escola regular com idades entre 13 e 24 meses
(Tabela 2), ou seja, possuem um ano a menos de escolarização que as crianças do
grupo controle.
Segundo Becker (2008), a tendência no Brasil é que as crianças sejam matriculadas
cada vez mais cedo na escola, ainda antes de completar um ano de idade, nos
níveis iniciais da educação infantil como conseqüência das exigências das
ocupações profissionais das mães de todos os estratos sociais e também dos
ganhos da educação coletiva, que é visto como um elemento positivo no
desenvolvimento infantil. No presente estudo, essa tendência foi observada, uma
vez que a maioria dos sujeitos havia sido matriculada na escola aos 24 meses de
idade.
Em relação a ler e escrever outras palavras, 96,2% dos sujeitos do grupo controle
referiram ter adquirido essa habilidade em comparação a 73,3% dos sujeitos do
grupo de estudo. Apesar das altas ocorrências de respostas positivas a essa
questão em ambos os grupos, observou-se diferença estatisticamente significante
(p-valor=0,02) entre eles, com a maior freqüência de respostas positivas no grupo
controle.
Considerando as respostas dadas ao questionário pelos pais dos sujeitos do grupo
controle, pode-se inferir que o maior tempo de escolarização das crianças desse
grupo relaciona-se ao aprendizado da leitura e da escrita. Pode-se supor que
crianças que entram mais cedo na escola estão mais expostas a atividades formais
de leitura e escrita e aprendem a ler mais cedo, uma vez que essas são habilidades
80
relacionadas. Estudos apontam a relação direta entre competência em leitura e
habilidades de consciência fonológica (LAZZAROTO; CIELO, 2002; ÁVILA, 2004;
PEDRAS; GERALDO; CRENITTE, 2006). É possível, portanto, que as crianças do
grupo controle, que possuem maior tempo de escolarização obtenham também
desempenho superior nas tarefas de consciência fonológica. Essa relação foi
investigada e está apresentada e discutida na sessão 4.2.2.
Devido à forte relação entre as duas variáveis em que se observou diferença
estatisticamente significante entre os grupos e como a habilidade de leitura dos
sujeitos pesquisados não foi avaliada formalmente, a fim de se evitar análises
incorretas, selecionou-se a variável idade em que foi matriculado(a) na escola
como variável explicativa a fim de verificar sua associação com os resultados das
tarefas e testes aplicados.
4.1.3 PERFIL MUSICAL
Apesar de muitas crianças não participarem de atividades formais de performance
musical, a grande maioria delas escuta música regularmente (BOAL-PALHEIROS;
HARGREAVES, 2001). As questões relativas à audição de sica em contextos
formais e informais foram pesquisadas a fim de verificar a exposição à música dos
sujeitos de forma geral e seus fatores condicionantes.
Todos os sujeitos do grupo controle e do grupo de estudo responderam questões
relativas a hábitos e preferências musicais. A Tabela 3 apresenta as respostas
dadas às questões relativas ao Perfil Musical da amostra por grupos.
Ao analisar os locais onde as crianças escutam música e o tipo de música que têm o
hábito de ouvir, verificou-se uma ampla variedade de respostas com referências a
ouvir música em casa, no carro, na igreja e na escola. Observou-se também
variedade de respostas em relação ao gênero musical que as crianças ouvem, com
referências ao ouvir música dos gêneros sertanejo, clássico, pop, rock e infantil
(Tabela 3).
81
TABELA 3. APRESENTAÇÃO DE FREQÜÊNCIA E P-VALOR CALCULADO COM BASE NAS RESPOSTAS
DADAS ÀS PERGUNTAS RELATIVAS AO LOCAL ONDE OS SUJEITOS ESCUTAM MÚSICA E O TIPO DE
MÚSICA QUE ESCUTAM DOS SUJEITOS DO GRUPO CONTROLE E GRUPO DE ESTUDO.
Questões
Grupo Controle
Grupo Estudo
Estatística
n
%
n
%
p-valor
Sig
A criança ouve
música?
Sim
26
100,0
30
100,0
NA
NA
Onde a criança escuta
música?
Na escola
Sim
17
65,4
27
90,0
0,025*
p ≤ 0,05
Não
9
34,6
3
10,0
Em casa
Sim
25
96,2
29
96,7
0,918
NS
Não
1
3,8
1
3,3
No carro
Sim
23
88,5
28
93,3
0,524
NS
Não
3
11,5
2
6,7
Na igreja
Sim
11
42,3
8
26,7
0,218
NS
Não
15
57,7
22
73,3
Que tipo de música
escuta?
Sertanejo
Sim
10
38,5
6
20,0
0,127
NS
Não
16
61,5
24
80,0
Clássico
Sim
7
26,9
20
66,7
0,003*
p ≤ 0,05
Não
19
73,1
10
33,3
Pop
Sim
22
84,6
25
83,3
0,896
NS
Não
4
15,4
5
16,7
Rock
Sim
14
53,8
19
63,3
0,472
NS
Não
12
46,2
11
36,7
Infantil
Sim
25
96,2
29
96,7
0,918
NS
Não
1
3,8
1
3,3
NA Não se aplica
NS Não significante estatisticamente
Sig Significância estatística
* p ≤ 0,05 (Teste Qui-quadrado) - Resultado estatisticamente significante
Houve diferença estatisticamente significante entre os dois grupos em relação ao
local onde os sujeitos ouvem música (p-valor = 0,025), sendo que a maioria parte
dos sujeitos do grupo de estudo (90%) escutam música na escola e ouvem música
clássica em maior freqüência (66,7%), com diferença estatisticamente significante na
comparação entre grupos (p-valor=0,003) que os sujeitos do grupo controle (26,9%)
(Tabela 2). Tais achados eram esperados, uma vez que a exposição à música do
gênero clássico está diretamente relacionada à participação das crianças em aulas
de musicalização em escolas de música especializada. Desse modo, as respostas
sobre o hábito de ouvir sica clássica e o local onde as crianças escutam música
82
estão relacionadas diretamente às características dos dois grupos, e demonstram o
contraste de crianças com e sem prática musical formal.
A idade dos sujeitos do presente estudo não permite análises aprofundadas acerca
de suas preferências musicais. Crianças de cinco anos estão na fase inicial do
desenvolvimento musical e também de suas preferências musicais, assim, o papel
que a escola e os pais exercem sobre esses aspectos é de extrema relevância. É
possível que os dados levantados no presente estudo, revelem a influência que a
participação em aulas de música exerce sobre os gêneros musicais aos quais os
sujeitos estão expostos. No grupo de estudo, além de todos os outros gêneros
musicais, o hábito de ouvir músicas do gênero clássico foi observado em maiores
freqüências, com diferença estatisticamente significante na comparação entre
grupos (p-valor=0,003). Posteriormente esse fator pode ser importante na
determinação das preferências musicais de tais sujeitos.
4.1.3.1 Caracterização da prática musical do grupo de estudo
A fim de caracterizar a prática musical dos sujeitos do grupo de estudo, esses
responderam às questões relativas ao tempo de participação em aulas de
musicalização e da prática de instrumentos musicais. A Tabela 4 apresenta a
descrição detalhada do Perfil Musical do grupo de estudo.
TABELA 4. APRESENTAÇÃO DE FREQÜÊNCIA CALCULADA COM BASE NAS RESPOSTAS DADAS ÀS
PERGUNTAS RELATIVAS AO TEMPO DE ESTUDO DE MÚSICA E PRÁTICA DE INSTRUMENTOS MUSICAIS
DOS SUJEITOS DO GRUPO DE ESTUDO.
Questões
Grupo Estudo
N
%
Tempo que participa de aulas de
música
0 a 12 meses
16
53,3
13 a24 meses
8
26,7
25 a 36 meses
2
6,7
36 a 48 meses
2
6,7
Não declarada
2
6,7
Que instrumento musical pratica
Nenhum
12
40,0
Piano
11
36,7
Violino
3
10,0
Flauta doce
1
3,3
Piano e bateria
1
3,3
Bateria
1
3,3
Violão
1
3,3
83
Pode-se observar na Tabela 4 que a maioria das crianças do grupo de estudo
(53,3%) estuda música entre quatro meses e um ano. Uma parcela menor (26,7%)
estuda música entre um e dois anos. Dos sujeitos que participam de aula de
instrumentos, 36,7% (n=11) toca piano. Tais achados estão de acordo com o estudo
de Lamont et al. (2003), que verificou os instrumentos musicais referidos como os
mais estudados como sendo piano e violão. Segundo os autores estes são
instrumentos populares que os alunos possuem em casa, o que facilita sua prática.
Acredita-se que, no presente estudo, a alta referência à prática do piano deva-se a
esse ser um instrumento musicalizador importante.
Na literatura, são encontrados estudos que referem a prática instrumental como fator
de aprimoramento de habilidades motoras (JOHANSSON, 2006) e desenvolvimento
verbal (FORGEARD et al., 2008). Entretanto, no presente estudo a prática
instrumental será considerada em conjunto com a prática musical global dos
sujeitos.
É importante lembrar que na faixa etária estudada aspectos como a apresentação
das crianças aos instrumentos musicais e experimentação de timbres são
enfatizados nas aulas de musicalização. Apesar de somente a escola de música A
oferecer aulas de instrumentos a seus alunos, na escola B, a prática instrumental é
também uma das partes integrantes do currículo musical. Deste modo, garantiu-se a
similaridade dos cenários de estudo.
Em relação às variáveis estudadas, considerou-se ouvir música do gênero
clássico como variável explicativa e sua influência sobre os resultados das
avaliações aplicadas será discutida nas sessões posteriores.
84
4.1.4 SÍNTESE DOS RESULTADOS DA CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
Os dados obtidos pela análise dos questionários permitiram identificar as principais
características dos grupos que compõem o presente estudo. Foram identificadas as
variáveis que demonstraram diferenças estatisticamente significantes na
comparação entre os dois grupos, que estão apresentadas a seguir e sintetizadas no
Quadro 8.
Escolaridade materna - variável categórica com as classes
Ensino médio
Ensino superior completo
Ensino superior incompleto
Pós-graduação
Ouvir música do gênero clássico - variável binária com resposta do tipo:
Sim
Não
Idade em que foi matriculado(a) na escola - variável categórica com as classes:
Entre 3 a 12 meses
Entre 13 a 24 meses
Após 25 meses
Ouvir música na escola - variável binária com resposta do tipo:
Sim
Não
Saber ler e escrever outras palavras (além do próprio nome) - variável binária
com resposta do tipo:
Sim
Não
QUADRO 8. APRESENTAÇÃO DO P-VALOR CALCULADO DAS VARIÁVEIS CUJAS FREQÜÊNCIAS FORAM
ESTATISTICAMENTE DIFERENTES ENTRE GRUPOS.
Variáveis
p-valor
Significância
Social
Escolaridade materna
0,015
p ≤ 0,05
Musical
Ouvir música na escola
0,025
p ≤ 0,05
Ouvir música do gênero clássico
0,030
p ≤ 0,05
Escolar
Idade em que foi matriculado(a) na escola
0,021
p ≤ 0,05
Saber ler e escrever outras palavras
0,020
p ≤ 0,05
85
Em relação aos dados coletados no questionário pode-se afirmar que os dois grupos
são bastante homogêneos. Entretanto, foram observadas cinco variáveis que
demonstraram diferença estatisticamente significante na comparação entre os dois
grupos (Quadro 8). Foram elas: a escolaridade materna, ouvir música do gênero
clássico, idade em que foi matriculado(a) na escola, ouvir música na escola, e a
habilidade de ler e escrever outras palavras além do próprio nome. Dentre elas, as
três primeiras foram selecionadas como variáveis explicativas, para fazer parte da
análise de regressão logística binária. Tais variáveis podem exercer influência nos
resultados dos testes e tarefas avaliados nesse estudo por estarem relacionadas
com questões relevantes do desenvolvimento infantil.
A escolha das variáveis explicativas foi baseada na literatura e também nos critérios
para conduzir uma análise de regressão, que pressupõe a inclusão de variáveis com
pequena colinearidade entre si, ou seja, variáveis que possibilitem o isolamento de
seus efeitos na variável dependente a fim de produzir um modelo confiável.
(PAGANO; GAUVREAU, 2004). As variáveis ouvir música na escola e ouvir música
clássica possuem grande colinearidade assim como as variáveis idade em que foi
matriculado(a) na escola e saber ler e escrever outras palavras. Quando grande
relação entre as variáveis explicativas, não é possível isolar o efeito de cada uma na
variável dependente. Dessa forma, de cada categoria (social, musical e escolar)
somente uma variável explicativa foi selecionada. As variáveis explicativas foram
incluídas na análise de regressão logística binária ltipla realizada na segunda
etapa da análise estatística.
86
4.2 TESTE DA HIPÓTESE
A seguir estão apresentados os resultados dos testes fonoaudiológicos e da tarefa
de apreciação musical, analisados por meio do teste estatístico não paramétrico
Mann-Whitney. São apresentados também os resultados das análises multivariadas
realizadas por meio das regressões logísticas binárias.
4.2.1 AVALIAÇÃO SIMPLIFICADA DO PROCESSAMENTO AUDITIVO
No presente estudo, as habilidades auditivas de localização sonora (identificação do
local de origem do som) e de ordenação temporal (identificação da ordem em que os
eventos sonoros ocorreram) foram pesquisadas por meio dos testes da Avaliação
Simplificada do Processamento Auditivo (PEREIRA,1993; 1997):
Teste de Localização Sonora em cinco direções (LS).
Teste de memória seqüencial não-verbal: que avalia a habilidade auditiva de
ordenação temporal de sons não-verbais com três - MSNV(3) - e quatro
estímulos sonoros MSNV(4);
Teste de memória seqüencial verbal: que avalia a habilidade auditiva de
ordenação temporal de sons verbais, com três MSV(3) - e quatro - MSV(4) -
estímulos sonoros;
A Tabela 5 apresenta os resultados obtidos pelos sujeitos do grupo controle e do
grupo de estudo na Avaliação Simplificada do Processamento Auditivo, analisados
por meio do teste não-paramétrico de Mann-Whitney.
87
TABELA 5. OCORRÊNCIA DE ACERTOS NO GRUPO CONTROLE E GRUPO DE ESTUDO NOS TESTES
DE MEMÓRIA SEQÜENCIAL NÃO-VERBAL COM TRÊS E QUATRO ESTÍMULOS SONOROS, MEMÓRIA
SEQÜENCIAL VERBAL COM TRÊS E QUATRO ESTÍMULOS SONOROS E LOCALIZAÇÃO SONORA EM
CINCO DIREÇÕES E P-VALOR CALCULADO NA COMPARAÇÃO ENTRE GRUPOS.
Grupo Controle
Grupo Estudo
Estatística
Teste / Tarefa
Acertos
n
%
n
%
p-valor
Sig
Memória seqüencial
não-verbal - 3 instrumentos
2
17
65,4
11
36,7
0,034
NS
3
9
34,6
19
63,3
Total
26
100,0
30
100,0
Memória seqüencial
não-verbal - 4 instrumentos
0
8
30,8
1
3,3
0,000*
p ≤ 0,05
1
12
46,2
8
26,7
2
6
23,1
9
30,0
3
0
0,0
12
40,0
Total
26
100,0
30
100,0
Memória seqüencial verbal
3 sílabas
2
4
15,4
2
6,7
0,297
NS
3
22
84,6
28
93,3
Total
26
100,0
30
100,0
Memória seqüencial verbal
4 sílabas
0
1
3,8
0
0,0
0,022*
p ≤ 0,05
1
4
15,4
1
3,3
2
10
38,5
8
26,7
3
11
42,3
21
70,0
Total
26
100,0
30
100,0
Localização Sonora
5 direções
0,304
NS
4
18
60,0
12
46,2
5
12
40,0
14
53,8
Total
26
100,0
30
100,0
NS Não significante estatisticamente
* p ≤ 0,05 – Teste de Mann-Whitney - Resultado estatisticamente significante
Sig Significância estatística
A Tabela 6 apresenta as medidas de tendência central e dispersão dos resultados
obtidos pelos sujeitos do grupo controle e do grupo de estudo na Avaliação
Simplificada do Processamento Auditivo.
88
TABELA 6. MEDIDAS ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS CALCULADAS COM BASE NOS RESULTADOS
OBSERVADOS PARA OS GRUPOS CONTROLE E GRUPO ESTUDO OBTIDOS NOS TESTES DE
MEMÓRIA SEQÜENCIAL NÃO-VERBAL COM TRÊS E QUATRO ESTÍMULOS SONOROS, MEMÓRIA
SEQÜENCIAL VERBAL COM TRÊS E QUATRO ESTÍMULOS SONOROS E LOCALIZAÇÃO SONORA EM
CINCO DIREÇÕES.
Grupo Controle
Grupo Estudo
Teste
Média
DP
Mediana
Moda
Média
DP
Mediana
Moda
MSNV
3 instrumentos
2,34
0,48
2,00
2,00
2,63
0,49
3,00
3,00
MSNV
4 instrumentos
0,92
0,74
1,00
1,00
2,06
0,90
2,00
3,00
MSV
3 sílabas
2,84
0,36
3,00
3,00
2,93
0,25
3,00
3,00
MSV
4 sílabas
2,19
0,84
2,00
3,00
2,66
0,54
3,00
3,00
LS
5 direções
4,53
0,51
5,00
5,00
4,40
0,49
4,00
4,00
DP- Desvio Padrão
MSNV Teste de Memória seqüencial não-verbal
MSV Teste de Memória seqüencial verbal
LS Teste de Localização Sonora em cinco direções
As Figuras 3 e 4 referem-se respectivamente aos resultados no teste de memória
seqüencial não-verbal com quatro instrumentos e no teste de memória seqüencial
verbal com quatro sílabas, que apresentaram diferenças estatisticamente
significantes entre grupos analisados por meio do teste Mann-Whitney.
.
0
1
2
3
Acertos
Grupo Controle
Grupo Estudo
FIGURA 3. GRÁFICO ILUSTRATIVO DO DESEMPENHO DOS SUJEITOS DO GRUPO CONTROLE E
GRUPO ESTUDO NO TESTE DE MEMÓRIA SEQÜENCIAL NÃO-VERBAL COM QUATRO INSTRUMENTOS.
89
Os testes de MSNV(4) e MSV(4) apresentaram diferenças estatisticamente
significantes na comparação dos desempenhos entre grupos por meio do teste
Mann-Whitney. A associação entre os resultados nos testes MSNV(4) e MSV(4), a
participação em aulas de música e as demais variáveis explicativas foi testada por
meio do modelo de regressão logística apresentado a seguir na Tabela 7.
0
1
2
3
Acertos
Grupo Estudo
Grupo Controle
FIGURA 4. GRÁFICO ILUSTRATIVO DO DESEMPENHO DOS SUJEITOS DO GRUPO CONTROLE E
GRUPO ESTUDO NO TESTE DE MEMÓRIA SEQÜENCIAL VERBAL COM QUATRO SÍLABAS.
90
TABELA 7. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA REGRESSÃO LOGÍSTICA BINÁRIA MÚLTIPLA PARA
ASSOCIAÇÃO DOS TESTES DE MEMÓRIA SEQÜENCIAL NÃO-VERBAL COM TRÊS E QUATRO
ESTÍMULOS SONOROS, MEMÓRIA SEQÜENCIAL VERBAL COM TRÊS E QUATRO ESTÍMULOS SONOROS
COM AS VARIÁVEIS EXPLICATIVAS.
Variáveis explicativas
Significância
Razões de
chance (OR)
IC (95%)
p-valor
Memória
seqüencial
não-verbal
4 instrumentos
Grupo
(Controle Referência)
0,006*
9,31
1,881 46,126
Idade em que entrou na
escola
0,250
1,75
0,673 4,590
Ouve música clássica
0,893
1,11
0,233 5,314
Escolaridade da mãe
0,925
1,04
0,435 2,503
Sexo
0,170
0,332
0,069 1,604
Memória
seqüencial verbal
4 sílabas
Grupo
(Controle Referência)
0,254
4,396
0,345 56,084
Idade em que entrou na
escola
0,875
1,145
0,214 6,136
Ouve música clássica
0,421
2,891
0,218 38,355
Escolaridade da mãe
0,786
0,868
0,313 2,407
Sexo
0,619
0,580
0,068 4,969
IC- Intervalo de Confiança
OR Odds Ratio
* p ≤ 0,05 - Resultado estatisticamente significante
Ao analisarmos as habilidades auditivas de ordenação temporal e localização
sonora, verificou-se que o desempenho dos dois grupos foi o esperado para os
testes de MSNV(3) e MSV(3) como o descrito por Pereira (1997) para crianças de
cinco anos (Tabela 5). Apesar de não ter sido observada diferença estatisticamente
significante entre o desempenho dos dois grupos, os sujeitos do grupo de estudo
obtiveram maior número de acertos no teste de MSNV(3). no teste de MSV(3), o
desempenho dos dois grupos foi semelhante, pois a maioria dos sujeitos acertou as
três seqüencias apresentadas. Os resultados encontrados no presente estudo
corroboram os de Santos et al. (2001), e de Toniolo et al. (2001), que verificaram
melhor desempenho dos sujeitos na tarefa de memória seqüencial verbal quando
comparada a de memória seqüencial não-verbal. Em relação ao teste MSV(3) os
resultados também de acordo com os encontrados por Gil et al. (2000), que não
verificaram diferenças entre grupos com e sem experiência musical nesta habilidade.
Em relação ao sexo, não foram observadas diferenças entre o desempenho dos
sujeitos nos testes da Avaliação Simplificada do Processamento Auditivo (ANEXO I).
91
Segundo o estudo de Soares et al. (1998) nas tarefas de MSNV(3) e de MSV(3), os
resultados observados para o sexo masculino foram estatisticamente inferiores às
do sexo feminino. Os critérios de inclusão adotados neste estudo podem ter
influenciado tais resultados, já que a amostra selecionada foi muito homogênea.
As respostas dadas pelos sujeitos do grupo de estudo nos testes da Avaliação
Simplificada do Processamento Auditivo mostraram-se mais organizadas que as
respostas dos sujeitos do grupo controle, conforme o observado na Tabela 6. A
maior freqüência de acertos observada dos sujeitos do grupo de estudo é sempre
três acertos nos testes de MSNV(3), MSNV(4), MSV(3)e MSV(4). O mesmo
equilíbrio nas respostas não foi observado, nos resultados dos sujeitos do grupo
controle. Tais resultados corroboram o estudo de Amatucci e Lupion (2001), no qual
se verificou que crianças com prática musical (participantes de coral) apresentaram
habilidades auditivas de memória para sons em seqüência com respostas mais
organizadas em relação às crianças sem prática musical.
Nos testes de MSNV(4) e MSV(4) observou-se diferença estatisticamente
significante entre o desempenho do grupo de estudo e o do grupo controle (Tabela
5). Silva, et al. (2000), Gil et al. (2000) e Ishii, Arashiro e Pereira (2006) verificaram
que sujeitos com prática musical obtiveram desempenhos estatisticamente
superiores em tarefas de ordenação temporal envolvendo o reconhecimento de
padrões de freqüência quando comparados a sujeitos sem prática musical.
Entretanto, alguns estudos demonstraram não haver diferenças estatisticamente
significantes entre grupos de músicos e não-músicos em tarefas de ordenação
temporal envolvendo padrões de duração (GIL et al., 2000; BORGES; SHOCHAT,
2005; CIOQUETA, 2006). É importante ressaltar, que, assim como o observado no
presente estudo, nos estudos revisados, o desempenho do grupo dos músicos nas
tarefas auditivas que avaliam a habilidade de ordenação temporal é superior ao de
não-músicos, mesmo quando não se observa significância estatística.
Um resultado relevante a ser apontado é o fato de 70% dos sujeitos do grupo de
estudo acertarem duas ou três seqüências de sons no teste de MSNV(4) e de 96,7%
dos sujeitos desse grupo acertar duas ou três seqüências de três sons no teste de
MSV(4) aos cinco anos (Tabela 5). De acordo com Pereira (1997), espera-se que
92
somente a partir dos seis anos, crianças acertem duas seqüências de quatro sons
na tarefa de MSNV(4). O estudo de Corona et al. (2005) demonstrou que somente a
partir dos seis anos, crianças foram capazes de acertar duas das três seqüências de
quatro sílabas apresentadas no teste MSV(4).
Por meio da análise de regressão logística realizada, verificou-se que a diferença
encontrada entre os dois grupos no teste de MSNV(4) foi devida à variável
participação dos sujeitos em aulas de música. Ou seja, nos grupos estudados, as
crianças que participam de aulas de musicalização apresentaram chances 9,31
vezes maiores de obter desempenho ótimo (acertar duas ou três seqüências de
quatro sons) no teste de MSNV(4), quando comparadas às crianças sem prática
musical. Verificou-se, portanto que, crianças que participam de aulas de música
tiveram desempenho semelhante ao de crianças de seis anos no teste MSNV(4),
como o verificado na literatura de referência (CORONA et al., 2005), o que foi
determinado por sua prática musical.
em relação ao teste MSV(4), observou-se que a diferença encontrada entre os
dois grupos não pode ser explicada pela prática musical dos sujeitos. O
desempenho dos sujeitos foi mediado por uma ou mais das variáveis explicativas
analisadas. Não foi possível chegar a uma explicação única nesse caso, mas no
conjunto de variáveis analisadas, a prática musical também estava presente entre
aquelas que influenciam o desempenho dos sujeitos no teste. Em estudo realizado
por Ho et al. (2003) verificou-se que sujeitos com treinamento musical obtiveram
melhor desempenho na tarefa de memória verbal. Os resultados encontrados por
esses pesquisadores deveram-se provavelmente ao fato de os sujeitos do estudo
serem adultos e a tarefa proposta no estudo considerar somente questões de
evocação e não de ordenação temporal.
Não foram observadas diferenças estatisticamente significantes entre grupos no
Teste de Localização Sonora em cinco direções. Esse resultado pode ter relação
com a natureza da habilidade de localização sonora, que acontece, em parte pela
discriminação das diferenças de intensidade, freqüência e tempo entre os sons que
chegam às duas orelhas, gerando diferenças interaurais (OLIVEIRA et al., 2008).
Além disso, pode também ter relação com as questões de cronicidade de
93
desenvolvimento, pois aos cinco anos as crianças já possuem a habilidade de
localização sonora em pelo menos quatro direções (PEREIRA, 1993, 1997).
Tanto a música quanto a fala podem ser decompostas em seus componentes
básicos de duração, freqüência e intensidade. A percepção auditiva de padrões
temporais desses componentes possibilita a análise, compreensão e aprendizado
tanto dos elementos da música como dos da linguagem. Crianças que participam de
aulas de musicalização estão expostas a atividades que envolvem a discriminação
de alturas, duração, intensidade, o reconhecimento de seqüências de padrões de
duração (rítmicos) e de padrões de alturas (melódicos). A percepção musical
envolve primordialmente a organização perceptual de padrões no tempo. Pode-se
supor que o desempenho das crianças com prática musical observado nos testes de
MSNV(4) e MSV(4) deve-se ao treinamento auditivo realizado durante as aulas de
música que envolve habilidades de ordenação temporal e memória auditiva.
Embora utilizando testes diferentes, estudos previamente realizados no Brasil já
verificaram a existência de diferenças entre grupos de músicos e não-músicos em
outras habilidades auditivas, tais como na resolução e ordenação temporal (ISHII;
ARASHIRO; PEREIRA, 2006; CIOQUETA, 2006) e figura-fundo (SONCINI; COSTA,
2006; CIOQUETA, 2006). Tais habilidades auditivas são essenciais para o
reconhecimento de fala e conseqüentemente o aprendizado da língua quando nos
referimos às crianças em desenvolvimento.
No presente estudo foram estudadas as habilidades auditivas de ordenação
temporal e a localização sonora. A ordenação temporal de estímulos sonoros é uma
das capacidades mais básicas do sistema auditivo, e também uma de suas funções
mais importantes, pois é por meio dela que o ouvinte faz as discriminações
necessárias para a interpretação da fala (PEREIRA; CAVADAS, 2003). A memória
auditiva é a responsável pela aquisição, armazenamento e arquivamento das
informações também está envolvida no processamento das informações acústicas e
relaciona-se intimamente ao processo de aprendizagem (PEREIRA, 2004). Existem
evidências de que o treinamento auditivo é eficaz na reabilitação de habilidades
auditivas alteradas (KOSLOWISK, 2004; ZALCMAN; SCHOCHAT, 2007). As
desordens do processamento auditivo são comumente associadas a distúrbios de
94
fala, linguagem, leitura e escrita (FELIPPE; COLAFÊMINA, 2002; NEVES;
SCHOCHAT, 2005; FURBETA; FELIPPE, 2005; KAMINSKI; TORCHETTO; MOTA,
2006). Assim, o treinamento musical pode ser apontado como uma das formas de se
melhorar aspectos do processamento auditivo, e pode ser considerado como um
fator de proteção em relação a distúrbios da comunicação humana.
As análises dos testes da Avaliação Simplificada do Processamento Auditivo nas
quais foi observada diferença estatisticamente significante na comparação entre
grupos estão sintetizadas no Quadro 9.
QUADRO 9. APRESENTAÇÃO DO P-VALOR CALCULADO E RAZÕES DE CHANCE DOS TESTES DA
AVALIAÇÃO SIMPLIFICADA DO PROCESSAMENTO AUDITIVO QUE FORAM ESTATISTICAMENTE
DIFERENTES ENTRE GRUPOS.
Teste / Tarefa
Teste de Mann-Whitney
Regressão Logística Binária
Múltipla
p-valor
Sig
p-valor
Sig
OR
Memória seqüencial não-verbal
4 instrumentos
0,000
p ≤ 0,05
0,006
p ≤ 0,05
9,31
Memória seqüencial verbal
4 sílabas
0,022
p ≤ 0,05
0,254
NS
NS
OR Odds Ratio
NS Não significante estatisticamente
Sig Significância Estatística
95
4.2.2 TESTE DE CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA
A consciência fonológica refere-se às habilidades de se refletir e manipular os
segmentos da fala, baseada na estrutura sonora das palavras de forma
independente do conteúdo semântico da mensagem (CAPOVILLA; CAPOVILLA,
2002, 2003). O presente estudo buscou verificar as relações existentes entre a
prática musical de crianças de cinco anos e habilidades de consciência fonológica,
testadas por meio do Teste de Consciência Fonológica (TCF) (SANTOS; PEREIRA,
1997). As tarefas do TCF aplicadas foram as de Síntese Silábica, Síntese
Fonêmica, Reconhecimento de Rimas, Segmentação Fonêmica e Exclusão
Fonêmica, cada um composto por cinco itens.
A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos pelos sujeitos do grupo controle e do
grupo de estudo no Teste de Consciência Fonológica Síntese Silábica, Síntese
Fonêmica, Reconhecimento de Rimas, Segmentação Fonêmica, Exclusão Fonêmica
analisados por meio do teste não-paramétrico de Mann-Whitney.
96
TABELA 8. OCORRÊNCIA DE ACERTOS NO GRUPO CONTROLE E GRUPO DE ESTUDO NAS TAREFAS
DE SÍNTESE SILÁBICA, SÍNTESE FONÊMICA, RECONHECIMENTO DE RIMAS, SEGMENTAÇÃO
FONÊMICA E EXCLUSÃO FONÊMICA E P-VALOR CALCULADO NA COMPARAÇÃO ENTRE GRUPOS
Grupo Controle
Grupo Estudo
Estatística
Acertos
n
%
n
%
p-valor
Sig
Síntese Silábica
5
26
100,0
30
100,0
NA
NA
Total
26
100,0
30
100,0
Síntese
Fonêmica
0
5
19,2
1
3,3
0,000*
p ≤ 0,05
1
7
26,9
2
6,7
2
10
38,5
3
10,0
3
1
3,8
7
23,3
4
2
7,7
13
43,3
5
1
3,8
4
13,3
Total
26
100,0
30
100,0
Reconhecimento
de Rimas
0
1
3,8
0
0
0,001*
p ≤ 0,05
1
1
3,8
0
0
2
7
26,9
1
3,3
3
7
26,9
4
13,3
4
4
15,4
9
30,0
5
6
23,1
16
53,3
Total
26
100,0
30
100,0
Segmentação
Fonêmica
0
23
88,5
26
86,7
0,808
NS
1
1
3,8
1
3,3
2
2
7,7
2
6,7
3
0
0,0
0
0,0
4
0
0,0
0
0,0
5
0
0,0
1
3,3
Total
26
100,0
30
100,0
Exclusão
Fonêmica
0
14
53,8
9
30,0
0,002*
p ≤ 0,05
1
6
23,1
2
6,7
2
2
7,7
2
6,7
3
3
11,5
4
13,3
4
1
3,8
3
10,0
5
0
0
10
33,3
Total
26
100,0
30
100,0
NA Não se aplica
NS Não significante estatisticamente
* p ≤ 0,05 – Teste de Mann-Whitney - Resultado estatisticamente significante
Sig Significância estatística
97
TABELA 9. MEDIDAS ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS CALCULADAS COM BASE NOS RESULTADOS
OBSERVADOS PARA OS GRUPOS CONTROLE E GRUPO ESTUDO OBTIDOS NAS TAREFAS DE
SÍNTESE SILÁBICA, SÍNTESE FONÊMICA, RECONHECIMENTO DE RIMAS, SEGMENTAÇÃO FONÊMICA
E EXCLUSÃO FONÊMICA DO TCF.
Grupo Controle
Grupo Estudo
Média
DP
Mediana
Moda
Média
DP
Mediana
Moda
Síntese Silábica
5,00
0,00
5,00
5,00
5,00
0,00
5,00
5,00
Síntese Fonêmica
1,65
1,29
2,00
2,00
3,36
1,24
4,00
4,00
Reconhecimento de
Rimas
3,15
1,37
3,00
2,00
4,33
0,84
5,00
5,00
Segmentação
Fonêmica
0,19
0,56
0,00
0,00
0,33
1,02
0,00
0,00
Exclusão Fonêmica
0,88
1,21
0,00
0,00
2,66
2,12
3,00
5,00
DP- Desvio Padrão
As figuras 5, 6 e 7 referem-se aos resultados obtidos nas tarefas de Síntese
Fonêmica, Reconhecimento de Rimas e Exclusão Fonêmica, que se mostraram
estatisticamente significantes analisados por meio do teste Mann-Whitney.
FIGURA 5. GRÁFICO ILUSTRATIVO DO DESEMPENHO DOS SUJEITOS DO GRUPO CONTROLE E
GRUPO ESTUDO NA TAREFA DE SÍNTESE FONÊMICA DO TESTE DE CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA.
0
1
2
3
4
5
Acertos
Grupo Controle Grupo Estudo
98
FIGURA 6. GRÁFICO ILUSTRATIVO DO DESEMPENHO DOS SUJEITOS DO GRUPO CONTROLE E
GRUPO ESTUDO NA TAREFA DE RECONHECIMENTO DE RIMAS DO TESTE DE CONSCIÊNCIA
FONOLÓGICA.
FIGURA 7. GRÁFICO ILUSTRATIVO DO DESEMPENHO DOS SUJEITOS DO GRUPO CONTROLE E
GRUPO ESTUDO NA TAREFA DE EXCLUSÃO FONÊMICA DO TESTE DE CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA.
O modelo de regressão logística apresentado a seguir foi realizado a fim de verificar
a associação entre o desempenho nas tarefas de Síntese Fonêmica,
Reconhecimento de Rimas e Exclusão Fonêmica do Teste de Consciência
Fonológica e a participação em aulas de música e as demais variáveis explicativas
selecionadas.
0
1
2
3
4
5
Acertos
Grupo Controle Grupo Estudo
0
1
2
3
4
5
Acertos
Grupo Controle
Grupo Estudo
99
TABELA 10. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA REGRESSÃO LOGÍSTICA PARA ASSOCIAÇÃO DOS
TESTES DE SÍNTESE FONÊMICA, RECONHECIMENTO DE RIMAS E EXCLUSÃO FONÊMICA DO TCF
COM AS VARIÁVEIS EXPLICATIVAS.
Variáveis explicativas
Significância
Razões de
chance (OR)
IC (95%)
Síntese Fonêmica
Grupo
(Controle Referência)
0,000*
30,396
4,80 192,34
Idade que entrou na escola
0,518
0,669
0,19 2,26
Ouve música clássica
0,740
1,347
0,23 7,81
Escolaridade da mãe
0,115
2,605
0,79 8,55
Sexo
0,650
0,657
0,10 4,02
Reconhecimento
de Rimas
Grupo
(Controle Referência)
0,037*
12,464
1,16 133,04
Idade que entrou na escola
0,134
3,730
0,66 20,84
Ouve música clássica
0,567
1,828
0,23 14,42
Escolaridade da mãe
0,346
0,651
0,26 1,58
Sexo
0,743
1,341
0,23 7,74
Exclusão
Fonêmica
Grupo
(Controle Referência)
0,015*
7,167
1,45 35,25
Idade que entrou na escola
0,474
0,699
0,26 1,86
Ouve música clássica
0,320
2,078
0,49 8,78
Escolaridade da mãe
0,648
0,821
0,35 1,91
Sexo
0,271
2,195
0,54 8,90
IC- Intervalo de Confiança
OR Odds Ratio
* p ≤ 0,05 - Resultado estatisticamente significante
Os resultados obtidos baseados nos dados coletados demonstraram que todos os
sujeitos da pesquisa (n=56) realizaram corretamente os cinco itens da tarefa de
Síntese Silábica do TCF. A maioria dos sujeitos (88,5% das crianças do grupo
controle e 86,7% das crianças do grupo de estudo) não conseguiu realizar
corretamente nenhum dos itens da tarefa de segmentação fonêmica. Capovilla,
Capovilla (1997, 1998) afirmam que o desenvolvimento das habilidades silábicas
precede o das habilidades fonêmicas, ou seja, a consciência silábica desenvolve-se
mais precocemente que a consciência fonêmica. Os achados do presente estudo
estão de acordo com os de Capovilla e Capovilla (1997; 1998); Salles et al. (1999);
Pedras, Geraldo e Crenitte (2002), Cavalcante e Mendes (2003), que observaram os
maiores escores em tarefas de consciência silábica e os menores escores nas
tarefas que envolviam habilidades de consciência fonêmica. Tais resultados indicam
100
que a consciência silábica está presente em idades pré-escolares e independe do
nível de escolarização como o difundido nos estudos revisados, citados
anteriormente.
Assim como na Avaliação Simplificada do Processamento Auditivo, também não
foram observadas diferenças estatisticamente significantes entre grupos em relação
ao sexo (ANEXO I). Esse achado está de acordo com os resultados de Salles et al.
(1999) que verificaram que habilidades de consciência independem do sexo dos
sujeitos.
Verificou-se diferença estatisticamente significante entre o desempenho dos sujeitos
dos dois grupos nas tarefas de Reconhecimento de Rimas (p-valor = 0,001), Síntese
Fonêmica (p-valor = 0,000) e Exclusão Fonêmica (p-valor = 0,002) . Nas três tarefas,
os sujeitos do grupo de estudo obtiveram escores superiores aos dos sujeitos do
grupo controle (Tabelas 8 e 9).
Os sujeitos do presente estudo encontram-se, em sua maioria, matriculados na
Educação Infantil (Tabela 2) em fase inicial de alfabetização. A tarefa de
Reconhecimento de Rimas baseia-se no reconhecimento das semelhanças
fonológicas entre as palavras, em grande parte na estrutura sonora das sílabas.
Alguns estudos demonstram que a consciência da rima está presente em idades
precoces e anteriores à alfabetização (GODOY, 2003; MALUF; BARREIRA, 1997).
No presente estudo observou-se que somente um dos sujeitos não acertou nenhum
item da tarefa de reconhecimento de rimas, ou seja, a maioria dos sujeitos de ambos
os grupos, apresenta a consciência da rima, o que era esperado de acordo com a
literatura de referência. A regressão logística realizada demonstrou que a prática
musical dos sujeitos (Tabela 10) foi a variável explicativa determinante em tal
resultado.
Fischer e McDonald (2001) sugerem que atividades musicais podem ser
desenvolvidas em sala de aula a fim de promover a estimulação da consciência
fonológica com a colaboração entre educadores e professores música. Hansen e
Bernstorf (2002) afirmam que muitas tarefas de leitura envolvem recitar versos e
canções com grande quantidade de rimas e padrões sonoros. Em contrapartida,
101
muitas tarefas apresentadas em aulas de música envolvem atividades com divisão
silábica, para o desenvolvimento de tarefas de rítmica, por exemplo. A influência
mútua entre a prática musical e habilidades de reconhecimento de rimas é uma
explicação possível para o achado do presente estudo, que as crianças que
estudam música são expostas com mais freqüência a esse tipo de estímulo, e têm,
portanto, maior facilidade em reconhecer rimas. Além disso, sabe-se que o treino de
habilidades de consciência fonológica, realizado com fins terapêuticos, é
responsável por otimização dos desempenhos destas habilidades (CAPOVILLA;
CAPOVILLA, 2000; CÁRNIO; SANTOS, 2005). A prática musical das crianças do
grupo de estudo parece ter atuado como um treino em relação ao Reconhecimento
de Rimas.
Grande parte dos estudos realizados (SALLES et al., 1999; LAZZAROTTO;
CIELO, 2002; CIELO, 2003; GINDRI; KESKE-SOARES; MOTA, 2007) observou que
a experiência escolar da criança exerce influência sobre o desenvolvimento das
habilidades de consciência fonológica de crianças e que algumas habilidades, tal
como a consciência fonêmica, são aprendidas com ensino formal especificamente
no ambiente escolar. No presente estudo, verificou-se que houve diferença
estatisticamente significante entre os dois grupos em relação à idade em que os
sujeitos entram na escola. As crianças do grupo controle possuem cerca de um ano
a mais de escolarização que as crianças do grupo de estudo (Tabela 2). Dessa
forma, seria esperado que as crianças do grupo controle obtivessem resultados
superiores quando comparados aos sujeitos do grupo de estudo nas tarefas de
consciência fonêmica avaliadas. Tal resultado, entretanto, não foi encontrado, uma
vez que os sujeitos do grupo de estudo obtiveram resultados estatisticamente
superiores nas tarefas de Síntese Fonêmica (p-valor= 0,000) e de Exclusão
Fonêmica (p-valor= 0,002). Uma explicação possível é que crianças com prática
musical em níveis iniciais de aquisição de leitura baseiam-se na estrutura sonora
das palavras para executar tarefas de consciência fonêmica e que, no grupo
estudado, a prática musical favoreceu o desempenho em tais tarefas.
É interessante notar que a média de acertos dos sujeitos do grupo de estudo na
tarefa de Exclusão Fonêmica foi de 2,66. Em estudo realizado por Cielo (2003) foi
observado desempenho nulo nesta tarefa em crianças de quatro e cinco anos, o que
102
está de acordo com os resultados dos sujeitos do grupo controle, que estão dentro
dos padrões da referência de acordo com a literatura.
A análise de regressão logística binária demonstrou que a única variável explicativa
que se associou com significância estatística aos resultados das tarefas de Síntese
e de Exclusão Fonêmica foi a prática musical (Tabela 10). Observou-se que os
sujeitos do grupo de estudo apresentam chances 30,39 vezes maiores de obter
desempenho ótimo (acertar três, quatro ou cinco itens na tarefa do TCF) na tarefa de
Síntese Fonêmica e chances 7,16 vezes maiores de obter desempenho ótimo na
tarefa de Exclusão Fonêmica quando comparados aos sujeitos do grupo controle.
Verificou-se, portanto que, controlando as variáveis que poderiam exercer influência
sobre as habilidades dos sujeitos em tarefas de consciência fonológica, a prática
musical foi determinante no desempenho superior dos sujeitos do grupo de estudo
sobre o desempenho do grupo controle.
Os achados do presente estudo corroboram os de Lamb e Gregory (1993) que
verificaram relações positivas entre bons desempenhos em tarefas de discriminação
de alturas, de consciência fonêmica e de leitura. Os resultados aqui encontrados
também estão de acordo com os de Anvari et al. (2002) e Peynircoglu, Durgunoglu e
Oney-Kusefoglu (2002), Gromko (2005) que verificaram correlação estatisticamente
significante entre consciência fonêmica (síntese, exclusão e segmentação
fonêmica), habilidade musical e leitura em crianças na mesma faixa etária estudada
e com os de David et al. (2007) que verificaram relações entre consciência
fonológica, velocidade de nomeação, e habilidades de produção rítmica em crianças
nas séries iniciais de educação infantil.
Algumas pesquisas demonstram que distúrbios do processamento auditivo se
relacionam com problemas de leitura e escrita (FELIPPE; COLAFÊMINA, 2002;
FURBETA; FELIPPE, 2005) e que habilidades de resolução e ordenação temporal
também estão envolvidas com as questões de leitura (TALLAL; GAAB, 2006). Uma
das explicações possíveis para o desempenho dos sujeitos do grupo de estudo nas
tarefas do TCF pode basear-se em parte nos desempenhos nas tarefas da
Avaliação Simplificada do Processamento Auditivo, anteriormente discutidos. As
tarefas de consciência fonológica dependem, em certa medida, das habilidades
103
auditivas dos sujeitos. No presente estudo, observou-se que os sujeitos do grupo de
estudo obtiveram desempenhos superiores em tarefas de processamento auditivo
avaliadas, o que pode também ter favorecido o desempenho nas tarefas de
consciência fonológica.
A música pode ser definida por alguns de seus parâmetros fundamentais como o
ritmo, que são segmentações do tempo, e a divisão do som em alturas, que formam
a escala musical. A linguagem também é composta por uma seqüência de eventos
no tempo com ritmo específico e informações segmentais (fonemas) e supra-
segmentais (prosódia). Em ambos os casos, música e linguagem são sistemas que
obedecem a regras compostos de elementos básicos (notas, acordes, fonemas e
palavras) que são combinados em estruturas de ordem superior (frases e temas
musicais, sentenças e temas) por meio de regras (harmonia e sintaxe) (BESSON;
SCHON, 2006). A similaridade das habilidades auditivas necessárias para a análise
e organização dos estímulos musicais pode ser um fator que ajuda na análise e
organização dos sons da fala, e contribuir para a realização de tarefas de
consciência fonológica.
No presente estudo verificou-se que crianças com prática musical apresentaram
melhor desempenho em tarefas que envolvem habilidades de consciência fonológica
que crianças sem prática musical. Tais resultados, associados aos resultados
observados nas tarefas de Processamento Auditivo indicam que habilidades
auditivas envolvidas na percepção musical podem também estar envolvidas na
aquisição e no desenvolvimento das habilidades de consciência fonológica. Pode-se
dizer que a prática musical fornece subsídios para a manipulação sonora de
estímulos lingüísticos e também não-lingüísticos.
Grande parte dos estudos sobre consciência fonológica verifica sua relação com a
aquisição e o desenvolvimento da leitura e da escrita (MALUF; BARRERA, 1997;
GODOY, 2003; BARRERA; MALUF, 2003; CAVALCANTE; MENDES, 2003; CIELO,
2004, SANTAMARIA; LEITÃO; ASSENCIO-FERREIRA, 2004; BRITTO et al., 2006,
PEDRAS; GERALDO; CRENITTE, 2006). Sendo assim, é possível supor que o
processamento auditivo necessário para a percepção musical esteja relacionado ao
processamento necessário para a consciência fonológica. Dessa forma, o efeito da
104
prática musical poderá também ser observado nas habilidades posteriores de leitura
e escrita.
As análises das tarefas do Teste de Consciência Fonológica nas quais foi observada
diferença estatisticamente significante na comparação entre os grupos estão
sintetizadas no Quadro 10.
QUADRO 10. APRESENTAÇÃO DO P-VALOR CALCULADO E RAZÕES DE CHANCE DAS TAREFAS DO
TESTE DE CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA ESTATISTICAMENTE DIFERENTES ENTRE GRUPOS.
Teste / Tarefa
Teste de Mann-Whitney
Regressão Logística Binária
Múltipla
p-valor
Sig
p-valor
Sig
OR
Síntese Fonêmica
0,000
p ≤ 0,05
0,000
p ≤ 0,05
30,390
Reconhecimento de Rimas
0,001
p ≤ 0,05
0,037
p ≤ 0,05
12,464
Exclusão Fonêmica
0,002
p ≤ 0,05
0,015
p ≤ 0,05
7,167
OR Odds Ratio
Sig Significância Estatística
105
4.2.3. APRECIAÇÃO MUSICAL
O objetivo da tarefa de apreciação musical foi observar a interface entre uma
atividade de audição e uma atividade musical. Para tanto, selecionou-se uma peça
de curta duração com elementos seqüenciais onomatopaicos a fim de se observar o
comportamento das crianças frente a uma tarefa de evocação de estímulos auditivos
seqüenciais.
A Tabela 11 apresenta o desempenho dos sujeitos na quarta audição da tarefa de
Apreciação Musical analisados por meio do teste não-paramétrico de Mann-Whitney.
TABELA 11. OCORRÊNCIA DE ACERTOS NO GRUPO CONTROLE E GRUPO DE ESTUDO NA TAREFA
DE APRECIAÇÃO MUSICA E P-VALOR CALCULADO NA COMPARAÇÃO ENTRE GRUPOS
Grupo Controle
Grupo Estudo
p-valor
Acertos
n
%
n
%
Apreciação Musical
0
11
42,3
3
10,0
0,000*
1
7
26,9
4
13,3
2
5
19,2
8
26,7
3
1
3,8
9
30,0
4
2
7,7
6
20,0
Total
26
100,0
30
100,0
* p ≤ 0,05 – Teste de Mann-Whitney - Resultado estatisticamente significante
A Tabela 12 apresenta as medidas de tendência central e de dispersão observadas
nas respostas à Tarefa de Apreciação Musical.
TABELA 12. MEDIDAS ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS CALCULADAS COM BASE NOS RESULTADOS
OBSERVADOS PARA OS GRUPOS CONTROLE E GRUPO ESTUDO OBTIDOS NA TAREFA DE
APRECIAÇÃO MUSICAL.
Grupo Controle
Grupo Estudo
Média
DP
Mediana
Moda
Média
DP
Mediana
Moda
Apreciação
Musical
1,07
1,27
1,00
0
2,36
1,24
2,50
3,00
A figura 8 apresenta os resultados obtidos na tarefa de Apreciação Musical, que
demonstrou diferença estatisticamente significante entre os grupos de estudo e
controle analisados por meio do teste Mann-Whitney.
106
0,00 1,00
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
Acertos
Grupo Controle
Grupo Estudo
FIGURA 8. GRÁFICO ILUSTRATIVO DO DESEMPENHO DOS SUJEITOS DO GRUPO CONTROLE E
GRUPO ESTUDO NA TAREFA APRECIAÇÃO MUSICAL.
O modelo de regressão logística apresentado a seguir (Tabela 13) foi realizado a fim
de verificar a associação entre o desempenho na tarefa de Apreciação Musical, a
participação em aulas de música e as demais variáveis explicativas.
TABELA 13. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA REGRESSÃO LOGÍSTICA PARA ASSOCIAÇÃO DA
TAREFA DE APRECIAÇÃO MUSICAL COM AS VARIÁVEIS EXPLICATIVAS.
Variáveis explicativas
Significância
Razões de
chance (OR)
IC (95%)
Apreciação
Musical
Grupo
(Controle Referência)
0,018*
8,179
1,435 46,609
Idade que entrou na escola
0,136
1,658
0,853 3,225
Ouve música clássica
0,597
1,519
0,323 7,154
Escolaridade da mãe
0,446
0,694
0,272 1,775
Sexo
0,534
0,622
0,140 2,776
IC - Intervalo de Confiança
OR Odds Ratio
* p ≤ 0,05 - Resultado estatisticamente significante
Os resultados obtidos com base nos dados coletados na Tarefa de Apreciação
Musical demonstraram que a média de acertos dos sujeitos do grupo controle foi de
1,07, sendo que a maior parte dos sujeitos desse grupo (42,3%) não obteve nenhum
acerto. no grupo de estudo, a média de acertos foi de 2,36 e a maior freqüência
de respostas corretas foi de três acertos (30%). Portanto, observou-se diferença
107
estatisticamente significante entre o desempenho dos sujeitos na Tarefa de
Apreciação Musical (p-valor = 0,000) com desempenho superior do grupo de estudo.
A análise de regressão logística demonstrou que a diferença encontrada entre os
dois grupos na tarefa de Apreciação Musical associou-se com significância
estatística somente à participação dos sujeitos em aula de música. As crianças com
prática musical apresentaram chances 8,91 vezes maiores de obter resultado ótimo
(obter três ou quatro acertos) na tarefa de Apreciação Musical em relação às
crianças do grupo sem prática musical. Verificou-se que em ambos os grupos o
desempenho dos sujeitos foi inferior na Tarefa de Apreciação Musical em
comparação aos dados obtidos no Teste de memória seqüencial verbal e não-verbal
com quatro estímulos sonoros. Atribui-se esse resultado a uma maior dificuldade na
realização da tarefa de Apreciação Musical, que envolve uma série de outros
elementos como melodia, seqüência de acontecimentos, além dos estímulos
onomatopaicos, que são solicitados a serem evocados.
Na tarefa de Apreciação Musical, a semântica foi utilizada como estratégia
mnemônica para que as crianças atingissem seu objetivo. As questões
direcionadoras apresentadas às crianças logo após as audições da sica
conduziram à compreensão da tarefa por meio de seu significado semântico. A
primeira questão apresentada Diga-me tudo o que você percebeu nessa música”
permitiu a compreensão do contexto da música pelas crianças. A segunda questão
O que a música nos conta e o que acontece?” exigiu que os sujeitos realizassem
uma síntese verbal da canção e forneceu o significado norteador da mesma. A
terceira questão Que sons de carro aparecem nesta música?” permitiu a evocação
dos sons onomatopaicos alvo da quarta audição. A quarta e última pergunta Em
que ordem os sons de carro acontecem?” demandou que as crianças evocassem e
ordenassem os sons que ouviram.
A tarefa de Apreciação Musical permitiu que os sujeitos atribuíssem significado à
canção, alcançando sua compreensão. Apesar das respostas sobre o hábito em
ouvir música tenham sido positivas (Tabela 3), a escuta trabalhada em aulas de
música é um tipo de audição ativa, diferente da audição passiva que acontece
cotidianamente. Esse pode ter sido um elemento facilitador na realização da tarefa
de Apreciação Musical e explicar a diferença observada entre grupos.
108
4.3. SÍNTESE DOS RESULTADOS
Após análise e discussão dos dados observou-se na primeira etapa do estudo,
diferença estatisticamente significante entre cinco variáveis das quais três foram
selecionadas como elementos de comparação entre grupos: escolaridade materna,
idade de início de escolarização e hábito de ouvir música do gênero clássico.
Na segunda etapa, observou-se diferença estatisticamente significante entre os
resultados obtidos nos testes de memória seqüencial para sons verbais e não-
verbais com quatro estímulos sonoros, tarefas de consciência fonológica de síntese
fonêmica, reconhecimento de rimas e exclusão fonêmica e na tarefa de apreciação
musical.
A análise de regressão logística binária múltipla demonstrou que, com exceção do
teste de memória seqüencial para sons verbais com quatro estímulos sonoros, a
diferença observada no desempenho nos testes e tarefas avaliados associou-se
com significância estatística somente à prática musical dos sujeitos.
A síntese dos resultados estatisticamente significantes na comparação entre grupos
está apresentada no Quadro 11.
QUADRO 11. APRESENTAÇÃO DOS TESTES E TAREFAS AVALIADOS CUJAS ANÁLISES
DEMONSTRARAM RESULTADOS ESTATISTICAMENTE SIGNIFICANTES ENTRE GRUPOS.
Teste / Tarefa
Teste de Mann-Whitney
Regressão Logística
Binária Múltipla
p-valor
Sig
p-valor
Sig
OR
ASPA
MSNV - 4 instrumentos
0,000
p ≤ 0,05
0,006
p ≤ 0,05
9,31
MSV - 4 sílabas
0,022
p ≤ 0,05
0,254
NS
NS
TCF
Síntese Fonêmica
0,000
p ≤ 0,05
0,000
p ≤ 0,05
30,39
Reconhecimento de Rimas
0,001
p ≤ 0,05
0,037
p ≤ 0,05
12,46
Exclusão Fonêmica
0,002
p ≤ 0,05
0,015
p ≤ 0,05
7,16
TAP
Apreciação Musical
0,000
p ≤ 0,05
0,018
p ≤ 0,05
8,17
ASPA Avaliação Simplificada do Processamento Auditivo; MSNV Teste de Memória seqüencial
não-verbal; MSV Teste de Memória seqüencial verbal ; TCF Teste de Consciência Fonológica;
TAP Tarefa de Apreciação Musical
NS Não significante estatisticamente
p ≤ 0,05 - Resultado estatisticamente significante
CAPÍTULO 5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
110
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Existem evidências de que a prática musical estabelece mudanças estruturais e
anatômicas no cérebro por meio da neuroplasticidade (OHNISHI et al., 2001;
ZATORRE; BELINE; PENHUNE, 2002; GASER; SCHLAUG, 2003; PERETZ;
ZATORRE, 2005). Muitas das habilidades de processamento e de produção de
linguagem e de processamento e produção musical compartilham de mesmos
recursos neurais tais como: processamento prosódico (PATEL, 1998; MORENO;
BESSON, 2006), sintático (PATEL, 2003; KOELSCH, et al. 2005)
e semântico
(KOELSCH, 2005). Estudos verificaram que a percepção musical está relacionada
com o aprimoramento de habilidades auditivas (CIOQUETA, 2006; TALLAL; GAAB,
2006) e de consciência fonológica (ANVARI et al., 2002; GROMKO, 2005).
Os resultados do presente estudo corroboram as pesquisas anteriormente
realizadas, uma vez que se observou que a prática musical foi um fator determinante
nas diferenças observadas em relação às habilidades auditivas e metalingüísticas
entre grupos de crianças de cinco anos com e sem prática musical.
A análise crítica dos resultados do presente estudo permitiu concluir que:
Na população estudada, a prática musical foi um fator que determinou as
diferenças observadas em relação às habilidades auditivas e metalingüísticas
entre grupos de crianças de cinco anos com e sem prática musical.
Crianças de cinco anos com prática musical possuem desempenho superior,
estatisticamente significante, em tarefas de memória seqüencial verbal e não-
verbal, habilidades de síntese fonêmica, reconhecimento de rimas, exclusão
fonêmica e tarefa de apreciação musical, quando comparadas a crianças sem
prática musical.
O treinamento auditivo realizado nas aulas de musicalização contribui para o
aprimoramento de habilidades auditivas de crianças, fornecendo subsídios para a
111
manipulação sonora de estímulos lingüísticos e não-lingüísticos necessários para
a realização das tarefas de consciência fonológica e de apreciação musical.
Tarefas de memória seqüencial verbal e não-verbal com três estímulos sonoros,
localização sonora em cinco direções, síntese silábica e segmentação fonêmica,
não sofrem influências da prática musical.
Testes da Avaliação Simplificada do Processamento Auditivo e tarefas do Teste
de Consciência Fonológica, bem como Tarefa de Apreciação não são
influenciados pelo fator sexo na faixa etária de cinco anos.
É importante, entretanto, pontuar as limitações deste estudo. Primeiramente o
tamanho reduzido da amostra deste estudo que foi selecionada por tipicidade, o que
não permite generalizações e comparações de base populacionais. Deve-se lembrar
ainda o grande número de variáveis envolvidas no desenvolvimento infantil, o que
dificulta seu controle. Acredita-se que a natureza complexa das variáveis envolvidas
no estudo possa ser investigada com maior profundidade em estudos de
delineamento longitudinal, que permita a observação das relações entre tais
variáveis ao longo do tempo. O tema merece ser investigado em pesquisas futuras,
especialmente em crianças em faixas etárias e contextos sociais diferentes a fim de
identificar o efeito da prática musical em fases distintas do desenvolvimento infantil e
também em populações menos homogêneas.
Os achados do presente estudo representam uma contribuição no avanço das
pesquisas integradas entre as áreas de Educação Musical e Fonoaudiologia. Uma
das dificuldades encontradas na realização deste trabalho foi a escassez de
literatura sobre o tema estudado sob o ponto de vista multidisciplinar, especialmente
tratando-se de estudos realizados no Brasil. São encontrados estudos pontuais, sem
continuidade ou reprodução. É necessário um esforço conjunto para que esta seja
uma área de pesquisa de convergência multidisciplinar que merece ser expandida a
fim de tornar-se uma linha específica de pesquisa.
112
Na perspectiva atual de inclusão da educação musical no currículo escolar regular,
refletir sobre questões de saúde e educação é de fundamental importância. A
formação dos profissionais que atuam com o ensino de música na educação infantil
deve ser pensada, tendo em vista seu papel no desenvolvimento musical, cognitivo,
auditivo e lingüístico de crianças. A prática musical possui por si grande valor
cultural e artístico mas, além disso, oferece suporte para o desenvolvimento de
outras habilidades cognitivas, o que agrega ainda mais valor ao seu aprendizado.
Além disso, a prática musical pode ser considerada como um fator de proteção em
relação aos distúrbios da comunicação humana e também como instrumento
terapêutico que contribui para o aprimoramento de habilidades auditivas e
metalingüísticas de crianças.
REFERÊNCIAS
114
REFERÊNCIAS
ALLOWAY, T. P et al. A structural analisys of working memory and related
cognitive skills in young children. Journal of Experimental child psychology, n.
87. p. 85-106, 2004.
AMATUCCI, M. A. F. C; LUPION, S. A. Das habilidades auditivas de localização,
memória e figura-fundo em crianças integrantes do coral da Unicastelo. Fono
atual, v. 5, n. 18, p. 13-17, out/dez. 2001.
AMERICAN SPEECH-LANGUAGE HEARING ASSOCIATION (ASHA). Central
Auditory processing: current status of research and implications for clinical
practice. American Journal of Audiology, v. 5, p. 41- 54, 1996.
ANDRADE, S. A. et al. Ambiente familiar e desenvolvimento cognitivo infantil: uma
abordagem epidemiológica. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 39, n. 4, 2005.
ANTHONY, J. L; FRANCIS, D. J. Development of Phonological Awareness.
Current Directions In Psychological Science, v.14, n. 5, p. 255-259, 2005.
ANVARI, S. H et al. Relations among musical skills, phonological processing, and
early reading ability in preschool children J. Experimental Child Psychology, n.
83, p. 111130, 2002.
AQUINO, M. C. M. de; ARAÚJO, M. S. Vias auditivas: periférica e central. In:
AQUINO, A. M. C. M. de. Processamento auditivo: eletrofisiologia &
psicoacústica. São Paulo: Lovise, 2002.
AVILA, C. R. B. de. Consciência Fonológica. In: FERREIRA, L. P; BEFI, D;
LIMONGI, S. C. O. Tratado de fonoaudiologia. São Paulo: Roca, 2004.
AZEVEDO, M. F. de; VILANOVA, L. C. P; VIEIRA, R. M. Desenvolvimento
auditivo de crianças normais e de alto risco. São Paulo: Plexus, 1995.
BARRERA, S. D; MALUF, M. R. Consciência metalingüística e alfabetização: um
estudo com crianças da primeira série do ensino fundamental. Psicol Reflex Crít,
v.16, n. 3, p. 491-502, 2003.
BEAR, M. F; CONNORS, B. W; PARADISO, M. A. Neurociências: desvendando
o sistema nervoso. 2. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2002.
BECKER, F. da Rosa. Educação Infantil no Brasil: A Perspectiva do Acesso e do
Financiamento. Revista Iberoamericana de Educación, n. 47, p. 141-155, 2008.
BELLIS, Assessment and management of central auditory processing
disorders in the educational setting: from science to practice. 2 ed. Clifton Park,
115
NY: Thomson/Delmar Learning, 2003.
BESSON, M; SCHON, D. Comparison between language and music. In: Peretz, I;
ZATORRE, R. J. The Cognitive Neuroscience of Music. Oxford University Press,
2006.
BOAL-PALHEIROS, G. M; HARGREAVES, D. J. Listening to music at home and at
school B. J. Music Ed, v.18 n.2, p.103-118, 2001.
BORGES, C. F; SCHOCHAT, E, Processamento temporal auditivo em crianças
que estudam música. Rev Soc Bras Fonoaudiol, v.10, n. 4, p. 226-31, 2005.
BRITTO, D. B. O et al. A importância da consciência fonológica no processo de
aquisição e desenvolvimento da linguagem escrita. Rev. Soc. Bras. Fonoaudiol,
v.11, n. 3, p. 142-150, 2006.
CAPOVILLA, A. G. S. CAPOVILLA, F. C. Prova de Consciência Fonológica:
Desenvolvimento de dez habilidades da pré-escola à segunda série. Temas sobre
Desenvolvimento, v.7, n. 37, p. 14-20, 1998.
CAPOVILLA, A. G. S; CAPOVILLA, F, C. Efeitos do treino de consciência
fonológica em crianças com baixo nível sócio-econômico. Psicol. Reflex.
Crit., Porto Alegre, v. 13, n. 1, 2000.
CAPOVILLA, A. G. S; CAPOVILLA, F, C. O desenvolvimento da consciência
fonológica durante a alfabetização. Temas sobre Desenvolvimento, v.35, n. 6, p.
15-21, 1997.
CAPOVILLA, A. G. S; CAPOVILLA, F. C. Intervenção em dificuldades de leitura e
escrita como tratamento de consciência fonológica. In: SANTOS, M. T. M.;
NAVAS, A. L. G. P. Distúrbios de leitura e escrita: teoria e prática. São Paulo:
Manole, 2002.
CAPOVILLA, A. G. S; CAPOVILLA, F. C. Problemas de leitura e escrita: como
identificar, prevenir e remediar numa abordagem fônica. 3.ed. São Paulo:
Memnon: FAPESP, 2003.
CÁRNIO, M. S; SANTOS, D. Evolução da consciência fonológica em alunos de
ensino fundamental. Pró-Fono Revista deAtualização Científica, Barueri (SP), v.
17, n. 2, p. 195-200, 2005.
CAVALCANTE, C. A; MENDES, M. A. M. A avaliação da consciência fonológica
em crianças de primeira série alfabetizadas com metodologias diferentes. R.
Cefac, v. 5, n. 3, p. 205-208, 2003.
CIELO, C. A. Avaliação de habilidades em consciência fonológica. J. Bras.
Fonoaudiol., v. 4, n. 16, p. 163-174, 2003.
116
CIOQUETA, E. P; Efeito da prática musical no processamento auditivo em
escolares de sete a 14 anos de idade. 2006. 79 f. Dissertação (Mestrado em
Distúrbios da Comunicação Humana). Universidade Federal de Santa Maria,
Santa Maria, 2006.
CORONA, A. P; PEREIRA, L. D; FERRITE, S; ROSSI, A. G. Memória seqüencial
verbal de três e quatro labas em escolares. Pró-Fono Revista de Atualização
Científica, Barueri (SP), v. 17, n. 1, p. 27-36, 2005.
DAVID, D et al. Rhythm and reading development in school-age children: a
longitudinal study. Journal of Research in Reading, v. 30, n. 2, 2007.
DURO, L. A. A. Anatomofisiologia da linguagem. In: GOLDFELD, M.
Fundamentos em fonoaudiologia: linguagem. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2003.
EICKMANN, S. H; LIRA, P. I. C. de; LIMA, M. de C. Desenvolvimento mental e
motor aos 24 meses de crianças nascidas a termo com baixo peso. Arq. Neuro-
Psiquiatr, v. 60, n. 3B, 2002.
FELLIPPE, A. C. N. de; COLAFÊMINA, J. F. Avaliação simplificada do
processamento auditivo e o desempenho em tarefas de leitura-escrita. Pró-fono
Revista de Atualização Científica; v.14, n. 2, p.225-234, 2002.
FISHER, D; MCDONALD, N. The Intersection Between Music and Early Literacy
Instruction: Listening to Literacy! Reading Improvement, v. 38, n. 3, p. 106-15,
2001.
FORGEARD, M et al. Practicing a Musical Instrument in Childhood is Associated
with Enhanced Verbal Ability and Nonverbal Reasoning. Music and Cognitive
Abilities, v. 3, n 10, 2008.
FRAGA, D. A. de et al. Desenvolvimento de bebês prematuros relacionado a
variáveis neonatais e maternas. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 13, n. 2, p.
335-344, 2008.
FRANÇA SILVA, M. C. C. Composing, performance and audience listeninig as
symmetrical indicators of music understanding. 1998. Tese (Doutourado em
Educação Musical PhD). University of London Institute of Education, 1998.
FURBETA, T. D. C; FELIPPE, A. C. N de. Avaliação simplificada do
processamento auditivo e dificuldades de leitura-escrita. Pró-Fono Revista de
Atualização Científica, v. 17, n. 1, p. 11-18, 2005.
GARDNER, H.; COSTA, S. Estruturas da mente: a teoria das inteligências
múltiplas. Porto Alegre: 1994.
117
GASER, C; SCHLAUG, G. Brain Structures Differ between Musicians and Non-
Musicians. The Journal of Neuroscience, v. 23, n. 27, p. 9240-9245, 2003.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3a ed. São Paulo: Atlas, 1991.
GIL, D et al .Efeito do treinamento auditivo para percepçäo musical nos testes de
padräo de frequência e duração, Acta AWHO, n.19, n. 2, p. 64-67, 2000.
GINDRI, G; KESKE-SOARES, M; MOTA, H. B. Working memory, phonological
awareness and spelling hypothesis. Pró-Fono Revista de Atualização Científica,
v. 19, n. 3, 2007.
GODOY, D. M. A. O papel da consciência fonológica no processo de
alfabetização. Pró-Fono Revista de Atualização Científica, v. 15, n. 3, p. 241-50,
2003.
GOULART, B. N. G. DE; CHIARI, B. M. Prevalência de desordens de fala em
escolares e fatores associados. Rev Saúde Pública, v. 41, n 5, p. 726-31, 2007.
GROMKO, J. E. The Effect of Music Instruction on Phonemic Awareness in
Beginning Readers. Journal of Research in Music Education, v. 53, n.3, p. 199-
209, 2005.
HANSEN, D; BERNSTORF, E. Linking Music Learning To Reading Instruction.
Music Educators Journal, v. 88, n. 5. p. 17-21, 2002.
HO, Y. C et al. Music training improves verbal but not visual memory: cross-
sectional and longitudinal explorations in children, Neuropsychology, v. 17, n. 3,
p. 439450, 2003.
ISHII, C; ARASHIRO, P. M; PEREIRA, L. D. Ordenação e resolução temporal em
cantores profissionais e amadores afinados e desafinados. Pró-Fono Revista de
Atualização Científica, v. 18, n. 3, p.285-292, 2006.
JOHANSSON, B. Music and brain plasticity. European Review, vol. 14, n. 1, 49
64, 2006.
KAMINSKI, J. M; TOCHETTO, T. M; MOTA, H. B. Maturação da função auditiva e
desenvolvimento de linguagem. Rev. Soc. Bras. Fonoaudiol; v. 11, n. 1, p. 17-21,
2006.
KATZ, J; WILDE, L. Desordens do Processamento Auditivo. In: KATZ, J. Tratado
de audiologia clinica. 4.ed. São Paulo: Manole, 1999.
KOELSCH, S. Neural substrates of processing syntax and semantics in music.
Current Opinion in Neurobiology, v. 15, p. 207212, 2005.
118
KOELSCH, S et al. Adults and children processing music: An fMRI study.
NeuroImage, v. 25, p.1068 1076, 2005.
KOLB, B; WHISHAW, I. Q. Neurociência do comportamento. Barueri, SP:
Manole, 2002.
KOSLOWISK, L et al. A efetividade do treinamento auditivo na desordem do
processamento auditivo central: estudo de caso. Rev Bras Otorrinolaringol. v.
70, n. 3, p. 427-432, 2004.
LAMB, S. J. & GREGORY, A. H. The relationship between music and reading in
beginning readers. Educational Psychology: An International Journal of
Experimental Educational Psychology, v.13, p.19-27, 1993.
LAMONT, A, et al. Young people’s music in and out of school. B. J. Music Ed.
v.20 n.3, p. 229241, 2003.
LAVILLE, C; DIONNE, J. A construção do saber. Porto Alegre: Artmed, 1999.
LAZAROTTO, C.; CIELO, C. A. A consciência fonológica e sua relação com a
alfabetização. R. Soc. Bras. Fonoaudiol, v. 7, n. 2, p. 15-24, 2002.
LY, A. O meu carango. In: LY, A. Desenrolando a língua, Belo Horizonte: Sonhos
e sons, 2007. 1 CD. Faixa 11.
MALUF, M. R; BARRERA, S. D. Consciência fonológica e linguagem escrita em
pré-escolares. Psicol Reflex Crít, v. 10, n. 1, p. 125-45, 1997.
MARIA-MENGEL, M. R. S; LINHARES M. B. M. Fatores de Risco para Problemas
de Desenvolvimento Infantil. Rev Latino-am Enfermagem, n. 15(número
especial), 2007.
MONTEIRO, C. A; FREITAS, I. C. M. Evolução de condicionantes ambientais da
saúde na infância na cidade de São Paulo (1984-1996). Rev. Saúde Pública, v.
34, n. 6, 2000.
MORENO, M. BESSON, S. Musical training and language-related brain electrical
activity in children. Psychophysiology, n. 43, v. 3, p. 287291, 2006.
NAVAS, A. L. G. P; SANTOS, M. T. M. dos. Distúrbios de leitura e escrita: teoria
e prática. São Paulo: Manole, 2002.
NEVES, I. F.; SCHOCHAT, E. Maturação do processamento auditivo em crianças
com e sem dificuldades escolares. Pró-Fono Revista de Atualização Científica,
v. 17, n. 3, p. 311-320, 2005.
NOBLE, K. G; NORMAN, M. F; FARAH, M. J. Neurocognitive correlates of
119
socioeconomic status in kindergarten children. Developmental Science, v. 8, n. 1,
p. 7487, 2005.
OHNISHI, T; et al. Funcional anatomy of music perception in musicians. Cerebral
Cortex, n. 11, p. 754 760, 2001.
OLIVEIRA, C. C et al. Cronologia da aquisição dos segmentos e das estruturas
silábicas. In: LAMPRECHT, Regina Ritter. Aquisição fonológica do português:
perfil de desenvolvimento e subsídios para terapia. Porto Alegre: Artmed, 2004.
OLIVEIRA, A. C. de et al. Localização de fontes sonoras: a importância das
diferenças dos limiares auditivos interaurais. Rev Soc Bras Fonoaudiol, v.13, n.1,
p. 7-11, 2008.
PAGANO, M; GAUVREAU, K. Principios de bioestatística. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2004.
PATEL, A. D. Language, music, synthax and the brain. Nature Neuroscience, v.
6, n. 7, 2003.
PATEL, A. D et al. Processing Prosodic and Musical Patterns: A
Neuropsychological Investigation. Brain And Language, v. 61, p. 123144, 1998.
PEDRAS, C. T. P.A; GERALDO T; CRENITTE P.A. P. Consciência fonológica em
crianças de escola pública e particular. Rev Soc Bras Fonoaudiol, v.11, n. 2,
p.65-69, 2006.
PEREIRA, L. D, Processamento auditivo. Temas de Desenvolvimento, v. 2, n.
11, p. 7-14, 1993.
PEREIRA, L. D. Avaliação do Processamento Auditivo Central. In: LOPES FILHO,
O. Tratado de fonoaudiologia. 2.ed. Ribeirão Preto: Tecmedd Distribuidora de
Livros, 2005.
PEREIRA, L. D. Processamento Auditivo: abordagem passo a passo. In:
PEREIRA, L. D. SCHOCHAT, E. Processamento Auditivo Central: manual de
avaliação. São Paulo: Lovise, 1997.
PEREIRA, L. D. SCHOCHAT, E. Processamento Auditivo Central: manual de
avaliação. São Paulo: Lovise, 1997
PEREIRA, L. D. Sistema auditivo e desenvolvimento das habilidades auditivas. In:
FERREIRA, L. P; BEFI, D; LIMONGI, S. C. O. Tratado de fonoaudiologia. São
Paulo Roca, 2004.
PEREIRA, L. D; NAVAS, A. L.G.; P; SANTOS, M. T. M dos. Processamento
auditivo: uma abordagem de associação entre a audição e a linguagem. In:
120
NAVAS, A. L. G. P; SANTOS, M. T. M. dos. Distúrbios de leitura e escrita: teoria
e prática. São Paulo: Manole, 2002.
PEREIRA, L. D; CAVADAS, M. Processamento auditivo central. In: FROTA, S.
Fundamentos em fonoaudiologia: audiologia. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2003.
PERETZ, I; ZATORRE, R. J. Brain Organization to music processing. Annu. Rev.
Psychol. V. 56, P. 89-114. 2005.
PEYNIRCOGLU, Z,F; DURGUNOGLU, I. WONEY-KUSEFOGLU, O. Phonological
awareness and musical aptitude. Journal of Research in Reading, v. 25, n. 1, p.
68-80, 2002.
PILZ, E. M. L; SCHERMANN, L. B. Determinantes biológicos e ambientais no
desenvolvimento neuropsicomotor em uma amostra de crianças de Canoas/RS.
Ciência & Saúde Coletiva, v.12, n. 1, p.181-190, 2007.
PURVES, D. Neurociências. Porto Alegre: Artmed, 2005.
RABINOVICH K. Avaliação da audição na criança. In: FILHO O. L. Tratado de
Fonoaudiologia. 2a ed. Ribeirão Preto: Tecmedd distribuidora de livros; 2005.
p.259-74.
RÍOS, A. A et al. Teste de padrão harmônico em escuta dicótica com dígitos
TDDH. Rev Soc Bras Fonoaudiol, v. 12, n. 4 p. 304-309, 2007.
SALLES, J. F et al. Desenvolvimento da consciência fonológica de crianças de
primeira e segunda séries. Pró-fono Revista de Atualização científica, v.11, n.
2, 1999.
SANTAMARIA, V. L; LEITÃO, P. B; ASSENCIO-FERREIRA, V. J. A consciência
fonológica no processo de alfabetização. Rev CEFAC, v. 6, n. 3, p. 237-41, 2004.
SANTOS, M. F. C. dos et al. Avaliação do processamento auditivo central em
crianças com e sem antecedentes de otite média Rev. Bras. Otorrinolaringol, v.
67, n. 4, p. 448-454, 2001.
SANTOS, M. T. M; PEREIRA, L.D. Consciência fonológica. In: PEREIRA, L. D.
SCHOCHAT, E. Processamento Auditivo Central: manual de avaliação. São
Paulo: Lovise, 1997.
SAPIENZA, G; PEDROMONICO, M. R. M. Risco, proteção e resiliência no
desenvolvimento da criança e do adolescente. Psicol. Estud, v. 10, n. 2, 2005 .
SILVEIRA, K. M et al. Tonalidade (Pitch) e Processamento Auditivo. In: AQUINO,
A. M. C. M. de. Processamento auditivo: eletrofisiologia & psicoacústica. São
121
Paulo: Lovise, 2002.
SOARES, C. D et al. Habilidades de sequencialização sonora não verbal e verbal
e de localização sonora em pré-escolares Pró-Fono Revista de Atualização
Científica. v.10, n. 2, p. 34-40, set. 1998.
SONCINI, F; COSTA, M; J, Efeito da prática musical no reconhecimento da fala no
silêncio e no ruído. Pró-Fono Revista de Atualização Científica, v.18, n.2, p.161-
170, 2006.
SOUZA, L. B. de; SOUZA, V. M. C. de. Avaliação comportamental das habilidades
auditivas centrais. In: AQUINO, Antonio Maria Claret Marra de. Processamento
auditivo: eletrofisiologia & psicoacústica. São Paulo: Lovise, 2002.
TALLAL, P; GAAB N. Dynamic auditory processing, musical experience and
language development. TRENDS in Neurosciences, v. 29, n. 7, p. 382-390, 2006.
TONIOLO, I. M. F; CHELOTTI, V. L; KESKE-SOARES, M; BLANCO, A. P. F.;
HÖHER, F. P. Processamento auditivo central em pré-escolares. Revista da
Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, n. 2, p. 17-19, dez. 2001.
VIEIRA, S. Bioestatística: tópicos avançados. 2. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:
Elsevier: Ed. Campus, 2003.
YAVAS, M. S; HERMANDORENA, C. L. M; LAMPRECHT, R. R. Avaliação
fonológica da criança: reeducação e terapia. Porto Alegre: Artes Médicas,
1991.
ZALCMAN, T. E; SCHOCHAT, E. A eficácia do treinamento auditivo formal em
indivíduos com transtorno de processamento auditivo. Rev Soc Bras Fonoaudiol.
V. 12, n. 4, p. 310-314, 2007.
ZATORRE, R, J; BELINE, P. PENHUME, V. B. Structure and function of auditory
cortex: music and speech. Trends in Cognitive Neurosciences. V. 6, n. 1, 2002.
ZEMLIN, W. R; OPPIDO, T. Princípios de anatomia e fisiologia em
fonoaudiologia. 4.ed. Porto Alegre: ArtMed, 2000
ANEXOS
123
ANEXO A. CARTA DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA UFMG
124
ANEXO B. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Prezados pais ou responsáveis,
Gostaríamos de convidar você e seu filho(a) a participar do estudo Relações entre educação musical e
desenvolvimento de linguagem infantil: trabalho experimental com crianças de 5 anos”, que estaremos
realizando na escola onde seu(a) filho(a) estuda. Esse estudo busca saber se existem relações entre o
desenvolvimento de linguagem infantil e a educação musical formal.
Para desenvolver esse estudo, será necessário que os pais ou responsáveis legais dos alunos de 5 anos
respondam a um questionário sobre o desenvolvimento de seu(a) filho(a) e que eles sejam avaliados pela
fonoaudióloga Júlia Escalda (CRFa MG-5658 na instituição de ensino, no horário que seu(a) filho(a) a freqüenta.
O tempo previsto para a Avaliação Fonoaudiológica é de 30 a 40 minutos e ela terá 3 partes:
1. Avaliação das habilidades de audição: serão tocados três instrumentos musicais e faladas três
seqüências de sons que as crianças serão solicitadas a localizar e identificar.
2. Avaliação dos sons da fala: serão mostrados desenhos temáticos às crianças (zoológico, sala,
banheiro, cozinha e veículos) e elas deverão falar as palavras contidas nos desenhos.
3. Avaliação da consciência fonológica: as crianças serão solicitadas a unir e separar sílabas e sons,
identificar rimas e trocar de lugar os sons de algumas palavras.
Esse estudo não oferece nenhum risco aos seus participantes. Em relação aos benefícios, esperamos que com
ele, possamos vir a saber se existem relações entre o estudo de música e o desenvolvimento de linguagem de
crianças.
Todos os dados dos participantes desse estudo serão mantidos em sigilo e serão utilizados somente para esse
estudo. A participação de seu filho(a) é gratuita e voluntária, você tem a liberdade para recusar-se em participar
e poderá interromper a participação de seu filho(a) em qualquer momento, sem nenhum prejuízo.
Durante toda a realização do trabalho, você tem o direito de ser mantido(a) atualizado(a) sobre os
resultados que sejam do conhecimento dos pesquisadores. As pesquisadoras estarão à disposição
para qualquer esclarecimento necessário.
Agradecemos à disponibilidade!
Pesquisadores:
Maria Cecília Cavalieri França (orientadora) Professora Adjunta da Escola de Música da Universidade Federal
de Minas Gerais. Tel. (31) 3409-4720.
Julia Escalda Mendonça Fonoaudióloga. Aluna do Mestrado em Música da Universidade Federal de Minas
Gerais. Tel. (31) 9701-5255.
Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG
Endereço: Avenida Antônio Carlos, 6627 Unidade Administrativa II - 2º andar Campus Pampulha Belo Horizonte,
MG Brasil 31270-901. Tel. (31) 3409-4592 Fax: (31) 3409-4027
Baseado neste termo, eu, _____________________________________________ CI
____________________, órgão expedidor _________, aceito a participação de meu filho(a) na
pesquisa “Relações entre educação musical e desenvolvimento de linguagem infantil: trabalho
experimental com crianças de 5 anos”, em acordo com as informações acima expostas.
Belo Horizonte, _______ de ___________________ de __________.
De acordo.
_________________________________________________
125
ANEXO C. QUESTIONÁRIO
Dados de Identificação
Nome da criança:
Endereço:
Telefone:
Idade da criança: ____ano ____ meses
Data de Nascimento: ____/ ____ / _____
Sexo: ( ) M ( ) F
Naturalidade:
Nacionalidade:
Escolaridade da mãe:
Escolaridade do pai:
Profissão da mãe:
Profissão do pai:
Número de irmãos:
Número de cômodos na casa:
Informante:
e-mail:
Perfil Musical
A criança estuda ou já estudou música em escola de música especializada?
( ) Sim
( ) Não
Em qual(s) escola(s)?
Por quanto tempo?
Faz ou já fez aulas de algum instrumento musical?
( ) Sim
( ) Não
Qual(s) instrumento?
A criança tem aulas de música na escola regular?
( ) Sim
( ) Não
A criança ouve música?
( ) Sim
( ) Não
Onde? ( ) na escola ( ) em casa ( ) no carro ( ) na igreja ( ) não tem hábito de ouvir música
Qual tipo? ( ) sertanejo ( ) clássico ( ) pop ( ) rock ( ) infantil ( ) não tem hábito de ouvir música
Perfil de Saúde
A criança possui alguma queixa auditiva?
( ) Sim
( ) Não
Qual(s)?
A criança possui perda auditiva comprovada?
( ) Sim
( ) Não
A criança possui alguma queixa de fala ou linguagem?
( ) Sim
( ) Não
Qual(s)?
A criança possui alguma alteração de fala ou linguagem?
( ) Sim
( ) Não
A criança necessita de algum tipo de acompanhamento médico especial?
( ) Sim
( ) Não
Com quais profissionais? ( ) Neurologista ( ) Psiquiatra Infantil ( ) Fisioterapeuta ( ) Terapeuta
Ocupacional ( ) Fonoaudiólogo ( )Outros:
Motivo:
Perfil Escolar
Com qual idade foi matriculada na escola?
______ anos
A criança gosta de ir a escola?
( ) Sim
( ) Não
Teve dificuldades de adaptação na escola?
( ) Sim
( ) Não
Tem amigos na escola?
( ) Sim
( ) Não
Identifica letras e números?
( ) Sim
( ) Não
Sabe ler e escrever o próprio nome?
( ) Sim
( ) Não
Sabe ler e escrever outras palavras?
( ) Sim
( ) Não
A criança participa de atividades extracurriculares?
( ) Sim
( ) Não
Quais? ( ) Balé ( ) Judô ( ) Natação ( ) Futebol ( ) Outros:
126
ANEXO D. AVALIAÇÃO SIMPLIFICADA DO PROCESSAMENTO AUDITIVO
Nome: ___________________________________ Idade: _____ Data: ___/___/___
Teste de memória seqüencial não-verbal
Sino Coco Guizo Demonstração
Guizo Coco Sino Sim ( ) Não ( )
Coco Guiso Sino Sim ( ) Não ( )
Sino Guizo Coco Sim ( ) Não ( )
Número de Acertos: 0/3 ( ) 1/3 ( ) 2/3 ( ) 3/3 ( )
Sino Agogô Coco Guizo Demonstração
Guizo Coco Sino Agogô Sim ( ) Não ( )
Coco Guiso Sino Agogô Sim ( ) Não ( )
Sino Guizo Agogô Coco Sim ( ) Não ( )
Número de Acertos: 0/3 ( ) 1/3 ( ) 2/3 ( ) 3/3 ( )
Teste de memória seqüencial verbal
A produção articulatória de cada sílaba está adequada?
PA Sim ( ) Não ( ) TA Sim ( ) Não ( ) CA Sim ( ) Não ( ) FA Sim ( ) Não ( )
PA TA CA Sim ( ) Não ( )
TA PA CA Sim ( ) Não ( )
CA PA TA Sim ( ) Não ( )
Número de Acertos: 0/3 ( ) 1/3 ( ) 2/3 ( ) 3/3 ( )
PA TA CA FA Sim ( ) Não ( )
TA PA FA CA Sim ( ) Não ( )
CA FA PA TA Sim ( ) Não ( )
Número de Acertos: 0/3 ( ) 1/3 ( ) 2/3 ( ) 3/3 ( )
Teste de Localização Sonora
Direita Sim ( ) Não ( ) Qual? ______________
Esquerda Sim ( ) Não ( ) Qual? ______________
Atrás Sim ( ) Não ( ) Qual? ______________
Frente Sim ( ) Não ( ) Qual? ______________
Acima Sim ( ) Não ( ) Qual? ______________
Número de Acertos: 1/5 ( ) 2/5 ( ) 3/5 ( ) 4/5 ( ) 5/5 ( )
Pesquisa do RCP
Presente: Sim ( ) Não ( ) Instrumento: _______________
127
ANEXO E. AVALIAÇÃO FONOLÓGICA DA CRIANÇA
PALAVRAS QUE DEVERÃO SER EMITIDAS PELA CRIANÇA
ZOOLÓGICO
COZINHA
SALA
BANHEIRO
VEÍCULOS
Borboleta
Abacaxi
Brinquedo
Banquinho
Andar
Cachorro
Açúcar
Cruz
Blusa
Bicicleta
Cobra
Café
Dinheiro
Bolso
Brincar
Comer
Estrela
Disco
Braço
Carro
Dois
Feijão
Gato
Calça
Crianças
Dragão
Fogão
Globo
Camisa
Dizer
Flor
Frio
Guarda-chuva
Chave
Dirigir
Floresta
Fruta
Igreja
Chinelo
Estrada
Grama
Garrafa
Jornal
Dedo
Frente
Grande
Geladeira
Lápis
Dente
Fumaça
Latir
Janela
Livro
Escovar
Microfone
Olhar
Prato
Martelo
Nariz
Nadar
Orelha
Soprar
Mesa
Pescoço
Nuvem
Passarinho
Vela
Palhaço
Relógio
Placa
Pedra
Vidro
Planta
Sabonete
Tia / tio
Peixe
*Banana
Prego
Toalha
Tocar
Pular
*Bolo
Quadro
Esperar
Trator
Rabo
*Fogo
Rádio
*Armário
Trem
Sol
*Ovo
Tapete
*Azulejo
*Âncora
Tigre
*Tampa
Televisão
*Cabelo
*Chaminé
Verde
Tesoura
*Cano
*Navio
Voar
*Antena
*Espelho
*Roda
Zebra
*Botão
*Menino
*Trilho
Zoológico
*Estante
*Perna
*Sino
*Franja
*Porta
*Claro
*Poltrona
*Saia
*Chapéu
*Telhado
*Sapato
*Torneira
128
ANEXO F. DESENHOS TEMÁTICOS DA AFC: Veículos, Zoológico, Banheiro, Sala,
Cozinha (em tamanho reduzido).
129
ANEXO G. TESTE DE CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA.
Nome: ___________________________________ Idade: _____ Data: ___/___/___
Tarefas
Resposta Correta
Comentários
Sim
Não
Síntese Silábica
por ta
a be lha
sa po
te le vi são
sa pa to
Síntese Fonêmica
p é
m ão
s o p a
ch u v a
r a t o
Rima
Mel céu viu
Fé Nó Pó
Rua Pau Lua
Vem Cai Sai
Vou Dou Com
Segmentação Fonêmica
Sol
Suco
Bola
Gato
Exclusão Fonêmica
gela g
resto s
sair - r
molho - m
casa c
Total
130
ANEXO H
DADOS RELATIVOS À HISTÓRIA DE VIDA DOS SUJEITOS (REGIÃO ONDE VIVE E NATURALIDADE)
Grupo Controle
Grupo Experimental
n
%
n
%
Região
Centro-Sul
16
61,5
8
26,7
Oeste
2
7,7
1
3,3
Pampulha
1
3,8
5
16,7
Leste
0
0
6
20,0
Noroeste
6
23,1
4
13,3
Nordeste
1
3,8
3
10,0
Nova Lima
0
0
3
10,0
Total
26
100,0
30
100,0
Naturalidade
Belo Horizonte
16
61,5
26
86,7
Região Metropolitana
1
3,8
3
10,0
Cidades em MG
3
11,5
1
3,3
Outros Estados
6
23,1
30
100,0
Total
26
100,0
30
100,0
131
ANEXO I
P-VALOR CALCULADO POR MEIO DO TESTE ESTATÍSTICO QUI-QUADRADO NA COMPARAÇÃO ENTRE
GRUPOS E A VARIÁVEL SEXO NOS TESTES DE MEMÓRIA SEQÜENCIAL NÃO-VERBAL COM TRÊS E
QUATRO ESTÍMULOS SONOROS, MEMÓRIA SEQÜENCIAL VERBAL COM TRÊS E QUATRO ESTÍMULOS
SONOROS, LOCALIZAÇÃO SONORA EM CINCO DIREÇÕES, SÍNTESE FONÊMICA, RECONHECIMENTO
DE RIMAS, SEGMENTAÇÃO FONÊMICA, EXCLUSÃO FONÊMICA E APRECIAÇÃO MUSICAL.
Teste / Tarefa
2
p-valor
Sig
Memória seqüencial não-verbal
3 instrumentos
1,84
0,174
NS
Memória seqüencial não-verbal
4 instrumentos
6,39
0,094
NS
Memória seqüencial verbal
3 sílabas
1,65
0,198
NS
Memória seqüencial verbal
4 sílabas
2,43
0,486
NS
Localização Sonora
5 direções
4,35
0,113
NS
Síntese Silábica
NA
NA
NA
Síntese Fonêmica
4,73
0,449
NS
Reconhecimento de Rimas
6,47
0,263
NS
Segmentação Fonêmica
1,25
0,740
NS
Exclusão Fonêmica
10,22
0,069
NS
Apreciação Musical
7,93
0,094
NS
Sig Significância estatística
NA Não se aplica
NS Não significante estatisticamente
2
Qui-quadrado
132
ANEXO J
COMPACT DISC COM O TRECHO A MÚSICA “O MEU CARANGO (LY, 2007) UTILIZADO NA
TAREFA DE APRECIAÇÃO MUSICAL
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo