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3.1.3 Neutralismo ontológico duhemiano
A razão de Duhem (1906), fervoroso cristão romano, a favor do naturalismo
metodológico, segundo Plantinga (1997b), era que a religião tem pouca relevância para
a teoria física. Contudo, Duhem não via a física livre da metafísica. Assim, as
explicações dadas ao magnetismo, por atomistas, aristotélicos, newtonianos e
cartesianos, eram distintas. Essas físicas mantinham diferentes metafísicas sobre a
natureza última da matéria. Para Duhem, a física está subordinada à metafísica. Não é
uma simples questão de explicar os fenômenos que vemos, mas de explicar o que não
vemos. Portanto, a física apóia-se na metafísica. A consequência disso é que a aceitação
de uma teoria física implica a aceitação de sua metafísica subjacente. Logo, para
pertencer a uma comunidade científica, seus membros devem perceber a metafísica que
está no bojo das teorias que compartilham. Assim, por exemplo, Duhem cita Christian
Huygens, cuja metafísica atomista rejeitou a ideia de ação à distância de Newton.
Duhem cita também os trabalhos de Roberval que, antes de Newton, sustentava uma
teoria geral da gravitação. Esta teoria foi criticada severamente por Descartes, como
uma teoria absurda, devido à atração à distância. Para Descartes, isso postularia a
existência de almas na mais ínfima partícula.
Duhem (1906), segundo Plantinga (1997b), defende que a ciência deve rejeitar
esses compromissos ontológicos. A comunidade dos cientistas tem a função de zelar
pela universalidade do conhecimento científico. Ela não deve permitir que determinadas
teórica, Duhem defendeu em física que toda a química, a mecânica, a eletricidade e o magnetismo são
derivados dos princípios da termodinâmica. Em filosofia da ciência, é conhecido por seus estudos da
relação entre teoria e experimento que sustenta que as hipóteses não são diretamente refutadas pelos
experimentos e que não existe nenhum experimento crucial na ciência. Na história da ciência, defendeu a
continuidade da ciência medieval e a primeira ciência moderna. Suas obras mais conhecidas a respeito de
metodologia científica escritas na década de 1890 foram:
La théorie physique, son objet et sa structure e
Sozein ta phainomena: Essai sur la notion de théorie physique. Duhem influenciou membros do Círculo
de Viena e o filósofo americano Willard V. W. Quine. Entre suas obras destacamos: Le Potentiel
thermodynamique et ses applications à la mécanique chimique et à la étude des phénomènes électriques,
Paris, Hermann, 1886. Thermodynamique et chimie, Paris, Gauthier-Villars,1902. La théorie physique,
son objet et sa structure
, Paris, Chevalier et Rivière, 1906. SOZEIN TA PHAINOMENA, essai sur la
notion de théorie physique de Platon à Galilée, Paris, Hermann, 1908. Traité d'énergétique ou de
thermodynamique générale, 2 vols., Paris, Gauthier-Villars, 1911 e Le système du monde, histoire des
doctrines cosmologiques de Platon à Copernic
, 10 vols, Paris, Hermann, 1913-59. Entre os especialistas
contemporâneos da obra de Duhem, citamos o monge húngaro, beneditino, teólogo e físico Stantley L.
Jaki que entre outras obras escreveu: JAKI, Stanley L. Uneasy Genius: the Life and Work of Pierre
Duhem
. The Hague: Martinus Nijhoff, 1984; The physicist as artist: the landscapes of Pierre Duhem.
Edinburgh: Scottish Academic Press, 1988; Scientist and Catholic: an essay on Pierre Duhem. Front
Royal, VA: Christendom Press, 1991; Reluctant heroine the life and work of Hélène Duhem.
Edinburgh: Scottish Academic Press, 1992.