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Tal concepção pressupõe uma percepção da criança como um ser passivo,
dependente e sem vontade própria, que não sofre influências históricas e sociais. O ato de ler,
segundo a perspectiva behaviorista-skinneriana, restringe-se apenas ao processo de
decodificação das letras do alfabeto, dando ênfase ao texto do qual o leitor irá extrair a
informação, ou seja, a importância no conteúdo que o texto traz de forma linear.
A perspectiva ascendente, segundo Solé (1998), valoriza a escola como única
detentora do saber e afirma que é sua função ensinar a criança a ler de forma progressiva,
sequencial e hierárquica. Ainda de acordo com a autora, o ensino de leitura, nessa concepção,
deve ocorrer a partir da decodificação dos signos, os quais serão apresentados
progressivamente, das unidades mais simples até as mais complexas, quer dizer, o leitor deve
iniciar a leitura pelas letras, depois deve ler palavras e, por último, ler as frases,
preferencialmente por meio da decifração em voz alta e da repetição.
Nessa perspectiva, o texto escrito é concebido como informação acabada com a
qual o leitor tem contato e deve reproduzir de uma forma mecânica, caracterizando a leitura
como um ato automático e involuntário. Portanto, podemos perceber que, nessa concepção, o
significado está nos signos escritos, isto é, independentemente de quem realizará a leitura,
todos chegarão ao mesmo entendimento do texto.
Após a difusão das perspectivas ascendentes, durante muito tempo, em nossas
escolas, surgiram as abordagens denominadas descendentes, que são resultantes da mudança
de paradigma na concepção de criança até então existente.
Nas abordagens denominadas descendentes (Top Down), a ênfase passa a ser
atribuída ao leitor, e a leitura é vista como um processo de atribuição de significados realizado
por ele. Valoriza-se o leitor em detrimento do texto, porque a criança passa a ser vista não
como um ser passivo, mas como um ser social e histórico, que está em constante formação, o
que conduz a uma visão de indivíduo ativo, autônomo e pensante.
Compreende-se, então, que o processo de leitura do mundo começa antes do
período escolar, provocando a valorização das experiências, vivências e relações estabelecidas
pela criança antes de entrar na escola. Portanto, nas abordagens descendentes, passou-se a
ressaltar o processo de atribuição de significados realizado pelo leitor.
Dentre as abordagens descendentes, a que recebe maior destaque é a
concepção de leitura denominada Perspectiva Cognitivo-Sociológica, que, de acordo com
Martins (1990, p. 31), é “um processo de compreensão abrangente, cuja dinâmica envolve
componentes sensoriais, emocionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos, bem como
culturais, econômicos e políticos”.