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presentes, compreendessem o seguinte: a minha eleição é mais do que a eleição de um homem para
presidir este país.
A minha eleição é a consumação de uma história em que eu sou apenas uma peça dessa história. Há
muita gente, mas muita gente mesmo, que teve uma importância tremenda para fazer acontecer o que
aconteceu no Brasil, e essa pessoa possivelmente esteja desempregada, e a gente não sabe que está
desempregada.
Essa pessoa, possivelmente, esteja passando fome, a gente não sabe que está passando fome, ou
muitos companheiros nossos metalúrgicos até já morreram sem que a gente saiba que eles tenham
morrido. Por isso é que eu sempre faço questão de dizer: a minha chegada à Presidência da República
é o resultado do crescimento da consciência política da classe trabalhadora brasileira. O mérito,
portanto, não é pessoal do presidente ou do meu partido, que tem méritos, mas o mérito muito maior é
de uma sociedade que acordou e que resolveu tomar para si a responsabilidade de governar o nosso
país.
E eu, d. Cláudio, tenho, na minha cabeça, cada discurso que fiz na minha vida, eu tenho na minha
cabeça cada compromisso que eu assumi em praça pública, eu tenho na minha cabeça programas de
governo e eu tenho na minha cabeça, d. Cláudio, que, se falhar, quem falhou foi como um pedaço da
história deste país e, possivelmente, iremos passar muitos anos para que a gente possa reconstruir a
esperança que brotou no nosso país.
Eu não me esqueço nunca, e me marca profundamente, 1979. Aqui há muitos companheiros daquela
época e nós tivemos, possivelmente, um dos melhores acordos que o sindicato já fez. E eu tinha
preparado a categoria para uma guerra, não para uma greve. E qualquer que fosse a proposta que não
fosse 100%, os companheiros achavam pouco.
Não sei se d. Cláudio está lembrado, foi a assembléia mais difícil da minha vida, em que cada vez que
alguém tentava falar num acordo, tomava vaia dos trabalhadores. E eu consegui convencer os meus
companheiros a aceitar o acordo, mas foi o ano mais difícil da minha vida, porque os trabalhadores
aceitaram o acordo, mas voltaram para dentro da fábrica com a sensação de que eu tinha traído todos
eles. Uma sensação que a greve deveria ir até as últimas conseqüências. Foi o ano mais duro da
minha vida sindical.
No ano de 1980, eu pensei com meus botões, se os trabalhadores acham que podem levar a greve até o
limite do impossível, vão levar. E vocês estão lembrados que, com 41 dias de greve, a greve terminou
e eu estava preso ainda. E aquela greve foi a greve em que nós mais perdemos economicamente, foi a
greve em que nós ganhamos absolutamente nada. E milhares de trabalhadores foram mandados
embora. Entretanto, o ganho político que nós tivemos naquela greve, resultou na criação do PT,
resultou na criação da CUT e resultou na chegada daquele líder do sindicato à Presidência da
República.
Vocês podem ter a certeza de que nós temos consciência de cada compromisso assumido. Nós temos
consciência de cada coisa que nós temos que fazer. Nós temos consciência do problema da moradia,
nós temos consciência dos problemas deste país.
Hoje a gente não está lançando aqui a proposta do Primeiro Emprego. Não estamos lançando, porque
nós queremos trabalhar melhor, para que, quando lançarmos, seja uma proposta que entre em
execução imediatamente, porque, para nós, o emprego é uma obsessão.
Aquele jovem disse aqui e disse muito bem: se nós não dermos perspectiva de vida e de futuro para
jovens de 17 ou 18 anos hoje, possivelmente amanhã eles sejam ocupantes de uma vaga na Febem,
pagando por crimes que, muitas vezes, uma situação econômica perversa obrigou-o a se submeter.
Nós temos consciência de tudo isso, meu querido d. Cláudio e meus companheiros, e podem ficar
certos de que a cada 1º de Maio eu estarei aqui, nesta igreja, neste mesmo horário, para, a cada ano, ir
prestando contas das coisas que nós vamos fazer.
O que aconteceu ontem, neste país, possivelmente a História futura dará mais importância do que a
história contemporânea. Porque, convencer 27 governadores de Estado a descerem comigo do Palácio
do Planalto e olha que PT só tem 3 governadores e irmos levar as propostas de reforma ao Congresso
Nacional que, numa véspera de feriado, costumeiramente está vazio, estava lotado com todos os
deputados e senadores, foi um fato histórico fantástico.
Vocês estão lembrados que, quando ganhamos as eleições, algumas pessoas diziam: o dólar vai a 5
reais agora, o risco-Brasil vai para 10 mil pontos, o PT não vai conseguir controlar a economia.
Pois bem, d. Cláudio, ontem nós colocamos US$1 bilhão em títulos para vender no mercado externo.
Apareceram US$ 6 bilhões para comprar, Suplicy, e nós vendemos os títulos pelo maior valor já