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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Sérgio Roberto da Motta
Compreensão escrita de história em quadrinhos em língua estrangeira
SÃO PAULO
2009
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Sergio Roberto da Motta
Compreensão escrita de história em quadrinhos em língua estrangeira
Dissertação apresentada à Banca Examinadora
da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, como exigência parcial para obtenção
de título de MESTRE em Lingüística Aplicada
e Estudos da Linguagem, sob a orientação da
Profª. Drª. Rosinda de Castro Guerra Ramos.
SÃO PAULO
2009
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FICHA CATALOGRÁFICA
MOTTA, Sergio Roberto da.
A compreensão escrita de HQ em ngua estrangeira /
Sergio Roberto da Motta. __ São Paulo: PUC-SP; 2009.
102f. : il.
Dissertação (Mestrado em Lingüística Aplicada e Estudos da
Linguagem) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
2009.
Orientadora: Profª Drª. Rosinda de Castro Guerra Ramos.
1. História em Quadrinhos; 2. Compreensão escrita em inglês
3. Leitura de imagem 4. Protocolo verbal. I. Ramos, R. C. G. II.
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. III. Título.
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou
parcial desta dissertação por processo fotocopiadores ou eletrônicos.
Assinatura:_________________________Local e Data: _______________________
BANCA
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
DEDICATÓRIA
Dedico à Sueli, minha esposa, minha amiga, minha
companheira, minha parceira, e aos meus filhos, genro e neta,
sem os quais jamais teria iniciado e muito menos terminado este
sonho. Sou feliz por tê-los sempre ao meu lado!
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por ter criado o universo e tudo que nele está, por nos ter dado
uma partícula de Sua inteligência e permitir que nós, humanos estejamos aqui e agora, cientes
de que precisamos do amor um do outro para que esse mundo possa ser um pedacinho do
paraíso.
Agradeço aos meus pais que não estão mais aqui, mas providenciaram que seus dez
filhos aqui ficassem e perpetuassem a gênese deles.
À minha orientadora, Profª. Drª. Rosinda de Castro Guerra Ramos que, antes de tudo,
foi professora, amiga, conselheira e passou comigo todas as agruras de ser mestra de um aluno
que via o mundo de modo singular e estreito, mas seu conhecimento, sua paciência e seu
profissionalismo puderam expandir minha visão, abrir meu entendimento e me fazer sonhar
um profissional melhor.
A todos os professores do LAEL, de quem tive a honra de tomar um pedacinho de
conhecimento, em especial, à Profª. Drª. Maria Antonieta Alba Cellani que, com sua
sabedoria e experiência, nos conduziu pelas trilhas de Vygotsky e Piaget e nos mostrou o
compromisso do ensinar. À Profª. Drª. Anna Rachel, com quem descobrimos o que vem a ser
o trabalho no ensino e com o ensino. À Profª. Drª. Mara Sophia com toda sua simpatia e
calma nos apresentou à lingüística. Á Profª. Francisca Lier De Vitto que tão bem nos
explanou Saussure e Chomsky.
A todos os colegas de mestrado que, nos diferentes módulos, com diferentes
professores e sobre diferentes assuntos, compartilhamos idéias, divergimos opiniões, demos e
acatamos sugestões, mas acima de tudo, comungamos o compromisso com o ensino.
Aos amigos, com quem percorremos a Dutra, rachamos o pedágio e compartilhamos
o lanche. À Maria, ao Zico, ao Julio, ao Alexandre, e a outros que aqui estão, saíram antes ou
que entraram depois. Que vieram de longe ou para longe se foram.
À Da. Sueli, esposa com quem construí uma vida e para dentro da qual, juntos
trouxemos sonhos, alegrias e amor, por meio dos filhos Carolina e Sergio, do genro Luiz e da
neta Lorena, que chega enquanto o avô continua eterno estudante, porque da vida, nunca se
sabe tudo, mas precisa-se aprender sempre.
Aos professores, colegas de ensino na escola pública, que a cada sugestão,
reclamação ou reivindicação minha, brincavam: fazer mestrado faz mal à saúde”. À Vânia e
equipe que regem, a cada ano, com firmeza e dedicação, o destino de quase dois mil alunos.
A todos os meus alunos da escola pública, participantes desta pesquisa, por tudo o
que me ensinaram e contribuíram para melhorar minha prática de ensino e de aprendizagem.
À Secretaria Estadual de Educação, que na pessoa do Sr. Pedro Magalhães, sempre
foi atenciosa e prestativa, tanto nas dúvidas quanto no apoio financeiro.
Dennis the Menace by Hank Ketcham
Agradecimento especial, eu dirijo a todos os que fazem quadrinhos, aos editores, aos
distribuidores, aos vendedores, enfim, a todos que amam a HQ, mas que, principalmente,
lêem-nas e as trocam.
A todos, o meu muito obrigado!
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo investigar como se processa a mediação dos elementos
convencionais e estruturais da História em Quadrinhos, na promoção da compreensão escrita,
em inglês, ao leitor iniciante. Para tanto esta pesquisa faz uma conceituação e breve histórico
do gênero HQ, de acordo com Cagnin (1975), Gubern (1980) e Eisner (2001); fundamenta-se
nos conceitos e estratégias de leitura de imagem, propostos por Cagnin (1975), Gubern
(1980), Eisner (1999), McCloud (2005) e Vergueiro (2005), e nos conceitos e estratégias de
leitura textual, conforme propostos por Coracini (1985); Ramos (1988); Kato (1985); Solé
(1998); Kleiman (2007), entre outros. A pesquisa também se reporta ao ensino de Língua
Inglesa (LI) no Brasil, de acordo com as prescrições das Leis das Diretrizes e Base da
Educação (LDB) e dos Parâmetros Curriculares Nacionais para Ensino de Língua Estrangeira
PCN-LE (Brasil, 1998), e consulta literatura que aborda a HQ como recurso didático,
conforme Vergueiro (2005) e Cortez (2007). Para se obter os dados desta pesquisa optou-se
por questionário e protocolo verbal aplicados a alunos de uma série do Ensino
Fundamental, portanto leitores iniciantes em língua estrangeira (LE). Os resultados revelam
que o leitor não proficiente apóia-se na linguagem imagética e nos elementos do gênero HQ
para processar a compreensão escrita em língua inglesa na proporção em que a linguagem
verbal não o faz, o que permite concluir que a HQ pode trazer contribuições para a
metodologia do ensino de leitura em língua estrangeira.
Palavras- chave: História em Quadrinhos; compreensão escrita em inglês; leitura de
imagem; protocolo verbal.
ABSTRACT
In this study, I investigate the mediation of conventional and structural elements of comic
strips, that is, the characteristic elements that compose the comic strips genre and their
contributions to the reading comprehension process of a beginner and not a proficient reader.
So this research is based on concepts of the use of image as proposed by Cagnin (1975),
Gubern (1980) and Eisner (1999); and reading strategies used for reading texts as proposed by
Coracini (1985); Ramos (1988); Kato (1985, 1986); Solé (1998) e Kleiman (2007).This
research also makes some considerations on the teaching of English in Brazil in accordance to
Leis das Diretrizes e Bases da Educação (LDB) and the Brazilian National Curriculum
Parameters for the teaching of a Foreign Language, (PCN-LE, Brasil, 1998). I present a brief
history of the Comic strips, considering Cagnin (1975); Gubern (1980); Eisner (1999) and
McCloud (2005), I also review approaches to the comic strips as a didactic resource, in
accordance to Vergueiro (2005) and Cortez (2007). To collect the data I adopt the Verbal
Protocol methodology, as well as questionnaires administrated to the 7
th
grade students of a
Government Elementary School, considered beginners in reading comprehension. The results
revealed that the non proficient reader depends on the image language and on the elements of
the comic genre to process his reading comprehension in English when the verbal language is
not enough to that, what allows us suppose that the comic strips may bring contributions to
the methodology of teaching and learning a foreign language.
Key-words: comic strips, reading comprehension; image reading, verbal protocol.
LISTA DE FIGURAS
Figura 0.1: Hieróglifos egípcios (Eisner, 1999:110)................................................................15
Figura 1.1: Desenhos pré-históricos, Lascaux cerca de 15mil anos (Eisner, 1999:101)..........19
Figura 1.2: Menina de olhos fechados (McCloud, 2005:70)....................................................25
Figura 1.3: Menina de olhos abertos (McCloud, 2005:70) ......................................................25
Figura 1.4: Duas moedas pequenas e uma grande parecem um rato (McCloud, 2005:64)......26
Figura 1.5: As formas frontais de um carro aparenta um rosto (McCloud, 2005:33) ..............27
Figura 1.6: Tomada elétrica parece uma carinha de bebê (McCloud, 2005:33) ......................27
Figura 1.7: Figura oval com dois pontos sobre um traço, parece um rosto (McCloud,
2005:33).................................................................................................................27
Figura 1.8: Simplificação da imagem de um rosto (McCloud, 2005:29).................................28
Figura 1.9: Sarjeta, espaço em que se dá a conclusão (McCloud, 2005:66) ............................31
Figura 1.10: Seqüência momento-a-momento (McCloud, 2005:70)........................................31
Figura 1.11: Seqüência ação-para-ação (McCloud, 2005:70)..................................................32
Figura 1.12: Seqüência tema-para-tema (McCloud, 2005:66).................................................32
Figura 1.13: Seqüência cena-a-cena (MCloud, 2005:71).........................................................33
Figura 1.14: Seqüência aspecto-para-aspecto (McCloud, 2005:72).........................................33
Figura 1.15: Seqüência non-sequitur (McCloud, 2005:72)......................................................34
Figura 1.16: As falas em 3ª pessoa no rodapé do quadrinho (Agostini, 1869) ........................35
Figura 1.17: Os textos de falas nas roupas (The Yellow Kid, Outcault, 1896).........................35
Figura 1.18: Os primeiros balões de fala, na HQ (Katzenjammer, Dirks, 1896) .....................35
Figura 1.19: Balão de fala normal (Eisner 1999:27)................................................................36
Figura 1.20: Balão de pensamento (Eisner, 1999:27) ..............................................................36
Figura 1.21: Balão de fala estridente (Eisner, 1999:27)...........................................................36
Figura 1.22: Balão de cochicho (M. de Sousa, 1963)...............................................................36
Figura 1.23: Quadrinhos sem texto (Cagnin, 1975:185)..........................................................37
Figura 1.24: Dicionário de gestos e humores (Eisner, 1999:102)............................................38
Figura 1.25: Narrativa em “tempo” (Eisner, 1999:25).............................................................39
Figura 1.26: Narrativa em “timing” (Eisner, 1999:25).............................................................40
Figura 1.27: Imagem em plano close (Eisner, 1999:42)...........................................................41
Figura 1.28: Imagem em plano médio (Eisner, 1999:42).........................................................41
Figura 1.29: Imagem em plano geral ou panorâmico (Eisner, 1999:42)..................................42
Figura 1.30: Velocidade com fundo desfocado (McCloud, 2005:113)....................................43
Figura 1.31: Velocidade com objeto desfocado (McCloud, 2005:113) ...................................43
Figura 1.32: Velocidade representada com repetidas posições (McCloud, 2005:110). ...........43
Figura 2.1: Os personagens da turma da Monica (www.Monica´s Gang) ...............................61
Figura 2.2: Tira 01- Sem o texto escrito...................................................................................63
Figura 2.3: Tira 01- Com o texto escrito..................................................................................64
Figura 3.1: Tira 01- Site Monica´s Gang. Download em 04/04/2008......................................82
Figura 3.2: Tira 02- Site Monica´s Gang. Download em 04/04/2008......................................83
Figura 3.3: Tira 03- Site Monica´s Gang. Download em 04/04/2008......................................85
LISTA DE QUADROS
Quadro 2.1: Categorias dos principais elementos nas HQs......................................................65
Quadro 3.1: Preferências de HQ...............................................................................................66
Quadro 3.2: Freqüência de leitura ............................................................................................67
Quadro 3.3: O personagem que você gostaria de ser ...............................................................67
Quadro 3.4: Definição de HQ para os alunos...........................................................................68
Quadro 3.5: Conhecimento dos alunos sobre HQ ....................................................................69
Quadro 3.6: Nível de dificuldade em ler HQ............................................................................69
Quadro 3.7: Atribuição de significados ao texto escrito tira 01...............................................82
Quadro 3.8: Atribuição de significado ao texto escrito tira 02.................................................84
Quadro 3.9: Atribuição de significado ao texto escrito tira 03.................................................85
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................13
1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................................19
1.1 Breve Histórico da HQ ..................................................................................................19
1.2 Conceitualização do Gênero HQ ...................................................................................23
1.2.1 A HQ como Gênero Textual e seus Elementos.....................................................24
1.2.2 Os Principais Elementos que Compõem a HQ .....................................................29
1.3 A HQ como Ferramenta Didática..................................................................................43
1.4 A Leitura da Imagem dentro da HQ ..............................................................................45
1.5 A Leitura do Texto Verbal dentro da HQ......................................................................49
2 METODOLOGIA DE PESQUISA....................................................................................54
2.1 A Abordagem Metodológica: Protocolo Verbal............................................................54
2.2 O Contexto de Pesquisa.................................................................................................57
2.2.1 A Escola................................................................................................................58
2.3 Escolha dos Sujeitos ......................................................................................................58
2.3.1 Caracterização dos Sujeitos de Pesquisa...............................................................59
2.4 Material utilizado para a pesquisa .................................................................................61
2.5 Instrumentos de Coleta ..................................................................................................62
2.5.1 Questionários.........................................................................................................62
2.5.2 Procedimentos de coleta do protocolo verbal .......................................................63
2.6 Procedimentos de Análise da Compreensão Escrita de HQ em inglês..........................65
3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.............................................66
3.1 Verificação de Conhecimento Prévio e Familiarização com a HQ ...............................66
3.2 Apresentação e Discussão dos Protocolos Verbais........................................................70
3.2.1 Comportamento Geral Adotado pelos Sujeitos Durante o Processamento das
Leituras.................................................................................................................71
3.2.2 Reconhecimento dos Elementos do Gênero HQ...................................................73
3.2.3 Uso da Imagem na Compreensão Escrita da HQ..................................................77
3.2.4 O Uso do Texto Escrito na Compreensão Escrita da HQ .....................................81
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................87
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................89
APÊNDICE A - Roteiro de Perguntas Adjuntas ao Pensar Alto.........................................95
APÊNDICE B - Questionário I - Hábitos de Leitura e Familiarização com HQ ................97
APÊNDICE C - Questionário II - Hábitos de Leitura e Familiarização com a HQ ............99
APÊNDICE D - Tiras com Balão de Fala .........................................................................101
APÊNDICE E - Tiras Sem Balão de Fala..........................................................................102
13
INTRODUÇÃO
Este trabalho insere-se na área de ensino-aprendizagem de língua inglesa, e mais
especificamente, foca a compreensão escrita em inglês no gênero História em Quadrinhos
(doravante HQ), porque a experiência no trabalho com leitura em língua inglesa me fez
refletir a necessidade de pesquisar essa habilidade comunicativa, uma vez que os Parâmetros
Curriculares Nacionais (Brasil, 1998) sugerem um trabalho que desenvolva o letramento
crítico e o ensino norteado pelos gêneros de textos. O gênero HQ está incluso no rol de
sugestões de textos para o Ensino Fundamental. No entanto, diversas pesquisas (Cristóvão,
2002; Almeida Filho, 2005, entre outros) nos mostram que o ensino de línguas estrangeiras,
principalmente o inglês, ainda é desvinculado da realidade do aluno, já que enfatizam a
abordagem sistêmica e estrutural da língua com aplicação de atividades mecânicas, o que
parece não dar conta da problemática do leitor não proficiente, ou seja, o leitor iniciante em
língua inglesa.
Além disso, decorre da minha longa atuação nos contextos de ensino-aprendizagem
de inglês na rede blica e particular de ensino, em que preocupado com o bom desempenho
escolar dos meus alunos, sempre enfatizei a compreensão escrita como parte desse
desempenho. Porém, observo que gradativamente os alunos parecem apresentar maior
dificuldade e menor interesse pela atividade da leitura, seja ela um compromisso pedagógico
ou apenas uma atividade de lazer.
Como parte do projeto: “Avaliação e Elaboração de Material Didático para o Ensino-
Aprendizagem de Línguas em Ambientações e Contextos Diversos” ligado às linhas de
pesquisa Linguagem e Educação e Linguagem e Tecnologia, sob coordenação da Profª. Drª.
Rosinda de Castro Guerra Ramos, busco também trazer contribuições para aplicação de um
material didático diferenciado e que contemple a realidade de nosso aluno, com gêneros que
tenham maior significação em seu universo de vivência e que auxiliem sua formação social e
profissional, desperte seu senso crítico e a continuidade de seus estudos.
A HQ tem sido objeto de estudos em várias áreas do conhecimento, e mais
recentemente, tem sido estudada e trabalhada como um recurso pedagógico em aulas de
ensino-aprendizado de Língua Materna e de Língua Estrangeira. Além disso, é fato que a HQ,
por ser um meio de comunicação multimodal, isto é, esse gênero se constrói a partir de dois
signos gráficos: o visual e o lingüístico e por ser de grande circulação entre os jovens, a HQ
pode ser também um eficiente recurso pedagógico porque nela coexistem a linguagem verbal
INTRODUÇÃO
14
e a icônica, que facilitam sua compreensão e podem também contribuir para o
desenvolvimento da leitura e autonomia dos alunos. Essa afirmativa pode ser verificada
quando se observa que a HQ freqüentemente aparece nos livros didáticos como input para
ilustrar um tópico pedagógico ou ainda como instrumento de avaliação de conhecimento
pontual em provas e concursos. Entretanto, tenho observado que os alunos alfabetizados,
leitores de HQ em Língua Materna, mas leitores iniciantes em inglês, nem sempre interagem
eficazmente com a HQ a que são expostos porque podem, por exemplo, não fazer uso dos
elementos do gênero para compreensão da linguagem verbal.
Cagnin (1975), Gubern (1980), Eisner (2001) e McCloud (2005) por exemplo,
argumentam que a combinação texto e imagem na HQ não pode ser vista sob ótica simplista,
quando não se dá maior atenção aos elementos que compõem o gênero.
Desse modo, ao se deparar com um texto em quadrinhos, é possível que o aluno,
leitor iniciante, não tenha conhecimento dos elementos (balões, onomatopéias,
distanciamentos, perspectivas, timing e tempo, etc) necessários para processá-lo
cognitivamente, o que pode ocasionar desvios de compreensão ou interpretação desse
texto. Problemas que podem ser extremamente agravados, quando a HQ exposta ao aluno está
em língua estrangeira, no caso o inglês, aqui estudada.
Partindo dessa observação em sala de aula e da constatação feita de que os elementos
composicionais do gênero HQ são pouco ensinados em sala e considerando que uma leitura
eficiente, além do conhecimento léxico-gramatical e semântico, requer, também, a
identificação dos elementos que caracterizam o gênero em que se apresenta o texto
(Vergueiro, 2005; Kleiman 2007), busco investigar as contribuições da imagem e do texto
escrito na compreensão escrita da HQ em inglês, pelo aluno leitor não proficiente na língua.
De acordo com Eisner (1999:100), tudo começou com os primeiros desenhos em
cavernas que tinham a função de exercer comunicação visual por meio do uso de imagens
familiares ao homem pré-histórico. Posteriormente, os frisos egípcios desenvolveram ainda
mais esse uso e, finalmente, os hieróglifos codificaram as imagens em símbolos a serem
repetidos para formar uma linguagem escrita viável.
Segundo Prinzhorn (1972), a origem dos caracteres do alfabeto ocidental é a imagem
desenhada das formas da natureza e das posturas do homem e se alteraram ao longo do tempo.
Logo, pode-se dizer que a escrita nasce da imagem e à imagem recorremos quando se quer
facilitar a compreensão dessa escrita. McCloud (2005:147-150) corrobora Prinzhorn (1972)
ao também afirmar que a comunicação escrita nasce como uma figura estilizada, mas o autor
vai mais além, ao teorizar que a escrita distanciou-se da figura e tornou-se abstrata.
INTRODUÇÃO
15
Eisner (1999:12) observa que nosso alfabeto é fonético e que as formas de escrita
não mantiveram, no ocidente, sua herança pictórica como os ideogramas chineses, japoneses
ou egípcios, ilustrado na Figura 0.1, a seguir:
Figura 0.1: Hieróglifos egípcios (Eisner, 1999:110)
A concomitância imagem e texto, entretanto, voltam a ter destaque no final do século
XIX, com a popularização da imprensa e o advento da HQ como um entretenimento que
cresceu nos últimos cem anos e que é um nicho privilegiado aos estudos lingüísticos de
interação nos dias atuais, motivo pelo qual considero importante desenvolver pesquisa nessa
área. Alinha-se a isso a crescente demanda dos quadrinhos que saem das páginas das revistas
e jornais para as telas do cinema e vice-versa, uma mídia que influencia moda e
comportamento ocidentais e, somando-se ainda, a invasão japonesa dos quadrinhos Mangás,
que é um modismo que começa a ser amplamente consumido por nossos alunos. Nos meios
acadêmicos, a pesquisa no campo da HQ tem originado dissertações, teses e artigos. Alguns
desses trabalhos focalizam mais especificamente questões relacionadas aos elementos
composicionais da HQ e sua compreensão.
O trabalho de Cagnin (1975), por exemplo, foca os elementos constitutivos da HQ
por meio das técnicas do desenho e faz um estudo da narrativa que ocorre no texto da HQ,
perpassada pela comunicação semiótica, estabelecendo três planos diferentes na sua
constituição: a sistemática, a tipologia e a prática analítica. Gubern (1980) procura, em seu
trabalho de pesquisa, fazer um levantamento histórico da HQ, em que expõe a evolução das
técnicas do desenho gráfico e a função da linguagem verbal do texto e da imagem no contexto
narrativo.
Eisner (1999), por sua vez, trabalha o recurso gráfico do desenho na HQ e registra o
quanto esses recursos gráficos, (desenhos não enquadrados, cenas tomadas por diferentes
ângulos) advindos pós-Segunda Guerra Mundial, foram concepções revolucionárias na arte
dos quadrinhos. Já os trabalhos de Vergueiro (2005), Cortez (2007), Fronza (2007) e Lobo de
Melo (2008) têm preocupação com a aplicação da HQ como recurso pedagógico. Vergueiro
(2005) organiza com outros professores, um estudo de como o gênero HQ pode ser usado
INTRODUÇÃO
16
como ferramenta no ensino das disciplinas de História, Geografia, Português e Artes. Cortez
(2007) desenvolve atividades de inglês mediadas pelo computador, para o desenvolvimento
lingüístico do aluno. Fronza (2007), por sua vez, pesquisou o significado das HQs na
educação histórica dos alunos do Ensino Médio. Lobo de Melo (2008) realizou trabalho sobre
as tiras jornalísticas e o ensino de leitura em língua materna.
Vale observar que o presente trabalho também faz aplicação de HQ como recurso
didático no ensino de inglês para os alunos do Ensino Fundamental. Entretanto, não o faz por
meio da comunicação mediada pelo computador, nem tem a preocupação de desenvolver uma
seqüência didática no ensino e aprendizado de língua inglesa, mas busca investigar as
contribuições dos elementos da HQ para a compreensão escrita em inglês, pelo aluno leitor
não proficiente em língua estrangeira.
Vergueiro (2005:55), ao apontar que a HQ desenvolveu diversas convenções
específicas para a sua linguagem icônica e verbal, como por exemplo: a sarjeta, os balões, os
gestos humanos, o texto e contexto, o tempo e o timing, a representação do movimento, entre
outros, os quais comunicam instantaneamente ao leitor a mensagem requerida da HQ,
também indicações de características desse gênero que precisam ser reconhecidas e
dominadas pelo leitor competente. Todavia, é preciso comentar que, por exemplo, quando o
aluno não tem conhecimento suficiente daqueles elementos, ou seja, não for familiarizado
com o gênero, ou não tiver também conhecimento de mundo
1
, ao processar leitura de gestos,
expressões e contexto de situação, isso pode não ocorrer.
Além disso, por ser a atividade de leitura textual uma das atividades que mais tem
sido recomendada para ser trabalhada na escola (Brasil, 1998a; Brasil 1998b), mas que é
pouco compreendida, apesar das muitas publicações existentes sobre ela (Calvacanti, 1983;
Kato, 1986; Ramos, 1988; Coracini, 1995; Solé, 1998; Grabbe e Stoller, 2002, entre outros)
faz-se ainda necessário desenvolver mais estudos da aplicação da leitura e em especial da
leitura de textos com imagens que promova tanto a leitura em ngua materna quanto, neste
caso específico, em língua inglesa.
Na área de educação, em aulas de leitura em língua materna ou estrangeira, destaco o
trabalho de Coracini (1995:19-20), que observa que o texto, assim como na década de 60,
ainda é usado como pretexto para o estudo de gramática, do vocabulário ou de outro aspecto
da linguagem que o professor ou o livro didático quer enfatizar. Desse modo, afirma a autora,
o texto é parte do material didático, mas perde suas funções essenciais de provocar efeitos de
1
Um repertório de informações exteriores ao texto.
INTRODUÇÃO
17
sentido no leitor-aprendiz, para ser apenas o lugar de reconhecimento de unidades e estruturas
lingüísticas cuja funcionalidade parece prescindir dos sujeitos.
Quanto à leitura de textos em inglês, feitas pelos sujeitos pesquisados, Ramos
(1988:3), por exemplo, faz referência à visão distorcida que o aprendiz tem da leitura em
língua estrangeira porque o aluno considera que, para ser um leitor proficiente, ele precisa
conhecer o significado de todas as palavras para assim entender um texto corretamente.
Coracini (1995:31) corrobora essa idéia ao salientar que a própria escola enfatiza esse ponto
de vista, o que reforça ainda mais no aluno, o sentimento de impotência diante do
desconhecido. Ramos (1988:3) complementa que a leitura é um processo cognitivo, complexo
que exige por parte do leitor a execução de várias operações mentais em que concorrem seus
conhecimentos prévios e o acionamento de determinadas estratégias para decodificar o código
escrito e, conseqüentemente, promover a compreensão do texto. Razão pela qual, afirma a
autora, o ato de leitura é uma atividade extremamente complexa e desafiadora. Direcionado
pelas preocupações e pelos questionamentos apontados e tentando melhor entender como se
processa a compreensão escrita de leitores iniciantes, quando se defrontam com HQ em língua
inglesa, esta pesquisa busca investigar:
Quais são as contribuições dos elementos da HQ para a compreensão escrita em
inglês do leitor iniciante?
Este trabalho pretende, portanto, investigar como o aluno, leitor habitual de HQ em
língua materna, mas iniciante em língua estrangeira (inglês) usa os elementos do gênero HQ
para processar sua compreensão escrita.
O trabalho está dividido em três capítulos, seguidos das considerações finais.
No capítulo 1, apresenta-se a Fundamentação Teórica subdividida em quatro
seções. Na primeira, apresenta-se uma conceitualização da HQ. Na segunda seção, faz-se um
breve resumo da história da arte figurativa, dos quadrinhos e dos recursos gráficos conforme
Cagnin, (1975); Gubern (1980); Eisner (1999) entre outros. A terceira seção traz uma
conceituação de leitura imagética e suas estratégias como um recurso didático de leitura em
Língua Inglesa (doravante, LI) conforme autores citados. Na quarta seção descreve-se a
construção da habilidade de leitura textual conforme Coracini (1985); Kato (1986; 1999);
Ramos (1988); Solé (1998) e Cortez (2007). E finalmente, descrevem-se os elementos que
compõem o gênero HQ e estudos que salientam a importância da leitura de imagens para uma
compreensão escrita mais produtiva do texto.
No capítulo 2, descreve-se a Metodologia de Pesquisa conforme os conceitos de
Presley & Afflerbach (1995), os aspectos cognitivos na leitura (Kamil et al, 2000:163) e o
INTRODUÇÃO
18
“pensar alto” no processo de leitura (Cavalcanti e Zanotto,1994). Neste capítulo também,
justifica-se a escolha da metodologia, apresenta-se o contexto, descreve-se os participantes e
os procedimentos de coleta e análise de dados.
No capítulo 3, Apresentação e Discussão dos Resultados- expõe-se a discussão dos
dados, a partir do contexto pesquisado, analisando a contribuição da imagem da HQ na
compreensão escrita em inglês e quais foram às dificuldades ou facilidades enfrentadas pelo
aluno/leitor iniciante, o papel da imagem e do texto na compreensão escrita; a ficção das HQs
promovendo a compreensão de mundo e a contribuição da HQs no aprendizado de LI.
Nas Considerações Finais, apresentam-se as conclusões, os questionamentos e as
reflexões geradas pela presente investigação.
19
1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste capítulo apresenta-se o arcabouço teórico que sustentação a este trabalho.
Inicialmente, apresenta-se um breve histórico da HQ, conforme Cagnin, (1975); Gubern
(1980) e Eisner (1999), entre outros. Em seguida, apresenta-se uma conceituação da HQ como
um gênero textual e seus principais elementos. Descreve-se a aplicação da HQ como recurso
didático de leitura em Língua Inglesa (LI) e a construção da habilidade de leitura textual,
conforme Coracini (1985); Kato (1986); Ramos (1988); Solé (1998); Cortez (2007) entre
outros. Finalmente, apresenta-se os Parâmetros Curriculares Nacionais - Língua Estrangeira,
doravante PCN-LE (Brasil, 1998), e como eles prescrevem a necessidade da Língua
Estrangeira (LE) na grade curricular e a aplicação da leitura nessa disciplina.
1.1 Breve Histórico da HQ
Para iniciar o capítulo, creio ser importante fazer um breve histórico da HQ para
contextualizá-la na vida do homem, mostrar sua dinâmica, sua evolução e aprimoramento.
Prinzhorn (1972) descreve que a narração de episódios históricos ou imaginários por
meio de desenhos é tão antiga que já, nas grutas de Lascaux, no sul da França e nas de
Altamira, no norte da Espanha, aproximadamente 15 mil anos, episódios de caça foram
narrados graficamente, uma vez que a palavra escrita não existia ainda. A Figura 1.1, abaixo,
ilustra essa afirmativa.
Figura 1.1: Desenhos pré-históricos, Lascaux cerca de 15mil anos (Eisner, 1999:101)
Do mesmo modo, advoga Eisner (1999:138), os hieróglifos egípcios, os estandartes
chineses, as tapeçarias medievais, os vitrais góticos e outras manifestações artísticas
figurativas, ao longo do tempo e em diferentes culturas, têm em comum a redução da ação
numa seqüência narrativo-iconográfica. Porém, McCloud (2005:13) argumenta que embora
essas manifestações da arte pictórica apresentem seqüências narrativas, personagens e
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
20
contextos, elas estão longe de serem consideradas HQ, porque não evoluíram como tal, ou
seja, seus descendentes não são os quadrinhos, mas a palavra escrita. Dessa forma, Vergueiro
(2005:8) argumenta que:
...as histórias em quadrinhos vão ao encontro das necessidades do ser humano, na
medida em que utilizam fartamente um elemento de comunicação que esteve
presente na história da humanidade desde os primórdios: a imagem gráfica.
Segundo Gubern (1979:17), ainda que a história em quadrinhos, ou algo que se
aproxime dela, esteja presente em todas as culturas e povos, foi nos Estados Unidos, uma
nação industrializada e em pleno crescimento econômico, que a história em quadrinhos se
popularizou. Cagnin (1975:22) afirma que a primeira HQ seriada e sequêncial surgiu no ano
de 1896, pelas mãos de Richard Outcault contando histórias do Yellow Kid, um chinesinho
imigrante, que tinha as falas, cheias de erros de concordância e de erros fonéticos, transcritas
na sua camisola amarela.
Vale notar que os quadrinhos, na concepção de Gubern (1980:18), devem seu
sucesso e popularização nos Estados Unidos, no final do século XIX, em parte porque, como
os imigrantes dominavam mal o idioma inglês, percebeu-se a importância em usar a HQ como
ferramenta no aprendizado da língua e também como um meio de inserção cio-cultural
americano. Haja vista o não acesso do imigrante comum às outras manifestações culturais
como literatura e teatros e, nem ao cinema, que ainda estava por nascer.
Por outro lado, contradizendo Cagnin (1975:22), Gubern (1980:9) credita a origem
da HQ à Alemanha, no ano de 1865, com os quadrinhos Max und Moritz desenhados por
Wilhem Busch. Nos Estados Unidos eles chamavam-se Katzenjammer Kids e entraram no
Brasil, na década de 40, com o nome de Os Sobrinhos do Capitão.
os brasileiros Patati e Braga (2006:9) registram o surgimento da HQ no Brasil, no
ano de 1869, com os quadrinhos As Aventuras do Nho Quim, um Caipira na Capital,
desenhado por Agostini, imigrante italiano. Enquanto Guedes (2006:10) atribui ao desenhista
Rodolphe Töpteer o pioneirismo da HQ nos Estados Unidos, com a história The adventures of
Mr.Obadiah Oldbuck, publicada em 14 de setembro de 1842.
Patati e Braga (2006:23) registram que os quadrinhos nasceram nos Estados Unidos
como comic strips, (tiras cômicas) dispostos para caberem numa única página no suplemento
dominical e voltados ao público infanto-juvenil, tendo por personagens e temas crianças
travessas versus adultos estressados, como por exemplo, nas tiras The Yellow Kid e em Os
Sobrinhos do Capitão.
Na primeira década do Século XX, apareceram: Little Nemo, Pinduca e Reizinho.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
21
Posteriormente, os quadrinhos começaram a usar animais estilizados e humanizados, por
exemplo, Felix the cat e Crazy Kat, que foram seguidos por uma rie de quadrinhos que
criticavam e ironizavam os novos ricos americanos e seus conflitos, como as de Pafúncio e
Marocas, Polly and her Pals.
A década de 20, conforme descrevem Patati e Braga (2006:38), viu nascer as
aventuras em lugares exóticos, como as HQs de Tintin, Tarzan, Buck Rogers e Flash Gordon,
para citar alguns. Essas aventuras registram o espírito colonialista do homem branco e
civilizado que leva ordem e justiça aos ‘selvagens’ do Terceiro Mundo. Nos anos 30,
apareceram Mandrake, Fantasma, Dick Tracy, Batman e Robin e o Príncipe Valente.
Gubern (1980:24-27) e Patati e Braga (2006:81) registram ainda que a história em
quadrinhos se popularizou nos Estados Unidos no final do século XIX. No rastro da
hegemonia americana, a HQ também conquistou o mundo, difundindo a cultura, os valores e
os modismos daquele povo. Desse modo, afirmam os autores, na época que antecedeu a
Segunda Guerra Mundial, durante e após seu desenvolvimento, no período denominado
Guerra Fria, houve a politização da HQ. Os quadrinhos contribuíram para a propaganda pró-
americana contra a ideologia socialista, por meio de personagens como Superman (1938,
Capitão América (1941) Steve Trevor e sua namorada Princesa Diana (1942), que tinham
também as cores da bandeira americana nas suas indumentárias.
Após a Segunda Guerra Mundial, apareceram O Brucutu, A Luluzinha, Ferdinando,
The Spirit, e novas argumentações temáticas de quadrinhos como o suspense, o terror, o
policial, o western, a ficção científica e o erótico.
Registram ainda Patati e Braga (2006) que a década de 50 viu nascer a turma do
Charlie Brown, o Pato Donald, nos Estados Unidos; O Asterix, na França e A turma do
Pererê, no Brasil. Nos anos 60, Mafalda na Argentina; Fradim, no Brasil; Valentina, na Itália;
Mad, uma publicação metalingüística em quadrinhos, que criticava os quadrinhos e Sin City,
nos Estados Unidos e Corto Maltese, na Itália. Nos anos 70, Turma da Mônica, no Brasil e
nos anos 80, Maus de Spiegelman, que relata o holocausto judeu em HQ e que foi agraciado
com prêmio Pulitzer de literatura. Na concepção de Vergueiro (2005:117), o maior
reconhecimento que a arte em HQ já teve. Vale lembrar, no entanto, que as obras aqui citadas
são apenas algumas das mais marcantes qualitativamente, segundo Patati & Braga (2006),
nesse espaço de 100 anos em que a HQ foi popularizada.
Os autores argumentam que o gênero HQ como meio de expressão midiática nasceu
cambaleante, priorizando a linguagem verbal mais intensamente do que a linguagem
imagética, o que não concorre com a agilidade da HQ atual. No entanto, preciso ressaltar que
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
22
os gêneros discursivos não podem ser classificados como deficientes ou incompletos, pois são
relativamente instáveis, (Bakhtin, 1986; Marcuschi, 2007), Os gêneros estão também sujeitos
a modificações em sua superfície e em seu uso, por serem submetidos a pressões sociais,
ideológicas e lingüísticas, ou seja, os elementos característicos de um gênero vão se
reinventando à proporção que o público leitor também está sempre a se evoluir e se aprimorar
e são o que são num determinado momento.
Retomando, Patati e Braga (2006) exemplificam que o desenhista Dirks, autor de Os
sobrinhos do Capitão, contemporâneo de Outcault, revolucionou a arte dos quadrinhos em
1896, ao dispor as falas em primeira pessoa e colocá-las dentro dos balões, o que deu mais
fluência à HQ, pois até então os textos verbais eram em terceira pessoa e vinham no rodapé
dos quadrinhos. McCloud (2005:10-20) afirma que o uso e exposição dos elementos como: a
sarjeta, os balões, os gestos humanos, o texto e contexto, o tempo e o timing, a perspectiva e
outros que configuram o gênero HQ, foram aprimorando e se integrando ao longo do tempo.
Ainda nessa tendência de evolução do gênero HQ, McCloud (2005:114) registra a
grande influência dos Mangás japoneses sobre os artistas ocidentais, a partir dos anos 90.
Argumenta o autor que novas descobertas e recursos são freqüentemente imitados e
integrados por novos desenhistas, o que faz com que esse gênero esteja sempre a evoluir e a
se aperfeiçoar, requerendo do leitor maior atenção às características e ao estilo dessa
dinâmica.
Até mesmo um defeito de um criador de HQ, pode virar modismo em determinada
época e fazer escola. Patati e Braga (2006:33), por exemplo, comentam que o artista Gould,
criador do Dick Tracy, se declarava incapaz de desenhar um personagem de perfil,
representando-os sempre de frente, o que fez com que seu estilo se tornasse modelo,
referência e sucesso entre os desenhistas e o público consumidor.
Quanto ao estilo, McCloud (2005:43) constata também que os artistas europeus
privilegiam o desenho do cenário em detrimento do personagem; enquanto os americanos,
opostamente com freqüência, privilegiam os personagens em detrimento do cenário. Mas
desde cedo, afirma o autor, sabia-se que o argumento narrativo (na tira do jornal) tinha que ser
rápido (não mais que cinco quadros) para seduzir o leitor. Desse modo, com o uso de menos
recursos técnicos obtinha-se maiores resultados.
Patati e Braga (2006:34) citam que Roy Crane, criador de Captain Easy nos anos 30,
foi o pioneiro em conectar episódios e estender a HQ em longas narrativas seqüenciais,
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
23
quebrando o paradigma da narrativa curta e abrindo caminho às graphic novels
2
, obras
compostas por maior rigor técnico, maior qualidade e voltadas a um público mais exigente.
Em suma, a HQ tem sua versão moderna creditada a diferentes autores em diferentes
países. Porém, as características e os estilos de uma cultura ou de um autor são copiados,
imitados e aprimorados por outras culturas e outros autores, mas como em todo gênero
textual, seus elementos são adequados aos propósitos sociais e interacionais vigentes (Martin,
1985) e vão se reinventando, se aprimorando ao longo do tempo. Após ter contextualizado a
HQ, volto-me para sua conceituação.
1.2 Conceitualização do Gênero HQ
Todo gênero textual é o compartilhamento de um evento comunicativo com
propósitos específicos dentro de um grupo ou comunidade discursiva, conforme Ramos
(2004:111), que toma por base Swales (1990). Dessa forma, são considerados exemplos de
gêneros textuais: anúncios, convites, atas, avisos, programas de auditórios, bulas, cartas,
comédias, aulas, contos de fadas, convênios, crônicas, editoriais, ementas, ensaios,
entrevistas, circulares, contratos, decretos, discursos políticos, histórias, instruções de uso,
letras de música, leis, mensagens, notícias, histórias em quadrinhos, charges e etc.
O gênero História em Quadrinhos diferentemente de alguns outros gêneros é
constituído a partir da concomitância de dois signos gráficos: o visual/desenho e o
lingüístico/verbal. Os dois signos gráficos podem assumir funções de maior ou menor
presença na concorrência da narrativa seqüencial icônica.
Para Goodman (2003:107), a presença da imagem como linguagem visual, é
extremamente rica e representa características de interação não viáveis num texto apenas com
linguagem verbal. As variedades de informações gráficas usadas para representar o texto
verbal como as expressões faciais e corporais e suas representações, os gestos e formas de
balões, bem como os sinais de movimento representados na imagem estática, dificilmente
poderiam ser descritas verbalmente em toda sua complexidade.
O gênero HQ é também denominado por Ramos (2009:20) de “hipergênero”, que
segue Maingueneau (2006), porque nele se abarcam formas diferentes de apresentar narrativas
2
O termo foi criado por Eisner (1999) quando decide contar em longas histórias a saga do judeu imigrante em
New York, morador dos prédios de apartamentos, convive com o desconforto e as privações, mas aspira a
ascensão social e econômica que o ‘american dream’ possibilita.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
24
iconográficas seqüenciais, como por exemplo, a charge, a tira, o graphic novel, o gibi e mais
recentemente os sites de quadrinhos. A diferenciação, segundo Mendonça (2005), dá-se pelo
tamanho e quantidade de quadros usados na seqüência narrativa. A charge concorre com um
único quadro. As tiras ou quadrinhos são publicados diariamente nos jornais, com no máximo
5 quadrinhos, compondo uma narrativa textual, que embora seja continuação de uma
seqüência narrativa maior, também devem conter em si um episódio completo. Os gibis, sigla
GB, da editora Globo, são HQs publicadas em revistas ou álbuns de quadrinhos. As graphic
novels, são narrativas longas, publicadas em livros ou almanaques. Os sites de quadrinhos e
comics são publicações online que disponibilizam uma variedade infinita de quadrinhos e
autores de todo o mundo.
Neste trabalho, decidiu-se utilizar a denominação HQ, apesar de estar usando “as
tiras” com os sujeitos desta pesquisa, porquanto o nome HQ é muito mais conhecido nas
práticas escolares e também porque as características das tiras são as mesmas da HQ, variando
somente em tamanho e quantidade de quadros usados na seqüência narrativa, o que, portanto
não acarreta problemas aos propósitos da investigação neste estudo. A seguir passo a detalhar
a HQ.
1.2.1 A HQ como Gênero Textual e seus Elementos
Segundo Upjohn, (1965:8) a arte figurativa se vale de três elementos básicos: o
assunto, a expressão e a forma. Esses elementos se equalizam e não podem se sobrepujar um
ao outro, mas são materializados pelo artista por meio das técnicas da linha, da massa, do
volume, do espaço e da matéria que constituem na perspectiva estética da obra. Da mesma
maneira, segundo Cagnin (1975:32), o desenho da HQ tomado como manifestação artística,
também se vale dos três elementos: o assunto, a expressão e a forma; o desenho é entendido
como uma representação imitativo-figurativa, ou seja, uma cópia de alguma coisa. Ainda, na
concepção do autor, pelos muitos elementos que compõem o desenho, ele se constitui em um
código e pode, por meio desse código, construir mensagens, passando a ter status de um
signo
3
, e assim, é conhecido como ‘ícone’ ou ‘signo iconográfico’. O autor advoga também
3
Segundo Pierce (1972:94) um signo ou representemen, “é algo que sob certo aspecto ou de algum modo,
representa alguma coisa para alguém. Dirige-se a alguém, isto é, cria na mente dessa pessoa um signo
equivalente ou talvez um signo mais desenvolvido ao signo assim representado, denomina-se interpretante do
primeiro signo porque representa alguma coisa, seu objeto”.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
25
que a HQ é uma linguagem que revela a intencionalidade do artista na emissão do ato sêmico
e transforma o desenho em mensagem icônica, carregando em si, além das idéias, a arte e o
estilo do emissor. Cirne (2000:23), ao definir a HQ, afirma que:
basicamente, a HQ é uma narrativa gráfico-visual impulsionada por sucessivos
cortes
4
. Cortes esses que agenciam imagens rabiscadas, desenhadas e/ou pintadas.
Esse corte gráfico dá-se sempre num lugar de um corte espaço-temporal a ser
preenchido pelo imaginário do leitor.
Complementa ainda o autor que, na tira, a arte gráfica exige uma dupla articulação
semiótica: a narrativa enquanto tal e o seu agente impulsionador (o corte) que mobilizam a
relação produção e leitura de forma mais eficaz possível. O espaço narrativo existe na
medida em que se articula com os cortes, que são redimensionados pelo leitor, visto ser a
imagem da HQ estática. Conforme Figura 1.2 e Figura 1.3, abaixo.
Figura 1.2: Menina de olhos fechados (McCloud,
2005:70)
Figura 1.3: Menina de olhos abertos (McCloud,
2005:70)
McCloud (2005:88) afirma que uma imagem é apenas uma imagem. Mas, se essa
imagem vier seguida de outra, com alguma alteração, elas incorporam ação e
conseqüentemente, tornam-se uma seqüência narrativa em que a mente do observador
preenche a lacuna entre os quadros. Por exemplo, na Figura 1.2, a moça tem os olhos
fechados e na Figura 1.3, a moça tem olhos abertos. Repetidas as imagens, na passagem de
um quadro a outro, imagina-se que a moça fechou os olhos e os abriu novamente. No entanto,
a imagem é estática, ela não fez nada disso, nossa mente é que assim concebe e conclui.
Corroborando as teorias de Cirne, acerca da HQ, McCloud (2005:63-74), por sua
vez, denomina esses cortes gráficos, ou passagens de um quadro a outro, como “sarjeta” e
“conclusão”. Sarjeta é entendida por McCloud (2005:66) como as lacunas entre os quadros
que são preenchidos pelo leitor. Conclusão é, segundo McCloud (2005:71), o entendimento e
percepção empreendidos pelo processo mental do leitor, após processar imagem e texto numa
4
Cirne denomina de ‘corte’ a passagem gráfica de um quadrinho a outro, de uma imagem a outra, que provoca
no leitor uma atividade mental que os faz ligarem-se numa seqüência cinética. McCloud denomina ‘sarjeta’
essa mesma passagem gráfica (quadro/quadro; imagem/imagem) e ‘conclusão’ a atividade mental do leitor em
conectá-las em seqüência cinética, estabelecendo pontes narrativas.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
26
seqüência narrativa. O quadrinho, segundo o autor, é um meio de comunicação que tem o
público leitor como um colaborador consciente e voluntário, servindo-se da conclusão, a qual
é o agente de mudança, de tempo e de movimento. A conclusão (atividade mental) ocorre nas
sarjetas (lacunas entre os quadros) e permite ao leitor conectar os momentos e concluir
mentalmente uma realidade numa seqüência contínua e unificada.
Eisner (1999:91) a HQ como forma de uma arte voltada para a emulação da
experiência real. O autor argumenta que a constante preocupação do artista consiste na busca
de equivalência ou suplantação dessa realidade, o que, muitas vezes, o põe em conflito entre a
escolha do efeito do design ou de impacto da gina e as necessidades da história. Acrescenta
ainda o autor, que a arte do desenhista apóia-se na disciplina de mesclar à arte e à perspectiva,
o enredo que narra uma ocorrência ficcional numa ambientação realista. A partir dessa
observação, pode-se inferir que, mesmo o mais absurdo argumento narrativo ficcional requer
um mínimo de verossimilhança com a realidade.
Retomando o argumento de que a arte figurativa é a concomitância de três elementos
básicos: o assunto, a expressão e a forma, materializados pelo artista por meio das técnicas da
linha, da massa, do volume, do espaço e da matéria, McCloud (2005:124) afirma que toda
linha ou traço carrega consigo um potencial expressivo. Segundo o autor, vemos figuras ou
procuramos discerni-las no caos de riscos e formas que defrontamos no dia a dia. Por
exemplo, uma moeda maior com duas menores próximas e acima dela faz lembrar, ou leva à
conclusão, para a maioria das pessoas, de que a figura se assemelha a de um rato, conforme
ilustra a Figura 1.4, no caso, o Mickey.
Figura 1.4: Duas moedas pequenas e uma grande parecem um rato (McCloud, 2005:64)
Um segundo exemplo de figura e seu potencial expressivo è dado por McCloud
(2005:33) com a vista frontal de um carro que nos faz imaginar um rosto (Figura 1.5), em que
os faróis fazem os olhos, à abertura da refrigeração atribuímos idéia de uma boca, os espelhos
retrovisores fazem parecer orelhas, etc.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
27
Figura 1.5: As formas frontais de um carro aparenta um rosto (McCloud, 2005:33)
Um terceiro exemplo, segundo McCloud (2005:32), ilustrado pela Figura 1.6, a
seguir, na qual aparece um espelho da tomada de luz, pode-se associá-lo a uma carinha de
nenê, visualizando as três aberturas: dois olhos e uma boca.
Figura 1.6: Tomada elétrica parece uma carinha de bebê (McCloud, 2005:33)
Finalmente um quarto exemplo de associação imagética demonstrado por McCloud,
(2005:33), é a Figura 1.7, abaixo, em que uma figura oval com dois pontos sobre um traço,
lembra um rosto e assim por diante.
Figura 1.7: Figura oval com dois pontos sobre um traço, parece um rosto (McCloud, 2005:33)
De acordo com o psicólogo Ekman (1973), essa associação que fazemos das formas
com imagens conhecidas, dá-se porque somos humanos e estamos demasiadamente centrados
em nós mesmos, por isso vemos rostos e caras, animais e objetos em tudo à nossa volta.
Segundo McCloud (2005:36), a caracterização da imagem da HQ dá-se a partir desse
fenômeno, ou seja, a universalização da forma e da imagem e a associação dos traços a uma
imagem. Desse modo, McCloud (2005:39) afirma que “o desenho animado e a HQ são vácuos
para os quais nossa identidade e consciências são atraídas”. Esses vácuos são como uma
concha vazia que nós habitamos para viajar a outro reino. Não observamos o
cartum/desenho, como também, passamos a ser ele. Na compreensão escrita dos quadrinhos,
em que o mensageiro é estilizado, ou seja, é um desenho, afirma o autor que atentamos mais à
mensagem do que ao mensageiro e que o mensageiro é uma voz na nossa cabeça, um
conceito.
Ainda de acordo com McCloud (2005:37), o leitor vida ao personagem,
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
28
preenchendo a forma iconizada/cartunizada dele. Desse modo, o leitor identifica-se com o
personagem cartum e ambos passam a ser um só personagem. Teoriza ainda o autor que nossa
identidade e consciência estão investidas em muitos objetos inanimados. Todos os dias nos
transformamos no modo como os outros nos vêem e nos vemos também, de modo diferente.
São as representações do que somos, como nos vemos e de que modo somos vistos.
Nossa consciência, acrescenta McCloud (2005:37), nos como imagens
conceitualizadas e simplificadas, como se fôssemos um personagem de quadrinhos, daí a
grande identificação que o leitor tem com os personagens. Interessante observar que quanto
mais simplificamos uma imagem ao seu significado essencial, mais universal ela se torna,
conforme Figura 1.8 abaixo. Uma foto de alguém, só pode ser aquela pessoa ou assemelhar-se
a poucas outras, por outro lado, um desenho dessa pessoa pode parecer-se com muitas outras e
assim sucessivamente, até que uma imagem cartunizada daquela foto pode representar
milhões de pessoas. O desenho tem a capacidade dessa representação.
Figura 1.8: Simplificação da imagem de um rosto (McCloud, 2005:29)
McCloud (2005:31,41) argumenta que todas as coisas que vivenciamos na vida
podem ser separadas em dois reinos: o do conceito e o dos sentidos. Nossas identidades
pertencem ao mundo conceitual. Não podem ser vistas ou ouvidas, cheiradas, tocadas nem
saboreadas, são apenas idéias. Tudo o mais pertence ao mundo sensorial. O mundo externo a
nós é sensorial. McCloud aponta que “ao trocar a aparência do mundo físico pela idéia da
forma, o cartum coloca-se no mundo dos conceitos” (2005:41). Assim, se o realismo sensorial
representa o mundo externo, o cartum (desenho conceitualizado) representa o mundo interno,
uma identidade conceitual.
Na concepção de McCloud (2005:8-9) “a arte figurativa é revelação e manifestação
da essência da realidade, amortecida e esquecida em nossa existência cotidiana”. A HQ, vista
como meio de comunicação fundada na arte visual e como forma expressiva das
manifestações humanas, requer certo conhecimento de suas características, para que possa
assim, ser compreendida como arte e aplicada como recurso pedagógico. Para tanto, expõem-
se adiante, alguns desses elementos que são considerados essenciais à compreensão do gênero
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
29
HQ, como: a sarjeta
5
; os balões; os gestos humanos; o texto e contexto; o tempo e o timing; a
perspectiva, e outros. Segundo Eisner (1999:38) e McCloud (2005:2), esses elementos
“sistêmicos” caracterizam o gênero HQ e facilitam a sua compreensão escrita, se forem
previamente estudados e analisados.
1.2.2 Os Principais Elementos que Compõem a HQ
O fato de carregar em si a linguagem verbal e icônica faz da HQ um meio de
comunicação de fácil compreensão e também um recurso pedagógico bastante atraente,
conforme atestado na literatura. (Eco, 1970; Cagnin, 1975; Gubern, 1980; Eisner, 1999, entre
outros). Entretanto sua leitura e aplicação no meio escolar como recurso pedagógico ou como
mero lazer, não pode ser vista de modo simplista e classificado como “fácil”, porque nelas
concorrem alguns elementos relativos ao gênero HQ que podem tanto facilitar como dificultar
a compreensão escrita.
Vergueiro (2005:32) chama atenção ao fato de que alguns desses elementos foram
criados dentro da própria HQ, enquanto outros foram tomados e adaptados de outras
linguagens. O autor também observa que o cinema e os quadrinhos são manifestações que
surgiram quase simultaneamente, ambos fazem uso da imagem na composição da narrativa e
são, portanto, gêneros artísticos que se aproximam nas características e permutam entre si,
muitos de seus elementos.
McCloud (2005:49) e Eisner (1999:7) argumentam que todo autor pressupõe por
meio de seu texto, a participação do leitor na construção dos sentidos da leitura e, sugerem
então ser necessária a (re)orientação desse leitor, principalmente se ele for iniciante e trouxer
parco conhecimento de mundo e limitada experiência de vida. Essa necessidade é tão
pertinente que freqüentemente encontram-se manuais de compreensão e interação com/da a
HQ, em autores como Eco (1968), Barthes (1970), Gubern (1979), Eisner (1999), Vergueiro
(2005), McCloud (2006).
McCloud (2006:47) confirma o argumento de que a dinâmica e a fluência da
narrativa da HQ, sua compreensão escrita e a atribuição de sentidos, depositam-se na
interação: leitor- quadrinho- desenhista. Se, no entanto, não houver o conhecimento da
5
Apesar dos termos lacuna, corte ou recorte ( cf. Cirne e Eisner) serem similares ao termo sarjeta, foi dada
preferência à denominação sarjeta, ao se comentar e citar o fenômeno HQ. Sarjeta é denominação usada por
McCloud.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
30
linguagem icônica, atrelada à experiência e prática de leitura quadrinhística, por parte do
leitor, a leitura tende a ficar prejudicada e mal compreendida, não atingindo desse modo, o
objeto primeiro, o leitor, uma vez que os aspectos implícitos na leitura não foram aberta e
previamente discutidos.
Quanto ao estudo dos elementos que compõem o gênero HQ, Eisner (1999:8)
classifica-o como “a sistêmica da gramática da HQ”, que pode variar no estilo de autor para
autor, mas perdura em sua essência os seguintes elementos: a sarjeta, o corte e conclusão; os
balões, a presença de personagens com seus gestos e humores humanos, o tempo e timing,
incluindo o plano pictórico e a noção de movimento da imagem estática. Elementos que serão
explanados a seguir.
1.2.2.1 A Sarjeta e a Conclusão
Denomina-se sarjeta, o espaço compreendido entre os quadros e, segundo McCloud
(2005:66), ele é responsável pela magia e mistério que existem na essência dos quadrinhos.
Lembro que Cirne (2000:23) refere-se à sarjeta como “(re)corte”. McCloud (2005:88) explica
que a HQ é uma arte que faz uso das funções expressivas e sensitivas do homem, portanto, faz
uso dos sentidos para explorar uma narrativa, visto que os quadrinhos são estáticos e precisam
certa dinâmica e fluência cinestética (movimento) para conquistar o leitor. A HQ dispõe, tão
somente, da percepção visual, tanto da imagem quanto do texto para alcançar o seu propósito
comunicativo. A mente, observa McCloud (2005:88-89), preenche as lacunas entre as sarjetas
e esse preenchimento psicológico é denominado conclusão.
Um exemplo ilustrativo para demonstrar a função da sarjeta é encontrado em
McCloud (2005:66), como mostra a Figura 1.9 a seguir. No primeiro quadro, aparece um
homem irado perseguindo outro, que aparenta estar desesperado. O irado levanta um machado
e grita “agora, você morre!”, o outro suando aterrorizado grita: “Não!, Não!”. No quadro
seguinte, aparece uma cena noturna. A silueta escura de uma cidade, um céu cinza iluminado
por uma meia lua e um grito transcrito verbalmente preenchendo esse céu em transversal
“EEYAA !!. McCloud (2005:66), ao exemplificar a sarjeta e conclusão, pergunta: O que
houve? Quem morreu? Quem matou quem?e argumenta que não ficou nada explícito no
segundo quadro, apenas uma cena soturna e um grito no ar. É a imaginação do leitor que
preenche a sarjeta, ou seja, o espaço entre os quadros, auferindo morte a machadadas ao
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31
perseguido, ou ao perseguidor que tropeçou e se feriu, ou outra suposição imaginativa.
Figura 1.9: Sarjeta, espaço em que se dá a conclusão (McCloud, 2005:66)
A “conclusão” é elemento essencial à compreensão escrita da HQ e essa percepção
ocorre no espaço denominado sarjeta, conforme define McCloud (2005:67) que também
explica que o desenhista com sua criatividade sugere por meio da arte quadrinhística e seus
recortes as sensações que o leitor abstrai por meio de sua conclusão, o que depende da
imaginação e criatividade desse leitor. Os quadrinhos fragmentam o tempo, o espaço e o ritmo
da narrativa, a ‘conclusão’ conecta esses elementos dando uma contínua identidade
seqüencial aos fatos. Assim, segundo esse autor, pode-se dizer a grosso modo que “quadrinho
é conclusão” do leitor, ou seja, preenchimento mental do implícito.
Para explicar o que é conclusão e, simultaneamente fornecer parâmetros a uma
análise dos quadrinhos, McCloud (2005:70) elenca seis categorias de quadrinhos seqüenciais,
considerando um gradativo e crescente nível de dificuldade requerido do leitor quanto à
observação, ao conhecimento de mundo e à habilidade criativa no preenchimento mental
implícito entre cenas.
A primeira categoria, apresentada pelo autor, mostra uma seqüência “momento-a-
momento” que exige pouquíssima conclusão, pois a alteração entre os quadros é nima,
conforme ilustrado na Figura 1.10, mostra o movimento de uma aranha sobre um cobertor em
direção a uma pessoa que dorme, isto é, uma seqüência dentro de um mesmo contexto.
Figura 1.10: Seqüência momento-a-momento (McCloud, 2005:70)
O segundo exemplo, também extraído de McCloud (2005:70) e ilustrado a seguir,
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
32
(Figura 1.11), mostra uma seqüência dentro do mesmo tema, uma progressão “ação- para-
ação”. No primeiro quadro, vê-se o jogador de basebol no momento que se prepara para
rebater uma bola e no quadro seguinte, a ação é concluída, ou seja, o batedor está em
outra posição e o som onomatopéico da batida e sinais de movimento do bastão levam o leitor
a concluir a narrativa. Esta também é considerada uma conclusão de fácil compreensão.
Figura 1.11: Seqüência ação-para-ação (McCloud, 2005:70)
No terceiro exemplo de McCloud (2005:70) citado na (Figura 1.12), a primeira
cena mostra um perseguidor irado: “Agora você morre!” ameaçando de morte um homem
aterrorizado, que grita: “Não!, Não!”. A cena seguinte mostra uma noite mal iluminada pela
lua, tendo uma silhueta de cidade ao fundo e um grito que ecoa no céu: “EEYAA!”. O leitor
tem diante de si uma seqüência “tema- para- tema” que exige um pouco mais de interação e
atribuição de sentido. Ele tem que ter maior envolvimento na trama para decidir quem matou
quem, onde, como e o porquê. Ainda que o tema das cenas seja o mesmo, a segunda imagem
mostra um contexto diferente.
Figura 1.12: Seqüência tema-para-tema (McCloud, 2005:66)
Uma quarta categoria de seqüência de quadros, apresentado por McCloud (2005:71),
exige maior raciocínio dedutivo do leitor. Se comparado às seqüências anteriores, mostra
cenas que se distanciam significativamente em tempo e espaço. No exemplo da Figura 1.13, a
seguir, a seqüência cena- a- cena mostra uma mulher chorando por um marido que ela supõe
morto durante uma viagem. Uma pessoa a consola dizendo que “ninguém sobreviveria a um
acidente como aquele”. No segundo quadro, vê-se o marido desolado numa ilha deserta.
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33
Tanto o tema, como o contexto das imagens nos dois quadros, são diferentes, exigindo do
leitor toda uma complexa conclusão narrativa: a abstração do acidente com avião ou navio, a
salvação de um único homem numa ilha deserta, incomunicável e coincidentemente, marido
da mulher que chora, e é consolada por um suposto admirador, etc.
Figura 1.13: Seqüência cena-a-cena (MCloud, 2005:71)
Uma quinta categoria de quadrinho seqüencial na concepção de McCloud (2005:72),
exige um olho migratório, pois os quadrinhos sugerem datas comemorativas, estações do ano,
lugares e atmosfera climática. O autor chama essa categoria de “aspecto- para- aspecto”. Por
exemplo, na Figura 1.14, a imagem de papai Noel e neve sugerem o Natal, embora nosso
contexto tropical seja outro. O monte Fuji faz lembrar o Japão, a torre Eiffel traz à memória
Paris, mesmo que o leitor nunca tenha estado lá. O Pão de Açúcar lembra o Rio.
Figura 1.14: Seqüência aspecto-para-aspecto (McCloud, 2005:72)
Finalmente, a sexta categoria de quadrinhos seqüenciais, ilustrada pela Figura 1.15,
mostra uma seqüência ilógica, sem qualquer relação quadro a quadro que McCloud (2005:72)
chama de non-sequitur”. Embora seja um recurso raro, essa categoria representa uma
seqüência desconexa e não configura uma HQ, como conceituada e definida por Cirne (1970),
Eco (1993), Eisner (1999), McCloud (2005) e outros.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
34
Figura 1.15: Seqüência non-sequitur (McCloud, 2005:72)
Como pode ser observado, essas categorias classificam as seqüências narrativas,
conforme a complexidade ou dificuldade de interação e atribuição de sentido e foram
categorizadas por McCloud (2005:70) em variantes de compreensão, entre fácil até uma
seqüência mais complexa e difícil. Pontua ainda o autor que maior ou menor compreensão
escrita implica na sensibilidade, na abstração e no conhecimento de mundo despendido pelo
leitor, em seu processo de leitura.
Após a definição de sarjeta e conclusão, vistas em conjunto como o primeiro
elemento em importância dentro da HQ, vamos ao balão, conforme Vergueiro (2005:56) o
segundo elemento de maior importância da HQ, e que tornou-se sua marca, embora tenha
surgido posteriormente, como elemento necessário ao gênero, dentro da narrativa seqüencial.
1.2.2.2 O Balão
De acordo com Vergueiro (2001:55) a HQ é um sistema de significação que utiliza
dois códigos de interação, que parte da mensagem das HQ é passada ao leitor por meio da
linguagem verbal e a outra, faz-se por meio da linguagem visual (imagética). A linguagem
verbal aparece principalmente para expressar a fala ou pensamento das personagens, a voz do
narrador e os sons envolvidos nas narrativas apresentadas.
Com o fim de integrar a linguagem verbal à figuração narrativa, Vergueiro (2001:55)
afirma ainda que os quadrinhos desenvolveram uma variedade de itens convencionais
específicas à sua linguagem, que comunicam ao leitor o “status” do enunciado verbal. Os
textos verbais vêm envoltos nos balões de fala e têm a função de representar a comunicação
das personagens interna ou externamente. Os balões vêm próximos à cabeça das personagens,
portanto na parte superior dos quadrinhos.
Criadas pelo desenhista americano, Outcault em 1896, conforme Cagnin (1975),
McCloud (2005), Patati e Braga (2006), as falas sofreram diversas mutações ao longo desses
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
35
100 anos. Originalmente, os textos eram no rodapé do quadrinho com narrativas em terceira
pessoa em discurso indireto, conforme Figura 1.16, abaixo.
Figura 1.16: As falas em 3ª pessoa no rodapé do quadrinho (Agostini, 1869)
Richard Outcault recriou os balões com falas em primeira pessoa do singular e
colocou-as nas camisolas dos personagens dos comics Yellow Kid, (Figura 1.17), mas foi o
desenhista Dirks, autor dos sobrinhos do Capitão, contemporâneo de Outcault, que
revolucionou a arte dos quadrinhos em 1896, ao dispor as falas em primeira pessoa e colocá-
las dentro dos balões, o que deu mais fluência à HQ, conforme Figura 1.18.
Figura 1.17: Os textos de falas nas roupas (The Yellow Kid, Outcault, 1896)
Figura 1.18: Os primeiros balões de fala, na HQ (Katzenjammer, Dirks, 1896)
Mais tarde é que os autores foram convencionando e adaptando a forma dos balões
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
36
aos seus conteúdos e contextos da fala. Desse modo, estabeleceu-se que as falas normais vêm
em balões com bordas lisas e rabinhos, conforme mostra a Figura 1.19. Os pensamentos são
representados por balões em forma de nuvens, como exemplificado na Figura 1.20. As falas
tensas em balões com margens serrilhadas e para os gritos ou sons estridentes, balões com
bordas de serrilhados pontiagudos, conforme Figura 1.21. Os balões com linhas tracejadas
transmitem a idéia de que o personagem está cochichando (Figura 1.22).
Figura 1.19: Balão de fala normal (Eisner 1999:27) Figura 1.20: Balão de pensamento (Eisner, 1999:27)
Figura 1.21: Balão de fala estridente (Eisner, 1999:27)
Figura 1.22: Balão de cochicho (M. de Sousa, 1963)
Cagnin (1975:120) afirma que os balões podem ser diversos e assumirem
infinitas formas, conforme a criatividade e necessidade do desenhista. Eisner (1999:16)
demonstra ser possível por meio do desenho, representar uma narrativa sem o uso de qualquer
diálogo (linguagem verbal) que reforce a ação e se apóie somente na experiência comum,
entre escritor e leitor, o que ele chama de “narrativa em pantomima”. A leitura e a
interpretação deste tipo de HQ requerem conhecimento de mundo e conhecimento prévio das
técnicas usadas no desenho. A ilustração a seguir, Figura 1.23, é um exemplo de quadrinho
sem legenda, em que os olhos do leitor devem seguir a direção dos olhos das personagens
(bombeiros numa operação de salvamento) para se perceber a mensagem. Eles olham para o
alto, depois mais abaixo e finalmente o chão, o que a entender que a vítima caiu fora da
rede
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
37
Figura 1.23: Quadrinhos sem texto (Cagnin, 1975:185)
1.2.2.3 A Expressão Corporal e Facial da Imagem na HQ
De acordo com UpJohn (1965:7), em todos os tempos, o homem sempre usou as
imagens e os ícones para transmitir mensagens e informações. Eisner (1999:100) afirma que a
figura humana é a mais universal das imagens. O corpo humano, a estilização da forma, a
codificação dos seus gestos de origem emocional e as suas posturas expressivas são imagens
acumuladas e armazenadas na memória e são facilmente identificáveis.
Essa afirmativa, complementa o autor, pode ser facilmente observada nas
personagens da HQ, em que, mesmo sendo animais, monstros ou ainda seres alienígenas têm
nas formas e atitudes, características tipicamente humanas, o que leva a crer, segundo Eisner
(1999:101) que a forma humana e a linguagem dos seus movimentos corporais são os
ingredientes essenciais às expressões artísticas, em especial aos quadrinhos.
Ler HQ, ainda conforme Eisner (1999), é decodificar atitudes, gestos, emoções e
posturas. É também interpretar signos e sinais paralelos à imagem figurativa, portanto, a
decodificação dessa linguagem é elemento primordial à compreensão da mensagem, seja essa
mensagem advinda somente pela imagem, ou pela imagem mais a cumplicidade do texto
verbal.
Eisner (1999:103) relata ainda a dificuldade que tem o artista em destilar, numa
única postura estática, as centenas de movimentos intermediários que compõem o gesto do
personagem e criou um microdicionário de gestos (Figura 1.24) para ilustrar sua observação.
Além das expressões corporais, o autor também cita a importância das expressões faciais dos
personagens na montagem da compreensão imagética da HQ pelo leitor.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
38
Figura 1.24: Dicionário de gestos e humores (Eisner, 1999:102)
Vergueiro (2005:83), alerta sobre o que observar na leitura de HQ e afirma que os
recursos de expressão visual deve incitar à reflexão sobre quão ricos de informação podem ser
os elementos visuais utilizados no processo interativo.
De acordo com Eisner (1999:25), o leitor percebe se as expressões faciais dos
personagens da HQ estão condizentes com o contexto situacional, ou não. Os personagens
demonstram e os leitores percebem que por meio das fisionomias e gestos corporais das
personagens dos quadrinhos são transmitidos sentimentos de indiferença, de raiva, de medo,
de alegria, surpresa, dissimulação, ameaça, poder, etc. Estes e outros gestos são essenciais à
compreensão textual de uma HQ, o que requer conhecimento de mundo, percepção de valores
e sensibilidade social. Outros elementos importantes na composição do nero são o “tempo
e o “timing” explanados a seguir.
1.2.2.4 O Tempo e o Timing da HQ
Segundo Cagnin (1975:200), o leitor é o receptor da mensagem icônica, pois recebe a
mensagem na medida em que percebe a representação dada e consegue fazer diversas
associações. No entanto, esse trato com os signos gráficos em busca de significado dependerá
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
39
de diversos contextos. Dentre esses contextos, há o destaque à diferença entre ‘tempo e
timingconforme teoria de Eisner (1999). O ‘tempo’ e o ‘timing’ são expressões gráficas na
medição do tempo e o que os diferenciam é o preenchimento mental dessa lacuna de tempo
entre os quadrinhos. Enquanto o ‘tempo’ requer mais percepção e inferência na leitura da
imagem, o ‘timing’ por sua vez tem maior representação imagética da narrativa e exige menos
percepção e inferência do leitor. Em outras palavras, o “tempo” é uma seqüência de
quadrinhos com elipse, que requer do leitor maior percepção e conclusão de leitura, enquanto
o timing” é a denominação da seqüência mais detalhada em quadros e que poupa ao leitor
algumas conclusões mentais óbvias para a seqüência narrativa.
Eisner (1999:103) cita a necessidade, por parte do leitor, em saber que um tempo
como registro de ação: antes, durante e depois. Não é possível e nem necessário estar
registrado em desenho, todos os momentos e movimentos de uma seqüência, visto que o
quadrinho não é um filme cinemático, mas uma seqüência de quadros estáticos. A Figura 1.25
e Figura 1.26 ilustram essa informação.
Na Figura 1.25, observa-se que o tempo seqüencial tem elipse. A imagem mostra
dois homens em conflito e, enquanto o homem da direita ataca com uma faca, o homem da
esquerda revida com um tiro de revólver. No segundo quadrinho ele atira. No terceiro
quadrinho o atirador observa o corpo caído. Eisner (1999:25) denomina essa seqüência
“tempo”, porque ela tem elipse, vácuos, cortes ou sarjetas em que o leitor tem que supor e
concluir o que foi omitido.
Figura 1.25: Narrativa em “tempo” (Eisner, 1999:25).
Na Figura 1.26, a seguir, vê-se o mesmo episódio narrativo da Figura 1.25, agora
mostrada em “timing”, ou seja, a seqüência narrativa é mais lenta por estar representada em
mais quadros. A ilustração mostra que o homem da esquerda atira. A queda e a morte do
homem da direita são representadas detalhadamente em mais quadros, até a cena final em que
o atirador observa o corpo caído.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
40
Figura 1.26: Narrativa em “timing” (Eisner, 1999:25)
1.2.2.5 O Plano Pictório: Perspectiva e Distanciamento
Cagnin (1975:88-90) descreve quatro posições básicas da imagem, do ponto de vista
do observador quanto à composição estética e ângulo de observação, a seguir:
1. A posição denominada ‘de frente’, ou seja, a posição mais comum em que se
destaca imediatamente e com mais simplicidade, a figura temática.
2. A posição denominada ‘de trás’, em que o personagem é representado de costas,
ou seja, de trás. Essa posição acontece em decorrência de três situações distintas:
a) a cena é composta de tal modo que esta figura de costas e normalmente em
primeiro plano auxilia a encaminhar o olhar para a figura temática; b) a figura em
primeiro plano oculta a identidade de um personagem para se obter suspense e
mistério na narrativa; e c) quando o desenhista distribui esteticamente um grupo
de personagens para evitar a monotonia.
3. A posição ‘de cima’, também determinada de plongé, serve para dar a impressão
de encurralamento ou esmagamento em que a personagem apresenta-se humilhada
ou apequenada.
4. A posição ‘de baixo’ou contre-plongé serve para mostrar a personagem
engrandecida, maior e mais forte que a realidade.
Do ponto de vista de distância entre o observador e o objeto, três são os planos mais
comuns:
a) aproximação, pormenor ou close que mostra o detalhe de um objeto ou o rosto de
uma figura e permite ao leitor entrar em contato com o personagem destacando
seus aspectos mais atraentes ou repulsivos (Figura 1.27);
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
41
Figura 1.27: Imagem em plano close (Eisner, 1999:42)
b) o plano médio ou aproximado mostra a figura até o meio do peito ou até a cintura
e é empregado para cenas de diálogos em que a fisionomia detalhada permite a
percepção das expressões faciais (Figura 1.28);
Figura 1.28: Imagem em plano médio (Eisner, 1999:42)
c) o plano geral ou panorâmico que mostra os personagens, bem como o cenário,
equivalendo a descrição dos ambientes nos romances. Esse plano sugere decurso
de tempo dificuldade ou prolongamento de um empreendimento (Figura 1.29).
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
42
Figura 1.29: Imagem em plano geral ou panorâmico (Eisner, 1999:42)
1.2.2.6 A Idéia de Movimento na HQ
Conforme observa Cagnin (1975:84-85), as limitações da imagem estática exercitam
a imaginação dos artistas na procura de novos sinais que em vida à figura. São inúmeras as
possibilidades e criações artísticas com o objetivo de fazerem a imagem fixa cada vez mais
parecer dinâmica. No entanto, alguns desses recursos são usados pela maioria dos cartunistas
e tornaram-se quase convencionais, segundo o autor, duas são as categorias icônicas:
1. motivada por alguma semelhança com o real, por exemplo: poeirinha nos pés dos
personagens simbolizando corrida, velocidade; gotículas ao redor do rosto
simbolizando calor, espanto ou medo; notas musicais sobre a cabeça do
personagem representando alegria, som musical ou canto; a fumacinha saindo da
cabeça do personagem simbolizando raiva ou ódio; saliva nos cantos da boca
representando o desejo, a gulodice ou a libido;
2. motivadas por unidades lingüísticas (frases feitas e provérbios), por exemplo,
estrelinhas e pássaros voando em círculo para representar o dito popular ‘ver
estrelas’ quando alguma parte do corpo está doendo ou levou pancada; cobrinhas,
sapos, flechas e caracóis simbolizando xingamento, para representar o dito
popular “dizer cobras e lagartos”; a representação gráfica de um objeto com asas,
voando para simbolizar que os desejos não foram realizados “bateu asas e voou”.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
43
Merecem destaque, ainda, as representações gráficas da velocidade, pressa e
movimento representadas na HQ. Cada desenhista tem o seu estilo em representar esses
movimentos. McCloud (2005:110) mostra que é possível representar a velocidade dentro de
um mesmo quadro com a repetição da mesma imagem em movimento, ou ainda com a
representação do objeto estático seguido de riscos em reta ou em círculos, direcionando o
movimento. Para grandes velocidades, como um carro em movimento, recorre-se a diferentes
recursos, conforme Figura 1.30 e Figura 1.31, a seguir.
Figura 1.30: Velocidade com fundo desfocado
(McCloud, 2005:113)
Figura 1.31: Velocidade com objeto desfocado
(McCloud, 2005:113)
Por exemplo: a figura 1.30 mostra a imagem do objeto parado/estático e o fundo
desfocado. O exemplo da figura 1.31 mostra o fundo estático e o objeto desfocado. A imagem
nítida antecedida por repetidas posições seqüenciais desfocadas, e ilustrada na Figura 1.32, a
seguir:
Figura 1.32: Velocidade representada com repetidas posições (McCloud, 2005:110).
Uma vez explicitados os principais elementos composicionais da HQ, considerados
importantes para sua compreensão, passo a focalizar a questão da HQ como recurso
pedagógico e as implicações de seu uso.
1.3 A HQ como Ferramenta Didática
Conforme registra Vergueiro (2005:13-14), a censura e a repressão à HQ ocorridas
após a Segunda Guerra Mundial, tomaram volume e representaram uma grande derrota
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
44
editorial e de público, culminando num preconceito que, com menos intensidade, perdura até
nossos dias. O governo americano, porém, encontrou uma utilização plausível aos quadrinhos
usando-os como recurso didático de orientação técnica no ensino e instrução de profissionais
específicos, nos períodos de guerra e pós-guerra.
De acordo com Vergueiro (2005:18-20), o famoso desenhista e editor de quadrinhos
Will Eisner foi convidado pelo Departamento de Defesa do governo americano para desenhar
manuais de treinamento técnico aos soldados que estavam na guerra, que a eficiência do
meio comunicativo que utilizava as linguagens verbais e iconográficas atendia à pressa
requerida em tempos de conflito. O autor registra ainda que os manuais que utilizavam os
recursos dos quadrinhos serviram, posteriormente, de orientação profissional a esses soldados
que regressavam à vida civil e faziam uso daquelas instruções, o que, segundo Vergueiro
(2005:170), veio comprovar o reconhecimento, pelas instituições oficiais, de que a
concomitância de texto e imagem, comum às HQ, tidas até então como fonte de lazer, eram
também um eficiente recurso didático no ensino e na instrução.
De acordo com Vergueiro (2005:18-19), constatada a eficiência pedagógica da HQ
com fins estritamente didáticos e voltada como apoio formal ao ensino escolar foi utilizada
mais acentuadamente pelos europeus na década de 70. Concomitantemente, houve em todo o
mundo uma avalanche de publicações em quadrinhos com conteúdo pedagógico, o que incluiu
a produção da vida e obra, por exemplo, de Marx, Darwin, Freud e Einstein e de assuntos
como Energia Nuclear, Biologia, História, entre outros.
No Brasil, Vergueiro (2005:20) cita que a inclusão efetiva da HQ como material
didático começou de forma tímida nos anos 80, com o objetivo de explicar aspectos
específicos das matérias que antes eram expostas por meio de textos escritos. Desse modo,
constatados os efeitos favoráveis ao ensino e aprendizagem, os autores e editoras começaram
a incluir com menos receio e com mais freqüência, a HQ nas publicações didáticas, visto que
sua penetração e uso existiam no ambiente escolar, levada pelos alunos, embora, de forma
clandestina.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, Introdução, (doravante PCN-Introdução),
(Brasil, 1998:74-78) há recomendação ao uso das HQ como modo de diversificar a linguagem
dos textos informativos e as atividades complementares ao aprendizado. Além disso, verifica-
se também a proliferação de HQ nos livros didáticos como ferramenta didática para o
desenvolvimento da compreensão escrita, o que enfatiza sua importância como um recurso
pedagógico desejável.
Entretanto, acredito que sua utilização em sala não é tarefa tão simples. Conforme
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
45
aponta Vergueiro (2005:31), é necessário, primeiramente observar que as histórias em
quadrinhos constituem um sistema narrativo composto por dois códigos que atuam em
constante interação: o iconográfico e o verbal. Cada um deles ocupa, dentro dos quadrinhos,
um papel especial, reforçando um ao outro e garantindo que a mensagem seja entendida em
sua plenitude. De acordo com Cagnin (1975:50), algumas informações e inferências são
passadas exclusivamente pelo texto e outras, contam com a linguagem pictórica como sua
fonte de transmissão. Portanto, inferimos que, para uma alfabetização ou letramento na
linguagem específica dos quadrinhos, é indispensável que o aluno decodifique as múltiplas
mensagens neles presentes por meio da imagem e, que, numa segunda instância, haja também
instrução do professor para que se obtenha melhores resultados em sala. Passo agora a tratar
da leitura e compreensão da HQ.
1.4 A Leitura da Imagem dentro da HQ
De acordo com o cineasta francês Mitry (1907-1988), o receptor da mensagem
icônica, o leitor, recebe a mensagem na medida em que percebe a representação dessa
imagem e consegue por meio de sua organização mental, fazer diversas associações dentro do
contexto. A imagem de um objeto identifica-se com o objeto representado, logo a imagem
significa o que o objeto significaria. No entanto, para se ter maior compreensão dessa
imagem, o leitor precisa aperfeiçoar esse seu ‘ver’.
Cagnin (1979:51) questiona a capacidade do desenho de representar alguma coisa e
argumenta que dois são os conjuntos de elementos implicados na formação do contexto e
compreensão da HQ. Primeiramente, os elementos internos do desenho (pontos, linhas e
figuras) e depois os externos (referentes, objetos, o meio social e a cultura). A possibilidade
em relacionar esses dois elementos pauta-se na capacidade compreensiva e lógica de cada
leitor. Daí decorre, conforme argumenta o autor, a necessidade de um aprendizado de leitura
da imagem, para entendê-la ou para ligá-la a um referente ou objeto conhecido. O desenho,
segundo Cagnin (1975:51), exige elaboração por parte do emissor e a preocupação de orientar
a compreensão do significado ao leitor. Essa compreensão é seletiva e orientada por dois
pólos: a intenção do desenhista e as limitações do leitor.
Para processar a compreensão escrita dos quadrinhos, Cagnin (1975:52) enumera seis
modalidades de HQ, conforme a disposição das imagens, argumentando que muitas são as
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
46
formas de se processar a compreensão desses quadrinhos e, infinitas e variáveis são as
conotações interpretativas do leitor, dadas ao desenho. Dessas seis modalidades de leitura de
HQ, somente as modalidades 1 e 2 são pertinentes a este trabalho, a saber:
1. Na primeira modalidade, a leitura e compreensão da imagem da HQ podem
ocorrer quando se observa o quadrinho no seu todo para que se extraia a sua
mensagem. Os olhos passeiam pela imagem buscando onde se concentra o maior
número de semas
6
, ou o sema nuclear narrativo. Nesse caso, valorizam-se mais a
área central do quadro em detrimento das periféricas e a parte superior em
detrimento da parte inferior.
2. Na segunda modalidade, a leitura e compreensão do texto obedecem a ordem dos
balões e das legendas, o que vai limitar a liberdade de leitura da imagem, porque
nesse caso, valorizam-se mais a informação cronológica do discurso e o próprio
tempo narrativo.
Ainda, segundo Cagnin (1975:54), seria difícil precisar as etapas cronológicas
percorridas pelo leitor para decifrar a linguagem visual da HQ, à medida que os olhos correm
as imagens, os espaços icônicos, as sarjetas, os quadros e balões, ou seja, todo o tempo e o
trabalho despendido na leitura da imagem até sua conclusão perceptiva.
Sabe-se de antemão que esse processo está sujeito a alguns níveis de percepção
interativa, conforme pontua Cagnin (1975:53), que afirma que a compreensão dos
significantes visuais consiste em elencar todas as figuras e ícones dispostos numa vinheta
7
ou
quadro, identificá-los e associá-los à uma figura ou imagem, uma vez que todo desenho
representa alguma coisa. Essa compreensão é denotativa porque ela admite sentido único na
transposição para um referente. Porém, a atribuição de significado à aquela imagem é
conotativa e subjetiva, porquanto no rol elencado dos significados pesam o conhecimento de
mundo, valores, contextos e experiências de vida do leitor. Embora, haja liberdade para essa
atribuição, esses significados não devem ser desvinculados de um sentido gico e racional
dentro de um determinado contexto.
Conforme resume Cagnin (1975:78), a compreensão visual de uma imagem estática e
a atribuição de significado a ela, obedece a três fases:
1. Identificação (imagem/realidade): a imagem desenhada representa objetos, seres
concretos e nunca conceitos abstratos. Nesta fase de leitura, libera-se a imagem de
6
Semas: do grego sema, signo ou símbolo.
7
Denomina-se vinheta todo e qualquer quadro que compõe uma HQ.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
47
sua condição de ícone ou um conjunto icônico significante e o leitor transforma
essa imagem em substância de expressão de outro significado;
2. Atribuição qualificativa (conjunto de enunciados descritivos) às imagens. Ao
tomar uma das variantes da representação do real, o leitor permite que o
significado da imagem seja traduzido por sentenças verbais qualificativas ou
dinâmicas. Daí dizer que uma imagem não corresponde a uma unidade-palavra,
mas a um enunciado. Nesta fase da leitura, a redução de polissemia e, portanto
um encaminhamento para a univocidade do significado, ou seja, a um único
sentido. Reduz-se a ambigüidade e exclui-se um grande número de possibilidades.
3. Atribuição dinâmica (conjunto de enunciados narrativos): a imagem, ainda que
estática, narra e descreve uma ação. Nesta fase, os três processos são simultâneos,
pois ao mesmo tempo em que se liberta a imagem de sua mera iconicidade
intrínseca
8
e se lhe um significado, ela também se liga à imagem seguinte,
dando a idéia de consecução de tempo ou de conseqüência (causa e efeito).
De acordo com Cagnin (1975:80), a percepção visual na compreensão imagética,
pode incorrer em ambigüidade polissêmica
9
com menos intensidade na fase 1, fase de
identificação da imagem com a realidade e mais intensamente na fase 2, onde se daria a
redução das possibilidades de percepção e encaminhamento a um sentido único. Esse
processo vai culminar na terceira fase de percepção, fase em que, dada a libertação da imagem
de sua mera iconicidade intrínseca, se atribui a ela um significado e, ela imediatamente liga-se
à imagem seguinte, refazendo na mente do leitor, o mesmo processo de percepção circular
anterior. McCloud (2005:67) advoga que o grau de dificuldade de compreensão imagética
pelo leitor é atribuído não à vinheta/quadro em si, mas à seqüência narrativa, ou seja, um
quadro relacionado a outro, considerando as estratégias de coerência e coesão nessa seqüência
narrativa.
De acordo com Vergueiro (2005:80), denomina-se coerência narrativa quando há um
desfecho esperado e previsto hipoteticamente, quando do início da leitura seqüencial. No
entanto, os quadrinhos trabalham e aplicam a incoerência porque é nela que muitas vezes se
deposita o chiste cômico da narrativa. O engraçado é o absurdo. Por outro lado, coesão
8
Iconicidade intrínsica- a representação não visível ou clara que uma imagem ou ícone pode ter.
9
Ambiguidade polissêmica- embora uma imagem ou ícone possa significar ou representar muitas coisas, às
vezes, a imagem da HQ não permite essa polissemia.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
48
narrativa é a ligação ou amarração entre as partes do texto imagético. Por exemplo, as
características de determinado personagem quadrinhístico são repetidas na tira seguinte sem
que se precise declará-la novamente. Por exemplo, o Cascão não gosta de tomar banho e tem
medo de água. Uma nova tira não tem que salientar essa característica porque o leitor
costumeiro já o sabe.
Assim, podemos concluir que a leitura da imagem não é, como bem observaram
Cagnin, (1975), Gubern (1980), Eisner (1999), Vergueiro (2005) e Cortez (2007) um processo
simples, porque o processo de leitura de imagem requer um complexo exercício mental para
atribuição de sentidos, considerando as fases da identificação, da correspondência e a
atribuição dinâmica da ação narrativa que caracterizam a percepção visual de uma imagem
estática e sua atribuição de significados.
Em suma, a leitura da HQ é um processo que requer que sejam observados 3
aspectos para que ela aconteça em sua plenitude. Dois desses aspectos são voltados à imagem
e um aspecto, á leitura textual.. Os dois primeiros aspectos subdividem-se em elementos,
denominados técnicas ou recursos, como se segue.
O primeiro aspecto é o reconhecimento dos elementos da HQ, ou seja, a capacidade
do leitor em identificar uma HQ, perceber os quadros e atribuir a eles um fluxo de narrativa,
mesmo que os eventos venham encapsulados em imagens estáticas. Segundo Eisner
(1999:38).
A função fundamental da arte dos quadrinhos é comunicar idéias ou histórias por
meio de palavras e figuras e envolve o movimento de certas imagens no espaço. Os
eventos são decompostos em segmentos seqüenciais. Esses segmentos são chamados
de quadrinhos... eles podem expressar a passagem do tempo, a contenção do
pensamento e locação. Conhecida a sua seqüência, o leitor pode fornecer os eventos
intermediários e preencher as lacunas da ação, a partir de sua vivência.
Assim, além do leitor reconhecer uma HQ, no seu elemento essencial, os quadrinhos,
ele precisa também perceber o ‘tempo’ e o timingna composição. Conforme exposto na
seção 1.2.2.4, de acordo com Eisner (1999:25), “tempo e timing são dois fenômenos da
duração da ação na consciência humana e a percepção de sua medida e significado”. As ações
de ‘tempo’ são representadas em menos quadros, enquanto as ações de timing são expostas
em mais quadros, o que interfere no tempo psicológico do leitor e torna a narrativa mais lenta.
Outro elemento a ser reconhecido é a aproximação/close ou
distanciamento/panorâmica das imagens da HQ. A aproximação permite maior percepção de
detalhes, por exemplo, de um rosto. Enquanto que perspectiva panorâmica da HQ descreve
amplamente um ambiente e sugere decurso do tempo, Cagnin (1975:92).
Um quarto elemento ainda é a perspectiva ou angulação das imagens dos planos de
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
49
ação usada na HQ. Essas técnicas situam as personagens e objetos enquanto vistas de cima, de
baixo, por trás ou por frente e têm importância psicológica vital sobre o leitor, para perceber o
clima em que se desenrola a ação.
O segundo aspecto com seus elementos a serem considerados é a percepção dos
significantes e significados das imagens que requerem conhecimento de mundo e experiência
de vida. O conhecimento de mundo tem muito peso na percepção do dito e o não dito nas
sarjetas e nas conclusões da HQ. McCloud (2005:71) chama a atenção às sarjetas e conclusões
e o envolvimento mental requerido ao leitor para dar sentido a essas transições, bem como ao
raciocínio dedutivo exigido na leitura e compreensão da seqüência narrativa.
As imagens carregam mensagens que precisam ser decodificadas. As expressões são
elementos que carregam significados que são importantes na decodificação da compreensão
escrita das imagens, do mesmo modo a percepção dos tipos de balões com suas formas,são
elementos que também ajudam nessa compreensão. A idéia de movimento das personagens e
objetos (imagens estáticas) dentro da HQ fazem uso das técnicas da representação gráfica. O
leitor precisa ter a noção de que poeirinha, fumacinha, imagem desfocada, traços próximos do
rosto e das mãos das personagens são recursos que significam movimento e dão mobilidade
ao estático.
Ao categorizarmos os dois aspectos da leitura de HQ e os elementos pertinentes à
leitura de imagens dentro dos quadrinhos, lembramos que o terceiro aspecto refere-se à leitura
textual, tratado a seguir.
1.5 A Leitura do Texto Verbal dentro da HQ
McCLoud (2005:138) afirma ser normal na nossa sociedade a combinação de
palavras e figuras para se expressar, porque a comunicação, quando ilustrada, fica mais fácil
de ser compreendida. Advoga ainda o autor que, muitos leitores vêm a HQ e uma narrativa
com ilustrações, como um mesmo processo de compreensão. No entanto, ignoram esses
leitores que numa história ilustrada, a gravura não acrescenta informação ao texto, apenas
ajuda a imaginar um espaço, um personagem, mas não adiciona conteúdo à narrativa. O
mesmo não ocorre com a HQ, gênero em que, texto e imagem se complementam. Na
concepção de Eisner (1999:127), palavras e imagens, quando combinadas, podem transmitir
uma infinidade de idéias numa narrativa e essa é a essência da HQ.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
50
De acordo com Gubern (1979: 55), enquanto a gravura (imagem) representa
pictoriamente um espaço, na operação da leitura, ela adquire também, uma dimensão
temporal, que verdadeiramente não possui, dada a sua condição de imagem fixa. Afirma ainda
o autor que a importância da linguagem verbal no seio da HQ dá-se porque, por meio dela se
atribui imaginariamente a duração de uma ação real ao que se supõe representado na gravura.
McCloud (2005:153) categoriza sete funções da linguagem verbal (texto) numa
seqüência narrativa de HQ:
As palavras são essenciais num texto em que as imagens são apenas ilustrações
e não fornecem informação à compreensão do texto, por exemplo, as histórias
infantis ilustradas.
Em uma HQ, as palavras podem acrescentar uma trilha sonora a uma seqüência
visual, por exemplo, as onomatopéias.
As palavras podem, assim como as imagens da HQ, transmitir a mesma
mensagem, como por exemplo, a imagem de alguém chorando e o texto declara
que ela chora.
As palavras podem ampliar a compreensão de uma imagem, em uma HQ em
que a personagem bem vestida, pergunta, por exemplo “que tal meu novo
visual?”.
As palavras podem numa HQ, ainda que em paralelo, seguir curso diferente da
imagem o exemplo, uma imagem e um texto desconexo dela, referindo-se a
outro assunto.
As palavras podem ser partes integrantes da figura e acrescentar entendimento a
elas, em uma HQ, na qual a imagem de um homem com expressão apavorada é
circulada por um textos em letras garrafais: fluxo de caixa, conta de água, de
luz, de telefone, impostos e combustível, entre outros exemplos.
As palavras e as figuras não podem ser desvinculadas uma da outra, em uma
HQ onde haja a interdependência. Em outras palavras, elas sozinhas não podem
exprimir a idéia desejada, por exemplo, na imagem de um revólver e o texto:
“preciso disso para detê-lo”. Lembrando que essa interdependência verbal e
imagética nem sempre se equilibra, podendo pesar mais um ou outro elemento.
Conforme afirmam Kato (1986), Ramos (1988), Coracini (1995), Solé (2006), Cock
e Elias (2006) e Kleiman (2007) a leitura é uma atividade de construção de sentido que
pressupõe a interação leitor e texto, mas é preciso considerar que nessa atividade, além das
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
51
pistas e sinalizações que o texto oferece, entram em jogo, o conhecimento de mundo do leitor
aplicados aos elementos que caracterizam o gênero. Na leitura de HQ, entra em jogo também
a linguagem icônica que, atrelada à imagem, é recurso ao qual a linguagem dos quadrinhos
recorre para fazer-se mais expressiva.
Desse modo, conforme afirma Eisner (1999:13), que cabe ao leitor não proficiente
conhecer os elementos característicos do nero HQ para que ele possa melhor interagir com
a imagem, com o texto, com o contexto e, de modo mais eficaz, entender a mensagem contida
nessa modalidade textual.
Kato (1986:59) advoga que a leitura é interação entre emissor e receptor, um contrato
tácito intermediado pelas intenções do emissor e o conteúdo proposicional do texto. Tal
pressuposto é reiterado por Ramos (1987:7) ao afirmar que: um texto tem significado
elocutório
10
e um conteúdo proposicional e pode ser entendido tanto diretamente como
indiretamente através de sinais convencionais discursivos ou através do conhecimento
partilhado entre escritor e leitor.
As afirmações anteriores corroboram os PCN-Introdução, (Brasil, 1998a:27) que
dizem que um texto ideal é aquele marcado pela determinação dialógica sócio-interacional, ou
seja, o texto ideal tem função comunicativa eficiente entre um emissor e um receptor. Quanto
à compreensão escrita da HQ, Eisner (1999:8) argumenta que a leitura de HQ é um ato de
percepção estética e um esforço intelectual e os processos psicológicos envolvidos na
compreensão de uma palavra e de uma imagem são análogos, pois a estrutura da ilustração e
da prosa são similares.
Pode-se então inferir que a compreensão de uma palavra ou de uma imagem, como
declara Kleiman (2007:10), passa pelo dialogismo leitor-texto e que essa interação é também
marcada pela cultura histórico-social que compõe o conhecimento de mundo do leitor.
Os PCN-LE (Brasil, 1998b:20,23,63) recomendam que a leitura em língua
estrangeira tenha por fim: atender aos requisitos da educação formal; ser uma habilidade em
que o aluno tenha condições de empregar em seu meio social de forma imediata; constituir-se
na habilidade mais viável para ser trabalhada em sala de aula; auxiliar no desenvolvimento
integral do letramento do aluno. O documento também deixa claro que deve haver o
engajamento discursivo do aluno por meio da ngua estrangeira, isto é: aumentar sua
percepção como ser humano e cidadão e poder agir no mundo social. Esclarece que o
processo de compreensão escrita e oral envolve fatores cognitivos e sociais relativos à
10
Elocutório- que refere-se a elocução. Formas de exprimir o pensamento, retórica.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
52
informação. De acordo com o documento, esses fatores da informação requerem atenção,
percepção, decodificações de sons e letras, segmentação morfológica e sintática, atribuição do
significado ao nível léxico-semântico e, por fim, a integração de uma informação à outra.
Assim, afirma Vergueiro (2005:24), que para haver o partilhamento, o entendimento
e o dialogismo entre desenhista (emissor) e leitor (receptor) é necessário que esse leitor, ainda
que iniciante deva familiarizar-se com os personagens, seus gestos e humores, com o contexto
e o discurso textual, bem como, com os elementos que compõem o gênero, pois é por meio
dessa familiarização que se dá a ampliação do conhecimento de mundo do leitor iniciante e o
leva, por meio do esforço intelectual, à percepção estética e textual requerida. O leitor tem
que envolver-se no universo HQ (leitura textual e imagética) para que possa compreender
efetivamente as ações, fazer as representações de seus personagens e suas tramas. Quanto à
leitura do texto quadrinhístico, Cirne (2000:25) pressupõe que a leitura se dá, ao mesmo
tempo, de forma múltipla e simultânea e constrói sua temporalidade específica no interior da
narrativa. De um lado tem-se a narrativa proposta pelo autor, do outro, tem-se a narrativa
mentalmente trabalhada pelo leitor.
Cagnin (1975:25) afirma que a HQ é um sistema narrativo formado por dois códigos
de signos
11
gráficos: a imagem, obtida pelo desenho e, a linguagem verbal do texto. O autor
define ainda imagem “como o elemento figurativo, enquanto o texto é o elemento lingüístico
integrado no sistema narrativo”.
De acordo com Vergueiro (2005:31), as mensagens dos quadrinhos são percebidas
pelos leitores por intermédio da interação entre os códigos gráfico e verbal. Desse modo, uma
análise separada para cada um deles obedece a uma necessidade puramente didática, pois,
dentro do ambiente da HQ, eles não podem ser concebidos separadamente.
Eisner (1999:8) corrobora essa definição acrescentando que o ofício do desenhista
consiste em integrar a palavra à imagem numa hibridação de ilustração e prosa. Cagnin
(1979:26) afirma que a imagem desenhada é o elemento básico da HQ e se apresenta como
uma seqüência de quadros que trazem uma mensagem ao leitor, normalmente uma narrativa
ficcional ou real, que deve ser lida no mundo ocidental no sentido do texto escrito, ou seja, do
alto para baixo e da esquerda para a direita. Vale observar que essa convenção não se aplica
11
Conforme Saussure (1969:80) signo é a combinação de um conceito lingüístico à sua imagem acústica; mas o
termo corrente designa signo para o sensorial. Conceito e imagem acústica são denominados respectivamente
por significado e significante. Pierce (1972: 101) classifica os sinais em duas categorias: 1-os naturais ou
índices de relações naturais, ex: nuvem/chuva;fumaça/fogo e 2- os artificiais que podem ser: a) figurativos e
mimético denominados ícones, ex: desenho, pintura que representam o real, e b) convencionais ou símbolos -
tem relação convencional com o real, ex: um ícone de um caminhão cortado por um traço, significando tráfego
proibido a caminhões.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
53
aos quadrinhos orientais, como os mangás, e suas variações hentai, (HQ eróticos) cujas
leituras já começam a se popularizar entre nossos alunos.
Conforme afirma Vergueiro (2005:24), cabe ao leitor exercer suas habilidades
interpretativas visuais e verbais. Ao ler uma HQ as habilidades visuais consistem em observar
ou aprender a ver as regências da perspectiva, da simetria e da pincelada, enquanto as
habilidades verbais encontram-se na narrativa apoiando o enredo por meio da gramática, da
sintaxe e do léxico. Portanto, de acordo com o autor, a leitura de HQ é um ato de percepção
estética e esforço intelectual. Essa percepção, porém, precisa ser adquirida ou despertada e a
escola é um canal competente a realizá-lo. Partilham dessa opinião autores como Cagnin
(1975), Gubern (1980) e Eisner (1999), que também acreditam existirem estratégias
necessárias para se chegar a uma boa compreensão e que elas possam ser ensinadas, a fim de
tornar o aprendiz um leitor e observador mais eficiente.
Em suma, o texto verbal e o texto imagético se complementam, mas têm pesos
diferentes e distintos. Enquanto a leitura de imagem requer associações entre o desenho
gráfico e seu referente real, estabelecendo identificação, suas representações e atribuição
dinâmica, o texto verbal atribui imaginariamente uma duração de tempo à representação
imagética e adiciona conteúdo informativo à narrativa icônica.
Neste capítulo foram expostos e discutidos os embasamentos teóricos que
fundamentam a aplicação da HQ como um recurso pedagógico, considerando primeiramente
o seu histórico, os elementos que compõem o gênero, sua aplicação didática e os processos de
leitura imagética e textual da HQ. No próximo capítulo descrevo a metodologia adotada neste
estudo.
54
2 METODOLOGIA DE PESQUISA
Neste capítulo, apresento a abordagem metodológica que é utilizada na condução
deste estudo, inicialmente descrevo o contexto de pesquisa e os participantes focais. Em
seguida, apresento os recursos impressos dos quais me servi para a realização da pesquisa. Por
fim, apresento e discuto os instrumentos e procedimentos de coleta de dados, bem como os
procedimentos de análise.
2.1 A Abordagem Metodológica: Protocolo Verbal
A abordagem metodológica utilizada nesta pesquisa é inspirada no protocolo verbal,
ou “pensar alto”, por meio do qual é possível, segundo Pressley e Afflerbach (1995:2) chegar
a uma descrição dos processos cognitivos acionados durante a leitura. Kamil et al. (2000:163)
afirma que, ao investigar o leitor sobre O que passa na sua mente” enquanto ele processa a
compreensão escrita, o pesquisador pode auxiliá-lo a elencar processos e estratégias usados
por ele em seus aspectos cognitivos.
Conforme mencionada na introdução desta pesquisa, minha preocupação centra-se
nos processos que ocorrem durante a leitura de um texto em inglês na modalidade HQ, mais
especificamente, nos resultados dessa compreensão escrita proporcionados pelos elementos
do gênero. Para essa investigação, busco responder neste estudo a seguinte pergunta de
pesquisa:
Quais são as contribuições dos elementos da HQ para a compreensão escrita em
inglês do leitor iniciante?
Com objetivo de responder a essa questão, optei por trabalhar inspirado nas técnicas
introspectivas, conhecidas também como técnicas de protocolo verbal, conforme Cohen
(1987:101) e Nunan (1992:143), ou a “técnica do pensamento em voz alta” no processo de
leitura, segundo Cavalcanti e Zanotto (1994:148), uma vez que essas técnicas podem fornecer
dados empíricos para investigar como os leitores iniciantes processam, organizam e atribuem
significados para a compreensão escrita de um texto em quadrinhos em língua inglesa. A
investigação deu-se por meio da leitura de tiras de HQ em inglês. A pesquisa foi inspirada na
técnica do protocolo verbal, mas adaptei-a ao meu contexto, elaborando perguntas que
METODOLOGIA DE PESQUISA
55
guiaram o processo de coleta de dados, sem, contudo, descaracterizar a metodologia.
Ericson e Simon (1984), mencionados em Pressley e Afflerbach (1995:6) afirmam
que o protocolo verbal permite observar como reage o leitor, como ele processa a
compreensão escrita e como os elementos cognitivos interferem nesse processo, no caso
específico desta pesquisa, a compreensão escrita de HQ em língua inglesa. Pressley e Hilden
(2004:319) argumentam que o protocolo verbal é utilizado para que o participante externe
seus sentimentos, seus pensamentos e compreensão manifestados durante a realização de
determinada tarefa.
Neste trabalho pretendo que o leitor iniciante, ao processar a compreensão escrita de
um texto de HQ em inglês, o faça parafraseando e executando uma releitura desse texto,
sendo estimulado por meio de perguntas abertas (Mackay, 1980:11), de modo a auxiliar o
pesquisador a obter mais informações sobre a interação leitor-texto.
Goldman (1999:178) observa que a técnica do protocolo verbal não é facilmente
realizável por qualquer participante, pois envolve lidar com aspectos psicológicos dos
sujeitos. Os pesquisados mais inibidos têm dificuldade para expressar aquilo que estão
sentindo, enquanto outros se sentem mais à vontade. É importante que cada participante se
envolva ao máximo com a técnica e que as diferenças de personalidade sejam minimizadas.
Para evitar essa problemática, os alunos participantes desta pesquisa foram previamente
selecionados, priorizando-se o trabalho com alunos desinibidos e falantes e que se
demonstraram mais solícitos em participar desta pesquisa.
O protocolo verbal ou o pensar alto em grupo, segundo Cavalcanti e Zanotto
(1994:148), é um método que investiga os eventos mentais no processo de ensino e de
aprendizagem, tornando-se assim, um importante instrumento de pesquisa para análise do
processo cognitivo. Nesta pesquisa, entretanto, a aplicação do protocolo verbal aconteceu
individualmente. Quanto ao cenário de coleta, Cavalcanti e Zanotto (1994) elucidam que esta
pode ser realizada na escola ou em outros lugares.
Este trabalho de pesquisa optou pela aplicação do protocolo verbal individual para
que os sujeitos estivessem a sós e processassem uma leitura individual, isto é, que
processassem a compreensão por si, sem a influência de um colega. Optei também por
elaborar um roteiro de perguntas de apoio (APÊNDICE A) que visava primeiramente facilitar
a verbalização do fluxo de pensamento dos sujeitos. O sujeito ia então verbalizando seu
entendimento do texto e quando manifestava dificuldade de verbalização do que tinha lido ou
observado, ele era encorajado a prosseguir pelas perguntas do roteiro. Essas perguntas
também tiveram os objetivos de: a) verificar entendimento; b) esclarecer idéias; c) elaborar
METODOLOGIA DE PESQUISA
56
sua argumentação.
As perguntas do roteiro foram elaboradas para que durante a aplicação do protocolo
verbal pudesse ser criada uma atmosfera que estimulasse o sujeito a refletir sobre seu
entendimento do texto.
Embora eu não tenha referências de um procedimento parecido, tal fato pode
encontrar respaldo nas palavras de Ericsson e Simon (1993:1).
The central assumption of protocol analysis is that it possible to instruct subjects to
verbalize their thoughts in a manner that doesn’t alter the sequence o thoughts
medisating the completion of a task, and can therefore be accepted as valid data on
thinking.
Ainda sobre protocolos verbais, Ericson e Simon (1993), citados por Pressley e
Afflerbach (1995:14), recomendam que a coleta seja feita com conteúdos recentes na
memória. O curto intervalo de tempo entre o momento da leitura e o relato verbal não afetam
os resultados, conforme apontam Pressley e Afflerbach (1995:6), que argumentam, no
entanto, que quanto menor for a quantidade de texto lido antes de cada relato, maior e com
mais precisão será o acesso do pesquisador ao conteúdo à memória de curto prazo
12
.
Para evitar que os dados se deteriorassem com o passar do tempo e a validade da
lembrança ficasse comprometida, este estudo optou pelo protocolo verbal em que o leitor é
solicitado a relatar sua compreensão do texto, simultânea ou imediatamente à realização de
cada tarefa de leitura de HQ.
Uma vez que esta pesquisa foi realizada com alunos da série do Ensino
Fundamental, prováveis leitores habituais em Língua Materna, mas leitores não proficientes
em língua estrangeira, vale lembrar que existem poucos trabalhos de protocolo verbal
executados com crianças e adolescentes, que autores como Afflerbach e Johnston (1984)
consideram que eles o menos capazes de fornecer um protocolo verbal satisfatório e
preciso, pois não têm suficiente percepção/consciência metalingüística. Contrariando, porém,
o ponto de vista dos autores citados, trabalhos de protocolo verbal sobre leitura realizados
com jovens (Brown e Pressley, 1996), por exemplo, que estudaram os alunos da primeira
série do colegial (14 e 15 anos) durante o período de um ano, observando e medindo sua
melhora na compreensão escrita. Usando o protocolo verbal, os autores puderam identificar
quando os alunos da primeira série fazem predições baseadas no conhecimento prévio, ou
seja, no conhecimento do conteúdo de um texto a ser lido, quando fazem também,
interpretações avaliativas do texto, bem como a maneira pela qual condensam essas
12
Memória de Curto Prazo (MCP) tipo de memória onde a informação é processada para se obter significação. O
termo cunhado por Miller (1956) é citado por Bruning at al, 2004:26.
METODOLOGIA DE PESQUISA
57
informações.
Outro tópico importante a ser levado em consideração ao se utilizar o protocolo
verbal, é o questionamento de Beck e McKeown (2001) “em que momento é conveniente a
interferência do pesquisador ao interromper a leitura e investigar sobre ela”, os autores
sugerem que o ideal seria questionar a compreensão, após lida toda a passagem, pois a
interrupção freqüente quebraria o fluxo natural da leitura e prejudicaria a compreensão do
todo.
Pressley e Hilden (2004:319) sugerem que o protocolo verbal aplicado às pesquisas
com crianças e jovens pode ser revelador sobre quando e como as instruções propostas com o
objetivo de estimular os processos de compreensão realmente acontecem. Os autores sugerem
ainda que essas pesquisas podem ocorrer com textos e assuntos deixados à escolha e nível dos
pesquisados.
No caso desta pesquisa, o gênero HQ turma da Mônica parece estar em concordância
com a faixa etária dos alunos e foi sugerido pelos próprios sujeitos. Esse procedimento deve
ocorrer porque, se os textos forem muito difíceis, argumentam Pressley e Hilden, (2004), os
recursos cognitivos das crianças e dos jovens pesquisados podem estar voltados à leitura de
maneira tão intensa que eles podem não verbalizar seus pensamentos com precisão.
De acordo com Pressley e Hilden (2004:319), o protocolo verbal tem fornecido
valiosos insights sobre a natureza construtiva de uma leitura responsável. Segundo eles,
nenhum outro método de pesquisa revela tanto sobre os processos estratégicos utilizados pelo
leitor durante uma leitura, quanto o protocolo verbal. Os autores concluem que, embora a
compreensão de como a mente processa um texto não seja uma janela completamente clara,
ela ainda é uma janela que permite a entrada de uma grande quantidade de luz.
2.2 O Contexto de Pesquisa
Nesta seção apresento o contexto de pesquisa, ou seja, a escola onde leciono e o
contexto onde ocorreram as atividades de leitura e a pesquisa correspondente.
METODOLOGIA DE PESQUISA
58
2.2.1 A Escola
A escola onde leciono há 8 anos localiza-se na periferia da cidade de São José dos
Campos, interior do Estado de São Paulo. Essa escola foi inaugurada em 1975 e atende mais
de 1.600 alunos no total geral, distribuídos em três períodos, compondo 48 salas de aula,
atendendo desde a série do Ensino Fundamental até a 3ª Série do Ensino Médio. A escola é
muito procurada pela comunidade vizinha por velar pela disciplina e zelar pelo bom
desempenho pedagógico dos alunos. Pelos dados obtidos no SARESP em provas ocorridas
em outubro de 2007, a escola ficou classificada entre as três melhores da cidade de São Jo
dos Campos, num universo de 94 unidades estaduais e municipais de ensino, do município.
O bairro é formado por moradores das classes C, D e E portanto, uma clientela
diversificada. É circunvizinhado, ao leste, pela General Motors e por uma favela que é
atendida nessa mesma escola. A denominada favela é um aglomerado de aproximadamente 80
casas de alvenaria, com crescimento congelado. Pelo lado norte corre a Estrada de Ferro
Central do Brasil. Após ela, localizam-se a rzea do rio Paraíba e plantações de arroz. Pelo
lado sul, passa a via Dutra, que tem após si, a Petrobrás. Concluindo, o bairro é a ponta de um
corredor urbano. Todas as suas ruas são asfaltadas, todos moradores têm água encanada e luz
elétrica.
2.3 Escolha dos Sujeitos
Para realização desta pesquisa escolhi a série A do Ensino Fundamental porque,
no ano anterior, ainda na série, desenvolvemos um trabalho de aprendizado de leitura e
produção de texto em inglês e a sala correspondeu bem às minhas expectativas, apresentando
ótimo desempenho. Antes da coleta dos dados, foi elaborada uma carta convite aos pais
desses alunos informando o propósito da pesquisa e seus objetivos. Foi também solicitada a
permissão para coleta dos dados. Ainda que me dispusesse a colocar os dados à disposição
dos pais, caso desejassem vê-los, dos 37 pais consultados, 5 recusaram o convite,
preocupados com que a pesquisa pudesse interferir no desempenho escolar dos filhos,
embora, posteriormente, seus filhos tenham declarado que gostariam de participar do estudo.
Dos 32 alunos que tiveram permissão para participar desta pesquisa, consultei
METODOLOGIA DE PESQUISA
59
informações nos arquivos da escola para obter um perfil socioeconômico e cultural desses
alunos. As informações para esse levantamento foram extraídas da prova SARESP do final do
ano de 2007 e consultadas em abril de 2008. O levantamento ocorreu quando esses alunos
ainda estavam na Série do Ensino Fundamental, porquanto esse foi o ano de realização
dessa prova.
Esse levantamento concentrou-se nos seguintes itens: (a) quando estudam; (b)
hábitos de leitura; (c) quanto tempo estudam; (d) qual o lazer e passatempo e (e) índice de
faltas e motivos delas. A partir dessas informações selecionei cinco sujeitos.
Os critérios de seleção consideraram principalmente os alunos com melhor
desempenho escolar em todas as matérias e que apresentaram baixo ou nenhum índice de
faltas ao longo do ano, além de ter gosto pela leitura. As informações sobre aproveitamento
dos sujeitos foram obtidas por meio de dados da coordenadoria da escola do período da
manhã e pelos questionários de pesquisa.
Dos 5 alunos selecionados como focais, 2 sujeitos são do sexo masculino e 3 do sexo
feminino.
2.3.1 Caracterização dos Sujeitos de Pesquisa
A seguir, apresento os 5 sujeitos e descrevo-os individualmente com relação à idade,
características pessoais, familiaridade com a HQ, atitudes em sala e gosto pela leitura. As
informações referentes à idade foram obtidas mediante consulta às listas de presença da
classe. Quanto às atitudes em sala de aula e algumas características pessoais, ficaram por
conta de minhas observações diárias, considerando que trabalho com o grupo há dois anos.
Com relação à familiaridade com a HQ e gosto pela leitura, os dados foram obtidos por meio
dos questionários aplicados ao grupo (APÊNDICE B e APÊNDICE C). Todos os sujeitos são
alunos da 7ª série A, do Ensino Fundamental e estudam no período da manhã.
O Sujeito A1 é do sexo masculino e tem 12 anos. Mostra-se muito dinâmico e
questionador. Não estuda inglês fora do Ensino Fundamental, gosta de revistas de esportes,
HQ da Mônica e histórias de terror. Não livros e revistas todos os dias, pois, segundo ele,
é muito crítico com o que e diz que gosta de HQ que sejam engraçadas”. Aprendeu
com o pai, leitor assíduo de HQ e sabe identificar os balões de fala, os recursos de close e
distanciamento. Conhece as características de cada personagem da Monica, mas prefere ler
METODOLOGIA DE PESQUISA
60
Volverine e gostaria de ser o Homem Aranha. Diz gostar de HQ porque não cansa ler as
imagens, além disso, os textos das falas são pequenos”. Os pais incentivam a leitura de HQ
e leem também.
O Sujeito A2 é do sexo masculino e tem 13 anos. Tem o melhor aproveitamento da
sala. Socorre os colegas com dificuldade. Estuda inglês somente no Ensino Fundamental e é
leitor do jornal da cidade. Gosta de ler revistas de ciências, HQ do Marvel e histórias de
terror. lê livros paradidáticos quando é solicitado. Acha legal HQ porque os desenhos
são um espetáculo com poucas falas”. Gosta do Homem Aranha porque é colorido e
gostaria de ser o Volverine. Identifica com facilidade os balões e o conteúdo deles. Define as
imagens em close ou distanciamento. Os pais reprovam o seu gosto pela HQ porque, segundo
eles, isso foge da realidade.
O Sujeito A3 é do sexo feminino e tem 13 anos. É dedicada aos estudos, senta-se à
frente na sala e assessora os professores. o jornal Folha de São Paulo, gosta de revistas de
notícias diversas como política e economia e adora fofoca de artistas. Lê livros e revistas pelo
menos uma vez na semana. Seus assuntos preferidos são TV, cinema, esportes, curiosidades e
games. Estuda inglês na escola da paróquia do bairro e sempre pergunta ao professor sobre as
tarefas solicitadas naquele curso. Conhece os elementos do gênero HQ e gosta de HQ
“porque são engraçadas e a gente se diverte enquanto lê, pois a imagem ajuda na idéia
do que lê”. Seu personagem favorito é o Chico Bento. Os pais incentivam a leitura de HQ e
riem também das histórias.
O Sujeito A4 é do sexo feminino e tem 12 anos, é dedicada, mas muito insegura, pois
depende dos pais para tomar qualquer decisão. A mãe, por exemplo, a acompanha nas
excursões da escola. Gosta de ler o jornal Folha de São Paulo, revistas de ciências, romances
“açucarados”. Gosta de HQ da Mônica. A4 todos os dias e os assuntos de sua preferência
são esportes e ciências. Define HQ como sendo diferente de histórias ilustradas. Conhece as
características do gênero HQ, como os balões, close e distanciamento. Estuda inglês somente
no Ensino Fundamental. Gosta de HQ e diz que com as imagens é mais fácil praticar e
interpretar o texto”. Acha a pesquisa muito boa porque os alunos vão ser incentivados a
ler mais e prestar mais atenção nos elementos da HQ”. Seus personagens favoritos são
Chico Bento e Rosinha. Os pais a incentivam a ler HQ porque acham que ajuda no
aprendizado em geral.
O Sujeito A5 é do sexo feminino, tem 13 anos e parece ser a aluna mais madura do
grupo pelo seu comportamento, sua postura e suas respostas. Não estuda inglês fora do Ensino
Fundamental. A5 lê quadrinhos todos os dias, mas não gosta de revistas e nem jornais sobre
METODOLOGIA DE PESQUISA
61
política. todos os tipos de HQ e seus assuntos favoritos nas revistas são TV, cinema e
curiosidades do mundo. Está entusiasmada com a leitura dos Mangás da Mônica, que
descobriu recentemente. Acha que HQ e histórias ilustradas são a mesma coisa e diz que ler
HQ é bom para as crianças aprender e gostar de ler”, Conhece os diferentes tipos de
balões, define a diferença entre close e distanciamento, mas não conhece os outros elementos
do gênero. Os pais a incentivam a ler HQ porque na HQ ela pode “navegar”. Gosta da turma
da Mônica e da turma do Charlie Brown.
2.4 Material utilizado para a pesquisa
Considerando a preferência dos alunos por HQ, as sessões de protocolo verbal foram
feitas sobre 3 tiras de HQ da Turma da Mônica, em inglês. (APÊNDICE D) As tiras utilizadas
na leitura estão disponíveis no site WWW. Monica`s Gang, cujo site contém centenas de
trabalhos em HQ, em diferentes formatos e tamanhos. São obras do desenhista Maurício de
Sousa e cada tira é didaticamente precedida da imagem e identificação dos principais
personagens, com os respectivos nomes em inglês e suas características, conforme Figura 2.1
abaixo.
Figura 2.1: Os personagens da turma da Monica (www.Monica´s Gang)
Nas tiras 01, 02 e 03 (APÊNDICE D), ilustro as tiras utilizadas para coleta de dados
deste estudo. As tiras de HQ lidas e analisadas mostram episódios distintos da turma da
Monica. Os critérios considerados para a seleção dos textos foram:
a) o assunto tratado no texto e personagens deveriam ser familiar aos alunos, o que
criaria motivação;
b) a tira de HQ deveria ser curta e com diálogos relativamente curtos, mas que se
inserisse no contexto sócio-histórico, cultural e familiar;
c) a tira de HQ deveria ter um conteúdo que possibilitasse ao aluno, engajamento
discursivo, fazer inferências, suposições e ampliar seu conhecimento de mundo
bem como sua consciência social.
METODOLOGIA DE PESQUISA
62
2.5 Instrumentos de Coleta
Os instrumentos de coleta utilizados foram dois questionários (APÊNDICE B e
APÊNDICE C) e sessões de protocolo verbal acompanhada de um roteiro de perguntas de
apoio (APÊNDICE A). Segundo Nunan (1992:143), ao elaborarmos um questionário,
podemos fazê-lo com questões fechadas ou abertas. Nas questões abertas, o participante pode
decidir com mais liberdade o que quer dizer nas questões fechadas, o pesquisador pode
determinar ou delimitar as respostas, oferecendo opções ao respondente. Ainda segundo
Nunan (1992:143), as perguntas fechadas são mais fáceis de serem analisadas; As perguntas
abertas, porém fornecem as respostas mais úteis a uma pesquisa, pois essas refletem de forma
mais detalhada e precisa aquilo que o respondente quer informar. Os questionários utilizados
neste trabalho apresentam perguntas dos dois tipos: fechadas e abertas.
2.5.1 Questionários
Após selecionar os 5 sujeitos da pesquisa e antes de proceder às sessões de protocolo
verbal apliquei a eles dois questionários (APÊNDICE B e APÊNDICE C).
O questionário de pesquisa (I) foi aplicado em sala, no dia 09 de maio 2008 e
respondido pelos 5 sujeitos. Nas 12 questões havia perguntas fechadas e abertas, que tinham
por objetivo traçar o perfil dos alunos quanto aos seus hábitos de leitura e lazer. As cinco
primeiras questões eram sobre leitura em geral e as sete perguntas restantes eram sobre HQ.
Apliquei-as por considerar importante obter informações do tipo de leitura processada por
eles e identificar o conhecimento relativo aos elementos da HQ que seriam observados
posteriormente.
O questionário de pesquisa (II) foi aplicado em sala no dia 06 de junho 2008 e
também foi respondido pelos mesmos 5 sujeitos. Seu objetivo era averiguar novamente outros
hábitos de leitura e o grau de conhecimento dos sujeitos sobre as técnicas e os recursos da HQ
e seus resultados me informariam o conhecimento prévio dos alunos em relação à HQ.
METODOLOGIA DE PESQUISA
63
2.5.2 Procedimentos de coleta do protocolo verbal
Para evidenciar dados que possibilitassem verificar como e que elementos do gênero
HQ em inglês são usados pelos sujeitos durante a leitura, utilizei técnicas do protocolo verbal,
com a ajuda das perguntas de apoio aplicadas durante e imediatamente a sessão.
Durante a aplicação dos protocolos verbais, cada participante, em sessão individual,
recebeu um texto impresso, de um total de três (denominados Tira 01, Tira 02 e Tira 03) que
foram lidos e verbalizados, conforme Zanotto (1995:244) que sugere a verbalização livre dos
pensamentos durante ou imediatamente a leitura, momento em que desempenha a tarefa.
As sessões de protocolo verbal aconteceram individualmente com cada um dos 5
alunos, na biblioteca da escola, no mês de outubro de 2008 e foram gravadas em áudio. Cada
sessão teve duração média 45 minutos
As reflexões introspectivas dos alunos ocorreram mediante leitura de uma tira de HQ
com 14 perguntas formuladas por mim, não manipulada pelos participantes. As perguntas
compunham o roteiro de apoio previamente preparado e comum a todas as três tiras de HQ.
Essas perguntas, entretanto, poderiam desdobrar-se em outras, caso houvesse duvidas do
pesquisador em decorrência de lacunas surgidas nas respostas e que necessitassem de
esclarecimentos singulares a cada tira. O pesquisador deu ao sujeito a tira de HQ com
imagens, mas sem o texto dentro dos balões, conforme ilustrado na Figura 2.2 abaixo.
Figura 2.2: Tira 01- Sem o texto escrito
Em seguida, o pesquisador solicitou ao sujeito que observasse os quadrinhos sem
texto e verbalizasse o que estava entendendo da HQ. Após algum tempo, o pesquisador
solicitou que o sujeito dissesse o que havia entendido da HQ e que resumisse numa frase sua
hipótese sobre o assunto da HQ. Solicitava ainda explanações de como a imagem havia
ajudado na formulação da hipótese e que recursos e técnicas da HQ haviam sidos observados
METODOLOGIA DE PESQUISA
64
na leitura da HQ sem o texto verbal.
Depois de formuladas e explanadas a compreensão da HQ, o pesquisador mostrava a
mesma tira, com os balões de fala (Figura 2.3) e solicitava que o sujeito a observasse
novamente e procedesse a leitura, e confirmasse ou refutasse sua hipótese formulada
anteriormente. Também foi solicitado a relatar os critérios e/ou estratégias usados na leitura
da HQ com textos em inglês, bem como verbalizasse se compreendera ou não alguma palavra
e se usara alguma imagem para inferir sentido, e que ele pudesse identificar a palavra e
apontasse a imagem usada. A tarefa se finalizava com o sujeito reportando que mensagem da
HQ havia lhe havia deixado.
Figura 2.3: Tira 01- Com o texto escrito
Os textos foram lidos sem o uso de dicionários, pois era pressuposto que a ausência
de dicionários poderia levar os sujeitos a evidenciar um maior número de operações mentais
para lidar com as dificuldades. Esgotadas as possibilidades de inferência sem sucesso por
parte do sujeito, o pesquisador poderia ajudá-lo na leitura, traduzindo alguma palavra ou
facilitando sua interação.
As sessões de protocolo aconteceram individualmente e foram consecutivas. Como
todos os sujeitos são alunos da mesma sala, as experiências de leitura não podiam ser
compartilhadas entre eles antes que a sessão acontecesse. Para evitar esse inconveniente, eles
foram instruídos a não comentar sobre as leituras com os colegas.
Para descontraí-los, cada sessão foi precedida de uma conversa amistosa sobre a
escola, sobre os estudos e sobre eles mesmos, além da instrução para que processassem a
leitura sem qualquer imposição ou limitação de tempo. Outras instruções também incluíam: 1)
observar atentamente os dois tipos de HQ apresentados, com ou sem as falas; 2) falar o que
estava sentindo e entendendo da leitura; 3) verbalizar qualquer pensamento, mesmo que o
achasse absurdo; 4) ficar calmo porque a pesquisa da leitura gravada não era uma prova ou
avaliação; 5) fazer a leitura sem pressa e atenciosamente; 6) não comentar o conteúdo da tira
com os colegas até segunda ordem.
Não houve prejuízo ao aluno com relação a perdas de aulas porque a participação na
METODOLOGIA DE PESQUISA
65
pesquisa e a saída da sala deram-se com o consentimento dos professores e em aulas nas quais
seriam aplicadas atividades ou tarefas extras, ou ainda, em aulas com professores eventuais
em substituição a outros professores.
A compreensão escrita e interação foram verbalizadas em português e os textos em
inglês foram interpretados pelos alunos à medida que percebiam seu sentido.
2.6 Procedimentos de Análise da Compreensão Escrita de HQ em inglês
Os procedimentos utilizados para a análise provenientes das atividades do protocolo
verbal sobre a leitura das tiras foram norteadas pela seguinte pergunta de pesquisa:
Quais são as contribuições dos elementos da HQ para a compreensão escrita em
inglês do leitor iniciante.
Os dados para essa análise foram aqueles obtidos através dos dois instrumentos de
coleta: os questionários sobre conhecimentos prévios de HQ e o protocolo verbal sobre leitura
das tiras de HQ da turma da Monica em inglês. Conforme relato de leitura dos sujeitos, sobre
as tiras, 3 categorias nortearam a análise, a saber (Quadro 2.1):
Categorias Elementos
1- Reconhecimento do gênero HQ
1- quadros, sarjeta e conclusão
2- distanciamento e close da imagem e da cena.
3- tipos de balões de fala
4- representação dos movimentos das figuras
estáticas
2- Uso da imagem na compreensão
escrita da HQ
1- expressões faciais e corporais dos personagens.
2- conhecimento de mundo.
3- Uso do texto escrito na compreensão
escrita da HQ
1- cognatos
2- inferências pela implicação da imagem
Quadro 2.1: Categorias dos principais elementos nas HQs
Essas três categorias nortearam a análise de todas as tiras e serviram de base para a
discussão sobre as contribuições desses elementos na compreensão escrita em inglês das tiras
de HQ.
Depois de serem explicitados o referencial teórico da coleta de dados, o contexto em
que ocorreu a pesquisa, incluindo os participantes, os instrumentos de coleta e os
procedimentos para analisar os dados, no capítulo seguinte, apresento os resultados e as
análises deste estudo.
66
3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Neste capítulo apresento e discuto os dados deste estudo tendo em vista a pergunta
de pesquisa e as bases teóricas deste trabalho.
Quais são as contribuições dos elementos da HQ para a compreensão escrita em
inglês do leitor iniciante?
Como foram explicados no capítulo de metodologia, os dados analisados para a
compreensão da escrita da HQ em inglês provém de duas fontes. A primeira refere-se ao
questionário que coletou informações gerais sobre as características da HQ e o conhecimento
dos sujeitos sobre o gênero. A segunda fonte de informação refere-se ao protocolo verbal
aplicado à leitura das tiras de quadrinhos selecionadas previamente e gravadas em áudio. O
protocolo verbal verificou as interações dos leitores iniciantes com os textos de HQ.
Portanto, as análises estão divididas em duas seções. Na primeira seção, apresento e
discuto os resultados referentes aos questionários que interrogou hábitos de leitura e
conhecimento prévio de HQ. Na segunda seção, apresento as análises referentes às atividades
do protocolo verbal ocorridas durante leitura individual das HQ em inglês, focando as
percepções dos alunos sobre os quadrinhos e as contribuições dos elementos do gênero na
compreensão escrita em inglês.
3.1 Verificação de Conhecimento Prévio e Familiarização com a HQ
Para que se possa ter uma idéia sobre o grau de familiarização e conhecimento dos
sujeitos com a HQ em língua materna, trago dados levantados com esses sujeitos antes dos
protocolos e tomados por meio dos questionários.
HQ favorita Número de indicações
Turma da Mônica, Mangás, Dragon Ball 3
Marvel/DC Comics, Homem Aranha, Superman e Volverine 2
Turma Disney, Garfield, Calvin, Asterix, 1
Quadro 3.1: Preferências de HQ
Conforme pode ser visto no Quadro 3.1, os alunos deste estudo aparentemente têm o
hábito de ler histórias em quadrinhos, uma vez que dentro do gênero HQ (Maingueneau,
2006), eles apontam vários gêneros como favoritos, sendo maior a preferência pela Turma da
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
67
Mônica, Mangás e Dragon Ball. A opção Turma da Mônica foi o resultado maior devido a
popularidade desses personagens para os sujeitos deste estudo. Em seguida vem a opção
Marvel/DC Comics, Homem Aranha, Superman e Volverine, que ficou com duas opções,
enquanto que a turma Disney teve apenas uma indicação.
Vale ressaltar que o questionário foi aplicado a jovens pré-adolescentes, com idade
entre 12 e 13 anos, o que talvez explique a preferência pelos personagens mais conhecidos
como Monica (3 indicações), seguidos de Superman e o Homem Aranha com 1 indicação. É
possível também que essas citações sejam conseqüências dos lançamentos de filmes
Spiderman e Volverine, enquanto a opção Superman, pode ser resultado da série Smallville,
na TV, que mostra o Super Homem quando jovem.
No quadro a seguir, ilustro a freqüência de leitura dos alunos participantes com os
seguintes resultados:
Com que freqüência lêem HQ Numero de indicações
Todos os dias 0
Às vezes 4
Raramente 1
Quadro 3.2: Freqüência de leitura
Como pode ser visto no Quadro 3.2, os sujeitos lêem pouco HQ ou têm pouco hábito
de leitura neste gênero. Quando da seleção dos sujeitos um dos quesitos exigidos para
pesquisa era o hábito da leitura dos sujeitos, no entanto esse hábito parece estar muito aquém
do esperado. A alternativa: ‘todos os dias’ não obteve opção alguma, o que implica que esses
sujeitos são leitores eventuais de HQ, embora se possa inferir que a de leitura de HQ é ainda,
um elemento comum no universo adolescente. Vale notar que no perfil desses alunos, três
declararam que lêem jornal todo dia.
No Quadro 3.3, a seguir, ilustro que personagens os alunos gostariam de ser:
Personagem de HQ que os alunos gostariam de ser Número de indicações
Mônica 3
Homem Aranha, Superman, Volverine, Samurai, Cavaleiros do Zodíaco,
Sandman
2
Quadro 3.3: O personagem que você gostaria de ser
Como pode ser visto no Quadro 3.3, os sujeitos escolheram os personagens dos
quadrinhos que eles mais admiram. Note-se que preferência pela Monica, a personagem
das tiras de HQ escolhidas para o estudo.
Ao perguntar aos alunos como eles definem HQ, Quadro 3.4, minha intenção era que
eles pudessem verbalizar e escrever sobre esse gênero textual. Embora tenhamos trabalhado
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
68
termos técnicos e recursos como conhecimento prévio da HQ, não esperava por uma definição
científica ou técnica por parte deles, mas tão somente que cada um pudesse definir, ao seu
modo, sua visão e sua experiência com a HQ.
No Quadro 3.4 a seguir, ilustro a definição dos alunos sobre a HQ. Os resultados
foram os seguintes:
Definição de HQ para os alunos Número de indicações
História ilustrada em quadrinhos 3
Leitura divertida/criativa/mais atraente 2
História de fácil entendimento e criatividade/ permite reflexão 2
Leitura para toda faixa etária 1
Ficção próxima à realidade 1
Outros: personagens com fala em balões, histórias de humor, personagens
animados
1
Quadro 3.4: Definição de HQ para os alunos
Como se observa, as definições foram produzidas por eles mesmos, visto ser essa
uma pergunta aberta. As percepções de que HQ é leitura divertida, criativa e mais
atraente”, assim como foi apontado que HQ é história de fácil entendimento e
criatividade e permite reflexão” ficaram com 2 indicações. Com 3 indicações, os sujeitos
confundem HQ com história ilustrada, mas essa dúvida é sanada mais adiante quando eles
entendem que a ‘conclusão’ e a compreensão textual implícitas nas sarjetas/recortes fica
explicitada na mente do leitor. Conforme define McLoud (2005:88), na história ilustrada não
necessidade de conclusão, porque ela não se na exposição da imagem visto que, no
texto, a linguagem verbal leva toda a mensagem. O depoimento do sujeito A2 sobre a Tira
01 ilustra e esclarece esse ponto:
A2: a imagem ajudou eu entender mais ou menos, mas duas palavras foram
importantes para entender a história: o “por que” de “por que não quer brincar?”... e
“adivinha!” Ele (Jimmy) não respondeu, disse “adivinha”, mas eu respondi na
minha cabeça. Eu vi o que a Monica devia ter visto. Ele não respondeu, mas eu
entendi o que ele queria dizer.
13
Ao explicar como percebeu a mensagem da HQ analisada, o A2 responde exatamente
sobre a participação que o leitor tem ao ser cúmplice na formulação de sentido do texto HQ.
Conforme define McCloud (2005), essa é uma conclusão, tomada da sarjeta e, é a essência da
HQ, já que a HQ, como todo texto de leitura, requer o reconhecimento das intenções do autor,
fazendo do leitor um agente participante dessa interação.
No Quadro 3.5, a seguir, ilustro o que esses alunos dizem saber sobre a HQ:
13
Negritos meus.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
69
Conhecimento sobre HQ Número de indicações
Eu não sei nada, vou descobrindo, os colegas vão ensinando 3
Conheço os balões e as estrelinhas, cobrinhas, caveirinhas, espiral, os gritos e
falas. Meu pai me ensinou
1
Sei quadrinhos, balões, movimentos, uma professora de arte me ensinou 1
Eu sei tudo e aprendi sozinho 1
Quadro 3.5: Conhecimento dos alunos sobre HQ
O Quadro 3.5, mostra que 3 sujeitos disseram decifrar a HQ na medida em que vão
lendo, ou aprendem com os colegas. Apenas um sujeito declarou que aprendeu as técnicas da
HQ com o pai e outro afirma ter aprendido com a professora, enquanto um sujeito declara “ter
aprendido tudo sozinho”. Embasam essa argumentação as afirmativas dos 3 sujeitos que
declaram: eu não sei nada, vou descobrindoou os colegas vão me ensinando”. Pelas
respostas dadas, pode-se inferir que a aprendizagem de HQ, em geral, não se deu na escola, o
que indica que esse gênero precisa ser trabalhado na escola de forma sistemática.
A interação desse conhecimento não foi desmembrada em outras perguntas, o que
poderia esclarecer pontos ainda obscuros, por exemplo: como se descobre, por si mesmo, o
significado de determinados semas iconográficos? O que os colegas ensinam e como ensinam
sobre ler imagens, ícones, as metáforas iconográficas
14
e seus significados? Não foi
questionado que colegas são esses? Um sujeito reportou que a professora de Português
ensinou sobre quadrinhos, outro disse que o pai o ensinou. Pode-se perceber que o
aprendizado de leitura de HQ, por alguns alunos, dá-se por si mesmos ou com seus pares mais
preparados.
O Quadro 3.6, a seguir ilustra o nível de dificuldade enfrentado pelos alunos ao ler
HQ, com os seguintes resultados:
Nível de dificuldade Número de indicações
Fácil, porque tem imagem e texto, é uma história ilustrada. 4
Tem imagem de humor, tem personagem animado 4
É leitura para criança, tem personagem e fala 4
Difícil porque não sei aonde leio, é muito colorido, é muita ficção é
exagerado
1
Difícil, porque tenho que pensar e é em inglês 1
Quadro 3.6: Nível de dificuldade em ler HQ
Vergueiro (2005:24) define a HQ como um recurso didático de fácil leitura e
compreensão, uma vez que nela se mesclam as linguagens verbais e iconográficas. O Quadro
3.6, parece corroborar essa visão. Observe-se que 4 sujeitos a consideram, fácil, tanto que
14
Metáforas iconográficas são termos usados por Cagnin (1975) e se referem à representação gráfica do “ver
estrelas” para representar a dor, “estar verde de raiva” para representar indignação, coraçõezinhos
representando “amor e paixão”, etc.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
70
declaram que ler HQ é uma atividade de leitura para criança. Um sujeito, por outro lado,
parece considerar leitura de HQ, uma atividade difícil, e justifica dizendo que é um texto
exagerado”, ou “muito colorido”. Esse mesmo sujeito diz que se perde no meio dos
quadrinhos, pois não sabe onde ler”. Outro sujeito atribui a dificuldade ao fato de “ter que
pensar”.
As respostas desses dois sujeitos parecem corroborar a afirmativa de Cagnin
(1975:54): que o processo de leitura de quadrinhos é realmente complexo, porquanto o agente
leitor deve identificar a imagem e o que ela representa, em dois processos denotativos e, em
seguida num processo conotativo, atribuir significação à aquela imagem e perceber a sua
simbolização.
Entretanto, para 3 sujeitos desta pesquisa, as HQs parecem ser um gênero bastante
familiar, pois essa leitura é parte de seu cotidiano ou de suas preferências.
Concluindo essa seção, vemos que a leitura de HQ não é desconhecida dos alunos,
ela faz parte do seu cotidiano e eles demonstram possuir conhecimento e familiaridade com
esse gênero, o que corrobora os critérios de seleção dos textos para esta pesquisa (conforme
seção 2.4), entretanto vários dos elementos que caracterizam esse gênero não foram apontados
por eles, tópico a ser tratado na próxima seção.
3.2 Apresentação e Discussão dos Protocolos Verbais
Na análise da tiras de HQ foi adotada a denominação Tiras 1, 2 e 3, categorizaram-se
alguns aspectos referentes à percepção das imagens no processo de leitura de HQ em inglês.
Conforme exposto na fundamentação teórica, a leitura de HQ requer a observância desses
aspectos para análise, a saber: 1) reconhecimento do gênero HQ; 2) interação contextual da
narrativa; 3) uso do texto escrito: conhecimento lexical. Enquanto 1 e 2 acima, referem-se à
leitura de imagem, o aspecto 3 é relativo à compreensão escrita do texto verbal. Dentro da
categoria 1, acomodam-se os elementos: reconhecimento dos quadrinhos, sarjetas e
conclusões; tipos de balões; close/distanciamento e representação dos movimentos das figuras
estáticas. A categoria 2 trata do uso da imagem e observou os elementos das expressões
faciais e corporais e de conhecimento de mundo. Já a categoria 3, abriga a compreensão
escrita da tira de HQ, por meio dos elementos: cognatos e inferências pela implicação da
imagem.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
71
Inicio a análise descrevendo um comportamento geral dos sujeitos e nas subseções
seguintes analiso em cada aspecto os elementos contidos neles e apontados pelos sujeitos.
3.2.1 Comportamento Geral Adotado pelos Sujeitos Durante o Processamento das
Leituras
Antes de proceder à discussão dos processos e resultados do protocolo verbal usados
por esses leitores principiantes em língua inglesa ao tentar extrair significado dos textos a
partir da leitura dos elementos da HQ, discutiremos dois procedimentos comuns de
processamento que regeram o comportamento desses leitores: a interação da linguagem
imagética e a extração de significado dos textos.
O exame dos protocolos revelou que a tendência geral dos sujeitos é processar o
texto imagético linearmente, lendo os quadros e já ir transpondo oralmente para a língua
materna o conteúdo narrativo, ainda que suposto ou hipotético. O que significa que não é
preciso interar-se de todos os aspectos lingüísticos e imagéticos para que se processe a
compreensão escrita e levantem-se hipóteses de uma narrativa seqüencial, conforme descreve
Coracini (1990:152). Isso faz com que o sujeito quase sempre entenda a mensagem da tira por
meio da imagem, ainda que possa haver alguma dúvida ou desvio de compreensão, conforme
depoimentos dos sujeitos A1
15
e A2, sobre a leitura da Tira 01, a seguir:
A1: Os dois, parece estão brincando de casinha. Ela é o marido e ele é a mulher
porque ele ta faxinando, ele tá de avental e ela chegou de mala.... Ela estava
assustada e depois ela ficou mais... mais ... perdi a palavra... decepcionada.... eles
estão brincando de casinha ela chegou eles brigaram porque ele não quer ser a
mulher.
A2: Mônica ta com cara assustada. No segundo quadrinho, ela vê o coelhinho dela
dentro do carrinho de bebê e o Jimmy limpando a casa.
No entanto, quando o sujeito paraleliza a linguagem imagética com a linguagem
verbal, o texto pode trazer vocábulos que ele desconhece. Outras vezes, o texto conduz a uma
inferência lexical que pode tanto confirmar quanto refutar a mensagem imagética realizada
previamente.
O depoimento abaixo ilustra essa observação feita por A2, sobre a Tira 01, no
segundo momento do protocolo, quando de posse da tira com as falas nos balões:
15
Obs: na transcrição dos diálogos, os sujeitos estão definidos como A1, A2, A3, A4 e A5 e o pesquisador como
Invest (investigador/pesquisador).
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
72
A2: How come é como vai você?. Play é ... jogar? Como não quer ...jogar ....na
casa? Play é jogar ou... brincar então eles estão brincando de casinha. Se você quer
brincar de casinha comigo. How come é... é... não sei ! ....é... por quê?
Quanto à atribuição de significados aos textos, parece que os alunos apóiam-se no
conhecimento de mundo e experiências pessoais para interpretá-los. Por exemplo, os relatos
dos sujeitos, quando de posse da Tira 01, sem as falas:
A1/Tira 01: “O Cebolinha está brigando com a Mônica porque ele não quer fazer o
papel de mulher e ficar faxinando a casa enquanto a Mònica faz papel de homem e
trabalha fora”
A2/Tira 01: “Acho que a Mònica está brava porque ela o Sansão, o coelhinho
dela dentro do carrinho de bebê e o Cebolinha está limpando a casa e não cuida
dele”.
A3/Tira 01: ...”Eles estão brincando de papai e mamãe, a nica faz o papel de
homem e o Cebolinha faz o papel de mulher, e não estão satisfeitos”
A4/ Tira 01: “eles estão brincando e inverteram os papeis e ele está reclamando
alguma coisa para ela. Ela chega do serviço e ele reclama do serviço de casa”.
A5/ Tira 01: “eles estão brincando de casinha e o Cebolinha descobriu que é difícil e
chato. Ele não quer mais. A gente se engana com trabalho doméstico”.
O mesmo processo de atribuição de significados dos textos apoiando-se no
conhecimento de mundo e experiências pessoais pode ser visualizado também na Tiras 03.
A1/Tira 03: “O homem, ...um cara... foi cumprimentar o Cascão/Smudge, namorado
da filha dele, aí cumprimentou o porquinho, ai a menina ficou brava e mostrou que o
Cascão era o menino e não o porco”.
INVEST: como você descobriu isso?
A1: “Eu sei disso porque observei os balões e os gestos”.
Os depoimentos do sujeito A1 sobre leitura da Tira 03, no segundo momento em que
a tira tinha as falas, confirma a atribuição de significados dos textos apoiando-se no
conhecimento de mundo e nas experiências pessoais, conforme depoimento.
1:“Entendi que a Justine foi apresentar o namorado para o pai e ele confundiu o
Smudge com o porquinho. Confirmei minha hipótese do começo, mas a imagem
ajudou a entender o sentido de ‘dad’ e ‘daughter’ e que Cascão é Smudge. O texto
dos balões tem pouca utilidade pra gente entender a história, mas ajuda entender as
palavras”.
O mesmo processo de atribuição de significado às tiras de HQ pode ser visualizado
no esforço mental despendido pelo sujeito A1 sobre a Tira 02.
A1: “O Cascão ta na cama, acho que é do hospital. Não, não é. Ele não está doente
porque está alegre. O pai vendo o caderno dele? Ou é o médico? Não, é o pai
mesmo. Olha ele, como parece com ele, é o pai! Não é hospital, não! É possível
entender... o Cascão vai dormir e pede para o pai dele ler uma história e o pai
começa a ler”.
INVEST.: “Por que você acha que não é o hospital e isto não é o caderno dele?”
A1: “Ele alegre e no hospital ninguém conta historia pra dormir e não é o
caderno porque tem capa dura e é grande”.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
73
Os depoimentos parecem confirmar a atitude dos sujeitos em processar a leitura do
texto linearmente transpondo-o oralmente para a língua materna. Atitude que pode incorrer
em desvios de compreensão quando o texto dos balões conduzirem a uma leitura diferente da
processada pela imagem. Uma vez que a imagem pode ser lida em polissemia. Exemplo
observado no relato do sujeito A2 ao reler a Tira 01 e refazer sua hipótese inicial:
A2- “eu pensei que a Mônica tava brava porque ele não cuidava do coelho dela,
depois vi que ele não queria brincar de casinha e fazer o papel de mulher.”
Concluindo esta subseção podemos constatar que tanto o conhecimento de mundo
quanto a atribuição de sentidos a um texto em linguagem imagética, estão próximos e
atrelados. Na seção seguinte tomamos os aspectos e seus elementos apontados nas leituras de
HQ.
3.2.2 Reconhecimento dos Elementos do Gênero HQ
Para a análise do reconhecimento do gênero HQ pelos sujeitos leitores iniciantes,
foram usados os seguintes elementos: a) tipos de balões; b) quadro, sarjeta e conclusão; c)
close/aproximação e distanciamento/panorâmica. O leitor ao identificar e atribuir fluxo
narrativo, aproximação e distanciamento, ângulos, balões e tipos de escrita, está interagindo
com o gênero e explorando esses elementos para clarificar e compreender a mensagem
contida nele.
Em relação à utilização dos balões de fala foi observado que quando as tiras foram
apresentadas aos sujeitos, sem que as falas aparecessem nos balões, esses puderam atribuir
significado à fala ausente, conforme ilustram relatos abaixo:
A1: “Quando é fala comum ele é redondinho assim e quando a fala é mais nervosa o
balãozinho tem ondulações.”
A2: “As expressões são as mesmas porque a Mônica assustada nas duas imagens,
mas a fala dela está dentro de um balão liso, fala calma e a fala do Cebolinha
16
está
dentro de um balão ondulado, de fala nervosa. Ela tá mais calma e ele tá irritado.”
Percebe-se, nesses comentários que os sujeitos não reconhecem que os balões têm
uma função específica nesse gênero, mas que eles têm funções variadas, ou seja, dependendo
do formato, eles ajudam a significar diferentemente.
Lobo de Melo (2008:70) afirma que embora haja certa convenção quanto ao uso de
16
Ainda que os personagens da turma da Mônica tenham sido apresentados com seus respectivos nomes em
inglês, no início das leituras, os alunos, ás vezes, por força de hábito, os designam pelo nome em português.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
74
determinados balões, os desenhistas podem criar novas formas e foram identificados 72
tipos diferentes de balões. Isso possibilita a existência de uma infinidade de tipos e afins.
Alguns alunos declararam conhecer as formas dos balões de cochicho, de berro, trêmulo, o
som de eletrônicos, o de frio, o balão de calor, os duplos ou triplos de diálogos intercalados, e
outros, conforme ilustram os excertos a seguir:
A1/Tira 01: “Os dois tipos de balão. Balão de fala normal e o outro é de expressão
de raiva.”
A3/Tira 03- “O Cascão feliz e depois confuso. Justina esta brava. Esse é balão de
feliz e esse é balão de brava e raiva.
A5/Tira 03 “Bem ela chega e briga com o pai dela. Olha a carinha do porco no
primeiro quadrinho e no segundo. Ele feliz admirado e o Cascão confuso nos
dois quadrinhos. Você vê o balão é de fala normal e esse é de xingamento.”
A2/ Tira 01/- “A Mônica tem balão liso de fala normal, mas o Jimmy tem balão
crespo, é irritado e fala em tom mais alto.”
Invest- “você confirmou sua primeira hipótese, depois de ver a tira com as falas?”
A2/Tira 01- eu pensei que a Mônica tava brava porque ele não cuidava do coelho
dela, depois vi que ele não queria brincar de casinha e fazer o papel de mulher.”
Invest- “o balão ajudou você a entender as falas?
A2- “eu tive que ajudar com o texto, o texto me fez entender diferente”.
A fala do sujeito A2 sobre a Tira 01, demonstra que ele viu os balões e deduziu uma
situação, depois, de posse da tira com as falas no balão, ele entendeu que a atitude da Mônica
e a resposta do Jimmy (Cebolinha) estavam em outro contexto.
A4/ Tira 01- “Eu entendi que eles estavam brincando e depois brigaram, por causa
da imagem e dos balões. Eu conheço os balões, o balão traduz a comunicação
dos personagens. Balão liso é de fala e balcão crespo é de briga. Nuvenzinha é
pensamento e pontilhado é cochicho”.
Esses dados ilustram a importância de se reconhecer os tipos de balões de fala,
porquanto eles dão indicação do conteúdo das falas encapsuladas neles o que, segundo
Vergueiro (2005) e Ramos (2008), facilita posteriormente, a compreensão escrita das
narrativas nas tiras de HQ. Os sujeitos desta pesquisa fazem uso desse elemento
composicional do gênero HQ para melhor compreenderem o texto HQ.
Quanto a fazer o uso dos Quadros, das Sarjetas e das Conclusões: os dados também
indicam que os sujeitos fazem uso desses elementos para a compreensão das três tiras de HQ,
conforme ilustrado nos excertos a seguir:
A1/Tira 03: “O pai? feliz. No segundo quadro o porquinho é assustado. E o pai
decepcionado e o Cascão confuso. Não tinha detalhes como o desenho anterior.
Teve mudança de expressão. Principalmente do pai e do Cascão. O pai estava
animado para cumprimentar o Cascão e cumprimentou o porquinho”.
O sujeito, ao declarar que “essa tira não tinha detalhes como a tira 02, anterior” está
referindo-se à tira da sessão anterior, em que o Cascão solicita ao pai que leia para ele dormir.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
75
A3/Tira 03: “A Justine chama o pai para vir cumprimentar o novo namorado dela,
que tava na casa deles. Ele veio, mas cumprimentou o porquinho, depois ele deve ter
ficado sem graça e pediu desculpas por ter cumprimentado o outro.”
A5/ Tira 01: “No quadrinho tem fogão, carrinho de bebê, armário, isso ajuda a
entender a história.
Invest:. Isso faz você pensar em quê?
A5: “Mônica convidou ele para brincar mas trocou os papéis. Acho que ela
bateu nele e fez ele brincar com ela.”
A1 Tira 01: Acho que ela fez convite pra brincar e depois impôs a vontade dela.
Ele aceitou depois e se arrependeu”.
Esses excertos demonstram que os sujeitos fazem uso dos quadros e vão dando
continuidade à seqüência narrativa, fazendo uso da sarjeta e conclusão, ou seja, os sujeitos
vão decodificando, inferindo e atribuindo sentido aos quadrinhos que lêem e mesmo sendo a
narrativa linear, eles lêem para frente e para trás, atando as conclusões e os sentidos nesse
processo de leitura da HQ.
Quanto ao aspecto de reconhecimento dos elementos da HQ como o close e o
distanciamento da imagem, os sujeitos entenderam a presença desse recurso, como transcrito
nas observações que seguem:
A1/Tira 01: ...“o close mostra a cara da nica brava e indignada e o
distanciamento mostra o geral, o humor da tira. Se mostrar os dois não vai ter
graça, tem que mostrar tudo”.
INVEST.: “o que é humor da tira?”.
A1:, “é o humor, o engraçado..”
A2/ Tira 01: “O close mostra o que esta acontecendo. O close é pra mostrar
detalhe. Ela muda de assustada e indignada, ela mudou para tranqüila, calma
decepcionada. Não close no segundo quadrinho, a ão distante mostra que é
tranqüila”.
A4/Tira 01: “a Mônica está assustada, eu sei disso porque o quadro está em close e
eles mostram a carinha dela”.
A3/Tira 01: “No primeiro quadro tem close. No segundo quadro tem
distanciamento, acho que é porque quer mostrar os dois. No quadrinho, ela está
assustada e no segundo, está inconformada com a situação”.
A5/Tira 01: “Mônica está surpresa, depois ela fica conformada. O close foi pra
facilitar (a mostra) a expressão dela. O distanciamento é para mostrar o cenário, o
contexto e o outro personagem”.
A1/Tira01: “A Mônica tá meio assustada, assim.”
Invest.: “Como você percebe que ela ta assustada?
A1: “Existe close porque eles querem mostrar só ela e depois o Cebolinha e o humor
da tira. Se mostrar só os dois, não vai ter graça.”
Invest.: “Por que não vai ter graça?”
A1: “Porque houve mudança de expressão da Mônica.”
Invest.:” O que mudou?”
Note-se que nesses excertos o entendimento desses dois elementos (close e
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
76
distanciamento) estão também atrelados à questão das expressões faciais, corporais e
mudanças de humor das personagens. Os sujeitos conhecem as técnicas do close e
distanciamento de imagem e até explicam o porquê da ocorrência desses recursos gráficos. A
cena panorâmica ou de distanciamento mostra o que o leitor realmente precisa ver uma
quantidade de informações, para compreender o situacional que desencadeia a narrativa e
conseguinte mensagem. Pelas explicações dos sujeitos, ainda que algumas não sejam muito
claras, pode-se afirmar que eles percebem o recurso da perspectiva empregado nos quadrinhos
e entendem que um quadro com uma vista panorâmica permite maior presença de semas ou
sinais que fornecem maiores informações ao leitor. (Eisner, 1999:45; Vergueiro, 2005:91).
Outro aspecto a ser observado dentro dos quadrinhos refere-se à representação
gráfica do movimento e a “conclusão” decorrente deles. Esses dois aspectos foram apontados
simultaneamente pelos sujeitos no protocolo verbal. A importância em apontar a
representação gráfica dos movimentos das personagens dentro dos quadrinhos dá-se porque a
dinâmica da narrativa e a movimentação da imagem estática são alteradas pelo sentido e
percepção delas. Cagnin (1975:76) observa esse fenômeno e o chama de enunciado
lingüístico, em que por meio de signos lingüísticos o nosso processo mental pode afirmar uma
idéia a partir de outra. Assim ao vermos no desenho a imagem de poeira sendo levantada pelo
espanador, deduzimos que uma movimentação do objeto (espanador) pelo personagem
(Cebolinha) que o segura. O protocolo verbal registrou as observações:
A2/ Tira 01: “Ela tem uma mala na mão e ele um espanador, limpando os móveis.
Ela ta de maleta e ele com espanador. Isso movimento, mas o desenho é parado..
È fácil entender, ela trabalha fora e ele limpa a casa de avental, limpando, tem bebê
no carrinho”.
A3/Tira 01: Estão numa casa, porque estão brincando com móveis, objetos que
não dá para fazer na rua. A nica vai ser o pai da casa e o Jimmy no papel da
mulher, a mãe. Os risquinhos perto da cabeça da Monica dizem que ela ta
balançando a cabeça. O levantando do espanador dele mostra que ele está
limpando a casa. Eles estão brincando, mas inverteram os papeis e ele está
reclamando alguma coisa para ela. Ela chega do serviço e ele reclama do serviço de
casa.”
Ao ler a Tira 03, no segundo momento em que a tira continha imagem com texto
verbal, o sujeito A1 concluiu:
A1/Tira 03: Entendi que a Justine foi apresentar o namorado para o pai e ele
confundiu o Smudge com o porquinho. Confirmei minha hipótese do começo, mas o
texto ajudou a entender o sentido de ‘dade ‘daughtere que Cascão é Smudge. O
texto tem pouca utilidade na história pra gente entender a história, mas ajuda
entender as palavras.”
Conforme indicam os resultados, pode-se concluir que os sujeitos desta pesquisa, não
reconhecem elementos que compõem o gênero HQ, como também usam seus
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
77
conhecimentos de mundo no processo de compreensão escrita e que apesar dos sujeitos
desconhecerem certas nomenclaturas eles reconhecem os recursos e técnicas da HQ, tais
como: close e distanciamento, formas de balões, sarjetas e conclusões, levantam hipóteses dos
humores dos personagens, por meio das expressões faciais e físicas, como também fazem uso
desses elementos para compreensão escrita.
3.2.3 Uso da Imagem na Compreensão Escrita da HQ
Um aspecto a ser observado dentro dos significantes e significados das imagens e
gestos, são as mensagens percebidas por meio das expressões faciais e corporais dos
personagens. Elas são importantes para se compreender o humor dos personagens e fazer
hipótese dos diálogos situacionais. Outro elemento utilizado pelos alunos parece ser o
conhecimento de mundo e experiências pessoais que são usados pelos alunos para interpretar
as tiras de HQ, conforme excertos a seguir:
A5/Tira 01: “A imagem ajudou um pouco porque eles estão brigando. A cara brava
deles. Fui juntando o que sabia e montei mais ou menos um sentido. - O Jimmy não
quer brincar de casinha porque isso é coisa de menina. Os homens não querem
tomar conta da casa enquanto a mulher trabalha fora, é muito chato ele não ter o
dinheiro dele.”
A2/Tira 01: “Ela esta saindo e propôs ao Jimmy que ficasse em casa cuidando da
limpeza e do Sansão no carrinho é isso que fez o Jimmy apelar”.Ela tem uma mala
na mão e ele um espanador limpando móveis.”
A4/Tira 03: “A mão da Justine é muito importante, porque o gesto dela ajuda a
entender a fala over here ele tá aqui”.
A2/Tira 01: “Ela faz papel de homem e ele de mulher. Nenhum dos dois está
satisfeito. Ela assustada no primeiro quadrinho e no segundo, inconformada.
Ela tá indignada porque o coelho tá num carrinho abandonado e o Jimmy tá
limpando a casa. Ele tá rejeitando alguma coisa”.
03/Tira 01: “Mônica está assustada, em close, eu usei a imagem, o homem disse my
daughter`s Justine boyfriend, depois ela falou dad e mostrou o Smudge e disse: over
here, eu entendi por causa da imagem. My daughter é minha filha e dad é pai, eu
sabia que father é pai. Over here é aqui, eu entendi por causa do gesto dela, com
cara brava.”
A1/Tira 03: “O porquinho feliz. O cascão meio assustado parece. O pai feliz.
No segundo quadrinho como tá o porquinho? É..é assustado. E o pai decepcionado
e o Cascão confuso. E Justine? parece que com raiva. Pelo olho e o balão. Ela
gosta do Cascão porque ele é sujo como ela. Ela Também é encardida.... um pouco.
A imagem mostra isso.”
Interessante observar que os sujeitos, embora jovens, parecem manifestar algum
ponto de vista sobre a atribuição de papéis domésticos, como pode ser observado nas falas dos
sujeitos:
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
78
A4: “Ele ficou bravo porque não queria ser mulher. Ele não quer ser a mulher.”
A3: “Estão numa casa, porque estão brincando com móveis, são objetos que não
para fazer na rua. A Mônica vai ser o pai da casa e o Jimmy no papel da mulher, a
mãe.”
A concepção de que as funções domésticas são atribuições exercidas unicamente
pelas mulheres, portanto limpeza, faxina e cuidar da casa ou da criança o tradicionalmente
papéis femininos. Observa-se ainda nos comentários do sujeito A4 que ele foi além das
imagens dos quadrinhos, fazendo uma leitura prévia e outra posterior a narrativa visual. De
acordo com Eisner (1999:137) O sujeito imagina uma situação anterior e outra posterior aos
quadrinhos, ou seja, faz uma releitura do passado e uma previsão do futuro da narrativa. Essa
articulação é pessoal e criativa e a HQ se beneficia disto, porque a articulação permite ao
leitor ultrapassar o elemento visto com inferências e conjecturas sobre o não visto, como o
exemplo de inferência exposto abaixo:
A4/Tira 01: (antes) “Ela fez convite e depois impôs a vontade dela.(antes) “Ele
aceitou, depois se arrependeu.
A2/Tira 03: “O pai confundiu (o porquinho com o Smudge), mas acho que depois
ele se corrigiu.”
A3/Tira 03: A3 O homem foi pegar o porquinho, né? Ele é o pet do Cascão. A
menina falou para o pai que o porquinho era o pet do Cascão.”
Ao apontarem o espaço situacional onde ocorria a narrativa, foi perguntado aos
sujeitos, que elementos da imagem os fazia chegar a aquela conclusão. A resposta requeria
uma observação minuciosa da imagem para que se pudesse inferir uma seqüência narrativa e
conseqüente conclusão. Eles apontaram:
A1/Tira 01: -“Num campinho, na beira da rua. Tem um muro nos fundos
A2/Tira 01: - “Acho que estão numa casa.”
A4/Tira 01:- “O espaço é um quintal porque tem um muro meio sem reboco, com
plantas em cima.”
A5/Tira 01:- “No quintal da casa da Mônica, acho que ocorreu nas férias.”
A3/ Tira 03: “Eles estão na casa da Justine porque tem quadro na parede
A1/Tira 02: “ Ele tá alegre e no hospital ninguém conta historia pra dormir e...”
Essas percepções não são geradas apenas pela observação da imagem, mas são frutos
do conhecimento de mundo, trazidos pelo leitor. Grigoletto (1987:96) confere que o leitor tem
a sua história de leitura e produz sentido dentro de uma determinada comunidade
interpretativa. Concorre com essa percepção dos significantes e significados visuais da HQ, o
conhecimento de mundo do que seja ‘brincar de casinha’. Quando interferi no relato e
perguntei o que significava brincar de casinha, os sujeitos deram seus pareceres:
A2: “é brincar de papai e mamãe. As meninas são as mães, os meninos são os
maridos, é tudo faz de conta”.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
79
Ao final do protocolo, solicitei aos sujeitos que verbalizassem como procederam a
leitura das tiras em inglês de modo geral e que relatassem suas opiniões sobre a mensagem
deixadas pelas tiras. Ainda que os sujeitos sejam alunos do Ensino Fundamental, na faixa
etária entre 12 e 13 anos, eles deixaram observações significativas. O sujeito A4 formulou
uma hipótese de situação vendo as imagens e deixou transparecer sua representação de o que
é ser uma dona de casa, nos comentários como se segue:
A4: “parece fácil, mas concluí que é difícil e os homens desconhecem isso”.
A5: “Eles estão brincando de casinha no quintal da casa da Mônica, eu acho. O
movimento dela que chega com mala de trabalho, ele limpa a casa com (poeirinhas)
o espanador. Ela pôs avental no rapazinho. Tem fogão, carrinho de bebê, armário.
Essa troca de papéis acontece na vida real e dá briga.”
A4/ tira 01: - “Brincar de casinha é coisa das crianças menores, é faz de conta.
Tem comidinha, visita, criança fica doente, vai ao postinho, toma remédio, etc.”.
O sujeito A5 tem um ponto de vista, mais fundamentado em experiências e
conhecimento e explica:
A5/ tira 01: “Eu brinquei muito de casinha, quando era criança, era legal até os
meninos ‘chegar e acabar’ com tudo. Menino não sabe brincar, eles dizem que
homem que brinca é ‘mulherzinha” “risos”.
Os sujeitos observaram e identificaram os elementos dos quadrinhos. Quando
perguntado sobre como processou a leitura, o sujeito A3 respondeu:
A3/ tira 01: “Eu fui lendo e depois de juntar as coisas eu entendi que ele não
queria brincar com ela, mas ele não falou, eu é que pensei, eu conclui. Isso é legal
porque eu agora eu entendi o que é ler história em quadrinhos”.
O A2 teceu comentários baseados também nas observações da imagem. O
pesquisador perguntou ao sujeito A2, se ele tinha entendido alguma coisa diferente na
primeira leitura, comparada à segunda leitura, o sujeito respondeu:
A2: (na primeira leitura) “Ela chegou brava e eu pensei que tinha alguma coisa a ver
com o coelhinho dentro do carrinho, depois eu vi que ela chamou ele para brincar,
depois ela viu que ele não queria e ela perguntou e ele disse: Adivinha!”.
A4: “eu pensei que ‘how come’ era ‘como vai você? ’. Daí não deu sentido. Como
vai você não quer brincar comigo? Fui traduzindo o que sabia e pulando o que
não sabia, depois juntei tudo”.
O sujeito A4 fala da sua percepção da interdependência entre texto e imagem na Tira
01.
A4/Tira 01: Usei a imagem, a imagem ajudou a entender o texto, mas ela sozinha
não me dá a história toda, foi preciso o texto.
A princípio a imagem facilitaria a compreensão, porque ela contextualiza o texto,
assim como o texto contextualiza a imagem. Porém o texto verbal com seu significado não
margem a outras interpretações e restringe outras leituras da imagem. Cagnin (1975:119)
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
80
observa que quase sempre a imagem tem interpretação polissêmica, mas o texto, nesse caso
vai canalizar a um único sentido de leitura, porque seleciona o significado.
A5/Tira 01: “A imagem ajudou um pouco porque eles estão brigando. A cara brava
deles. Fui juntando o que sabia e montei mais ou menos um sentido.”
Esse é um exemplo de leitura de imagem aliada ao texto, pela observação da imagem
o sujeito parece ter percebido que eles estão brigando, porque estão com cara brava”. Assim
o sujeito declara que foi juntando o que sabiaseu conhecimento de mundo e foi montando
um sentido narrativo e formulando uma mensagem. Ele entendeu a técnica e objetivo da HQ.
A1: “O Jimmy não quer brincar de casinha porque isso é coisa de menina. Os
homens não querem tomar conta da casa enquanto a mulher trabalha fora, é muito
chato ele não ter o dinheiro dele.”
A2: “Nossa sociedade é machista e os homens não querem trocar de papel com as
mulheres.
O quadrinho se apóia nessa idéia de papéis pré-estabelecidos na sociedade e os
alunos perceberam isso.”
A3: “A critica (da tira de HQ) é falar do trabalho da mulher que não é fácil,
organizar a casa, cuidar dos filhos, as deixa irritadas. Os homens não sabem fazer
isso direito.”
A4: “Eu notei que ela ficou com raiva depois, contrariada, ela aceitou que ele não
quis fazer papel de doméstica. Minha mãe diz que ninguém reconhece o trabalho da
mulher.”
A5: “Se eu tivesse que trabalhar fora e meu marido ficasse em casa eu ia ficar brava,
se ele não fizesse nada (em casa). Ele tem que fazer as coisas que eu faço.”
O sujeito A2 teve muita preocupação quanto ao coelho da Mônica, pois supunha que
todo o conflito da narrativa textual estava no fato de Jimmy estar limpando a casa e ignorar o
coelho no carrinho de bebê. Depois de observar a HQ mais atentamente, ele refez sua leitura
anterior:
A2: Ela chegou brava e eu pensei que tinha alguma coisa a ver com o coelhinho
dentro do carrinho”.
A2: “Ela (o) chamou ele para brincar, ela viu que ele não queria brincar e depois ela
viu que ele não queria e ela perguntou e ele disse: Adivinha!”
Esse é um exemplo de polissemia de imagem, ou seja, o leitor a imagem, faz uma
hipótese, mas depois, o texto aponta em outra direção.
Quando perguntei ao sujeito A1, onde estava escrito que o Jimmy não queria fazer o
trabalho de dona de casa na brincadeira de casinha,
A1/ Tira 01: porque isso não é trabalho para menino”. “não está escrito no papel,
mas dentro da minha cabeça, eu entendi assim”.
Esses resultados reiteram que os sujeitos compreenderam como fazer a leitura de
HQ, ou seja, as informações podem não ser visíveis, mas inferidas e concluídas, decorrentes
da observação e percepção das imagens pelo leitor. As imagens facilitaram a compreensão
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
81
escrita das tiras de HQ, e não houve dificuldade por parte dos sujeitos em entender a
mensagem, embora houvesse alguma dificuldade em verbalizar essa percepção e atribuir
significados às imagens vistas.
Para que a descoberta da interdependência do texto e imagem se manifestem, o
conhecimento do mundo que esse aluno traz mostrou-se de suma importância para a leitura e
interpretação das tiras de HQ, em especial o conhecimento das personagens e a familiaridade
que o aluno tem com o assunto tratado no texto.
Os resultados também apontaram que para a compreensão da HQ, os sujeitos fizeram
uso dos elementos característicos do gênero, conhecidos por eles: os balões, o quadro, as
sarjetas e a conclusão, o close e distanciamento e a representação gráfica do movimento.
Os resultados também sugerem que o não atribuir significado a itens lexicais
desconhecidos, não parece ter prejudicado a compreensão das HQs, visto que se apoiaram em
outros elementos para auxiliá-los na busca do sentido das mesmas.
Na seção seguinte tomamos o texto escrito como elemento que contribui com a
compreensão escrita, canalizando para um único sentido, as polissemias da imagem.
3.2.4 O Uso do Texto Escrito na Compreensão Escrita da HQ
Ao se depararem com o vocabulário, na fala das tiras, os sujeitos demonstraram certa
insegurança em atribuir um significado às palavras, apoiados na observação da imagem,
exceto o sujeito A3 que demonstrou maior segurança e certa tranqüilidade ao atribuir sentido
às palavras, conforme relato abaixo:
A3/Tira 01: How come you don´t want to play house with me any more Jimmy?.
….Você não quer brincar de casinha comigo….nunca mais? Guess é ... suponha,
adivinha?”
O sujeito A3 leu o texto num fluxo, quando encontrou a palavra guess,
argumentou:
A3/ Tira 01: “A palavra ‘guess’ eu conhecia da brincadeira ‘guess what?
adivinha! Alguém esconde alguma coisa na mão e você tem que adivinhar em qual
mão que tá”.
O tempo em que tenho trabalhado com esses alunos e as experiências de sala me
permitiu fazer um diagnóstico dos termos lexicais encontrados nas tiras, com os quais os
alunos poderiam encontrar alguma dificuldade em atribuir significado durante o processo de
compreensão escrita. Os resultados e a observação confirmaram esses diagnósticos.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
82
Na tira 01: para se usar a imagem como indicador de sentido lexical de how come e
guess, o sujeito teria que observar a expressão facial da Mônica que pergunta ao Cebolinha/
Jimmy, How come? E o Jimmy responde a ela: Guess!
Na tira 02, as palavras: dad, bed time, poderiam ser inferidos pela imagem do quarto,
da cama e do pai. para inferir os termos Best, know, once upon a time.. e there were seria
necessário conhecimento de mundo e mesmo conhecimento lingüístico.
Na tira 03, os léxicos: hi there, daughter e over here, poderiam ser inferidos pela
observação das imagens.
Para melhor visualizarmos as tiras de HQ e as falas contidas nelas, exponho as tiras
de HQ e os quadros correspondentes. Os quadros contêm as falas e as tentativas dos sujeitos
em “traduzir” ou atribuir um significado às palavras ou expressões do texto.
Em relação à tira 01, reproduzida na Figura 3.1 a seguir, segue o Quadro 3.7. A letra
X indica a não atribuição de significado ao item lexical.
Figura 3.1: Tira 01- Site Monica´s Gang. Download em 04/04/2008.
Texto em
inglês
Sujeito:
Inferências
How
come
you don`t want to play house with me
any
more?
Guess!
A1 O motivo você não quer brincar casinha comigo X X
A2 Por quê? você não quer brincar/jogar Casa Comigo Mais Adivinha
A3 Por quê? você não quer brincar casinha comigo X Adivinha
A4 Razão você não Quer brincar casinha comigo X Escolha
A5 X você não quer brincar/jogar de casinha Mais
Quadro 3.7: Atribuição de significados ao texto escrito tira 01.
No Quadro 3.7, a compreensão escrita dos sujeitos deu-se pela tradução ou atribuição
de um sentido das falas do inglês para o português. Todos acertaram, ou aproximaram a
tradução de: you don`t want to play house with me. Somente os sujeitos A2 e A5 atribuíram
uma interpretação ao item: any more, enquanto o A3 interpretou corretamente o termo guess.
O sujeito A4 aproximou-se em sentido, mas o contexto era outro, aqui não cabia a tradução de
guess como “escolha”. O sujeito A5 não arriscou atribuir significados aos itens: how come! e
guess. Todos se esforçaram em compreender os itens lexicais mais difíceis: how come, any
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
83
more e guess, mas o sujeito A2 foi o que mais se empenhou em buscar uma compreensão
deles, como se observa a seguir:
A2/Tira 01: “How come é por quê ? É por quê? O que que é more? É mais??
Guess, eu não lembro”.
Como não havia na HQ qualquer termo cognato ao português que pudesse ser
deduzido ou inferido, os relatos a seguir mostram o esforço feito pelos sujeitos na tentativa de
atribuir algum significado aos itens lexicais desconhecidos:
A1/Tira 01: How come..... eu não sei. you é você ....não jogar/brincar de casinha
assim ... você não quer brincar mais de casinha comigo? Como traduzir o how
come? Você não quer brincar de casinha comigo. How come ? Porque motivo.... e
ela perguntou por que motivo?”
A2/Tira 01: “How come é por quê ? É por quê? O que que é more? É mais?? Guess
eu não lembro.”
A3/Tira 01: How come you don´t want to play house with me any more Jimmy?.
….Você não quer brincar de casinha comigo….nunca mais? Guess é... suponha,
adivinha?”
A4/ Tira 01: “How come é ... razão? Por que razão?
Segue a tira 02, Figura 3.2, com o Quadro 3.8, que ilustra as atribuições de
significado aos itens que compõem o texto dessa tira de HQ.
Figura 3.2: Tira 02- Site Monica´s Gang. Download em 04/04/2008.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
84
Texto em
inglês
sujeitos
inferências
Dad! Tell me
a bedtime
story
Okay, Smudge!
What story do
you want?
The one I
like best!
I know
Once upon a time
there were
three little pigs
A1
hora da
história
da cama/
dormir
que história quer
A uma..
melhor
Eu sei Os 3 porquinhos
A2
Pai, uma
história de
cama
Ok. Que história Eu gosto mais
Eu
conheço...
Os 3 porquinhos
A3
Conta uma
história
Ok, qual história?
A que mais
gosto?
Sei
..tempo ... lá 3
porquinhos.
A4
Pai! Conta
uma história
pra dormir
Que história você
quer?
Uma que eu
gosto
mais
Já sei
Era uma vez 3
porquinhos
A5
Pai! Conta
historia.
Que história
quer?
Que eu gosto X Os três porquinhos
Quadro 3.8: Atribuição de significado ao texto escrito tira 02
Observe que os sujeitos atribuíram significados à tira de HQ, ainda que nenhum
deles tenha tentado inferir os termos there were e tell me. O sujeito A3 relatou que entendeu
que o pai do Cascão “se ofereceu para contar uma história”. Interrogado, sobre isso, esse
sujeito argumentou que no primeiro quadrinho “o pai já tem o livro na mão”. Os sujeitos A2 e
A4 declaram que os termos mais importantes da tira eram bedtime story, porquanto essa e
uma expressão que resume toda a seqüência narrativa, expressa nos quadrinhos e elementos
constitutivos, ou seja, “o quarto, na cama, no Smudge de pijamas, o pai com o livro na mão.”
A Tira 02 traz uma HQ, que segundo relatos dos sujeitos não foi difícil de
contextualizar a narrativa e inferir os significados dos termos em inglês, porque essa história
pode ser construída mais na imagem e menos no texto. Os relatos a seguir demonstram essa
afirmativa:
A1: “Bedtime story, hora da história para dormir. A historinha é que o Cascão antes
de dormir quer que o pai conte pra ele uma historinha e a que ele mais gosta é a dos
três porquinhos.”
A2: “Essa HQ não precisava muito das falas para entender.”
A3: “Quando eu li Three little pigs, eu imaginei que ele gosta dos 3 porquinhos, ai
reli e entendi.”
A4: “There were eu não sabia, mas tem palavras conhecidas e eu entendi tudo.”
A5: “Bed é cama, Time é hora e story é história, mas I know eu não sei, mas dá para
entender. Dad é papai, Smudge é cascão, new boyfriend é namorado, over there eu
entendi pelo gesto da menina.
A seguir, apresento a tira 03, Figura 3.3, seguida do Quadro 3.9, com a atribuição de
significado feita pelos sujeitos ao texto escrito:
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
85
Figura 3.3: Tira 03- Site Monica´s Gang. Download em 04/04/2008
Texto em
inglês
sujeitos
inferências
Hi There! So you`re my daughter Justine´s new Boy-
friend?
Dad, Smudge is over
here!
A1 Oi! Então você é .......Justine novo namorado? ..... Cascão é este!
A2 Olá! Você é minha filha Justine novo namorado ? Pai, o Cascão é esse aqui.
A3 Oi! Você é neto Justine novo namorado ? Dad, olha o Cascão aqui!
A4 Oi! Você é ... Justine o novo namorado?/ Cascão está .... acabado!
A5 Oi! Você é minha ......Daughter é irmã novo namorado? Pai, o Cascão tá aqui!
Quadro 3.9: Atribuição de significado ao texto escrito tira 03
Este quadro ilustra as tentativas de dar significado ao texto escrito da tira 03. O
sujeito A3 leu o texto e pela polissemia da imagem, fez uma hipótese diferente quando de
posse da tira sem as falas, declarou:
A3/Tira 03 O homem foi pegar o porquinho, né? Ele é o pet do Cascão, ele quer
dançar com o porquinho?! O homem tá feliz e depois ficou confuso.”
O sujeito, entretanto, reviu sua hipótese na segunda leitura com imagem e texto e
manifestou alegria e risos quando compreendeu a história.
A3/Tira 03: “Oi, você é o novo namorado da ....? Daughter é neto? É namorado?.
Este é meu namorado, não é o porco.
A3: Agora deu pra entender, entendi depois do texto. Boy friend eu sei mas
over here eu não sei, mas entendi porque o homem é pai dela, e confundiu o porco
com o namorado. Ela tá mostrando ele, e quer dizer: ‘este aqui?’”.
O sujeito A4 ao ver as imagens sem texto, da tira 03 formulou uma hipótese diferente
ao atribuir sentidos à narrativa e declarou:
A4/Tira 03: O homem foi cumprimentar o porquinho, ... não sei por quê.
Depois, no segundo momento, ao ver imagem com texto, ele relatou:
A4: “Oi =hi there! so you are my daughter Justine´s new boyfriend.”
Invest; O sujeito A4 estava em dúvida e perguntou:
A4: “Quem é Justine? é Filha? Porque é invertido? Minha filha Justine novo
namorado? Pai, Smudge is over here, ela quer dizer que o namoro está acabado, is
over?.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
86
Invest: Is over neste caso, não significa está acabado, releia.
A4: “Ele confundiu os namorados. Ele pensou que o porquinho era namorado dela.
Dad é pai.”
Invest: “Pensou, por quê?
A4: “Porque eles são encardidos, por isso o pai confundiu.”
O sujeito A4 ao observar que a ordem da sentença em inglês contraria a seqüência
sintagmática da oração em português, no tocante aos genitivos, perguntou por que inglês é
invertido, “minha filha Justine novo namorado”, em vez de “o novo namorado da minha filha
Justine.”
A5: O homem foi cumprimentar o porquinho e a filha dele, a Cascuda (risos) fala
para o pai que o namorado dela é o Cascão não o porquinho.”
Ao ler a imagem e o texto juntos, o sujeito A5 declarou:
A5: “Entendi que Cascão é Smudge; dad é pai; over here é aqui. Hi there é: E ai?
Tudo bem? Os gestos. O balão de fala do pai é calmo e o da Justine é de raiva, de
ódio.”
Quando o sujeito leu o texto sem falas entendeu que o pai da Justine cumprimentou o
porquinho, pensando que ele era o namorado da filha, mas mudou de entendimento quando de
posse da tira com imagens e texto.
Concluindo esse capítulo percebemos que os relatos sugerem que o não atribuir
significado a itens lexicais desconhecidos, não parece ter prejudicado a interpretação e
compreensão textual da HQ. Porque eles se apoiaram nas imagens num todo, para buscar
sentido à HQ. Pelos exemplos expostos e comentados e com os recursos usados pelos sujeitos
para inferir as palavras desconhecidas e processar uma compreensão geral, entraram em jogo
os conhecimentos prévios dos leitores, as inferências que eles trazem em suas próprias
vivências constatadas por Ramos (1988:8) que cita Kato (1986:41) e afirma que na leitura
de modo geral, o leitor que traz conhecimento prévio e vivência, a princípio, faz atribuições
fragmentadas de sentido, mas no contexto, percebe o todo”.
Isto posto, passo às considerações finais em que comento a pesquisa, os percalços e
satisfações de realizá-la.
87
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muito se tem escrito sobre a HQ nos meios acadêmicos e a riqueza do tema não
permite que o assunto se esgote. Em cada trabalho foca-se um tópico diferente verifica-se um
fenômeno não analisado até então ou se revêm conceitos e teorias. Muitas obras são
publicadas, ora versando sobre a HQ como um recurso didático-pedagógico, ora como uma
atividade de lazer. Neste trabalho busquei questionar a leitura de HQ, tida por muitos
estudiosos como “uma atividade de fácil entendimento” e mostrar que, como toda leitura, ela
também é complexa, emocionante e requer no seu processamento, conhecimento dos
elementos que compõem o gênero. A pesquisa teve como sujeitos, 5 pré-adolescente
“habituados” a ler HQ em língua materna, mas não habilitados a ler em inglês. A preocupação
deste trabalho esteve em buscar um sentido às narrativas seqüenciais e como isso se
processava por meio dos elementos da HQ.
A análise dos dados mostrou:
a) a percepção da imagem é essencial à compreensão escrita em língua inglesa;
b) o conhecimento de mundo facilita a percepção da imagem na atribuição de
sentidos à compreensão escrita da HQ, ou seja, quanto maior o conhecimento de
mundo, melhor a percepção da imagem e a atribuição de sentido a ela;
c) os elementos característicos do gênero HQ, de modo geral fizeram com que os
sujeitos contextualizassem a historinha, percebessem o humor das personagens e
pudessem dar um sentido à narrativa;
d) que não atribuir significado aos itens lexicais desconhecidos, não afetou a
compreensão geral da narrativa.
Outros resultados também foram obtidos. Um deles foi saber que as diferentes
atribuições de humores às expressões faciais e corporais das personagens pelos leitores não
alterou a compreensão geral da narrativa. Além disso, os dados mostraram que as diferentes
percepções do tempo e do espaço em que se desenvolve o enredo, também não
proporcionaram discrepâncias nas interpretações do texto.
décadas a HQ faz parte do cotidiano das crianças, jovens e adultos, entretanto é,
ainda, mal usada como recurso pedagógico, porquanto é creditada como mero entretenimento
para muitos professores e alunos.
Este trabalho mostrou que o conhecimento dos elementos característicos do gênero
HQ é importantíssimo para seu entendimento, abrindo assim um novo caminho para o
CONSIDERAÇÕES FINAIS
88
tratamento pedagógico desse gênero em sala de aula de língua estrangeira. Nesse sentido, a
pesquisa mostrou-se bastante relevante para mim professor que sempre usei a HQ como um
recurso didático, sem entretanto me preocupar com o gênero e suas características, como este
trabalho propôs.
As pesquisas não se encerram aqui. A complexidade do tema HQ, a riqueza dos
recursos e aspectos a serem estudados e analisados nesse gênero, fazem com que não se
apaguem as marcas até aqui traçadas. Espero que este trabalho possa ajudar outros professores
que como eu, também, questionam as atividades de leitura, e que também buscam
experiências e aperfeiçoamento, embora se saiba que nunca se preenche todos os recantos do
saber.
Este trabalho não teve como propósito avaliar o aprendizado de inglês dos 5 alunos,
sujeitos da pesquisa, nem tampouco investigar como alguém aprende, pois aprender é uma
experiência complexa e misteriosa (Liberato, 2003:149). No entanto, quando alguns dos
sujeitos declararam que aprendem a ler HQ com os colegas, ou por seus próprios esforços,
chamou minha atenção, pois acho que esse foco pode ser, no futuro, um desdobramento desta
pesquisa que investigaria como ocorre esse auto” aprendizado e que informações e
estratégias os alunos se aplicam.
Esta pesquisa deu-me muita satisfação e alegria por ter descoberto e aprendido uma
infinidade de informações e curiosidades sobre o assunto HQ, porém ocorreu entre os
atropelos da falta de tempo, pelos compromissos com outras atividades.
Concluindo, sugiro que todas as leituras sejam valorizadas e que a leitura de HQ em
especial não ocorra por mera casualidade dentro da escola, com fim único de cumprir
programas e planos, mas que o gênero HQ seja um recurso bem aproveitado no ensino de
leitura em inglês e que essa leitura seja contextualizada por meio dos elementos do gênero.
Que a atividade de leitura, motivada ainda, no Ensino Fundamental, proporcione e constitua
futuros leitores, proficientes e críticos de sua realidade.
89
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95
APÊNDICE A - Roteiro de Perguntas Adjuntas ao Pensar Alto
1- O que você entendeu da HQ sem os textos? Se possível, resuma numa frase a sua hipótese
da narrativa.
2- Como a imagem ajudou você a fazer essa hipótese? Que elementos você observou?
3- Há distanciamento (panorâmica) ou aproximação (close) da imagem? Por que isso ocorre?
5- Você observou mudanças na expressão facial e nos gestos dos personagens de um quadro a
outro? Explique as mudanças.
6- Onde e quando se passa a história? Como você percebeu isso?
7- Que tipo de balões de diálogos você percebeu? Que tipo de fala eles carregam/
comportam?
8- Como você percebe a idéia de movimento no quadrinho, se as imagens estão paradas?
Explique.
Após essas questões, o pesquisador deu ao sujeito a mesma HQ, agora com os textos
verbais, ou seja, com os balões preenchidos e solicitou:
96
II-OBSERVE a seqüência de imagens e textos. FAÇA a leitura do texto e PENSE alto.
(tempo)
9- O que você entendeu da História em Quadrinhos, após ler imagem e texto?
10- Você confirma ou refuta sua hipótese inicial? Por quê?
11- Como você leu o texto? Que estratégia você usou na leitura do texto?
12- O texto verbal é necessário para compreensão plena da narrativa? A narrativa pode ser
compreendia sem o texto?
13- Você recorreu à imagem para entender alguma palavra em inglês que você não conhecia?
Qual a palavra e como a imagem ajudou?
14- Qual a crítica ou mensagem deixada pela HQ e que comparação se pode fazer entre a HQ
e o seu dia a dia?
97
APÊNDICE B - Questionário I - Hábitos de Leitura e Familiarização com HQ
1- De maneira geral, você tem o hábito da leitura? A ( ) sim B ( ) não
2- Se sua resposta é afirmativa, o que você costuma ler? Pode assinalar mais de uma
alternativa
A ( ) livros das matérias da escola
B ( ) os livros na sala de leitura
C ( ) jornais
D ( ) revistas de notícias semanais
E ( ) gibis
F ( ) outros: ___________________________________________
3- Com que freqüência você lê?
( ) todo dia
( ) quase todo dia
( ) uma vez por semana
( ) uma vez ao mês
( ) raramente
( ) quase nunca.
4- Se você gosta de ler revistas. Que assunto você prefere? (assinale mais de uma alternativa).
A ( ) atualidades: política, economia, fatos da semana (Veja, Época).
B ( ) curiosidades: ciências, filosofia, religiões (Superinteressante, Ciência Hoje).
C ( ) geografia: viagens, lugares (Viagem, National Geográfica).
D ( ) artes e entretenimento: fofocas sobre famosos (Caras, Atrevida).
E ( ) gibis: história em quadrinhos (Monica, SuperMan,Marvel).
F ( ) outros:_______________________________________________________.
98
05- Quando você não está estudando, qual é o seu lazer/passa-tempo?
A ( ) ouvir música?
B ( ) assistir TV e vídeo
C ( ) acessar internet, games e chats
D ( ) praticar esportes
E ( ) ler livros, revistas e jornais
F ( ) viajar, conversar com amigos, tocar instrumentos
G ( ) outros...________________________________________
6- Se você gosta de gibis e história em quadrinhos, quais são suas favoritas?
__________________________________________________________________________
7- Com que freqüência e em que momento você lê história em quadrinhos?
A ( ) sempre, todos os dias B ( ) às vezes, fim de semana C ( ) raramente D ( ) nunca.
8- Que personagem de HQ, você gostaria de ser? E quais as características dele (a)?
9- Em sua opinião, o que é uma história em quadrinhos?
___________________________________________________________________________
10- Em sua opinião ler HQ é fácil ou difícil, por quê?
11- O que você conhece das características e recursos do gênero HQ? Marque mais de uma
alternativa.
A ( ) tipos de balões: forma e significados.
B ( ) perspectivas: close e distanciamento.
C ( ) onomatopéias, sons e ruídos.
D ( ) representação dos movimentos.
E ( ) outros. ________________________________________________________
12- Como você aprendeu a observar as características e recursos da HQ?
A ( ) aprendi sozinho, lendo e observando.
B ( ) aprendi com meus pais.
C ( ) aprendi com meus professores.
D ( ) meus amigos e colegas me ensinaram.
E ( ) outras: _________________________________________________
99
APÊNDICE C - Questionário II - Hábitos de Leitura e Familiarização com a HQ
1- Qual foi o último livro que você leu? E de que tratava a história?
___________________________________________________________________________
2- Você estuda inglês fora da escola? Onde?
___________________________________________________________________________
3- Você já viu, folheou ou leu uma revista em inglês? Qual?
___________________________________________________________________________
4- Como você poderia aprender inglês por meio da HQ?
a) ( ) familiarizando com texto, palavras e sentenças.
b) ( ) associando a imagem com a situação/ contexto da história
c) ( ) lendo e repetindo os diálogos, mesmo que não entenda.
d) ( ) evitando o uso do dicionário
e) ( ) todas alternativas
f) outros motivos________________________________________________
5- Em sua opinião, a HQ aproxima ou distancia você do hábito de ler? Como?
__________________________________________________________________________
Questionário sobre os elementos característicos da HQ
6- Os quatros balões abaixo, pelo formato, levam falas diferentes, vosaberia relacionar os
balões (a, b, c, d) com as características correspondentes?
( ) fala nervosa, grito, som estridente
( ) fala normal, diálogos amistosos
( ) pensamento, idéias e lembranças
( ) relatos de ações no tempo presente.
100
7- Que outros tipos de balões você conhece? Aponte e exemplifique.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
8- As expressões faciais são importantes para se compreender uma mensagem. Que emoções
o homem da ilustração abaixo está demonstrando? O que você acha que ele está ouvindo
ao telefone?
A B C D E
A: ___________________ ______________________________________________
B: ___________________ ______________________________________________
C: ___________________ ______________________________________________
D: ___________________ ______________________________________________
E: ___________________ ______________________________________________
9- As expressões corporais são também muito importantes para se compreender o que se
passa na HQ. Como você classificaria as 10 expressões e gestos abaixo?
1______________________________ 6________________________________
2______________________________ 7 ________________________________
3______________________________ 8 ________________________________
4______________________________ 9 ________________________________
5_____________________________ 10 _______________________________
101
APÊNDICE D - Tiras com Balão de Fala
Tira 01-
Tira 02-
Tira 03-
102
APÊNDICE E - Tiras Sem Balão de Fala
Tira 01 - sem texto
Tira 02 - sem texto
Tira 03 - sem texto
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