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VANESSA CINTRA ALVES
Análise das práticas de gestão ambiental e de responsabilidade
social aplicada à indústria do couro em Franca-SP
BAURU-SP
2009
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Alise das práticas de gestão ambiental e de responsabilidade social aplicada
à indústria do couro em Franca-SP
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Engenharia de Produção da
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”,
campus Bauru, para obtenção do título de Mestre em
Engenharia de Produção.
Orientador: Prof. Dr. Adilson Renofio
Co-orientador: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa
BAURU
2009
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Alves, Vanessa Cintra.
Análise das práticas de gestão ambiental e de
responsabilidade social apli
cada à indústria do couro
em Franca-SP / Vanessa Cintra Alves, 2009.
176 f.
Orientador: Adilson Renofio
Co-orientador: Agnaldo de Sousa Barbosa
Dissertação (Mestrado)–Universidade Estadual
Paulista. Faculdade de Engenharia de Bauru, Bauru,
2009
1. Indústria coureira. 2. Gestão ambiental. 3.
Responsabilidade social. 4. Indicadores de gestão
ambiental e responsabilidade social. 5. Instrumentos
de gestão ambiental e responsabilidade social. I.
Universidade Estadual Paulista. Faculdade de
Engen
haria de Bauru. II. Título.
Dedico este trabalho à minha família, ao meu
marido, Marcelo e a todos os meus amigos.
AGRADECIMENTOS
“O Pai do Céu não nos inspira a realizar algo
que não possa ser realizado.”
(Santa Terezinha do Menino Jesus)
Sendo assim, o meu primeiro agradecimento é a Deus, autor da vida e quem sempre
me sustentou nos momentos em que era tão difícil continuar.
Á minha família, que suportou minha ausência durante tantos dias, e que sempre
esteve comigo nos momentos em que me eram mais necessários...
Ao meu maridão, Marcelo, que suportou também minha ausência, tão necessária
para a concretização deste sonho, e que foi, muitas vezes o meu refúgio nos
momentos de maior dificuldade.
Ao GOU... Meu Deus, o que esse povo amado fez na minha vida desde o ano de
2003... Só Ele sabe... Obrigada ao pessoal lindo e amado de Bauru, que me acolheu
tão ternamente... Quantas vigílias, quantas festas, quantas madrugadas de partilha,
quantas missas, quantos GOUs e quanto tudo isso foi fundamental para que, hoje,
eu estivesse aqui escrevendo estas palavras de agradecimento... Dani, Milena,
Cacá, Will, Alexandre, são alguns nomes que não poderia deixar de colocar neste
trabalho, entre tantos outros que me acompanharam neste caminho.. Obrigada pelo
amor que me dedicaram, pela força que me deram e que me proporcionaram
realizar mais um sonho!!!
Aos meus amigos de e de caminhada: Pri, Lê, Isac, Flávia, Andrei, Lidi, Sérgio...
Minha turma de baladas e de partilhas, de orações e de comemorações... Vocês
também foram muito importantes para a concretização de mais esse sonho (dentre
tantos outros dos quais vocês participaram)..
Agradeço ao meu mestre Agnaldo, uma pessoa que sempre me apoiou e acreditou
em mim. Sem você, certamente hoje eu não estaria escrevendo estas palavras de
agradecimento. Obrigada pelo apoio, pelos conhecimentos que me transmitiu, pela
amizade.
Agradeço ao meu orientador Renofio, que me acompanhou e auxiliou durante todo
esse processo.
Agradeço a algumas pessoas que estiveram presentes e das quais não poderia
deixar de falar: Bruna Bauru, Diogo Paraná, Camila Batatais, República Fusca
Azul ai que saudades, aos amigos do mestrado, aos professores, ao coordenador
do curso, ao apoio da Capes que me proporcionou auxílio financeiro para me manter
durante o tempo em que estive em Bauru, à Célia e todo o pessoal da secretaria da
Pós-graduação.
Obrigada também a alguns professores que me auxiliaram na execução desta
dissertação: Prof. Jair Unesp Bauru, Prof. Rosane Unesp Bauru, Prof. Renato
Unesp Bauru, Prof. Melissa – Uni-Facef Franca, Prof. Aldo Ometto – USP São
Carlos, dentre tantos outros que contribuíram com seus conhecimentos.
Ao pessoal da Artmúsica, que também contribuiu para que este trabalho fosse
realizado! Em especial ao Cláudio e o Júlio, grandes amigos.
Enfim, meu muito obrigado a todos os que contribuíram de forma direta ou indireta
para a realização deste trabalho.
“...Terra, és o mais bonito dos planetas
estão te maltratando por dinheiro
Tu que és a nave, nossa irmã...
(Beto Guedes e Ronaldo Bastos – O sal da
terra)
ALVES, V. C. Análise das práticas de gestão ambiental e de responsabilidade social
aplicada à indústria do couro em Franca-SP. 2009. Dissertação (Mestrado em
Engenharia de Produção) – Faculdade de Engenharia de Bauru, Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Bauru, 2009.
RESUMO
Atualmente, aspectos como responsabilidade social e gestão ambiental
emergem como fatores fundamentais para a gestão de uma empresa. Com o
advento do desenvolvimento sustentável, a comunidade como um todo passou a
exigir uma postura de responsabilidade social e ambiental por parte de seus
fornecedores, perante a necessidade urgente de racionalizar a utilização dos
recursos naturais, cada vez mais escassos, e de solucionar problemas sociais
gravíssimos, muitas vezes criados pelas próprias organizações. Diante desse novo
paradigma, definiu-se como objetivo para esta pesquisa compreender a prática da
responsabilidade sócio-ambiental empreendida pelas indústrias coureiras do pólo
industrial de Franca-SP, buscando apreender os aspectos da ação empresarial que
possibilitem mitigar impactos ambientais e contribuir de forma concreta em áreas
relacionadas com a comunidade. Para tanto, traçou-se os principais aspectos da
responsabilidade sócio-ambiental empresarial, permitindo visualizá-las como pilares
para a sustentabilidade das organizações. Desenvolveu-se uma estrutura teórica
que norteou os objetivos propostos para a elaboração deste trabalho, no qual foram
abordados alguns instrumentos de gestão social e ambiental, tais como os
Indicadores ETHOS de Responsabilidade Social, certificações e selos voltados à
questão sócio-ambiental, licenciamentos e legislações ambientais, Produção mais
Limpa, ISO 14000 e a abordagem sistêmica. Estes instrumentos permitiram delinear
a postura e as ações de responsabilidade social e ambiental praticadas pelas
indústrias coureiras. Os resultados obtidos com a pesquisa exploratória realizada em
12 empresas permitiram, de forma geral, perceber que os empresários das indústrias
calçadistas de Franca possuem uma postura reativa frente aos novos paradigmas de
gestão sociais e ambientais, e praticam ações isoladas e incipientes para minorar os
impactos sócio-ambientais ocasionados pelas suas atividades. Acredita-se que as
indústrias coureiras possuem potencial e devem atuar com responsabilidade social e
ações de gestão ambiental, por meio da implantação de sistemas e políticas
eficazes de gestão, contribuindo assim para o desenvolvimento sustentável. No
entanto, a pesquisa não evidenciou a ocorrência de tais práticas no setor em
questão.
Palavras-chave: Indústria coureira, Gestão ambiental, Responsabilidade social,
Indicadores de gestão ambiental e responsabilidade social, Instrumentos de gestão
ambiental e responsabilidade social.
ALVES, V. C. Analysis of social responsibility and environmental management
practices applied to the leather industry in Franca-SP. 2009. Dissertation (Master’s in
Production Engineering) – College of Engineering, Bauru, Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Bauru, 2009.
ABSTRACT
At present, aspects like social responsibility and environmental management
emerge as fundamental factors for company management. With the advent of
sustainable development, the community as a whole began to demand a social and
environmental responsibility position on the part of suppliers in face of the urgent
need to ration the use of increasingly scarcer natural resources and to solve very
serious social problems, often created by the organizations themselves. In face of
this new paradigm, the objective of this paper is to understand the practice of social-
environmental responsibility carried out by the leather industries in the Franca, SP,
industrial center, in an attempt to grasp the aspects of business action that make it
possible to mitigate environmental impacts and contribute in a concrete manner
towards community related areas. For such, the main aspects of corporate social-
environmental responsibility were drawn up, making it possible to visualize them as
pillars for the sustainability of organizations. A theoretical structure was developed
that guided the objectives proposed for elaborating this study in which some social
and environmental management instruments were addressed, such as ETHOS
Indicators for Social Responsibility, certifications and seals geared towards social
environmental issues, environmental licensing and legislation, Cleaner Production,
ISO 14000 and the systemic approach. These instruments make it possible to outline
the social and environmental responsibility position and actions practiced by the
leather industries. The results obtained with exploratory research conducted at 12
companies made it possible to perceive that, in general, Franca footwear industry
business owners maintain a reactive position in face of the new social and
environmental management paradigms and they practice isolated and incipient
actions to reduce the social-environmental impacts caused by their activities. It is
believed that the leather industries have potential and should act with social and
environmental responsibility by implementing effective management systems and
policies, thus contributing towards sustainable development. However, this study did
not find signs of such practices in the sector in question.
Key words: Leather industry, Environmental management, Social responsibility
management, Environmental management and social responsibility indicator,
Environmental management and social responsibility instruments.
.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Selo Instituto Pró-Criança...................................................................................................... 61
Figura 2 – Visão geral das técnicas de P+L.......................................................................................... 75
Figura 3 – Modelo de sistema da gestão ambiental da ABNT NBR ISO 14001................................... 80
Figura 4 – Cadeia produtiva do couro................................................................................................... 88
Figura 5 – Fluxograma esquemático da fabricação de couros – operações de ribeira, curtimento e
acabamento molhado............................................................................................................................ 90
Figura 6 – Fluxograma esquemático da fabricação de couros – operações de acabamento.............. 90
Figura 7 – Atuação dos indicadores da responsabilidade social e ambiental na empresa................ 115
Figura 8 – Caracterização das empresas pesquisadas...................................................................... 118
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Comparação da geração de resíduos do setor coureiro no Brasil e em Franca................94
Gráfico 2 – Classificação dos couros brasileiros (em %)....................................................................103
Gráfico 3 – Grau de importância da adoção de um Sistema de Gestão da Responsabilidade Social120
Gráfico 4 – Adoção de um código de ética pela empresa...................................................................120
Gráfico 5 – Existência de restrições para contratação........................................................................121
Gráfico 6 – Realização de treinamentos com funcionários.................................................................122
Gráfico 7 – Custeio de cursos para funcionários ................................................................................123
Gráfico 8 – Primeiro fator a ser analisado quando é necessário reduzir custos.................................124
Gráfico 9 – Realização de investimentos em determinadas áreas.....................................................125
Gráfico 10 – Postura diante da mão-de-obra contratada pelos fornecedores....................................126
Gráfico 11 – Postura da empresa com relação ao atendimento ao consumidor/cliente.....................127
Gráfico 12 – Existência de algum projeto social desenvolvido junto à comunidade...........................128
Gráfico 13 – Incentivo de funcionário para desenvolver um trabalho voluntário ................................128
Gráfico 14 – Relacionamento das empresas com autoridades, agentes fiscais e poder público.......129
Gráfico 15 – Certificações e selos que a empresa possui..................................................................130
Gráfico 16 – Grau de importância da adoção da Gestão Ambiental...................................................135
Gráfico 17 – Adoção de ações empresariais voltadas à gestão ambiental ........................................135
Gráfico 18 – Adoção de uma política ambiental..................................................................................136
Gráfico 19 – Grau de importância de alguns fatores ambientais do processo produtivo ...................137
Gráfico 20 – Freqüência da realização de estudos visando à redução de riscos ambientais............138
Gráfico 21 – Disponibilização de recursos para a gestão ambiental ..................................................138
Gráfico 22 – Realização de pesquisas sobre novas formas de curtimento........................................139
Gráfico 23 – Utilização de outro tipo de curtente (substituindo o cromo) ...........................................139
Gráfico 24 – Matéria-prima mais poluente ..........................................................................................140
Gráfico 26 – Existência de um sistema de gerenciamento de resíduos e efluentes ..........................143
Gráfico 27 – Utilização de técnicas e procedimentos visando reduzir a geração dos principais
contaminantes presentes nos resíduos...............................................................................................144
Gráfico 28 – Existência de um inventário de resíduos gerados, sua coleta, armazenamento e
destinação ...........................................................................................................................................144
Gráfico 29 – Freqüência da sensibilização dos colaboradores sobre o seu papel nas atividades de
gestão ambiental .................................................................................................................................145
Gráfico 31 – Classificação dos resíduos sólidos gerados pela empresa (de acordo com a ABNT NBR
10004, 2004)........................................................................................................................................147
Gráfico 32 – Autuações ambientais sofridas nos últimos 2 anos........................................................147
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Indicadores da Responsabilidade Social Empresarial....................................................... 27
Quadro 2 – Indicadores da Gestão Ambiental Empresarial.................................................................. 29
Quadro 3 – Graus de comprometimento com a responsabilidade social............................................. 30
Quadro 4 – Responsabilidade social interna e externa ........................................................................ 39
Quadro 5 – Níveis de sensibilidade social das organizações............................................................... 40
Quadro 6 – Cenários e principais fatores de pressões sobre as empresas brasileiras........................ 49
Quadro 7 – Principais acidentes ambientais ocasionados por indústrias............................................. 52
Quadro 8 – Benefícios da gestão ambiental......................................................................................... 53
Quadro 9 - Objetivos da normatização ................................................................................................. 60
Quadro 10: Programas e Projetos da Fundação Abrinq....................................................................... 62
Quadro 11 – Indicadores ETHOS ......................................................................................................... 63
Quadro 12 – Indicador ETHOS que permite avaliar o estágio atual da gestão da empresa em relação
a determinada prática............................................................................................................................ 64
Quadro 13 – Leis, decretos e resoluções ambientais brasileiras ......................................................... 68
Quadro 14 – Vantagens da implantação da P+L e benefícios financeiros alcançados........................ 76
Quadro 15 – Proposta de inserção de conceitos do modelo P+L nos requisitos da ISO 14001 (2004)
............................................................................................................................................................... 83
Quadro 16 – Principais aspectos e impactos ambientais do processo produtivo dos curtumes por
etapas de produção............................................................................................................................... 96
Quadro 17 – Classificação de resíduos perigosos, codificados a partir de suas características e de
fontes geradoras específicas; e Limite máximo de concentração no extrato obtido no ensaio de
lixiviação, segundo a NBR 10004 (2004).............................................................................................. 98
Quadro 18 – Resultados da pesquisa: teste de Kolmogorov Smirnov, graus de comprometimento e
níveis de sensibilidade social.............................................................................................................. 134
Quadro 19 – Resultados da pesquisa: teste de Kolmogorov Smirnov e postura da empresa quanto à
gestão ambiental................................................................................................................................. 151
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Relação de estabelecimentos e empregos do GRUPO 151 – Curtimento e outras
preparações de couro em 31/12/2007 por Estado..............................................................................101
Tabela 2 – Agregação de valor de acordo com o couro produzido ....................................................104
Tabela 3 – Atividades prioritárias para controle da poluição ambiental na UGRHI 08 –
Sapucaí/Grande...................................................................................................................................109
Tabela 4 – Teste piloto e questionários...............................................................................................117
Tabela 5 – Área de atuação dos respondentes ..................................................................................118
Tabela 6 – RS: Aplicação do teste de Kolmogorov-Smirnov na questão 4 ........................................132
Tabela 7 – RS: Aplicação do teste de Kolmogorov-Smirnov na questão 5 ........................................132
Tabela 8 – Aplicação do teste de Kolmogorov-Smirnov na questão 12 .............................................133
Tabela 9 – Aplicação do teste de Kolmogorov-Smirnov na questão 39 .............................................133
Tabela 10 – GA: Aplicação do teste de Kolmogorov-Smirnov na questão 4......................................149
Tabela 11 – GA: Aplicação do teste de Kolmogorov-Smirnov na questão 5......................................149
Tabela 12 – GA: Aplicação do teste de Kolmogorov-Smirnov na questão 8......................................150
Tabela 13 – GA: Aplicação do teste de Kolmogorov-Smirnov na questão 14....................................150
Tabela 14 – GA: Aplicação do teste de Kolmogorov-Smirnov na questão 21....................................151
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABRAFIGO Associação Brasileira de Frigoríficos
ADCE Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas
AICSul Associação das Indústrias de Curtumes do Rio Grande do Sul
ALUF Alvará de Localização, Uso e Funcionamento
AMCOA Associação de Manufaturados de Couros e Afins
CADRI Certificado de Aprovação e Destinação de Resíduos Industriais
CEBDS Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável
CEPTRAM Conselho de Proteção Ambiental
CETESB Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental
CICB Centro das Indústrias de Curtume do Brasil
CIESP Centro das Indústrias do Estado de São Paulo
CLT Consolidação das Leis do Trabalho
CMMAD Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
CNI Confederação Nacional das Indústrias
CNTL Centro Nacional de Tecnologias Limpas
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
CPRN Coordenadoria de Licenciamento Ambiental e Proteção de Recursos Naturais
DAIA Departamento de Avaliação de Impacto Ambiental
DBO Demanda bioquímica de oxigênio
DQO Demanda química de oxigênio
EIA/RIMA Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental
EJA Educação de Jovens e Adultos
EPA Environmental Protection Agengy
ETE Estação de Tratamento de Efluentes
FIESP Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
FIRJAN Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro
GRI
Global Reporting Iniciative
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBOPE Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística
INSS Instituto Nacional do Seguro Social
IPCC Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
LO Licença de Operação
LP Licença Prévia
MMA Ministério do Meio Ambiente
ONU Organização das Nações Unidas
P+L Produção mais Limpa
P+L Produção mais Limpa
P2 Prevenção à Poluição
PNMA Política Nacional do Meio Ambiente
RAIS-MTE Relação Anual e Informações Sociais – Ministério do Trabalho e Emprego
RAP Relatório Ambiental Prévio
RSE Responsabilidade Social Empresarial
SEMA Secretaria Especial do Meio Ambiente
SGA Sistema de Gestão Ambiental
SILIS Sistema de Licenciamento Simplificado
SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente
SMA Secretaria de Estado do Meio Ambiente
UGRHI Mapa das Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos
UNEP
United Nations Environment Programme
UNIDO United Nations Industrial Development Organization
USP Universidade de São Paulo
WBCSD Conselho Organizacional Mundial para o Desenvolvimento Sustentável
WWF
World Wide Fund for Nature
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................18
CAPÍTULO 1. O PROBLEMA DA PESQUISA.....................................................................................21
1.1 Caracterização do problema de pesquisa.......................................................................................21
1.2 Justificativa ......................................................................................................................................22
1.3 Hipótese...........................................................................................................................................24
1.4 Materiais e procedimentos metodológicos......................................................................................24
CAPÍTULO 2. CAMINHOS PARA A SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL: RESPONSABILIDADE
SOCIAL E GESTÃO AMBIENTAL.......................................................................................................33
2.1 A responsabilidade social empresarial como pilar para a sustentabilidade: evolução histórica e
conceitos................................................................................................................................................33
2.2 A questão sócio-ambiental e a evolução da consciência ecológica ...............................................44
2.3 A gestão ambiental como ferramenta para o alcance da sustentabilidade: evolução histórica e
conceitos................................................................................................................................................51
CAPÍTULO 3. INSTRUMENTOS DE GESTÃO SOCIAL E AMBIENTAL: FERRAMENTAS PARA A
SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL...............................................................................................58
3.1 Instrumentos de gestão da responsabilidade social .......................................................................58
3.1.1 Certificações e Selos ...........................................................................................................59
3.1.2 Indicadores ETHOS de Responsabilidade Social ............................................................... 62
3.2 Instrumentos de gestão da responsabilidade ambiental.................................................................66
3.2.1 Aspectos legais do setor do couro.......................................................................................66
3.2.2 Aspectos do licenciamento ambiental no setor coureiro brasileiro .....................................69
3.2.3 Programas Produção Mais Limpa ....................................................................................... 73
3.2.4 Os Sistemas de Gestão Ambiental e a ISO 14000 ............................................................. 77
3.2.5 Abordagem sistêmica: uma ferramenta para compreender os aspectos sócio-ambientais 83
CAPÍTULO 4. CARACTERIZAÇÃO DA INDÚSTRIA COUREIRA......................................................87
4.1 Histórico da indústria do couro........................................................................................................87
4.2 A cadeia produtiva do couro............................................................................................................87
4.3 O processo produtivo do couro .......................................................................................................89
4.4 Resíduos gerados na produção do couro .......................................................................................91
4.4.1 Efluentes líquidos................................................................................................................. 92
4.4.2 Emissões atmosféricas........................................................................................................93
4.4.3 Resíduos sólidos.................................................................................................................. 93
4.5 Aspectos e impactos ambientais da indústria coureira e o problema dos resíduos perigosos....... 95
4.6 Características da indústria coureira brasileira .............................................................................100
4.7 Características e estrutura organizacional da cidade de Franca: a perpetuação do setor coureiro-
calçadista no município .......................................................................................................................105
4.7.1 Estruturação e contexto atual dos curtumes de Franca.................................................... 105
4.7.2 Problemas sócio-ambientais dos curtumes de Franca......................................................108
4.8 Articulações sócio-ambientais na cadeia produtiva do couro .......................................................111
CAPÍTULO 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................................115
5.1 Caracterização das empresas pesquisadas .................................................................................117
5.2 A indústria coureira de Franca frente às proposições da Responsabilidade Social.....................119
5.2.1 Valores, transparência e governança................................................................................120
5.2.2 Público interno ...................................................................................................................121
5.2.3 Fornecedores..................................................................................................................... 125
5.2.4 Consumidores e clientes.................................................................................................... 126
5.2.5 Comunidade....................................................................................................................... 127
5.2.6 Governo e sociedade.........................................................................................................129
5.2.7 A empresa e as certificações e selos ................................................................................ 129
5.2.8 Responsabilidade social: a aplicação do teste de Kolmogorov Smirnov ..........................131
5.3 A indústria coureira de Franca frente às proposições da Gestão Ambiental................................134
5.3.1 Política ambiental............................................................................................................... 135
5.3.2 Gerenciamento ambiental..................................................................................................136
5.3.3 Racionalização do processo produtivo..............................................................................140
5.3.4 Gerenciamento de resíduos, efluentes e emissões atmosféricas..................................... 142
5.3.5 Treinamento dos colaboradores e comunicação .............................................................. 145
5.3.6 Requisitos legais ............................................................................................................... 146
5.3.7 Gestão ambiental: a aplicação do teste de Kolmogorov Smirnov..................................... 148
CONCLUSÃO ..................................................................................................................................... 153
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................................... 156
APÊNDICE A ...................................................................................................................................... 167
APÊNDICE B ...................................................................................................................................... 168
APÊNDICE C ...................................................................................................................................... 173
18
INTRODUÇÃO
Atualmente, aspectos como responsabilidade social e gestão ambiental
emergem como parte da rotina dos empresários. Com o despertar da consciência
sobre os problemas ambientais, a partir da década de 1970, e do advento do
desenvolvimento sustentável, a comunidade passou a exigir uma postura de
responsabilidade social e ambiental por parte de seus fornecedores, perante a
necessidade urgente de racionalizar a utilização dos recursos naturais, cada vez
mais escassos e de solucionar problemas sociais gravíssimos, muitas vezes criados
pelas próprias organizações.
Neste contexto, torna-se cada vez mais evidente o destaque que os
consumidores empregam à responsabilidade cio-ambiental, pois estes esperam
“interagir com organizações éticas, com boa imagem institucional e que atuem de
forma ecologicamente responsável” (TACHIZAWA, 2002, p. 23). Agindo desta
maneira, induzem as empresas a adotarem um novo posicionamento em relação ao
que vinha sendo praticado até então. A responsabilidade sócio-ambiental passou a
ser, não um fator de competitividade e de fortalecimento da imagem institucional,
mas principalmente, uma ferramenta eficaz no pleito de mercados consumidores
ambientalmente conscientes. Na atualidade, as organizações devem investir no
relacionamento com seus stakeholders (partes interessadas).
Diante desse paradigma, este trabalho apresenta um estudo acerca das
ações de gestão ambiental e responsabilidade social empreendidas pela indústria
coureira da cidade de Franca-SP.
Franca é uma cidade que apresenta um arranjo produtivo local especializado
na produção de calçados masculinos de couro, o que estimulou o surgimento de
empresas correlatas. De acordo com Suzigan et al (2007), Franca constitui um
exemplo perfeito de cluster industrial (concentrações geográficas de companhias
inter-relacionadas num setor específico), pois concentra praticamente todo o elo
produtivo da manufatura do calçado, reunindo desde o curtimento do couro (principal
matéria-prima na confecção dos calçados) até a fabricação de máquinas e
componentes. Também em Franca a instalação de curtumes remonta a fins do
século XIX, o que indica uma tradição do setor na cidade (BARBOSA, 2007).
O potencial poluidor do setor coureiro é significativo, pois contempla resíduos
de difícil degradação e com características tóxicas (pela presença do cromo e outros
19
contaminantes), conforme Anexo B da ABNT NBR 10004 (2004), e que demandam
uma grande área para serem armazenados, tais como aterros industriais para
resíduos perigosos. Dentro deste contexto, definiu-se como objetivo geral para o
presente trabalho:
Compreender a prática da responsabilidade sócio-ambiental
empreendida pelas indústrias coureiras do pólo industrial de Franca-
SP, buscando apreender os aspectos da ação empresarial que
possibilitem mitigar impactos ambientais e contribuir em áreas
relacionadas com a comunidade.
Como objetivos específicos definiu-se:
Apresentar as ações adotadas pelas empresas e verificar se as
indústrias possuem certificações ou seguem normas que
caracterizem uma gestão ambiental e socialmente responsável;
Investigar junto ao setor de Recursos Humanos e Gestão
Ambiental, respectivamente, se são adotados programas de
responsabilidade social ou ações ambientais.
O trabalho é composto por cinco capítulos. O Capítulo 1 apresenta o
problema de pesquisa que norteou a realização do trabalho, bem como justificativa,
hipóteses, materiais e procedimentos metodológicos.
O Capítulo 2 expõe, sucintamente, a evolução histórica da responsabilidade
social empresarial, bem como a reflexão de alguns conceitos. Em seguida,
apresenta-se um breve histórico sobre a evolução da questão sócio-ambiental e da
consciência ecológica, bem como diversos fatores que impulsionaram a humanidade
a repensar sua postura de consumo e produção. Na seqüência, apresenta-se um
breve histórico da gestão ambiental e a reflexão de alguns conceitos.
O Capítulo 3 apresenta o referencial teórico que norteou os objetivos
propostos para a elaboração deste trabalho, que são os Instrumentos de Gestão
Ambiental e da Responsabilidade Social, visando resgatar algumas ferramentas que
auxiliam as organizações a gerir seus sistemas de forma a aproximá-la do modelo
almejado para as empresas atuais no quesito responsabilidade social e gestão
ambiental.
20
O Capítulo 4 descreve a cadeia produtiva coureira, com o propósito de
delimitar o objeto de estudo e identificar os principais segmentos e ligações entre
seus elos. Apresenta também um histórico da indústria coureira na cidade de
Franca, suas características produtivas e ambientais. Detalha os principais aspectos
produtivos de um curtume e apresenta os principais impactos e problemas
ambientais do setor que ressaltam a importância da realização deste trabalho.
No Capítulo 5 apresenta-se os resultados alcançados com a pesquisa
realizada, bem como uma breve discussão acerca dos resultados obtidos.
A última parte do trabalho apresenta as conclusões alcançadas com a
realização da pesquisa, bem como algumas sugestões para trabalhos futuros. A
seguir, estão as referências bibliográficas e os apêndices.
21
CAPÍTULO 1. O PROBLEMA DA PESQUISA
1.1 Caracterização do problema de pesquisa
O atual conceito de sustentabilidade das empresas está intimamente
associado à postura de respeito a três premissas: ambiental, social e econômica. A
adoção de práticas socialmente e ambientalmente responsáveis, cada dia mais,
passa a fazer parte da visão estratégica das empresas.
Tachizawa (2002) argumenta que a tendência de preservação ecológica por
parte das organizações deve continuar de forma permanente e definitiva.
Com relação à responsabilidade social empresarial (RSE), um paradigma é
apresentado às empresas, de forma que estas devem adotar uma postura
socialmente responsável para com o seu público interno e externo. Desta forma,
uma renovação cultural do setor organizacional, na qual as indústrias devem buscar
“difundir conceitos e práticas promovendo o uso de recursos privados para o
desenvolvimento do bem comum” (MUELLER, 2003, p. 29), tornando-se, desta
forma, conscientes em relação à cidadania.
não é apenas um fator de competitividade oferecer produtos e serviços de
qualidade. O cliente passa a exigir uma postura social e ambientalmente
responsável por parte das empresas, sendo estes aspectos as únicas formas de
empreender lucrativamente a longo prazo (TACHIZAWA, 2002).
Diante do exposto, fica evidente a importância de se estudar as formas de
gestão social e ambientalmente responsáveis adotadas pelas empresas. As
indústrias coureiras, por seu potencial poluidor (pela geração de resíduos perigosos
com cromo, que pode ser cancerígeno) e sua relevância econômica para o Brasil (as
exportações em 2008 somaram US$ 1,88 bilhões) e, especialmente, para a cidade
de Franca, necessita ser indagada sobre esta realidade de gestão.
Sendo assim, esta pesquisa apresenta um levantamento e aponta as ações
de gestão ambiental e responsabilidade social adotadas pelas indústrias coureiras
de Franca, que tornem possível a mitigação dos impactos no meio ambiente e a
postura de responsabilidade social que permitam contribuir de alguma forma com a
comunidade.
22
Neste sentido, a presente pesquisa buscou responder à seguinte questão:
Quais são as ações de responsabilidade sócio-ambiental praticadas pelas indústrias
coureiras de Franca?
1.2 Justificativa
Diante da necessidade de se investigar as ações de gestão ambiental e
responsabilidade social sob a perspectiva do setor de Recursos Humanos e de
Gestão Ambiental das indústrias coureiras, desenvolveu-se esta pesquisa.
Considerou-se que os inúmeros impactos causados ao meio ambiente pelo processo
produtivo do couro e a dimensão que a questão sócio-ambiental está tomando frente
à sociedade constituem-se, cada dia mais, como um diferencial de mercado frente a
consumidores social e ecologicamente conscientes.
A indústria curtumeira tem potencial poluidor decorrente da geração de
resíduos perigosos e xicos com a presença de cromo hexavalente (ABNT NBR
10004, 2004) conforme ilustra o quadro 17, bem como da utilização de substâncias
químicas em seu processo produtivo, da emissão de gases nocivos à saúde
humana, da grande geração de efluentes líquidos.
A adoção de ações de responsabilidade social pressupõe a atuação
ambientalmente responsável. Neste sentido, a disposição inadequada de resíduos
no meio ambiente pode causar odores incomodando o bem-estar público,
contaminar o solo, as águas subterrâneas e, desse modo, prejudicar a qualidade de
vida da população como um todo, contribuindo para a rápida degradação da
natureza. Sendo assim, é evidente a necessidade da adoção de ações de
responsabilidade social e gestão ambiental.
O setor coureiro-calçadista da cidade de Franca possui uma postura que
pode ser considerada tradicional com relação a problemas ambientais. Segundo
Barbosa (2007), o parque industrial de Franca teve origem no pequeno capital, isto
é, a maior parte das indústrias foi criada por artesãos e ex-operários. Neste
contexto, pequenos fabricantes ascenderam à condição de empresários, levando
consigo a cultura de trabalhadores manuais. Por sua origem sócio-cultural, esse
empresariado possui um horizonte cognitivo bastante limitado, desconhecendo os
novos modelos de gestão e, por isso, possui dificuldades para incorporar novos
paradigmas. Este fato é salientado por informações da RAIS-MTE (2009) que
23
constata que somente 2% dos trabalhadores das indústrias curtumeiras, dentre
funcionários da produção e administração, possuem o ensino superior completo.
Deste modo, o pólo coureiro-calçadista de Franca é carente de informações
que visam melhorar a gestão sócio-ambiental das indústrias, tendo em vista o perfil
dos empresários. Sendo assim, a realização deste trabalho visa apresentar
subsídios para compreender a prática da gestão ambiental e da responsabilidade
social na indústria coureira, podendo se tornar um instrumento de apoio para o
planejamento estratégico da empresa.
Soma-se ao fato de inexistirem estudos semelhantes ao presente trabalho,
esta constitui-se na primeira justificativa para a sua proposição. Alguns trabalhos
foram realizados abordando a indústria coureira e calçadista de Franca, mas que
apresentam abordagem diferente da proposta.
Andrade (2004), procurou constatar a existência de Sistemas de Gestão
Ambiental (SGA) nas indústrias calçadistas de Franca, na qual a responsabilidade
ambiental foi considerada uma novidade. Palermo (2001) procurou fazer uma
avaliação econômica e ambiental das atividades curtidoras e acabadoras de couros
na região de Franca. No trabalho de Pereira et al (2002) o objetivo foi demonstrar
como os curtumes de Franca se posicionaram no período do “apagão”, o que mudou
na administração destas empresas. No trabalho de Cruz et al (2001) foi tratada a
implantação de algumas ações que poderiam contribuir para a gestão ambiental nos
curtumes de Franca, no entanto, a abordagem feita não permite constatar a adoção
de sistemas de gestão ambiental ou ações efetivas adotadas pelos curtumes, mas
apresenta sugestões superficiais, sem maior embasamento teórico-prático, para a
melhoria dos processos produtivos.
Com relação à responsabilidade social, Breda (2004) fez um estudo sobre
ações sociais desenvolvidas por indústrias de grande porte instaladas em Franca.
Em sua abordagem, não foram estudadas indústrias coureiras, mas apenas uma
indústria calçadista. Alves (2007) fez um estudo sobre a responsabilidade social no
setor calçadista de Franca, abordando principalmente o Insituto Pró-Criança.
Considera-se também como justificativa, a importância que o cluster coureiro-
calçadista possui para a cidade de Franca, no contexto da estrutura do setor em
nível estadual e nacional (em 2008 a cidade foi responsável pela exportação de US$
58 milhões em couros) e o significativo impacto ambiental causado pela produção do
couro. Uma última justificativa para a elaboração deste trabalho é a necessidade de
24
se conhecer quais ações de responsabilidade social e gestão ambiental são
adotadas pelos curtumes de Franca. Desta forma, o trabalho pode oferecer
subsídios para uma mudança de comportamento rumo à uma produção sustentável
do couro. Assim, este trabalho encontra-se no caminho para a busca do
desenvolvimento sustentável contemplando os seus aspectos social e ambiental.
1.3 Hipótese
Partindo-se do pressuposto de que uma empresa deve respeitar as três
premissas (econômica, social e ambiental) da sustentabilidade empresarial, não é
coerente taxar-se “empresa socialmente responsável” se ela lança seus resíduos de
forma inadequada, poluindo o meio ambiente. Desta forma, a empresa que se diz
socialmente responsável deve buscar ser, também, ambientalmente correta.
No entanto, na indústria coureira de Franca, pressupõe-se que esses dois
aspectos não são adotados de forma proativa.
Sendo assim, tomando-se como base a pesquisa realizada por Alves (2006)
nas indústrias coureiras, na qual se percebeu que poucas ações são tomadas na
intenção de conscientizar os colaboradores a adotarem uma postura
ambientalmente responsável, e a premissa de treinar os funcionários, fator
fundamental tanto para ações pontuais de responsabilidade sócio-ambiental, quanto
para a implantação eficaz de um sistema de gestão ambiental, definiu-se como
hipótese para este trabalho:
São adotadas poucas ações de gestão ambiental e de responsabilidade
social, de modo proativo, pelas indústrias coureiras de Franca.
1.4 Materiais e procedimentos metodológicos
De acordo com Silva e Menezes (2005, p. 20) a “pesquisa é um conjunto de
ações, propostas para encontrar a solução para um problema, que tem por base
procedimentos racionais e sistemáticos. A pesquisa é realizada quando se tem um
problema e não se tem informações para solucioná-lo”.
Sendo assim, a classificação deste trabalho quanto à sua natureza utiliza a
pesquisa aplicada, pois tem como objetivo “gerar conhecimentos para aplicação
prática e dirigidos à solução de problemas específicos” (SILVA; MENEZES, 2005, p.
25
20), envolvendo verdades e interesses locais. Nesta pesquisa, as verdades e
interesses locais se referem ao setor coureiro da cidade de Franca-SP.
Quanto à abordagem do problema, a pesquisa é quantitativa, pela realização
de um processo de investigação de forma a quantificar os dados coletados, pois este
método possibilita conhecer o objeto investigado sob uma perspectiva mais ampla. É
qualitativa, visando aprofundar os resultados alcançados, pois considera-se a
existência de uma relação dinâmica entre os problemas sócio-ambientais e a
postura adotada pelos administradores da empresa, isto é, existe um problema que
necessita ser entendido em suas particularidades e interpretado na perspectiva dos
envolvidos e no contexto em que ocorrem, de forma que o problema não pode ser
traduzido em números (SILVA; MENEZES, 2005).
Do ponto de vista dos objetivos, esta pesquisa é descritiva, pois, de acordo
com Gil (apud SILVA; MENEZES, 2005), visa descrever as características de
determinada população, no caso as indústrias coureiras de Franca. Este todo
envolve o uso de técnicas de coletas de dados, como questionários.
Como procedimento técnico, tomou-se o levantamento, que “envolve a
interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer.” (GIL
apud SILVA; MENEZES, 2005, p. 21).
Esta pesquisa insere-se na área de engenharia de produção com foco em
gestão ambiental e responsabilidade social. Para o alcance dos objetivos propostos,
foi necessário o esclarecimento dos conceitos de responsabilidade social e gestão
ambiental, o agrupamento de alguns instrumentos que possibilitam à empresa gerir
sua prática de responsabilidade sócio-ambiental de forma concisa e sistematizada, o
entendimento da dinâmica do funcionamento do processo produtivo do couro, bem
como a geração e tratamento dos resíduos industriais por parte das empresas. Para
tanto, foi desenvolvida uma estrutura teórica que permitiu apoiar e nortear os
objetivos propostos.
Neste sentido, este trabalho contempla duas dimensões: Responsabilidade
Social e Gestão Ambiental. A revisão bibliográfica e o referencial teórico utilizado
permitiu concluir que para praticar responsabilidade social é necessário praticar
conjuntamente gestão ambiental. Isto se justifica porque as duas principais frentes
dos atuais modelos de gestão se complementam, permitindo à empresa uma
melhoria da qualidade de vida da comunidade, bem como a conservação do meio
ambiente no qual está inserido. Sendo assim, utilizou-se como referencial teórico
26
para a realização deste trabalho os indicadores da responsabilidade social, dentre
as quais está a gestão ambiental.
Como instrumento que possibilitasse maior compreensão sobre as ações de
responsabilidade social adotadas pelas indústrias coureiras, tomou-se os
Indicadores ETHOS de Responsabilidade Social, que possibilitam investigar os
aspectos sociais da empresa em todas as áreas. As empresas que investem em
ações sociais necessitam acompanhar os resultados, com o intuito de mensurar “até
que ponto os esforços da empresa estão atendendo seu objetivo de contribuir com o
desenvolvimento sustentável” (CUSTODIO e MOYA, 2007, p. 3). Neste sentido, os
Indicadores ETHOS de Responsabilidade social apresentam-se como uma
ferramenta que auxilia no processo de incorporação das questões sociais. Esta
ferramenta é interessante e foi escolhida como fonte para este trabalho por mostrar
uma correlação com algumas iniciativas, tais como o Pacto Global, os Objetivos do
Milênio, as Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade da Global Reporting
Iniciative (GRI) e a norma AS 8000, com o objetivo de facilitar a utilização integrada
das sinergias existentes entre estas ferramentas (CUSTODIO e MOYA, 2007). Além
disso, esta ferramenta é de fácil aplicação e tem uma sistematização que já é
utilizada tempos, sendo assim, mais adequado aos objetivos apresentados por
esta pesquisa.
Os indicadores do quadro 1 foram baseados na estrutura utilizada pelo
Instituto ETHOS. Com relação aos aspectos, a metodologia do Instituto ETHOS
apresenta ainda outros a serem observados. No entanto, tomou-se nesta pesquisa
aqueles considerados mais próximos da realidade dos curtumes de Franca. Estes
permitiram uma observação sistematizada nas empresas e são cruciais para a
incorporação de valores sociais nas indústrias. Neste sentido, os indicadores e os
principais aspectos investigados estão relacionados no quadro 1.
27
INDICADORES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL
INDICADORES ASPECTOS OBSERVADOS
Auto regulação da conduta
Relações transparentes com a
sociedade
Valores, transparência e
governança
Relacionamento com concorrentes
Atividades sindicais
Transparência das atividades
Público Interno
Políticas de:
Contratação
Remuneração
Carreira
Treinamento e qualificação
Bem estar e segurança
Benefícios
Fornecedores
Seleção e contração de
fornecedores
Consumidores e clientes
Comunicação comercial e
atendimento ao consumidor
Relações com a comunidade local
Trabalho voluntário
Comunidade
Ação e projeto social
Governo e sociedade
Relacionamento com autoridades
Política ambiental
Gerenciamento ambiental
Racionalização do processo
produtivo
Gerenciamento de resíduos e
efluentes
Treinamento dos colaboradores e
comunicação
Meio ambiente
Requisitos legais
Quadro 1 – Indicadores da Responsabilidade Social Empresarial
Com relação à gestão ambiental, adotou-se como indicadores os sistemas de
gestão ambiental que devem ser implantados observando os princípios da P+L, a
legislação e licenciamento ambiental, plano de gerenciamento de resíduos e
efluentes e o pensamento sistêmico.
Escolheu-se trabalhar com o SGA, pois este auxilia a organização a funcionar
de acordo com a política ambiental, na busca pelos objetivos e as normas
estabelecidas. Além disso, a adoção de um SGA na empresa, necessita de uma
mudança cultural por parte das pessoas envolvidas “alguns hábitos e costumes
arraigados que o consolidados no ambiente externo das empresas devem ser
combatidos e outros positivos devem ser assimilados pelo conjunto da organização”
(DIAS, 2006, p. 96). A política de P+L envolve uma postura preventiva, por parte da
empresa, para a proteção ao meio ambiente. “As premissas desse conceito são: a
precaução, a prevenção e a integração de toda a cadeia produtiva” (OMETTO e
GUELERE FILHO, 2008, p. 8). Assim, a utilização conjunta dessas duas abordagens
28
“pode significar ganho ambiental e econômico muito além daqueles observados
quando se considera separadamente a P+L e o SGA” (OMETTO e GUELERE
FILHO, 2008, p. 10).
O pensamento sistêmico contribui para a interdisciplinaridade necessária ao
planejamento das ações e do estabelecimento de objetivos. A adoção da abordagem
sistêmica envolve uma mudança de mentalidade, pois deixa-se de enxergar as
partes para enxergar o todo (SEIFFERT, 2006). A utilização de indicadores de
legislação e licenciamento ambiental é fundamental, pois atualmente, o
descumprimento das normas resulta no pagamento de multas elevadas, na
interdição do estabelecimento e até no envolvimento da empresa e seus
responsáveis em processos de reparação de danos ambientais e ações criminais
(FIESP/CIESP, 2004). O plano de gerenciamento de resíduos efluentes e emissões
atmosféricas é um documento integrante de um SGA baseado nos princípios da não
geração e da minimização da geração de resíduos apontando ações relativas ao seu
manejo (SEIA, 2007).
Neste contexto, a utilização conjunta das ferramentas apresentadas permite
que a empresa estabeleça objetivos e metas de atuação ambiental e elabore os
passos necessários para alcançá-los, esteja em consonância com a legislação
pertinente e integrada com os demais elos da cadeia produtiva.
No entanto, estas ferramentas apresentam ainda diversos aspectos, inúmeras
aplicações e um escopo amplo. Sendo assim, definiu-se no quadro 2 os indicadores
e os principais aspectos que permitiram a observação na pesquisa de campo
realizada. Estes aspectos foram escolhidos por estarem mais próximos da realidade
dos curtumes de Franca e pela obrigatoriedade de alguns deles, tais como a
implantação de uma ETE e o seguimento à legislação e licenciamento pertinente ao
setor.
29
INDICADORES DE GESTÃO AMBIENTAL
INDICADORES ASPECTOS OBSERVADOS
Mudanças nas tecnologias
Reciclagem / Reuso
Produzir o máximo que pode ser utilizado
Produção mais Limpa
Reformulação ou modificação do produto
Política ambiental compromissada com a P+L na forma de Prevenção à
Poluição
Planejamento
Implementação e operação
Verificação
Sistemas de Gestão
Ambiental – com
subsídios de um
programa de P+L visando
um efetivo desempenho
ambiental
Análise pela administração – balanço semestral / anual com a inclusão dos
resultados e proposições de melhorias, tendo os projetos de P+L como
importante input
Pensamento Sistêmico
Integração com a cadeia produtiva:
Fornecedores
Distribuidores
Consumidores finais de produtos e subprodutos
Clientes
Integração com a comunidade
Interação positiva com o meio ambiente
Observação às Leis pertinentes à área de atuação (constantes no Quadro 14
deste trabalho)
Legislação e
Licenciamento Ambiental
Licença de Operação (LO)
Plano de Gerenciamento
de Resíduos, Efluentes e
Emissões atmosféricas
Inventário dos tipos de resíduos gerados, sua coleta, armazenamento e
destinação final
Técnicas de redução da geração de resíduos
Coleta seletiva
Estação de Tratamento de Efluentes (ETE)
Segregação dos resíduos na fonte
Reciclagem ou reaproveitamento de resíduos
Condições dos locais de armazenamento dos resíduos
Quadro 2 – Indicadores da Gestão Ambiental Empresarial
Com relação aos instrumentos de coleta de dados (Apêndice B e C), foram
elaborados questionários com perguntas estruturadas, que segundo Malhotra (2001)
apresentam um conjunto de alternativas e o formato da resposta, sendo compostos
da seguinte maneira:
O questionário de responsabilidade social foi elaborado basicamente com
questões de ltipla escolha. Somente em alguns aspectos em que se
considerou necessária, foram solicitadas algumas informações de ordem
numérica ou quantitativa. Desta forma, utilizou-se de questões binárias ou
dicotômicas (sim / não) que visam identificar a presença de certos
elementos importantes à responsabilidade social dentro da empresa, e
questões com escalas (tais como: nenhum/baixo/médio/alto/muito alto ou
muito/pouca/nenhuma) nas quais o entrevistado deve emitir sua opinião a
respeito de determinado fator (grau de importância, freqüência em relação a
determinada prática). Para a elaboração dos questionários, utilizou-se de
fontes tais como Pasa (2004), Indicadores ETHOS de Responsabilidade
30
Social (CUSTODIO e MOYA, 2007), bem como alguns aspectos da
Legislação Trabalhista, a CLT - Consolidação das Leis do Trabalho
(BRASIL, 1943). Utilizou-se Pasa (2004) por ser um trabalho que apresenta
um modelo de avaliação da performance social empresarial e que permite
visualizar nas empresas as áreas de maior e menor comprometimento
social e, a partir disso, direcionar suas ações para as áreas estratégicas em
investimentos sociais. Os Indicadores ETHOS possuem questões que
permitem avaliar o estágio atual de gestão das empresas com relação a
práticas sociais e enquadrá-las em estágios (conforme quadro 12).
Procurou-se também com o questionário investigar algumas práticas do
setor coureiro de Franca interessantes para as empresas, tais como o
custeio de cursos, treinamento de mão-de-obra, avaliação do clima
organizacional (satisfação dos colaboradores), bem como algumas práticas
específicas do setor como a conscientização sobre o uso de EPI, adoção
de equipamentos ergonômicos, contratação de menor aprendiz, dentre
outros.
Neste sentido, cada tipo de questão utiliza um critério para sua interpretação,
permitindo desta forma, enquadrar as empresas em determinados parâmetros. Para
as questões que identificam o grau de importância, utiliza-se a metodologia proposta
por Pasa (2004) na qual, em determinados elementos, são alocados graus de
comprometimento, tais como os determinadas no quadro 3.
Fraco Moderado Alto
Abordagem da
obrigação social
Abordagem da
responsabilidade social
Abordagem da
sensibilidade social
Quadro 3 – Graus de comprometimento com a responsabilidade social
Fonte: Adaptado de Pasa (2004) e de Montana e Charnov (apud NASCIMENTO et al, 2008)
Pasa (2004) utiliza esta metodologia com vistas a posicionar a empresa em
diferentes níveis com relação a determinados elementos e, assim, apontar o nível de
conduta social da empresa naquele elemento. Desta forma, tomou-se esta
metodologia e associou-se os graus de comprometimento com os níveis de
sensibilidade social das organizações, proposto por Montana e Charnov (apud
NASCIMENTO et al, 2008). Sendo assim, a empresa que apresenta um fraco
comprometimento com a responsabilidade social, encontra-se na abordagem da
31
obrigação social, cumprindo apenas as obrigações exigidas por lei. Se o
desempenho for considerado moderado, a empresa assume a abordagem da
responsabilidade social, na qual ela começa a reconhecer suas responsabilidades
sociais, no entanto, adota uma postura reação aos problemas. O alto grau de
comprometimento remete a empresa a uma abordagem de sensibilidade social, na
qual há uma postura proativa, auxiliando na solução de problemas sociais.
O questionário de gestão ambiental foi elaborado com questões de múltipla
escolha. As questões dicotômicas (sim / não), permitem identificar se
existem certos elementos importantes à gestão ambiental dentro da
empresa. As questões com escalas permitem levantar ações que estão em
conformidade com os requisitos de um sistema de gestão ambiental, ações
de mitigação da poluição como a adoção de programas de Produção mais
Limpa, bem como conhecer e verificar a existência de um plano de
gerenciamento de resíduos e efluentes. Para a elaboração do questionário
de gestão ambiental, utilizou-se de fontes como o Plano de Gerenciamento
de Resíduos Sólidos (SEIA, 2007), aspectos de um SGA baseado na ABNT
NBR ISO 14004 (1996) bem como diversos aspectos específicos do setor,
tais como emissão de efluentes, emissões atmosféricas, destinação de
resíduos, tratamento de efluentes, dentre outros.
O conhecimento destes fatores permite também levantar se as empresas
utilizam técnicas de conservação de matéria-prima e energia, se procura eliminar
substâncias tóxicas do processo produtivo, se procuram reduzir a quantidade e
toxicidade das emissões e resíduos, ou seja, se uma postura proativa de gestão
ambiental é adotada pela empresa. Seiffert (2007) salienta que os diferentes
estágios identificados no desempenho ambiental das organizações têm como
conseqüência a percepção da necessidade de uma postura proativa frente à
questão ambiental, o que leva à necessidade de estabelecer uma sistemática para a
sua execução.
Para a apresentação dos dados, utilizou-se de gráfico, tabelas e figuras. Com
relação à tabulação e análise dos dados colhidos pelos questionários, recorreu-se à
análise descritiva e à análise o paramétrica das questões mais relevantes. Com
relação à análise não paramétrica, adotou-se a prova estatística de Kolmogorov-
Smirnov (SIEGEL, 1975), que diz respeito ao grau de concordância entre a
distribuição de um conjunto de valores amostrais e determinada distribuição teórica
32
específica. Esta prova permite determinar se os valores da amostra podem
razoavelmente ser considerados como provenientes de uma população com aquela
distribuição teórica. Utilizou-se o nível de confiança de 0,05. Sendo assim, pode-se
inferir acerca da amostra analisada, permitindo uma maior compreensão sobre o
comportamento da indústria coureira frente à responsabilidade social e a gestão
ambiental. Neste sentido, os dados serão apresentados e interpretados à luz do
referencial teórico escolhido, permitindo assim uma maior compreensão sobre a
realidade vivenciada pelas indústrias coureiras de Franca.
A elaboração desta pesquisa permitiu uma investigação da teoria, por meio
da pesquisa bibliográfica e da prática através da pesquisa de campo para, desta
forma, nortear as indústrias que desejam fixar objetivos harmonizados com as novas
exigências mercadológicas, legislativas e do setor em questão. Conhecendo as
ações de responsabilidade social e gestão ambiental adotada pelas indústrias
coureiras, esta pesquisa oferece uma contribuição para o setor, pois fornece
elementos que podem apoiar a reflexão dos gestores sobre as práticas de
responsabilidade social e ambiental por parte das organizações, de forma que elas
sejam estendidas a toda a empresa e possam corroborar para o desenvolvimento
sustentável.
33
CAPÍTULO 2. CAMINHOS PARA A SUSTENTABILIDADE
EMPRESARIAL: RESPONSABILIDADE SOCIAL E
GESTÃO AMBIENTAL
Para entender a gestão ambiental e a responsabilidade social, bem como
seus instrumentos de gestão, é necessário ressaltar a questão social e ambiental e
sua evolução até chegar aos moldes atuais.
Desta forma, este capítulo traz um breve histórico da responsabilidade social
empresarial, bem como alguns conceitos que permitem visualizá-la como um pilar
para a sustentabilidade das organizações, visto que engloba em sua gestão, todos
os aspectos e setores da empresa. Em seguida, apresenta-se um histórico sucinto
da evolução da questão cio-ambiental e da consciência ecológica. Na seqüência,
apresenta-se brevemente um histórico da gestão ambiental, bem como alguns
conceitos.
2.1 A responsabilidade social empresarial como pilar para a sustentabilidade:
evolução histórica e conceitos
Este tópico apresenta algumas reflexões sobre o conceito de
responsabilidade social empresarial (RSE), bem como um breve histórico sobre sua
consolidação como um pilar para o alcance da sustentabilidade e como uma
importante ferramenta da gestão empresarial.
O atual conceito de sustentabilidade das empresas está intimamente
associado à postura de respeito a três premissas: ambiental, social e econômica. A
postura ambiental diz respeito ao cuidado com o planeta, de forma a minimizar o uso
de recursos naturais no processo produtivo, utilizar recursos renováveis, gerir os
resíduos gerados, buscar uma postura ecoeficiente
1
. A postura social menciona o
respeito à dignidade humana, aos direitos trabalhistas, envolvimento com a
comunidade, transparência e postura ética. O aspecto econômico visa à
prosperidade, o resultado financeiro, o respeito ao direito dos acionistas, a
competitividade e uma boa relação com os clientes e fornecedores.
1
Para o CEBDS (2009) o conceito de eco-eficiência sugere uma “significativa ligação entre eficiência
dos recursos (que leva a produtividade e lucratividade) e responsabilidade ambiental”. É portanto, o
uso mais eficiente de materiais e energia, a fim de minimizar custos econômicos e ambientais.
34
Sob o prisma de Borger (s/d) a responsabilidade social empresarial, nos seus
primórdios, foi vinculada à doutrina econômica baseada no princípio da propriedade
e da iniciativa privada, originando o regime da livre empresa, ou seja, o indivíduo é
livre para exercer qualquer atividade econômica e dispor dos meios de produção da
maneira que lhe for mais eficiente para atingir o lucro. Para que esse objetivo seja
alcançado, a empresa pode contratar, produzir e determinar o preço que lhe é mais
conveniente.
Com o passar dos tempos, as empresas enfrentaram muitas mudanças. Nos
seus primórdios, estas eram geridas por uma única pessoa ou um pequeno grupo de
pessoas, que dirigiam todas as atividades relacionadas aos negócios. Com o
desenvolvimento tecnológico e o surgimento de grandes empresas a partir do século
XIX, a realização dos negócios passou a ser feito numa escala antes impossível
(BORGER, s/d).
A introdução de novas tecnologias e da possibilidade de comercializar
nacional e internacionalmente, permitiram a produção de grandes quantidades de
produtos, com qualidade e um custo baixo. E estas mudanças se refletiram nas
organizações, pois com o crescimento da complexidade dos negócios, a capacidade
dos proprietários em gerenciar suas operações diminuiu e foi necessária a divisão
da empresa em setores, o que resultou na contratação de pessoas responsáveis por
cada setor da empresa. A expansão das grandes empresas, que o
transformadoras do ambiente em que atuam e geram impactos de forma direta na
sociedade, se deu por alguns fatores, tais como a inserção de mais atividades no
âmbito empresarial, o aumento da renda dos consumidores, gerando uma demanda
por maior quantidade e variedade de produtos e serviços, dentre outras (BORGER,
s/d).
Borger (s/d) esclarece que, inicialmente, os questionamentos sobre a
responsabilidade social empresarial eram restritos ao ambiente interno da empresa,
tais como: relações de trabalho, obtenção e garantia de benefícios e encargos
trabalhistas, condições do ambiente de trabalho. Posteriormente, as questões
ultrapassaram os limites organizacionais, emergindo preocupações com o meio
ambiente, equidade para grupos de minorias (tais como mulheres e deficientes
físicos), segurança e estabilidade no emprego, dentre outros.
Verifica-se atualmente que não existe uma divisão entre os problemas que
estão no âmbito empresarial ou fora dele, ou seja, as empresas devem contribuir
35
ativamente com a sociedade oferecendo soluções para seus problemas “sob o risco
de serem questionadas, processadas e cobradas pelos seus atos” (BORGER, s/d,
p.2). Neste sentido, a organização, que possui liberdade para existir concedida pela
sociedade, deve assumir responsabilidades para com ela. E esta passa a cobrar das
empresas esta responsabilidade.
Atualmente, é inegável que as atividades e as operações das empresas
afetam a sociedade como um todo. O público começou a expressar suas
preocupações com o comportamento social das empresas em relação aos
problemas sociais e ambientais exigindo maior envolvimento delas na
solução destes. Mais do que isso, passou a questionar o papel das
empresas na sociedade (BORGER, s/d, p. 2).
Assim, são criados padrões mínimos para a atuação das empresas em
determinada atividade e região, e a mídia divulga à sociedade, atividades social e
ambientalmente irresponsáveis, trazendo prejuízos significativos à imagem da
empresa. Observa-se, portanto, que as empresas passaram a se envolver com as
questões sociais pelas cobranças que a sociedade impôs, visto que esta possui o
poder de puní-las se suas expectativas não forem supridas. Desta forma, a adoção
de práticas de responsabilidade social e gestão ambiental, cada dia mais passa a
fazer parte da visão estratégica das empresas.
Segundo Barbieri e Cajazeira (2006) a responsabilidade social empresarial a
cada dia vem ganhando destaque nos meios acadêmicos, empresariais e
governamentais, existindo um movimento global em torno deste tema. Fato
salientado pela crescente criação de normas de adesão voluntária sobre a
responsabilidade social, como: SA 8000 (norma certificável que estabelece padrões
para as relações de trabalho), AA 1000 (norma não certificável que aborda o
gerenciamento da responsabilidade social), ABNT NBR 16001 (norma brasileira que
certifica o sistema de gestão da responsabilidade social da empresa), AFNOR 21000
(guia de boas práticas para as organizações) e a ISO 26000 (em elaboração na
Suécia, estabelecerá diretrizes internacionais para a responsabilidade social), bem
como a criação de códigos de éticas pelas empresas, declarações de princípios,
associações de empresas e de profissionais ligados às atividades empresariais,
programas de transparência das atividades empresariais, programas de governança
36
corporativa
2
, balanço social
3
, relatórios de sustentabilidade do GRI (Global Reporting
Iniciative - tem como objetivo buscar uma padronização na elaboração dos relatórios
de sustentabilidade e difundi-la internacionalmente), combate à discriminação,
Indicadores ETHOS de Responsabilidade Social, dentre outras.
A primeira noção de responsabilidade social empresarial surgiu nos EUA com
a publicação do livro “O evangelho da riqueza”, de Andrew Carnegie em 1889.
Carnegie abordou dois conceitos da responsabilidade corporativa: caridade e zelo.
Neste sentido, observa-se que a primeira noção de responsabilidade social
empresarial foi a da filantropia. No entanto, o conceito teórico de responsabilidade
social somente com a publicação do livro Social responsabilities of the
businessman”, de Howard R. Bowen em 1953, ficou popularmente conhecido. Em
sua obra, a principal questão abordada foi: quais responsabilidades os homens de
negócios deveriam assumir perante a sociedade? Mais de 93% dos entrevistados
“concordaram que deveriam assumir responsabilidades pelas conseqüências de
suas ações” (SOUZA, 2003). Bowen (apud ASHLEY, 2003, p. 6), nos primórdios da
literatura sobre a responsabilidade social empresarial, definiu-a como “a obrigação
do homem de negócios de adotar orientações, tomar decisões e seguir linhas de
ação que sejam compatíveis com os fins e valores da sociedade”. Maximiano (apud
ALVES, 2007, p. 35) salienta que o “princípio da responsabilidade social baseia-se
na premissa de que as organizações são instituições sociais”.
O primeiro momento das discussões sobre o papel social das empresas
ocorreu após a segunda Guerra Mundial, em 1945, e contextualizava os aspectos do
crescimento econômico, considerando que as empresas não poderiam ser agentes
morais, pois esta função é somente dos indivíduos (PASA, 2004). Nesta época,
acreditava-se que a responsabilidade da empresa era somente com o propósito de
constituir o negócio e oferecer retorno financeiro aos acionistas. No entanto,
Frederick (apud PASA, 2004) ampliou o conceito da responsabilidade social,
afirmando que a utilização de recursos humanos e econômicos tem finalidades
2
A governança corporativa, segundo Lodi (2000) “é o sistema que assegura aos sócios, proprietários
o governo estratégico da empresa e a efetiva monitoração da diretoria executiva [...]. A boa
governança assegura aos sócios; equidade, transparência, responsabilidade pelos resultados e
obediência às leis do país.”
3
O balanço social é uma ferramenta que teve sua origem na contabilidade e demonstra as ações
sociais das organizações, como ela está se relacionando e o que tem feito para melhorar a qualidade
de vida e o bem estar de seus públicos internos e externos (NASCIMENTO et al, 2008).
37
sociais, e não se limitam apenas aos interesses dos empregados e líderes, partes
diretamente envolvidas.
Até a década de 1960, não foram realizados muitos estudos sobre a
responsabilidade social empresarial, visto que as empresas estavam mais
interessadas na concentração de riquezas, na garantia de lucros e consolidação
econômica (PASA, 2004). A preocupação com o papel social das organizações foi
intensificada a partir da década de 1960, em resposta às várias mudanças ocorridas
nos valores da sociedade. E esses novos valores incluem a responsabilidade de
auxiliar a sociedade a resolver problemas sociais que, em grande medida, as
próprias organizações ajudaram a criar.
De acordo com Borger (s/d), o conceito de responsabilidade social não é
fechado. Está associado a diferentes idéias: responsabilidade legal, comportamento
socialmente responsável no sentido ético, contribuição social voluntária, associação
a alguma causa específica, e pode-se também acrescentar o aspecto ambiental,
parte integrante da responsabilidade social. É um conceito dinâmico e complexo.
Essa responsabilidade social das corporações excede a produção de bens e
serviços. No Brasil, de acordo com Ashley et al (2003), a responsabilidade social
empresarial foi primeiramente discutida na década de 1970 pela Associação dos
Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE), no qual o objetivo inicial era promover o
debate sobre o balanço social.
Sob o prisma do Instituto Ethos
4
(apud RAMALHO, 2006) a responsabilidade
social pode ser definida como uma forma de conduzir os negócios da empresa, de
maneira que a torne parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. Uma
organização socialmente responsável possui a habilidade de ouvir os interesses das
diversas partes (prestadores de serviços, colaboradores, acionistas, comunidade,
governo, consumidores, meio-ambiente) e incorporá-los no planejamento de suas
atividades, na busca de atender aos interesses de todos, e o apenas dos
acionistas ou proprietários.
Sendo assim, para Ashley et al (2003, p. 7) a organização “assume
obrigações de caráter moral, além das estabelecidas em lei, mesmo que não
4
O Instituto Ethos é uma organização não governamental que visa mobilizar, sensibilizar e ajudar as
empresas a gerirem seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na
construção de uma sociedade mais sustentável, justa e ética. Informações disponíveis na homepage
do Instituto ETHOS: <http://www.ethos.org.br>.
38
diretamente vinculadas a suas atividades, mas que possam contribuir para o
desenvolvimento sustentável dos povos”. Neste sentido, o conceito de
responsabilidade social empresarial é freqüentemente associado ao
desenvolvimento sustentável, pois as atividades associadas a ele refletem as três
dimensões da sustentabilidade; também conhecido como triple bottom line: a
econômica, a ambiental e a social.
Por muito tempo, a responsabilidade social empresarial foi entendida como a
adoção de ações isoladas e de engajamento comunitário e ambiental como: doação
de alimentos a grupos carentes, financiamento de reformas em uma instituição
escolar, plantação de mudas de árvores, dentre outros. No entanto, as empresas
vêm mudando sua postura e as ações de RSE estão se tornando cada dia mais
institucionalizadas, substituindo medidas emergenciais e práticas avulsas de
sensibilidade sócio-ambiental.
Segundo Borger (s/d), a atuação socialmente responsável por parte das
empresas não implica que a organização abandone seus objetivos econômicos ou
deixe de atender aos interesses dos proprietários e acionistas, mas que
desempenhe o seu papel econômico na sociedade produzindo bens e serviços,
gerando empregos, retorno aos acionistas e que estejam de acordo com a legislação
e com os padrões exigidos por clientes social e ambientalmente conscientes.
Melo Neto e Froes (2001) salientam que a responsabilidade social pressupõe
uma atuação eficaz em duas vertentes: o foco no público interno e na comunidade.
A atuação focalizada no blico interno objetiva motivá-los para um desempenho
ótimo, criando um ambiente de trabalho agradável e contribuindo para o seu bem-
estar. Com isso, a empresa recebe a sua dedicação, empenho e lealdade,
aumentando a produtividade.
A responsabilidade social voltada ao público externo focaliza a comunidade
na qual a empresa está inserida. A atuação nestas duas dimensões, possibilita a
empresa exercer sua cidadania empresarial. O quadro 4 apresenta algumas
particularidades da atuação da empresa na dimensão interna e externa:
39
Responsabilidade social interna Responsabilidade social externa
Foco
Público interno (empregados e seus
dependentes)
Comunidade
Áreas de
atuação
Educação
Salários e benefícios
Assistência médica, social e odontológica
Educação
Saúde
Assistência social
Ecologia
Instrumentos
Programas de RH
Planos de previdência complementar
Doações
Programas de voluntariado
Parcerias
Programas e projetos sociais
Tipos de
retorno
Retorno de produtividade
Retorno para os acionistas
Retorno social propriamente dito
Retorno de imagem
Retorno publicitário
Retorno para os acionistas
Quadro 4 – Responsabilidade social interna e externa
Fonte: Adaptado de Melo Neto e Froes (2001, p. 89)
É importante ressaltar que existe clara diferença entre responsabilidade social
e filantropia, apesar de muitas empresas utilizarem estes conceitos como sinônimos.
A responsabilidade social tem sentido amplo e foca a cadeia de negócios da
empresa e abrange preocupações com a sociedade, funcionários, meio ambiente,
dentre outros. A filantropia é basicamente uma ação social externa da empresa,
sendo que o beneficiário principal é a comunidade, apresenta aspecto
assistencialista, no entanto, a empresa que a pratica não deve sentir-se desobrigada
de suas responsabilidades para com os colaboradores, a comunidade, o meio
ambiente. Sendo assim, a filantropia é apenas uma ação implícita na
responsabilidade social.
Nesse contexto, as empresas se sentiram pressionadas a adotar uma postura
que proporcionasse respeito ao meio ambiente e que fossem éticas em sua relação
com os stakeholders, visto que, para elas, o enfoque sistêmico representa uma
maneira de analisar o meio ambiente, definir prováveis panoramas no cenário de
longo prazo, com base nos objetivos organizacionais, estabelecendo-se estratégias
para alcançá-los. Sendo assim, pode-se afirmar que não basta realizar ações sociais
de forma isolada, mas é necessário “integrá-las aos sistemas de planejamento,
avaliação, monitoramento e em seus processos de gestão” (INDICADORES apud
MENDONÇA, s/d, p. 6).
Quando a empresa incorpora a importância da gestão sócio-ambiental, ela
passa a preocupar-se não somente com o desempenho produtivo e econômico, mas
com valores éticos, sociais e ambientais, passando a fazer parte da rotina
empresarial e dos colaboradores.
40
Como salienta Ashley et al (2003), não obstante à existência de normas, as
empresas visualizam na responsabilidade social uma estratégia para maximizar
lucros e potencializar o seu desenvolvimento, sendo que nesta concepção, insere-se
o conceito de gestão ambiental, pois este protege o meio ambiente e possibilita uma
melhoria da qualidade de vida da sociedade.
uma renovação cultural do setor organizacional, na qual as indústrias
buscam “difundir conceitos e práticas promovendo o uso de recursos privados para o
desenvolvimento do bem comum” (MUELLER, 2003, p. 29), buscando desta forma,
tornar-se conscientes em relação à cidadania. Nascimento et al (2008) salienta que
existem diferentes graus de envolvimento organizacional com relação à
responsabilidade social, conforme quadro 5:
Abordagem da
obrigação social
Assume que as únicas obrigações de Responsabilidade Social Corporativa
da empresa são aquelas exigidas por lei.
Uma empresa que assume esta postura se satisfaz apenas cumprindo as
obrigações sociais, ou seja, não realiza nenhuma ação voluntária na área
socioambiental.
Abordagem da
responsabilidade
social
Reconhece que a empresa tem responsabilidades econômicas (RE) e
sociais (RS). As responsabilidades econômicas são a otimização dos
lucros e o aumento do patrimônio líquido dos acionistas. As RS consistem
em lidar com os problemas sociais atuais, mas somente até o ponto em
que o bem-estar econômico da empresa não é afetado de forma negativa.
Os grupos de ação social são reconhecidos e pode-se até contribuir com
eles, encorajando gerentes e funcionários a fazer o mesmo. Esta postura é
denominada adaptação reativa – um processo de reação aos problemas.
Abordagem da
sensibilidade social
Esta abordagem enfatiza que a empresa não tem apenas
responsabilidades econômicas e sociais. Ela também precisa se antecipar
aos futuros problemas sociais e destinar recursos organizacionais para
lidar com esses problemas. Isso é feito pela adaptação proativa, ou seja,
prevendo problemas futuros e lidando com eles agora. Esses problemas
podem não estar diretamente ligados à empresa, mas sua solução
beneficiará a sociedade como um todo. Esta postura da organização
atribui aos gestores a responsabilidade de compatibilizar os interesses dos
proprietários da empresa com os interesses da sociedade.
Quadro 5 – Níveis de sensibilidade social das organizações
Fonte: Montana e Charnov (apud NASCIMENTO et al, 2008, p. 185)
Na atualidade, as organizações devem investir no relacionamento com seus
stakeholders e devem tentar prever os impactos de suas atividades de forma mais
global. Conforme observa Donaire:
A justificativa para o sentido de responsabilidade social por parte da
empresa fundamenta-se na liberdade que a sociedade concede à empresa
para existir. Podemos considerar a existência de um contrato social. Uma
empresa [...] tem a liberdade de existir e trabalhar por um objetivo legítimo.
O pagamento dessa liberdade é a contribuição da empresa para com a
sociedade. (DONAIRE, 1999, p. 20)
41
Para Melo Neto e Froes (2001, p. 84), a responsabilidade social empresarial
está diretamente relacionada com os seguintes fatores concernentes ao âmbito da
empresa:
consumo de recursos naturais, que são de propriedade da
Humanidade;
consumo de capitais financeiros e tecnológicos e pelo uso da
capacidade de trabalho pertencente a pessoas físicas, integrantes da
comunidade;
ao apoio que recebe do Estado, fruto da mobilização da sociedade.
A empresa, neste sentido, deve prestar contas à sociedade sobre o seu
desempenho, baseado na “apropriação e uso de recursos que originariamente não
lhe pertencem”. A empresa gira em função da sociedade e do que a ela pertence e
deve devolver em troca, no mínimo, a prestação de contas sobre a eficiência com a
qual utiliza esses recursos (MELO NETO e FROES, 2001, p. 84). Sendo assim, as
empresas devem desenvolver projetos voltados à comunidade e aos colaboradores
com vistas a minimizar problemas sociais, muitas vezes ocasionados pelas próprias
empresas, contribuindo desta forma para assegurar um meio ambiente saudável e
propício às futuras gerações.
Nascimento et al (2008) salienta que a RSE é uma estratégia interessante
para as empresas, em longo prazo, pois os consumidores social e ambientalmente
conscientes, optarão por produtos e serviços de uma empresa que demonstre
preocupação com a sua qualidade de vida e bem-estar. Além disso, as empresas
que possuem princípios baseados na responsabilidade social, não apenas cumprem
as suas obrigações legais, mas vão além por meio da sustentação de relações
éticas e transparentes, conquistando assim, condições para manter um melhor
relacionamento com os stakeholders. O Uniethos salienta que:
a pequena empresa que adota a filosofia e práticas da RSE, tende a ter
uma gestão mais consciente e maior clareza quanto à própria missão.
Consegue um melhor ambiente de trabalho, com maior comprometimento
de seus funcionários, relações mais consistentes com seus fornecedores e
clientes e melhor imagem na comunidade. Tudo isso contribui para sua
permanência e seu crescimento, diminuindo o risco de mortalidade, que
costuma ser alto entre os novos negócios (UNIETHOS, 2007).
Desta forma, observa-se que as empresas que adotam uma postura
socialmente responsável, contribuem para a construção de uma sociedade mais
justa e solidária.
42
Melo Neto e Froes (2001, p. 96) apresentam como alguns benefícios
decorrentes das ações sociais da empresa:
ganhos de imagem corporativa;
popularidade dos seus dirigentes, que se sobressaem como
verdadeiros líderes empresariais com elevado senso de
responsabilidade social;
maior apoio, motivação, lealdade, confiança e melhor desempenho dos
seus funcionários e parceiros;
melhor relacionamento com o governo;
maior disposição dos fornecedores, distribuidores, representantes em
realizar parcerias com a empresa;
maiores vantagens competitivas (marca mais forte e mais conhecida,
produtos mais conhecidos);
maior fidelidade dos clientes atuais e possibilidades de conquista de
novos clientes.
Para Tachizawa (2002), a responsabilidade social e a gestão ambiental são
motivadas pela mudança nos valores da cultura empresarial. Desta forma, o
conceito de Gestão Ambiental e Responsabilidade Social estão intimamente
relacionados.
Sendo assim, adotou-se a ótica de Barbieri (2004), a qual salienta que a
questão sócio-ambiental em uma empresa deve ser considerada buscando atender
às necessidades humanas, respeitando as limitações do meio ambiente que não são
estáticas e que devem ser ampliadas com o intuito de atender a todos. Nesta
conjuntura, a abordagem sócio-ambiental reconhece o valor da natureza e a utiliza
para atender às necessidades humanas, garantindo seu bem estar e qualidade de
vida, bem como a capacidade de suporte do meio ambiente, impedindo o
esgotamento de recursos e deixando como legado às gerações futuras um ambiente
saudável.
Considerou-se também a ótica de Nascimento et al (2008) que salienta a
inter-relação entre os impactos sociais, econômicos e ambientais e a importância de
ampliar o conceito de Responsabilidade Social proposto pelo WBCSD (Conselho
Organizacional Mundial para o Desenvolvimento Sustentável) incluindo a palavra
ambiental, adequando-se às necessidades teóricas atuais e a necessidade do
presente trabalho:
Responsabilidade social [sócio-ambiental] corporativa é o
comprometimento permanente dos empresários de adotar um
comportamento ético e contribuir para o desenvolvimento econômico,
melhorando, simultaneamente, [a qualidade ambiental] e a qualidade de
vida de seus empregados, de suas famílias, da comunidade local e da
sociedade como um todo (NASCIMENTO et al, 2008, p. 18).
43
A implementação da dimensão sócio-ambiental nas empresas é mais difícil,
pois engloba:
valores fundamentais da vida em sociedade, como os direitos humanos,
dos empregados e de grupos de interesse, a proteção do meio ambiente, a
relação com as associações representativas da comunidade e com
fornecedores, o monitoramento e avaliação de desempenho, entre outros.
Ou seja, o conceito de RSC deve enfatizar o impacto das atividades da
organização sobre os seus stakeholders (partes interessadas) internos e
externos (NASCIMENTO et al, 2008, p. 18).
Melo Neto e Froes (apud BREDA, 2004, p. 76) salientam que a gestão
ambiental não deve ser o foco principal a ser alcançado pelas empresas socialmente
responsáveis.
Uma empresa socialmente responsável no campo ambiental destaca-se
pela sua excelência em política e gestão ambiental, pela sua atuação como
agente de fomento do desenvolvimento sustentável local e regional, e de
preservação da saúde, da segurança e da qualidade de vida de seus
empregados e da comunidade situada ao seu redor, e pela inserção da
questão ambiental como valor de sua gestão e como compromisso, sob a
forma de missão e visão do seu desempenho empresarial.
Para Nascimento et al (2008), a gestão sócio-ambiental estratégica pode
servir como instrumento para identificar e avaliar: os danos ambientais ocasionados,
formas para minorá-las, as causas da poluição, os impactos sociais que o dano
ambiental gera e também auxilia na formulação de planos e projetos de ação que
possibilitem integrar estes temas. Sendo assim, para compreender o impacto
ambiental das ações da empresa sobre a comunidade e o meio ambiente, deve-se
analisar de forma ampla a comunidade e a natureza, neste sentido, pode-se utilizar
como exemplo a poluição de um rio, visto que
não é possível analisar a poluição de um rio apenas do ponto de vista
ambiental, pois a poluição do rio causa também problemas sociais e
econômicos quando mata o peixe que alimenta o pescador, afasta o turista
que usufruía daquela área, provoca doenças nas comunidades que se
abastecem daquela água, etc. [...] Percebe-se no exemplo citado, que a
questão econômica não pode ser deixada de lado, pois o pescador não
terá mais sua fonte de renda, a remediação terá um custo, a população
terá de ser abastecida de água por outra fonte, provavelmente mais cara
do que a captação da água do rio. Ou seja, o dano ambiental provoca uma
elevação dos custos aos usuários diretos e indiretos do recurso natural
atingido. Como podemos perceber, tudo está interligado, como numa
rede ou numa teia a teia da vida (CAPRA apud NASCIMENTO et al,
2008, p. 19, grifo da autora).
Neste contexto, ações de cunho sócio-ambiental são cada dia mais cruciais,
especialmente no setor curtumeiro, uma vez que este abrange indústrias com alto
44
poder de degradação ambiental, caso não se tome os cuidados tanto ao longo do
processo produtivo quanto no descarte final dos resíduos e efluentes.
O próximo tópico apresenta um breve histórico sobre a questão sócio-
ambiental que permitiram uma mudança de postura com relação aos recursos
naturais e o respeito com a natureza e com o bem estar e qualidade de vida da
sociedade.
2.2 A questão sócio-ambiental e a evolução da consciência ecológica
O mundo experimentou nos últimos anos, uma intensa mudança de postura.
A Questão Social e Ambiental, tão discutida atualmente, passou por vários estágios
até ser vista como fator que impulsiona à adoção de instrumentos necessários ao
planejamento estratégico das empresas, pretendendo buscar uma sociedade mais
justa, com menos desigualdade e com um meio ambiente equilibrado. Neste sentido,
este tópico procurou resgatar alguns fatos relevantes que permitem compreender a
atualidade da gestão ambiental e da responsabilidade social.
Segundo Braga et al (2002) a crise ambiental possui três componentes:
população, recursos naturais e poluição. A população cresce exponencialmente, e
uma questão emerge: até quando os recursos naturais serão suficientes para
sustentá-la? Com relação aos recursos naturais, estes se caracterizam como
qualquer insumo necessário à manutenção dos organismos, populações e
ecossistemas. A poluição pode ser definida como uma alteração indesejável nas
características químicas, físicas ou biológicas dos diversos componentes da biosfera
que possam causar prejuízo à qualidade de vida dos seres vivos ou deterioração de
materiais. No entanto, esta poluição é associada às intervenções do homem no meio
ambiente (BRAGA et al, 2002). A utilização dos recursos naturais pela população
gera a poluição. Sendo assim, o equilíbrio entre estes três elementos é o que pode
garantir a qualidade de vida na Terra.
milênios o homem promove adaptações no meio ambiente visando a sua
subsistência, a melhoria de seu conforto, o acúmulo de riquezas, dentre outros. Com
isso, o homem desenvolveu uma incrível capacidade intelectual, de adaptação ao
ambiente natural e de modificação da natureza e criou ecossistemas artificiais, com
características distintas dos ecossistemas naturais: é o mundo da economia global
baseada na tecnologia (SEIFFERT, 2007). Estes ecossistemas artificiais tem como
45
característica marcante um nível elevado de entropia
5
. Os sistemas criados pelo
homem são insustentáveis, pois apresentam grande perda de energia que não pode
ser aproveitada, trazendo inúmeros impactos ambientais que comprometem a
qualidade de vida do homem e os ecossistemas naturais.
Significa que os sistemas criados pelo homem não são capazes de serem
sustentáveis ou autônomos. A 2º Lei da Termodinâmica
6
discorre que não existe a
reciclagem completa da energia. Sendo assim, todo o trabalho realizado sofre perda
na qualidade de sua energia.
Uma conseqüência ambiental desta lei é o aumento da entropia, isto é, a
tendência da globalização da poluição. [...] Para as indústrias, se for
desprezado o problema da possível falta de energia, mesmo que exista
uma alta taxa de reciclagem de matéria, se o crescimento industrial
continuar a uma taxa incompatível, por mais que se recicle sempre haverá
a necessidade de se obter mais matéria e sempre sobrará detrito não
reciclável (BRAGA et al, 2002, p. 8-9).
Com a Revolução industrial, ocorrida aproximadamente 250 anos, no
século XVIII, e considerada “a mais radical transformação da vida humana
registrada em documentos escritos” (HOBSBAWM apud CALIA, 2007), a
degradação social e ambiental foi intensificada, pois a capacidade produtiva e de
transformação do homem sofreu grande alteração.
A introdução de máquinas no processo produtivo proporcionou ao homem a
capacidade de rápida, constante e ilimitada multiplicação de homens, serviços e
mercadorias, mudando desta forma o rumo da história do mundo (HOBSBAWM
apud CALIA, 2007). As perspectivas com o aumento das indústrias eram de que o
aumento das riquezas proporcionasse prosperidade e uma melhor qualidade de
vida. Todavia, o que se observou foi uma concentração da população em centros
urbanos, que trouxeram problemas como o aumento da pobreza, o aparecimento de
epidemias, de pragas e microorganismos causados pela falta de infra-estrutura e
pela ocupação e destruição de ambientes naturais, constatando-se assim uma
deterioração elevada do meio ambiente e da dignidade humana.
5
“A entropia [...] mede o grau de desorganização ou ineficiência de um sistema. Os sistemas gerados
pelo homem são extremamente entrópicos quando comparados aos sistemas naturais, uma
conseqüência natural da sua baixa autonomia local ou insustentabilidade” (SEIFFERT, 2007, p. 5).
6
A Lei da Termodinâmica estabelece que parte da energia que circula em um sistema tende a
perder-se para o meio, não podendo ser utilizada para produzir trabalho ou biomassa (SEIFFERT,
2007).
46
Neste sentido, observa-se que a emergência da questão social se deu a partir
das lutas sociais dos trabalhadores que romperam o domínio privado das relações
entre capital e trabalho extrapolando-a para a esfera a fim de exigir a “interferência
do Estado para legalizar direitos e deveres dos sujeitos sociais envolvidos” e garantir
melhores condições de vida e de trabalho, perante a grande miséria vivida pelos
operários desde a emergência do capitalismo, e especialmente após a Revolução
Industrial (IAMAMOTO apud BRANCO, 2006, p. 14).
Para tanto, com relação à questão social, adotou-se a ótica de Iamamoto e
Carvalho (apud BRANCO, 2006, p. 16), na qual salientam que:
A questão social não é senão as expressões do processo de formação e
desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político
da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do
empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social,
da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir
outros tipos de intervenção, mais além da caridade e da repressão.
Apesar da conceituação de questão social e seu surgimento relacionar-se
diretamente com o ambiente empresarial, visto que a humanidade despertou para
este aspecto por meio da grande pobreza que os operários enfrentavam, a questão
social propriamente dita, conforme Machado (s/d) “está enraizada na contradição
capital x trabalho”, sendo a categoria que “expressa a contradição fundamental do
modo capitalista de produção, fundada na produção e apropriação da riqueza
gerada socialmente: os trabalhadores produzem a riqueza, os capitalistas se
apropriam dela. É assim que o trabalhador não usufrui das riquezas por ele
produzidas”. Neste sentido, a questão social relaciona-se com o “ser humano”
representando uma perspectiva de análise da sociedade, avaliando a “situação em
que se encontra a maioria da população”, ressaltando as diferenças entre
trabalhadores e capitalistas, no acesso a direitos, nas condições de vida, analisando
desigualdades e buscando formas para superá-las.
Abordando o conceito de desenvolvimento sustentável, verifica-se que sua
definição é ampla, englobando não a poluição, o esgotamento dos recursos, a
busca por formas de preservação do meio ambiente, mas também adverte sobre os
problemas relacionados à pobreza, à falta de condições da população. Portanto, a
busca pela sustentabilidade envolve a conciliação entre desenvolvimento e
crescimento econômico, sendo sensível à questão social, ambientalmente correta e
economicamente viável. O desenvolvimento deve ocorrer de forma que atenda às
47
necessidades do presente e possibilite as gerações futuras atenderem às suas
necessidades (CMMAD apud BARBIERI, 1997, p. 23). Esse conceito possibilitou a
conscientização da sociedade para o fato de que a degradação ambiental contínua
pudesse prejudicar a qualidade de vida no futuro.
A partir da Revolução Industrial, novos processos industriais foram instalados,
com uma incrível capacidade de transformação de insumos e gerando expressiva
quantidade e diversidade de resíduos que, por sua composição, não sofrem a
decomposição quando dispostos na natureza. Tal fato agrava a cada dia o problema
da poluição ambiental, que passa a afetar a saúde e a qualidade de vida das
populações que vivem no entorno, tornando mais graves os problemas sócio-
ambientais.
Desde então, foi criada uma infinidade de substâncias químicas, dentre elas
os pesticidas utilizados para o controle de pragas na agricultura, modificando assim
as condições e trazendo impactos desconhecidos ao meio ambiente. Deste modo,
as condições da degradação vão mudando com o passar do tempo e das novas
tecnologias desenvolvidas.
As duas Guerras Mundiais, ocorridas no século XX, também interferiram
drasticamente e de modo negativo no meio ambiente. Trouxeram conseqüências
devastadoras, pois se verificou um desenvolvimento acelerado principalmente nas
áreas diretamente envolvidas nos conflitos. E esse surto de crescimento agravou os
problemas sócio-ambientais, ultrapassando as fronteiras nacionais, observando-se
pressões por parte da sociedade em favor da criação de legislações que
permitissem condições mínimas de trabalho e direitos aos trabalhadores, bem como
de condições ambientais dos recursos naturais e do meio ambiente como um todo.
No âmbito empresarial Pasa (2004) salienta que a evolução da questão social
constituiu-se de forças e pressões como: demandas e expectativas da sociedade,
legislação, turbulência do ambiente externo e grupos de interessados, que
constantemente exigem das empresas uma mudança nas suas estratégias, fato que
o presente trabalho estende à evolução da questão ambiental.
Um fato que impulsionou os questionamentos sobre a ação do homem no
meio ambiente foi a publicação do livro Silent Springem 1962, de Rachel Carson,
que conheceu os problemas relacionados com os pesticidas e no livro procurou
alertar e incentivar o público a reagir contra o abuso dos pesticidas químicos. A
publicação do livro de Rachel Carson estimulou a realização de encontros entre
48
cientistas, governos, comunidade em geral para discutir e promover o entendimento
sobre os problemas causados ao meio ambiente. Foi o despertar de uma
consciência ecológica e dos questionamentos sobre a ação humana na natureza e
suas conseqüências presentes e futuras.
Desde a publicação do livro de Rachel Carson, vários encontros foram
realizados com o intuito de discutir as ações humanas no meio ambiente. Dentre
esses se destacam: a instituição do Clube de Roma em 1970, que resultou no
documento “Os limites do crescimento”, a Conferência de Estocolmo em 1972, que
proporcionou a criação de organismos de fortalecimento da gestão institucional do
meio ambiente, tais como a UNEP (United Nations Environment Programme), o
WWF (Fundo Mundial para a Natureza), dentre outros. Destaca-se também a criação
da Comissão Brundtland em 1983, que resultou no relatório “Nosso futuro comum”, a
Rio 92, realizada no Rio de Janeiro e que produziu dois importantes documentos:
“Agenda 21” e a “Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento”, em
2002 a Rio + 10, considerada a maior conferência da história da ONU (Organização
das Nações Unidas) e em 2007 a divulgação dos relatórios do IPCC (Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas).
O quadro 6 apresenta alguns fatores que exerceram pressões sobre as
empresas brasileiras para uma mudança de postura frente às questões sociais e
ambientais. Como se pode observar, os fatores que impulsionaram uma mudança de
postura por parte das empresas, tanto social quanto ambiental, estão
intrinsecamente relacionados, visto que ocorreram concomitantemente em alguns
casos. Desta forma, percebe-se que a sociedade passou por diversas fases que
contribuíram sobremaneira para a formação da consciência ecológica e social.
49
Período
Pressão
Décadas de 40
e 50
Década de 60 Década de 70 Década de 80 Década de 90
Demandas da
sociedade
Novos produtos
e tecnologias
Expressão da
arte e cultura
Fim da ditadura
militar
Movimentos
sindicais
Re-democracia
Abertura
econômica
Proteção ao
meio ambiente
Solidariedade
Cidadania
Expectativas
da sociedade
Direitos sociais
e trabalhistas
Revolução
cultural
Movimentos
contracultura e
estudantis
Liberdade de
expressão
Movimentos
ambientalistas
Movimentos
sociais
Sociedade
global
Legislação
Consolidação
das leis
trabalhistas
Direitos
humanos
Atos
Institucionais –
A.I. de 1964,
1965 e A.I. 5 de
1968
Conferência de
Estocolmo
CONAMA
Nova
Constituição
Federal
Código de
defesa do
consumidor
Rio 92
Protocolo de
Kyoto
Ambiente
externo
II Guerra
Mundial
Invenção do
microship e da
energia nuclear
I Crise do
Petróleo
Invenção do
raio laser
II e III Crises do
Petróleo
Energia
alternativas
Expansão da
globalização
Explosão da
internet
Informação e
multimídia
Neoliberalismo
Principais
grupos de
envolvidos e
impactados
Governo
Trabalhadores
Artistas
Feministas
Minorias
Estudantes
Pacifistas
Sindicalistas
Trabalhadores
Ambientalistas
Movimentos
religiosos
Minorias raciais
Quadro 6 – Cenários e principais fatores de pressões sobre as empresas brasileiras
Fonte: Pasa (2004, p. 47).
Para Pasa (2004), as décadas de 1970 e 1980 foram decisivas na busca pelo
“pensar social” das organizações, visto que diversos acidentes ambientais
degradaram tanto a natureza, quanto a dignidade humana, ceifando milhares de
vidas, espécies animais e vegetais; impulsionado também pela explosão
demográfica, a discriminação social, racial, econômica, o aumento da miséria e da
pobreza nos países sub-desenvolvidos.
Pasa (2004, p. 45) salienta ainda que muito mais do que a evolução dos
conceitos e da sociedade, o “pensar social” “trata-se de uma revolução do
pensamento social que promoveu avanços e provocou a criação de leis de proteção
ambiental e social, uma postura mais dinâmica da sociedade civil de forma
organizada, entre outras coisas”. E com a evolução do tema social, houve também
uma revolução dos propósitos sociais. Desta forma, entram em cena “novos atores
que trazem consigo a preocupação com a preservação ambiental, direitos humanos,
50
saúde, educação, higiene e pobreza e que acusam as empresas de serem os
maiores responsáveis por essas desigualdades existentes” (PASA, 2004, p. 46).
Desta forma, observa-se que, a evolução do “pensar social” e da
consciência ambiental no âmbito empresarial, estão intimamente relacionadas,
tanto em sua essência quanto na sua evolução histórica, pois de certa forma, os
problemas sociais e ambientais, foram despertados quase concomitantemente, visto
que uma melhoria do meio ambiente tem reflexos diretos na melhoria da qualidade
de vida da população, bem como um meio ambiente desequilibrado prejudica o bem
estar da comunidade e não garante às futuras gerações o atendimento às suas
necessidades.
E este processo de evolução histórica da conscientização humana perante os
problemas econômicos, sociais e ambientais, são gerados pela ação do homem na
busca incessante pela satisfação pessoal, limitada pelas necessidades de
sustentação da coletividade (ALVES, 2007). Advém também da percepção de que a
poluição ambiental afeta a saúde da população e compromete o suprimento de
recursos ambientalmente saudáveis, e desta forma, propiciou o despertar de que o
homem é o sujeito mais afetado, e por isso deve ser o alvo de mudanças que
permitam a sua perpetuação, a longo prazo, fato que também engloba questões
sociais e de bem estar do indivíduo.
A sustentabilidade ambiental se baseia no “duplo imperativo ético de
solidariedade diacrônica com a geração atual e de solidariedade diacrônica com as
gerações futuras”. Esta noção de sustentabilidade força a atuação “com escalas
múltiplas de tempo e espaço, o que desarruma a caixa de ferramentas do
economista convencional” (VEIGA, 2006, p. 171). E busca soluções “triplamente
vencedoras”, isto é, nas dimensões social, econômica e ecológica, extinguindo desta
forma, o crescimento selvagem obtido por meio do custo de externalidades
negativas, tanto no âmbito social quanto no ambiental. Segundo Sachs (apud
VEIGA, 2006) a utilização de estratégias de curto prazo ou levam ao crescimento
ambientalmente destrutivo, mas socialmente favorável ou levam ao crescimento
ambientalmente favorável, mas socialmente destrutivo.
Neste sentido, o tópico seguinte apresenta a gestão ambiental como
ferramenta a ser utilizada no planejamento estratégico das empresas, seu histórico e
alguns conceitos.
51
2.3 A gestão ambiental como ferramenta para o alcance da sustentabilidade:
evolução histórica e conceitos
Este tópico tem como objetivo abordar conceitos de gestão ambiental, fazer
um breve histórico de seu aparecimento e consolidação, bem como elucidar
aspectos relacionados à geração de impactos ambientais pelas indústrias em geral.
Quando iniciou-se o processo de industrialização, as empresas eram vistas
como instituições econômicas, com a responsabilidade de resolver apenas o que,
como e para quem produzir. Aspectos ambientais não estavam relacionados com as
empresas. No entanto, observou-se que, mesmo com o crescimento econômico e o
surgimento de novas empresas, os índices de pobreza, degradação de áreas
urbanas, poluição da natureza cresciam cada dia mais (VEIGA, 2006).
A preservação ambiental como é tratada atualmente, sofreu um processo
histórico marcado pela degradação da qualidade dos recursos naturais e do meio
ambiente. Os problemas ambientais gerados ao longo dos anos e provocados por
processos industriais, levaram a humanidade ao debate internacional sobre medidas
para conter o avanço da degradação ambiental. O homem passou a repensar sua
postura em relação ao uso dos recursos naturais que o circundam.
Neste sentido, as empresas sempre foram grandes geradoras de resíduos e
contaminação, por conta de inúmeros acidentes ambientais ocorridos, como mostra
o quadro 7. No entanto, estes e outros acidentes acabaram por contribuir com o
avanço das discussões sobre os problemas ambientais, pois se constituíram em
acidentes gravíssimos e com conseqüências prejudiciais ao meio ambiente e ao ser
humano. Neste contexto, estes fatos impulsionaram a análise da gravidade dos
problemas ambientais causados pelas indústrias.
Outro fator que contribuiu para a inserção da variável ambiental no mundo
dos negócios foi o fato de que o prejuízo causado à imagem de empresas
envolvidas em acidentes ambientais estende-se por um longo período e demanda
alto investimento para ser recuperada. Sendo assim, um novo paradigma de gestão
passou a ser incorporado pelas empresas.
52
Ano Local Acidente Impacto Ambiental
1956
Baia de
Minamata -
Japão
Liberação de altas concentrações de
mercúrio liberado por uma indústria
química, contaminação que ocorria
desde 1939
Causou a morte de diversos moradores
1984
Bhopal -
Índia
Vazamento de 25 toneladas de gás
(isocianto metila) da fábrica da Union
Carbide
Causou a morte de 3.000 pessoas e a
intoxicação de 200.000
1986
Tchernobyl –
Antiga URSS A explosão de uma usina nuclear
provocou um incêndio que durou uma
semana
Lançamento na atmosfera de um volume
de radiação cerca de 30 vezes maior que
o da bomba de Hiroshima, espalhando-se
e atingindo vários países europeus e até o
Japão
1956
Basiléia -
Suiça Incêndio ocorrido em uma indústria
Derramamento de 30 toneladas de
pesticidas no Rio Reno, o que causou a
mortandade de peixes ao longo de 193 km
1989
EUA
Acidente com o navio tanque Exxon-
Valdez
Vazamento de cerca de 44 milhões de
litros de petróleo, atingindo uma área de
260 km
2
poluindo águas, ilhas, praias e
matando milhares de animais
2006
Rio Grande
do Sul –
Brasil
Contaminação do Rio Sinos por
detritos industriais e domésticos por
seis empresas, inclusive dos setores
coureiro e calçadista
Mortandade de 86 toneladas de peixes
Quadro 7 – Principais acidentes ambientais ocasionados por indústrias
Fonte: Elaborado pela autora baseado em Seiffert (2006) e Gerchmann (2006).
Nesta conjuntura, a partir da década de 1980, os gastos com proteção
ambiental passaram a ser vistos não como custos, mas como investimentos no
futuro e na vantagem competitiva, fator que conta com o respaldo de pesquisas
realizadas pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI) e do Instituto Brasileiro
de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), divulgadas em janeiro de 2002, as quais
apontam que 68% dos consumidores brasileiros estariam dispostos a pagar mais por
um produto que não agredisse o meio ambiente (TACHIZAWA, 2002).
E a preferência dos clientes por produtos que não degradam o meio ambiente
vêm crescendo com o passar dos anos. De acordo com uma pesquisa divulgada
pelo Instituto AKATU em 2008, 74% dos brasileiros querem comprar produtos que
não degradem o meio ambiente (ARINI e FERREIRA, 2008). E as exigências
ecológicas por parte dos consumidores devem crescer ano a ano, é uma tendência
irreversível de acordo com Arini e Ferreira (2008).
A introdução dessa nova conscientização contou com a influência da
realização da Eco 92, no Rio de Janeiro, onde foi discutida a necessidade de
desenvolvimento, mas de forma sustentável, que chegou-se à conclusão que não
há conflito entre lucratividade e a questão ambiental (TACHIZAWA, 2002) e que sem
os recursos da natureza não há desenvolvimento a longo prazo, sendo assim, os
investimentos feitos na busca de uma gestão ecologicamente correta, significam
53
vantagens competitivas, redução de custos e até incrementos nos lucros a médio e
longo prazo.
Desta forma, no momento em que se sentiu a necessidade de adotar medidas
para conter o avanço da degradação ambiental, as indústrias, diante da pressão de
legislações específicas e dos consumidores, passaram a adaptar seus processos de
forma a obter uma boa imagem institucional no mercado atuando de forma
ecologicamente responsável.
Essa nova forma de gestão pode ser entendida como as diferentes atividades
administrativas e operacionais realizadas pela empresa para abordar problemas
ambientais decorrentes da sua atuação ou para evitar que eles ocorram no futuro
(BARBIERI, 2004). É a gestão ambiental que cuida da identificação, avaliação,
controle, monitoramento e redução dos impactos ambientais a níveis pré-definidos
pelas legislações. Para a CNI, no artigo “Empresa verde, balanço azul” publicado no
Anuário 2007 Análise Ambiental, a gestão ambiental tornou-se um importante
instrumento de modernização e competitividade das indústrias e para o alcance do
desenvolvimento sustentável.
No panorama nacional, a partir da década de 1990 a responsabilidade
corporativa, incluindo a gestão ambiental e a responsabilidade social, foi observada
com maior intensidade, visto que a adoção de sistemas de melhorias nos processos
produtivos apresenta inúmeras vantagens operacionais e competitivas, tais como as
retratadas no quadro 8:
Benefícios econômicos Benefícios estratégicos
Economia de custos
Melhoria da imagem institucional
Economia devido à redução do consumo de água,
energia e outros insumos
Renovação do portfólio de produtos
Economia devido à reciclagem, venda e
aproveitamento de resíduos e diminuição de efluentes
Aumento da produtividade
Redução de multas e penalidades por poluição Alto comprometimento do pessoal
Incremento de receitas
Melhoria nas relações de trabalho
Aumento da contribuição marginal de “produtos
verdes” que podem ser vendidos a preços mais altos
Melhoria e criatividade para novos desafios
Aumento da participação no mercado devido à
inovação dos produtos e menor concorrência
Melhoria das relações com os órgãos governamentais,
comunidade de grupos ambientalistas
Linhas de novos produtos para novos mercados Acesso assegurado ao mercado externo
Aumento da demanda para produtos que contribuam
para a diminuição da poluição
Melhor adequação aos padrões ambientais
Quadro 8 – Benefícios da gestão ambiental
Fonte: Adaptado pela autora com base em Donaire (1999, p. 59)
54
Para Fischer (2000) as organizações têm promovido transformações que
permitem solucionar algumas carências da sociedade, uma vez que a conjuntura
atual não permite que a empresa fique omissa frente às necessidades da
comunidade.
Dias (2006) ressalta que as empresas são as principais responsáveis pelas
alterações ocorridas nos recursos naturais, de onde obtêm a matéria-prima que será
empregada na produção de bens. De acordo com a Lei da Conservação da Massa
(BRAGA et al., 2002) a geração de resíduos é inerente ao processo de
transformação da matéria-prima em produtos, bem como em todas as atividades dos
seres vivos. Isto ocorre porque não é possível consumir a matéria até a sua
aniquilação. No entanto, os resíduos podem ser incorporados ao meio ambiente
para serem posteriormente reutilizados, pois na natureza tudo é aproveitado. O que
ocorre atualmente é que a quantidade de resíduos gerados é maior do que a
capacidade de assimilação da natureza, bem como formas e composição, que
impedem muitas vezes a sua reciclagem e degradação. Sendo assim, é impossível
ao homem produzir bens sem que um impacto ambiental
7
seja causado. No entanto,
grande parte dos resíduos gerados tem origem devido à ineficiência dos processos
produtivos (DIAS, 2006).
Somando-se a este fato está o consumo exacerbado de recursos naturais,
desconsiderando o tempo de recomposição destes na natureza, o que provocou
extinção de espécies de animais, vegetais e pode provocar esgotamento futuro de
diversos recursos essenciais ao homem como a água, o ar limpo e diversos outros.
Neste aspecto, Rampazzo (apud SEIFFERT, 2007) aponta que, enquanto a lei da
entropia estabelece limites materiais e energéticos, o capitalismo gera uma
necessidade infinita de expansão da produção, enquanto a entropia revela uma
questão qualitativa, o capitalismo é regido pelas regras quantitativas do mercado.
Estes aspectos tornam o atual modelo de desenvolvimento capitalista-industrial
insustentável, pois são dois caminhos que apontam a direções opostas.
Sendo assim, a necessidade da gestão ambiental nas indústrias apóia-se em
um dos conceitos abordados por Seiffert (2006, p. 22) que menciona entre as
7
A ISO 14001 (1996) define impacto ambiental como qualquer modificação no meio ambiente,
benéfica ou adversa que resulte das atividades, produtos ou serviços de uma organização. Ainda
segundo a ISO 14001, aspecto ambiental é o elemento proveniente das atividades da organização
que pode interagir com o meio ambiente, podendo causar o impacto.
55
definições do desenvolvimento sustentável a administração responsável, na qual os
processos produtivos e financeiros devem ser elaborados de forma a causar o
menor impacto no meio ambiente, sendo responsáveis com relação ao objeto de
suas ações. Quando surgiu o conceito de desenvolvimento sustentável, passou-se a
analisar o desenvolvimento aliado à conservação do meio ambiente, pois se concluiu
que não há conflito entre esses dois fatores, e “no conceito de conservação está
implícito o uso racional de um recurso qualquer, o que pressupõe um manejo de
forma a obter rendimentos economicamente viáveis, garantindo, todavia, sua
renovação e auto-sustentação”.
Para Donaire (1999) cada vez mais a questão ambiental é assunto de
destaque, pois com a globalização, a internacionalização do conceito de qualidade
ambiental através da ISO 14001 e a conscientização dos consumidores, pode-se
concluir que será ainda maior a exigência de uma postura de conservação do meio
ambiente por parte das empresas. E com esse novo paradigma, a questão ambiental
deve ser tratada nas organizações de maneira ria e objetiva, de acordo com
Martinelli (2003), passando a apresentar uma visão de longo prazo, evidenciando
estratégias consistentes dos negócios, deixando de lado visões de curto prazo. De
acordo com Martinelli e Cotrin (2003, p. 5),
É fundamental que as empresas considerem a importância da
internacionalização da variável ecológica de forma efetiva no dia a dia das
suas atividades e não apenas de forma isolada, somente em momentos, ou
numa visão parcial de alguns dos setores envolvidos na sua gestão.
A variável ambiental pode ser inserida nas empresas como uma forma de
atuar na questão do meio ambiente, integrando-a na estratégia de negócios através
de uma política ambiental
8
, buscando tornar a organização e seu processo produtivo
ambientalmente sustentável e, assim, menos nocivo ao meio ambiente.
Para Tolba (apud OMETTO e GUELERE FILHO, 2008, p. 3) a gestão
ambiental não deve apreender apenas o gerenciamento do meio ambiente, mas
deve ser entendida como o “gerenciamento adequado das atividades humanas, para
que estas não comprometam a qualidade do meio pelo uso acima da capacidade de
suporte, ou seja, apresentem a viabilidade ambiental”.
De acordo com Tachizawa (2002, p.24):
8
Ver tópico 3.2.4 Sistemas de Gestão Ambiental e a ISO 14000.
56
A gestão ambiental é a resposta natural das empresas ao novo cliente, o
consumidor verde e ecologicamente correto. A empresa verde é sinônimo
de bons negócios e no futuro será a única forma de empreender negócios
de forma duradoura e lucrativa. Em outras palavras o quanto antes as
organizações começarem a enxergar o meio ambiente como seu principal
desafio e como oportunidade competitiva, maior será a chance de que
sobrevivam.
Para as organizações um desafio é lançado: fazer com que as forças de
mercado protejam e melhorem a qualidade do ambiente com a ajuda de padrões
baseados no desempenho e uso criterioso de instrumentos econômicos, num quadro
harmonioso de regulamentação, na busca de satisfazer os clientes que desejam
“interagir com organizações que sejam éticas e tenham boa imagem institucional no
mercado e que atuem de forma ecologicamente responsável.”(TACHIZAWA, 2002,
p. 23).
Portanto, a postura dos clientes e da sociedade em geral evoluiu, como pôde-
se observar, de um completo desinteresse com o meio ambiente, utilizando recursos
sem visualizar o seu esgotamento futuro, para assumir uma atitude ecologicamente
responsável, exigindo cada dia mais das organizações a atuação ambientalmente
correta. E essa tendência de preservação ambiental e ecológica por parte das
organizações deve continuar de forma permanente e definitiva como afirma
Tachizawa (2002, p. 23-24), pois deve-se levar em conta que:
a) não conflito entre lucratividade e a questão ambiental; b) o movimento
ambientalista cresce em escala mundial; c) clientes e comunidade em geral
passam a valorizar cada vez mais a proteção do meio ambiente; d) a
demanda e, portanto, o faturamento das empresas passam a sofrer cada
vez mais pressões e a depender diretamente do comportamento de
consumidores que enfatizarão suas preferências para produtos e
organizações ecologicamente corretos.
Proporcionalmente, ainda são poucas as indústrias que preocupam-se em
tornar seus processos ecologicamente mais eficientes, e quando o fazem é mais por
exigência de órgãos governamentais do que pela adoção de uma postura
efetivamente responsável no âmbito social e ambiental, fato constatado por pesquisa
da CNI em 2004 (DIAS, 2006) na qual 45,2% das empresas relataram que a
principal razão para adotar medidas gerenciais relacionadas à gestão ambiental é
atender às leis e regulamentos ambientais. Não obstante, é crescente o número de
empresas que adotam ações de gestão ambiental, tornando-se um importante
instrumento de competitividade salientado por outra pesquisa realizada pela CNI que
57
detectou que o número de indústrias com algum tipo de proteção ambiental subiu de
68,5% em 2003 para 73,5% em 2006 nas pequenas empresas, que apontaram ser
uma questão de sobrevivência na busca de melhorar a qualidade dos produtos;
aumentar a competitividade, atender aos consumidores com preocupações
ambientais, melhorar a imagem perante a sociedade (Informativo de Meio Ambiente
da Fiesp, Maio 2006). Portanto, ainda muito que se evoluir no que diz respeito à
conscientização ambiental.
Após todos esses acontecimentos, é conhecida uma nova fase com o
envolvimento de Organizações Não-Governamentais ambientalistas e empresas,
que concordaram ser impossível discutirem meio ambiente sem incluir as decisões
que orientam investimentos econômicos. Assim, significativas mudanças de
paradigmas introduziram um novo contexto empresarial, caracterizado como a
gestão de negócios de forma socialmente responsável e ecologicamente correta,
apoiada em gestores responsáveis, cada um em sua área de atuação, pelas
atividades fins e atividades meios das organizações.
A proteção ambiental passou a ser uma função da administração, o ambiente
passou a ser visto como um sistema, no qual as ações praticadas por um membro
afetam todo o ambiente, exigindo das organizações: uma postura de gestão
ambiental e de responsabilidade social para se manter num mercado com clientes,
cada dia mais, social e ecologicamente conscientes, ter uma boa imagem
institucional, cultivar um futuro próspero atendendo às novas exigências
mercadológicas e conservar a sustentabilidade ecológica, cada dia mais debilitada
pelos desgastes ambientais provenientes de anos de despejos de resíduos e uso
indiscriminado dos recursos naturais.
Neste sentido, o capítulo seguinte apresenta algumas ferramentas e
instrumentos de gestão e auxílio para o alcance dos objetivos ambientais da
empresa, visando aplicar nos processos, produtos e serviços ações proativas de
gestão ambiental com uma postura preventiva de controle da poluição, bem como de
responsabilidade social com ações voltadas à comunidade.
58
CAPÍTULO 3. INSTRUMENTOS DE GESTÃO SOCIAL E AMBIENTAL:
FERRAMENTAS PARA A SUSTENTABILIDADE
EMPRESARIAL
A adoção de instrumentos de gestão das questões sociais e ambientais nas
empresas é crucial para que estas alcancem a sustentabilidade. Neste sentido, este
capítulo apresenta o referencial teórico que norteou os objetivos propostos para a
elaboração deste trabalho, que são os Instrumentos de Gestão Sócio-Ambientais,
visando resgatar algumas ferramentas de gestão social e ambiental que auxiliam as
organizações a gerir seus sistemas de forma a aproximá-la do modelo almejado
para as empresas atuais no quesito responsabilidade social e ambiental.
Primeiramente trata-se dos instrumentos de gestão da responsabilidade
social abordando algumas certificações e selos voltados à questão sócio-ambiental
dentro da organização e a metodologia proposta pelo Instituto ETHOS, os
Indicadores ETHOS de Responsabilidade Social que possibilitam investigar os
aspectos sociais da empresa. Na segunda parte, abordam-se algumas ferramentas
de gestão ambiental, começando pelas legislações e licenciamentos ambientais,
perpassando pela P+L, pela ISO 14000 e a importância de aliá-la a programas de
P+L com vistas a aumentar seu desempenho ambiental e, finalmente, pela
apresentação de aspectos importantes da abordagem sistêmica que permitem
utilizá-la como um instrumento na busca de soluções para problemas sócio-
ambientais das empresas, especialmente no setor coureiro, que é o foco do
presente trabalho.
3.1 Instrumentos de gestão da responsabilidade social
Como tratado anteriormente, é crescente a necessidade da adoção de
ferramentas que permitem gerir um sistema de responsabilidade social, visto que
ações neste sentido, tornam-se cada dia mais institucionalizadas e cruciais para a
perpetuação da empresa no mercado “verde” e globalizado. Neste sentido,
constantemente são criadas ferramentas e instrumentos de gestão da
responsabilidade social, visando alcançar a excelência empresarial, do ponto de
vista ético e social. Dentre estas ferramentas e metodologias estão: alguns selos e
certificações sócio-ambientais e os Indicadores ETHOS de Responsabilidade Social.
59
3.1.1 Certificações e Selos
Segundo Nascimento et al (2008), a década de 1970 ficou conhecida como a
época do “comando-controle”, visto que foram criados inúmeros instrumentos de
regulamentação e controle ambiental.
A partir daí, inúmeros selos e certificações foram desenvolvidos, elaborados e
divulgados, com o objetivo de elevar a qualidade dos produtos e serviços. A
utilização de selos e certificados permite melhorar a imagem da empresa perante os
consumidores, sendo um fator que pode determinar a decisão de compra dos
consumidores. A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2009) salienta
que:
A certificação é uma modalidade de avaliação da conformidade realizada
por uma organização independente das partes diretamente envolvidas na
relação comercial. Certificar um produto, serviço ou sistema significa
comprovar junto ao mercado e aos clientes que a organização possui um
sistema de fabricação controlado, investe em treinamento de pessoal ou
possui sistema de gestão ativo, garantindo que as atividades especificadas
estão de acordo com as normas.
Qualquer empresa pode obter certificações, no entanto, ela precisa dispor de
instalações, pessoal, procedimentos e equipamentos que apresentem condições
para obter produtos e serviços conformes de maneira contínua, devendo demonstrar
a adoção de medidas que controlem as suas atividades de forma eficiente. Ainda
segundo a ABNT (2009) alguns dos benefícios da certificação:
Assegurar eficiência e eficácia do produto, serviço ou sistema.
Assegurar que o produto, serviço ou sistema atende às normas.
Introduzir novos produtos e marcas no mercado.
Fazer frente à concorrência desleal.
Reduzir perdas no processo produtivo e melhorar a sua gestão.
Melhorar a imagem da organização e de seus produtos ou atividades
junto aos clientes.
Diminuir controles e avaliações por parte dos clientes.
Segundo Cultri (2005), “a normatização está presente em todos os
procedimentos desde a fabricação de produtos até a comercialização e é composta
de objetivos econômicos, comunicativos, de segurança, de proteção ao consumidor
e de eliminação de barreiras técnicas e comerciais”, conforme quadro 9:
60
Objetivos Benefícios
Economia Proporcionar a redução da crescente variedade de produtos e procedimentos
Comunicação Proporcionar meios mais eficientes na troca de informação entre o fabricante e
o cliente, melhorando a confiabilidade das relações comerciais e de serviços
Segurança Proteger a vida humana e a saúde
Proteção ao consumidor Prover a sociedade de meios eficazes para aferir a qualidade dos produtos
Eliminação de barreiras
técnicas e comerciais
Evitar a existência de regulamentos conflitantes sobre produtos e serviços em
diferentes países, facilitando assim, o intercâmbio comercial
Quadro 9 - Objetivos da normatização
Fonte: Adaptado de Inmetro (apud CULTRI, 2005, p. 56)
A normatização pode ser nacional ou internacional. Como exemplos, pode-se
citar:
ABNT NBR 16001: 2004 norma brasileira de certificação do Sistema
de Responsabilidade Social. Esta norma estabelece requisitos mínimos
para um sistema de gestão da responsabilidade social, e permite à
empresa formular e implementar uma política e objetivos que
considerem aspectos legais, compromissos éticos e sua preocupação
com a promoção da cidadania e do desenvolvimento sustentável, bem
como a transparência das suas atividades.
ABNT NBR ISO 14001:2004 norma internacionalmente reconhecida
que certifica o Sistema de Gestão Ambiental.
Com relação à gestão ambiental, há também as rotulagens ambientais, que
podem ser expressas nas embalagens dos produtos, criadas com o objetivo de
aperfeiçoar as condições ambientais do produto e diferenciá-los por meio de um selo
verde. Segundo Barra e Renofio (2008), somente 5 programas de rotulagem
ambiental
9
contemplam critérios definidos para a indústria do couro: Nordic Swan
nos Países Nórdicos, Ecomark Scheme of India na Índia, European Ecolabel na
União Européia, Korean Eco-label na Coréia, Stichting Milieukeur nos Países Baixos.
Quanto à Responsabilidade Social foi criado em 1995 o Instituto Empresarial
de Apoio à Formação da Criança e do Adolescente Pró-Criança, mais conhecido
como Instituto Pró-criança, com vistas a erradicar o trabalho infantil da cadeia
produtiva calçadista de Franca, “considerando a responsabilidade social restrita ao
grupo de empresas associadas ao instituto” (ALVES, 2007, p. 132). Os dois
9
Barra e Renofio (2008) fez uma pesquisa buscando averiguar se os programas de rotulagem
ambiental com critérios estabelecidos para o couro bovino são passíveis da confiança dos
consumidores.
61
objetivos principais do Instituto Pró-Criança são: “1) Mobilizar, envolver, articular,
organizar e apoiar ações que tenham por objetivo promover a educação, visando ao
pleno desenvolvimento da criança e do adolescente, seu preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho e 2) combater o trabalho infantil” (ALVES,
2007, p. 136). A figura 1 apresenta o modelo do selo concedido às empresas
parceiras.
Figura 1: Selo Instituto Pró-Criança
Fonte: Homepage do Instituto Pró-Criança (2009)
Segundo o Instituto Pró-Criança (2009) estes selos são disponibilizados para
os parceiros atestando que a empresa não utiliza mão de obra infantil. As empresas
que utilizam este selo são auditadas bimestralmente. Os recursos disponibilizados
pelos empresários são revertidos pelo Instituto em bolsas de estudo em várias áreas
como ballet, natação, futebol, basquete, inglês, espanhol, auxiliar de escritório,
música, informática, mecânica de automóveis e jovem cidadão, que atende crianças
que necessitam de uma oportunidade.
Outro selo bastante divulgado é selo “Empresa Amiga da Criança” criado pela
Fundação Abrinq em 1990 com o objetivo de conscientizar a população sobre a
exploração do trabalho infantil, além de desenvolver ações para reduzir o emprego
de crianças e garantir seus direitos básicos de educação e lazer (CULTRI, 2005). A
Fundação Abrinq considera como Empresa Amiga da Criança aquela que assume
compromissos em benefício da infância e adolescência, realizando ações sociais
para o público interno e a comunidade. A Fundação Abrinq desenvolve vários
programas e projetos que garantem a implementação dos direitos da criança e do
adolescente. Alguns projetos ativos atualmente estão relacionados no quadro 10:
62
Programa Empresa Amiga da Criança
Mobiliza e reconhece empresas que realizam ações sociais para o público interno e
comunidade, promovem e divulgam os direitos da criança e do adolescente do Brasil.
Programa Nossas Crianças
Mobiliza e articula recursos técnicos e financeiros da sociedade civil que possibilitem um
atendimento de qualidade a crianças e adolescentes em organizações sociais.
Projeto Mudando a História
Oferece oportunidade de engajamento a jovens para que atuem de forma propositiva na sua
comunidade por meio da atividade de mediação de leitura e da multiplicação desta ação.
Programa Adotei um Sorriso
Engaja profissionais voluntários que possam contribuir com a melhoria da qualidade de vida
de crianças e adolescentes em organizações sociais de atendimento capacitadas para
identificar sua própria necessidade de apoio profissional e para utilizá-lo.
Programa Biblioteca Viva
Propicia o acesso a livros de qualidade e à mediação de leitura feita por educadores
capacitados, ampliando as oportunidades culturais e educacionais de crianças e
adolescentes.
Quadro 10: Programas e Projetos da Fundação Abrinq
Fonte: Adaptado de Fundação Abrinq (2009) e Cultri (2005)
Sendo assim, observa-se que, atualmente, são disponibilizados aos
empresários vários selos e certificações, e são criadas instituições com vistas a
auxiliar a empresa a atuar de forma social e ambientalmente mais aceitáveis. Neste
sentido, o trabalho segue, abordando os Indicadores ETHOS de Responsabilidade
Social.
3.1.2 Indicadores ETHOS de Responsabilidade Social
O Instituto ETHOS de Responsabilidade Social disponibiliza em sua
homepage diversas publicações que objetivam contribuir para que a
Responsabilidade Social Empresarial seja incorporada no universo das empresas de
pequeno, médio e grande porte.
Uma destas ferramentas, os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social,
proporciona à empresa que a utiliza uma auto-avaliação e aprendizado da gestão
empresarial no que concerne à adoção e incorporação de práticas de
responsabilidade social no planejamento estratégico. Estes Indicadores são
estruturados em forma de questionário, e a sua aplicação consiste num processo de
levantamento e preenchimento de dados que, posteriormente, são enviados pelo
sistema ao Instituto ETHOS, que geram um diagnóstico remetido às empresas.
Os Indicadores permitem um aprofundamento do comprometimento da
empresa com a responsabilidade social e com o desenvolvimento sustentável,
fatores fundamentais e que provocam um grande impacto na economia e na
63
sociedade brasileira. Geram reflexões sobre os relacionamentos da empresa nos
seus valores, na transparência com que lida com suas obrigações, também
referentes a governança, no relacionamento com o seu público interno, na forma
como lida com o meio ambiente, no tipo de relação que possui com os fornecedores,
consumidores e clientes, em como lida com a comunidade à qual pertence e, por
fim, a contribuição que oferece ao comunicar-se com o governo e sociedade
(CUSTODIO e MOYA, 2007). Nascimento et al (2008) salienta que os indicadores
estão divididos em sete temas, que se subdividem em áreas que possuem seus
aspectos, como mostra o quadro 11:
TEMAS ÁREAS ASPECTOS
Auto regulação da
conduta
Compromissos éticos
Enraizamento da cultura organizacional
Governança corporativa
Valores,
transparência e
governança
Relações
transparentes com a
sociedade
Diálogo com as partes interessadas
Relações com a concorrência
Balanço social
Diálogo e
participação
Relações com sindicatos
Gestão participativa
Respeito ao indivíduo
Compromisso com o futuro das crianças
Valorização da diversidade
Público Interno
Trabalho decente
Política de remuneração, benefício e carreira
Cuidado com saúde, segurança e condições de trabalho
Compromisso com o desenvolvimento profissional e empregabilidade
Comportamento frente às demissões
Preparação para a aposentadoria
Responsabilidade
frente às gerações
futuras
Comprometimento da empresa com a melhoria da qualidade
ambiental
Educação e conscientização ambiental
Meio ambiente
Gerenciamento do
impacto ambiental
Gerenciamento do impacto no meio ambiente e do ciclo de vida de
produtos e serviços
Minimização de entradas e saídas de materiais da empresa
Fornecedores
Seleção e parceria
com fornecedores
Critérios de seleção e avaliação de fornecedores
Trabalho infantil na cadeia produtiva
Trabalho forçado na cadeia produtiva
Relações com trabalhadores terceirizados
Apoio ao desenvolvimento de fornecedores
Consumidores
e clientes
Dimensão social do
consumo
Política de comunicação comercial
Excelência no atendimento
Conhecimento e gerenciamento dos danos potenciais dos produtos e
serviços
Relações com a
comunidade local
Gerenciamento da empresa na comunidade de entorno
Relações com organizações locais
Comunidade
Ação social
Financiamento da ação social
Envolvimento da empresa com a ação social
Transparência
política
Contribuições para campanhas políticas
Práticas anti-corrupção e propina
Governo e
sociedade
Liderança social
Liderança e influência social
Participação em projetos sociais governamentais
Quadro 11 – Indicadores ETHOS
Fonte: Instituto Ethos (apud NASCIMENTO et al, 2008, p. 212)
64
Cada tema anunciado é dividido em um conjunto de indicadores, que tem por
finalidade explorar diferentes perspectivas de como a empresa pode melhorar o seu
desempenho em determinado aspecto. A estrutura dos indicadores é formada por
uma questão de profundidade, questões binárias
10
e questões quantitativas
11
.
A questão de profundidade apresenta um indicador que permite avaliar o
estágio atual da gestão da empresa, com relação à determinada prática, sendo
representado por quatro quadros que apresentam os estágios da prática, cujo nível
de desempenho evolui do primeiro ao quarto estágio, permitindo o enquadramento
facilitado da empresa na escala (ALVES, RENOFIO e BARBOSA, 2008a;
CUSTODIO e MOYA, 2007). Estas são representadas por quadros que apresentam
estágios da prática social, como mostra o quadro 12:
Representa um estágio
básico de ações da
empresa, no qual ela
ainda se encontra em
nível reativo às
exigências legais.
Representa um estágio
intermediário de ações,
no qual a empresa
mantém uma postura
defensiva sobre os
temas, mas começa a
encaminhar mudanças e
avanços em relação à
conformidade de suas
práticas.
Representa um estágio
avançado de ações, no
qual são reconhecidos
os benefícios de ir além
da conformidade legal,
preparando-se para
novas pressões
regulamentadoras no
mercado, da sociedade,
etc. A responsabilidade
social e o
desenvolvimento
sustentável são tidos
como estratégicos para o
negócio.
Representa um estágio
proativo, no qual a
empresa atingiu padrões
considerados de
excelência em suas
práticas, envolvendo
fornecedores,
consumidores, clientes, a
comunidade e também
influenciando políticas
públicas de interesse da
sociedade.
ESTÁGIO 1 ESTÁGIO 2 ESTÁGIO 3 ESTÁGIO 4
Quando nenhum estágio acima reflete a realidade da empresa, são oferecidas as seguintes alternativas:
Não vemos aplicação disso em nossa empresa
(justifique)
Não havíamos tratado antes desse assunto.
Quadro 12 – Indicador ETHOS que permite avaliar o estágio atual da gestão da empresa em relação
a determinada prática
Fonte: Adaptado de Indicadores ETHOS de Responsabilidade Social (CUSTODIO e MOYA, 2007, p.
5)
10
As questões binárias são compostas por “sim ou não” e contêm elementos de validação e
aprofundamento do estágio de responsabilidade social que foi identificado pela empresa, auxiliando a
entender as práticas que devem ser incorporadas à gestão dos negócios (CUSTODIO e MOYA,
2007).
11
As questões quantitativas propõem um levantamento sistemático de determinados dados, que
podem ser avaliados segundo séries anuais e cruzados com outros. Nem todos os indicadores
apresentam dados quantitativos, mas os que possuem devem ser levantados precisamente, pois
serão úteis no monitoramento interno da empresa (CUSTODIO e MOYA, 2007).
65
A empresa deverá escolher o quadro que mais se aproxima de sua realidade.
No caso de nenhum dos quadros corresponderem à realidade que a empresa
enfrenta, deve-se assinalar os quadros: “não havíamos tratado antes desse assunto”
ou “não vemos aplicação disso em nossa empresa”, sendo necessária uma
justificativa para a escolha desta opção (CUSTODIO e MOYA, 2007).
Segundo Custodio e Moya (2007, p. 6), a estrutura do questionário dos
Indicadores ETHOS proporciona à empresa planejar uma maneira para fortalecer
seu compromisso com a responsabilidade social. “A disposição em escalas dos
indicadores de profundidade fornece parâmetros subseqüentes e, juntamente com
os indicadores binários e quantitativos, aponta diretrizes para o estabelecimento de
metas de aprimoramento dentro do universo de cada tema”.
também a necessidade de mobilizar funcionários dentro da empresa para
responder ao questionário, pois este deve ser encarado como “um processo de auto-
diagnóstico que, combinado com a missão e estratégia geral da empresa, permitirá
identificar aspectos da gestão que necessitam de acompanhamento detalhado, de
novas metas e de profissionais focados” (CUSTODIO e MOYA, 2007, p. 8). E estas
metas devem ser incluídas no planejamento seguinte. Para o sucesso da avaliação,
é necessário o diálogo com os públicos com os quais a empresa se relaciona, de
forma a avaliar o impacto das ações, buscar soluções conjuntamente e definir
metas.
Todavia, Nascimento (2008) esclarece que esta metodologia deixa a desejar
no que concerne ao conceito de sustentabilidade, pois não aborda o aspecto
econômico, que é essencial para a sobrevivência da empresa e acarreta impactos
na sociedade, e na esfera ambiental, trata indicadores qualitativos, tornando a
avaliação abrangente. Neste sentido, o presente trabalho procurou abordar
concomitantemente instrumentos de gestão ambiental que possibilitassem uma
melhor interpretação das ações adotadas pelas empresas de Franca,
complementando deste modo a interpretação dos aspectos concernentes à Gestão
Sócio-ambiental praticadas pelas indústrias. Com relação à sustentabilidade
econômica, apesar de fazer parte das três premissas da sustentabilidade, não se
abordada pelo presente trabalho.
66
3.2 Instrumentos de gestão da responsabilidade ambiental
Inúmeras ferramentas e instrumentos de gestão empresarial foram
desenvolvidos, visando tornar os processos, produtos e serviços mais eficientes do
ponto de vista ambiental. Dentre estas ferramentas e metodologias estão: a
Produção mais Limpa (P+L), a certificação ISO 14000, os licenciamentos e
legislações ambientais e a abordagem sistêmica. Existem diversos outros
instrumentos que permitem auxiliar as empresas a gerir seus processos de forma
ambientalmente mais aceitável, no entanto, para o alcance dos objetivos propostos
por este trabalho, aborda-se somente as ferramentas citadas e que serão tratadas
nos tópicos seguintes.
3.2.1 Aspectos legais do setor do couro
Segundo a Fiesp/Ciesp (2004), a legislação estabelece penalidades para o
descumprimento das normas ambientais, e aquela evoluiu muito nos últimos anos.
Neste sentido, é fundamental que as empresas tenham informações acerca de
exigências de controle ambiental, evitando os riscos informados. Sendo assim, este
tópico traz os aspectos mais relevantes da temática ambiental, voltada ao campo de
atuação jurídico (dentre eles, as leis, licenciamentos, portarias, etc) pertinentes ao
setor curtumeiro.
A década de 1970 foi o despertar para uma nova consciência ecológica.
Desde então, o Estado passou a interferir nos assuntos ambientais, com a criação
de leis, decretos, portarias e resoluções, visando controlar impactos ambientais
causados pelo setor industrial, visto que este é o setor reconhecido como
potencialmente poluidor.
Neste sentido, pode-se destacar a Constituição Federal (BRASIL, 1988), que
traz o Capítulo VI inteiramente dedicado a assuntos relacionados ao meio ambiente.
O artigo único traz o texto:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem como de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
67
Os demais parágrafos e incisos trazem ações que possibilitam que este
direito seja assegurado pelo poder público. Dois incisos do § 1 merecem destaque
(BRASIL, 1988):
§ - IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
§ 1º - V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de
vida e o meio ambiente;
Desta forma, regulamenta-se a responsabilidade ambiental das empresas,
sendo necessários estudos prévios para a instalação e o controle da produção, com
vistas a o prejudicar a qualidade do meio ambiente. A inserção destas variáveis
nas empresas leva à criação de novas leis cada vez mais restritivas (SEIFFERT,
2002).
No Brasil, além da constituição, várias leis ambientais consistentes e bem
elaboradas foram criadas, o que proporcionou embasamento sólido aos órgãos
governamentais na realização de um trabalho rio de defesa do meio ambiente.
Neste sentido, baseando-se em CULTRI (2008) e complementando-se com a
pesquisa bibliográfica realizada, adaptou-se o quadro 13 com o objetivo de
apresentar algumas leis, decretos e resoluções que norteiam a atividade de
curtimento de couros e aquelas relacionadas com as atividades industriais em geral,
e que contribuíram para a minimização dos impactos ambientais das indústrias, visto
que apresentam padrões ximos de emissões de resíduos, efluentes e
substâncias químicas no meio ambiente, dentre outros.
Desta forma, observa-se que o meio ambiente passa a ser intensamente
protegido por todo o aparato de leis que foi formulado sendo, portanto, considerado
fundamental para a melhoria da qualidade de vida do ser humano. Todavia, o que se
observa na prática é que essa proteção ainda é incipiente, necessitando uma maior
conscientização por parte da população e dos empresários.
Segundo Dias (2006), as normas são criadas nos níveis municipal, estadual e
federal, e fixam limites aceitáveis de emissão de substâncias poluentes, definindo as
condições em que serão dispostos os resíduos, proíbem a utilização de substâncias
tóxicas, definem a quantidade de água que pode ser utilizada, o volume de esgoto
que pode ser lançado, dentre outros. Uma empresa interessada em implantar um
Sistema de Gestão Ambiental deve estar atenta às normas, pois a sua violação ou
68
descumprimento afetam a alocação de investimentos e a sua capacidade de intervir
no mercado. Assim, observa-se que as legislações ambientais vêm auxiliar na
proteção ao meio ambiente, e não para barrar o desenvolvimento.
Tipo Data Referência
Decreto 24.643 1934 Código das águas
Lei Federal nº 4.771 1965 Código Florestal
Lei 5.197 1967 Proteção à fauna
Lei Estadual nº 997 1976 Dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente no estado de São Paulo
Decreto Estadual 8.468 1976 Dispõe sobre a prevenção e o controle da poluição do meio ambiente
Lei 6.938 1981 Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA)
Decreto Federal 85.877 1981 Estabelece normas sobre o exercício da profissão de químico
Resolução CONAMA 001 1986 Dispõe sobre a elaboração do Estudo de Impacto Ambiental – EIA e respectivo
Relatório de Impacto Ambiental - RIMA
Constituição Federal 1988 Capítulo VI do meio ambiente
Lei Federal nº 7.653 1988 Lei Proteção à Fauna
Decreto nº 97.632 1989 Dispões sobre a regulamentação do artigo 2º, inciso VIII, da Lei 6.938/81
Lei Federal nº 7.803 1989 Altera o Código Florestal
Decreto 97.634 1989 Substâncias perigosas
Lei 7.802 1989 Agrotóxicos
Resolução CONAMA 005 1989 Dispõe sobre estratégias para o controle, preservação e recuperação da
qualidade do ar e limites máximos de emissão de poluentes atmosféricos
Decreto nº 99.274 1990 Regulamenta a Lei 6.902/81e a Lei 6938/81
Decreto nº 99.556 1990 Dispõe sobre a proteção das cavidades naturais subterrâneas existentes no
território nacional e dá outras providências
Lei 8.171 1991 Política Agrícola
Decreto 750 1993 Proteção mata atlântica
Resolução CONAMA 237 1997 Dispõe sobre licenciamento ambiental
Lei 9.433 1997 Recursos hídricos
Lei Federal nº 9.605 1998 Lei de crimes ambientais
Lei 9.795 1999 Política Nacional de Educação ambiental
Lei 9.985 2000 Sistema nacional de unidades de conservação da natureza e dá outras
providências
Resolução CONAMA 303 2002 Parâmetros, definições e limites de áreas de preservação permanente (APP)
Resolução CONAMA 313 2002 Inventário de resíduos sólidos industriais
Decreto Estadual 47.397 2002 Aprova o certificado de aprovação de destinação de resíduos industriais
(CADRI) no estado de São Paulo
Resolução CONAMA 357 2005 Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o
seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de
lançamento de efluentes
Lei Estadual 12.300 2006 Institui a política estadual (paulista) de resíduos sólidos
Quadro 13 – Leis, decretos e resoluções ambientais brasileiras
Fonte: Adaptado de Cultri (2008)
69
Para Cultri (2008) a legislação ambiental responsabiliza pessoas físicas ou
jurídicas por danos causados ao meio ambiente. No entanto, no contexto
mercadológico, aplica-se de forma mais rígida para atividades que utilizam recursos
ambientais, ou que sejam potencialmente poluidores e possam ocasionar
degradação ambiental. Neste sentido, o tópico seguinte tratará de questões
relacionadas com o Licenciamento Ambiental.
3.2.2 Aspectos do licenciamento ambiental no setor coureiro brasileiro
Seiffert (2007, 148) esclarece que “para determinados empreendimentos, não
é suficiente a sua regularização somente junto à Prefeitura, mas é necessário que o
mesmo seja também licenciado junto ao órgão de controle ambiental”. Para tanto, a
Fiesp/Ciesp (2004) explica que a localização do empreendimento é o primeiro item
para o cumprimento das normas de controle ambiental. No âmbito municipal, é
necessário que os empreendimentos se preocupem com as leis de zoneamento, que
difere de um município para outro, que restringem a localização de indústrias em
seus territórios, e estabelecem requisitos às edificações. ainda necessidade de
verificar se o tipo de empreendimento ou a atividade está de acordo com a
legislação vigente e, se for o caso, solicitar a autorização para supressão de
vegetação e ainda a outorga para o uso da água emitida por órgãos competentes
(SEIFFERT, 2007).
Segundo a Firjan (2004, p. 1), o licenciamento ambiental diz respeito ao
“procedimento no qual o poder público, representado por órgãos ambientais,
autoriza e acompanha a implantação e a operação de atividades, que utilizam
recursos naturais ou que sejam consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras”.
O licenciamento ambiental surgiu como alternativa para alcançar o
desenvolvimento ambiental e materializar as três premissas da sustentabilidade:
equidade social, eficiência econômica e prudência ecológica. Atualmente, o
atendimento à legislação, aumenta a competitividade e credibilidade da empresa
junto ao mercado e cada vez mais torna-se requisito para a obtenção de
financiamentos, para fornecer produtos à cadeia produtiva, e para a certificação de
produtos no mercado interno e externo. E com a criação da Lei de Crimes
Ambientais (Lei 9.605/98) o funcionamento de uma empresa sem as devidas
70
licenças ambientais está sujeito às penalidades administrativas e passou a ser
considerado crime.
O primeiro passo para buscar o licenciamento no Estado de São Paulo é
verificar se a empresa se enquadra em empreendimentos considerados de baixo
potencial poluidor, constantes em FIESP (2007). Neste caso, há uma forma de
licenciamento denominado SILIS (Sistema de Licenciamento Simplificado). O SILIS
é um sistema informatizado que certifica digitalmente o estabelecimento com baixo
potencial poluidor, no qual os documentos Licença Prévia (LP), Licença de
Instalação (LI) e Licença de Operação (LO) são concedidos pela emissão de um
único documento (LPIO), sem a necessidade do comparecimento às Agências
Ambientais. Este Sistema está disponível na homepage da CETESB (2009a).
Para os empreendimentos ou atividades potencialmente poluidoras,
constantes no Anexo 5 do Decreto Estadual 8.468 (1976), e no Anexo 1 do Decreto
47.397 (2002), é necessária a licença tradicional.
O ato de licenciar empreendimentos potencialmente poluidores ou que
impliquem em alguma intervenção na flora e utilizem recursos naturais, compete à
União, Estados e Municípios. No Estado de São Paulo, cabe à Secretaria de Estado
do Meio Ambiente (SMA), à Companhia de Tecnologia de Saneamento ambiental
(CETESB) e aos Departamentos de Coordenadoria de Licenciamento Ambiental e
Proteção de Recursos Naturais (CPRN). Excepcionalmente, quando a atividade
impactar também um Estado vizinho, o licenciamento será expedido pelo IBAMA,
que é o órgão de licenciamento e de fiscalização ambiental de âmbito nacional
(FIESP/CIESP, 2004).
A Resolução CONAMA 237 (1997) esclarece que existem três tipos de
licença: Licença Prévia (LP); Licença de Instalação (LI) e Licença de Operação (LO).
Ainda segundo a Resolução CONAMA 237 (1997) e o Decreto Estadual 8.468
(1976) alterado pelo Decreto Estadual 47.397 (2002), a indústria de couros e peles
(secagem e salga de couros e peles; curtimento e outras preparações de couros e
peles; fabricação de artefatos diversos de couros e peles; fabricação de cola animal)
é potencialmente poluidora e, portanto, passível de licenciamento ambiental.
As indústrias de preparação de couros e fabricação de artefatos de couro,
artigos de viagem e calçados ainda estão sujeitos à elaboração do Inventário
Nacional de Resíduos Sólidos Industriais contendo informações sobre geração,
características, armazenamento, transporte, tratamento, reutilização, reciclagem,
71
recuperação e disposição final dos resíduos sólidos gerados na indústria, segundo a
Resolução CONAMA 313 (2002), por gerarem resíduos e efluentes com cromo,
considerados perigosos de Classe I (conforme ABNT NBR 10004, 2004). Neste
sentido, é necessário observar também o Decreto Estadual 8.468 (1976) que aponta
os níveis máximos de cromo que podem estar presentes no lançamento de
efluentes.
Além disso, aos empreendimentos que possam causar significativo impacto
ambiental, poderá ser exigido o RAP (Relatório Ambiental Prévio) que avalia a
atividade a ser instalada e os impactos que causará. Este relatório será analisado
pelo DAIA (Departamento de Avaliação de Impacto Ambiental) da Secretaria
Estadual do Meio Ambiente. Após a análise do RAP, o DAIA poderá autorizar a
expedição da Licença Prévia, ou exigir uma análise ambiental mais abrangente,
através da apresentação do estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de
impacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA). A Resolução CONAMA 001 (1986)
aponta que as atividades modificadoras
12
do meio ambiente necessitam
obrigatoriamente da elaboração do EIA/RIMA. Às atividades sem potencial poluidor,
é necessário somente o Certificado de Dispensa de Licença, emitido pela CETESB.
As indústrias ainda devem atender a diversas exigências com relação à
emissão de poluentes, sendo necessária a observância aos limites máximos
permitidos e critérios fixados para essas emissões. Estes limites são estabelecidos
pela CETESB e devem estar de acordo com a legislação, normas pertinentes e
parâmetros estabelecidos a nível federal, estadual e excepcionalmente municipal.
Com relação às emissões atmosféricas, limites pré-estabelecidos para
cada um dos poluentes atmosféricos, e que seguem os parâmetros da Resolução
CONAMA 005 (1989). Ruídos, vibrações e odores são consideradas modalidades
diferenciadas de poluição atmosférica, e tem atenção por parte da CETESB por
reclamações das comunidades vizinhas às fábricas. Os limites de poluição sonora
são estabelecidos por normas técnicas, no caso a ABNT NBR 10151, para os
ruídos, há a ABNT NBR 10152. As vibrações são entendidas como ruídos de baixo
impacto ainda não possuem parâmetros específicos, mas podem ser causa de
autuações pela CETESB se houver incômodo à vizinhança. Com relação aos
12
Dentre as atividades modificadoras do meio ambiente estão: construção de ferrovias, estradas de
rodagem, aeroportos, oleodutos, extração de minérios, aterros sanitários, entre outros (CONAMA
001, 1986).
72
odores, a sua emissão em quantidades perceptíveis fora dos limites da propriedade,
segue o Decreto Estadual 8.468 (1976), conforme artigo 33.
Os efluentes líquidos seguem os parâmetros do Decreto 8.468 (1976),
conforme artigos 11 e 19a, e devem ser devidamente tratados pelas empresas. A
legislação estabelece limites ximos variáveis para o despejo de substâncias
potencialmente nocivas à qualidade das águas e a fiscalização do tratamento dos
efluentes pelas indústrias é de responsabilidade da CETESB.
os resíduos sólidos são divididos em classes, de acordo com o seu
potencial de degradação do meio ambiente: Classe I resíduos perigosos; Classe
IIA resíduos não inertes; Classe IIB resíduos inertes. A sua classificação,
armazenamento, tratamento e disposição final é regulamentada pela ABNT NBR
10004 (2004), sendo necessária a realização do inventário dos resíduos gerados,
com atualização periódica, segundo a Resolução CONAMA 313 (2002) e também da
emissão do Certificado de Aprovação de Destinação de Resíduos Industriais
(CADRI), obrigatório antes de destinar os resíduos para tratamento ou para aterro,
conforme Decreto Estadual 47.397 (2002).
A inobservância dos padrões estabelecidos pela legislação no que tange à
emissão emissões atmosféricas, efluentes líquidos e resíduos sólidos, estão sujeitos
à sanções administrativas e criminais, segundo a Lei de Crimes Ambientais
(FIESP/CIESP, 2004).
Assim, observa-se a evolução da legislação ambiental no Brasil,
especialmente para as atividades que representam algum impacto ambiental sobre o
meio ambiente e os recursos naturais. É crescente o aparato de legislações voltadas
à proteção ambiental nas indústrias, por isso, relacionou-se neste trabalho apenas
algumas que fazem parte do cotidiano das empresas, especialmente das indústrias
coureiras, que possuem impactos em todas as suas etapas produtivas. Não
objetivou-se esgotar o assunto, que é tão amplo, mas obter um panorama dos
requisitos legislativos, de normas e licenciamentos que as empresas, em especial as
indústrias coureiras, devem observar.
Praticamente todas as atividades realizadas pela empresa possuem alguma
legislação específica ou necessitam de alguma forma de licenciamento, e sua
observância deve fazer parte do planejamento ambiental das empresas, permitindo
o seu funcionamento em consonância com a PNMA e uma maior sustentabilidade e
controle dos possíveis impactos que a empresa pode causar, bem como, evitar
73
sanções administrativas e ao enquadramento da empresa e pessoas físicas na lei
de crimes ambientais.
Seguindo o referencial teórico, o próximo tópico trata dos programas de P+L.
3.2.3 Programas Produção Mais Limpa
A contaminação gerada pelas indústrias provém, muitas vezes, da ineficiência
dos processos produtivos que geram resíduos de todos os tipos e contaminam o
meio ambiente. Sob o prisma de Dias (2006), as empresas são as principais
responsáveis pelo esgotamento e alterações nos recursos naturais, pois estes são
insumos empregados para a produção de bens e serviços. A contaminação pode ser
denominada como a impossibilidade de transformar totalmente os insumos em
produtos, que contaminam o ar, o solo ou a água.
Sendo assim, uma área é contaminada pela introdução de substâncias e
resíduos que nela tenham sido acumulados, armazenados, depositados, enterrados,
infiltrados de forma planejada, acidental ou natural. Os poluentes concentram-se no
ambiente, no solo, nos sedimentos, nas rochas, nas águas subterrâneas e podem
propagar-se pelo ar, solo e água, alterando assim características naturais da
qualidade do ambiente e dos recursos naturais, determinando impactos ambientais
negativos e gerando riscos à saúde pública e à natureza (CALIA, 2007).
Para auxiliar na busca pelo desenvolvimento de forma sustentável e
ecologicamente viável, foram desenvolvidos diversos instrumentos a serem
adotados pelas empresas, como as metodologias de Produção mais limpa (P+L), a
Prevenção à Poluição (P2) e a Eco-eficiência (BARBIERI apud CALIA, 2007).
Segundo Calia (2007) estas metodologias foram difundidas com o apoio da ONU, da
agência ambiental do governo dos EUA (a chamada EPA) e de organizações não
governamentais internacionais.
De acordo com a UNEP (apud GONÇALVES e NASCIMENTO, 1997), a P+L
define-se como a “contínua aplicação de uma estratégia ambiental preventiva e
integrada, aplicada a processos, produtos, e serviços para aumentar a eco-eficiência
e reduzir riscos humanos e ao ambiente”. Neste sentido, os processos referem-se à
“conservação de matérias-primas e energia, eliminação de matérias-primas tóxicas e
redução na quantidade e toxicidade de todas emissões e resíduos”. Com relação
aos produtos “redução nos impactos negativos ao longo do ciclo de vida do produto,
74
da extração da matéria-prima até a disposição final”. Tratando-se de serviços, é a
“incorporação de conceitos ambientais dentro do projeto e execução dos serviços”
(GONÇALVES e NASCIMENTO, 1997, p. 2).
Segundo a UNIDO - United Nations Industrial Development Organization
(apud OMETTO e GUELERE FILHO, 2008, p. 9-10), alguns objetivos da P+L são: a
minimização de materiais, perdas, desperdícios, efluentes, resíduos e emissões,
podendo ser alcançadas por meio de 8 técnicas:
1) Manutenção adequada:
Prevenção de vazamentos, perdas, derramamentos;
Calendário de manutenção preventiva;
Inspeção freqüente dos equipamentos;
Treinamento do pessoal.
2) Realizar substituições:
Por material menos tóxico;
Por material renovável;
Por material com maior ciclo de vida.
3) Melhoria no controle do processo:
Mudanças nos procedimentos de trabalho;
Instruções de utilização das máquinas;
Monitoramento dos dados do processo para facilitar a melhoria da
eficiência e reduzir as perdas e emissões.
4) Mudanças nos equipamentos:
Mudanças nos equipamentos de produção e nos auxiliares, como a
adição de uma divisão de medidas e de controle, para melhorar a
eficiência e diminuir as taxas de perdas e emissões.
5) Mudanças nas tecnologias:
Utilização de tecnologias menos poluentes;
Mudança no fluxograma do processo, a fim de diminuir a cadeia
produtiva.
6) Reciclagem / Reuso:
Realizar a reutilização das perdas geradas para serem utilizadas
no próprio processo, para outras aplicações na companhia ou para
outras empresas.
7) Produzir o máximo que pode ser utilizado:
Investigar novos usos para utilização e transformação das perdas
geradas em materiais que podem ter aplicações.
8) Reformulação ou modificação do produto:
Mudanças no produto com a finalidade de minimizar os impactos
durante a produção, o uso, a reciclagem ou a disposição final.
Sendo assim, as duas práticas principais para a P+L são:
1) A redução do fluxo de materiais do processo, ciclo ou atividade, ou a
melhoria da eficiência desses processos;
2) A substituição de materiais, produtos ou serviços perigosos por outros
de menores impactos.
Visualiza-se na figura 2, algumas formas de se atingir a P+L por meio de
técnicas de minimização de materiais, de perdas de desperdícios e de efluentes
(inclusive as emissões de resíduos).
75
Figura 2 – Visão geral das técnicas de P+L
Fonte: Adaptado de UNIDO e FREEMAN (apud OMETTO e GUELERE FILHO, 2008, p. 9)
Para a empresa, minimizar resíduos não é apenas uma meta ambiental, mas
um programa orientado para aumentar o grau de utilização dos materiais, com
vantagens técnicas e econômicas (CNTL, 2009).
Dias (2006) salienta que a adoção de uma política proativa nas empresas,
implica em um planejamento dos possíveis efeitos ambientais e uma atuação
antecipada para evitar os impactos, reestruturando produtos e processos produtivos.
Deste modo, este tipo de política está ligada à aplicação de métodos preventivos,
estudando a eliminação de impactos na origem, buscando suas causas, tanto para
os impactos ocasionados pela empresa quanto os que são produzidos ao longo do
ciclo de vida do produto. Neste sentido, a implantação de sistemas de produção
mais limpa sempre resulta em benefícios, como os relacionados no quadro 14:
Mudanças
tecnológicas no
cenário
operacional
Mudanças nos
materiais de
entrada
(purificação /
substituição),
melhoramento no
manejo de
material
Melhores controles de
processos,
segregação dos fluxos
residuais
Modificação dos
equipamentos, “layout”
Reutilização no processo ou
em substituição à matéria-
prima de outros processos
Utilização dos subprodutos /
recuperação de recursos
Produção mais Limpa
Redução na fonte Reciclagem
Modificação do produto
Modificações
no processo
Boa
manutenção
Substituição
Modificação na
composição
76
Benefícios da P+L em comparação com as
práticas de fim de tubo
Benefícios financeiros alcançados com a
prevenção à poluição
Redução da quantidade de materiais e energia
utilizados, tornando os processos mais econômicos
de maneira sustentável
Diminuição de gastos com matéria-prima e energia
Prevenção da poluição, gerando menos resíduos,
efluentes e emissões
Diminuição da necessidade de instalações,
tratamento e disposição final de resíduos
A busca pela redução dos poluentes leva à criação
de uma cultura que busca inovação dos processos
continuamente, aumentando, consequentemente, a
produtividade das empresas
Redução ou eliminação de custos voltados à
descontaminação de resíduos ou de contaminação
causados por eles
Maior eficiência do processo produtivo Diminuição de gastos com multas ambientais
Melhoria da imagem corporativa Redução de custos operacionais e de manutenção
Melhoria da qualidade do produto e condições de
trabalho dos empregados
Maior grau de comunicação e participação das
empresas com os organismos locais
(governamentais ou não governamentais), com as
universidades e a comunidade
Redução de riscos, a curto e longo prazo, a
funcionários, comunidade e meio ambiente, o que
reflete em uma redução de despesas
Quadro 14 – Vantagens da implantação da P+L e benefícios financeiros alcançados
Fonte: Elaborado pela autora com base em Dias e Pires (2005); Dias (2006).
Uma característica importante do programa de P+L é que ele proporciona
uma relação do tipo “ganha-ganha”, onde a melhoria ambiental pode andar junto
com os benefícios econômicos, gerando um círculo virtuoso.
As perdas no processo produtivo são consideradas como evidência de um
desempenho econômico negativo, enquanto os esforços para a redução do
consumo de matéria-prima e de energia, assim como para a redução ou
prevenção da geração de perdas resultam no aumento da produtividade, o
que beneficia a empresa financeiramente (UNEP apud CALIA, 2007, p. 17).
Não obstante os benefícios que a P+L traz, existe ainda grande relutância
para a sua adoção. Segundo o CEBDS - Conselho Empresarial Brasileiro para o
Desenvolvimento Sustentável (2009) os maiores obstáculos ocorrem em função da
resistência à mudança; da concepção errônea (falta de informação sobre a técnica e
a importância dada ao ambiente natural); falta de liderança, falta de envolvimento
dos empregados, desconhecimento de que é possível implementar o programa sem
necessitar de elevados investimentos em equipamentos; a não existência de
políticas nacionais que dêem suporte às atividades de produção mais limpa;
barreiras econômicas (alocação incorreta dos custos ambientais e investimentos) e
barreiras técnicas (novas tecnologias).
Apesar de muitas indústrias pensarem que a adoção de novas tecnologias é
necessária à adoção da P+L, aproximadamente 50% da poluição gerada pelas
empresas poderiam ser evitadas apenas com a melhoria das práticas de operação e
77
mudanças simples em processos. Sendo assim, conclui-se que a P+L descreve uma
abordagem preventiva de gerenciamento ambiental expressa por uma clara
mudança de atitude de governos e de setores industriais para proteger o meio
ambiente de forma proativa (CALIA, p. 17).
3.2.4 Os Sistemas de Gestão Ambiental e a ISO 14000
As empresas atualmente, tornam-se os principais agentes na busca e alcance
do desenvolvimento sustentável. Neste sentido, a necessidade de envolver o
ambiente interno das empresas, pois não é possível atuar de forma social e
ambientalmente responsável sem envolver os funcionários e demais público interno
sobre a importância da adoção de práticas de gestão ambiental e responsabilidade
social. Desta necessidade, decorre a importância de se adotar um SGA integrado
numa perspectiva ampla, que envolva a mudança da cultura organizacional,
inserindo a preocupação ambiental no planejamento e gestão empresarial. Na
literatura, encontra-se diversos tipos de SGAs. Cultri (2008) salienta como principais
modelos de SGA o Responsible Care, o modelo Winter, STEP, EMAS, BS 7750 e a
ISO 14001. Para o presente trabalho, e para auxiliar no alcance dos objetivos
propostos, aborda-se o SGA proposto pela NBR ISO 14001 (2004) e NBR ISO
14004 (1996), pois estes apresentam requisitos que fundamentam a metodologia
proposta.
De acordo com Barbieri (2004), o SGA é um conjunto de atividades
administrativas inter-relacionadas para abordar os problemas ambientais atuais ou
evitar o seu surgimento e requer a formulação de diretrizes para definição de
objetivos, coordenação de atividades e avaliação de resultados. Para Goetsch e
Davis (2001, p. 97) um sistema de gestão ambiental é “parte de todo o sistema de
gerenciamento que inclui estrutura organizacional, planos de atividades,
responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos para o
desenvolvimento, implementação, alcance, revisão e manutenção da política
ambiental”.
A política ambiental é o ponto principal de um sistema de gestão ambiental,
no entanto, é relevante informar que, de acordo com Martinelli e Cotrin (2003), as
diretrizes da ABNT NBR ISO 14004 (1996) Sistemas de Gestão Ambiental –
Diretrizes gerais sobre princípios, sistemas e técnicas de apoio, afirmam ser a
78
política ambiental uma declaração da empresa expondo suas intenções e princípios
com relação à questão ambiental e provê uma estrutura de ação e definição de
objetivos e metas ambientais.
Contudo, a revista Anuário 2007 Gestão Ambiental (2007, p. 55) esclarece
que é uma resposta vaga dizer que a empresa possui uma política ambiental, é
necessário avaliar na prática o que isto significa. A política ambiental pode ser desde
“molhar uma plantinha na janela do chefe aa adoção de normas e procedimentos
para os processos de produção da companhia, para a contratação de fornecedores
e para o relacionamento com os clientes”. Sendo assim, a política ambiental deve
buscar em seus objetivos um real comprometimento da empresa com a questão
ambiental, por meio de ações que possam minimizar o impacto de suas atividades
no meio ambiente de forma a obter uma performance ambiental em contínuo
aperfeiçoamento.
Donaire (apud DIAS, p. 99) salienta que a educação ambiental deve ser a
principal ferramenta na busca pela conscientização dos colaboradores e mudança
da cultura organizacional, desde a alta administração até os funcionários da
produção, da limpeza, enfim, todos os setores da empresa. Somente com o
comprometimento de todos os envolvidos no processo, a implantação de uma
política ambiental e de um SGA serão estruturados de forma a beneficiar o meio
ambiente, proporcionando a incorporação dos valores ambientais no planejamento
estratégico da empresa. A ABNT NBR ISO 14004 (1996, p. 4-5) esclarece que
possuir um SGA pode proporcionar à empresa os seguintes benefícios:
Assegurar aos clientes o comprometimento com uma gestão
ambiental demonstrável;
Manter boas relações com o público / comunidade;
Satisfazer os critérios dos investidores e melhorar o acesso ao
capital;
Obter seguro a um custo razoável;
Fortalecer a imagem e a participação no mercado;
Atender aos critérios de certificação do vendedor;
Aprimorar o controle de custos;
Reduzir incidentes que impliquem responsabilidade civil;
Demonstrar atuação cuidadosa;
Conservar matérias-primas e energia;
Facilitar a obtenção de licenças e autorizações;
Estimular o desenvolvimento e compartilhar soluções ambientais;
Melhorar as relações entre a indústria / governo.
79
Neste sentido, considera-se a importância do alcance de uma certificação do
SGA, realizado por meio da ISO 14001. A globalização do comércio impulsiona cada
dia mais as empresas a padronizar produtos e processos, visando à modernização
da sociedade, pois um produto manufaturado em um país e que tenha a
padronização em sua produção, pode ser vendido em todo o mundo sem
necessidade de instalação de modelos regionais (GOETSCH e DAVIS, 2001).
Sendo assim, a padronização garante a uniformidade nos processos de produção, e
torna-se um “elemento chave para nortear as relações comerciais em escala
mundial” (OMETTO e GUELERE FILHO, 2008, p. 2). Neste sentido, a normatização
vem se destacando como instrumento para adequação dos processos às novas
exigências mercadológicas, por meio da certificação.
A ISO International Organization for Standardization, entidade certificadora,
criou em 1996 as primeiras normas da série ISO 14000, que se referem a padrões
de qualidade ambiental e buscam estabelecer ferramentas e sistemas para a gestão
ambiental da organização, orientadas pela tendência mundial de preservar o meio
ambiente. Fialho (apud OMETTO e GUELERE FILHO, 2008) afirma que, com vistas
a garantir conquistas sociais e ambientais, sem a perda da competitividade, os selos
normativos vão tomando o lugar das barreiras alfandegárias, estabelecendo padrões
a serem seguidos, a fim de certificar o produto.
A norma NBR ISO 14001 Sistemas de Gestão Ambiental Requisitos com
orientações para uso, compreende o chamado Sistema de Gestão Ambiental que
deve abranger todos os níveis e funções de uma organização, sendo que a questão
ambiental, para ser eficaz, deve potencializar sua ação junto aos demais setores da
empresa (DONAIRE, 1999).
As normas da NBR ISO 14001 procuram desenvolver uma abordagem no
âmbito empresarial que possa levar a uma postura proativa de gestão ambiental.
Buscam também a padronização de determinados procedimentos, uniformizando
ações tomadas sob a ótica de proteção ao meio ambiente. Segundo Cervelini (2006)
as normas indicam caminhos para se produzir de forma ambientalmente sustentável,
e que não agridam ou alterem o meio ambiente de forma significativa. As normas
NBR ISO 14001 são voluntárias e concebidas para orientar o desempenho
ambiental, por meio da melhoria contínua do sistema de gestão.
Para Cultri (2008), em conseqüência da variedade de elementos
componentes do sistema industrial, e por estes serem complexos e sistêmicos, a
80
utilização dos procedimentos normativos auxilia na focalização de um roteiro sob a
ótica do planejamento, implementação, monitoramento e avaliação, que buscam
associar comprometimento com realização ambiental. Neste sentido, de forma
simplificada, os requisitos da ABNT NBR ISO 14001 são distribuídos em cinco itens,
ilustrados pela figura 3:
Figura 3 – Modelo de sistema da gestão ambiental da ABNT NBR ISO 14001
Fonte: ABNT NBR ISO 14001 (2004, p. vi).
O SGA faz parte do sistema de gestão global de uma organização, sendo um
processo interativo e contínuo. “A estrutura, responsabilidades, práticas,
procedimentos, processos e recursos para a implementação das políticas, objetivos
e metas ambientais podem ser coordenados com os esforços de outras áreas, como
por exemplo: operações, finanças, qualidade, saúde ocupacional e segurança”
(FERREIRA apud OMETTO e GUELERE FILHO, 2008, p. 5). Neste sentido, em
função da complexidade dos sistemas industriais, a organização deve definir e
documentar o escopo
13
de seu SGA bem como estabelecer, documentar,
implementar, manter e continuamente melhorar um SGA em conformidade com os
requisitos da NBR ISO 14001 (2004, p. 4-10) que estão distribuídos em:
Política Ambiental declaração que expõe as intenções e princípios
da organização em relação ao seu desempenho ambiental global; provê
uma estrutura de ação e definição de objetivos e metas ambientais;
13
O detalhamento e complexidade do SGA, a extensão da documentação e os recursos dedicados
dependem do escopo do sistema, do porte da organização e da natureza das atividades, produtos e
serviços. O escopo deve “esclarecer os limites da organização onde será aplicado o SGA,
especialmente se a organização fizer parte de uma organização maior numa dada localização” (ABNT
NBR ISO 14001, p. 12).
81
Planejamento:
o Aspectos ambientais
o Requisitos legais e outros
o Objetivos, metas e programas
Implantação e Operação;
o Recursos, funções, responsabilidades e autoridades
o Competência, treinamento e conscientização
o Comunicação
o Documentação do SGA
o Controle de documentos
o Controle operacional
o Preparação e atendimento a emergências
Verificação:
o Monitoramento e medição
o Avaliação do atendimento a requisitos legais e outros
o Não-conformidade e ações corretiva e preventiva
o Controle de registros
o Auditoria interna
Análise pela Administração.
A ABNT NBR ISO 14001 (2004, p. vi) é baseada na metodologia conhecida
como PDCA Plan-Do-Check-Act (Planejar-Executar-Verificar-Agir). De modo
simplificado, pode ser descrito da seguinte forma:
Planejar: estabelecer os objetivos e processos necessários para
atingir os resultados em concordância com a política ambiental da
organização
Executar: implementar os processos
Verificar: monitorar e medir os processos em conformidade com a
política ambiental, objetivos, metas, requisitos legais e outros, e relatar os
resultados.
Agir: agir para continuamente melhorar o desempenho do sistema da
gestão ambiental.
Segundo Ometto e Guelere Filho (2008, p. 5) um SGA baseado na ABNT
NBR ISO 14001 deve fornecer dados e ordenação para que a organização
equacione suas preocupações ambientais “por meio da alocação de recursos,
atribuição de responsabilidades e avaliação em base contínua, das práticas,
procedimentos e processos”.
Contudo, a obtenção da certificação NBR ISO 14001 não garante que o
sistema é ambientalmente sustentável. A norma não impõe limites próprios para
medida de poluição, padronização de produtos, níveis de desempenho, mas
orientam o sistema para melhorar o desempenho ambiental, sendo que cada
empresa pode alcançar desempenhos ambientais diferentes e estarem em
conformidade com a NBR ISO 14001. Fresner (apud OMETTO e GUELERE FILHO,
2008) afirma ainda que a norma não fornece às organizações ferramentas que
permitam mensurar a geração de resíduos sólidos, emissões gasosas ou efluentes
líquidos e nem ações a serem tomadas que identifiquem e previnam a geração de
82
poluentes. Apenas exige que metas e objetivos referentes ao gerenciamento desses
impactos estejam em consonância com a política ambiental previamente
estabelecida e que o gerenciamento seja documentado e feito de forma sistemática.
Desta forma, uma empresa que obtenha uma certificação não necessariamente
apresenta um desempenho ambiental satisfatório, pois uma empresa pode
padronizar um processo de gerenciamento ambientalmente ineficiente.
Neste sentido, adotou-se a ótica de Ometto e Guelere Filho (2008, p. 10) na
qual salientam que a P+L pode possuir um alto desempenho ambiental, mas não
solicita a definição de escopo e o apelo de documentações e gerencial do SGA.
Fresner (1998) afirma que a adoção conjunta da P+L e da ISO 14001 se
complementam na busca pela real diminuição dos efeitos ambientais da empresa.
Cervelini (2006) esclarece que o enfoque baseado na ISO 14001 sistematiza
informações, afim de identificar os mecanismos empregados para gerenciar os
aspectos e impactos ambientais, mas não preocupação em adotar um princípio
diretivo. Além disso, a ISO 14001 privilegia o cumprimento da legislação,
empregando técnicas de fim-de-tubo, não se preocupando com a prevenção da
poluição na fonte, ou buscando as causas da geração dos resíduos. Fresner (apud
OMETTO e GUELERE FILHO, 2008, p. 10) afirma que o ponto principal da P+L é
baseado na “descrição sistemática de balanços de massa e energia avaliando,
dessa forma, na eficiência no uso de materiais, água e energia”. Além disso, as
ferramentas oferecidas pela P+L podem “preencher as lacunas existentes nos
SGAs, no sentido de torna-los também uma ferramenta de gestão sob o ponto de
vista da prevenção”.
Ometto e Guelere Filho (2008, p. 10) salientam que:
A interação entre P+L e o SGA pode ocorrer baseando-se no requisito
“Planejamento” da norma, mais especificamente no item “Programa(s) de
Gestão Ambiental”, uma vez que é através desses programas que as
empresas certificadas atingem os objetivos estipulados pelas metas
ambientais determinadas em sua política. Trata-se de uma “brecha” para
que abordagens pró-ativas como a P+L possam ser incorporadas ao SGA
de uma empresa, tornando-o uma efetiva ferramenta de gestão ambiental.
Neste sentido, visando corroborar para a orientação de um processo de
inserção de técnicas de P+L em um SGA baseado na NBR ISO 14001, apresenta-se
o quadro 15:
83
Requisito da Norma ISO 14001 Ênfase / Abordagem Principal
4.2 – Política Ambiental
Compromisso com a P+L na forma de Prevenção à
Poluição
4.3.1 – Aspectos Ambientais
Levantamento de aspectos e avaliação de impactos
usando a oportunidade de P+L como um filtro de
significância
4.3.1 – Objetivos e metas
4.3.2 – Programas de gerenciamento ambiental
Objetivos e metas viabilizados com projetos com enfoque
em P+L
4.4.1 – Estrutura e responsabilidade Recursos para implantação de tais projetos
4.4.2 – Treinamento, conscientização e
competência
Conscientização, capacitação em metodologias, conceito
e tecnologia para implementação de projetos de P+L.
4.4.6 – Controle operacional
Atividades envolvidas identificadas como oportunidades
de P+L, devem ser planejadas e programadas para dar
sustentação às atividades dos projetos implantados.
4.5.1 – Monitoramento e medição
Criação de indicadores e monitoramento dos resultados e
parâmetros relativos aos projetos e como conseqüência
dos objetivos e metas a serem atingidos.
4.5.4 – Auditorias internas do SGA
Verificação independente sobre o andamento das
providências de P+L
4.6 – Análise crítica pela administração
Balanço semestral / anual com a inclusão dos resultados
e proposição de melhorias, tendo os projetos de P+L
como importante input.
Quadro 15 – Proposta de inserção de conceitos do modelo P+L nos requisitos da ISO 14001 (2004)
Fonte: Prestrelo e Azevedo (apud CERVELINI, 2006, p. 74)
Desta forma, o quadro 18 enfatiza os requisitos de um SGA baseado na NBR
ISO 14001 que podem receber subsídios de um programa de P+L, visando um
desempenho ambiental satisfatório, baseado na prevenção da poluição e geração de
resíduos, e resultando numa real melhoria do meio ambiente e minimização dos
impactos adversos gerados pela empresa.
Vale salientar que a participação das indústrias coureiras na aquisição da
certificação ISO 14001:2004 é muito pequena. De acordo com o INMETRO
Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (2007), apenas
uma empresa, localizada no Paraná, possui esta certificação
14
.
3.2.5 Abordagem sistêmica: uma ferramenta para compreender os aspectos
sócio-ambientais
Os sistemas estão presentes em todo o universo no qual vivemos, e podem
ser grandes ou muito pequenos, de acordo com Seiffert (2006). A complexidade dos
sistemas não reside em entendê-los separadamente, mas em compreender as suas
inter-relações e dinâmicas.
14
Por existirem várias empresas certificadoras, podem existir empresas que possuam a certificação
da ABNT NBR ISO 14001:2004 que não são computadas na base de dados do INMETRO.
84
Ludwing Von Bertalanffy foi um biólogo que iniciou a sua vida de cientista por
volta de 1920. Nesta época, de acordo com Martinelli (2002, p. 115), a biologia
enfrentava uma “controvérsia “mecanicismo versus vitalismo”, ou seja, o processo
analítico de divisão em partes e processos parciais, versus a explicação pela ação
de fatores anímicos
15
o que correspondia para Bertalanffy à declaração de falência
da ciência. Desta forma, ele sugeriu uma visão organicista, considerando os
organismos como organizações com funções específicas. Seus estudos levaram-no
a uma generalização, que ficou conhecida como Teoria dos Sistemas, apresentada
pela primeira vez em 1937 e posteriormente em seu livro General Systems Theory
publicado em 1968.
Bertalanffy enfatizava que os sistemas interagiam com o meio ambiente e que
eles evoluíam continuamente devido à aquisição de novas propriedades qualitativas
por meio de contextos emergenciais. Como exemplo os problemas da biosfera
que não podem ser entendidos se estudados isoladamente, isto porque se tratam de
problemas sistêmicos que possuem ligações e dinâmicas entre si. Sendo assim, o
pensamento sistêmico oferece formas de compreender o todo através da análise do
inter-relacionamento entre os fatos.
A adoção da abordagem sistêmica, envolve uma mudança de mentalidade,
pois deixa-se de enxergar as partes para enxergar o todo, e passa-se a considerar
as pessoas como participantes ativas na construção da realidade, deixando o antigo
pensamento de enxergá-las como relativas e impotentes (SEIFFERT, 2006).
Para Maximiano (2000) a teoria geral dos sistemas explora todos e
totalidades. Suas idéias básicas são:
A realidade é feita de sistemas, compostos por elementos interdependentes
que possuem relações entre si.
A compreensão da realidade exige a análise das inter-relações dos elementos
por meio de enfoques interdisciplinares.
A visão sistêmica pode ser inserida no ambiente empresarial e possui como
base os aspectos relacionados a seguir (MAXIMIANO, 2000):
A organização é um sistema feito de um sistema técnico e um sistema social;
Sistemas influenciam-se mutuamente;
15
Expressão que tem a ver com animismo, que atribui alma aos animais, coisas e fenômenos da
natureza e difere do pensamento científico. Remete à espiritualidade.
85
A organização é um sistema cercado por ambiente;
O papel da administração é cuidar do desempenho global do sistema.
A responsabilidade social e a gestão ambiental são motivadas pela “mudança
nos valores da cultura empresarial, da dominação para a parceria, da ideologia do
crescimento econômico para a ideologia da sustentabilidade ecológica”
(TACHIZAWA, 2002, p. 30). Essa mudança envolve a transformação, do
“pensamento mecanicista para o pensamento sistêmico e, por conseguinte, um novo
estilo de administração conhecido como administração sistêmica” (op cit, p. 31). A
visão sistêmica, ou pensamento sistêmico apresenta-se como uma alternativa
consistente para auxiliar na gestão das empresas, pois permite visualizá-las
interagindo com elementos internos e externos, e fornecendo alternativas de
atuação junto aos mesmos, formando assim uma cadeia complexa. As organizações
industriais são chamadas por Martinelli e Ventura (2006) de sistemas sociais.
Castro et al (apud KONSEN, 2006) esclarece que a cadeia produtiva possui
um enfoque sistêmico, e é definida como um conjunto de componentes interativos,
ou seja, este argumento supõe que os diversos elos de uma cadeia influenciam-se
mutuamente e requer a compreensão de que a empresa não está isolada, mas faz
parte de um determinado sistema produtivo, e que a competitividade é influenciada
pelo relacionamento da empresa com os demais integrantes da cadeia. Sob esta
ótica, observa-se que os efeitos ambientais negativos se estendem por toda a
“cadeia produtiva-consumista” (CULTRI e ALVES, 2008).
A gestão sócio-ambiental é uma nova forma de gerir as empresas e que traz
inúmeros benefícios como: racionalização dos recursos naturais, trazendo maior
qualidade de vida e bem estar à sociedade, dentre outros. A empresa que pretende
assumir uma postura de responsabilidade sócio-ambiental, deve também interagir
com toda a cadeia produtiva, fornecedores, clientes, e até a comunidade, para
buscar soluções conjuntamente e atingir objetivos comuns. Esta nova forma de gerir
torna essencial a utilização da visão sistêmica, visto que esta considera as inter-
relações da empresa com o seu meio.
Segundo Seiffert (2006, p. 54) “no estudo das questões relacionadas ao meio
ambiente [...], a visão holística caracteriza o ambiente natural como um sistema que
integra diversos elementos ligados e que possuem fluxos de matéria e energia.”
Com essa nova visão do meio ambiente, onde o pensamento sistêmico é
utilizado como forma de compreender o todo, cada parte possui propriedades e
86
princípios comuns de organização e a ação de uma pessoa afeta a qualidade de
vida dos demais à sua volta. Sendo assim, as empresas foram pressionadas a
adotar uma postura que proporcionasse o respeito ao meio ambiente, visto que para
elas o enfoque sistêmico representa uma maneira de analisar o meio ambiente,
definir prováveis panoramas no longo prazo, com base nos objetivos
organizacionais, utilizando-se estratégias para alcançá-los.
Para Seiffert (2006) a abordagem sistêmica deve ser utilizada não para
compreender o conjunto dos elementos envolvidos em uma determinada situação,
mas também para fornecer alternativas de atuação junto aos mesmos. A
complexidade do entendimento dos sistemas não está associada somente à
compreensão de cada sistema isoladamente, mas em compreender as dinâmicas e
inter-relações entre os sistemas, tanto naturais quanto os criados pelo homem.
Sendo uma forma de análise da realidade, a abordagem sistêmica,
enquanto concepção holística, revela-se adequada para a análise dos
sistemas ambientais físicos, pois seus conceitos e noções possibilitam uma
visão de mundo integradora e a compreensão da estrutura, da organização,
do funcionamento e do desenvolvimento dos sistemas (SEIFFERT, 2006, p.
54).
Segundo Martinelli (2004), são encontradas na literatura diversas definições
de sistemas, que variam conforme os interesses, a formação e a especialização de
cada autor. Para a administração de empresas, a teoria de sistemas contribuiu para
que os administradores pensassem nas organizações “como sistemas abertos, com
responsabilidades focadas no estabelecimento de objetivos para os sistemas, na
criação de subsistemas formais, na integração dos diversos sistemas e na
adaptação da organização ao seu ambiente” (MARTINELLI, 2004).
87
CAPÍTULO 4. CARACTERIZAÇÃO DA INDÚSTRIA COUREIRA
Este capítulo descreve a cadeia produtiva coureira com o propósito de
delimitar o objeto de estudo e identificar os principais segmentos e ligações entre
seus elos. Também apresenta um breve histórico da indústria coureira na cidade de
Franca, suas características produtivas e ambientais. Detalha os principais aspectos
produtivos de um curtume e apresenta os principais impactos e problemas
ambientais do setor que ressaltam a importância da realização deste trabalho.
4.1 Histórico da indústria do couro
O curtimento de couros é uma atividade antiga da humanidade. Iniciou-se
quando o homem primitivo percebeu a utilidade das peles dos animais para se
proteger das condições climáticas adversas. No entanto, a pele, sem tratamento, se
deteriorava rapidamente. Sendo assim, foram descobertas formas de deter este
processo. Segundo Oliveira (2003) apesar de o existirem muitos registros sobre a
origem dos processos de curtimento, acredita-se que o homem o desenvolveu pela
observação da ação de fenômenos naturais sobre a pele dos animais.
A primeira forma para deter o processo de apodrecimento da pele foi deixá-la
no sol por alguns dias. Esta ação deixava a pele rígida, dura e eliminava o cheiro
repulsivo ocasionado pela deterioração. Tempos depois, começou a ser utilizado o
curtimento por fumo. Aconteceu que as peles utilizadas como materiais de
construção nas tendas e cabanas, sendo atingidas pela fumaça das fogueiras, eram
submetidas a um processo de curtimento que aumentava a sua resistência. Este
método ainda é utilizado em algumas regiões da China.
Até o final do século XVII, as indústrias curtumeiras não sofreram grandes
modificações. No entanto, com o desenvolvimento da indústria química, no século
XIX, foi criado o curtimento ao cromo, que passou a utilizar sais de cromo, enzimas e
outros elementos no processo de curtimento das peles, o que proporcionou um
crescimento do setor e uma crescente carga de poluentes despejados no meio
ambiente, bem como uma maior utilização de recursos naturais.
4.2 A cadeia produtiva do couro
88
“As indústrias de curtimento constituem um elo, talvez o mais importante, na
cadeia produtiva do setor coureiro-calçadista” (PALERMO, 2001, p. 7).
Entende-se por cadeia produtiva o conjunto de etapas, ciclos de produção,
distribuição e comercialização pelos quais um insumo passa. De acordo com Castro
et al (apud KONZEN, 2006) a cadeia produtiva possui um enfoque sistêmico e é
definida como um conjunto de componentes interativos, tais como: “sistemas
produtivos agropecuários e agroflorestais, fornecedores de serviços e insumos,
indústrias de processamento e transformação, distribuição e comercialização, além
dos consumidores finais de produtos e subprodutos da cadeia”.
No Brasil, a indústria de couros é constituída, em sua maior parte, por
empresas de pequeno e médio porte
16
, capital predominantemente nacional e é
composta pelos curtumes e artefatos de couros, que juntamente com calçados e
componentes para couros e calçados, compõem as principais indústrias da cadeira
coureiro-calçadista. Os outros segmentos que integram esta cadeia são os
pecuaristas, os frigoríficos, as indústrias de máquinas para couros e calçados e as
indústrias químicas. Na figura 4 está representada a cadeia produtiva do couro com
seus principais componentes.
Figura 4 – Cadeia produtiva do couro
Fonte: Sebrae MG, 2005, p. 2.
16
Segundo classificação do SEBRAE, as empresas são classificadas em micro empresa (0-19
empregados), pequena empresa (20-99 empregados), média empresa (100-499 empregados) e
grande empresa (mais de 500 empregados). Disponível na homepage do SEBRAE (2009).
Exportação
Produtor
Pecuarista
Pincéis e
vassouras
Abate
Frigorífico
Salgadeiras
Exportação
Curtimento
(wet
-
blue)
Exportação
Retalhos de couro cru
Sebo industrial
Retalhos de pelagem
Fábrica das surradeiras
Semi
acabamento
Acabamento
Trading
Artefatos
de couro
Vestuário
Mobiliário
Automotivo
Calçados
89
Os curtumes são classificados conforme as etapas de processamento a que
se dedicam. Sendo assim, pode-se dividir os curtumes em quatro tipos (PACHECO,
2005):
Curtume integrado: é aquele capaz de realizar todas as operações de
curtimento, desde o couro cru (pele fresca ou salgada) até o couro acabado.
Curtume wet blue: é aquele que desenvolve o primeiro estágio de
processamento do couro, isto é, processa desde o couro cru até o curtimento ao
cromo ou descanso/enxugamento após o curtimento. O nome wet blue é devido
ao aspecto úmido e azulado do couro após o curtimento ao cromo.
Curtume semi-acabado: este tipo de curtume utiliza o couro wet blue
como matéria-prima e o transforma no couro semi-acabado, o chamado crust.
Curtume de acabamento: utiliza o crust como matéria-prima e faz o
acabamento final do couro. Pode-se incluir nesta categoria os curtumes wet blue
que realizam o acabamento final do couro.
4.3 O processo produtivo do couro
O curtimento visa transformar a pele, que é um material decomponível, em
um material estável, o couro, conservando algumas de suas características naturais
como, por exemplo, a elasticidade, a maciez e o toque.
A pele bovina é utilizada em diversos segmentos e necessita de uma série de
cuidados no seu processamento, pois é um produto perecível devido à sua
composição (água, proteína, sais minerais, gorduras, dentre outras). A qualidade do
couro é determinada por diversos fatores, como as condições de criação e
transporte dos animais, o abate e esfola, a manutenção da pele, dentre outros.
Os principais processos aos quais a pele é submetida para transformar-se em
couro são: ribeira, curtimento e acabamento. O processo de acabamento é dividido
em acabamento molhado, pré-acabamento e acabamento final (PACHECO, 2005).
As figuras 5 e 6 representam o processo completo de fabricação do couro e, em
destaque, os principais pontos de geração de resíduos.
90
Figura 5 – Fluxograma esquemático da fabricação de couros – operações de ribeira, curtimento e
acabamento molhado.
Fonte: Pacheco, 2005, p. 15.
Figura 6 – Fluxograma esquemático da fabricação de couros – operações de acabamento.
Fonte: Pacheco, 2005, p. 16.
O curtimento mineral é o mais utilizado, pois o seu processo é mais curto se
comparado com os outros processamentos. Esta forma de curtimento foi introduzida
em escala industrial por meio de Schultz em 1884. Apesar das facilidades cnicas,
91
custos baixos e da maior qualidade conferida aos couros, este tipo de curtimento é
bastante agressivo ao meio ambiente (PALERMO, 2001).
De acordo com o CICB - Centro das Indústrias de Curtume do Brasil (apud
SEBRAE MG, 2005, p. 4) em 2003 a produção de couro por tipo de curtimento foi de
aproximadamente 94% ao cromo, 6% ao tanino (extraído da casca da árvore do
angico) e 0,1% com outros métodos.
O curtimento vegetal, realizado com tanino possui um alto custo e é utilizado
para produzir solas e alguns tipos especiais de couros. No passado, os principais
taninos utilizados no Brasil foram extraídos de espécies de Angico, Quebraço e o
Barbatimão. Atualmente, utilizam-se taninos industrializados, sendo que o principal é
extraído da Acácia Negra, originária da Austrália e muito cultivada no Brasil.
Um aspecto importante do curtimento ao tanino é a biodegradabilidade
através de microorganismos que o composto tem, facilitando sobremaneira
o tratamento dos efluentes gerados. Os lodos das estações de tratamento
de efluentes de curtumes que trabalham apenas com taninos, são
compostos basicamente de matéria orgânica, podendo mais facilmente
serem manipulados para uso agrícola (PALERMO, 2001, p. 11).
Ao contrário do curtimento ao cromo, os resíduos do curtimento ao tanino não
degradam o meio ambiente, devido à ausência de substâncias químicas (CLAAS e
MAIA apud PALERMO, 2001). No entanto, os couros curtidos com taninos têm uma
durabilidade menor do que aqueles curtidos ao cromo. Enquanto os couros curtidos
com taninos degradam-se com o tempo sob a ação de fatores exógenos, como
calor, umidade, microorganismos, insolação, etc, os couros curtidos com cromo são
mais resistentes à putrescibilidade (PALERMO, 2001).
O curtimento sintético utiliza curtentes orgânicos, como resinas e taninos
sintéticos. Possuem um custo mais alto e geralmente são utilizados como auxiliares
de curtimento. Outra forma de curtimento, considerada uma das cnicas mais
antigas, é aquela realizada com óleos, produzindo os chamados “chamoix” que são
tipos de camurças ou acamurçados. Os óleos mais utilizados são os de peixe
(PALERMO, 2001).
4.4 Resíduos gerados na produção do couro
Na produção do couro são gerados efluentes líquidos, resíduos sólidos e
emissões atmosféricas. Dentre esses poluentes, estão presentes compostos
orgânicos e inorgânicos. Os compostos orgânicos constituem-se de componentes
92
protéicos e lipídicos, provenientes das peles dos animais, que perdem cerca de 30%
de matéria orgânica durante o processamento, de acordo com estudos realizados.
Os compostos inorgânicos provêm de produtos químicos que não foram
completamente fixados pelas peles durante o processamento (CASSANO apud
SCHRANK, 2003, p. 30).
4.4.1 Efluentes líquidos
Os rejeitos líquidos gerados pela operação de ribeira compreendem águas
fortemente alcalinas e esbranquiçadas (cal em excesso) e contêm sebo, pêlos,
tecido muscular, gordura e sangue em suspensão. Em solução existem sais (como o
sulfeto, sulfato, cloreto, dio, lcio, amônio), proteínas e aminoácidos diversos.
Tais efluentes apresentam concentrações elevadas de sólidos em suspensão,
proteínas dissolvidas e pH na faixa ácida. Essa é a etapa que mais concentra cargas
poluentes e tóxicas dos efluentes dos curtumes. Para se ter uma idéia do potencial
de impacto ambiental dos efluentes líquidos, pode-se considerar o peso médio de 23
Kg/pele salgada
17
e uma carga orgânica dia de esgoto doméstico de 54 Kg
DBO
18
/habitante/dia o potencial poluidor de carga orgânica biodegradável de um
curtume que processe 3000 peles/dia equivale ao de uma população de 85.600
habitantes. Assim, vê-se que o impacto é significativo.
Os efluentes líquidos gerados pelas operações de píquel e curtimento contêm
principalmente sal, ácidos minerais, orgânicos, cromo, proteínas e alguns fungicidas,
apresentam pH ácido e pode conter altas concentrações de DQO
19
e DBO,
dependendo do curtente utilizado. O curtimento mineral feito no cromo ainda é o
principal processo de curtimento utilizado no mundo todo, pois é um processo
relativamente curto, mais barato e eficiente para operações em escala industrial, e
que confere ao couro alta qualidade e resistência permitindo sua estocagem por
longos períodos sem risco de apodrecimento, apesar de seus inúmeros impactos no
meio ambiente.
17
São peles conservadas por meio de sal intercalado entre elas, e lhes conferem armazenamento por
meses até o seu processamento (PACHECO, 2005, p. 17).
18
DBO Demanda bioquímica de oxigênio: medem a quantidade de oxigênio necessária para a
oxidação ou degradação química e bioquímica, respectivamente, de materiais oxidáveis presentes
nos efluentes e, portanto, o potencial de desoxigenação de corpos d’água onde foram lançados
(PACHECO, 2005, p. 24).
19
DQO – Demanda química de oxigênio (PACHECO, 2005, p. 24).
93
Nas operações de acabamento molhado ou s-curtimento e de acabamento,
apresentam certo teor de cromo, sais e corantes.
4.4.2 Emissões atmosféricas
Além dos efluentes líquidos, o geradas ainda pelos curtumes emissões
atmosféricas que causam odores desagradáveis e provêm das várias operações
realizadas. Constituem-se de gases e vapores, liberados ao longo do processo
produtivo e nas operações de tratamento dos efluentes. São emitidas principalmente
a amônia (que origina-se da decomposição parcial da proteína das peles), o gás
sulfídrico, emissões de compostos voláteis oriundos de solventes orgânicos,
partículas de água em suspensão, chamados aerossóis, e material particulado sólido
(PACHECO, 2005).
4.4.3 Resíduos sólidos
Os resíduos sólidos são definidos como todo ou qualquer material sólido que
provém das atividades diárias de um homem em sociedade, cujo produtor ou
proprietário não o considere com importância suficiente para ser conservado
(CETESB apud RENOFIO, 2002).
De acordo com Sousa (2006), o Brasil gera diariamente em torno de 1.400
toneladas de resíduos lidos de classe 1 proveniente de curtumes, fábricas de
calçados e artefatos. Franca, que é um importante pólo industrial, gera diariamente
cerca de 160 toneladas destes resíduos.
Os resíduos sólidos são os que apresentam a maior geração. Podem ser
agrupados em duas categorias:
Resíduos sólidos não curtidos: provenientes da pele bruta e do descarne
e divisão, são as aparas caleadas e não caleadas, carnaça, e demais resíduos
gerados na operação de ribeira. Estes resíduos são classificados como não
perigosos e são ricos em colágeno e gorduras. Podem ser transformados em
cola, gelatina, chiclete, dentre outros;
Resíduos sólidos curtidos: são provenientes da estação de tratamento
dos efluentes (lodo contaminado com cromo), da etapa de acabamento molhado,
quando o couro passa por fases físico-mecânicas de descanso, rebaixamento e
recorte (compreendem: rebarbas, serragem cromada, farelos, raspas e aparas de
94
couro curtido) e lixamento (pó de lixadeira). Estes resíduos são classificados
como materiais perigosos (resíduos de classe 1) e são ricos em cromo trivalente
e hexavalente (que pode causar câncer e mutações no ser humano). Para cada
couro curtido, gera-se de 2 a 3 kg de serragem cromada. No Brasil o geradas
aproximadamente 375 toneladas de serragem diariamente. Em Franca, este valor
é de 15 toneladas/dia. O lodo com cromo é o pior resíduo gerado por um
curtume, pois além de ser um material de difícil aplicação econômica, o
gerados grandes volumes
20
diariamente que demandam áreas especiais para
sua disposição. Para cada tonelada de cromo processado nos curtumes, há uma
geração de 300 a 400 Kg de lodo com cromo. No Brasil, diariamente são geradas
121 toneladas de lodo com cromo. Em Franca, esta quantidade está em torno de
5 toneladas por dia. Com relação ao lodo de recurtimento, que pode apresentar
grandes quantidades de cromo, são gerados diariamente no Brasil cerca de 54
toneladas e em Franca esta geração gira em torno de 2 toneladas por dia.
(SOUSA, 2006).
Neste sentido, elaborou-se o gráfico 1 com o intuito de fazer uma comparação
entre a quantidade de resíduos perigosos gerados pelo setor coureiro no Brasil e em
Franca.
Geração de Reduos perigosos
121
375
54
5
15
2
0
50
100
150
200
250
300
350
400
Lodo com cromo Serragem cromada Lodo do
recurtimento (com
cromo)
Tipo de resíduos
Quantidade (em toneladas)
Brasil
Franca
c
Gráfico 1 – Comparação da geração de resíduos do setor coureiro no Brasil e em Franca
Fonte: Elaborado pela autora com base em Sousa (2006).
20
De acordo com Sousa (2006) são gerados aproximadamente 4,94 m
3
de lodo sedimentado por
tonelada de pele processada.
95
Analisando-se o gráfico 1, é possível concluir que Franca tem expressiva
representatividade na geração de resíduos perigosos do setor curtumeiro do Brasil.
A cidade é responsável pela geração de 4% do total de resíduos no país. Este valor
torna-se significativo pelo fato de que a cidade não é a maior produtora de couros do
Brasil, contudo, gera o equivalente a 4% de todo o resíduo do setor coureiro no país.
Com relação à geração dos resíduos de Classe 1, provenientes tanto dos curtumes,
fábricas de calçados e artefatos, este valor é ainda mais preocupante, visto que a
cidade é responsável por mais de 11% do total de resíduos gerados em todo o país.
O processamento de 1000 Kg de pele salgada gera somente 200 a 250 Kg de
couros acabados, o que equivale a 22,5% de rendimento médio do processo,
gerando cerca de 600 Kg de resíduos sólidos, o que demonstra um potencial
poluidor significativo da geração de resíduos sólidos na produção de couros.
Dessa forma, observa-se que é grande a geração de resíduos pelo setor e
que podem acarretar em impactos ambientais expressivos. É fundamental que o
setor invista em cuidados e tratamentos específicos, na busca de minimizar estes
impactos no meio ambiente. Daí a importância singular de se implantar sistemas
efetivos de gestão de resíduos, ou até de prevenção desses.
4.5 Aspectos e impactos ambientais da indústria coureira e o problema dos
resíduos perigosos
Segundo o Art. 1º da resolução do CONAMA nº 1 de 1986 o impacto
ambiental pode ser definido como:
qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das
atividades humanas, que direta ou indiretamente afetam:
I – a saúde, a segurança, o bem-estar da população;
II – as atividades sociais e econômicas
III – a biota;
IV – as condições estéticas e sanitárias do MA;
V a qualidade dos recursos ambientais (CONAMA, 1986, p. 1, grifo da
autora).
O processo de produção de um curtume possui inúmeros impactos
ambientais e consome grande quantidade de recursos naturais. Nos procedimentos
de transformação da pele em couro, e do couro em calçados e artefatos, são
descartados como resíduos mais de 40% da matéria-prima colocada em operação
(SOUSA, 2006). Segundo Palermo (2001, p. 33):
96
o despejo continuado de resíduos em quaisquer locais, apresenta efeitos
cumulativos, e, o que é suportável em determinados níveis transforma-se
em algo prejudicial com o excesso. No passado, o volume de material
curtido era menor, e as cnicas mais simples usadas produziam rejeitos
menos agressivos e em quantidades relativamente pequenas. Atualmente
é grande o volume de couros bovinos curtidos no Brasil.
Os principais impactos ambientais são: odor incômodo ao bem estar
público, prejuízo à qualidade dos corpos d´água, eventual contaminação do solo e
de águas subterrâneas.
Com relação aos aspectos ambientais, a ABNT ISO 14001 (2004) esclarece
que são os elementos das atividades de uma organização, seja prestadora de
serviços ou fabricante de produtos, que podem interagir com o meio ambiente.
Os impactos ambientais podem ocorrer em todas as etapas do processo
produtivo, sendo assim, elaborou-se o quadro 16 sintetizando-se as formas de
emissão e aspectos ambientais que podem ocasionar tais impactos:
Etapas
produtivas
Impactos e aspectos ambientais do processo produtivo dos curtumes
Contaminação do ar em decorrência da liberação do gás amônia, compostos orgânicos
voláteis e gás sulfídrico
Contaminação hídrica por meio de derramamento de líquidos liberados pelas peles
Conservação e
armazenamento
das peles
Contaminação do solo por meio de pedaços de peles e sal com matéria orgânica
Contaminação do ar por gás amônia, gás sulfídrico e compostos orgânicos voláteis
Contaminação hídrica pelos banhos residuais de tratamento das peles e águas de
lavagens intermediárias contendo carga orgânica e produtos químicos (sulfeto, sais
diversos e outros)
Operação de
ribeira
Contaminação do solo por carnaças, pêlos, aparas e raspas de peles, sem e com
produtos químicos
Processo de
curtimento
Contaminação hídrica pelo banho residual de curtimento das peles, que contêm carga
orgânica e produtos químicos, como cromo, taninos, sais diversos dentre outros
Contaminação do ar por meio da liberação de compostos orgânicos voláteis provenientes
dos solventes dos produtos aplicados
Contaminação hídrica por meio dos banhos residuais do tratamento dos couros, que
contêm carga orgânica e produtos químicos (como cromo, taninos, corantes, óleos e
outros)
Processo de
acabamento
Contaminação do solo pela disposição inadequada de pó, farelo, serragem cromada,
recortes de couros curtidos, semi-acabados e acabados, resíduos de produtos de
acabamento, que compreende tintas, resinas dentre outros
* As palavras grifadas correspondem aos impactos ambientais causados. Os outros argumentos
referem-se aos elementos que podem interagir com o meio ambiente e ocasionar tais impactos, ou
seja, são os aspectos ambientais.
Quadro 16 – Principais aspectos e impactos ambientais do processo produtivo dos curtumes por
etapas de produção
Fonte: Elaborado pela autora com base em Pacheco (2005).
97
Quanto ao consumo de insumos e recursos naturais:
O processo produtivo do couro consome cerca de 30 a 80m³ de água
por tonelada de pele processada (SCHRANK, 2003), no entanto este volume
pode variar em função das diferentes matérias-primas, processos, práticas
operacionais e de gerenciamento. De acordo com Pacheco (2005) o consumo
médio de água por pele salgada processada é de 630 litros de água. Sendo
assim, um curtume com processamento de 3.000 peles salgadas por dia,
consome aproximadamente 1.900 m³, o que equivale ao consumo diário de
uma população de cerca de 10.500 habitantes com consumo médio de 180
litros de água/hab.dia. Sendo assim, verifica-se que um impacto
significativo de consumo nos mananciais da região.
O consumo de energia elétrica também depende da capacidade e
quantidade de produção, tipo e estado dos equipamentos, tipo de tratamento
dos efluentes, práticas de eficiência energética. A variação de consumo é de
2.600 a 11.700 kW/h por tonelada de pele salgada (PACHECO, 2005).
São utilizados grande número de produtos químicos, como
surfactantes, solventes, fungicidas, inseticidas, ácidos, agentes taninos
naturais ou sintéticos, cromo, titânio, magnésio, corantes, sais, óleos
sulfonados, etc.
Os resíduos gerados pelos curtumes são ricos em cromo trivalente e em
cromo hexavalente (SOUSA, 2006) e a sua destinação é vista como nociva pela
legislação ambiental. O cromo trivalente é essencial do ponto de vista nutricional, e
se absorvido em poucas quantidades pelo organismo, não é tóxico. O cromo
hexavalente é altamente tóxico e tem efeito acumulativo no organismo e
especialmente nos tecidos moles do corpo, como fígado, rins, seios, próstata, útero,
sistema respiratório, coração, dentre outros.
Os resíduos que contêm cromo causam significativos impactos ao meio
ambiente, pois possuem alto poder de contaminação. O cromo atinge o lençol
freático, rios e reservatórios que abastecem as cidades. O resíduo disposto
inadequadamente no solo favorece a permanência do cromo que pode ser absorvido
pelas plantas que servirão de alimento ao homem, contaminando, finalmente, o ser
humano. Desta forma, ressalta-se que, de acordo com a NBR 10004 (2004), o
cromo presente nos resíduos da indústria coureira e calçadista encontram-se
98
classificados como resíduos perigosos de Classe I, devido à sua toxicidade
21
,
conforme quadro 17:
Fonte
geradora
Código de
identificação
Resíduo perigoso
Constituintes
perigosos
Características de
periculosidade
K193
Aparas de couro
provenientes de couros
curtidos ao cromo
Cromo
hexavalente
Tóxico
K194
Serragem e pós de
couro provenientes de
couros curtidos ao
cromo
Cromo
hexavalente
Tóxico
Indústria
coureira
calçadista
K195
Lodos provenientes do
tratamento de efluentes
líquidos originados no
processo de curtimento
de couros ao cromo
Cromo
hexavalente
Tóxico
Parâmetro
Código de
identificação
Limite
máximo no
lixiviado
2G/L
CAS – Chemical
Abstract Substance
Inorgânico
Cromo total D009 5,0 7440-47-3
Quadro 17 – Classificação de resíduos perigosos, codificados a partir de suas características e de
fontes geradoras específicas; e Limite máximo de concentração no extrato obtido no ensaio de
lixiviação, segundo a NBR 10004 (2004)
Fonte: Cultri (2008, p. 43).
Segundo Alves, Cultri e Barbosa (2008)
a periculosidade de um resíduo se refere à característica apresentada por
um resíduo, que, em função de suas propriedades físicas, químicas ou
infecto-contagiosas, possam apresentar risco à saúde pública, provocando
ou acentuando, de forma significativa, um aumento de mortalidade por
incidência de doenças, e ou; riscos ao meio ambiente, quando resíduo o é
manuseado ou destinado de forma inadequada.
O código de identificação D009, mencionado no quadro 17, de acordo com a
ABNT NBR 10004 (2004), refere-se aos resíduos considerados perigosos, devido à
sua toxicidade, conforme ensaio de lixiviação realizado de acordo com a ABNT NBR
10005. A caracterização de toxicidade refere-se à análise, a partir de uma amostra
representativa dele, obtida segundo a ABNT NBR 10007 (ALVES, CULTRI e
BARBOSA, 2008).
Cultri (2008) salienta que várias contradições se sobrepõem quanto à
classificação dos resíduos da indústria coureira e calçadista. As empresas (por meio
de pesquisas feitas por laboratórios particulares) consideram os resíduos de couro
21
A ABNT NBR 10004 (2004, p.2) define toxicidade como a propriedade potencial que o agente
tóxico possui de provocar, em maior ou menor grau, um efeito adverso em conseqüência de sua
interação com o organismo.
99
como Classe IIA (não inertes), destinando-os a aterros sanitários licenciados, por
outro lado, membros da comunidade científica, baseando-se na NBR 10004,
classificam este resíduo como Resíduo Perigoso, de Classe I, por apresentar cromo
hexavalente, que é altamente tóxico e prejudicial à saúde (SOUSA apud CULTRI,
2008).
Cultri (2008) também enfatiza, baseando-se na ABNT (2006) que os resíduos
gerados pela indústria coureira e calçadista, dentre estas as aparas de couros
curtidos ao cromo, classificam-se como Classe I e devem ser dispostos em aterros
adequados para receber estes resíduos ou devem ser incinerados em equipamentos
especiais, uma vez que estes resíduos apresentam riscos ao meio ambiente e à
saúde pública.
Apesar de todas as divergências relacionadas à classificação dos resíduos da
indústria coureira e calçadista, o fato é que os empregados das indústrias de couro
são os mais prejudicados, pois convivem diariamente com o cromo, além de outros
compostos nocivos, sendo que a maioria deles sofrem de alergias na pele
apresentando rinite alérgica, de acordo com Elizabeth Nascimento, professora de
toxicologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo
– USP (CAMARGO, s/d). A permanência prolongada em ambientes onde há a
utilização do cromo favorece o desenvolvimento de câncer no pulmão, por meio da
inalação de grandes quantidades da substância.
Como todo metal pesado, o cromo se acumula no organismo devido ao
contato direto ou ao consumo de água e de alimentos contaminados, podendo ao
longo dos anos causar falência de órgãos, como os rins, e até levar à morte. Sua
forma hexavalente, mais rara e perigosa, provoca perfuração do septo nasal caso
inalado em altas doses (CAMARGO, s/d). Segundo Belavsky (apud PALERMO,
2001), o trabalho em curtumes e o contato com o cromo hexavalente podem trazer
também: asfixia por dióxido de enxofre, úlceras, dermatites, paradentosa (dentes
abalados e soltando), catarro bronquial dentre outros.
Segundo Palermo (2001, p. 40) um curtume (denominado Curtume A),
distante cerca de 400 km de Franca, “transformou áreas de terras agricultáveis em
um quase inútil solo salino-sódico, devido à deposição por anos seguidos de
efluentes sem qualquer controle ou preocupação ambiental”. Uma observação feita
pelo autor refere-se à dificuldade de recuperação da área, visto que demanda altos
investimentos, e possui dificuldades tecnológicas.
100
O controle das emissões atmosféricas é outro problema ambiental importante
e que deve ser resolvido pelo setor devido a, em alguns casos, haver problemas de
doenças ocupacionais, dependendo das instalações e dos procedimentos
operacionais dos curtumes, bem como o incômodo causado às populações do
entorno, pois estes são perceptíveis fora dos limites industriais.
4.6 Características da indústria coureira brasileira
O Brasil, de acordo com a RAIS-MTE (2009) (Relação Anual de Informações
Sociais Ministério do Trabalho e Emprego), dados de dezembro de 2007, possui
834 curtumes, sendo que apenas 20% são classificados como médias e grandes
empresas. Os curtumes brasileiros empregam, formalmente, 46.055 (RAIS-MTE,
2009) pessoas, no entanto este montante não inclui os autônomos e os
trabalhadores de frigoríficos que possuem setor de curtimento próprio. ainda
curtumes artesanais, sem registro formal e que contribuem com parcela
representativa dos empregos informais. Estatísticas da AICSul - Associação das
Indústrias de Curtumes do Rio Grande do Sul - apontam a existência de
aproximadamente 175.000 empregos no total (CAMPOS, 2006). Sendo assim,
verifica-se que a informalidade na cadeia produtiva do couro é expressiva
(AZEVEDO, 2002). A tabela 1 apresenta uma relação com a quantidade de
estabelecimentos e empregos por Estados.
Como se pôde observar na tabela 1, a maior concentração de empresas de
curtimento e preparações de couro estão nos Estados do Rio Grande do Sul e em
São Paulo.
O complexo industrial formado por curtumes, calçados, quinas,
componentes e artefatos de couro, reúne mais de 10.000 indústrias, emprega mais
de 500.000 pessoas (COURO brasileiro movimenta US$ 21 bilhões, cria empregos e
gera divisas ao país, 2007). A cadeia coureiro-calçadista é grande geradora de
empregos e movimenta grande quantidade de divisas, por meio de exportações.
101
Tabela 1 – Relação de estabelecimentos e empregos do GRUPO 151 – Curtimento e outras
preparações de couro em 31/12/2007 por Estado
UF Estabelecimentos
Empregos
Rio Grande do Sul 229 15.681
São Paulo 190 10.163
Minas Gerais 83 3.131
Paraná 72 2.628
Goiás 33 2.600
Santa Catarina 22 1.327
Mato Grosso 27 1.775
Ceará 23 2.123
Bahia 26 1.400
Mato Grosso do Sul 19 1.140
Pernambuco 20 632
Pará 14 985
Rio de Janeiro 10 46
Rondônia 12 601
Espírito Santo 9 53
Maranhão 11 516
Tocantins 9 450
Paraíba 6 156
Sergipe 4 89
Piauí 6 323
Alagoas 3 4
Rio Grande do Norte 2 30
Acre 1 111
Roraima 1 25
Amazonas 1 2
Amapá 1 10
Distrito Federal 0 0
Total Brasil 834 46.055
Fonte: Adaptado pela autora com base na RAIS-MTE (2009).
No ano de 2008 as exportações somaram US$ 1,88 bi. Todavia, a crise
observada na indústria automobilística refletiu também na indústria coureira, que
apresentou uma retração de 14% nas exportações em relação a 2007, como
observa o CICB (2009). Em 2008 a quantidade de couros bovinos exportados foi de
24.765.056, uma queda de 14,4% em relação ao ano de 2007. Os principais
destinos foram Itália, com 27,22%, China com 19,94%, Hong Kong com 11,58% e
Estados Unidos com 9,13% (o país importou 28% menos do que no ano de 2007).
Os estados mais exportadores do Brasil são: São Paulo responde por 30,47%
das exportações
22
, o Rio Grande do Sul por 26,85%, o Ceapor 9,87%, o Paraná
22
Apesar da grande participação do estado de São Paulo na produção de couros, de acordo com o
Sindicouro (apud PACHECO, 2005) uma tendência de diminuição do número de curtumes no
estado, o que deve-se, principalmente, a dificuldades e retrações na economia, aumento da
concorrência e fechamento de alguns mercados, que pressionaram o setor a reduzir custos,
somando-se também à migração de indústrias para outros estados, principalmente para o centro-
oeste, que possui grande quantidade de rebanhos e frigoríficos, incentivos fiscais, mão-de-obra mais
barata e menores exigências ambientais.
102
por 5,33%. Os demais estados são Mato Grosso do Sul, Bahia, Goiás e Mato
Grosso.
Desta forma, o Brasil é considerado o terceiro maior produtor e exportador
mundial de couros, atrás apenas dos Estados Unidos e da União Européia
(MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR,
2008), com um processamento de cerca de 45 milhões de couros anualmente. Além
disso, o país possui o maior rebanho bovino comercializável do mundo, que é
favorecido pela enorme extensão territorial brasileira, aliada a um clima favorável,
propiciando condições adequadas para o desenvolvimento das diferentes raças
bovinas e de rebanhos ovinos e caprinos. O rebanho bovino está estimado em 204,5
milhões de cabeças, o que confere ao Brasil expressiva vantagem comparativa
internacional.
O CICB também destaca a produção brasileira de peles exóticas, como peles
de rã, avestruz, peixe, jacaré, chincila e ema e salienta que o Brasil é o único país
que possui know how para produzir peles de e peixe
23
, que fazem sucesso no
universo da moda. Também é o único país que produz couro de jacaré do papo-
amarelo, exportado para utilização em veículos e motocicletas de luxo ao redor do
mundo.
A cadeia produtiva do couro inicia-se na atividade pecuária, na qual diferentes
sistemas de criação resultam em qualidade de peles distintas, impondo restrições ao
processamento do couro e seus derivados.
A busca da competitividade exige a utilização da visão sistêmica e da
compreensão de que a empresa não está isolada, mas faz parte de um determinado
sistema produtivo, e que os padrões de concorrência são influenciados pelo
relacionamento da empresa com os demais integrantes da cadeia. Konsen (2006)
esclarece que os curtumes apresentam baixo grau de interação com os demais elos
da cadeia produtiva, o que prejudica o aumento da qualidade do couro, e
consequentemente, da competitividade do setor. Sendo assim, com o intuito de
melhorar a qualidade do couro, foi criado em outubro de 2004 pela CICB e pelo
SEBRAE o Programa Brasileiro da Qualidade do Couro, que procura conscientizar
23
A pele de peixe produzida, inclusive em Franca, é a tilápia. O couro de tilápia que Franca produz é
empregado na confecção de sandálias, bolsas e colares. A pele é fina e maleável com 30 centímetros
de comprimento cada. A principal vantagem na utilização do couro de tilápia á a reciclagem, pois
antes, toda a pele virava lixo (GOMES, 2006).
103
os agentes da cadeia produtiva sobre a importância da qualidade do couro,
reduzindo perdas com defeitos nas peças produzidas aumentando a competitividade
da cadeia.
De acordo com Oliveira (2003), os couros são classificados em categorias,
conforme o nível de defeitos apresentados, que variam de 1ª a 7ª, em ordem
decrescente de qualidade. Segundo a Análise Setorial 2007, a classificação do
couro sofreu uma melhora nos últimos anos, impulsionado pelo Programa de
Melhoria da Qualidade do Couro. Contudo, uma melhoria significativa será
conseguida a longo prazo, pois necessidade de investimentos e novos
programas, bem como uma maior integração dos diversos elos que constituem a
cadeia produtiva. De acordo com a Análise Setorial 2007 do CICB, os couros
brasileiros são classificados conforme demonstra o gráfico 2:
Classificação dos couros brasileiros (em %)
8,6
23,5
30,6
19,6
10,7
5,2
0 5 10 15 20 25 30 35
Couro de 1ª e 2ª
Couro de 3ª
Couro de 4ª
Couro de 5ª
Couro de 6ª
Couro de 7ª (refugo)
Gráfico 2 – Classificação dos couros brasileiros (em %)
Fonte: Adaptado pela autora com base em Análise Setorial (2007, p. 16).
O couro acabado é o resultado da última etapa da transformação das peles
em couros e consiste no produto final de maior valor agregado desse processo
produtivo, empregando grandes contingentes de mão-de-obra. Segundo dados da
CICB (apud SEBRAE MG, 2005) a mão de obra utilizada para industrializar 1.000
peças de couro/dia requer 10 empregados na fase de couro salgado, 40 na etapa
wet blue e 300 na fase de acabamento.
Os investimentos também aumentam, de acordo com a tabela 2:
104
Tabela 2 – Agregação de valor de acordo com o couro produzido
Salgado Wet Blue Acabado
Investimento em máquinas e instalações
(milhões R$)
0,5 1,5 8
Processos (nº operações)
5 20 70
Insumos químicos (R$ milhões)
0,75 3,2 15,7
Custo ambiental (instalações/equipamentos
– R$ mil)
0 1000 1200
Custo total da produção (R$ mil)
16 25,7 53,6
Fonte: Adaptado pela autora com base em SEBRAE MG, 2005, p. 4.
A maior parte do couro produzido pelo Brasil é wet blue, que possui o menor
valor agregado dentro da cadeia produtiva e concentra a maior carga de poluentes,
pois é nesta fase que acontece o curtimento ao cromo, prejudicial ao ser humano e
ao meio ambiente. A fase wet blue gera menos empregos do que a fase de
acabamento, que é a fase que possui o maior custo de produção, a maior
quantidade de operações e, consequentemente, o maior valor agregado. No
entanto, de acordo com a Análise Setorial de 2007 publicada pelo CICB, no ano de
2007, com um aumento dos investimentos em tecnologia e qualidade pelas
empresas curtumeiras, houve um acréscimo nas exportações de couros crust e
acabados e uma minimização nas exportações de couros salgado e wet blue,
proporcionando deste forma um aumento da agregação de valor nas exportações de
couro.
105
4.7 Características e estrutura organizacional da cidade de Franca: a
perpetuação do setor coureiro-calçadista no município
Franca está compreendida na região entre os rios Pardo e Grande e foi
descoberta no início do culo XVIII por bandeirantes paulistas. Franca faz parte da
14º Região Administrativa
24
do estado. De acordo com o IBGE Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (2009), dados de 2008, a cidade possui cerca de 328.176
habitantes e está situada na Região Nordeste do Estado, aproximadamente 400
km da capital São Paulo. Possui uma área total de 609 Km
2
, situando-se na Bacia
Hidrográfica do Sapucaí Mirim/Grande UGRHI 08, constituída pelos: Rio das
Canoas, Rio Pouso Alegre, Rio São João e Ribeirão Salgado (CULTRI, 2008).
Neste sentido, este tópico tem como objetivo abordar alguns aspectos mais
relevantes que permitiram o surgimento e perpetuação do setor industrial do couro e
calçado, para a compreensão da importância do cluster coureiro-calçadista na
cidade de Franca, bem como identificar algumas características que permitam
destacá-la no contexto do setor coureiro-calçadista brasileiro e apresentar aspectos
atuais do setor no município.
4.7.1 Estruturação e contexto atual dos curtumes de Franca
Segundo Oliveira (2003, p. 29) o primeiro registro de industrialização da
atividade curtumeira “em Franca é de 1886, quando o Pe. Alonso Ferreira de
Carvalho montou um curtume às margens do rrego Cubatão, com o objetivo de
aproveitar o couro vindo com tropeiros de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso”.
Barbosa (2006, p. 40) salienta que o surgimento dos curtumes na cidade se
deu por alguns fatores, tais como o intenso fluxo de couros que transitavam pela
“Estrada dos Goiases
25
” o que proporcionava uma facilidade para obtê-los
26
, “a
24
A 14º Região Administrativa do Estado é composta pelos municípios: Aramina, Batatais, Buritizal,
Cristais Paulista, Franca, Guará, Igarapava, Ipuã, Itirapuã, Ituverava, Jeriquara, Miguelópolis, Morro
Agudo, Nuporanga, Orlândia, Patrocínio Paulista, Pedregulho, Restinga, Ribeirão Corrente, Rifaina,
Sales Oliveira, São Joaquim da Barra e São José da Bela Vista. Fonte: Prefeitura Municipal de
Franca (2009).
25
Para Barbosa (2006) esta estrada era uma importante rota de comércio que ligava a capital da
província de São Paulo aos sertões de Goiás e Mato Grosso e Franca era um dos principais pontos
desta rota. “Por esta estrada levava-se gado, couros salgados e cereais para o sul a fim de serem
trocados, sobretudo, por sal e artigos manufaturados” (BARBOSA, 2006, p. 37).
26
“Dos couros utilizados nos curtumes de Franca, 49,71% provinham do próprio município e de
cidades próximas como, Barretos, Orlândia, Cravinhos, Pedregulho, Ituverava, Igarapava e São
106
existência de água em abundância em virtude dos diversos rios e córregos que
circundam a região e a forte presença de madeiras ricas em tanino”. Isto porque o
curtimento do couro realizado inicialmente em Franca, utilizava madeiras ricas em
tanino, neste caso o barbatimão, que possui em sua casca significativa quantidade
desta substância química. Esta árvore era nativa da flora original do Planalto de
Franca e passou a ser largamente explorada por conta da instalação de ferrovias na
cidade. Para a construção dos tanques de curtimento, era utilizada a pedra
tapiocanga
27
, rica em óxidos de ferro e que atuava como catalisador na solução de
curtimento. O curtimento utilizou-se de abundante quantidade de água, usada na
solução de curtimento, lavagem dos couros e como fonte energética. A utilização do
couro nesta época era ampla, sendo aplicadas em estruturas compostas de couro,
madeira e argila, transportes arcaicos, mobília, vestuário, dentre outras.
Neste contexto, a cidade de Franca apresenta um arranjo produtivo local
especializado na produção de calçados masculinos de couro, o que estimulou o
surgimento de empresas correlatas. De acordo com Suzigan et al (apud BARBOSA,
2007) e Suzigan et al (2003) Franca constitui um exemplo perfeito de cluster
industrial, pois concentra praticamente todo o elo produtivo da manufatura do
calçado, reunindo desde o curtimento do couro (principal matéria-prima na
confecção dos calçados), produção de insumos (adesivos e selantes), componentes
(solados e outros) e acessórios para calçados em geral, inclusive para a fabricação
de tênis e calçados de outros materiais, além do couro.
Encontram-se também instaladas importantes fábricas produtoras de
máquinas e equipamentos para a fabricação de calçados, que surgiram pela
necessidade de atendimento dos produtores locais, e hoje fornecem seus produtos
para outras regiões do país e também para o exterior. Segundo Suzigan et al (2003)
a aglomeração de produtores de calçados, insumos e componentes espalhou-se por
diversos pequenos municípios localizados próximos à Franca, como Restinga,
Patrocínio Paulista, Pedregulho, dentre outros. No entanto, Franca possui uma
estrutura mais completa.
Joaquim da Barra; os outros 48,02% provinham de Minas Gerais (sobretudo de Uberaba e
Uberlândia, no Triângulo Mineiro) e de Goiás” (NASCIMENTO e MOREIRA apud BARBOSA, 2006, p.
41).
27
Segundo Tosi (1998) a tapiocanga não é uma rocha, mas sim um aglomerado de óxidos presentes
em alguns solos que decorrem de processos geológicos ligados ao clima. Este material é encontrado
logo abaixo da superfície da terra e por ser úmida e não muito rígida, permitia que fosse transformada
em blocos, que, em contato com a atmosfera, endureciam, tornando-se um tipo de pedra. Estes
blocos por sua vez, eram utilizados na construção de alicerces das casas, muros e demais estruturas.
107
O setor coureiro-calçadista da cidade de Franca é considerado tradicional
com relação a problemas ambientais. Segundo Barbosa (2007) o parque industrial
de Franca teve origem no pequeno capital, isto é, a maior parte das indústrias foi
criada por artesãos e ex-operários
28
. Sendo assim, pequenos fabricantes
ascenderam à condição de empresários, levando consigo a cultura de trabalhadores
manuais.
Um fato interessante salientado por Barbosa (2006, p. 66) é que a indústria
calçadista se difere de todas as outras indústrias correlatas (curtumes, produção de
componentes para calçados como solados de borracha, palmilha, fôrmas e produtos
químicos) no que se refere ao nível tecnológico e estruturação produtiva. A indústria
calçadista “teve como característica fundamental a evolução gradativa da fase
artesanal, passando à manufatureira, para depois de quase meio século alcançar o
estágio de grande indústria”, visto que os capitais das indústrias calçadistas “eram
insuficientes para obtenção do equipamento necessário a uma produção
minimamente mecanizada” (BARBOSA, 2006, p. 75) sendo portanto, caracterizada
pelo baixo nível tecnológico, fato que corrobora para o intenso processo de
ascensão de empregados à condição de empresários. .
Em contrapartida, de acordo com Palermo (2001) alguns curtumes instalados
na região de Franca possuem modernos parques industriais, com estações
primárias e secundárias de tratamento de efluentes, que apresentam variados graus
de eficácia, “seja por localização das instalações, pelo dimensionamento dessas
plantas ou mesmo devido aos processos usados e insuficiência de conhecimento
tecnológico” (PALERMO, 2001, p. 8). Diferentemente da indústria calçadista, a
indústria coureira demanda mais tecnologia para funcionar, visto que necessita de
estações de tratamento de efluentes e maquinário para produzir. E esta
mecanização remonta ao início do século XX, quando Elias Mota fundou o segundo
curtume mecanizado do estado de São Paulo (BARBOSA, 2006).
Considera-se também a importância que o cluster coureiro-calçadista possui
para a cidade de Franca, no contexto da estrutura do setor em nível estadual e
nacional e o significativo impacto sócio-ambiental causado pela produção do
28
Este fato é revelado também por Tosi (1998), quando menciona que empresas foram constituídas
de 1927-1928 por ex-empregados da antiga fábrica Jaguar. Homens que foram operários e tornaram-
se empreendedores. Outra característica marcante é o fato de as fábricas empregarem membros da
mesma família.
108
couro.O arranjo produtivo local possui 32
29
curtumes que empregam 1639 pessoas
(RAIS-MTE, 2007). De acordo com o artigo “Couro é o destaque do crescimento de
Franca”, publicado na homepage da AICSul, o setor coureiro de Franca em 2007 foi
responsável por 91% dos componentes de calçados comercializados no exterior e
por 28,95% do total exportado pela cidade, em todos os segmentos. O total das
vendas foi de US$ 54,61 milhões. O volume exportado foi de 5,9 milhões de quilos.
No ano de 2008 Franca, apesar da retração em muitos setores, experimentou um
incremento das exportações de couro, alcançando a marca de US$ 58 milhões
(BUFONI, 2009a). As maiores alterações e quedas nas exportações ocorreram a
partir de setembro, visto que em janeiro de 2009 o resultado não foi positivo,
apresentando queda de US$ 4,7 milhões para US$ 2,4 milhões em relação a janeiro
de 2008 (BUFONI, 2009b). No entanto, normalmente a cidade enfrenta resultados
menores neste período do ano.
4.7.2 Problemas sócio-ambientais dos curtumes de Franca
A existência deste importante pólo industrial despertou para a questão da
poluição na região Administrativa de Franca, visto que a maior parte das indústrias
coureiras encontra-se instalada em áreas urbanas e que a cidade faz parte da bacia
hidrográfica UGRHI 08 Sapucaí/Grande, que possui 4 grandes rios e sete sub-
bacias delimitadas de acordo com os principais afluentes da região (CULTRI, 2008).
Segundo Cultri (2008) a contaminação da água por resíduos industriais é
percebida em toda a bacia hidrográfica. O recebimento de efluentes sem nenhum
tratamento leva a poluição ao Rio Sapucaí, que por sua vez deságua no Rio Grande,
prejudicando desta forma toda a região norte-nordeste do Estado de São Paulo.
A tabela 3 apresenta as principais atividades econômicas passíveis de
controle da poluição da bacia hidrográfica UGRHI 08 Sapucaí/Grande, com
destaque para o setor de couros e peles, que mantinha em 2006, 6 instalações
consideradas de alto potencial poluidor.
29
A informação sobre o mero de curtumes instalados em Franca apresenta divergências quando
são buscadas diferentes fontes. De acordo com o Sindicato dos Curtumeiros, em visita realizada pela
autora em novembro de 2007, Franca tinha instalados 15 curtumes, que empregavam cerca de 1600
pessoas. No Relatório de Qualidade Ambiental do Estado de o Paulo (apud CULTRI 2008)
menção da instalação de 6 curtumes na Bacia Hidrográfica do Sapucaí Mirim/Grande UGRHI 08, da
qual Franca faz parte, juntamente com outras cidades da região. Sendo assim, decidiu-se utilizar os
dados disponibilizados pela RAIS-MTE por serem informações oficiais utilizadas pelo Ministério do
Trabalho.
109
Tabela 3 – Atividades prioritárias para controle da poluição ambiental na UGRHI 08 –
Sapucaí/Grande
Grupo de atividades (1)
Número de instalações (2) Potencial Poluidor
Produtos alimentares, bebidas e fumo 11 Médio
Metalúrgica 6 Alto
Couros e peles 6 Alto
Agroindústria de cítricos e açúcar e álcool 5 Médio
Química 2 Alto
Produtos de borracha e plástico 1 Pequeno
(1) Lei Federal nº 10.165 de 27/12/00 – Relação de atividades e potencial poluidor;
(2) Cetesb – Diretoria de Controle de Poluição Ambiental
Fonte: Relatório de Qualidade Ambiental do Estado de São Paulo (apud CULTRI, 2008)
Neste sentido, observa-se que o setor coureiro de Franca é considerado
tradicional com relação a problemas ambientais. Buscando registros nos jornais da
cidade, é possível observar que a cidade, ao longo de todos estes anos de
fabricação de couros e calçados, tem enfrentado diversos problemas. Tais como:
poluição dos córregos, ocasionando a extinção de peixes e tornando a água
imprópria para o consumo; o abandono de antigos curtumes localizados em áreas
urbanas; alto consumo de água observado na cidade; o despejo de águas
contaminadas nos córregos da cidade; a morte de dois trabalhadores que faziam a
limpeza de tanques de um curtume desativado em Patrocínio Paulista, que são
explicitados na seqüência.
O artigo “Calçados e segredos” traz uma informação neste sentido. Um dos
primeiros curtumes de Franca o Curtume Progresso, criado por Padre Alonso
Ferreira de Carvalho, poluiu os córregos, acabando com peixes e tornando a água
do chafariz imprópria para o consumo. Este fato é ressaltado pela informação
disponível na homepage da USP que aponta que em 1990 as águas dos córregos
que cortavam a cidade de Franca e região encontravam-se entre as mais poluídas
do estado de São Paulo. A poluição era visível, e a água exalava um odor e
carregava diversos detritos. Segundo a CETESB no ano de 1990, o Córrego dos
Bagres qualificava-se como imprópria, apresentando um índice de 0 a 19% de
agentes poluidores, sendo que este é o mais alto grau de poluição das águas. A
principal causa da poluição era o despejo de produtos químicos pelos curtumes
110
existentes na cidade na época. Estes fatos sustentam a necessidade do tratamento
dos resíduos e efluentes dos curtumes, que são gerados em grande quantidade.
Na reportagem intitulada “Curtumes abandonados” outro problema enfrentado
na cidade: o abandono de antigos curtumes, em plena área urbana, trazendo mal
cheiro, virando reduto de lixo e servindo de abrigo para andarilhos e usuários de
drogas. A situação incomoda os francanos, sendo que os curtumes abandonados
são apontados como o 6ª pior problema de Franca.
Outro evento que tem relação direta com os curtumes da cidade é que o alto
consumo de água observado em Franca é reflexo da grande concentração de
indústrias coureiras instaladas na cidade, segundo Felippe (2006), visto que o
processo produtivo do couro utiliza grande quantidade de água.
Uma fatalidade, não muito divulgada por sua gravidade, confirma a utilização
de insumos tóxicos e prejudiciais à saúde humana na fabricação do couro. Em
setembro de 2005, dois trabalhadores morreram asfixiados quando limpavam um
tanque de um curtume desativado em Patrocínio Paulista (cidade próxima a Franca).
Outros dois trabalhadores ficaram internados por vários dias na Santa Casa de
Franca. Laudos da Cetesb apontaram que havia cromo e sulfeto nos tanques,
material com alto poder de poluição. Isto comprova que os curtumes utilizam
produtos perigosos e que podem causar a morte de pessoas dependendo de sua
utilização (Informação disponível no artigo “Tanque de curtume tinha produtos
tóxicos”).
Os curtumes de Franca, apenas em 2006, se adequaram às normas exigidas
pelo Ministério Público do Meio Ambiente. Fato relatado pelo artigo “Contas de
adequação de curtumes o apresentadas”. A realização de inspeções nas lagoas
de tratamento pôde atestar que as normas ambientais estão sendo obedecidas
pelos estabelecimentos. Os donos dos maiores curtumes investiram cerca de U$ 5
milhões a U$ 10 milhões para se adequarem e em parceria com a AMCOA
(Associação de Manufaturados de Couros e Afins), foi construído um segundo local
para o tratamento dos resíduos. Foi apontado 70% de redução do odor provocado
pelos curtumes com esta adequação às normas, no entanto, no artigo “Curtumes se
ajustam?” (CORDEIRO, 2006) o advogado Theo Maia disse que nos bairros vizinhos
ao distrito, ainda pode ser sentido o mau cheiro dos curtumes. Os moradores
disseram que dependendo da direção e intensidade dos ventos, o mau cheiro piora.
Sendo assim, apesar de todos os investimentos e da publicidade feita pela
111
adequação às normas ambientais, ainda há o que se fazer para melhorar a
qualidade de vida das pessoas que convivem próximo aos curtumes.
A AMCOA, que faz o tratamento secundário dos efluentes das indústrias
coureiras do Distrito Industrial de Franca, faz o controle das emissões de efluentes,
visando atender aos parâmetros da CETESB. No entanto, em um estudo realizado
em 2001 por Matsumoto e Martin-Morales (apud PALERMO, 2001) as águas
coletadas no local de recebimento do efluente tratado pela AMCOA no córrego dos
Bagres em Franca e do rio Sapucaizinho em Patrocínio Paulista, apresentaram
condições toxicológicas de efeitos sub-letais. Sendo assim, conclui-se que o
tratamento dos efluentes realizado em 2001 era insuficiente para retirar os poluentes
das águas utilizadas no processo de curtimento.
4.8 Articulações sócio-ambientais na cadeia produtiva do couro
A preocupação com a responsabilidade social e ambiental, vem alcançando
dia a dia todos os segmentos produtivos. Neste tópico, serão apresentados alguns
exemplos de responsabilidade sócio-ambiental de participantes da cadeia produtiva
do couro e calçados.
Principal fornecedor de matéria-prima para os curtumes, os frigoríficos têm
ficado atentos ao combate ao trabalho escravo, pois a pecuária bovina é a atividade
que mais utiliza este tipo de mão de obra no país, de acordo com a Associação
Brasileira de Frigoríficos (ABRAFIGO), no artigo “Frigoríficos se unem no combate
ao trabalho escravo” (2008). Ainda segundo este artigo, os dois maiores frigoríficos
do Brasil (Bertin e Friboi) e o maior da região sudeste do Pará (Redenção)
assinaram em maio de 2007 o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho
Escravo, e com este, concordaram em cortar relações comerciais com pecuaristas
que forem flagrados com mão-de-obra escrava, bem como com os fornecedores que
mantêm relações com eles.
A exigência dos clientes com relação à preservação do meio ambiente
alcançou também as indústrias coureiras, que trazem grandes impactos ao meio
ambiente. Sendo assim, novas tecnologias estão sendo desenvolvidas para
minimizar os impactos decorrentes do processo produtivo do couro.
Pacheco (2005) informa diversas técnicas alternativas a serem empregadas
no processo produtivo do couro e que podem reduzir significativamente a geração
112
de poluentes. Detalha diversas ações e medidas de P+L e P2 a serem
implementadas pelos curtumes e que possibilitam, além dos benefícios ambientais,
benefícios econômicos, reduções de custos com matérias-primas, no tratamento dos
efluentes e na disposição dos resíduos. As ações são adotadas em todos os
processos de produção do couro, desde o armazenamento, a operação de ribeira, o
curtimento e acabamento. Segundo Pacheco (2005, p. 67) ainda salienta que o ideal
é “começar pelas medidas economicamente viáveis que dêem um bom retorno
ambiental e que sejam mais simples de serem implementadas”.
Em uma experiência em 12 curtumes de Minas Gerais, foram avaliados os
aspectos ambientais e identificadas 31 oportunidades de melhorias relacionadas
com estes aspectos. Os resultados mostraram uma redução do consumo de energia
e de água e também da geração de resíduos curtidos. No aspecto financeiro, os
resultados também foram satisfatórios, pois os investimentos totalizaram
R$ 82.715,00 enquanto que o retorno foi de R$ 636.243,000/ano (PACHECO, 2005).
Outra tendência no segmento coureiro é o curtimento sem a utilização do
cromo. O chamado free-cromo pode se transformar em uma ótima oportunidade de
negócio, e será a forma futura de curtimento dos couros, visto que o cromo é o
principal agente tóxico do curtimento e que, pode trazer grandes impactos
ambientais e prejudicar a saúde do homem.
No Brasil, a Bracol Couros, pertencente ao grupo Bertin, lançou uma linha de
couros que utiliza em seu curtimento extrato de plantas nativas brasileiras, que são
biodegradáveis, minimizando desta forma os impactos ao meio ambiente
decorrentes do processamento do couro (GRUPO BERTIN, 2007).
Uma empresa estrangeira que está investindo no free-cromo é a Ecopell,
situada na Alemanha. O processo de curtimento que a indústria utiliza é feito com
vegetais e ingredientes que não agridem o meio ambiente (TREE HUGGER, 2007).
Como exemplo de mercado consumidor, pode-se citar uma empresa
calçadista, situada em Northamptonshire, Inglaterra, especializada em calçados para
bebês que não utilizam couros curtidos no cromo. De acordo com a empresa, o uso
de calçados com o couro convencional pode causar irritação e dermatites nos pés
dos bebês. O cromo presente no couro também pode ser ingerido se os bebês
levarem os sapatos à boca. O couro utilizado pela empresa é curtido com extratos
vegetais, que causam menos impactos ao meio ambiente e são biodegradáveis
(DAISY ROOTS, 2007).
113
Uma alternativa para a utilização dos resíduos da indústria coureira
bastante utilizada e que vem ganhando mercado é o couro reconstituído (CRESCE a
presença de couro reconstituído no setor calçadista, 2007). A Indústria de Couro
Reconstituído (Recouro), com instalações em Franca, Rio de Janeiro e Novo
Hamburgo, investe em pesquisa e desenvolvimento para produzir o recouro a partir
de fibras de couro natural, que são as aparas de couro de curtumes, previamente
selecionadas e processadas a fim de transformá-las num material contínuo com
diversas formas de aplicação: produção de bolsas, cintos, carteiras. O produto
possui qualidade e resistência e é considerado “ecológico”, pois reaproveita as
sobras provenientes da indústria do couro, reduzindo assim, a quantidade de
resíduos que iriam para os aterros. Segundo Contador Júnior (2004), existem ainda
outros rejeitos com viabilidade de aproveitamento, recuperação e utilização como
subprodutos (como sebo, carnaça, fibras musculares, pêlos, etc).
Segundo Pinto (2008) a pesquisadora de Franca Joana D´Arc Felix de Sousa
(PHD em química pela Universidade de Harvard) faz pesquisas visando solucionar o
problema do lixo produzido pelo setor coureiro calçadista, possibilitando a geração
de lucros por parte de quem colocar as inovações em prática. O seu estudo consiste
em extrair subprodutos químicos das sobras de couro industrial. É possível extrair
das sobras de couro: corante, óleo de engraxe, tanino, cromo e colágeno, além da
água que é reaproveitada. Este projeto possibilita inúmeros ganhos ambientais, pois
parte dos resíduos que antes eram dispostos no meio ambiente e que
permaneceriam por tempo indeterminado, trazendo impactos ambientais e
inutilizando áreas, agora podem ser beneficiados e voltar ao processo produtivo,
diminuindo significativamente os danos causados ao meio ambiente.
Diversas outras maneiras de reaproveitamento de resíduos são utilizadas
atualmente. Em Franca, foi criada uma rede: Couro e Arte Do lixo ao luxo, que
reaproveita retalhos de couro doados por fábricas e curtumes para a fabricação de
bijuterias, bolsas, toalhas de mesa, tamancos, colchas para cama, dentre outros
produtos (LUQUES, 2008). Além de trazer renda para os participantes, esta rede
ajuda a minorar os resíduos gerados pela indústria coureira e calçadista,
minimizando desta forma, o impacto ambiental do setor na cidade.
O curtume Wyny do Brasil é único a possuir uma certificação da ISO 14001
no Brasil. Ações implementadas em todos os setores da empresa proporcionaram
expressivos ganhos ambientais. Em 2002, a empresa destinava 99% dos seus
114
resíduos para o aterro. A partir de 2006, com a adoção de todas as medidas de
gerenciamento dos processos produtivos, 6,67% dos resíduos vão para o aterro. O
restante é reciclado, possibilitando ganhos financeiros e ambientais (VIEIRA, 2007).
Vieira (2007, p. 35) salienta que o setor deve “encontrar novas tecnologias
que tornem o processo mais limpo e eficiente, evitando o desperdício de material e
energia, além de diminuir a carga poluidora”. Sendo assim, é necessária uma
constante avaliação econômica e ambiental do processo para identificar como,
porque e em qual etapa da produção foi gerado o resíduo, pois este é sinônimo de
ineficiência.
Com o exposto, conclui-se que o problema fundamental das indústrias
atualmente é encontrar medidas eficazes de minimização ou eliminação de resíduos
e impactos causados pelo processo produtivo. Na busca pelo desenvolvimento
sustentável, pesquisadores, organizações e empresas preocupados com o meio
ambiente e com o futuro dos seus negócios, desenvolvem tecnologias, ações de
gestão ambiental, técnicas de produção mais limpa para solucionar o problema dos
resíduos da indústria coureira e calçadista. Muitas vezes, mudança de postura,
sensibilização de funcionários, adoção de produtos menos tóxicos, ações de
prevenção à poluição dentre outros, trazem expressivos benefícios à empresa, à
comunidade e à natureza, sem que estes onerem os lucros. Pelos exemplos citados,
que são uma pequena amostra de inúmeras ões e pesquisas feitas atualmente,
percebe-se que não é impossível reduzir o impacto ambiental e os resíduos gerados
pela indústria do couro. Alternativas baratas e eficazes adotadas pelas empresas
podem melhorar sua imagem perante os consumidores e ainda auxiliar na melhoria
da qualidade do meio ambiente. Tais ações são necessárias no âmbito empresarial,
para não permitir que a capacidade de assimilação da natureza seja ultrapassada,
inviabilizando assim a qualidade de vida do ser humano no presente e no futuro.
Neste sentido, o próximo capítulo apresenta os resultados alcançados pela
pesquisa realizada nos curtumes de Franca.
115
CAPÍTULO 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Este trabalho propôs a realização de um estudo descritivo e uma pesquisa de
campo, visando à coleta de dados, com o objetivo de levantar ações de
responsabilidade social e gestão ambiental adotadas pelos curtumes. Neste sentido,
utilizou-se de alguns indicadores que podem contribuir para a inserção de valores
sociais e ambientais na empresa, com vistas a minimizar a geração de resíduos e
impactos ambientais e contribuir em áreas relacionadas com a comunidade,
melhorando a qualidade de vida da população do entorno. Sendo assim, para
melhor compreensão da aplicação dos indicadores de responsabilidade social e de
gestão ambiental dentro da empresa, elaborou-se a figura 7 que permite identificar,
de forma concisa, a atuação destes.
Figura 7 – Atuação dos indicadores da responsabilidade social e ambiental na empresa
A figura 7 apresenta, sucintamente, a atuação dos indicadores da
responsabilidade social e gestão ambiental. O alcance da responsabilidade social
empresarial compreende a melhoria das relações com o público interno,
fornecedores, consumidores, clientes, governo, sociedade e com a comunidade. E
esta melhoria entre as relações deve estar pautada pela utilização dos valores
organizacionais, pela transparência de suas atividades para com seus interessados
PROJETOS SOCIAIS
PRODUÇÃO
MAIS
LIMPA
LEGISLAÇÃO E
LICENCIAMENTO
AMBIENTAL
CONSUMIDORES E
CLIENTES
MEIO AMBIENTE
RESPONSABILIDADE
SOCIAL
EMPRESARIAL
GOVERNO E
SOCIEDADE
PÚBLICO
INTERNO
FORNECEDORES
COMUNIDADE
GESTÃO
AMBIENTAL
EMPRESA
RIAL
SISTEMAS DE
GESTÃO
AMBIENTAL
SISTEMA DE
GERENCIAMENTO
DE RESÍDUOS E
EFLUENTES
EMPRESA
116
e ões de governança corporativa. A responsabilidade social empresarial abrange
também uma integração positiva com o meio ambiente, que pode ser alcançada por
meio da gestão ambiental. Com relação à comunidade, devem ser desenvolvidos
projetos sociais e ações que possibilitem contribuir de forma concreta para melhorar
seu bem estar.
A gestão ambiental compreende diversos aspectos, no entanto, nesta
pesquisa utilizou-se: a implantação de um sistema de gestão ambiental aliado a
ações de Produção mais Limpa, a adoção de um sistema de gerenciamento de
resíduos e efluentes, o cumprimento de toda a legislação e licenciamento ambiental
pertinente à área de atuação da empresa. A adoção das ferramentas citadas, bem
como uma mudança de postura por parte da empresa, da externalização de seus
impactos à adoção de uma postura proativa de controle ambiental, refletem numa
melhoria da qualidade de vida da comunidade, visto que os recursos naturais serão
conservados e utilizados racionalmente pelas empresas. Deste modo, a adoção de
uma postura de responsabilidade ambiental proativa por parte da empresa reflete
diretamente numa melhoria da qualidade de vida da população.
Outro ponto importante é que em todos os aspectos deve-se observar a
interação entre os diversos elos, que compreende o pensamento sistêmico
envolvendo, portanto, todas as relações que a empresa mantém (consumidores,
fornecedores, clientes, distribuidores, comunidades, funcionários, etc). Desta forma,
a sustentabilidade empresarial sustentada por este trabalho considera a adoção de
ações de responsabilidade social e gestão ambiental, que possibilitem a eliminação
e/ou minimização dos impactos ambientais e que melhorem o bem-estar do público
interno e da comunidade como um todo.
Estes indicadores podem colaborar para a inserção dos valores sociais e
ambientais nos curtumes e forma utilizados para avaliar as ações de gestão
ambiental e responsabilidade social adotadas pelas empresas pesquisadas.
Para isso optou-se por pesquisar as indústrias coureiras situadas na cidade
de Franca-SP sendo, portanto, a população alvo do trabalho. Foram feitas visitas às
empresas com o intuito de conhecer a realidade vivenciada por elas, no que tange
aos aspectos sociais e ambientais. As indústrias investigadas foram selecionadas
aleatoriamente de acordo com a relação de filiados do Sindicato dos Curtumeiros de
Franca e dos integrantes da AMCOA.
117
Para a coleta dos dados, foram elaborados questionários respondidos pelos
responsáveis das áreas social e ambiental da empresa. Estes foram enviados às
indústrias no período de janeiro a março de 2008 e foi concedido o prazo de uma
semana para que fossem respondidos. Após este prazo, a pesquisadora retornou à
empresa para buscá-los. A priori a proposta da pesquisadora era estar presente
para sanar eventuais dúvidas aos respondentes do questionário. No entanto, houve
certa resistência por parte das empresas em responder o questionário na presença
da pesquisadora, muitos alegaram que não dispunham de tempo para responder no
momento e solicitaram a entrega posterior. A tabela 4 demonstra a quantidade de
questionários enviados e respondidos, tanto no teste piloto quanto na pesquisa de
campo.
Tabela 4 – Teste piloto e questionários
Enviados
Respondidos
Teste piloto
2 2
Questionários
16 12
De acordo com a tabela 4, observa-se que 75% das empresas responderam
os questionários enviados pela pesquisadora. Inicialmente, enviou-se o questionário
a dezesseis indústrias localizadas em Franca, representando cerca de 50% do total
de empresas instaladas na cidade. No entanto, observou-se durante a distribuição
dos questionários certa resistência por parte das empresas em respondê-los, visto
que quatro delas entregaram os questionários sem responder alegando que são
dados confidenciais ou que a empresa não se interessa por este tipo de prática. Este
fato alimenta ainda mais o fato de que as empresas desconhecem as novas técnicas
de gestão e a necessidade de desenvolver ações que extrapolem o cumprimento da
legislação. Sendo assim, foram investigadas no total doze empresas que
responderam e entregaram os questionários.
5.1 Caracterização das empresas pesquisadas
A primeira parte dos questionários objetivou caracterizar os principais
aspectos das empresas pesquisadas, bem como o perfil dos respondentes. Desta
forma, a tabela 5 apresenta a área de atuação dos respondentes.
118
Tabela 5 – Área de atuação dos respondentes
Área
Posição na empresa
Gestão Ambiental
Responsabilidade
Social
Operacional - - - -
Técnico 6 50% 1 8,33%
Administrativo 2 16,67% 7 58,33%
Diretoria 4 33,33% 4 33,33%
A observação da tabela 5 permite argumentar que, em relação à gestão
ambiental, 50% dos respondentes atuam na área técnica da empresa, isto se
justifica porque a gestão ambiental dos curtumes francanos não é contemplada pelo
gerenciamento estratégico da empresa, mas é vista basicamente pelo nível técnico,
composto por funcionários responsáveis pelo sistema de tratamento dos efluentes
dos curtumes. Com relação à responsabilidade social, observa-se uma maior
aderência do setor administrativo, 58,33%, visto que os questionários foram
enviados aos responsáveis pela área de Recursos Humanos.
Com relação à caracterização das empresas, tem-se a figura 8.
Figura 8 – Caracterização das empresas pesquisadas
De acordo com a figura 8, pode-se observar que em Franca predominam a
existência de curtumes de acabamento, somando um total de sete indústrias,
representando cerca de 58%. Este é um fator positivo, pois os processos de
acabamento do couro possuem um valor agregado maior, arrecadando assim
Porte da empresa
Porte da empresaPorte da empresa
Porte da empresa
Micro empresa
2
Pequena e média
10
Ramo de atuação
Ramo de atuaçãoRamo de atuação
Ramo de atuação
Curtume integrado
4
Curtume Wet Blue
1
Curtume Semi-Acabado 0
Curtume de acabamento
7
Até 100
-
Entre 101 a 200
1
Entre 201 a 500 1
Entre 501 e 1.000 2
Entre 1.001 e 2.000 5
Entre 2.001 e 3.000 1
Mais de 3.000 1
Não respondeu 1
Tempo existência
Tempo existência Tempo existência
Tempo existência
da empresa
da empresada empresa
da empresa
Entre 1 mês e 2
anos
-
Entre 2 e 5 anos
4
Ente 5 e 10 anos 1
Entre 10 e 15 anos
-
Entre 15 e 20 anos -
Há mais de 20 anos 7
Produção diária
Produção diária Produção diária
Produção diária
(
((
(em unidades
em unidadesem unidades
em unidades)
))
)
119
maiores valores monetários para a cidade e gerando uma maior quantidade de
empregos.
Com relação à produção diária, observa-se que 41,67% dos curtumes
pesquisados produzem de 1.000 a 2.000 unidades de couro, o que representa
expressiva quantidade de produção gerada pela cidade diariamente. Além disso, um
curtume ainda produz entre 2.001 e 3.000 peças e outro produz mais de 3.000
peças diariamente. Estes fatos corroboram para caracterizar a cidade de Franca
como expressiva produtora de couros no cenário produtivo nacional.
Além da quantidade produzida, foi questionada qual a média de peles
exportadas pela empresa. Apenas três empresas responderam favoravelmente, cuja
exportação em cada uma é, respectivamente, de 50%, 80% e 95%, indicando uma
expressiva quantidade exportada, corroborando para o fator salientado por Barbosa
(2006) na qual o setor coureiro e calçadista enfrenta um conflito de interesses
específicos, no caso dos curtumes, a exportação do couro torna escassa e cara a
matéria-prima para o setor calçadista nacional.
Com relação ao porte da empresa, 16,67% enquadram-se em micro
empresas, e a grande maioria 83,33% classificam-se como pequenas e médias
empresas, conforme classificação do SEBRAE. Este fato corrobora para a estatística
de que as indústrias curtumeiras são, em sua maioria, compostas por empresas de
pequeno e médio porte. Com relação ao tempo de existência, as empresas coureiras
de Franca podem ser consideradas sólidas, visto que 58,33% estão funcionando
mais de 20 anos, fato que sustenta a tradição do setor na cidade.
5.2 A indústria coureira de Franca frente às proposições da Responsabilidade
Social
Neste tópico, são apresentados os dados coletados pela pesquisa
relacionados à responsabilidade social.
Com relação a aspectos gerais da responsabilidade social, foi questionado
sobre o grau de importância que a empresa emprega à adoção de um Sistema de
Gestão da Responsabilidade Social (SGRS), conforme gráfico 3.
120
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
nenhum
baixo
médio
alto
muito alto
não conheço
não respondeu
Grau de importância de um
SGRS
Resposta das empresas
Gráfico 3 – Grau de importância da adoção de um Sistema de Gestão da Responsabilidade Social
Como pode-se observar no gráfico 3, cerca de 33% das empresas empregam
à adoção de sistemas de gestão da responsabilidade social um alto grau de
importância. Todavia, cerca de 41% empregam nenhum, baixo ou médio grau de
importância, enquanto que 8% desconhecem este tipo de sistema.
5.2.1 Valores, transparência e governança
A adoção de um código de ética pela empresa é um passo importante para a
incorporação da responsabilidade social corporativa (UNIETHOS, 2007). Neste
sentido, questionou-se às empresas em qual situação cada uma delas se
enquadrava, conforme gráfico 4.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
A empresa não possui um código de ética
próprio
Carta de princípios pouco incorporados aos
processos de trabalho
Um código de ética é adotado, mas abrange
apenas osveis hierárquicos
Um código de ética é adotado e abrange
todos osveis hierárquicos
Adoção de um código de ética
Respostas das empresas
Gráfico 4 – Adoção de um código de ética pela empresa
Apesar da importância da adoção de um código de ética para a incorporação
da variável social dentro da empresa, verifica-se no gráfico 4 que esta prática é
ainda incipiente na maioria das empresas. Apenas 25% das empresas declaram
121
adotar este tipo de documento, no entanto, nenhuma das empresas que alegaram a
adoção do código de ética se dispôs a mostrá-lo à pesquisadora.
5.2.2 Público interno
Um ponto importante na adoção de práticas de responsabilidade social é a
valorização do público interno, ou seja, dos funcionários e colaboradores da
empresa. É importante que a empresa faça mais do que respeitar as leis
trabalhistas, pois este fator reflete diretamente em uma maior motivação e satisfação
do funcionário e, consequentemente, na melhoria da produtividade e lucratividade.
Fatores como encorajar novas idéias, estabelecer uma conduta não discriminatória,
ouvir os funcionários, incentivar o desenvolvimento profissional dentro da empresa
estão dentre as ações que podem ser incorporadas. Neste sentido, foi questionado
sobre a existência de restrições para contração de pessoas respeitando sua
diversidade, conforme gráfico 5.
0
2
4
6
8
10
12
Pessoas com
opções sexuais
diferentes
Pessoas com
deficiências
físicas ou
mentais
Pessoas de
diferentes
culturas
Pessoas de
diferentes
religiões
Pessoas de
diferentes ras
Pessoas com
idade superior a
45 anos
Restrições para contratação
Respostas das empresas
Muito Pouca Nenhuma Não respondeu
Gráfico 5 – Existência de restrições para contratação
Apesar da maioria das empresas expressarem a não discriminação em vários
dos itens questionados, ainda certa restrição para a contratação de algumas
minorias. Pode-se citar como exemplo uma empresa que revelou a adoção de
muitas restrições para a contratação de pessoas com deficiências físicas e/ou
mentais. Foi alegado pelo entrevistador que, especificamente na área produtiva, o
desenvolvimento da maioria das funções não poderia ser desempenhado por uma
pessoa com deficiências físicas ou psíquicas, pois requer certas habilidades por
122
parte do funcionário. Sendo assim, a postura da empresa é restringir a contratação
de pessoas com tais deficiências. Outro fator que chama a atenção é a postura de
uma empresa em limitar a contração de pessoas de diferentes religiões. Contudo,
não foi apresentada nenhuma justificativa para esta postura.
Quanto a adoção de programas de treinamento de mão-de-obra tem-se o
gráfico 6.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
nunca
raramente
com certa regularidade
frequentemente
Treinamento de funcionários
Respostas das empresas
Gráfico 6 – Realização de treinamentos com funcionários
A leitura dos dados permite observar que a prática de programas de
treinamento dos funcionários é ainda pouco adotada pela maior parte das empresas
entrevistadas, visto que apenas duas empresas alegaram o freqüente treinamento
destes. O Uniethos (2007) esclarece que o oferecimento de treinamentos é um
ponto importante da inserção da variável social dentro da empresa, no entanto, é
necessário que todas as pessoas estejam incluídas quando estes forem oferecidos.
Ainda com relação à valorização do público interno, o incentivo ao
desenvolvimento profissional dos funcionários é um fator positivo para a empresa
que deseja tornar-se responsável sob o ponto de vista social. As respostas das
empresas com relação a este fator deram origem ao gráfico 7.
123
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
nunca
raramente
com certa
regularidade
frequentemente
Custeio de cursos
Resposta das empresas
Gráfico 7 – Custeio de cursos para funcionários
A maioria das empresas, cerca de 58%, declararam que raramente custeiam
cursos para os seus colaboradores. Apenas duas empresas, 16% do total dos
entrevistados, declararam a adoção freqüente desta prática. Sendo assim, observa-
se que a valorização do desenvolvimento profissional dos funcionários por parte da
empresa é ainda incipiente nas indústrias coureiras da cidade de Franca. Este fato é
sustentado pelas informações coletadas na RAIS-MTE (2009), que constatam que
2/3 dos trabalhadores das indústrias coureiras tem somente o ensino fundamental.
Apenas 2% dos funcionários possuem superior completo. Neste sentido, os
empresários das indústrias coureiras ainda desconhecem o valor dos estudos para
uma melhoria das relações trabalhistas e dos problemas do processo produtivo.
Segundo Pracuch (2009) a importância da educação formal se reflete numa melhoria
da qualidade do trabalho realizado. Como exemplo, ele citou o caso de um
engenheiro eletrônico que operava uma máquina de apontar e montar bico numa
indústria calçadista e três dias depois de começar a trabalhar, apresentou sugestões
de como melhorar o desempenho da máquina. Neste sentido Pracuch (2009)
salienta que um funcionário com preparo educacional aprende a pensar antes de
agir e sempre terá um desempenho infinitamente superior a uma pessoa que na
educação uma obrigação imposta pela sociedade. A educação, portanto, tem um
papel fundamental para a busca de soluções para os problemas empresariais, na
minimização dos acidentes de trabalho e também na diminuição de riscos
ambientais e melhoria da relação da empresa com a sociedade.
Evitar demissões é também um fator importante para a empresa que deseja
tornar-se socialmente responsável. Primeiramente deve-se buscar reduzir custos e
despesas, em última instância reduzir jornada de trabalho e salário, e se for
124
inevitável, demitir funcionários (UNIETHOS, 2007). Neste sentido, foi questionado às
empresas qual o primeiro fator a ser analisado quando é necessário reduzir custos.
Para demonstrar a opinião das empresas, criou-se o gráfico 8.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
mão-de-obra
benefícios sociais
custos operacionais ligados à
produção
não respondeu
Primeiro fator analisado
Respostas das empresas
Gráfico 8 – Primeiro fator a ser analisado quando é necessário reduzir custos
Como se pode observar no gráfico 8, 75% das empresas entrevistadas
declararam que custos operacionais ligados à produção é o primeiro fator a ser
analisado quando é necessário reduzir custos dentro da organização. Neste sentido,
a maioria das empresas entrevistadas está em consonância com o aspecto social,
visto que a minimização de custos da produção é o primeiro fator a ser analisado.
No entanto, duas empresas declararam que o primeiro fator a ser analisado é a
mão-de-obra, ou seja, a demissão de funcionários é primeiramente discutida pela
empresa quando é necessário reduzir custos. Sendo assim, estas empresas
demonstram uma despreocupação com a manutenção do emprego de seus
funcionários. Em última instância, quando é necessário reduzir o quadro de
colaboradores, a empresa socialmente responsável deve prestar certa assistência
às pessoas, no sentido de tentar encaminhá-los a uma outra empresa que esteja
necessitando de mão-de-obra ou a um curso profissionalizante que permita a sua
rápida recolocação no mercado de trabalho (UNIETHOS, 2007).
Com relação à realização de investimentos em determinadas áreas, tem-se o
gráfico 9.
125
0
2
4
6
8
10
12
S
a
ú
d
e
E
d
u
c
a
ç
ã
o
M
e
i
o
a
m
b
i
e
n
t
e
C
u
l
t
u
r
a
E
s
p
o
r
t
e
Investimentos
Resposta das empresas
sim
o, mas planeja investir
o, e não planeja investir
Não respondeu
Gráfico 9 – Realização de investimentos em determinadas áreas
Pelo gráfico 9 pode-se observar que o fator que mais recebe investimentos
por parte da empresa é o meio ambiente. Isto advém da obrigação de seguir a
legislação ambiental, sendo que o não cumprimento está passível de sanções e
multas. O segundo fator que mais recebe investimentos é a saúde, visto que a
empresa deve assumir tais responsabilidades para com os funcionários, previstas no
art. da Constituição Federal (BRASIL, 1988). Apenas uma empresa relatou
investir em educação, que no caso, é inserida na empresa por meio da EJA
(Educação de Jovens e Adultos). O projeto da empresa é levar a EJA para que seja
realizada no local de trabalho, melhorando assim o nível de escolaridade dos seus
colaboradores e, consequentemente, o nível intelectual, que possibilita uma maior
contribuição por meio de idéias e sugestões para a melhoria do processo produtivo.
Com relação à cultura e esporte, apenas uma empresa relatou fazer investimentos,
que no caso da cultura se restringe a comemorar datas importantes do calendário
nacional, tais como 7 de setembro, Proclamação da República, dentre outros. No
caso do esporte, não foi relatado pela empresa em que consiste este investimento.
5.2.3 Fornecedores
A relação com fornecedores é outro fator importante para a responsabilidade
social. A empresa deve adotar uma postura de transparência e de diálogo com os
fornecedores, no sentido de demonstrar suas ações e incentivar a adoção de
compromissos éticos e de responsabilidade social. A preocupação quanto a práticas
trabalhistas pode ser o primeiro passo no estabelecimento de uma postura de
126
comprometimento da empresa e seus fornecedores (UNIETHOS, 2007). Neste
sentido, foi questionado sobre a postura da empresa diante da mão-de-obra
contratada pelos seus fornecedores, cujo resultado está apresentado no gráfico 10.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
A empresa possui políticas claras, com sanções
aos fornecedores que empregam mão-de-obra
infantil ou escrava e monitoramento
Nos contratos existem cláusulas que proíbem a
contratação de mão-de-obra infantil ou escrava,
maso um monitoramento
A empresa é indiferente ao tipo de mão-de-obra
contratada pelos agentes da sua cadeia produtiva
o respondeu
Postura da empresa
Respostas das empresas
Gráfico 10 – Postura diante da mão-de-obra contratada pelos fornecedores
Com relação ao fator mão-de-obra contratada pelos fornecedores, a maior
parte das empresas mostrou-se indiferente ao tipo de mão-de-obra contratada pelos
seus fornecedores. Sendo assim, não interessa à empresa se os seus fornecedores
contratam mão-de-obra infantil ou escrava. Apesar de quatro empresas declararem
a existência de cláusulas que proíbem a contratação deste tipo de mão-de-obra por
parte dos fornecedores, não um monitoramento que certifique que estas
cláusulas estão sendo seguidas, e também não existem sanções ou políticas claras
que visam punir as organizações em que forem constatadas tais irregularidades.
5.2.4 Consumidores e clientes
Procedimentos de responsabilidade social com consumidores e clientes são
fundamentais (UNIETHOS, 2007). Neste sentido, foi questionado sobre a postura da
empresa em relação ao atendimento de fornecedores e clientes. No caso da
indústria coureira, os clientes são a indústria calçadista, indústria moveleira e o setor
automobilístico. As respostas das empresas resultaram no gráfico 11.
127
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Disponibiliza um SAC que proporcione rápida
resolução do problema do cliente
Disponibiliza um SAC que registra as reclamações
dos clientes, que serão solucionadas posteriormente
A empresa não possui um SAC
Não respondeu
Atendimento ao consumidor
Respostas das empresas
Gráfico 11 – Postura da empresa com relação ao atendimento ao consumidor/cliente
Ouvir as manifestações dos consumidores e clientes, no sentido de melhorar
o atendimento, os produtos e serviços oferecidos pela empresa, incentivar
sugestões e críticas, realizar pesquisas de opinião entre os clientes são fatores
importantes para a responsabilidade social (UNIETHOS, 2007). Todavia, observou-
se pela pesquisa que cerca de 66% das empresas o disponibiliza um SAC
(Serviço de Atendimento ao Consumidor) para que tais manifestações sejam
ouvidas. também uma empresa que disponibiliza o SAC que apenas registra a
reclamação do cliente e não proporciona a rápida resolução do seu problema.
Apenas duas empresas declararam a disponibilização do SAC que proporciona
rápida resolução do problema do cliente.
5.2.5 Comunidade
Segundo o Uniethos (2007) a relação que uma empresa tem com a
comunidade na qual está inserida, é um dos principais exemplos dos valores com os
quais está comprometida. Promover a comunidade representa adotar ações como
ouvir suas dificuldade e buscar soluções conjuntas, incentivar a realização de
trabalhos voluntários dentro e fora da empresa, praticar a filantropia, oferecer apoio
a alguma escola local, dentre outros. A adoção de um projeto social é um passo
importante na buscar pela promoção da comunidade e da inserção da variável social
dentro da empresa. Neste sentido, questionou-se sobre a existência de algum
projeto social desenvolvido pela empresa, cuja resposta está no gráfico 12.
128
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Sim, a empresa possui um projeto social estruturado e sendo
desenvolvido atualmente junto à comunidade
No momento não, mas a empresa já desenvolveu
Não, mas a empresa está desenvolvendo
Não, mas a empresa planeja desenvolver
Não, e a empresa não planeja
Não respondeu
Projeto social
Resposta das empresas
Gráfico 12 – Existência de algum projeto social desenvolvido junto à comunidade
Como se pode observar no gráfico 12, apenas uma empresa declarou o
desenvolvimento atual de um projeto social junto à comunidade. Um fator que
chama a atenção é que 50% das empresas não desenvolvem e não planejam
desenvolver um projeto social em sua empresa. Neste sentido, observa-se que as
indústrias entrevistadas não se preocupam com a promoção do bem estar da
comunidade refletida por meio de projetos sociais, fator que afasta a empresa de
uma postura socialmente correta, visto que a responsabilidade social é uma soma
de vários aspectos considerados e tratados pela empresa, dentre eles o aspecto
comunidade.
A conscientização e mobilização dos funcionários para desenvolver um
trabalho voluntário é também aspecto importante. Sendo assim, questionou-se sobre
a freqüência com que a empresa incentiva o funcionário a realizar um trabalho
voluntário, cuja resposta está no gráfico 13.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
nunca
raramente
com certa regularidade
frequentemente
Não respondeu
Trabalho voluntário
Resposta das empresas
Gráfico 13 – Incentivo de funcionário para desenvolver um trabalho voluntário
129
Como pode-se observar no gráfico 13, cerca de 58% dos entrevistados nunca
ou raramente incentivam a prática do trabalho voluntário dentro da organização.
Este fator reflete, mais uma vez, a falta de valorização da comunidade por parte da
empresa.
5.2.6 Governo e sociedade
O Uniethos (2007) salienta que um relacionamento ético com o poder público,
bem como o cumprimento às leis, faz parte da gestão de uma empresa socialmente
responsável. O cumprimento deste fator reflete numa contribuição para o
desenvolvimento da região e do país. Neste sentido, questionou-se às empresas
sobre o relacionamento atual com autoridades, agentes fiscais e o poder público,
cujas respostas estão no gráfico 14.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Possui política explicita de combate à
corrupção
Procura evitar situações que
envolvam o favorecimento a agentes
do poderblico
não respondeu
Relacionamento com
autoridades
Resposta das empresas
Gráfico 14 – Relacionamento das empresas com autoridades, agentes fiscais e poder público
É importante para as empresas cultivar uma relação com as autoridades, de
forma a não favorecer agentes públicos ou a praticar ações ilegais. Neste sentido,
observa-se que cerca de 83% das empresas declararam evitar no seu dia-a-dia tais
ações.
5.2.7 A empresa e as certificações e selos
A última parte do questionário de responsabilidade social consistiu na
identificação de alguns selos e certificações adquiridos pelas empresas coureiras de
Franca, tais como mostra o gráfico 15.
130
0
2
4
6
8
10
12
ISO 9000
I
S
O
1
40
0
0
O
S
H
A
S
1
8
00
0
ABN
T
NBR
16
0
01
Selo
Empresa
a
m
ig
a
d
a
C
riança
Selo
s
F
u
nd
a
ção Abri
n
q
Certificações e selos
Resposta das empresas
sim
o, mas planeja buscar
o, eo planeja buscar
o respondeu
Gráfico 15 – Certificações e selos que a empresa possui
Analisando-se o gráfico 15, observa-se que as indústrias coureiras de Franca
não possuem nenhuma das certificações especificadas no questionário. Apenas
uma empresa declarou possuir o selo “Empresa Amiga da Criança” da Fundação
Abrinq. A consulta na listagem disponível na homepage do Instituto Pró-criança
(2009), importante instituição que realiza diversos trabalhos junto à comunidade e
proporciona a vários jovens e crianças a oportunidade de realizar algum curso,
confirmou que nenhuma indústria coureira possui tal selo. Neste sentido, observa-se
mais uma vez a falta de valorização da sociedade e a ausência de incentivos para a
melhoria dos problemas sociais.
O que se observou na aplicação da pesquisa é que, apesar dos respondentes
considerarem importante a adoção de um SGRS e adotarem algumas ações
relevantes para a adoção de uma postura de responsabilidade social, não
indícios de que as empresas possuam um sistema estruturado para gerir estas
variáveis. Sendo assim, nota-se que a adoção da responsabilidade social nas
indústrias coureiras de Franca é ainda incipiente e carece de maturidade, sendo
necessário um maior esclarecimento sobre sua importância e aplicabilidade.
O próximo tópico apresenta a aplicação do teste estatístico de Kolmogorov
Smirnov nas questões relativas ao questionário sobre a responsabilidade social.
131
5.2.8 Responsabilidade social: a aplicação do teste de Kolmogorov Smirnov
Para o Uniethos (2007) fabricar produtos ambientalmente corretos, promover
a inclusão social, participar do desenvolvimento da comunidade da qual fazem parte
são algumas ações diferenciadas e cada dia mais importantes para as empresas
conquistarem novos mercados. Neste sentido, aplicou-se o teste de Kolmogorov
Smirnov em algumas questões consideradas mais próximas da realidade das
indústrias coureiras de Franca e cruciais para a incorporação da responsabilidade
social dentro da empresa, tais como a implementação de um código de ética, a
existência de restrições para a contratação de pessoas com diferentes perspectivas
e o desenvolvimento de um projeto social junto à comunidade. o objetivou-se
reduzir a responsabilidade social à estes fatores, visto que esta apresenta-se como
a soma de uma postura ética, transparente, de respeito com o meio ambiente, com a
comunidade, governo, fornecedores, clientes, enfim, todos os públicos com os quais
interage. Sendo assim, tomou-se alguns aspectos que mais facilmente poderiam ser
incorporados nas indústrias coureiras de Franca, aproximando-as da adoção de
valores sociais dentro da empresa.
Ao se ajustar uma distribuição de probabilidade a um conjunto de dados,
trabalha-se com a hipótese de que a distribuição pode representar adequadamente
aquele conjunto de informações. Para comprovar esta hipótese, adotou-se a prova
estatística de Kolmogorov-Smirnov (SIEGEL, 1975), que refere-se a uma análise
não paramétrica que permite determinar se os valores da amostra podem
razoavelmente ser considerados como provenientes de uma população com aquela
distribuição teórica. Utilizou-se o nível de confiança de 0,05.
Como metodologia para sua aplicação, considera-se Fi a freqüência
observada (ou seja, a contagem das indústrias que responderam a determinada
questão), F0 a proporção dos valores esperados menores ou iguais a 0 e S12 a
proporção dos valores observados menores ou iguais a 12, em que D
calc
é módulo
do desvio máximo observado, tal como a fórmula:
D
calc
= Max | F0 – S12|
Para isso, compara-se o D
calc
com o D
tab
que, de acordo com Siegel (1975)
para o nível de significância de 0,05 é de D
tab
= 0,375. Se o D
calc
for maior, existe
concordância entre as freqüências observadas e esperadas, ou seja, a amostra
provém de uma população que segue a distribuição de probabilidade sob teste.
132
Sendo assim, pode-se inferir acerca da amostra analisada, permitindo uma maior
compreensão sobre o comportamento da indústria coureira frente à responsabilidade
social e ambiental. Se o D
calc
for menor, não existe diferença significativa, e
portanto, não há como inferir ou fazer conclusões sobre a amostra.
A aplicação do teste de Kolmogorov-Smirnov na questão 4 Qual grau de
importância a empresa emprega à adoção de um SGRS? – gerou a tabela 6.
Tabela 6 – RS: Aplicação do teste de Kolmogorov-Smirnov na questão 4
Categorias
1 |- 2,5 2,5 |- 4 4 |- 5,5 5,5 |- 7 7 |- 8,5 8,5 |-| 10
Fi
3 2 2 0 1 4
F0
2/12 4/12 6/12 8/12 10/12 12/12
S12
3/12 5/12 7/12 7/12 8/12 12/12
|F0-S12|
1/12 1/12 1/12 1/12 2/12 0
Na aplicação do teste, encontrou-se o D
calc
= 0,167. Neste caso, o existe
diferença significativa, portanto, não como concluir se as empresas analisadas se
importam ou não com a adoção de um SGRS. Sendo assim, não é possível nesta
questão, enquadrar a empresa na escala de Pasa (2004).
Para a questão 5 A empresa possui um digo de ética, e como este é
adotado – tem-se a tabela 7.
Tabela 7 – RS: Aplicação do teste de Kolmogorov-Smirnov na questão 5
Categorias
2 |- 3,5 3,5 |- 5 5 |- 6,5 6,5 |- 8
Fi
7 1 1 3
F0
3/12 6/12 9/12 12/12
S12
7/12 8/12 9/12 12/12
|F0-S12|
4/12 2/12 0 0
Na aplicação do teste, encontrou-se o D
calc
= 0,333. Para esta questão,
também não existe diferença significativa. Sendo assim, não há como inferir ou
concluir se as empresas adotam ou não um digo de ética bem estruturado dentro
da empresa. o é possível também enquadrar as empresas na escala de Pasa
(2004) e na abordagem de Montana e Charnov (apud NASCIMENTO et al, 2008),
visto que não se sabe se as indústrias adotam ou não um código de ética.
A questão 12 Existência de restrições para contratação de pessoas gerou
a tabela 8.
133
Tabela 8 – Aplicação do teste de Kolmogorov-Smirnov na questão 12
Categorias
6 |- 15 15 |- 24 24 |- 33 33 |- 42
Fi
1 0 2 9
F0
3/12 6/12 9/12 12/12
S12
1/12 1/12 3/12 12/12
|F0-S12|
2/12 5/12 6/12 0
O teste apontou o D
calc
= 0,50. Sendo assim, é possível concluir que as
empresas de Franca não impõem restrições para a contratação de pessoas com
diferentes religiões, raças, opções sexuais, dentre outras. Neste sentido, de acordo
com a escala de Pasa (2004) e com a abordagem de Montana e Charnov (apud
NASCIMENTO et al, 2008), disponível no quadro 3, pode-se enquadrar a empresa
no grau
fraco
, na
abordagem da obrigação social
. Percebe-se que a empresa
apenas cumpre as suas obrigações sociais, visto que a discriminação na
contratação de pessoas está prevista em Leis tais como: Lei Federal 9029/1995 e
Lei Estadual º 11.369/2003 e são passíveis de sanções penais e administrativas.
Com relação à questão 39 Existência de algum projeto social desenvolvido
junto à comunidade – elaborou-se a tabela 9.
Tabela 9 – Aplicação do teste de Kolmogorov-Smirnov na questão 39
Categorias
1 |- 2,5 2,5 |- 4 4 |- 5,5 5,5 |- 7 7 |- 8,5 8,5 |- 10
Fi
7 0 2 2 0 1
F0
2/12 4/12 6/12 8/12 10/12 12/12
S12
7/12 7/12 9/12 11/12 11/12 12/12
|F0-S12|
5/12 3/12 3/12 3/12 1/12 0
Para esta questão o D
calc
= 0,4167. Sendo assim, é possível concluir
estatisticamente que as indústrias de Franca não desenvolvem projetos sociais
voltados à comunidade. Neste sentido, vê-se que as empresas não se preocupam
em promover o bem-estar da comunidade por meio de projetos sociais. Esta
resposta permite enquadrar as indústrias coureiras de Franca, mais uma vez, no
grau
fraco
da escala de Pasa (2004), ou seja, na
abordagem da obrigação social
de Montana e Charnov (apud NASCIMENTO et al, 2008). A elaboração de um
projeto social é um importante passo da empresa na busca pela inserção dos
valores sociais dentro da organização, no entanto, não é o que se observa na gestão
das indústrias coureiras de Franca.
A análise dos dados permitiu a elaboração do quadro 18, no qual são
elencados graus de comprometimento das empresas com a responsabilidade social,
134
de acordo com a escala de Pasa (2004) e com a abordagem de Montana e Charnov
(apud NASCIMENTO et al, 2008).
Fator analisado
Resultado Teste
Kolmogorov
Smirnov
Grau de
comprometimento
com a RS
Níveis de
sensibilidade
social
Grau de importância que a
empresa emprega à
adoção de um SGRS
Não houve
diferenças
significativas
Não é possível inferir
Não é possível
inferir
Existência de um código de
ética da empresa
Não houve
diferenças
significativas
Não é possível inferir
Não é possível
inferir
Existência de restrições
para a contratação de
pessoas
As empresas não
impõem restrições
para a contratação
de pessoas
Fraco
Abordagem da
obrigação social
Existência de um projeto
social desenvolvido pela
empresa junto à
comunidade
As empresas não
desenvolvem
projetos sociais junto
à comunidade
Fraco
Abordagem da
obrigação social
Quadro 18 – Resultados da pesquisa: teste de Kolmogorov Smirnov, graus de comprometimento e
níveis de sensibilidade social
Observa-se que o teste de Kolmogorov Smirnov permitiu uma maior
compreensão sobre a realidade vivenciada pelas indústrias coureiras de Franca.
Este não mostrou diferenças significativas entre as amostras no grau de importância
empregado ao SGRS e na existência de um código de ética, sendo assim, não foi
possível fazer conclusões ou elencar um grau de comprometimento às indústrias
coureiras de Franca. Todavia, foi possível inferir que as empresas não impõem
restrições para a contratação de pessoas e que os projetos sociais não são
desenvolvidos por elas, deste modo, observa-se que as empresas enquadram-se no
grau fraco, e na abordagem da obrigação social, ou seja, cumprem apenas as
obrigações exigidas por lei e não realizam nenhuma ação voluntária na área social.
5.3 A indústria coureira de Franca frente às proposições da Gestão Ambiental
Neste tópico, apresenta-se os resultados do questionário sobre a gestão
ambiental.
Com relação a aspectos gerais da gestão ambiental, foi questionado sobre o
grau de importância que a empresa emprega à adoção da gestão ambiental,
conforme gráfico 16.
135
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
nenhuma
baixa
média
alta
muito alta
não respondeu
Grau de importância
GA
Respostas das empresas
Gráfico 16 – Grau de importância da adoção da Gestão Ambiental
Como se pode observar no gráfico 16, cerca de 91% das empresas
empregam à adoção da gestão ambiental um alto grau de importância. Este fato
relaciona-se também com a obrigatoriedade da adoção de sistemas de tratamento
dos efluente pelas empresas, o que pode acarretar em pesadas multas àquelas que
não cumprirem a legislação.
5.3.1 Política ambiental
Foi questionado sobre a existência de ações empresariais voltadas à gestão
ambiental, tais como o SGA, ações de gestão ambiental e programas de P2,
conforme gráfico 17.
0
2
4
6
8
10
12
S
G
A
A
ç
õ
e
s
d
e
G
A
P
r
o
g
r
a
m
a
s
d
e
P
2
I
n
d
i
c
a
d
o
r
e
s
d
e
d
e
s
e
.
.
.
O
b
j
e
t
i
v
o
s
e
m
e
t
a
s
d
e
.
.
.
Ações empresariais
Respostas das empresas
sim
não
não respondeu
Gráfico 17 – Adoção de ações empresariais voltadas à gestão ambiental
Observa-se no gráfico 17 que a maioria das empresas declararam adotar
SGA, ações de gestão ambiental, programas de P2, indicadores de desempenho
136
ambiental e objetivos e metas de desempenho ambiental. No mínimo 50% das
empresas informaram que possuem tais ações dentro de suas empresas.
Com relação à adoção de uma política ambiental, tem-se o gráfico 18.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Sim, a empresa
possui uma política
ambiental
não, a empresa não
possui uma política
ambiental
não respondeu
Política ambiental
Respostas das empresas
Gráfico 18 – Adoção de uma política ambiental
Pela leitura dos dados, observa-se que cerca de 66% das empresas
declararam possuir uma política ambiental que favorece o estabelecimento de
objetivos e metas ambientais, levando em conta os aspectos ambientais e a
legislação vigente, bem como a sua divulgação à todos os colaboradores. A política
ambiental é o principal ponto de um SGA, pois expõe as intenções e princípios da
empresa com relação à questão ambiental e provê uma estrutura de ação e
definição de metas e objetivos ambientais. No entanto, observa-se também que,
apesar de 8 empresas declararem a existência de uma política ambiental, apenas 7
declararam possuir objetivos e metas de desempenho ambiental (gráfico 17), um
fator crucial para a elaboração de uma política ambiental, e 6 declararam a
existência de um SGA dentro da organização. Sendo assim, conclui-se que, apesar
das empresas confirmarem a existência de alguns elementos de gestão ambiental
dentro da organização, neste caso a política ambiental, é necessário avaliar na
prática o que isto significa, visto que esta deve conter objetivos que possibilitem um
real comprometimento da empresa com a questão ambiental, visando minimizar o
impacto das suas atividades.
5.3.2 Gerenciamento ambiental
Com relação ao gerenciamento ambiental, foi questionado sobre o grau de
importância de alguns fatores ambientais, tais como insumos, impactos e aspectos
ambientais. As respostas das empresas estão representadas pelo gráfico 19.
137
0
2
4
6
8
10
12
co
nsum
o
águ
a
co
nsumo
ene
r
g
i
a
min
i
m
i
zação
da geração de
r
e
duos
r
e
duçã
o
de
d
esp
er
ci
o
s
de
mat
é
r
i
a-...
em
i
ssão de r
do
s
ou vib
r
açõ
es
emissões de odores e po
e
ira
i
m
p
act
os
vi
su
ai
s
geração de
re
duo
s
sól
i
do
s
e
e
f
l
uen...
manut
e
nção
da
qu
al
i
da
de
d
as
ág
uas
Fatores ambientais
Respostas das empresas
nenhum
baixo
médio
alto
muito alto
Gráfico 19 – Grau de importância de alguns fatores ambientais do processo produtivo
Analisando-se o gráfico 19, observa-se que aspectos como o consumo de
água, consumo de energia e a redução de desperdícios de matéria-prima são os
aspectos aos quais são empregados alto ou muito alto grau de importância. No caso
do consumo da água e da energia elétrica, cerca de 91% das empresas consideram
importante o seu gerenciamento. A minimização da geração de resíduos e a geração
de resíduos sólidos e efluentes são vistas com médio grau de importância por 25%
dos entrevistados, alto grau por 41,67% das empresas e muito alto por 33% das
respondentes. Neste sentido, observa-se que as empresas empregam importância à
minimização da geração de resíduos.
Um fator preocupante na análise do gráfico 19 é o fato de duas empresas
empregarem um baixo grau de importância à manutenção da qualidade de águas
subterrâneas e dos mananciais e uma empresa empregar médio grau. Esta
preocupação advém do fato de que duas respondentes são empresas consolidadas
no mercado, funcionando há mais de 20 anos e com uma expressiva produção de
couros. Para as empresas que declaram possuir SGA, política ambiental, que é o
caso de duas das empresas que responderam baixo e médio grau nesta questão, a
manutenção de quaisquer recursos essenciais para o bem-estar do ser humano,
deveriam ser considerados muito importantes pelas organizações, e mais do que
138
isso, deveria ser uma meta ambiental a sua preservação e manutenção, visto que a
água é também insumo importante na produção do couro.
Questionou-se também sobre a freqüência da realização de estudos visando
à redução de riscos ambientais associados aos processos, conforme gráfico 20.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
nunca
raramente
com certa regularidade
frequentemente
não respondeu
Frequência
Respostas das empresas
Gráfico 20 – Freqüência da realização de estudos visando à redução de riscos ambientais
Dentre as empresas pesquisadas, apenas 25% declararam a freqüente
realização de estudos visando à redução de riscos ambientais. Este fator é
importante para a implementação e manutenção de um programa de P+L e P2, visto
que estes visam a não geração de resíduos ou impactos ao longo do processo
produtivo, bem como a redução de riscos ao meio ambiente.
Com relação à estrutura de gestão ambiental dentro da empresa, foi
questionado sobre a disponibilização de recursos humanos, físicos e financeiros,
essenciais para a qualidade da gestão ambiental. As respostas das empresas
geraram o gráfico 21.
0
2
4
6
8
10
12
humanos físicos financeiros
Recursos
Respostas das empresas
disponibiliza integralmente
disponibiliza em partes
não disponibiliza
Gráfico 21 – Disponibilização de recursos para a gestão ambiental
139
O gráfico 21 mostra que 50% das empresas possuem uma pessoa que trata
apenas dos aspectos ambientais da empresa. Com relação aos recursos físicos,
apesar de metade das empresas declararem ter uma pessoa que cuida
especificamente das questões ambientais, apenas 25% possuem um departamento
exclusivo para tratar de assuntos ambientais, incluindo equipamentos necessários
ao seu funcionamento. E quando questionados sobre a disponibilização de recursos
financeiros, 41,67% das empresas declararam a constante disponibilização para o
bom funcionamento da gestão ambiental.
Outro fator questionado foi a existência da realização de pesquisas sobre
novas formas de curtimento que sejam menos agressivos ao meio ambiente. Tem-se
então o gráfico 22.
0 2 4 6 8 10 12
sim
não
Pesquisas de novos
curtimentos
Respostas da empresas
Gráfico 22 – Realização de pesquisas sobre novas formas de curtimento
O gráfico 22 demonstra que 83% das empresas pesquisadas promovem
pesquisas buscando novas formas de curtimento que sejam menos agressivas ao
meio ambiente.
Com relação à utilização de outro tipo de curtente, substituindo o cromo, tem-
se o gráfico 23.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
sim
não
não
respondeu
Utiliza outro curtente
Respostas das empresas
Gráfico 23 – Utilização de outro tipo de curtente (substituindo o cromo)
140
A análise do gráfico permite observar que 58% das empresas o utilizam
outro tipo de curtente, substituindo o cromo. No caso das quatro empresas que
responderam positivamente à questão, os curtentes utilizados por duas delas o
taninos vegetais e sintéticos, por outra, taninos orgânicos, sintéticos e aldeídos
alifáticos modificados e pela última, formaldeído.
5.3.3 Racionalização do processo produtivo
Na terceira parte do questionário, procurou-se abordar os aspectos do
processo produtivo que sofrem alguma racionalização. Primeiramente questionou-se
sobre a matéria-prima mais poluente utilizada no processo produtivo, como mostra o
gráfico 24.
Maria-prima mais poluente
51%
8%
8%
8%
25%
cromo sal
corantes
óleos
anilinas
o respondeu
Gráfico 24 – Matéria-prima mais poluente
O gráfico 24 permite observar que a matéria mais poluente utilizada no
processo produtivo é o cromo, de acordo com 51% das empresas. Não obstante,
apesar de considerarem a matéria-prima poluente, apenas 33% das empresas
buscam outras formas de curtimento que substituam o cromo, procurando tornar o
processo produtivo e os resíduos menos agressivos ao meio ambiente, conforme
gráfico 23.
Questionou-se sobre a freqüência da racionalização de alguns aspectos
durante o processo produtivo, segundo gráfico 25.
141
0
2
4
6
8
10
12
ma
t
ér
i
a
s-
pri
m
as
r
ea
pr
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e
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m
e
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o
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clage
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n
a
red
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o
de e
m
is
e
s a
tmo
sf..
.
Frequência de racionalização dos aspectos
Respostas das empresas
nunca
raramente
com certa regularidade
frequentemente
não respondeu
Gráfico 25 – Freqüência da racionalização de alguns aspectos durante o processo produtivo
Analisando-se o gráfico 25, observa-se que o fator racionalizado mais
frequentemente é a energia elétrica. Cerca de 58% das empresas afirmaram
racionalizar energia elétrica com freqüência. O segundo fator mais racionalizado,
50% das empresas, são as matérias-primas. Logo após, tem-se a redução de
resíduos lidos na fonte, praticada por 41% das empresas. Com relação ao
reaproveitamento de água no processo produtivo, apenas uma empresa (cerca de
8% do total) declarou reaproveitá-la nas bombas de vácuo que precisam de água
para serem resfriadas. Cerca de 66% das empresas nunca ou raramente fazem este
tipo de reaproveitamento durante o processo. Contudo, se uma empresa realiza
algum tipo de reaproveitamento, talvez haja potencial para reaproveitá-la e que não
está sendo realizada ou vista pelo empresário. Com relação à racionalização de
matérias-primas, 50% das empresas alegaram racionalizar frequentemente. O reuso
de materiais é feito frequentemente por 16% das empresas, 58% das empresas
entrevistadas nunca ou raramente fazem este tipo de reuso. A reciclagem externa,
ou seja, envio de materiais para que seja reciclado por terceiros, é feita
frequentemente por 33% das indústrias, e nunca ou raramente é realizada por 33%
da indústrias. ações de redução de emissões atmosféricas é realizada
frequentemente por 25% das empresas e nunca ou raramente é feita por 50% das
indústrias.
As respostas das empresas para esta questão contradizem, em todos os
aspectos, a adoção de um programa de P2 ou P+L na empresa. Cerca de 83% das
142
empresas informaram a existência de um programa de P2 (gráfico 17). Todavia,
analisando-se estas respostas, conclui-se que as indústrias não adotam este tipo de
programa. A redução de resíduos lidos na fonte é o primeiro passo para a
implementação de programas de P2 e P+L, no entanto, foi relatado por 41% das
empresas. Com relação à práticas de conservação de matéria-prima e energia,
observa-se que apenas 58% das empresas fazem a racionalização freqüente de
energia, 8% reaproveitam água frequentemente em suas atividades e 50%
racionalizam frequentemente matéria-prima no processo produtivo. Outro fator
interessante que pode ser comparado é sobre a conservação da água. Cerca de
66% das empresas declararam empregar um alto grau de importância para o
consumo de água no processo produtivo (gráfico 19), no entanto, apenas uma
empresa realiza algum tipo de reaproveitamento, e que pode ser interpretado como
um cuidado mais concreto com este recurso natural. Com relação à redução na
quantidade e toxicidade das emissões e resíduos, quase nada é feito pelas
empresas. Cerca de 16% delas declararam o freqüente reuso de materiais dentro da
indústria, 33% afirmaram enviar resíduos para reciclagem externa e apenas 25%
realizam ações de redução de emissões atmosféricas. Desta forma, não se visualiza
a existência de programas de P2 ou P+L dentro das empresas pesquisadas. Para
tanto, deveria haver maior concordância entre as respostas coletadas.
5.3.4 Gerenciamento de resíduos, efluentes e emissões atmosféricas
A quarta parte do questionário foi composta de questões que procuraram
conhecer o gerenciamento de resíduos, efluentes e emissões atmosféricas da
indústria. Um sistema de gerenciamento de resíduos sólidos consiste em um
documento integrante do SGA que se baseia nos princípios da não geração e da
minimização da geração de resíduos, apontando e descrevendo ações relativas ao
seu manejo, contemplando aspectos referentes à minimização na geração,
segregação, acondicionamento, identificação, coleta e transporte interno,
armazenamento temporário, tratamento interno, armazenamento externo, coleta e
transporte externo, tratamento externo e disposição final. O sistema de
gerenciamento de resíduos sólidos e efluentes deve ser elaborado pela empresa e
deve ser submetido à análise do órgão ambiental para aprovação (SEIA, 2007).
Neste sentido, questionou-se sobre a existência de um sistema de gerenciamento de
143
resíduos, que contemplasse todos os resíduos gerados em todos os setores da
empresa, inclusive os efluentes. As respostas das empresas geraram o gráfico 26.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
não
sim, mas contempla apenas os resíduos
gerados pelo processo produtivo
sim, foi desenvolvido e implementado para
todos os resíduos gerados em todos os
setores da indústria
Sistema de gerenciamento
de resíduos e efluentes
Respostas das empresas
Gráfico 26 – Existência de um sistema de gerenciamento de resíduos e efluentes
Analisando-se o gráfico 26, observa-se que todas as indústrias declararam
possuir um sistema de gerenciamento de resíduos e efluentes. 42% das empresas
possuem um sistema que engloba os resíduos gerados em toda a empresa e 58%
declararam a existência de um sistema que contempla apenas os resíduos gerados
durante o processo produtivo. Um dos objetivos de um sistema de gerenciamento de
resíduos lidos é a minimização da geração de resíduos na fonte. Conforme
observado no gráfico 25, apenas 41% das empresas declararam adotar ações que
possibilitem a redução dos resíduos na fonte, sendo assim, não se observa a
aplicação de um dos princípios básicos para a correta implementação de um sistema
de gerenciamento de resíduos.
Questionou-se também sobre a utilização de técnicas e procedimentos que
visem à redução da geração dos principais contaminantes presentes nos resíduos,
como mostra o gráfico 27.
144
0 2 4 6 8 10 12
sim
não
Utilização de técnicas e
procedimentos
Respostas das empresas
Gráfico 27 – Utilização de técnicas e procedimentos visando reduzir a geração dos principais
contaminantes presentes nos resíduos
Observa-se no gráfico 27 que cerca de 92% das empresas utilizam cnicas
que visem reduzir a geração dos principais contaminantes presentes nos resíduos.
Apenas uma empresa não utiliza tais técnicas.
Com relação à existência de um inventário de resíduos, tem-se o gráfico 28.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
sim, e este inventário é frequentemente
atualizado e revisto
a empresa efetuou este inventário
apenas uma vez
não, a empresa nunca efetuou este tipo
de inventário
Inventário de resíduos
Respostas das empresas
Gráfico 28 – Existência de um inventário de resíduos gerados, sua coleta, armazenamento e
destinação
Cerca de 66% das indústrias responderam que fazem o inventário de
resíduos lidos e que este é freqüentemente atualizado e revisto. A elaboração
deste inventário está prevista na Resolução CONAMA 313 (2002).
Quando questionadas sobre a existência de uma Estação de Tratamento de
Efluentes (ETE), todas as empresas responderam positivamente. Os padrões para o
lançamento de efluentes está prevista na Resolução CONAMA 357 (2005).
145
5.3.5 Treinamento dos colaboradores e comunicação
O questionário contemplou também questões sobre a realização de
treinamentos junto aos colaboradores. Primeiramente, questionou-se sobre a
freqüência da realização de uma sensibilização dos colaboradores sobre o seu papel
nas atividades de gestão ambiental, conforme gráfico 29.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
nunca
raramente
com certa
regularidade
frequentemente
Frequência de sensibilização dos
colaboradores
Respostas das empresas
Gráfico 29 – Freqüência da sensibilização dos colaboradores sobre o seu papel nas atividades de
gestão ambiental
Treinamento e conscientização dos colaboradores é um requisito para a
implementação de um SGA, conforme a ABNT NBR ISO 14001 (2004). 50% das
empresas informaram a adoção de um SGA (conforme gráfico 17), contudo,
observa-se no gráfico 29 que apenas 16% informaram a prática freqüente de
sensibilização e conscientização dos colaboradores sobre o seu papel nas
atividades de gestão ambiental.
Foi questionado também sobre a freqüência de alguns tipos de treinamento
voltados à área ambiental, conforme gráfico 30.
146
0
2
4
6
8
10
12
treinamentos
voltados à
melhoria
ambiental
treinamentos
para pessoas
envolvidas em
atividades que
podem causar
impactos
treinamentos
para atuar em
situações de
emergência
educação
ambiental
separação do lixo
para coleta
seletiva
treinamentos
para
conhecimento da
legislação
ambiental
Frequência de treinamentos
Respostas das empresas
nunca
raramente
com certa regularidade
frequentemente
Gráfico 30 – Freqüência de treinamentos voltados à área ambiental
Analisando-se o gráfico 30, é possível observar que os treinamentos mais
freqüentes são aqueles relativos à separação da coleta seletiva do lixo. Cerca de
33% das empresas declararam a freqüente realização deste tipo de treinamento.
Aqueles voltados à melhoria ambiental, à pessoas envolvidas em atividades que
podem causar impactos, à educação ambiental e para o conhecimento da legislação
ambiental pertinente à atividade, são realizadas freqüentemente por apenas uma
empresa. Com relação ao treinamento para atuar em situações de emergência, duas
empresas responderam freqüente realização.
5.3.6 Requisitos legais
A última parte do questionário procurou abordar algumas questões relativas
aos requisitos legais pertinentes às atividades de curtimento de couros. A primeira
questão procurou questionar o conhecimento dos respondentes sobre a
classificação dos resíduos sólidos gerados pelas suas atividades, com base na NBR
10004 (2004), conforme gráfico 31.
147
Classificação dos resíduos sólidos gerados
20%
33%
7%
27%
13%
classe I
classe IIa
classe IIb
não conheço
não respondeu
Gráfico 31 – Classificação dos resíduos sólidos gerados pela empresa (de acordo com a ABNT NBR
10004, 2004)
A análise do gráfico 31 permite observar que grande parte dos entrevistados
não conhecem (27%) ou não responderam à questão (13%). Dentre os que
responderam a classificação dos resíduos sólidos, 33% consideram como de classe
IIa (não inertes) e 20% consideram como classe I (perigosos). No entanto, de acordo
com a ABNT NBR 10004 (2004), os resíduos da indústria coureira e calçadista são
considerados perigosos, e portanto, de classe I.
A última questão procurou conhecer se as indústrias coureiras de Franca
sofreram alguma autuação ambiental nos últimos 2 anos, conforme gráfico 32.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
sim
não
Autuação ambiental
Respostas das empresas
Gráfico 32 – Autuações ambientais sofridas nos últimos 2 anos
Como se pode observar no gráfico 32, duas empresas, cerca de 16%,
declararam ter sofrido autuação ambiental nos últimos 2 anos. A CETESB (2009b)
disponibiliza em sua homepage a relação de áreas contaminadas no Estado de São
Paulo. Nela pode-se consultar uma área, local ou terreno onde
comprovadamente poluição ou contaminação causada pela introdução de quaisquer
substâncias ou resíduos que nela tenham sido depositados, acumulados,
148
armazenados, enterrados ou infiltrados de forma planejada, acidental ou até mesmo
natural. Neste sentido, constatou-se que o Curtume Della Torre, dados de novembro
de 2008, possui uma área contaminada sob investigação da CETESB. A fonte de
contaminação, segundo o relatório advém do tratamento de efluentes.
O que se observou na aplicação da pesquisa é que, apesar dos respondentes
considerarem importante a adoção da gestão ambiental e afirmarem a adoção de
algumas ações relevantes para que esta seja realizada de forma proativa dentro da
organização, não indícios de que as empresas possuam um sistema estruturado
para gerir estas variáveis, ou mesmo que adotem um programa de P2, como
informado pelos respondentes. O que se observa na prática é que muitas teorias
ainda não saíram do papel, ou mesmo que as empresas desconhecem o real
sentido da aplicação destas importantes ferramentas no processo produtivo. Sendo
assim, nota-se que a adoção da gestão ambiental nas indústrias coureiras de Franca
é ainda incipiente, e as empresas agem de forma reativa, atendendo somente aos
requisitos legais. Deste modo, é necessário que a gestão ambiental seja mais
difundida e que sua aplicabilidade e importância seja disseminada dentre os
empresários da indústria coureira para que deixe de tornar-se apenas um
instrumento sem aplicação efetiva na prática e no dia-a-dia das empresas.
O próximo tópico apresenta a aplicação do teste estatístico de Kolmogorov
Smirnov nas questões relacionadas à gestão ambiental.
5.3.7 Gestão ambiental: a aplicação do teste de Kolmogorov Smirnov
A aplicação de conceitos de P+L, ações de gestão ambiental, gerenciamento
de aspectos importantes para a empresa, tais como água, energia, matéria-prima,
dentre outros, e a correta disponibilização de recursos adequados para a gestão
ambiental são alguns fatores básicos que devem ser observados pela empresa na
busca pela inserção de uma postura proativa de gestão ambiental. Neste sentido,
aplicou-se o teste de Kolmogorov Smirnov em algumas questões consideradas mais
próximas da realidade das indústrias coureiras de Franca e cruciais para a
incorporação da variável ambiental pela empresa. A gestão ambiental constitui-se
em uma série de fatores a serem seguidos pela organização, tais como a
conscientização ambiental dos colaboradores quanto ao seu papel dentro da
empresa, o cumprimento integral de toda a legislação pertinente, a inserção de um
149
sistema de gestão ambiental integrando aspectos da P+L, dentre outros. Todavia,
tomou-se alguns aspectos que poderiam ser incorporados nas indústrias coureiras
de Franca com mais facilidade, melhorando assim a gestão dos aspectos
ambientais, aproximando-as da inserção dos valores ambientais na organização.
Os mesmos critérios utilizados para aplicar o teste nas questões de
responsabilidade social foram empregados para aplicar o teste nas questões de
gestão ambiental. O nível de confiança de 0,05 e o D
tab
= 0,375.
A questão 4 Grau de importância empregada à gestão ambiental gerou a
tabela 10.
Tabela 10 – GA: Aplicação do teste de Kolmogorov-Smirnov na questão 4
Categorias
1 |- 2,5 2,5 |- 4 4 |- 5,5 5,5 |- 7 7 |- 8,5 8,5 |-| 10
Fi
0 0 0 2 7 3
F0
2/12 4/12 6/12 8/12 10/12 12/12
S12
0 0 0 2/12 9/12 12/12
|F0-S12|
0 0 0 6/12 1/12 0
Na aplicação do teste, encontrou-se o D
calc
= 0,50. Sendo assim, é possível
concluir que as empresas de Franca consideram a gestão ambiental como um
elemento importante. No entanto, este fator não implica em uma postura de
atendimento aos requisitos de uma gestão ambiental proativa. É preciso entender e
analisar na prática o que significa a gestão ambiental para as empresas.
A questão 5 Existência de SGA, ações de gestão ambiental, Programas de
P+L, indicadores de desempenho ambiental, objetivos e metas de desempenho
ambiental – gerou a tabela 11.
Tabela 11 – GA: Aplicação do teste de Kolmogorov-Smirnov na questão 5
Categorias
5 |- 16,25 16,25 |- 27,5 27,5 |- 38,75 38,75 |- 50
Fi
1 1 3 7
F0
3/12 6/12 9/12 12/12
S12
1/12 2/12 5/12 12/12
|F0-S12|
2/12 4/12 4/12 0
Na aplicação do teste, encontrou-se o D
calc
= 0,333. Para esta questão, não
existe diferença significativa. Sendo assim, não como inferir ou concluir
estatisticamente se as empresas adotam ou não SGA, ações de gestão ambiental,
Programas de P+L, indicadores de desempenho ambiental, objetivos e metas de
desempenho ambiental. Estatisticamente, estes fatores podem não ser empregados
dentro das organizações, se contrapondo desta forma ao informado na questão
150
quatro (tabela 10), no qual as organizações consideram a gestão ambiental
importante. Apesar de considerarem importante, elas podem não adotar medidas
para que esta seja implementada na empresa.
A questão 8 No gerenciamento da empresa, qual o grau de importância de
alguns aspectos ambientais – gerou a tabela 12.
Tabela 12 – GA: Aplicação do teste de Kolmogorov-Smirnov na questão 8
Categorias
9 |- 22,5 22,5 |- 36 36 |- 49,5 49,5 |- 63 63 |- 76,5 76,5 |- 90
Fi
0 0 0 5 5 2
F0
2/12 4/12 6/12 8/12 10/12 12/12
S12
0 0 0 5/12 10/12 12/12
|F0-S12|
0 0 0 3/12 0 0
Na aplicação do teste, encontrou-se o D
calc
= 0,25. Para esta questão,
também não existe diferença significativa, não sendo possível concluir se as
empresas empregam ou não importância aos aspectos ambientais considerados
pela pesquisa. É interessante ressaltar que os aspectos relacionados no
questionário são de essencial importância para a qualidade da gestão ambiental, e
devem ser considerados como prioridade. São eles: o consumo de água e energia, a
redução de desperdícios de matéria-prima, a minimização da geração de resíduos, a
geração de resíduos sólidos e efluentes líquidos, manutenção da qualidade de água
subterrâneas e mananciais, apontados como um fator de baixa importância por
algumas empresas, dentre outros. Apesar das empresas considerarem a gestão
ambiental como um fator importante, os aspectos que permitem que a gestão
ambiental seja implementada de forma proativa, estatisticamente, podem não ser
considerados pelas empresas.
A questão 14 Disponibilização de recursos humanos, físicos e financeiros
para a gestão ambiental – gerou a tabela 13.
Tabela 13 – GA: Aplicação do teste de Kolmogorov-Smirnov na questão 14
Categorias
3 |- 7,5 7,5 |- 12 12 |- 16,5 16,5 |- 21
Fi
0 1 6 5
F0
3/12 6/12 9/12 12/12
S12
0 1/12 7/12 12/12
|F0-S12|
0 5/12 2/12 0
Na aplicação do teste, encontrou-se o D
calc
= 0,4167. Um fator importante para
a gestão ambiental, é a disponibilização de recursos apropriados para assegurar sua
qualidade, tais como humanos, físicos e financeiros. Aplicando-se o teste, observa-
151
se que as empresas não disponibilizam recursos e estrutura adequados à gestão
ambiental. Mais uma vez as empresas são contraditórias quanto à empregar um alto
grau de importância à gestão ambiental, não destinando recursos adequados para
que esta seja implementada.
A questão 21 Racionalização de alguns aspectos durante o processo
produtivo – gerou a tabela 14.
Tabela 14 – GA: Aplicação do teste de Kolmogorov-Smirnov na questão 21
Categorias
7 |- 19,25 19,25 |- 31,5 31,5 |- 43,75 43,75 |- 56
Fi
0 2 7 3
F0
3/12 6/12 9/12 12/12
S12
0 2/12 9/12 12/12
|F0-S12|
0 4/12 0 0
Na aplicação do teste, encontrou-se o D
calc
= 0,333. Sendo assim, não existe
diferença significativa e não é possível concluir se as empresas racionalizam ou não
os aspectos citados, durante o processo produtivo. Mais uma vez é possível
constatar que as empresas, apesar de considerarem importante a gestão ambiental,
podem não racionalizar matéria-prima, água, energia elétrica, ou mesmo reduzir os
resíduos sólidos na fonte, fator crucial para a implementação de ações de P+L.
A análise dos dados sobre a gestão ambiental, permitiu a elaboração do
quadro 19, no qual foi possível enquadrar as empresas em posturas reativa ou
proativa diante dos problemas ambientais ocasionados pelo processo produtivo.
Fator analisado
Resultado Teste
Kolmogorov Smirnov
Postura empresa
Grau de importância que a
empresa emprega à gestão
ambiental
As empresas consideram a
gestão ambiental como
elemento importante
Postura reativa
Existência de SGA, ações de GA,
programas de P+L, indicadores de
desempenho ambiental, objetivos e
metas
Não houve diferenças
significativas
Não é possível
inferir
No gerenciamento da empresa,
grau de importância de alguns
aspectos
Não houve diferenças
significativas
Não é possível
inferir
Disponibilização de recursos
humanos, físicos e financeiros para
o gerenciamento ambiental
As empresas não
disponibilizam recursos e
estrutura para a gestão
ambiental
Postura reativa
Racionalização de alguns aspectos
durante o processo produtivo
Não houve diferenças
significativas
Não é possível
inferir
Quadro 19 – Resultados da pesquisa: teste de Kolmogorov Smirnov e postura da empresa quanto à
gestão ambiental
152
Observa-se que o teste de Kolmogorov Smirnov permitiu uma maior
compreensão sobre a realidade vivenciada pelas indústrias coureiras de Franca. O
teste não mostrou diferenças significativas entre as amostras em importantes fatores
para a gestão ambiental, tais como: a existência de SGA, P+L, ações de GA,
indicadores e objetivos de GA, o grau de importância empregado a alguns aspectos
ambientais, e a racionalização de alguns aspectos durante o processo produtivo.
Com relação ao grau de importância empregado à gestão ambiental e a
disponibilização de recursos e estrutura para a gestão ambiental, enquadrou-se a
empresa numa postura reativa, visto que não basta considerar a gestão ambiental
importante e não disponibilizar recursos mínimos para que esta seja implementada
na empresa. Desta forma, conclui-se que as indústrias coureiras de Franca mantêm
ainda uma postura reativa frente à gestão ambiental, e adotam medidas incipientes
para a minoração dos impactos causados pelo seu processo produtivo.
153
CONCLUSÃO
Este trabalho foi desenvolvido utilizando-se uma estrutura teórica que norteou
os objetivos propostos pela pesquisa e na qual foram abordados alguns
instrumentos de gestão ambiental e da responsabilidade social. Tais instrumentos
permitiram definir alguns indicadores de responsabilidade social e gestão ambiental
que podem contribuir para a inserção de valores sociais e ambientais na empresa,
com vistas a minimizar a geração de resíduos e impactos ambientais e contribuir em
áreas relacionadas com a comunidade. Neste sentido, a metodologia empregada
possibilitou o levantamento e análise das ações de gestão ambiental e
responsabilidade social empreendida pelas indústrias coureiras de Franca,
permitindo uma maior compreensão sobre a realidade vivenciada por elas.
No campo da responsabilidade social, verificou-se ampla oportunidade para a
inserção de ações e valores sociais em todas as áreas pesquisadas: valores,
transparência e governança, blico interno, fornecedores, consumidores e clientes,
comunidade, governo e sociedade. Muitas das empresas respondentes declararam
um baixo grau de importância empregado a um SGRS. A maior parte das empresas
declarou a inexistência de um código de ética, primeiro passo para a inserção da
variável social dentro da organização. Foi constatado também que a maior parte das
indústrias coureiras de Franca é indiferente ao tipo de mão-de-obra contratada pelos
seus fornecedores, indicando uma falta de integração entre a cadeia produtiva.
Sobre projetos sociais, apenas uma empresa declarou o atual desenvolvimento, e a
grande maioria nem pretende desenvolver tais projetos. Tal fato indica que as
empresas de couro não estão assumindo o papel social inerente à sua condição de
existir e atuar na sociedade. Neste contexto, não se verificou a existência de um
SGRS nas indústrias coureiras de Franca.
O teste estatístico de Kolmogorov Smirnov apontou alguns fatores
importantes a serem trabalhados nas indústrias com relação a aspectos sociais.
Constatou-se que as empresas se enquadram na abordagem da obrigação social,
apresentando um fraco desempenho frente às questões sociais. Sendo assim,
conclui-se que as ações de responsabilidade social adotadas pelos curtumes de
Franca se resumem no cumprimento à legislação e no oferecimento de benefícios
154
sociais aos colaboradores, previstos na legislação trabalhista, não sendo realizados
projetos sociais ou ações voluntárias junto à comunidade.
Com relação à gestão ambiental, as empresas confirmaram a existência de
programas de P2. Contudo, os questionamentos posteriores tais como a redução de
resíduos sólidos na fonte, primeiro passo para a implementação de um programa de
P2 e P+L, não permitiram a visualização destes dentro da empresa. Apesar de
muitas empresas declararem a realização de pesquisas para o desenvolvimento de
novas formas de curtimento, o que possibilita a redução da toxicidade dos resíduos
finais, a maior parte delas não aplicam em seu processo produtivo esta nova
tecnologia. Não se visualizou também a existência de um SGA, pois se verificou a
falta de disponibilização de recursos físicos, humanos e financeiros para a gestão
ambiental, a ausência de racionalização de aspectos ambientais necessários ao
processo produtivo, ausência de conscientização, por parte de algumas empresas,
sobre a necessidade de preservarem mananciais e águas subterrâneas, pouca
freqüência, na maior parte das empresas, de uma sensibilização dos colaboradores
sobre o seu papel nas atividades de gestão ambiental, desconhecimento sobre a
periculosidade e classificação dos resíduos sólidos de acordo com a ABNT NBR
10004 (2004), o que impede que as empresas empreguem medidas de minimização
e correta destinação destes, dentre outros aspectos.
Aplicou-se também para algumas questões de gestão ambiental o teste
estatístico de Kolmogorov Smirnov, que permitiu evidenciar que os curtumes de
Franca encontram-se em uma postura reativa frente à variável ambiental. Verificou-
se que as empresas consideram a adoção de um SGA importante, contudo, não
disponibilizam recursos mínimos para que este seja implementado na empresa. Para
elas, a adoção de um Sistema de Gestão Ambiental resume-se em cumprir a
legislação vigente e instalar um sistema de tratamento primário dos efluentes, que
posteriormente são enviados para a AMCOA onde será realizado o tratamento
secundário. Neste contexto, conclui-se que a postura de gestão ambiental adotada
pelas indústrias coureiras de Franca é sintetizado pelo cumprimento à legislação
ambiental pertinente ao setor, como a instalação da ETE.
Uma limitação encontrada na aplicação do teste estatístico é que, apesar de a
amostra analisada representar cerca de 50% da população de indústrias coureiras
da cidade de Franca, a quantidade reduzida de questionários, no caso 12,
compromete a identificação estatística do comprometimento das empresas em
155
relação à sustentabilidade ambiental e social. Todavia, o teste estatístico realizado
permitiu constatar que as empresas ainda se encontram num estágio reativo frente
às questões ambientais e na abordagem da obrigação social, apresentando um
fraco desempenho frente às questões sociais. Deste modo, o que se observou foi
que as empresas não possuem ações sócio-ambientais sistematizadas.
Verificou-se, enfim, que as indústrias coureiras possuem potencial para atuar
com responsabilidade sócio-ambiental, pois várias áreas podem se contempladas
com a inserção de valores sociais e ambientais, permitindo à empresa atuar com
uma postura de responsabilidade social e ações de gestão ambiental, por meio da
implantação de sistemas e políticas de gestão, contribuindo assim para o
desenvolvimento sustentável e para a melhor integração entre os diversos elos da
cadeia produtiva coureira-calçadista.
156
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167
Apêndice A
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
Faculdade de Engenharia de Bauru
Pós-graduação em Engenharia de Produção
Folha para coleta de dados
Prezado Sr(a).
Este trabalho faz parte da elaboração da dissertação para obtenção do tulo de mestre em
Engenharia de Produção pela Unesp-Bauru, que refere-se à identificação das ações de
responsabilidade social e gestão ambiental praticadas pelas indústrias coureiras de Franca.
A identificação das ações de responsabilidade social e ambiental praticadas pelas indústrias
coureiras é de fundamental importância para que se possam fazer melhorias, visto que a
dimensão sócio-ambiental torna-se imprescindível para as empresas que buscam novos
mercados. A adoção de sistemas efetivos de gestão das variáveis sociais e ambientais por
parte das empresas pode contribuir, em muito, para se alcançar o desenvolvimento de forma
sustentável.
Título do Projeto: Indicativos da efetiva gestão sócio-ambiental aplicada à indústria do
couro em Franca-SP: panorama dos padrões a ações atuais
Para cumprir o objetivo da pesquisa, que é identificar as ações efetivas de Gestão Sócio-
Ambiental praticadas pelas indústrias coureiras na cidade de Franca-SP é necessária a
aplicação de um questionário sobre a Responsabilidade Social para a área de Recursos
Humanos e um questionário sobre a Gestão Ambiental para a área Ambiental da empresa.
As informações coletadas pela pesquisa serão utilizadas para fins exclusivamente
acadêmico-científicos.
Sendo assim, solicito a colaboração de V. Sª. no preenchimento do questionário abaixo,
salientando o resguardo e confidencialidade das informações fornecidas pela empresa.
Coloco-me, desde já, à disposição para quaisquer informações adicionais.
Agradeço a colaboração.
Franca, Janeiro de 2008
Vanessa Cintra Alves
, pesquisadora
Pesquisadora:
Vanessa Cintra Alves
R. Francisco Maniglia, 1655
Jardim Petraglia, Franca – SP
CEP: 14409-102
Telefone: (16) 8111 7412
Email: vanessinhalves_[email protected]
Orientador:
Prof. Dr. Adilson Renofio
Av. Eng. Luiz Carrijo Edmundo Coube, 14-01
Bauru – SP
CEP: 17033-360
Telefone: (14) 3103 6112
Email: [email protected]sp.br
168
Apêndice B
Questionário Responsabilidade Social
a) Posição na empresa
( ) operacional ( ) técnico ( ) administrativo ( ) diretoria
Características da empresa
1) Quantos funcionários possui a empresa?
( ) entre 1 a 20 ( ) entre 21 e 49 ( ) entre 50 e 249 ( ) entre 250 e 449
( ) entre 500 e 900 ( ) 1.000 ou mais
2) Há quanto tempo a empresa existe?
( ) entre 1 mês e 2 anos ( ) entre 2 e 5 anos ( ) entre 5 e 10 anos
( ) entre 10 e 15 anos ( ) entre 15 e 20 anos ( ) há mais de 20 anos
Responsabilidade Social
3) A empresa possui ou utiliza indicadores de desempenho social?
( ) Sim ( ) Não
4) Qual grau de importância a empresa emprega à adoção de um Sistema de Gestão da Responsabilidade Social
(SGRS)?
( ) nenhum ( ) baixo ( ) médio ( ) alto ( ) muito alto ( ) não conheço
Valores, transparência e governança
5) Em qual das situações apresentadas abaixo a empresa se enquadra?
( ) A empresa não possui um código de ética próprio (contendo os valores - ambientais, sociais e econômicos - e
princípios éticos)
( ) Os valores e princípios éticos estão formalizados em uma carta de princípios, mas pouco incorporados aos
processos de trabalho e às atitudes/comportamento das pessoas
( ) Um código de ética é adotado, mas abrange apenas os níveis hierárquicos em posição de tomada de decisão
( ) O código de ética é adotado em todas as tomadas de decisões e abrangem todos os níveis hierárquicos e conta
com um processo de difusão sistemático, com foco no público interno, sob responsabilidade de pessoa ou área
responsável.
6) A empresa publica um balanço social?
( ) Anualmente ( ) Semestralmente ( ) Mensalmente ( ) Não publica
7) Com relação à estrutura organizacional e práticas de governança corporativa (envolve os relacionamentos entre
acionistas e/ou sócios da empresa):
( ) A empresa em sua gestão não procura ouvir, avaliar e considerar as preocupações, críticas e sugestões dos
acionistas minoritários e/ou sócios da empresa
( ) A empresa em sua gestão permite que acionistas minoritários e sócios opinem, mas suas sugestões não alteram
as decisões empresariais
( ) A empresa permite que acionistas minoritários e sócios da empresa participem na tomada de decisões
empresariais e para isto, disponibiliza um conselho administrativo que facilita a comunicação entre as partes
8) A empresa em seus relacionamentos com a concorrência:
( ) Segue práticas de preço e concorrência comuns ao mercado, cumpre a legislação e busca um posicionamento leal
( ) Possui políticas escritas contra a concorrência desleal e discute periodicamente com os colaboradores sua postura
perante os concorrentes
( ) Exerce uma posição de liderança nas discussões relacionadas à busca de padrões de concorrência mais elevados,
buscando a eliminação de práticas desleais de comércio
169
Público interno
9) Com relação à participação de colaboradores em sindicatos, a empresa:
( ) Considera desnecessária a participação dos empregados em atividades sindicais e não vê com bons olhos os
empregados que participam dos sindicatos
( ) Não exerce pressão sobre os empregados envolvidos em atividades sindicais
( ) Permite a atuação dos sindicatos no local de trabalho, oferecendo informações sobre as condições de trabalho,
dados financeiros e objetivos estratégicos que afetem os empregados, além de se reunir periodicamente com os
sindicatos para ouvir sugestões e negociar reivindicações
10) A empresa divulga seus resultados financeiros a todos os colaboradores?
( ) nunca ( ) raramente ( ) com certa regularidade ( ) freqüentemente
11) Qual a idade mínima para contratação de funcionários?
( ) Até 16 anos ( ) De 17 a 18 anos ( ) Mais de 18 anos ( ) Não existe idade mínima
12) Existem restrições para contratação de:
a) Pessoas com opções sexuais diferentes (ex:
homossexuais)
( ) Muito ( ) Pouca ( ) Nenhuma
b) Pessoas com deficiências físicas e/ou mentais ( ) Muito ( ) Pouca ( ) Nenhuma
c) Pessoas de diferentes culturas (outros estados ou
países)
( ) Muito ( ) Pouca ( ) Nenhuma
d) Pessoas de diferentes religiões (ex: muçulmanos,
protestantes, católicos, etc.)
( ) Muito ( ) Pouca ( ) Nenhuma
e) Pessoas de diferentes raças (negros, pardos, etc.) ( ) Muito ( ) Pouca ( ) Nenhuma
f) Pessoas com idade superior a 45 anos ( ) Muito ( ) Pouca ( ) Nenhuma
13) Com relação à política de remuneração a empresa:
( ) Oferece aos colaboradores o piso salarial firmado com os sindicatos
( ) Busca superar os pisos salariais firmados com os sindicatos
14) A empresa possui algum plano de carreira para os colaboradores?
( ) Sim ( ) Não
15) Na empresa há algum programa de participação nos lucros?
( ) Sim ( ) Não
16) Na empresa há programas de treinamento da mão-de-obra?
( ) nunca ( ) raramente ( ) com certa regularidade ( ) freqüentemente
17) A empresa custeia cursos para os funcionários?
( ) nunca ( ) raramente ( ) com certa regularidade ( ) freqüentemente
18) A empresa avalia a satisfação dos colaboradores (avaliação do clima organizacional)?
( ) nunca ( ) raramente ( ) com certa regularidade ( ) freqüentemente
19) Há possibilidade de mudança do horário de trabalho para atender às necessidades dos colaboradores?
( ) nunca ( ) raramente ( ) com certa regularidade ( ) freqüentemente
20) A empresa promove a prática de esportes?
( ) nunca ( ) raramente ( ) com certa regularidade ( ) freqüentemente
21) A empresa promove campanhas contra o fumo?
( ) nunca ( ) raramente ( ) com certa regularidade ( ) freqüentemente
170
22) São feitas campanhas de conscientização da importância do uso de EPI´s (Equipamentos de Proteção
Individual)?
( ) nunca ( ) raramente ( ) com certa regularidade ( ) freqüentemente
23) Há a adoção de equipamentos ergonômicos?
( ) Sim ( ) Não ( ) Em alguns casos
24) Há alguma política que iniba o assédio sexual dentro da empresa?
( ) Sim ( ) Não
25) A empresa possui um programa de contratação de menor aprendiz?
( ) Sim ( ) Não
26) A empresa oferece aos colaboradores:
a) Vale transporte ( ) Sim ( ) Não
b) Vale refeição ( ) Sim ( ) Não
c) Refeitório (local apropriado para realização das
refeições)
( ) Sim ( ) Não
d) Refeições
( ) Sim – O valor pago pelo
funcionário é de R$ _______ por
refeição
( ) Não
e) Plano de saúde ( ) Sim ( ) Não
f) Auxílio financeiro quando estes precisam saldar despesas
por problemas de saúde familiar
( ) Sim ( ) Não
g) A oportunidade de se submeterem a exames gerais de
saúde periódicos (os chamados checkups)
( ) Sim ( ) Não
h) Ajuda a dependentes químicos ( ) Sim ( ) Não
i) EPI´s (Equipamentos de Proteção Individual)
( ) Sim ( ) Não
27) Quando é necessário diminuir custos, qual é o primeiro fator a ser analisado?
( ) mão-de-obra ( ) benefícios sociais ( ) custos operacionais ligados à produção
28) Para você, a qualificação da mão-de-obra é uma tarefa que deve ser assumida prioritariamente:
( ) pelo governo ( ) pelo sindicato ( ) pelas instituições de ensino ( ) pela empresa
29) A legislação trabalhista é um obstáculo para a ampliação do quadro de funcionários?
( ) nunca ( ) raramente ( ) com certa regularidade ( ) freqüentemente
30) A empresa contrata por meio de cooperativas?
( ) nunca ( ) raramente ( ) com certa regularidade ( ) freqüentemente
31) Qual o comportamento da empresa em relação à legislação trabalhista?
( ) Cumpre a legislação trabalhista, mas não há um acompanhamento sistematizado das mudanças da legislação
( ) Cumpre a legislação trabalhistas acompanhando esporadicamente as mudanças
( ) Antecipa-se às mudanças da legislação trabalhista
32) A empresa possui um programa de aproveitamento das opiniões dos colaboradores?
( ) Sim ( ) Não
33) Qual o tempo médio de permanência dos colaboradores na empresa?
( ) até 6 meses ( ) até 1 ano ( ) até 3 anos ( ) até 5 anos ( ) mais de 5 anos
Fornecedores
34) Com relação à contratação de fornecedores:
171
( ) A empresa contrata fornecedores baseado apenas em fatores como qualidade, preço e prazo
( ) A empresa possui políticas de seleção e avaliação de fornecedores que incluem exigências relativas ao
cumprimento da legislação trabalhista, previdenciária e fiscal
35) Qual a postura da empresa diante da contratação de mão-de-obra infantil e de trabalho forçado por parte da sua
cadeia produtiva (fornecedores)?
( ) A empresa possui políticas claras, que incluem sanções aos elementos da cadeia produtiva que empregam de
mão-de-obra infantil ou que promovem o trabalho forçado e há um monitoramento periódico desta prática
( ) Nos contratos com os agentes da cadeia produtiva existem cláusulas que proíbem a contratação de mão-de-obra
infantil ou o trabalho forçado, mas não há um monitoramento desta prática
( ) A empresa é indiferente ao tipo de mão-de-obra contratada pelos agentes da sua cadeia produtiva ou pela forma
de utilização desta mão-de-obra, não há interesse por este assunto
Consumidores e clientes
36) Com relação à comunicação comercial, a empresa:
( ) Possui políticas de comunicação comercial que considerem a legislação de defesa do consumidor bem como a
assegurar que as propagandas veiculadas pela empresa não coloquem crianças, adolescentes, negros ou qualquer
indivíduo em situação preconceituosa, constrangedora ou de risco
( ) A empresa não possui políticas de comunicação comercial, mas considera a legislação de defesa do consumidor e
realiza análise prévia de peças publicitárias para verificar a conformidade com a Declaração Universal dos Direitos
Humanos
( ) A empresa considera apenas a legislação de defesa do consumidor na elaboração da comunicação comercial e
não considera a forma como as propagandas são realizadas
37) Com relação ao atendimento ao cliente/consumidor, a empresa:
( ) Disponibiliza um SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente) de fácil acesso e que proporcione rápida resolução do
problema do cliente e possui processos que incluem a procura das causas dos problemas e a utilização dessas
informações para aprimorar a qualidade dos produtos
( ) Disponibiliza um SAC que registra as reclamações dos clientes, que serão solucionadas posteriormente
( ) A empresa não possui um SAC
Comunidade
38) A empresa interage com a comunidade (procura identificar problemas e buscar soluções conjuntas)?
( ) nunca ( ) raramente ( ) com certa regularidade ( ) freqüentemente
39) Há algum projeto social desenvolvido junto à comunidade?
( ) Sim, a empresa possui um projeto social estruturado e sendo desenvolvido atualmente junto à comunidade
( ) No momento não, mas a empresa já desenvolveu projetos sociais com a comunidade
( ) Não, mas a empresa está desenvolvendo um projeto social que deverá ser implementado em breve
( ) Não, mas a empresa planeja desenvolver um projeto social
( ) Não, e a empresa não planeja desenvolver projetos sociais
40) O trabalho voluntário (mobilização dos colaboradores para o desenvolvimento de ações sociais, como
arrecadação de alimentos ou roupas) é incentivado pela organização?
( ) nunca ( ) raramente ( ) com certa regularidade ( ) freqüentemente
41) A empresa pratica a filantropia?
( ) nunca ( ) raramente ( ) com certa regularidade ( ) freqüentemente
42) É realizada alguma campanha de arrecadação de alimentos ou roupas dentro da organização?
( ) nunca ( ) raramente ( ) com certa regularidade ( ) freqüentemente
43) A empresa oferece apoio a alguma escola local?
172
( ) nunca ( ) raramente ( ) com certa regularidade ( ) freqüentemente
44) A empresa possui biblioteca?
( ) Sim ( ) Não
Esta biblioteca é oferecida: ( ) Aos colaboradores ( ) à comunidade
45) A empresa faz investimentos em:
Provável % do faturamento
investido
a) Saúde ( ) Sim
_______%
( ) Não, mas a empresa
planeja investir
( ) Não, e a empresa não
planeja investir
b) Educação
( ) Sim
_______%
( ) Não, mas a empresa
planeja investir
( ) Não, e a empresa não
planeja investir
c) Meio
ambiente
( ) Sim
_______%
( ) Não, mas a empresa
planeja investir
( ) Não, e a empresa não
planeja investir
d) Cultura
( ) Sim
_______%
( ) Não, mas a empresa
planeja investir
( ) Não, e a empresa não
planeja investir
e) Esporte
( ) Sim
_______%
( ) Não, mas a empresa
planeja investir
( ) Não, e a empresa não
planeja investir
Governo e sociedade
46) No relacionamento com autoridades, agentes fiscais e poder público, a empresa:
( ) Possui política explicita de combate à corrupção e à propina divulgada amplamente ao público interno e externo e
mantém procedimentos formais de controle, punição e auditoria em caso de ocorrência
( ) Procura evitar situações que envolvam o favorecimento a agentes do poder público, mas não tem procedimentos
formais nem divulgados de controle e punição
A empresa e as certificações e selos
47) Marque as certificações e selos que a empresa possui:
a) ISO 9000
( ) Sim
( ) Não, mas a empresa planeja
buscar
( ) Não, e a empresa não
planeja buscar
b) ISO 14000
( ) Sim
( ) Não, mas a empresa planeja
buscar
( ) Não, e a empresa não
planeja buscar
c) OSHAS 18000
( ) Sim
( ) Não, mas a empresa planeja
buscar
( ) Não, e a empresa não
planeja buscar
d) ABNT NBR 16001
( ) Sim
( ) Não, mas a empresa planeja
buscar
( ) Não, e a empresa não
planeja buscar
e) Empresa amiga da
criança
( ) Sim
( ) Não, mas a empresa planeja
buscar
( ) Não, e a empresa não
planeja buscar
f) Selos de Programas
sociais Fundação Abrinq
( ) Sim Qual? _________________________
( ) Não, mas a empresa planeja buscar
Qual? __________________________________
( ) Não, e a empresa não planeja buscar
g) Outros
Qual?
48) Há conhecimento sobre a norma ABNT NBR 16001 (Norma que certifica o sistema de gestão da responsabilidade
social)?
( ) Sim ( ) Não
173
Apêndice C
Questionário Gestão Ambiental
a) Posição na empresa
( ) operacional ( ) técnico ( ) administrativo ( ) diretoria
Características da empresa
1) Ramo de atuação:
( ) Curtume integrado ( ) Curtume Wet Blue ( ) Curtume Semi-acabado
( ) Curtume de acabamento ( ) outro Qual? _________________________
2) Qual é a produção diária (em unidades)?
( ) até 100 ( ) entre 101 e 200 ( ) entre 201 e 500 ( ) entre 501 e 1.000
( ) entre 1.001 e 2.000 ( ) entre 2.001 e 3.000 ( ) mais de 3.000
3) Se a empresa é exportadora, em média quanto da produção é exportada? R:______%
Política Ambiental
4) Qual grau de importância a empresa emprega à gestão ambiental?
( ) nenhuma ( ) baixa ( ) média ( ) alta ( ) muito alta
5) A organização possui:
a) Sistema de Gestão Ambiental ( ) Sim ( ) Não
b) Ações de gestão ambiental ( ) Sim ( ) Não
c) Programas de prevenção à poluição ( ) Sim ( ) Não
d) Indicadores de desempenho ambiental ( ) Sim ( ) Não
e) Objetivos e Metas de desempenho ambiental ( ) Sim ( ) Não
6) A empresa possui uma política ambiental?
( ) Sim, empresa possui uma política ambiental que favorece o estabelecimento de objetivos e metas ambientais,
levando em conta os aspectos ambientais e a legislação vigente, bem como a sua divulgação à todos os colaboradores
( ) Não, a empresa não possui uma política ambiental
Gerenciamento Ambiental
7) As atividades produtivas da organização geram impactos ambientais significativos?
( ) nunca ( ) raramente ( ) com certa regularidade ( ) freqüentemente
8) No gerenciamento da empresa, qual o grau de importância dos aspectos ambientais abaixo:
a) Consumo de água no processo produtivo ( ) nenhuma ( ) baixa ( ) média ( ) alta ( ) muito alta
b) Consumo de energia no processo produtivo ( ) nenhuma ( ) baixa ( ) média ( ) alta ( ) muito alta
c) Minimização da geração de resíduos ( ) nenhuma ( ) baixa ( ) média ( ) alta ( ) muito alta
d) Redução de desperdícios de matéria prima ( ) nenhuma ( ) baixa ( ) média ( ) alta ( ) muito alta
e) Emissão de ruídos ou vibrações ( ) nenhuma ( ) baixa ( ) média ( ) alta ( ) muito alta
f) Emissões de odores e poeira ( ) nenhuma ( ) baixa ( ) média ( ) alta ( ) muito alta
g) Impactos visuais ( ) nenhuma ( ) baixa ( ) média ( ) alta ( ) muito alta
h) Geração de resíduos sólidos e efluentes líquidos ( ) nenhuma ( ) baixa ( ) média ( ) alta ( ) muito alta
i) A manutenção da qualidade de águas
subterrâneas e mananciais
( ) nenhuma ( ) baixa ( ) média ( ) alta ( ) muito alta
174
9) Há estudos visando a redução de riscos ambientais associados aos processos?
( ) nunca ( ) raramente ( ) com certa regularidade ( ) freqüentemente
10) A empresa possui um procedimento para avaliar os impactos ambientais que eventualmente possam ocorrer?
( ) Sim ( ) Não
11) Se houver alguma falha no processo produtivo há impactos ambientais significativos?
( ) nenhum ( ) baixo ( ) médio ( ) alto ( ) muito alto
12) Qual o grau de importância a empresa emprega à adoção de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA)?
( ) nenhum ( ) baixo ( ) médio ( ) alto ( ) muito alto
13) A empresa possui um plano de contingência (ou mecanismos de ações corretivas) especificando as medidas
alternativas para o controle e minimização de danos causados ao meio ambiente?
( ) Sim ( ) Não
13.1) Se a resposta for sim, neste plano de contingência constam:
a) Forma de acionamento (telefone, e-mail, “pager”, etc) ( ) Sim ( ) Não
b) Recursos humanos e materiais envolvidos para o controle dos riscos, bem
como a definição das competências, responsabilidades e obrigações das equipes
de trabalho
( ) Sim ( ) Não
c) As providências a serem tomadas em caso de acidente ou emergência ( ) Sim ( ) Não
d) As situações possíveis de anormalidade ( ) Sim ( ) Não
14) A empresa disponibiliza recursos apropriados e essenciais para a qualidade do gerenciamento ambiental?
a) Humanos ( ) A empresa disponibiliza uma
pessoa que trata apenas dos
aspectos ambientais da empresa
( ) A empresa possui pessoa(s) que
trata(m) dos assuntos ambientais, mas
ela(s) possui(em) outras funções na
organização
( ) A empresa não possui
pessoas para cuidar da gestão
ambiental
b) Físicos ( ) A empresa disponibiliza um
departamento exclusivo para
tratar dos assuntos ambientais
(inclusive os equipamentos
necessários ao seu
funcionamento)
( ) A empresa possui um departamento
que, dentre as suas funções, cuida da
gestão ambiental
( ) A empresa não possui um
departamento para cuidar da
gestão ambiental
c) Financeiros ( ) A empresa sempre
disponibiliza os recursos
necessários para o bom
funcionamento da gestão
ambiental
( ) A empresa disponibiliza recursos,
mas há restrições para sua liberação
( ) A empresa não disponibiliza
recursos para a gestão ambiental
15) A empresa formaliza a responsabilidade ambiental por meio de procedimentos e documentos?
( ) nunca ( ) raramente ( ) com certa regularidade ( ) freqüentemente
16) A empresa faz pesquisas para buscar novas tecnologias de curtimento que sejam menos agressivos ao meio
ambiente?
( ) Sim ( ) Não
17) A empresa utiliza outro tipo de curtente (ao invés do cromo)?
( ) Sim Qual? _______________________ ( ) Não
18) Existem equipamentos e procedimentos para:
a) Combate a incêndios ( ) Sim ( ) Não
b) Contenção de derramamento de produtos perigosos ( ) Sim ( ) Não
175
c) Limpeza de áreas atingidas ( ) Sim ( ) Não
d) Emissões atmosféricas acidentais ( ) Sim ( ) Não
e) Descargas acidentais na água e no solo ( ) Sim ( ) Não
Racionalização do processo produtivo
19) Cite 3 insumos principais utilizados no processo produtivo (em ordem de importância para a produção):
1)_______________________________________________
2)_______________________________________________
3)_______________________________________________
20) Qual a matéria-prima mais poluente? __________________________________
21) A empresa procura racionalizar, durante o processo produtivo, os seguintes aspectos:
a) Uso de matérias-primas (peles, produtos químicos) ( ) nunca ( ) raramente
( ) com certa
regularidade
( ) freqüentemente
b) Reaproveitamento da água no processo produtivo ( ) nunca ( ) raramente
( ) com certa
regularidade
( ) freqüentemente
c) Energia elétrica ( ) nunca ( ) raramente
( ) com certa
regularidade
( ) freqüentemente
d) Redução de resíduos sólidos na fonte (eliminação ou
diminuição da geração de resíduos no processo produtivo)
( ) nunca ( ) raramente
( ) com certa
regularidade
( ) freqüentemente
e) Reuso de materiais (reciclagem interna e uso direto após
algum processamento do resíduo no processo produtivo)
( ) nunca ( ) raramente
( ) com certa
regularidade
( ) freqüentemente
f) Reciclagem externa (processamento dos resíduos por
terceiros)
( ) nunca ( ) raramente
( ) com certa
regularidade
( ) freqüentemente
g) Redução de emissões atmosféricas (ex: evitar
decomposição da matéria-prima, eliminar ou minimizar o
uso de sulfeto no caleiro, evitar o acúmulo de resíduos
sólidos sem acondicionamento adequado, etc)
( ) nunca ( ) raramente
( ) com certa
regularidade
( ) freqüentemente
Gerenciamento de resíduos e efluentes
22) A empresa mantém um sistema de gerenciamento de resíduos e efluentes?
( ) Não
( ) Sim, mas o programa contempla apenas os resíduos gerados pelo processo produtivo
( ) Sim, e este programa foi desenvolvido e implementado para todos os resíduos gerados em todos os setores da
indústria
23) A empresa utiliza técnicas e procedimentos visando reduzir a geração dos principais contaminantes presentes nos
resíduos?
( ) Sim ( ) Não
24) A empresa mantém um inventário dos tipos de resíduos gerados, sua coleta, armazenamento e destinação?
( ) Sim, e este inventário é frequentemente atualizado e revisto
( ) A empresa efetuou este inventário apenas uma vez
( ) Não, a empresa nunca efetuou este tipo de inventário
25) A empresa faz a separação do lixo para a coleta seletiva?
( ) nunca ( ) raramente ( ) com certa regularidade ( ) freqüentemente
176
26) A empresa possui uma E.T.E. (Estação de Tratamento de Efluentes)?
( ) Sim ( ) Não
27) Qual a destinação final empregada ao lodo gerado pela E.T.E. (Estação de Tratamento de Efluentes)?
( ) Reprocessamento ( ) Reciclagem ( ) Descontaminação
( ) Queima ao ar livre ( ) Incineração ( ) Vendidos para terceiros
( ) Aterro próprio ( ) Aterro sanitário ( ) Aterro industrial
( ) Outras Qual? ___________________________________
28) Quanto à segregação dos resíduos:
a) São separados por classe, conforme a norma ABNT NBR 10004 (norma de
classificação dos resíduos sólidos)
( ) Sim ( ) Não
b) São identificados no momento de sua geração (de acordo com as áreas da
empresa)
( ) Sim ( ) Não
c) São acondicionados separadamente ( ) Sim ( ) Não
d) São acondicionados de acordo com as normas ( ) Sim ( ) Não
29) Os locais de armazenamento de resíduos obedecem as seguintes medidas de segurança e proteção ambiental:
a) Impermeabilização do piso ( ) Sim ( ) Não
b) Cobertura e ventilação ( ) Sim ( ) Não
c) Drenagem de águas pluviais ( ) Sim ( ) Não
d) Drenagem de líquidos percolados e derramamentos acidentais ( ) Sim ( ) Não
e) Bacia de contenção ( ) Sim ( ) Não
f) Isolamento e sinalização ( ) Sim ( ) Não
g) Treinamento do pessoal ( ) Sim ( ) Não
h) Monitoramento da área ( ) Sim ( ) Não
i) Controle de operação ( ) Sim ( ) Não
j) Os containeres são rotulados e apresentam bom estado de conservação ( ) Sim ( ) Não
k) Estão indicados na planta as áreas de estocagem temporária dos resíduos ( ) Sim ( ) Não
l) Estão em consonância com as legislações ambientais ( ) Sim ( ) Não
30) A empresa mantém um sistema de tratamento dos resíduos de acordo com a legislação vigente (processos ou
procedimentos que alteram as características físicas, físico-químicas, químicas ou biológicas dos resíduos)?
( ) Não, a empresa não possui um sistema de tratamento dos resíduos
( ) Sim, a empresa possui um sistema de tratamento dos resíduos para cumprir à legislação vigente
( ) Sim, a empresa possui um sistema de tratamento dos resíduos, de acordo com a legislação vigente, mas este
sistema visa não somente o cumprimento da legislação, mas a melhoria do meio ambiente e o busca de excelência
ambiental por parte da organização
31) Qual é a destinação final empregada aos resíduos da produção?
( ) Reprocessamento ( ) Reciclagem ( ) Descontaminação
( ) Queima ao ar livre ( ) Incineração ( ) Vendidos para terceiros
( ) Aterro próprio ( ) Aterro sanitário ( ) Aterro industrial
( ) Outras Qual? ___________________________________
177
Treinamento dos colaboradores e comunicação
32) Os colaboradores são conscientizados sobre o seu papel nas atividades de gestão ambiental?
( ) nunca ( ) raramente ( ) com certa regularidade ( ) freqüentemente
33) A empresa incentiva o comprometimento individual das pessoas com os valores ambientais?
( ) nunca ( ) raramente ( ) com certa regularidade ( ) freqüentemente
34) Qual a postura da organização com relação à comunicação dos danos potenciais (ambientais e para a saúde
humana) dos produtos?
( ) A empresa não faz a divulgação dos danos potenciais dos produtos.
( ) A empresa alerta parcialmente sobre alguns danos potenciais dos produtos.
( ) A empresa alerta sobre os danos potenciais dos produtos e coloca o seu SAC (Serviço de Atendimento ao
Consumidor) à disposição.
35) São realizados treinamentos, para os colaboradores:
a) Treinamentos voltados à melhoria ambiental ( ) nunca ( ) raramente
( ) com certa
regularidade
( ) freqüentemente
b) Treinamentos para pessoas envolvidas em atividades
que podem causar impactos
( ) nunca ( ) raramente
( ) com certa
regularidade
( ) freqüentemente
c) Treinamentos apropriados para atuar em situações de
emergência
( ) nunca ( ) raramente
( ) com certa
regularidade
( ) freqüentemente
d) Educação ambiental ( ) nunca ( ) raramente
( ) com certa
regularidade
( ) freqüentemente
e) Separação do lixo para a coleta seletiva ( ) nunca ( ) raramente
( ) com certa
regularidade
( ) freqüentemente
f) Treinamentos para o conhecimento da legislação
ambiental pertinente à área na qual atua
( ) nunca ( ) raramente
( ) com certa
regularidade
( ) freqüentemente
36) Os treinamentos são devidamente documentados?
( ) nunca ( ) raramente ( ) com certa regularidade ( ) freqüentemente
Requisitos legais
37) A empresa detém informações sobre legislação ambiental e normas referentes à sua área de atuação?
( ) Sim ( ) Não
38) A empresa possui licença de operação vigente na CETESB ou outros órgãos pertinentes?
( ) Sim ( ) Não
39) Qual a classificação dos resíduos sólidos gerados pela empresa (de acordo com a ABNT NBR 10.004)?
( ) Classe I ( ) Classe II A ( ) Classe II B ( ) não conheço
40) A organização sofreu autuação ambiental nos últimos 2 anos?
( ) Sim ( ) Não
41) Existem materiais inertes sob responsabilidade da empresa?
( ) Sim ( ) Não
42) Qual a postura da empresa frente à legislação ambiental?
( ) Cumpre a legislação ambiental, mas não acompanha de forma sistemática as mudanças
( ) Cumpre a legislação ambiental, acompanhando esporadicamente as mudanças
( ) Antecipa-se às mudanças da legislação ambiental
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