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perfil de hostilidade compreensível. É que nos vencia um ambiente pesado, de falsa cultura
clássica, em seu tradicionalismo intocado (Ibid., p. 24-25).
O Modernismo não foi um movimento homogêneo, no sentido de ter sido facilmente
aderido pelos intelectuais brasileiros. Sua proposta ousada e original foi motivo de fortes
reações por parte dos mais conservadores. Além disso, a notícia sobre o movimento e o
acompanhamento de suas atividades só chegava tardiamente em muitos lugares do país, já na
década de 1920 ainda havia um problema sério de comunicação e o transporte rodoviário
também era dificultado pelas péssimas condições de tráfego nas estradas.
Se a proximidade de Feira de Santana com Salvador resultou em alguma influência
para a cultura literária feirense, esta pode ter sido a aceitação e a imitação de modelos pré-
modernistas, especialmente na arte poética, predominantes e irrestritamente praticados por
boa parte dos escritores da Capital. Com efeito, até mesmo na seleção de poemas de escritores
de fora da cidade feita pelos editores da Folha do Norte, para publicação na seção “Folha
social”
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, fica evidente as preferências literárias que correspondem a gostos e valores
socialmente compartilhados na sociedade feirense, pelos leitores dos suplementos literários do
jornal, por sua elite em particular. É provável que a elite feirense tenha tido um contato maior
com estas produções, não só por meio do jornal, mas também por meio de livros, por seus
membros terem sido educados de acordo com certos modelos de leitura e escrita considerados
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Eis a lista de escritores nacionais, muitos de tendências pré-modernistas e alguns modernos, que apareceram
na Folha do Norte entre 1951 e 1969, e o número respectivo de poemas seus aí transcritos: Adalgisa Nery (1),
Alphonsus de Guimaraens (3), Alberto de Oliveira (1), Albino Forjaz de Sampaio (1), Allegretti Filho (1),
Álvares de Azevedo (1), Anatalino A. Motta (11), Aníbal Teófilo (1), Anísio Melhor (1), Antero Bloem (1),
Antero de Alencar (1), Antonio Ferreira da Mota Júnior (1), Antonio Nadyer (1), Antonio Pereira da Mota Júnior
(17), Antonio Sales (1), Antonio Zoppi (1), Aristides Araújo (8), Arthur de Sales (3), Artur Azevedo (2), Atos
Damasceno Ferreira (1), Augusto de Lima (1), Augusto dos Anjos (1), Augusto Frederico Schmidt (3), Belmiro
Braga (1), Benedita de Mello (1), Berilo Neves (1), Bráulio de Abreu (1), Camilo de Jesus Lima (2), Camões (1),
Carlos Henrique Pires (1), Carvalho Filho (1), Cassiano Ricardo (3), Castro Alves (4), Cezario de Mello (1),
Christovam de Camargo (1), Ciro Costa (1), Ciro Vieira da Cunha (1), Cleômenes de Campos (2), Coelho Neto
(1), Confúcio (1), Constancio C. Vigil (1), Cruz e Souza (2), Da Costa e Silva (2), Demóstenes Martins (2), Dom
Frei Henrique G. Trindade (2), Domingos Rocha Barcellos (3), Emílio de Menezes (9), Eno Theodoro Wanke
(41), Ernesto Leal (1), Euricledes Formiga (1), Felix Pacheco (1), Francisco de Paula Franco (1), Gilka Machado
(1), Guilherme de Almeida (2), Heitor Maurano (1), Heitor Saldanha (1), Henrique Castriciano (1), Humberto de
Campos (2), Ibn Al-Farid (1), J. Batista Cepelos (1), J. G. de Araújo Jorge (5), J. Wanderley (1), Jansen Filho
(1), João da Cruz e Sousa (1), Joaquim Mauricio Cardoso (1), Jorge de Lima (4), José Eloy Ottoni (1), Judas
Isgorogota (2), Julio Mello e Silva (1), Julio Salusse (1), Laurindo Rabelo (1), Leopoldo Braga (1), Luiz Delfino
(1), Luiz Guimarães Junior (2), Luiz Otávio (2), Machado de Assis (4), Manuel Bandeira (6), Mariano Félix
Góes (1), Mário Linhares (1), Marques da Cruz (1), Martins Fontes (1), Moniz Bandeira (1), Múcio Teixeira (1),
Murilo Araújo (3), Natur de Assis (1), Newton Rossi (1), Nidoval Reis (1), Olavo Bilac (14), Olegário Mariano
(7), Padre Antonio Tomaz (2), Padre Hilarião Sanchez (2), Paulo Setúbal (1), Petrarca Maranhão (3), Raimundo
Zurel Correia Borges (2), Raul de Leoni (1), Raul Machado (1), Rodrigues de Abreu (1), Soares Bulcão (1),
Solimar de Oliveira (1), Vicente de Carvalho (3), Vinicius de Morais (1), Waldemar Pequeno (1) e Yára Nathan
(1).