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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEA
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
MESTRADO EM GEOGRAFIA
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM DINÂMICA TERRITORIAL E AMBIENTAL
ALEXSANDRA DE OLIVEIRA MAGALHÃES
ANÁLISE AMBIENTAL DO ALTO CURSO DA MICROBACIA DO RIO
DA BATATEIRA NO MUNICÍPIO DO CRATO/CE: SUBSÍDIOS AO
ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO
FORTALEZA-CE
2006
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ALEXSANDRA DE OLIVEIRA MAGALHÃES
ANÁLISE AMBIENTAL DO ALTO CURSO DA MICROBACIA DO RIO
DA BATATEIRA NO MUNICÍPIO DO CRATO/CE: SUBSÍDIOS AO
ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO
Dissertação submetida à Coordenação do
Curso de Pós-Graduação em Geografia, da
Universidade Federal do Ceará - UFC, como
requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Geografia na Área de
Concentração: Dinâmica Territorial e
Ambiental.
Orientadora: Profa. Dra. Vládia Pinto Vidal de
Oliveira
FORTALEZA-CE
2006
M164a Magalhães, Alexsandra de Oliveira
Análise ambiental do alto curso da microbacia do Rio da Batateira
no município de Crato/Ce: subsídios ao zoneamento ecológico-
econômico / Alexsandra de Oliveira Magalhães, 2006.
200 f. ; il. color. enc.
Orientadora: Profa. Dra.Vládia Pinto Vidal de Oliveira
Área de concentração: Dinâmica Territorial e Ambiental
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Ceará, Centro de
Ciências. Departamento de Geografia, Fortaleza, 2006.
1. Meio ambiente 2. Impactos ambientais 3. Geografia I.
Oliveira, Vládia Pinto Vidal de (orient.) II. Universidade Federal do
Ceará - Pós-Graduação em Geografia III. Título
CDD 910
ALEXSANDRA DE OLIVEIRA MAGALHÃES
ANÁLISE AMBIENTAL DO ALTO CURSO DA MICROBACIA DO RIO
DA BATATEIRA NO MUNICÍPIO DO CRATO/CE: SUBSÍDIOS AO
ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO
Dissertação submetida à Coordenação do
Curso de Pós-Graduação em Geografia, da
Universidade Federal do Ceará - UFC, como
requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Geografia.
Aprovada em 11/ 08 /2006
BANCA EXAMINADORA
Prof
a
. Dra. Vládia Pinto Vidal de Oliveira (Orientadora)
Universidade Federal do Ceará -UFC
Prof. Dr. Marcos José Nogueira de Souza
Universidade Estadual do Ceará -UECE
Prof
a
. Dra. Marta Celina Linhares Sales
Universidade Federal do Ceará -UFC
A meus pais Jo e Sônia, e a minha avó
Mariana (in memoriam), presenças constante
em minha vida.
AGRADECIMENTOS
A Deus, razão suprema da minha existência e a Nossa Senhora de Fátima
pela força divina.
À minha família pela presença e incentivo constantes nos momentos mais
difíceis desta caminhada. Especialmente a minha querida irmã e amiga Adriana.
Ao Pedrinho que com o seu nascimento, aliviou os momentos angustiantes
nas fases de elaboração desse trabalho.
A Profa. Dra. Vládia Pinto Vidal de Oliveira - UFC pela orientação científica e
amizade durante as fases de realização da pesquisa.
Ao professor Dr. Marcos José Nogueira de Souza da Universidade Estadual
do Ceará - UECE pela atenção e valiosa contribuição científica.
Ao Prof. Dr. Edson Vicente da Silva (Cacau) a quem muito admiro por sua
luz, sabedoria e humildade.
Ao coordenador do Curso de Mestrado em Geografia da Universidade
Federal do Ceará (UFC), Prof. Dr. Eustógio Wanderley Correia Dantas pelo
constante incentivo e apoio aos mestrandos.
Aos Professores que compartilharam seus conhecimentos com os alunos do
Mestrado em Geografia da UFC: Fátima Maria Soares, Ivaine Maria Tonini, Jean-
Pierre Peulvast, José Borzachiello da Silva, José Manuel Mateo Rodriguez, Prudente
Pereira de Almeida Neto, Ricardo Espíndola Romero, Vládia Pinto Vidal de Oliveira e
Vanda Claudino Sales.
Aos Professores do Departamento de Geografia da UFC, Maria Celina
Linhares Sales e Antônio Jeovah Meireles pelas valiosas sugestões na defesa do
exame de qualificação. E especialmente, ao Prof. Raimundo Castelo Melo Pereira,
sempre atencioso e disponível para responder minhas dúvidas sobre a área de
pesquisa.
Aos amigos do Mestrado Abraão Levi dos Santos Mascarenhas, Maria Rita
Vidal, Vítor Hugo Amâncio do Vale e Rúbson Pinheiro Maia pela amizade,
ensinamentos e momentos compartilhados nessa fase de transição pessoal e
profissional de nossas vidas.
A FUNCAP pela concessão da bolsa de Mestrado, especialmente ao Prof.
Dr. José Vitorino de Souza (Presidente em exercício) e Maria Elenir Garcia de Sousa
(Diretora do Núcleo dos Programas de Bolsa de Estudo).
Ao Reitor Prof. Dr. André Luiz Herzog Cardoso e ao Chefe de Gabinete Prof.
Francisco Assis Bezerra da Cunha da Universidade Regional do Cariri - URCA pelo
apoio dado para a qualificação dos profissionais dessa instituição.
Aos professores do Departamento de Geociências do Curso de Geografia da
Universidade Regional do Cariri (URCA) pela minha liberação para a realização do
Mestrado.
Aos professores Francisco das Chagas Sousa da Costa e Francisco Idalécio
de Freitas da URCA pela amizade e orientações durante a realização dos trabalhos
de campo. E ao Michel, técnico do Laboratório de Geoprocessamento da Bacia
Escola da URCA, pelas informações e materiais cartográficos cedidos para a
elaboração dos mapas da pesquisa.
Às queridas amigas Marta Maria, Flávia Geane e Claire Anne pela
hospitalidade, acolhida, incentivo e carinho dado nas minhas viagens ao Crato.
Ao Luís, primo e irmão sempre disposto a ajudar nos momentos mais
difíceis desta caminhada.
Aos funcionários do Departamento de Geociências, Curso de Geografia da
URCA, pela atenção dispensada, especialmente a Célia, Tarcísia e Valdir.
Aos funcionários do Departamento de Geografia da Universidade Federal do
Ceará - UFC pela atenção dada aos alunos do Mestrado em Geografia,
especialmente Evaldo, Denize, Sandra, Evaldo Fernandes e Joaquim.
À Prefeitura Municipal do Crato, a Sociedade Autônoma de Água e Esgoto
do Crato (SAAEC) e a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (COGERH) por
terem disponibilizado dados importantes para o desenvolvimento da pesquisa.
A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME),
ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), ao Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), ao Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do
Ceará (IPECE) e a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) pelas
informações cedidas para o enriquecimento do trabalho.
A Érika e Marcos pela digitalização dos mapas e elaboração das figuras da
dissertação. E ao François e Rúbson pela elaboração das versões dos blocos
diagrama.
A todos aqueles que direta ou indiretamente tornaram esse sonho uma
grande realidade” meus sinceros agradecimentos.
RESUMO
A análise ambiental do alto curso da microbacia do Rio da Batateira objetiva um
estudo que trata da identificação dos componentes da paisagem, associando-os às
condições de uso e ocupação da terra, visando à elaboração de subsídios para o
zoneamento ecológico-econômico dessa área. O Rio da Batateira compõe a rede de
drenagem da microbacia 03, pertencente à sub-bacia hidrográfica do Rio Salgado.
Esse rio tem suas nascentes nas fontes perenes que brotam na base da cornija de
arenito, situada na parte superior da escarpa da Chapada do Araripe, no município
do Crato. Apesar da sua importância ecológica e ambiental para o município, essa
área vem passando por transformações paisagísticas causadas por impactos
ambientais, como por exemplo, desmatamentos e queimadas indiscriminados;
aceleração de processos erosivos; poluição hídrica superficial e subterrânea;
acúmulo de lixo; contaminação dos solos por agrotóxicos; ocupação irregular das
margens fluviais; sistema de alocação ilegal das águas fluviais entre outros. Esse
trabalho fundamentou-se na análise sistêmica, de acordo com as concepções
teóricas e metodológicas propostas por Bertrand (1972), Sotchava (1976) e os
princípios ecodinâmicos de Tricart (1977), considerando também, os trabalhos sobre
zoneamento geoambiental desenvolvidos por Souza (2000) para o Estado do Ceará.
A elaboração deste apoiou-se nas seguintes etapas: a) reconhecimento detalhado
da área de pesquisa, e posterior caracterização dos aspectos ambientais; b)
elaboração do diagnóstico socioeconômico da área, enfatizando as formas de uso e
ocupação da terra; c) interpretação de fotografias reas na escala 1:15.000, que
subsidiou a elaboração do mapa básico, e em seguida, a partir do cruzamento de
informações com o mapa do Zoneamento Agrícola (SEAGRI, 1988), confeccionou-
se o mapa morfopedológico na escala 1:50.000; d) elaboração do mapa dos
geossistemas e geofáceis, na escala 1:50.000, a partir dos mapas supracitados,
objetivando a compartimentação das unidades ambientais; e) caracterização
geoambiental das unidades da paisagem, enfocando suas potencialidades,
limitações e impactos das atividades humanas; f) elaboração de subsídios para o
zoneamento ecológico-econômico da área, com alternativas de adequação de uso e
manejo ambiental dos recursos naturais na microbacia do Rio da Batateira. Por fim,
vale salientar que, a implantação de ações voltadas para o desenvolvimento
sustentável na área, possa minimizar os problemas ambientais, e tornar viável o uso
dos recursos naturais. Para tanto, faz-se necessário orientar esse uso e ocupação
da terra, através do zoneamento ecológico-econômico, a fim de que sejam
resguardadas as áreas destinadas à preservação e/ou conservação ambiental.
Palavras-Chave: Análise Ambiental, Impactos Ambientais, Zoneamento Ecológico-
Econômico.
RÉSUMÉ
L’analyse environnementale des parties supérieures du micro-bassin du Rio da
Batateira a pour objectif l’identification des composantes des paysages et des
milieux, associées aux conditions de l’utilisation et de l’occupation de la terre, en vue
de l’élaboration des bases d’un zonage écologico-économique de la région. Le Rio
da Batateira correspond au réseau de drainage du microbassin 03, partie du sous-
bassin hydrographique du Rio Salgado. Il provient de sources pérennes situées à la
base de la corniche gréseuse qui forme la partie supérieure de l’escarpement de la
Chapada do Araripe, dans la commune de Crato. Malgré son importance écologique
et environnementale, cette région subit des transformations rapides de ses paysages
et de ses milieux sous l’impact des activités humaines, tels que des déboisements et
des brûlis indiscriminés, une accélération des processus érosifs, une forte pollution
des eaux superficielles et souterraines, le déversement incontrôlés de détritus, la
contamination des sols par des produits agrotoxiques, l’occupation illégale des rives
des cours d’eau ou encore des systèmes de dérivation illégaux des eaux fluviales. Le
travail s’inscrit dans le cadre de l’analyse systémique, selon les concepts théoriques
et thodologiques proposés par Bertrand (1972) et Sotchava (1976), et les
principes écodynamiques de Tricart (1977). Il s’inspire aussi des travaux de zonation
géoenvironnementale développés par Souza (2000) pour l’Etat du Ceará. Son
élaboration a comporté les étapes suivantes : a) reconnaissance détaillée du terrain
d’étude et caractérisation de ses aspects environnementaux; b) elaboration du
diagnostic socio-économique de la région, en particulier des formes d’occupation du
sol ; c) interprétation de photographies aériennes à 1:15.000, bouchant sur
l’élaboration de la carte de base, puis confection de la carte morphopédologique à
1/50.000 à partir du croisement des informations avec la carte de Zonage Agricole
(SEAGRI, 1988); d) élaboration de la carte des géosystèmes et des géofaciès
environnementaux à 1:50.000, à partir des carte citées plus haut, dans le but
d’effectuer un découpage en unités environnementales; e) caractérisation géo-
environnementale des unités du paysage et en particulier de leurs potentialités et de
leurs limitations, et des impacts des activités humaines; f) élaboration de données
pour un zonage écologico-économique de la région, avec les options alternatives
d’adéquation de l’utilisation et de la gestion des ressources naturelles dans le micro-
bassin du Rio da Batateira. Enfin, l’accent est mis sur le fait que la mise en place
d’actions dédiées au développement durable peut minimiser les problèmes
environnementaux et rendre viable l’utilisation des ressources naturelles. Pour cela, il
est nécessaire d’orienter l’utilisation et l’occupation du sol en fonction du zonage
écologico-économique, afin que soient protégés les secteurs destinés à la
préservation et/ou à la conservation environnementale.
Mots-clés: Analyse environnementale, Impacts environnementaux, Zonage
écologico-économique.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01 -
Organograma metodológico ......................................................
31
FIGURA 02 - Localização da área de estudo ..................................................
36
FIGURA 03 - Localização do alto curso do Rio da Batateira na sede do
município do Crato/CE ...............................................................
37
FIGURA 04 - Bloco diagrama representando a Chapada do Araripe e o Vale
do Cariri com os anfiteatros dos rios da Batateira (Crato) e
Salamanca (Barbalha)................................................................
41
FIGURA 05 - Unidades litoestratigráficas da Bacia Sedimentar do
Araripe........................................................................................
45
FIGURA 06 - Variação termopluviométrica dos municípios de Barbalha e
Campos Sales nos anos de 1961 a 1990 ..................................
59
FIGURA 07 - Variação termopluviométrica dos municípios de Barbalha e
Campos Sales nos anos de 1961 a 1990 ..................................
59
FIGURA 08 - Precipitações pluviométricas totais anuais do município do
Crato no período de 1974 a 2004 ..............................................
60
FIGURA 09 - Balanço hídrico dos municípios de Barbalha e Campos Sales,
segundo Thorntwaite & Mather (1955) ......................................
65
FIGURA 10 - Balanço hídrico dos municípios de Barbalha e Campos Sales,
segundo Thorntwaite & Mather (1955) ......................................
65
FIGURA 11 - Localização das nascentes da Bacia Hidrográfica do Rio
Salgado na região do Cariri Cearense .......................................
67
FIGURA 12 - Divisão hidrogeológica da Bacia Sedimentar do Araripe ...........
72
FIGURA 13 - Localização do Sítio Fundão e da Indústria de Calçados
Grendene, no alto curso do Rio da Batateira, município do
Crato/CE ....................................................................................
85
FIGURA 14 - Fonte Batateira, localizada em Santa Luanda Batateira no
município do Crato .....................................................................
100
FIGURA 15 - Esquema de distribuição das águas da fonte Batateira no
município do Crato em 1855 ......................................................
105
FIGURA 16 - Sistemas de alocação de água da fonte Batateira usando
como parâmetro de medida a unidade de vazão portuguesa
denominada “telha” ....................................................................
106
FIGURA 17 - Pontos de distribuição da água da fonte Batateira, por direito
de uso, localizados no município do Crato em 2001..................
106
FIGURA 18 - Balneário da nascente utilizado pela população local para fins
domésticos e de lazer ................................................................
109
FIGURA 19 - Evolução da população rural e urbana município do Crato, no
período de 1991 e 2000 .............................................................
112
FIGURA 20 - Produto interno bruto do município do Crato, por estrutura
setorial, no ano de 2002 ............................................................
113
FIGURA 21 - Principais produtos agrícolas do município do Crato, em
tonelada, no ano de 1999 ..........................................................
114
FIGURA 22 - Produtos agrícolas secundários cultivados no município do
Crato, em tonelada, no ano de 1999 .........................................
115
FIGURA 23 - Produção agrícola estimada atual dos distritos do Crato em
tonelada, no ano de 2005 ..........................................................
118
FIGURA 24 - Produção agrícola do município do Crato no período de 1995
a 2004 ........................................................................................
119
FIGURA 25 - Principais rebanhos do município do Crato no ano de 2003 .....
120
FIGURA 26 - Produtos extrativistas do município do Crato, no período de
2001 a 2003 ...............................................................................
122
FIGURA 27 - Área produtiva e improdutiva, em hectares, das grandes em
médias propriedades rurais do município do Crato no ano de
2000 ...........................................................................................
132
FIGURA 28 - Imóveis produtivos e improdutivos, em hectares, das grandes
e médias propriedades rurais do município do Crato no ano de
2000 ...........................................................................................
132
FIGURA 29 - Áreas improdutivas, em hectares, das grandes e médias
propriedades rurais do município do Crato no ano de 2000 ......
133
FIGURA 30 - Vista parcial do Platô Oriental da Chapada do Araripe, Na
sede do município do Crato. Observam-se também os
pedimentos dissecados do Crato e a escarpa da chapada,
entrecortada pelos vales fluviais ................................................
137
FIGURA 31 - Cisternas e barreiros para captação de água no período seco
localizados no Platô Oriental da Chapada do Araripe ...............
138
FIGURA 32 - Cisternas e barreiros para captação de água no período seco
localizados no Platô Oriental da Chapada do Araripe ...............
138
FIGURA 33 - Disposição da alta cornija de arenito, formada na parte
superior da escarpa da Chapada do Araripe, vista a partir da
sede do município do Crato .......................................................
139
FIGURA 34 - Vista parcial do tálus da Chapada do Araripe nas
proximidades do Sítio Baixio, ao sul do município do Crato ......
140
FIGURA 35 - Vista parcial do Sertão do Cariri cearense focalizada a partir
do distrito do Belmonte (Crato), na subida da encosta da
Chapada do Araripe. Ao fundo, observa-se a Serra de São
Pedro .......................... ..............................................................
142
FIGURA 36 - Planície fluvial do Rio da Batateira, próximo à empresa de
água mineral Serra Bela, no município do Crato. Observa-se o
assoreamento na calha do rio, e as áreas marginais
desmatadas ocupadas por plantações de cana-de-
açucar .......
144
FIGURA 37 - Desmatamentos e queimadas indiscriminados nas margens do
Rio da Batateira, próximo ao Balneário da Nascente ................
154
FIGURA 38 - Ocupações irregulares com residências de luxo nas
imediações da nascente do Rio da Batateira ............................
155
FIGURA 39 - Ocupação irregular com privatização da margem fluvial,
barramento artificial e canalização das águas do Rio da
Batateira......................................................................................
156
FIGURA 40 - Efeito dos processos erosivos na encosta da Chapada do
Araripe com a queda de blocos de arenito, pela ação da
gravidade, na Fonte Batateira ....................................................
157
FIGURA 41 - Efeitos da declividade e da ação biológica na intensificação
dos processos erosivos na Fonte Batateira ...............................
159
FIGURA 42 - Matérias carregados pelo Rio da Batateira e depositados no
seu leito fluvial ...........................................................................
161
FIGURA 43 - Processo de assoreamento provocado pela retirada da mata
ciliar vegetação nas áreas marginais do Rio da Batateira .........
162
FIGURA 44 - Plantações de bananeiras substituindo a vegetação natural
nas margens do Rio da Batateira ..............................................
162
FIGURA 45 - Ponte da passagem molhada, localizada num dos vales
entalhados do Rio da Batateira, município do Crato..................
163
FIGURA 46 - Ocupações irregulares com a construção da ponte sobre o Rio
da Batateira, na vila Batateira ....................................................
165
FIGURA 47 - Deposição de lixo nas margens do Rio Granjeiro, principal
afluente do Rio da Batateira ......................................................
166
FIGURA 48 - Acúmulo de lixo nas margens fluviais do Rio da Batateira que
provoca a contaminação hídrica superficial e subterrânea ........
169
FIGURA 49 - Águas desviadas do Rio da Batateira, sem controle ambiental,
para o Balneário da Nascente, localizado no município do
Crato ..........................................................................................
171
LISTA DE QUADROS
QUADRO 01 - Principais divisões e nomeclaturas estratigráficas
propostas por Ponte & Appi (1990), Martill apud Neumann
(1999) e Neumann (1999) para a Chapada do Araripe
.............................................................................................
43
QUADRO 02 -
Principais características hidrogeográficas da Bacia do Rio
Salgado ...............................................................................
68
QUADRO 03 - Principais fontes da região do Cariri-Ceará ........................ 74
QUADRO 04 - Produção agrícola do município do Crato, por distrito, no
ano de 2005 ........................................................................
117
QUADRO 05 - Geosistemas e geofáceis do alto curso da microbacia do
Rio da Batateira (Crato/CE) .........................
146
QUADRO 06 - Potencialidades e limitações dos geofáceis na área da
microbacia do Rio da Batateira no município do Crato/CE..
149
QUADRO 07 - Principais impactos ambientais na área da microbacia do
Rio da Batateira no município do Crato/CE ........................
152
LISTA DE TABELAS
TABELA 01 -
Dados termopluviométricos dos municípios de Barbalha e
Campos Sales entre os anos de 1961 a 1990 ......................
57
TABELA 02 -
Balanço hídrico do município de Barbalha/CE .......................
63
TABELA 03 -
Balanço hídrico do município de Campos Sales/CE ..............
63
TABELA 04 -
Principais características dos açudes da sub-bacia do Rio
Salgado .................................................................................
69
TABELA 05 -
Fontes da sub-bacia do Rio Salgado .....................................
73
TABELA 06 -
Vazão da Fonte Batateira .......................................................
75
TABELA 07 -
Listagem de algumas espécies da Mata Úmida/Sub-Úmida ..
88
TABELA 08 -
Listagem de algumas espécies da Mata Seca .......................
89
TABELA 09 -
Listagem de algumas espécies da Mata Ciliar .......................
91
TABELA 10 -
Detentores dos direitos de uso da água do Rio da Batateira
em 2001 .................................................................................
107
TABELA 11 -
Culturas irrigadas com a água da Fonte Batateira, localizada
no município do Crato ............................................................
109
TABELA 12 -
Distribuição da população residente nos distritos do
município do Crato/CE no ano de 1996 .................................
111
TABELA 13 -
Dados da evolução populacional do município do Crato
(1991-2000) ............................................................................
111
TABELA 14 -
Área destinada à colheita, área colhida e quantidade dos
principais produtos das lavouras permanentes do município
do Crato no ano de 2004 ........................................................
116
TABELA 15 -
Área plantada, área colhida e quantidade produzida dos
produtos das lavouras temporárias do município do Crato no
ano de 2004 ...........................................................................
117
TABELA 16 -
Quantidade, em toneladas, da produção dos principais
produtos do extrativismo vegetal no município do Crato, no
período de 2001 a 2003 .........................................................
121
TABELA 17 -
Estabelecimentos industrias ativos do município do Crato,
por tipo, no ano de 1998 ........................................................
124
TABELA 18 -
Estabelecimentos industrias ativos do município do Crato,
por tipo, nos anos de 2002/2003 ..........................................
124
TABELA 19 -
Indústrias de transformação ativas do município do Crato
nos anos de 2002/2003 ..........................................................
125
TABELA 20 -
Unidades de Saúde ligadas ao Sistema Único de Saúde-
SUS, por tipo de prestador, do município do Crato em 2003 .
125
TABELA 21 -
Unidades de Saúde ligadas ao Sistema Único de Saúde-
SUS, por tipo de unidade, do município do Crato em 2003 ...
126
TABELA 22 -
Profissionais de saúde do município do Crato em 2003 ........
127
TABELA 23 -
Docentes, matrícula inicial e salas de aula do município do
Crato em 2003 ........................................................................
127
TABELA 24 -
Indicadores educacionais gerais do município do Crato e do
Estado do Ceará em 2003 .....................................................
128
TABELA 25 -
Abastecimento de água dos distritos do município do Crato
em 2006 .................................................................................
129
TABELA 26 -
Domicílios particulares permanentes, por tipo de
esgotamento sanitário, no município do Crato em 2000 ........
129
TABELA 27 -
Número e área dos imóveis rurais, por classe de área, do
município do Crato, em julho de 2000 ....................................
131
TABELA 28 -
Número e área dos imóveis rurais, por tamanho do imóvel e
classificação das áreas, do município do Crato, em julho de
2000 .......................................................................................
131
TABELA 29 -
Projetos de assentamentos estaduais do município do
Crato, no ano de 2002 ............................................................
133
TABELA 30 -
Assentamento do Programa Reforma Agrária Solidária,
Cédula da Terra, no município do Crato, no ano de 2002 .....
134
LISTA DE
M
APAS
MAPA 01 - Aspectos morfopedológicos .....................................................
78
MAPA 02 - Geossistemas e geofáceis ......................................................
136
LISTA DE SIGLAS
COGERH Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos
CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias
FUNCEME Fundação Cearense de Meteorologia
INEMET Instituto Nacional de Meteorologia
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPECE Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará
PERH Plano Estadual dos Recursos Hídricos
SEAGRI Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária do Estado do Ceará
SAAEC Serviço Autônomo de Água e Esgoto do Crato
SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
SRH Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Ceará
Sumário
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE MAPAS
LISTA DE SIGLAS
INTRODUÇÃO ............................................................................................. 18
1. PROCEDIMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS.................................. 23
1.1 Fundamentação teórica ............................................................................ 23
1.2 Sistemática da investigação: métodos e técnicas da pesquisa ................ 30
2. CONTEXTUALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA ÁREA DE ESTUDO.............. 35
2.1 Localização ..............................................................................................
35
2.2 Descrição dos componentes geoambientais ............................................ 38
2.2.1 Base geológica e geomorfológica .......................................................... 39
2.2.1.1 Geologia regional: a Bacia Sedimentar do Araripe ............................. 39
2.2.1.2 Estratigrafia ......................................................................................... 40
2.2.1.3. Caracterização das unidades litoestratigráficas .................................
44
2.2.2 Unidades geomorfológicas .....................................................................
48
2.2.3 Condições climáticas e recursos hídricos .............................................. 51
2.2.3.1 Condições climáticas regionais e locais ..............................................
51
2.2.3.1.1 Análise dos parâmetros climáticos ...................................................
56
2.2.3.1.2 Recursos hídricos superficiais e subterrâneos ................................ 66
2.2.4 Solos e cobertura vegetal ...................................................................... 77
3. DIAGNÓSTICO SÓCIO-ECONÔMICO E AS FORMAS DE USO E
OCUPAÇÃO DA TERRA ................................................................................
93
3.1 Histórico do povoamento e colonização ................................................... 93
3.2 Aspectos demográficos e indicadores sócio-econômicos .........................
110
3.2.1 Principais atividades econômicas .......................................................... 113
4. COMPARTIMENTAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL DOS
GEOSSISTEMAS E GEOFÁCEIS DA MICROBACIA DO RIO DA
BATATEIRA ...................................................................................................
135
4.1 Geossistemas e geofáceis .......................................................................
135
4.2 Potencialidades e limitações sócio-ambientais..........................................
148
4.3 Impactos ambientais ................................................................................. 151
5. SUBSÍDIOS AO ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO DO ALTO
CURSO DA MICROBACIA DO RIO DA BATATEIRA....................................
173
5.1 Propostas de adequação de uso e manejo ambiental .............................. 173
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................
189
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................ 192
INTRODUÇÃO
No Nordeste brasileiro, as serras úmidas ou brejos de altitude,
correspondem às ilhas de umidade e de florestas perenes que contrastam com as
condições ambientais das baixas planícies semi-áridas adjacentes. Apesar da
importância ecológica e sócio-econômica, essas áreas ainda são pouco estudadas
cientificamente, pois na maioria das vezes, a Região Nordeste é reduzida apenas à
porção semi-árida ou polígono das secas. (CAVALCANTE, 2005).
Essas serras úmidas, também denominadas de enclaves de Mata
Atlântica, “matas úmidas” (CE) e “brejos de altitude” (PE), contrastam com a
paisagem seca do sertão semi-árido, por apresentar manchas de vegetação sempre
verde em um “mar de caatinga”, justificando a alcunha de ilhas de florestas úmidas
(CAVALCANTE, op. cit.).
O Estado do Ceará, localizado na região Nordeste do Brasil, abriga uma
diversidade de domínios naturais e paisagísticos, distribuídos geograficamente entre
o litoral, as serras e os sertões, cujos ambientes apresentam peculiaridades naturais
e sócio-econômicas refletidas nas diferentes formas de uso e ocupação da terra.
Dentre eles destacam-se como principais feições geográficas o Planalto da Ibiapaba,
a Serra de Baturité e a Chapada do Araripe.
Especificamente, a Chapada do Araripe apresenta-se como uma
superfície tabuliforme, cujo eixo maior se dispõe de leste para oeste com extensão
de aproximadamente 170-180 km, e largura de norte para sul não ultrapassando os
70 km Seus níveis altimétricos variam de 850-1000 m. Particularmente nas encostas
da chapada, ocorre a morfogênese química, formando um típico brejo de encosta
(SOUZA, 1988). Essas condições ambientais propiciam características peculiares a
as paisagens da região do Cariri Cearense, representadas por uma complexa rede
de correlações entre feições geológicas, geomorfológicas, pedológicas, climáticas,
hidrológicas e vegetacionais.
No rebordo setentrional da Chapada do Araripe, entre as cotas de 600 e
750 metros de altitude, jorram 256 fontes que drenam a região do Cariri. Desse total,
76 fontes são encontradas no município do Crato. Dentre elas a mais importante é a
Fonte da Batateira com uma vazão máxima de 376,0 m
3
/h, área selecionada para
nossa análise.
O Rio da Batateira tem suas nascentes a partir da surgência das fontes
Batateira e Luanda, localizadas na escarpa da Chapada do Araripe, numa altitude de
aproximadamente 728 metros. Sua área de drenagem, no alto curso, corresponde a
65,68 Km², até confluir com o Rio Granjeiro na zona periférica da sede do município.
Desde suas nascentes, na escarpa superior da Chapada do Araripe, até o
baixo curso na confluência com o Rio Granjeiro, seu principal afluente, o Rio da
Batateira apresenta muitos problemas ambientais, tais como mobilização de
formações superficiais e antigos aluviões, impermeabilização dos solos,
modificações no escoamento das águas pluviais, formação de ravinas e voçorocas,
aceleração do fluxo no rio durante as cheias, entre outros. Essas modificações são
decorrentes das formas irregulares de uso e ocupação do solo como
desmatamentos indiscriminados, queimadas, acúmulo de lixo, poluição hídrica
superficial e subterrânea, assoreamento, ocupações desordenadas no sítio urbano,
e também nas áreas próximas as encostas da Chapada que apresentam riscos de
deslizamentos e desmoronamentos.
Salienta-se que, esse recurso hídrico superficial, que drena o espaço
geográfico do município do Crato, constitui-se num elemento natural importante para
a região do Cariri Cearense, do ponto de vista ambiental e socioeconômico, uma vez
que suas águas são utilizadas pela população ribeirinha para uso doméstico,
industrial, na agricultura e na pecuária, além de servir como fonte de lazer e
recreação nos clubes e balneários existentes na região.
Contudo, nas últimas décadas, o crescimento desordenado da cidade do
Crato, caracterizado por ocupações irregulares nas áreas de encosta da Chapada
do Araripe, e pela expansão das atividades agrícolas e industriais, sem o devido
planejamento ambiental e urbano, tem alterando a configuração paisagística da
microbacia do Rio da Batateira. Essas modificações na paisagem, provocaram
desequilíbrios ambientais nesse recurso hídrico, comprometendo os ecossistemas
locais que deveriam legalmente ser preservados e/ou conservados.
Em geral, percebe-se que, à medida que essas alterações vêm ocorrendo
na área em estudo, aumenta a dilapidação do patrimônio natural, conduzindo a
rupturas no equilíbrio ecodinâmico da paisagem e, conseqüentemente, gerando
condições de instabilidade nos geossistemas (Chapada do Araripe e Patamar do
Entorno, Depressão Periférica Meridional e Vales Úmidos do Cariri Cearense) e
geofáceis (Platô Oriental, Vertente Oriental da Chapada do Araripe, Sertões do Cariri
Cearense e Planície Fluvial do Rio da Batateira).
Por isso, sentiu-se a necessidade da elaboração de estudos científicos
mais detalhados no alto curso da microbacia do Rio da Batateira, visando um
ordenamento espacial e ambiental. Assim, esse trabalho fundamentou-se na análise
sistêmica, de acordo com as concepções teóricas e metodológicas propostas por
Bertrand (1972), Sotchava (1976) e os princípios ecodinâmicos de Tricart (1977),
considerando também, os trabalhos sobre zoneamento geoambiental desenvolvidos
por Souza (2000) para o Estado do Ceará.
Nessa ótica, a análise integrada dos geossistemas e geofáceis da
paisagem estudada, possibilitou avaliar a interdependência entre os atributos
naturais e as ações antropogênicas, possibilitando a proposição de subsídios para o
Zoneamento Ecológico-Econômico.
Entende-se que, o Zoneamento Ecológico-Econômico deve ter o
Desenvolvimento Sustentável como principal paradigma. Sendo que, o
Desenvolvimento Ambientalmente Sustentável deve estar centrado na dimensão
humana. E adicionalmente ao desenvolvimento econômico e social, interessa-se em
criar condições sustentáveis referidas a dinâmica social, a qualidade de vida e a
dinâmica natural dos ecossistemas (RODRIGUÉZ apud CAVALCANTI,1997).
Santos (2004) afirma que a microbacia é definida como um espaço de
conformação dinâmica que valoriza as modificações feitas pelo homem, no desenho
natural da paisagem, e as relações ambientais de sustentabilidade de ordens
ecológica, econômica e social. A partir disso, pode-se dizer que a microbacia em
análise, caracteriza-se pelo somatório de unidades territoriais definidas pelas
drenagens naturais de águas superficiais, drenagens antrópicas (como por exemplo,
águas estocadas, servidas e em uso) e áreas de ações socioeconômicas, inclusive
considerando-se aquelas que abrangem os espaços de interesse dos principais
grupos sociais.
Por essa razão, a escolha da microbacia do Rio da Batateira, deveu-se ao
fato de a consideramos como uma unidade territorial sica para o planejamento e
gestão ambiental e urbana da cidade do Crato. Visto que, o Planejamento Ambiental
pode ser entendido como um instrumento dirigido a planejar e programar o uso do
território, as atividades produtivas, o ordenamento dos assentamentos humanos e o
desenvolvimento da sociedade, em congruência com a vocação natural da terra, o
aproveitamento sustentável dos recursos e a proteção à qualidade do meio ambiente
(RODRIGUÉZ op. cit.).
Assim, acredita-se que a Geografia Física tenha um papel importante
quando se trata da elaboração de estratégias e ações voltadas para o Planejamento
Ambiental e Urbano, uma vez que essa ciência possibilita a compreensão dos
elementos constituintes do estoque dos recursos naturais e ambientais, no tocante
ao diagnóstico, análise, avaliação e manejo ambiental.
Para a elaboração dessa pesquisa delineamos como objetivo geral
realizar uma análise ambiental do alto curso da microbacia do Rio da Batateira no
município do Crato/CE, visando subsidiar o zoneamento ecológico-econômico.
E quanto aos objetivos específicos, esses estão descritos a seguir:
Identificar e caracterizar os aspectos geoambientais da paisagem
estudada como a base geológico-geomorfológica, as condições
hidroclimáticas, os solos e a cobertura vegetal;
Elaborar o diagnóstico ambiental dos componentes físico-bióticos da
área, a partir da proposição metodológica sistêmica;
Diagnosticar as formas atuais de uso e ocupação da terra, visando
analisar as condições de conservação e/ou preservação ambiental,
bem como o grau de degradação dos recursos naturais locais;
Delimitar e mapear os geossistemas e geofáceis da área em estudo, na
escala de 1:50.000, priorizando os indicadores de qualidade ambiental
de cada unidade, e assim definindo a compartimentação geoambiental;
Apresentar as principais potencialidades e limitações dos geossistemas
e geofáceis, de acordo com a proposição de Tricart (1977), adaptada
por Souza (2000);
Analisar a legislação ambiental pertinente ao contexto geoecológico da
área, objetivando subsidiar o zoneamento ecológico-econômico;
Propor formas alternativas de uso e manejo adequado dos recursos
naturais locais.
Segundo essa lógica, o presente trabalho está estruturado nos capítulos a
seguir:
Na Introdução realizou-se uma apresentação geral da temática estudada,
apresentando os objetivos da pesquisa, e buscando problematizar as questões
ambientais em torno da microbacia do rio da Batateira, bem como justificar a
importância de trabalhos científicos mais aprofundados nessa área.
Nos Procedimentos Teórico-Metodológicos tratamos das concepções e
bases metodológicas que fundamentaram a pesquisa, bem como apresentamos
detalhadamente a sistemática de investigação científica objetivando alcançar os
objetivos propostos.
Na Contextualização e Caracterização Geográfica da Área de Estudo, fez-
se uma explanação da base física da área estudada, visando a compreensão das
correlações entre os componentes paisagísticos.
No capítulo Diagnóstico Sócio-Econômico e as Formas de Uso e
Ocupação da Terra, enfocou-se principalmente a história do povoamento e
colonização da região do Cariri, bem como os aspectos demográficos, indicadores
sociais e principais atividades econômicas.
No capítulo intitulado Compartimentação e Caracterização Geoambiental
dos Geossistemas e Geofáceis da microbacia do Rio da Batateira elaborou-se uma
identificação e delimitação das unidades de paisagem da microbacia do Rio da
Batateira. Nesse item, analisamos as potencialidades, limitações ambientais e
principais impactos ambientais na área de pesquisa.
No capítulo sobre os Subsídios ao zoneamento ecológico-econômico da
microbacia do Rio da Batateira apresentou-se recomendações de adequação de uso
e manejo ambiental da área, baseando-se nos princípios da legislação ambiental
vigente.
Nas Considerações Finais fez-se referência aos resultados obtidos
durante as fases de elaboração da pesquisa. Espera-se que tal análise, possa
contribuir cientificamente e incentivar o desenvolvimento de futuras pesquisas nessa
área.
1. PROCEDIMENTOS TEÓRICO- METODOLÓGICOS
1.1. Fundamentação Teórica
De acordo com o Programa Nacional de Microbacia Hidrográfica (PNMH),
através do Decreto-Lei n° 94.076, de 05 de março de 1987, a microbacia
hidrográfica corresponde a uma área drenada por um curso d’água e seus afluentes,
o montante de uma determinada seção transversal, para a qual convergem as águas
que drenam a área considerada (GUERRA, SILVA & BOTELHO, 1999).
Na análise ambiental, a microbacia ou bacia hidrográfica integra uma
visão de conjunto do comportamento das condições naturais e das atividades
humanas nela desenvolvida, uma vez que mudanças significativas em qualquer uma
dessas unidades podem gerar alterações, efeitos e/ou impactos ambientais a
jusante, e nos fluxos energéticos de saída (descarga, cargas sólidas e dissolvida).
Também, por outro lado, em função da escala e da intensidade de mudança, os
tipos de leitos e de canais podem ser alterados (GUERRA & CUNHA, 2000).
Portanto, os estudos ambientais na atualidade devem produzir resultados
em um nível uniforme capaz de possibilitar a análise integrada, numa visão
globalizada, de um conjunto de elementos de natureza e visão diversificada.
Assim, para a elaboração da Análise Ambiental do Alto Curso da
Microbacia do Rio da Batateira no Município do Crato/CE foi realizado um estudo
integrado das implicações sócio-ambientais e temporo-espaciais dos componentes
naturais e antrópicos da paisagem. O estudo fundamentou-se na Teoria Geral dos
Sistemas, citada por Bertrand (1972), Tricart (1977), Sotchava (1977), Troppmair
(1989), Christofoletti (2000), Monteiro (2000) entre outros.
Esta Teoria foi desenvolvida, inicialmente, nos Estados Unidos, tendo R.
Defay como o primeiro a propô-la na termodinâmica, e L. von Bertalanffy como o
responsável por aplicá-la na Biologia. Posteriormente, esta teoria passou a ser
aplicada a outras ciências, como foi o caso de R. Chorley, que a empregou na
Geomorfologia.
Na Geografia, a Teoria Geral dos Sistemas começou a ser aplicada a
partir da década de 60, para estudar o meio ambiente como um sistema integrado.
De acordo com Christofoletti (2000), os sistemas ambientais físicos
representam a organização espacial resultante da interação dos elementos físicos
que compõem a natureza (clima, topografia, rochas, águas, vegetação, animais,
solos etc.), possuindo uma expressão espacial na superfície da terra e
representando uma organização (sistema) composta por elementos, funcionando
através dos fluxos de energia e matéria.
Na análise sistêmica, considera-se o sistema como um conjunto de
unidades que têm relações entre si. Esse conjunto significa que as unidades
possuem propriedades comuns, sendo que o estado ambiental de cada uma é
controlado, condicionado ou dependente do estado das demais unidades.
A análise sistêmica permite a compartimentação de todos os
componentes do meio ambiente, porém, não os desvincula de sua participação
dentro do sistema. Assim, a evolução, a transformação, os processos e a dinâmica
de cada elemento são interpretados, contribuindo para o diagnóstico das tendências
de todo o ambiente.
Na concepção de Christofoletti (2000), para a análise dos sistemas
ambientais, deve-se aplicar a abordagem holítica sistêmica, objetivando
compreender como as entidades ambientais físicas, expressando-se em
organizações espaciais, se estruturam e funcionam como diferentes unidades
complexas em si mesmas e na sua hierarquia.
Conforme Cavalcanti et al (1997), analisar o meio ambiente como um
sistema implica aplicar um enfoque sistêmico à realidade ambiental, detectando-se
diferentes unidades estruturais com organização própria, e entendendo o sistema
como um conjunto de elementos em interação, em que existe um determinado nível
de organização que mantém inter-relacionadas suas partes. E adotar a perspectiva
holística significa contemplar o homem e seu meio como estruturado em círculos
concêntricos, onde os diferentes “meios” se inter-relacionam, por diferentes níveis de
organização em determinado espaço-tempo.
Nos estudos ambientais a análise sistêmica tem fornecido uma unidade
metodológica, pautada principalmente no conceito de Ecossistema, que se refere “a
qualquer unidade (biosistema) que abranja todos os organismos que funcionam em
conjunto (a comunidade biótica) numa dada área, interagindo com o ambiente sico
de tal forma que um fluxo de energia produza estruturas bióticas claramente
definidas e uma ciclagem de materiais entre as partes vivas e não vivas” (ODUM,
1985). Muito embora, Bertrand (1972) reconheça que os ecossistemas não têm
definição espacial, ou seja, não possuem limites superiores e inferiores para o
estudo das paisagens.
Um tipo particular de sistema físico, dinâmico, flexível, aberto e
hierarquicamente organizado é aquele denominado Geossistema. Sotchava (1977)
introduziu o termo geossistema na literatura soviética com a preocupação de
estabelecer uma tipologia aplicável aos fenômenos geográficos, enfocando aspectos
integrados dos elementos naturais numa entidade espacial em substituição aos
aspectos da dinâmica biológica dos ecossistemas. Para o autor, a principal
concepção de geossistema é a conexão da natureza com a sociedade, pois embora
os geossistemas sejam fenômenos naturais, todos os fatores econômicos e sociais,
influenciando sua estrutura e particularidades especiais, são levados em
consideração durante sua análise.
Na década de 1960, Sotchava (1977) definiu o Geossistema “como a
expressão dos fenômenos naturais resultantes da interação, na superfície da Terra,
entre litomassa, biomassa, aeromassa e hidromassa” (p. 6). Para o referido autor, as
formações naturais experimentariam na atualidade o impacto de elementos sociais,
econômicos e técnicos, que lhes modificariam a dinâmica natural peculiar. Nesse
sentido, a concepção geossistêmica implicaria conceitualmente na relação
sociedade/natureza.
Em termos espaciais, os Geossistemas foram divididos por Sotchava
(1977) em escala local ou topológica, escala regional e escala planetária. Para ele,
em relação à hierarquia de funcionamento, as categorias definidas em ordem
decrescente formam geossistemas (paisagens ou ambientes naturais), geócoros
(geossistemas de estrutura heterogênea), geômeros (classe de geossistemas com
estrutura homogênea) e geótopos (geossistemas associados a unidades
morfológicas ou setores fisionômicos homogêneos) (SOTCHAVA, 1977).
Bertrand (1972) propôs um sistema taxonômico de hierarquização da
paisagem, com a adoção de diferentes escalas espaciais em ordem decrescente,
são eles: a zona, o domínio, a região, o geossistema, o geofáceis e o geótopo;
sendo esses três últimos caracterizados pelos elementos biogeográficos e
antrópicos.
Para Bertrand (1972) o Geossistema resultaria da combinação dinâmica
de um potencial ecológico (geomorfologia, clima, hidrologia), uma exploração
biológica (vegetação, solo, fauna) e uma ação antrópica, não apresentando,
necessariamente, homogeneidade fisionômica, e sim um complexo essencialmente
dinâmico.
Monteiro (2000) considera que o Geossistema constitui um “sistema
singular, complexo, onde interagem os elementos humanos, físicos, químicos e
biológicos, e onde os elementos socioeconômicos o constituem um sistema
antagônico e oponente, mas sim estão incluídos no funcionamento do sistema” (p.
13).
Na abordagem geossistêmica propõe-se o estudo integrado dos
elementos que compõem a paisagem, associados aos elementos socioeconômicos
do sistema ambiental, numa visão de síntese do espaço geográfico. Trata-se da
análise, não da paisagem “natural” ou “física”, mas da paisagem total integrando-
a as implicações da ação do homem sobre o ambiente.
A principal concepção do geossistema é a conexão entre a natureza com
a sociedade humana, onde os aspectos antrópicos do ambiente e as ligações diretas
e de feed-back se refletem em organizações, cujas malhas se estendem às esferas
econômicas e sociais.
A partir dos preceitos teóricos expostos, o Geossistema pode ser
entendido como um sistema espacio-temporal ou como uma organização espacial
complexa e aberta formada pela interação entre os componentes ou elementos
físicos (estrutura geológica, relevo, clima, solos, águas superficiais e subterrâneas,
vegetação e fauna) que podem, em diferentes graus, ser transformados ou
modificados pelas intervenções humanas. Abrange complexos policêntricos, com
organismos biológicos caracterizados por uma organização de sistemas, podendo
englobar vários ecossistemas (TROPPMAIR, 1989; SOTCHAVA, 1977;
CAVALCANTI et al, 1997).
Christofoletti, citado por Troppmair (1989), caracteriza o Geossistema em
três aspectos:
Pela morfologia: corresponde à expressão física do arranjo dos
elementos e da conseqüente estrutura espacial;
Pela dinâmica: corresponde ao fluxo de energia e matéria que passa
pelo sistema e varia no espaço e no tempo;
Pela exploração biológica: corresponde aos elementos da flora, da
fauna e ao próprio homem.
O Geossistema constitui parte componente da geosfera e, numa
perspectiva vertical, engloba as camadas superficiais do solo (ou pedosfera), a
superfície da litosfera com os elementos formadores da paisagem, a hidrosfera e a
baixa atmosfera, abrangendo também a biosfera, como exploradora do espaço e/ou
do sistema.
Em relação à dinâmica dos geossistemas, Tricart (1977) enfatizou o
conceito sistêmico como melhor instrumento gico para os estudos ambientais pela
visão de conjunto, fornecendo conhecimentos para uma atuação sobre os
fenômenos geográficos.
O termo ecodinâmica foi proposto pelo autor para avaliar as condições de
estabilidade/instabilidade dos ecossistemas e/ou geossistemas. Para ele, o
componente mais importante da dinâmica da superfície da terra é o morfogenético,
que produz instabilidade e é um fator limitante muito importante do desenvolvimento
dos seres vivos.
Ainda conforme Tricat (1977), onde a morfodinâmica é intensa a
vegetação é pobre, muito aberta, com biomassa reduzida e pouca variedade
florística. Um outro componente a ser considerado é o pedogenético, que conduz a
uma evolução dos solos permitindo o alcance de condições ligadas a biostasia ou a
fitoestasia, havendo necessidade de se considerar também as influências antrópicas
e os níveis de degradação que daí decorrem.
Os meios ecodinâmicos estabelecidos em função do balanço entre
morfogênese e pedogênese são considerados, na concepção de Tricart (1977),
como meios estáveis, meios “intergrades”, ou de transição, e meios fortemente
instáveis, descritos, segundo Souza (2000), a seguir:
a) Ambientes Estáveis: estabilidade morfogenética antiga em função da
fraca atividade do potencial erosivo; o balanço entre processos morfogenéticos e
processos pedogenéticos é francamente favorável a pedogênese; o recobrimento
vegetal é pouco alterado pelas ações antrópicas ou há fraca regeneração da
cobertura secundária, que evolui para condições similares ou próximas às originais;
há o equilíbrio entre fatores do potencial ecológico e fatores de exploração biológica;
b) Ambientes de Transição: a dinâmica atual do ambiente é marcada
pela preponderância de processos morfogenéticos ou de processos pedogenéticos,
podendo favorecer a uma ou outra condição: predominando a pedogênese, passa-
se aos meios estáveis; preponderando a morfogênese, passa-se aos meios
instáveis;
c) Ambientes Fortemente Instáveis: intensa atividade do potencial
erosivo e com nítidas evidências de deteorização ambiental e da capacidade
produtiva dos recursos naturais; comprometimento das reservas paisagísticas; o
balanço morfogênese x pedogênese é francamente favorável à morfogênese; podem
ser freqüentes as rupturas do equilíbrio ecodinâmico e a manutenção do solo é,
amiúde, comprometida.
Dentre os estudos teórico-metodológicos desenvolvidos sobre
Geossistemas no Brasil, destacam-se, principalmente, os trabalhos de Christofolleti
(1979; 2000), Troppmair (1989), Monteiro (2000), Rodriguez & Cavalcanti apud
Cavalcanti et al (1997) entre outros.
No Estado do Ceará, a concepção geossistêmica é aplicada às análises
integradas das paisagens, zoneamentos e compartimentações geoambientais de
diferentes áreas do espaço cearense, como exemplo, tem-se os trabalhos de
Oliveira (1990), Souza (2000), Souza, Oliveira & Granjeiro apud Elias et al (2002).
Oliveira (1990) elaborou um esboço metodológico para o Zoneamento
Geoambiental da Parte Ocidental do Sertão de Quixeramobim - Ce, identificando e
delimitando as unidades geoambientais, com base em critérios morfopedológicos
integrados aos demais atributos naturais e às ações humanas.
Souza (2000) elaborou a Compartimentação Geoambiental do Território
Cearense, através da identificação, delimitação e caracterização das unidades
geoambientais, com suas potencialidades e limitações associadas às intervenções
humanas.
Souza, Oliveira & Granjeiro apud Elias et al (2002) elaboraram a
Setorização Geoambiental da Bacia Hidrográfica do Baixo Jaguaribe, através da
identificação e análise dos diversos componentes naturais da paisagem e suas
respectivas alterações antropogênicas.
A realização desses trabalhos pioneiros no Estado do Ceará, utilizando-se
a Abordagem Geossistêmica, justifica a necessidade do desenvolvimento de mais
pesquisas científicas que contemplem toda a complexidade do território cearense,
englobando o litoral, as serras e os sertões.
Por essa razão, optamos em desenvolver esse trabalho de pesquisa, visto
que a microbacia do Rio da Batateira é um espaço geográfico merecedor de estudos
ambientais mais detalhados, porque essa área vem passando por transformações
paisagísticas decorrentes das alterações antrópicas, as quais têm afetado a
dinâmica “natural” dos sistemas ambientais locais.
Destaca-se a importância da realização de um ordenamento espacial e
ambiental para a área em estudo, objetivando identificar e caracterizar seus
sistemas e subsistemas ambientais, bem como suas respectivas condições
ecodinâmicas e de vulnerabilidade ambiental.
Salienta-se que o diagnóstico das condições ambientais e de uso e
ocupação da terra são relevantes para o conhecimento dos estados de degradação
ambiental dessa paisagem, possibilitando a elaboração de diretrizes de uso e
manejo adequados dos recursos naturais locais.
Para tanto, adotar-se-á uma abordagem “integrativa” dos componentes
geoecológicos da paisagem, relativa ao meio físico-biótico, bem como a análise de
suas características sociopolíticoeconômicas, culturais e legais.
Nesse sentido, a proposição do Zoneamento Geoambiental constitui-se
no meio indispensável para estabelecer o diagnóstico dos recursos naturais na área
estudada, como também avaliar suas potencialidades, seja pelo ordenamento no
uso dos recursos ambientais e no uso e na ocupação do solo; seja pela proposição
de uma ética que levará à viabilização de paradigmas alternativos, e à revisão das
relações de políticas públicas versus sociedade; seja pelo aporte científico e
tecnológico que levará a melhoria da qualidade dos recursos naturais e
produtividade dos processos humanos.
Deve-se considerar que a concepção de Zoneamento Geoambiental
adotada nessa pesquisa, estará intimamente relacionada à noção de
desenvolvimento sustentável, onde:
(...) esse desenvolvimento concebido sob uma perspectiva
multidimencional, requer uma estratégia capaz de relacionar a teoria à
prática do planejamento, que consiste em formular e programar ajustes,
prever e controlar transformações e compatibilizar as dimensões ecológica,
sócio-econômica e política, visando ao reordenamento do território, através
do exercício de identificação e programação do processo de conciliação
dos conflitos surgidos entre os objetivos sociais, econômicos, as
geopolíticas, a dinâmica e limitações naturais (HURTADO & ACUNÃ apud
SILVA, 2000, p. 21).
Sabe-se que na área em análise, a adoção de um estilo tradicional de
desenvolvimento tem evidenciado historicamente condições insatisfatórias quanto à
preservação e/ou conservação desse recurso hídrico. A concepção de um modelo
sustentável representará um processo de mudança social de oportunidades da
cidadania, de modo a compatibilizar na escala temporo-espacial o crescimento
econômico, a eqüidade social e a preservação e/ou conservação do meio ambiente.
Finalmente, propor a preservação e/ou a conservação da natureza
através da manutenção da capacidade produtiva dos recursos naturais e da
qualidade ambiental se torna um desafio para a Geografia. É nesse âmbito, que tais
condicionantes justificam a necessidade de sistematização dos conhecimentos sobre
o estado atual de conservação/degradação dos recursos naturais e da qualidade
ambiental na microbacia do Rio da Batateira, conforme um paradigma de
desenvolvimento sustentável, concretizado espacialmente e geograficamente
através do esboço do Zoneamento Geoambiental.
1.2. Sistemática da investigação: métodos e técnicas da pesquisa
Para a elaboração da pesquisa e a concretização dos objetivos propostos,
adotou-se a concepção geossistêmica consubstanciada no princípio da
interdisciplinaridade, como referência para a integração dos componentes
geoambientais e socioeconômicos da área em estudo. Desse modo, para o
desenvolvimento da pesquisa contemplou-se uma série de etapas, as quais estão
descritas a seguir:
Os procedimentos metodológicos adotados para as fases de
desenvolvimento da pesquisa estão representados no organograma metodológico a
seguir (Figura 01).
Análise Ambiental do Alto Curso da Microbacia do Rio da Batateira no Município do Crato/CE,
visando subsidiar o Zoneamento Ecológico-Econômico
Análise dos Componentes
Geoambientais
Alise Integrada
da Paisagem
Impactos e
Riscos Ambientais
Potencialidades e Limitações
Ambientais
Proposta de Zoneamento
Ecológico-Econômico
Geossistemas e
Geofáceis
Condições Hidroclimáticas
Aspectos Geológico-
Geomorfológicos
Solos e Formações Vegetais
Uso e Ocupação da terra
Organizão e Tratamento
das Informações
FundamentaçãoTeórica:
Modelo Geossistêmico
Levantamento de
Informaçõessicas
FIGURA 01: Organograma metodológico.
FONTE: Adaptado de Souza, 2003.
Na etapa inicial da pesquisa foram realizados levantamentos
bibliográficos, geocartográficos e fotográficos sobre a área de estudo, para posterior
análise e catalogação de informações sobre a temática pesquisada. Nessa fase,
foram feitas visitas aos órgãos públicos, particulares e instituições de ensino, bem
como pesquisas via Internet, objetivando a sistematização de informações
importantes que subsidiaram as etapas preliminares deste trabalho.
A descrição dos aspectos geológico-geomorfológicos baseou-se em
dados e informações contidas no PROJETO RADAMBRASIL (1981), no
Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM, 1996), Ponte & Ponte-Filho
(1996) e Neumann (1999), entre outros.
A análise das condições hidrológicas que drenam o município do Crato foi
realizada a partir de informações disponibilizadas pelo Plano Estadual dos Recursos
Hídricos (PERH/CE, 1992), Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM,
1996), Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (COGERH, 2003) e Atlas do
Ceará (1997), entre outros.
Quanto às condições climáticas, devido à ausência de estações
meteorológicas completas na área de pesquisa, os dados sobre temperatura,
precipitação, umidade relativa do ar e insolação foram obtidos a partir das Normais
Climatológicas do Instituto Nacional de Meteorologia (INEMET) e da Fundação
Cearense de Meteorologia (FUNCEME), do período compreendido entre 1961 a
1990, referente aos municípios de Barbalha e Campo Sales, que ficam localizados
próximos ao município do Crato, onde está inserida a nossa área de pesquisa.
Somente a variabilidade pluviométrica foi obtida a partir de dados da série histórica
da FUNCEME (2005), do período compreendido entre 1974 a 2004, coletados no
posto pluviométrico do distrito sede do Crato.
Objetivando a complementação das informações climáticas sobre a área
pesquisada, foi realizada a análise do balanço hídrico, a partir de dados dos postos
meteorológicos dos municípios de Barbalha e Campos Sales. Para tanto, optou-se
pela utilização do Programa Balanço Hídrico, desenvolvido por Varejão Silva (1990),
para estimar as temperaturas médias dos respectivos postos pluviométricos.
Os estudos sobre solos foram realizados a partir de informações do Atlas
do Cea(1997), Mapa do Zoneamento Agrícola do Estado do Ceará, na escala
1:800.000, com detalhe original na escala de 1:250.000, elaborado pela Secretaria
de Agricultura e Reforma Agrária do Estado do Ceará (SEAGRI). Sendo que as
classes de solos foram identificadas com base no Novo Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA, 1999).
A análise da cobertura vegetal baseou-se nos estudos realizados pelo
PROJETO ARARIPE - Plano de Gestão da APA da Chapada do Araripe (1998),
segundo a classificação proposta por Fernandes (1990; 1998) para designar as
formações vegetais da Chapada do Araripe.
Os dados socioeconômicos foram elaborados a partir de informações
cedidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 1959), Instituto de
Planejamento do Estado do Ceará (2000), Instituto de Pesquisa e Estratégia
Econômica do Ceará (2000; 2004; 2005), Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA, 1999), Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAEC,
2006), dentre outros.
Para o reconhecimento da área de pesquisa, foram utilizados suportes
operacionais, através da utilização de geotecnologias apoiadas nos trabalhos de
campo.
A representação geocartográfica da área de pesquisa foi organizada a
partir da análise dos seguintes materiais cartográficos:
Mapa Básico Municipal do Crato na escala 1:100.000 (IPECE, 2003);
Carta planialtimétrica Crato - SB. 24 -U - II (escala 1:50.000);
Mapa Geomorfológico do Rio da Batateira na escala 1: 45.000;
Mapa do Zoneamento Agrícola do Estado do Ceará (SEAGRI, 1988),
na escala 1:800.000, com detalhe original na escala de 1:250.000, para
analisar a distribuição dos solos quanto à declividade do relevo.
A partir da interpolação geocartográfica dos mapas acima referenciados,
foram confeccionados os mapas Morfopedológico e dos Geossistemas e Geofáceis
da Microbacia do Rio da Batateira no Município do Crato.
Para o desenvolvimento das etapas de geoprocessamento foram
utilizados os softwares (AutoCAD Map 2001, ArcMap 9.0, ArcCatalog 9.0), além de
impressoras e plotters para entrada, tratamento e saída das informações.
Salienta-se que na intenção de oferecer um melhor layout cartográfico das
informações in loco, os mapas finais foram confeccionados na escala de 1: 50.000,
em papel no tamanho ISOA3.
Finalmente, destaca-se que os trabalhos de campo foram importante para
a delimitação, reconhecimento e levantamentos geográficos e fotográficos, visando
análises mais detalhadas do espaço em questão. Nessa fase, procurou-se restituir
as informações básicas dos componentes geoambientais locais, tais como
condições geológicas, bases e dinâmica geomorfológica, aspectos climáticos,
recursos hídricos, classes de solos, cobertura vegetal, e dos indicadores
socioeconômicos responsáveis pelas transformações paisagísticas, refletidos nas
formas de ocupação e uso da terra na microbacia do Rio da Batateira.
2. CONTEXTUALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA ÁREA DE ESTUDO
2.1 Localização
A região do Cariri, situada na porção sul do Estado do Ceará,
compreende 33 municípios, com uma área total de aproximadamente 19.364 Km
2
,
que corresponde a 13,2% do estado.
A sede do município do Crato localiza-se nessa região, e apresenta como
principais coordenadas geográficas: Latitude (S): 7°14’03” e Longitude (W):
39°24’34”, ocupando uma área de 1.117,5 Km
2
. Limita-se ao norte com Caririaçu e
Farias Brito; ao sul com o Estado de Pernambuco e Barbalha; a leste com Barbalha,
Juazeiro do Norte e Caririaçu e a oeste com Nova Olinda, Santana do Cariri e o
Estado de Pernambuco (IPECE, 2004). Seus distritos são: Crato (sede), Baixio das
Palmeiras, Belmonte, Campo Alegre, Dom Quintino, Monte Alverne, Bela Vista,
Ponta da Serra, Santa Fé e Santa Rosa (IPECE, 2000)
A área delimitada para o presente estudo é a microbacia do Rio da
Batateira, que tem suas nascentes nas fontes perenes que brotam na base da
cornija da escarpa da Chapada do Araripe, a uma altitude de aproximadamente 728
m, no município do Crato. Na nascente, esse curso fluvial, apresenta como principais
coordenadas geográficas: 07º10’58,6’’ a 07º16’56,4’’ de Latitude S e 39º22’49,4” a
39º30’26,03” de Longitude W (Figuras 02 e 03).
O Rio da Batateira compõe a rede de drenagem da microbacia 03,
pertencente à sub-bacia hidrográfica do Rio Salgado. Sua área de drenagem total
corresponde a aproximadamente 1.864,1 Km
2
, com suas nascentes no Crato,
também drena o município de Juazeiro do Norte quando recebe a denominação de
Salgadinho e depois Rio Salgado. No seu alto curso, no município do Crato, a área
que será estudada mais detalhadamente nessa pesquisa, tem uma extensão de
aproximadamente 65,68 Km
2
, e corresponde desde a nascente até a confluência
desse rio com seu principal afluente o Rio Granjeiro.
O Rio da Batateira ou itaytera é um nome indígena que significa “águas
que correm entre as pedras”. O seu curso fluvial resulta da junção da surgência de
duas fontes principais: a Batateira, que lhe o nome, e a Luanda, no extremo sul
do sítio Lameiro, ambas localizadas no município do Crato.
FIGURA 02 - Localização da área de estudo.
FONTE: Imagem de Satélite CBERS II, 2004.
FIGURA 03 - Localização do alto curso do Rio da Batateira na sede do município do
Crato/CE.
FONTE: Costa apud Magalhães et al, 2003.
O curso principal do Rio da Batateira inicia-se com direção Sul - Norte,
quando recebe como tributários os riachos Belmonte e Preguiça, daí flexiona-se para
sudoeste recolhendo as águas dos riachos Chico Gomes, Buriti, Saco Triste,
Cabeça, Brejo do Neco, Pai Mané, Parsano, Sirinos e Guaribas. Em direção ao
Norte, recebe as águas dos riachos Peru, Páscoa, Olho d’água, Almécegas,
Carrapato, Anil, Boa Vista, Jacu, Macaúba, Baixa Dantas, Quebra, Serrinha,
Montanha, Saco de Pedra, Monte Alegre do Meio, Monte Alegre de Baixio, e mais
adiante, no sítio Bueno Aires, recebe o Rio Granjeiro. Em seguida, na
desembocadura, o Rio da Batateira conflui com o rio Ponte, os riachos Baixio Verde,
Quebra e São José, na divisa entre os municípios de Crato e Juazeiro do Norte
(BORGES, 2002).
2.2. Descrição dos Componentes Geoambientais
A análise sistêmica ou integrada das condições geoambientais da
microbacia do Rio da Batateira é de fundamental importância para o conhecimento
dos mecanismos de inter-relações entre os componentes ambientais, associados às
ações antrópicas, considerando-se a complexidade e heterogeneidade dos
elementos que compõem esse sistema ambiental.
Nesse sentido, para a análise do espaço geográfico em questão, adotou-
se a abordagem geossistêmica, objetivando realizar um estudo integrado das
condições geoambientais da área, através do entendimento da caracterização geral
dos seus componentes ambientais e antrópicos, tais como geologia, geomorfologia,
clima, recursos hídricos, solos, vegetação, uso e ocupação da terra, impactos
ambientais etc. Essa visão integrada da área permite a obtenção de fontes de
informações fundamentais ao planejamento ambiental e territorial.
É importante destacar que nas condições atuais, esses componentes
ambientais sofreram influências das diferentes formas de uso e ocupação do solo, as
quais comprometeram as feições morfológicas naturais desse conjunto paisagístico.
A seguir, apresentar-se-á uma descrição das principais características dos
componentes geoambientais que compõem a microbacia do Rio da Batateira.
2.2.1 Base Geológica e Geomorfológica
2.2.1.1 Geologia regional: a Bacia Sedimentar do Araripe
A síntese geológica apresentada a seguir baseou-se na consulta a
trabalhos desenvolvidos sobre a geologia da Bacia Sedimentar do Araripe realizados
por Neumann (1999), Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM (1996),
Ponte & Ponte-Filho (1996) e RADAMBRASIL (1981).
A área delimitada para esse estudo, encontra-se inserida na Bacia
Sedimentar do Araripe, a qual está situada na região fronteiriça dos Estados do
Ceará, Pernambuco, Piauí e Paraíba, ocupando uma extensão de aproximadamente
8.000 Km
2
(RADAMBRASIL, 1981). Essa bacia corresponde a uma superfície de
forma retangular com eixo longitudinal na direção W-E, constituída por seqüências
sedimentares paleo-mesozóicas. Está inserida no embasamento da Região de
Dobramento do Nordeste ou Província Estrutural Borborema, no domínio do
“Sistema de Dobramento Piancó-Alto da Brígida” (PONTE & PONTE-FILHO, 1996).
Morfologicamente, as fisionomias da bacia do Araripe correspondem a: a)
um altiplano, denominado de “Chapada do Araripe”; e b) um vale, conhecido como
“Vale do Cariri” (Figura 04). A zona de altiplano se estende semelhantemente a
bacia, longitudinalmente na direção W-E, enquanto que as sucessões mais antigas
somente são observadas na zona do Vale do Cariri (NEUMAM, 1999).
A arquitetura deposicional da bacia do Araripe é formada por dois
compartimentos superpostos, com estilos diversificados. Na parte inferior, encontra-
se uma zona de riftes, encravada no embasamento pré-cambriano, e na parte
superior, uma cobertura tabular, sub-horizontal, encobrindo discordantemente as
bacias do tipo rifte (exceto no vale do Cariri) e áreas adjacentes do embasamento
pré-cambriano (PONTE & PONTE-FILHO, 1996).
2.2.1.2. Estratigrafia
Segundo o enfoque adotado por Ponte (1996) citado no Relatório do
Projeto de Avaliação Hidrogeológica da Bacia Sedimentar do Araripe elaborado pelo
DNPM (1996), o registro sedimentar da bacia do Araripe pode ser abordado
conciliando duas concepções distintas: a) o moderno enfoque da estratigrafia
genética, considerando-se a identificação de seqüências tectono-estratigráficas
naturais e dos sistemas deposicionais; e b) o enfoque descritivo da litoestratigrafia
da bacia, subordinando-se as unidades formais, às unidades genéticas identificadas
na análise de sistemas deposicionais (DNPM, 1996).
FIGURA 04 - Bloco diagrama representando a Chapada do Araripe e o Vale do Cariri com os anfiteatros dos rios da Batateira (Crato) e
Salamanca (Barbalha).
ORGANIZAÇÃO: Magalhães, A. de O.;DIGITALIZAÇÃO: Bétard, F., 2008.
Em estudos mais recentes realizados por Neumann (1999) sobre a
“Estratigrafia, Sedimentologia, Geoquímica e Diagênese dos Sistemas Lacustres
Aptiense-Albiense da Bacia do Araripe”, estratigraficamente a bacia do Araripe pode
ser analisada sob dois enfoques distintos: a) o registro sedimentar que é constituído
pelas tectonoseqüências “Beta”, “Pré-Rifte” e “Rifte”, afetadas pelo tectonismo que
atuou na bacia durante sua história evolutiva, formando “grabens” e “horsts”; e b) o
registro sedimentar “Pós-Rifte”, que não apresenta evidências de haver sido afetado
por tectonismo durante sua deposição, sendo caracterizado pela formação de
extensos corpos sedimentares tabulares.
As principais divisões e nomenclaturas estratigráficas propostas para a
Chapada do Araripe por Ponte & Appi (1990), Martill apud Neumann (1999) e
Neumann (1999) podem ser observadas no Quadro 01. É preciso ressaltar que
neste trabalho adotaremos a concepção elaborada por Neumann (1999), que fez as
seguintes adaptações às propostas citadas anteriormente:
1. Os Membros Crato, Ipubi e Romualdo da Formação Santana foram
elevados de categoria, passando a ser denominados de formações.
2. Foram agrupadas as Formações Rio da Batateira, Crato, Ipubi,
Romualdo e Arajara, no Grupo Santana. Nesse sentido, o Grupo
Santana seria equivalente ao Grupo Araripe de Ponte & Appi (1990);
3. Propõe-se a integração das Formações dos grupos Vale do Cariri,
Santana e Exu em um grupo denominado de Supergrupo Araripe.
Quadro 01 - Principais divisões e nomenclaturas estratigráficas propostas por Ponte
& Appi (1990), Martill apud Neumann (1999) e Neumann (1999) para a Chapada do
Araripe.
FONTE: Neumann, 1999.
2.2.1.3. Caracterização das Unidades Litoestratigráficas
Segundo Neumann (1999), as unidades litoestratigráficas que compõem a
Bacia Sedimentar do Araripe, na região do Cariri são (Figura 05):
a) Evolução Pré-Mesozóica Paleozóica: Formação Mauriti;
b) Evolução Mesozóica “Pré-Rifte” e “Rifte” (Jurássico-Cretácio inferior):
formações Brejo Santo, Missão Velha e Abaiara;
c) Evolução Mesozóica “Pós-Rifte” (Aptiense-Albiense): Formações Rio da
Batateira, Crato, Ipubi, Romualdo, Arajara e Exu.
A seguir serão descritas as unidades litoestratigráficas mais
representativas para a área da microbacia do Rio da Batateira no município do
Crato.
Formação Exu
A Formação Exu constitui-se de uma capa contínua em toda a extensão
da parte superior da Chapada do Araripe. Apresenta espessuras variáveis, atingindo
valores máximos de 150 a 200 m na parte leste da chapada, e valor mínimo de
aproximadamente 100 m na extremidade oeste.
Litologicamente é representada por uma seqüência de arenitos amarelo-
avermelhados friáveis, argilosos, em geral caulínicos, de granulometria variável,
contendo níveis de leitos intercalados de arenitos grosseiros a conglomeráticos.
Esse conjunto repousa discordantemente sobre a Formação Arajara,
constituindo bancos grosseiramente acamados, com estratificações cruzadas,
evidenciando litofáceis típicas de depósitos fluviais.
Formação Arajara
A Formação Arajara corresponde aos sedimentos de natureza
essencialmente terrígena, que se situam na base da Formação Exu. Esta formação
caracteriza-se como uma unidade contínua ou quase contínua, que aflora em toda a
extensão da bacia, bordejando o sopé da escarpa da Chapada do Araripe.
FIGURA 05 - Unidades litoestratigráficas da Bacia Sedimentar do Araripe.
FONTE: DNPM (1996) adaptado por Cavalcante (2000).
A espessura dessa formação é difícil de ser estimada, levando-se em conta
os dados de superfície, pois, na maioria das vezes, essa se encontra recoberta por
depósitos de tálus provenientes dos arenitos da Formação Exu.
Litologicamente é composta por siltitos, argilitos, arenitos finos argilosos e/ou
caulínicos, bem estratificados com estruturas sedimentares caracterizadas por
marcas onduladas, laminações cruzadas e, eventualmente, estruturas de fluidização.
Os sedimentos apresentam coloração variada, predominando as tonalidades
vermelha e amarela.
O seu contato inferior com a Formação Romualdo dá-se de modo
gradacional, enquanto que com a Formação Exu, é marcado por uma discordância
erosiva regional.
Formação Romualdo
A Formação Romualdo refere-se ao Membro Romualdo da Formação
Santana (BEURLEN apud NEUMANN, 1999). Apresenta uma espessura de
aproximadamente 2 a 15 m.
Litologicamente apresenta folhelhos e margas fossilíferas cinza-
esverdeadas, que ocorrem num horizonte rico em concreções carbonáticas de
dimensões variadas, contendo na sua grande maioria, peixes fósseis. Ocorrem
intercalados nos folhelhos, calcários argilosos, fossilíferos e lentes de arenitos
friáveis.
O contato inferior com a Formação Ipubi é caracterizado por uma fina
camada de micro-conglomerado ou arenito conglomerático com estratificação
cruzada acanalada, contendo concreções argilosas e seixos de quartzo e gipsita.
Formação Ipubi
A Formação Ipubi corresponde ao Membro Ipubi da Formação Santana
(BEURLEN apud NEUMANN, 1999). Apresenta uma espessura de
aproximadamente de 30 m.
Litologicamente é constituída predominantemente por bancos
estratiformes de gipsita, com intercalações de folhelhos cinza e verde. Essa
formação representa a face evaporítica do sistema lacustre Aptiense-Albiense, e
encontra-se sobreposta à Formação Crato em contato normal e gradacional.
Formação Crato
A Formação Crato refere-se ao Membro Crato da Formação Santana
(BEURLEN apud NEUMANN, 1999). Representa a seqüência lacustre,
predominantemente carbonatada, com uma espessura de aproximadamente 50 m.
Litologicamente é formada por uma associação de litofácies, que se inicia
com arenitos grosseiros, conglomeráticos, gradando em direção ao topo, para
terrígenos finos bem estratificados, e para calcários argilosos laminados, culminando
com uma camada de folhelhos orgânicos, negros, papiráceos, na base do Membro
Ipubi. Esses sedimentos representam fáceis centrais de um sistema deposicional
lacustre denominado “Lago Araripe”.
Formação Rio da Batateira
A Formação Rio da Batateira (Tectonoseqüência Pós-Rifte) corresponde a
secção terrígena basal que aflora por cerca de 3 Km ao longo do Rio da Batateira
(em direção à Chapada do Araripe), a partir da Vila da Bateteira na sede do
município do Crato. Apresenta uma espessura de aproximadamente 200 m (DNPM,
1996).
Litologicamente, o pacote sedimentar dessa seqüência pode ser
representado por dois ciclos flúvio-lacustres. A seqüência se inicia por bancos de
arenitos fluviais médios a grosseiros, gradando ascendentemente para arenitos
médios a finos, siltitos argilosos bem estratificados, e se encerra com uma secção de
folhelhos negros, orgânicos, fossilíferos, denominada “Camadas Batateira”.
A unidade Rio da Batateira pode ser subdividida em três assembléias
litológicas, denominadas, da base para o topo, Misericórdia (fluvial), Tia Rosa (flúvio-
lacustre) e Desfiladeiro (lacustre). Também, se reconhece a “Unidade Fundão”
intercalada entre as unidades Missão Velha e Rio da Batateira.
A área de domínio dessa formação está restrita ao Vale do Cariri e se
estende amplamente desde o sopé da Chapada do Araripe, a leste da cidade do
Crato (Vila da Batateira), até a Serra da Mãozinha, entre as cidades de Barbalha e
Missão Velha. A partir daí sua área de exposição se estreita consideravelmente e,
contornando a Chapada do Araripe, se estende em direção ao sul, até próximo à
cidade de Jardim (CE), onde se diminui e desaparece completamente sob a
chapada.
Depósitos Cenozóicos-Tércio/Quaternários
A essas formações associam-se os Depósitos Cenozóicos-
Térciário/Quaternário. Os sedimentos cenozóicos são representados pelas
coberturas tércio-quaternárias arenosas, areno-argilosas e areno-síltica argilosas,
depósitos de talus e pelos aluviões quaternários. As coberturas Tércio-quaternárias,
que ocorrem no Vale do Cariri, relacionam-se às Formações Missão Velha e Rio da
Batateira.
Os depósitos de tálus incluem sedimentos oriundos da Formação Arajara,
Crato, Ibupi e Romualdo, que afloram do lado cearense da bacia e que, devido ao
seu posicionamento ao sopé das vertentes da Chapada do Araripe, mascaram o
contato dessas formações com a Formação Batateira.
Os depósitos quaternários compreendem os aluviões dos rios, que
drenam a bacia do Araripe, destacando-se, entre eles: os rios da Batateira e
Salamanca e os riachos Seco, da Vagem, Jenipapeiro, São Miguel, Violete,
Mameluco, entre outros.
2.2.2. Unidades Geomorfológicas
As unidades geomorfológicas da microbacia do Rio da Batateira foram
definidas com base na classificação morfoestrutural elaborada por Souza (1988)
para o Estado do Ceará, considerando-se a interação entre os processos tectônicos,
as condições paleoclimáticas e as influências morfodinâmicas atuais.
As unidades morfoestruturais do Estado do Ceará incluem os seguintes
domínios: Domínio dos Depósitos Sedimentares Cenozóicos (Planícies Fluviais,
Formas Litorâneas e Tabuleiros), o Domínio das Bacias Sedimentares Paleo-
Mesozóicas (Chapada do Araripe, Chapada do Apodi e Planalto da Ibiapaba) e o
Domínio dos Escudos e Maciços Antigos (Planaltos Residuais e Depressões
Sertanejas) (SOUZA, 1988).
A microbacia do Rio da Batateira, área estudada com maior detalhe nessa
pesquisa, se encontra inserida no Domínio dos Depósitos Sedimentares Cenozóicos
(Planície Fluvial) e no Domínio das Bacias Sedimentares Paleo-Mesozóicas
(Chapada do Araripe).
O Domínio dos Depósitos Sedimentares Cenozóicos (Planície Fluvial) ou
terraços fluviais são feições associadas aos sistemas fluviais. Constituem áreas
planas, oriundas de deposição fluvial, sujeitas as inundações sazonais, e com
patamares laterais escalonados, eventualmente mantidos por cascalheiros
quartzosos que formam os níveis de terraços.
As planícies fluviais são formas características de acumulação,
decorrentes da ação fluvial. Os terraços fluviais consistem em uma área plana ou em
bancadas, limitadas por escarpas em direção ao curso atual do rio. São formados
quando o rio corta os sedimentos previamente depositados em sua planície de
inundação (SUGÜIO & BIGARELLA, 1990).
A planície fluvial do Rio da Batateira encontra-se disposta nesse domínio,
originando um conjunto de formas particulares, relacionadas basicamente com o
aporte de sedimentos, energia de transporte e fluxo de materiais.
No Domínio das Bacias Sedimentares Paleo-Mesozóicas, a Chapada do
Araripe abrange a porção meridional do Estado do Ceará, limitando-se com os
Estados de Pernambuco e Piauí.
A Chapada do Araripe apresenta-se como uma superfície tabuliforme,
cujo eixo maior se dispõe de leste para oeste com extensão de aproximadamente
170 a 180 Km, com largura de norte para sul, não ultrapassando 70 Km. Os níveis
altimétricos da chapada variam entre 850 e 900 metros, atingindo 1.000 m no
município de Porteiras. Os arenitos da Formação Exu funcionam como
mantenedores do relevo, que exibe feições planas e dissecação particularmente
nula (SOUZA, 1988).
Essa feição geomorfológica encontra-se limitada em toda sua extensão
por escarpas erosivas, sendo mais pronunciadas nos setores nordeste e sul, onde
se tornam mais abruptas. Ao oeste, a escarpa que liga essa superfície estrutural à
Depressão Sertaneja é menos ressaltada, chegando, por vezes, a ser esboçada. No
setor norte, o contato com o Planalto Sertanejo é feito através de rampas
pediplanadas (RADAMBRASIL, 1981).
Os rebordos da chapada são marcados por “glints” que se associam com
folhelhos, concreções e argilitos da Formação Santana. Na Chapada do Araripe,
ocorre a morfogênese química nas encostas, formando um típico “brejo” de encosta.
O mergulho das camadas sotopostas para leste favorece a ocorrência de
ressurgências, responsáveis pela maior permanência dos cursos d’água que drenam
esse setor da depressão periférica meridional do Ceará. A partir dessa área,
elaboram-se vastos setores de planícies fluviais face ao espraiamento dos vales,
através do sopé oriental da Chapada (SOUZA, 1988).
O Rio da Batateira tem suas nascentes na escarpa da Chapada do
Araripe, e sua área de drenagem acompanha fisiograficamente o relevo em direção
à zona de pediplano. Portanto, suas unidades geomorfológicas serão descritas com
base na compartimentação topográfica da Chapada do Araripe, proposta pelo DNPM
(1996) e Costa apud MAGALHÃES et. al. (2003).
A Chapada do Araripe pode ser dividida em três áreas distintas:
Chapada, Talude e Pediplano (DNPM, 1996). A essas áreas Costa (2003)
acrescenta mais uma área que corresponde a Escarpa.
A Chapada é constituída pelos arenitos e siltitos da Formação Exu.
Apresenta relevo tabular quase plano, formando uma extensa “mesalimitada em
quase toda sua extensão por escarpas abruptas, de contornos irregulares e
desníveis que podem ultrapassar 300 metros.
Nessa área, podem ser individualizados dois segmentos distintos: o
primeiro se localiza nos limites dos Estados de Pernambuco e Ceará, estendendo-se
na direção E-W, e cobrindo uma superfície de aproximadamente, 180 Km de
comprimento e largura variável entre 30 e 50 Km. Corresponde ao divisor de águas
das bacias hidrográficas dos Rios São Francisco, ao sul, e Jaguaribe, ao Norte.
O outro segmento ocorre na porção mais ocidental da Bacia Sedimentar
do Araripe, compreendida entre os limites dos Estados de Pernambuco, Ceará e
Piauí. Nessa área, a Chapada do Araripe sofre uma inflexão de 90
o
e se estende, na
direção N-S, por cerca de 60 Km, com largura média de 20 Km, constituindo-se no
divisor de águas das bacias hidrográficas dos Rios São Francisco, a leste, e
Parnaíba, a oeste.
As altitudes da Chapada do Araripe no primeiro segmento decrescem no
sentido E-W, atingindo elevação máxima de 1.000 metros, ao norte de Porteiras
(CE), e mínima de 700 metros, em Araripina (PE). A partir de Araripina, ao oeste, a
altitude vai aumentando gradativamente podendo atingir 760 metros.
A Escarpa é uma área abrupta, com declividade acentuada que foi
modelada pelos agentes erosivos. Essa área é constituída pelos arenitos da
Formação Exu. No rebordo erosivo festonado da Chapada do Araripe é encontrado
um paredão de arenito denominado cornija.
O Talude bordeja o sopé da Chapada do Araripe, incluindo,
geologicamente, as unidades litológicas das Formações Arajara (siltitos e arenitos
argilosos e/ou caulínicos) e Santana (margas, folhelhos e calcários, com níveis
intercalados de gipsita). Dessa associação litológica se origina um solo de baixa
acidez, espesso, pouco permeável e bastante fértil, permitindo o desenvolvimento de
uma drenagem relativamente densa e ramificada.
No contato entre as Formações Exu e Arajara que ocorre nessa zona, os
estratos sedimentares mergulham suavemente em direção norte e leste, o que
possibilita a ocorrência de inúmeras nascentes responsáveis pela presença dos
“brejos” dede serra, evidenciados na região do Cariri Cearense (RADAMBRASIL,
1981).
O Pediplano está representado na porção cearense da Bacia Sedimentar
do Araripe. Corresponde a uma “vasta depressão, com extensão de
aproximadamente 1.500 Km², emoldurada ao sul, pelas áreas escarpadas da
Chapada do Araripe, e, ao norte e nordeste, pelas cuestas dos arenitos siluro-
devonianos da Formação Mauriti” (DNPM, op. cit.).
Essa área apresenta uma topografia com altitude média de
aproximadamente 400 metros, caracterizada pela presença de morros testemunhos,
entremeados por vales de fundo plano. Com exceção da Serra da Mãozinha, que
apresenta altitudes entre 800 e 900 metros, constituindo-se numa saliência
topográfica em meio às demais unidades geomorfológicas.
Litologicamente, a área de pediplano ou Vale do Cariri relaciona-se às
Formações Brejo Santo e Missão Velha (Jurássico), Abaiara e Rio da Batateira
(Cretáceo), ora balizados pelos arenitos da Formação Mauriti e/ou pelas rochas do
embasamento cristalino pré-cambriano.
2.2.3. Condições Climáticas e Recursos Hídricos
2.2.3.1. Condições climáticas regionais e locais
A Região Nordeste ocupa 18,27% do território brasileiro, com uma área
de 1.561.178 km
2
. Desse total, o Semi-Árido ocupa 841.261 km
2
da área nordestina,
caracterizando-se principalmente por apresentar reservas insuficientes de água em
seus mananciais hídricos.
A complexidade das condições climáticas na região Nordeste não se
traduz em grandes diferenças térmicas, mas reflete, principalmente, na variabilidade
pluviométrica, a qual está associada a sua posição geográfica em relação aos
diversos sistemas de circulação atmosférica que assumem importância não somente
sob o ponto de vista estritamente climático, mas, principalmente, pelas
conseqüências às áreas de âmbito das atividades socioeconômicas (NIMER,1989).
Os principais mecanismos de circulação atmosférica que regulam o
regime de chuvas na região do Nordeste Brasileiro são os seguintes: a) Eventos El-
Ninõ-Oscilação Sul (ENOS); b) Temperatura da Superfície do Mar (TSM) na bacia do
oceano Atlântico, Ventos Alísios, Pressão ao Nível do Mar (PNM); c) Zona de
Convergência Intertropical (ZCIT) sobre o oceano Atlântico; d) Frentes Frias;
Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN). Além desses mecanismos, destaca-se,
também, a atuação das Linhas de Instabilidade (LI), dos Complexos Convectivos de
Mesoescala (CCM) e o efeito das brisas marítima e terrestre sobre a precipitação
(FERREIRA, 2004).
O Estado do Ceará, inserido na região Nordeste do Brasil, possui 92% do
seu território no domínio do semi-árido. Devido a sua inserção na zona equatorial do
globo, o estado possui um clima azonal, cujas principais características são:
elevadas temperaturas, baixas amplitudes térmicas, baixos índices de nebulosidade,
forte insolação, elevadas taxas de evaporação e irregularidade pluviométrica.
Em termos gerais, essas condições climáticas são o resultado da
combinação dos sistemas atmosféricos atuantes no estado, associados aos fatores
geográficos locais, tais como latitude; orientação do litoral em relação à corrente dos
alísios; as baixas altitudes; o relevo; a exposição das encostas em face ao
deslocamento de ventos úmidos e dos setores mais abrigados das depressões
interplanálticas ou intermontanas sertanejas; a continentalidade e o posicionamento
do seu território em relação ao hemisfério sul (ATLAS DO CEARÁ, 1997).
O regime pluviométrico no Estado do Ceará é marcado por dois períodos
distintos: um mais chuvoso, não considerando as variabilidades interanuais, que se
estende, principalmente, de fevereiro a maio, e um período seco, compreendido
entre os meses de junho a outubro. Ocorre, também, um outro período intermediário,
chamado pré-estação chuvosa, que começa, em média, em novembro, estendendo-
se até janeiro (PLANO ESTADUAL DOS RECURSOS DRICOS - PERH/CE,
1992).
Os mais elevados níveis de chuvas do Estado concentram-se nas
estações de verão e outono austrais, enquanto os mais baixos ocorrem nas
estações do inverno e da primavera.
A irregularidade das precipitações está relacionada, principalmente, às
anomalias das características da circulação atmosférica e oceânica sobre os
Oceanos Pacífico e Atlântico Tropicais, que influenciam no posicionamento e
intensidade dos principais sistemas atmosféricos causadores de precipitação sobre a
região Nordeste.
A evolução da ocorrência de chuvas ao longo do Estado dá-se de forma
gradativa, devido à ação de diferentes sistemas atmosféricos atuantes na região, tais
como: a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), os Vórtices Ciclônicos de Altos
Níveis (VCAN) e as Frentes Frias. Além desses, outros sistemas de menor escala
atuam na região, como as Linhas de Instabilidade formadas na costa e as Brisas
Marítima e Terrestre, que incidem freqüentemente na zona litorânea (ATLAS DO
CEARÁ, 1997).
Especificamente para a região de estudo serão descritos os sistemas
seguintes:
A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) corresponde a uma banda de
nuvens que circunda a faixa equatorial do globo terrestre, onde ocorre uma
associação da convergência dos ventos alísios do hemisfério norte e sul em baixos
níveis, baixas pressões, altas temperaturas da superfície do mar, intensas atividades
convectiva e precipitação (FERREIRA, 2004).
Normalmente, a ZCIT apresenta um deslocamento norte-sul oscilando em
um período da ordem de um ano, com posicionamento mais ao norte (14
o
N),
durante os meses de agosto, setembro e outubro do Hemisfério Norte, e, mais ao
sul, (2
o
a 4
o
S) entre os meses de fevereiro, março e abril (verão/outono) do
Hemisfério Sul, além de outras oscilações de norte-sul, com menor periodicidade.
A variabilidade, posicionamento e intensidade da ZCIT, no Atlântico
Equatorial está ligada, estritamente, às forças térmicas, que ocorrem nas condições
dinâmicas dos oceanos Atlântico e Pacífico (PROJETO ÁRIDAS, 1994).
No Estado do Ceará, a partir de fevereiro, considerando-se a influência
dos aspectos de grande escala da atmosfera e dos oceanos que modulam a
intensidade das chuvas no Nordeste Brasileiro, a distribuição das precipitações faz-
se de forma mais homogênea. É a partir desse mês que a ZCIT passa a atuar de
forma mais freqüente sobre/nas proximidades do setor norte do Nordeste, quando se
inicia a estação das chuvas (PERH/CE, 1992).
Os Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCANs) são sistemas que se
formam no Oceano Atlântico Sul e penetram próximo à costa leste da região do
Nordeste Brasileiro. No Ceará, a atuação dos VCANs induzem a formação de
nuvens, causando chuvas fortes a nas áreas mais áridas do Estado, como no
Sertão Central e dos Inhamus. Sua formação se evidencia por centros de baixas
pressões frias, em altos níveis, e ocorre, principalmente, entre os meses de
novembro e março, com trajetória, normalmente, de leste a oeste, e maior freqüência
entre os meses de janeiro e fevereiro.
As Frentes Frias (FF) são bandas de nuvens conjugadas que se formam
na região de confluência entre uma massa de ar frio (mais densa) e uma massa de
ar quente (menos densa). A massa de ar frio penetra por baixo da quente, fazendo
com que o ar quente e úmido ascenda, formando as nuvens, e, conseqüentemente,
ocasionando precipitações (FERREIRA, 2004).
Os sistemas frontais que atingem o Nordeste do Brasil são provenientes
das altas e médias latitudes do Hemisfério Sul e influenciam as precipitações,
preferencialmente, no centro-sul do Estado do Ceará, especialmente na região do
Cariri.
Xavier (2001), analisando a previsibilidade de chuvas para o Cariri,
enfatiza que o quadrimestre mais chuvoso da região costuma ser janeiro-abril, ao
invés de fevereiro-maio. A esse fato, atribui a ação das frentes frias do sul,
salientando que a grande dificuldade para estabelecer uma previsão nessa região
consiste em encontrar um “preditor” para a chuva, ligado às frentes frias, estando ele
relacionado aos mecanismos que bloqueiam a ascenção dessas frentes até às
proximidades do Nordeste setentrional.
As Linhas de Instabilidade (LI) são bandas de nuvens causadoras de
chuvas, normalmente do tipo cumulus, organizadas em forma de linha. Sua
formação se dá a partir da grande quantidade da radiação solar incidente sobre a
região tropical. Ocorre o desenvolvimento das nuvens cumulus, que atingem um
número maior no período da tarde e início da noite, quando a convecção é máxima,
ocasionando as chuvas (FERREIRA, 2004).
Além desses sistemas atmosféricos atuantes no Nordeste do Brasil, os
Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM’s) também atuam na distribuição de
precipitações no Estado do Ceará.
Os CCM’s são aglomerados de nuvens que se formam a partir de
condições locais favoráveis, como temperatura, relevo, pressão etc., provocando
chuvas fortes e de curta duração acompanhadas de rajadas de vento. Normalmente,
as chuvas associadas a esse fenômeno meteorológico ocorrem de forma isolada
(FERREIRA, 2004).
Especificamente sobre a região do Cariri, a distribuição e as diferenças de
intensidade das precipitações são diferenciadas de outras áreas do Ceará, em
função de condições climáticas particulares associadas a fatores de posicionamento
fisiográfico dessa área, os quais constituem elementos determinantes da ocorrência
de chuvas.
No Ceará, na pré-estação chuvosa, no período compreendido entre os
meses de novembro a janeiro, as chuvas banham, principalmente, o Cariri, e a
região da Ibiapaba (PERH/CE, 1992).
Essas chuvas estão associadas ao deslocamento da ZCIT, à influência
dos Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis e às incursões de Sistemas Frontais oriundos
das médias e altas altitudes na direção equatorial. A proximidade de Frentes Frias,
que se posicionam sobre a Bahia, sul do Maranhão e Piauí, favorecem a formação
da atividade convectiva, inicialmente na região sul do Estado do Ceará.
As massas úmidas provenientes do litoral chegam à região do Cariri pela
calha do Rio Jaguaribe, ao norte. Ao encontrarem a barreira topográfica da Chapada
do Araripe, essas massas ascendem, resfriando-se e precipitando-se a barlavento.
Por isso, os valores pluviométricos do lado cearense são superiores em relação às
áreas localizadas a sotavento, no Estado de Pernambuco.
Assim, localizando a barlavento da Chapada do Araripe, o município do
Crato recebe esse ar ascendente com umidade relativa e significativa ocorrência de
precipitações que vão influenciar o regime hídrico da região.
Para a análise das condições climáticas da área estudada, foram
utilizados dados de temperatura, precipitação, umidade relativa do ar e insolação
das normas climatológicas do INEMET (Instituto Nacional de Meteorologia, 2004), do
período compreendido entre 1961 a 1990 (29 anos), referentes aos municípios de
Barbalha e Campos Sales.
Ressalta-se que devido à inexistência de estações meteorológicas
completas no município do Crato, foram considerados alguns dados climáticos dos
respectivos municípios, em face da proximidade desses com a área onde está
inserida a microbacia do Rio da Batateira.
A análise da variabilidade pluviométrica foi obtida a partir de dados da
série histórica da FUNCEME (2005) do período compreendido entre 1974 a 2004 (31
anos) referentes ao posto pluviométrico localizado no município do Crato. Trata-se
de uma série importante para uma análise mais detalhada do regime pluviométrico
da área estudada, que o evento chuva tem a maior importância para a
caracterização das condições climáticas regionais e locais.
2.2.3.1.1 Análise dos Parâmetros Climáticos
Análise Termopluviométrica
De um modo geral, a mesorregião sul do Estado do Ceará, que
corresponde ao Cariri Cearense, é caracterizada por valores pluviométricos mais
acentuados em relação aos outros setores do território cearense. Inserida numa
região tropical de clima semi-árido quente, essa área possui uma pluviosidade
extremamente irregular, ou seja, a altura da precipitação anual flutua gradativamente
através dos anos.
De acordo com dados da FUNCEME (1997), a partir de períodos de
observação de 29 anos (1961-1990), os postos pluviométricos das Estações
Meteorológicas dos municípios de Barbalha e Campos Sales apresentam uma
precipitação média anual de 1.001,4 mm e 619,2 mm, respectivamente.
Em relação à distribuição da precipitação anual no município de Barbalha,
no período analisado (1961-1990), pode ser observado na Tabela 01 que o mês de
março, com precipitação dia mensal de 234,3 mm, representa o mês mais
chuvoso, enquanto que o mês de outubro, com apenas 2,5 mm, corresponde ao
menor valor de precipitação média mensal.
Da análise desses dados, pode-se, ainda, constatar que 80% das
precipitações registradas na Estação de Barbalha concentra-se no primeiro semestre
do ano (estação chuvosa), entre os meses de janeiro a abril, totalizando 810,7 mm,
enquanto no período compreendido entre os meses de maio a novembro (estação
seca) precipitou apenas 98,5 mm. No mês de dezembro ocorre chuvas com pouca
expressividade, com precipitações pluviais atingindo apenas 92,2 mm.
Na Estação de Campos Sales, de acordo com os dados da Tabela 01,
pode-se constatar que o mês de março, com precipitação média mensal 150,1 mm,
corresponde ao mês mais chuvoso (estação chuvosa), enquanto o mês de agosto,
com apenas 3,0 mm, representa o menor valor de precipitação média mensal no
município (estação seca).
Tabela 01 - Dados termopluviométricos dos municípios de Barbalha e Campos
Sales, entre os anos de 1961 a 1990.
Mês Barbalha Campos Sales
TºC
Precipitação
(mm)
TºC
Precipitação
(mm)
Jan 25,5 175,2 23,7 94,8
Fev 24,8 191,4 24,1 114,2
Mar 24,5 234,3 24,0 150,1
Abr 24,5 209,8 23,6 100,4
Mai 24,1 48,1 23,4 40,2
Jun 23,8 20,8 22,9 11,5
Jul 23,8 11,5 22,0 8,3
Ago 24,9 5,6 24,0 3,0
Set 26,2 5,2 24,2 6,1
Out 26,7 2,5 26,4 20,7
Nov 26,8 4,8 26,2 29,5
Dez 26,3 92,2 25,1 40,4
Ano 25,2 1001,4 24,1 619,2
FONTE: FUNCEME, 1997.
Observa-se, também, que os maiores valores de precipitação
concentram-se entre os meses de fevereiro a abril (estação chuvosa), totalizando
uma média de 364,7 mm. Esse valor pluviométrico decresce entre os meses de maio
a setembro, quando a partir de outubro a dezembro (estação seca) ocorrem
precipitações pouco expressivas na região.
De fato, pode-se observar nas Figuras 06 e 07, que existem diferenças
nas médias termopluviométricas anuais nas Estações de Barbalha e Campos Sales.
Verifica-se que uma relação entre as precipitações e as temperaturas
nos dois municípios, cujos maiores valores pluviométricos concentram-se no
primeiro semestre, com as temperaturas oscilando de acordo com as precipitações,
com maiores valores no segundo semestre do ano.
No município de Campo Sales chove menos que Barbalha, e ocorrem
oscilações térmicas, com maiores valores também no segundo semestre do ano,
principalmente nos meses de outubro e novembro. Pode-se também observar nos
dois municípios que julho é um dos meses mais frios.
Pode-se afirmar que, especialmente no município de Barbalha as
condições climáticas são influenciadas pela proximidade em relação à Chapada do
Araripe. A ação das frentes frias, que penetram na região, atingem a vertente
cearense na posição de barlavento, favorecendo assim o efeito orográfico da
chapada para atingir maiores valores de precipitação.
Segundo a análise dos dados da série histórica das precipitações
pluviométricas, no período de 1974 a 2004, o município do Crato apresentou um
valor pluviométrico médio total de 1.365,7 mm (FUNCEME, 2005).
No período analisado, as precipitações concentraram-se no primeiro
semestre do ano, mais precisamente, no quadrimestre entre janeiro-abril que
corresponde à estação chuvosa no cariri cearense, cujas precipitações coincidem
com a ação dos vórtices ciclônicos de altos níveis e da influência das frentes frias
oriundas do sul.
Variação Termopluviotrica do Município de Barbalha
0
50
100
150
200
250
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out NovDez
Meses
Precipitação (mm)
22
22,5
23
23,5
24
24,5
25
25,5
26
26,5
27
27,5
Temperatura (ºC)
Precipitação
Temperatura
FIGURAS 06 E 07 - Variação termopluviométrica dos municípios de Barbalha e Campos
Sales nos anos de 1961 a 1990.
FONTE: FUNCEME, 1997.
Observa-se que, durante os meses de janeiro a abril, foram registrados os
maiores valores pluviométricos da estação chuvosa. Sendo que o mês de março,
com valor pluviométrico médio total de 486,7 mm, é considerado o mês mais
chuvoso. Enquanto que a estação seca se prolonga por sete meses, em
Variação Termopluviométrica do Município de Campos Sales
0
20
40
60
80
100
120
140
160
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses
Precipitação (mm)
19
20
21
22
23
24
25
26
27
Temperatura (ºC)
Precipitação
Temperatura
média, compreendendo os meses de maio a novembro, onde o mês mais seco é
agosto, com apenas 2,5 mm, e com chuvas iniciando no mês de dezembro (97,7
mm).
A partir da análise da Figura 08, podem-se observar as diferenças na
distribuição das precipitações no município do Crato ao longo no período de 1974 a
2004. Verifica-se que o ano mais chuvoso foi 1985, quando as precipitações
atingiram um valor total de 1.970 mm (FUNCEME, 2005). Enquanto que o ano de
1993 foi considerado o mais seco do período, com um valor pluviométrico total de
568,1 mm. A diferença entre os registros do ano mais chuvoso e do mais seco foi de
1.401,9 mm. Destaca-se que o ano de 1993 coincide com um dos anos de seca
(1979, 1983, 1987, 1993 e 1998) registrados para a região do semi-árido nordestino.
FIGURA 08 - Precipitações pluviométricas totais anuais do município do Crato, no período
de 1974 a 2004.
FONTE: FUNCEME, 2005.
Quanto à temperatura média anual, no período analisado, de 1961-1990,
na Estação de Barbalha, pode-se observar na Tabela 01 e na Figura 06 que foi
registrado um valor de temperatura média anual de 25,2ºC.
A variação mensal da temperatura na Estação de Barbalha apresentou
uma baixa amplitude térmica, variando de 23,8ºC, entre os meses de junho/julho, até
26,8ºC, no mês de novembro, sendo que a amplitude térmica apresentou índice de
apenas 3ºC.
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
2000
1974 1977 1980 1983 1986 1989 1992 1995 1998 2001 2004
Precipitações Pluviométricas 1974-2004
(mm)
Na Estação de Campos Sales, conforme demonstram a
Tabela 01
e a
Figura
07
, a temperatura média anual foi de 24,1ºC. A variação mensal da
temperatura apresentou valores entre 22,0ºC, no s de julho, até 26,4ºC, no mês
de outubro, e a amplitude térmica registrada foi de 4,2ºC.
Umidade Relativa do Ar
Na Estação de Barbalha, entre os anos de 1961 a 1990, conforme dados
da FUNCEME (1997), a umidade relativa do ar variou desde a menor média mensal,
de 51% no mês de outubro, aa média mensal máxima, de 80% no mês de março,
com média anual de 63,6%. Enquanto que na Estação de Campos Sales (1961-
1990) a menor média mensal registrada foi de 50% também em outubro, e a média
mensal máxima de 82% ocorreu no mês de março, sendo a média anual de 64,2%.
Insolação
No período observado entre os anos de 1961 a 1990, o município de
Barbalha apresentou um total anual de insolação de 2848 horas, com média mensal
mais elevada de 281,8 horas, no mês de agosto, e média mensal mais baixa de
191,9 horas, no mês de fevereiro. Em Campos Sales, o valor anual da taxa de
insolação foi de 2624,3 horas, com média mensal mais elevada de 290,6 horas, em
agosto, e média mensal mais baixa de 153,7 horas, no mês de fevereiro.
Balanço Hídrico Climático
A análise do balanço hídrico foi realizada a partir de dados dos postos dos
municípios de Barbalha e Campos Sales, que na área estudada não existem
registros desses dados. Optou-se pelo uso do programa Balanço Hídrico,
desenvolvido por Varejão Silva (1990), que utiliza o método proposto por
Thornthwaite & Mather (1955), considerando-se os valores médios mensais das
variáveis de temperatura e precipitação.
Esse método consiste em comparar a quantidade de água recebida pelo
meio ambiente através das chuvas com a quantidade perdida pela
evapotranspiração (NIMER & BRANDÃO, 1985). Dessa comparação, deve-se
considerar, principalmente, a variável evapotranspiração potencial (ET
o
), que
corresponde à capacidade potencial máxima de evapotranspiração da água, definida
a partir da temperatura e do tempo/hora de luz solar de cada mês.
Para o cálculo do balanço hídrico dos municípios citados anteriormente,
considerou-se a Capacidade de Água Disponível (CAD) igual a 100 mm,
generalizada para os tipos de solos encontrados na área estudada, por melhor
aproximar-se das condições reais da paisagem.
De acordo com as
Tabelas 02
e
03
, os valores de temperatura estimados
para os municípios de Barbalha e Campos Sales não apresentam muitas variações,
com totais anuais de 25,2°C e 24,1°C, respectivamente, considerando-se a
localização e altitude dos dois postos.
Em relação à pluviometria, o posto de Barbalha apresenta um índice
elevado de precipitação, com total anual de 1.001 mm. Embora a estação das
chuvas se inicie em dezembro com apenas 92 mm, somente no início do primeiro
semestre do ano, a partir do s de janeiro (175 mm) a abril (210 mm), as
precipitações costumam registrar quantidade superior às necessidades potenciais,
correspondendo a 80,9% do total anual. O mês de março, com 234 mm, é o mais
chuvoso, enquanto em outubro registra-se apenas 3 mm de precipitação pluvial.
Em Campos Sales, pode-se verificar que as precipitações concentram-se
também no primeiro semestre do ano, equivalente a 74,1% do total anual, com
poucas chuvas em janeiro (95 mm) e maior incidência entre os meses de fevereiro
(114 mm) e abril (100). O total anual das precipitações é de 619 mm, sendo março o
mês mais chuvoso, com 150 mm, e agosto o s com menores precipitações com
apenas 3 mm.
Tabela 02 -
Balanço Hídrico do Município de Barbalha/CE
- Lat. 7º19' S Long. 39º18' W Altitude: 415,7 m
- Capacidade de Armazenamento do Solo: 100 mm
MÊS T
(ºC)
P
(mm)
ET
O
(mm)
P- ET
O
(mm)
ARM ALT ER
(mm)
EXC
(mm)
DEF
(mm)
JAN 25,5 175 128 47 47 47 128 0 0
FEV 24,8 191 104 87 100 53 104 35 0
MAR 24,5 234 109 125 100 0 109 125 0
ABR 24,5 210 104 106 100 0 104 106 0
MAI 24,1 48 100 -52 60 -40 88 0 12
JUN 23,8 21 92 -71 29 -31 52 0 40
JUL 23,8 12 96 -85 13 -16 28 0 69
AGO 24,9 6 112 -106 04 -09 15 0 97
SET 26,2 5 131 -126 01 -03 8 0 123
OUT 26,7 3 146 -144 0 -01 4 0 143
NOV 26,8 5 143 -138 0 0 5 0 138
DEZ 26,3 92 142 -50 0 0 92 0 50
ANO 25,2 1001 1407 -406 454 0 736 266 671
FONTE: Varejão Silva, 1990.
Tabela 03 -
Balanço Hídrico do Município de Campos Sales/CE
- Lat. 7º S Long. 40º23' W Altitude: 567,1 m
- Capacidade de Armazenamento do Solo: 100 mm
MÊS T
(ºC)
P
(mm)
ET
O
(mm)
P- ET
o
ARM ALT ER
(mm)
EXC
(mm)
DEF
(mm)
JAN 23,7 95 104 -9 0 0 95 0 9
FEV 24,1 114 98 16 16 16 98 0 0
MAR 24,0 150 105 45 61 45 105 0 0
ABR 23,6 100 95 05 67 05 95 0 0
MAI 23,4 40 95 -55 39 -28 68 0 27
JUN 22,9 12 85 -74 19 -20 32 0 54
JUL 22,0 08 78 -70 09 -10 18 0 60
AGO 24,0 03 103 -100 03 -06 09 0 94
SET 24,2 06 104 -98 01 -02 08 0 96
OUT 26,4 21 141 -120 0 -01 22 0 119
NOV 26,2 30 136 -107 0 0 30 0 107
DEZ 25,1 40 124 -84 0 0 40 0 84
ANO 24,1 619 1268 -649 215 0 619 0 649
FONTE: Varejão Silva, 1990.
(Simbiologia:
T
- Temperatura;
P
- Precipitação;
ET
o
- Evapotraspiração Potencial;
ARM - Armazenamento de Água no Solo;
ALT- Variação do Armazenamento; ER
-
Evapotraspiração Real;
EXC -
Excedente Hídrico;
DEF -
Deficiência Hídrica)
Observa-se, nas
Figuras 09
e
10
, que os valores médios mensais de
Evapotranspiração Potencial (ET
o
) – correspondente a quantidade de água que
evapotranspiraria no sistema, verificados em Barbalha (1.407 mm/ano) e Campos
Sales (1.268 mm/ano) são mais elevados que a precipitação total anual (1001 mm
e 619 mm, respectivamente), gerando déficit hídrico significativo no ambiente.
A Evapotranspiração Real (ER) corresponde à quantidade de água
evapotranspirada no sistema. No posto de Barbalha, o valor da ER total anual é de
736 mm, apresentando o mês de janeiro com o maior índice, 128 mm, e outubro com
apenas 4 mm, quando diminuem as precipitações pluviais. E em Campos Sales o
valor da ER total anual (619 mm) é igual a precipitação total anual, com maior valor
no mês de março (105 mm), no período chuvoso, e setembro apresentando o menor
valor (8 mm), no período seco.
De um modo geral, os valores de excedente hídrico (EXC) registrados no
posto de Barbalha apresentam um total anual de 266 mm, com nove meses secos,
de maio a janeiro. O s de março apresenta o maior valor (125 mm), quando
ocorrem as maiores precipitações (234 mm). O déficit hídrico apresenta maior valor
no mês de outubro (143 mm), correspondendo a menor taxa de precipitação média
mensal e maior evapotranspiração potencial média mensal do município.
O município de Campos Sales apresenta doze meses secos, com
excedente hídrico (EXC) anual igual a zero, evidenciando assim suas condições de
semi-aridez. O maior déficit hídrico ocorre no mês de outubro (119 mm), quando são
verificadas as maiores médias mensais de evapotranspiração potencial (ET
o
) e de
temperatura (26,4 mm).
A partir da análise do balanço hídrico para os municípios estudados, e
adotando-se a classificação climática de Thorntwaite & Mather (1955), o clima de
Barbalha corresponde a C1S1 (seco sub-úmido com moderado excesso hídrico no
verão), enquanto que para Campos Sales é Dr (semi-árido sem excesso hídrico).
FIGURAS 09 E 10 - Balanço hídrico dos municípios de Barbalha e Campos Sales, segundo
Thorntwaite & Mather (1955).
FONTE: Varejão Silva, 1990.
Concluindo, pela análise dos dados expostos, pode-se dizer que a área
estudada é uma inserção úmida no clima semi-árido do Nordeste Brasileiro. E a pré-
estação chuvosa é o principal fator responsável que diferencia essa área de outros
setores do interior do Estado do Ceará, influenciando na ocorrência de precipitações
e, conseqüentemente, nas condições hídricas no solo.
Assim, o conhecimento climatológico dessas características
pluviométricas e hídricas do solo, que ocorrem particularmente na região do Cariri,
Balanço Hídrico do Município de Campos Sales
0
20
40
60
80
100
120
140
160
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Meses
Milímetros (mm)
0
20
40
60
80
100
120
P ETP ETR
Balanço Hídrico do Município de Barbalha
0
50
100
150
200
250
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Meses
Milímetros (mm)
0
20
40
60
80
100
120
140
P ETP ETR
torna-se de grande importância para que, associado ao monitoramento dessas
condições, se possa orientar o desenvolvimento de atividades agrícolas na região.
2.2.3.1.2 Recursos hídricos superficiais e subterrâneos
A região do Cariri é drenada pelas Sub-bacias do Alto Jaguaribe e Rio
Salgado (PLANO ESTADUAL DOS RECURSOS HÍDRICOS - PERH/CE, 1992).
O Rio Jaguaribe é o principal recurso hídrico superficial do Estado do
Ceará, e drena uma área de aproximadamente 74.621 Km
2
, correspondente a 48%
do território cearense. Sua bacia hidrográfica está subdividida em cinco sub-bacias
principais: Alto Jaguaribe, Médio Jaguaribe, Salgado, Banabuiú e do Baixo
Jaguaribe. A Bacia do Rio Salgado será detalhadamente descrita, pois apresenta
como um de seus principais afluentes o Rio da Batateira, área de interesse dessa
pesquisa.
Essa bacia hidrográfica é formada por 23 municípios, sendo que da
microbacia 03 fazem parte os seguintes: Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão
Velha e Caririaçu (
Figura
11
).
O Rio Salgado é o principal afluente da margem direita do Rio Jaguaribe.
Desenvolve-se no sentido sul-norte até confluir com o Rio Jaguaribe, logo à jusante
da barragem do açude Órós, drenando uma área de aproximadamente 12.865 Km²,
com extensão de 308,2 K (PERH/CE, 1992). Suas nascentes originam-se na
Chapada do Araripe, a partir dos municípios de Crato, Barbalha, Missão Velha, Brejo
Santo, Porteiras e Jardim. Nessa região seus principais afluentes o os rios Carás,
da Batateira e Salamanca, além dos riachos Fundo, Santana, Vargem, Seco,
Porteiras, Riachão e Jardim.
No município do Crato, os principais tributários do Rio Salgado são o Rio
da Batateira e o riacho dos Porcos, cujas nascentes desses cursos d’água localizam-
se na encosta da Chapada do Araripe (
Quadro 02
).
FIGURA 11 - Localização das nascentes da Bacia Hidrográfica do Rio Salgado na região do
Cariri Cearense.
FONTE: COGERH, 2004.
MISSÃO VELHA
ABAIARA
MILAGRES
AURORA
GRANJEIRO
FARIAS BRITO
V
Á
R
Z
E
A
A
L
E
G
R
E
PORTEIRAS
BREJO SANTO
CARIRIAÇU
SANTA
DOM QUINTINO
PONTA
DA SERRA
Serra da Boa Vista
Serra do Juá
S
e
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F
a
u
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a
Serra São Pedro
S
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M
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-
3
8
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MANOEL BALBINO
RIO BATATEIRA
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Ç
O
R
I
A
C
H
O
S
E
C
O
AÇUDE DO ROSÁRIO
QUINTAUS
AÇUDE
THOMAZ
OSTERNE
9.190.000
9.210.000
9.230.000
9.250.000
490.000
-07º 00’
39º.30’
CRATO
JUAZEIRO
DO NORTE
BELMONTE
C
E
-
2
9
2
C
E
-
0
9
6
RIO BATATEIRA
F
U
N
D
O
R
I
A
C
H
O
D
O
S
JARDIM
470.000
450.000
JAMACARU
C
E
-
0
9
6
B
R
-
1
2
2
R
I
A
C
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O
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S
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M
A
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C
A
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C
H
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D
A
V
A
R
G
E
M
CHAPADA
DO ARARIPE
BARBALHA
CALDAS
ARAJARA
C
E
-
0
6
0
R
I
A
C
H
O
S
A
N
T
A
N
A
Serra da Fortuna
Base: Cartas da SUDENE
ALTITUDES (m)
Abaixo de 400m
De 400m a 600m
De 600m a 800m
Acima de 800m
CONVENÇÕES
SEDE MUNICIPAL
DISTRITOS E VILAS
RIO/RIACHO
BARRAGEM
MALHA VIÁRIA
ESTRADA
LIMITE MUNICIPAL
LIMITE ESTADUAL
LIMITE DE BACIA/SALGADO
/CARIUS
MICRO-BACIA DO RIO SALGADO
MUNICÍPIOS:
CRATO - JUAZEIRO DO NORTE - BARBALHA
MISSÃO VELHA - CARIRIAÇU
03/05
RESPONSÁVEL:
LABORATÓRIO DE GEOPROCESSAMENTO DA APA
HIPSOMETRIA
DATA: FOLHA:
ABRIL DE 2000
-2
0
2
4 6 8
10 km
ESCALA GRÁFICA:
Quadro 02
- Principais características hidrográficas da Bacia do Rio Salgado.
Rio
Bacia
Hidrográfica
(Km²)
Comprimento do
Talvegue
(Km)
Ordem
da Bacia
Declividade Média
da Bacia
(%)
Batateira
1.864,1
59
5
0,2
Riacho dos
Porcos
5.029,40
193,2
3
0,207
FONTE: PERH/CE, 1992.
As declividades do Rio Salgado nas vertentes da Chapada do Araripe são
bastante acentuadas (>70%), as quais vão se tornando mais suaves na formação da
zona de aluvionamento. As declividades do talvegue variam de 0,1% a 8%, sendo a
média de 0,18% (PERH/CE, 1992).
Na porção sul desta bacia, verificam-se expressivas ocorrências de
terrenos sedimentares que constituem, em toda área cerca de 47%, do seu total
(ATLAS DO CEARÁ, 1997).
A hidrografia da região do Cariri apresenta as seguintes características:
(1) inexistência de uma rede hidrográfica na parte superior da Chapada do Araripe;
(2) presença de uma zona de escoamento torrencial nas encostas da chapada, onde
se localizam as fontes que dão origem aos rios e riachos; (3) zona de espraiamento
nas planícies, logo após a ruptura da declividade das vertentes e; (4) ocorrência de
uma rede de drenagem do tipo dendrítica, com direção principal dos cursos d’água
NE-SE.
A rede de drenagem é caracterizada por rios intermitentes, apesar das
suas condições físico-climatológicas favoráveis, que estão condicionados às altas
taxas de evaporação, o que dificulta um melhor aproveitamento dos seus recursos
hídricos superficiais.
Assim, para o acúmulo de água nos períodos chuvosos e regularização
nos períodos de estiagem, foram construídos pequenos e médios reservatórios na
Sub-Bacia do Rio Salgado. Na
Tabela 04
podem ser observadas as principais
características da rede de açudes da sub-bacia do Rio Salgado.
Tabela 04 -
Principais características dos açudes da sub-bacia do Rio Salgado
Açude Município Capacidade (m³) Volume (m³) Vazão (l/s)
Atalho
Brejo Santo
108.000.000
73.000.000
500
Gomes
Mauriti
2.000.000
1.000.000
0
Manoel Balbino
J. do Norte
37.000.000
10.000.000
250
Cachoeira
Aurora
34.000.000
22.000.000
20
Estrema
Lavras
3.000.000
1.000.000
0
Lima Campos
Icó
66.000.000
37.000.000
500
Olho D’água
Várzea Alegre
21.000.000
14.000.000
20
Ubaldinho
Cedro
32.000.000
17.000.000
280
Tatajuba
Icó
3.000.000
1.000.000
0
Prazeres
Barro
32.000.000
21.000.000
150
Quixabinha
Mauriti
32.000.000
8.000.000
0
Rosário
Lavras
47.000.000
22.000.000
300
Tomaz Osterne
Crato
29.000.000
16.000.000
450
Total
-
446.000.000
243.000.000
2.470
FONTE: COGERH, 7/11/2005.
No topo da chapada do Araripe, a rede de drenagem é inexpressiva, em
face da elevada permoporosidade das rochas da Formação Exu. Enquanto que, na
área de encosta da chapada, a concentração de fontes perenes sazonais, e de
nascentes fluviais contribuem para o espraiamento de vales fluviais que convergem
para as áreas úmidas do Cariri Cearense.
Quanto aos aspectos hidrogeológicos, a região do Cariri é representada,
predominantemente, por rochas sedimentares, que se caracterizam pela porosidade
primária com boas condições de capacidade de armazenamento de água.
As características hidrogeológicas da região do Cariri apresentam como
principais unidades: os aqüíferos e os aqüicludes (RIBEIRO & VERÍSSIMO, 1995).
Os aqüíferos são unidades geológicas capazes de armazenar e fornecer
água, enquanto que os aqüicludes correspondem a unidades geológicas capazes de
conter água, mas de permeabilidade reduzida, traduzida num fluxo bastante lento.
Os principais aqüíferos da região do Cariri são: Mauriti (ou Cariri), Missão
Velha e Exu. As rochas da Formação Santana apresentam características de
aqüiclude (RIBEIRO & VERÍSSIMO, 1995).
O aqüífero Mauriti apresenta-se em maior extensão na borda leste da
Bacia Sedimentar do Araripe e, em pequena faixa, na borda norte, em contato com o
embasamento cristalino. Sua área de exposição é de aproximadamente 986 Km
2
.
Os poços tubulares perfurados nesse aqüífero têm profundidade média de
130 metros, com capacidade específica de 1,03 m
3
/h/m. Suas águas são de boa
qualidade, sem restrições para o consumo humano.
O aqüífero Missão Velha ocorre com maior espessura na borda oriental
da Bacia Sedimentar do Araripe, ocupando uma superfície de afloramento de,
aproximadamente, 1.058 Km². Apresenta capacidade de vazão média em torno de
300.000 l/h e profundidades que oscilam entre 80 e 110 metros.
O aqüífero Exu ou Feira Nova se localiza no topo da Chapada do Araripe,
ocupando uma área de, aproximadamente, 1.730 Km². Apresenta como principal
limitação à acentuada espessura das rochas, atingindo, em média, 300 metros. Sua
recarga se dá através da alimentação direta da água das chuvas e tem como
exutório a evapotranspiração e as fontes localizadas na base da Chapada do
Araripe.
O aqüiclude Santana aflora numa área de abrangência de,
aproximadamente, 337 Km². Os poços perfurados nessa formação apresentam
vazão média de 1,3 m³/h e profundidade média de 75 metros.
De acordo com estudos realizados por Ribeiro & Veríssimo (1995),
especificamente no município do Crato, onde está inserida a microbacia hidrográfica
em análise, se pode distinguir dois domínios hidrogeológicos: rochas sedimentares e
depósitos aluvionares.
As rochas sedimentares são as mais importantes como aqüífero. Essas
se caracterizam pela porosidade primária, são arenosas e possuem uma elevada
permeabilidade, traduzindo-se em unidades geológicas com excelentes condições
de armazenamento e fornecimento de água. Nesse domínio, o grupo Missão Velha
destaca-se como a unidade hidrogeológica mais importante, e as formações
Santana e Exu como alternativas de captação de água subterrânea.
Os depósitos aluvionares são representados por sedimentos areno-
argilosos recentes, que ocorrem margeando as calhas dos principais rios e riachos
que drenam a região.
No Projeto de Avaliação Hidrogeológica da Bacia Sedimentar do Araripe,
elaborado pelo DNPM (1996), é apresentada de forma mais detalhada a divisão
hidrogeológica da Bacia do Araripe, descrita a seguir (
Figura 12
):
-
Sistema Aqüífero Superior
(Fomações Exu e Arajara): 320 m de
espessura;
-
Aqüiclude Santana
: 180 m de espessura;
-
Sistema
Aqüífero Médio
(Formações Rio da Batateira, Abaiara e
Missão Velha): 500 m de espessura;
-
Aqüiclude Brejo Santo
: 400 m de espessura;
-
Sistema Aqüífero Inferior
(Formação Mauriti e parte basal da
Formação Brejo Santo): 60 a 100 m de espessura;
O Sistema Aqüífero Superior apresenta-se em toda a extensão da
Chapada do Araripe, perfazendo uma área de aproximadamente 7.500 Km². Na
região de pediplano do Cariri, esse aqüífero é praticamente ausente, ocorrendo
apenas em forma de morros residuais de erosão. Também ocorre nas áreas de Ipubi
e Santana do Cariri, onde predominam os sedimentos da Formação Santana
(DNPM, 1996).
O pacote sedimentar desse aqüífero é representado pelas Formações
Exu e Arajara, que capeiam a bacia do Araripe. Possui uma forma tabular, com
espessuras pouco variáveis, em torno de 240 m e mergulho suave sul para norte de
5°.
Apresenta um volume de sedimentos da ordem de 1,8 x 10
12
em toda
a área da chapada, sendo que o volume que atua como reservatório é relativamente
reduzido, com apenas 30 a 50 metros de espessura de sedimentos, e se
encontrando saturado com águas subterrâneas.
A recarga do Sistema Aqüífero Superior é realizada por infiltração direta
das águas da chuva (DNPM, 1996). O relevo semiplano do topo da chapada
associado aos solos arenosos permite uma rápida infiltração das águas das chuvas,
impedindo a formação de uma rede de drenagem superficial.
FIGURA 12 - Divisão hidrogeológica da Bacia Sedimentar do Araripe.
FONTE: Adaptado do DNPM, 1996.
A água infiltrada no topo da chapada desce por gravidade até atingir o
nível de saturação, passando, daí, a circular sub-horizontalmente no sentido dos
exutórios naturais. O escoamento ou circulação da água verifica-se a partir de
gradientes muito baixos, em face da semi-horizontalidade do relevo e das estruturas
geológicas.
Em geral, a estrutura geológica comanda o sentido do fluxo subterrâneo
da água, pois sendo a estrutura um homoclinal, com suave mergulho para norte ou
nordeste, o exutório do sistema aqüífero é praticamente todo para a região do Cariri,
no Estado do Ceará. Por isso, a descarga desse aqüífero ocorre, quase que
exclusivamante, através de fontes ou exutórios naturais (DNPM, 1996).
A água que precipita na Chapada do Araripe infiltra-se, tomando a direção
das camadas, no contato das formações Exu/Arajara e Arajara/Santana, para
ressurgir nas encostas.
No rebordo setentrional da Chapada do Araripe, entre as cotas de 600 a
750 metros de altitude em relação ao nível de base, jorram 256 fontes, formando um
percentual de 83,8% do total das fontes que ressurgem do complexo sedimentar do
Araripe. A área pernambucana possui 14% do total e no Piauí brotam apenas 8,2%
das 307 fontes de toda a Bacia.
Na
Tabela 05
pode-se verificar as fontes da Sub-bacia do Rio Salgado,
destacando-se o município do Crato, com o maior número de fontes igual a 79.
Sobre a vazão dessas fontes, SABIÁ (2000) ressalta que apenas 5% das fontes do
Cariri possuem vazão superior a 100 m³/h.
Tabela 05 -
Fontes da Sub-Bacia do Rio Salgado
.
Município
Número de
fontes
Média
Vazão (m³/h)
Máxima
Vazão (m³/h)
Mínima
Crato 79 18,1 376,0 0,10
Barbalha 33 44,1 348,5 0,80
Missão Velha 52 16,5 352,0 0,21
Brejo Santo 13 (2*) 0,9 3,3 0,08
Porteiras 39 (12*) 10,9 182,4 0,20
Jardim 41 (11*) 10,2 133,0 0,07
Santana do Cariri 30 (7*) 13,6 181,5 0,04
Nova Olinda 10 4,5 16,6 0,06
Total 297 17,8 376,00 0,04
(*) vazão não medida
FONTE: Modificado de Mont’Alverne citado por Brito (2001).
O
Quadro 03
demonstra as principais fontes do Cariri, sua localização e
respectivas vazões. Considerando-se as fontes de maior vazão do Cariri, essas
somam um total 148, sendo que a Chapada do Araripe é a grande responsável pela
existência das mesmas.
Quadro 03 -
Principais Fontes da Região do Cariri/CE.
Classificação Denominação Município Vazão (m³/h)
1
o
Batateira Crato 376,00
2
o
Pendências Missão Velha 352,00
3
o
Farias Barbalha 348,00
4
o
Cocos Barbalha 182,37
5
o
Sítio Roncador Porteiras 182,37
6
o
Saco Santana do Cariri 181,46
7
o
Caldas Barbalha 180,00
8
o
Bica do Sozinho Crato 154,00
9
o
Coqueiro Crato 140,00
10
o
Boca da Mata Jardim 132,98
11
o
Camelo Barbalha 120,00
12
o
Água Grande Crato 113,00
13
o
Santa Rita Barbalha 102,00
FONTE: DNPM, 1996.
Dentre essas fontes, destaca-se a do Rio da Batateira, considerada a
maior reserva d’água localizada no município do Crato, área de interesse desta
pesquisa. Ressalta-se que essa fonte tem suas nascentes no sopé da Chapada do
Araripe, numa altitude de aproximadamente 728 m, especificamente na localidade
denominada Santa Luanda Batateira.
Kemper et al citado por Cordeiro de Brito (2001) apresenta a vazão da
fonte Batateira entre os anos de 1854 a 1993, conforme demonstra a
Tabela 06
.
Tabela 06 -
Vazão da Fonte Batateira
Ano Telhas (*) Vazão (m³/h)
1854 23.0 1.490,0
1920 20.0 1.296,0
1980 8 518,0
1993 5 376,0
FONTE: Modificado de Kemper et. al. apud Brito (2001).
*
Telha: corresponde a uma antiga unidade de vazão portuguesa, que consiste num tubo de 18 cm de
diâmetro com uma inclinação de 1:1000, correspondente a um volume de 64,8 m
3
/h.
Da análise da tabela, pode-se observar uma redução da descarga dessa
fonte nos últimos 70 anos. Essa diminuição tem aumentado significativamente no
século XX, que em 1954 a vazão era de 23 telhas, e no ano de 1993 era apenas
de 5 telhas.
Sua vazão atual é de aproximadamente 376 m³/h. Porém, de acordo com
estudo apresentado por Kemper et al (1995), se estimou por extrapolação que, essa
fonte desapareceria aproximadamente em 2025. Acredita-se que uma das principais
causas da redução da vazão da Fonte Batateira, e das demais fontes localizadas na
Região do Cariri, deve-se principalmente aos desmatamentos que ocorrem no topo
da Chapada do Araripe, que corresponde à zona de recarga do aqüífero superior, a
qual alimenta as áreas de fontes.
Outras hipóteses são usadas para explicar a redução da vazão desse
manancial hídrico da Chapada do Araripe. Dentre elas destacam-se: a construção
de uma hidrelétrica em 1938, para gerar energia para o Crato, que provocou
explosões com dinamites para aumentar a quantidade de água a ser utilizada nesse
empreendimento. Acredita-se que, com essas explosões o fluxo d’água tenha se
invertido, ressurgindo em outras pequenas fontes ou se infiltrado em aqüíferos
inferiores.
Além dessa, uma outra hipótese que se refere à atividade tectônica na
região da Chapada do Araripe é considerada importante atualmente para explicar a
redução da vazão das fontes do Cariri. Segundo o DNPM (op. cit.):
O controle tectônico afetou muito mais as estruturas geológicas, compondo
um quadro de altos e baixos sucessivos, que dificultam o dimensionamento
dos volumes acumulados de sedimentos em cada compartimento,
sobretudo pela ausência de poços perfurados naquela área (DNPM, 1996,
p. 17).
As reservas permanentes do Sistema Aqüífero Superior representam 10,2
bilhões de metros cúbicos, enquanto que as reservas reguladoras ou
disponibilidades potenciais foram estimadas em 100 milhões de metros cúbicos ao
ano. Quanto às disponibilidades virtuais, essas são estimadas em 55,5 milhões de
m³/ano (SRH, 2004).
O Sistema Aqüífero Médio recobre a maior parte da depressão sertaneja
no gráben Crato-Juazeiro, aflorando em cerca de 360 Km², e espessura média de
445 metros.
As duas sub-bacias de Feira Nova e Cariri perfazem um total de 4.790
Km², equivalente a 43,5% da Bacia Sedimentar do Araripe, e nelas localizam-se as
formações aqüíferas consideradas conjuntamente como o “Sistema Aqüífero Médio”
(DNPM, 1996).
Na sub-bacia de Feira Nova, o volume total de sedimentos pré-Santana é
da ordem de 770 x 10
9
m³, com espessura média de 400 metros, enquanto na sub-
bacia do Cariri este volume é da ordem de 1,9.10
12
m³, e sua espessura dia é de
675 metros.
A recarga do Sistema Aqüífero Médio na sub-bacia de Feira Nova é
praticamente nula, devido a esse sistema encontrar-se situado numa fossa tectônica
recoberta pelo pacote de sedimentos impermeáveis da Formação Santana. Na sub-
bacia do Cariri a recarga é proveniente de infiltração direta da água das chuvas
(98%), e da infiltração de águas das fontes (2%).
A descarga natural do sistema de fluxo de água subterrânea desse
aqüífero na sub-bacia do Cariri se faz ao longo do vale do Rio Salgado e de seus
afluentes, como o Rio da Batateira e riacho dos Porcos.
A descarga artificial corresponde às captações feitas através do
bombeamento de poços tubulares perfurados na região.
O Sistema Aqüífero Inferior, caracterizado pela Formação Mauriti, ocorre
predominantemente numa área reduzida da sub-bacia do Cariri. Aflora na borda
setentrional e oriental da região do Cariri, com uma extensão de, aproximadamente,
600 Km² e relevo ondulado atuando como elemento morfológico intermediário entre
a pediplanície e o embasamento cristalino.
A camada arenítica silicificada mergulha para o sul sob a seqüência
representada pelas Formações Brejo Santo, Missão Velha, Abaiara e Rio da
Batateira, com uma espessura média da ordem de 66 m, numa área total de 2.830
Km², ocupando um volume de sedimentos de 186 x 10
9
m³ (DNPM, 1996).
Na área de recarga, esse aqüífero é alimentado através da infiltração
direta das precipitações pluviométricas e, secundariamente, pela drenagem que
procede da área cristalina ao norte. Parte da água que infiltra nesse sistema é
proveniente do aqüiclude Brejo Santo.
A descarga natural do Sistema Aqüífero Inferior é representada pelas
ressurgências ou restituições dos cursos d’água superficiais na forma de
escoamento de base da rede fluvial da região, como ocorre com o riacho dos Porcos
e seus afluentes. Enquanto que a descarga artificial corresponde à retirada de água
que se pelo bombeamento de poços tubulares profundos na região (KIMURA,
2003).
2.2.4. Solos e Cobertura Vegetal
Com base referencial nos estudos realizados no PROJETO
RADAMBRASIL (1981), Levantamento Exploratório - Reconhecimento de Solos do
Estado do Ceará (1973), Zoneamento Agrícola do Estado do Ceará (SEAGRI, 1988)
e EMBRAPA (1999) as principais classes de solos, que ocorrem na área onde está
inserida a microbacia do Rio da Batateira o: Argissolo Vermelho-Amarelo
(Podzólico Vermelho-Amarelo), Vertisolo Ebânico (Vertissolo), Neossolo Litólico
(Litólicos) e Neossolo Flúvico (Aluviais).
Especificamente, na área em estudo, essas classes de solos podem ser
encontradas formando associações, como Neossolo Litólico e Luvissolo; Argissolo
Vermelho-Amarelo e Neossolo Litólico; Argissolo Vermelho-Amarelo e Latossolo
Vermelho Distrófico; Neossolo Flúvico e Vertissolo Ebânico (
Mapa
01
).
A seguir, de acordo com as normas do Sistema Brasileiro de Classificação
de Solos (EMBRAPA, 1999), serão descritas as principais classes de solos da área
em análise com suas características gerais, potencialidades e limitações de uso.
- Caracterização Geral das Classes de Solos
A) ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO (PODZÓLICO VERMELHO-AMARELO)
Nesta classe estão agrupados os solos bem definidos, com seqüência de
horizontes A, B e C, cuja característica diagnóstica principal é possuir um horizonte
B de acumulação de argila, o que impõe uma diferença textural de A para B.
São solos profundos a moderadamente profundos, raramente rasos,
geralmente bem drenados, porosos e com cores que variam entre o vermelho
amarelado até amarelo no horizonte Bt.
A textura é em geral arenosa ou média no A e argilosa ou média no Bt.
São solos minerais com horizonte B textural, não hidromórficos, argila de atividade
baixa, ou seja, troca de cátions (T) após correção para carbono menor que 24 mE
para 100 gramas de argila, devido ao material do solo ser constituído por
sesquióxidos, argilas do grupo 1:1 (grupo das caulinitas), quartzo e outros materiais
resistentes ao intemperismo e saturação de bases (V%) baixa. Em geral, são
moderadamente ácidos e de média a alta fertilidade natural.
Esses solos possuem de médio a alto, potencial agrícola e seu uso é
feito, geralmente, com culturas de subsistência (mandioca, milho, feijão), algodão
herbáceo, cultivo de cajueiro e pastagem, para a pecuária extensiva nos sertões.
Nas áreas com clima mais ameno são bastante utilizados para a plantação de café,
fruticultura irrigada e milho.
Na planície fluvial do Rio da Batateira, as áreas que apresentam essa
classe de solos geralmente são utilizadas para a plantação de culturas de
subsistência como a mandioca, o milho e o feijão.
As maiores limitações ao uso agrícola desses solos o a sua fertilidade
natural, a forte acidez que possuem, a dificuldade de mecanização devido à
pedregosidade, a susceptibilidade e a erosão nas áreas com relevo acidentado, e,
também, a deficiência de água devido ao peodo seco prolongado. Para o cultivo de
áreas com esse tipo de solo, são recomendáveis culturas especiais de ciclo longo,
resistentes à escassez hídrica, na estação seca. E no período chuvoso, mais curto,
podem-se cultivar plantações de ciclo curto.
B) VERTISOLO EBÂNICO (VERTISSOLO)
Compõe a classe de solos que possuem perfis do tipo A, Cv, Cvg, cuja
profundidade varia conforme a espessura do horizonte C, a qual depende da maior
ou menor profundidade da rocha subjacente.
São solos de argilosos a muito argilosos, com alto conteúdo de argila
(2:1), que provoca expansões e contrações da massa do solo, aparecimento de
“slickensides” nos horizontes subsuperficiais e fendilhamento dos solos no período
seco.
Durante a estação chuvosa tornam-se encharcados, muito plásticos e
muito pegajosos, em decorrência de sua drenagem imperfeita, com lenta ou muito
lenta permeabilidade, sendo, portanto, considerados solos bastante susceptíveis à
erosão.
O horizonte A pode ser fraco, moderado ou chernozênico, em geral com
cores bruno escuras ou escuras e estrutura do tipo granular. O horizonte C
apresenta cores muito variáveis, em função dos materiais de origem variando de
cores escuras até bruno avermelhado. A estrutura é comumente forte ou moderada
do tipo prismática.
Esses solos possuem elevada soma de bases trocáveis (S), alta
saturação de bases (V%), alta relação Ki, em decorrência de predomínio de argilas
do grupo 2:1, e de reação que varia normalmente de neutra a alcalina.
São solos com elevado potencial nutricional, representado por altos
valores de soma de bases e de capacidade de troca de cátions, associados à
presença freqüente de quantidades de minerais facilmente intemperizáveis.
A distribuição desses solos está intimamente relacionada à presença de
material de origem derivada de calcários, sedimentos argilosos ricos em cálcio e
magnésio e rochas básicas, aliada às condições climáticas e/ou de relevo que
impeçam a remoção dos cátions do solo.
Em geral, esses solos são mais utilizados com a cultura do algodão
(arbóreo e herbáceo), constatando-se, também, com grande freqüência, as culturas
de milho, feijão e arroz, exploração dos carnaubais nativos, bem como da oiticica. As
áreas não cultivadas são utilizadas com pecuária extensiva em meio à vegetação
natural.
No Estado do Ceará esses solos ocorrem ocupando áreas da depressão
sertaneja pelos sertões do Rio Salgado, Quixadá, Boa Viagem, Quixeramobim e
sertões do Cariri, condicionados a relevos planos e suaves ondulados e, mais
raramente, ondulados. São encontrados na zona de pediplano da planície fluvial do
Rio da Batateira.
Suas limitações mais sérias estão relacionadas a aspectos físicos como,
por exemplo, o teor de umidade, a pouca permeabilidade, a baixa capacidade de
infiltração, a alta erodibilidade, que condicionam estreitamente o nível de produção
ao da tecnologia empregada.
C) NEOSSOLOS LITÓLICOS (LITÓLICOS)
São solos que, tendo sofrido fraca evolução pedológica, apresentam
perfis pouco desenvolvidos e rasos. Caracterizam-se como solos que apresentam
seqüência de horizontes A-R ou A-C-R, sendo o horizonte C pouco espesso.
O horizonte A se apresenta normalmente fraco ou moderado, e, menos
freqüentemente, chernozênico, de cores muito variadas, desde claras a escuras e
textura quase sempre média, embora ocorra também solos de textura siltosa e
argilosa, com cascalho ou cascalhenta. Sua estrutura varia entre granular, blocos
angulares até grãos simples.
São solos minerais, não hidromórficos, pouco desenvolvidos,
normalmente pedregosos e rochosos, com o horizonte A assentado diretamente
sobre a rocha (R), ou sobre o horizonte C (rocha em decomposição), de pequena
espessura e geralmente com muitos minerais primários. Em geral possuem
pedregosidade e/ou rochosidade na superfície, podendo, normalmente, ser
encontrados associados com afloramentos de rocha.
A drenagem nesses solos varia de moderada à acentuada, e podem ser
encontradas com características eutróficas (alta saturação por bases) ou distróficas
(baixa saturação por bases), sendo que na escarpa do planalto da Chapada do
Araripe prevalecem os distróficos.
A reação comumente varia de moderadamente ácida a praticamente
neutra, quando eutróficos, e de fortemente ácido a moderadamente ácido, quando
distrófico.
O uso desses solos dá-se através da utilização de sistemas agrícolas
primitivos, cujo aproveitamento é feito com plantações de culturas de milho, feijão e
algodão.
Na microbacia do Rio da Batateira, a ocorrência desse solo dá-se,
principalmente, na área de talude, sendo essa área ocupada com plantações de
espécies frutíferas como a banana, a sirigüela, entre outras culturas.
Suas limitações ao uso agrícola estão ligadas, principalmente, à
deficiência de água, pedregosidade, rochosidade, pouca profundidade, topografia
movimentada, presença de afloramentos rochosos, além da alta susceptibilidade à
erosão.
D) NEOSSOLOS FLÚVICOS (ALUVIAIS)
São solos pouco desenvolvidos, originados de deposições fluviais
recentes e de natureza diversa. Apresentam um horizonte A superficial diferenciado,
assentado sobre o horizonte C, normalmente composto por uma seqüência de
camadas diferenciadas geneticamente entre si.
Esses solos variam de moderadamente profundos a muito profundos, com
texturas diversas, e drenagem comumente imperfeita ou moderada.
Possuem características morfológicas muito variáveis, tendo o horizonte A
comumente fraco, e, às vezes, moderado e chernozênico, de cores normalmente
escuras, textura desde arenosa até argilosa e estruturas em blocos, granular ou
maciça, de consistência que varia desde macia até extremamente dura quando
seco.
Subjacente ao horizonte A, seguem-se camadas estratificadas,
normalmente sem relações pedogenéticas entre si, de composição e granulometria
distintas e sem disposição preferencial no perfil, com texturas muito alternadas,
entre arenosa até argilosa e de diferentes aspectos de coloração e cor.
Em relação às características químicas, apresentam Ph variando de
moderadamente ácido a moderadamente alcalino, médios a altos teores de sforo
assimilável, alta soma de bases trocáveis (S) e alta saturação de bases (V), de 70 a
100%. Possuem minerais primários facilmente decomponíveis, os quais constituem
fontes de nutrientes para as plantas.
Em geral, são solos de alta fertilidade natural, que ocorrem nas várzeas
dos principais rios do Estado do Ceará, como os sertões do Baixo Jaguaribe,
Salgado, Alto Jaguaribe e Litoral. Abrangendo também as zonas fisiográficas de
Baturité e Cariri, nesta última está inserida a planície fluvial do Rio da Batateira.
São solos intensamente aproveitados para diversas culturas, se
destacando a da cana-de-açucar, do arroz, da olericultura, do milho, do feijão e do
algodão, bem como as culturas da pastagem (naturais ou artificiais), da fruticultura,
do extrativismo vegetal, pelo aproveitamento dos carnaubais nativos da região, e da
pecuária extensiva.
Na planície fluvial do Rio da Batateira, o aproveitamento desses solos se
através do plantio de cana-de-açucar, especialmente na desembocadura do rio,
localizada na zona urbana do município.
Essa classe de solos apresenta algumas limitações ao uso, devido a sua
textura argilosa (2:1), podendo estar sujeita à salinização ou alcalinização.
Apresentam, também, deficiência de água, risco de inundação e dificuldades para a
mecanização quando argilosos. Além de irrigação e drenagem, esses solos podem
necessitar adubações complementares para o aumento da produtividade agrícola.
E) LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO (LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO)
Essa classe compreende solos profundos ou muito profundos, porosos,
bem drenados, friáveis, com seqüência de horizonte A, Bw, C pouco diferenciados.
Nesses os teores de argila mantêm-se ao longo do perfil ou apenas aumentam
levemente no latossólico em relação aos demais horizontes.
O horizonte A varia normalmente de fraco a moderado, podendo ser,
também, proeminente e húmico. São solos minerais não hidromórficos, regularmente
desprovidos de minerais primários de fácil intemperização, constituídos por mistura,
entre outros componentes, de óxidos hidratados de ferro e/ou alumínio e minerais de
argila do grupo 1/1 (caulinita).
A textura é comumente média e raramente argilosa. As estruturas são
fracas em blocos subangulares ou granular pequena ou ainda maciça. Sua
coloração varia do vermelho ao amarelo passando por gamas intermediárias.
Possuem baixa capacidade de troca de cátions, são considerados fortes a
moderadamente ácidos (Ph entre 4.0 e 5.5), de fraco potencial químico, saturação
por bases (V%) inferior a 50%, sendo, portanto, distrófico álico.
Quanto ao uso agrícola, as áreas com esses solos são cultivadas com
grande número de culturas, sendo as mais exploradas: as do café, da mandioca, do
milho, das fruteiras e das hortaliças. Mais raramente são utilizados para pastagem
nativa.
No Rio da Batateira esses solos são utilizados para plantações de
mandioca, milho, fruteiras e hortaliças, entre outros.
A principal limitação desse solo é a baixa fertilidade natural, em função
das propriedades químicas desfavoráveis pela baixa saturação por bases, forte
acidez, toxidez por alumínio e deficiência de água.
Assim, cuidados especiais devem ser dispensados para a conservação
desse solo, uma vez que sua estrutura também favorece a ocorrência de processos
erosivos. Para sua utilização, pode ser feita adubação orgânica e química, bem
como a aplicação de corretivos que aumentariam a sua produtividade.
Quanto às características da cobertura vegetal na microbacia
hidrográfica do Rio da Batateira, elas refletem-se na composição da paisagem,
através de sua interação com os demais componentes naturais, como os elementos
climáticos, edáficos, geológicos, geomorfológicos e hidrológicos.
Pode-se dizer que, ao longo da microbacia do Rio da Batateira,
encontram-se representantes de diversas regiões fitoecológicas, próximas a uma
exuberante mata ciliar. Essas formações vegetais ocorrem principalmente, próximas
às áreas de nascentes, e no Sítio Fundão, ambos localizados no município do Crato.
A ocorrência da vegetação mais conservada nesses dois ambientes, deve-se ao
difícil acesso as nascentes do rio, que se localizam na escarpa da Chapada do
Araripe, o que dificulta a especulação imobiliária, e também por essa área ser
considerada legalmente uma APP (Área de Preservação Permanente). E no caso do
Sítio Fundão, é uma reserva particular onde os antigos proprietários procuraram
manter a cobertura vegetal natural nas margens do rio.
No seu alto curso, o Rio da Batateira passa pelo Sítio Fundão,
considerada a única reserva verde do município do Crato, a qual futuramente o
Governo do Estado do Ceará, através da Superintendência Estadual do Meio
Ambiente (SEMACE), pretende transformá-la numa Unidade de Conservação
denominada Parque Estadual do Sítio Fundão.
O Sítio Fundão apresenta uma área atual de 93,5204 ha, e localiza-se
aproximadamente a 5 km a oeste do centro da cidade do Crato (
Figura 13
). Quanto
a sua importância ambiental, pode-se dizer que esse possui um mosaico
paisagístico com uma rica biodiversidade, ainda pouco estudada, tanto do ponto de
vista faunístico, quanto dos aspectos vegetacionais com representantes da mata
úmida e sub-úmida, mata seca, cerrado entre outras, circunvizinhas a mata ciliar.
Apesar dessa riqueza paisagística e histórica, pode-se observar na área e
também no seu entorno, modificações ambientais provocadas por intervenções
humanas, como por exemplo, desmatamentos e queimadas indiscriminados; caça
predatória; poluição hídrica e do solo; desvio irregular das águas do rio; ocupações
irregulares que geraram uma pressão demográfica sobre o rio, provocada pela
implantação de atividades industriais (como a construção da Indústria de Calçados
Grendene Ltda. nas proximidades do Sítio Fundão inaugurada em 1997), além da
expansão de loteamentos entre outros, os quais são resultantes das formas
diferenciadas de uso e ocupação de terra e da exploração predatória dos recursos
naturais. Fato esse, que compromete os recursos ambientais locais, pois se tornam
geradores de impactos ambientais na referida área.
Rio da Batateira
Indústria de Calçados Grendene
Sítio Fundão
FIGURA 13 - Localização do Sítio Fundão e da Indústria de Calçados Grendene no alto
curso do Rio da Batateira, município do Crato/CE.
FONTE: Google Earth, 2007.
Já em seu médio e baixo curso fluvial, esse rio apresenta em suas
margens, elevados níveis de antropização da cobertura vegetal, provocados por
desmatamentos, queimadas, introdução de atividades agropastoris e pelos
processos desordenados de uso e ocupação do solo das zonas urbanas
circunjacentes.
A seguir serão apresentadas as características gerais, áreas de
ocorrência e a listagem de algumas espécies vegetais mais representativas das
unidades fitoecológicas que ocorrem na área de estudo. A descrição dos aspectos
fitoecológicos da área estudada foi baseada em trabalhos realizados pelo PROJETO
RADAMBRASIL (1981), Fernandes (1990; 1998), PROJETO ÁRIDAS (1994), ATLAS
DO CEARÁ (1997) e FIGUEIREDO apud PROJETO ARARIPE (1998). Ressalta-se
que a referência a esses trabalhos desenvolvidos sobre a vegetação do Estado do
Ceará e sobre a Biorregião da Bacia Sedimentar do Araripe (Chapada do Araripe) se
deve ao fato de que, na área do Rio da Batateira, ainda não foram desenvolvidos
estudos específicos sobre os aspectos fitoecológicos.
MATA ÚMIDA/SUBÚMIDA
A Mata Úmida/Subúmida ocupa as áreas mais elevadas dos topos e
encostas das serras úmidas, além das bordas e reversos de chapadas e planaltos
sedimentares. Na Chapada do Araripe se desenvolve nas vertentes superiores
úmidas.
Corresponde às formações vegetais de altitude, que pela similitude
vegetacional e florística representam remanescentes da Mata Atlântica, resultante
de disjunções florestais, circundadas pelas caatingas. Sua ocorrência está
relacionada à existência local de fatores de ordem climática, topográfica, hidrológica
ou mesmo litológica, ligados a registros de fatos paleogeográficos.
Fisionomicamente, essa unidade vegetacional apresenta árvores de
caules retilíneos, espessos, cobertos por líquens, orquídeas, samambaias e
bromélias. Predomina o estrato arbóreo com espécies, podendo alcançar níveis
superiores a 15 metros, formando uma cobertura vegetal densa com extratificação
vertical de três a quatro sinúsias.
Entre os fatores determinantes da formação dessa floresta
Úmida/Subúmida na Chapada do Araripe se destaca, principalmente, a altitude. Nas
áreas topograficamente mais elevadas da chapada ocorre a formação de “brejos de
altitude”, originados por condições climáticas especiais, decorrentes do relevo, as
quais favorecem maiores precipitações e uma reciclagem de umidade pela
constante formação de nevoeiro e orvalho, as chamadas “precipitações ocultas”.
As chuvas orográficas que ocorrem nos níveis mais elevados, propiciadas
pelas condições topográficas, favorecem a formação de solos profundos, sendo
estes os fatores condicionantes para a ocorrência da mata úmida/subúmida a partir
da cota de 700 metros.
Além disso, as ressurgências na encosta da Chapada, ocasionadas pelo
mergulho das camadas para nordeste, permitem uma maior permanência dos cursos
d’água, favorecendo a ocorrência e proliferação dessa formação florestal.
No município do Crato, onde está inserido o alto curso da microbacia do
Rio da Batateira, a Mata Úmida/Subúmida é encontrada na zona da escarpa da
Chapada do Araripe, e especialmente nas nascentes à montante do Rio da
Batateira.
Algumas atividades como os desmatamentos indiscriminados, as
queimadas e a introdução de novas espécies vegetais têm contribuído
significativamente para a diminuição das áreas originais da Mata Úmida/Subúmida.
As principais espécies da Mata Úmida/Subúmida podem ser observadas
na
Tabela
07
.
Tabela 07 -
Listagem de algumas espécies da Mata Úmida/Sub-úmida.
FAMÍLIA NOME CIENTÍFICO NOME POPULAR
Anacardiaceae Myracrodruon fraxinifolium Schott
gonçalo-alves
Annonaceae Guatteria scandens Ducke
-
Arecaceae Orbygnia pharelata Mart.
babaçu
Bignoniaceae Tabebuia serratifolia (Vahl.) Nicholson
pau-d’arco-amarelo
Bromeliaceae Aechmaea bromeliifolia(Rudge) Baker
enxerto
Bromeliaceae Tillandsia sp.
enxerto
Bromeliaceae Tillandsia loliaceae Mart. ex Schult. f.
enxerto
Bromeliaceae Tillandsia recurvata L.
enxerto
Burseraceae Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand
almécega
Combretaceae Terminalia fagifolia Mart.
-
Erythroxylaceae Erythroxylum citrifolium A. St. - Hil.
-
Leg. Caesalp. Caesalpinia leiostachya (Benth.) Ducke
pau-ferro
Leg. Caesalp. Hymenaea courbaril L.
jatobá
Leg. Mimos. Inga sp.
-
Leg. Papil. Ateleia ovata Mohlenbr.
amarelão
Leg. Papil. Centrolobium microchaetum Mart.
potumuju
Leg. Papil. Lonchocarpus araripensis Benth.
angelim
Leg. Papil. Machaerium angustifolium Vog.
-
Leg. Papil. Myroxylon peruiferum L.
bálsamo
Lauraceae Licaria sp.
-
Lauraceae Nectrandra cf. mollis Nees
-
Lauraceae Ocotea gardneri (Meisn.) Mez
-
Malpighiaceae Byrsonima sericea DC.
murici
Myrtaceae Campomanesia dichotoma (Berg.) Mattos
guabiraba
Rubiaceae Coutarea hexandra (Jacq.) H. Schum
quina-quina
Rutaceae Zanthoxylum rhoifolium Lam.
limãozinho
Simaroubaceae Simarouba versicolos A. St. - Hil.
praiba/craiba
FONTE: PROJETO ARARIPE - Plano de Gestão da APA da Chapada do Araripe, 1998.
MATA SECA
A Mata Seca recobre as encostas das serras secas, vertentes sub-úmidas
e rebordos de chapadas geralmente entre as cotas de 500 até 600 metros de
altitude.
Na Chapada do Araripe essa unidade fitoecológica ocupa os níveis
superiores dos quadrantes da encosta, ou seja, onde não é registrada a Mata
Úmida, e precipitação suficiente para garantir a existência de espécies vegetais
dessa comunidade.
Trata-se de uma vegetação natural, caracterizada pela composição
florística, cujos representantes não costumam ocorrer nas áreas das caatingas.
Distingue-se destas pelas condições ecológicas (mesófila) e pela composição
florística, embora muitas vezes seja enriquecida por elementos das caatingas.
Possui um estrato arbóreo-arbustivo, com a presença de um estrato
herbáceo-gramíneo que se desenvolve apenas no período chuvoso. No estrato
arbóreo, suas árvores podem alcançar até 15 metros de altura.
Os fatores determinantes que garantem o desenvolvimento das espécies
vegetais dessa comunidade são principalmente: a umidade atmosférica, decorrente
dos níveis altimétricos elevados, e a presença de solos relativamente profundos e
férteis. Pode-se encontrar, reunidos com espécies da mata seca, indivíduos da mata
úmida e caatinga arbórea, cuja faixa de amplitude ecológica permite viver nesse
ambiente.
As atividades agropecuárias, além dos desmatamentos e queimadas,
associados ao uso e ocupação ilegal das áreas com Matas Secas, têm influído na
composição florística e fisionômica de suas espécies, fazendo com que as espécies
de caatinga comecem gradativamente a ocupar as áreas onde antes ocorriam as
espécies da Mata Seca.
Algumas espécies da Mata Seca podem ser observadas na
Tabela 08
.
Tabela 08 -
Listagem de algumas espécies da Mata Seca.
FAMÍLIA NOME CIENTÍFICO NOME POPULAR
Anacardiaceae Myracrodruon fraxinifolium Schott.
gonçalo-alves
Anacardiaceae Myracrodruon urundeuva Allemão
aroeira
Anacardiaceae Spondias mombim Jacq.
cajazeiro/ingá
Apocynaceae Aspidosperma cuspa (Humb., Bonpl. &
Kunth)S.F. Blake ex Pittier
batinga-branca/pereiro-
branco
Arecaceae Acrocomia intumescens Drude
macaúba
Arecaceae Syagrus comosa Mart.
catolé
Asteraceae Chuquiraga sprengeliana Baker
bico-de-garrincha
Bignoniaceae Cybistax antisyphilitica (Mart.) Mart. ex DC.
sacapemba
Bignoniaceae Tabebuia aurea (Manso) Benth. & Hook.
craibeira
Bignoniaceae Tabebuia serratifolia (Vahl.) Nichoson
pau-d’árco-roxo
Boraginaceae Cordia trichotoma Vell. Ex Steud.
freijó/frejó
Bromeliaceae Tillandsia sp.
enxerto
Bromeliaceae Tillandsia loliaceae Mart. Ex Schult. f.
enxerto
Bromeliaceae Tillandsia recurvata L.
enxerto
Bromeliaceae Tillandsia streptocarpa Baker
enxerto
FONTE: PROJETO ARARIPE - Plano de Gestão da APA da Chapada do Araripe, 1998.
Tabela 08 -
Listagem de algumas espécies da Mata Seca. (continuação)
FAMÍLIA NOME CIENTÍFICO NOME POPULAR
Cochlospermaceae Cochlospermum cf. vitifolium (Willd.) Spreng.
pacotê
Combreataceae Thiloa glaucocarpa (Mart.) Eichler
sipaúba
Erythroxylaceae Erythrosxlum sp.
batinga-preta
Erythroxylaceae Erythrosxlum pungens O. E. Schulz
carrasco
Erythroxylaceae Erythrosxlum cf. rimosum O. E. Schulz
murta
Leg. Caesalp. Bauhinia sp.
mororó
Leg. Caesalp. Caesalpinia leiostachya (Benth.) Ducke
pau-ferro
Leg. Caesalp. Hymenaea courbaril L.
jatobá
Leg. Caesalp. Senna spectabilis (DC.) Irwin & Barneby var.
exelsa (Schrad.) Irwin & Barneby
canafístula
Leg. Mimos. Acacia glomerosa Benth
angico-bravo
Leg. Mimos. Enterolobium contorsiliquum (Vell.) Morong
timbauba
Leg. Mimos. Piptadenia stipulacea (Benth.) Ducke
jurema-branca
Leg. Mimos. Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan
var.Cebil (Griseb.) Altschul
angico
Leg. Papil. Aeschynomene monteiroi A. Fernandes & P.
B. Bezerra
-
Leg. Papil. Dalbergia cf. cearensis Ducke
violeta
Leg. Papil. Luetzelburgia auriculata (Allemão) Ducke
sacatinga
Leg. Papil. Lonchcarpus araripensis Benth.
angelim/raiz-de-cobra
Leg. Papil. Machaerium acutifolium Vog.
-
Leg. Papil. Indigofera blanchetiana Benth.
-
Malpighiaceae Banisteriopsis sp.
-
Malvaceae Guya grandiflora Baker f.
malva
Malvaceae Malvastrum americanum (L.) Torr.
malva
Malvaceae Malvastrum coromadianum (L.) Gurck
malva
Malvaceae Sida urens L.
malva
Malvaceae Wissadula hirsuta C. Presl.
malva
Malvaceae Wissadula periplocifolia (L.) C. Presl.
malva
Meliaceae Cedrela cf. odorata L.
cedro
Moraceae Brosimum gaudichaudii Trec.
inharé
Olacaceae Ximenia sp.
ameixa
Piperaceae Piper sp.
pimenta-longa/pimenta
de macaco
Polygalaceae Bredemeyera floribunda Willd.
Manacá
Polygonaceae Triplaris gardneriana Wedd.
Pajéu
Rubiaceae Tocoyena sp.
Jenipapinho
Sapindaceae Talisia esculenta Radlk.
Pitomba
Solanaceae Schwenkia grandiflora Nees et Mart.
Batinga
Sterculiaceae Guazuma ulmifolia Lam.
Mutamba
Sterculiaceae Helicteres baruensis Jacq.
Guaxuma
Ulmaceae Trema micrantha Blume
-
Verbenaceae Vitex flavens Humb., Bonpl. & Kunth
mama-cachorro
Viscaceae Phoradendron sp.
-
FONTE: PROJETO ARARIPE - Plano de Gestão da APA da Chapada do Araripe, 1998.
MATA CILIAR
A Mata Ciliar se desenvolve nos médios e baixos cursos dos rios e,
também, nas áreas de inundação sazonal fluvial. Sua ocorrência é dada às
exigências ecológicas associadas, principalmente, às condições hídricas das áreas
marginais fluviais, que apresentam solos aluviais mais férteis.
Fisionomicamente apresenta uma composição mista, caracterizada por
palmáceas. Entre elas destacam-se a carnaúba, o babaçu, a macaúba, o buriti etc.
Em decorrência do caráter sazonal das precipitações pluviais nas áreas
de ocorrência dessa unidade, essas espécies vegetais são subcaducifólias,
adaptando-se às áreas com solos inundáveis, bem como aos períodos de estiagem
com solos ressecados.
No curso fluvial do Rio da Batateira destaca-se a carnaúba como uma
espécie dominante entre as demais espécies arbóreas. Também ocorrem outras
formações vegetais, como a macaúba, o babaçu, o buriti e o catolé, numa zonação
representativa dos locais mais úmidos para os menos úmidos.
Na área estudada, muito embora existam remanescentes de espécies da
Mata Ciliar em outras áreas, parte dessa vegetação foi substituída por plantações de
cana-de-açúcar ou foi desmatada para extrativismo vegetal e/ou implantação da
pecuária.
As principais espécies da Mata Ciliar podem ser observadas na
Tabela
09
.
Tabela 09 -
Listagem de algumas espécies da Mata Ciliar.
FAMÍLIA NOME CIENTÍFICO NOME
POPULAR
Arecaceae Acrocomia intumescens Drude
macaúba
Arecaceae Corpenicia prunífera (Mill.) H. E. Moore
carnaúba
Arecaceae Orbygnia pharelata Mart.
babaçu
Arecaceae Mauritia vinifera Mart.
buriti
Bignoniaceae Tabebuia impetiginosa (Mart. ex DC.) Standl
pau-d’arco-roxo
Capparaceae Cleome spinosa Jacq.
mussam
Capparaceae Crateva trapia L.
Trapiá
Combretaceae Combretum lanceolatum Pohl
mofumbo
Chysobalanaceae Licania rigida Benth.
oiticica
Hydrophylaceae Hydrolea spinosa L.
-
Leg. Mimos. Albizia inundata (Mart.) Barneby & Grimes
muquêm
FONTE: PROJETO ARARIPE - Plano de Gestão da APA da Chapada do Araripe, 1998.
Tabela 09 -
Listagem de algumas espécies da Mata Ciliar. (continuação)
FAMÍLIA NOME CIENTÍFICO
NOME
POPULAR
Leg. Mimos. Inga cf. vera Willd. Var. affinis (DC) T.D.
Pennigtes
ingazeiro/ingá
Leg. Mimos. Lonchocarpus sericeus (Poir.) DC.
Ingá
Leg. Papil. Erythrina velutina Jacq.
Mulungu
Pteridaceae Adiantum deflectens Mart.
-
Polygonaceae Triplaris gardneriana Wedd.
Pajéu
Rhamnaceae Zyziphus joazeiro Mart.
Juazeiro
Sapindaceae Sapindus saponaria L.
Sabonete
Sapindaceae Serjania glabrata Kunth
saia-de-coã
Schizaeaceae Anemia filiformes (Sav.) Sw.
-
Scrophulariaceae Angelonia biflora Benth.
-
Scrophulariaceae Stemodia maritima L.
-
FONTE: PROJETO ARARIPE - Plano de Gestão da APA da Chapada do Araripe, 1998.
3. DIAGNÓSTICO SOCIO-ECONÔMICO E AS FORMAS DE OCUPAÇÃO E USO
DA TERRA
3.1 Histórico do povoamento e colonização
Antes da ocupação dos europeus, o território cearense estava povoado
por nativos. Nos rteis vales do Cariri, ocupavam os kariris e chocós. Em meados
do século XVII, os primeiros invasores, que pretendiam ser colonizadores, chegaram
pelo litoral para atingir as terras da Capitania do Ceará. Enquanto os holandeses se
estabeleceram no litoral, as famílias de colonos portugueses, com seus gados,
emigraram e adentraram o continente, geralmente seguindo o caminho dos vales.
Na segunda metade desse século, uma outra corrente de invasores provinha do
interior, pela zona do sertão. Após o vale do Rio São Francisco, formava-se a
terceira penetração de colonizadores, a de baianos e paulistas, dominando as terras
do Cariri, e daí, pelos vales dos Rios Salgado e Jaguaribe, ocupavam as amplas
glebas dos sertões “do interior ou de dentro”, denominados por Capistrano de Abreu,
com seus rebanhos.
No Ceará confluem dois movimentos: o da Bahia, que de retorno do Piauí,
se desvia para leste, atravessa o cordão de serras que separa esta
capitania da do Ceará (Serra da Ibiapaba, Grande) e se estabelece na
região limítrofe, bacia do alto Poti, onde hoje está Crateús, e que por isso
pertenceu de início ao Piauí... O movimento baiano também se infiltra no
Ceará pelo sul, nos Cariris Novos. E enquanto isso, o pernambucano
alcança o Ceará pelo oriente e vai ocupar a bacia do Rio Jaguaribe (CAIO
PRADO JUNIOR apud GIRÃO, 1995, p.17).
Após o estabelecimento das fazendas, os latifundiários pecuaristas logo
definiram as relações entre os pontos de convergência dos negócios do gado.
Assim, nasceu a primeira rede geográfica do Ceará, em face das estradas das
boiadas: o caminho de Inhamuns, ligando os grandes sertões cearenses dos
estados do Piauí, Pernambuco e Bahia; estendem-se caminhos para a serra da
Ibiapaba e Camocim; a estrada geral de Jaguaribe, direcionando as boiadas da
bacia desse rio e dos Inhamuns para Aracati, centro das charqueadas e do porto
principal do Ceará.
Nessa época, as veredas e caminhos que faziam aproximar os vilarejos e
cidades exerciam a função de intercâmbio entre as distintas áreas geográficas. Do
Crato partiam duas estradas: uma para Oeiras (PI) e outra para Piancó (PB).
Os historiadores Borges & Neves apud Projeto Araripe do Araripe (1998)
apontam alguns aspectos importantes do povoamento do Cariri cearense:
Para o Cariri deslocaram-se duas correntes de povoamento: a do sertão de
fora e a do sertão de dentro. A primeira partindo dos estados de
Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, e a segunda da Bahia, pelo
São Francisco, vindo da casa da Torre, de Garcia D’Ávila (BORGES &
NEVES, 1999, p. 137).
Os referidos autores afirmam que os sertanistas, advindos da casa da
Torre, deslocavam-se instalando currais no curso da longa estrada, e seguindo o
rumo dos afluentes do Rio Salgado, como o riacho da Brígida, que nasce no sopé da
Chapada do Araripe, no estado de Pernambuco.
Sobre a colonização do Vale do Cariri, Girão (1995) comenta que:
A colonização da região sul do Estado do Ceará foi efetuada por baianos,
seguidos por sergipanos, que ali chegaram cobrindo o rastro dos pioneiros
e se estabeleceram no Vale do Cariri e na zona cearense de influência do
riacho dos Porcos, aqui lado a lado os pernambucanos. Todavia, o
pastoreio não se desenvolveu naquele vale com a mesma força de
exclusividade do restante do território cearense; prevalece a agricultura,
baseada no cultivo da cana-de-açúcar... (GIRÃO, 1995, p. 23).
Esse autor salienta que o solo e as condições climáticas, não foram os
únicos fatores explicativos para o desenvolvimento da agricultura canavieira, e
conseqüente ocupação dos vales do Cariri.
Inicialmente, os primeiros povoadores buscavam na região, jazidas de
metais preciosos. Falhando nessa busca, esses colonizadores procuraram
desenvolver a agricultura, principalmente com o plantio da cana-de-açúcar, onde se
podia utilizar mão-de-obra negra, adquirida para a exploração das minas.
Em 1758, com a extinção da Companhia do Ouro das Minas de São Jo
dos Cariris, desenvolve-se o plantio da cana-de-açúcar e o comércio com
Pernambuco, fato que veio a contribuir para a introdução de outros escravos negros
na Capitania do Ceará.
As primeiras sesmarias caririenses, segundo padre Antônio Gomes,
datam de 1703, apesar de preexistirem “colonos fixados ao solo aqui e ali, e entre
eles muitos de origem baiana”, que deram origem às vilas de Crato e Jardim, as
quais logo se destacaram no cenário colonial como novos núcleos de povoamento
do sertão (GIRÃO, 1995).
Sobre a história do povoamento e colonização do Crato, antes do seu
descobrimento, que ocorreu nas últimas cadas do século XVII, a região foi
habitada pelos índios cariris, descendentes remotos dos primeiros imigrantes
protomalaios, que chegaram às costas americanas do Pacífico e se estabeleceram
no sul do Ceará, entre os séculos IX e X (IBGE, 1959).
Como afirma o historiador Padre Antônio Gomes de Araújo, entre os anos
1660 e 1680 os exploradores baianos devassaram o Cariri, perseguindo índios ou
animados pela conquista de novas terras a serviço da Casa da Torre.
No início do século XVIII, depois dos sesmeiros da bacia do Riacho dos
Porcos (1680-1690), Gil Miranda, capitão Antônio Mendes Lobato e Manuel
Rodrigues Ariosa foram os primeiros concessionários de sesmarias no Cariri, entre
os anos de 1702 a 1703 (IBGE, 1959).
As terras de Manuel Rodrigues Ariosa se estendiam de Crato à Juazeiro
do Norte. Em 1716, elas foram repassadas a seus herdeiros, e posteriormente,
vendidas ao capitão Antônio Mendes Lobato. Após o falecimento do capitão Lobato,
seus herdeiros doaram as terras para os índios carius, da Missão do Miranda, em 03
de dezembro de 1743.
A partir de 1714, o Crato começou a receber colonizadores, vindos da
Bahia, Sergipe e Pernambuco, atraídos pela paisagem e fertilidade do solo, em
cujos sesmos, se instalaram por acostamento ou compra.
No dia 3 de dezembro de 1743, o missionário Frei Carlos Maria de Ferrara
tomou posse do espaço de terra doado para o Aldeamento e Missão. Segundo
afirma Antônio Bezerra apud IBGE (1959):
(...) a obra de Frei Carlos foi estabelecida inicialmente a dois quilômetros a
sudeste da cidade, transferindo-se depois para a margem direita do rio
Granjeiro, local hoje ocupado pelo jardim Frei Carlos de Ferrara, defronte à
Sé-Catedral (ANTÔNIO BEZERRA apud IBGE, 1959, p. 13).
Em 1745, o referido missionário ergueu uma igreja em honra a Nossa
Senhora da Penha e a Frei Fidélis de Sigmaringa, cuja estrutura devia ser de barro,
coberta de folhas de palmeiras, e com enxaimés, caibros e ripas amarrados de cipó.
A vida pastoril dominou a região do Cariri até o ano de 1750, quando
foram instalados os primeiros engenhos, vindos de Pernambuco. Foi o
desenvolvimento industrial da cana-de-açúcar que criou a aristocracia rural do Cariri
(IBGE, 1959).
Os imigrantes baianos e pernambucanos que se instalaram na região do
Araripe foram os primeiros a iniciarem as atividades de cana-de-açúcar, produzindo
rapadura e aguardente nos engenhos. Tal atividade foi alternada com a pecuária e
sobreposta ao cultivo da mandioca.
A freguesia foi criada em março de 1762, sob a invocação de Nossa
Senhora da Penha de França, mas foi inaugurada somente em 1768, quando se
desligou da freguesia de Missão Velha.
Em 21 de junho de 1764, Crato recebeu foros de vila, sob a Ouvidoria de
Vitório Pinto Soares Barbosa, com a denominação de Vila Real do Crato, em
homenagem ao lugarejo português localizado no Alentejo.
Em 27 de julho de 1818, Crato torna-se Comarca, passando a cidade em
17 de outubro de 1853, pela Lei Provincial n° 682.
Durante metade do século XVIII, a pecuária e a charqueada foram as
principais atividades econômicas predominantes na região do Cariri, sobretudo na
vertente cearense, quando se estabeleceram as relações comerciais entre os
estados do Ceará, Bahia e Pernambuco (BORGES & NEVES apud Projeto APA do
Araripe, 1998). É notório o fato histórico de que a cultura araripiense, tenha nascido
no chamado “Ciclo do Couro”.
Simultaneamente à atividade da pecuária, surgiu a atividade agrícola de
abastecimento interno, alimentar e de subsistência, cujos principais produtos
cultivados foram a mandioca, o milho e o feijão. E, no século XIX, a cultura do
algodão ganhou impulso, gerando o consórcio algodão e pecuária, ambas
associadas às culturas de subsistência.
O binômio algodão e as culturas de subsistências tiveram participação
significativa na economia da região do cariri. No entanto, o algodão foi predominante
até a chegada da praga do bicudo, nas últimas décadas do culo passado. Na
segunda metade do século XX, a economia do Cariri entra em declínio, em virtude
da falta de inovações tecnológicas e da associação do Brasil ao capital norte-
americano, que exigiu o fim das relações pré-capitalistas de produção existentes nos
engenhos (MENEZES, 2005).
Nos últimos anos, a cidade do Crato mantém um crescimento linear, não
apenas ao longo dos Rios da Batateira e Granjeiro, mas também nas saídas para
Juazeiro do Norte, Pernambuco e para a Chapada do Araripe, via os bairros do
Lameiro e Granjeiro. A construção de equipamentos urbanos, tais como o Terminal
Rodoviário, a Avenida Perimetral Leste, o Estádio Mirandão (Virgílio Távora) e o
Conjunto Residencial financiado pela Caixa Econômica, em áreas pertencentes
antigamente ao sítio Lobo, provocou o crescimento da cidade para além do Morro do
Barro Vermelho (MENEZES, 1985).
Na estrada que liga o Crato a Juazeiro do Norte, a cidade ultrapassou
seus limites municipais com a instalação do Distrito Industrial do Muriti, a construção
do terminal da Petrobrás e do conjunto habitacional da Caixa Econômica. Essas
áreas constituem os bairros periféricos da cidade, que são ocupados,
principalmente, por populações de baixo poder aquisitivo, que formam a massa
trabalhadora absorvida pelos serviços do modo de vida urbano.
Em direção ao eixo sul da cidade, no bairro Pimenta, a expansão urbana
desloca-se espacialmente para o Lameiro, o qual é habitado por uma população de
classe média, em meio a moradores antigos e algumas propriedades rurais que
foram transformadas em loteamentos. Enquanto que o Granjeiro, cujo acesso se
através dos terrenos altos da Caixa d’água e Sossego interligados pela Av. São
Sebastião, é tido como área nobre da cidade, habitada preferencialmente, pela elite
do Crato com grandes casas residenciais, chácaras e o Hotel Encosta da Serra,
circundados por uma população de baixo poder aquisitivo. A ocupação dessa área
se deu, efetivamente, a partir da instalação do Clube Recreativo Granjeiro
construído nos patamares da Chapada do Araripe, que valorizou os terrenos
vizinhos transformados posteriormente em loteamentos, vivendas, chácaras etc.
Sobre as formas de uso e ocupação da terra, especificamente nas áreas
de encosta da Chapada do Araripe, no município do Crato, Menezes (1985) faz uma
retrospectiva histórica desse processo, a qual será descrita a seguir. Antes, destaca-
se que essa área é importante para nosso estudo, pois compreende as nascentes
do Rio da Batateira.
Conforme Menezes (1985), a construção dos balneários e clubes
recreativos na baixa encosta da Chapada do Araripe, preferencialmente nos terrenos
dotados de fontes, foi o principal fator de expansão urbana do Crato. A partir daí, a
baixa encosta da Chapada do Araripe, se tornou valorizada, com a penetração da
urbanização no campo, sendo loteada para a implantação de granjas, chácaras,
casas de veraneio ou moradias de pessoas pertencentes à elite da cidade do Crato.
O acesso a esse espaço no município passou a ser disputado por
burocratas da cidade, que formaram sociedades para a aquisição de glebas,
objetivando a exploração do lazer e do turismo. Inicialmente, partes das terras dos
herdeiros do Padre Batista foram vendidas, à Sociedade do Clube Recreativo
Granjeiro, constituída por profissionais liberais, empresários e funcionários do Banco
do Brasil do Crato.
Em seguida, os pecuaristas, pequenos empresários e funcionários
públicos formaram a Sociedade do Clube Serrano Atlético Cratense, e adquiriram
parte das propriedades dos herdeiros do sítio Belmonte, onde construíram esse
novo balneário privado da região (MENEZES, 1985).
Os comerciários e pequenos funcionários da cidade, no desejo de imitar a
classe mais privilegiada, fundaram o Itaytera Clube, com sede construída num
terreno localizado no sítio Luanda, nas proximidades da antiga casa de força da
cidade do Crato, onde está localizada a Fonte Batateira, que corresponde a
nascente do Rio da Batateira.
Essa negociação ocorreu após o bancário aposentado Antônio Luiz
Barbosa Filho adquirir várias propriedades de terra nessa localidade, e,
posteriormente, tê-las revendido para a Sociedade do Ytaitera Clube. Enquanto, as
demais foram compradas pela Associação Atlética Banco do Estado do Ceará
(AABEC), objetivando a construção da sua sede sócio-esportiva, que deu origem ao
Clube Serrano.
A partir de então, ocorreu uma expansão urbana desordenada na baixa
encosta da cidade do Crato, ao sul do município, onde os terrenos se tornaram cada
vez mais valorizados e os patamares da Chapada do Araripe passaram a ser objeto
de interesse das empresas imobiliárias detentoras do capital (MENEZES, 1985).
Os especuladores imobiliários, após comprarem as terras dos herdeiros,
fizeram loteamentos no Granjeiro, Lameiro, Belo Horizonte, Misericórdia, Luanda,
Belmonte, Bocaina e Rosto, alterando a organização espacial do pé-de-serra da
Chapada do Araripe através da urbanização descontrolada (MENEZES, 1985).
Hoje, nesse espaço, evidencia-se uma segregação espacial reforçada
pelo poder de compra dos grupos de altos rendimentos, que aos poucos, vão se
apropriando ilegalmente dos espaços naturais do município, e da Chapada do
Araripe, como por exemplo, a construção de condomínios residenciais, que foi feita
numa antiga área de terraço fluvial do Rio Granjeiro, bem próximo à área de encosta
da chapada.
A seguir, analisaremos as formas de uso e ocupação da terra,
especificamente na Fonte Batateira, que corresponde à nascente do Rio da
Batateira, cuja área é de interesse da nossa pesquisa.
A Fonte Batateira
O Rio da Batateira tem suas nascentes na Fonte Batateira, localizada em
Santa Luanda Batateira, na escarpa da Chapada do Araripe, município do Crato
(Figura 14). Nessa fonte as coordenadas geográficas são 39°28’21’’ O e 7°15’11’’ S,
e coordenadas UTM 9197663 N e 447779 E (CPRM, 1999).
Como foi mencionado anteriormente, esse rio possui uma vazão atual
de 376 m
3
/h, e origina-se a partir da surgência da água que infiltra no topo da
Chapada do Araripe, especificamente na zona de contato entre as Formações Exu e
Arajara, numa altitude de 728 metros.
Quanto às formas mais antigas de utilização dessa fonte, sabe-se que no
ano de 1938 foi instalada, no sítio Luanda, nas proximidades da nascente do Rio da
Batateira, uma pequena hidrelétrica, cuja turbina, movida pelas águas do citado rio,
gerava a eletricidade utilizada pela cidade do Crato, até a chegada da energia de
Paulo Afonso. Desativada em 1963, essa foi restaurada e transformada em
balneário público, já no início dos anos 80 (MENEZES, 1985).
FIGURA 14 - Fonte da Batateira, localizada em Santa Luanda Batateira no município do
Crato.
FONTE: Magalhães, A. de O. (mar/2006).
Historicamente, pode-se dizer que o primeiro registro de conflito pelo uso
da água na região do Cariri foi na Fonte Batateira, motivo pelo qual suas águas
foram alocadas entre 14 sítios então existentes no município do Crato. Dessa
partilha, o sistema evoluiu, posteriormente, para um mercado de águas (BRITO,
2001).
Sobre o mercado das águas na Fonte Batateira, no município do Crato,
Gonçalves apud Brito (2001) comenta:
Esse iniciou-se no século XIX, no ano de 1854, quando produtores de
cana-de-açúcar e senhores donos de engenhos, entraram em conflito pela
utilização da água, utilizada para irrigar seus plantios (GONÇALVES apud
BRITO, 2001, p. 27).
Desde o culo XVIII, a cana-de-açúcar era cultivada no Cariri.
Inicialmente, suas plantações eram feitas nos brejos úmidos, sendo posteriormente
deslocadas para as áreas de encosta da Chapada do Araripe. Nessas áreas, os
plantios eram irrigados no período do verão, com águas provenientes das fontes da
chapada por gravidade.
Nos anos seguintes, com o crescimento da produção da rapadura para a
comercialização, foram ampliadas as áreas de plantio da cana-de-açúcar,
conseqüentemente aumentou também a demanda pelo uso das águas das fontes da
Chapada do Araripe, inclusive da Fonte Batateira, que apresentava a maior vazão
em m
3
/h na região.
Segundo Brito (2001), o primeiro conflito pelo uso da água registrado na
Fonte Batateira ocorreu quando os produtores mais próximos dessa fonte utilizavam
toda a água para a irrigação de suas culturas, enquanto os outros agricultores que
tinham suas propriedades mais à jusante, ficavam esperando as sobras de água.
Foi assim que o então Presidente da Província, Dr. Joaquim Villela de Castro
Tavares, procurando resolver o problema da partilha das águas nessa fonte, editou
uma Resolução Provincial, que culminou na Lei n° 645, de 17 de janeiro de 1854,
sendo posteriormente aprovados os artigos de postura na Câmara Municipal do
Crato, descrita a seguir:
Lei n
°
°°
°
645 de 17 de janeiro de 1854
Art. 58
- As águas de todas as nascentes do patrimônio desta Câmara serão
repartidas por todos os foreiros com igualdade de direito, pelo Juiz Municipal
Presidente da mara, ou Juiz de Paz, se os mesmos foreiros assim concordarem:
os foreiros às margens dos rios Batateira, e desta cidade serão obrigados a soltarem
todas as águas das 6 horas da tarde do dia sexta-feira de cada semana até 6 horas
da manhã da segunda-feira seguinte, para serem divididas pelos foreiros e
proprietários dos brejos do Engenho do Meio, inclusive para baixo. Os
contraventores serão multados em 30$000 rs.
Art. 59
- Todo aquele que fóra do tempo que lhe competir, lançar mão de águas
alheias, ou seja, por malícia ou mesmo por necessidade de regar plantas, além de
pagar o damno que causar ao dono das águas, semultado em 6$000 réis para as
despezas municipaes.
Art. 60
- Ficarão prohibidas as tinguijadas, assim como outras qualquer baldeações
nos poços deste município: os infractores pagarão a multa de 20$000 réis, mesmo
quando a facão nas águas que passem por suas terras.
Art 61
- Quem deitar entulho nas levadas, ou qualquer modo obstruir a correnteza
das águas regadias, pagará a multa de 2$000 réis.
Art 62
- Os proprietários foreiros ou rendeiros das terras banhadas pelo Rio
Batateira, e desta cidade desde as nascencias ao Carité, conservarão em suas
testadas toda a limpeza afim de que não se embarace a correnteza das águas. Os
contraventores pagarão a multa de 6$000 réis.
Art 63
- A levada geral desta cidade deverá ser encanada desde a extrema do Sítio
do Pisa até o último quintal da Rua Grande, e esse encanamento será de pedra, ou
tijolo e cal com bicas de aroeira ou cedro. Os proprietários poderão ter em seus
quintaes tanques também de cal, com tanto que não distraião as águas para molhar
plantações, e somente as tirem com baldes para o que lhes for mister: os infratores
serão multados em 10$000 réis.
Art. 64
- Os foreiros dos sítios Caiana e Granjeiro poderão servir-se de parte das
águas da nascencia do rio desta cidade com tanto que seja isso das seis horas da
tarde até seis da manhã, sob pena de serem privados desse indulto e pagarem a
multa de 8$000 réis.
Art. 65
- Fica prohibido o uso de se distrahir parte das águas deste município com
outras plantações que não sejão cannas, cafeseiros, arroz e fruteiras dos brejos da
Batateira para baixo; não se prohibindo porém a plantação de milho, feijão, etc, pelo
meio das cannas, que tem de serem regadas: os contraventores pagarão a multa de
20$000 réis.
No ano seguinte, em 1855, o Juiz de Direito da Comarca do Crato
procedeu com o Auto de Partilha da Fonte Batateira, transcrito abaixo:
Auto de Partilha das Águas do Rio Batateira - que mandou proceder ao juiz
Municipal substituto Afonso de Albuquerque e Melo como abaixo se declara: - Ano
de Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, de mil oitocentos e cinqüenta e cinco
(1855) aos vinte e um dias do mês de Junho do dito ano, nesta cidade do Crato,
Cabeça de comarca e província do Ceará, em casa de morada do juiz Municipal
substituto Afonso de Albuquerque e Melo onde me achava eu escrivão do seu cargo
abaixo nomeado e assinado e sendo ai presente os partidores nomeados o Major
Miguel Xavier Henrique de Oliveira e o Alferes Childerico cero de Alencar Araripe;
pelo dito juiz foi deferido o juramento dos Santos Evangelhos em um livro deles em
que com toda consciência fizessem a partilha das águas do rio Batateira com todos
os foreiros dos sítios mencionados nos termos de avaliação constantes destes
autos, observando a igualdade e regularidade de direito recomendado no artigo 58
da Resolução Provincial n
°
640 de 17 de janeiro de 1854 e recebido por eles ditos
juramentos afirmaram e prometeram cumprir e logo passaram a fazer a referida
partilha da maneira e modo abaixo declarado, do que para constar mando o juiz
lavrar este termo que assina afinal com os partidores e comigo Antônio Duarte
Uiacinto Moura, escrivão que o escrivi. Auto: - Acharam o juiz e partidores,
presidente de Câmara Municipal que o Sítio Luanda tendo duzentas tarefas de terras
regadias, e que as águas com que ele era regado hoje pertencem ao Major Vicente
Amâncio de Lima, por compra ao finado Joaquim Ferreira Pinheiro, lhe dão duas
telhas das águas do Rio Batateira, contendo cada uma das ditas telhas vinte
polegadas de circunferência e para constar mandou o juiz lavrar este termo que
assina com os partidores e o presidente da Câmara, comigo Antonio Duarte Uiacinto
Moura, escrivão, que o escrevi. Albuquerque e Melo. Pontes Simões. Miguel Xavier
Henrique de Oliveira. Childerico Cicero de Alencar Araripe, - Acharam mais juiz e
presidente da Câmara e partidores que o sitio S.João Preguiça, Boa Vista, Mindoia,
Corujas e mais três partes uma de Luis Martins da Silva, outra do Joaquim Ferreira
Lima Seca e a terceira de João Moreira da Costa, contendo mais de trezentas
tarefas lhe davam três telhas d’água para todos quantos tiverem parte nestes sítios,
atendendo, que tem um olho d’água particular, independente da nascente do rio,
cujas águas molham uma não pequena parte destes sítios no lado do poente, cujas
telhas conterão cada uma vinte polegadas de circunferência, e para constar mandou
o juiz lavrar este termo que assina com o presidente da Câmara Municipal,
partidores e comigo Antonio Duarte Uiacinto Moura, escrivão que o escrivi.
Albuquerque e Melo. Pontes Simões. Miguel Xavier Henrique de Oliveira. Childerico
Cicero de Alencar Araripe. Acharam mais - que o Sitio Lameiro de Jodo Monte
Furtado, contendo duzentas tarefas de terras regadias e tendo um outro olho
d’agua que ajuda a regar as plantas do dito sitio lhe dão mais das águas do rio
Batateira duas telhas d’agua de vinte polegadas cada uma; e para constar, mandou
o juiz lavrar este termo que assinou com o Presidente da Câmara Municipal, os
partidores e comigo Antonio Duarte Uiacinto Moura, escrivão que o ecrevi.
Albuquerque e Melo. Pontes Simões. Miguel Xavier Henrique de Oliveira. Childerico
Cícero de Alencar Araripe. Acharam mais: - o juiz, Presidente da Câmara e
partidores que havendo no mesmo sitio Lameiro duas partes de terra, uma de
Vicente Saveiro dos Santos e outra de Inácio Caetano de Alencar, de terras
regadias, dão a estas duas partes uma telha d’água que contem dez polegadas de
circunferência do que para constar, mandou o juiz lavrar este termo que assina o
Presidente da Câmara Municipal, partidores e comigo, Antonio Duarte Uiacinto
Moura escrivão que o escrevi. Albuquerque e Melo. Ponte Simões. Miguel Xavier
Henrique de Oliveira, Childerico Cícero de Alencar Araripe. Acharam Mais: - o juiz
presidente da Câmara e partidores, que o sitio Mizeria, de João Evangelista
Cavalcante, Joaquim Lopes Raimundo do Bilhar e a chapada do Major Antonio Luiz
Pequeno Junior tendo duzentas tarefas de terras regadias, lhe dão duas telhas
d’águas de vinte polegadas cada uma, que assinou com o presidente da mara,
partidores e comigo Antonio Duarte Uiacinto Moura, escrivão que o escrevi.
Albuquerque e Melo. Ponte Simões. Miguel Xavier Henrique de Oliveira. Childerico
Cícero de Alencar Araripe.
A
Figura 15
demonstra um croqui da distribuição das telhas d’água na Fonte
Batateira, no início do culo XX, com seus respectivos proprietários que eram, na
sua maioria, plantadores de cana-de-açúcar e donos de engenhos da região.
Na sua totalidade, o sistema de distribuição de águas da Fonte Batateira,
alocava quinze telhas na margem direita do rio, e sete na margem esquerda,
sobrando uma telha para manter o fluxo original do seu curso fluvial (
Figura 16
).
FIGURA 15 - Esquema de distribuição das águas da Fonte Batateira no município do Crato
em 1855.
FONTE: Projeto APA Araripe, 1998.
FIGURA 16 - Sistema de alocação de água da Fonte Batateira, usando como parâmetro de
medida a unidade de vazão portuguesa denominada “telha”.
FONTE: Magalhães, A. de O. (out/2005).
Em relação ao sistema de gerenciamento atual das águas da Fonte
Batateira, pode-se observar na
Figura 17
, elaborada por Brito (2001), os principais
pontos de distribuição da água, que estão alocados em 9 propriedades rurais ou
sítios.
FIGURA 17 - Pontos de distribuição da água da Fonte Batateira, por direito de uso,
localizados no município do Crato em 2001.
FONTE: Adaptado de Brito, 2001.
As seções (2) e (6) correspondem aos pontos de derivação da água que é
dividida para os demais sítios. Enfatiza-se que, em função do atual regime de
distribuição e uso desse curso fluvial, a água não está mais chegando ao último
ponto que corresponde à seção (11), no sítio Lagoa.
Brito (2001), em seu trabalho intitulado “O mercado de águas da Fonte
Batateira no Cariri e a nova política de águas do Ceará - Desafios da transição”,
através de pesquisas, in loco, elaborou a
Tabela 10
, que apresenta as localidades e
seus respectivos proprietários, com os direitos de uso da água da Fonte Batateira no
município do Crato.
Tabela 10 -
Detentores dos direitos de uso da água do Rio da Batateira em 2001.
Direito de uso
Seção n°
°°
°
Localidade Proprietário
n° de telhas
horas/mês
1 Fonte Batateira 8,0 *
3 Sítio Luanda I
AABEC - Associação Atlética do
BEC.
Antônio Luiz Barboza Filho
0,5
0,5
*
48
4 Sítio Luanda II Anderson Tavares Bezerra 2,5 48
5 Belmonte
Maria Couto Pinheiro
José Gilberto Mendonça
Herdeiros Darival Cartaxo
2,0
2,0
2,0
276
276
*
7 Bebida Nova
Herdeiros Adauto Esmeraldo
Herdeiros Antônio Esmeraldo
Francisca Pedro da Silva
Heitor Muniz
Raimundo Sampaio
3,0
3,0
3,0
4,0
3,0
60
60
12
48
60
8 São Gonçalo
Maryland Teles de Melo Tavares
Antônio Almino de Lima
4,0
2,0
3,0
48
96
24
9 Bonfim Hagamenon Bezerra de Menezes 3,0 48
10 Lameiro
Aderson Flávio C. de Alencar
Ossian Alencar Araripe
Maria de Lourdes da Silva
José Ulisses Peixoto
Almir Pimentel
Hebert Teles
Luisito de Freitas Macedo
2,5
2,5
2,5
4,0
*
*
3,0
240
208
32
*
*
*
12
11 Lagoa Maria Muniz 8,0 24
12 -
SAAEC - Sociedade Anônima de
Água e Esgoto do Crato
8,0 34
FONTE: Brito, 2001.
* Esses valores não foram estimados pelo autor da pesquisa
Nos dias atuais, observa-se que os proprietários de terras que detêm o
direito de uso da água na Fonte Batateira, são principalmente, donos de balneários,
pequenos proprietários de chácaras, produtores de frutas, pecuaristas, e ainda a
Sociedade Anônima de Água e Esgoto do Crato (SAAEC). Diferentemente do ano de
1855, quando os plantadores de cana-de-açúcar, que eram maioria, ocupavam as
terras ao longo do Rio da Batateira, e também tinham os direitos de uso da água
para irrigar suas plantações.
Um outro aspecto apontado por Brito (2001) sobre o sistema de
distribuição das águas da Fonte Batateira, é que este sistema só funciona no
período de estiagem da região do Cariri, ou seja, a partir do mês de junho, quando
os proprietários da fonte, começam a construir as “levadas”, responsáveis pela
distribuição das águas para os seus respectivos sítios.
Infelizmente, a falta de gerenciamento dessa fonte tem gerado vários
conflitos entre os proprietários de terras, detentores dos direitos de usos da água
dessa fonte. Desde a nascente, suas águas são desviadas para irrigar sítios de
usuários, particulares ou não, os quais não detêm o direito legalmente.
Esses conflitos têm se acentuado ao longo dos anos no município do
Crato, pois ainda hoje prevalece o sistema antigo de distribuição das águas da Fonte
Batateira, baseado na Lei n° 645, de 17 de janeiro de 1854, e no Auto de Partilha
das Águas do Rio da Batateira.
Quanto às formas atuais de uso e ocupação do solo na área em análise,
pode-se dizer que atualmente as águas da Fonte Batateira são utilizadas pelos
proprietários de terras para irrigação, e pela população local para abastecimento
humano, uso doméstico e como fonte de lazer, principalmente nos balneários e
clubes recreativos, como o Itaytera Clube, Balneário da Nascente e Associação
Atlética do Banco do Estado do Ceará (AABEC), ambos localizados próximos a
nascente dessa fonte (
Figura 18
).
FIGURA 18 - Balneário da nascente, utilizado pela população local, para fins domésticos e
de lazer.
FONTE: Magalhães, A. de O. (mar/2006).
Dentre os principais usos das águas da Fonte Batateira, destaca-se a
irrigação, por inundação, sendo apresentadas na
Tabela 11
, as culturas mais
freqüentes, com suas respectivas áreas de plantio.
Tabela 11 -
Culturas irrigadas com a água da Fonte Batateira, localizada no
município do Crato.
Cultura Área de Plantio (tarefas*)
Capim 454
Banana 156
Cana-de-açúcar 87
Fruteiras 21
Coco 19
Manga 7
Verduras 4
FONTE: Brito, 2001.
* unidade equivalente a 1/3 do hectare.
Percebe-se que, com a redução das plantações de cana-de-açúcar no
Cariri, se destaca o capim, com uma área de plantio de 454 tarefas, correspondente
a um total de 151 hectares, constituindo-se, hoje, na principal cultura irrigada com as
águas da Fonte Batateira. O capim é usado, principalmente, para a alimentação do
gado leiteiro, o qual é comercializado nos mercados da região do Cariri.
Observa-se que o cultivo da banana ocupa o segundo lugar, por ordem de
produção, seguido, em menor escala, das plantações de fruteiras, coco, manga e
verduras.
Levando-se em conta o aspecto ambiental, pode-se dizer que, embora
esses produtos sejam importantes para a economia local, as áreas agricultáveis
localizadas nas margens do Rio da Batateira m provocado o desmatamento da
mata ciliar, acarretando conseqüências à incidência de processos de lixiviação,
erosão, assoreamentos e inundações freqüentes ao longo desse curso fluvial.
3.2 Aspectos demográficos e indicadores socioeconômicos
De acordo com o censo de 2000 (IPECE, 2004), o Município do Crato tem
uma população total estimada em aproximadamente 104.646 habitantes. Desse
total, 71.716 habitantes (68,53%) residem no distrito-sede e 23.805 habitantes
(22,74 %) distribuem-se entre os nove distritos restantes (
Tabela 12
).
Entre o período analisado (1991-2000), a população total urbana e rural
do Crato passou de 90.519 habitantes, em 1991, para 104.646 habitantes, em 2000,
o que representa um crescimento populacional de 14.127 habitantes, no período de
apenas 9 anos (
Tabela 13
).
De acordo com o censo de 2000, estão concentrados, na zona urbana,
83.917 habitantes (80,19%), enquanto na área rural residem apenas 20.729
habitantes (19,81%).
Dados do IPECE (2005) estimam que a população do Crato, nos anos de
2003 e 2004, correspondeu a 106.533 habitantes e 107.912 habitantes,
respectivamente.
Tabela
12
- Distribuição da População residente nos Distritos do Município do
Crato/CE, no ano de 1996.
População Urbana População Rural
Distritos
Homens Mulheres Homens Mulheres
Total
Crato 33.084 38.632 - - 71.716
Dom Quintino 500 506 760 764 2.530
Santa Fé 176 191 1.909 1.894 4.170
Ponta da Serra 795 835 3.024 2.950 7.604
Bela Vista 405 431 540 481 1.857
Baixio das Palmeiras 255 262 906 928 2.351
Monte Alverne 223 219 763 728 1.933
Belmonte 494 485 180 170 1.329
Santa Rosa 110 121 466 440 1.137
Campo Alegre 90 85 358 361 894
Total
36.132 41.767 8.906 8.716 -
FONTE: IPLANCE, 2000.
Tabela 13 -
Dados da Evolução Populacional do Município do Crato (1991-2000).
Ano
1991 1996 1998 1999 2000
Discriminação
N°
%
N°
%
N°
%
N°
%
N°
%
População
Urbana
70.280
77,64
77.899
81,55
81.092
83,07
82.723
83,82 83.917 80,19
População
Rural
20.239
22,36
17.622
18,45
16.525
16,93
15.965
16,18 20.729 19,81
Total
90.519
100 95.521
100 97.617
100 98.688
100 104.646
100
FONTE: IPLANCE, 2000 & IPECE, 2004.
A
Figura 19
apresenta a evolução da população urbana e rural do
município do Crato, demonstrando que a população urbana apresentou um aumento
significativo de 13.637 habitantes, ou seja, passou de 70.280 habitantes, em 1991,
(77,64%) para 83.917 habitantes, em 2000 (80,19%).
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
80.000
90.000
1991 1996 1998 1999 2000
Evolução da População Urbana e Rural
(1991 a 2000)
Urbana
Rural
FIGURA 19 - Evolução da população rural e urbana do município do Crato, no período de
1991 a 2000.
FONTE: IPLANCE, 2000 & IPECE, 2004.
sobre a população rural, os dados indicam que têm decrescido ao
longo desses anos, com 20.239 habitantes, em 1991 (22,36%), 17.622 habitantes,
em 1996 (18,45%), 16.525 habitantes, em 1998 (16,93%), 15.965 habitantes, em
1999 (16,18%), apresentando um relativo aumento para 20.729 habitantes, no ano
de 2000 (19,81%).
Com base nas informações referenciadas anteriormente, no histórico do
povoamento e colonização do Cariri, observou-se que, tradicionalmente, a
população da região tem vocação econômica voltada para a agricultura e a pecuária.
No entanto, a partir da análise dos dados sobre a evolução populacional do
município do Crato, observou-se uma maior concentração da população na sede
urbana.
Esse fato está relacionado ao processo migratório do campo para a
cidade, conhecido como êxodo rural, o qual pode ser justificado pelas secas que
assolam o semi-árido nordestino afetando também a região do Cariri, e
consequentemente impossibilitando o desenvolvimento da agricultura na região; pela
decadência do sistema produtivo agropecuário na região; pela falta de incentivos
financeiros para o pequeno produtor rural; pela concentração de latifundiários e
especuladores na zona rural; e, também, pela atração que a cidade exerce para a
população rural na busca de melhoria das condições de vida, ou seja, novas
oportunidades de trabalho, moradia, infra-estrutura e saneamento sico, educação,
lazer, entre outros.
Ressalta-se que, com exceção do distrito-sede (Crato), nos nove distritos
restantes, a população residente na zona rural com 17.622 habitantes, superou os
números da população na zona urbana com 6.183 habitantes. Isto demonstra que,
nesses distritos a atividade da agricultura e/ou pecuária ainda são predominantes
como atividades econômicas ou para a subsistência dessas populações.
3.2.1 Principais Atividades Econômicas
Em relação à economia do Município do Crato, a
Figura 20
demonstra que
no distrito-sede, atualmente as atividades econômicas estão mais concentradas nos
setores dos serviços e da indústria, e, em menor escala, na economia primária,
representada pela agropecuária, que é desenvolvida nas áreas rurais dos seus
respectivos distritos (IPECE, 2005).
FIGURA 20 - Produto Interno Bruto do Município do Crato, por estrutura setorial, no ano de
2002.
FONTE: IPECE, 2005.
PIB do Município do Crato no Ano de 2002
4%
28%
68%
Agropecuária
Indústria
Serviços
Agricultura
Atualmente, a atividade agrícola do município do Crato e de seus distritos,
está baseada, principalmente no cultivo tradicional da cana-de-açúcar, e também
nas lavouras de subsistência do arroz, milho, mandioca e feijão (IPLANCE, 2000).
Além desses principais produtos agrícolas, destaca-se, em menor escala,
por ordem de produção (em toneladas), os seguintes gêneros: amendoim, banana,
tomate, manga, mamão, algodão herbáceo, coco da baía, acerola, maracujá, laranja,
castanha de caju e o café (em coco) (IPLANCE, op. cit.).
Esses produtos agrícolas são cultivados no município do Crato,
principalmente na zona rural, os quais são responsáveis pelo abastecimento de
algumas cidades da região do Cariri, e também de outros setores do Estado do
Ceará.
De acordo com o Perfil Básico Municipal do Crato (IPECE, 2000), com
dados referentes ao ano de 1999, a Figura 21 demonstra que o cultivo da cana-de-
açúcar representou 83% da produção agrícola total do município, destacando-se em
relação aos demais produtos agrícolas cultivados. Muito embora, as culturas de
subsistência como o arroz, a mandioca, o milho e o feijão, também sejam de
extrema importância como fonte de alimento para a população rural e para o gado, e
também para a comercialização.
FIGURA 21 - Principais produtos agrícolas do município do Crato, em tonelada, no ano de
1999.
FONTE: IPECE, 2000.
Principais Produtos Agrícolas do Município do
Crato no Ano de 1999
83%
6%
5%
5%
1%
Cana-de-açucar
Arroz
Mandioca
Milho
Feijão
Essa elevada produção da cana-de-açúcar no município do Crato, até os
dias atuais, pode ser explicada a partir da análise histórica do povoamento do sul do
Ceará, conforme enfatiza Menezes (2005):
A ocupação do Cariri ocorreu em pleno período do ciclo do gado, mas em
virtude das qualidades ambientais propícias ao cultivo da terra, formou-se
uma economia agrícola com base na agroindústria canavieira. Na década
de 1940, os engenhos chegaram a 300, produzindo rapadura e aguardente
para todo o interior do Nordeste. Em menor porte, o algodão e as culturas
de subsistência tiveram participação significativa na economia local
(MENEZES, 2005, p. 20).
Em relação à produção agrícola secundária do município do Crato, e de
seus respectivos distritos, de acordo com dados do IPECE (2000) referente ao ano
de 1999, destaca-se na Figura 22 como principais produtos cultivados: o amendoim
(28%), que é produzido no distrito de Monte Alverne, seguido da produção de
banana (21%) e tomate (13%), os quais são cultivados, principalmente, no distrito de
Ponta da Serra.
FIGURA 22 - Produtos agrícolas secundários cultivados no município do Crato, em
tonelada, no ano de 1999.
FONTE: IPECE, 2000.
Produtos Agrícolas Secundários do Município do
Crato no Ano de 1999
4%
6%
28%
21%
1%
6%
3%
7%
8%
3%
13%
0%
Acerola
Algodão Herbáceo
Amendoim
Banana
Café (em coco)
Castanha de Ca
Coco da Baía
Laranja
Mamão
Manga
Maracujá
Tomate
No ano de 2004, de acordo com dados do Anuário Estatístico do Ceará -
IPECE (2004) destacam-se na produção agrícola da lavoura permanente do
município, os seguintes produtos: abacate, banana, castanha-de-caju, coco-da-baía,
laranja, mamão, manga, maracujá e tangerina.
Na Tabela 14, verifica-se que a produção de banana com 4.300 (t) se
destaca em relação aos demais produtos cultivados, seguida da produção de manga
com 1.258 (t). Essas culturas são plantadas nas áreas rurais do município e
especialmente nas margens do Rio da Batateira, contribuindo assim, para o
desmatamento da vegetação natural ao longo desse recurso hídrico.
Tabela 14 - Área destinada à colheita, área colhida e quantidade dos principais
produtos das lavouras permanentes do município do Crato, no ano de 2004.
Produtos das Lavouras Permanentes
Área (ha)
Município do Crato
Destinada à colheita Colhida
Quantidade
Produzida (t)
Abacate 5 5 39
Banana 500 500 4.300
Castanha- de-caju 95 95 36
Coco-da-baía 35 35 172
Laranja 7 7 80
Mamão 2 2 49
Manga 85 85 1.258
Maracujá 2 2 19
Tangerina 2 2 8
FONTE: Anuário Estatístico do Ceará - IPECE, 2004.
Quanto à produção da lavoura temporária no ano de 2004, segundo
dados do Anuário Estatístico do Ceará - IPECE (2004), na Tabela 15 pode-se
verificar novamente o destaque da produção da cana-de-açúcar com 40.000 (t),
seguida das produções de milho (em grão) com 1.947 (t), mandioca com 1.500 (t) e
de arroz (em casca) com 1.045 (t).
Ressalta-se que, essa produção agrícola do município, além de ser
utilizada como fonte de subsistência para a população local, é, ainda, comercializada
nas feiras livres da região do Cariri e em outros estados, como é o caso do
amendoim que é vendido para Recife, João Pessoa e Salvador.
Tabela 15 - Área plantada, área colhida e quantidade produzida dos produtos das
lavouras temporárias do município do Crato, no ano de 2004.
Produtos das lavouras permanentes
Área (ha)
Município do Crato
Plantada Colhida
Quantidade
produzida (t)
Alho 4 4 18
Amendoim (em casca) 60 60 77
Arroz (em casca) 817 817 1.045
Cana-de-açúcar 1.000 1.000 40.000
Feijão (em grão) 2.211 2.211 482
Mamona (baga) 25 25 7
Mandioca 150 150 1.500
Milho (em grão) 2.028 2.028 1.947
Tomate 15 15 510
FONTE: Anuário Estatístico do Ceará - IPECE, 2004.
Numa análise mais detalhada sobre a produção agrícola distrital no
município do Crato, de acordo com dados da EMATERCE (2005), pode-se verificar
no Quadro 04, os principais produtos cultivados na lavoura no ano de 2005.
Observou-se em todos os distritos, incluindo o distrito-sede, o cultivo isolado do
arroz e do feijão vigna (ou feijão de corda), associados ao consórcio de milho/feijão
e milho híbrido.
Quadro 04 - Produção Agrícola do Município do Crato, por Distrito no ano de 2005.
Culturas
Distritos
Arroz Feijão/Milho Feijão Vigna
Milho/Feijão
Milho
Híbrido
Baixio das Palmeiras x - x x x
Bela Vista x - x x x
Belmont x - x x x
Campo Alegre x - x x x
Crato-sede x - x x x
Dom Quintino x - x x x
Monte Alverne x - x x x
Ponta da Serra x - x x x
Santa Fé x - x x x
Santa Rosa x - x x x
FONTE: EMATERCE, 2005.
A Figura 23 demonstra a produção agrícola estimada atualmente nos
distritos do Crato, conforme dados do Relatório Consolidado do Município do Crato
no ano de 2005, elaborado pela EMATERCE (2005), destacando-se por ordem de
produção, como principais produtores de arroz, milho e feijão no município, os
distritos de Ponta da Serra (16%), Baixio das Palmeiras (13%), Dom Quintino (13%),
Santa Fé (13%) e Monte Alverne (12%).
FIGURA 23 - Produção agrícola estimada atual dos distritos de Crato, em toneladas, no ano
de 2005.
FONTE: EMATERCE, 2005.
Especificamente ao longo das margens do Rio da Batateira, no município
do Crato, as condições hídricas locais associadas às características favoráveis dos
solos propiciam o desenvolvimento de alguns produtos agrícolas que são cultivados
desde a nascente até a área de baixio do rio, dentre eles destacam-se: a banana, o
feijão, o mamão, a mandioca, o milho, o arroz, as fruteiras e hortaliças, a cana-de-
açúcar, entre outros.
Na Figura 24 verifica-se a produção agrícola do Crato, no período
compreendido entre 1995 a 2004. Entre as culturas mais relevantes do município,
inclusive as cultivadas nas margens do Rio da Batateira, destaca-se a da cana-de-
açúcar, cuja produção nos anos analisados oscilou entre 30.796 toneladas em 1996
e 49.500 toneladas em 2002.
Produção Agrícola Distrital de Arroz, Milho e Feijão (t)
13%
10%
5%
4%
8%
13%
12%
16%
13%
6%
Baixio das Palmeiras
Bela Vista
Belmont
Campo Alegre
Crato-sede
Dom Quintino
Monte Alverne
Ponta da Serra
Santa Fé
Santa Rosa
Em seguida, observa-se que a produção da banana cresceu no município,
passando de 450 (mil cachos), em 2000, para 3.375 (mil cachos), em 2001. Nos
anos seguintes, a produção correspondeu a 4.300 (mil cachos) em 2002, 4.250 (mil
cachos) em 2003 e 4.300 (mil cachos) em 2004.
FIGURA 24 - Produção agrícola do município do Crato, no período de 1995 a 2004.
FONTE: IBGE, 1995 a 2004.
Esses produtos agrícolas têm importância significativa para a economia
do município, pois além de servirem para a subsistência da população rural, ainda
abastecem o comércio local, como por exemplo, a cana-de-açúcar, que é cultivada
nas áreas de planície do rio, e é utilizada nos engenhos da região para a produção
do açúcar, aguardente e rapadura.
Pecuária
O processo de ocupação na região do Cariri se deu a partir da vinda de
colonos à procura de novos espaços para a criação de gado bovino no interior do
Ceará. No entanto, os vales férteis que caracterizam a região, com abundância de
recursos hídricos e fertilidade dos solos, foram os responsáveis pela sua
transformação em zona de plantação da cana-de-açúcar e diversificação de algumas
culturas de subsistência.
0
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
30.000
35.000
40.000
45.000
50.000
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Produção Agrícola do Crato (1995 a 2004)
Arroz
Cana-de-açucar
Feijão
Mandioca
Milho
Banana
Embora a agricultura seja considerada uma atividade importante
desenvolvida no município do Crato, pode-se dizer que a pecuária tem sido uma
prática complementar às atividades agrícolas, e também garantia de sobrevivência
para as populações rurais nos períodos de estiagem.
No ano de 2003, a distribuição do efetivo pecuário do município do Crato,
apresentou um total de 21.972 cabeças, representadas pelos rebanhos bovinos,
suínos, eqüinos, asininos, muares, ovinos e caprinos (IBGE, 2005).
O rebanho bovino destacou-se na produção pecuária do município em
2003 (
Figura 25
), reunindo um efetivo de 13.441 cabeças, seguido do efetivo de
suínos, com 4.378 cabeças; ovinos, com 1.325 cabeças; caprinos, com 1.011
cabeças; eqüinos, com 735 cabeças; muares, com 701 cabeças, enquanto os
asininos dispõem de apenas 381cabeças (IBGE, 2005).
Na economia local, o rebanho bovino destina-se ao corte e à produção de
leite e de seus derivados como o queijo, a manteiga e os doces, que o produzidos
artesanalmente e exportados para os grandes centros regionais, além de servir de
animal de tração.
Ao longo dos anos, pode-se afirmar que o rebanho bovino tem se
destacado na economia do município do Crato, por apresentar peculiaridades
importantes, tais como a resistência às irregularidades climáticas; ser pouco
exigente em termos de mão-de-obra e por constituir-se em reserva de valor.
FIGURA 25 - Principais rebanhos do município do Crato no ano de 2003.
FONTE: IBGE, 2005
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
14.000
Bovinos Ovinos Eqüinos Asininos
Efetivos de Rebanhos do Munipio do Crato no Ano
de 2003
Ao longo da planície fluvial do Rio da Batateira, pode-se observar
propriedades rurais com plantações de cana-de-açúcar e currais, cujas áreas
servem de pasto para o gado nos períodos de estiagem.
Extrativismo Vegetal
Os principais produtos do extrativismo vegetal do município do Crato,
segundo dados do Anuário Estatístico do Ceará - IPECE (2004) o: o babaçu
(amêndoa), o buriti, o carvão vegetal, a castanha de caju, a lenha, o pequi
(amêndoa) e o umbu (fruto).
Na
Tabela 16
,
pode-se observar a produção em toneladas desses
produtos, no período compreendido entre 2001 a 2003, com destaque para a
produção da lenha.
Tabela 16 -
Quantidade em toneladas da produção dos principais produtos do
extrativismo vegetal no município do Crato, no período de 2001 a 2003.
Produção Extrativista Vegetal
Quantidade (t)
Município do Crato
2001 2002 2003
Babaçu (amêndoa) 155 152 145
Buriti 1 1 1
Carvão vegetal 126 135 132
Castanha- de-caju 2 2 2
Lenha 22.479 26.797 31.978
Pequi (amêndoa) 566 765 1.684
Umbu 2 2 2
FONTE: Anuário Estatístico do Ceará - IPECE, 2004.
A retirada de espécies vegetais para a produção de lenha totalizou 22.479
(t) em 2001, 26.797 (t) em 2002 e 31.978 (t) em 2003, representando um
crescimento significativo no período analisado. Em seguida, em menor escala,
destacou-se a produção do pequi, com 566 (t) em 2001, 765 (t) em 2002 e 1.684 (t)
em 2003, enquanto que os outros produtos não apresentaram muitas variações na
produção ao longo desses anos (
Figura 26
).
FIGURA 26 - Produtos extrativistas do município do Crato, no período de 2001 a 2003.
FONTE: Anuário Estatístico do Ceará - IPECE, 2004.
A exploração florestal é uma atividade significativa para o município, como
fonte de geração de renda, uma vez que m garantido a sobrevivência,
principalmente da população que vive na zona rural. Muito embora, em alguns
casos, como por exemplo, a retirada indiscriminada de lenha para serem usadas nas
cerâmicas da região, provoque a degradação ambiental na Chapada do Araripe, e
consequentemente, a geração de impactos ambientais provocados pelos
desmatados e queimadas indiscriminados.
Indústria
O processo de industrialização no Cariri cearense originou-se a partir da
implantação da agroindústria por meio das casas de farinha e usinas de algodão.
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
2001 2002 2003
Produção Extrativista (t)
Babaçu (amêndoa) Buriti Carvão vegetal Castanha-de-caju
Lenha Pequi (amêndoa) Umbu (fruto)
Porém, foi somente na década de 60, que a atividade industrial ganhou impulso com
a chegada da energia elétrica de Paulo Afonso no Cariri (MENEZES, 2005).
Esse período foi caracterizado por duas fases distintas: o primeiro, com o
Projeto Azimow, quando foram implantadas na região algumas fábricas de grande
porte, para a exploração de cerâmica, fécula de mandioca e derivados do milho.
Porém, as expectativas dos empresários não foram alcançadas, e a maioria das
indústrias nem se quer chegou a funcionar (MENEZES, 2005).
Apesar das dificuldades enfrentadas nessa fase inicial, algumas empresas
sobreviveram aos momentos de crise, como: as de cerâmica (CECASA e
NORGUAÇU), a de papel (SULCEPA), a de açúcar (AÇUSA) e uma de cimento. E
até os dias atuais, ainda permanece em funcionamento essa empresa de cimento,
localizada no município de Barbalha.
No ano de 1986, iniciou-se o segundo período industrial, através dos
incentivos fiscais concedidos pelo Governo do Estado do Ceará. Esse período
caracterizou-se pela implantação de um parque industrial no Cariri, com empresas
industriais atuando nos setores de calçados, medicamentos, confecções, jóias
folheadas a ouro, cerâmicas, cimento, alumínio e artesanato, dentre outros
(MENEZES, 2005).
Nos dias atuais, segundo dados do Anuário Estatístico do Cea- IPECE
(2004), o município do Crato apresenta como principais estabelecimentos industriais
ativos: Extrativa mineral, Construção civil, Utilidade pública e de Transformação.
No ano 1998, segundo IPLANCE (2000), os estabelecimentos industriais
somavam um total de 152, com maior número para as empresas de transformação,
que apresentaram a implantação de 147 indústrias ativas, tendo participação de
96% sobre a renda total do município (Tabela 17).
Pode verificar na Tabela 18 que, entre os anos de 2002 e 2003, as
indústrias de transformação novamente se destacaram no setor industrial, com a
implantação de 146 estabelecimentos industriais no ano de 2002, seguida do ramo
crescente da construção civil.
Tabela 17 - Estabelecimentos industriais ativos do município do Crato, por tipo, no
ano de 1998.
Estabelecimentos
Discriminação
Número % sobre o total do Município
% sobre o total do
Estado
Extrativa mineral 2 1,32 1,63
Construção civil 2 1,32 1,12
Utilidade pública 1 0,66 5,56
Transformação 147 96,71 1,31
Total 152 100,00 1,32
FONTE: Anuário Estatístico do Ceará - IPECE, 2004.
Tabela 18 - Estabelecimentos industriais ativos do município do Crato, por tipo, nos
anos de 2002/2003.
Estabelecimentos industriais
Município do Crato
2002 2003
Extrativa mineral 1 1
Construção civil 34 36
Utilidade pública 2 2
Transformação 146 145
Total 183 184
FONTE: Anuário Estatístico do Ceará - IPECE, 2004.
As indústrias de transformação ativa no município são classificadas,
segundo o gênero em: produtos alimentares, bebidas, fumo, editorial, gráfica e
diversos (Anuário Estatístico do Cea- IPECE, 2004). Sendo que, as indústrias de
produtos alimentares somaram 53 empresas em 2003, com um maior mero em
relação ao total dos outros estabelecimentos comerciais (Tabela 19).
Destaca-se, no setor industrial do município, a Indústria de Calçados
Grendene Ltda, inaugurada em 1997, cuja empresa considerada de grande porte,
atualmente gera mais de 3.000 empregos para trabalhadores assalariados,
representando uma forma de sobrevivência para várias famílias na região.
Tabela 19 - Indústrias de transformação ativa, do município do Crato, nos anos de
2002 e 2003.
Indústrias de Transformação Ativas
Gêneros de Atividades
Produtos
Alimentares
Bebidas Fumo
Editorial
e Gráfica
Diversos
2002 2003 2002 2003 2002 2003 2002 2003 2002 2003
Município
do Crato
39 53 5 3 1 1 5 4 9 9
FONTE: Anuário Estatístico do Ceará - IPECE, 2004.
Serviços
No município do Crato, a estrutura de ocupação é característica de áreas
urbanas, onde a agropecuária declina de importância, e sobressaem-se as
ocupações nas indústrias, no comércio e principalmente na prestação de serviços,
tais como saúde, educação, saneamento básico, entre outros.
Em relação aos serviços de saúde, os dados do IPECE (2005), referentes
ao ano de 2003, demonstram que o município do Crato, dispõe de um total de 108
unidades de saúde, representados por hospitais, maternidades, leitos, postos de
saúde, entre outros estabelecimentos de atendimento (Tabela 20).
Tabela 20 - Unidades de saúde ligadas ao Sistema Único de Saúde - SUS, por tipo
de prestador, do município do Crato, em 2003.
Tipo de prestador Quantidade %
Estabelecimentos de saúde pública
77 71,30
Estabelecimentos de saúde privada
31 28,70
Total
108 100
FONTE: IPECE, 2005.
A Tabela 21 apresenta as principais unidades de atendimento do
município ligadas ao Sistema Único de Saúde - SUS, por tipo de unidade, no ano de
2003. Verifica-se que os postos de saúde representam 43,52 % do total de
unidades, os quais servem de prestação de serviços às populações mais carentes.
Tabela 21 - Unidades de saúde ligadas ao Sistema Único de Saúde - SUS, por tipo
de unidade, do município do Crato em 2003.
Tipo de unidade Quantidade %
Postos de saúde
47 43,52
Centro de saúde
8 7,41
Ambulatório 8 7,41
Consultório médico/odontológico - -
Policlínica 3 2,78
Unidade mista - -
Unidade móvel 2 1,85
Unidade de vigilância sanitária 2 1,85
Unidade de saúde da família 18 16,67
Hospitais 7 6,48
Outras 13 12,04
Total 108 100,00
FONTE: IPECE, 2005.
Na Tabela 22, pode-se constatar os profissionais que atuam na área de
saúde do município do Crato. Considerando-se o número relativamente crescente da
população no município, com estimativa de aproximadamente 113.497 habitantes
em 2005 (IBGE, 2006). As unidades ligadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) e os
profissionais que atuam nessa área ainda são insuficientes para o atendimento
médico-hospitalar da população.
Tabela 22 - Profissionais de saúde do município do Crato em 2003.
Discriminação Quantidade
Médicos 336
Dentistas 64
Enfermeiros 70
Outros profissionais de saúde/nível superior 59
Agentes comunitários de saúde 167
Outros profissionais de saúde/nível médio 202
Total 898
FONTE: IPECE, 2005.
Os dados relativos à saúde no município do Crato, refletem a ineficácia e
a carência de investimentos financeiros nessa área, que têm como conseqüência o
crescimento dos estabelecimentos de saúde privados na região, bem como a
adesão da população aos planos de saúde, os quais têm excluído os menos
favorecidos economicamente.
Em termos de educação, pode-se observar, na Tabela 23, os números
relativos de docentes, as taxas de matrículas dos alunos e a quantidade de salas de
aula por dependência administrativa do município, no ano de 2003. Constata-se que,
a rede municipal de ensino congrega o maior mero de docentes e alunos
matriculados, sendo necessários maiores investimentos nos setores educacionais.
Tabela 23 - Docentes, matrícula inicial e salas de aula, do município do Crato, em
2003.
Docentes Matrícula inicial Salas de aula
Dependência
Administrativa
N°
°°
°
%
N°
°°
°
%
N°
°°
°
%
Federal 19 1 714 1,51 21 2,07
Estadual 487 25,13 16.239 34,39 189 18,64
Municipal 825 42,57 22.180 46,97 384 37,87
Particular 607 31,32 8.091 17,13 420 41,42
Total 1.938 100,00 47.224 100,0 1.014 100,00
FONTE: IPECE, 2005.
A Tabela 24 demonstra os indicadores educacionais gerais do município,
no ano de 2003 (IPECE, 2005), com ênfase para a quantidade de alunos por sala de
aula, e a qualificação dos docentes na educação infantil, ensino fundamental e
médio.
Tabela 24 - Indicadores educacionais gerais do município do Crato e do Estado do
Ceará em 2003.
Indicadores Município Estado
Alunos por sala de aula 46,57 48,93
Qualificação dos docentes (%)
Educação infantil
Ensino fundamental
Ensino médio
-
100,00
69,73
98,55
-
93,09
55,39
90,48
Taxa de escolarização (%)
Ensino fundamental
Ensino médio
-
97,75
43,43
-
95,65
31,81
FONTE: IPECE, 2005.
No tocante ao ensino superior, o município conta atualmente com a
Universidade Regional do Cariri - URCA, sediada no Crato, que oferece cursos de
graduação es-graduação, distribuídos no aglomerado urbano do eixo CRAJUBAR
formado pelos municípios de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha.
Sobre as condições de saneamento básico, que englobam o
abastecimento d’água, o esgotamento sanitário e a coleta seletiva e destino final do
lixo, o município do Crato apresenta a seguinte situação:
O abastecimento de água é realizado pelo Serviço Autônomo de Água e
Esgoto - SAAEC que retira água de fontes e poços tubulares para suprir as
necessidades da população do município. No ano de 2006, foram registradas no
município do Crato 23.564 ligações reais de água. Desse total, dentre os distritos do
Crato, destaca-se Ponta da Serra, com 453 consumidores que possuem
abastecimento de água em suas residências.
Na Tabela 25 pode-se observar dados da SAAEC (2006) sobre o
abastecimento de água de alguns distritos do município do Crato no ano de 2006.
Tabela 25 - Abastecimento de água dos distritos, do município do Crato, em 2006.
Abastecimento de água
Distritos do município do Crato
N° de consumidores
Baixio das Palmeiras -
Belmonte 259
Campo Alegre-Pelado 55
Dom Quintino 327
Monte Alverne 177
Bela Vista 198
Ponta da Serra 453
Santa Fé 243
Santa Rosa 87
FONTE: SAAEC, 2006.
Nota 1: Os dados do distrito Baixio das Palmeiras não foram apresentados, porque esse atualmente é
gerenciado pelo Projeto São José.
Nota 2: Esses dados não foram cadastrados pela SAAEC.
Com relação ao esgotamento sanitário, observa-se que o município tem
esgoto tratado em algumas áreas, sendo que o seu sistema de comunicação é feito
através de rádios de abrangência intermunicipal.
De acordo com dados do IBGE (2001), a Tabela 26 apresenta algumas
informações sobre o esgotamento sanitário no município do Crato, no ano de 2000.
Observa-se que, 5.159 domicílios particulares ainda não dispunham de rede de
esgoto, fato que compromete tanto a saúde da população quanto a qualidade
ambiental urbana.
Tabela 26 - Domicílios particulares permanentes, por tipo de esgotamento sanitário,
no município do Crato em 2000.
Tipo de esgotamento sanitário
Município
do Crato
Total de
domicílios
Total
Rede
geral de
esgoto
Fossa
séptica
Fossa
rudimentar
Outro
Não tinham
esgotamento
sanitário
24.701 19.542 5.863 3.048 10.064 567 5.159
FONTE: IBGE, 2001
.
No ano de 2006, as ligações reais da rede de esgoto no município do
Crato aumentaram em relação aos dados apresentados em 2000, passando de
5.863 para 10.734 ligações, respectivamente. Mesmo assim, grande parte da
população ainda não é atendida por esse serviço.
A coleta de lixo é feita pela Prefeitura Municipal do Crato, e o destino final
dos resíduos sólidos é nas imediações do Sítio Lagoinha, a menos de quatro
quilômetros da sede urbana. O acúmulo de lixo nessa área, foi tema de protestos
dos moradores das proximidades, que sofrem com o mau cheiro e a proliferação de
doenças infecciosas. Pois, apesar das multas e advertências dos órgãos ambientais,
a cidade do Crato ainda não possui um aterro sanitário.
Segundo reportagem no Diário do Nordeste de 12/04/2006,
representantes do Ministério Público, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
Recursos Renováveis (IBAMA) e da Prefeitura do Crato assinaram um termo de
compromisso para a retirada do lixão do Crato. Através desse documento, os órgãos
ambientais estabeleceram um prazo de (15) quinze dias para a compra e
desapropriação de um terreno localizado no Sítio Inxu, distrito de Ponta da Serra, a
25 quilômetros do Crato, onde futuramente, segundo os administradores do
município, será construído o aterro sanitário da cidade.
Estrutura Fundiária
A estrutura fundiária do município do Crato, localizado no Estado do
Ceará, não se difere da estrutura agrária tradicional que foi implantada na região
Nordeste do Brasil, caracterizada pelo o predomínio de minifúndios e das pequenas
propriedades rurais.
A Tabela 27 demonstra que a área cadastrada no referido município,
perfaz um total de 56.695 hectares, com um número total de imóveis rurais de 1.586.
Da superfície total, as pequenas propriedades rurais apresentam um
maior número de imóveis, embora ocupem uma reduzida área, de
aproximadamente, 1.285 hectares. Em contrapartida, as áreas das médias e
grandes propriedades são bastante superiores às das pequenas propriedades rurais,
correspondendo a 2.007 e 13.166 hectares, respectivamente.
Tabela 27 - Número e área dos imóveis rurais, por classes de área, do município do
Crato, em julho de 2000.
Classes de área (ha)
Até 5 Mais de 5 a 10 Mais de 10 a 50
Município
do Crato
Total de
imóveis
rurais
Área total
(ha)
Imóveis
Área
(ha)
Imóveis
Área
(ha)
Imóveis
Área
(ha)
1.586 56.695 555 1.285 269 2.007 536 13.166
FONTE: IPECE, 2004.
A Tabela 28, referente ao ano de 2000, apresenta dados da distribuição
dos imóveis rurais do município do Crato, considerando-se suas respectivas áreas e
produtividade.
Tabela 28 - Número e área dos imóveis rurais, por tamanho do imóvel e
classificação das áreas, do município do Crato, em julho de 2000.
Categoria dos imóveis rurais
Média propriedade Grande propriedade
Produtiva Improdutiva Produtiva Improdutiva
Município
do Crato
Imóveis
Área
(ha)
Imóveis
Área
(ha)
Imóveis
Área
(ha)
Imóveis
Área
(ha)
117 8.191 96 19.947 10 6.950 3 5.151
FONTE: IPECE, 2004.
Quanto à produtividade no ano de 2000, conforme dados do IPECE
(2004), observa-se na Figura 27, que as médias propriedades rurais apresentam
uma área improdutiva maior, correspondente a 19.947 hectares, com um número
total de estabelecimentos menor que a área produtiva. Enquanto que, sua área
produtiva apresenta um maior número de estabelecimentos, numa área
imediatamente inferior, correspondente a 8.191 hectares, em relação às médias
propriedades improdutivas.
E nas grandes propriedades rurais verifica-se que a área produtiva é
superior à área improdutiva, correspondendo a 6.950 hectares, com concentração
do número de imóveis rurais.
FIGURA 27 - Área produtiva e improdutiva, em hectare, das grandes e médias propriedades
rurais do município do Crato, no ano de 2000.
FONTE: IPECE, 2004.
Em relação ao número de imóveis produtivos e improdutivos do município
do Crato, no ano de 2000, verifica-se, na Figura 28, que as médias propriedades
rurais sempre apresentam um percentual superior ao das grandes propriedades
rurais, quanto ao número de imóveis e à produtividade agrícola.
Vale ressaltar que as pequenas e médias propriedades rurais do Crato
têm um papel importante na economia da região, porque são responsáveis pela
produção agrícola do município.
FIGURA 28 - Imóveis produtivos e improdutivos, em hectare, das grandes e médias
propriedades rurais do município do Crato, no ano de 2000.
FONTE: IPECE, 2004.
0
20
40
60
80
100
120
Médias propriedades Grandes propriedades
Imóveis produtivos e improdutivos
Imóveis
produtivos
Imóveis
improdutivos
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
14.000
16.000
18.000
20.000
Médias propriedades Grandes propriedades
Área produtiva e improdutiva em 2000
Área produtiva
Área
improdutiva
A Figura 29 demonstra que a improdutividade das terras nas médias
propriedades rurais equivale a um percentual de 79%, enquanto nas grandes
propriedades esse é de apenas 21%. Esse índice apresentado para as médias
propriedades rurais, retrata as condições inadequadas de manejo do solo, que tem
como conseqüência a degradação ambiental das áreas agricultáveis pela atividade
antrópica.
FIGURA 29 - Áreas improdutivas, em hectare, das grandes e médias propriedades rurais do
município do Crato, no ano de 2000.
FONTE: IPECE, 2004
Ressalta-se que, o desgaste do solo acarreta tanto problemas de ordem
ambiental quanto social e econômica, pois a partir da utilização da terra um
grande número de famílias da zona rural migra à procura de novas áreas para o
plantio. Desse fato resulta a crescente implantação de assentamentos rurais a nível
estadual e municipal.
No ano de 2002 foram implantados, no município do Crato, 02 projetos de
assentamentos estaduais e 01 assentamento do Programa Reforma Agrária
Solidária - Cédula da Terra, com um total de 95 famílias beneficiadas (Tabelas 29 e
30).
Tabela 29 - Projetos de assentamentos estaduais do município do Crato, no ano de
2002.
Projetos de assentamentos estaduais
Nome Área (ha) Famílias beneficiadas
Dez de abril
1.322 52
Município do
Crato
Fé na luta
1.092 25
FONTE: IPECE, 2004.
Áreas improdutivas no ano de 2000
79%
21%
Médias
propriedades
Grandes
propriedades
Tabela 30 - Assentamento do Programa Reforma Agrária Solidária, Cédula da Terra,
no município do Crato, no ano de 2002.
Assentamento do Programa Reforma Agrária Solidária
Nome da associação
Área (ha) Famílias beneficiadas
Município do
Crato
Associação Comunitária Padre
Frederico
236,2 18
FONTE: IPECE, 2004.
A análise desses dados reflete as características da estrutura agrária
vigente no Estado do Ceará, e especialmente na Região do Cariri, onde de um lado,
está um pequeno grupo de grandes proprietários, concentrando em suas os a
maior e melhor parte das terras, por conseguinte dos meios de produção; e, por
outro lado, estão os médios e pequenos produtores rurais, que sofrem com a falta de
recursos financeiros e assistência técnica; pressão sobre a terra exercida pelos
grandes latifundiários; pouca rentabilidade do solo; formas obsoletas de cultivo, ou
seja, a ausência de políticas públicas para o campo que deveriam ser implantadas,
através de uma reforma agrária justa e qualitativa.
Esses problemas nas áreas rurais têm provocado o abandono do homem
do campo, e conseqüentemente a sua migração para as cidades, acelerando o
crescimento urbano, e assim fazendo surgir os mais diversos problemas sociais,
econômicos e ambientais.
4. COMPARTIMENTAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO GEOAMBIENTAL DOS
GEOSSISTEMAS E GEOFÁCEIS DA MICROBACIA DO RIO DA BATATEIRA
4.1 Geossistemas e Geofáceis
A identificação e delimitação das unidades naturais homogêneas da
microbacia do Rio da Batateira baseou-se na proposta de Bertrand (1972) apud
Souza et. al. (2002), a qual resultou no agrupamento de áreas dotadas de condições
específicas, quanto às inter-relações e interdependências, entre os fatores do
potencial ecológico (fatores abióticos), a exploração biológica (solos e cobertura
vegetal) e o uso e ocupação da terra.
Assim, foram identificados e delimitados os seguintes geossistemas e
geofáceis na microbacia do Rio da Batateira, representados no Quadro 05 e no
Mapa 02.
A seguir, apresentaremos uma caracterização das geofáceis da área de
estudo:
PLATÔ ORIENTAL
O Platô Oriental corresponde à parte superior da Chapada do Araripe, e é
constituído por uma seqüência de arenitos e siltitos da Formação Exu. Essa feição
geomorfológica apresenta um relevo tabular elevado, coincidente com a estrutura
concordante horizontal. Na Figura 30, pode-se observar essa geofácie, e mais
detalhadamente a escarpa da Chapada do Araripe com os pedimentos dissecados
do Crato (sede do município).
Nessa área ocorrem os Latossolos Vermelho-Amarelos (álicos ou
distróficos) que apresentam boas condições físicas como profundidade, porosidade,
textura e drenagem. Suas limitações estão relacionadas às propriedades químicas
desfavoráveis, devido à baixa saturação por bases, acidez elevada, toxidez por
alumínio trocável e baixa disponibilidade de água. Geralmente, são utilizados para o
cultivo de culturas de subsistência como a mandioca e o milho, o café, as fruteiras e
hortaliças, entre outros.
Platô Oriental ou Topo
da Chapada do Araripe
Escarpa
Pedimentos dissecados
FIGURA 30 - Vista parcial do Platô Oriental da Chapada do Araripe, na sede do município
do Crato. Observam-se também os pedimentos dissecados do Crato, e a escarpa da
chapada, entrecortada pelos vales fluviais.
FONTE: Peulvast, J.P. (fev/2006)
As características do relevo associadas à natureza arenosa dos
Latossolos Vermelho-Amarelos Álicos e/ou Distróficos permite a rápida infiltração e
percolação das águas, impossibilitando a formação de uma rede de drenagem
superficial, que gera um déficit hídrico comprometendo o abastecimento humano,
animal e a estabilidade da produção agrícola.
Seus solos são revestidos pela vegetação do Cerrado e Cerradão, e
algumas manchas de carrasco, cujas formações vegetais apresentam evidências de
degradação ambiental em alguns trechos, apesar dessa área estar inserida
legalmente nas Unidades de Conservação da Floresta Nacional do Araripe - FLONA
ARARIPE e na Área de Proteção Ambiental da Chapada do Araripe - APA do
Araripe. Hidrologicamente, com o suporte da cobertura vegetal, essa área é
importante para a recarga do aqüífero superior da Chapada do Araripe.
No Platô Oriental da Chapada do Araripe, as formas de uso da terra estão
voltadas, principalmente, para o agroextrativismo, além dessa área, também ser
potencialmente explorada com atividades ligadas ao turismo e ao lazer.
Ressalta-se que, o agroextrativismo é uma atividade economicamente
importante para esse ambiente, uma vez que essa depende menos da oferta d’água.
Dentre as espécies vegetais mais cultivadas estão: o maracujá, a araçá, a mangaba,
entre outras.
Os produtores rurais locais, ainda complementam a renda econômica,
através da colheita e comercialização do piquí, cuja planta nativa é encontrada
abundantemente na Floresta da Chapada do Araripe. A exploração apícola,
beneficiada com a floração do
“croapé”
, constitui-se em mais uma atividade para a
economia local.
As captações de água, no período seco no platô, são feitas através do
aproveitamento das águas das chuvas em cisternas,
“barreiros”
ou transportados a
partir das fontes em lombo de animal (Figuras 31 e 32).
Os
barreiros
são escavações nicas impermeabilizadas por solo
argiloso, pisoteado pelo gado com rebatimento ou cimentação da sua base. São
usados para interceptar e acumular a água das chuvas que escoa em vias
superficiais naturais ou construídas, denominadas localmente de
“estradas d’água”
(CARVALHO et. al., 1999)
.
As características ambientais dessa área, referentes às condições
climáticas, aos tipos de solos, à escassez de água e à escassa produtividade
agrícola, associados aos baixos níveis socioeconômicos da população local,
condicionam nessa superfície da Chapada do Araripe, uma baixa densidade
demográfica, influindo nos índices de desenvolvimento da região.
FIGURAS 31 e 32 - Cisternas e barreiros para captação d’água no período seco, localizados
no Platô Oriental da Chapada do Araripe.
FONTE: Oliveira, V. P. V. de (ago/2005).
VERTENTE ORIENTAL DA CHAPADA DO ARARIPE
Na Vertente Oriental da Chapada do Araripe ou Encosta, o
front
é
constituído dos seguintes elementos: a cornija e o tálus.
A cornija corresponde ao paredão arenítico do rebordo erosivo festonado
da Chapada do Araripe submetido aos processos de pedimentação (Figura 33). O
termo cornija é originário do italiano
corniche
,
que significa “coroa” (GUERRA, 1997).
Da base da alta cornija de arenito, formada na parte superior da escarpa
da Chapada do Araripe, brotam as numerosas fontes perenes que correspondem às
nascentes dos rios que drenam a região do Cariri.
Segundo Penteado (1980), a cornija é a parte superior do
front
,
sustentada por uma camada resistente. Apresenta declividade forte, com relevo
convexo à retilíneo, seguido do tálus. Sua forma e o declive dependem da relação
de espessura das rochas duras e tenras, e do contraste de resistência entre ambas.
Quanto mais delgada for a camada dura, menos forte será a convexidade da cornija,
pelo solapamento basal.
Cornija
FIGURA 33 - Disposição da alta cornija de arenito, na parte superior da escarpa da
Chapada do Araripe.
FONTE: Peulvast, J.P. (fev/2007)
Nessa área, ocorrem afloramentos rochosos e em algumas áreas
limitadas, espacialmente, encontram-se os Neossolos Litólicos. Esses solos são
caracterizados como solos minerais, não hidromórficos, pouco desenvolvidos e
rasos, com drenagem que varia de moderada a acentuada e muito baixa fertilidade
natural. Suas limitações estão relacionadas à pedregosidade, rochosidade, pequena
profundidade, deficiência de água, além da alta susceptibilidade à erosão.
O tálus da Chapada do Araripe corresponde à inclinação abaixo da
cornija, a partir da linha de contato da camada resistente com a tenra. Sua
nomenclatura é relativa à declive (Figura 34). É formado de detritos rolados da
encosta pela gravidade. Corresponde a uma vertente bem regulada, que depende
do entalhe e da densidade das partículas. Quanto maior o diâmetro médio dos
elementos rolados maior será o declive, que em geral, varia em torno de 35
°
(PENTEADO, 1980).
Essa feição inclui as unidades litológicas das Formações Arajara (siltitos,
argilitos, arenitos finos argilosos e/ou caulínicos) e da Formação Santana (calcários
laminados com intercalações de folhelhos, siltitos, margas e gipsitas).
Apresenta um relevo sub-horizontal, parcialmente dissecado com declives
suaves, e boas condições hídricas de águas superficiais e subterrâneas.
FIGURA 34 - Vista do tálus da Chapada do Araripe próximo ao sítio Luanda na cidade do
Crato.
FONTE: Peulvast, J.P. (fev/2006)
Tálus
Predomina nessa área uma associação dos Latossolos Vermelho-
Amarelos e Argissolos Vermelho-Amarelos.
Os Latossolos Vermelho-Amarelos (álicos ou distróficos) são solos
espessos na superfície de cimeira. Ocorrem em áreas com relevo plano e suave
ondulado.
Apresentam boas condições físicas, como profundidade, porosidade,
textura e drenagem. Suas limitações estão relacionadas às propriedades químicas
desfavoráveis devido à baixa saturação por bases, acidez elevada, toxidez por
alumínio trocável e baixa disponibilidade de água. Geralmente, são utilizados para o
cultivo de culturas de subsistência, como a mandioca e o milho, as fruteiras e
hortaliças, entre outros.
Os Argissolos Vermelho-Amarelos caracterizam-se como solos profundos
a moderadamente profundos, raramente rasos, geralmente bem drenados e
porosos. Apresentam textura arenosa-argilosa e o moderadamente ácidos, com
média a alta fertilidade natural. Suas limitações estão relacionadas às dificuldades
para mecanização devido à pedregosidade, à susceptibilidade, aos processos
erosivos nas áreas serranas devido aos declives do relevo, e à deficiência de água
no período seco.
Essa associação litológica é recoberta por mata sub-úmida e seca.
Porém, em algumas áreas essas formações vegetais encontram-se parcialmente
degradadas, em virtude das ocupações e usos diferenciados nesse ambiente,
caracterizados pelo desenvolvimento da pecuária extensiva, do agroextrativismo, da
agricultura de subsistência, da implantação de sítios urbanos, e de atividades de
turismo e de lazer.
Quanto às formas atuais de uso e ocupação da terra nesse espaço,
predominam propriedades rurais cercadas por pequenos sítios de antigos moradores
que cultivam plantações de arroz irrigado, milho, feijão e fruteiras - especialmente a
banana - desenvolve-se, ainda, a pecuária extensiva e atividades ligadas ao turismo
e ao lazer como a implantação de clubes e balneários recreativos nas áreas de
nascente dos principais rios da região. Observa-se também nessa área muitas
construções luxuosas de casas e condomínios residenciais, principalmente nas
imediações das estradas dos bairros Granjeiro e Lameiro, que levam em direção
para a escarpa da Chapada do Araripe (RIBEIRO, 1997).
SERTÕES DO CARIRI CEARENSE
Os Sertões do Cariri Cearense (ou Pediplano) são formados por litotipos
variados do embasamento cristalino e por coberturas coluviais Tércio-Quaternárias.
Apresenta-se como uma superfície dissecada de exumação, próxima aos rebordos
setentrionais da Chapada do Araripe, com escoamento superficial intermitente
sazonal e padrão dentrítico (Figura 35).
Crato
Sertão do Cariri Cearense
FIGURA 35 - Vista parcial do Sertão do Cariri Cearense focalizada a partir do Distrito do
Belmonte (Crato), na subida da encosta da Chapada do Araripe. Ao fundo, observa-se a
Serra de São Pedro.
FONTE: Peulvast, J.P. (fev/2006)
Predomina, nessa feição, uma associação dos solos Argissolos Vermelho-
Amarelos com os Neossolos Litólicos.
Os Argissolos Vermelho-Amarelos caracterizam-se como solos profundos
a moderadamente profundos, raramente rasos, geralmente bem drenados e
porosos. Apresentam textura arenosa-argilosa e o moderadamente ácidos, com
média a alta fertilidade natural. Suas limitações estão relacionadas às dificuldades
para mecanização devido à pedregosidade, à susceptibilidade, aos processos
erosivos nas áreas serranas devido aos declives do relevo, e à deficiência de água
no período seco.
Os Neossolos Litólicos correspondem a solos minerais, não hidromórficos,
pouco desenvolvidos e rasos, com drenagem variando de moderada a acentuada e
fertilidade natural muito baixa, conseqüentemente, desfavorável ao uso agrícola.
Apresentam condições físicas desfavoráveis devido à pedregosidade, rochosidade,
deficiência de água e alta susceptibilidade a erosão. São utilizados com plantações
de bananas, entre outras espécies frutíferas.
Essas associações de solos o revestidas pela mata seca e pela
caatinga, entrecortados pela mata ciliar dos vales fluviais, as quais se encontram
antropizadas devido aos desmatamentos e queimadas para a agropecuária e/ou
instalação de sítios urbanos. Nessa área localiza-se a sede do município do Crato.
Também se encontra nessa área, restrita ao Vale do Cariri, a Formação
Rio da Batateira. Esta unidade é composta por arenitos fluviais médios a grosseiros,
gradando, ascendentemente, para arenitos médios a finos, siltitos argilosos bem
estratificados, e encerrando numa secção de folhelhos negros, orgânicos,
fossilíferos, denominda “Camada Batateira”.
Essa aflora a leste da cidade do Crato, na vila da Batateira, até a serra da
Mãozinha, entre as cidades de Barbalha e Missão Velha. Daí, sua área de exposição
se reduz, e, contornando a Chapada do Araripe, estende-se em direção ao sul, nas
proximidades do município de Jardim, onde diminui e desaparece completamente.
PLANÍCIE FLUVIAL DO RIO DA BATATEIRA
A planície fluvial do Rio da Batateira corresponde às áreas planas,
resultantes da acumulação fluvial, sujeitas às inundações periódicas que bordejam
as calhas desse rio, atingindo um alargamento considerável nos baixos vales
(Figura 36).
Nessa geofácie ocorrem os Neossolos Flúvicos e, em algumas áreas
espacializadas, manchas isoladas dos Vertissolos Ebânicos.
Os Neossolos Flúvicos são solos pouco desenvolvidos, originados de
deposições fluviais recentes e de natureza diversa. Apresentam um horizonte A
superficial diferenciado, assentado sobre o horizonte C, normalmente composto por
uma seqüência de camadas diferenciadas geneticamente entre si. Variam de
moderadamente profundos a muito profundos, com texturas diversas, e drenagem
comumente imperfeita ou moderada.
Possuem elevado potencial para o uso agrícola intensivo, devido às
condições de alta fertilidade, relevo e profundidade. Suas limitações estão
relacionadas à deficiência de água, devido às condições de semi-aridez, riscos de
inundações, quando argilosos, e drenagem deficiente, impossibilitando a
mecanização.
Rio da Batateira
FIGURA 36 - Planície Fluvial do Rio da Batateira, próximo à empresa de água mineral
Serra Bela, no município do Crato. Observa-se o assoreamento na calha do rio, e as áreas
marginais desmatadas, ocupadas por plantações de cana-de-açúcar.
FONTE: Peulvast, J.P. (fev/2006)
Os Vertissolos Ebânicos caracterizam-se como solos argilosos,
medianamente profundos, mal drenados e com problemas de salinização. Suas
limitações estão relacionadas ao teor de umidade, pouca permeabilidade, baixa
capacidade de infiltração e alta erodibilidade, que afetam os níveis da produção
agrícola. Geralmente são utilizados para o cultivo do milho, feijão, arroz, exploração
de carnaubais, oiticica etc., sendo que as áreas não cultivadas são utilizadas pela
atividade da pecuária.
Ressalta-se que esses solos não foram cartograficamente representados no
mapa morfopedológico, devido à escala utilizada não contemplar os níveis
necessários para visualizar as áreas de ocorrência dessa unidade pedológica.
Esses solos são revestidos por matas ciliares, onde a predominância da
carnaúba. Salienta-se que essa vegetação se encontra, parcialmente, degradada em
função dos desmatamentos e queimadas que ocorrem em determinadas áreas.
As principais limitações desta área são os problemas de salinização dos
solos, as inundações periódicas e as deficiências das condições de drenagem. Parte
do município do Crato está situada no baixo terraço fluvial dos Rios da Batateira e
Granjeiro, o que acarreta nos períodos chuvosos problemas de inundações e
enchentes.
Na área de estudo, essas áreas são exploradas através do extrativismo
mineral e vegetal, pecuária extensiva, agricultura irrigada e plantações de cana-de-
açúcar etc, tais atividades têm contribuindo para a degradação desse recurso
ambiental.
Quadro 05 - Geossistemas e Geofáceis do Alto Curso da Microbacia do Rio da Batateira (Crato/Ce)
Geossistema Geofácies
Geologia
(Litoestratigrafia)
Geomorfologia Hidroclimatologia Solos
Cobertura Vegetal/Uso e
Ocupação da Terra
PLATÔ ORIENTAL
Grupo Araripe:
- Formação Exu: Capeamento
sedimentar da Chapada do Araripe,
onde predomina uma seqüência de
arenitos amarelo-avermelhados
friáveis, argilosos, caulínicos de
granulometria, variáveis com níveis de
leitos intercalados de arenitos
grosseiros a conglo-meráticos,
estratificação plano-pararela e
cruzada e intercalações caulínicas e
siltíticas.
- Superfície de relevo
tabular elevada
coincidente com a
estrutura concordante
horizontal;
- Apresenta altitude
média entre 880 - 960
metros.
- Clima sub-úmido;
- Precipitações
médias anuais
acima de 900 mm
(entre os meses de
dezembro e maio);
- Ausência de
escoamento
superficial;
- Médio potencial
de águas
subterrâneas
profundas.
-
Latossolos Vermelho -Amarelos
(álicos ou distróficos): solos
espessos na superfície de
cimeira; apresentam boas
condições de drenagem; baixa
saturação por bases; acidez
elevada; toxidez por alumínio
trocável.
- Cerrado: vegetação de
porte médio com árvores
esparsas e clareiras;
- Cerradão: predominam
árvores de porte elevado
com características
perenifólias; fisionomia
original; floresta densa e
fechada com extensa área
inserida na FLONA;
- Uso: Agroextrativismo;
Unidades de Conservação.
CHAPADA
DO
ARARIPE E
PATAMAR DO
ENTORNO
VERTENTE ORIENTAL DA CHAPADA DO ARARIPE
(ENCOSTA)
Grupo Araripe:
- Formação Exu: seqüência de
arenitos amarelo-avermelhados
friáveis, argilosos, caulínicos de
granulometria variáveis com níveis de
leitos intercalados de arenitos
grosseiros a conglo-meráticos,
estratificação plano-pararela e
cruzada e intercalações caulínicas e
siltíticas.
- Formação Arajara: composta por
siltitos, argilitos, arenitos finos
argilosos e/ou caulínicos;
- Formação Santana: composta por
calcários laminados com intercalções
de folhelhos, siltitos, margas e
gipsitas.
- Geomorfologicamente
nesse relevo de cuesta
o front é constituído da
pela Cornija e o Tálus.
A Cornija corresponde
ao rebordo erosivo
festonado da Chapada
do Araripe submetido a
processos de
pedimentação; E o
Tálus corresponde a
uma superfície com
relevo subhorizontal;
-Apresenta altitude
média entre 520-880
metros.
- Condições
climáticas sub-
úmidas;
- Precipitações
médias anuais
entre 950 a 1.000
mm (entre os
meses de
dezembro a maio).
- Bom potencial
hídrico de águas
superficiais e
subterrâneas com
a ressurgência de
fontes que drenam
o Cariri Cearense.
- Afloramentos rochosos;
- Neossolos Litólicos: são solos
minerais; não hidromórficos;
pouco desenvolvidos e rasos;
drenagem varia de moderada a
acentuada; fertilidade natural
muito baixa;
- E a associação dos solos:
- Latossolos Vermelho-
Amarelos:
(álicos ou distróficos): solos
espessos na superfície de
cimeira; apresentam boas
condições de drenagem; baixa
saturação por bases; acidez
elevada; toxidez por alumínio
trocável.
- Argissolos Vermelho-
Amarelos: são solos profundos
a moderadamente profundos;
bem drenados; porosos;
fertilidade natural; textura
areno-argilosa;
moderadamente ácidos.
- Mata Úmida/Sub-
Úmida:Predomina o estrato
arbóreo com árvores de
caules retilíneos, espessos,
cobertos por liquens,
orquídeas, samambaias e
bromélias;
- Mata seca: apresenta um
estrato arbóreo-arbustivo,
acompanhado de um estrato
herbáceo somente no
período chuvoso; encontra-
se antropizada.
- Caatinga: arbóreo-
arbustiva;
- Uso: Pecuária extensiva;
Agroextrativismo; Agricultura
de subsistência; Sítios
urbanos; Turismo e Lazer.
FONTE: Adaptado do Relatório Técnico do Zoneamento Geoambiental do Estado do Ceará/ Parte II - Messoregião do Sul Cearense (Inédito),
FUNCEME (2005).
Quadro 05 - Geossistemas e Geofáceis do Alto Curso da Microbacia do Rio da Batateira (Crato/Ce) - (Continuação)
Geossistema Geofácies
Geologia
(Litoestratigrafia)
Geomorfologia Hidroclimatologia Solos
Cobertura
Vegetal/Uso e
Ocupação da Terra
DEPRESSÃO
PERIFÉRICA
MERIDIONAL
SERTÕES DO CARIRI
CEARENSE
- Litotipos variados do
embasamento cristalino e
coberturas coluviais Tércio-
Quaternárias;
- Grupo Araripe:
Formação Rio da Batateira:
composta por bancos de
arenitos fluviais médios
grosseiros, gradando
ascendentemente para
arenitos médios a finos,
siltitos argilosos bem
estratificados e folhelhos
negros, orgânicos e
fossilíferos;
- Superfície dissecada de
exumação próxima aos
rebordos setentrionais da
Chapada do Araripe;
- Apresenta altitude
média entre 440-520
metros;
- Clima semi-árido;
- Precipitações em torno
de 600 mm;
- Escoamento superficial
intermitente sazonal e
com padrão dentrítico;
Associação dos solos:
- Argissolos Vermelho-Amarelos: são
solos profundos a moderadamente
profundos; bem drenados; porosos;
fertilidade natural; textura areno-
argilosa; moderadamente ácidos;
- Neossolos Litólicos: são solos
minerais; não hidromórficos; pouco
desenvolvidos e rasos; drenagem
varia de moderada a acentuada;
fertilidade natural muito baixa;
- Mata Seca:
apresenta um estrato
arbóreo-arbustivo,
acompanhado de um
estrato herbáceo
somente no período
chuvoso; encontra-se
antropizada.
- Caatinga Arbórea
antropizada;
- Uso: Agropecuária e
Sítios urbanos (sede
do Crato);
VALES ÚMIDOS
DO
CARIRI
CEARENSE
PLANÍCIE FLUVIAL
DO RIO DA
BATATEIRA
- Aluvião: formado por
cascalhos e areias com
granulação variada,
localmente com
concentração de argila.
- Planície Aluvial: formas
de acumulação
decorrentes da ação
fluvial com deposição de
sedimentos aluviais;
apresentam larguras
expressivas em função
do regime fluvial
favorecido pela
alimentação de fontes
oriundas da Chapada do
Araripe, originando os
vales de fundo chato com
largas planícies fluviais;
- Apresenta altitude
média entre 400-440
metros.
- Clima sub-úmido;
- Precipitações médias
anuais em torno de 800-
1.100 m;
- Os vales úmidos
margeiam os cursos
d’água que drenam
alguns setores do sopé
da Chapada do Araripe
no Cariri Cearense;
- Apresenta drenagem
ramificada.
Associação dos solos:
- Neossolos Flúvicos: esses solos
originam-se de deposições fluviais;
não consolidados; variam de
profundos a muito profundos;
apresentam texturas diversas;
drenagem comumente imperfeita ou
moderada; fertilidade natural variável
de baixa a alta;
- Vertissolos Ebânicos: são solos
argilosos a muito argilosos;
medianamente profundos; mal
drenados com problemas de
salinização;
- Mata ciliar
degradada: vegetação
que se desenvolve nos
médios e baixos
cursos dos rios e nas
áreas de inundação
sazonais.
Uso: Extrativismo
mineral (areia e argila)
e vegetal; Pecuária
extensiva; Agricultura
irrigada (milho, feijão,
arroz etc).
FONTE: Adaptado do Relatório Técnico do Zoneamento Geoambiental do Estado do Ceará/ Parte II - Messoregião do Sul Cearense (Inédito),
FUNCEME (2005).
4.2 Potencialidades e limitações sócio-ambientais
As potencialidades e limitações dos recursos naturais da microbacia do
Rio da Batateira foram elaboradas a partir do diagnóstico do meio físico-biótico em
relação às fragilidades dos ambientes e às possibilidades de apropriação dos
recursos naturais. Essas características são importantes para a elaboração do Plano
de Manejo Ambiental da área, o qual visa compatibilizar estrategicamente as
vulnerabilidades ambientais e sociais dos componentes da paisagem, com suas
respectivas potencialidades econômicas e naturais (Quadro 06).
Abaixo, serão descritas as geofáceis da área em análise, com ênfase nas
suas características naturais, potencialidades e limitações sócio-ambientais:
Quadro 06 - Potencialidades e Limitações das Geofáceis na área da Microbacia do Rio da Batateira no Município do Crato/CE.
Geofácies Potencialidades Limitações
Platô Oriental
- Solos espessos;
- Águas subterrâneas;
- Condições climáticas sub-úmidas;
- Área de recarga dos aqüíferos;
- Topografias planas;
- Agroextrativismo e Apicultura;
- Unidades de Conservação;
- Baixa vulnerabilidade à ocupação humana;
- Turismo e lazer;
- Baixa fertilidade dos solos;
- Profundidade dos aqüíferos;
- Baixa capacidade dos solos em manter a
umidade;
- Lixiviação dos solos;
- Recursos hídricos escassos;
- Ausência ou escassez de águas superficiais;
Vertente Oriental da
Chapada do Araripe
(Encosta)
- Condições climáticas sub-úmidas;
- Bom potencial hídrico de águas superficiais e
subterrâneas;
- Solos profundos com alta fertilidade natural
(Argissolos Vermelho-Amarelos);
- Relevo parcialmente dissecado;
- Ressurgência das fontes;
- Agropecuária, agroextrativismo, turismo e lazer;
- Turismo e lazer;
- Declividade acentuada com vertentes íngrimes e
afloramentos rochosos na Cornija, enquanto que
no Tálus:
- As áreas com os Neossolos Litólicos são
desfavoráveis ao uso agrícola;
- Deficiência hídrica no período seco;
FONTE: Adaptado do Relatório Técnico do Zoneamento Geoambiental do Estado do Ceará/ Parte II - Messoregião do Sul Cearense, (Inédito)
FUNCEME (2005).
Quadro 06 - Potencialidades e Limitações das Geofáceis na área da Microbacia do Rio da Batateira no Município do Crato/CE -
(continuação)
Geofácies Potencialidades Limitações
Sertões do Cariri Cearense
- Zona de interflúvios tabulares com relevos de baixa
declividade;
- Solos com fertilidade natural média a alta
(Argissolos Vermelho-Amarelos e Vertissolos);
- Extrativismo vegetal controlado;
- Pecuária;
- Instalação de núcleos urbanos;
- Alta vulnerabilidade à ocupação humana;
- Ocorrência de solos rasos e pedregosos
(Neossolos Litólicos);
- Condições de semi-aridez;
- Irregularidade e escassez de chuvas;
- Baixo potencial dos recursos hídricos;
- Solos degradados;
- Cobertura vegetal antropizada;
Planície Fluvial do Rio da Batateira
- Bom potencial dos recursos hídricos;
- Agricultura irrigada;
- Captação de água;
- Extrativismo mineral e vegetal;
- Baixa vulnerabilidade à ocupação humana.
- Restrições legais para a preservação da mata ciliar;
- Solos com drenagem imperfeita e problemas de
salinização (Vertissolos Ebânicos);
- Ocorrência de solos com fertilidade natural de
baixa a alta (Neossolos Flúvicos);
- Irregularidade pluviométrica;
- Riscos de inundações sazonais;
- Solos com susceptibilidade à erosão;
- Ocupação humana nos baixos níveis de terraços
fluviais;
- Alta vulnerabilidade à poluição e contaminação dos
recursos hídricos superficiais e subterrâneos.
FONTE: Adaptado do Relatório Técnico do Zoneamento Geoambiental do Estado do Ceará/ Parte II - Messoregião do Sul Cearense (Inédito),
FUNCEME (2005).
4.3 Impactos Ambientais
Conforme a Resolução n
°
001/86 do Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA), o impacto ambiental constitui-se em:
Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do
meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das
atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetem: 1) a saúde, a segurança e
o bem-estar da população; 2) as atividades sociais e econômicas; 3) a biota; 4) as
condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e 5) a qualidade dos recursos
ambientais.
Em geral, os impactos ambientais são modificações bruscas no meio
ambiente, que podem ser provocadas por tensores de ordem natural, antrópica ou
da ação conjugada de ambos.
Especificamente na microbacia do Rio da Batateira, pode-se afirmar que
os impactos ambientais resultaram em prejuízos ecológicos e cio-econômicos,
afetando tanto a dinâmica dos componentes naturais paisagísticos, como também a
qualidade de vida da população ribeirinha.
Inicialmente, as alterações nesse espaço foram provocadas pela
implantação da agricultura e da pecuária, e posteriormente pela expansão urbana
desordenada. Essas interferências antrópicas geraram os seguintes impactos
ambientais: desmatamentos e queimadas; caça predatória; poluição hídrica
superficial e subterrânea; deposição e acúmulo inadequados de lixo; consumo
irracional de água; processos de erosão, lixiviação e assoreamentos; uso
indiscriminado de agrotóxicos; retirada ilegal de areia e argila das margens fluviais
entre outros.
A sinopse das correlações entre as formas de uso e ocupação da terra e
os impactos ambientais (causas e conseqüências), na área onde está inserida a
microbacia do Rio da Batateira, está apresentada no Quadro 07.
Quadro 07 - Principais impactos ambientais na área da microbacia do Rio da Batateira, no município do Crato/CE.
IMPACTOS AMBIENTAIS
GEOFÁCIES
FORMAS DE USO E OCUPAÇÃO
DO SOLO
CAUSAS CONSEQÜÊNCIAS
Platô Oriental
- Agroextrativismo;
- Unidades de Conservação;
- Desmatamentos;
- Queimadas;
- Diminuição ou perda da
biodiversidade (fauna e flora nativas);
- Aumento de emissões de gás
carbono na atmosfera;
- Erosão;
Vertente Oriental da
Chapada
do Araripe (Encosta)
Na Cornija a ocupação é inexistente
enquanto no Tálus predominam:
-
Culturas de subsistência;
- Sítios;
- Plantações de banana;
- Loteamentos;
- Casas de veraneio;
- Implantação de indústrias;
- Instalação de clubes recreativos e
balneários;
- Pecuária extensiva;
- Desmatamentos indiscriminados
e queimadas;
-
Introdução de novas espécies da
fauna e flora;
- Uso de fertilizantes agrícolas;
-
Deposição e acúmulo inadequados
de lixo;
-
Desvio das águas das fontes;
-
Poluição da água, do ar e do solo;
- Compactação do solo;
- Redução da fertilidade do solo e da
sua capacidade de infiltração de
água;
- Erosão;
- Lixiviação e assoreamentos;
- Redução ou perda da
biodiversidade;
- Alteração das propriedades físico-
químicas do solo e das águas
superficiais e subterrâneas;
-Proliferação de doenças infecto-
contagiosas.
- Diminuição da vazão das fontes;
FONTE: Magalhães, A. de O., 2006.
Quadro 07 - Principais impactos ambientais na área da microbacia do Rio da Batateira, no município do Crato/CE - (continuação)
IMPACTOS AMBIENTAIS
GEOFÁCIES
FORMAS DE USO E OCUPAÇÃO
DO SOLO
CAUSAS CONSEQÜÊNCIAS
Sertões do Cariri
Cearense
- Área urbana - Sede do Município;
- Culturas de subsistência;
- Plantações de cana-de-açúcar;
- Pecuária extensiva;
- Concentração da zona residencial
e industrial;
- Desmatamentos indiscriminados e
queimadas;
- Aterros para construções;
- Introdução de novas espécies da
fauna e flora;
- Poluição da água e do ar;
- Deposição e acúmulo inadequados de
lixo;
-
Redução ou perda da biodiversidade;
- Redução da fertilidade do solo;
- Erosão;
- Compactação do solo;
- Assoreamento e alargamento do
leito fluvial;
- Alteração das propriedades físico-
químicas do solo e das águas
superficiais e subterrâneas;
Planície Fluvial do
Rio da Batateira
- Extrativismo vegetal (carnaúba,
oiticica);
- Extrativismo mineral;
- Agricultura de subsistência;
- Plantações de cana-de-açúcar;
- Ocupações irregulares nas
margens fluviais;
- Pecuária extensiva.
- Desmatamentos indiscriminados e
queimadas;
- Uso de fertilizantes agrícolas;
- Queimadas;
- Poluição hídrica e do solo.
- Degradação da mata ciliar;
- Processos erosivos;
- Salinização dos solos;
- Assoreamento do leito fluvial;
- Alargamento do leito do rio;
- Alteração das propriedades físico-
químicas do solo e das águas
superficiais e subterrâneas;
- Riscos de inundações e enchentes;
- Aumento da demanda por água
potável.
- Alteração da rede de drenagem
natural do rio.
FONTE: Magalhães, A. de O., 2006.
DESMATAMENTOS E QUEIMADAS
Os desmatamentos e as queimadas ocorrem em toda a extensão da
microbacia do Rio da Batateira, desde a nascente, ao seu encontro com o Rio
Granjeiro, nas imediações da área urbana do Crato. Geralmente, a retirada da
vegetação nativa ocorre para ser destinada ao consumo doméstico; como matriz
energética para fabricação de carvão; uso industrial (indústria de gesso); nas
fábricas de cerâmicas, e para ocupação de terras destinadas ao desenvolvimento de
atividades voltadas para a agropecuária e/ou a expansão urbana (Figura 37).
FIGURA 37 - Desmatamentos e queimadas indiscriminados nas margens do Rio da
Batateira, próximo ao Balneário da Nascente.
FONTE: Magalhães, A. de O. (mar/2006).
Destaca-se que, na microbacia do Rio da Batateira, a cobertura vegetal
representa a melhor expressão sintética dos componentes geoambientais da
paisagem, pois interfere na ação dos processos de intemperismo e de erosão; influi
sobre a temperatura do solo e do ar; interfere na umidade e nas águas correntes e
também sobre os processos morfogenéticos e pedogenéticos.
No Platô Oriental da Chapada do Araripe as evidências de
desmatamentos e queimadas provocam problemas ambientais nas áreas de
nascente dos rios.
Historicamente, essa área foi ocupada para fins de agroextrativismo, e,
em menor escala, para a agricultura de subsistência. Nas áreas agrícolas, a retirada
da cobertura vegetal nativa provocou a compactação do solo, aumentando o
escoamento superficial, e dificultando a infiltração da água que alimenta os aqüíferos
da região. Esse é um dos fatores que resulta na diminuição da vazão das fontes da
Chapada do Araripe, inclusive da Fonte Batateira.
Na Vertente Oriental ou Encosta da Chapada do Araripe, os
desequilíbrios ambientais ocorrem, na maioria das vezes, em função principalmente,
das condições climáticas, tendo a chuva como elemento principal, associada à
topografia, geologia, grau de intemperismo, solo e tipos de uso e ocupação da terra.
Vale destacar que a área da cornija não é ocupada, devido ao seu grau de
declividade na escarpa da Chapada do Araripe.
Na proximidade da nascente do rio, a vegetação natural como, por
exemplo, o babaçu, o coco babão, a macaúba etc., está sendo substituída pelas
culturas de subsistência como feijão, milho etc, e também para a comercialização,
como é o caso das plantações de bananeiras. Bem como por ocupações irregulares
de sítios, chácaras, loteamentos, residências, clubes recreativos, balneários, entre
outros.
Salienta-se que esses usos e ocupações nas áreas de nascente dos rios
são irregulares, conforme consta no Código Florestal Brasileiro, Lei n
°
4.771 de 15
de setembro de 1965 (Figura 38).
FIGURA 38 - Ocupações irregulares com residências de luxo nas imediações da Fonte
Batateira, no sítio Luanda.
FONTE: Magalhães, A. de O. (mar/2006).
Um outro impacto ambiental observado próximo à área da nascente é o
barramento artificial e a canalização irregular do rio, como forma de privatização da
água para irrigação de propriedades rurais, localizadas à montante desse curso
fluvial (Figura 39).
FIGURA 39 - Ocupação irregular com privatização da margem fluvial, barramento artificial e
canalização das águas do Rio da Batateira.
FONTE: Magalhães, A. de O. (mar/2006).
Quanto às ações de desmatamentos indiscriminados, realizados nas
encostas da Chapada do Araripe, essas induzem a ocorrência de processos
erosivos, e conseqüentemente o assoreamento dos cursos d’água, à jusante das
nascentes (VICENTE DA SILVA & PEREIRA, 2005a).
Especificamente na área de estudo, foram identificados os seguintes
processos erosivos: solifluxão, desmoronamentos (movimento de massa) e
escoamento superficial (escoamento concentrado) (COSTA apud MAGALHÃES et.
al., 2003).
A solifluxão corresponde aos movimentos coletivos do regolito em estado
saturado de água, podendo deslocar alguns centímetros ou poucos decímetros por
hora ou dia. Ocorre quando a presença de uma camada impermeável do regolito
impede a penetração da água, provocando a concentração e saturando a camada
sobrejacente. Rompido o limite de fluidez, quantidade de água acima da qual o
terreno se comporta como um líquido, consequentemente ocorre o fluir de uma parte
do regolito pela vertente (CHRISTOFOLETTI, 1980).
Na Figura 40, observa-se o deslocamento de sedimentos e blocos de
arenito originários da Formação Exu, próximo à Fonte Batateira, os quais foram
contidos provisoriamente com estacas de madeira. Esses sedimentos, provenientes
da solifluxão, são responsáveis pelo assoreamento do rio, e também podem
futuramente, comprometer a fonte soterrando-a.
FIGURA 40 - Efeito dos processos erosivos na encosta da Chapada do Araripe, com a
queda de blocos de arenito, pela ação da gravidade, na Fonte Batateira.
FONTE: Magalhães, A. de O. (mar/2006).
Os desmoronamentos que ocorrem nas encostas da Chapada do Araripe
são caracterizados pelo deslocamento rápido de blocos de terra, quando o
solapamento criou um vazio na parte inferior da vertente (CHRISTOFOLETTI, 1980).
As causas dos desmoronamentos podem ser naturais ou antrópicas, mas no
caso de fenômenos naturais como a erosão na base das vertentes, geralmente, está
implicada a participação do homem, rompendo o equilíbrio morfogenético e
acelerando a erosão (PENTEADO, 1980). Na área de estudo, foi observado que
este movimento de massa tem origem, principalmente antrópica, uma vez que
ocorrem nas margens fluviais desmatadas, e também próximo as estradas (COSTA
apud MAGALHÃES et. al., 2003).
O escoamento superficial ocorre durante um evento chuvoso, quando a
capacidade de armazenamento de água no solo é saturada ou quando a capacidade
de infiltração seja exercida. O fluxo que escoa sobre o solo se apresenta, quase
sempre, como uma massa de água com pequenos cursos anastomosados e,
raramente, na forma de um lençol de água, de profundidade uniforme (GUERRA &
CUNHA, 2000).
Esse fluxo de água tem que transpor vários obstáculos, que podem ser
fragmentos rochosos e a cobertura vegetal, os quais fazem diminuir sua energia. A
interação entre o fluxo de água, e as gotas de chuva que caem sobre esse fluxo,
podem aumentar ainda mais a sua energia (GUERRA & CUNHA, 2000).
Nas áreas de encosta, o escoamento se da seguinte maneira: o topo
de encosta é uma zona sem fluxo, que forma uma área sem erosão; a uma distância
crítica do topo, ocorre um acúmulo suficiente de água, onde o fluxo começa; um
pouco mais abaixo da encosta, a profundidade do fluxo aumenta, e ele se torna
canalizado, formando ravinas, que num estágio erosivo mais avançado pode evoluir
para voçorocas (HORTON apud GUERRA & CUNHA, 2000).
De acordo com Guerra & Cunha (2000), a ação das águas nas formas
erosivas de ravinas e voçorocas, que ocorrem nas encostas, depende dos seguintes
fatores controladores: erosividade da chuva, propriedades do solo, cobertura vegetal
e características das encostas.
Um tipo de escoamento superficial observado na área de estudo é o
escoamento concentrado, que ocorre nas áreas sem cobertura vegetal,
preferencialmente no segmento intermediário e na base da encosta. Conforme
Penteado (1980), o escoamento concentrado é um processo areolar e linear, sendo
mais eficaz na erosão das bordas rasas dos vales, por isso é chamado de erosão
lateral.
A intervenção do homem provoca desequilíbrios ambientais, que
conseqüentemente, podem acelerar ou retardar a erosão. Destaca-se que, no
percurso da microbacia do Rio da Batateira, os processos erosivos ocorrem de
forma generalizada, uma vez que esta área passou por profundas transformações
antropogênicas.
De acordo com Christofoletti (1980), a ação morfogenética dos seres
vivos também se faz sentir no modelado das vertentes. As plantas, através das
raízes, provocam o deslocamento de partículas do solo, intensificam as ações
bioquímicas e retiram os nutrientes, ou seja, é a função de desagregação e
empobrecimento.
Verifica-se, na Figura 41, que a cobertura vegetal tende a cair após
perder a sua base de sustentação no solo, em virtude da declividade do terreno na
encosta e da ação dos processos erosivos. Ressalta-se que o acúmulo de matéria
orgânica sobre o solo nessa área é importante, pois o aumenta a sua
fertilidade e permite maior infiltração da água para o lençol subterrâneo, como
também ajuda a protegê-lo contra os efeitos erosivos da ação pluvial e na redução
do escoamento superficial.
Os desmatamentos e queimadas estão alterando o ciclo hidrológico local,
fazendo com que as fontes hídricas subterrâneas localizadas na encosta da
Chapada do Araripe sequem (VICENTE DA SILVA & PEREIRA, 2005b).
FIGURA 41 - Efeitos da declividade e da ação biológica na intensificação dos processos
erosivos na Fonte Batateira.
FONTE: Magalhães, A. de O. (mar/2006).
Em relação à vegetação, um outro impacto ambiental observado na área
de encosta, a barlavento da Chapada do Araripe, é o avanço de espécies vegetais
da mata seca, em áreas originalmente ocupadas pela mata sub-úmida e úmida.
Essas alterações na paisagem geram desequilíbrios ambientais, como por exemplo,
mudanças microclimáticas, que podem afetar o fitoclímax e o pedoclímax na região,
bem como alterar ecologicamente as áreas de ocorrência das comunidades da flora
criptogâmica representada pelas briófitas, pteridófitas etc.
No tálus, que corresponde à parte da base da vertente ou da escarpa
formando a transição entre a cornija e os pedimentos, podem-se observar florestas
de babaçus, com algumas áreas desmatadas e queimadas para a plantação de
milho. Os cocos dos babaçus o retirados nessa área, para serem usados como
combustível nos fornos das padarias do Crato e de Juazeiro do Norte.
As mudanças de uso do solo na Chapada do Araripe, à montante do Rio
da Batateira, influenciam os processos erosivos que alteram a dinâmica no vale
fluvial, incluindo a calha do rio. Por exemplo, os desmatamentos e especulação
imobiliária, que leva a uma expansão residencial desordenada em direção a encosta
da chapada, reduzem a capacidade de infiltração da água, aumentando o
escoamento superficial, promovendo a erosão hídrica nessa área, e fornecendo
assim, um maior volume de sedimentos para a calha fluvial, que pode resultar em
assoreamentos e enchentes.
De acordo com Penteado (1980), num determinado ponto, o rio possui
uma carga limite de secção e uma competência para carregar materiais isolados. Se
a energia da corrente diminui há deposição de uma parte desse material,
começando pelos mais grosseiros. Geralmente, os rios transportam a maior parte da
carga em suspensão, na época das grandes vazões.
À medida que a velocidade da água cresce, propicia o transporte da carga
vinda de montante, dos acréscimos da secção e de fragmentos maiores. Quando a
velocidade da água diminui, a carga é novamente depositada.
O material que pavimenta o leito na secção, move-se para baixo e o leito
é ocupado por novos sedimentos vindos da montante. Durante a fase de vazão
baixa, grande parte da carga em suspensão é depositada, sendo denominada de
aluviões, formando os solos aluviais.
Os solos aluviais margeiam longitudinalmente a calha fluvial, formando as
planícies fluviais. São formados por sedimentos arenosos e argilosos. Após os
desmatamentos nas margens do Rio da Batateira, esses materiais são retirados
ilegalmente para serem utilizados como aterro ou na construção civil,
desrespeitando as faixas legais de Preservação Permanente desse curso fluvial
(
Figura 42).
FIGURA 42 - Materiais carregados pelo Rio da Batateira e depositados no seu leito fluvial.
FONTE: Magalhães, A. de O. (mar/2006).
Ainda na planície fluvial desse rio, no leito médio, verificou-se que a
ausência da vegetação em suas margens, provocou a erosão lateral das paredes do
vale, e conseqüentemente, o seu assoreamento (Figura 43). Em alguns trechos, o
aumento de sedimentos no leito fluvial provocou um decréscimo da sua
profundidade e, buscando ajustar o equilíbrio, o rio foi aumentando a largura através
da erosão de suas margens, modificando assim a sua drenagem superficial natural.
A vegetação de mata ciliar existente nessa área encontra-se bastante
antropizada, pois está sendo gradativamente substituída por culturas agrícolas
diversas, como plantações de banana, mamão etc, somadas às inúmeras
ocupações humanas. As plantações de bananas podem ser observadas facilmente,
próximas à passagem molhada, situada ao longo do curso do Rio da Batateira
(Figuras 44 e 45).
FIGURA 43 - Processos de assoreamento provocados pela retirada da mata ciliar nas áreas
marginais do Rio da Batateira.
FONTE: Magalhães, A. de O. (mar/2006).
FIGURA 44 - Plantações de bananeiras substituindo a vegetação natural nas margens do
Rio da Batateira.
FONTE: Magalhães, A. de O. (mar/2006).
FIGURA 45 Ponte da passagem molhada, localizada num dos vales entalhados do Rio da
Batateira, município do Crato.
FONTE: Magalhães, A. de O. (abril/2006).
As plantações de bananeiras cultivadas nas áreas mais íngremes do
percurso do Rio da Batateira causam intensos processos erosivos, que somados à
ação das chuvas, provocam movimentos de massa e lixiviação do solo com a perda
da matéria orgânica e exposição de material rochoso.
As queimadas sem manejo adequado que ocorrem na área em estudo,
eliminam praticamente toda a matéria orgânica do solo, que é lixiviada pelas águas
superficiais e/ou carreada pela ação dos ventos. É comum na área, durante o
período de estiagem, a ocorrência de incêndios originados pela ação humana. Após
perder-se o controle das queimadas em algumas propriedades, como por exemplo,
no Sítio Fundão por onde passa o Rio da Batateira, o fogo atinge grandes extensões
da vegetação da Chapada do Araripe, comprometendo assim, os ecossistemas
locais e, conseqüentemente a sobrevivência da fauna.
Na área agrícola, a erosão dos solos após os desmatamentos e as
queimadas implica não apenas nas taxas de perda do solo, mas do quanto ainda
está disponível para a agricultura, pois essas áreas no município do Crato são
importantes para a produção agrícola da região.
A ausência da cobertura vegetal na área estudada modificou a
diversidade da composição fisionômica e florística da vegetação original. Gerou
impacto sobre a fauna pela alteração do seu habitat natural e a diminuição das
fontes de alimentos nos ecossistemas, reduzindo a biodiversidade local e
ameaçando várias espécies de extinção.
A exploração extrativista da lenha, sem manejo ambiental adequado,
destinada à fabricação de carvão e uso nos fornos com a queima do calcário, para a
obtenção da cal, tem contribuído de maneira significativa para a ocorrência
indiscriminada de desmatamentos, provocando desequilíbrios ambientais.
A transformação de áreas em pastos causou desmatamentos
generalizados na área de pesquisa. Na pecuária extensiva, a concentração do gado
em algumas áreas marginais do Rio da Batateira provocou a degradação ambiental,
uma vez que o pisoteio do rebanho tem causado a compactação do solo,
dificultando a infiltração da água para o lençol subterrâneo e, também reduzindo a
sua fertilidade natural e, conseqüentemente, diminuindo sua produtividade agrícola.
As plantações de capim para alimentação do gado na planície fluvial do
rio provocaram desmatamentos indiscriminados e contribuíram para acelerar os
processos erosivos nessa área.
No pediplano, ou Sertão do Cariri Cearense, onde se localiza a maior
parte da área urbana do município do Crato, a cobertura vegetal foi desmatada para
fins agropecuários e/ou instalação de sítios urbanos.
Na planície fluvial do Rio da Batateira, a mata ciliar como, por exemplo, os
carnaubais, foi quase que totalmente retirada e/ou substituída pelas plantações de
cana-de-açúcar e culturas de subsistência (arroz, feijão, milho etc.), bem como pelas
construções decorrentes do crescimento urbano.
Nessas áreas, a retirada dos carnaubais para fins de extrativismo vegetal
e/ou para ocupações agro-pastoris modificou a dinâmica natural da planície fluvial.
Disso resultou o assoreamento do rio, com o preenchimento dos canais fluviais,
causando alterações na drenagem, diminuição do fluxo hídrico e,
conseqüentemente, o aumento das taxas de evaporação.
Cita-se, como exemplo dessas transformações paisagísticas, a
urbanização do Bairro Batateira, localizado às margens do Rio da Batateira, onde a
vegetação natural deu lugar às ocupações caracterizadas pelas construções de
moradias e de pontos comerciais (depósitos de construção, postos de gasolina etc.),
instalação da indústria de água mineral Serra Bela, além da construção da ponte e
de estradas pavimentadas que cortam transversalmente o rio, provocando a sua
impermeabilização (
Figura 46).
FIGURA 46 - Ocupações urbanas sobre o Rio da Batateira na vila da Batateira.
FONTE: Magalhães, A. de O. (mar/2006).
Esses impactos ambientais representam fatores determinantes para a
ocorrência de enchentes nas áreas marginais desse canal fluvial, causando riscos
ambientais também à saúde humana.
As enchentes dos Rios da Batateira e Granjeiro, por exemplo, localizados
na área urbana do Crato, têm provocado o favorecimento de doenças infecto-
contagiosas, especialmente aquelas de veiculação hídrica, como a diarréia, hepatite,
meningite, dengue, leptospirose, verminoses, além de viroses indeterminadas e
infecções pulmonares, entre outras. Essas doenças, associadas à falta de
saneamento básico, coleta do lixo e subalimentação, determinam o maior ou menor
grau de incidência dos casos sobre a população ribeirinha.
Essas modificações têm causado profundas alterações nas condições
ambientais originais da paisagem, com conseqüentes prejuízos socioeconômicos
para a população ribeirinha como também para a produtividade agrícola da região.
POLUIÇÃO HÍDRICA SUPERFICIAL E SUBTERRÂNEA
A poluição hídrica do Rio da Batateira, no perímetro urbano do Crato, deve-
se, em grande parte, à contribuição de seus tributários, principalmente do Rio
Granjeiro, cujo percurso estende-se pela zona urbana da referida cidade (Figura
47).
FIGURA 47 - Deposição de lixo nas margens do Rio Granjeiro, principal afluente do Rio da
Batateira, no centro do Crato.
FONTE: Magalhães, A. de O. (mar/2006).
As principais fontes geradoras de poluição hídrica do Rio da Batateira são
principalmente os esgotos domésticos clandestinos e os efluentes de áreas
comerciais e industriais.
De acordo com Dias et. al. (1999), os esgotos domiciliares ou domésticos
são oriundos das residências, sendo compostos basicamente por restos de
alimentos, embalagens plásticas, metal, vidro, papel, papelão, jornais, revistas, entre
outros.
Os resíduos comerciais incluem os poluentes originários de atividades
realizadas em hotéis, mercados, lojas etc, e são compostos basicamente por papel,
papelão e embalagens em geral.
os resíduos industriais são provenientes das atividades industriais
que em geral contêm uma variedade muito grande de materiais e substâncias
tóxicas que não se decompõem. Esses tipos de resíduos representam, muitas
vezes, sérios perigos à saúde pública, pois precisam de acondicionamento,
transporte e destinação especiais.
Ao longo do Rio da Batateira, identificamos em todo o seu trajeto o
acúmulo de agentes poluentes das mais diversas espécies, os quais serão
comentados a seguir:
Na Fonte Batateira, que corresponde à área de nascente do rio, foram
encontrados sacos plásticos, velas, garrafas de vidro, restos de alimentos, latas de
refrigerante, garrafas PET, entre outros, deixados por moradores da região que
utilizam esse espaço nos finais de semana como fonte alternativa de lazer.
Na área agrícola, como as águas do Rio da Batateira são utilizadas para a
irrigação, a poluição hídrica pode contaminar as plantações afetando os alimentos,
os animais e a população ribeirinha.
Verificou-se que a poluição desse recurso hídrico está bastante
concentrada principalmente na área urbana da cidade do Crato, onde existe maior
adensamento populacional, comercial e industrial.
A urbanização desordenada dessa cidade, caracterizada pelo progressivo
aumento da ocupação residencial em bairros periféricos e favelas, sem a devida
estruturação de equipamentos e serviços de saneamento básico, como por exemplo,
abastecimento de água, esgoto, e coleta de lixo, tem contribuído para que a
população jogue os dejetos orgânicos e outros materiais
in natura
, poluindo a
atmosfera, os solos e os recursos hídricos.
O esgoto bruto ou os efluentes de fossas sépticas, lançados diretamente
nos cursos d’água, causam riscos potenciais para o habitat aquático, pois diminuem
o nível de oxigênio dissolvido, causando a contaminação da cadeia alimentar por
bioacumulação, quando da presença de substâncias tóxicas.
Este esgoto que não passa por tratamento, é também um risco potencial
à saúde humana, podendo causar infecções parasitárias, provocadas pelo contato
direto com a matéria fecal; hepatite; doenças gastrointestinais, incluindo a cólera, a
febre tifóide, entre outros.
É importante mencionar que o Bairro Batateira, localizado na zona
periférica do Crato, ou seja, nas margens do Rio da Batateira, possui uma estação
elevatória que recalca os efluentes para as lagoas de estabilização da cidade. No
entanto, atualmente esse sistema encontra-se inoperante, contribuindo assim para
aumentar a poluição desse recurso hídrico (AMORIM, 2003).
Quanto à poluição industrial, na área urbana da cidade do Crato, estão
concentradas algumas indústrias responsáveis pela poluição dos recursos hídricos.
Como a microbacia do Rio da Batateira extrapola os limites do município do Crato,
sendo esse posteriormente denominado de rio Salgadinho, na via de ligação entre
os municípios de Crato e Juazeiro do Norte, foram implantadas indústrias de
cerâmica, alumínios, produtos alimentícios, entre outras, que lançam resíduos
sólidos e líquidos nos cursos d’água. Esses resíduos industriais terminam unindo-se
ao fluxo de águas servidas das residências que também, em parte, é lançado no
sistema de drenagem, comprometendo a qualidade dos recursos hídricos
superficiais e subterrâneos.
Deve-se destacar que a Fábrica de Calçados Grendene Ltda. instalou-se
na área de interflúvio do Rio da Batateira, nas proximidades do Sítio Fundão,
contribuindo para a degradação desse curso fluvial através da poluição do ar, do
solo e das águas. Pois, essa não tem sistema de acondicionamento do lixo gerado
na indústria, e por vezes queima os resíduos a céu aberto.
Ainda, outros focos de poluição do Rio da Batateira são os currais, os
postos de combustíveis, os clubes e balneários localizados nas suas margens, que
despejam os resíduos e detritos no seu leito fluvial.
Em geral, os impactos ambientais negativos dos esgotos estão
relacionados à quantidade de materiais contaminantes contidos nas águas,
caracterizados, principalmente, por sólidos suspensos; sólidos dissolvidos; matéria
orgânica e inorgânica, nutrientes, óleos e graxas; microrganismos patogênicos,
substâncias químicas tóxicas, entre outros.
DEPOSIÇÃO E ACÚMULO INADEQUADOS DE LIXO
A deposição e o acúmulo de lixo nas margens do Rio da Batateira, ocorre
principalmente, na área urbana do Crato, e deve-se às condições precárias ou
inexistentes de saneamento básico e de infra-estrutura.
A ausência desses serviços nas áreas periféricas da cidade, e também na
zona rural, faz com que a população se utilize de formas alternativas, nem sempre
ambientalmente corretas, para se desvencilhar dos resíduos produzidos, jogando-os
em terrenos baldios, nas margens e leitos dos rios, nas estradas e/ou os queimem
em locais impróprios (Figura 48). Ressalta-se que o município do Crato ainda não
tem um aterro sanitário.
FIGURA 48 - Acúmulo de lixo nas margens fluviais do Rio da Batateira, provocando
contaminação hídrica superficial e subterrânea.
FONTE: Magalhães, A. de O. (mar/2006).
Os resíduos sólidos, comumente denominados de lixo, quando não
tratados adequadamente, constituem uma ameaça à saúde blica e ao meio
ambiente, limitando as suas potencialidades econômicas. Eles podem ser
classificados em: resíduos sólidos urbanos, resíduos industriais, resíduos dos
serviços de saúde entre outros.
Em geral, os problemas relacionados à deposição e ao acúmulo de
resíduos sólidos são: a disseminação de enfermidades em pessoas e animais
domésticos a partir do contato com áreas de depósito de lixo; o vento também pode
ser um veículo de transporte de elementos patogênicos e materiais perigosos; os
gases gerados no processo de biodegradação dos “lixões”, além de exalar um odor
desagradável podem conter gases orgânicos voláteis, tóxicos e potencialmente
cancerígenos; a fuligem gerada pela queima dos resíduos a céu aberto pode gerar
problemas respiratórios, entre outros.
Além desses impactos diretos, os solos podem ser afetados a distribuição
de resíduos em áreas abertas e clandestinas, causando a degradação visual da
paisagem.
A deposição e o acúmulo inadequados de lixo podem alterar as
propriedades físico-químicas do solo e das águas superficiais e subterrâneas.
Nos “lixões”, os solos podem ser contaminados por microrganismos
patogênicos, metais pesados, sais e hidrocarbonetos clorados, contidos no
“chorume” (líquido resultante da decomposição do lixo). O grau de contaminação do
solo depende fundamentalmente da sua porosidade, capacidade de troca de íons e
da capacidade de absorver e precipitar os sólidos dissolvidos.
Por exemplo, os solos argilosos e com matéria orgânica possuem maior
capacidade de atenuar os efeitos contaminantes do chorume, em relação aos
arenosos ou sedimentares, desde que respeitada a sua capacidade de absorção,
caso contrário, eles liberarão os poluentes para as águas superficiais e
subterrâneas.
O ar também pode ser contaminado pelos odores indesejáveis que são
gerados a partir da decomposição anaeróbica da massa de lixo au aberto,
exalando o cheiro podre de gás sulfídrico.
Outro sério agravante observado na área de estudo, em relação ao lixo,
foi a falta de conscientização da população em preservar esse manancial hídrico, o
que contribui ainda mais para a sua degradação ambiental.
Portanto, a gestão dos resíduos sólidos, que compreende todas as
medidas adotadas para a prevenção e redução da geração dos resíduos, sua
reutilização, manuseio, tratamento e deposição final adequadas, devem ser
orientados à proteção da saúde humana, manutenção da qualidade de vida e
melhoria das condições ambientais e de conservação dos recursos naturais.
CONSUMO IRRACIONAL DE ÁGUA
O desperdício de água na microbacia do Rio da Batateira ocorre
principalmente na zona rural. Isso se deve principalmente a falta de gestão dos
recursos hídricos na região do Cariri.
Por exemplo, nas áreas agrícolas a irrigação descontrolada das culturas
constitui-se num dos fatores de maior desperdício de água, principalmente através
do uso de aspersores. Na maioria das vezes, o irrigante desconhece a vazão do seu
sistema por aspersão, utilizando uma grande quantidade de água que
posteriormente seevaporada, podendo gerar a salinização dos solos (MACEDO
et.
al., 2004).
No entanto, em alguns trechos da área estudada existem formas
adequadas de irrigação, como, por exemplo, o uso de valas monitoradas por onde a
água escoa e/ou cnicas de gotejamento que servem para umedecer a terra
cultivada, bem como o desvio de rios de forma ecologicamente correta para os
locais de plantio (MACEDO et al, op. cit.).
O consumo irracional de água também ocorre nas áreas próximas às
nascentes do Rio da Batateira, quando suas águas o desviadas, sem controle
ambiental, para as propriedades rurais e para os clubes serranos e balneários
existentes na região (Figura 49).
FIGURA 49 - Águas desviadas do Rio da Batateira, sem controle ambiental, para o
Balneário da Nascente localizado no município do Crato.
FONTE: Magalhães, A. de O. (mar/2006).
USO DE AGROTÓXICOS E FERTILIZANTES NA LAVOURA
Segundo a Lei federal n
°
7.802 de 11 de julho de 1989, em seu artigo 2
°
,
os agrotóxicos são (DIAS et. al., 1999):
Os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos,
destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento
de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou
implantadas, e de outros ecossistemas e também ambientes urbanos, hídricos e
industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de
preservá-la da ação danosa de seres vivos considerados nocivos.
Nas áreas agrícolas é comum o uso indiscriminado de agrotóxicos e
fertilizantes nas margens do Rio da Batateira. A facilidade de compra pelos
produtores rurais, sem receituário agronômico e florestal, e a aparente eficácia
desses produtos têm levado a sua grande utilização na lavoura, provocando uma
aplicação, muitas vezes, não rendável (subdosagem e/ou superdosagem), causando
impactos negativos sobre o meio ambiente e a saúde humana.
Em termos ambientais, o uso de produtos químicos no solo provoca
desequilíbrios iônicos, ou seja, disparidades entre os elementos químicos presentes
no solo, interferindo nas suas propriedades, além de causar acidez e afetar as
relações naturais de equilíbrio entre o solo, as plantas e a fauna. Além disso, esses
produtos químicos estão susceptíveis de serem carregados pelo escoamento das
águas pluviais para os cursos d’água, podendo provocar a contaminação das águas
superficiais e subterrâneas, e, conseqüentemente, afetar a vida aquática e do ser
humano (VICENTE DA SILVA & PEREIRA, 2005b).
No tocante à saúde, as doenças mais comuns que podem ser veiculadas
pelo uso indiscriminado de agrotóxicos são lesões hepáticas, renais, neurotóxicas,
mutagênese, carcinogênese, entre outras.
Ainda, outros problemas ambientais relacionados à prática inadequada do
uso de agrotóxicos nas lavouras são (DIAS et. al., 1999):
- A aplicação incorreta desses produtos por parte dos agricultores, com
dosagem errada, e a não observação aos prazos de carência;
- A reutilização das embalagens como vasilhames de alimentos e de
água;
- A não utilização de equipamentos de proteção individual para o
manuseio e a aplicação dos agrotóxicos;
- A deposição incorreta na natureza dos resíduos sólidos provenientes
dos agrotóxicos, como, por exemplo, as embalagens que provocam a
contaminação do solo, da água, do ar, da fauna e flora, afetando
principalmente a saúde humana, entre outros.
5. SUBSÍDIOS AO ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO DO ALTO CURSO
DA MICROBACIA DO RIO DA BATATEIRA
5.1 Propostas de adequação de uso e manejo ambiental
A região do Araripe, localizada no sul do Estado do Ceará, é dotada de
uma diversidade natural e paisagística que inclui atributos ambientais,
caracterizados pelo patrimônio paleontológico, arqueológico e espeleológico; pelas
reservas hídricas superficiais e subterrâneas, e, especialmente, pelos ecossistemas
naturais com suas peculiaridades específicas.
No entanto, esse potencial ecossistêmico encontra-se ameaçado pelas
diferentes formas de usos e ocupações indiscriminados dos espaços naturais, os
quais têm provocado à degradação ambiental nessa região. Por isso, foram
implantadas nessa área duas Unidades de Conservação: a Floresta Nacional do
Araripe - FLONA ARARIPE e a Área de Proteção Ambiental da Chapada do Araripe
- APA do Araripe. Além dessas unidades ambientais, também se encontram nessa
região as Áreas de Preservação Permanente (APP’s), que correspondem às áreas
de encosta da Chapada do Araripe, incluindo as nascentes dos rios e os olhos
d’água.
Destaca-se que essas unidades de conservação estão abrangidas no
Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), estabelecido
pela Lei Federal n
°
9.985/00.
De acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação
(SNUC), instituído pela Lei n
°
9.985, de 18 de julho de 2000, Capítulo I, Art 2
°
, inciso
I, as Unidades de Conservação correspondem “ao
espaço territorial e seus recursos
ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais
relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação
e limites definidos, sob regime especial de administração ao qual se aplicam
garantias adequadas de proteção”
. Enquanto que as APP’s o definidas de acordo
com Art 2
°
do Código Florestal Brasileiro Lei n
°
4.771, de 15 de setembro de 1965.
É importante salientar que, alguns sistemas e subsistemas
representativos da microbacia do Rio da Batateira, no município do Crato, estão sob
proteção legal, por estarem inseridos nas citadas unidades de conservação e APP’s,
as quais serão descritas a seguir:
A Floresta Nacional do Araripe foi criada pelo Decreto n
°
9.226, de
02/05/1946, no governo de Eurico Gaspar Dutra. Localiza-se entre as coordenadas
7
°
00’ e 7
°
30’ Sul e 39
°
00’ e 39
°
45’ de longitude oeste, na Chapada do Araripe, no
extremo sul do Estado do Ceará. Corresponde a uma área de, aproximadamente,
38.626,32 hectares, abrangendo parte dos municípios de Santana do Cariri, Crato e
Barbalha.
A FLONA ARARIPE tem importância relevante na manutenção do
equilíbrio hidrológico, climático, ecológico e edáfico do complexo sedimentar do
Araripe. Fornece alimento (pequi, cajuí, mangaba, maracujá, peroba etc), energia
(lenha) e remédio (janaguba, barbatimão, faveira etc.), bem como favorece o
desenvolvimento de atividades de educação ambiental, ecoturismo, pesquisa
científica e lazer.
A Área de Proteção Ambiental da Chapada do Araripe - APA Araripe foi
criada pelo Decreto Federal de 04/08/97, abrangendo parte dos territórios do Cea
(47%), Pernambuco (36%) e Piauí (17%). Localiza-se entre 7
°
00’ e 8
°
00’ de latitude
sul e 38
°
30’ e 41
°
00’ de longitude oeste, compreendendo o Topo, a Encosta e parte
do Pediplano da Chapada do Araripe.
Ela corresponde a uma área de 1.063.000 hectares e um perímetro de
2.658,55 km, abrangendo os seguintes municípios: no Estado do Ceará - Missão
Velha, Abaiara, Brejo Santo, Porteira, Jardim, Jati, Pena Forte, Barbalha, Crato,
Nova Olinda, Santana do Cariri, Araripe, Potengi, Campos Sales e Salitre; no Estado
de Pernambuco - Araripina, Trindade, Ouricuri, Ipubi, Exu, Santa Cruz, Bodocó,
Cedro, Moreilândia, Granito e Serrita; e na fronteira com o Estado do Piauí - Padre
Marcos, Simões, Paulistana, Pio IX, Caldeirão Grande e Curral Novo.
Sua criação objetivou a proteção da fauna e da flora ameaçadas de
extinção, a conservação dos remanescentes das matas ciliares, dos leitos naturais
das águas pluviais e das reservas hídricas, bem como a proteção do patrimônio
espeleológico, arqueológico e paleontológico da região do Araripe.
Além disso, na sua implantação procurou-se ordenar as atividades
turísticas ecológicas, científicas e culturais, bem como as atividades sócio-
econômicas, a fim de buscar interromper o processo de degradação ambiental
existente nessa área, através da preservação dos recursos naturais e,
conseqüentemente, da melhoria das condições de vida da população local.
Por isso, em termos legais, a Floresta Nacional do Araripe - FLONA do
Araripe e a Área de Proteção Ambiental da Chapada do Araripe - APA do Araripe,
estão incluídas de acordo com o SNUC (2000) como Unidades de Uso Sustentável.
Nas Unidades de Uso Sustentável, permite-se a exploração do meio
ambiente, de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e
dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos
ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável (SNUC, 2000).
O SNUC (2000) Cap. III, Art. 17 define a Floresta Nacional como uma
área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas que têm como
objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa
científica, com ênfase em métodos para a exploração sustentável de florestas
nativas.
Em relação às Áreas de Proteção Ambiental (APA’s), o SNUC (2000)
Cap. III, Art. 15, as define como áreas, em geral, extensas, com certo grau de
ocupação humana, dotadas de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais,
especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações
humanas, que têm como objetivos básicos proteger a diversidade biológica,
disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos
recursos naturais.
Legalmente, sobre as Áreas de Proteção Ambiental (APA’s), a Resolução
do CONAMA N
°
010, de 14 de dezembro de 1988, estabelece:
Art. 1
°
. As Áreas de Proteção Ambiental (APA’s) são unidades de conservação,
destinadas a proteger e conservar a qualidade ambiental e os sistemas silvestres ali
existentes, visando à melhoria da qualidade de vida da população local e também
objetivando a proteção dos ecossistemas regionais.
Art. 2
°
. Visando atender aos seus objetivos, as APA´s terão sempre um Zoneamento
Ecológico-Econômico.
Parágrafo Único - O zoneamento acima referenciado estabelecenormas de uso,
de acordo com as condições locais bióticas, geológicas, urbanísticas, agropastoris,
extrativistas, culturais e outras.
Art. 4
°
. Todas as APA´s deverão ter ZONA DE VIDA SILVESTRE, nas quais será
proibido ou regulado o uso dos sistemas naturais.
Parágrafo 1
°
. - As Reservas Ecológicas públicas ou privadas, assim
consideradas de acordo com o Decreto Federal n
°
89.336,
de 31 de janeiro de 1984, e outras áreas com proteção
legal equivalente, existentes em Território das APA´s,
constituirão as ZONAS DE PRESERVAÇÃO DE VIDA
SILVESTRE. Nela, serão proibidas as atividades que
importem na alteração antrópica da biota.
Parágrafo 2
°
. - Serão consideradas como ZONA DE CONSERVAÇÃO DA
VIDA SILVESTRE as áreas nas quais poderá ser admitido
um uso demorado e auto-sustentado da biota, regulado de
modo a assegurar a manutenção dos ecossistemas
naturais.
Art. 5
°
. Nas APA´s onde existam ou possam existir atividades agrícolas ou
pecuárias, haverá ZONA DE USO AGROPECUÁRIO, nas quais serão proibidas ou
regulados ou usos ou práticas capazes de causar sensível degradação do meio
ambiente.
Art. 6
°
. Insinua uma ZONA DE MINERAÇÃO (terraplanagem, dragagem e
escavação) desde que não venha causar danos ou degradação do meio ambiente
e/ou perigo para pessoas ou para a biota.
Art. 7
°
. Estabelece que qualquer atividade industrial potencialmente poluidora, além
da licença ambiental do órgão estadual, deverá também ter licença especial emitida
pela entidade administradora da APA. A partir dos vetores: disponibilidades de
matéria-prima, disponibilidade de energia, resiliência dos ecossistemas, natureza
dos resíduos, riscos x benefícios para a população local pode-se propor ZONAS
INDUSTRIAIS.
Art. 8
°
. Trata dos projetos urbanos e o Art. 9
°
dos loteamentos rurais, esses pontos
são importantes para a APA da Chapada do Araripe, ficando patente a necessidades
de uma ZONA DE ACOMODAÇÃO DE EXPANSÃO URBANA.
As Áreas de Preservação Permanente (APP’s), embora não sejam
consideradas como Unidades de Conservação, têm importância relevante para a
região do Araripe, por possuírem atributos ambientais e ecológicos importantes.
Essas áreas foram definidas pelo Código Florestal Brasileiro, Lei n
°
4.771, de 15 de
setembro de 1965, Arts. 2
°
e 3
°
, a seguir:
Artigo 2° - Consideram-se de Preservação Permanente , pelo efeito desta Lei, as
florestas e demais formas de vegetação natural situadas:
a) ao longo dos rios ou de outro qualquer curso d’água desde o seu nível mais alto
em faixa marginal cuja largura mínima seja:
1) de 30 (trinta) metros para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de
largura;
2) de 50 (cinqüenta) metros para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50
(cinqüenta) metros de largura;
3) de 100 (cem) metros para os cursos dágua que tenham 50 (cinqüenta) metros a
200 (duzentos) metros de largura;
4) de 200 (duzentos) metros para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a
600 (seiscentos) metros;
5) de 500 (quinhentos) metros para os cursos d’água que tenham largura superior a
600 (seiscentos) metros;
b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água, naturais ou artificiais;
c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d’água", qualquer
que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinqüenta) metros de
largura;
d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;
e) nas encostas ou partes destas com declividade superior a 45° equivalente a 100%
na linha de maior declive;
f) nas restingas, como fixadoras e dunas ou estabilizadoras de mangues;
g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em
faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;
h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a
vegetação.
Parágrafo único -
No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas
nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e
aglomerações urbanas, em todo o território abrangido, observar-se-á o disposto nos
respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites
a que se refere este artigo.
Artigo - Consideram-se, ainda, de preservação pe rmanente, quando assim
declaradas por ato do Poder Público, as florestas e demais formas vegetação natural
destinadas;
a) a atenuar a erosão das terras;
b) a fixar as dunas;
c) a formar as faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;
d) a auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares;
e) a proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico;
f) a asilar exemplares da fauna ou flora ameaçados por extinção;
g) a manter o ambiente necessário à vida das populações silvícolas;
h) a assegurar condições de bem-estar público.
§ - A supressão total ou parcial de florestas de preservação permanente será
admitida com prévia autorização do Poder Executivo Federal, quando for necessária
à execução de obras, de planos e atividades ou projetos de utilidade pública ou
interesse social.
A resolução do CONAMA
°
303, de 20 de março de 2002, em seu artigo 3
°
, também
trata sobre as Áreas de Preservação Permanente (APP’s), a seguir:
Art. 3
°
- Constitui Área de Preservação Permanente a área:
I - em faixa marginal, medida a partir do nível mais alto, em projeção
horizontal, com largura mínima, de:
a) trinta metros, para o curso d´água com menos de dez metros de
largura;
b) cinqüenta metros, para o curso d´água com dez a cinqüenta metros de
largura;
c) cem metros, para o curso d´água com cinqüenta a duzentos metros de
largura;
d) duzentos metros, para o curso d´água com duzentos a seisentos
metros de largura;
e) quinhentos metros, para o curso d´água com mais de seisentos metros
de largura;
II - ao redor de nascente ou olho d´água, ainda que intermitente, com raio
mínimo de cinqüenta metros de tal forma que proteja, em cada caso, a bacia
hidrográfica contribuinte;
III - ao redor de lagos e lagoas naturais, em faixa com metragem mínima
de:
a) trinta metros, para os que estejam situados em áreas urbanas
consolidadas;
b) cem metros, para os que estejam em áreas rurais, exceto os corpos
d´água com até vinte hectares de superfície, cuja faixa marginal será de
cinqüenta metros;
IV - em vereda e em faixa marginal, em projeção horizontal, com largura
mínima de cinqüenta metros, a partir do limite do espaço brejoso e encharcado;
V - no topo de morros e montanhas, em áreas delimitadas a partir da
curva de nível correspondente a dois terços da altura mínima da elevação em
relação à base;
VI - nas linhas de cumeada, em área delimitada a partir da curva de nível
correspondente a dois terços da altura, em relação à base, do pico mais baixo da
cumeada, fixando-se a curva de nível para cada segmento da linha de cumeada
equivalente a mil metros;
VII - em encosta ou parte desta, com declividade superior a cem por cento
ou quarenta e cinco graus na linha de maior declive;
VIII - nas escarpas e nas bordas dos tabuleiros e chapadas, a partir da
linha de ruptura em faixa nunca inferior a cem metros em projeção horizontal no
sentido do reverso da escarpa;
IX - nas restingas:
a) em faixa mínima de trezentos metros, medidos a partir da linha de
preamar máxima;
b) em qualquer localização ou extensão, quando recoberta por vegetação
com função fixadora de dunas ou estabilizadora de mangues;
X - em manguezal, em toda a sua extensão;
XI - em duna;
XII - em altitude superior a mil oitocentos metros, ou em estados que não
tenham tais elevações, a critério do órgão competente;
XIII - nos locais de refúgio ou reprodução de aves migratórias;
XIV - nos locais de refúgio ou reprodução de exemplares da fauna
ameaçadas de extinção que constem de lista elaborada pelo Poder Público,
Estadual ou Municipal;
XV - nas praias, em locais de nidificação e reprodução da fauna silvestre.
Diante do exposto, em termos legais, para a preservação e/ou
conservação da biodiversidade na região do Araripe, faz-se imperiosa a elaboração
do Zoneamento Geoambiental da área estudada, visando a delimitação dos espaços
naturais, cujos atributos ambientais merecem, por sua relevância, atenção especial.
O Zoneamento Ambiental constituiu-se numa ferramenta fundamental
para o ordenamento territorial da área em questão, uma vez que a partir desse,
elaborou-se o diagnóstico das potencialidades e limitações dos recursos naturais
locais, identificou-se os impactos ambientais que ocorrem nas unidades
individualizadas, mas não homogêneas, possibilitando o estabelecimento de
orientações e diretrizes para um melhor uso e ocupação do solo, visando contribuir
para o desenvolvimento sustentável dessa região (BRANDÃO, 2003).
Também se considerou como critérios fundamentais para o
estabelecimento das zonas, o estado de conservação dos recursos naturais
renováveis, as condições de uso e ocupação de cada zona e sua identidade
geoambiental, fundamentada no critério geomorfológico.
É importante destacar nessa pesquisa que, para a elaboração da
proposta de Zoneamento Geoambiental da área estudada, adotar-se-ão os
conceitos estabelecidos pelo o SNUC (2000) para as Zonas de Conservação e de
Preservação Ambiental.
Nesse sentido, entende-se por Conservação da Natureza o manejo do
uso humano dos recursos naturais, compreendendo a preservação, a manutenção, a
utilização sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente natural, para que
possa produzir o maior benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações,
mantendo o seu potencial de satisfazer as necessidades e aspirações das gerações
futuras, e garantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral.
Enquanto que a Preservação refere-se ao conjunto de métodos,
procedimentos e políticas que visem a proteção, em longo prazo, das espécies,
habitats e ecossistemas, além da manutenção dos processos ecológicos,
prevenindo a simplificação dos sistemas naturais (SNUC, 2000).
Assim, com base na Legislação Ambiental pertinente às Unidades de
Conservação e as APP’s; no Zoneamento Ambiental da Área de Proteção Ambiental
da Chapada do Araripe - PROJETO ARARIPE (1998); no Zoneamento Ecológico-
Econômico do Estado do Ceará - Região do Alto e dio Jaguaribe (1999); e no
Zoneamento Ecológico-Econômico: diretrizes metodológicas para o zoneamento
ecológico-econômico do Brasil (2001), elaboramos uma proposta de Zoneamento
Geoambiental para o Alto Curso da Microbacia do Rio da Batateira, no Município do
Crato/CE, considerando-se as características do meio físico, biótico, cultural,
aspectos socioeconômicos, institucionais e legais de cada sistema e subsistema
ambiental.
Assim, especificamente para a área de estudo, foram propostas nessa
pesquisa, as seguintes zonas:
1 - ZONA DE USO SUSTENTÁVEL DO PLATÔ ORIENTAL DA CHAPADA DO
ARARIPE
A delimitação dessa zona visa conciliar a conservação da natureza com o
uso sustentável dos recursos naturais no Platô Oriental da Chapada do Araripe,
incluídos na Floresta Nacional do Araripe - FLONA e na Área de Proteção Ambiental
da Chapada do Araripe - APA do Araripe.
As formas atuais de uso e ocupação da terra nessa área são
caracterizadas principalmente pelo agroextrativismo, por atividades ligadas ao
turismo e lazer, bem como para o desenvolvimento de pesquisas científicas.
A seguir, algumas recomendações como estratégias de uso para a
melhoria das condições ambientais nessa zona:
Reflorestar com espécies nativas as áreas degradadas atingidas pelos
desmatamentos e queimadas indiscriminados;
Exploração das espécies da flora para fins alimentícios e medicinais,
desde que respeitadas as normas da legislação ambiental para a
exploração extrativista;
Introduzir espécies nativas da fauna local, após a recuperação das
condições naturais dos ecossistemas existentes na região;
Elaborar e aplicar Planos de Manejo Ambiental, visando adequar o uso
sustentável à conservação dos recursos naturais;
Fomentar o desenvolvimento de planos de produção agrícola, visando
o fortalecimento econômico dessa região, com atividades produtivas
adaptadas às condições locais;
Desenvolver estudos etnobotânicos e ecológicos nessa área;
Incentivar a criação de planos de comercialização dos produtos de
extração vegetal;
Investir em planos de capacitação humana que possibilitem a
reciclagem e o aperfeiçoamento dos produtores locais para o
desenvolvimento das operações produtivas, comerciais e sociais;
Definir áreas de produção de mel através de incentivos à apicultura;
Fomentar a pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental
com vistas ao desenvolvimento de novos modelos de exploração
econômica, através da utilização de práticas conservacionistas;
Incentivar o turismo sustentável e as atividades de lazer;
Desenvolver ações de capacitação em manejo sustentável para o uso
múltiplo da biodiversidade;
Incentivar a organização social e cidadania, através do associativismo e
cooperativismo;
Exigir dos órgãos competentes o serviço de coleta seletiva do lixo;
Aplicar a legislação ambiental quanto ao uso e ocupação dessa zona;
Respeitar as normas de uso e ocupação do solo, contidas no Plano
Diretor de Desenvolvimento Urbano da Cidade do Crato;
Estimular a formação de uma consciência ecológica junto aos
produtores e seus familiares, visando equilibrar o desenvolvimento
econômico e a conservação da natureza;
Proteger os recursos naturais necessários à subsistência das
populações tradicionais, respeitando e valorizando o seu conhecimento
e a sua cultura.
2 - ZONA DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DA VERTENTE ORIENTAL OU
ENCOSTA DA CHAPADA DO ARARIPE
A delimitação dessa zona objetiva a preservação e manutenção da
cobertura vegetal nas áreas de encosta e bordas da Chapada do Araripe (PROJETO
ARARIPE, 1998). Essa área inclui a cornija e o tálus.
Na cornija, o ocupação humana, devido ao seu grau de declividade
acentuado. No tálus, as formas atuais de uso e ocupação da terra são
caracterizadas por atividades florestais com fins madeireiros, agricultura, pecuária
extensiva, expansão urbana desordenada, exploração de espécies vegetais e
animais em ameaça de extinção, atividades de turismo, lazer, entre outras.
A seguir, algumas recomendações como estratégias de uso para a
melhoria das condições ambientais na zona do tálus:
Reflorestamento e recomposição florística dessa zona, com espécies
nativas da região;
Desenvolvimento da agricultura e pecuária, excluindo as áreas com
declividades superiores a 45
°
;
Desenvolvimento de pesquisas científicas com a flora e a fauna locais,
sendo estas devidamente autorizadas pelos órgãos ambientais
competentes;
Desenvolvimento do turismo ecológico com cnicas adequadas que
não causem impactos ao meio ambiente;
Licenciamento e fiscalização dos balneários existentes nessa área,
evitando a sua expansão, em obediência às normas da legislação
ambiental;
Fiscalização das ocupações humanas implantadas, desde que não
comprometam a qualidade ambiental e paisagística dessa zona;
Aplicar a legislação ambiental quanto ao uso e ocupação dessa zona;
Elaboração de um Plano de Manejo Ambiental;
Respeitar as normas de uso e ocupação do solo, contidas no Plano
Diretor de Desenvolvimento Urbano da Cidade do Crato.
3 - ZONA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL DA PLANÍCIE FLUVIAL DO RIO DA
BATATEIRA
A delimitação dessa zona é de fundamental importância para a
manutenção da diversidade biológica dos ecossistemas naturais e dos recursos
hídricos locais, os quais envolvem as áreas de captação e reserva dos aqüíferos,
bem como do entorno imediato das calhas fluviais revestidas pela mata ciliar, ambas
incluídas nas Áreas de Preservação Permanente - APP’s.
As formas atuais de uso e ocupação da terra nessa área são
caracterizadas pelo extrativismo mineral (areia e argila) e vegetal, pecuária
extensiva, agricultura, expansão urbana desordenada, entre outras.
A seguir, algumas recomendações como estratégias de uso para a
melhoria das condições ambientais nessa zona:
Recuperar as áreas degradadas com o reflorestamento das matas
ciliares, e preservação da cobertura vegetal nas áreas de captação dos
aqüíferos e das fontes naturais;
Realizar o manejo integrado e gestão dos recursos hídricos locais;
Introduzir espécies nativas da fauna local;
Proteger as espécies da fauna e da flora ameaçadas de extinção;
Monitorar a qualidade das águas superficiais e subterrâneas para o
controle da poluição hídrica;
Controlar a emissão de efluentes domésticos, industriais, hospitalares
etc., ao longo o rio;
Implantar sistemas de saneamento básico nas comunidades
adjacentes à planície fluvial;
Exigir dos órgãos competentes o serviço de coleta seletiva do lixo;
Realizar a manutenção funcional dos ecossistemas ribeirinhos;
Incentivar a pesca artesanal;
Implantar o desenvolvimento de programas e ações de educação
ambiental, que visem conscientizar a população para o uso racional
dos recursos hídricos;
Fomentar o desenvolvimento de pesquisas científicas;
Estimular a criação de parques nas Unidades de Proteção Ambiental,
em zonas especiais, objetivando proteger e preservar remanescentes
dos ecossistemas ali existentes;
Aplicar a legislação ambiental quanto ao uso e ocupação dessa zona;
Elaboração de um Plano de Manejo Ambiental;
Respeitar as normas de uso e ocupação do solo, contidas no Plano
Diretor de Desenvolvimento Urbano da Cidade do Crato.
4 - ZONA USO SUSTENTÁVEL DA PLANÍCIE FLUVIAL DO RIO DA BATATEIRA
A delimitação dessa zona, objetiva ordenar o uso e a ocupação da terra
no subsistema ambiental da planície fluvial do Rio da Batateira, visando
compatibilizar o uso sustentável e a conservação dos recursos naturais locais.
As formas atuais de uso e ocupação da terra nessa área são
caracterizadas pelo extrativismo vegetal (carnaúba, oiticica etc.), extrativismo
mineral, agricultura, pecuária e expansão urbana desordenada.
A seguir, algumas recomendações como estratégias de uso para a
melhoria das condições ambientais nessa zona:
Reflorestar as áreas desmatadas e queimadas, protegidas pela
legislação ambiental com espécies vegetais nativas, com potencial
alimentício, medicinal e/ou paisagístico;
Controlar as inundações e enchentes locais, através da recuperação da
mata ciliar;
Controlar o desenvolvimento das atividades agropecuárias e
agroextrativistas;
Impedir a expansão de atividades de extração mineral, que causem
impactos ambientais, e regulamentar as atividades existentes,
aprovadas pelos órgãos ambientais competentes, sendo que estas
deverão ser condicionadas ao compromisso de recuperação das áreas
degradadas;
Controlar o uso de agrotóxicos e fertilizantes na lavoura;
Usar práticas conservacionistas respeitando as características dos
ecossistemas locais;
Controlar a expansão urbana nos baixos níveis de terraços fluviais;
Monitorar a qualidade das águas superficiais e subterrâneas para o
controle da poluição hídrica;
Controlar a emissão de efluentes domésticos, industriais, hospitalares
lançados no rio;
Indicar restrições quanto a instalações de lixões em áreas próximas aos
mananciais hídricos;
Implantar sistemas de saneamento básico e abastecimento de água
tratada;
Exigir dos órgãos competentes o serviço de coleta seletiva do lixo;
Coibir a implantação de qualquer atividade que cause problemas
ambientais;
Incentivar e desenvolver a criação de programas de educação
ambiental que visem conscientizar a população para o uso racional dos
recursos hídricos;
Aplicar a legislação ambiental quanto ao uso e ocupação dessa zona;
Respeitar as normas de uso e ocupação do solo, contidas no Plano
Diretor de Desenvolvimento Urbano da Cidade do Crato.
5 - ZONA DE EXPANSÃO URBANA
A delimitação dessa zona é importante para a organização e o controle da
expansão urbana do município do Crato e adjacências. Essa zona refere-se aos
espaços ocupados por assentamentos urbanos como por exemplo residências,
estabelecimentos comerciais e industriais, áreas de invasão recentes, e antigas
áreas de ocupação, que em função do tempo de uso fixaram-se permanentemente.
A seguir, algumas recomendações como estratégias de uso para a
melhoria das condições ambientais nessa zona:
Disciplinar o parcelamento do solo urbano, controlando sua expansão
em direção às áreas de menor vulnerabilidade ambiental;
Vincular a aprovação de loteamentos na área urbana à implantação do
saneamento básico e condições de infra-estrutura;
Recuperar áreas degradadas pelas atividades agropastoris, pelos
lixões e ocupações humanas desordenadas implantadas nesse espaço,
visando reduzir os impactos ambientais sobre o meio ambiente;
Fomentar a arborização urbana, aumentando as áreas verdes na
cidade, visando melhorar as condições ambientais locais;
Estabelecer exigências quanto à instalação de equipamentos para
tratamento de efluentes e emissão de gases na atmosfera pelas
fábricas e indústrias locais, objetivando evitar a poluição da água, do
solo e do ar;
Definir áreas, ambientalmente corretas, para a disposição e tratamento
de efluentes sanitários e resíduos sólidos domésticos e industriais,
desde que elas não ponham em risco a salubridade das águas
superficiais e subterrâneas;
Desenvolver estudos e adaptar tecnologias direcionadas à captação,
ao tratamento e ao equacionamento do uso da água;
Implementar mecanismos para avaliação e monitoramento sistemático
da qualidade das águas utilizadas pela população;
Desenvolver, através da elaboração de programas de educação
ambiental que possam ser aplicados nas escolas, o conhecimento dos
ecossistemas locais, da degradação e recuperação ambiental;
Aplicar a legislação ambiental quanto ao uso e ocupação dessa zona;
Respeitar as normas de uso e ocupação do solo, contidas no Plano
Diretor de Desenvolvimento Urbano da Cidade do Crato.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na Análise Ambiental do Alto Curso da Microbacia do Rio da Batateira,
localizado no município do Crato/CE, observou-se que apesar da importância
ambiental e sócio-econômica dos espaços naturais e territoriais locais, essas áreas
apresentam níveis consideráveis de transformação e antropização ambiental. Isso
ocorre principalmente, nas unidades ecossistêmicas localizadas próximas à sede da
zona de expansão urbana do referido município, embora parte dessa área esteja
inserida legalmente nas Unidades de Conservação da Floresta Nacional do Araripe -
FLONA ARARIPE e na Área de Proteção Ambiental da Chapada do Araripe - APA
do Araripe, ou ainda nas áreas de influências desses espaços.
Diante da complexidade do mosaico paisagístico da área estudada, foram
delimitados e caracterizados os geossistemas e geofáceis locais, adotando-se os
critérios geomorfológico e morfopedológico, relacionados com as demais condições
naturais e relações mútuas entre essas. Sendo assim, essa área foi
compartimentada nas seguintes sub-unidades geoambientais: Platô Oriental,
Vertente Oriental da Chapada do Araripe (Encosta), Sertões do Cariri Cearense e
Planície Fluvial do Rio da Batateira.
A partir da caracterização geoambiental desses componentes
paisagísticos, fez-se uma análise dos principais impactos ambientais ocorridos
nesse espaço geográfico, os quais são responsáveis pelas transformações
paisagísticas
in loco
. Em seguida, realizamos uma análise das potencialidades e
limitações ambientais desses espaços, considerando-se suas vulnerabilidades e
respectivas possibilidades de uso e manejo adequado dos recursos naturais.
Nesse estudo, constatou-se que as modificações paisagísticas nessas
áreas são provocadas principalmente pelas intervenções antropogênicas,
resultantes das formas diferenciadas de uso e ocupação da terra e da exploração
predatória dos recursos naturais.
As evidências de degradação ambiental na microbacia do Rio da
Batateira se exibem através de condições muito variadas, que podem ser
caracterizadas pelos desmatamentos e queimadas indiscriminados; aceleração dos
processos erosivos; uso indiscriminado de agrotóxicos e fertilizantes na lavoura;
acúmulo e deposição inadequada de lixo nas margens fluviais; poluição dos
recursos hídricos superficiais e subterrâneos e da alocação irregular de água para
propriedades rurais e balneários da região dentre outros.
Tais impactos ambientais têm como conseqüências imediatas a
diminuição ou perda da biodiversidade; compactação do solo e redução ou perda da
sua capacidade de infiltração da água; redução da fertilidade do solos; salinização
dos solos; incidência de processos de lixiviação e assoreamento do rio; riscos de
inundações e enchentes; alteração das propriedades físico-químicas das águas
superficiais e/ou subterrâneas; alteração da drenagem natural do rio; diminuição da
vazão das fontes, além da proliferação de doenças infecto-contagiosas, as quais
comprometem a qualidade de vida humana e ambiental.
A partir da constatação desses problemas ambientais, ficou evidente a
necessidade da adoção de medidas que visem minimizar e/ou reduzir esses
impactos ambientais.
Portanto, com o intuito de contribuir para o ordenamento territorial e
ambiental dessa região, foram propostas Zonas Geoambientais para o Alto Curso da
Microbacia do Rio da Batateira, com as devidas recomendações para um melhor
aproveitamento e manejo dos recursos naturais nesse curso fluvial, direcionadas
para a implementação de ações, que visem o Desenvolvimento Sustentável.
Ressalta-se que o planejamento integrado de qualquer território deve
tomar como ponto de partida uma base espacial apoiada no zoneamento do
ambiente. Em termos gerais, o zoneamento representa um instrumento
indispensável para harmonizar o crescimento econômico com a necessidade de
conservar e/ou melhorar a capacidade produtiva dos recursos naturais e a qualidade
ambiental dentro dos preceitos do Desenvolvimento Sustentável (SOUZA, 2000).
Vale enfatizar que, o desenvolvimento de ações voltadas para o
planejamento ambiental e urbano da área estudada, possa de alguma forma,
minimizar a ocorrência de impactos ambientais sobre os recursos naturais. Para
tanto, faz-se necessário orientar o uso e ocupação da terra, através do zoneamento
ambiental, a fim de que sejam resguardadas as áreas destinadas à preservação
e/ou conservação ambiental, bem como as áreas de recuperação ambiental.
Acredita-se que, somente através de um plano de ão integrada,
envolvendo parcerias a nível municipal, estadual, federal, universidades, entidades
ambientais, iniciativa privada, comunidades locais e demais representantes da
comunidade civil organizada, poderão se concretizar medidas capazes de orientar
as diretrizes de uma política ambiental voltada para a adequação espacial dessa
paisagem no município do Crato.
Na adoção dessa política ambiental, deverá ser prioritário o delineamento
de um conjunto de instrumentos legais e institucionais, em que o Estado em parceria
com a sociedade civil organizada deverá por em funcionamento. Objetivando incidir
sobre as tendências econômicas, sociais e políticas, visando assim alcançar o
desenvolvimento sustentável nas suas dimensões ambiental, cultural, espacial,
econômica, social e tecnológica.
Ainda ressalta-se que, os planos de manejo para as Unidades de
Conservação existentes na área de pesquisa, deverão ser voltados à preservação
e/ou conservação dos recursos naturais, bem como, ao uso desses recursos para a
pesquisa científica e para a visitação pública na forma de ecoturismo e educação
ambiental, dentro dos espaços pré-estabelecidos por documento legal. Dessa
maneira, é possível assegurar a manutenção do potencial dos elementos naturais
em detrimento das demandas; a conservação em detrimento do uso e manejo
abusivo; e a participação da comunidade, além de garantir obediência aos padrões
legais ambientais.
Finalmente, salienta-se que nossa área de estudo é detentora de um
imenso potencial natural que pode ser incorporado ao desenvolvimento econômico
do município do Crato, tornando-se imprescindível os valores de qualidade de vida
da população e a gestão integrada dos espaços ambientais e territoriais.
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