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expressão do poder sobre-humano da ciência e da técnica colocadas a serviço
da destruição da humanidade” (LEFF, 2004, p.87). A natureza se transforma
em objeto de compreensão do conhecimento humano com fins utilitaristas que,
associando-se às leis da ciência, foi subdividida em física, química, biologia, e
o homem em antropologia, filosofia, economia, história etc. Assim, qualquer
tentativa de pensar o homem e a natureza orgânica e integradamente se tornou
falha, pois a separação não se efetuava apenas no nível do pensamento, mas
também da realidade objetiva construída pelo homem (OLIVEIRA, 2005).
Diante deste contexto Zaidán (1995, p.119) diz que,
essa impiedade cósmica produzida pelo/no pensamento
moderno é levado a extremos na pós-modernidade, onde o
sujeito/trabalho é substituído pela linguagem, pelo símbolo, por
uma economia política de significação. Aí o conceito de uma
Natureza des-substancializada e transformada num mero
abstrato vazio à disposição dos caprichos humanos é trocada
pelo de um simulacro (mais que perfeito) hiper-realizado do
mundo. Aqui opera-se uma dupla elisão: a do sujeito e a do
objeto, e a única coisa que sobrevive é a linguagem, um
sistema de signos sem significação. O simulacro expropia do
homem e da natureza todas as suas relações, interpondo-se
entre um e outro.
Prosseguindo nesse pensamento, Buzzi (1988, citado por Zaidán, 1995,
p.128) menciona que
as pessoas simulam se comunicar, amar, passear, viver a
natureza. A ideia de natural e natureza passa a ser simbólica e
imaginária, destinada à indução de um consumismo tão estéril
quanto depredador dos bens naturais. Só o que é possível de
ser consumido e descartado é natural, o resto é uma
lembrança esmaecida de uma sociedade pré-tecnológica, onde
ainda valia a pena perceber e chamar de bonito, agradável,
amorável um pôr-do-sol ou um amanhecer, época onde a
natureza tinha cor, cheiro e tangibilidade, ou seja, a que se
possa tocar e apalpar.
A crise ambiental se torna evidente nos anos 60, refletindo-se na
irracionalidade ecológica dos padrões dominantes, de produção e consumo,
marcando os limites do crescimento econômico e iniciando o debate teórico e
político para valorizar a Natureza. Esse período foi caracterizado pelo
surgimento da “consciência ambiental”, quando foram assinalados os limites da
racionalidade econômica e os desafios da degradação ambiental ao projeto
civilizatório da modernidade (LEFF, 2004).