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que existe “uma concordância subjetiva recíproca das faculdades do
conhecimento entre si no juízo de gosto, se esteticamente pelos meros sentido
interno e sensação ou se intelectualmente pela consciência de nossa atividade
intencional” (KANT, 2008, p. 63).
Neste ponto do trabalho consideramos necessário voltar a um elemento
do conceito de arte apresentado por Kant, que refere-se ao mecanismo
impulsionador, denominado por ele de espírito. Segundo Kant (2008, p. 159),
“espírito, em sentido estético, significa o princípio vivificante no ânimo”, que
nada mais são do que idéias estéticas provindas da imaginação, que “põe em
movimento as forças do ânimo” (KANT, 2008, p. 159).
Tais representações da faculdade da imaginação podem chamar-se
idéias, em parte porque elas pelo menos aspiram a algo situado
acima dos limites da experiência, e assim procuram aproximar-se de
uma apresentação dos conceitos da razão (das idéias intelectuais), o
que lhes dá a aparência de uma realidade objetiva; por outro lado, e
na verdade principalmente porque nenhum conceito pode ser
plenamente adequado a elas enquanto intuições internas. O poeta
ousa tornar sensíveis idéias racionais de entes invisíveis, o reino dos
bem-aventurados, o reino do inferno, a eternidade, a criação etc.
(KANT, 2008, p. 151)
Pareyson (2001) também fala sobre o mundo espiritual do artista ao
afirmar que, ao fazer arte, o artista envolve os valores que possui, ordena-os
ou persegue-os e, assim, o pensamento, as convicções e os valores não-
artísticos se fazem presentes na obra e ressoam diante dos apreciadores.
Numa pessoa cuja espiritualidade está marcada de sensos morais, de
espírito religioso, de paixão política, a arte só pode ser arte se é arte
moral, religiosa, política, porque não é arte aquela que não sabe
transformar em energia formante, em conteúdos de arte, em valores
estilísticos, a concreta espiritualidade do artista. (PAREYSON, 2001,
p. 50)
Pareyson (2001) cita o formalismo de Kant, “que concebe a beleza como
uma finalidade sem fim, somente formal, independente de qualquer referência
aos outros valores, perturbada pela intervenção do conhecimento ou da
existência, da moralidade ou da utilidade” (PAREYSON, 2001, p. 58). De fato,
Kant (2008), ao escrever sobre a arte bela, afirma que
arte bela tem que ser arte livre em duplo sentido: tanto no de que ela
não seja um trabalho enquanto atividade remunerada, cuja magnitude
possa ser julgada, imposta ou paga segundo um determinado padrão
de medida; como também no sentido de que o ânimo na verdade
sinta-se ocupado, mas, sem com isso ter em vista um outro fim, sinta-
se pois (independentemente de remuneração) satisfeito e despertado.
(KANT, 2008, p. 167)