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KÁTIA ARAÚJO DE MOURA
BUSCAI AS COISAS DO ALTO
:
aspect
os argumentativos e prosódicos do discurso religioso
de padre Léo
Franca, como exincia parcial
,
para obteão do
título de Mestre e
m
Linguística
.
Orientad
ora:
Profª. Drª. Maria Flávia
Figueiredo
FRANCA
2009
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KÁTIA ARAÚJO DE MOURA
BUSCAI AS COISAS DO ALTO
:
aspectos argumentativos e
prosódicos d
o discurso religioso de padre Léo
COMISSÃO JULGADORA DO PROGRAMA D
E MESTRADO EM LINGUÍSTICA
Presidente: Profa. Dra.
Profa Dra Maria Flávia Figueiredo
Universidade de Franca
Titular 1: Prof
a
. Dra. Fernanda Mussalim G. L. Silveira
Universidade Federal de Uberlândia
Titular 2:
Prof.
Dr. Juscelino Pernambuco
Univ
ersidade de Franca
Fra
nca, 28 de agosto de
2009
.
ads:
DEDICO
à minha família,
mestres em amor: vidas que me ensinam
sobre as coisas do alto.
AGRADECIMENTOS
A
Deus, hoje e sempre, pelo dom da vida!
Aos meus familiar
es, em especial meu pai, Luiz, e minha mãe, Mariluci, por
acreditarem em minhas potencialidades, incondicionalmente, incentivando meu cre
scimento
com profund
o amor;
à
minha orientadora Profa. Dra. Maria Flávia Figueiredo, p
or seu apoio e
estímulo à pesquis
a, assim como sua amizade e afeto;
às professoras doutoras Ana Cristina Carmelino e Maria Sílvia Olivi Louzada,
que compuseram minha banca de qualificação e contribuíram enormemente com este
trabalho;
a
todo o quadro de docentes do Programa de Mestrado em
Linguística da
Universidade de Franca, pelos ensinamentos, leituras, convivência e crescimento acadêmico
proporcionado;
à Lúcia Nassim
,
por toda generosidade e confiança;
à Suely Santiago de Sousa, por ser incentivo constante, profissional e pessoal;
às co
mpanheiras do curso de mestrado, “as meninas do céu garantido”,
Regiane Cruz, Rosana Cláudia
, Rosana Ferrareto,
Ana Fabíola
e Fabiana Parpinelli
, pelas
leituras atentas, disponibilidade e apoio durante a realização deste trabalho;
à Profa. Dra. Sheila Fern
andes Pimenta e Oliveira, por abrir meus olhares ao
mundo da pesquisa, desde a graduação;
à Lidiane Moura, por sua amizade, sensibilidade e por acreditar que eu possa
ser comparável à sua grandeza;
a
Danilo Salomão, por toda a disponibilidade em me ajudar
em momentos
difíceis da finalização deste trabalho;
a
Mateus Moreira Lance, meu marido, que
,
com seu amor, preenche meu
coração com sonhos, planos e projetos de uma vida ainda mais feliz!
“A palavra é metade de quem a pr
onuncia e metade de quem a ouve.”
(Michel De Montaigne)
RESUMO
MOURA, Kátia Araújo de.
“Buscai as coisas do alto”:
aspect
os argumentativos e prosódicos
d
o discurso religioso de Padre Léo. 2009. 93 f
. Dissertação (Mestrado em Lingu
ística)
Universidade d
e Franca, Franca.
Este trabalho tem por objetivo analisar linguisticamente a intersecção entre os elementos
prosódicos e a constituição da argumentação que objetivam a adesão do auditório dentro do
discurso religioso de padre Léo, representante carismát
i
co da igreja católica. Para est
a análise
,
selecionamos como
corpus
a pregação intitulada “Buscai as coisas do alto”, proferida em
dezembro de 2006. Partimos da hipótese de que, ao pregar de maneira aparentemente
espontânea, o sacerdote realiza seu percurso
argumentativo fazendo uso dos elementos
retórico
-
argumentativos que são corroborados pelos elementos prosódicos, conferindo ao
seu
discurso maiores recursos para
persuasão do
auditório. Ao trabalharmos com os pressupostos
teóricos da Argumentação
,
como se
ndo “o desejo de persuadir, o de escutar e de se deixar
convencer”, de acordo com Perelman e Olbrechts
-
Tyteca (1997)
,
e da Prosódia
,
como
“conjunto de fenômenos fônicos que se localiza além da representação segmental linear dos
fonemas”, de acordo com Boll
ela (2006), encontramos no discurso religioso um
corpus
significativo para nossa análise. São inúmeros os aspectos passíveis de análise do
corpus
selecionado, no entanto, para o presente trabalho
,
mostramos como é construído o gênero
pregação religiosa, qu
ais os elementos retórico
-
argumentativos (os que são baseados na
estrutura do real e os que fund
amentam a estrutura do real)
constituem esse discurso e como
os elementos prosódicos interferem no processo persuasivo. Identificamos alguns elementos
prosódico
s que julgamos mais relevantes: a tessitura, como variação da altura melódica, o
volume, como intensidade sonora
,
e a pausa, como variação de duração. Nossa análise foi
fundamentada na teoria
da Argumentação
e
da
Retórica segundo Aristóteles (2003), nas
co
ncepções da Nova Ret
órica de Perelman & Olbrechts
-
Tyteca (2005), nos conceitos de
Meyer (2003), Reboul (2004), Tringali (1988), Citelli (2005), entre outros, que estudaram as
premissas e técnicas da argumentação, bem como nos estudos dos elementos prosódic
os
estudados por Bollela (2006), Cagliari (1992), Scarpa (1999), Massini
-
Cagliari
& Cagliari
(2001), entre outros. Como metologia de trabalho, abordamos uma caracterização do gênero
pregação, à luz da Teoria dos Gêneros, baseados em Figueiredo et al. (2009
) e da escuta e
transcrição do áudio realizada segundo as normas do Projeto NURC/SP (1985). Para a
verificação dos marcadores prosódicos, a análise contou com o apoio dos softwares
Praat 8.0
e
Sound Forge 8.0
.
Pudemos compreender, por meio de nossa análise
, que o orador imprime
maior autoridade ao seu discurso
ao fazer uso de
citações
de passagens bíblicas.
Constrói um
ethos
de escolhido, demonstrando que é
Deus quem ordens para que
ele
ministre, portanto,
é
digno de ser ouvido. O orador
modula uma
quali
dade de voz mais adequada à
argumentação
quando quer suscitar a paixão da compaixão e
m momentos de reflexão
. Argumenta pelo
sacrifício, reforça seu prestígio perante seu auditório, demonstrando
,
a
ssim,
a
diferença entre
persuadir e convencer.
Altera o
volu
me e
a
tessitura
e faz uso de repetições e pausas
para
demonstrar sua autoridade, sabedoria e persuasão. Esses elementos estão todos entrelaçados e
dependem uns de outros para que o orador consiga realizar sua missão de evangelizar a partir
do testemunho e
motivo de sua própria experiência de vida, objetivando fazer
-
crer a pregação
proferida.
Palavras
-
chave: Prosódia; Argumentação; Discurso Religioso; Persuasão.
ABSTRACT
MOURA, Kátia Araújo de.
“Buscai as coisas do alto”:
aspectos argumentativos e prosód
icos
do discurso
de Padre Léo. 2009. 93 f
. Dissertação (Mestrado em Lingu
ística)
Universidade
de Franca, Franca.
This work aims at linguistically analyzing the intersection between the prosodic elements and
the constitution of argumentation which intend
s to gain the audience’s support within the
religious discourse of Priest Leo, a charismatic representative of the Catholic church.
For this
analysis, we have selected as
corpus
the sermon entitled “Buscai as coisas do alto”, preached
in December of 2006.
We have a hypothetical idea that, when preaching, apparently
spontaneously, the priest carries out his argumentative route by using rhetoric
-
argumentative
elements that are corroborated by prosodic elements, which awards the discourse a greater
resource
to
persuade his audience. By working with the theoretical considerations of
Argumentation, as “the wish to persuade, to listen and to let be convinced”, according to
Perelman & Olbrechts
-
Tyteca (1997)
,
and of the Prosody
,
as “the set of phonic phenomena
whic
h are located beyond the linear segmented representation of phonemes”, according to
Bollela (2006), we have found
,
in the religious discourse
,
a meaningful
corpus
to our analysis.
There is a countless number of aspects which could be analyzed in the select
ed
corpus
,
however, for the present work, we have shown how the genre religious sermon is built, which
rhetoric
-
argumentative elements (the arguments based on the structure of reality and the ones
that found the structure of reality) constitute this discou
rse and how the prosodic elements
interfere in the persuasion process.
We have identified some prosodic elements which we
have judged as the most relevant: pitch, as variation of melodic loudness; volume, as sound
intensity; and pause, as variation of dura
tion.
Our analysis was based on the Theory of
Argumentation and Rhetoric according to Aristoteles (2003), in the conception of New
Rhetoric by Perelman & Olbrechts
-
Tyteca (2005), in the concepts of Meyer (2003), Reboul
(2004), Tringali (1988), Citelli (200
5), among others, who have studied the premises and
argumentative techniques, as well as the studies of prosodic elements by Bollela (2006),
Cagliari (1992), Scarpa (1999), Massini
-
Cagliari
& Cagliari
(2001), among others.
As
methodology, we have addressed
the Theory of the Genre according to Figueiredo et al.
(2009) in order to provide a characterization of the religious genre sermon. We have also
listened and transcribed the audio according to the rules of Projeto NURC/SP (1985). The
data collection and th
e transcription of the lectures were made with the help of the softwares
Praat 4.6.12 and Sound Forge 8.0. We could verify that this discourse is built upon the
ethos
of the lecturer, which brings more authority to his speech in the quotations of the God’s
words. It is God the one who gives orders so that the priest can preach. Thus, the priest is
chosen, obedient to the divine words, worthy of being listened to.
The lecturer inserts the
most appropriate quality of voice to the argumentation whenever he wan
ts to wake the
passion of compassion in moments of reflection.
He argues through sacrifice, reinforces his
prestige towards the audience, by showing the difference between persuading and convincing.
He uses a different range of volume and pitch
and makes u
se of
repetition
s and
pause
s
in
order to show his authority, wisdom and persuasion.
These elements are all tied and depend
upon one another so that the lecturer can achieve his mission of praying the Gospel based on
an emotional testimony of his own life e
xperience, by aiming at making
-
believe in the
preached sermon.
Key words: Prosody; Argumentation; Religious Discourse; Persuasion.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1
-
Exórdio
4
6
Figura 2
-
Ethos
de escolhido
5
0
Figura 3
-
Ethos
de obediente
5
2
Figura
4
-
Paixão da compaixão
5
5
Figura 5
-
Momento de oração
pausas
5
7
F
igura 6
-
A pessoa e seus atos
(argumento baseado na estrutura do real)
59
Figura 7
-
Modalidade argumentativo
-
persuasiva
6
2
Figura 8
-
Argumentação pelo sacri
fício
6
5
Figura 9
-
Prestígio pelo sacrifício
6
6
Figura 10
-
Argumentação pragmática
69
Figura 11
-
Repetição
7
4
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
................................
................................
................................
......................
1
0
1
O DISCURSO RELIGIOSO E
SUAS MANIFESTAÇÕES
................................
...
1
3
2
A PREGAÇÃO “BUSCAI AS COISAS DO ALTO”
E SEU PREGADOR PADRE
LÉO: UMA CARACTERIZAÇÃO DO
CORPUS
................................
..............................
2
0
2.
1
ARCABOUÇO TEÓRICO
................................
................................
...........................
22
2.2
A RETÓRICA
................................
................................
................................
..............
22
2.2.1
A composição do sistema retórico
................................
................................
................
23
2.2.2
O Auditório
................................
................................
................................
...................
27
2.2.3
Modalidades argumentativo
-
persuasivas
................................
................................
......
28
2.2.4
Ethos
,
pathos
e logos
................................
................................
................................
....
30
2.2.5
As técnicas argumentativas
................................
................................
..........................
31
2.2.
5
.1
Argumentos quase
-
lógicos
................................
................................
...........................
32
2.2.5.2
Argumentos que fundamentam a estrutura do real
................................
.......................
32
2.2.
5.3
Argumentos fundados na estrutura do real
................................
................................
...
33
3
A PROSÓDIA
................................
................................
................................
.............
34
3.1
ELEMENTOS PROSÓDICOS
................................
................................
....................
3
5
3.1.1
A Tessitura
................................
................................
................................
....................
35
3.1.2
A Entoação
................................
................................
................................
...................
36
3.1.3
O Acento Frasal
................................
................................
................................
............
37
3.1.4
O ritmo
................................
................................
................................
..........................
37
3.1.
5
A Duração
................................
................................
................................
.....................
37
3.1.6
A Pausa
................................
................................
................................
.........................
37
3.1.7
A Velocidade
................................
................................
................................
................
38
3.1.8
O Volume
................................
................................
................................
.....................
38
3.1.9
Registro e Qualidade de V
oz
................................
................................
........................
39
4
BUSCAI ASCOISASDO ALTO
:
uma constrãoprosódica e argumentativa
.........
41
CONSIDERAÇÕES FINAIS
................................
................................
................................
.
80
REFERÊNCIAS
................................
................................
................................
.....................
82
ANEXOS
................................
................................
................................
................................
.
85
INTRODUÇÃO
Nas últimas três décadas, a Igre
ja Católica no Brasil parece fo
mentar uma nova
forma de eva
ngelização liderada pela
Renovação Carismática Católica: o catolicismo
midiático, encontrando em muitos sacerdotes da atualidade a fonte da sua legitim
ação
pastoral. Múltiplas são as razões pelas quais a Renovação Carismática Católica tornou
-
se
socialmente visível em meados dos anos
90 e
,
entre elas
,
podemos destacar a forma específica
de apropriação dos meios de comunicação de massa e a sintonia cultura
l que sua proposta
religiosa encontrou na época.
Inseridos no grupo de pesquisas sobre o discurso oral religioso na Universidade
de Franca
,
analisamos linguisticamente a intersecção entre os elementos prosódicos e a
constituição da argumentação que objeti
va a adesão do auditório dentro deste discurso.
Ao trabalharmos com os pressupostos teóricos da Argumentação como sendo
“o desejo de persuadir, o de escutar e de se deixar convencer”
, de acordo com Perelman e
Olbrechts
-
Tyteca (1997)
e da Prosódia como “co
njunto de fenômenos fônicos que se localiza
além da representação segmental linear dos fonemas
, de acordo com Bollela (
2006),
encontramos no discurso religioso um
corpus
significativo para nossa análise.
São inúmeros os aspectos passíveis de análise do
c
orpus
selecionado, no
entanto, para o presente trabalho,
mostraremos como é construí
do o gênero
pregação
religiosa, quais os elementos retórico
-
argumentativos
(os que são baseados na estrutura do
real e os que fundamentam a estrutura do real)
que
constitue
m este discurso e como os
elementos prosódicos interferem no processo persuasivo. Identificamos
alguns element
os
prosódicos que julgamos mais rel
evantes: a
TESSITURA
como variação da altura melódica
, o
VOLUME
,
como intensidade sonora e
,
a
PAUSA
,
como varia
ção de duração.
Oriundo da linhagem carismática, o discurso analisado neste trabalho tem
como informante o sacerdote Tarcísio Gonçalves Pereira, mais conhecido como “Padre Léo”,
falecido em quatro de janeiro de 2006. Líder da Igreja Católica e membro da
Renovação
Carismática Católica no Brasil, Padre Léo proferiu a pregação “Buscai as coisas do alto”,
dentro de um retiro de experiência de oração denominado “Hosana Brasil: vitória de Deus”,
11
na comunidade Canção Nova, em Cachoeira Paulista, no Vale do Para
íba, estado de São
Paulo. A pregação foi transmitida ao vivo pela rede nacional de mesmo nome
e gravada para
distribuição em áudio e vídeo.
Como objeto de nossa pesquisa
,
s
elecionamos o CD e
,
a
partir
dele, efetuamos a
transcrição da pregação.
A escolha de
sse
corpus
se deu, e
m especial
,
pela expressividade do sacerdote
dentro da Renovação Carismática Católica, bem como das circunstâncias de expectativa e
comoção
por parte do audit
ório. ainda o interesse lingu
ístico sobre o
corpus
selecionado,
pois o preg
ador, ao realizar esta sua última pregação antes de falecer, assume um estilo
completamente diferente de todas as outras pregações já realizadas por ele, no que diz respeito
às marcas ling
u
ísticas, vocabulário, em um relato comovente da própria vida e não
mais
cômico ou metafórico como de costume. Essas mudanças no estilo de pregações nos dão
motivos para esta escolha, os quais serão aprofundados em capítulo posterior.
Para alcançar os objetivos expostos de relacionar os elementos prosódicos
aos
argumentat
ivos, faremos
, primeiramente,
uma minuciosa descrição do
corpus
. Como
arcabouço teórico, fundamentaremo
-
nos
na teoria da Argumentação
e Retórica
segundo
Aristóteles, n
as concepções da Nova Retórica de
Perelman
& Olbrechts
-
Tyteca (1997
),
n
os
conceitos de Me
yer (
2003
), Reboul (2004),
Tringali (1988),
Citelli (
200
5), entre outros,
que
estudaram as premissas e técnicas da argumentação, bem como nos estudos dos elementos
prosódicos estudados por
Bollela (2006)
, Cagliari (1992), Scarpa (1999), Massini
-
Cagliari
(2
001), entre outros.
Como metodologia de trabalho
,
abordaremos uma caracterização do gênero
pregaç
ão, à luz da Teoria dos Gêneros, baseado
s
em
Figueiredo et al.
(
200
9
) e da escuta e
transcrição
do áudio
realizada segundo as normas do Projeto NURC/SP (1985)
,
apresentada
em anexo
. Posteriormente faremos uso do programa computacional
Praat
4.2.18
, que
possibilita
uma análise
mais detalhada
dos elementos prosódicos
relevantes para nossa
dissertação.
O trabalho está dividido da segui
nte forma: um primeiro capítu
lo
sobre a
con
stituição do discurso religioso e
uma
caracteriz
ação do gênero pregação, com a
descrição
minuciosa do
corpus
analisado; no segundo capítulo é feito um recorte teórico sobre a
argumentação
e os elementos prosódicos
no discurso, fazendo uma
exp
lanação de cada um
desses princípios
.
No terceiro
capítulo traçamos as análises observadas sobre a intersecção
entre Ar
gumentação e Prosódia dentro da pregação
“Buscai as coi
sas do alto”,
primeiramente
de forma qualitativa e em seguida de forma quantitativ
a.
12
Acima de todas as cont
ribuições que este trabalho almeja
suscitar, está a de
reconhecer ainda mais a relevância dos estudos dos elementos prosódicos e argumentativos na
efetivação da persuasão.
13
1
O DISCUR
SO RELIGIOSO E S
UAS MANIFESTAÇÕES
Seria preciso, para dar conta da evolução das relações oral/escrito,
imaginar a língua
como um teatro em que entram em conflito as diversas
formas de expressão, conflito
do qual a época presente apenas representa
uma fase. A linguagem é
a expressão do
ser inteiro, e apesar de a nossa
civilização tender a reduzir a uma unidade de funções
o que foi plural e
múltiplo, possuímos ainda restos das tensões que se produziram
entre as
diversas formas de expressões (
BARTHES
, 1984
, p. 45
)
.
O discu
rso e seus gêneros são formados nas estruturas e processos sociais.
O
di
scurso deriva das instituições, e
o
gênero das ocasiões sociais convencionalizadas em que a
vida social acontece. Os textos são, portanto, duplamente determinados: pelos sentidos do
di
scurso que aparecem no texto e pelas formas, significados e const
ruções de um gênero
específico.
Os domínios discursivos, segundo Marcuschi (2002), designam uma esfera ou
instância de produção discursiva ou de atividade humana. Tais domínios não são
catego
ricamente textos, nem discursos, todavia proporcionam condições para aparecimento de
discursos bastante específicos. É do ponto de vista dos domínios que produzimos os
discursos, como por exemplo, o religioso, foco de nossas observações.
O homem transform
a o mundo através da utili
zação de instrumentos e atribui
à
linguagem o papel de instrumento essencial para essa atuação transformadora.
O material que
constitui a base empírica de nossa análise apre
senta especificidade discursiva: o discurso
religioso.
Tr
ata
-
se de uma doutrinação religiosa cristã que, conforme Orl
andi (1987, p. 243),
identifica
-
se como aquele
em que “fala a voz de Deus: a voz do padre
ou do pregador, ou,
em geral, de qualquer representante seu.”
De acordo com a referida autora,
é uma
pro
duç
ão
marc
ada
pela anulação da
reversibilidade, ou seja, pela impossibilidade de interlocução, de dialogismo entre o pregador
e seu auditório. Tal anulação se motiva pelo papel do pregador nesse tipo de discurso, que se
resume a ser o de porta
-
voz da palav
ra de Deus, o de mediador dos planos celestial e humano.
Essa condição impõe grande distância entre o contexto da produção e o da recepção do
discurso religioso, uma vez que
estabelece
de modo definido, a separação entre os dois
universos envolvidos: de um
lado, a virtude, o bem, a salvação; de outro, o pecado, o mal, a
purgação.
14
Assim caracterizado, o discurso religioso define
-
se também como assimétrico e
não
-
autônomo. Assimétrico por desnivelar categoricamente os envolvidos
pregador e
auditório
, situa
ndo o primeiro num patamar distinto daquele em que estão os demais, na
medida em que o pregador ocupa o privilegiado lugar de representante da palavra de Deus.
Não
-
autônomo porque o pregador, nesse contexto, não tem qualquer possibilidade de
alteração ou m
odificação da mensagem a ser veiculada, que se resume nos preceitos
religiosos, nos dogmas, nas crenças e convicções que precisam ser repassados aos humanos,
como seres mortais e pecadores, a fim de que possam chegar ao único caminho da salvação
a palavr
a divina.
Nesse contexto, o pregador não fala em seu nome, não tem maior identidade,
resumindo seu papel no de mero repassador da palavra maior.
Todos esses traços conferem ao discurso religioso a marca geral do
autoritarismo. A impossibilidade de reversão
de papéis entre pregador e auditório, bem como
a falta de simetria de seus lugares e de autonomia da mensagem veiculada, concorrem para
que se instaure o dualismo, o antagonismo, que submete o auditório, os que não sabem e não
vêem, à força ideológica da
fé, que tudo conhece. Por ela, pode
-
se chegar ao conhecimento e,
por tabela, à salvação.
No
corpus
selecionado para este trabalho, de cunho religioso cristão, o
contexto da tem estreita relação com a Igreja, que se coloca como marco divisório. Para os
h
umanos, pertencer à Igreja significa ser crédulo, portanto, estar em condições de descobrir o
caminho da salvação e do perdão; por outro lado, estar fora da Igreja constitui traço de
exclusão e marginalização, lugar da ignorância e do pecado.
De acordo com
Marcuschi (2002, p.
24),
o discurso religioso é um tipo de
domínio discursivo
, uma vez que não é o texto propriamente dito, mas uma prática discursiva
que origina gêneros textuais. Assim, o material aqui analisado, enquanto manifestação do
discurso religi
oso constitui um gênero mais específico: trata
-
se de uma pregação voltada para
a doutrinação, para a evangelização de jovens e adultos. De acordo com tal perspectiva, essas
fontes conjugam o sagrado (todo o capital simbólico da Igreja
, seus dogmas, sua tra
dição) e
o
social
(a proposta de salvação pela palavra divina, a sua missão).
no discurso religioso o jogo dos espaços; assim, terra/céu, inferno/paraíso,
humanidade/divindade, por exemplo, constituem dimensões ou lugares muito recorrentes
nesse tipo d
e discurso. A oposição de mundos tão heterogêneos concorre para a configuração
da dualidade característica da pregação analisada neste trabalho: “
Buscai as coisas do alto”.
1.1
O gênero pregação
15
Faz
-
se necessário a partir de agora, uma abordagem mais aprofun
dada sobre a
teoria dos gêneros para caracterizaç
ão da pregação
, objeto de nossa dissertação
.
É sabido que
a linguagem deve ser analisada por suas
funções sociais e por isso vamos conferir
assaz
relevância para os gêneros de grande circulação social. Entre
tanto, há que se
considerar
as
classificações sistemáti
cas desses gêneros.
Desde Aristóteles e Platão até Bakhtin, a noção de gênero está associada à
recorrência de certas especificidades e certos parâmetros, por meio dos quais um texto é
produzido e consu
mido. Assim, para que se constitua como gênero, o texto apresenta
características estruturais relativamente permanentes, percebidas após sua utilização reiteradas
pela coletividade. Denominamos aqui como
texto
toda interação verbal humana dotada de
signifi
cado, seja oral ou escrita, assim como conceitua Bronckart (1999).
Conhecer a organização textual a ser utilizada em cada situação é
indispen
sável. Tal procedimento de análise permite estabelecer
a qual gênero pertence
determinado texto de acordo com sua e
strutura.
Em sua
Introdução à Retórica
, Reboul (
2004
) apresenta procedimentos de
interpretação textual, mas que podem ser transferidos para a análise de neros por sua
pertinência. Cada questionamento do autor para a interpretação de textos serve como
sin
alizador da produção, aludindo ao gênero escolhido pelo produtor.
Figueiredo et al. (2009
) insere
m
alguns questionamentos necessários para a
caracterização da estrutura textual dos gêneros orais:
Quem fala? Onde? Para quem? Qual a
duração? Qual
o intuito?
Existem marcas lingu
ísticas determinantes? A produção está baseada
em
quais parâmetros? Qual o meio de transmissão?
Ao respondermos a cada um desses questionamentos fica
-
nos clara a
possibilidade de caracterização de qualquer gênero por meio de suas parti
cularidades
sistematizadas.
Figueiredo et al.
(200
9
) afirma
m
que o termo
pregação
está intrinsecamente
ligado, no seu uso, às religiões cristãs
, mas que, n
o entanto, ao
se levantarem
as caracter
ísticas
desse gênero, percebe
-
se
que este termo
também
pode se
r utilizado para designar o discurso
de outras religiões.
Uma das formações discursivas onde se reconhece
a presença da persuasão é a
religiosa: nesse caso, o paroxismo autoritário eleva
-
se: o eu enunciador não pode ser
questionado, visto ou analisado; é
ao mesmo tempo o tudo e o nada. A voz de Deus
plasmará as
demais vozes, inclusive a daquele que fala em seu nome: o agente
religioso (pastor, padre, rabino etc) (CITELLI, 2005, p.
61)
.
16
Desta forma, ao lançar mão da palavra sagrada, o líder religioso confe
re maior
credibilidade ao que diz, pois não fala por ele, mas sim em nome de um ser imaterial, dotado
de verdade.
No caso do discurso oral religioso que caracterizaremos como
pregação
, temos
o seguinte: o líder religioso é o responsável pela realização des
se gênero, ou seja, é a fala dele
que serve de suporte para tal feito. O local, habitualmente, é um templo religioso mantido pela
comunidade religiosa. O líder fala sempre para a comunidade religiosa de que faz parte.
Mesmo que esta contenha
, por vezes,
ou
vintes não
-
fiéis, a maioria é constituída de ouvintes
fiéis. A duração/temporalidade de uma pregação é um aspecto variável, porém,
predominância de pregações com aproximadamente 40 minutos. Geralmente, a pregação é
realizada com o intuito de formar o ca
ráter dos fiéis, converte novos fiéis, bem como
conservar aqueles que já fazem parte da comunidade religiosa.
Segundo Pedrosa (2004), ainda observamos:
Outros traços do Discurso Religioso se configuram
com o uso do imperativo e do
vocativo
-
característica
s
inerentes de discursos de doutrinação; uso de metáforas
explicitadas por paráfrases que indicam a leitura apropriada para as metáforas
utilizadas; uso de citações no original (grego, hebraico, latim)
traduzidas para a
língua em uso através de perífras
es extensas e
explicativas em que se busca
aproveitar o máximo o efeito de sentido advindo da língua original: o uso de
performativos
uso de verbos em que o ‘dizer’ representa o ‘fazer’: o uso de
sintagmas cristalizados
usadas em orações e funções fát
icas. Ainda em relação às
unidades textuais, podemos acrescentar o uso de determinadas formas simbólicas do
discurso religioso como as parábolas, a utilização de certos temas rec
orrentes.
Em relação ao meio de transmissão, a pregação é realizada de forma
oral, e
transmitida de maneira direta, ou seja, o líder prega, o auditório ouve. Atualmente, com os
recursos da tecnologia, é possível encontrarmos pregações gravadas em CD ou DVD para a
distribuição comercial. No entanto, não entenderemos aqui tais possib
ilidades como meios de
produção, mas sim como formas de reprodução para comercialização.
No discurso religioso, há um desnivelamento funda
mental na relação entre
pregador
e auditório: o orador é do plano espiritual (o Sujeito, Deus) e o auditório é do pla
no
temporal (os sujeitos, os homens). Assim, o orador e o auditório pertencem a duas ordens de
mundo totalmente diferentes e afetadas por um valor hierárquico, por uma desigualdade em
sua relação: o mundo espiritual domina o temporal.
Nessa perspectiva, po
de
-
se dizer que o discurso religioso não apresenta
autonomia, ou seja, o representante de Deus não pode modificá
-
lo, pois regras estritas que
devem ser respeitadas, como o texto sagrado, a Igreja, as cerimônias.
17
Devido à forma da representação da voz e
devido à assimetria fundamental que
caracteriza a relação falante/ouvinte no discurso religioso, mantém
-
se a separação entre
significação divina e linguagem humana. Assim, permanece a obscuridade dessa significação,
inacessível e desejada (porque não se co
mpreende deve
-
se crer e obedecer).
A assimetria que assim se
constitui
caracteriza a tendência para a não
reversibilidade: os homens não podem ocupar o lugar de Deus. regras estritas no
procedimento com que o representante se aprop
ria da voz de Deus: a
relação do
representante
com a voz é regulada pelo texto sagrado, pela Igreja, pelas cerimônias. O representante, ou
seja, aquele que fala no lugar de Deus
transmite
suas palavras, mas não se confunde com Ele.
O rito produz uma nova realidade, faz a conjun
ção do que é terrestre com o sobrenatural. Ele
transforma o estatuto do real. O sujeito passa
a estar unido a Deus,
entretanto, ele reconhece
no outro, o diferente. Ligam
-
se duas ordens diferentes de realidade, a humana e a divina.
Entre o humano e o divin
o
se
mantém
uma distância que a ação ritual permite que venha a ser
transposta sem que venha a ser abolida. Atribui
-
se ao rito uma eficácia mais ou menos mágica
e automática.
Interpretando
-
se a com referência à assimetria, Orl
andi (1987
) ressalta que a
não a elimina, isto é, não é capaz de modificar a relação de não
-
reversibilidade do discurso
religioso: a fé é uma graça recebida de Deus pelo homem. O homem, com fé, tem muito mais
poder, mas como a fé é um dom divino, ela não emana do próprio homem, v
em de Deus.
Embora não haja reversibilidade de fato, é a ilusão de reversibilidade que
sustenta esse discurso, porque, quando esta é zero, esse se rompe, desfaz
-
se o contato e o
objetivo do discurso fica comprometido. Daí a necessidade de se manter o desej
o de torná
-
lo
reversível.
Dentre as formas de ilusão de reversibilidade, apontadas por Orlandi, estão a
visão, a profecia, a performatividade das fórmulas religiosas e a revelação.
Nas pregações
católicas
é constante
o uso de performativos, ou seja, verbo
s que não descrevem propriamente
uma ação, mas a realizam: “eu profetizo, eu clamo, eu determino”. A performatividade da
linguagem está ligada intimamente a uma visão da linguagem como ação.
Para que esses atos de linguagem se constituam efetivamente em
p
erformativos, devem seguir regras estritas: as fórmulas religiosas, para ter validade, devem
ser usadas em situação apropriada. Para realizar esses atos, é preciso estar investido de uma
autoridade dada, ou pelo menos reconhecida, pelo poder temporal, em c
ondições muito bem
determinadas, em situações sociais bastante ritualizadas. Assim, por meio dos performativos,
18
dos rituais e cerimônias, Deus partilha com os homens suas qualidades divinas. Já o homem
alcança Deus por meio da visão profética, do misticism
o.
O pregador
não é arg
u
ido, analisado ou revisitado, pois é o tudo ou o nada.
mecanismos que acentuam a persuasão nesse discurso e que demonstram sua especificidade.
O uso dos imperativos, vocativos, da função emotiva, de metáforas, parábolas e paráfra
ses,
estereótipos e chavões, mostram o quanto
a pregação religiosa ao ser dogmática tenta ser
persuasiva
.
Os teóricos da Retórica
A
ntiga distinguem
os gêneros
quanto ao papel
cumprido pelo auditório a quem se dirige o discurso. Os gêneros oratórios, tais
como os
definiam os antigos, correspondiam respectivamente, a auditórios que estavam deliberando,
julgando ou simplesmente sendo espectadores durante o discurso. Tanto Aristóteles (
2003
)
quanto Perelman e
Olbrechts
-
Tyteca (1997) dão especial atenção aos
neros discursivos e,
assim, trabalham a descrição dos gêneros argumentativos e seus efeitos.
É de se notar que os discursos da Igreja Católica, na face da Renovação
Carismática, se iniciam com músicas para emocionar e captar a atenção dos fiéis.
Seu objeti
vo
será conquistar o auditório, captar a benevolência, a atenção, o interesse.
Embora os discursos da Igreja Católica não apresentem partes dispostas de
forma rígida, caracterizam
-
se por uma intensidade crescente. No começo, invoca
-
se
a
Deus,
em seguida
leituras bíblicas, depois reflexões sobre o texto bíblico, exemplificadas por
fatos do cotidiano em uma pregação de valores, normas de conduta e princípios morais e, ao
final, os testemunhos.
Neste sentido, parece que o discurso da Igreja Católica aprese
nta
características
do gênero deliberativo, pois propõe um novo modelo de vida, uma nova conduta e
desqualifica o que é prejudicial ao auditório. Ao mesmo tempo, tece elogios a Deus e censuras
ao Diabo, relacionando
-
se ao gênero epidítico. Perelman e
Olbre
chts
-
Tyteca (1997)
aproximam o exórdio
do discurso religioso ao epidí
tico, o qual aumenta a intensidade de
adesão a certos valores.
Procura
-
se criar uma comunhão em torno de certos valores
reconhecidos pelo auditório, valendo
-
se do conjunto de meios de que
a Retórica disp
õe para
isso. Na oratória epidí
tica, o orador se
faz educador.
O discurso epidí
tico
e toda a educação
visam menos a uma mudança das
crenças do que a um aumento da adesão ao que é aceito. Por isso será praticado de
preferência por aq
ueles que, numa sociedade, defendem os valores tradicionais, os valores
aceitos, os que são objeto da educação e não os valores revolucionários, os valores novos que
suscitam polêmicas e controvérsias.
19
Segundo Perelman e
Olbrechts
-
Tyteca (1997, p.
58):
En
quant
o o propagandista deve granjear,
p
reviamente, a audiência do seu público, o
educador foi encarregado por uma
comunidade de tornar
-
se o porta
-
voz dos valores
reconhecidos por ela e, como tal, usufrui um prestígio devido as suas funções.
Como o que vai
dizer não suscita controvérsia, como nunca está envolvido um
interesse prático imediato e não se trata de defender ou atacar, mas de promover valores que
são objeto de
uma comunidade social, o pregador
deve possuir um prestígio reconhecido para
poder apre
sentar os valores defendidos.
Segundo Reboul (
2004
, p.
104),
quando o sujeito se encontra num meio humano tal que não tem outra esperança de
nele viver ou sobreviver, senão adaptando suas crenças; em ruptura total com o
antigo meio, sem recurso nem espe
rança, “morto para o mundo”, não tem outra
saída senão aceitar a ideologia imposta, não porque a crê verdadeira, mas porque
nela deve crer para sobreviver.
Assim, a eficácia da pregação decorre da vulnerabilidade do auditório e de suas
carências, quando u
ma autoridade impõe o seu ponto de vista sem dar oportunidade a
julgamentos. Para esse fim, são importantes os elementos pas
sionais e a imagem do orador,
assuntos
abordado
s
posteriormente com mais detalhamento.
20
2
“A PREGAÇÃO “BUSCAI AS CO
ISAS DO ALTO” E SEU PREGADOR PADRE
LÉO: UMA CARACTERIZAÇÃO DO
CORPUS
Nosso objeto de pesquisa é a pregação “Buscai as coisas do alto”, proferida em
2006. O informante analisado é Tarcísio Gonçalves Pereira
conhecido como “Padre Léo”
nascido em 9 de o
utubro de 1961 e falecido em 4 de janeiro de 2006.
Padre Léo foi s
acerdote da Igreja Católica Apostólica Romana e membro da
Renovação Carismática Católica, movimento que se denomina como sendo a Igreja dos
primeiros tempos, seguindo uma espiritualidade pr
ópria, baseada na experiência de Deus
através do batismo no Espírito Santo e no uso dos carismas em prol do benefício de todos os
fiéis.
Su
a pregação
,
“Buscai as coisas do alto”
, foi proferida
durante um retiro de
evangelização denominado “Hosana Brasil: c
elebrai a vitória de Deus”, na Comunidade
Canção Nova, em Cachoeira Paulista. A pregação foi transmitida ao vivo pela rede nacional
de televisão de mesmo nome e gravada para distribuição em áudio e vídeo.
Como sacerdote e fundador da Comunidade Bethânia u
m centro de
recuperação para dependentes químicos
acolhidos para tratamento físico, psíquico e espiritual
,
Padre Léo sempre esteve
pregando o evangelho
nos retiros da Comunidade Canção Nova
,
outra comunidade de vida, porém esta voltada para ret
iros de oraç
ão e evangelização
por meio
da mídia, sobretudo televisiva.
Afastad
o de suas funções por dez meses
em decorrência de um sério problema
de saúde,
um câncer,
Padre Léo voltou à C
omunidade para se pronunciar naquele encontro.
Cerca de trinta mil pessoas o esp
eravam, além de todos os telespec
tadores da rede televisiva,
em virtude
do tempo de isolamento para tratamento e silenciamento de suas pregações.
Durante e
sta
reclusão, escreveu um livro intitulado “Buscai as
coisas do alto”, o qual lançou
no dia da pregaç
ão de mesmo nome.
O título da pregação faz alusão ao livro escrito, porém
seu conteúdo não se
assemelha ao
do livro. A pregação foi conduzida como t
estemunho de vida, enquanto
o livro
trata de questões espirituais, que elevam o ser humano e o aproximam de
Deus, em forma de
catequese.
21
Sentado, enfraquecido pelo tratamento e debilitado, Padre Léo pregou dur
ante
49 minutos. Essa fala constitui
-
se na pregação que se encontra transcrita em anexo e a
qual
utilizamos como objeto de pesquisa para aplicação dos p
res
supostos teóricos abordados.
Ao iniciar sua pregação, Padre o faz refer
ência ao texto b
íblico de
Colos
ensses 3,3 em que temos a frase que o conduz durante toda a sua argumentação: “Se,
portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto”. Difer
entemente de
suas
outras
pregações, o pregador suscita em seu auditó
rio a atenção para o
momento
específico
de
sua
vida que justifica toda a
pregação. Discorre sobre seu tratamento, cita situações de profundo
sofrimento, enumera pessoas q
ue o ajudaram nos
piores dias de sua
enfermidade
e nã
o
faz
uso
corriqueiro de metáforas, alusões, anedotas ou linguagem coloquial.
Desenvolve sua pregação
se dizendo provocado pelo
que chama de “encardido”, em uma alusão ao demônio
,
e o culpa
por todo o sofrimento. Em tom c
omedido e em profunda resiliência, Padre Léo insere em seu
discurso citações dos evangelista
s d
a Sagrada Escri
tura e tem intenção de catequizar s
eu
auditório quando compara valores a carimbos do céu ou carimbos do inferno”. Em outras
pregações, fez alusõe
s a esses “carimbos”, mas em contexto de anedotas ou lingua
gem
figurada. Nesta pregação, o que nos chamou a atenção
foi justamente o fato de que
,
em
raríssimos momentos, Padre Léo se dirige ao auditório com a linguagem que lhe é peculiar
,
mas
sim, apresent
a
-
se mais sério, mais compenetrado, refletindo em cada uma das frases antes
de proferi
-
las, demonstrando maior reflexão em contrapartida aos discursos mais espontâneos
de outrora.
Se antes o sacerdote inseria em suas pregações contações de causos, uti
liza
ndo
marcas da variante lingu
ística rural,
nessa pregação específica proferiu um discurso mais
ponderado, emotivo e catártico.
Vale ressaltar que Padre o r
ealizou inúmeras pregações, disponíveis para
vendagem em cassete, CD ou DVD
. E
screveu
,
entre tantos
outros livros, “Jovens Sarados”,
em que catequiza adolescentes e jovens a uma vida pautada nos princípios cristãos de modo
irreverente e moderno. Escreve
u também uma rie de livros sugerindo atitudes blicas para
alcançar a cura dos ressentimentos, a cu
ra dos traumas e da morte, a cura do coração e como
ser feliz todos os dias.
Lançou uma coletânea contendo sete CDs com suas pregações
gravadas ao vivo pela Rede de Televisão Católica Canção Nova, sendo premiado pela
vendagem extraordinária dos
CDs
em todo
o Brasil.
Em suas pregações, contava a
nedotas,
dançava, cantava, cri
ava
inúmeras metáforas para exemplificar conceitos bíblicos e levar seu
auditório à reflexão. Reduzia
su
a linguagem ao coloquial, sem preocupar
-
se com estruturas
22
gramaticais, concordância
s verbais exatas ou uso dos plurais.
“Nóis pudêmu
vivê
a plenitúdi
divina
si nóis ixprimentá o que Deus pé
di d
i
nóis, mia
gênti!” (
PADRE LÉO,
200
6
)
.
Em “Buscai as coisas do alto”
,
o pregador modifica completamente o seu
modo
de anunciar
o Evangelho, fazend
o uso de citações b
íblicas, testemunhando seus momentos de
sofrimento com uma
linguagem rebuscada em um ambiente de profunda comoção,
procurando fazer ligações entre pensamento e vida em uma profunda reflexão,
sem o seu
característico senso de humor, fa
to que justifica nosso interesse ling
u
ístico em analisar esta
pregação em detrimento das outras. Em “Buscai as coisas do alto”, o pregador compara o
momento em que vive seu tratamento contra o câncer ao flagelo vivido por Jesus Cristo no
Calvário, fazendo
alusões sobre o sofrimento, buscando suscitar em seu auditório a emoção e
a reflexão.
A especificidade desse
corpus
em especial se deu pela expressividade do
sacerdote dentro da Renovação Carismática Católica,
movimento católico surgido nos Estados
Unidos
na década de 1960, que propõe o reavivamento da Igreja Católica tradicional a partir
do batismo no Espírito Santo e a experiência de viver os carismas do mesmo Espírito.
O que
também justifica o olhar para esta pregação foram
as circunstâncias de expectati
va e comoção
que a pregação causou em seu auditório. que se considerar também as particularidades do
discurso de Padre Léo que se diferenciam nessa pregação analisada
.
Apesar de quase sempre
ressaltar em suas pregaç
ões anteriores o registro rural como
v
ariante brasileira do Português,
Padre Léo não a mantém na pregação “Buscai as coisas do alto”. Nela, explora sentimentos
como compaixão, comoção,
auto
-
piedade e dor.
Ao final da pregação, Padre Léo direciona
seu discurso par
a um momento de oração e a ence
rra
cantando a canção “Alô, meu Deus!”.
2.1
ARCABOUÇO TEÓRICO
Este capítulo objetiva apresentar a revisão de literatura
essencial ao
desenvolvimento
deste estudo sobre a intersecção entre Prosódia e Retórica no discurso
religioso.
2.2
A RETÓRICA
23
N
este capítulo tomaremos como base os conceitos registrados por Aristóteles
na Antiga Retórica e de Perelman & Olbrechts Tyteca (
1997
) na Nova Retórica
a fim de
esclarecer
de que maneira os elementos retóricos constituem o processo persuasivo.
Na Antig
u
idad
e já havia a preocupação com a arte de bem falar, que se tornava
mais presente à medida que as cidades
-
estados gregas estruturavam
-
se em termos políticos e
sociais. Na dem
ocracia, saber apresentar as ide
ias era imprescindível para quem aspirasse a
política
.
Segundo a Retórica Antiga, baseada em Aristóteles (
2003
), persuadir é
aconselhar alguém de modo completo, habilidosamente, a aceitar
um determinado ponto de
vista.
Alé
m disso, Aristóteles observava que a Retórica não era tratada pelos especialistas
como
uma arte e enfatizava que ela deveria ser uma rigorosa técnica de argumentar.
2.2.1
A composição do sistema retórico
Para os gregos, o sistema retórico se dividia em quatro partes:
inventio,
dispositio
,
elocutio
e
actio
.
Em sua obra
Introdução à Retórica
,
Tringali (1988) explica que n
a
inventio
,
procuram
-
se os argumentos, as provas e outros meios de persuasão relativos ao tema do
discurso. Aristóteles
(2003
) trata esta parte de tópica, no estudo dos lugares de onde se tiram
os argumentos.
A organização inte
rna do discurso é a
dispositio
e apresenta os seguintes
componentes: exórdio, narr
ação, provas (argumentação) e
peroração.
O exórdio é o início do discurso e é importante porque visa assegurar a
fidelidade dos ouvintes, tendo por fim obter a atenção dos m
esmos e prepará
-
los para o
discurso que será proferido em seguida.
A narração é propriamente o assunto, a apresentação dos fatos, a argumentação
em si mesma. Não deve apresentar prolixidade nem extrema concisão e deve valorizar o
caráter do orador.
Na etap
a das provas é necessária a confirmação dos próprios argumentos e a
refutação dos adversários continuamente. Este é o momento de organizar o que foi levantado
na invenção.
24
Em sua obra
Retórica
, Aristóteles (
2003
) divide as provas retóricas em
extrínsecas
ou extratécnicas (ou independentes da arte) e intrínsecas ou técnicas (ou
dependentes das artes). As primeiras não fazem parte da técnica retórica; são provas
preexistentes como as confissões, as leis que necessitam apenas da manipulação adequada do
orador
; as segundas dependem de maneira direta da técnica retórica e das habilidades do
orador.
As provas intrínsecas são lógicas ou psicológicas. Se lógicas, dividem
-
se em
silogismos e exemplos; se psicológicas, em éticas e patéticas. A divisão considera o f
ato de
haver na persuasão um componente racional e um emocional.
As provas ou argumentos lógicos produzem convicção intelectual; esta
se
converte
em um impulso que leva à ação. Nesse caso, persuade
-
se pelo exemplo, caso
particular de indução, e pelo entime
ma, forma especial de silogismo. Especial, porque uma de
suas proposições é omitida e seu conteúdo é dialético ou provável.
As provas psicológicas produzem comoção no auditório para que aceite mais
facilmente a proposição do orador. Assim, como acontece co
m a convicção intelectual, pode
suscitar uma ação. Os argumentos de cunho psicológico bifurcam
-
se em duas linhas: os éticos
e os patéticos.
Os
argumentos ou provas éticas apo
iam
-
se na impressão favorável que o
orador transmite de si para o auditório. Arist
óteles trata tais argumentos com inegável
importância. Segundo o filósofo grego, o caráter moral do orador é a “prova determinante por
excelência”, pois sua probidade em muito influ
i no ânimo e na disposição do
blico quando
este é convocado a se pronunci
ar a respeito de uma questão de fundo dialético, ou seja, a
respeito de uma questão sobre a qual não se pode ter certeza, mas somente opiniões.
Por meio das provas éticas, os oradores fazem
-
se dignos de serem escutados. A
parte mais indicada para os argume
ntos éticos é o exórdio (início do di
scurso), pois o
orador tenta
captar a benevolência, a atenção e a docilidade do auditório, porém, tais
argumentos podem estar disseminados por todo o discurso do orador.
Os argumentos patéticos utilizam a paixão para
persuadir os ouvintes. As
paixões agem diretamente no auditório porque, como bem aponta Aristóteles, elas
influenciam nos juízos, que variam conforme se experimenta um sentimento como a alegria
ou o ódio. As paixões, portanto, levam o auditório a aderir à
proposição do orador pela
emoção.
25
A peroração é o epílogo
, a conclusão, cuja finalidade é
:
disp
or o ouvinte em
favor do orador; proceder a uma recapitulação;
amplificar ou
atenuar o que se disse;
excitar as
paixões no ouvinte.
Outro elemento retórico é a
elocutio
ou as escolhas que podem ser feitas no
plano da expressão para que haja coerência entre forma e conteúdo.
Segundo Mosca
(
2005
, p.
29):
São conhecidas as virtudes apregoadas pela velha Retórica e que ainda continuam
sendo preceitos do bem dizer,
embora nem sempre os meios de comunicação
os
tenham em mente: correção, clareza, concisão, adequação e elegância.
Por fim, a
actio
(ação), que é o elemento retórico do discurso propriamente
dito.
Nela, incluem
-
se
: gestos, mímica e entonação da voz.
E
é n
a ação que o orador
dramatiza o discurso procurando emocionar, impressionar, persuadir.
A apresentação dessas partes variava conforme cada um dos gêneros
tradicionais.
Como mencionado anteriormente, para
os antigos, havia três gêneros oratórios: o
delib
era
tivo, o judiciário e o epidí
tico. O deliberativo referia
-
se ao útil/inútil e aos meios de
obter a adesão das assembléias políticas; o judiciário referia
-
se ao justo/injusto e à
argumenta
ção perante aos juízes; o epidí
tico referia
-
se ao elogio ou à censura,
ao belo e ao
feio. Aristóteles questionava essa divisão canônica em todo tipo de discurso, dadas as
características peculiares de cada um. Para ele, de obrigatório haveria a proposição e as
provas.
Nota
-
se, assim, que a Retórica consistia em um sistema
de técnicas detalhadas.
Apesar disso, na época, a Retórica foi muito criticada por se basear em pontos de vista e não
em verdades absolutas. Platão, por exemplo, em sua obr
a
Górgias
(2004), procurava mostrar
que a Retórica visava apenas aos resultados, en
quanto que a filosofia visava sempre ao
verdadeiro. Platão condenava a Retórica em nome da moral, enquanto Aristóteles considerava
que ela em si mesma não é moral nem imoral, dependia apenas do uso que o ser humano
fizesse dela.
Reboul
(2004
) considera com
prometedora a atitude dos sofistas em relação à
Retórica, pois a fundamentaram pela ausência de verdade e por fazerem crer que o discurso
humano não teria outro objetivo senão o próprio sucesso. O primeiro a ir contra a sofística foi
Isócrates, que proporá
uma Retórica com caráter mais ético que a dos sofistas, visando a
atender às diversas necessidades dos gregos, como a necessidade da técnica judiciária, de
prosa literária, de filosofia e de ensino.
26
Em razão de ter sido tão criticada na época clássica, no
decorrer do tempo, a
Retórica foi perdendo, cada vez mais, prestígio perante a opinião pública e reduzida à teoria
das figuras. Nos dias de hoje, a partir dos estudos
da Nova Retórica, esses temas tê
m sido
amplamente reabilitados, sendo, sobretudo a parti
r dos anos
1960, vislumbrados
por outras
ciências como a Lingu
ística, a Semiótica, a Pragmática e a Análise do Discurso.
Obra que contribuiu muito para essa nova visão em relação à Retórica é o
Tratado da
argumentação: a nova r
etórica
cujos autores são Ch
aïm Perelman e Lucie
Olbrechts
-
Tyteca (1997), muito utili
zada nas análises
.
Retomando a dialética e a Retórica de Aristóteles, Perelman e
Olbrechts
-
Tyteca desenvolvem a teoria da Argumentação, que, segundo eles, complementaria a teoria da
demonstração, ala
rgando a concepção da razão, apontando como lidar com valores,
estabelecer preferências e fundamentar decisões. Nes
te excerto da obra, a posição dos autores
fica bastante clara:
Tendo, pois, empreendido essa análise
da argumentação em certo número
de obra
s,
em especia
l
filosóficas, e em certos discursos de nossos contemporâneos, demo
-
nos
conta, no decorrer do trabalho, de que os procedimentos que encontrávamos eram
em grande parte da “Retórica” de Aristóteles; de todo modo, as preocupações deste
se aproxim
avam estranhamente das nossas. Foi, para nós, tanto uma surpresa quanto
uma revelação. Com efeito, a palavra “retórica” desapareceu completamente do
vocabulário
filosófico. Não a encontramos [...]
e
m todas as áreas, o termo “retórica”
evoca a suspeita e em
geral se alia ao desprezo (
PERELMAN
&
OLBRECHTS
-
TYTECA
,
1997, p.
64)
.
Nessa perspectiva,
Perelman e
Olbrechts
-
Tyteca
(1997) questiona
m
se, ao
utilizar o método experimental bem sucedido em lógica, poder
-
se
-
á reconstituir a Retórica e
torná
-
la interessant
e. Mostra
m
que a Retórica teria
,
segundo Aristóteles, uma razão de ser,
seja por causa da ignorância da maneira técnica de tratar um assunto, seja por causa da
incapacidade dos ouvintes de seguir um raciocínio complicado. De fato, seu objetivo é
sustentar
opiniões para que sejam admitidas pelos outros. A Retórica não tem, pois, como
objeto o verdadeiro, mas o opinável, que Aristóteles confunde, segundo
Perelman e
Olbrechts
-
Tyteca
(1997), com o verossímil. Em síntese, não uma lógica e
specífica dos
juízos
de valor,
pois não são deduções formais corretas nem induções do particular para o
geral, mas argumentações de toda espécie. Os juízos de valor não são verdadeiros nem falsos,
apenas podem ser mais ou menos fundamentados ou justificados.
Assim,
Perelman e
Olbrechts
-
Tyteca
(1997) utiliza
m
daí por diante o termo
retórica para designar o que se poderia ter chamado também a
lógica do preferível
, colocando
em destaque a importância da adesão e aproximando
-
a da Retórica de Aristóteles. Para
os
27
autores
, a argument
ação é acima de tudo uma ação: de um indivíduo (orador) sobre outro
indivíduo (auditório), com o objetivo de desencadear uma ação (adesão).
2.2.
2
O Auditório
Perelman e
Olbrechts
-
Tyteca (1997) definem auditório como o conjunto
daqueles que o orador que
r influenciar com a sua argumentação.
Definem dois tipos de
auditório: um universal e outro particular. O primeiro é constituído pela humanidade toda e o
segundo é composto por pessoas que estão ligadas por elementos comuns, que partilham as
mesmas crenças
ideais, valores, etc. A esse respeito, Perelman & Olbrechts
-
Tyteca (
1997
, p.
24
) alertam:
É muito comum acontecer que o orador tenha de persuadir um auditório
heterogêneo, reunindo
pessoas diferenciadas pelo caráter, vínculos ou funções. Ele
deverá utili
zar argumentos
múltiplos para conquistar os diversos elementos de seu
auditório. É a arte de levar em conta, na argumentação, esse auditório heterogêneo
que
caracteriza o grande orador
.
Cabe ao auditório
o papel principal para determinar a qualidade da
ar
gumentação e
o comportamento dos oradores.
Assim, cada orador deve pensar naqueles que
procura influenciar e que constituem o auditório ao qual dirige seus discursos.
Os autores
afirmam que o importante na argumentação, não é saber o que o próprio orador c
onsidera
verdadeiro, mas qual é o parecer daqueles a quem a argumentação se dirige.
É de extrema relevância, portanto, que o orador conheça aqueles a quem
pretende conquistar e esta deve ser uma condição prévia de qualquer argumentação eficaz.
Além disso,
há que se conhecer os valores do auditório, enquanto acordos grupais que mudam
de acordo com a evolução das hierarquias sociais.
É a adaptação do orador ao seu auditório que vai fazer com que, ao final do
discurso, o auditório não seja mais o mesmo do i
nício e que tenha obtido uma nova
concepção da realidade, conferida pelo orador.
Os autores afirmam ainda que os ouvintes podem ser divididos de acordo com
os valores a que aderem. Propõem chamar
persuasiva
a uma argumentação que pretende valer
só para um
auditório particular e levar a uma ação e chamar
convincente
àquela cujo propósito
é obter adesão de todo ser racional (auditório universal) e não constitui um apelo à ação
28
imediata. Tem
-
se, portanto, que considerar a presença do auditório, em relação ao q
ual o
princípio básico é a adequação, com a finalidade não apenas de convencer pelos raciocínios,
mas persuadir com base na emoção, nas crenças e na ideologia. Os recursos argumentativos
devem se adaptar a cada tipo de auditório para que o orador possa agi
r eficazmente sobre os
interlocutores.
Para Perelman e
Olbrechts
-
Tyteca (1997) o auditório tem a característica de
nunca ser real, mas ideal, e, para obter a adesão de semelhante auditório, deve
-
se valer de
premissas aceitas por todos. Esse auditório se
convencido por
meio de
uma
argumen
tação que se pretenda objetiva e
que se baseie em valores universalmente aceitos.
Argumentação que conferirá à sua exposição um cunho científico ou filosófico
, o
que as
argumentações dirigidas a auditórios particulares
não possuem.
2.2.
3
Modalidades argumentativo
-
persuasivas
Se a argumentação é, essencialmente, adaptação ao auditório, a ordem dos
argumentos de um discurso persuasivo deveria levar em conta todos os fatores suscetíveis de
favorecer
-
lhes a acolhida pelo
s ouvintes. Enquanto, numa demonstração, tudo é dado, na
argumentação, ao contrário, as premissas são alteráveis. No decorrer da argumentação, elas
podem enriquecer
-
se. A ordem dos argumentos será, portanto, ditada em grande parte pelo
desejo de ressaltar
novas premissas, de dar presença a certos elementos a fim de envolver o
interlocutor.
Perelman e
Olbrechts
-
Tyteca (1997) representam um esforço de superação das
limi
tações entre a dimensão teórico
-
formal e a dimensão pragmática dos raciocínios, impostas
pe
la concepção clássica de razão, privilegiando as questões da razão prática e do raciocínio
prático.
Perelman e
Olbrechts
-
Tyteca (1997) realizam, em
seu
Tratado da
a
rgumentação
, um levantamento e análise das estratégias argumentativas que levam à adesão,
l
imitando
-
se basicamente à análise das técnicas verbais utilizadas para a consecução desse
processo. Com relação aos apoios necessários aos processos argumentativos,
os autores
crêem
que, ao se argumentar, criam
-
se simultaneamente vários juízos sobre os mai
s diversos valores.
No entanto, o que mais contribui
para o sucesso da argumentação é o modo de hierarquizar
29
tais valores, a ponto de acabar sendo mais importante, para um auditório, a forma de
hierarquização que propriamente o valor veiculado.
Ainda trata
ndo desses apoios argumentativos, Perelman e
Olbrechts
-
Tyteca
(1997) introduzem uma discussão sobre
lugares
, não exatamente sob
o
enfoque dos antigos.
Outro ponto considerado fundamental pelo autor
es
, no que
diz respeito
à for
ma
persuasiva que leva à adesã
o e
à aceitação cita dos argumentos, é aquele relativo à
ideia
de
presença
. E o que seria essa presença? Seria a capacidade de manter vivos para a consciência
certos elementos (objetos, pessoas, emoções
reais ou não), mesmo que não haja qualquer
base c
alcada em demonstrações formais ou provas.
Reportando
-
se a seguir ao que denomina
dados argumentativos
, os autores
partem para uma demonstração do papel desempenhado por certas operações verbais
relacionadas ao processo argumentativo. Verifica
-
se a forma
pela qual ocorrem, por exemplo,
as ligações
entre as funções sintáticas, le
xica
i
s, morfológicas e semânticas da língua e que
passam a ter irrefutável papel argumentativo.
Para melhor apreender a especificidade do verbal, Perelman e
Olbrechts
-
Tyteca
(1997)
propõem algumas modalidades argumentativo
-
persuasivas, dentre as quais se
destacam:
modalidade assertiva
a que melhor se adapta a toda argumentação, pois impede a
discussão sobre o que foi dito;
modalidade injuntiva
, representada linguisticamente pelo us
o
do imperativo que, conforme opinião geral
,
traz
em si
forte valor persuasivo. Entretanto,
segundo os autores, a força do imperativo existe na razão direta da força impositiva da pessoa
que dá a ordem. Uma última modalidade seria a
interrogativa
, sutil e
hábil, pois procura levar
o interlocutor, pelos processos persuasivos, a aderir às
ideia
s do orador.
Perelman e
Olbrechts
-
Tyteca (1997) destacam que, desde a Antiguidade, se
reconheceu a existência de certos modos de expressão que não se enquadram no comu
m, cujo
estudo foi em geral incluído nos tratados de retórica; daí seu nome e figuras de retórica. Em
decorrência de a retórica limitar
-
se aos problemas de estilo e de expressão, as figuras foram
cada vez mais consideradas simples ornamentos, que contribue
m para deixar o estilo artificial
e floreado.
Faz
-
se necessário aqui, abordarmos como se a persuasão levando em
consideração as construções éticas e patéticas do discurso, segundo Aristóteles. Para o autor, a
persuasão acontece por meio do caráter moral
do orador (
ethos
), dos sentimentos despertados
no auditório (
pathos
) e pelo discurso que é fundamentado na verdade (
logos
).
Especifiquemos:
30
2.2.
4
Ethos
,
pathos
e logos
Segundo a retórica Aristotélica, podemos conhecer no orador atitudes e
virtudes como
honestidade, benevolência e equidade. Sucede que a forma como se constrói
o
ethos
nas pregações pode suscitar diferentes reações no auditório. Se o
ethos
é a imagem
moral que o orador de si, construída com sua palavra em uma representação de si, ent
ão o
orador pode adequar seu discurso ao seu auditório para atingir a persuasão.
A construção do
ethos
se não somente pelo que o sujeito diz de si, mas da
personalidade que ele demonstra ao proferir o seu discurso. Aristóteles diz que persuadimos
pelo
e
thos
se o discurso é tal que torna o orador digno de créditos.
Assim, o valor do discurso não se encontra nas regras, mas, sim, em quem o
faz. O orador torna o discurso marcante, agradável, cativante, e, principalmente, confere
-
lhe o
indispensável
cunho de
autenticidade. O verdadeiro discurso é aquele em que podemos
identificar qual o seu autor.
A
cerca do pensamento de Aristóteles em relação a este assunto,
Reboul (2004)
cita
três tipos de argu
mentos
de persuasão:
ethos
e
pathos
(de ordem afetiva) e logos (
de
ordem racional). O autor afirma, ainda, que o
ethos
é um tipo de afetividade que caracteriza o
orador.
Note
-
se que o
ethos
é um termo moral, ético, e que é definido como caráter moral que
orador
deve parecer ter, mesmo que não o tenha deveras (REBOUL
, 2
004,
p
. 48)
Segundo Reboul (2004), o
pathos
é um conjunto de sentimentos e emoções que
o orador deve suscitar no auditório com seu discurso. Faz uso das paixões para persuadir e é
identificado pelo autor como uma afetividade súbita, violenta, irreprimível
e diz respeito ao
auditório.
Designa sofrimento,
é baseado na emoção e é o recurso usado pelo orador
para
suscitar as paixões em seu auditório.
As paixões emocionam os ouvintes, determinam a adesão de forma intensa e
são intrínsecas aos seres humanos, não
podendo ser controladas de forma racional, muito
menos julgadas como impulsos.
São os sentimentos que causam mudanças nos indivíduos,
seguidos de tristeza e prazer, além de outras sensações.
Trata das antíteses passionais, da
reversibilidade transformadora
, é tudo o que é sujeito e
,
ao mesmo tempo
,
tudo o que ele não
é.
Enfim o logos diz respeito à argumentação propriamente dita no discurso. É
persuadir pelo raciocínio, pela consistência interna da mensagem do orador e é o que torna o
discurso eficaz.
31
Prete
ndemos, neste trabalho, verificar como estes elementos, em especial o
ethos
e o
pathos
, são utilizados pelo orador e como se desenvolvem dentro do discurso.
2.2.
5
As técnicas argumentativas
É no discurso que o orador expõe os fatos referentes aos argum
entos que
defende.
Neste momento o racional supera o emocional e para que seu discurso seja
ainda mais eficaz, o orador faz uso de clareza, brevidade e credibilidade. De forma bastante
concreta, o orador constrói seu discurso a partir de estratégias que co
ntribuem com o
entrelaçar de
ideia
s a fim de cumprir seu principal objetivo: a persuasão do auditório.
É o orador quem escolhe quais argumentos irá usar em seu discurso
de acordo
com a força que pretende designar a cada
ideia
proferida.
A intensidade de a
desão e, também, a relevância, estão à mercê de uma
argumentação que viria combatê
-
las. Por isso a força de um argumento se manifesta
tanto pela dificuldade que haveria para refutá
-
lo co
mo por suas qualidades próprias
(PERELMAN & OLBRETCHS
-
TYTECA,
1997
, p.
524)
.
A força dos argumentos e suas escolhas serão variadas de acordo com o
objetivo da argumentação. está, mais uma vez, a importância da adaptação do orador ao
seu auditório, escolhendo as teses por ele admitidas
e
, portanto
, não basta apenas se ap
oiar em
premissas mas, também, atentar sempre para possíveis resistências ou ad
missões por parte do
auditório.
A própria força dos argumentos pode ser utilizada, explícita ou
implicitamente, pelo
orador ou pelos ouvintes, como fator argumentativo. Daí a m
aior riqueza das
interações que
se deverá levar em conta
(PERELMAN & OLBRETCHS
-
TYTECA,
1997
, p.
529)
.
Essa questão nos aponta para a classificação dos argumentos que constroem o
discur
so e que se distinguem em três tipos:
os argumentos quase lógicos;
os
que fundamentam
a estrutura do real e os baseados na estrutura do real.
32
2.
2
.5.1
Argumentos quase
-
lógicos
Os argumentos quase
-
lógicos pretendem a convicção e se assemelham aos
raciocínios formais, lógicos ou matemáticos. Sucede que
,
na argumentação
,
eles
podem ser
refutados, demonstrando que não são “puramente lógicos” e
,
por isso, os conceituamos
“quase
-
lógicos”. Segundo Perelman (
1997
, p.
220) são caracterizados por “seu caráter não
formal e o esforço mental de que necessita sua redução ao formal”.
Não
se baseiam na
experiência e, portanto, são suscetíveis de interpretações variadas, o que não é possível com a
linguagem formal.
A incompatibilidade, na argumentação, é apresentada para ser contornada e
aceita, ou para ser superada para não cair no ridícul
o. Para isso é necessário que orador tenha
discernimento para apresentá
-
la como preferível ou, ainda, para abandoná
-
la ou restringir seu
alcance.
Assim, a cada argumento lógico, de validade reconhecida e incontestável,
corresponderá um argumento quase
-
lógi
co de estrutura semelhante, cuja força persuasiva
consistirá justamente na sua proximidade com aquele
.
Nos argumentos quase
-
lógicos não correlação necessária entre o grau de
explicitação dos esquemas formais aos quais o orador se refere e a importância
das reduções
exigidas para lhes submeter a argumentação.
2.2.5.2
Argumentos que fundamentam
a estrutura do rea
l
Para Perelman
& Olbrechts
-
Tyteca (
1997
), os argumentos baseados na
realidade são aqueles cujo fundamento encontra
-
se na ligação existente ent
re os diversos
elementos da realidade. Uma vez q
ue se admite que os elementos do
real
estejam
associados
entre si, em uma dada ligação, é possível fundar sobre tal relação uma argumen
tação que
permite passar de um d
estes elementos ao outro. São situações q
ue fogem à demonstração.
Os autores argumentam que como não fórmula rígida para a estrutura desse
tipo de argumentação, o que importa é que os dados sejam fortes o suficiente para o
desenvolvimento do discurso. Os autores ponderam que “o que nos interes
sa aqui não é uma
descrição objetiva do real, mas a maneira pela qual se apresentam as opiniões a ele
33
concernentes, podendo estas, aliás, ser tratadas, quer como fatos, quer como verda
des, quer
como presunções” (1997
, p.
298)
.
Abreu
(2001
) salienta em rela
ção aos argumentos baseados na estrutura do real
que
se deve
sempre obter o acordo do auditório sobre o valor da conseq
u
ência. Para o autor,
os fins justificam os meios
e
nem sempre o que vem antes é causa do que vem depois,
resultando daí, o que o autor c
hama de um sofisma.
Sobre os argumentos baseados na estrutura do real
,
ainda podemos classificá
-
los em quatro tipos: o argumento pelo exemplo (a vida de alguém ou um evento acontecido),
o argumento pelo modelo (biografia inteira de alguém ou uma sucessão
múltipla de eventos),
o argumento pelo antimodelo
(
aquilo que não se deve imitar) e o argumento pela analogia
(comparações de situações vinculadas à tese que se pretende defender com
outra
situação).
2.2.5.3
Argumento
s baseados
na estrutura do real
Os
argumentos baseados
na estrutura do real são alicerçados na explicação e a
argumentação se baseia na experiência.
São os que se aplicam a ligações de sucessão, de
coexistência, a símbolos ou a graus de ordem.
Dizem respeito à relação de causa e efeito; p
or exemplo, o argumento
pragmático, que atribui o valor de uma tese aos resultados causados por sua adoção. Os
argumentos fundados na estrutura do real por sucessão envolvem realidades de ordens
diferentes, em que uma seja a essência e a outra a manifestaç
ão exterior dessa essência. É o
argumento que procura associar o caráter de uma pessoa a seus atos.
Ao serem conhecidos esses argumentos, permitem desenvolver um precedente,
ou regra geral e são empíricos, não se apoiando na estrutura do real, criando
-
a ou
completando
-
a.
Outros aspectos que abordam estes argumentos serão retomados no capítulo de
análise.
34
3
A
PROSÓDIA
O conjunto de fenômenos o qual chamamos de
prosódia
vem de tempos
antigos, porém não é meno
s estudado na atualidade. Definir
Prosódia
como acento de tom,
acento melódico ou traços da fala que não são reproduzidos na escrita ainda é superficial.
Poderíamos conceituá
-
la
também como diferença de duração, acento ou até mesmo à luz da
Literatura com as teorias de métrica poética ou ritmo da
poesia e da prosa.
muita divergência entr
e autores nessas definições de p
rosódia
,
principalmente quanto a sua di
stinção de ento
ação.
Reis (2005) faz uma distinção da definição de entoação em seu sentido amplo e
restrito:
Sentido amplo: a entonação est
á na confluência de um complexo de traços de
diferentes
sistemas
prosódicos: tom, intervalos melódico, força, ritmicidade e
organização temporal. Sentido estreito: contrastes gradientes devidos à variação
melódica.
A
lguns autores consid
eram a entonação co
mo parte da p
rosódia, a
ssim, a ela se
torna similar à p
rosódia
em que seus parâmetros são frequ
ência fundamental, intensidade e
duração. Alg
uns teóricos irão se referir à p
rosódia como um fenômeno mais estreito
relacionado às va
riações melódicas, enquanto
outros afirmam que el
a
envolve outros
parâmetros
,
tais como pausa, prolongamento, ritmo, entre outros.
Scarpa (1999, p. 8
)
define
o termo Prosódia como “uma gama variada de
fenômenos que abarcam os parâmetros de altura, intensidade, duração, pausa, veloci
dade de
fala, bem como o estudo dos sistemas de tom, entoação, acent
o e ritmo das línguas naturais”.
Cagliari (1992) apresenta um levantamento das relações entre elementos
prosódicos e suas variadas
funções, em especial no
português brasileiro.
Bollela (20
06) expõe como os elementos prosódicos e suas variadas funções
corroboram a argumentação dentro do discurso.
De todas as possibilidades de sentido atribuídas ao termo
P
rosódia
, buscamos a
base da argumentação em favor do uso do termo em vez de supra
-
segmen
to, por uma certeza
de que os fatos fônicos segmentais e os prosódicos não são independentes. Sendo assim,
nosso trabalho se
fundamenta a partir do trabalho
de Bollela (2006) que conceitua
prosódia
35
“como um conjunto de fenômenos fônicos que se localiza alé
m ou ‘acima’ (hierarquicamente)
da representação segmental linear dos fonemas”.
3.1 ELEMENTOS PROSÓDICOS
De acordo com
Bollela (2006),
os elementos prosódicos podem ser divididos
em três categorias: elementos prosódicos de variação da altura melódica,
da variação de
duração e da intensidade sonora. Entre os elementos de variação da altura melódica temos a
tessitura, que compreende uma alteração de grave e agudo na fala; a entoação, que engloba
uma variação ascendente e/ou descendente na melodia da fras
e; o tom, que compreende a
variação melódica dentro dos itens lexicais; o acento frasal, que também é considerado como
sílaba tônica saliente
;
e a qualidade de voz. A seguir,
conforme Bollela (2006),
temos os
elementos de variação de duração, que compreend
em o ritmo, que é marcado pela repetição
sonora de acentos; a duração, que marca um alongamento de sílabas ou fonemas; o acento,
que está diretamente ligado ao ritmo; a paus
a, que determina o silêncio
; a concatenação, que
faz junção entre as palavras e a
velocidade da fala. Finalmente, temos
o elemento de
intensidade sonora,
isto é, o
volume
,
intensidade da voz baixa ou alta.
Para se identificar o
s elementos prosódicos é necessária sua decomposição para
visl
umbrar melhor entendimento do
perfil sonoro.
Bol
l
ela (2006)
descreve
cada um dos
elementos prosódicos
, porém
, interessa
-
nos aprofundar um pouco mais
n
estes
elementos
para
que façamos a difere
nciação entre suas funções lingu
ísticas exercidas no discurso
.
Vejamos
alguns elementos prosódicos que julgamos ma
is relevante
s, seguindo os pressupostos teóricos
de Cagliari (1992), Bollela (2006) e Massini
-
Cagliari e Cagliari (2006).
3.1.1
A Tessitura
Massini
-
Cagliari
e Cagliari
(200
6
, p.
120) explica
m
que:
O espaço compreendido entre o som mais grave e o mais
agudo, na fala de uma
pessoa, é cham
ado de tessitura. O ato de mudar
os valores de freq
u
ência dessa escala
36
para cima (fala aguda) ou para baixo (voz grave) em um indivíduo acarreta
acréscimo de significação do discurso.
Na tessitura temos a função sintáti
ca (categorias e funções) que marca
elementos que estão deslocados. Na função discursiva, que é coesiva, usamos de tessitura
grave
,
quando se objetivam digressões
,
ou aguda
,
ao retornar ao assunto principal.
Assim esse papel deslocador da tessitura tem fun
ção do tipo coesiva, ou seja,
serve para lembrar ao ouvinte como conectar coisas ditas antes com coisas ditas depois.
Em uma abordagem dialógica (em turnos conversacionais), usamos a tessitura
aguda para pedir o turno durante a fala do outro ou usamos de
tessitura grave no final de
turno.
Sob a perspectiva da função pragmática, que diz respeito às atitudes do falante,
usamos níveis mais graves para indicar mais razão ou autoridade e níveis mais agudos para
indicar contestações e exaltação, assim como tes
situra bem grave ou bem aguda para indicar
estratégia para não ser interrompido.
aqui a importância de se salientar que um mesmo
contorno ent
oacional pode ser relacionado a
uma tessitura alta ou baixa, de aco
rdo com as
intenções do falante
.
3.1.2
A E
ntoação
No que se refere ao
elemento prosódico da entoação, Bollela (2006) também
disserta sobre os três aspectos anteriormente abordados. Na função sintática o tom
desc
endente indica frase afirmativa, o
tom ascend
ente indica frase interrogativa; e n
a un
ião
entre ascendente e descendente encontramos a frase principal unida à frase subordinada, ou
,
em contrapartida, vemos o processo inverso. Na função semântica
,
a entoação denota
conotações ou subentendidos
,
corroborando o acento frasal para marcar fonetic
amente o foco
das frases. Na função pragmática
,
o tom descendente em nível alto, passa
ndo para
baixo
denota “pedido” por parte do falante.
3.1.3
O Acento F
rasal
37
A função semântica do acento frasal
é
marca
r o foco de frases. A
fala silabada
tem o intuit
o de chamar a atenção para o que se diz e geralmente faz
-
se uma súplica ou diz
-
se
um palavrão em ritmo silábico.
Em se tratando do acento, distinção entre significados
lexicais de palavras e que podem alterar completamente seu sentido.
3.1.4 O
Ritm
o
Bollela (2006, p. 116
-
117) nos recorda que o ritmo:
caracteriza
-
se pela expectativa de uma repetição das saliências fônicas marcadas
por durações estabelecidas. Depende de como são organizadas as unidades
fonéticas da sílaba, do e do grupo tonal em
função da duração que cada um deve
ter. As nguas variam de acordo com o modo como organizam a forma do ritmo
dentro dos grupos tonais. Algumas línguas tendem a produzir intervalos isocrônicos
entre as sílabas tônicas, outras preferem controlar a duração
individual das sílabas
das palavras, sem procurar um tipo de isocronia.
No que concerne à
função fonológica
exercida pelo ritmo, podemos lembrar o
processo de contração em fronteira de palavra.
Já no que se refere à função semântica, Bollela
(2006) tamb
ém enfatiza que uma f
ala silabada
pode ter o
intuito de cha
mar a atenção para o
que se diz e, além disso, g
eralmente
se
f
az
uma súplica ou
se pronuncia
um palavrão em ritmo
silábico.
3.1.5
A Duração
A
função fonológica da
duração
não
se aplica à Língua
Po
rtuguesa, porém a
duração das
labas tem grande importância na constituição dos processos fonológicos. No
campo semântico, alongamento de duração da sílaba em um aumento no sentido positivo
de uma qualidade e um alongamento de duração da sílaba indi
cando aumento de sentido
negativo de uma qualid
ade denotando ironia. A duração é permite
uma reestruturação da
prod
ução da fala e é
um dos elementos que marcam a saliência das sílabas tônicas.
sempre a dificuldade de se fazer uma análise da duração, con
siderando o
fato não de medir, mas sim de determinar com exatidão em que ponto se deve realizar a
38
medida de duraçã
o. No Português brasileiro, por
exemplo, bem como em outras línguas, a
sílaba acentuada tem, em média, o dobro da duração da sílaba não acentu
ada, dificultando
ainda mais a medida para se obter a duração.
3.1.6
A Pausa
Através da pausa definimos fronteiras de palavras, indicamos deslocamentos de
elementos sintáticos e mudamos bruscamente o conteúdo semântico.
É o elemento de variação
da dura
ção e caracteriza
-
se por silêncio na fala em meio a enunciados, com a função de
segmentação da fala.
O uso de pausas “fora do esperado” demonstra uma atitude do falante para
impressionar o interlocutor, assim como falar destacando as palavras com pausas d
emonstra
que o falante deseja reforçar sua autoridade e/ou o valor do que diz, servindo para chamar a
atenção para o que se vai dizer em seguida. A pausa também pode inferir uma função
aerodinâmica que permite ao falante respirar durante a fala.
Pode indic
ar deslocamento
de
elementos sintáti
cos ou assinalar mudança brusca do conteúdo semântico.
Para Cagliari (
1992, p. 143),
a pausa representa uma hesitação, o que revela
uma re
-
organização do processo de produção da fala ou da linguagem, ou uma atitude do
fa
lante par
a impressionar seu interlocutor
.
3.1.7
A Velocidade
Na velocidade a aceleração indica que um falante quer sobressair ao seu
interlocutor, dando mais ênfase ao que diz.
Uma desaceleração indica maior valor a algo que se diz ou um argumento ma
is
importante logo adiante.
Na velocidade de fala foram considerados: o tempo de elocução, que é aquele
da emissão do início ao fim da elocução; o tempo de articulação, que é o tempo de elocução
extraído do tempo relativo às pausas; a taxa de articulação,
que é calculada dividindo
-
se o
tempo total de elocução, do qual se subtrai o tempo das pausas silenciosas, pelo número de
39
sílabas; e a taxa de elocução, que é obtida dividindo
-
se o tempo total de elocução pelo número
de sílabas.
A velocidade
de fala pode
ser observada intuitivamente pelo ouvinte que dirá
se ela está rápida, lenta ou apropriada para aquela determinada situação.
3.1.8
O Volume
Quanto ao volume, podemos assinalar que falar alto indica atitude autoritária,
assim como falar baixo pode sinal
izar atitude de persuasão, timidez ou respeito. Alto volume
de voz pode ainda indicar expressões súbitas de dor, de perigo ou de grande perturbação. O
volume pode ser um dos elementos que marcam a saliência das sílabas tônicas e a variação do
volume acompa
nha as marcas fonéticas de saliência ou de redução.
Para Cagliari (1992, p.
146):
[...]
falar alto pode significar uma atitude autoritária ou de grande perturbação e falar
baixo, uma atitude de persuasão, timidez ou respeito. O volume de voz também se
ad
apta ao contexto e à distância que o falante se situa em relação ao seu interlocutor.
A variação do volume de voz é uma espécie de “reforço” para o valor de outros
elementos supra
-
segmentais pr
osódicos.
3.1.9
Registro e qualidade de voz
Cagliari (1992,
p. 150)
afirma que o falante
dispõe “de uma variedade maior de
possibilidades de expressão e que também o uso de uma ou de outra mostra bem os traços da
personalidade do falante”.
Sendo assim, precisamos considerar a importância dos elementos
supras
segmen
tais, principalmente na oralidade, porque uma análise que representa somente o
registro escrito pode deixar de lado muitos fatores importantes da linguagem que são
comumente expressos por elementos prosódicos.
Podemos dizer que o registro refere
-
se ao fat
o do falante destacar uma palavra
ou um sintagma, usando um tipo de qualidade de voz diferente daquele que lhe é habitual. A
qualidade de voz é identificada na produção individual e pode indicar as atitudes do falante.
40
Massini
-
Cagliari
e Cagliari
(2001
, p.
121) declaram
que “quando um homem
fala com um tom fundamental muito agudo, sua qualidade de voz é de falsseto. Esse tipo de
qualidade de voz é encontrado, por exemplo, na fala de certas pessoas que estão muito
exaltadas.”
Portanto, o registro é um elemen
to prosódico que também vamos utilizar em
nossa análise, pois ele pode ratificar a argumentação no discurso. A partir da qualidade de
voz, também conseguimos construir a identidade do orador, com papel de suscitar a adesão
dos espíritos no jogo argumentati
vo, também construído a partir de sua modulação de voz.
A análise dos elementos prosódicos deve ser feita d
e acordo com a
especificidade do
corpus
e, a partir dos elementos aqui apresentados, acreditamos ter
estabelecido os parâmetros necessários para a es
truturação de nossa pesquisa na área de
intersecção entre aspectos prosódicos e argumentativos. Selecionaremos
para análise
apenas
os eleme
ntos mais relevantes ao nosso
objetivo proposto, ou seja, aqueles que corroboram
diretamente a persuasão e a construç
ão da argumentação no
corpus
selecionado
. São eles: a
TESSITURA com
o variação da altura melódica, o
VOLUME como intensidade sonora e
a
PAUSA como variação de duração. Alertamos para o fato de que serão passíveis de análise os
outros elementos prosódicos ne
sse
corpus
, mas são os três citados acima os que mais
permeiam nossas investigações.
Assim como reunimos todos os pressupostos teóricos de que precisa
mos
Retórica, Gênero, Prosódia
p
assaremos
,
a seguir, a uma análise do
corpus
selecionado para
esta p
esquisa.
41
4
BUSCAI AS COISAS DO ALTO:
uma construção prosódica e argumentativa
Se, portanto, ressuscitastes com Cris
to, buscai as coisas do alto, onde Cristo está
sentado à direita de Deus. Afeiçoai
-
vos às coisas de cima, e n
ão às da
T
erra.
Porque estais mortos e a vossa vida está
escondida com Cristo em Deus
(COLOSSENSES, 3:1
-
4).
Diante das considerações teóricas realizadas nos capítulos anteriores,
apresentaremos a seguir a intersecção entre
Prosódia
e Argumentação
,
identi
ficando
-
a
s
no
corpus
selecionado e
propondo
-
nos a analisar
como os elementos pros
ódicos e os
argumentativos corroboram a persuasão.
Ao selecionarmos os pressupostos teóricos da
Retórica
como sendo “o desejo
de persuadir, o de es
cutar e de se deixar convenc
er”, de acordo com Perelman e
Olbrechts
-
Tyteca (
1997) e da Prosódia como
o
“conjunto de fenômenos fônicos que se localiza além da
representação segmental linear dos fonemas”
de acordo com
B
ollela (
2006)
encontramos
inúmeros aspectos passíveis de
análise n
o
corpus
selecionado:
a pregação “Buscai as coisas
do alto”, de Padre
o. No entanto, elegemos alguns aspectos
qu
e julgamos mais relevantes,
diante d
a grande quantidade de elementos argumentati
vos e prosódicos que ainda poderão
ser
analisados em trabalhos
posteriores
.
No âmbito da argumentação
,
analisaremos o orador e seu auditório; a distinção
entre persuadir e convencer; os efeitos da argumentação; as figuras de retórica e as técnicas
argumentativas. À luz da prosódia analisaremos
, dentre
tantos outros
elementos
possíveis
, a
tessitura, o volume e a pausa.
42
Sabemos
que os discursos e seus gêneros são formados nas estruturas e
processos sociais. Se o discurso é o resultado da confluência de fatores de diversas o
rdens, o
teológico, por exemplo
(aqui entendi
do como discurso bíblico, que tem por propriedade a e
como referente Deus), funda o discurso religioso (aquele que emana da autoridade
eclesiástica, que tem por propriedade a ritualização e por referente o homem em sua relação
com Deus e com os outros h
omens).
Essa relação do homem com
Deus e
os
outros ho
mens,
fica muito clara ao
analisarmos a prega
ção “Buscai as coisas do Alto”, objeto de pesquisa
dessa dissertaç
ão.
Figueiredo et al.
(200
9
)
afirma
m
que o termo
pregação
está intrinsecamente
ligado, no se
u uso, às religiões cristãs. No entanto, ao levantarmos as características desse
gênero, percebemos que este termo
também
pode ser utilizado para designar o discurso de
outras religiões. A
s
autora
s
sugere
m,
então
,
alguns questionamentos necessários para a
caracterização da
pregação
como um dos
gêneros orais.
O orador neste
corpus
selecionado é
Padre Léo, sacerdote da Igreja Católica
Apostólica Romana, f
undado
r da Comunidade Bethânia, vinculado à
Renovação Carismática
Católica.
O padre realiza sua pregação a
um auditório d
e aproximadamente 30 mil pessoas,
presentes no Retiro Hosana Brasil e para telespectadores do Brasil inteiro, com transmissão ao
vivo
pela Rede Canção Nova de Televisão
.
A pregação proferida por Padre Léo possui
48
minutos e 32 segundos e
te
m como objetivo a apresentação
e
o lançamento
d
o livro intitulado
“Buscai as coisas do Alto”, de autori
a do próprio sacerdote
-
pregador, porém, se torna também
o retorno de Padre Léo à Canção Nova para pregar o evangelho, através de suas experiências
de vid
a.
Nesta pregação, em específico, Padre Léo abandona caracterizações e metáforas
referentes à ao ambiente rural, comum em suas pregações anteriores e apresenta em “Buscai
as coisas do alto”
um tom reflexivo, emocionado,
relatando o momento de profundo
sofr
imento em sua
vida, decorrente do tratamento contra um câncer.
Padre Léo tem a consciência de que seu discurso emana de seus estudos
teológicos, mas sabe
também
que
,
ao
proferi
-
lo
, cumpre o ritual de expor um modelo de vida,
o qual expe
rimenta e compartilh
a com o
auditório. Ele sabe que é
um
discurso anulado de
reversibilidade e não haverá a possibilidade da interlocuç
ão. É somente ele q
uem fala
enquanto o auditório
ouve, p
ortanto, ele assume para si a posição de porta
-
voz da palavra de
Deus, de mediador en
tre os planos celestial e o humano.
O
ora
dor conhece seu auditório e
sabe que ele é composto por pessoas que partilham a mesma crença religiosa pautada no
catolicismo, ou seja, trata
-
se de um auditório particular que, de acordo com Reboul (2004, p.
43
93),
é
diferente de outros auditórios primeiro pela competência, depois pelas cren
ças e
finalmente pelas emoções.
Ele apresenta ao auditório o jogo dos espaços,
das virtudes, valores e
princípios, bem como o caminho da salvação alicerçado pela palavra de Deus. Co
mo ser
humano,
testemunha assumir
também a possibilidade de experimentar esses preceitos bíblicos
ao mesmo tempo em que constitui
o ideal de
pregador: aquele que é aut
orizado por Deus para
falar em s
eu nome porque vive esta experiência
bíblica
e pode compr
ová
-
la a partir de seu
discurso.
Segundo A
breu
(
2001
, p.
38)
uma segunda condição da argumentação é ter
uma ‘linguagem comum’ com o auditório
.
Podemos atentar
a
o fato de que Pad
re Léo construía suas pregações
aproximando
-
a
s
da linguagem comum aos
seus ouvi
ntes, para se aproximar do contexto da
comunidade rural que lider
ava
(Bethânia), igualando
-
se a seu auditório
(particular)
em termos
l
ing
u
ísticos para se fazer aceito
.
Sua linguagem em muit
o se aproximava
a
o registro empregado
pelos falantes
rurais.
Perme
ada de expressões regionalistas como: “Quando é fé”
(expressando algo que vai
acontecer);
“Dá di fé”
(expressando algo em que se pode acreditar);
“Módi quê
(expressando o porquê, o motivo pelo qual)
, entre outras. Observamos
também
o empreg
o
acentuado
do /r/ retroflexo, uma das características que se nota na fala do interior paulista,
estigmatizadamente chamada de
/r/ caipira
.
Esses fenômenos
são mais estigmatizados que
outros, pois são relacionados à classe social
de
que
m
usa essa variante. Alé
m diss
o, um outro
fenômeno lingu
ístico presente na fala do orador é a redução
do gerúndio, por exemplo,
“canta
no” em vez de cantando. Palavras
que muitas vezes, possuem
significação
restrita
ao
grupo de falantes oriundos de zona rural
.
Como eu, esse CD foi gest
ado, minínu simpres, nu cor
a
ção do
Biguá, à taipa
do
fogão, da casa de Quinzim e Nazaré, meus pais,
foi a minha primeira Bethânia
(
PADRE L
ÉO, 2007
) (20:34).
Contextualizava seu
s
discurso
s com
metáforas,
paralelismos sobre o
ambiente
de
vida das pessoas qu
e o ouviam
,
fazia
uso de gatilhos de humor
contando anedotas
,
buscando efeitos de sen
tido, objetivando compreensão
daqueles que o ouviam
por meio de
contações de causos particulares,
com
os quais os ouvintes poderiam
,
em algum momento
,
se
identificar.
Eu n
asci no dia que fazia dez anos de casados dos meus pais. Óia que presente
papai
e
mamãe ganhô
. Dez anos veio eu. E eu fui o nono f
io! É meu fio, em casa era
44
an
sim,
Aquilo era
que nem banheiro de rodoviária:
sai um, entra outro, sai um, entra
outro. Mora
va na roça, mamãe não tinha babá,
o único que tinha era que nóis
ba
bava, mas o resto... Agora ocê
im
agina
isso
no Biguá!
(PADRE L
ÉO, 2007
)
(33:46)
Sempre fazendo uso de linguagem rural, apresentando o
ethos
de pobre e
simples, em sua última pregação
o
sacerdote
modifica sua maneira de pregar pelo
ethos que
agora quer construir:
aque
le que sofre as mazelas humanas e adoece, o
que faz com que seu
auditório
se emocione e compadeça.
Nesta pregação
, o sacerdote indícios de como se deve
viver, buscando
as
coisas de Deus
,
contudo,
realiza essa pregação em tom mais ameno,
sereno, com voz mais branda, perceptivelmente mais reflexivo, indicando maior seriedade
e,
portanto, prendendo seu auditório com o objetivo de persuadi
-
lo.
Faz
-
se necessária aqui
a difer
enciação entre persuadir e convencer: “Para quem
se preocupar com o resultado, persuadir é mais do que convencer, pois a convicção não passa
da primeira fase que leva
à ação.” (PERELMAN & OLBRECHTS
-
TYTECA,
1997
, p.
30)
.
Assim, Padre Léo
persuade seu auditó
rio a assumir a escolha que trará sentido às suas vidas,
independente do mundo exterior, que é clara e explícita: “Quer ser feliz? Buscai as coisas
do
alto”.
Por outro lad
o, Perelman & Olbrechts
-
Tyteca
(
1997
, p.
30) explicam que “quem está
preocupado com o
caráter racional da adesão, convencer é mais do que persuadir.” Esta não é
a primeira intenção de Padre Léo, pois ele empreende convencer se
u auditório pelo uso da
frase “B
uscai as coisas do alto”
,
unida ao conceito de mudanças, de retomada de situações
p
essoais,
de formação do caráter de seu auditório por meio de inúmeras reflexões expostas em
sua pregação.
Essas reflexões constituem os argumentos,
provas e outros meios de persuasão
relativos ao tema do discurso e assim compõem o seu sistema retórico.
No
exórdio de “Buscai as coisas do alto”, Padre Léo inicia sua pregação
conclamando os presentes à reflexão primordial de seu discurso
.
Logo após a passagem bíblica de Colossenses, capítulo 3, versículos de 1 a 4,
ter sido lida por um
outro sacerdote, Padre
o anuncia
o tem
a de seu
discurso:
Buscai as
coisas do alto”. Ao lançar
esse
convite, Padre Léo faz uso de uma qualidade de voz que
expressa afetividade e cuidado.
Além disso, um outro
item de relevância presente no excerto abaixo é a
duração, usada pa
ra distinguir significados em itens lexicais.
uma abundância de pausas
longas com a
função de destacar e reforçar a autoridade e o valor do que se diz.
De acordo
com Cagliari
, (1992, p. 143),
o fato de se falar palavra por palavra, segmentada por pausa,
45
pode representar um reforço sobre o significado literal do que se diz, solicitando do
interlocutor que deixe de lado outras interpretações possíveis.
[...]
Pode aplaudir a Palavra...
((
aplausos)) se portanto, ressuscitaste com Cristo...
buscai... as cois
as...
do alto... se nós queremos
---
e nós queremos
---
celebrar a
vitória de Deus em nossa vida... nós precisamos trilhar por esse Único caminho...
buscai ... as coisas... do a
lto
... qué ser feliz?...
buscai
...as coisas... do alto
[...]
(PADRE L
ÉO, 200
6
) (04:45).
No excerto acima, vemos que o orador, logo no
início de sua pregação,
assegurar a fideli
dade
do auditório
, de modo a
obter a atenção e prepará
-
los para o discurso
que será
proferido
. Além disso, busca
fundamentar as bases da formaç
ão ética e p
atética que
permearão
toda a sua pregação.
A partir daí,
ele lança o assunto, apresenta os fatos, faz sua
argumentação, valorizando sempre seu cará
ter em relação ao tema propost
o
.
Ele instaura seu discurso mesclando experiências de sua própria vida, no
mo
mento em que sofre com o tratamento de um câncer, com a citação bíblica que ensina que
se qui
sermos experimentar a salvação d
ivina, em todas as circunstâncias de nosso cotidiano,
dev
emos “buscar as coisas do alto”
Essa expressão “buscai as coisas do alto”
se repetirá por dezoito vezes durante
a pregação. Em termos argumentativos, ela pode ser considerada uma figura de presença,
pois, de acordo com
Perelman & Tyteca
(1997, p.
199)
essa figura tem
efeito argumentativo
de
amplificação, ou seja, o desenvolvim
ento oratório de um assunto, independentemente do
exagero com o qual o associam geralmente.”
Podemos
visualizar no quadro abaixo produzido pelo programa computacional
Praat
uma incidência prosódica
recorrente
da figura de presença:
a
repetição, muito freq
u
ente
em todo o discurso.
Ao observarmos o quadro abaixo, veremos que o volume, representado pelas
linhas verdes, se inicia com 67.94dB quando o orador enuncia “buscai”
(
em destaque
amarelo)
e, na mesma palavra um acréscimo significativo na sílaba “cai”
de 72.35 dB e
concomitantemente ocorre um alongamento da mesma.
N
a enunciação de “as coisas do alto” observamos que o artigo “as” é proferido
a 70.38 dB enquanto o vocábulo final “alto” sofre decréscimo e atinge 55.3dB até finalizar em
pausa.
Retomando a
questão do alongamento do verbo “buscai”
,
promove
-
se
um
reforço do aspecto argumentativo,
pois
,
consoante Cagliari (1992,
p.
42)
,
o recurso de se
alongar um verbo
confere
-
lhe um significado mais
“ forte”.
46
E ainda, no mesmo trecho, incide a tessitura
(cor
responde à
s linhas azuis no
quadro abaixo) que em níveis mais baixos servem para imprimir mais autoridade à fala do
orador.
O orador emprega uma qualidade de voz afetuosa
que,
ao mesmo tempo, busca
persuadir e
aconselhar carinhosamente.
Figura 1
Exór
dio
.
[...]
se nós queremos
--
e nós queremos
--
celebrar a vitória de Deus em nossa
vida...nós precisamos...trilhar por esse Único caminho..buscai...as coisas..do
alto...qué ser feliz?...buscai...as coisas..do alto...essa é a GRANde pala::vra que o
Senhor
qué trazê pra nós...e que pois no meu coração ...quando eu fiquei
angustiado...num dos determinados desses muitos dias...dessa enfermidade que
vai prum ano
[
...
]
(PADRE LÉO, 200
6
) (05:06)
Para confirmar seus próprios argumentos e evitar qualquer refut
ação de
possíveis pensamentos entendidos por seu auditório, o sacerdote faz uso de
provas
intríns
ecas”
as quais
Aristóteles
(2003
)
se refere
como dependentes das artes e de maneira
direta da técnica retórica, demonstrando durante todo o
disc
urso, as habil
idades do orador
.
47
Consoante o autor, as provas intrínsecas são lógicas ou psicológicas. Por várias
vezes, Padre Léo
tem o intuito de buscar a adesão do audit
ório
cita
ndo
provas lógicas
,
as que
se
dividem em silogismos e exemplos, demonstrando
de forma rac
ional como faz para
resolver as limitações causadas pelos efeitos colaterais da quimioterapia.
Ele exemplifica ao auditório que perdeu parcialmente sua visão, mas que
, se
coloca
a iluminação da tela de seu computador em níve
is mais elevados, ele consegue
fazer
suas leituras, ao mesmo tempo em que pode aumentar o tamanho da fonte das letras e
, dessa
forma, consegue
escreve
r aquilo que Deus lhe pede
que seja escrito.
Esse é um dos exemplos em que o orador
induz o pensamento de seu auditório
a acreditar que
sempre temos algum meio de conseguirmos realizar nosso
s
prop
ósitos
se
buscarmos alternativas racionais para isso.
Vimos também um exemplo de silogismo, forma de raciocínio dedutivo,
constituído por três proposições: as duas primeiras denominam
-
se premissas
e a terceira
conclusão.
Na
pregação
analisada
, o silogismo
acontece quando o sacerdote comenta com
seu
auditório
, no momento de encerramento de sua palestra, o medo em proferir
su
a pregação
sentado.
Eu tava com
medo de
pregar sentado, mas depois eu me re
cordei que as pregações mais
profundas, os mais belos milagres de Jesus, ele fez sentado, verdade, não é?”
(PADRE LÉO, 200
6
).
Nesse trecho, p
odemos entender como silogismo que: Jesus realizou as pregações mais
profundas e os mais belos milagres, sentado. O
ra, se Padre Léo pregar sentado
, logo
realizará
uma pregação pro
funda e os mais belos milagres poderão acontecer.
O orador c
omumente
realizava
suas pregaç
ões
de pé, andando pelo palco,
dançando, gesticulando e encen
ando muitos de seus argumentos. Nessa pre
gação
, porém,
d
iferentemente
das outras
, o orador realiza a pre
gação
sentado, fraco e abatido pela doença.
Sucede que ele nos
a possibilidade de deduzirmos que ele se equ
ipara a
Jesus,
assemelhando
-
se a
ele, fazendo com que sua pregação seja digna de mi
lagres, que seus
pensamentos e palavras poderiam ser tão salvadoras como as pregações e milagres realizados
por Jesus Cristo, o que pode lhe conferir
um grau de prepotência.
A
lém dessas provas racionais explicitadas em sua pregação, o
ora
dor
parece
percebe
r
que a partir de provas psicológicas conseguirá maior adesão do auditório e que estas
irão contribuir ainda mais para o intuito de persuasão.
Consoante Perelman & Tyteca (1997), o
s argumentos a partir de
provas
psicológicas
produzem comoção e o auditório
aceita mais facilmente a proposição do orador.
No caso da pregação em análise, temos em todo o seu transcorrer, um
orador
que sofre e faz
48
com que o auditório sofra junto com ele.
O orador d
esperta
sentimentos de angústia e tristeza
ao mesmo tempo em que
suscita
a
compaixão, solidariedade, esperança e
desejo de superação.
Durante toda a pregação,
ele faz um comovente relato de seu sofrimento, cita
passagens de dor, de auto
-
reflexão a parti
r da possibilidade da morte,
e
também demonstra
relacionar as passa
gens bíblicas
aos seus
momento
s
de sofrimento, ensinando aos fiéis que é
possível haver salvação a partir da experiência desses pr
incípios bíblicos
.
Repete
,
em alguns momentos
,
a
ideia
de que qualquer humano, passível de
sofrimento e pecado, pode arrepend
er
-
se e começar a
viver de novo
, de forma muito mais
feliz, se “B
uscar as coisas do alto”
.
[...]
porque a fé::... fundamento da esperRANça...certeza ( ) daquilo que não se
vê...ela nos proJEta...e mais do que is::so..quando a gente está MAIS
cansado...M
AIS dolorido...quando está MAIS difícil...
--
e eu passei momentos
difíceis...Gisela mesmo me contou...Dr. Roque chegou em casa um dia
choran::do...porque acha::va...Padre Leo não sai dessa
--
...Padre Leo num sai mesmo
mas Deus me tirou...cês vão te que mi a
g
u
enta mui::to ainda
(PADRE L
ÉO, 2006
)
(11:32)
Em todos os momentos em que Padre Léo faz uso de provas intrínsecas a partir
de provas psicológicas, consegue des
pertar em seu auditório
efeitos de comoção, aplausos,
gritos de esperança ou euforia
, evidê
nci
as da exploração da
pathos
.
Motiva seus ouvintes a uma ação em relação ao que estão ouvindo ao mesmo
tempo em que conclama seu auditório a refletir sobre experiências pessoais, a partir das
experiências vividas pelo sacerdote. É a voz do homem, autorizada
pela voz de Deus, que
persuade o auditório às ações pretendidas.
O
orad
or elabora seu discurso formulando uma impressão favorável de si
mesmo
(
ethos
)
, se fazendo digno de ser escutado, tentando captar sentimentos positivos sobre
seu próprio caráter, pren
dendo a atenção de seu auditório.
[...]
eu não prego mais...eu o estou mais na minha comunidade...e vem no meu
coração..“ai de mim se não evangelizar”...(eu disse)meu Deus mas...AI
de
mim...?((aplausos e gritos)) (
06:28)
[...]
nessa hora é o suspiro d
a alma que diz...Jesus... Jesus... Jesus...cê num consegue
nem terminá Jesus tem piedade de mim...((aplausos)) Jesus ((aplausos)) Jesus...ah
meus irmãos... eu tenho tanto dó de quem num tem fé... ((aplausos)) eu tenho TANto
de quem num encontrô Jesus ai
nda...E::sse é doente...E::sse é pobre...E::sse é o
mais miseRÁvel dos seres humanos...((aplauso
s))
(
PADRE LÉO, 2006) (21:39)
Segundo a retórica Aristotélica, conhecemos no orador atitudes e virtudes
como honestidade, benevo
lência ou eq
u
idade. Dessa manei
ra
, que a forma como se constrói o
ethos
nas pregações pode suscitar diferentes reações no auditório. Se o
ethos
é a imagem
49
moral que o orador de si, construída com sua palavra numa representação de si, então o
orador pode adequar seu discurso a seu aud
itório para atingir a persuasão.
Segundo
Perelman e
Olbrechts
-
Tyteca
(19
9
7), que desenvolveram
uma
importante reflexão sobre a construção do
ethos
do orador pelo discurso argumen
tativo e
desta maneira organizaram
sua descrição em relação à consideração de
diferentes tipos de
auditórios, não se pode persuadir um auditó
rio sem considerar suas reações
(
pathos
)
.
Padre
Léo
demonstra
sabe
r
reconhecer
,
durante sua pregação
, o que suscita
sentimentos em seu
auditório. Ao pregar, ele permite que seu auditório aplaud
a, festeje, reflita,
silencie,
se
comova, em relação aos argumentos que utiliza, dando o tempo necessário ao auditório para
que suas palavras alcancem o o
b
jetivo principal de sua pregação: que o seu auditório seja
persuadido por seu discurso.
Como o discur
so em análise se trata de uma pregação que fala da vitória de
Deus nos prob
lemas diários do homem, o pregador
faz adaptações em
seu discurso para que
os ouvintes vivenciem
as mesmas experiências
pelas quais ele passou
, uma vez que
toda a
argument
ação visa
à adesão do auditório. Dessa forma, os ouvintes
podem
ver
semelhanças
entre o que acontece
em seu cotidiano
com
o que o orador está narrando
,
e, assim,
chegarão a
aceitar
com mais facilidade
o que está sendo dito
.
Portanto
, o
ethos
,
nesta pregação
,
está
li
gado à credibilidade do orador e para
legitimá
-
la
é necessário que
,
ao proferir, ele organize
os fatos, provocando as paixões
em seu auditório.
Em primeiro plano Padre Léo instaura
o
ethos
de sofredor
, quando descreve
situações de dor e convalescência cons
eq
u
entes
da enfermidade
e do tratamento
que o
acompanha
m
. ênfase a vários relatos de angústia a fim de expor ao a
uditório o seu caráter
de sofredor:
[
...
]
quando eu fiquei angustiado num dos determinados desses muitos dias que essa
enfermidade que v
ai prum ano, e eu pensava Meu Deus, essa doença me tirou
tudo: eu não consigo mais andar sozinho, eu tava... tava numa época quase... que
como agora, não andava sozinho, eu não enxergo direito, o olho direito eu sou cego,
estou cego momentaneamente, do olh
o esquerdo eu enxergo uns quarenta, cinq
u
enta
por cento, eu não prego mais, eu não e
stou mais na minha comunidade
.
(05:44)
A construção do
ethos
se não somente pelo que o sujeito diz de si, mas
também
pel
a personalidade que ele mostra ao profer
ir o se
u discurso.
Assim, observamos
concomitantemente à
construção da imagem de sofredor
,
a construção do
ethos
de
honestidade
.
50
Padre Lé
o se descreve como
sincero, positivo
e honesto ao se referir àquilo que
ele considera verdade e que quer demonstrar ao seu au
ditório. Ele assume a autoridade de
honesto quando profere: “O que estou falando pra vocês são coisas que vem do alto”,
demonstrando então que aquilo que ele fala vem de conteúdos e de convicções inabaláveis.
A
í
temos
a voz de D
eus, emanada pela voz do hom
em
autorizado.
Constrói
-
se então o
ethos de
escolhido
, aquele que tem proximidade com Jesus. O sacerdote se coloca como aquele que é
mediador da palavra de Jesus, um mei
o pelo
qual a entidade divina se utiliza para se
comunicar, o que lhe confere posição d
e destaque, uma vez que o torna privilegiado.
Figura 2
Ethos
de escolhido
.
(05:34)
No excerto destacado no quadro acima, o or
ador adota qualidade de voz
clamorosa
, de maior altura melódic
a, pretendendo a atenção viva de seu auditório para o
argument
o que enunciará. Esse argumento deriva de um ser considerado divino, o qual
autoriza o orador a proferir mensagens ao auditório. O sacerdote, então, instaura o
ethos de
escolhido
, no sentido em que anuncia a voz daquele que lhe é superior, anunciador da
sa
lvação. Prosodicamente, o orador aumenta o volume
(72.15dB)
e a velocidade de sua fala,
obtendo, assim,
a função pragmática que, de acordo co
m Bollela (2006), indica
maior valor a
51
algo que se d
iz e, ao mesmo tempo, demonstra
a condição superior de Padre
o, como
autorizado a anunciar a palavra do “Senhor”. A tessitura grave empregada instaura o aspecto
de alerta e
clamor ao que será dito. Em sua construção ética, o orador evidencia que quem
emite a palavra de ordem na pregação é Deus, o qual ele chama no
excerto de
S
enhor”
e para
legitimar essa autoridade div
ina e sua imagem de ‘escolhido’. Nesse trecho,
Padre Léo
emprega um nível mais grave de
tessitura
(como é exibido na tela acima por meio de linhas
azuis que lhe correspondem), que tem, segundo Bollela
(2006), a funç
ão de indicar maior
razão e autoridade
a quem profere o discurso.
O volume
repre
sentado pelas linhas verdes,
inicia em 70.02dB e termina e
m 72.15dB
, e é
do ser maior que emite a “gra
aaa
nde” palav
ra, aquela que requer maior atenção, dada a sua
relevância e origem. A voz do orador é legitimada como o ministro do Senhor (aquele que
tem o dom de santificar) ao mesmo tempo em que o orador (o escolhido) se instaura como
aquele que tem o dom de anunciar.
Identificamos
,
no discurso de Padre Léo
,
a construção de outra imagem de si: o
ethos de
obediente
. Ele reforça, por
diversos raciocínios
,
que
Jesus quer realizar em nós os
s
eus planos e
, para conquistar
mos
aquilo que
quer
emos
, devemos Buscar as coisas do
alto”.
Ao mesmo tempo, ele assume para si esse discurso, mostrando
uma imagem de obediência à
mensagem
que
ele anuncia, originada do ser superior, que é Deus.
[...]
Meu Deus...
. eu não consigo ler, eu tenho que colocar a Bíblia aqui pertinho e
um óculos
pra perto com muita dificuldade pra ler três, quatro capítulos por dia,
como é que eu vou escrever?
Escreva
! E quando sentei no computador pra escrever,
eu nem sabia o que eu ia escrever... Então veio forte no meu coração: você não tinha
encontrado o camin
ho porque ta buscando as coisas de baixo, busque as coisas do
alto! Fo
i assim que nasceu esse livro.
(07:58)
Para que Padre Léo consiga alcançar a persuasão em seu auditório, é preciso
que ele esteja investido de uma autoridade dada, ou pelo menos reconh
ecida, pelo poder
temporal, em condições muito bem determinadas. É assim que o sacerdote conduz sua
pregação, sempre
assemelhando sua realidade de vida
com a sabedoria e a salvação de Deus,
para aqueles que “buscam as coisas do alto”.
Ele pretende ressalta
r
,
em sua pregação
,
que ao
mesmo tempo em que ou
ve a palavra de Deus, a anuncia e a
oferece como s
alvação ao
auditório, ele
as
sume para si
a palavra proferida por Deus, em atitude de obediência,
afirmando ser essa mensagem o único meio de salvação pessoal
e coletiva.
Padre o relata detalhadamente o momento de sofrimento que o limita e
dificulta suas produções orais ou escrita
s. Chega a afirmar que,
em muitos momentos
,
pensou
52
em
não mais realizar suas atividades mais comuns. Como neste momento da pregação
o
orador construiu a imagem de escolhido,
basta a
ele
,
agora, instaurar também a imagem de
obediente, aquele que escuta uma ordem e a obedece. Mesmo questionando o que não mais
podia realizar em sua vida, Padre Léo parece então ouvir outras vozes, aque
las que emanam
do subconsciente, em função de alertá
-
lo de pensamentos adversativos (“mas Deus lhe deu o
dom de escrever”) ou aquela que emana do divino, que dialoga com ele, orientando
-
o,
ordenando ações, conduzindo seus pensamentos a novas atitudes (“Esc
reva!”), as quais ele
prontamente atende, em atitude de obediência. Deus fala com o sacerdote, em tom imperativo
e é Padre Léo quem relata essa presença divina em sua pregação. Para confirmar esse diálogo
com Deus, vejamos o quadro:
Figura 3
Ethos
de
obediente
.
(07:42)
De acordo com o texto acima é
a
voz de Deus quem a ordem para que o
sacerdote continue realizando sua missão de evangelizador, de escolhido de Deus para pregar
o evangelho
a
toda criatura. Em meio ao discurso de Padre o,
um au
mento considerável
de volume
quando surge a voz de Deus, do ser considerado todo poderoso.
53
Deus a ordem à Padre Léo para que ele continue escrevendo seus livros,
mesmo diante das adversidades causadas pelas limitações da doença. Deus a ordem
categór
ica de ‘Escreva!’ e Padre Léo a reproduz modificando sua própria voz, para marcar a
diferença entre a voz de Deus e a voz do homem.
Muda a velocidade da fala, que aparece em níveis mais acelerados, aumenta o
volume que apresenta início em 70.45dB
na sílab
a /es/
, se eleva para 74.02dB
na sílaba /crê/
e
termina em
64.03dB na laba /va/.
O alongamento excessivo da sílaba tônica /crê/ é usado
pelo falante para ressaltar a força da palavra proferida, que passa a significar não uma simples
ordem de escrever, ma
s uma atitude de enorme relevância, importância e destaque. É essa
atitude que legitima o orador como obediente.
O fato de continuar escrevendo, de não lançar
-
se ao sofrimento interrompendo
suas atividades cotidianas como pregador, sacerdote e ministro de
Deus, persuade seus
ouvintes, fazendo com que o auditório o aplauda, pois
seu relato de obediência desperta
a
paixão da compaixão
, que se refere ao mal que atinge quem não merece, segundo Aristóteles
em sua Retórica das Paixões (2000
, p.
53
).
O preg
ador s
abe que o ato de fazer
-
crer em seu auditório é suscitado pelas
paixões. O aspecto patético
(
pathos
), aquele que leva
o auditório a aderir à proposição do
orador pela emoção, é fun
damental para a efetivação do
fazer
-
crer. Através das pai
xões
suscitadas no a
uditório o orador
procede a
sua persuasão.
Segundo Aristóteles
(2003
, p. 15),
as paixões o todos aqueles sentimentos
que, causando mudança nas pessoas, fa
zem diferir seus julgamentos.
As paixões não são entendidas aqui como virtudes ou vícios permanent
es, mas
estão relacionadas com situações transitórias, provocadas pelo orador.
Assim, observam
os que na pregação B
uscai as coisas do alto” existem
diversas manifestações do audit
ório, revelando ora aplausos, ora gritos de euforia, ora risos,
ora choros,
de acordo com os sentimentos suscitados pelo orador ao proferir o seu discurso. O
pathos
refere
-
se
assim
à
paixão, por ser a expressão da natureza humana, da liberdade do
sentir, comprometendo
-
se com a ação, que transforma a paixão em virtude.
Além disso,
-
se o nome de paixões a tudo o que, acompanhado de dor e de prazer,
provoca tal mudança
no espírito que, nesse estado, observa
-
se uma notável
difere
nça
nos julgamentos proferidos.
(
ARISTÓTELES, 2003
).
Para ilustrar essa citação
, mostramos aqui como
Pa
dre Léo constrói sua
argumentação
suscitando
diferentes paixões em seu auditório
. Ele narra, por exemplo,
a
54
passagem bíblica em que
as pers
onagens
Marta e Maria se encontram
com Jesus e Marta
questiona
qual das duas escolheu a melhor parte: ficar perto de
Jesus ou trabalhar para
alcançar a sa
lvação?
Padre Léo
,
então
,
correlaciona a passagem bíblica ao fato
daquele cristão
que tem muito
s
bens materiais e
daquele cristão que não os têm
, mas possui a em Jesus
Cristo.
O que o pregador pretende é induzir seu
auditório a escolher a melhor parte:
perder tudo,
continuar com fé e
,
assim,
encontrar o reino de Deus.
A maneira com que ele constrói essa indução é suscitando as paixões em seu
auditório, que acompanha seu raciocínio
respondendo ora com
autor
reflexão
,
ora com risos,
ora choro
, concomitantemente.
Ele prova
qu
e essas atitudes são possíveis
a partir de sua
própria experiência.
TOdas as outras coi::sas nos serão tiradas...nós vamo perdê TUdo...eu que num
tinha muita coisa perdi quase tudo ao longo desse
a::no...eu fico cum pena de quem
tem muito pa perdê...((risos)) tem que sofrê muito pa perdê tudo ((gritos e aplausos))
eu tenho dó...((aplausos))...eu já tinha dó de gente feio...ah agora eu tenho dó pa valê
m
esmo é de quem num tem Jesus
(PADRE L
ÉO, 2006
) (23:43)
As paixões são, assim, ao mesmo tempo modos de ser (que remetem ao
ethos
e
determinam um caráter) e respostas a modos de ser (o ajustamento ao outro).
Fica muito claro
,
em seu discurso, que Padre Léo intenciona provocar em seu
auditório a
paixã
o da compaixão,
aquela que provoca certo pesar por um mal que
se mostra
destrutivo ou penoso
(
como o c
âncer que o sacerdote enfrenta) e atinge quem não o merece. A
possibilidade de padecer desse tipo de mal é evidentemente necessária
para que o ouvinte
sin
ta
compaixão.
Padre Léo suscita a paixão da compaixão em seu auditório quando comenta sua
dificuldade em lidar com suas limitações, as quais não o permitem cumprir sua agenda de
sacerdote,
participar dos eventos que comumente
liderava,
pregar o evangelho
como de
costume
, etc. Dessa forma, ele
demon
stra seu sofrimento
e logra causar
comoção e
sentimento
de compaixão em seu auditório.
O auditório o aplaude no momento em que ele descreve momentos de
vergonha, ao aceitar ser cuidado por pessoas estranhas, que
se compadeceram de sua
enfermidade e limit
ação. Dessa forma, ele
consegue provocar em seu auditório a compaixão
através de
seu relato:
[
...
]
eu preciso ir cantá a vitória de Deus...mA::is do que nunca esse ano eu preCIso
ir...e por que eu precisava vir?..
.primeiro pra agradecer a Deus...passá TUdo...que
55
vocÊs que já ti/ conviveram com o câncer sabe...o câncer tira tudo da gente...tira
nossa dignida::de...você perde Tudo...você é um trapo em cima duma cama...SU::
-
jo...
--
e eu me sujei muitas ve::zes esse ano
...de xiXI:: e de cocô...
--
passei vergonha
quando as minhas irmãs que hoje também estão aqui me limpavam...mas passei mais
vergonha ainda... ((aplausos))...quando enfermei::ras...moças desconheci::das...ia
trocá minha fralda...você perde Tudo...você per
de o auto domínio...mas obra...a
fé...es::sa ninGUÉM tira.. NEM o encardido
TIra... ((aplausos e gritos))
(PADRE
LÉO, 2004)
(
10:00)
Figura 4
Paixão da compaixão
.
(11:16)
Em relação a esse momento da pregação, relembramos Aristóteles quando
afirma que
“é, sobretudo digno de compaixão o fato de serem honestas as pessoas que estão
em tais circunstâncias, pois todos esses fatos, por parecerem próximos, avivam nossa
compaixão, uma vez que o infortúnio é imerecido e aparece diante de nossos olhos.”
Observ
amos no quadro acima que, prosodicamente,
o orador insere a qualidade
de voz de irritabilidade, de agitação e nervosismo contra a figura do “encardido”, termo o qual
sempre utiliza em suas pregações ao se referir ao demônio,
o qual define como
aquele que
s
e
encardiu, que apresente sinais de sujeira através dos pecados, d
e honestidade suspeitosa, que
pleno d
e pecado, que aparenta feiúra e que,
portanto,
está
distante das co
isas de Deus. Padre
Léo declara
que a única
coisa que não perdemos na vida,
se tivermo
s Jesus, é a fé.
56
Ele afirma categoricamente que essa, ‘ninguém tira’ porque é legitimada por
Deus e, portanto, nem o Demônio, contrário à vontade de Deus, pode tirá
-
la das pessoas. Para
corroborar este argumento, o sacerdote faz uso da prosódia, quando el
eva consideravelmente
o nível de volume
de voz (linhas verdes), de 63.02d
B no início da frase destacada para
72.3dB quando profere a palavra “encardido”. A atitude do falante é revelada pela tessitura
em níveis ainda mais graves (linhas azuis) indicando m
aior autoridade, contestação do orador
ao que prega, em profunda exaltação, pois, para o sacerdote, não há nada que possa abalar a fé
em De
us, nem sequer o opositor,
chamado por ele de “encardido”. um profundo apelo ao
pathos
, que suscita no auditório a
paixão do temor e confiança
; sendo
que o
temor
é o
desgosto ou preocupação resultante da suposição de um mal iminente, ou danoso, ou penoso;
e,
confiança
, é o distanciamento do temível e a pr
oximidade dos meios de salvação
(
ARISTÓTELES,
200
3
, p.
31 e 33)
.
Percebemos, principalmente ao final de sua pregação,
na peroração,
que o
auditório aprova
o pregador, quando cumpre o pedido feito pelo sacerdote para que fechem os
olhos, façam um profundo silêncio e orem junto com ele,
motivados pela reflexão disposta
d
urante toda a pregação e que suscitou paixões entre os ouvintes. Padre Léo vai encerrando
sua pregação e convida seu auditório a recapitular todos os ensinamentos discorridos por ele,
agora em forma de oração, como se todos, inclusive o pregador, assumisse
m um diálogo com
Deus, na tentativa de serem atendidos, caso obedecessem ao propósito da pregação, que é o de
“buscar as coisas do alto”:
[...]
pára agora e pense comigo...pode até fechar os olhos um pouqui::m...cê que
em ca::as... aqui...nesse espaço
sagra::do...( ) que área da minha vida eu preci::so...
botá o carim::bo...do céu?...i::sso.. faiz um momentim de silêncio..olha que bonito...
nem parece que são milhares de pessoas, obrigado senhor... e peça (assim) Espírito
Santo... vem e socorra a minha
fraqueza....
-
me a graça de carimbá a minha vida
inTEIra... com as coisas do alto... eu cansei...dessas coisas da terra...eu cansei do
pecado...
vem e socorra minha fraqueza[...] (PADRE L
ÉO, 2006
) (38:12).
É nessa pronunciação de seu discurso a qual cham
amos de
actio
, que o
pregador emociona, impressiona, persuade. Revestido pela autoridade que compete a um
sacerdote e imbuído de profunda comoção, Padre Léo constrói seu discurso falando em nome
de um “ser superior”, fundamentando todos os relatos de vida
com passagens bíblicas,
fazendo um paralelo entre a Sagrada Escritura e os acontecimentos experimentados por ele,
naquele momento.
A voz de Deus permeia sua voz, inclusive fazendo com que Padre Léo fale em
Seu Nome, sendo considerado apenas o agente relig
ioso transmissor da Palavra de Deus.
57
Dess
a forma, o líder religioso
busca conferir
maior credibilidade ao que diz, pois
demonstra
não fala
r
por ele, mas sim em nome de um ser imaterial, dotado de verdade.
Figura 5
M
omento de oração
pausas
(38:12)
Como vimos anteriormente, o
orador
,
Padre Léo
, se coloca n
o plano espiritual
(o Sujeito, Deus) e o auditório
, por sua vez,
no
plano
temporal (os sujeitos, Homens).
Assim,
Padre Léo e o auditório pertencem a duas ordens de mundo totalmente diferentes e afet
adas
pelo valor hierárquico, por uma desigualdade em sua relação: o
mundo espiritual domina o
real, mas o mundo real pode aproximar
-
se do mundo espiritual a partir das escolhas feitas
pelo auditório, agora persuadido pela pregação.
A partir desse momento,
e
le convida seu auditório a seguir com ele o caminho
ao plano espiritual, re
alizando uma oração de súplica a
Deus, para que todos sejam salvos, ao
buscarem as coisas do alto. É uma oração com qualidade de voz aveludada, singela, com
profundo paternalismo,
em atitude de cuidado e proteção àqueles que acompanham a oração.
Sabemos que, c
onsoante Cagliari (1992, p.
142), a pausa tem uma
função
aerodinâmica que permite ao falante respirar durant
e a fala, em momentos oportunos
.
N
a
58
figura cinco (5)
podemos observ
ar
que o orador
faz uso de períodos de pausa, no intuito de
seg
mentar a fala, reforçando
o significado literal do que está dizendo
. Esse recurso
lhe
permite
levar o auditório a deixar
de lado outras interpretações possíveis e
, assim,
acompanhá
-
lo
em sua or
ação
a
Deus. Observamos pausas longas, de até 3 segundos,
representando a atitude do falante no desejo de reforçar o valor
de sua autoridade e do que
diz.
A
pausa
pode também servir para chamar a atenção para o que se vai dizer em
seguida, preparando o au
ditório para a aproximação do plano temporal ao plano espiritual.
Nesse excerto, o
volume
se mantém em níveis mais baixos, assinalando o respeito pelo
momento conduzido pelo orador, persuadindo seu auditório a orar junto com ele, enquanto
que a
tessitura
é
utilizada em níveis graves, decrescendo continuamente, usada pelo orador
com vistas a
prender a atenção de seu auditório.
C
aracterizamos a tendência de
ssa pregação de Padre Léo à
não reversibilidade.
O orador
não pode ocupar o lugar de Deus. regras est
ritas no procedimento com que o
representante se aproprie da voz de Deus: a relação de representante com a voz é regulada
pelo texto sagrado, pela Igreja, pel
as cerimônias. Padre Léo então transmite
suas palavras
a
Deus
, mas não se confunde com Ele.
O sac
erdote
busca fazer
a conjunção do que é terrestre com o sobrenatural. Ele
transform
a o estatuto do real. O orador
se impõe como alguém
unido a Deus, ligado
a
duas
ordens diferentes da realidade: a humana e a divina.
Entre o h
umano e o divino manté
m
-
se
uma
distância que a ação ritual permite que venha a ser transposta sem que venha a ser
abolida.
O orador declara várias vezes, em sua
pregação
,
que é Deus quem realiza todas
as coisas em sua vida e na de todos os seus ouvintes. Ele constrói o argumento de que
para o
que crer em Deus, nada será impossível, pois através do divino, tudo que for planejado,
poderá ser aceito e realizado por Deus. Sugere então, diante dessa afirmação, a exclusão
daquele que se negar a esse estado ou processo mental de acreditar em D
eus e em seus
princípios. Se crer, a pessoa será salva e o seu contrário acarretará em morte física e espiritual.
Mais uma vez
, vislumbramos
, neste trecho,
a paixão do temor e da confiança,
citados em parágrafo anterior.
Vejamos que
, numa
análise prosódic
a, o orador busca
conferir
ainda
maior
veracidade ao que fala,
ao fazer uso dos
os elementos supras
segmentais
, corrobo
rando a
persuasão, como veremos
no trecho a seguir.
59
Figura 6
A pessoa e seus atos (argumento baseado na estrutura do real)
(09:32)
N
o excerto
,
prosodicamente analisado acima, há um prolongamento da laba
/de/ da palavra Deus, destacada em rosa, apresentando
-
nos um aumento
da
duração
no
sentido positivo da palavra que vai ser anunciada
.
É Deus quem merece reconhecimento
quando a rea
lização dos planejamentos, segundo o orador profere. Se é essa a afirmação
que Padre Léo quer que prevaleça, então, ele aumenta o
volume
da palavra Deus, no início em
75.26dB aumentando para 77.20db em seu término, para que o auditório
seja
ainda
mais
aler
tado sobre quem é que realiza todo o
plano de vida dos fiéis
.
O orador também faz uso de
tessitura
mais grave para inserir a digressão, como um desvio do assunto sobre o qual se fala,
inserindo novas alusões para enriquecer sua pregação.
Percebemos uma
pau
sa
ao término da expressão “Deus faz cumprir os nossos
planejamentos”, em que Padre Léo reestrutura a produção de sua fala, usando a pausa como
hesitação, demonstrando a atitude do falante em impressionar seu auditório com a referência
que fará a seguir.
O orador
constrói seu argumento baseando
-
se na estrutura do real, quando
pretende confirmar essa premissa
de que ‘Deus faz cumprir nossos planejamentos’
,
inserindo
60
outro nome que sugere autoridade,
em
menção a um dos fundadores da Canção Nova,
c
hamado E
to,
conhecido e respeitado pelo auditório particular por ser o responsável
administrativo e financeiro
daquela comunidade religiosa. E
to v
em consegui
n
do manter
financeiramente
a comunidade
religiosa
através de doações dos fiéis, sendo considerado,
portanto, u
m administrador
que ind
ícios de êxito
em seus propósitos
, pois são alicerçados
pelo “gosto de dizer” que
é Deus
quem cumpre os seus planejamentos
.
Padre Léo faz uso
dessa personalidade
reafirmando
sua frase proferida, persuadindo seu auditório, através
desse
exemplo, de que é possível planejar qualquer situação e conseguir a realização desses projetos
a partir da fé em Deus.
Para Perelman e
Olbrechts
-
Tyteca (1997), a argumentação é acima de tudo
uma ação: de um indivíduo (orador) sobre outro indivíduo (
auditório), com o objetivo de
desencadear uma ação (adesão).
N
ess
a perspectiva dos autores e analisando a pregação
,
vimos
que
existe a preocupação do sacerdote em proferir seu discurso não somente para aquele
auditório
particular
presente na Comunidade Can
ção Nova, mas também para o auditório que
o
acompanhava pela rede nac
ional de televisão
. O
ora
dor sabe que seu auditório não é
totalmente particular
(pois a pregação foi também transmitida em rede nacional, o que sugere
maior alcance de um auditório ainda
não persuadido, porém ‘curioso’)
e
qu
e seu objetivo é
persuadir,
obtendo
a adesão de todo ser racional e não constituído de um apelo à ão
imediata.
Sendo assim, ele faz
adaptações ao auditório, ordenando seus argumentos
,
levando em conta os fatores susce
tíveis de favorecimento à acolhida pelos ouvintes. O
sacerdote organiza seu
discurso em grande parte, n
o desejo de ressaltar novas premis
sas, de
atribuir
presença a certos elementos
a fim de envolver todos os ouvintes:
Eu disse logo no início da minha enf
ermidade...pra todos aqueles...que se
aproximaram de mim...”eu não quero perder um minuto dessa doença...eu quero
aprender TU::do que Deus tem pra mi ensin
á
...porque que vei essa doença eu num
sei...mas pra quê eu sei.. pa fortalecê a minha fé:::é pra eu
seja um sacerdote mais
san::to (por)que eu não estava sendo((aplausos))...é pra que eu possa assumir o
Ministé::rio que Deus deu para mim::...com ua/ força muito maior...é pra eu tivesse
absoluta certeza
--
ontem eu fiz dezesseis anos de padre
--
pa Deus
deixa bem claro
no meu coração ... ((aplausos)) “...ago:::ra...você não se pertence mais...você é da
Bethânia...você é da Canção Nova...você é da Igreja...sua vida tem que gasta
Leo
[
...
] (PADRE L
ÉO, 2006
) (17:53)
Outro ponto considerado por Perelman e
Olbrechts
-
Tyteca (1997), no que
concerne
forma
persuasiva que leva à adesão,
aceitação tácita dos argumentos, é aquele
relativo à
ideia
de
presença
.
Aqui, essa presença é também
a capacidade de manter vivos para
61
a consciência certos elementos (objetos, pe
ssoas, emoções
reais ou não), mesmo
qu
e não
haja qualquer base calcada em demonstrações formais ou provas.
[...]
então eu ti::nha que vir nesse Hosana...mas eu tinha que vir aqui também...pra.
testemunhar..ua/ gratidão profun::da...a três pessoas::três
pesso::as...qui::...se
ocupavam um lugar de destaque no meu coração::...esse ano intão...(evidencia::ram
-
se)...denda/
minha alma...Padre Jô::nas... E
to...e Luzia... ((aplausos e gritos))...eu
Tinha que vir agr
adecê
-
los ((aplausos e gritos))
(PADRE LÉO,
2004) (12:40)
Se desde a Antiguidade já havia a preocupação com a arte de bem falar, que se
tornava mais presente à medida que as cidades
-
estados gregas estruturavam
-
se em termos
políticos e sociais, ainda hoje percebemos a influência e a preocupação dos
orad
ores em
lapidar a forma de seus discursos, adequ
ando e vislumbrando a persuasão.
Para persuadir é necessário dizer o bem, que Quintiliano chamava de
scientia
bene dicendi.
O dizer no texto oral religioso instaura um compromisso ético e moral.
Em seu d
iscurso, Padre o se coloca como um subalterno do plano espiritual,
como
um veículo decifrador de alguns conceitos e
ideia
s. O ponto de aproximação e
convergência do discurso é o da busca por exemplificação de uma
ideia
, ou melhor, um
modelo correto de no
rmas que norteiem a existência e elevem o padrão
moral.
A aceitação
dos conselhos se ancora na caminhada conjunta.
Nota
-
se
,
assim, que o
discurso de Padre Léo
consiste
em um sistema de técnicas detalhadas, as quais identificamos como modalidades
argumentat
ivo
-
persuasivas e que
, corroboradas pelos elementos prosódicos,
o constitutivas
deste discurso.
Per
elman &
Olbrechts
-
Tyteca (1997)
demonstram o papel desempenhado por
certas operações verbais relacion
adas ao processo argumentativo.
Os autores propõem
alg
umas modalidades argumentativo
-
persuasiv
as, dentre as quais se destaca a
modalidade
assertiva
a que melhor se adapta a toda argumentação, pois impede a discuss
ão sobre o que
foi dito
,
a qual
encontramos
n
a caracterização do gênero
pregação
,
devido ao f
ato de
ela
não poder ser
refutada
no momento de sua pronunciação. Além dessa modalidade, os autores
teorizam sobre a
modalidade injuntiva
, representada linguisticamente pelo uso do impera
tivo,
que traz em si forte valor persuasivo.
No que tange ao uso do i
mperativo, vemos que n
o título desse discurso oral
religioso,
repetido por
dezoito vezes durante a pregação
: Buscai as coisas do alto”, o verbo
buscar é conjugado na segunda pessoa do plural do imperativo afirmativo (buscai vós) e que o
pregador persuade
através do aconselhamento de que seremos salvos se atendermos
a
esse
propósito reafirmado
na
construção verbal e que caracteriza a força impositiva de Padre Léo,
62
pessoa que a ordem.
Por último, temos a
modalidade interrogativa
, que é identificada em
“Q
uer ser feliz? Buscai as coisas do alto”, em que
o orador
procura
conduzir
o auditório pelos
processos persuasivos a aderir às suas
ideia
s.
Figura 7
Modalidade argumentativo
-
persuasiva
(05:24)
Notamos
,
no quadro acima
,
que
,
através da modalidade
interrogativa
,
o orador
questiona seu auditório acerca daquilo que dificilmente terá como resposta a negação. Ele
induz a aceitação do auditório de
forma
a
produz o efeito desejado para inserir o preceito que
move toda a sua preg
ação:
a frase
subseq
u
ente
buscai as coisas do alto
. Não outra
resposta senão o sim. Para o sacerdote, nenhum ouvinte poderia recusar a proposta primeira
de ser feliz em detrimento de qualquer outro argumento. Sucede que o orador insere uma
pausa em sua fala, no momento do que
stionamento, para que seu auditório tenha tempo
suficiente para respondê
-
la afirmativa e mentalmente. Sabemos que a pausa tem a função de
chamar a atenção do auditório para o que se vai dizer em seguida, fazendo valer a autoridade
do falante, que quer impr
essionar o interlocutor com a resposta que será explicitada a seguir.
Parece
-
nos clara a intenção do orador em fazer com que o auditório, a partir da pausa, possa
63
se
perguntar, mesmo que mentalmente “o que fazer
para ser feliz. E assim, ele anuncia a
resp
osta
que mais prevalece em todo seu discurso: basta “buscar as coisas do alto”.
Para melhor comprovamos esse efeito prosódico na construção da
argumentação, analisamos os níveis de volume e tessitura que praticamente se equivalem
tanto quanto são acrescid
os como decrescidos.
Destacamos no quadro com a cor rosa, a frase
“quer ser feliz?” no intuito da analisar a escolha da modalidade interrogativa corroborada pela
prosódia, a partir dos elementos de volume e tessitura.
Quanto ao
volume
, o orador sinaliza
au
toridade, aumentando a pronúncia da palavra /feliz/ na sílaba tônica /liz/, e confere à ela a
qualidade de voz irônica, de quem possa duvidar de resposta contrária. Ele aumenta o volume
inicial de 60.03dB (linhas verdes) para 63.07dB em /liz/, sílaba mais
forte pronunciada pelo
orador. Níveis mais agudos de
tessitura
(67.09dB)
sinalizam, como no caso analisado
(linhas
azuis)
, a exaltação do orador ao proferir a palavra /feliz/, pois sugere que ele realmente não
quer ser contra
riado ou interromper seu racioc
í
n
i
o,
a fim de
persuadir seus interlocutores,
s
o
bre o tópico principal que será exposto
na frase seguinte.
É
o pregador
quem escolhe quais argumentos i usar em seu discurso de
acordo com a força que pretende designar a cada
ideia
proferida. É necessári
o, por
tanto,
classificarmos os
argumentos
que
constroem esse
discurso.
São
eles
:
os
quase
-
l
ógicos,
os
baseados na estrutura do real e
os que
fundam a estrutura do real.
A respeito dessa “sobreposição de argumentos”, Reboul (2004, p.
164) afirma
que “em se
tratando de análises, para um melhor efeito prático e efetivo da argumentação,
de se considerar que a argumentação se caracteriza por uma intervenção constante entre todos
os seus elementos”.
Convém analisar a partir da afirmação acima a estrutura dos
argumentos
isoladamente. Esse modo de proceder, indispensável na maior aproximação ao
corpus
selecionado, nos obrigará a separar partes integrantes de um mesmo discurso e que constituem
uma única argumentação em conjunto. Para discernir sobre esse esquema
argumentativo,
somos obrigados a interpretar as palavras do pregador em questão, suprindo elos faltantes, o
que nunca deixa de apresentar riscos, pois, percebemos que simultaneamente, podem ocorrer
mais de uma forma de conceber a estrutura de um argumento
.
Começaremos por analisar o argumento do tipo quase
-
lógico, aquele “que
pretende certa força de convicção e o qual convém colocar em evidência o esquema formal
que permite tornar o argumento comparável, semelhante, homogêneo”, segundo
Perelman &
Olbrechts
-
Tyteca (1997)
.
64
Na
pregação selecionada, identificamos o
argumento pelo sacrifício
, do tipo
quase
-
lógico, que é utilizado com mais freq
u
ência para alegar o sacrifício a que o orador está
disposto a se sujeitar para obter o resultado de sua argumentação.
Ap
esar de demonstrar suas
limitações, Padre Léo argumenta
que vem
enfrentando o tratamento contra o câncer, não questionando o motivo pelo qual essa doença o
acometeu, mas sim, alegando haver identificado o objetivo dessa doença em sua vida.
Instaura um d
iscurso apelativo, testemunhando ao auditório o quanto de sofrimento pode ser
suportado por um
ser
humano, porém, escolhido de Deus, revelando seu maior prestígio.
Ele
relata que sabe quais são esse
s
objetivos e que pretende suportar os sofrimentos causad
os
pelos e
feitos colaterais do tratamento
para alcançar o propósito entendido por ele. Percebe
-
se
então, através da construçã
o desse argumento, que o orador
sabe que é ele mesmo quem fixou
os limites para seus próprios esforços, mas também legitima que pre
tende superá
-
los
se
conseguir alcançar ‘as coisas de Deus’
e
,
aí, d
emonstra o argumento de sacrifíci
o:
[
...
]
eu não quero perder um minuto dessa
doença...
eu quero aprender tudo que Deus
tem pra mi ensina...porque que vei essa doença eu num sei...mas pra
quê eu sei...é pa
fortalecê a minha fé:::é pra eu seja um sacerdote mais santo (por)que eu não estava
sendo((aplausos))...é pra que eu possa assumir o Ministé::rio que Deus deu para
mim::
...com ua/ força muito maior...
(18:01)
Na argumentação pelo sacrifí
cio, este deve medir o valor atribuído àquilo por
que se faz o sacrifício. E é esse o argumento que Padre Léo afirma na citação acima. Ele
induz seu auditório a acreditar que a partir do sacrifício da experiência do câncer, ele terá
maior valor
como ser hu
mano, como
sacerdote,
como
aquele que busca as coisas do alto e
que, portanto, será salvo por Deus.
A ausência desse sacrifício serviria para medir a pouca importância concedida
a uma coisa que se p
retende afirmar
. Quanto maior o sacrifício suportado pela
fé,
mais
salvação
, sugere o pregador.
Segundo
Perelman &
Olbrechts
-
Tyteca (1997
, p. 282
),
“quanto
maior o sacrifício, mais o
argumento impressiona”.
65
Figura 8
Argumentação pelo sacrifício
(11:44)
No trecho destacado em cor amarela, o orador instaur
a em seu discurso a força
persuasiva através do sacrifício, para que suscite em seu auditório ainda mais a compaixão.
Para reforçar esse intuito, ele eleva a tessitura em níveis graves
a 75.78dB, chegando a atingir
78.03dB em di/FÍ/cil (linhas azuis). u
m nível de exaltação elevada, comprovada pela
análise da tessitura e legitimado pela altura do volume, que atinge 78.05dB em /estÁ
-
Mais/,
(destacado no quadro em cor rosa) quando o orado
r busca equiparar
todos os sacrif
ícios
para
superar suas limitações. E
le cria um paralelismo em
“mais cansado, mais dolorido, mais
difícil” encadea
ndo os
sofrimentos, com qualidade de voz chorosa, corroborando a persuasão
por meio do sacrifício
.
,
em outro momento da pregação
,
um relato comovente do tempo de dor do
sacerdo
te
quando
esteve internado. Ele argumenta que, orientado pelos médicos, poderia
acionar uma “máquina conectada à sua veia” que liberaria morfina e esta aliviaria a sua dor.
Ele
relata
,
então, que essa experiência o aproxim
ou ainda mais de Deus, pois
aceito
u o
propósito de buscar as coisas do alt
o e
todas as provações
vinculadas a esse processo. Assim,
registra sua s
úplica e
relata ao auditório que a dor física
foi superada
acionando
cento e vinte
66
e nove vezes
a referida máquina. Entretanto, para superar a
dor na alma, sacrificada pela
angústia, pela tristeza e
pela fragilidade,
recorreu ao que ele chama de “suspiro da alma”, o
único c
aminho que o levaria à salvação
: Jesus.
[
...
]
ligaro na minha veia...ua/ maquininha... e aquela máquina era ligada um ...s
aco
plástico cheio de morfi::na...intão me falaro cada veiz que doe você aperta...aí:: o
médico depois vei e aquela máquina é de computadô...não tem jeito de engana
eles... eu tinha apertado... cento e vinte e nove vezes... ((risos)) num passava a
do
r...morfina num passava a dor...nessa hora é o suspiro da alma que diz...Jesus...
Jesus... Jesus...cê num consegue nem terminá Jesus tem piedade de
mim...((a
plausos)) Jesus... ((aplausos)). (PADRE L
ÉO, 2006
) (21:06)
Figura 9
Prestígio pelo sacrifício
(21:30)
Constrói mais uma vez a sua argumentação através do argumento de sacrifício,
aumenta seu prestí
gio em relação ao auditório e
conduz
sua
pregação
em circunstâncias mais
apelativas, mais emotivas, buscando
seu objetivo principal, que é persuadir s
eus ouvintes a
fazer como
ele
.
67
Faz
-
se necessária aqui a análise prosódica sobre o argumento de sacrif
ício no
trecho destacado
acima, pois o orador insere níveis muito elevados de
volume
, semelhante a
gritos, quando quer mostrar significado de profunda indi
gnação ao relatar que até a morfina,
substância usada no tratamento sintomático da dor
,
não era suficiente para aliviar
seu
sofrimento. Vemos
,
no quadro em linhas verdes
,
a elevação de volume a 75.14dB
, quando
insere a palavra /morFI
na/ e em seguida, eleva
novamente a
73.13dB quando pronuncia /dOr/.
Reduz o volume a 40.04dB quando após pausa de 3 segundos a frase “nessa hora é o suspiro
da alma que diz”. Verificamos também a ocorrência de repetição
retórica
da palavra Jesus,
por três vezes, a fim de enfatiz
á
-
la, contribuindo ainda mais a percepção do efeito das pausas,
objetivando a persuasão. O orador persuade seu auditório a crer que se a morfina não produz
alívio das dores físicas, Jesus passa a ser o ‘suspiro da alma’. A partir das pausas, podemos
observ
ar as fronteiras entre as palavras, mesmo que repetidas (Jesus), indicando a atitude do
falante em impressionar os seus interlocutores, reforçando ainda mais valor ao que ele diz.
Percebemos que
o orador mantém uma
qua
lidade de sua voz bem aveludada
ao pro
ferir a
palavra /Jesus/
,
de forma que o audit
ório
compara a pronunciação de
/
Jesus, Jesus, Jesus
/
à
pulsação do coração, como se legitimasse a premissa de que vida em Jesus, segundo
Padre Léo.
Per
elman &
Olbrechts
-
Tyteca (1997
p. 284
)
teorizam que
“a concepção que
se faz de um mesmo sacrifício pode, na prática, ser muito diferente conforme as conclusões
q
ue dele se quer tirar.” Veja
mos esse
trecho da pregação
:
[...]
das muitas graças que eu
tive...
--
e eu tive muitas graças com o ncer...até
pense
i em escrever um livro “As graças que o câncer me deu”...mas achei que muita
gente num ia entendê...achando que eu quisesse fazê graça...mas não era de
engraçado...era cheio dessa graça
[
...
].
(13:15)
Percebe
-
se que
,
nes
s
e momento, o orador
quer suscitar
em seu auditório a
ideia
de que
,
através do sacrifí
cio de enfrentar uma enfermidade, pode
-
se colher muitos
ensinamentos, muitas experiências enriquecedoras, mostrando o lado
“positivo” de uma
enfermidade. Porém,
ele também sabe que se pode sofrer muito, po
rtanto, mesmo tentando
persuadir pelo argumento de sacrifício,
ele pondera que muitas pessoas
não o entenderiam,
justamente pela argumentação dos teóricos da argumentação citados acima. Para cada
interpretação,
duas ou mais possibilidades que se contrad
izem. Estamos
no nível da
argumentação quase
-
lógica porque o termo de referência não constitui uma grandeza fixa,
mas está em interação constante com outros elementos.
Podemos aplicar esse argumento
68
quase
-
lógico do sacrifício a todo campo das relações de m
eio com fim, sendo o meio um
sacrifício, um esforço, u
m sofrimento e o fim, aqui, seria a persuasão.
E
xploraremos a partir daqui os argumentos baseados na estrutura do real, que
segundo
Per
elman &
Olbrechts
-
Tyteca (1997, p. 297)
são aqueles que se valem d
a realidade
para estabelecer uma solidariedade entre juízos admitidos e
outros que se procura promover
.
Dentre os argumentos baseados na estrutura do real, os autores deno
minam
como argumento pragmático
“aquele que permite apreciar um ato ou um acontecime
nto
consoante suas conseq
u
ências favoráveis ou desfavoráveis” (
PERELMAN &
OLBRECHTS
-
TYTECA, 1997,
p. 303)
.
Se
buscarmos
,
n
o
corpus
selecionado
,
a conceituação acima, veremos que o
argumento pragmático aparece em quase toda a pregação, visto que Padre Léo c
onstrói o seu
discurso conduzindo seu auditório a crer que mesmo em meio a tanto sofrimento
gerado por
sua enfermidade,
pode
-
se
experimentar a misericórdia divina, a partir de sua resignação,
esperança e fé. Ele também faz apreciação sobre as escolhas que
cada um de seus ouvintes
pode fazer em relação a atitudes positivas ou negativas. Ele metaforiza sobre “carimbos do
céu” ou “carimbos da terra”, argumentando que
,
para cada ão positiva em nossa vida,
colheremos efeitos positivos, assim como o contrário t
ambém ocorrer
á.
O argumento pragmático, que permite apreciar uma coisa consoante suas
conseq
u
ências, presentes ou futuras, tem uma importância direta para a ação. Ele não requer,
para ser aceito pelo senso comum,
nenhuma justificação. O orador
atribui a i
magem dos
carimbos às marcas que deixamos em nosso corpo, assim como as marcas da alma. Ele afirma
que
,
para cada
ação
, pensamento ou palavra, te
mos sempre como conseq
u
ência, o juízo
semelhante à causa.
A ligaçã
o entre uma causa e suas consequ
ências pode
ser percebida com tanta
acuidade que uma transferência emotiva imediata,
não explicitada, opera
-
se desta
para
aquelas, de tal modo que se acredita prezar alguma coisa por seu valor próp
rio, ao passo que
são as consequ
ências que, na realidade, importam.
[...]
o dia que nós::... nascemos...nós ganhamos dois carim::bos...um escrito
assim...céu...entre parentis...coisas do al::to...no outro escrito assim inferno...entre
parentis... coisas da terra... coisas terrenais...esses dois carimbo que você tem e
u
tenho... chega uma hora na vida que você será chamado a carimbá
[
...
].
(25:01)
A
partir do
trecho citado acima, o sacerdote conduzirá sua argumentação,
explicando
que
,
consequ
entemente às nossas a
titudes, teremos marcado em nós
um dos dois
carimbos. Ele
comenta então acerca das reflexões que devemos fazer muito antes de falar,
69
agir, omitir, pois para cada um desses verbos, um efeito em nossas próprias vidas. Assim,
pela
simplicidade aparente
, o pregador tenta persuadir seu auditório
a respeito
da
id
eia
de
que aquele que aceitar os preceitos explicitados por ele
,
temendo aos atos conseguintes,
cumprirá os desejos do ser maior, que é Deus
; e, além disso, Deus
sempre esperará por este
momento para que
possa realizar em nossas vidas
a sua maior ação: a s
alvação.
Contudo, toda
a afirmação anterior, substituída pela negação da premissa, terá efeito semelhante.
[
...
]
o dinheiro por exemplo...será que cê pode pegá o dinheiro que cê ganha... e até o
jeito que ganha esse dinheiro... e colocá o carimbo... do
u?... você precisa...
transformá o seu dinheiro de uma forma tal...que ele possa recebê o carimbo do
-
céu...porque senão ele ti leva pa o outro carimbo lá.... eu num vô falá muito do outro
carimbo não... ((risos)) ((aplausos)) ibope encardido não né?.
.. ele é danado
ele qué que a gente fala... aqui prele/ ó ((gesticula)) ((aplausos e risos)) ele é
dana::do...ele ...ele proveita que falan{} ãh?... ele sempre dá um jeitim de se
infiltrá ali né?...ah::danado...num veim não...cê pode colocá o carimbo
do u... ou
se o dinheiro é sujo...é desonesto...o uso que faiz do seu dinheiro...pode recebê o
carimbo do céu...das coi::sas do al::to...ou... tem que aquele ou::tro carimbo...só
voCÊ:: pode fazer essa escolha...só voCÊ:: pode carimbá
-
lo
[...] (PA
DRE LÉO,
2004).
(26:03)
Figura 10
Argumentação pragmática
.
(28:30)
70
Vimos que
,
no quadro acima, há uma importante contribuição prosódica no que
diz respeito à elevação do volume no intuito de sinalizar autoridade, persuasão
e exaltação. O
orador grita
em volumes elevados no trecho destacado em amarelo quando profere
“caRIMBAdor do céu”. elevação de
volume
a 75.65dB,
(linhas verdes)
o que configura
sua necessidade de reforçar o que estava sendo dito, em alusão até mesmo ao fato do
significado de ‘car
imbo’ como algo que marca,
autentica e identifica uma
ideia
, como no caso
em questão. O orador enaltece o convite a todos os cristãos, aumentando a
duração
(
3
segundos
) da pronúncia da palavra /ca
-
rim
-
ba
-
dor/ conferindo à ela o sentido pos
itivo que
pretend
e conferir ao
seu auditório. Verificamos que a
tessitura
também se apresenta em níveis
mais elevados (agudos) a 77.02dB, legitimando a exaltação do orador sobre o argumento a
persuadir. A
persuasão
aqui é corroborada pelos elementos prosódicos
, uma vez que
eles
conferem
ai
nda maior
destaque ao argumento revelado.
O fato de considerar ou não uma conduta como um meio de alcançar um fim
pode acarretar as mais importantes conseq
u
ências e pode, portanto, por essa razão, constituir
o objeto essencial de uma argum
entação. Se Padre Léo considera
que ele próprio busca as
coisas do alto e reafirma isso através de suas vivências, então, ele registra ao auditório a
importância de todos cumprirem também aquilo que ele prega.
Ele afirma, de forma
generalizada, que todos o
s
cristãos receberam
,
quando nasceram, um
convite a pertencerem a
Deus
(como ele)
, o que exclui, portanto, todos aqueles que
,
por ora, não sejam cristãos. Mais
uma vez, ele insere no discurso o argumento de que para ser salvo, que se pertencer a
Deus, d
o contrário, não há salvação.
Por esse raciocínio,
Perelman &
Olbrechts
-
Tyteca (1997)
discorrem sobre a
pessoa e seus atos e afirmam que “a construção da pessoa humana, que se vincula aos atos, é
ligada a uma distinção entre o que se considera importante,
natural, próprio do ser de quem se
fala, e o que se considera transitório, manifestação exterior do sujeito” (p. 334)
.
Percebe
-
se que
,
durante a
pregação, Padre Léo ensina
um modo de ser ao seu
auditório, que pode ser persuadido ou não.
Na busca de
persuad
ir, ele insere exemplos,
modelos, atitudes, virtudes e
princípios a serem seguidos, principalment
e por terem sido
comprovados
pelas histórias contadas por ele durante seu discurso.
Mais uma vez, confirma
-
se que
,
p
ara cada
argumento,
uma comprovação
(
PERELMAN & OLBRECHTS
-
TYTECA, 1997
)
. O orador
demonstra
, através de fatos, o poder que as
pessoas
têm
para
transformar suas vida
s
,
modificarem
-
se, converterem
-
se,
darem as costas ao passado.
Se
assim o fizessem, terão
, de acordo com o orador,
mérito, reconh
ecimento e salvação
.
71
Todos esses dados
evidenciam que
e
xistem
,
na
argumentação
de Pe. Léo
,
questionamentos que levam o
auditório à reflexão pessoal e
à
auto
-
avaliação
. Isso é feito
por
meio da condução
dos
raciocínios
do orador
,
o qual está
ciente
de
qu
e t
oda
s as pessoas ali são
livres,
possuem
livre arbítrio, têm
o
poder
de mudar e de se transformar,
a possibilidade de
ser
em persuadidas
ou de resistir
em
à persuasão
. Por esse motivo, o orador
insere inúmeros
questionamentos e
,
por meio
deles, faz com que o
auditório
reflita profundamente
,
legitimando
su
as intenções
.
Que coisas do alto são essas que eu to falano?
“ceis vão escolhê as coisa do
encardido ou as coisa do alto?”
“será que ocê pode pegar o seu dinheiro que o
ganha e até a forma que ocê gast
a esse dinheiro, de colocá o carimbo do céu ou o
carimbo do danado?
(PADRE LÉO, 200
6
) (25:30)
Como sacerdote
, o orador possui
prestígio
diante de um auditório particular
,
entretanto,
nesta pregação, ele
o persuade pelo que diz e
como diz
em seu discurs
o
. Ele o faz
da seguinte forma:
faz uso de citações bíblicas,
menciona
pessoas respeitadas e conhecidas
por seu a
uditório, refer
e
-
se a parábolas
que se relacionam com o que tem a ensinar,
aproxima
s
eus relatos a milagres de Jesus e
fala
, a todo o momento,
em nome de Deus.
Sabemos que muitos argumentos são influenciados pelo prestígio. Somos
persuadidos pelos argumentos de alguém dependendo das opiniões que temos por essa pessoa,
por sua integridade e influência em nosso meio.
Perelman &
Olbrechts
-
Tyteca (1
997
, p. 348
)
chamam de
argumento de prestígio ou de autoridade
aquele que utiliza atos ou juízos de
uma pessoa ou de um grupo de pessoas como meio de prova a
favor de uma tese.”
Esse
argumento é de extrema importância e em uma argumentação particular
não
pode
ser
consider
ado
irrelevante
e simplesmente
contestá
-
lo também não convém.
Baseado na estrutura do real, o argumento de autoridade vem completar a
argumentação, valorizando (e em algumas situações, desvalorizando) o discurso, conforme
coincida ou não
com a opinião do auditório.
Para que não haja contestações por parte do auditório, o pregador faz uso desse
tipo de argumento para provar o que diz ou de quem diz. Essa autoridade atesta o respeito que
cada argumento ou cada pessoa testemunha diante de s
eu auditório.
Assim sendo, o sacerdote
em análise também fará uso desse recurso para ainda mais comprovar o objetivo de sua
pregação.
As autoridades invocadas
, ao longa da pregação,
são especificamente
reconhecidas pelo auditório e se fossem citadas em ou
tros meios, talvez fossem descartadas
como irrelevantes.
72
Quando o pregador
-
sacerdote fa
z citações da Sagrada Escritura e
apela para
modelos e exemplos
(
como Deus, Jesus, ou mesmo o exemplo satânico, o qual ele chama de
“O Encardido”
), ele está
construindo
o que conceituamos de argumento de autoridade.
,
nesta prega
ção, um momento em que o orador
relata sua gratidão a três
pessoas, conhecidas do auditório, que tanto favoreceram os tempos de tratamen
to do
sacerdote: Padre Jonas, E
to e Luzia. O primeiro é
o fundador da Comunidade Canção Nova,
rede de evangelização, que
possui
todos os recursos midiáticos e na qual
Padre Léo fazia suas
pregações: rádio, televisão e editora. O segundo é o administrador geral da mesma
comunidade, tesoureiro e relações públicas
de toda a Canção Nova
(citado em parágrafo
anterior)
.
Eto é também c
asado com Luzia, a mais conhecida pregadora daquela comunidade,
chamada de
intercessora
pelos fiéis da Canção Nova, por seu p
oder de oração e
aconselhamento
. Essas três pessoas
testemun
haram
todo o sofrimento de Padre Léo nesse
tempo de silenciamento, o qual é relatado pelo sacerdote em su
a pregação e essas três pessoas
podem, por sua presença, comprovar ou desaprovar toda a argumentação do sacerdote,
perante o auditório. Eles não têm pa
rticipação alguma no discurso do padre, porém, sabemos
que
estão presentes, pois o orador
se refere a
eles como pessoas particularmente capazes da
comprovação do que ele diz.
Para o sacerdote, s
ão exemplos de compaixão, humildade,
solidariedade e fé,
citan
do
-
os em seu discurso.
[
...
]
eu tinha que vir nesse Hosana...mas eu tinha que vir aqui também...pra.
testemunhar..uma gratidão profu:da...a três pessoas três pessoas...qui::...se
ocupavam um lugar de destaque no meu coração::...esse ano intão...evidenc
iaram
-
se...denda/ minha
alma...Padre Jô::nas... E
to...e Luzia... ((aplausos e gritos))...eu
Tinha que vir agradecê
-
los ((aplausos e gritos))......porque::...das mui::tas graças que
eu tive
-
eu tive a graça de ficá doente na casa deles...e desde aquele prim
ei::ro
instante...eles me pegaram no colo...eao lon::go desse ano me carregaram...fazendo
aquilo que a mina comunida::de...não pudia faze...que a minha própria família...que
está qua::se toda aqui
-
Ziza você também ta aqui viu?..(no meu) coração...minha
fam
ília não poderia fazer...((emociona
-
se))...mas eles fizeram...eles me pegaram no
colo...me tiraram da morte...por isso eu tinha que vir... grita:: com vocês...Hos
ana...
vitória de Deus! (PADRE L
ÉO, 2006
).
(12:30)
Ao assumir para si a imagem de escolhido
, Padre Léo insere outros exemplos
de a
rgumento de autoridade
, visto que o sacerdote é um “autorizado” a fazer o seu discurso.
Em alguns momentos de sua pre
gação, ele intercala a sua fala
com a fala de
Jesus, argumentando que a proximidade entre eles exis
te e que o sacerdote tem consciência de
que ele é o eleito pela Divindade para passar momentos de provação física, emocional e
espiritual, justamente porque está amparado pela presença de Jesus ou amparado por
Deus,
73
sua força maior. Reboul (2004, p.
177) i
conceituar que
justifica
-
se uma afirmação
baseando
-
se no valor de seu autor”, porque “se foi ele que disse, pode
-
se acreditar.”
Ao relatar a experiência de ouvir a voz de Deus, Padre Léo diz que se sente
motivado a continuar a sua missão de evangeliza
ção e assim, consegue receber os aplausos,
comprovando sua argument
ação, através da
reação do auditório.
[
...
]
ontem eu fiz dezesseis anos de padre
--
pa Deus deixa bem claro no meu coração
... ((aplausos)) “...ago:::ra...você não se pertence mais...você
é da Bethânia...você é
da Canção Nova...você é da Igreja...sua vida tem que gasta Leo... até o fim...mais
do que você gastô na sua doença...ocê com sua doencinha de nada...cê gastô tanto
da sua vida... agora ocê tem que gasta sua vida é com a evangel
ização...é leva::
Jesus... É leva as pessoas a descobrir esse caminho essa força que impulsiona pro
alto”... ((aplausos))... e eu digo a você meu irmão::... a você minha irmã...se você
num se encontrá com Jesus...você vai encontrá essa morte de que eu f
alava...vossa
vida...está escondi::da com Cristo em Deus
expressão bonita Padre ( )?
vossa
vi::da es escondida... com Cristo em Deus...se você quer achar a verdadeira vida
ocê tem que achar Jesus... Jesus diz “EU sou a vida... o caminho e a verdade..
. eu
vim pra que todos tenha a vida e que a tenha abundamentente...o Espírito Santo é o
Senhor que a vida...se eu quero essa vida verdadeira...ô eu me aproximo de
Jesus... o eu mi encontro com Jesus...nem que sejá... a partir dessa angústia
[
...
]
(PADRE
L
ÉO, 2006
).
(18:40)
Na citação acima, a voz do sacerdote é legitimada pelo diálogo entre Deus, o
Padre e uma pessoa comum, do auditório, que se apresenta no questionamento “expressão
bonita
não é,
p
adre?”, de um terceiro ser, em meio a essa legitimação
do prestígio do Padre
em dialogar com Jesus.
Percebemos em outro momento da pregação, que o argumento de autoridade
pode instaurar o desejo de substituir o fundamento tradicional da autoridade por um
fundam
ento diferente, o que
acarretará, por conseq
u
ência
, uma mudança de autoridade.
Tringali (1988, p.
76) aborda a questão do argumento de autoridade e descreve que o orador
deve apresentar
-
se humilde durante o discurso, e que uma ligação profunda e arraigada
entre a vida e o discurso, e que
este
reflete a
vida do orador. Comprovamos, por meio do
excerto abaixo que existe uma preocupação do sacerdote em se mostrar humilde e digno de
compaixão:
Todas as outras coisas nos serão tiradas...nós vamo perdê tudo...eu que num tinha
muita coisa perdi quase tudo
ao longo desse ano...eu fico cum pena de quem tem
muito pa perdê...((risos)) tem que sofrê muito pa perdê tudo! ((gritos e aplausos)) eu
tenho dó...((aplausos))...eu tinha de gente feio...ah, agora eu tenho pa valê
mesmo é de quem num tem Jesus...
porque quem num tem Jesus num tem nada...
nada... nada... nada... é isso que São Paulo falando pra mim e pra você
hoje...aproveita essa vida...pa buscá as coisas do alto
[
...
] (PADRE LÉO, 2004)
(23:45)
74
Figura 11
Repetição
. (24:20)
Como di
ssemos
em parágrafo
anterior,
o discurso religioso é revestido de
autoridade porque nele o pregador
-
sacerdote fala em nome de Deus, portanto sua fala será
revestida de autoridade e
,
ao auditório
,
caberá crer que quem fala é, na verdade, a voz de
Deus, que autori
za o pr
egador a anunciar os preceitos d
ivinos e comprovar essa experiência
em exempl
os e fatos de sua própria vida.
No quadro acima, podemos perceber que em níveis elevados de volume, o
sacerdote assume uma qualidade de voz agressiva, que demonstra indigna
ção ao fato
questionado ‘porque quem não tem Jesus’, como se inserisse a reprovação à possibilidade de
haver alguém naquele auditório que ainda não tivesse experimentado a presença de Jesus em
sua vida. Ele eleva consideravelmente o
volume
a 76.58dB
(linha
s verdes) para inserir em
seguida o resultado do questionamento.
A
tessitura
se mantém elevada tanto quanto o
volume, legitimando o nível grave elevado, utilizando pelo orador em momentos de exaltação
marcados pela indignação.
Ele
,
então
,
repete ‘nada, nad
a, nada, nada’ para
sustenta
r
o seu
pensamento por um determinado tempo, imprimindo a imagem de ‘nada’ na mente dos
75
interlocutores. Dessa forma, ele
persuad
e o auditório
e
m relação à sua mensagem e o
auditório se vê
envolvido emocionalmente pelo orador.
É
através do seu
testemunho de vida, a
licerçado nos preceitos Divinos, que o
sacerdote persuade seu auditório, no que se refere a sua proximidade com Deus, porta
nto, ele
conseguirá a salvação.
1
“Pra que eu possa assumir o ministério que Deus deu pra mim!”
(
18:30)
2
“... mas aí a Palavra diz: “Vossa vida está escondida com Cristo em Deus!”
(16:30)
3
“Tudo que ocê tem, ocê vai perdê! E Jesus disse isso em Bethânia!”
(
22:31)
Consideramos assim, que através do discurso identificamos os atos do orador e
como explic
itam Perelman
&
Olbrechts
-
Tyteca
(1997, p.
361):
[...]
o discurso é a manifestação por excelência da pessoa, quanto porque a interação
entre orador e discurso desempenha um papel muito importante na argumentação.
Querendo ou não, utilizando ou não pessoal
mente ligações do tipo ato
-
pessoa, o
orador se arrisca a ser considerado, pelo ouvinte, vinculado ao seu discurso.
E
ssa
interação entre orador e discurso seria inclusive a característica da argumentaç
ão,
opostamente à demonstração.
Se observarmos que
,
na
pregação em análise em primeira instância o
testemunho de vida do pregador, em contrapartida, também o discurso proveniente da
Igreja Católica e seus dogmas, que nos dão a entender que o orador se constrói também a
partir desse discurso religi
oso, co
r
relacionando experiência de vida com ensinamentos
católicos. Mesmo quando o pregador reproduz palavras alheias:
Deus faz
cumprir nossos
planejamentos e E
to gosta de dizer isso
,
Padre Léo (2006),
tomará para si esse discurso,
repetindo o mesmo posicionam
ento, ainda que seja pelo grau de importância que esses outros
discursos lhes concedam. Esses são os discursos que figuram nos argumentos de autoridade.
A
o proferir seu discurso,
o pregador
inspira c
onfiança e
,
sem ela, seus
ensinamentos
não mereceria
m
cr
édito algum, pois as
ideia
s por ele explicitadas
produzem
um
efeito em seu auditório, conforme a imagem que ele mesmo construiu de si, em sua pregação.
Vimos que, ao testemunhar sua experiência dolorosa em relação ao câncer, ele consegue
persuadir seu audi
tório da
ideia
de que
seus atos, sentimentos e
ideia
s
devem
conduzir seus
ouvintes
,
a partir daquilo que ele faz e
têm
bons resultados,
a fazerem o mesmo a fim de
obterem o mesmo fim.
76
Nossa análise, a parti
r daqui, nos conduz a observar,
no
corpus
selecion
ado, os
argumentos que fundamentam o real pelo recurso ao caso particular. Esse tipo de argumento
desempenha papéis muito variados, como o
exemplo, a ilustração e o modelo
.
A primeira argumentação, o
exemplo
,
implica, segundo
Perelman &
Olbrechts
-
Tyteca
(1
997, p.
399), “certo desacordo acerca da regra particular que o exemplo é chamado a
fundamentar, mas essa argumentação supõe um acordo prévio sobre a própria possibilidade de
uma generalização a partir de casos particulares ou, pelo menos, sobre os efeitos
da inércia”.
Analisando a pregação “Buscai as coisas do alto”, encontramos inúmeros exemplos em que o
pregador busca persuadir seu auditório a fazer uma reflexão acerca das escolhas pessoais,
expostas a partir dos exemplos figurativos, os quais ele chama
de “carimbos do céu ou
carimbos da Terra”. O sacerdote
ent
ão elenca alguns exemplos cotidiano
s em que seu
auditório deverá eleger se é possível utilizar o carimbo do c
éu ou o carimbo da Terra:
[
...
]
o mundão fora?... é assim::...o mundão que vive qu
e nós vivemo...e o seu
relacionamento com as pessoas?... pode rece o carimbo...do céu?... das coisas do
alto?...a sua fala... as palavras que você fala...as piadas que você conta...as músicas
que você canta...podem receber o carimbo do céu?...ou você
nivelado...por
baixo?... as coisas de baixo?...a baixaria...a sujeira...já deixou tomá conta do seu
coração?...meu irmão...minha irmã...se você quer de fato cantá a vitória de Deus na
sua vida...é preciso clamá Hosana...nos dois sentidos que nós aprende
mos
hoje...((aplausos))
[
...
] (PADRE LÉO, 200
6
) (31:11)
Em
outro
momento, ele
,
então
,
insere um exemplo, que pode supor um
desacordo acerc
a da regra particular
, porque
, ao expô
-
lo, o sacerdote coloca
alguns ouvintes
de seu auditório em exclus
ão
, o que sign
ifica que
,
ao exemplificar, todo pregador deve estar
atento para tal situaç
ão. Vejamos o caso em que o sacerdote ainda comenta sobre
carimbos e
marcas” que as pessoas escolhem aplicar em seus corpos, em suas almas, e ele então cita
,
como exemplo, aqueles
que aplicaram tatuagens, criticando negativamente essa a
titude, como
sendo carimbos da t
erra:
[
...
]
todo cristão é chamado a ser semeador do céu...carimbador do céu...em primeiro
lugar na sua vida...o seu corpo...eu posso carimbar o meu corpo... do céu...
coisas do
alto...minha perna são coisas do alto...minhas pernas...meus braços são coisas do
alto.. eu uso... pra levá Jesus pras pessoas...pra fazê caridade...pro trabalho
honesto...digno... ou eu vou ter que por no meu corpo...igual esses menino e essas
m
enina que gosta de desenhá um monte de ... tranquera pro corpo afora...a tatuage...
eu que tatuá aqui também o carimbo de ba
ixo?... das coisas de baixo?
(PADRE LÉO, 200
6
).
(28:30)
77
Percebe
-
se que ele critica de forma pejorativa
a
queles que fizera
m tatuagens
em seus corpos, como se tivess
em escolhido os carimbos da t
erra, através do termo
“tranqueira”, que segundo a gíria popular é tudo aquilo que n
ão tem utilização, que não tem
serventia
.
O orador manifesta claramente sua intenção de apresentar os
fatos como exemplos;
mas nem sempre é isso que acontece.
Ao fazer uso desse exemplo, o sacerdote se esquiva de
contextualizar t
odos os seus ouvintes e exclui a
queles que porventura tenham feito alguma
escolha que ele considere negativa. Assim, el
e também
quer persuadir, por meio de exemplos,
seu auditório
a se arrepender de algumas escolhas e voltar
a ser o carimbador “do céu”, aquele
que cumpre o
s preceitos de Jesus.
Sucede que seu discurso não pode ser refutado, visto que
,
na pregação, não interlocuçã
o e
,
assim,
o auditório
restringe
-
se
a silenciar
e fazer suas
reflexões em outro momento que não àquele concomitante à pregação.
Assim, o emprego da argumentação pelo exemplo, conquanto abertamente
proclamado, tende muitas vezes a fazer
-
nos passar deste pa
ra uma conclusão igualmente
particular, sem que seja anunciada nenhuma regra.
Outro argumento que fundamenta o real pelo recurso ao caso particular é a
ilustração
. Esta tem a função de reforçar a adesão a uma regra conhecida e aceita, fornecendo
casos par
ticulares que esclarecem o enunciado geral, mostrando o interesse deste através da
variedade das aplicações possíveis, aumentando
-
lhe a presença na consciência.
Na intenção de
impressionar vivamente a imaginação de seu auditóri
o, o sacerdote relata
os mome
ntos mais
intensos de sofrimento e dor, ilustrando inúmeras passagens em que ele depende
r
de outras
pessoas para suprir suas mais particulares necessidades, ao mesmo tempo em que esse
é o
fator decisivo para a supera
ção de seus problemas de saúde.
[
...
]
a
dor faz a gente ficá irracional... quando vem a dor...remédio nenhum consegue
tirá...quantas vezes... teve um dia eis puseram do meu lado no hospital uma
máquina... ligaro na minha veia...uma maquininha... e aquela máquina era ligada
num ...saco plástico
cheio de morfina...intão me falaro cada veiz que doê você
aperta...aí o médico depois vei e aquela máquina é de computadô...não tem
jeito de enganá eles... eu tinha apertado... cento e vinte e nove vezes... ((risos)) num
passava a dor...morfina num p
assava a dor...nessa hora é o suspiro da alma que
diz...Jesus... Jesus... Jesus...cê num consegue nem terminá Jesus te
m piedade de
mim...((aplausos)) (PADRE L
ÉO, 2006
). (20:45)
Perelman
&
Olbrechts
-
Tyteca
(1997, p.
410) explicam que a ilustração visa
aume
ntar a presença, concretizando uma regra abstrata por meio de um caso particular, sendo
comum a tendência de ver
nela
uma imagem. Assim, ao ouvirmos a pregação,
especificamente nesse trecho citado acima, podemos imaginar a cena que o sacerdote relata,
78
de a
cordo com nossas experiências, fazendo com que
,
a partir de seu relato, a imagem seja
formada e assim, reforcemos a presença do orador, em meio à sua própria pregação.
Essa ilustração é um caso particular, corrobora a regra, que até pode, servir
para enun
ciar. A verdade é que a ilustração é muitas vezes escolhida pela repercussão afetiva
que se pode ter e fica muito claro que
,
no momento em que Padre Léo relata
essa ilustração,
tem mesmo a intenção de despertar em seu auditório
a paixão da compaixão, haja
visto o
momento de
sofrimento explicitado por ele
neste momento da pregação.
Assim, com muita
freq
u
ência no discurso de Padre Léo, a ilustração tem o objetivo de facilitar a compreensão da
regra, por meio de um caso de aplicação indiscutível.
O último caso
de argumento que fundamenta o real
,
pelo recurso ao caso
particular é o
modelo
.
Quando se trata do modo de agir, um comportamento particular pode
não servir para fundamentar ou ilustrar uma regra geral, como para estimular a uma ação
inspirada. Aqui, c
hamaremos de modelo pessoas ou grupos que possuem prestígio, que têm
seus atos valorizad
os, reconhecidos previamente. Não se imita al
guém
a
que
m
não se admira
ou não se sabe de seus resul
tados. Assim, se desejo de
imitar alguém ou um ato, é porque
se po
ssui, portanto, como prestígio, a prova fornecida por essa pessoa ou ato. Na pregação,
vemos que o seu próprio título suscita modelos de conduta, os quais serão relatados durante o
discurso do
orador
.
Nele
, o
sacerdote
também insere modelos de conduta, de
testemunho de
vida, de modelos que devem ou não ser seguidos para que o auditório experimente a salvação
através de Jesus Cristo.
O modelo indica a conduta a seguir ou a ser adotada
e o fato de seguir um
modelo reconhecido garante o valor da conduta; port
anto, o
orador
, aqui representado como o
modelo a ser seguido, valoriza
-
se para persuadir seu auditório a segui
-
lo também.
O modelo deve
vigiar sua conduta, pois o menor de seus deslizes justificará
milhares de outros, com muita
freq
u
ência
até por meio de
um argumento. Esse efeito de
contraste é obtido graças ao argumento do antimodelo ou porque
se avalia o ato por suas
consequ
ências.
Perelman &
Olbrechts
-
Tyteca
(1997, p.
417) vão explicar que por vezes
“ficaremos, no momento de uma deliberação, estimulad
os a escolher um comportamento
porque é oposto ao do antimodelo; a repulsa chegará às vezes a provocar a mudança de uma
atitude anteriormente adotada, pela única
razão
de
que é igualmente a do antimodelo.”
Ao propor ao auditório um modelo ou um antimodelo,
Padre Léo subentende
que ele próprio também se esforça para aproximar
-
se ou distinguir
-
se deles. Isso possibilita
rép
licas cômicas, o que ele insere
em sua pregação, quando quer persuadir seu auditório a
79
escolher entre o modelo de Jesus Cristo ou o modelo
do Demônio,
o qual ele chama de
“Encardido”.
[
...
]
é isso que São Paulo falando pra mim e pra você hoje...aproveita essa
vida...pa buscá as coisas do alto...que coisas são essas?...são as coisa da
terra...parece engraçado mas é verdade...são aquelas co
isa que você já tem...o dia
que nós... nascemos nós ganhamos dois carimbos...um escrito assim...céu...entre
parentis...coisas do alto...no outro tá escrito assim inferno...entre parentis... coisas da
terra... coisas terrenais...esses dois carimbo que vo
cê tem eu tenho... chega uma hora
na vida que você será chamado a carimbá... tudo que você tem...todas as pessoas
com as quais você se relaciona...que carimbo cê vai botá ali? não...num é que a partir
dali cê vai escolhe:: o carimbo que qué colocá...que ca
rimbo você pode colocar ali?..
o dinheiro por exemplo...será que cê pode pegá o dinheiro que ganha... e até o
jeito que ganha esse dinheiro... e colocá o carimbo... do céu?... você precisa...
transformá o seu dinheiro de uma forma tal...que ele possa re
cebê o carimbo do
-
céu...porque senão ele ti leva pa o outro carimbo lá.... eu num vô falá muito do outro
carimbo não... ((risos)) ((aplausos)) dá ibope po Encardido não, né?... ele é danado
ele qué que a gente fala... aqui prele, ó!! ((gesticula)) ((aplaus
os e risos)) ele é
danado...ele ...ele proveita que falano ãh?... ele sempre um jeitim de se
infiltrá ali né?...ah danado...num veim não...cê pode colocá o carimbo do céu... ou se
o dinheiro é sujo...é desonesto...o uso que faiz do seu dinheiro
...pode recebê o
carimbo do céu...das coisas do alto...ou... tem que aquele outro carimbo...só você
pode fazer essa escolha...só você pode carimbá
-
lo...os seus relacionamentos...tá
namorando?...comé que o seu namoro?... de carimba... do céu...em t
odos os
momentos que is dois tão juntos...inclusive quando estão sozinhos... sem
aparentemente ninguém vendo...dá de colocá do céu?...ou vai o outro carimbo no
seu namoro?... por isso que as pessoas chega pra gente e fala padre minha vida é um
inferno
...mas olha os carimbos que ela distri
buiu ao longo da vida...o namo
ro
é um
inferno...o dinheiro é um inferno...tudo o que tem... se transforma em semente de
inferno...cristão é chamado a ser semeador do céu...carimbador do
u...
! (PADRE
LÉO, 200
6
).
(24:3
0)
Percebe
-
se então, que o argumento pelo modelo ou pelo antimodelo foi
aplicado espontaneamente ao discurso, onde Padre Léo afirma sua crença em certas
coisas
do alto” e não as afirma somente com sua autoridade, mas através de comportamentos, de seu
pre
st
ígio, incentivando
o auditório
a se comportar
como ele; e se, inversamente agirem,
afastar
-
se
-
ão de Deus.
Esses diversos modelos,
antimodelos,
ilustrações e exemplos
mostram o
quanto
a argumentação
,
mesmo limitada à exaltação da vida de um único ser, o s
acerdote, é
suscetível de utilização e adaptação variadas, conf
orme este ou aquele aspecto do ser perfeito,
que é
posto em relevo e proposto à imitação dos homens.
A função
do
testemunho de vida do
sacerdote nesta pregação é essencial: é ele que permite ao
modelo servir de guia em
todas as
circunstâncias do discurso.
80
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, i
nteressou
-
nos abordar o r
elato próprio daquele que desejou
persuadir pelo argumento do exemplo e modelo, apresentando o
ethos
de sofredor, porém
escolhido de Deus para an
unciar o tema da pregação que se tornou objeto de nossa pesquisa
:
“Buscai as coisas do alto”.
Durante todo o transcorrer desta pesquisa, fomos surpreendidos pela riqueza de
asp
ectos passíveis de análise lingu
ística oferecidos pe
lo
corpus
selecionado. Ao elegermos o
foco de nosso trabalho, fundamentando
-
o
à luz das teorias da Retórica e da Prosódia
,
pudemos desvendar alguns aspectos da construção desse discurso.
Buscamos compreender como o orador construiu seu discurso de forma
aparentemente espontânea a fim de persuadir seu auditório. O que se constatou, entretanto, é
que a pregação foi desenvolvida de maneira fiel aos aspectos definidos por Aristóteles quanto
ao que se refere aos elementos retóricos e argumentativos.
Além diss
o, p
udemos comprovar
que os elementos prosódicos corroboram essa argumentação fazendo com que o orador
legitime ainda mais seu discurso.
Ao
longo da pregação
,
o orador
demonstr
ou
sabe
r
que o ato de fazer
-
crer em
seu auditório é suscitado pelas paixões e,
a partir destas, determina um caráter e um modo de
ser que é permeado pelo discurso de uma instituição.
Nesse sentido, v
erificamos o quanto o
orador
se
preocupou
em impor sua autoridade como sacerdote, aquele que profere o discurso
que liga o homem a Deus
, contextualizando
-
o com metáforas que o aproximariam de seu
auditório sem o afastar do divino.
Se
,
por um lado,
a voz de Deus dá a ordem para o sacerdote realizar sua missão
de evangelizar,
por outro,
a Prosódia confere a ele recursos para persuadir seu a
uditório,
argumentando.
Nessa linha de raciocínio, c
omprovamos o quanto o orador fa
z uso dos
elementos prosódicos, principalmente o volume, a tessitura e a pausa, para alcançar
tal
persuasão.
Vimos que
a Prosódia suscita a força persuasiva daquele que conh
ece seu
auditório, prepara seu discurso e o faz de maneira tal que pudemos identificar os
procedimentos que o constituem.
81
Observando
os argumentos que compõem a argumentação e
os elementos
prosódicos a eles vinculados,
comprovamos que a pregação foi adeq
uada para a persuasão,
instaurando no auditório a possibilidade de um compromisso ditado pelo orador. O ponto de
aproximação e convergência desse discurso é a exemplificação de uma
ideia
, ou modelo que
se diz correto e que pretende nortear a existência daq
uele que assumir para si esse discurso.
Sendo assim, pu
demos
verificar
que a
aceitação dos conselhos que o orador
oferece ao auditório se ancora na caminhada conjunta de um sistema de técnicas detalhadas
,
as quais identificamos como modalidades argument
ativo
-
persuasivas e que são constitutivas
deste discurso, corroborando ainda mais a persuasão por meio dos elementos prosódicos
analisados.
82
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: a retórica como crítica literária. São Paulo: Duas
cidades, 1988.
85
ANEXOS
86
ANEXO A
Quadro de normas para transcrição
Normas
para Transcrição
OCORRÊNCIAS
SINAIS
EXEMPLIFICAÇÃO*
Incompreensão de palavras
ou segmentos
( )
do nível de renda...( )
nível de renda nominal...
Hipótese do que se ouviu
(hipótese)
(estou) meio preocupado
(com o gravador)
Truncamento (havendo
homog
rafia, usa
-
se acento
indicativo da tônica e/ou
timbre)
/
e comé/ e reinicia
Entoação enfática
maiúscula
porque as pessoas reTÊM
moeda
Prolongamento de vogal e
consoante (como s, r)
:: podendo aumentar para
:::: ou mais
ao emprestarem os... éh:::
...o din
heiro
Silabação
-
por motivo tran
-
sa
-
ção
Interrogação
?
eo Banco... Central... certo?
Qualquer pausa
...
são três motivos... ou três
razões... que fazem com que
se retenha moeda... existe
uma... retenção
Comentários descritivos do
transcritor
((minúscu
las))
((tossiu))
Comentários que quebram a
seq
u
ência temática da
exposição; desvio temático
--
--
... a demanda de moeda
--
vamos dar essa notação
--
demanda de moeda por
motivo
Superposição,
simultaneidade de vozes
{ ligando as linhas
A. na { casa da s
ua irmã
B.
sexta
-
feira?
A. fizeram { lá...
B.
cozinharam lá?
Indicação de que a fala foi
tomada ou interrompida em
determinado ponto. Não no
seu início, por exemplo.
(...)
(...) nós vimos que existem...
Citações literais ou leitura
s
" "
Pedro Lima... ah escreve na
87
de textos, durante a
gravação
ocasião... "O cinema falado
em língua estrangeira não
precisa de nenhuma
baRREIra entre nós"...
* Exemplos retirados dos inquéritos NURC/SP No. 338 EF e 331 D
2
.
Observações:
1.
Iniciai
s maiúsculas: só para nomes próprios ou para siglas (USP etc.)
2.
Fáticos:
ah, éh, eh, ahn, ehn, uhn, tá
(não por
está: tá?
você
está
brava?)
3.
Nomes de obras ou nomes comuns estrangeiros são grifados.
4.
Números: por extenso.
5.
Não se indica o ponto de
exclamação (frase exclamativa).
6.
Não se anota o
cadenciamento da frase.
7.
Podem
-
se combinar sinais. Por exemplo: oh:::... (
alongamento
e
pausa
).
8.
Não se utilizam sinais de
pausa
, típicos da língua escrita, como ponto
-
e
-
vírgula, ponto
final, dois ponto
s, vírgula. As reticências marcam qualquer tipo de
pausa
, conforme referido
na
Introdução
.
88
ANEXO B
Transcrição da passagem bíblica lida por outro sacerdote e que precede a pregação
“Buscai as coisas do alto”
Colossenses, 3, 3
1.
Se,
portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de
Deus.
2.
Afeiçoai
-
vos às coisas lá de cima, e não às da terra.
3.
Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.
4.
Qu
ando Cristo, vossa vida, aparecer, então também vós aparecereis com ele na glória.
5.
Mortificai, pois, os vossos membros no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as paixões, os
maus desejos, a cobiça, que é uma idolatria.
6.
Dessas coisas pr
ovém a ira de Deus sobre os descrentes.
7.
Outrora também vós assim vivíeis, mergulhados como estáveis nesses vícios.
8.
Agora, porém, deixai de lado todas estas coisas: ira, animosidade, maledicência, maldade, palavras torpes
da vossa boca,
9.
ne
m vos enganeis uns aos outros. Vós vos despistes do homem velho com os seus vícios,
10.
e vos revestistes do novo, que se vai restaurando constantemente à imagem daquele que o criou, até
atingir o perfeito conhecimento.
11.
Aí não haverá mais grego n
em judeu, nem bárbaro nem cita, nem escravo nem livre, mas somente Cristo,
que será tudo em todos.
12.
Portanto, como eleitos de Deus, santos e queridos, revesti
-
vos de entranhada misericórdia, de bondade,
humildade, doçura, paciência.
13.
Suportai
-
vos uns aos outros e perdoai
-
vos mutuamente, toda vez que tiverdes queixa contra outrem.
Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai também vós.
14.
Mas, acima de tudo, revesti
-
vos da caridade, que é o vínculo da perfeição.
15.
Triunfe em vossos coraç
ões a paz de Cristo, para a qual fostes chamados a fim de formar um único corpo.
E sede agradecidos.
89
ANEXO C
Transcrição da pregação “Buscai as coisas do alto”
TRANSCRIÇÃO FONÉTICA SEGUNDO PROJETO NURC
PL: (...) POde aplaudir a palavra....
((aplausos)) se portan::to...ressuscitaste com
Cristo...buscai...as coisas...lá do alto..se nós queremos
--
e nós queremos
--
celebrar a vitória
de Deus em nossa vida...nós precisamos...trilhar por esse Único caminho..buscai...as
coisas..do alto...qué ser
feliz?...buscai...as coisas..do alto...essa é a GRANde pala::vra que o
Senhor qué trazê pra nós...e que pois no meu coração ...quando eu fiquei angustiado...num dos
determinados desses muitos dias...dessa enfermidade que vai prum ano...e eu pensava meu
Deus...essa doença me tirou tudo...eu não consigo mais::...andá sozinho...
--
tava numa época (
) com/agora que eu não sozinho
--
eu não enxergo direito...(do) olho direito eu sou cego
--
estou
cego momentaneamente
--
do olho esquerdo eu enxergo uns quarenta cin
q
u
enta por cento...eu
não prego mais...eu não estou mais na minha comunidade...e vem no meu coração..“ai de mim
se não evangelizar”...(disse)meu Deus mas...AI de mim...?((aplausos e gritos))se dependesse
da minha vonta::de...eu estava em todos os eventos q
ue a minha agenda...previa presse/ ano e
que o padre Vicente...está cumprindo...com mae/maestria...e com a força do Espírito
Santo...mas não dePENde de mim...e assim vei no meu coração... “mas tem coisa que podi
fazê..talvez o encardido tenha lhe tirado
as pe::rnas...tenha lhe tirado a disposição fí::sica...e
até a autorização de ir e vir”
--
(porque) eu dependo dos médicos...
--
“mas Deus lhe deu o dom
de escreVÊ::...esCREva...”((aplausos e gritos)) ((passa a mão pelo rosto como se estivesse
limpando uma l
ágrima))meu Deus...eu não consigo lê::...eu tenho que colocar a bíblia aqui
pertinho e um óculos pa perto...com MUIta dificuldade pra ler três quatro capítulo por
dia...comé/ que eu escrevê?...“esCREva”...e quando eu...sentei no...meu computador...pa
es
creve...eu não sabia que que eu ia escreve..eu percebi...que como é um::: laptop...a te::la é
iluminada...e que eu pudia enxergá ali sem Óculos...era só eu coloca as letras maiÓres...então
veio forte no meu coração...“você num tinha encontrado ainda o cami
nho porque ta buscando
as coisas de baixo...busque as coisas do alto”... ((aplausos e gritos))foi assim que nasceu esse
livro...e quando eu entreguei pa::ara...Ia::ra...
--
minha querida Iara da Editora Canção Nova
--
pa púbica
-
lo...eu falei...nós vamos lançá
-
lo em Hosana...é mais uma vitória de Deus...louvado
seja Deus ((aplausos e gritos))...Deus é fiel...DEUS FAZ CUMPRIR OS NOSSOS
PLANEJAMENTOS:
--
( ) gosta de dizê isso
--
...quando nós temos a meta...o propósito voltado
pra Deus...E::lê um jeito pra que a g
ente possa cumpri
-
lo...você...até na última ho::ra
parece que num consegui...meu Deus do céu será possível que eu num consegui está
lá?...eu preciso ir cantá a vitória de Deus...mA::is do que nunca esse ano eu preCIso ir...e por
que eu precisava vir?
...primeiro pra agradecer a Deus...passá TUdo...que vocÊs que ti/
conviveram com o câncer sabe...o câncer tira tudo da gente...tira nossa dignida::de...você
perde Tudo...você é um trapo em cima duma cama...SU::
-
jo...
--
e eu me sujei muitas ve::zes
esse a
no...de xiXI:: e de cocô...
--
passei vergonha quando as minhas irmãs que hoje também
estão aqui me limpavam...mas passei mais vergonha ainda... ((aplausos))...quando
enfermei::ras...moças desconheci::das...ia lá trocá minha fralda...você perde Tudo...você p
erde
o auto domínio...mas obra...a ...es::sa ninGUÉM tira.. NEM o encardido TIra... ((aplausos e
90
gritos))...quem tem fé...per::de...TUdo...mas não perdeu nada...porque a fé::... fundamento da
esperRANça...certeza ( ) daquilo que não se vê...ela nos proJE
ta...e mais do que is::so..quando
a gente está MAIS cansado...MAIS dolorido...quando está MAIS difícil...
--
e eu passei
momentos difíceis...Gisela mesmo me contou...Dr. Roque chegou em casa um dia
choran::do...porque acha::va...Padre Leo não sai dessa
--
...
Padre Leo num sai mesmo mas
Deus me tirou...cês vão te que mi ag
u
enta mui::to ainda((aplausos e gritos))...porque eu tive a
graça do dom da fé...então eu ti::nha que vir nesse Hosana...mas eu tinha que vir aqui
também...pra. testemunhar..ua/ gratidão profu
n::da...a três pessoas::três pesso::as...qui::...se
ocupavam um lugar de destaque no meu coração::...esse ano intão...(evidencia::ram
-
se)...denda/ minha alma...Padre Jô::nas... (Neto)...e Luzia... ((aplausos e gritos))...eu Tinha
que vir agradecê
-
los ((
aplausos e gritos))......porque::...das mui::tas gra::ças que eu tive...
--
e eu
tive mui::tas graças com o câncer...até pensei em escrever um livro “As graças que o câncer
me deu”...mas achei que muita gente num ia entendê...achando que eu quisesse fazê
gra
::ça...mas não e::ra de engraçado...era che::io dessa graça...
--
eu tive a graça de ficá doente
na casa deles...e desde aquele primei::ro instante...eles me pegaram no colo...eao lon::go desse
ano me carregaram...fazendo aquilo que a mina comunida::de...não
pudia faze...que a minha
própria faMÍlia...que está qua::se toda aqui
Ziza você também ta aqui viu?..(no meu)
coração...minha famí::lia não podeRIA fazer...((emociona
-
se))...mas eles fizeram...eles me
pegaram no CO::lo...me tiraram da mor::te...por isso e
u tinha que vir... grita:: com
vocês...Hosana...((fecha os olhos)) vitó::ria de Deus ((aplausos e gritos))...na vi::da...na
vi::da...só:: é:: derrotado...quem::...não tem::... verdadeiros amigos...e quem não tem Jesus...e
quando nós temos aMIgos...que são
aMIgos
-
de
-
Je
-
sus...então a nossa vida...ela ga::nha um
novo sentido...e por mais peSA::do que a gente esteja...pelo peso da dor::e da doença...a gente
ainda asPI::ra buscar:: essas coisas do alto...o que eu estou falando pra vocês são coisas do
alto...co
isas que somente quem experencio:::u... aqui::lo que vem do al::to...porque a palavra
diz com muita crareza pra nós::...“vocês estão MORtos”...eu estiver MORto...Fi::sicamente
falando... morto converse com Dr. Roque...CLI::nicamente falando...estava à beir
a da
morte...mas a palavra diz:: “vossa vida está escondi::da com CRIS::sto em Deus”... e meus
irmãos essa mor::te...não é co/coma/ a morte de dona Josefa...mãe do Padre Jo::nas...a morte
que gera vi::da...a morte do meu PA::i...tenho absoluta certeza
--
e o Padre Jonas procramou
isso no di::a da sua missa de corpo presente está na glória de Deus
essa mor::te de que fala o
e/ não é o Evangelho é um dos textos mais antigos do Novo Testamento... a Carta aos
(Colosenses)... essa morte é morte de mor::te...d
a pessoa que vai perdendo TUdo perdendo a
esperança perdendo a fé...que não a::cha...ua/ luz que ilumi::ne a sua noi::te escura...com de
forma tão fabulosa nos fala::va Padre Jonas nessa manhã...obrigado padre por ter partilhado
conosco a sua noite escura.
..cada um de nós já tivemos muitas dessas noites...muitas
ve::zes..não soube::mos saborear::: essa noite escura...eu disse logo no início da minha
enfermidade...pra todos aqueles...que se aproximaram de mim...”eu não quero perder um
minuto dessa doença...e
u quero aprender TU::do que Deus tem pra mi ensina...porque que vei
essa doença eu num sei...mas pra quê eu sei...é pa fortalecê a minha fé:::é pra eu seja um
sacerdote mais san::to (por)que eu não estava sendo((aplausos))...é pra que eu possa assumir o
Mi
nisté::rio que Deus deu para mim::...com ua/ força muito maior...é pra eu tivesse absoluta
certeza
--
ontem eu fiz dezesseis anos de padre
--
pa Deus deixa bem claro no meu coração ...
((aplausos)) “...ago:::ra...você não se pertence mais...você é da Bethâ
nia...você é da Canção
Nova...você é da Igreja...sua vida tem que gasta Leo... aTÉ o fim...ma::is do que você
gastô na sua doença...se com ua/ doencinha de na::da...cê gastô tan::to da sua vida... agora
tem que gasta sua vida é com a evangelização
...é leva:: Jesus... é leva as pessoas a descobrir
esse caminho essa força que impulsio:::na pro alto”... ((aplausos))... e eu digo a você meu
irmão::... a você minha irmã...se você num se encontrá com Jesus...você vai encontrá essa
morte de que falava
( )...vossa vida...está escon::di::da com Cristo em Deus
expressão bonita
91
Pdre ( )?
vossa vi::da está escon::di::da::... com Cristo em Deus...se você quer achar a
verdadeira vida tem que achar JeSUS... Jesus diz “EU sou a vida... o caminho e a
verda
::de... eu vim pra que todos tenha a vida e que a tenha a::bundamentente...o Espírito
Santo é o Senhor que dá a vi::da...se eu quero essa vida verdadeira...ô eu me aproxi:::mo de
Jesus... ou eu mi encon::tro com Jesus...nem que se::já... a partir dessa ang
ús::tia...que tantas
vezes também tomou conta do meu coração...
--
a dor faz a gente ficá irracional... quando vem
a dor::...remédio nenhum consegue tirá...quantas vezes... teve um dia eis puseram do meu lado
no hospital uma máquina... ligaro na minha veia.
..ua/ maquininha... e aquela máquina era
ligada um ...saco plástico cheio de morfi::na...intão me falaro cada veiz que doe você
aperta...aí:: o médico depois vei e aquela máquina é de computado...(não) tem jeito de
engana eles... eu tinha apertado...
cento e vinte e nove vezes... ((risos)) num passava a
do::::r...morFI:::na num passava a do:::r...nessa ho::ra é o suspiro da alma que diz...Jesus...
Jesus... Jesus...cê num consegue nem terminá Jesus tem piedade de mim...((aplausos)) Jesus
((aplausos)) J
esus...ah meus irmãos... eu tenho tanto de quem num tem fé... eu tenho
TANto de quem num encontrô Jesus ainda...E::sse é doente...E::sse é pobre...E::sse é o
mais miseRÁvel dos seres humanos... porque num tem na:::da...TUdo o que a gente tem a
gente
vai perdê... TUdo... tudo que tem vai perdê... e Jesus falô isso em
Betha:::nia...quando (Marta) vei toda apavorada... falá pra Ele que mandasse Maria ir
trabalhá:::...“o senhor não se importa que a minha irmã fique sentada escutando
conversa...do
senhor...enquanto eu aqui com tanto serVI::ço?”...Jesus olhô pra ela...bem
dentro dos olho... Ele pensô ota/ coisa ma/ Ele falô... “Ma::rta...Ma::rta... ((risos)).. Ele pensô
anta ((risos e aplausos))... Ma:::rta...Ma:::rta...tu ti inquientas por muita
coi::sa...tu ti
preocupas à to::a...Maria escolheu a melhor parte..aque::la que não lhe será tirada...se aquela...
e se o pronome... está no singular::... é ela...então é a única coisa que não nos será tirada...
TOdas as outras coi::sas nos serão tirad
as...nós vamo perdê TUdo...eu que num tinha muita
coisa perdi quase tudo ao longo desse a::no...eu eu fico cum pena de quem tem muito pa
perdê...((risos)) tem que sofrê muito pa perdê tudo ((gritos e aplausos)) eu tenho
dó...((aplausos))...eu já tinha d
ó de gente feio...a a agora eu tenho pa valê mesmo é de
quem num tem Jesus...porque quem num tem Jesus num tem NA::da... NA::da... NA::da...
NA::da... é isso que São Paulo falando pra mim e pra você ho::je...aprovei::ta essa vida...pa
buscá as coisas
do alto...que coisas são essas?...são as coisa da terra...parece engraçado mas é
verda::de...são aquelas coisa que você já tem...o dia que nós::... nascemos...nós ganhamos dois
carim::bos...um escrito assim...céu...entre parentis...coisas do al::to...n
o outro escrito
assim inferno...entre parentis... coisas da terra... coisas terrenais...esses dois carimbo que você
tem eu tenho... chega uma hora na vida que você será chamado a carimba... TUdo que você
tem...TOdas as pessoas com as quais você se relac
iona...que carimbo vai botá ali?
NÃo...num é que a partir dali vai es::colhe:: o carimbo que qué colocá...que carimbo você
PO::de colocar ali?.. o dinhei::ro por exem::plo...será que pode pegá o dinheiro que
ganha... e até o jeito que ganha ess
e dinheiro... e colocá o carimbo... do céu?... ( ) você
precisa... transformá o seu dinheiro de uma forma tal...que ele possa recebê o carimbo do
-
céu...porque senão ele ti leva pa o outro carimbo lá.... eu num vô falá muito do outro carimbo
não... ((risos)
) ((aplausos)) ibope encardido não né?... ele é danado ele qué que a gente
fala... aqui prele/ ó ((gesticula)) ((aplausos e risos)) ele é dana::do...ele ...ele proveita que cê tá
falan{} ãh?... ele sempre um jeitim de se infiltrá ali né?...ah::dan
ado...num veim não...cê
pode colocá o carimbo do céu... ou se o dinheiro é sujo...é desonesto...o uso que cê faiz do seu
dinheiro...pode recebê o carimbo do céu...das coi::sas do al::to...ou... tem que aquele
ou::tro carimbo...só voCÊ:: pode fazer essa
escolha...só voCÊ:: pode carimbá
-
lo...os seus
relacionamen::tos...tá namorando?...comé/ que o seu namoro?... de carimba... do
céu...em todos os momentos que cês dois tão juntos...inclusive quando estão sozinhos... sem
a::parentemente ninguém vendo...
de colocá do céu?...ou vai o outro carimbo no seu
92
namoro?... por i::sso que as pessoas chega pra gente e fala padre minha vida é um
inferno...mas olha os carimbos que ela distribuiu ao longo da vida...o namo::ro é um
inferno...o dinhei::ro é um infer
no...TUdo o que tem:::... se transfor::ma em semente de
inFER::no...cristão
-
é
-
chamado
-
a
-
ser
-
semeador
-
do
-
céu...CA
-
RIM
-
BA
-
DOR do cé::u...em
primeiro lugar na sua vida...o seu cor::po...eu posso carimbar o meu corpo... do céu...coisas do
alto...minha perna
o coisas do alto...minhas pernas...meus braços são coisas do alto.. eu
U::so... pra leva Jesus pras pesso::as...pra fazê carida::de...pro trabalho hones::to...di::gno... ou
eu vou ter que por no meu corpo...igual esses menino e essas menina que gosta de de
senhá um
monte de ... tranquera pro corpo afo::ra...a tatuage... eu vô tê que tatuá aqui também o carimbo
de baixo?... das co::ias de baixo?... a minha sexualida::de...po::de recebê o carimbo do ...
céu?... porque eu procuro vivê
-
la conforme meu estado
de vi::da.... na pure::za...como...
espo::so como espo::sa como pai... como mãe de família como sacerdo::te como religioso..
com consagrado...como celibatário como jo::vem... eu estou ensinan::do... as crian::ças...meus
fi::hos... meus ne::tos meus sobri::
nhos...a ter um corpo carimba::do com as coisas do
alto?...se não tenho...meu irmão... se não tenho...minha irmã...eu não achei a minha vi::da...
ela continua escondida com Cris::to...e essa mor::te que virá... é çmor::te certa...o que eu
fa::ço com o meu
corpo...o Uso do meu corpo...os meus relacionamen::tos...as minhas
amiza::des...será que são amizades verdadei::ras...pu::ras?... ou são amizades interesseiras?...
que eu uso as pessoas?...o mundo é assim::... ninguém gosta da gente não:::...as pessoas
gostam daquilo que pó::::de fazer pra por elas....as pessoas sempre olham a gente sempre
com interesse...o mundão fo::ra?... é assim::...o mundão que vive que nós vivemo...e o
seu relacionamento com as pessoas?... pode recebê o carimbo...do céu?..
. das co::isas do
alto?...a sua fa::la... as pala::vras que você fala...as pia::das que você con::ta...as mú::sicas que
você canta...podem receber o carimbo do céu?...ou você nivela::do...por baixo?... as
coisas de baixo?...a baixari::a...a sujei::ra
...já deixou tomá conta do seu coração?...meu
irmão...minha irmã...se você quer de fato cantá a vitória de Deus na sua vida...é preciso clamá
Hosana...nos dois sentidos que nós aprendemos hoje...((aplausos))...como esse suspiro da
AL::ma...como esse pedido
de aJUda...ma:::s é preciso que cada um aqui tome uma
decisão...para que o ano que vem a gente esteja aqui de no::vo...celebrando as vitórias de
Deus...quem sa::be... se no ano que vem nos for feita essa pergunta...mudou algum carimbo na
sua vida?... se m
udou UM:::... vali/te/ valeu a pena... mas você pode mudar mais com a
força do Espírito Santo... e Deus qué fazê essa mudança...Deus qué operá:: essa mudança em
seu coração em sua vida... porque Deus não crio::u vo::cê pras co::isas de BAI::xo...Deus
co
locou em você o carimbo do batismo ... que é um carimbo diz a Igre::ja...uma mar::ca...é
carimbo... que ninguém tira...nem quem vive lá no mundo de baixo...das co::isas de
baixo...Deus colocou um carimbo em você:::... do cé:::u... então compor::te
-
se como
alguém
do cé::u... compor::te
-
se como cidadão do céu...comporte
-
se como alguém que... é feito para
as coisa do alto e não as coisas estraga::das do pecado... rompa com o pecado meu irmão...eu
não sei que pecado que ví::cio cê vivendo...mas será que n
um teve força ainda pa rompe
esse vício?...será que buscou rompê?... será que buscou de fa:::to...o sacramento da
reconciliação...eu vou fazê uma BOa confissão...eu vou rasgá a minha al::ma...“derramar a
minha alma” diz o salmis::ta... e Ana... no li
vro de Samuel capítulo 2... derra/ capítulo 1
“derramar a minha alma na presença do Altíssimo”... derra::me a sua alma hoje na presença
de Deus...na hora da Eucaristia ...hoje à tar::de...é Jesus que está aqui::... a sua vida ta
escondida com E::le...quant
as vezes vo falou::...e nós já ouvimos falá.... “que vida é essa
que levando?”... se você num sabe que vida é essa é porque a sua vida ain::da está
escondida... com Cristo em Deus...e você vai precisá buscá
-
la...e vai encontrá:::la na medida
em que
busca::::r as coisas do alto... é um processo... de mor::te e ressurreição...por isso Paulo
começa esse texto com ua/ condicional:::...“Si::: ressuscitaste com Cristo...buscai as coisas do
alto...Afeiçoai
-
vos”
--
olha que palavra bonita minero gosta dessa p
alavra...“nossa que feição
93
mais bo::a”...não fala?...“tá com a feição BO::a”....chega no velório olha fala “boni::ta a
feição dele né?... parece que até rin::do”...((ri))... tá morto... afeiçoar é ficar com a mesma
feição...é ir ficando parecido...cê
vai olhá e vai que eis são tudo meio parecido... (o) jeito
de falá... olha nois de Bethânia...basta cê conversá cinco minuto com um consagrado que ce
descobre que ele é de Bethânia... num precisa eli falá...mas porque os assuntos são
diferentes...é aqu
ilo que... é a nossa vi::da...olha o pessoal da Canção Nova...como é que eles
vão ficando parecidos...cê conhece um...parece que conhece to::dos...parece um bando de
japneis... ((risos)) ( )?...viu um viu todos... tirô retrato de um pode
economizá...((r
isos))...num interessa home muié pode tudo igual na mesma foto...ingana
Fácil...eis têm a feição pareci::da... e nós?... você já tem a feição...ma::is carimbada pro céu?...
ou pras co::isas de baixo?... e você vai precisá responDÊssa pergunta...aonde ma
is em sua
vida você precisa colocá o carimbo do... céu?... das coisas do alto?... que situação da sua vida
...pára agora e pense comigo...pode até fechar os olhos um pouqui::m...cê que em ca::as...
aqui...nesse espaço sagra::do...( ) que área da minha v
ida eu preci::so... botá o carim::bo...do
céu?...i::sso.. faiz um momentim de silêncio..olha que bonito... nem parece que são milhares
de pessoas obrigado senhor........... e peça (assim) Espírito Santo... vem e socorra a minha
fraqueza....
-
me a graça d
e carimbá a minha vida inTEIra... com as coisas do alto... eu
cansei...dessas coisas da terra...eu cansei do pecado...vem e socorra minha fraqueza...Espírito
Santo tu que és o espicialis::ta...envie ( ) auxílio daqueles que são fracos...eu
-
sou
-
fraco... eu
sou necessita::do da sua graça... eu preci::so da sua graça... volte seu coração pro Senhor...pa
-
sse... um filmizinho da sua vida...com o carimbo na mão...carRIMbo do céu...das COIsas do
alto...aconteça o que acontecer eu vou carimbá::::... ho::je eu estou
carimbando... se até hoje
eu não vivi como devia minha sexualidade... hoje eu estou carimBANdo a minha
sexualidade... das coisas do alto...mesmo eu sou vicia::do na baixaria... na suje::ira... na
pornografia...a partir de hoje eu vou ser diferente...a par
tir de hoje eu vou ser essa criatura
nova...porque eu achei a minha vida que tava escondida com CRISto...por Isso que eu não era
feliz...eu vou carimbá meu dinheiro...eu vou carimbá meu namoro...vô carimba meu
relacionamento familiar... eu vou carimbá meu
trabalho... eu vou carimbá todo o meu
corpo...ho::je... vou carimbá minha casa...meu ca::rro...eu num posso usá meu carro pra
pecá...é um presente de Deus que eu posso te um automó::vel... pra passeá com a minha
famí::lia...pra visitá os ami::gos...mas eu
num posso usá
-
lo pro pecado...ah:::::: eu quero
carimbá também o meu tempo...meu tempo precisa tempo do céu...tempo das coisas
altas...das coisas de cima...tempo de Deus...vitória de Deus...hoje...depois de mui::to
tempo...eu volto...((canta))
alô:::
:: meu Deus...fazia tanto tempo...que eu não mais te
procurava... alô::::: meu Deus...senti saudades tuas...e acabei voltando aqui...andei por mil
caminhos.. e como as andorinhas...eu vim fazer meu ninho...em tua casa e repousar...embora
eu me afastasse...
e andasse desligado...meu coração cansado resolveu... voltar...eu não me
acostumei ((aplausos))...nas terras onde andei... eu não me acostumei ((aplausos))...nas
terras onde andei... ((aplausos e gritos emocionados))... eu volto...((canta)) alô::::: meu
De
us...fazia tanto tempo...que eu não mais te procurava... alô::::: meu Deus...senti saudades
tuas...e acabei voltando aqui...gastei a minha herança...comprando matéria... restou
-
me a
esperança...de outra vez te encontrar... voltei arrependido...e volto c
onvencido...com o
coração ferido...aqui é o meu... lugar...eu não me acostumei...
se é verdade... diz...
eu não me
acostumei nas terras onde andei.... eu não me acostumei nas terras onde andei....
((repete o
refrão e cumprimenta a todos))... eu tava com medo
de pregá senta::do...mas depois eu me
recorDEI das pregações mais profundas ... dos mais belos milagres de Jesus ele fez
sentado...{verdade}né?
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