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DANIELLE SCHIMANESKI PIRAS
A TERRITORIALIZAÇÃO DA AGRICULTURA
MODERNA DE PRIMAVERA DO LESTE
Dissertação de Mestrado apresentada no Curso de
Pós-Graduação em Geografia da Universidade
Federal Fluminense, como requisito parcial para a
obtenção do Grau de Mestre. Área de concentração:
Ordenamento Territorial.
Orientador: Prof. Carlos Alberto Franco da Silva
Niterói
2007
1
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P667 Piras, Danielle Schimaneski
A territorialização da agricultura moderna de
Primavera
do Leste / Danielle Schimaneski Piras. – Niterói : [s.n.],
2007.
94 f.
Dissertação (Mestrado em Geografia) –
Universidade
Federal Fluminense, 2007.
1.Ordenamento territorial. 2.Rede. 3.Território.
4.Agricultura. 5.Primavera do Leste (MT). I.Título.
CDD 304.23098172
2
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DANIELLE SCHIMANESKI PIRAS
A TERRITORIALIZAÇÃO DA AGRICULTURA MODERNA DE
PRIMAVERA DO LESTE
Dissertação de Mestrado apresentada no Curso de
Pós-Graduação em Geografia da Universidade
Federal Fluminense, como requisito parcial para a
obtenção do Grau de Mestre. Área de
concentração: Ordenamento Territorial.
Defesa em 07 de dezembro de 2007.
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________________
Prof. Dr. Carlos Alberto Franco da Silva - Orientador
Universidade Federal Fluminense (UFF)
___________________________________________________________________
Prof. Dr. Jorge Luis Gomes Monteiro
Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT)
___________________________________________________________________
Prof. Dr. Jacob Binsztok
Universidade Federal Fluminense (UFF)
NITERÓI
2007
3
Aos meus pais: Iliane e Giampiero e minha
irmã: Stefania, pelo amor, carinho e apoio.
Este trabalho é dedicado principalmente a
vocês.
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço as pessoas de Primavera do Leste que gentilmente cederam seu
tempo para a realização de entrevistas.
Ao meu orientador, professor Carlos Alberto pessoa pela qual tenho
profundo respeito e admiração pela maneira que desenvolve seu trabalho, sempre
dedicado e competente – pela paciência, receptividade, críticas e idéias.
Aos amigos: Fabiana, Flavinha, Maristela, Pedro, Rafa e Fernanda, pelo
companheirismo, amizade e carinho, nossos momentos juntos são sempre repletos
de trocas e aprendizado.
Ao Bruno, pelo carinho e paciência que teve durante tantos anos de
convivência, pelas suas incansáveis palavras de estímulo e incentivo. Estendo meus
agradecimentos a toda família Loureiro que esteve presente durante esse processo
de aprendizagem.
A todas as pessoas que estiveram por perto, ensinando, incentivando ou
contribuindo de alguma maneira na realização desse trabalho.
Meus principais agradecimentos vão para meus pais e minha irmã, que me
incentivaram, me compreenderam e me apoiaram em todos os momentos sempre
me fortalecendo com muito amor e carinho.
5
RESUMO
A sociedade atual está ligada e conectada a diversas partes do mundo por
meio de infinitas redes, redes essas que transformaram-se em um instrumento de
poder que interfere diretamente no ordenamento do território.
Assim como a sociedade, as empresas multinacionais também estão
organizadas em redes, sendo essas cada vez mais descentralizadas, possuindo
suas atividades dispersas pelo território, mas ao mesmo tempo são interligadas
graças aos avanços tecnológicos.
O estado do mato Grosso é hoje o maior produtor de soja do país, resultado
alcançado devido a sua capacidade de absorver novas tecnologias, informações e
avanços científicos, sendo que esses pontos mais dinâmicos do território são
controlados pelas empresas estrangeiras que ali se encontram. Ou seja, Mato
Grosso a partir do momento que passou a receber grandes empresas em seu
território, se viu conectado às mais diversas redes e dentro de um sistema que
abrange todas as escalas: global, nacional e regional.
Dentro do estado do Mato Grosso, a área mais consolidada em termos
técnico-produtivos é o sudeste, sendo que ele foi o núcleo irradiador da sojicultura e
hoje abriga as principais atividades do complexo agroindustrial da soja. Primavera
do Leste, município objeto do presente trabalho, faz parte do sudeste
matogrossense e assim como o estado sofreu um rápido desenvolvimento, e hoje se
encontra inserida no meio-técnico-científico-informacional estando integrada
economicamente com as demais regiões do país através do fluxo de redes.
PALAVRAS CHAVE: Ordenamento Territorial, Rede, Território-Rede e Fluxos.
6
ABSTRACT
The current society is connected to a several parts of the world by means of
infinite nets, wich had been changed into a powerfull instrument that intervenes
directly in the order of territory.
Just like societies, the multinationals companies are also organized in nets,
each time more decentralized, having their own activities split on the territory, but at
the same time linked by the technological advances.
Mato Grosso is the biggest producer of soybean in the country. This result was
reached by the capacity to absorb new technologies, informations and scientific
advances, witch those most dynamic parts of territory are controlled for the foreign
companies. That means Mato Grosso, from the moment that started to receive great
companies in its territory, started to deal with the most diverse nets and a system
inside that encloses all the scales: global, national and regional.
Inside the state of Mato Grosso, the most consolidated area in terms of
technician and productive is the south-east. It was the irradiator nucleus of
soyculture, and today is the place that has the main activities of the agro-industrial
soybean complex. Primavera do Leste, the area studied, is located in the southeast
of Mato Grosso and just like the state, that receive a fast development and today it’s
inside the technician-scientific-informacional place, integrated economically with the
others regions of the country through the flow of nets.
KEYWORDS: Territorial Arrangement, Net, Territorial Nets and Flows.
7
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS.................................................................................................05
RESUMO....................................................................................................................06
ABSTRACT................................................................................................................07
LISTA DE MAPAS, FOTOS, IMAGENS GRÁFICOS E QUADROS..........................09
INTRODUÇÃO...........................................................................................................11
CAPÍTULO I TERRITÓRIO E REDA NA ANÁLISE GEOGRÁFICA: A BUSCA DE
UMA DEFINIÇÃO............................................................................15
1.1 - O Território em Rede como Escopo Analítico .....................................................15
1.2 - A Proposta de uma Definição de Ordenamento Territorial em Áreas de Avanço
da Agricultura....................................................................................................24
CAPÍTULO II A INSERÇÃO DO CERRADO MATO-GROSSENSE NO
PROCESSO DA MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA
BRASILEIRA.............................................................................28
2.1- As Razões da Expansão da Lavoura de Grãos no Cerrado a partir de
1970.................................................................................................................28
2.2- Em Direção a Área de Estudo: Primavera do Leste.....................................45
CAPÍTULO III O ORDENAMENTO DA AGRICULTURA EM PRIMAVERA DO
LESTE........................................................................................49
3.1 - A Gênese do Município.....................................................................................49
3.2 - O Uso do Território na Produção Agrícola .......................................................59
3.3 - As Contradições Sócio-Espaciais do Ordenamento Territorial da Agricultura em
Primavera do Leste............................................................................................79
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................83
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................87
8
LISTA DE MAPAS, IMAGENS, FOTOS, QUADROS E
FIGURAS
LISTA DE MAPAS:
Mapa 1: Localização do Sudeste Matogrossense...................................................45
Mapa 2: Localização da Área de Estudo................................................................ 42
LISTA DE IMAGENS:
Imagem 1: Imagem de Satélite de Primavera do Leste..........................................54
LISTA DE FOTOS:
Foto 1: Centro Comercial do Município................................................................56
Foto 2: Zona Comercial do Município...................................................................57
Foto 3: Sede da Prefeitura de Primavera do Leste..............................................58
Foto 4: Armazém e Escritório da Cargill...............................................................64
Foto 5: Silos Localizados no Distrito Industrial.....................................................65
Foto 6: Armazém e Escritório da Bunge...............................................................67
Foto 7: Silos Localizados no Distrito Industrial.....................................................68
Foto 8: Plantação de Soja com Sistema de Pivô Central.....................................77
Foto 9: Sistema de Pivô Central e no detalhe Planta Contaminada pela Ferrugem
Asiática........................................................................................................... .....77
9
LISTA DE QUADROS:
Quadro 1: Quantidade de Soja Produzida entre os anos de 1995 e 2005................35
Quadro 2: Quilograma por Hectare de Soja entre os anos de 1995 e 2005..............36
Quadro 3: Área Plantada de Soja entre os anos de 1995 e 2005..............................37
Quadro 4: Safra Arroz 2005 – Dados Brasil, Centro-Oeste e Mato Grosso..............40
Quadro 5: Safra Feijão – Dados Brasil, Centro-Oeste e Mato
Grosso.......................41
Quadro 6: Safra Algodão Herbáceo 2005 – Dados Brasil, Centro-Oeste e
Mato Grosso...............................................................................................................41
Quadro 7: Safra Soja 2005 – Dados Brasil, Centro-Oeste e Mato Grosso................42
Quadro 8: Safra Soja 2005 – Dados Sudeste do Mato Grosso.................................46
Quadro 9: Quantidade Produzida de Soja de 1995 a 2005 em Primavera do
Leste..........................................................................................................................52
Quadro 10: Área Plantada de soja de 1995 a 2005 em Primavera do Leste............53
Quadro 11: Quilograma por Hectare de Soja de 1995 a 2005 em Primavera do
Leste..........................................................................................................................53
10
INTRODUÇÃO
A sociedade atual está ligada e conectada a diversas partes do mundo por
meio de infinitas redes, redes essas que transformaram-se em um instrumento de
poder que interfere diretamente no ordenamento do território. As redes, que tem os
fluxos como elementos fundamentais, podem se tornar dominantes, no que diz
respeito ao controle dos fluxos que acabam sendo confundidos com o próprio
território.
Por estar cada vez mais presente em nosso cotidiano, a rede passou a ser
discutida e analisada por diversos autores. O conceito de rede pode ser relacionado
a um dos principais conceitos da geografia, que é o de território e, nesse ponto,
Haesbaert (2002) nos trouxe uma rica contribuição ao desenvolver o conceito de
território–rede.
A nossa sociedade está conectada e interligada ao mundo por meio de
infinitas redes possuindo diversos conteúdos devido a tecnologia e velocidade,
sinônimos hoje de poder. As redes se apresentam como elementos principais na
configuração do território e existe uma hegemonia crescente dessas redes que se
encontram distribuídas pelo território e contribuem para a construção de um
ordenamento territorial.
O ordenamento territorial apresenta-se como uma técnica de organização do
espaço, em que o objetivo é o controle e o domínio sobre determinado espaço por
parte de diversos atores podendo ser eles coletivos ou individuais. Os atores
hegemônicos adotam certas técnicas de ordenamento territorial que visam somente
atender aos seus interesses específicos, não permitindo que a coletividade possa
participar no ordenamento do território.
No entanto, cabe colocar que as redes além de incluir lugares e pessoas nos
fluxos, também exclui, uma vez que estamos incluídos em diversas redes e
excluídos de tantas outras, e a sobrevivência para aqueles que se encontram fora
delas torna-se cada vez mais difícil.
Assim como a sociedade, as empresas multinacionais também estão
organizadas em redes, sendo essas cada vez mais descentralizadas, possuindo
11
suas atividades dispersas pelo território, mas ao mesmo tempo estão interligadas
graças aos avanços tecnológicos. Grande parte das redes está estruturada ao redor
das empresas dando a elas o poder de controle das mesmas.
As grandes corporações econômicas, responsáveis pelo fornecimento de
máquinas e insumos modernos e pela comercialização mundial da produção
agrícola, passaram a atuar no Brasil principalmente após a Revolução Verde,
implantada na década de 70. A adoção de novos métodos de produção da
agricultura trouxe mudanças nas antigas formas de produção e as transformações
implementadas beneficiaram sobretudo as grandes corporações responsáveis pelo
fornecimento das máquinas e insumos. Nas décadas de 1970/80, Mato Grosso
como resultado das ações implementadas pelos poderes estaduais e federais,
destacou-se como o estado onde ocorreu maior expansão da fronteira agrícola.
Juntamente com o processo de modernização ocorre também a chamada
industrialização da agricultura, ou seja, a agricultura passa da forma tradicional para
a industrializada, transformando o campo em um mercado para a indústria. O
cerrado tornou-se um espaço globalizado atraindo diversas empresas nacionais e
multinacionais.
No estado do Mato Grosso, o complexo da soja reúne um conjunto de
atividades que estão articuladas e integram setores da economia, resultando em
uma cadeia altamente tecnificada, formada pelas industrias de transformação de
insumos, produção de grãos e pelo setor de serviços.
O estado é hoje o maior produtor de soja do país, resultado alcançado devido
a sua ampla capacidade de absorver novas tecnologias, informações e avanços
científicos, sendo que esses pontos mais dinâmicos do território são controlados
pelas diversas empresas estrangeiras que ali se encontram. Ou seja, o Mato
Grosso, a partir do momento que passou a receber grandes empresas em seu
território, se viu conectado às mais diversas redes e inserido em um sistema que
abrange todas as escalas: global, nacional e regional.
A incorporação das novas áreas do sudeste mato-grossense foi viabilizada
pela tecnificação do território. Para a expansão e modernização da agropecuária
houve também a intervenção estatal através de subsídios, crédito e investimentos
através de armazéns, pontes, silos, etc. E ainda a ocupação do cerrado contou
com um grande fluxo migratório, provenientes principalmente do sul e sudeste.
12
O Sudeste do Mato Grosso transformou-se em uma importante área
produtora de grãos e carne para o processamento industrial agroindustrial e para
exportação e ao mesmo tempo é uma grande consumidora de máquinas e insumos
industriais. Tal desenvolvimento foi acompanhado pelas pesquisas que trouxeram
melhorias para solo e semente e ampliação da área cultivada possibilitada pela
expansão da malha viária.
A crescente produção de soja, as políticas públicas e as diversas inovações
trazidas pela modernização possibilitou uma integração econômica do sudeste
matogrossense com as demais regiões do país e atraiu grandes empresas. Essas
empresas ao se instalar no cerrado criaram um meio técnico-científico-informacional.
Assim, ciência, informação e técnica passaram a ser fatores importantes para a
organização do território.
Rondonópolis é o município do sudeste matogrossense que concentra as
principais atividades industriais relacionadas ao complexo sojífero, contando com o
maior e mais desenvolvido parque industrial da região e abriga sedes das maiores
indústrias agropecuárias.
Dentro do estado do Mato Grosso, a área mais consolidada em termos
técnico-produtivos é o sudeste, sendo o núcleo irradiador da sojicultura e abriga hoje
as principais atividades do complexo agroindustrial da soja. Localizada no sudeste
matogrossense, Primavera do Leste foi concebida por empresários sulistas que
foram atraídos pelos incentivos concedidos pelo governo federal. Assim como
ocorreu com parte do estado sofreu um rápido desenvolvimento, e hoje encontra-se
inserida no meio-técnico-científico-informacional estando integrada economicamente
com as demais regiões do país através do fluxo de redes variadas (mercantil,
produtiva, financeira, inovação, etc.). O emprego de novas tecnologias levou a
agricultura a um alto nível de tecnificação, desenvolvendo uma agricultura baseada
na monocultura da soja e mais recentemente do algodão. No município estão
instaladas diversas empresas e são elas as responsáveis em grande parte por
estabelecer um ordenamento do território onde se instalaram.
Assim sendo, a pesquisa em tela implica uma reflexão que tem como objetivo
fazer um estudo da agricultura de Primavera do Leste desvendando quais são as
redes que respondem pela dinâmica do Complexo Agroindustrial no município,
buscando identificar alguns atores e como suas redes influenciam na caracterização
do ordenamento da agricultura.
13
Do ponto de vista da relevância acadêmica, o estudo da territorialização da
agricultura de Primavera do Leste pode contribuir para a ampliação dos estudos,
uma vez que no município existe uma grande carência de bibliografias referentes ao
tema, ao mesmo tempo estaremos possibilitando um debate, que irá transitar entre
as esferas do político, econômico e social, sobre a marcante presença das
corporações em áreas de fronteira agrícola consolidada.
O texto construído a partir da investigação teórica e empírica será
apresentado em três partes. Para o desenvolvimento do tema proposto, a primeira
apresenta uma análise das concepções teóricas que norteiam a pesquisa.
Discutimos e buscamos relacionar entre eles o conceito de rede, de territórios e
empresas organizadas em rede, através dos estudos realizados por diversos
autores, dentre eles: Haesbaert (2002 e 2004), Castells (2003), Santos (1996),
Corrêa (2001) e Freire (2004).
Ainda nessa primeira parte analisamos o conceito de ordenamento territorial,
buscando aproximar tal conceito às áreas que foram atingidas pelo avanço
tecnológico da agricultura. Nesse memento da discussão teórica buscamos nos
aproximar do objeto de estudo.
Na segunda parte, abordaremos a expansão da agricultura, em Mato Grosso,
ocorrida nas últimas três décadas, apresentando alguns fatores que proporcionaram
a evolução da lavoura de grãos e destacando a mesorregião sudeste
matogrossense que abriga um amplo complexo agroindustrial sojífero e concentra o
núcleo irradiador da sojicultura no estado.
A última parte foi desenvolvida a partir de entrevistas e da concepção teórica
discutida no primeiro capítulo agregando dados empíricos observados nos
trabalhos de campo - referentes ao nosso objeto. Iniciamos assim com uma
abordagem histórica sobre o nascimento do município para então desenvolvermos a
nossa questão central que é o ordenamento da agricultura de Primavera do Leste,
onde buscamos revelar os diversos tipos de redes e fluxos existentes na atividade
agrícola coordenados em sua maioria pelas grandes corporações presentes no
município. Além disso, procuramos identificar os principais atores responsáveis pelo
ordenamento da agricultura em Primavera do Leste, analisando de que forma eles
contribuem para o ordenamento.
14
CAPÍTULO I
TERRITORIO E REDE NA ANÁLISE GEOGRÁFICA: A
BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO
No presente capítulo apresentaremos as bases teóricas da pesquisa,
abordando o conceito de rede que auxiliará na análise e estudo do objeto em
questão.
1.1 - O Território em Rede como Escopo Analítico
O conceito de território, discutido por diversos autores na geografia, não pode
ser aplicado somente em áreas contínuas, como ocorre na maioria das vezes.
Segundo Santos (1996), o território hoje pode ser composto de lugares contíguos e
de lugares em rede, o que Haesbaert (2002) vai chamar de território-rede. O
território possui um caráter dinâmico e não sendo estável e enraizado, existindo
também movimento, fluidez e conexões. As redes são ao mesmo tempo instáveis,
fluidas e dinâmicas, uma vez que temos os fluxos como elementos fundamentais,
porém elas não prescindem dos fixos.
O território com sentido de contigüidade espacial e a rede com sentido
descontínuo ao se unirem formam um território descontínuo que poderá ser
articulado com um ou mais territórios descontínuos.
os territórios neste final de século são sempre, também, em diferentes
níveis, “territórios-rede”, porque associados, em menor ou maior grau, a
fluxos (externos a suas fronteiras) hierárquica ou completamente
articulados (HAESBAERT, 2004 – p. 296).
A rede e os fluxos podem se tornar de tal forma dominantes que acabam
sendo confundindos com o próprio território, no sentido de controle de fluxos, mais
15
do que de áreas. Temos então a formação de “territórios-rede” (HAESBAERT,
2002).
Os territórios-rede são espacialmente descontínuos, dinâmicos e mais
susceptíveis a sobreposições, partilhando ao mesmo tempo múltiplos territórios e,
seu controle espacial ocorre através dos próprios fluxos.
Ribeiro (1997), ao resumir as idéias de Santos e Corrêa, coloca que as redes
são originadas a partir dos fixos e fluxos, sendo que a organização espacial ocorre a
partir de elementos fixos, que são resultado do trabalho social e pelos fluxos que são
responsáveis por garantir as interações entre os fixos.
A nossa sociedade se conectada e ligada a diversas localidades e ao
mundo inteiro através de infinitas redes. Tais redes podem ser caracterizadas como
tradicionais ou inovadoras; portadora de conteúdo técnico-econômico, técnico-
informacional ou de circulação e comunicação. Também existe redes entre
empresas, redes dentro de empresas, redes pessoais e redes que seriam uma
forma singular de organização, surgindo para viabilizar sobretudo a circulação - de
tecnologia, de matéria-prima e capital - e a comunicação, fazendo parte de um
processo que se caracteriza como móvel e inacabado, ainda muito distante de ser
concluído (DIAS, 1995).
Castells em sua obra define rede como sendo:
um conjunto de nós interconectados. é o ponto no qual uma curva se
entrecorta. Concretamente, o que um é depende do tipo de redes
concretas (...) A topologia definida por redes determina que a distância (ou
intensidade e freqüência da interação) entre dois pontos (ou posições
sociais) é menor (ou mais freqüente, ou mais intensa), se ambos os pontos
forem nós de uma rede do que se não pertencerem à mesma rede. Por sua
vez, dentro de determinada rede os fluxos não tem nenhuma distância, ou
a mesma distância, entre os nós. Portanto, a distância (física, social,
econômica e política e cultural) para um determinado ponto ou posição
varia entre zero (para qualquer nó da mesma rede) e infinito (para qualquer
ponto externo à rede). A inclusão/exclusão em redes e a arquitetura das
relações entre redes, possibilitam por tecnologias da informação que
operam à velocidade da luz, configuram os processos e funções
predominantes em nossas sociedades (CASTELLS, 2003 - p.498).
Corrêa (2001), baseando-se em Kansky (1963) entende por redes geográficas
“um conjunto de localizações geográficas interconectadas entre si por um certo
número de ligações”. As redes distribuídas pela superfície terrestre são inúmeras e
se apresentam em formas variadas, podendo ser visíveis ou não.
16
As redes geográficas podem ser consideradas como sendo uma
materialidade social, sendo assim produtos e condições sociais. A importância das
diversas redes geográficas na vida econômica, social, política e cultural é muito
grande se considerarmos a atual fase do capitalismo e, de um modo ou de outro,
todos nós estamos inseridos em mais de uma rede geográfica e, ao mesmo tempo,
estamos também excluídos ou ausentes de um número ainda maior de redes
(CORRÊA, 2001). Somente os indivíduos e lugares mais importantes e hegemônicos
participam de todas as redes e utilizam todos os territórios.
A rede é formada por elementos que podem vir a se diferenciar ao longo do
tempo e por diversos tipos de fluxos que por ela circulam, por isso não pode ser
considerada como “todo” homogêneo e a-histórico (HAESBAERT, 2004). As redes
tornaram-se hoje o elemento principal na configuração do território. Existe uma
crescente hegemonia das redes e elas se encontram diluídas no interior do
território, podendo exercer um papel fortalecedor, como unindo territórios através de
redes viárias e de comunicação, ou então, pode promover sua desestruturação, ou
seja, um processo de desterritorialização (HAESBAERT, 2002).
Segundo Freire (2004), a noção de rede nos remete a um ordenamento da
circulação dos fluxos sociais dentro de um território.
As redes passaram a exercer tamanha influência chegando muitas vezes a
moldar o território, considerado, em muitos casos, o elemento fundamental na
formação do território. Sendo assim, as redes configuram territórios descontínuos,
fragmentados e superpostos. O território hoje se encontra carregado de significados,
que vão além daqueles que são simplesmente funcionais de fluxo, rede, ritmo, etc,
existe nesse momento uma expressividade trazida tanto por aqueles que o
constroem e/ou para aqueles que dele usufruem (HAESBAERT, 2004).
Aliás, não existe rede sem mobilidade; essa movimentação pode ser de
homens, produtos ou informações. Existe uma necessidade de comunicação rápida
e permanente com diversos atores hegemônicos ou não espalhados pelo mundo. A
mobilidade hoje pode ser considerada um instrumento de poder, um diferencial que
abrange diferentes velocidades e diferentes tipos de deslocamento. O poder está
hoje com quem opera uma rede com tal mobilidade e velocidade e em diversas
escalas, do local ao global, passando ou não pelo regional e nacional, aquele que
permanece preso a um território não se destaca.
17
As redes são e serão os componentes fundamentais das organizações
(CASTELLS, 2003). As redes tornaram-se a unidade operacional real, sendo que a
sobrevivência fora delas fica cada vez mais difícil.
“De alguma forma, territorializar-se, hoje, implica a ação de controlar fluxos,
de estabelecer e comandar redes” (HAESBAERT, 2004 p.301). Segundo o
mesmo autor, as redes nunca são completamente destituídas de carga material, e
estão sempre desenhando materialmente territórios compostos por uma carga muito
grande de imaterialidade.
Além de se enfatizar o transporte de matéria, energia e informação
proporcionado pelas redes devemos considerar igualmente o conteúdo social e
político nela existente.
Freire (2004), baseando-se em Raffestin (1993), aborda a rede de um ponto
de vista político, sendo o controle da circulação e da comunicação (onde estaria toda
a fonte de poder) pontos de partida para revelar as estratégias que os atores
desencadeiam para dominar determinados pontos da superfície da terra.
Ao analisar o plano político-econômico, percebemos que essas redes estão
atreladas aos modos de produção que asseguram a mobilidade dos fluxos materiais
e imateriais e também os códigos sóciopoliticos e ideológicos, além dos objetivos
dos atores envolvidos nos controles das redes. É dentro desse contexto que
Raffestin afirma que controlar as redes é na verdade controlar, recriar ou até impor
uma ordem territorial, uma vez que a rede depende dos atores que a geram e
controlam (FREIRE, 2004).
Fluxos materiais como de pessoas e mercadorias e fluxos de informações,
idéias ou de capital têm sua materialidade restrita a pontos de conexão, e esses
suportes são atualmente os únicos pontos onde se pode haver um controle dos
fluxos imateriais.
Todos os tipos de fluxos pressupõem a existência das redes que tem como
principal propriedade a capacidade de estabelecer conexões, ligações. Sendo
assim, os nós das redes são os lugares de conexões das redes, lugares de poder e
de referência, pois é exatamente através da conexidade que a rede solidariza os
elementos (DIAS, 1995).
Freire (2004) ao buscar uma definição de rede, conforme Raffestin, afirma que:
18
as redes são formadas por conexões que têm seus nós (lugares) como
ponto de referência e de poder. Mas, ao mesmo tempo em que elas têm o
potencial de conectar, também excluem. Essa lógica contraditória de
expansão das relações sociais do capitalismo é um dos grandes
responsáveis pelas diversas formas de organização das redes (FREIRE,
2004 – p.7).
Se considerarmos as redes dentro de uma escala planetária ou nacional,
pode ser vista como portadora de ordem, uma vez que possibilita que as grandes
corporações se articulem e reduz o tempo de circulação em todas as escalas onde
se faz presente. No entanto, ao analisar seu papel numa escala local, veremos que
muitas vezes estas mesmas redes são portadoras de desordem que acelera o
processo de exclusão social, marginalização de centros urbanos e ainda altera o
mercado de trabalho (DIAS,1995).
Como bem coloca Teixeira (2005), os movimentos de ordem e de desordem,
criados por fatores que regem a sociedade atual, tais como os objetos técnicos, as
ações, as redes e as normas proporcionam o surgimento de novos ordenamentos
territoriais, destruindo os antigos. Existe um discurso que busca legitimar a criação
da ordem, da homogeneização e da integração quando esse fenômeno é visto pela
ótica dos agentes hegemônicos. No entanto, na realidade o que significa ordem para
os grupos hegemônicos, pode ser considerado desordem para os grupos sociais não
hegemônicos. Para Lima (2002), a concepção de desordem está sempre acoplada
à de ordem, e o próprio território e a rede carregam essa ambivalência.
Santos (1996) também compartilha com a idéia de que as redes são
responsáveis por criar um território que pode ser caracterizado pela presença da
ordem e da desordem, uma vez que essas redes integram e ao mesmo tempo
desintegram, destroem e constroem recortes espaciais. A face homogeneizadora da
rede presente na produção da ordem, da integração e da constituição de
solidariedades espaciais a certos agentes, é sem dúvida aquela que chama mais
atenção. No entanto, existe também a face heterogeneizadora que está igualmente
presente, mas muitas vezes de uma maneira oculta (SANTOS, 1996).
“O território e as redes, constituídos por um arranjo de fixos (objetos) e fluxos
(ações), não implicam, necessariamente, uma análise no plano da ordem, mas da
dialética entre ordem e desordem” (SILVA, 2006 p.308). De um lado, uma ordem
política, funcional e simbólica e de outro as desterritorializações, os conflitos de
territorialidades e impactos ambientais.
19
Segundo Silveira (2005), a rede pode ser entendida como uma forma de
organização espacial, ou, mais especificamente, como uma forma de organização
espacial que expressa, simultaneamente, a condição e o resultado de uma
racionalidade técnica, econômica, informacional e normativa, mas também da
dinâmica social e política, historicamente dadas.
As redes ressaltam as escalas de controle e atuação da empresa, podendo
revelar as formas de ordenamento territorial através dos fluxos de poder e das
impetrações políticas que se apresentam e garantem o controle de parte do
território. Nos dias atuais o poder dos fluxos tornou-se mais importante do que os
fluxos de poder.
Bernardes (1998) distingue a existência de redes físicas, que seria onde
circulam as pessoas, alimento e bens em geral, e redes virtuais, revolucionando a
logística de distribuição de bens, energia, etc. A materialização das redes virtuais
acopladas às redes físicas em elementos como aeroportos, satélites de transmissão,
elementos de comunicação, etc., proporciona uma maior rapidez ao fluxo de
informação, transações financeiras e comerciais, reduz o tempo e custo da
circulação e permite que a região acompanhe a velocidade das transformações e
ainda incorpore elementos que permitam sua competição no mercado internacional.
Todos esses mecanismos de aceleração da velocidade dos fluxos levam a uma
compressão da relação espaço e tempo.
O território organizado em redes é marcado pelas redes de transporte,
comunicações e energia, que possibilitam uma interligação entre a rede urbana
regional à rede urbana nacional e local. As redes influenciam implicitamente a
organização sócio-espacial, possibilitando uma relação de interação e exclusão
entre os diversos atores e lugares que compõem a rede. No entanto, espaço das
redes não é homogêneo e isso pode ficar claro quando analisarmos as redes de
serviços ou percebermos que vastas áreas não se encontram inseridas nessa lógica
reticular (SANTOS, 1996).
As redes usadas pelas grandes empresas transnacionais e instituições
financeiras, instituições políticas entre outras, possibilitam que suas operações em
um espaço de tempo cada vez menor em suas articulações em várias escalas,
beneficiando-se de relações produtivas, de circulação e de trocas, sendo
caracterizadas como portadoras de ordem. Porém, ao analisarmos o papel da rede
numa escala local, percebemos que as mesmas redes podem ser interpretadas pela
20
representação da desordem, trazendo como conseqüências exclusão social,
marginalização de centros urbanos, aumento do trabalho informal no grupo de
pessoas economicamente ativas, etc.(FORTUNA, 2006), notando que existe uma
relação entre concentração da densidade técnica e o aumento das tensões sociais.
As empresas multinacionais estão cada vez mais organizadas em redes
descentralizadas, sendo essas empresas as detentoras do poder oriundo da riqueza
e tecnologia na economia global, uma vez que a maior parte das redes está
estruturada entorno delas.
A sobrevivência fora das redes fica cada vez mais difícil. Com a rápida
transformação tecnológica, as redes tornaram-se a unidade operacional real, até
porque os centros de investimentos e administração têm se tornado cada vez mais
separados dos nós de produção em escala planetária.
A grande corporação estabelece uma rede de fixos e fluxos gerando um
grande número de unidades produtivas e de serviços. A corporação devido sua
natureza multifuncional resultante de processos de fusão, arrendamento dentre
outros, passa a adotar uma prática de seletividade espacial. Existe então, uma
segmentação onde as empresas que constituem a corporação, apresentam
diferenças na divisão territorial do trabalho e nas múltiplas localizações. Conclui-se
que temos uma divisão territorial do trabalho que é própria de cada corporação, e
como conseqüência disso temos o controle específico de parcelas do território. A
corporação revela dessa maneira, seu poder de pressão econômica e política,
definindo práticas próprias de gestão territorial (FREIRE, 2004).
A complexidade das redes se materializa nas diversas localizações e fluxos,
seguindo o processo de expansão espacial do capital mercantil-produtivo-financeiro
da corporação, levando a um processo de ordenamento territorial. Essas são
relações que incluem também outras empresas que fazem parte de diversos setores
da economia e relações políticas, e que apresentam diferentes espacialidades
(FREIRE, 2004).
As chamadas cidades mundiais ou globais, que abrigam grandes corporações
multifuncionais e multilocalizadas, concentram numerosas, desiguais e complexas
redes que tornam a organização espacial fragmentada e globalizada (CORRÊA,
2001).
Muitas empresas encontram-se hoje organizadas territorialmente em rede,
possuem suas atividades produtivas, comerciais e administrativas dispersas pelo
21
território, mas ao mesmo tempo são completamente interligadas, graças aos
avanços tecnológicos, destacando aqui os setores de comunicação e transporte
caracterizando-se como uma empresa multilocalizada e multifuncional. E são essas
empresas que aparecem como sendo os principais atores na organização espacial
da agricultura, isso se principalmente a partir da década de 1990, quando o
Estado tem seu papel enfraquecido como agente econômico.
As corporações possuem a capacidade de controlar fluxos de informações
através das redes de comunicação e transporte, proporcionando uma integração
entre os diversos tipos de capitais envolvidos na dinâmica do complexo agrourbano-
industrial. Então, “o controle das redes de fluxos visa regular os processos
produtivos e a circulação de resultados, evidenciando a normatização do território
em favor das corporações” (SILVA, 2006 – p.304).
Considerando os territórios-redes construídos pelas empresas transnacionais,
como os mais espetaculares, Barkis coloca que:
a geografia dessas empresas (multiestabelecimentos) literalmente explodiu
entre diferentes sítios, entre diferentes países e continentes. Mas seus
territórios têm “existências” muito reais, caracterizadas por um
funcionamento global em que os diferentes sítios participam em tempo
“real” no movimento do conjunto, onde existe também uma cultura própria,
apesar do afastamento geográfico e da dispersão em vários continentes.
(...) Um território específico foi criado, território que não funciona na escala
dos diferentes Estados nos quais ela (a empresa) dispõe de
estabelecimentos (BARKIS, 1993 p.90 APUD HAESBAERT, 2004
p.295).
As funções e os processos dominantes na era da informação estão cada vez
mais organizados entorno das redes, influenciando diretamente os processos
produtivos e de experiência, poder e cultura e transformando-se em elementos
cruciais de dominação e transformação de nossa sociedade (CASTELLS, 2003).
A “arquitetura e a composição das redes de empresas em formação em todo
o mundo são influenciadas pelas características das sociedades em que essas
redes são inseridas” (CASTELLS, 2003 - p.212). A forma de organização em rede
deve ter uma dimensão cultural própria estando, no entanto, sempre conectadas
com o global.
A partir das contribuições das obras dos diversos autores supracitados ao
longo do texto, o conceito de rede que estaremos aplicando na pesquisa em tela
parte do pressuposto de que a rede é uma combinação de fixos e fluxos, que os
22
fluxos interligam cada vez mais complexas combinações de fixos. Na análise
empírica do objetivo de pesquisa, tais fixos aparecem na forma de armazéns,
fazendas, escritórios, sedes, indústrias, etc. Responsáveis por transportar diversos
conteúdos dentre eles: energia, matéria, informação, além de conteúdo social,
político e econômico, a rede é capaz de articular lugares e áreas atingindo todas as
escalas possíveis, sendo elas a do social, da economia, da política e da cultura.
Os processos e funções dominantes estão cada vez mais organizados
entorno das redes, que transformaram-se em elementos importantes de dominação
e transformação de nossa sociedade, sendo pressuposto de relações sociais. Rede
também é entendida por nós como uma forma de organização espacial sendo que
os objetos de uso das redes são estabelecidos pelos atores que detém o poder,
caracterizando-se como um sistema dinâmico e efêmero, metamorfozeando-se de
acordo com dinâmica de reprodução capitalista..
A noção de rede nos remete a uma relação de poder, geralmente
hierarquizado, pois controlar as redes é controlar, recriar e impor uma ordem
territorial, configurando processos de territorialização e revelando territórios
produtivos capitaneadas por diversos grupos, tais como corporações, pequenos
produtores, etc. As redes atingiram uma capacidade tão grande de influenciar que
muitas vezes chegam a moldar o território, sendo em muitos casos elemento
fundamental na formação do território. Quanto mais importante e mais hegemônicos
são os indivíduos e lugares, maior é o número de redes na qual encontra-se
inserido.
Toda a mobilidade, a velocidade e o dinamismo de que a rede é dotada permite
conectar/interligar inúmeros lugares, mas simultaneamente marginaliza e exclui
muitos outros. A rede carrega com ela essa ambivalência de exclusão e inclusão e
de união e fragmentação entre os diversos atores e lugares que a compõe. Enfim, é
a partir de tais pressupostos da análise das redes que a pesquisa sobre a agricultura
de Primavera do Leste se apoiará. Para tanto, é preciso sinalizar para uma definição
de rede para áreas de agricultura moderna consolidada.
23
1.2- A Proposta de uma Definição de Rede em Áreas de Avanço da Agricultura
A proposta não é uma análise do estudo de cada uma das redes que animam
a reprodução do espaço produtivo do município. De fato, a proposta visa a revelar
um panorama dos principais atores, e suas práticas que configuram redes técnico-
produtivas que são condição e reflexo das práticas sócio-políticas de reprodução da
agricultura moderna, sob o signo da soja que se afirma no município.
A rede tem por significado pôr ordem através de regras e normas, tendo
implícita uma relação de poder, onde o objetivo final é o controle e o domínio por
parte de diversos atores coletivos e individuais sobre determinado espaço. O
território é a porção do espaço construído no qual as relações de uma sociedade
atingem seu maior nível de concretude, integrando as formas, os objetos, os valores
e as ações na totalidade dos acontecimentos simultâneos. È no território, uma das
dimensões do espaço produzido, que o homem, incorporando a sua dimensão de
mundialidade, concretiza suas ações no campo econômico, institucional, social,
político e cultural. Então entendemos por rede como sendo arranjos e rearranjos
produzidos no território, por atores tais como o Estado, grupos sociais
marginalizados, as grandes corporações industriais, comerciais, financeiras e de
serviços. Além de ordenar e dominar a rede pode ter como função tanto conter ou
restringir como excluir.
Para se ordenar é preciso reconhecer que existem singularidades culturais e
levar em conta que existe a desordem, no entanto, os sujeitos hegemônicos adotam
certas técnicas de ordenamento territorial visando atender seus interesses
específicos(SOARES, 2001).
Ainda segundo Soares (2001):
o ordenamento territorial projetado, e praticado pela modernidade,
vislumbra a hegemonia do Estado e do capital em suas várias
modalidades. Nele estão impregnados códigos, leis, proibições, tabus etc.
etc., etc., ou seja, regulamentações que põem em prática, e em
funcionamento, os mecanismos que engendram a organização espacial
dos sujeitos hegemônicos. Esta é a ordem territorial, que visa, em sua
essencialidade, (re)produzir, (re)orientar e (re)formular a ordem atual da
sociedade capitalista sem, contudo, alterá-la (2001 – p.47).
24
Como apontamos anteriormente, as relações de poder são uma marcante
característica do território, ficando assim subentendido que nele estão presentes
também os conflitos e contradições, sendo que esses conflitos e contradições do
território, irão resultar na organização do espaço.
O território organizado em rede é marcado pelas transformações técnicas,
que abrangem a biotecnologia, informática, eletrônica e inovações mecânicas. A
técnica permite, através da instrumentalização, que o território seja portador de uma
racionalidade funcional, onde se busca uma reorganização objetivando permitir que
uma série de ações alcancem objetivos previamente designados e calculados. O
território então, pode ser visto como suporte da produção (ARACRI, 2006).
A rede anuncia uma técnica de organização do espaço. As técnicas são
elementos muito importantes no ordenamento do território, pois são instrumentos
que permitem a organização espaço/temporal dos grupos humanos, intermediando a
efetivação da prática social, que pode ser entendido como sendo o próprio
ordenamento territorial. As técnicas territoriais de ordenamento são responsáveis
pela organização do espaço e do tempo (SOARES, 2001).
O papel que o Estado desenvolve no processo de acumulação capitalista é de
fundamental importância, sendo responsável por valorizar o território na condição de
capital fixo e por adotar medidas com o objetivo de regular as contradições não
antagônicas e reprimir as antagônicas, ocasionadas por uma dinâmica social que se
destina à reprodução das classes sociais. Sendo assim, o Estado busca dar uma
coesão interna aos elementos de um modo de produção, administrando as
contradições (BERNARDES, MAVIGNIER e SILVA, 1998).
Além da atuação do Estado, contamos ainda com um aparato jurídico/estatal
que regulamenta e legaliza a posse do território, que ocorre de forma desigual,
caracterizando o uso, também desigual que é feito desse território.
A partir da interpretação dos movimentos globais e locais, o território assume
uma multifuncionalidade que, por sua vez, permite múltiplos recortes, possibilitando,
como afirma Santos (1994), reconhecer as verticalidades e as horizontalidades do
conflitante processo que interliga simultaneamente o local e o global. A integração
das telecomunicações à informática, e estas à gestão do conhecimento, através de
um sistema técnico-cientifico-informacional, sofreu uma grande repercussão e
25
permitiu que penetrasse em todas as esferas da vida social, inclusive na
organização do território (ARACRI, 2006).
Esta multiciplidade instantânea que caracteriza o território, faz com que, em
sua condição física, ele se torne o palco das contradições, dos conflitos e do
constante renascer da vida social. É nesse sentido que Santos (1994) afirma que “é
o uso do território, e não o território em si mesmo, que faz dele objeto de análise
social” (SANTOS, 1994 - p.15).
A territorialização em rede pode ser definida como uma maneira singular de
uso do território que apresenta um arranjo de objetos sociais, naturais e culturais
historicamente estabelecidos. No entanto, territorialização não pode ser
caracterizado somente como sendo apenas uma condição social de reprodução da
ordem capitalista, devemos considerar que também é reflexo de sua significação
funcional e simbólica na totalidade social capitalista. O avanço do processo de
homogeneização extensiva do capitalismo e de fragmentação de partes do espaço
geográfico em arranjos de objetos e de ações articuladas em rede, esses são fatores
que irão influenciar diretamente no ordenamento territorial. Territorialização deve ser
entendida como sendo mais que uma organização espacial, pois se trata de um
sistema dinâmico formado por objetos e ações que articulam lugares contínuos ou
não em rede. Assim, a territorialização em em rede é uma trama de relações
conflitantes e complementares que integra o lugar, a formação sócioespacial e o
mundo, conforme assinala Santos (2000).
Para fins de análise o conceito de terrirorialização em rede caminha através
do pressuposto que nosso objeto empírico, ou seja, o município de Primavera do
Leste, localizado no estado do Mato Grosso, ao abrigar algumas das mais
importantes corporações sofre, por parte dessas, uma constante pressão tanto
política quanto econômica, revelando assim seu poder naquele território. Primavera
do Leste tem na agricultura sua principal fonte de arrecadação de renda, e as
grandes empresas ali instaladas, ligadas diretamente a essa atividade, ditam através
de regras e normas uma ordem, mostrando que existe uma relação de poder, onde o
grande objetivo é controlar parte do território.
A territorialização da agricultura de Primavera do Leste está relacionada às
redes geradas principalmente pela presença das grandes corporações. Em
Primavera estão presentes empresas multilocalizadas e multifuncionais organizadas
territorialmente em rede, com suas atividades produtivas, comerciais e
26
administrativas dispersas pelo território, e são exatamente essas empresas que
aparecem como sendo os principais atores da organização espacial da agricultura.
Sendo que quanto maior a atuação da empresa, maior são as escalas de controle
das redes.
O município abriga diversos fixos, tais como fazendas, armazéns, escritórios,
sede e indústrias que permitem a existência de variados fluxos, fluxos esses que
dão origem às redes econômicas, políticas e sociais, controladas em sua maioria
pelas grandes corporações. Enfim, ter o controle das redes, dos fluxos é hoje
sinônimo de poder e aquele que possui tal controle será o responsável por recriar ou
impor uma ordem territorial.
27
CAPÍTULO II
A INSERÇÃO DO CERRADO MATOGROSSENSE NO
PROCESSO DA MODERNIZAÇÃO DA
AGRICULTURA BRASILEIRA
O presente capítulo apresenta uma análise das transformações
sócioespaciais pelas quais tem passado o cerrado matogrossense nas últimas três
décadas, evidenciando todo o processo de modernização e desenvolvimento da
agricultura.
2.1 - As Razões da Expansão da Lavoura de Grãos no Cerrado a partir de 1970
A região Centro-Oeste com cerca 200 milhões de hectares, sendo a maior
parte dessas terras caracterizadas pelo ecossistema dos cerrados, é considerada a
maior área agricultável contínua do mundo. Por concentrar fatores favoráveis de
estabilidade climática, potencial hídrico, luminosidade, calor e topografia adequada à
agricultura mecanizada, tornou-se uma região ideal para a produção de grãos.
Somente o estado do Mato Grosso conta com 47,9 milhões de hectares, onde
predominam os planaltos e planícies, sendo uma das maiores áreas contínuas no
mundo.
O Centro-Oeste vem substituindo o papel exercido pelo Sul e Sudeste na
divisão inter-regional do trabalho. É uma região de fronteira que vem se
28
consolidando a partir da expansão da agropecuária e possui um processo produtivo
modernizado. Sua economia sofre um acelerado processo de transformação levando
a região a ser caracterizada como heterogênea (GALINDO e SANTOS, 1995).
Entre 1940 e 1970, a ação estatal, em Mato Grosso, baseou-se
fundamentalmente na construção de grandes obras públicas, principalmente
rodovias, que tiveram certa contribuição para a expansão das fronteiras, expandindo
os canais de comunicação na região e oferecendo acessibilidade aos centros mais
dinâmicos do país.
A implantação, na década de 70, da Revolução Verde provocou uma grande
mudança na paisagem, onde tratores, colheitadeiras, pesticidas e rações passam a
ser uma realidade das formas de produção no campo brasileiro. O pacote
tecnológico tinha como objetivo impulsionar a adoção de novas técnicas agrícolas
mais modernas, uma vez que as existentes eram tidas como obsoletas. O Brasil se
destaca como um dos países onde a modernização agrícola foi realizada de maneira
mais acelerada e profunda. Revolucionando os métodos de produção da agricultura,
muitos países do Terceiro Mundo, e aí incluímos o Brasil, estariam diante da solução
de um dos seus grandes males: a fome. Isso seria possível utilizando novos cultivos,
baseados no “trinômio mecanização, insumos químicos e na pesquisa de
melhoramento genético das sementes” (MIRANDA, 2000 - p.9). No entanto, essa
Revolução acabou impondo a diversos países a absorção de tecnologias estranhas
e muitas vezes não adequadas às características de seus solos. Ainda segundo
alguns autores, a Revolução Verde tinha como preocupação ampliar a acumulação
capitalista que necessitava expandir o mercado consumidor das indústrias
americanas ligadas à produção agrícola. As maiores beneficiadas foram as grandes
corporações econômicas responsáveis pelo fornecimento das máquinas e insumos
modernos e pela comercialização mundial.
A política de expansão agrícola implementada, caracterizada como
modernização agrícola é chamada também de modernização conservadora. Com a
compra do pacote tecnológico ocorreu uma transformação nas antigas formas de
produção no campo, uma vez que tratores, colheitadeiras, adubos químicos,
pesticidas passaram a fazer parte da paisagem. No entanto, não foi modificada a
estrutura fundiária, agravando a concentração de terras e ainda, a expansão das
relações capitalistas de produção não se deu de forma homogênea em todo país.
Essas foram algumas das conseqüências decorrentes do processo de modernização
29
agrícola, que tem como essência a expansão das relações capitalistas de produção
no espaço agrário, e isso fica claro quando percebemos que existe uma crescente
incorporação de insumos modernos de origem industrial, tais como máquinas,
produtos químicos e biológicos.
Essa modernização, tida como conservadora por não modificar a estrutura
fundiária, privilegiando as grandes propriedades improdutivas e agravando ainda
mais a concentração de terras, desenvolveu-se primeiramente no Centro-Sul do
país, chegando posteriormente à Região dos Cerrados, tendo como carro-chefe o
cultivo da soja em larga escala. Tal modernização foi responsável por significativas
mudanças como a industrialização do campo, uma vez que houve um estreitamento
das relações agricultura-indústria, pelo aumento do trabalho assalariado, pela
introdução de inovações tecnológicas e ainda a expansão das relações capitalistas
de produção trouxe uma série de conseqüência para o meio social e ecológico.
Os governos militares tinham a intenção de garantir o processo de
acumulação, na sua fase monopolista, por isso preocuparam-se em modernizar a
agricultura, objetivando tecnificar o campo e promover sua maior inserção no circuito
capitalista. Pode-se dizer que, a agricultura deveria além de abastecer o mercado
urbano e gerar divisas, deveria ser também consumidora de bens de produção e
insumos modernos fornecidos pela indústria.
Ações implementadas pelos poderes estaduais e federais, entre as décadas
de 1970/80, fizeram com que Mato Grosso se destacasse, em sua região, como o
estado onde ocorreu a maior expansão da fronteira agrícola do país. Além do
incentivo dos governos militares para ocupação dessas áreas de fronteira agrícola,
vários programas foram criados a fim de se colocar em prática os projetos
agropecuários e os programas de colonização na Amazônia e Centro-Oeste. A
criação desses órgãos e programas foi importante porque os estímulos creditícios e
financeiros impulsionaram o crescimento da região, com destaque para o papel da
iniciativa privada como sendo a principal responsável direta pela expansão das
atividades agropecuárias, industriais, comerciais e de serviços. O Estado
encarregou-se em planejar e implantar os serviços de infra-estrutura, buscando
atrair para região investimentos nacionais e internacionais, incentivando o
empresariado que lá estava localizado.
30
O Estado, partir da década de 1970, busca através das suas políticas
sócioespacias, dotar as áreas de cerrado de uma funcionalidade territorial que
atendesse às necessidades de uma fronteira agrícola em expansão (FREIRE, 2004).
Os programas que beneficiaram a Região Centro-Oeste foram coordenados
pela Superintendência para o Desenvolvimento do Centro-Oeste (SUDECO), criada
em 1967; pela Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM),
criada em 1966 e pela Secretaria do Governo Estadual, ou que estavam diretamente
ligados ao Governo Federal. Dentre esses programas destacamos: PIN (1970),
PROTERRA (1971), PRODOESTE (1972), METAMAT (1976), POLONOROESTE
(1987), POLOCENTRO (1975), POLAMAZONIA (1974), PROMAT (1977) e PRODEI
(1988).
Segundo Galindo e Santos (1995), os instrumentos de incentivos fiscais,
administrados pela SUDAM, tinham como objetivo favorecer a inserção de grandes
investimentos, que dariam origem a fornecedores importantes de produtos
agropecuários para o mercado nacional.
Tal estratégia de modernização, e por isso entende-se o aumento do uso de
intensivo de técnicas, sejam elas organizacionais, sejam em forma de objetos
técnicos, tais como máquina e insumos, traduziu-se na consolidação de um modelo
de complexos agroindustriais, bem como numa reformulação da política agrícola,
tendo sido criados também incentivos à verticalização da produção (GALINDO e
SANTOS, 1995). Até os anos 70, as principais atividades eram a pecuária extensiva,
o arroz e alguns produtos extrativistas. Observa-se também, nesse momento, uma
transformação nas relações de produção, passando a ser estritamente capitalista, e
uma forte relação com a indústria. Além disso, a agricultura foi direcionada para as
culturas voltadas para exportação ou aquelas ligadas à produção de matérias-primas
para as agroindústrias, nacionais ou multinacionais.
As culturas da cana-de-açúcar e da soja foram as que mais receberam
subsídios governamentais e créditos bancários, pois eram as mais favoráveis à
implantação do pacote tecnológico - que abrangia a compra de tratores,
colheitadeiras, insumos agrícolas e implementos - por possuir topografia
relativamente plana, dispor de grandes extensões de terra e solos favoráveis ou
então solos passíveis de serem corrigidos.
O arroz foi o cultivo usado para a abertura do cerrado, e nesse momento o
crédito rural era destinado, sobretudo a esse produto, passando posteriormente para
31
a soja. Somente em 1973, com a quebra da safra norte-americana, que novos
produtores, como a Argentina e Brasil, tiveram oportunidade de emergir. Essa nova
cultura promoveu uma rápida substituição das velhas paisagens de pecuária
extensiva, atividade predominante na região, pela do plantio intensivo da soja. A
produção da soja nacional é praticamente toda voltada para exportação, e seu preço
é ditado pela Bolsa de Chicago. Sendo assim, o produtor depende da produção
mundial para saber seu lucro.
O conceito da modernização vai além da mudança na base técnica, abrange
também objetivos que visam modificar toda a estrutura produtiva da agricultura,
alterando as relações sociais de produção, com a vinculação dos produtores ao
mercado, e a busca insistente e necessária do lucro. Assim, com o avanço do
processo de modernização ocorre a chamada industrialização da agricultura ou
industrialização no campo. A integração com a indústria acontece uma vez que a
agricultura transformou-se num grande mercado para a venda de tecnologia
agrícola, sendo incluído nisso as máquinas, equipamentos e insumos químicos
(BRUM, 1988 apud MIRANDA, 2000).
A agricultura vai se constituindo cada vez mais em produtos de mercado,
deixando de ser apenas fornecedora de alimentos e matérias-primas e a integração
agricultura indústria contribui muito para esse novo foco. A agricultura sofreu uma
alteração na sua maneira de produzir. Com a expansão de mercados de máquinas
e insumos industriais agrícolas, a atividade sofre uma intensa modernização, assim
a agricultura passa da forma tradicional para a industrializada, fazendo do campo um
mercado para a indústria (CHAVES, 1996).
Em Mato-Grosso o complexo da soja abrange um conjunto de atividades que
funcionam de maneira articulada, integrando diversos setores da economia,
definindo uma cadeia produtiva altamente tecnificada, formada pelas indústrias de
transformação de insumos, produção de grãos e pelo setor de serviços. O papel dos
sistemas técnicos informacionais no processo produtivo instalado no cerrado
matogrossense vem sendo viabilizado e potencializado através da equipagem do
território com uma moderna infra-estrutura de telecomunicações (ARACRI, 2006).
À medida que o Estado ampliava os horizontes de ocupação produtiva e as
fronteiras da acumulação, havia o aumento do movimento de migrantes
provenientes das regiões Norte e Nordeste, do estado de Minas Gerais e ainda
aqueles do Sudeste e Sul que eram atraídos pela oferta de terras, uma vez que
32
muitos foram atingidos pelo fechamento da fronteira norte-paranaense. Houve uma
expansão geográfica da produção da soja do Sul-Sudeste, tradicional área de
produção, se dirigindo para regiões que apresentam vantagens competitivas. Iniciou-
se assim, a instalação de grandes projetos agropecuários realizados por
investidores, provenientes principalmente do Sul e Sudeste, sendo que ao mesmo
tempo foi criada uma série de projetos de colonização por empresas particulares
vindas do Sul. È importante colocar que os projetos de agricultura modernizada, em
que se destaca a produção de soja, baseiam-se na ocupação dos chapadões do
cerrado, por atores capitalizados, cujos empresários das regiões Sul e Sudeste,
beneficiados pelos incentivos e pelo preço diferenciado da terra, tiveram um papel
fundamental.
A região Centro-Oeste, durante algumas décadas, recebeu um enorme fluxo
migratório. Segundo Leme (2003), foram 1.300.000 migrantes na década de 70.
Essa característica ocorreu devido aos fatos citados anteriormente, com incentivo e
propagandas, mas o que é interessante colocar é que atualmente a expansão da
fronteira contemporânea tem como uma de suas características a produção do
espaço agrário tecnificado e intensivo em capital, sendo esses fatores responsáveis
por expulsar população do campo em grande escala.
O ordenamento territorial do complexo da soja no cerrado, pode ser
considerado como um reflexo do modelo de acumulação de capital que o
acompanha. A iniciativa privada busca o controle sobre a infra-estrutura de
transporte e de telecomunicações com o objetivo de gerar uma organização espacial
da produção que a beneficie. Enquanto o Estado tem seu papel restringido às
parcerias na divisão dos custos dos projetos e a normatização e ao controle, no
âmbito da concorrência (SILVA, 2006).
O cerrado foi escolhido pelos detentores do capital que buscam acelerar o
tempo de produção e de circulação, seja do capital, seja das mercadorias por
apresentar um alto potencial de rentabilidade.
A topografia plana do terreno de áreas de planaltos e chapadões favorece o
uso de tratores e colheitadeiras. O solo tendo sua acidez corrigida tem gerado uma
grande produtividade, e as facilidades de obtenção do crédito agrícola fizeram com
que a soja se destacasse como produto de maior expansão, colocando o estado
como o primeiro produtor brasileiro, tendo 6.121.724 hectares produzindo
33
17.761.444 toneladas de soja em 2005
1
.. O estado do Mato Grosso apresentou uma
rápida expansão da soja, concentrado em um curto espaço de tempo, se tornando o
principal produtor de soja no Brasil. Como coloca Bernardes (1998), em apenas
quinze anos, de 1985 a 2000, a produção mato-grossense foi incrementada em
311%. Na safra de 2002/03, o Brasil produziu 29,11% da soja mundial e os Estados
Unidos produziu 33,49%. A soja é a principal cultura de exportação brasileira, sendo
uma das principais dinamizadoras do re-ordenamento espacial nas áreas dos
cerrados.
A incorporação do cerrado no circuito da produção mundial reflete a grande
capacidade de absorver novas tecnologias, informação e avanços científicos,
encaminhando para especialização do território, assegurando uma escala da
produção cada vez mais crescente. Os números do crescimento da soja encontram-
se ilustrados nos quadros 1, 2 e 3 (p. 35, 36 e 37). Ao analisá-las, é possível
acompanhar o avanço da produção ao longo de dez anos de 1995 a 2005. No que
diz respeito à quantidade produzida (Quadro 1), nota-se que os números relativos ao
Mato Grosso triplicaram ao longo desses anos e o Sudeste do estado manteve a
segunda posição dentro do mesmo estado. Quando a variável é quilograma por
hectare (Quadro 2), nota-se que a média do Mato Grosso é mais alta que a média
regional e nacional. E ao considerarmos a área plantada (Quadro 3), percebemos
que enquanto o Brasil duplica sua área plantada, o Mato Grosso quase triplica esse
número ao longo de dez anos e dentro desse total o Sudeste Matogrossense
aparece com 1.300.545 de área plantada em 2005.
A soja no cerrado matogrossense atualmente se desenvolve valorizando cada
vez mais o crescente aumento no rendimento e não mais na expansão da área
plantada. No entanto, a relação entre tamanho da área plantada e os níveis de
rendimentos alcançados ainda é importante quando consideramos os elevados
custos da produção que demanda um elevado nível técnico (SILVA, 1998).
Todo o cerrado sofreu transformações e tornou-se um espaço globalizado,
capaz de atrair altos lucros, o que acabou impedindo o desenvolvimento de outras
produções de menor porte, provocando uma concentração excessiva da produção,
pois as especializações e modernizações acabam valorizando o território para uns e
desvalorizando para outros. As forças produtivas locais/regionais tradicionais
encontram-se enfraquecidas, uma vez que as atividades mais rentáveis substituem
1
Dados preliminares do IBGE para 2005
34
aquelas tradicionais, para o pequeno produtor o acesso a terra torna-se cada vez
mais difícil e o trabalho torna-se precário e temporário (BERNARDES, 2006).
35
36
37
A escolha correta das sementes é considerada a mais importante tecnologia
para se obter uma boa produção de soja. Para tanto, foram desenvolvidas sementes
adequadas à região. Uma instituição de pesquisa que se destaca nessa área é a
Fundação Mato-Grosso de apoio à pesquisa, criada em 1994 por iniciativa dos
próprios produtores, de onde vem a maior parte da contribuição do capital inicial. A
Fundação foi responsável por fazer com que o estado se tornasse auto-suficiente na
produção de sementes da soja, além disso, por desenvolver as variedades mais
produtivas do país.
A produção da semente melhorada é um importante instrumento para o
aumento de rendimento e para sustentação de uma agricultura competitiva. A
maioria da produção dessas sementes encontra-se concentrada nas empresas que
formam a APROSMAT (Associação de Produtores de Sementes do Mato Grosso).
São desenvolvidas sementes melhoradas para cada tipo de região do cerrado.
Atualmente Mato Grosso encontra-se na vanguarda das pesquisas e domínio das
técnicas de produzir sementes melhoradas para o cerrado, contando com entidades
de pesquisa como: EMPER (Empresa de Matogrossense de Pesquisa, Assistência e
Extensão), EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa agropecuária) e Fundação
Mato Grosso.
A agricultura brasileira conta em muitos lugares com a utilização de
grandes máquinas e com tecnologia de ponta. Os proprietários vêm investindo em
equipamentos avançados, informática e na contratação de pessoas qualificadas. Na
região da soja são utilizadas máquinas com controle eletrônico, monitoramento
através de computadores e em algumas propriedades foram instaladas estações
meteorológicas, visando sempre a produtividade.
Segundo Aracri (2006), hoje existe uma integração do território nacional
através das infra-estruturas digitais de comunicação e da difusão de redes
telemáticas, proporcionado uma troca de dados e informações entre as empresas e
o conhecimento digital dos espaços de produção, sendo esse um novo método de
plantio e gestão.
Desde a década de 1980, é crescente a monopolização e territorialização do
espaço agrário pelo capital, caracterizados pela atividade capitalista no campo e
industrialização de matérias-primas e alimentos. Esse fato é retratado pela
38
instalação de algumas empresas nacionais e multinacionais, tais como Sadia,
Cargill, Agroceres, Bunge, Grupo André Maggi, etc.
Com a instalação das agroindústrias na região, principalmente a partir de
1980, que se encontram voltadas para o mercado externo e processamento
industrial, consolida-se uma indústria voltada para transformação da base técnico-
agrícola, ou seja, de insumos fundamentais apoiados na mecanização, tais como
implementos agrícolas e tratores. Através da consolidação da agroindústria como
atividade dinâmica e integradora da região, viabilizou-se a geração de estímulos
diretos e indiretos à indústria regional, com crescente demanda por implementos
agrícolas, tratores e equipamentos de beneficiamento (GALINDO e SANTOS, 1995).
O incentivo concedido pela SUDAM não foi o único fator que favoreceu a
permanência e implantação dessas empresas, outros aspectos como a grande
produção de matérias-primas e sua qualidade, a localização geográfica favorável, a
razoável disponibilidade de energia e mão-de-obra também devem ser levadas em
consideração.
A integração agricultura-indústria proporcionou um sistema produtivo
altamente dinâmico e tecnificado voltado para produção em larga escala.
Os mecanismos de incentivo do Estado à existência de áreas que
possibilitavam a expansão agrícola e os estímulos às atividades exportadoras
promoveram o desenvolvimento das culturas processáveis industrialmente e
passíveis de serem colocadas no mercado internacional, podendo ser competitivas.
No entanto, a expansão da agropecuária ocorreu de forma simultânea à diminuição
das áreas dedicadas ao cultivo de produtos alimentares.
Os produtos alimentares destinados ao abastecimento do mercado interno,
como feijão, arroz, milho e mandioca mantêm seu crescimento praticamente nulo, e
tais produtos são sujeitos aos preços mínimos estipulados pelo governo, forçando a
redução nos preços dos alimentos para o consumidor. Os agricultores que cultivam
produtos alimentares acabam, nessa lógica, sendo lesados, uma vez que o preço
dos insumos agrícolas tem crescido consideravelmente, e é exatamente nesse setor
que temos as multinacionais instaladas no Brasil. São elas que em última instância
controlam os mecanismos de mercado, ficando a agricultura subordinada a seus
interesses e lucros. Assim, o produtor vai perdendo o controle sobre o processo
produtivo, uma vez que, possui a terra, os instrumentos e a força de trabalho, mas
trabalha para outros interesses que não os seus (PIAIA, 1999).
39
Ao analisar os quadros 4, 5, 6 e 7, números referentes às produções no ano
de 2005, fica evidente a importância dos produtos destinados a importação,
enquanto os principais produtos alimentares como o arroz e o feijão têm seu papel
reduzido na escala de produção tanto no Centro-Oeste e Mato Grosso, quanto em
um nível nacional. Ao compararmos os números dos quadros 5 e 6, notamos que em
2005 foram produzidas no Mato Grosso 66.122 toneladas de feijão, enquanto no
mesmo ano foram produzidas 17.761.444 toneladas de soja, esses números deixam
ainda mais claro a enorme diferença de produção de produtos básicos e produtos de
exportação.
Além de sofrer grandes transformações espaciais, como crescimento dos
núcleos urbanos, surgimento de novos municípios, terceirização de parte da
economia matogrossense, mudança na hierarquia urbana estadual, entre outras, os
espaços produzidos pela soja em Mato Grosso transformaram-se em áreas de
atração dos mais variados segmentos sociais (FORTUNA, 2006).
Arruzzo (2005) chama a atenção para os trabalhadores temporários e
informais vindos das demais regiões, apesar da importância da sua força de trabalho
sua remuneração é baixa e as chances de grandes oportunidades também. Baixa
qualificação, pouca familiaridade com as novas técnicas e baixa possibilidade de se
fixar na região são algumas das características desse trabalhador.
Quadro 4 – Safra Arroz 2005 – Dados Brasil, Centro Oeste e Mato Grosso
Arroz (em casca)
2005
Quantidade
produzida
(Tonelada)
Valor da
produção
(Mil reais)
Valor da
produção
(Porcentual)
Área
plantada
(Hectare)
Área colhida
(Porcentual)
Área
colhida
(Hectare)
Área colhida
(Porcentual)
Brasil 13.191.885 4.993.658 10,36 3.998.233 8,13 3.915.667 8,22
Centro-
Oeste
2.862.821 911.360 4,68 1.096.849 6,92 1.090.219 6,96
Mato
Grosso
2.262.863 697.311 5,60 855.067 9,79 853.581 9,84
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal
Nota: Os dados de 2005 são preliminares
40
Quadro 5 - Safra Feijão 2005 – Dados Brasil, Centro Oeste e Mato Grosso
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal
Nota: Os dados de 2005 são preliminares
Quadro 6 - Safra Algodão Herbáceo 2005 – Dados Brasil, Centro Oeste e Mato
Grosso
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal
Nota: Os dados de 2005 são preliminares
Feijão (em grão)
2005
Quantidade
produzida
(Tonelada)
Valor da
produção
(Mil reais)
Valor da
produção
(Mil reais)
Área
plantada
(Hectare)
Área plantada
(Percentual)
Área
colhida
(Hectare)
Área
colhida
(Porcen-
tual)
Brasil 3.021.495 3.475.850 7,21 3.965.673 8,06 3.748.407 7,87
Centro -
Oeste
406.978 480.030 2,47 196.500 1,24 195.645 1,25
Mato
Grosso
66.122 89.250 0,72 42.244 0,48 42.006 0,48
Algodão herbáceo (em caroço)
2005
Quantidade
produzida
(Tonelada)
Valor da
produção
(Mil reais)
Valor da
produção
(Porcentual)
Área
plantada
(Hectare)
Área
plantada
(Porcentual)
Área
colhida
(Hectare)
Área colhida
(Porcentual)
Brasil 3.666.160 6.072.515 12,60 1.265.553 2,57 1.258.308 2,64
Centro-
Oeste
2.307.568 .728.924 24,29 701.301 4,42 700.003 4,47
Mato
Grosso
1.682.839 4.119.679 33,07 483.525 5,53 482.391 5,56
41
Quadro 7 - Safra Soja 2005 – Dados Brasil, Centro Oeste e Mato Grosso
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal
Nota: Os dados de 2005 são preliminares
A técnica exerce uma função mediadora entre os atores sociais e entre os
segmentos da economia e o território juntamente com os componentes
informacionais e comunicacionais que se fazem presente nas técnicas modernas,
tidas como sendo as principais inovações fruto da revolução digital. Mas o rumo que
a técnica irá seguir é colocado segundo os objetivos de quem a comanda. Os
agentes controladores das técnicas mais avançadas têm suas necessidades
estabelecidas pelas relações sociais e de produção historicamente determinadas. As
grandes empresas multinacionais podem ser vistas como grandes detentoras de
poder econômico, sendo as maiores responsáveis pelos efeitos da agricultura sobre
o território e o trabalho. Dessa maneira as empresas estrangeiras assumem o
controle dos pontos mais dinâmicos do território e criam condições favoráveis à
reprodução do capital (ARACRI, 2006).
A adoção de padrões tecnológicos importados, instalados no processo de
modernização agrária, sem adaptações, pode ter causado uma série de efeitos
negativos sobre o meio ambiente. Na fase de ocupação, ocorreu um desmatamento
Soja (em grão)
2005
Quantidade
produzida
(Tonelada)
Valor da
produção
(Mil reais)
Valor da
produção
(Mil reais)
Área
plantada
(Hectare)
Área
plantada
(Porcen-
tual)
Área
colhida
(Hectare)
Área
colhida
(Porcen-
tual)
Brasil 51.182.050 21.758.251 45,14 23.426.731 47,64 22.948.849 48,17
Centro -
Oeste
28.652.564 11.244.798 57,76 10.882.566 68,65 10.854.209 69,30
Mato
Grosso
17.761.444 6.678.093 53,61 6.121.724 70,06 6.106.654 70,37
42
indiscriminado e uso inadequado no manejo e conservação do solo, afetando os
habitats, os solos, os rios, etc.
As monoculturas da soja, algodão, cana-de-açúcar e arroz, juntamente com a
pecuária, são as responsáveis pelos maiores problemas ambientais que afetam a
agricultura e podem comprometer a produtividade. Alguns dos efeitos adversos mais
graves são: desgaste dos solos, ataque de pragas e contaminação de mananciais
de água pelos agrotóxicos. Numa busca de se evitar maiores estragos, o Instituto de
Defesa Agropecuária do Mato Grosso (INDEA) vem realizando, junto aos
agricultores do estado, campanhas com objetivo de orientar sobre o uso de
agrotóxicos, indicando seu uso correto, a lavagem dos vasilhames e o
armazenamento.
Em determinadas áreas, o uso inadequado de produtos químicos tóxicos e
inseticidas tem comprometido o aumento dos níveis de produção, levando a
questionar o padrão com que foi se dando a modernização agrícola. A ausência de
assistência técnica por parte dos órgãos oficiais fez com que as indústrias criassem
suas próprias estratégias de venda, prometendo sempre o sucesso das safras. E se
de um lado vê-se o crescimento da produção, de outro, vê-se a degradação do meio
ambiente pela poluição dos cursos d’água, assoreamento dos rios, pela perda
parcial e de uma rica biodiversidade, além de problemas de compactação e de
erosão dos solos nas áreas submetidas ao intenso uso da mecanização.
A modernização agrícola trouxe consigo um elevado custo social, as
conseqüências levaram ao desaparecimento das antigas economias primitivas e
causaram diversos efeitos na natureza. As tensões sociais e a violência no campo
aumentaram como efeito da implantação de diversos projetos de agropecuária em
áreas indígenas ou ocupadas por posseiros, e ainda a expropriação de
trabalhadores rurais juntamente com a mudança das relações de produção e
trabalho vem ocasionando o inchaço das periferias dos centros urbanos, aumento
das favelas e índice de desemprego. Essa expropriação tem feito com que o
pequeno produtor migre para áreas distantes do seu lugar de origem,
empreendendo nessas áreas estratégias de reprodução da sua unidade familiar de
produção e trabalho, sendo esse um modo de resistir a proletarização, trazendo de
uma maneira contraditória a re-criação do pequeno produtor (MORENO, 1995).
Parcela dos pequenos produtores sobrevive hoje, vendendo sua força de
trabalho para o grande proprietário adjacente, essa pode ser considerada uma forma
43
de resistência, buscando manter sua condição camponesa, ainda que não seja
daquela forma original, existe uma recusa daqueles mais tradicionais em aceitar a
proletarização.
Uma redefinição da pequena produção se faz necessária devido à
transformação dos latifúndios, o surgimento de novas empresas agrícolas e a
criação de cooperativa de produtores, sendo que são duas as opções possíveis:
uma delas sofrer um processo de marginalização e desmantelamento e a outra: se
integrar de forma dependente no complexo agroindustrial (GALINDO e SANTOS,
1995).
Nosso objeto de estudo localiza-se em uma das 5 mesorregiões que formam
o estado do Mato Grosso, ou seja, a mesorregião sudeste matogrossense. Tida
como área mais consolidada em termos tecno-produtivos por concentrar as
principais atividades industriais do estado, sendo a mais avançada em termos de
adequação espacial aos propósitos da acumulação de capital. No próximo item
caminharemos em direção a área de estudo.
2.3– Em Direção a Área de Estudo: Primavera do Leste
O sudeste do estado concentra o núcleo irradiador da sojicultura, sendo a
região de maior densidade. Sua área de abrangência pode ser observada no Mapa
1. A expansão das atividades agropecuárias nessa região foi de imensa magnitude,
podendo ser explicada através da incorporação de novas terras do cerrado, e ainda
a área encontrava-se inserida no processo de expansão do modo de produção
capitalista no campo.
44
Mapa 1 - Localização do Sudeste do Mato Grosso
Escala: 1:75000
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/
O sudeste mato-grossense é uma importante área produtora de grãos e carne
para o processamento agroindustrial e para exportação, sendo ao mesmo tempo
grande consumidora de máquinas e insumo industriais. Sofreu crescente
desenvolvimento a partir dos anos 70, com os incentivos conjugados com a melhoria
das sementes e dos solos e ampliação da área de cultivo, proporcionada pela
ampliação da malha viária, sendo a soja o produto que se destaca sobretudo para
exportação.
Segundo Silva (1998), no sudeste de Mato Grosso estão organizadas as
principais atividades do complexo agroindustrial da soja, entendendo complexo
como “parte de um processo de reestruturação produtiva que vem se processando
na economia mundial neste final de século” (SILVA, 1998 - p.15), que tem como
base as inovações tecnológicas, na medida que em que estas constituem um dos
principais fatores das mudanças de ordem espacial que vêm acontecendo na
região.
45
As políticas públicas e a crescente produção da soja, viabilizada pelo meio-
técnico-científico-informacional, possibilitaram a integração econômica com as
demais regiões do país, e ainda atraiu para essa área grandes empresas como a
SADIA e a antiga CEVAL, atual Bunge y Born, que iniciaram suas atividades na
região na década de 1980, instalando silos armazéns e unidades de esmagamento
em diversos municípios.
A região, em 1980, concentrava os maiores números em área colhida,
quantidade produzida e rendimento médio na produção da soja. A espacialidade
gerada pela soja proporcionou um campo modernizado e integrado a um urbano,
além de criar redes políticas emancipatórias que deram origem a novos municípios
como Primavera do Leste, Alto Taquari e Campo Verde.
Conforme colocado no quadro 8, os municípios produtores de soja na região
sudeste produziram 3.294.868 toneladas de soja no ano de 2005 em uma área
plantada de 1.300.545 hectares
2
.
Quadro 8 - Safra Soja 2005 – Dados Sudeste Matogrossense
Soja (em grão)
2005
Quantidade
produzida
(Tonelada)
Valor da
produção
(Mil reais)
Valor da
produção
(Mil reais)
Área
plantada
(Hectare)
Área
plantada
(Porcentual)
Área
colhida
(Hectare)
Área
colhida
(Porcentual)
Sudeste Mato-
grossense 3.294.868 1.240.291 33,40 1.300.545 72,11 1.293.445 72,54
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal
Nota: Os dados de 2005 são preliminares
Em Rondonópolis, município de maior importância na região, estão
localizadas as principais atividades industriais relacionadas ao complexo sojífero,
sendo que essas estão ligadas a indústria de processamento de grãos, fábricas de
ração, abate e industrialização de carnes de bovinos, suínos e aves. Rondonópolis
pode ser considerado um centro articulado de produção agroindustrial, pesquisas e
divulgação de novas tecnologias, ou seja, um espaço capitalizado na região. Conta
2
Dados preliminares do Censo agropecuário do IBGE, 2005
46
atualmente com o maior e mais desenvolvido parque industrial da região sudeste, é
também sede das maiores agropecuárias do estado (SILVA, 1998). Rondonópolis,
cortada por dois importantes corredores de exportação, a BR 163 e BR 164, ligando
a região aos portos de Santos e Paranaguá, destino de grande parte da produção, é
o principal pólo agroindustrial do estado, concentrando e irradiando para outras
áreas as principais inovações tecnológicas.
Dentre os 22 municípios que fazem parte da mesorregião sudeste mato-
grossense, destacamos o município de Primavera do Leste que também levou às
suas terras uma cultura de exportação, principalmente da soja. No Mapa 2 é
possível visualizar a localização do município estudado dentro do estado do Mato
Grosso.
Mapa 2 - Localização da Área de Estudo
Fonte: Klemp, 2005
47
Primavera do Leste acompanhando o acelerado ritmo do avanço tecnológico
na agricultura conseguiu atingir alta produtividade, desenvolveu uma rede de
serviços e atraiu diversas empresas tanto nacionais como multinacionais.Todos
esses são fatores que contribuem para o desenvolvimento não da região sudeste
mato-grossense, mas também do estado como um todo. No próximo capítulo
buscaremos mostrar as como estão organizadas as redes e quais são os principais
atores que participam destas.
48
CAPÍTULO III
O ORDENAMENTO DA AGRICULTURA EM
PRIMAVERA DO LESTE
A partir da contextualização das transformações no cerrado matogrossense,
abordado no capítulo anterior, iremos ampliar nossa escala em direção ao nosso
objeto empírico. Neste capítulo discutiremos a questão central da nossa pesquisa,
identificar quais são as redes que respondem pela dinâmica do complexo
agroindustrial no município.
3.1 - Gênese do Município de Primavera do Leste
O presidente Getúlio Vargas, em 1940, anunciava a Marcha para o Oeste e
nesse mesmo período A Carta de 1946 institucionalizou o plano de valorização
econômica da Amazônia. No entanto, a ocupação, de fato, da Amazônia Legal se
deu após a decisão do presidente Juscelino Kubstchek de Oliveira interiorizar a
Capital Federal, criando Brasília. Com a criação da SUDAM, no governo do
Presidente Castelo Branco, realmente define-se a ocupação racional e produtiva da
Amazônia. Assim, o Governo Federal conclama a ocupação da Amazônia Legal.
A história de Primavera do Leste está ligada a Marcha para o Oeste, proposta
pelo presidente Getúlio Vargas, visava incentivar a ocupação da Amazônia Legal.
Na década de 1970, empresários do setor industrial paulista, atraídos pelo incentivo
que governo federal estava concedendo àqueles interessados na ocupação
produtiva do cerrado, resolveram se integrar no plano de desenvolvimento da região
e constituíram com recursos da SUDAM a empresa Primavera do Oeste S/A. Os
recursos provenientes dos incentivos fiscais da SUDAM, PROTERRA e
POLOCENTRO, que beneficiavam os agricultores com juros baixos e prazos longos
49
de pagamento, atraíram um considerável fluxo de pessoas promovendo a ocupação
da região. Muitos optaram por Primavera do Leste por possuir, na época, um preço
baixo da terra, decorrente do fato de o município ser destituído de rede de
infraestrutura.
Primavera do Leste também pode ser incluída na dinâmica populacional que
ocorreu no Centro-Oeste na década de 70. Durante essa década, a modernização
conservadora expulsou uma grande quantidade de pequenos agricultores do Sul,
principalmente do Paraná. A crescente ocupação das terras do estado foi
desencadeada sobretudo pela necessidade de se abrir novas fronteiras, uma vez
que havia a saturação do campo de trabalho e o desgaste das terras das regiões Sul
e Sudeste.
Edgard Consentino, um advogado paulista e um dos sócios da empresa
Primavera do Oeste S/A, chegou à região no início dos anos setenta. Sendo uma
figura importante na história do município, é conhecido por ser o responsável por
idealizar e executar o movimento de colonização de Primavera do Leste, uma vez
que partiu dele a iniciativa de criar um núcleo urbano. Em 1972 Edgard Consentino
adquiriu as terras da Fazenda Nova Esperança. No entanto, somente no ano
seguinte os primeiros 1.100 hectares foram abertos. Em 1978, o pioneiro,
desmembrou da Fazenda Nova Esperança 205 hectares que deram origem ao
Loteamento Santo Antônio, sendo esse o início do Projeto “Loteamento Cidade
Primavera”. Em maio de 1978, foi aprovado o pedido feito aos poderes executivo e
legislativo de Poxoréo, de implantar um núcleo urbano no entroncamento da BR-070
e MT-130, que na visão do seu idealizador ia atender aos interesses dos inúmeros
agricultores da região. A fundação do núcleo ocorreu em setembro de 1978 e em
1981 o governador do Mato Grosso Frederico Carlos Soares de Campos sancionou
a Lei4351, elevando o loteamento a Distrito de Poxoréo (FERREIRA e CAMPOS,
1994).
Poxoréu é um município de origem garimpeira, no entanto, Primavera do
Leste diferentemente de seu município-mãe seguiu uma vocação agrícola,
destacando-se por seu crescimento acelerado. vislumbrando o potencial que a
área tinha, os empresários e agricultores que ali se instalaram passaram a
pressionar o governo do estado para que fosse concedida a emancipação política e
administrativa.
50
Primavera do Leste, num primeiro momento, foi projetada e somente depois
foi implantado o projeto com recursos próprios da Construtora e Imobiliária
Consentino Ltda. A construtora se implantou no município, que estava surgindo em
pleno cerrado, com o objetivo de atender aos interesses dos agricultores da região,
que demandavam uma infra-estrutura básica, ou seja, luz elétrica, hospital e posto
de telefone (FERREIRA e CAMPOS, 1994).
Em 1979 havia sido implantados alguns serviços, como farmácia, mercado,
hospital, oficina e banco.
O nome dado ao empreendimento foi sugerido pela professora Lilian Maria
Ometto Cosentino, esposa de Edgard Cosentino que colocou uma placa no
entroncamento da BR-070 com a MT-130, estrada que liga Paranatinga a Poxoréo,
com os dizeres "Brevemente aqui Cidade Primavera". Após o nome ter sido
escolhido, iniciou-se a abertura das ruas, colocação de postes, e estruturou-se a
localidade. O marco da fundação da Cidade Primavera, primeiro nome com que
ficou conhecido o município, foi dia 26 de setembro de 1979, poucos dias após o
início da primavera (CUNHA, 1995).
O município foi criado em 13 de maio de 1986, através da Lei Estadual
5.014. Nesta ocasião foram apresentadas inúmeras sugestões para denominar o
novo município, dentre as quais Nova Primavera e Alto Primavera, que foram
rejeitadas, prevalecendo o nome Primavera do Leste. Com uma área de 5.664
Km² ,encontra-se a sudeste do Mato Grosso. Distante 240Km de Cuiabá, capital
matogrossense e faz fronteira com os municípios de Paranatinga, Brasilândia,
Planalto da Serra, Poxoréu, Santo Antônio do Leste e Campo Verde. Parte do
território que pertence a Primavera do Leste pode ser observado na imagem de
satélite (Imagem 1 p.54) onde é possível visualizar o centro urbano do município e
as terras cultivadas ao seu entorno.
A valorização fundiária trouxe melhorias nas redes de transporte,
comunicações e energia, e no sistema de comercialização.
A transformação técnico-produtiva no espaço agrário da região teve uma
grande contribuição dos empresários do Sul e Sudeste que ocuparam áreas que
muitos julgavam ser improdutiva e obtiveram do governo incentivos fiscais e
consideráveis diferenciais de preço da terra entre suas regiões de origem e o Mato
Grosso.
51
A região sofreu um intenso fluxo migratório proveniente da Região Sul dirigiu-
se ao cerrado brasileiro, destaca-se dentre os motivos do fluxo migratório a
concentração de terras, os impactos ambientais e a expropriação do pequeno
produtor familiar.
Primavera do Leste, segundo Monteiro (2004), foi estruturada espacialmente
por diferentes autores, dentre eles empresários interessados em ganhar dinheiro
com a terra, pequenos proprietários do sul buscando propriedades maiores e pela
população das regiões vizinhas vendendo sua força de trabalho.
Primavera do Leste se orgulha de ter uma das maiores rendas per cápita do
Brasil e de assumir a quinta posição no que se refere à economia do Mato Grosso.
Com 220.000 hectares de área colhida assume o posto de quarto maior produtor de
soja do estado
3
,
e ainda em dez anos entre 1995 e 2005 verifica-se também o
aumento da quantidade produzida de soja (Quadro 9 p.52) e expansão da área
plantada (Quadro 10 p.53). Para tanto, a seleção de novos materiais,
equipamentos e técnicas de modelos de gerenciamento foram fatores que
contribuíram para elevar o município a esse posto. Destaca-se também por possuir
uma grande área irrigada; são 15.000 hectares, permitindo a exploração de diversas
culturas
4
e transformando o município na maior concentração de pivôs centrais do
Mato Grosso. Primavera do Leste abriga a Fundação Centro-Oeste, que em parceria
com a Embrapa desenvolve pesquisas a fim de gerar novas variedades de soja e
algodão. Possui também a maior concentração de aviões agrícolas do estado
utilizados, sobretudo pelas empresas de pulverização.
Quadro 9 – Quantidade Produzida de Soja de 1995 a 2005 em Primavera do Leste
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal
Nota: Os dados de 2005 são preliminares
3
Dados divulgados pela Prefeitura de Primavera do Leste, 2002
4
Dado divulgado pela Prefeitura de Primavera do Leste, 2002
Quantidade produzida (Tonelada)
Soja (em grão)
Ano
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Primavera do
Leste – MT 428.15 428.15 408.9 472.7 437.20 522.07 522.07 686.40 686.40 736.72 684.55
52
Quadro 10 – Área Plantada de Soja de 1995 a 2005 em Primavera do Leste
Nota: Os dados de 2005 são preliminares
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal
Quadro 11Quilograma por Hectare de Soja de 1995 a 2005 em Primavera do Leste
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal
Nota: Os dados de 2005 são preliminares
Deve ser colocado, no entanto, que o incremento na produtividade e da
rentabilidade está relacionado dentre outros fatores com o crescente aumento da
área plantada (que pode ser observado no Quadro 10), as lavouras de soja
expandiaram-se na mesma medida em que o cerrado diminuiu. Como podemos
observar na Imagem 1, o município encontra-se devastado pelas plantações de soja.
As poucas áreas mantidas com a vegetação original foram retiradas nos anos em
que a soja atingiu seu auge, restando hoje poucos pontos da vegetação
característica da região. Na mesma imagem percebemos também a reduzida área
que o centro urbano ocupa, a ocupação destina-se predominantemente à
agricultura.
Os agricultores, com o objetivo de manter o campo modernizado e manter os
altos índices de produtividade em suas fazendas, tornaram-se grandes
Área plantada (Hectare)
Soja (em grão)
Ano
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Primavera do
Leste – MT 167.45 147.35 143.32 159.0 146.00
0
170.00 183.00 220.00 251.00 262.68 278.18
Quilogramas por Hectare
Soja (em grão)
Ano
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Primavera do
Leste – MT 2.556 2.528 2.852 2.973 3.009 3.071 3.100 3.120 2.992 2.804 2.468
53
consumidores de produtos industriais-implementos e agroquímico - mantendo no
espaço urbano diversas lojas, dentre elas existem inclusive multinacionais, que
comercializam implementos agrícolas diretamente com os agricultores.
Em Primavera a agricultura foi modernizada e levada ao seu mais alto nível
de tecnificação, desenvolvendo uma agricultura baseada na monocultura da soja e
mais recentemente do algodão. O emprego de novas tecnologias reflete
positivamente no desempenho econômico do município.
Imagem 1 - Município de Primavera do Leste
Fonte: Google Earth
54
Legenda:
__ Centro Urbano
de Primavera do Leste
55
O município encontra-se integrado aos fluxos imateriais de circulação de
capitais e informação, além de possuir redes de comunicação informatizadas,
revelando sua dinâmica e possível mobilidade atraindo grandes corporações.
Existem diversos grupos econômicos instalados em Primavera do Leste,
dentre eles podemos destacar, Grupo André Maggi, Agropecuária Fockinck,
Agropecuária Sachetti e as multinacionais Cargil , Bunge, Ovetril e ADM. Para
receber esses grupos o município dispõe de uma enorme capacidade armazenadora
e de indústrias beneficiadoras de grãos. Essas indústrias estão distribuídas ao longo
dos dois Distritos Industriais, localizados no município. Ao todo são cerca de
cinqüenta indústrias, sendo que quase todas possuem suas atividades relacionadas
à agricultura, evidenciando a crescente integração entre indústrias e agricultura.
A região passou a receber não somente empresas rurais capitalizadas, mas
também outros tipos de empresas nacionais e estrangeiras, como bancos,
revendedoras de máquinas, implementos agrícolas, insumos, produtos veterinários,
indústria de processamento de produtos agropecuários, dentre outras. Primavera é
um município beneficiado geograficamente, seus acessos são pavimentados no
sentidos sul, leste e oeste, cortadas por duas rodovias, possui 60 Km de rodovia
federal e 120 Km de rodovia estadual, facilitando o escoamento da produção
agrícola.
Os Distritos Industriais nasceram como parte de um programa de
desenvolvimento voltado para o apoio à expansão do setor industrial. Lançado em
1989, o município ganhou seu primeiro Distrito Industrial que conta com uma área de
aproximadamente 50 hectares, localizado a 6 km do centro e às margens da rodovia
BR-070. Com a ocupação praticamente completa do Distrito Industrial I cria-se o
Distrito Industrial II, com mais 20 hectares de área e localizado às margens da MT-
130, distante 8 Km do centro.
O comércio está preparado para atender os mais diversos tipos de demanda
e a prestação de serviços é bastante diversificada e conta com profissionais
capacitados. Oferece um satisfatório suporte bancário com agências do Banco do
Brasil S.A, HSBC Bank Brasil S.A, Banco Primacredi S.A, Caixa Econômica Federal
S.A e Bradesco S.A. Nas Fotos 1 e 2 é possível observar a principal avenida do
município, Avenida Porto Alegre, onde estão localizados diversos estabelecimentos
comerciais, tais como bancos, lojas, escritórios, etc. Localizada no centro, está
56
também a sede da Prefeitura, conforme visualizada na Foto 3, que abriga no
mesmo prédio suas diversas secretarias.
A educação é oferecida a população através de 7 escolas particulares, 5
escolas estaduais, 8 escolas municipais e 3 universidades, sendo uma federal. No
que diz respeito aos estabelecimentos de saúde, Primavera é sede de 23 centros de
saúde, 14 públicos e 9 privados, sendo que a rede pública de hospitais atende
também pacientes de municípios vizinhos.
Foto 1
Centro Comercial do Município
Fonte: Danielle Schimaneski Piras
Foto 2
57
Zona Comercial do Município
Fonte: Danielle Schimaneski Piras
O município movimenta milhões de reais por ano. O agronegócio é o principal
responsável pela movimentação anual dessas cifras tão altas e a arrecadação de
impostos permite o investimento em infra-estrutura.
A área urbana de Primavera do Leste pode ser caracterizada pela junção entre
modernidade e urbanização, permitindo a circulação de fluxos, informação, bens,
pessoas e etc., se transformando em função das ações das empresas, do Estado,
das características técnicas e sociais, dentre outras.
Pode-se dizer que o município em pouco tempo se diretamente ligado à
ordem global e inserido na divisão internacional do trabalho, sob a égide do
capitalismo internacional. A cidade de Primavera do Leste se encontra inserida no
processo de globalização e se articula diretamente com diversas partes do mundo.
De acordo com Bernardes (2005), a soja produzida no cerrado brasileiro compete no
mesmo nível de igualdade com o mercado mundial, quando consideramos a técnica
ampliando a inserção do local no processo de globalização.
Foto 3
58
Sede da Prefeitura de Primavera do Leste
Fonte: Danielle Schimaneski Piras
A economia global seleciona seus centros de controle e comando de acordo
com a possibilidade de coordenar, inovar e gerenciar atividades interligadas das
redes de empresas.
A região da qual estamos tratando permaneceu, até a década de 90, do
século XX, sem se destacar economicamente e hoje se encontra inserida na ordem
global. Essa transição aconteceu porque atualmente a capacidade de oferecer
rentabilidade é o grande fator que irá diferenciar os lugares, sua variação ocorre de
acordo com as condições locais de ordem técnica como equipamentos, infra-
estrutura e acessibilidade e organizacional como leis locais, impostos, relações
trabalhistas e tradição laboral (SANTOS, 1996). Podemos dizer que hoje o cerrado
matogrossense incorporou os sistemas aperfeiçoados de comunicação e de fluxo de
informação, possibilitando a redução do tempo e redefinindo a espacialidade dos
circuitos de produção, fazendo com que a região seja capaz de acompanhar a
velocidade das transformações e incorporar elementos que facilitam sua
competitividade no mercado internacional, “o que em parte se expressa na
materialização das redes virtuais acopladas às redes fiscais em elementos tais como
59
portos, aeroportos, satélites de transmissão, equipamentos de comunicação, etc.”
(BERNARDES, 2001 – p.44).
Com o objetivo de proporcionar diversão e de estimular o desenvolvimento
comercial e agroindustrial do município através da exposição de produtos/serviços
do município e da região, o Sindicato Rural de Primavera do Leste, em parceria com
a Prefeitura Municipal e a APRIVIT (Associação Primaverense de Vitifruti-Cultores),
realiza anualmente a Expoprima, a Festa da Uva e a Festa do Algodão, atraindo
milhares de pessoas e movimentando milhões nas suas edições, acentua a
importância da agricultura em Primavera.
A Expoprima, que acontece desde 1995, dentre esses eventos é a que atrai
mais pessoas e, além de atrações como shows e rodeios, a feira movimenta o
comércio local por meio de leilões de animais e negócios na área da agropecuária,
como implementos e máquinas agrícolas.
Partido dessa análise geral do município, iremos enfocar no próximo
momento a organização da produção agrícola em Primavera do Leste.
3.2 - O Uso do Território na Produção Agrícola
Primavera do Leste, em 20 anos, deixou de ser distrito de Poxoréu e tornou-
se um dos principais pólos de produção agrícola e de serviços do sudeste do Mato
Grosso, mudanças impulsionadas pelas transformações impostas pela
industrialização da agricultura.
A agricultura moderna passa a organizar sua produção apoiada num sistema
que exige uma larga base técnica, onde objetos técnicos avançados, novos
conhecimentos, ações e objetos científicos e informacionais se fazem cada vez mais
presentes. Para sua instalação são necessárias além das máquinas agrícolas, infra-
estrutura e serviços especializados fazendo com que ao se instalar em uma nova
área traga grandes modificações para sua organização espacial. Verificamos que
um novo quadro de objetos, formas e ações é imposto e em cada local esta relação
60
acontecerá de maneira distinta, variando de acordo com a organização espacial,
histórica e cultural precedentes, muito embora o sistema técnico seja semelhante
globalmente (ARRUZZO, 2005). A modernização da atividade agrícola significa a
alteração da dinâmica de organização, equipamento e uso do território pelos
agentes sociais envolvidos.
Os mais diversos tipos de rede podem estar presentes, a de produção,
distribuição e gestão, essas controladas pelas diversas instituições do Estado, pelas
diversas instituições sociais e pelas grandes empresas, que se orientam geralmente
por mecanismos de mercado. A partir delas, verificamos a existência de interações
espaciais, materializadas ou não, por onde circulam mercadorias, capitais,
trabalhadores, consumidores e informações. Os serviços avançados de finanças,
seguros, consultoria, bens imobiliários, serviços de assessoria jurídica, propaganda,
projetos, relações públicas, segurança, coleta de informações, P&D e inovação
científica estão na base de todos os processos econômicos, seja na indústria,
agricultura, energia ou em serviços de diferentes tipos.
Em Primavera do Leste as redes técnicas estão presentes na paisagem,
influenciando diretamente no ordenamento do território, dando uma velocidade maior
aos fluxos que, por sua vez, interligam cada vez mais complexas combinações de
fixos.
O ordenamento territorial da agricultura do município sofre sem dúvida uma
grande influência das corporações que ali se instalaram. As corporações
encontraram as condições para a constituição de suas próprias redes, que seriam a
necessidade de uma economia de mercado em expansão, de uma divisão territorial
do trabalho e das trocas de bens e serviços produzidos localmente e
comercializados em outras áreas. A proximidade que existe com os produtores
também é uma vantagem para a empresa, pois assim adquire facilidade em comprar
a produção regional, a partir de contratos de comercialização de lavouras.
A Figura 1 mostra o caminho seguido pela soja desde área de produção até
seus mercados mundiais. No esquema simplificado do fluxo de produção da soja é
possível observar que existe um fluxo de mercadoria saindo de Primavera do Leste,
que é a área de produção e segue para os municípios de Cuiabá e Rondonópolis,
chamados de locais de beneficiamento, por concentrar indústrias beneficiadoras de
grãos. De Cuiabá e Rondonópolis saem fluxos de produto beneficiado em direção
61
aos principais portos do país, o de Santos, em São Paulo e o de Paranaguá, no
Paraná e dali seguem como fluxo de commodities para os mercados mundiais
europeus e asiáticos.
Os agentes hegemônicos utilizando-se de suas intencionalidades impõe uma
ordem global através de formas materiais e organizacionais, viabilizando a
racionalização do território. Ou seja, os lugares adquirem funções que são
determinadas por ordens e ações que lhe são externas. A compartimentação do
território é construída por uma segmentação normativa que vem de fora e as normas
que são definidas globalmente, são na verdade um vínculo de homogeneização
técnica e organizacional. Em diversos pontos do território matogrossense onde
existiu uma verticalização mais intensa, o espaço encontra-se estruturado segundo
essas normas, sem as quais não seria possível concretizar uma produção
globalizada nesses lugares (ARACRI, 2006).
As redes presentes no município são constituídas por fixos, tais como
fazendas, armazéns, escritórios, sede, indústrias, entre outros, sendo responsáveis
por articular campo, indústria e cidade que estabelecem muitas vezes intensas e
densas relações entre eles.
As redes apresentam um ordenamento territorial que envolve diversas áreas,
tais como: áreas produtoras, pontos de recebimento e de armazenamento do
produto, locais de financiamento, ponto de distribuição e de comercialização, bem
como toda uma logística de transportes, comunicações, energia, pesquisas e
assistência técnica. Nas redes territoriais verificamos a circulação de mercadorias,
mão-de-obra, capitais, ordens e informações.
A enorme pressão política e econômica exercida pelas grandes corporações
não pode ser ignorada, sobretudo na gestão do território. As empresas encontram-
se inseridas em várias redes, transformando-se em uma teia de redes múltiplas.
Figura 1
62
ESQUEMA SIMPLIFICADO DO
FLUXO DE PRODUÇÃO DA SOJA
Fluxo de mercadoria
Fluxo de produto
beneficiado
Fluxo de comoditie
Área de
Produção
Locais de
Beneficiamento
Portos
Mercados Mundiais
112 KM
1216 KM
2000 KM
10000 KM
0
0
0
Fonte: Elaborado pela autora
63
A corporação está presente nos mais diversos momentos da produção
agrícola, deixando claro o poder que exerce no agronegócio e de maneira indireta
em todo o município. As empresas são as principais responsáveis pelos
financiamentos, elas também acumulam a função de fornecedoras de grande parte
dos insumos aos produtores. Além disso, a comercialização também é realizada
pelas grandes corporações que estabelecem seus preços guiando-se pela Bolsa de
Chicago e a produção é levada para armazéns e indústrias esmagadoras que
pertencem a esses grandes grupos. Assim, com uma marcante presença, direta ou
indireta, nas diversas fases da produção, a grande empresa é o principal ator
responsável pelo ordenamento da agricultura de Primavera do Leste.
Figura 2 - Interações Promovidas pelas Corporações
Fonte: Elaborado pela autora
Através da Figura 2 podemos visualizar com mais clareza as interações que
as corporações, com sede no Brasil, promovem através de alianças estratégicas,
financiamento, logística, gestão territorial e pesquisa com alguns fixos distribuídos
pelo território municipal, estadual, nacional e internacional.
64
A Cargill - possui seu escritório, armazéns e silos localizados no Distrito
Industrial, conforme ilustrado nas fotos 4 e 5 - presente em Primavera do Leste
abrange 5 municípios, são eles: Primavera do Leste, Carazinho, Alto Taquari, Alto
Garça e Campo Verde. A Cargill de Primavera do Leste segue uma hierarquia
respondendo a Campo Grande que, por sua vez, responde a São Paulo, chegando
finalmente ao escritório principal da corporação que se encontra em Minneapolis -
Estados Unidos. A sede no Brasil está localizada em São Paulo e, no entanto,
existem diversas unidades distribuídas pelo país, sendo elas Mato Grosso do Sul,
Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. A
corporação que, além de comercializar a soja, chamada por eles de matéria-prima,
também engloba a comercialização, processamento e distribuição de outros
produtos e de serviços agrícolas, alimentícios financeiros e industriais. São da
corporação marcas como Purina, Seara e Mosaici, possuindo como seus clientes
grandes nomes como Unilever e Nestlé. A contribuição que Primavera do Leste tem
nessa rede é a de comercializar a soja. Além disso é uma das maiores empresas
responsáveis por financiar a produção da mesma.
Foto 4
Armazén e Escritório da Cargill
Fonte: Danielle Schimaneski Piras
Foto 5
65
Silos localizados no Distrito Industrial
Fonte: Danielle Schimaneski Piras
Para ilustrar o fluxo de gestão da Cargill elaboramos um esquema
simplificado Figura 3. Nele observamos um fluxo de decisão que sai da área de
produção, nesse caso, Primavera do Leste e segue para Campo Grande, depois
direciona-se para sede nacional da corporação que situada em São Paulo. Por
último, o fluxo de decisão chega na sede mundial da corporação em Minneapolis,
Estados Unidos. Um fluxo de decisão e de recurso financeiro faz o caminho inverso
passando pelos mesmos locais e seguindo a mesma hierarquia.
Figura 3
66
ESQUEMA SIMPLIFICADO
DO FLUXO DE GESTÃO DA CARGILL
Sede Mundial
da Corporação
ESQUEMA SIMPLIFICADO DO
FLUXO DE GESTÃO DA CARGILL
Fluxo de decisão
Fluxo de decisão
e recurso financeiro
Produtores
Área de Produção
Sede Regional
da Corporação
Sede Nacional
da Corporação
112 KM
1216 KM
2000 KM
10000 KM
0
0
0
SP
.
Campo
Grande
Fonte: Elaborado pela autora
67
Uma outra grande corporação presente em Primavera do Leste é a Bunge y
Born. Assim como a Cargill, a Bunge tem sua estrutura de armazéns, silos e
escritório localizados no Distrito Industrial, conforme pode ser observado nas Fotos 6
e 7. De origem argentina está distribuída em 16 estados brasileiros, sendo que uma
das regionais está localizada em Primavera do Leste, dando suporte aos municípios
de Rondonópolis, Nova Xavantina, Alô Brasil, Campo Verde, Canarana,
Paranatinga, Porto Alegre do Norte, Querência, Santa Cruz do Xingu, Santana do
Araguaia, Santiago do Norte e São Félix do Araguaia. A regional Primavera
responde a Cuiabá, que é chamada a gerente do Mato Grosso, e as gerentes
respondem a Gaspar, localizado no estado de Santa Catarina sendo essa a sede
principal no Brasil, que responde a sede mundial localizada em Nova Iorque. A
Bunge também envolve várias outras empresas, nos ramos de alimentação,
agribusiness, química e têxtil, entre outros. No Brasil a mesma controla a Bunge
Fertilizantes, Bunge Alimentos e a Fertimport, essas várias empresas possuem os
mesmos acionista, no entanto, sob diferentes administrações.
Foto 6
Armazém e Escritório da Bunge y Born
Fonte: Danielle Schimaneski Piras
Foto 7
68
Silos Localizados no Distrito Industrial
Fonte: Danielle Schimaneski Piras
O esquema simplificado do fluxo de gestão da Bunge y Born Figura 4
mostra a hierarquia seguida pela empresa. O fluxo de decisão parte da área de
produção, que é onde estão localizados os produtores, nesse caso Primavera do
Leste e segue para a sede regional da corporação situada em Cuiabá, o mesmo
fluxo vai em direção a sede nacional da corporação que se encontra no município de
Gaspar, Santa Catarina. Por fim o fluxo chega a sede mundial da corporação
localizada em Nova Iorque, Estados Unidos. De Nova Iorque parte um fluxo de
retorno que é de decisão e recurso financeiro seguindo caminho inverso até chegar
novamente a Primavera do Leste, área de produção.
As multinacionais o as responsáveis por dar suporte aos agricultores. O
que se entende por suporte dado pelas grandes empresas, quando falamos de
grandes empresas em Primavera do Leste nos referimos a Bunge, ADM e Cargill, é
financiamento, créditos e produtos. Segundo o Vereador Valdir Machado, os
produtores dificilmente conseguiriam sobreviver sem os financiamentos.
Financiamentos esses que também são concedidos pelo Banco do Brasil e em
menor proporção pelo Primacred, Sicoob e Banco Bradesco. Aproximadamente 85%
dos produtores dependem dos financiamentos, e têm cerca de 90% da sua
produção vendida diretamente para as multinacionais.
69
Muitas críticas vem sendo feitas ao do Banco do Brasil. Segundo o presidente
do Sindicato Rural, a instituição não estaria agindo como parceiro, mas sim como
qualquer instituição bancária normal. Preocupado em resguardar seus lucros e
interesses, o banco não estaria beneficiando o produtor. O fato de o Banco do Brasil
não estar facilitando em nada a classe produtora, que tem que arcar com juros de
20% ao ano, representa uma “quebra” entre a instituição federal e os produtores.
O afastamento com o Banco do Brasil fez com que os produtores se
direcionassem às traddings, que a partir das garantias oferecidas pelos produtores
selecionam aqueles que receberão ou não o financiamento. O poder de
barganha/negociação do produtor acaba sendo ainda mais afetado pois encontram-
se cada vez mais atrelados às empresas. O agrônomo Rachid
5
, considera que o
produtor, na verdade, não é dono da sua produção, pois não possui total autonomia
sobre seu produto, uma vez que parte da soja plantada está comprometida para
pagar seus gastos.
Como coloca Monteiro (2004), é importante considerar que em Primavera do
Leste e no cerrado como um todo, a propriedade rural transformou-se em empresa
agrícola, a descoberta de novas cultivares, o uso do plantio direto, a adubação mais
controlada através de assistência técnica, diversificação das culturas, rotatividade
das culturas e a utilização de máquinas mais modernas e precisas.
A ciência e a técnica são as grandes responsáveis pelo rápido
desenvolvimento no campo e pela elevação da produção de grãos nessa região,
levando ao campo um conceito de produtividade antes empregado somente à
produção industrial.
Figura 4
5
Entrevista realizada em 17/10/2006
70
ESQUEMA SIMPLIFICADO
DO FLUXO DE GESTÃO DA BUNGE Y BORN
Sede Mundial
da Corporação
ESQUEMA SIMPLIFICADO DO
FLUXO DE GESTÃO DA
BUNGE Y BORN
Fluxo de decisão
Fluxo de decisão
e recurso financeiro
Produtores
Área de Produção
Sede Regional
da Corporação
Sede Nacional
da Corporação
SC
.
Gaspar
10000 KM
2000 KM
1216 KM
112 KM
0
0
0
0
Fonte: Elaborado pela autora
O processo de expansão da soja, no cerrado, foi possível a partir do momento
em que os agricultores passaram a investir em novas tecnologias agrícolas, que
71
viabilizassem uma produção competitiva. Para isso três pontos foram focalizados: o
planejamento da utilização do solo nas propriedades rurais e utilização de
mecanização intensiva; a correção do solo, utilizando insumos químicos, que
significa a intensificação do cultivo, e por fim, o melhoramento genético da semente
da soja. Elementos esses que foram aliados a uma grande infra-estrutura de vias de
escoamento, armazéns, etc. (MIRANDA, 2000).
A busca pelo aumento da produtividade motiva pesquisas geradas por
instituições privadas ou públicas, em que o objetivo é obter cultivares mais
adaptados às condições locais.
O produtor visa a cada safra superar sua produtividade. Os resultados da
produção irão depender de diversos fatores, dentre eles o desenvolvimento de
pesquisas, uma vez que são responsáveis por novas cultivares com características
resistentes à doenças, com melhor produtividade e maior adaptação aos vários
sistemas de produção do cerrado brasileiro, e ainda visam aumentar a eficiência no
controle de plantas daninhas, o que pode resultar num menor custo de produção.
se o produtor optar pela soja transgênica será obrigado a pagar royalties para a
dona da patente, a Monsanto. As diversas pesquisas realizadas na agricultura
geram uma ampla rede de pensamento, e o produtor é beneficiado e dependente
dessa rede para poder atingir suas metas de produção.
Em Primavera do Leste estão presentes algumas empresas responsáveis
pela pesquisa como a UNICOTOM, COODETEC, Fundação Centro Oeste e
Embrapa. Em geral as pesquisas são financiadas pelos produtores em parceria com
as multinacionais, e tem como objetivo desenvolver novas variedades e práticas
culturais sendo esses estudos voltados para características do cerrado. Temos no
município um cultivo e uma colheita mecanizada em grandes áreas e com aplicação
de tecnologia de ponta. O uso intensivo da tecnologia em grandes propriedades
demonstrou ser plenamente viável à exploração da agricultura na região.
A soja transgênica é adotada por muitos produtores, porém representa um
gasto a mais devido à cobrança dos royalties. Para os produtores licenciados, o
royalty pago a Monsanto que é a dona da patente, é de R$ 0,88 por quilo de soja e
ainda existe uma cobrança de 2% do valor total comercializado a título de
indenização pelo uso ilegal da tecnologia Roundup Ready (RR). José Nardes,
presidente do Sindicato Rural de Primavera do Leste, diz que apesar desse sistema
72
de pagamento acirrar o endividamento do produtor nada pode ser feito, uma vez que
a Monsanto possui um poder de articulação política muito mais forte na Câmara e no
Senado Federal que os produtores
6
.
Os produtores interessados em fazer com que os índices de rendimento
permaneçam em constante aumento são obrigados a investir em pesquisas, no uso
de máquinas e equipamento, na utilização de insumos, no planejamento da
produção, na recomposição nutricional do solo, na produção das sementes
melhoradas, em técnicas de manejo e correção do solo, no processo técnico de
plantio e colheita, na utilização de informações transmitidas através de satélites, em
novas técnicas nos sistemas de comunicação e transporte e no processo de
armazenagem aclimatada.
Primavera do Leste tem seu ordenamento territorial marcado por um conteúdo
técnico, o que viabilizou a inserção das corporações e dos grandes produtores nos
circuitos globais de capital, informação e mercadorias (SILVA, 2006). No início da
ocupação os equipamentos e técnicas utilizadas eram aquelas provenientes do sul,
porém através das pesquisas o perfil técnico e tecnológico foi adaptado a realidade
da região, no entanto as máquinas, equipamentos e alguns produtos continuam não
sendo industrializados na região.
As máquinas compradas para serem utilizadas na agricultura procedem de
São Paulo e do Rio Grande do Sul, sua compra é na verdade um grande
investimento pois existem máquinas que chegam a custar 1 milhão de reais,
transformando-se assim num valioso bem do produtor. A compra pode ser
financiada por bancos particulares, Banco do Brasil, assim como pelas próprias
indústrias fabricantes. O BNDES também auxilia os produtores nos investimentos
em máquinas, assim como os próprios bancos das montadoras. Os investidores
assumem então o compromisso que pode variar de 5 a 8 anos para o pagamento
daquilo que foi adquirido.
Assim como os equipamentos, os insumos básicos como adubos, herbicidas
e pesticidas também chegam de outras regiões; são trazidos de São Paulo e do
Paraná. Segundo o Vereador Valdir Machado
7
, somente 5%, da semente
consumida em Primavera do Leste são produzidas no município, o restante é
6
Dados retirados do Jornal O Correio, 13/02/2006
7
Entrevista realizada em 16/10/2006
73
comprado no estado de Goiás, região da Serra da Petrovina e município de Taquari
(Rio Grande do Sul).
Em Primavera do Leste cerca de 80% das máquinas, como plantadeira e
trator, são propriedade do produtor. Somente a colheitadeira, devido ao seu alto
custo, é alugada por alguns. A crescente utilização das máquinas cada vez mais
modernas acabou substituindo grande parte do trabalho braçal, dispensando muita
mão de obra no campo.
Toda a tecnologia de ponta utilizada no cultivo no cerrado faz com que os
custos e investimentos sejam elevados. O custo do plantio da soja por hectare varia
entre 350 e 400 dólares e em 2006 estava sendo vendida por aproximadamente 10
dólares a saca contendo 60 quilos, sendo que a produção total da soja por hectare
varia entre 45 e 55 sacas. o algodão tem seu custo de plantio mais alto variando
entre 1000 e 1200 dólares e estava sendo vendido por 25 dólares, em 2006, a
arroba-pluma. No Centro-Oeste a plantação da soja é viável em propriedades
maiores de 400 hectares, enquanto no Sul do país é possível obter lucro em
propriedades com aproximadamente 22 hectares.
Nas pequenas propriedades são desenvolvidas atividades de
hortifrutigranjeiros, para abastecimento local e como áreas de lazer. A mão de obra
utilizada nessas propriedades é quase sempre aquela familiar. Segundo Monteiro
(2004), a formação do espaço local foi feita pela incorporação de médias e grandes
áreas, no período recente de expansão da fronteira no país. Por isso, verificamos
um número reduzido de pequenas propriedades.
Ao todo, somam-se aproximadamente 80 pequenas propriedades, segundo
Walmor Bressan
8
- Secretário de Agricultura de Primavera do Leste, sendo que seus
tamanhos variam de 1 a 20 hectares. Nessas pequenas propriedades são
cultivados diversos produtos, com exceção daqueles muito frágeis e da batata. Além
da mão de obra familiar, algumas dessas propriedades contrata trabalhadores,
sendo uma média de 3 a 5 trabalhadores a cada 3000 hectares. Muitos dos
contratados vem de São Paulo e Paraná, a preferência por plantadores de verduras
vindos de tais estados se pela experiência e técnica que possuem com a
atividade. Com o objetivo de reduzir os gastos e conseqüentemente aumentar seus
lucros, os pequenos produtores se associam para comprar adubos, fertilizantes,
sementes, sal mineral, ração e etc. em grandes quantidades e preços mais
8
Entrevista realizada em 16/10/2006
74
interessantes diretamente nas fábricas em Rondonópolis. A prefeitura, em parceria
com a EMPAER e a Secretaria de Agricultura incentiva esses produtores
emprestando (gratuitamente) na época de colheita e plantio as máquinas. Tais
máquinas são vendidas a preços muito elevados sendo inviável a compra para esse
pequeno produtor. Segundo o Vereador Valdir Machado
9
, esses produtores são
assistidos pelo SEBRAE, Prefeitura e contam também com financiamento do Banco
do Brasil, além poder contar com assistência técnica. Alguns dos produtos são
levados a chamada Feira do Produtor, realizada em um espaço construído
especificamente para tal atividade que ocorre duas vezes por semana durante todo
o ano. O produtor tem a opção de comercializar diretamente seu produto com o
consumidor.
Em 2006, Primavera do Leste passava por um momento de crise, quando o
preço da soja sofreu uma forte queda, sua venda girava em torno de 10 dólares a
saca. A conseqüência disso foi uma produção que apresentava números
decrescentes, alto endividamento por parte dos produtores, alto custo da produção e
dificuldades de obter créditos. Por tudo isso, cerca de 1 milhão a menos de hectares
foram plantados em 2006.
A valorização do real sobre o dólar, que de 2002 a 2007 valorizou 51%,
prejudica o produtor por encarecer o produto em moedas estrangeiras e reduzir a
margem de rentabilidade. Assim além de obter menos lucro com as exportações, o
agronegócio também enfrenta aumentos de 103% nos custos de produção frente a
um avanço de receita bem menor, de apenas 72%, de 2000 a 2006. Dentro do
conjunto de itens que fazem parte dos custos houve alta nos preços dos
combustíveis (191,25%), defensivos (67,26%), fertilizantes (77,99%), sementes
(115,98%), mão-de-obra (84,6%) e serviços (113,91%)
10
.
O produtor também está submetido aos preços ditados pelas multinacionais e
traddings que vendem produtos que são essenciais à produção, tais como
fungicidas, adubos e fertilizantes, e o lucro do produtor também depende do preço
desses insumos.
A saca de soja vendida em 2006 a 20 reais custou 50 reais, e foi nesse
momento, no auge, que os agricultores fizeram empréstimos e investimentos e
9
Entrevista realizada em 16/10/2006
10
Dados retirados do site Agro Amazônia em15/08/2007
75
agora com a queda do preço estão com dificuldade de cumprir seus pagamentos às
empresas privadas a ao Banco do Brasil e muitos deles foram obrigados a devolver
as máquinas e equipamentos adquiridos. De 60% a 70% das dívidas da safra de
2005 foram arroladas para serem pagas em 2006, no entanto, na safra de 2006 os
produtores mal conseguiam pagar o custo de produção.
Agravando ainda mais a crise as grandes empresas reduziram seus
financiamentos. A Cargill, por exemplo, liberou em 2006 somente 25% da verba do
ano anterior. Cerca de 70 produtores buscaram financiamento, somente 12
empréstimos foram aprovados. A empresa busca produtores disponíveis, cerca de
130 produtores fornecem para a Cargill, cabe lembrar que não são produtores que
vendem exclusivamente para a empresa.
Primavera do Leste nasceu e cresceu entorno do agronegócio, principalmente
da soja e para que essas crises não atinjam de maneira tão profunda, o município
precisa buscar diversificar a economia, buscar outros meios de sustentar e seguir
promovendo seu desenvolvimento. A chegada, anunciada pelo Prefeito Getúlio
Viana, da empresa Big Frango e da esmagadora Cargill pode estar apontando um
novo rumo para a economia. Juntas, as empresas vão gerar 5000 empregos diretos
e levar um investimento de cerca R$ 800 milhões ao município.
Além do baixo valor da soja outros fatores preocupam os produtores, como a
constante presença de pragas na lavoura, dentre elas uma específica que pode
trazer até 70% de redução de produtividade, a Ferrugem Asiática. Causada pelo
fungo Phakopsora pachyrhizi, foi constatada pela primeira vez na safra 2001/02 e
rapidamente espalhou-se pelas principais regiões produtoras em função da eficiente
disseminação pelo vento. O principal dano ocasionado por essa doença é a desfolha
precoce, que impede a completa formação dos grãos. O nível de dano que a doença
pode ocasionar irá depender do momento em que ela incidiu na cultura, das
condições favoráveis à sua multiplicação após a constatação dos sintomas iniciais,
da resistência e tolerância, além do ciclo da cultivar utilizada. Em Primavera do
Leste existe cerca de 15000 hectares de pivô central. Esse pode ser um local
propício para a proliferação da ferrugem asiática, que é encontrada somente na
planta viva. O sugerido é que os produtores implantem o sistema de rotação de
culturas nesses pivôs. O sistema de pivô central permite a aplicação precisa e
uniforme de água sobre a lavoura, irrigando uma área maior com gasto menor de
76
água, energia elétrica e esforço. Um sistema de pivô central reduz o custo com mão-
de-obra e tempo, aumentando a produtividade e os lucros, que também pode ser
usado para a aplicação de defensivos e fertilizantes durante a irrigação. As Fotos 8 e
9 mostram lavouras de soja em Primavera do Leste sendo irrigadas através do
sistema de pivô central.
Hoje é possível controlar o avanço do fungo e para isso gasta-se de 5 a 6
sacas de soja por hectare para combater a praga, no entanto, Primavera continua
sendo a região com maior incidência de ferrugem asiática da soja em Mato Grosso e
por isso a demanda de recursos é a maior do estado. Em 2005, os produtores
desembolsaram cerca de R$ 60 milhões para controlar a doença nos 300 mil
hectares de soja plantada no município. Foram feitas, em média, quatro aplicações
de fungicidas nas lavouras e os prejuízos chegaram a 2,4 milhões de sacas de soja,
representando 15% de toda a safra. Os produtores recorrem às industrias para
adquirir o fungicida, seja através de troca por soja seja de financiamento a curto
prazo, o que pode significar perda de renda no final da safra
11
.
Foto 8
Plantação de Soja com Sistema de Pivô Central
Fonte: www.cca.ufsc.br
Foto 9
11
Dados retirados do Jornal O Correio, 12/01/2006
77
Sistema de Pivô Central e no detalhe Planta Contaminada pela Ferrugem Asiática
Fonte: www.garoupa.cnpso.embrapa.br
O encarecimento nos custos do transporte é outra questão que vem
preocupando os agricultores. A maior parte da produção de Primavera do Leste
escorre para Rondonópolis, depois de 70% a 80% dessa produção, segundo o
Vereador Valdir Machado
12
, é enviada para o Porto de Paranaguá ou de Santos de
onde é mandada para os principais mercados consumidores: Europa e Ásia
(principalmente China). As principais beneficiadoras de grãos encontram-se em
Rondonópolis e Cuiabá. A distância do município para os principais portos acaba
por encarecer muito o preço final da soja. Segundo o presidente do Sindicato Rural,
José Nardes
13
, 30% do valor do produto é gasto em transporte, uma solução
apontada por ele seria investimentos em ferrovia ou hidrovia, coloca inclusive que
essa questão da logística pode chegar a inviabilizar a agricultura em Primavera.
O preço do transporte, a incidência de pragas como a ferrugem asiática, a
cotação do dólar, a produção dos Estados Unidos - o valor da soja varia de acordo
com a safra americana e os fatores climáticos podem ser considerados formas de
resistência as quais o produtor está exposto. A produtividade e conseqüentemente a
12
Entrevista realizada em 16/10/2006
13
Entrevista realizada em 18/10/2006
78
rentabilidade, o lucro de cada safra está sujeito a todos esses fatores sobre os
quais o produtor de Primavera do Leste não possui nenhuma autonomia.
A crise de 2006 refletiu em todo o município, entre 2005 e 2006 cerca de 170
empresas foram fechadas, a maioria delas pequenas empresas como salão de
beleza, restaurantes, lojas, beneficiadoras e outras. Nesse momento observa-se
aumento do índice de desemprego, chegando nesse mesmo ano a 15000 pessoas
sem emprego, número muito elevado se considerarmos a população total que é de
44265 habitantes
14
. O desemprego sofre uma redução na época do plantio e da
colheita, uma vez que existe contratação de mão de obra para tais atividades. A soja
é plantada na época da chuva, ou seja, de outubro a novembro e colhida em
fevereiro/março a abril, enquanto o algodão é plantado de dezembro a janeiro e
colhido de maio a julho.
Apesar de ser um município sustentado pela atividade agrícola, segundo
Valdir Machado, 99% das rendas de Primavera do Leste são geradas pela
agricultura, a participação da Prefeitura na atividade do agronegócio é limitada, não
existe onde atuar, limitando-se a cuidar das melhorias nas estradas.
Em primavera do Leste os políticos encontram-se filiados a diversos partidos,
sendo eles o PPS, PL, PFL, PMDB, PP e PTB. No entanto o objetivo comum é
defender os interesses da agricultura na região e quanto a isso não existe nenhum
tipo de resistência, até porque parte dos representantes políticos exercem
atividades que estão diretamente ligadas ao agronegócio. Por exemplo, prefeito
Getúlio Gonçalves Viana (PFL) que é um empresário nos segmentos da agricultura e
do combustível.
Os proprietários, apesar da sua autonomia se encontram submetidos a alguns
órgãos como Ministério da Agricultura, SEMA (Secretaria de Meio-Ambiente),
IBAMA, e têm que cumprir com pagamento de impostos que irão permitir que a área
seja explorada.
3.3 - As Contradições Sócio-Espaciais do Ordenamento Territorial da
Agricultura em Primavera do Leste
14
Dado Censo IBGE-2007
79
A modernização agrícola desenvolveu uma relação de dependência da
agricultura à indústria e ao Estado muito elevada, e esse tipo de dependência
conduz a uma sociedade com características concentradora e extremamente
desigual. Alguns dos problemas sociais agravados foram: separação do trabalhador
rural dos meios de produção, dependência total do trabalho assalariado e muitas
vezes temporários, subemprego nos centros urbanos, bóias-frias e outros (COSTA,
1999).
A soja no cerrado não permite a fixação de agricultores menos capitalizados
na produção dessa região, pois não é suficiente ter a posse da terra, são
necessários investimentos, é preciso possuir capital, que nesse caso é o que vai
definir o potencial de competição de cada produtor. Devemos considerar que o
custo de produção nas condições do cerrado continua sendo muito elevado (SILVA,
1998).
A forte dinâmica da economia observada em Primavera do Leste está
sustentada numa profunda segregação do acesso a propriedade da terra, pois sua
posse está concentrada nas mãos de uma restrita elite rural. A apropriação de
terras, adquiridas pelos empresários vindos do Sul e Sudeste se deu num ritmo
bastante acelerado, originando uma estrutura fundiária concentradora, levando o
preço da terra a quantias exorbitantes. Dessa forma, apesar do agronegócio ser
defendido pelos produtores e governos, como um sistema perfeito de
desenvolvimento do campo brasileiro por agregar tecnologia, alta produtividade e
excelentes resultados nas exportações, não tem conseguido eliminar as injustiças
sociais, principalmente no que diz respeito à injusta concentração de terras.
A propaganda de prosperidade divulgada pelo município atraiu muitas
pessoas. No entanto, não existem oportunidades para todos, fazendo com que
muitos permaneçam excluídos desse processo de desenvolvimento da cidade.
Todo esse extraordinário desenvolvimento também levou para Primavera uma
realidade presente em diversas outras cidades brasileiras, que é a pobreza gerada
entorno da riqueza. Existem barracos improvisados, em bairros mais afastados e
ocupação irregular ao longo da BR-070 construídos por desempregados e pelos
trabalhadores que permanecem sem renda na entressafra.
80
O agricultor que não conseguiu se associar ao fluxo de produção a montante
– fabricantes de adubos químicos, rações para gado, de tratores, etc - ou a jusante –
frigoríficos , usinas de açúcar, fábrica de laticínios - do agronegócio, como é o caso
de grande parte do médio e pequeno produtor ficou à margem de todo o processo
de desenvolvimento do município.
Primavera do Leste sofreu um processo de modernização e passou a exigir
um trabalhador rural familiarizado com o sistema técnico de precisão. Além disso,
exige-se um perfil de trabalhador com o nível de formação mais aprofundado e mais
qualificado para que possa atender às necessidades de um trabalho mais intelectual
e subjetivo.
O processo competitivo gerado por tal expansão vem incrementando a
valorização seletiva do território, que é um dos resultados da revolução científico-
tecnológica, acompanhando a valorização seletiva do território vem a valorização
seletiva da força de trabalho, exigindo mão-de-obra cada vez mais especializada,
aumentando o índice de competição entre os trabalhadores (SILVA, 1998).
Sendo assim uma grande parte da população que não consegue se inserir no
mercado de trabalho formal, uma vez que o nível de qualificação exigido é sempre
maior e ainda a agricultura modernizada, por ser altamente mecanizada requer um
número muito baixo de trabalhadores especializados. Os trabalhadores não
qualificados se concentram nos centros urbanos, onde podem se empregar no setor
de serviços e comércio, formal ou informal. A presença de conjunto de técnicas na
agricultura do município, acabou criando ou aprofundando as desigualdades
territoriais.
A concentração fundiária, a especulação, a modernização agrária de caráter
restrito, são aspectos que trouxeram para maioria um desenvolvimento negativo.
Muitos trabalhadores rurais foram expulsos devido à redução do emprego e salários
no campo. E ainda, com a proliferação de um elevado número de pragas e com a
necessidade de alto investimento em tecnologia, o custo de produção bate numa
altura que só a agricultura empresarial consegue alcançar.
A tecnologia pode ser considerada um fator de exclusão para alguns
produtores e de inclusão para os agentes mais capitalizados. A técnica é
responsável por ordenar o tempo e o espaço, em escalas distintas, a totalidade do
processo de produção e circulação de mercadorias (SILVA, 1998).
81
No entanto, os benefícios dessa produção e desenvolvimentos tão positivos,
muitas vezes não são refletidos no bem-estar social geral, ou seja, não
necessariamente esses benefícios são distribuídos entre todas as camadas sociais.
A modernização agrária e seus desdobramentos podem ser considerados
como os grandes geradores dos problemas sociais que ali encontramos. Nesse bojo
envolvemos a questão agrária, a questão urbana e a ecológica. O crescimento
econômico elevado acaba por beneficiar um número muito reduzido de indivíduos e
a concentração de renda se implantou e ampliou-se constituindo em um elemento
responsável pela diminuição do emprego, urbanização acelerada e grandes
desigualdades sócio-espaciais (NASCIMENTO, 1997).
A exclusão é uma característica das redes, em Primavera também estão
presentes diversos atores que encontram-se a margem dos fluxos por elas
estabelecidos. No município as redes são estabelecidas pelas grandes corporações
que envolvem um arranjo espacial a partir de práticas de seletividade, antecipação e
marginalização. As corporações geram redes tão densas e intensas que são
capazes de articular campo, indústria e cidade, sendo formada por fixos tais como
fazendas, armazéns, escritórios, etc. No entanto, irá incluir somente aqueles atores
que são necessários à sua continuidade e ou aqueles que podem proporcionar a
intensificação de seus fluxos. Para isso, estabelecem múltiplas formas de relações,
promovendo interações estratégicas entre empresas do grupo e fora delas
possibilitando vários ordenamentos, flexibilização de atividades, de recursos e
grupos sociais envolvidos em sua dinâmica.
As grandes empresas são as principais detentoras dos fluxos, e nos dias de
hoje deter fluxo é concentrar poder. Assim, as corporações que sempre almejam o
controle seguem estabelecendo suas redes, produzindo arranjos e rearranjos nos
territórios por ela selecionados.
82
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As transformações tecnológicas que atingem várias esferas, seja a da
informação, da comunicação e a da ciência possibilitaram o surgimento de uma
sociedade organizada em redes, redes essas que encontram-se diluídas em todo o
mundo, transportando os mais diversos tipos de conteúdo. Essas redes tornaram-se
instrumento de poder concentrado sob o julgo nas mãos das grandes corporações.
As detentoras das redes, além de acumular poder, exercem também uma grande
influência política, econômica e social nos locais onde se instalam, sendo as
principais responsáveis pela configuração do ordenamento territorial.
As corporações buscam se instalar onde possam encontrar as condições
necessárias para criar e aumentar suas redes, que essa é a necessidade de uma
empresa que está em expansão.
Desta forma, o ponto de partida, que era desvendar as redes identificando
como influenciam e caracterizam o ordenamento da agricultura de Primavera do
Leste, no transcorrer da pesquisa, notou-se que o ordenamento está constituído por
diversas redes, onde circulam distintos fluxos. São os vários fluxos que o município
abriga, que irão dar origem às redes econômicas, políticas e sociais controladas em
83
sua maioria pela grande corporação, principais atores da organização espacial da
agricultura.
A grande empresa participa direta ou indiretamente das diversas fases de
produção e em Primavera do Leste se estabeleceu uma certa relação de
dependência dos produtores em relação às corporações, uma vez que são elas as
responsáveis por grande parte dos financiamentos concedidos, os insumos e
produtos também são fornecidos por elas e por fim serão elas que irão estabelecer o
preço (baseando-se na Bolsa de Chicago) e comprar o produto final.
Existe um fluxo de poder estabelecido no município e os produtores
encontram-se na base desse fluxo, na última escala e estão submetidos a uma série
de variáveis das quais não possui nenhum tipo de controle como: preço de insumos,
produção americana, preço dos transportes e fatores naturais.
Quando fizemos análise sobre o município de Primavera do Leste
observamos que o ordenamento territorial da agricultura sofre uma profunda
influência das grandes corporações ali instaladas que utilizam a rede como forma de
organização. Primavera está representando um ponto da extensa rede criada por
essas grandes empresas, desenvolvendo a função de fornecedora de mercadorias,
chamadas também de matéria-prima que sai das fazendas do município para ser
beneficiada no próprio estado e ser levadas para os mercados externos. Toda essa
comercialização envolve diversos atores distribuídos pelo próprio município, pelo
Brasil e pelo mundo, que de alguma maneira encontram-se interligados. A grande
importância que a agricultura concentra faz com que a influência das grandes
corporações não se restrinja somente a essa atividade, atuando em todo o
ordenamento do território.
Ao longo do estudo empírico e teórico percebemos que Primavera do Leste
possui em seu ordenamento tanto aspectos gerais quanto aspectos singulares,
dando aspectos particulares a sua ocupação. Dentre as singularidades que irão
caracterizar o processo de ordenamento podemos destacar a presença maciça de
pivôs centrais, como mencionamos anteriormente são aproximadamente 15000
hectares, trata-se de um município que foi totalmente devastado para o plantio da
soja (pode ser observado na Imagem 1 p.54), na época em que a soja estava
valorizada inclusive as matas ciliares foram devastadas para o cultivo da
leguminosa. O lucro, a produtividade e a rentabilidade sempre foram prioridade, e
84
no município encontramos uma Prefeitura que apóia totalmente a agricultura. Então
os interesses agrários não enfrentam nenhum tipo de oposição, mesmo porque
muitos dos políticos responsáveis pela gestão do município também possuem
atividades ligadas à agricultura. O município estudado foi concebido por sulistas. A
principal responsável pela ocupação não é um agricultor e sim um empresário, um
empreendedor paulista que preocupou-se imediatamente com a implementação de
uma infra-estrutura básica para atrair outros empresários para a região. Desde sua
concepção, Primavera do Leste vem sendo direcionada para uma ordem urbana e
especulativa, caracterizada por uma ordem territorial empresarial paulista, onde o
objetivo inicial era fazer do município uma filial da reprodução do capital.
Assim como ocorre em outras localidades, Primavera do Leste também
apresenta algumas limitações em seu ordenamento dentre elas citamos os fatores
climáticos, preço do dólar, produção dos Estados Unidos e pragas, limitações essas
que atingem diversos atores.
A implantação de novas empresas em Primavera indica uma nova fase na
vida do município, levando novas expectativas e diversificando a base econômica
que esteve sempre muito ligada ao comércio e principalmente à agricultura.
A inaugurada Acrefort Indústria e Comércio abriu as portas para o
segmento de industrialização de caroço de algodão na cidade, sendo a pioneira
neste ramo. A matéria-prima utilizada provém do Mato-Grosso priorizando os
produtores locais, agregando mais valor ao produto que antes era exportado para
outros estados. Severino, proprietário da empresa, informa aproximadamente 300
toneladas de caroço são beneficiadas diariamente (FARIA, 2008).
O grupo paranaense Big Frango, com um investimento de 450 milhões de
reais, faz parte desse novo processo de industrialização. O projeto prevê (segundo o
site Agência da Notícias) a geração de sete mil emprego diretos e indiretos, abate de
500 mil aves e produção de 600 mil litros diários de combustível a partir de vísceras
e gordura de frango. O complexo industrial da empresa Big Frango abrangerá um
frigorífico, uma fábrica de ração, uma de aproveitamento de sub-produtos e uma
usina de bio-combustível. E existem planos para futuras instalações, uma
incubadora e uma fábrica de embutidos. A localização, segundo Evaldo Ulinski-
diretor da Big Frango – assim como a produção de grãos (soja e milho) foram fatores
determinantes para a escolha de Primavera.
85
A empresa mineira que atua nos mercados de São Paulo, Rio de Janeiro,
Bahia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, também esta se instalando em
Primavera. A unidade que está sendo construída no município terá capacidade de
abater 500 mil aves por dia.
O grupo italiano ICQ anunciou a implantação de uma usina de extração de
óleo vegetal em Primavera do Leste. Segundo a notícia publicada no site da
prefeitura, os investimentos devem superar 190 milhões de reais e visam a
instalação de uma planta industrial de processamento de oleaginosas para extração
de óleo vegetal. Para isso, o grupo conta com uma parceria com o SINCREDI
(Sistema de Crédito Cooperativo), que fará investimentos para aquisição de caroço
de algodão e demais oleaginosas, matéria prima para a produção desse derivado.
Além de atender a região, a ICQ Holding tem planos de exportar da usina de
Primavera em torno de 4 milhões de toneladas de óleo vegetal.
A recente industrialização do município representa o início de uma nova fase
para Primavera do Leste. A instalação de novas empresas promoverá uma série de
mudanças e provavelmente trará também transformações nos fluxos estabelecidos
pelas redes ali presentes. Uma nova dinâmica deverá ser estabelecida, uma vez que
a tendência é que Primavera concentre as diversas fases do Complexo
Agroindustrial, desde o produtor até as grandes redes consumidoras, desenvolvendo
no município um Complexo Agroindustrial Completo. Ao levar em conta todas essas
transformações é possível considerar que as redes serão mais intensas e
complexas, que incluirão novas áreas e atores, configurando assim um novo
ordenamento no município.
A pesquisa realizada ainda apresenta pontos que merecem uma melhor
análise e um maior aprofundamento. A presença das corporações no município gera
uma ordem e inclui Primavera dentro de um complexo fluxo de rede, no entanto,
existem também aqueles atores que não se encontram inseridos nessas redes, na
verdade eles podem estar inseridos numa desordem trazida pelas mesmas
corporações que estabeleceram uma certa ordem. Quais são esses atores que
encontram-se a margem da ordem dessas empresas? Esses atores excluídos da
ordem estabelecida pelas grandes corporações formam uma ordem paralela a essa?
Como isso ocorre? Ou seja, de maneira geral quais são os impactos sociais trazidos
pelo ordenamento territorial da agricultura criado pelas grandes empresas? Essas
86
são questões sobre as quais não conseguimos aprofundar nossos estudos devido
ao tempo que tivemos disponível, no entanto, podem ser propostas para um trabalho
futuro.
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Produtores sinalizam “fundo do poço” e temem o pior. Primavera do Leste,
07/03/2006.
Pagamentos de royalties são polêmicos; presidente de sindicato alfineta Monsanto.
Primavera do Leste, 25/04/2006.
92
Jornal o Diário:
Primavera do Leste, 13/02/2006.
PÁGINAS DA WEB:
Agência da Notícia. Disponível em: <www.agenciadanoticia.com.br>. Acesso em
10/09/2008
Agro Amazônia. Disponível em: <http://www.agroamazonia.com.br/>. Acesso em:
15/08/2007
Agrolink O portal do conteúdo agropecuário. Disponível em:
<www.agrolink.com.br/>. Acesso em: 22/08/2007
Jornal O Diário de Primavera do Leste. Disponível em: <www.jornalodiario.com.br>.
Acesso em: 07/10/2007
Site oficial da Prefeitura de Primavera do Leste. Disponível em:
<http://www.primaveradoleste.mt.gov.br/>. Acesso em: 10/09/2008
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <www.ibge.gov.br>.
Acesso em: 05/11/2007
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Soja. Disponível em:
<www.cnpso.embrapa.br/>. Acesso em: 11/11/2007
ENTREVISTAS:
Valdir Machado – Vereador de Primavera do Leste – 16/10/2006
Valmor Bressan – Secretário da Agricultura de Primavera do Leste – 16/10/2006
Luciano – Cargill – 17/10/2006
93
Álvaro Rachid – Agrônomo – 17/10/2006
Eduardo Paim – Bunge y Born – 17/10/2006
José Nardes – Sindicato Rural – 18/10/2006
94
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal
Nota: Os dados de 2005 são temporários
Quantidade produzida (Tonelada)
Soja (em grão)
Ano
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Brasil
25.682.637 23.166.874 26.392.636 31.307.440
30.987.476 32.820.826 37.907.25 42.107.618 51.919.440 49.549.941 51.182.050
Centro-Oeste
10.008.110 9.066.370 10.788.726 13.042.594
13.757.633 15.446.445 16.771.87 20.460.662 23.495.779 24.026.816 28.652.564
Mato Grosso
5.491.426 5.032.921 6.060.882 7.228.052
7.473.028 8.774.470 9.533.286 11.684.885 12.965.983 14.517.912 17.761.444
Norte Mato-
grossense – MT
3.063.234 2.765.633 3.517.001 4.520.411
4.520.411 5.497.870 6.309.144. 7.665.075 8.581.384 9.494.864 12.124.773
Nordeste Mato-
grossense - MT
488.252 328.486 415.704 500.632
456.708 630.140 668.571 897.716 1.117.649 1.334.467 1.809.219
Sudoeste Mato-
grossense – MT
80.610 73.874. 64.000 72.900
72.360 81.896 76.015 96.382 120.345 161.819 287.864
Centro-Sul Mato-
grossense - MT
62.739 45.756 59.690 77.602
63.737 74.999 89.267 102.790 158.702 207.755 244.720
Sudeste Mato-
grossense – MT
1.796.591 1.819.172 2.004.487 2.374.955
2.359.812 2.489.565 2.390.289 2.922.922 2.987.903 3.319.007 3.294.868
35
Quadro 1 – Quantidade de Soja Produzida entre os anos de 1995 e 2005
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal
Nota: Os dados de 2005 são preliminares
Quilogramas por Hectare
Soja (em grão)
Ano
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Brasil 2.199 2.249 2.297 2.353 2.372 2.403 2.710 2.573 2.802 2.300 2.230
Centro-Oeste 2.208 2.448 2.609 2.522 2.712 2.792 2.911 2.942 2.920 2.476 2.640
Mato Grosso 2.364 2.572 2.764 2.734 2.836 3.018 3.054 3.060 2.937 2.758 2.909
Norte Mato-
grossense – MT 2.364 2.565 2.777 2.698 2.801 3.010 3.073 3.037 2.970 2.781 3.054
Nordeste Mato-
grossense - MT 2.328 2.431 2.748 2.722 2.795 3.048 2.982 3.142 2.828 2.523 2.776
Sudoeste Mato-
grossense – MT 2.377 2.562 2.666 2.700 2.700 2.877 3.024 3.024 3.089 2.722 2.986
Centro-Sul Mato-
grossense - MT 2.344 2.321 2.593 2.695 2.630 2.684 2.670 2.670 2.730 2.625 2.588
Sudeste Mato-
grossense – MT 2.322 2.619 2.753 2.805 2.924 3.047 3.041 3.105 2.895 2.806 2.547
36
Quadro 2 – Quilogramas por Hectare de Soja entre os anos de 1995 e 2005
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal
Nota: Os dados de 2005 são preliminares
Área plantada (Hectare)
Soja (em grão)
Ano
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Brasil
11.702.919 10.356.156 11.508.120 13.319.749 13.0693.677 13.693.677 13.988.351 16.376.035 18.527.544 21.601.340 23.426.756
Centro-Oeste
4.554.047 3.706.111 4.134.582 5.179.481 5.073.635 5.537.597 5.760.201 6.954.722 8.046.733 9.734.271 10.882.566
Mato Grosso
2.338.926 1.956.148 2.192.514 2.643.389 2.636.175 2.906.648 3.121.408 3.818.231 4.414.496 5.279.928 6.121.724
Norte Mato-
grossense – MT
1.294.766 1.078.026 1.266.383 1.557.191 1.613.782 1.826.504 2.052.879 2.523.202 2.888.932 3.429.003 3.978.585
Nordeste Mato-
grossense - MT
209.725 135.119 151.264 183.860 163.665 206.736 224.183 285.625 395.185 529.881 651.648
Sudoeste Mato-
grossense – MT
34.050 28.831 24.000 27.000 26.800 28.463 25.137 31.200 39.201 59.430 96.401
Centro-Sul Mato-
grossense - MT
26.867 19.710 23.016 28.790 24.378 27.939 33.433 36.893 58.115 79.136 94.545
Sudeste Mato-
grossense – MT
773.518 694.462 727.851 846.548 807.550 817.006 785.776 941.311 1.033.063 1.182.478 1.300.545
Primavera do
Leste – MT
167.445 147.352 143.329 159.000 146.000 170.000 183.000 220.000 251.000 262.680 278.189
37
Quadro 3 – Área Plantada de Soja entre os anos de 1995 e 2005
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