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Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação
Programa de Pós-graduação em Design
AVALIAÇÃO DE FORÇA DE TORÇÃO MANUAL INFANTIL:
O DESIGN ERGONÔMICO APLICADO AO DESENVOLVIMENTO DE
TAMPAS SEGURAS PARA EMBALAGENS DE DOMISSANITÁRIOS
Laura Schaer Dahrouj
Prof. Dr. Luis Carlos Paschoarelli
(Orientador)
Bauru – 2009
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Laura Schaer Dahrouj
AVALIAÇÃO DE FORÇA DE TORÇÃO MANUAL INFANTIL:
O DESIGN ERGONÔMICO APLICADO NO DESENVOLVIMENTO DE
TAMPAS SEGURAS PARA EMBALAGENS DE DOMISSANITÁRIOS
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Design (área de concentração:
Desenho do Produto; linha de pesquisa: Ergonomia), da
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da
Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita
Filho”, campus de Bauru, como exigência para a
obtenção do título de Mestre
.
Orientador: Prof. Dr. Luis Carlos Paschoarelli
Bauru – 2009
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Dahrouj, Laura Schaer.
Avaliação de força de torção manual infantil: O
design ergonômico aplicado ao desenvolvimento de
tampas seguras para embalagens de domissanitários
/ Laura Schaer Dahrouj, 2009.
82 f.
Orientador: Luis Carlos Paschoarelli
Dissertação (Mestrado)–Universidade Estadual
Paulista. Faculdade de Arquitetura, Artes e
Comunicação, Bauru, 2009
1. Design. 2. Ergonomia. 3. Tampas. I.
Universidade Estadual Paulista. Faculdade de
Arquitetura, Artes e Comunicação. II. Título.
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6
BANCA DE AVALIAÇÃO
Prof. Dr. Luis Carlos Paschoarelli
Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”
Orientador
Prof. Dr. José Carlos Plácido da Silva
Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”
Profa. Dra. Maria Lucia Leite Ribeiro Okimoto
Universidade Federal do Paraná
Prof. Dr. Joao Eduardo Guarnetti dos Santos
Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”
Prof. Dr. José Jorge Boueri Filho
Universidade de São Paulo
Dedicatória
DedicatóriaDedicatória
Dedicatória
Todo o empenho despendido para a realização
deste trabalho sempre foi dedicado às pessoas que
em mim confiaram.
E neste momento, não poderia me esquecer de
pessoas tão especiais como meu companheiro e
incentivador de todas as horas, Wellington
WellingtonWellington
Wellington; minha
mãe e porto seguro, Lúcia
LúciaLúcia
Lúcia; minha querida irmã
Carina
CarinaCarina
Carina; minha sempre amiga Mileni
Mileni Mileni
Mileni; e meu
amado pai, Aumar
AumarAumar
Aumar, sempre presente em minhas
lembranças.
AGRADECIMENTOS
Inicialmente agradeço ao Prof. Dr. Luis Carlos Paschoarelli, meu orientador de longa data,
pela confiança e por todos os valiosos ensinamentos durante todo meu desenvolvimento
acadêmico e pessoal.
Aos amigos do Laboratório de Ergonomia e Interfaces pelos momentos de convívio e pelo
apoio na realização desta pesquisa, especialmente ao Danilo Correa, que me auxiliou na
construção dos equipamentos e nos pré-testes, e ao Victor Herrera com quem pude contar
nas visitas às escolas e em toda a coleta de dados.
Aos amigos da Pós-Graduação com quem dividi momentos importantes de aprendizado, em
especial durante a disciplina ministrada pelo Prof. Dr. José Carlos Plácido da Silva. E, a este
professor, sendo para mim um exemplo, agradeço a contribuição para o desenvolvimento
desta pesquisa e para minha formação pessoal.
Aos professores: Maria Lucia Leite Ribeiro Okimoto, João Eduardo Guarnetti dos Santos e
José Jorge Boueri Filho, por participarem da qualificação e defesa, contribuindo neste
trabalho. Ao professor Henrique Salgado pela ajuda no tratamento estatístico dos dados.
A todos os professores da Pós-Graduação e aos funcionários, Helder Gelonezi e Silvio
Carlos Decimone, por possibilitarem um ambiente bastante propício e agradável para o
desenvolvimento de todos os alunos.
À Rosany Bochner, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz e coordenadora do SINITOX,
que nos recebeu tão cordialmente em seu local de trabalho e colaborou significativamente na
compreensão dos aspectos envolvidos na problemática abordada neste estudo, cedendo
materiais importantes para sua execução.
À FAPESP Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo, pelo financiamento
desta pesquisa, por meio de concessão de bolsa de estudos e compra de equipamentos.
À Secretaria Municipal de Ensino da cidade de Bauru - SP, por autorizar a realização desta
pesquisa nas escolas infantis, e às diretoras, professoras e funcionários destas unidades por
nos receberem tão prontamente e colaborarem para a viabilização da pesquisa. Aos
responsáveis pelas crianças, que compreenderam e autorizaram a participação das mesmas
no estudo.
E, por fim, agradeço a minha família e amigos pelo imenso apoio nos momentos difíceis e,
por estarem sempre ao meu lado, de uma forma ou de outra, nos momentos de conquista.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..................................................................................................1
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.........................................................................3
2.1. Embalagens e Interface ............................................................................3
2.2. Água Sanitária: Agente de intoxicação ..................................................5
2.3. EEPC – Embalagens Especiais de Proteção à Criança .........................8
2.4. Avaliações de Toque na Abertura de Embalagens.............................10
2.5. Forças Manuais Infantis ..........................................................................13
3. JUSTIFICATIVAS .........................................................................................18
4. OBJETIVOS ....................................................................................................20
4.1. Objetivo Geral...........................................................................................20
4.2. Objetivos Específicos ...............................................................................20
5. METODOLOGIA.............................................................................................21
5.1. Aspectos Éticos .........................................................................................22
5.2. Sujeitos ......................................................................................................22
5.3. Materiais.....................................................................................................25
5.3.1. Equipamentos de Medição.................................................................25
5.3.2. Embalagens de Água Sanitária.........................................................27
5.3.3. Protocolo...............................................................................................31
5.4. Procedimentos.......................................................................................32
5.4.1. Preparação dos Materiais – Embalagens........................................32
5.4.2. Coleta de Dados ..................................................................................35
5.4.3. Análise e discussão dos resultados .................................................40
6. RESULTADOS ................................................................................................41
6.1. Resultados Descritivos - Antropometria ..............................................42
6.2. Resultados Descritivos – Torque ...........................................................44
6.3. Resultados Analíticos – Antropometria ................................................45
6.4. Resultados Analíticos – Torque..............................................................47
7. DISCUSSÃO ...................................................................................................51
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................61
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Tampa “press and turn” de proteção à criança ...................... 9
Figura 2: Embalagem simulada para medição de torque......................11
Figura 3: Exemplo da mensuração da FPP e FPD ................................14
Figura 4: Mapa de localização das escolas abordadas..........................24
Figura 5: Equipamentos de Medição - Torquimetro e AFG....................25
Figura 6: Apoio para as mãos ..........................................................26
Figura 7: Apoio para os pés .............................................................26
Figura 8: Apoio para a balança.........................................................27
Figura 9: Desenho das 8 (oito) embalagens de água sanitária..............28
Figura 10: Local da pega na embalagem ...........................................28
Figura 11: Dimensões das embalagens (Dimensões em milímetros) .....29
Figura 12: Tampas selecionadas para a coleta de torque.....................30
Figura 13: Tampas utilizadas na coleta .............................................31
Figura 14: Preparação das embalagens – Cano de PVC .......................33
Figura 15: Preparação das tampas ...................................................33
Figura 16: Torquimetro no interior da embalagem..............................34
Figura 17: Garrafas para o teste de torque........................................35
Figura 18: Coleta do máximo torque - Sujeitos ..................................37
Figura 19: Coleta das medidas antropométricas das mãos...................38
Figura 20: Medição da Estatura e Peso..............................................39
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Avaliações de Torque - Estudos..........................................11
Tabela 2:
Força de Preeno Palmar (FPP) e Foa de Preensão Digital (FPD)
..15
Tabela 3: Distribuição dos Sujeitos nas Escolas ..................................23
Tabela 4:
Análise estatística entre as coletas de Torque (Test "t" de Student)
.41
Tabela 5: Resultados Descritivos da Antropometria – Peso e Estatura ...42
Tabela 6: Resultados Descritivos da Antropometria - Mãos ..................43
Tabela 7: Resultados Descritivos da Coleta de Torque.........................44
Tabela 8: Resultados Descritivos – Valores Máximos Absolutos ............45
Tabela 9: Resultados Analíticos da Coleta de Torque...........................46
Tabela 10:
Análise estatística entre variáveis dependentes e independentes
...48
Tabela 11: Correlação: variáveis antropométricas e torque .................49
RESUMO
AVALIAÇÃO DE FORÇA DE TORÇÃO MANUAL INFANTIL: O DESIGN
ERGONÔMICO APLICADO NO DESENVOLVIMENTO DE TAMPAS SEGURAS
PARA EMBALAGENS DE DOMISSANITÁRIOS
. O design de embalagens de
produtos de consumo deve atender a vários aspectos como segurança, conforto,
eficácia, estética, entre outros. Estes elementos devem contemplar as características e
capacidades dos usuários, considerando especialmente a força manual no design
ergonômico das embalagens, com o objetivo de disponibilizar produtos confiáveis e
seguros, de fácil acesso para usuários com capacidades limitadas (idosos) ou de difícil
acesso para aqueles indivíduos que não são usuários e não deveriam acessar o produto
(crianças). A falta de parâmetros biomecânicos adequados e confiáveis, de todas as
faixas populacionais, incluindo as crianças, parece ser uma das causas que ainda
impede os designers e a indústria de embalagens de desenvolver produtos com tampas
realmente seguras. Produtos com alto potencial tóxico, como a água sanitária, o
disponibilizados em embalagens com tampas que não impedem a ocorrência de
acidentes e estão relacionados a elevados números de intoxicações envolvendo
crianças. Por este motivo, o propósito desta pesquisa foi verificar as forças de
manipulação empregadas durante a abertura de embalagens de água sanitária,
especificamente a força de torção, ou torque, exercida por crianças (faixa etária de 2 a 5
anos) na abertura de tampas com sistema de rosca, visando apresentar parâmetros
mínimos para o projeto de embalagens com tampas seguras. A metodologia empregada
nesta pesquisa envolveu a utilização de três embalagens reais, adaptadas para a
mensuração de torque. As três tampas analisadas possuíam dimensões diferentes e os
resultados indicam uma forte influência desta variável na capacidade de aplicação de
torque pelos sujeitos. Neste sentido, as dimensões recomendadas para as tampas de
produtos com potencial tóxico devem ser próximas às apresentadas pela tampa de
menor diâmetro desta avaliação, cujo design permitiu menor capacidade de aplicação
de torque pelas crianças, o que dificultaria o acesso das mesmas, numa situação real,
ao produto tóxico. Visto que o movimento biomecânico analisado nesta pesquisa é
empregado em outras atividades da vida diária e considerando que o público infantil
realiza interface com diversos produtos, os resultados deste estudo podem, ainda,
contribuir para a melhor usabilidade e segurança relacionadas a outros designs.
Palavras-chaves:
design ergonômico, embalagem, tampas, força manual, torque.
13
ABSTRACT
EVALUATION OF INFANTILE MANUAL TORSIONAL FORCE: THE APPLIED
ERGONOMIC DESIGN IN THE DEVELOPMENT OF SAFE COVERS FOR
DOMISANITARY PACKS.
The Design of consumption products packs must take care of
some aspects, as security, comfort, effectiveness, aesthetic, among others. These elements
must especially contemplate the characteristics and capacities of the users, being
considered the manual force in ergonomic design of the packs, with the objective of to make
available trustworthy and safe products, or still, easy access for those users with limited
capacities (aged) or difficult access for those individuals that are not using and they must not
have access the product (children). The lack of adequate and trustworthy biomechanic
parameters, of all the population bands, including the children, seems to be one of the
causes that still designers hinders and the industry of packs to develop products with really
safe covers. Products with high toxic potential, as the sanitary water, are available in packs
with covers that do not hinder the occurrence of accidents and, for this and other reasons are
related the raised numbers of poisonings involving children. In this way, the intention of this
research was to verify the used forces of manipulation during the opening of sanitary water
packs, specifically the torsional force, or torque, exerted for children (age band between 2
and 5 years) in the opening of covers with thread system, aiming at to present minimum
parameters for the project of packs with safe covers. The methodology used in this research
involved the use of three real packs, adapted for the measure of torque. The three analyzed
covers had different dimensions and the results indicate one strong influence of this variable
in the capacity of application of torque for the citizens. In this direction, the dimensions
recommended for the covers of products with toxic potential must be next to the presented
ones for the cover to lesser diameter of this evaluation, whose design allowed to minor
capacity of application of torque for the children. This would make the access difficult to the
same ones, in a real situation, to the toxic product. Since the analyzed biomechanic
movement in this research is used in other activities of daily life and, considering that the
infantile public carries through interface with diverse products, the results of this study can
still contribute for the best usability and security related to other designs.
Key words: ergonomic design, packs, coverings, manual strength, torque.
1
1. INTRODUÇÃO
O uso de embalagens de produtos de consumo deve ocorrer de forma
eficiente, confortável e segura. Para que isto ocorra, o design destes produtos deve
considerar a interface entre o usuário e a embalagem.
Evoluções tecnológicas vêm possibilitando o design de sistemas de aberturas
que pretendem facilitar o uso dos produtos. No entanto, quando as reais
capacidades dos usuários não são consideradas, é comum a ocorrência de
acidentes durante a utilização das embalagens, podendo inutilizar ou desperdiçar o
produto e, mais gravemente, ocasionar ferimentos.
O design de embalagens deve, ainda, considerar os indivíduos que não são
usuários e, por este motivo, não deveriam ter acesso ao produto, mesmo em contato
com a embalagem. Esta situação ocorre com produtos de potencial tóxico,
disponibilizados pela indústria em embalagens que atendem satisfatoriamente aos
aspectos mercadológicos (cores e rótulos atraentes), mas cujas tampas,
normalmente inadequadas, não impedem possíveis acidentes de intoxicação. As
maiores vítimas de intoxicação por ingestão são crianças que, naturalmente, levam
os objetos à boca.
Muitos o os produtos capazes de provocar intoxicação no ambiente
doméstico, como medicamentos, cosméticos e domissanitários e, dentre estes, a
água sanitária é a principal.
A questão das forças empregadas no manuseio destes produtos pode ser
utilizada no design ergonômico das embalagens com o objetivo de disponibilizar
produtos confiáveis e seguros, de fácil acesso para aqueles usuários com
capacidades limitadas (idosos) ou de difícil acesso para aqueles indivíduos que não
são usuários e não deveriam acessar o produto (crianças).
2
A falta de parâmetros biomecânicos adequados e confiáveis, de todas as
faixas populacionais, incluindo os idosos e as crianças, especificamente sobre as
forças manuais, parece ser uma das causas que ainda impede os designers e a
indústria de embalagens de oferecer produtos com tampas realmente seguras.
Um dos objetivos do design ergonômico é proporcionar a segurança na
interface usuário/produto e, portanto, o propósito desta pesquisa foi verificar as
forças de manipulação, especificamente a força de torção, empregadas por crianças
durante a abertura de embalagens de água sanitária de tampas com sistema de
rosca, visando apresentar parâmetros mínimos para o projeto de embalagens com
tampas seguras.
3
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. Embalagens e Interface
O Design de sistemas de aberturas para embalagens de produtos de
consumo deve atingir a eficácia de sua função, ou seja, permitir o acesso do usuário
ao produto de forma confortável e segura. Para isso, seus elementos devem
considerar, entre outros fatores, as capacidades dos usuários.
Em alguns países são conduzidas pesquisas constantes para se avaliar o uso
e a interface com embalagens. Desde 1975, o Swedish Packaging Research
Institute da Suécia registra relatos de consumidores acerca de problemas
encontrados durante a interface com as embalagens, dos quais se destacam a
dificuldade de manuseio das mesmas e informações inadequadas em seus rótulos
(BERNS, 1981). As informações contidas nos rótulos devem instruir o usuário,
maximizando sua conveniência e minimizando possíveis erros. Quanto às
dificuldades no manuseio, estão associadas as questões físicas relacionadas à força
e às habilidades dos usuários.
Os problemas na interface com as embalagens de produtos de consumo
podem ser graves e ocasionar ferimentos nos usuários, porém, o que ocorre com
maior freqüência são as dificuldades de abertura e a abertura inadequada das
embalagens, havendo desperdício ou tornando o produto inutilizável.
Ivergard et al. (1978 apud IMRHAN, 1994) observaram em seus estudos que
as pessoas preferem mecanismos de abertura que não exijam o uso de nenhum tipo
de ajuda. Estes mecanismos devem permitir o acesso ao produto de forma
adequada, caso contrário o usuário recorre ao auxílio de facas, tesouras ou outros
instrumentos.
4
Zerbetto e Silva (2006) realizaram uma análise ergonômica do manuseio de
embalagens de molho de tomate, fabricadas em folhas-de-flandres. O estudo
analisou três embalagens com sistemas de abertura diferentes: easy open, full open-
top e sanitária. Foram registradas diversas queixas dos usuários em relação aos
sistemas de abertura. O sistema full open-top apresenta problemas em relação ao
diâmetro do anel para a extração da tampa, inferior ao recomendado pelos padrões
ergonômicos. o sistema easy open normalmente requer o auxílio de outro
instrumento para a retirada do lacre.
Observa-se que muitas destas dificuldades envolvem pessoas canhotas, uma
vez que a grande maioria das aberturas das embalagens é projetada para ser aberta
por sujeitos destros (WINDER et al., 2002).
De acordo com este autor, os índices de acidentes, em geral, declinam com a
idade, provavelmente refletindo o fato de que pessoas idosas passam menos tempo
com afazeres domésticos e, portanto, com menor contato com as embalagens. Além
disso, com o aumento da idade as pessoas se tornam mais prudentes e passam a
adotar estratégias para abrirem com maior facilidade determinados tipos de
embalagens (BUTTERS e DIXON, 1998 apud WINDER et al., 2002).
Mesmo assim, no Canadá, estima-se que 67 mil pessoas, a cada ano,
procuram hospitais devido a acidentes envolvendo embalagens. Recipientes de
plástico estão relacionados a 14% dos acidentes dos quais, uma grande proporção
envolve intoxicações, que ocorrem quando crianças ingerem todo ou parte do
conteúdo tóxico (WINDER, 2002).
5
2.2. Intoxicação
Dados brasileiros do SINITOX (Sistema Nacional de Informações Tóxico-
Farmacológicas) apontaram que em 2003 crianças menores de 5 anos
representaram significativos 24,7% (um quarto) do total de casos de intoxicações
(BOCHNER, 2005), o que demonstra que acidentes de intoxicação se concentram
naquela faixa etária.
Também nos EUA são registrados, a cada ano, em Centros de Controle de
Intoxicação, mais de cem milhões de casos de intoxicações acidentais envolvendo
crianças na mesma idade (BEIRENS et al., 2006).
Quanto aos agentes de intoxicação, destacam-se, no Brasil, os medicamentos
(38,3%), os domissanitários (18,0%) e os produtos químicos industriais (8,7%)
(SINITOX, 2003). Observa-se que os medicamentos são os mais significativos
responsáveis pelos acidentes de intoxicação, no entanto, os domissanitários, ou
seja, produtos de uso domiciliar destinados à limpeza, desinfecção e desodorização
de superfícies fixas (FERRAZ, 1982 apud FERREIRA et al., 2006) apresentaram-se
perigosos, mesmo que muitas vezes aparentem ser inofensivos.
Segundo Ozanne-Smith (2001), depois das quedas a intoxicação é a maior
causa de acidentes com crianças na faixa etária de 0 a 4 anos.
Segundo o IDEC – Instituto de Defesa do Consumidor (2004), 60% dos casos
de intoxicação registrados no Brasil em 1998 ocorreram acidentalmente, ou seja,
poderiam ter sido evitados. Dentre eles, 42% das vítimas foram crianças, que
tiveram contato com produtos tóxicos no ambiente doméstico, sejam medicamentos,
produtos de limpeza ou pesticidas domésticos.
Estudos apontam que o momento mais vulnerável para ocorrer um acidente
de intoxicação é quando o produto tóxico está em uso durante as atividades de
limpeza (OZANNE-SMITH, 2001), permanecendo no chão ou em locais de fácil
6
acesso às crianças, o que demonstra o grande perigo de embalagens inseguras
para domissanitários.
Segundo Bochner (2005), o CEATOX/SP (Centro de Atendimento
Toxicológico de São Paulo) registrou, em 2003, 13.344 casos de intoxicação
humana, sendo que os principais agentes tóxicos foram os medicamentos (28,2%),
os animais peçonhentos (24,1%) e os domissanitários (8,2%). Considerando que as
embalagens tanto dos medicamentos quanto dos domissanitários são produtos
resultantes de projeto (design), representam um fator potencial capaz de determinar
a minimização desses casos.
Informações do CCI-SP (Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo)
apontam que dentre os domissanitários, a água sanitária é a maior responsável
pelos acidentes de intoxicação (CALDEIRA, 2007). De acordo com o CEATOX/SP,
entre os meses de agosto de 2003 e março de 2004, ocorreram 483 casos de
intoxicação por água sanitária, em média 54 por mês. O problema é agravado pela
existência de produtos clandestinos, que não contêm informações sobre os
componentes da fórmula e que utilizam corantes para torná-los mais atrativos no
momento da venda. Tais corantes além de nocivos à saúde, tornam os produtos alvo
do consumo pela criança por confundi-los com uma bebida, que existe a
reutilização de embalagens de refrigerantes para o armazenamento dos mesmos
(INMETRO, 2007).
A água sanitária é produzida a partir da mistura de água com hipoclorito de
sódio e é destinada à limpeza de superfícies, branqueamento de tecidos,
desinfecção de alimentos como verduras, legumes e frutas, eliminando germes e
bactérias, evitando doenças. A comercialização da água sanitária é permitida
perante o registro na Anvisa Agência Nacional de Vigilância Sanitária (INMETRO,
2007).
7
Em 2004, o IDEC avaliou embalagens de domissanitários, dispensando
especial atenção às tampas. As avaliações das caractesticas técnicas
demonstraram que a maioria dos produtos existentes no mercado não oferece
condições de segurança necessárias ao seu comércio, transporte, ou mesmo ao
uso, por apresentar tampas sem quaisquer dispositivos de lacre, facilitando assim
vazamentos e acidentes domésticos. Testes como os realizados pelo IDEC são
relevantes, no entanto, não consideram a interface do usuário com os produtos.
Nesse sentido, o design ergonômico apresenta ferramentas importantes, as quais
procuram conhecer as capacidades e limitações dos usuários, disponibilizando
dados adequados para o design de produtos, caso em que pode apresentar
soluções mais apropriadas para a mudança no design das embalagens e tampas.
No Brasil, os métodos mais convencionais para a redução do número de
acidentes de intoxicação infantil são as advertências presentes nos rótulos das
embalagens de produtos com potencial tóxico. Tais advertências, muitas vezes
pouco evidenciadas nos rótulos, não são elementos suficientes para evitar acidentes
dessa natureza.
Embalagens com tampas possuindo mecanismos de manipulação e/ou força
acima das capacidades infantis são obrigatórias para determinados produtos em
alguns países, e são utilizadas com o objetivo de evitar acidentes de intoxicações.
No entanto, de acordo com Ivergard et al. (1978 apud BERNS, 1981), um dos
maiores incômodos relatados pelos usuários é a sua dificuldade para abrir as
embalagens com sistemas de proteção à criança, quando apenas estas deveriam
encontrar resistência para fazê-lo.
8
2.3. EEPC – Embalagens Especiais de Proteção à Criança
No Brasil, o projeto de Lei 4841-A/94, em tramitação no Congresso
Nacional, visa a adoção da Embalagem Especial de Proteção à Criança (EEPC) em
medicamentos e produtos químicos de uso doméstico que apresentem risco
potencial à saúde. Segundo a legislação, a embalagem deverá ser confeccionada de
modo que seja significativamente difícil para uma criança com menos de cinco anos
de idade abri-la, e que não seja difícil sua abertura por um adulto (BOCHNER,
2005). Tal projeto da Lei brasileira é baseado em legislações estrangeiras. Nos EUA,
as embalagens de proteção à criança são adotadas desde 1970, a partir de quando
foi constado um grande declínio dos casos de intoxicação infantil.
Naquele país, para se avaliar a eficácia das embalagens especiais, CRP -
Child Resistant Prevention, foi desenvolvida uma metodologia que considera
crianças, adultos e idosos. O teste deve ocorrer com 50 a 200 crianças com idade
de 3,5 anos a 4,5 anos. Durante cinco minutos, no mínimo 85% das crianças não
devem conseguir abrir a embalagem, isto sem a demonstração de como é o sistema
de abertura. Depois de demonstrar como é o processo de abertura, no mínimo 80%
das crianças ainda não devem conseguir abrir a embalagem. Os adultos devem ser
distribuídos em um grupo de 100 pessoas com idade de 18 a 45 anos e outro grupo
também de 100 pessoas com idade de 50 a 70 anos; a embalagem especial deve ter
eficiência de 90%, ou seja, no máximo até 10% dos adultos podem não conseguir
abrir a embalagem (PATTIN, 2003).
Thien e Rogmans (1984) observam que indústria e governo de muitos países
ainda relutam em adotar medidas regulamentadoras para embalagens seguras às
crianças, bem como de se estender tais medidas a outros grupos de produtos.
Em um estudo sobre problemas encontrados na interface com produtos de
consumo, Winder et al. (2002) apontaram que, de 200 sujeitos entrevistados, 31,5%
9
disseram que os mecanismos de proteção à criança dificultam a abertura de
embalagens. Este tipo de problema ocorre principalmente com pessoas idosas,
que a maioria dessas embalagens exige demasiada força muscular; esta, por sua
vez, aos 65 anos de idade é cerca de 80% do que era dos 20 aos 30 anos
(ASTRAND e RODAHL, 1977 apud IMRHAN, 1994).
O mesmo problema é constatado em outros estudos: uma pesquisa realizada
com consumidores pelo CPSC Consumer Product Safety Commission, nos EUAs
em 1980, apontou que pessoas idosas preferem embalagens com tampas normais,
por encontrarem dificuldades na abertura de embalagens com sistema de proteção à
criança (THIEN e ROGMANS, 1984). Estes autores testaram o acesso dos idosos a
embalagens com sistemas de proteção à criança e constataram que apenas
embalagens muito fáceis de abrir passariam no teste para o acesso dos idosos.
Existem diversos tipos de sistemas desenvolvidos para dificultar o acesso de
crianças a produtos com potencial tóxico. Entre eles, estudos demonstram que o
dispositivo de abertura press and turn (Figura 1) é apontado como o mais difícil do
ponto de vista de força solicitada dos consumidores (IVERGARD et al., 1978, apud
BERNS, 1981).
Figura 1: Tampa “press and turn” de proteção à criança (Fonte: SKS-SCIENCE, 2008)
Apesar dos problemas encontrados, as embalagens especiais de proteção à
criança têm se mostrado, nos países em que são obrigatórias, eficientes na redução
do número dos casos de intoxicações. E que apesar das dificuldades na abertura, a
grande maioria dos pais de crianças pequenas atesta que as embalagens especiais
10
são importantes na redução dos acidentes e, segundo eles, problemas encontrados
durante a abertura por algumas pessoas são aceitáveis quando comparado à
segurança das crianças (THIEN e ROGMANS, 1984).
Observa-se, no entanto, que é preciso considerar durante o design de tampas
seguras que, quanto menor é o grau de complexidade do sistema de abertura da
embalagem, maior será o grau de aceitação pelos adultos e também pelos idosos.
Assim, é importante que se conheçam as reais capacidades de força manual
da população, incluindo crianças e idosos, envolvidas na tarefa de abertura de
embalagens.
2.4. Avaliações de Toque na Abertura de Embalagens
O corpo humano apresenta articulações esqueléticas que podem ser
dispostas de modo a assumir diferentes posturas de todo o corpo ou de segmentos
locais que aperfeiçoam a capacidade de aplicação das forças manuais, (IMRHAN,
1994). Esta propriedade humana ocorre a todo momento, em diversas atividades da
vida diária, como por exemplo, durante a abertura de embalagens.
Neste sentido, a força de torção manual, ou torque, está relacionada ao
esforço exercido na abertura de tampas com sistema de rosca, e a unidade de
medida desta força é Newton-metro (N.m).
Diversos estudos (Tabela 1) vêm sendo realizados num esforço em conhecer
melhor os aspectos que interferem na aplicação do torque durante a abertura de
embalagens de medicamentos e de outros produtos similares.
A Tabela 1 expõe as características de três estudos similares sobre a
mensuração de torque, envolvido na abertura de embalagens.
11
Tabela 1: Avaliações de Torque - Estudos
Autor
País do
Estudo
População do
estudo
Equipamentos
utilizados
Observações
Peebles e
Norris (2000)
Inglaterra
2 a 90 anos
(144sujeitos)
Célula de carga (strain
gauges) acondicionada
em embalagens
simuladas (tampas com
e sem textura, ø 45, 65
e 85 mm).
Verificaram o torque (sentido anti-
horário) com a mão dominante. Os
sujeitos adotaram postura livre e
foram orientados a exercer sua
máxima força e mantê-la por alguns
segundos.
Berns
(1981)
Suécia
20 a 71+ anos
(198 sujeitos
“normais” e
87 com
“desordem
que afeta as
mãos)
Célula de carga (strain
gauges) acondicionada
em embalagens
simuladas (tampas com
e sem textura, ø 73, 85
e 28 mm).
Testes divididos em torque
“confortável” e “máximo”, sem
repetição. Utilizou-se uma bancada
de apoio de 85 cm de altura.
Voorbij e
Steenbekkers
(2002)
Holanda
20 a 80+ anos
(750sujeitos)
Transdutor de torque
acondicionado em uma
embalagem simulada
com tampa de 66 mm
de diâmetro
Verificaram o torque (sentido anti-
horário) com as duas mãos, houve
repetição do teste (sem diferença
significativa).
Os sujeitos adotaram postura livre.
Observa-se na Tabela 1 que todos os estudos simulam a abertura de
embalagens para a avaliação do torque. Para isso são confeccionadas embalagens
simuladas dentro das quais é acondicionado o equipamento utilizado para a
mensuração da força aplicada. A Figura 2 apresenta tal simulação.
Figura 2: Embalagem simulada para medição de torque
(Fonte: VOORBIJ e STEENBEKKERS, 2002)
12
No estudo de Peebles e Norris (2000), até os 60 anos de idade não foram
encontradas diferenças significativas nos torques entre os gêneros, porém os
sujeitos masculinos acima dos 60 anos apresentaram torques mais elevados que as
mulheres. Dos 2 aos 15 anos de idade o máximo torque aumenta gradativamente,
atingindo o pico durante a maturidade e decrescendo a partir dos 50 anos. Quanto
ao diâmetro das tampas, todos os sujeitos exerceram sua força máxima na tampa
com maior diâmetro, 85 mm. Comparando a aplicação do torque por crianças de até
5 anos de idade e por idosos com mais de 81 anos, ressalta-se que o teste apontou
que estes últimos são capazes de exercer torques maiores que as crianças.
Para Berns (1981), 95% dos sujeitos normais, quando exercem sua força
confortável, são capazes de abrir as embalagens. Assim, o autor sugere que
requisitos normativos de valores de torque necessários para abrir embalagens
devem ser determinados com base nos valores de força exercidas de forma
confortável do 5%il dos indivíduos normais, e mais eficazmente baseados nos 1%il
ou 2%il da máxima força exercida pelos indivíduos com necessidades especiais.
Voorbij e Steenbekkers (2002) constataram que se o torque necessário para
abrir potes similares aos avaliados em seu estudo (tampas com ø aproximado de 66
mm) fosse reduzido para 2 N.m, então 97.6% dos usuários entre 50 e 94 anos de
idade e 100% das pessoas de 20 a 30 anos não encontrariam dificuldade para abrir
este tipo de embalagem.
Outro autor, Imrhan (1994), descreve algumas considerações de Ivergard et
al. (1979) acerca do torque necessário durante a abertura de determinadas tampas.
Para as tampas circulares com superfície lisa, tanto homens como mulheres
transmitem seu maior torque quando o diâmetro é de cerca de 80 mm. Para tampas
com diâmetros inferiores a 74 mm, a aplicação do torque não é melhorada com
aplicação de ranhuras na superfície. Com relação à comparação de torque exercido
13
por crianças e idosos em tampas com diâmetros maiores, uma menor porcentagem
das crianças é capaz de transmitir torque comparável ao dos idosos, ou seja, os
idosos transmitiram maiores valores de torque em tampas com diâmetros maiores
enquanto que as crianças transmitiram menores valores de torque para estas
tampas, assim, tampas com diâmetros maiores são melhores para a segurança das
crianças.
Neste mesmo sentido, Rohles et al. (1983 apud IMRHAN, 1994) recomendam
tampas com diâmetros de, no mínimo, 70 mm para embalagens de produtos que
necessitam de embalagens especiais de proteção à criança.
Nas avaliações apresentadas pôde-se observar que os efeitos da altura e a
forma da tampa, bem como a forma da embalagem, no torque aplicado, não são
completamente conhecidos, ou seja: a melhor combinação de características para
se desenvolver tampas seguras é ainda desconhecida.
2.5. Forças Manuais Infantis
Existem diversos estudos realizados com o objetivo de mensurar as forças
manuais infantis. No entanto o, em geral, estudos realizados por profissionais da
área clínica, pois, segundo Pereira (2001 apud Esteves et al., 2005), a força manual
pode ser um indicador do desenvolvimento da coordenação e ser utilizada no
diagnóstico de disfunções neurológicas relacionadas à aprendizagem motora e
também na identificação de patologias do membro superior.
Segundo Bear-Lehman et al. (2002) a força manual pode ser medida pela
Força de Preensão Palmar (FPP) e pela Força de Preensão Digital (FPD).
A FPP é a força necessária para agarrar um objeto e a capacidade de mantê-
lo preso e pode ser medida utilizando-se o equipamento Dinamômetro Jamar (em A
na Figura 06). A FPD é a força exercida pelo polegar sobre a lateral do dedo
14
indicador, como se estivesse girando uma chave, esta força pode ser medida
utilizando-se o Dinamômetro de Pinça Jamar (em B na Figura 06).
A Figura 3 apresenta um exemplo da utilização destes equipamentos.
Figura 3: Exemplo da mensuração da FPP e FPD (Fonte: BEAR-LEHMAN et al., 2002)
A Tabela 2 apresenta as características de cinco estudos nacionais e
internacionais que avaliaram as FPPs e as FPDs de crianças.
15
Tabela 2:
Força de Preensão Palmar (FPP) e Força de Preensão Digital (FPD) - Estudos
Autor
País do
Estudo
População
do Estudo
Equipamentos
utilizados
Observações Alguns Resultados
Fullwood
(1986)
Austrália
5 a 12 anos
(240
sujeitos)
Dinamômetro
Jamar (FPP) e
Pinsco
Pinchmeter
(FPDs)
Força máxima uma
vez para cada
mensuração.
Posicionamento dos
sujeitos: sentados
cotovelo em 90 º de
flexão.
Meninos são mais
fortes em 94% dos
testes de preensões
Bear-Lehman
et al. (2002)
EUA
3 a 5 anos
(81 sujeitos)
Dinamômetro
Jamar (FPP) e
Dinamômetro
de Pinça Jamar
(FPD).
Posicionamento dos
sujeitos: sentados,
cotovelo em 90 º de
flexão. Três
repetições.
A média da FPP das
meninas foi menor
nas duas mãos em
relação aos
meninos, porém com
diferenças não
significativas.
Peebles e
Norris (2000)
Inglaterra
2 a 90 anos
(153
sujeitos)
Hand grip
dynamometer
(FPP) com
larguras da
pega de 30, 50
e 70 mm
Sujeitos adotaram
posturas livres, em pé.
Exerceram sua
máxima força estática
durante cinco
segundos.
Não houve
diferenças
significativas entre
meninos e meninas
de 2 a 15.
Esteves et al.
(2005)
Brasil
7 e 14 anos
Dinamômetro
resistivo com
strain gauges
(FPP),
empunhadura
variável
Posicionamento dos
sujeitos: antebraço
supinado e apoiado na
mesa com ângulo de
90º. Três repetições.
A força de preensão
foi maior para os
meninos em todas
as idades.
Moura (2008)
Brasil
4 a 5 anos
(100
sujeitos)
Dinamômetro
Jamar (FPP)
Posicionamento do
sujeito: sentado e
colovelo em 90 º de
flexão. Três
repetições.
Não se observou
diferença
significativa entre os
gêneros para a força
de preensão.
No estudo de Fullwood (1986), o efeito da idade em relação ao aumento da
força manual foi proporcional, sendo que houve um grande aumento entre as idades
de 9 e 10 anos, em ambos os gêneros. Neste estudo, sujeitos canhotos mostraram
menores diferenças entre a força de sua mão esquerda e direita em relação aos
destros. Isto pode ser explicado pelo fato de que no mundo feito para destros, os
canhotos desenvolveram as habilidades com a mão direita, mais do que os sujeitos
16
destros o fizeram com a mão esquerda, mesmo se tratando de crianças. Em uma
comparação realizada por Fullwood (1986), entre os resultados de seu estudo e os
de Ager et al. (1984), observou-se que os sujeitos australianos têm maior força
manual que os sujeitos norte americanos, particularmente as crianças de 7 a 8 anos.
Bear-Lehman et al. (2002), retiraram medidas antropométricas das mãos das
crianças e não encontraram diferenças significativas entre os meninos e as meninas.
Também não encontraram diferença significativa entre as forças de preensão
manual com relação à dominância, bem como apontaram que naquela faixa etária, a
dominância ainda não está bem estabelecida.
Observa-se que no estudo de Peebles e Norris (2000) foi constatado que a
força manual aumentou com a idade durante a infância e decresceu por volta dos 50
anos. Adultos (16-50 anos) foram, em geral, significativamente mais fortes que
idosos (51-90) que, por sua vez, são significativamente mais fortes que as crianças
até 10 anos.
No Brasil, a força manual infantil foi estudada por Esteves et al. (2005). Em
relação à dominância, entre as meninas não foram encontradas diferenças
significativas nas crianças de 7, 11, 12 anos quando realizada a comparação das
médias da força de preensão palmar entre mão direita e esquerda. Já para os
meninos, foram encontradas diferenças para as faixas etárias de 7 a 11 anos
quando realizadas comparações de médias da força de preensão entre mão direita e
esquerda. Comparando-se os gêneros, a força de preensão foi maior para os
meninos em todas as idades, encontrando diferenças significativas para os grupos
de 8, 9, 10, 13, 14 anos, porém entre as crianças com 8, 9 e 10 anos as diferenças
são pequenas, mas entre aquelas com 13 e 14 anos esta diferença aumenta.
Ainda outro estudo brasileiro realizado por Moura (2008) abordou 600 sujeitos
de diferentes idades de ambos os gêneros, dentre eles, 100 crianças na fase pré-
17
escolar. No estudo, não se observou diferença significativa entre os gêneros para a
força de preensão: as forças médias de preensão palmar nestas crianças foram, na
mão direita 7,19 Kg/f e 6,95 Kg/f na mão esquerda para meninos e 6,67 Kg/f e
6,51Kg/f, respectivamente mãos direita e esquerda para meninas. A diferença
hormonal entre os gêneros parece afetar o desempenho da força manual, o que
explica o fato de os sujeitos, nessa faixa etária, não apresentarem diferenças
significativas de preensão.
Diversos fatores influenciam nas diferenças encontradas entre os resultados
de avaliações de força, tais como os aspectos metodológicos adotados
(posicionamento biomecânico dos sujeitos, estímulos verbais, instrumentos de
medição e, obviamente o tipo de atividade mecânica analisada) e características
particulares da amostra (gênero, idade, dominância e nacionalidade).
Considera-se que estudos sobre as forças manuais ainda são restritos entre
as faixas extremas da população. Mesmo quando o estudo procura abordar o
público infantil, como é o caso dos estudos apresentados, as crianças com pouca
idade, menores de 5 anos, ainda são pouco estudas. O público infantil realiza uma
série de interfaces com os produtos disponíveis no mercado e, por esse motivo,
deveríamos conhecer melhor suas capacidades na manipulação de produtos.
18
3. JUSTIFICATIVAS
O elevado índice de acidentes relacionados à intoxicação infantil apresentado
anteriormente, aponta para a necessidade de iniciativas a fim de minimizar sua
ocorrência. A não observância de requisitos de segurança no design das
embalagens para os produtos com alto potencial tóxico parece ser um importante
fator de risco. A análise em embalagens de água sanitária a ser realizada nesta
pesquisa justifica-se pela informação de que este é o produto, dentre os
domissanitários, responsável pela maioria dos acidentes de intoxicação, bem como
pelo fato de ser um produto de consumo intensivo e extensivo pela população,
utilizado de diversas formas, recomendadas ou não, pelo rótulo do produto.
É preciso que, durante a realização de testes da segurança das embalagens,
considere-se a interface entre o usuário e o produto para uma avaliação adequada
não apenas da embalagem, mas também das tampas. No entanto, de acordo com
Soares e Bucich (2000) não é suficiente apenas projetar produtos que sejam
seguros quando utilizados da forma pretendida: o uso impróprio também deve ser
considerado. A intoxicação infantil ocorre a partir do uso impróprio, portanto a
importância deste estudo consiste na prevenção de acidentes desta natureza.
Existe no Brasil a NBR 13390: 05/1995 que regulamenta as embalagens para
águas sanitárias e alvejantes à base de cloro. De acordo com Iida (2005), a
avaliação dos produtos do ponto de vista técnico (considerando características como
peso, dureza, resistência, estabilidade, entre outros) é uma atividade bem
estabelecida, ao contrário das avaliações de aspectos da usabilidade, embora sejam
até mais importantes que os primeiros para os produtos de consumo. Ainda de
acordo com o mesmo autor, nem todos os produtos que apresentam conformidade
com as normas técnicas podem ser considerados de boa qualidade, sob o ponto de
vista da usabilidade.
19
Além dos aspectos anteriormente descritos, os dados biomecânicos de
origem internacional (SMITH et al., 2000) parecem não ser compatíveis com a
população brasileira, uma vez que diversos fatores como migração, genética, fatores
ambientais e processos históricos determinam as diferentes características das
populações humanas (PHEASANT, 1996) e por este motivo não são adequados
para serem aplicados a produtos nacionais, o que justifica o desenvolvimento de um
estudo deste tipo com indivíduos brasileiros.
20
4. OBJETIVOS
4.1. Objetivo Geral
Desenvolver um estudo biomecânico envolvendo indivíduos de uma amostra
populacional, objetivando especificar a força manual de torção xima exercida por
crianças (faixa etária de 2 a 5 anos) durante a abertura de embalagens de água
sanitária, através de simulação, possibilitando apresentar parâmetros mínimos para
o design ergonômico de tampas seguras.
4.2. Objetivos Específicos
Realizar a revisão bibliográfica e tecnológica, considerando respectivamente:
a problemática dos acidentes com crianças e embalagens de domissanitários
e o estado da arte do objeto de pesquisa, além de analisar pesquisas
semelhantes para o aprimoramento dos procedimentos experimentais e de
análise, comparando e discutindo resultados e metodologias;
Realizar a preparação e execução da abordagem experimental, considerando
os aspectos éticos, de materiais e de procedimentos;
Realizar o tratamento dos dados, bem como sua análise estatística,
permitindo a discussão dos mesmos face ao conhecimento teórico disponível;
Apresentar os parâmetros biomecânicos para o design ergonômico de tampas
de embalagens para domissanitários.
21
5. METODOLOGIA
Os procedimentos desta pesquisa, exceto a realização da abordagem
experimental, ocorreram no Laboratório de Ergonomia e Interfaces, pertencente ao
Departamento de Desenho Industrial, da Faculdade de Arquitetura, Artes e
Comunicação, da UNESP (campus de Bauru). É importante destacar que esta
pesquisa foi realizada com apoio da FAPESP (processo n. 07/53668-8 – ANEXO A).
Os procedimentos metodológicos adotados são apresentados nos subitens
posteriores e compreendem:
Os Aspectos éticos que envolvem os pedidos de autorização aos órgãos
competentes, bem como a elaboração do Termo de Consentimento Livre e
esclarecido (Subitem 5.1.);
Os Sujeitos abordados são caracterizados e apresentados no subitem
5.2.;
Os Materiais utilizados no estudo compreendem os Equipamentos de
Medição, as Embalagens de água sanitária e o Protocolo utilizado para
registro dos dados, suas particularidades são apresentadas no subitem
5.3.; e
Os Procedimentos adotados na Preparação dos Materiais (adaptação do
torquímetro no interior das embalagens de água sanitária), na Coleta de
dados (antropométricos e de torque), na Análise e discussão dos
resultados são apresentados no subitem 5.4.
22
5.1. Aspectos Éticos
Experimentações com seres humanos devem contemplar as diretrizes do
Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996), sob Resolução 196-1996 e da Norma
ABERGO de Deontologia ERG BR 1002 (ABERGO, 2003). Esta pesquisa realizou
testes com seres humanos e, assim, atende a estes requisitos. O projeto desta
pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa da USC - Universidade
do Sagrado Coração e os procedimentos da pesquisa foram aprovados (Protocolo:
32/07 ANEXO B). Foi aplicado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) (APÊNDICE A), por meio do qual os responsáveis pelos sujeitos da pesquisa
foram informados da espécie do experimento e que seria realizado de forma
voluntária (não remunerada), sendo apontados todos os procedimentos a que a
criança seria submetida, e que esta não estaria sujeita a nenhum tipo de desconforto
e/ou risco, concedendo liberdade para que deixasse de participar da pesquisa a
qualquer momento.
Os procedimentos desta pesquisa foram autorizados pela Secretaria
Municipal da Educação da cidade de Bauru – SP, órgão responsável pelas EMEIIs –
Escolas Municipais de Ensino Infantil Integrado (ANEXO C).
5.2. Sujeitos
Foram definidos como sujeitos da pesquisa, alunos regularmente matriculados
nas EMEIIs da cidade de Bauru (SP), os quais totalizam, segundo o IBGE (2005)
10.962 indivíduos, ou N = 10.962. O grau de confiança pretendido foi o de 90% (α =
0,10), e portanto, z
α/2
= 1,645. O desvio-padrão populacional é desconhecido.
Segundo Triola (1999, p. 149), normalmente “... não se conhece
δ sem se conhecer
µ”, ou média populacional, entretanto δ pode ser estimado a partir de outro estudo
23
com o mesmo projeto metodológico e objetivos, podendo ser obtido pela expressão
δ amplitude / 4 (p. 41). Se tomarmos o estudo apresentado por Smith et al.
(2000), considerado um dos mais completos na avaliação de forças manuais em
atividades simuladas, particularmente nos resultados para a força de torção
(diâmetro 45 mm, ranhurada), com sujeitos com idade entre 2 e 5 anos, temos como
amplitude 1,73 N.m e, conseqüentemente, δ = 0,43N.m. A margem de erro, ou
diferença máxima provável entre a média amostral e a média populacional, foi
definida em E = 0,0697 N.m (aproximadamente 7,5% da média encontrada por
Smith et al. 2000). Portanto, n = 101,90, ou 102: optou-se por aproximar para 51
(cinquenta e um) sujeitos do gênero masculino e 51 (cinquenta) sujeitos do gênero
feminino.
A abordagem ocorreu em seis escolas de ensino infantil, sendo uma creche
vinculada à UNESP e cinco EMEIIs (Escolas Municipais de Ensino Infantil Integrado)
da cidade de Bauru (SP). A Tabela 3 aponta a distribuição numérica dos sujeitos de
acordo com as escolas e a Figura 4 apresenta a localização geográfica das
mesmas, distribuídas no espaço urbano do município de Bauru-SP.
Tabela 3: Distribuição dos Sujeitos nas Escolas
Distribuição dos Sujeitos
Escolas
N %
A 13 12,75
B 26 25,49
C 9 8,82
D 22 21,57
E 20 19,61
F 12 11,76
N = 102
24
A - EMEII Glória Cristina Melo De Lima
B - EMEII Maria Helena Piçolato Amantini
C - EMEII Prof. Hubert Rademakers
D - Centro de Convivência Infantil "Gente Miúda"
E - EMEII Luzia Therezinha De Oliveira Braga
F - EMEII Iara Conceição Vicente
Figura 4: Mapa de localização das escolas abordadas
As escolas que participaram da pesquisa estão distribuídas por todo o
território da cidade de Bauru-SP, atendendo assim a um universo bastante
representativo, com características sócio-econômicas diferentes.
25
5.3. Materiais
5.3.1. Equipamentos de Medição
Os equipamentos de medição utilizados nesta pesquisa são:
Torquímetro - Static Torque Screwdriver STS (Mecmesin Ltd, UK),
Modelo ST10-871-101 (10 N.m), adquirido por meio do processo FAPESP
05/59941-2 (indicado por A na Figura 4);
AFGAdvanced Force Gaugue (indicado por B na Figura 4);
Paquímetro de metal, marca MAUb® ;
Fita métrica (MaidenForm®, Hoechstmass - Alemanha);
Balança digital pesadora;
Instrumentos de apoio (Confeccionados em “Etil Vinil Acetato – E.V.A.”)
O Torquímetro é ligado ao AFG, equipamento que registra o torque (unidade
representada por Newton-metro N.m), aplicado na tampa, tal ligação se como
mostra a indicação C na Figura 5.
Figura 5: Equipamentos de Medição - Torquimetro e AFG
26
Com o objetivo de facilitar a abordagem dos sujeitos e realizar as
mensurações de maneira lúdica, foram confeccionados utensílios de apoio
utilizando-se o material “Etil Vinil Acetato E.V.A.”, a saber: três bases de apoio nas
cores amarelo, vermelho e azul. A primeira foi utilizada na mensuração das variáveis
antropométricas das mãos (Figura 6), para a qual os sujeitos dispunham as mãos de
maneira adequada (as mãos e os dedos retos e planos, com a palma voltada para
cima) para serem medidas com a utilização do paquímetro, o qual foi revestido e
disfarçado com o mesmo material. As outras duas bases de apoio, para o
posicionamento dos sujeitos na medição do peso (base de apoio fixada na balança,
Figura 7) e estatura (base de apoio fixada no solo, Figura 8).
Figura 6: Apoio para as mãos
Figura 7: Apoio para os pés
27
Figura 8: Apoio para a balança
5.3.2. Caracterização das Embalagens de Água Sanitária
Nas avaliações de torque simulando a abertura de embalagens, revisadas no
item 2.4, observa-se que as diferentes morfologias das tampas, bem como das
embalagens, interferem na capacidade de aplicação do torque, tornando-se, assim,
importante para uma avaliação desta natureza estudar previamente tais
características a fim de delimitar os procedimentos metodológicos.
Desta maneira, foram coletadas oito marcas de água sanitária mais
comumente encontradas nos supermercados da cidade de Bauru-SP, a saber:
Daclor, Candura, Cândida, Qboa, Búfalo, Brilhante, Flops e Varek. Todas as
embalagens têm o conteúdo de 1 litro, e foram selecionadas de maneira que
apresentassem certas características similares, por exemplo: garrafas com alças, ou
pegas laterais não foram coletadas. Todas as embalagens são fabricadas em
Polietileno.
A Figura 9 apresenta o desenho, com destaque aos contornos das
embalagens. Na base inferior do desenho das garrafas pode ser observado o nome
da marca da respectiva embalagem de água sanitária. Os círculos, em cinza,
apontam os locais onde se localizam os rótulos.
28
Figura 9: Desenho das 8 (oito) embalagens de água sanitária
Comparando os contornos das embalagens, observa-se a grande variedade
de formas. As linhas mais finas nos desenhos representam os cortes e as nervuras
presentes nas embalagens, tais elementos aumentam a resistência das mesmas.
O uso do produto ocorre, em geral, durante situações em que as mãos do
usuário estão molhadas, de modo a perceber que a pega se nos locais onde
um estreitamento da circunferência nas embalagens (Figura 10), aumentando a
estabilidade e firmeza da pega durante o uso.
Figura 10: Local da pega na embalagem
29
A Figura 11 apresenta alguns detalhamentos dimensionais das embalagens,
como: altura total da garrafa, maior e menor diâmetro do corpo da garrafa e altura e
diâmetro da tampa.
Figura 11: Dimensões das embalagens (Dimensões em milímetros)
30
Quanto aos sistemas de abertura, dois tipos estão presentes nas embalagens
de água sanitária analisadas: rosca e flip-top. O sistema mais comum é a tampa de
rosca, a qual permite o acesso ao produto com total abertura da embalagem. O
sistema flip-top pode ser aberto com apenas uma das mãos, levantando a “lingueta”
lateral da tampa. Neste sistema o acesso ao produto se por meio de um pequeno
orifício que direciona a saída do líquido.
Dentre as oito embalagens de água sanitária analisadas, três foram
selecionadas para serem utilizadas no estudo experimental de medição do torque. A
utilização das três embalagens, com características formais diferentes,
especialmente com relação às dimensões das tampas, possibilitou a coleta do
máximo torque exercido pelos sujeitos e propiciou o estudo da relação entre a
capacidade de aplicação da força e o design das tampas. Assim, o critério de
seleção das embalagens ocorreu a partir da análise das características dimensionais
das mesmas, além de terem sido excluídas as que apresentavam tampas com
sistema flip-top, uma vez que o movimento biomecânico aplicado para a abertura
deste sistema não é o analisado no presente estudo. As tampas selecionadas são
apresentadas na Figura 12.
Figura 12: Tampas selecionadas para a coleta de torque
A embalagem da marca C foi selecionada por possuir a tampa com maior
diâmetro (36 mm) (as embalagens das marcas C e G apresentam as mesmas
31
dimensões). A marca E apresenta a maior altura entre as tampas analisadas, 25
mm. E, por fim, a marca F apresenta o menor diâmetro de tampa, 29 mm.
Estas embalagens foram adaptadas para serem utilizadas na abordagem
experimental, e foram pintadas nas cores: amarela, vermelha e laranja (Figura 13).
Os procedimentos de preparação das mesmas apresentam-se descritos no item
5.4.1 (Preparação dos Materiais).
Figura 13: Tampas utilizadas na coleta
5.3.3. Protocolo
Foi desenvolvido um protocolo de abordagem onde foram registrados os
dados coletados (APÊNDICE B). O protocolo apresenta, no cabeçalho, a
identificação da UNESP – FAAC, o nome desta pesquisa e seu número de Processo
FAPESP.
32
Na parte superior do protocolo são registrados os dados de identificação dos
sujeitos: nome, idade, gênero, turma e dominância. No entanto, não foi possível
determinar qual a mão dominante dos sujeitos, devido a pouca idade dos mesmos.
Na parte central do protocolo foram registrados os dados antropométricos:
estatura, peso e medidas das mãos (direita e esquerda).
Os valores de torque foram registrados na parte inferior do protocolo. Neste
local a tabela divide-se em: embalagem amarela, vermelha e laranja, onde foram
transcritos os torques máximos aplicados pela mão direita e esquerda (duas coletas
para cada mão) em cada uma das embalagens.
5.4. Procedimentos
5.4.1. Preparação dos Materiais – Embalagens
Diferentemente de outras pesquisas de avaliação de torque, as quais
confeccionam mock-up de embalagens para a adaptação interior do equipamento de
medição, esta pesquisa adaptou a própria embalagem para isso, o que possibilitou
uma simulação mais próxima da realidade.
Durante as etapas de preparação, foi inserida e fixada no interior da
embalagem, com o uso do adesivo “Araldite®”, uma seção de tubo de PVC com
diâmetro de 50 mm e comprimento suficiente para alcançar toda a extensão da
embalagem, o que permitiu o adequado posicionamento do equipamento de
medição “Torquímetro Static Torque Screwdriver STS” próximo à tampa (Figura
14).
33
Figura 14: Preparação das embalagens – Cano de PVC
Ressalta-se que o torque aplicado na tampa é transmitido para o torquímetro
por meio de uma ligação entre os dois sistemas. Para isso, foram utilizadas curtas
seções de perfil de aço ABNT 1010 (# 10 mm), as quais foram fixadas às tampas
com o uso de massa plástica (Figura 15).
Figura 15: Preparação das tampas
A Figura 16 apresenta o “Torquímetro - Static Torque Screwdriver STS”
inserido na embalagem e demonstra como a tampa é ligada ao equipamento.
Demonstra também que para melhor fixação do torquímetro utilizou-se um parafuso
na lateral da embalagem.
34
Figura 16: Torquimetro no interior da embalagem
Com o objetivo de evitar uma possível relação que a criança pudesse fazer
entre as embalagens “falsas” utilizadas nos testes e uma embalagem de água
sanitária verdadeira, as embalagens foram pintadas na cor amarela (utilizando tinta
esmalte), uma vez que não há no mercado embalagens de água sanitária nessa cor.
Observe-se que as tampas o foram pintadas a fim de impedir qualquer
modificação em sua superfície capaz de interferir na aplicação do torque, uma vez
que uma importante influência na aplicação de forças manuais é a presença de
texturas e ranhuras no local onde tal força é exercida, posto que permitem um maior
atrito de contato mão/equipamento e, consequentemente, necessitam de menor
aplicação de forças (PASCHOARELLI e COURY, 2000).
No entanto, durante a realização dos pré-testes, a pintura das três
embalagens na mesma cor (amarela) não demonstrou ser atrativa para as crianças,
pois estas não perceberam se tratar de três embalagens diferentes, questionando a
realização do teste várias vezes com a mesma embalagem. Desta maneira, as
embalagens foram novamente pintadas, desta vez na cor vermelha e laranja, além
da cor amarela (Figura 17).
35
Figura 17: Garrafas para o teste de torque
5.4.2. Coleta de Dados
Com a finalidade de testar os procedimentos metodológicos e a sequência da
coleta de dados, foi realizado um pré-teste no Centro de Convivência Infantil "Gente
Miúda", vinculado à UNESP - Campus Bauru. Dos 20 sujeitos abordados, com
idades entre 2 e 5 anos, 7 eram do gênero masculino e 13 do gênero feminino. A
realização desta abordagem preliminar foi fundamental para o aprimoramento
metodológico para a coleta dos dados, assim, mudanças nos procedimentos foram
realizadas durante esse pré-teste e os sujeitos abordados nessa etapa foram
incluídos na amostra.
Todos os procedimentos do estudo experimental ocorreram em ambientes
localizados no interior das escolas escolhidas.
Assim, depois de selecionada a escola, era primeiramente realizado o contato
(via telefone) com a diretora da escola, quando todos os objetivos e procedimentos
36
da pesquisa eram esclarecidos e solicitada sua autorização para a realização da
pesquisa. Havendo o consentimento da diretora, ocorria a abordagem dos
responsáveis pelas crianças, sendo então aplicado o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido. Assim, somente as crianças que tiveram a autorização dos
responsáveis eram abordadas.
Para a realização da coleta de dados eram recrutados três sujeitos para o
local do estudo experimental determinado pela diretora da escola. O recrutamento
de mais de um sujeito possibilitou haver intervalo entre uma medição de torque e
outra, como pode ser observado na descrição da sequência dos procedimentos.
Primeiramente, com o objetivo de estimular os sujeitos a colaborarem com a
pesquisa, eles eram convidados a participarem de uma “brincadeira” na qual deviam
tentar abrir uma garrafa e as embalagens eram então apresentadas. Era solicitado
ao sujeito que girasse a tampa na direção apontada por uma flecha fixada na
embalagem (sentido anti-horário), fazendo o máximo de força que pudessem,
utilizando uma mão para segurar a embalagem e a outra para girar a tampa, e em
seguida esta situação era invertida, ocorrendo assim a avaliação da aplicação do
torque com as duas os (Figura 18). A seqüência das mãos era livre e
determinada pelos sujeitos. Neste momento alguns estímulos verbais foram
apresentados: “vamos ver se você tem força para abrir esta embalagem?”, “faça
bastante força...”, “gira bem forte, isso... muito bom...”.
37
Figura 18: Coleta do máximo torque - Sujeitos
Após o registro dos torques ximos aplicados pelo primeiro sujeito, com as
mãos direita e esquerda, a mesma embalagem era apresentada ao segundo sujeito,
repetindo os procedimentos, e por fim o terceiro sujeito era solicitado a exercer sua
máxima força. Os procedimentos foram repetidos, havendo uma segunda medição
com a mesma embalagem. Observou-se que a presença de três sujeitos possibilitou
haver um intervalo entre as repetições.
Após a coleta utilizando a primeira embalagem, ocorria a transferência do
equipamento de medição para a segunda e, por fim, para a terceira. A sequência de
utilização das embalagens ocorreu de forma randomizada, determinada quando os
sujeitos eram solicitados a apontarem a cor (amarelo, vermelho ou laranja) de sua
preferência.
No primeiro intervalo entre a medição do máximo torque com uma
embalagem e outra, foram coletadas as medidas antropométricas das mãos dos
sujeitos.
38
Figura 19: Coleta das medidas antropométricas das mãos
Conforme demonstra a Figura 19, três variáveis antropométricas foram medidas, a
saber:
“a” - Comprimento da mão: medida a partir da dobra do pulso até a ponta
do dedo médio;
“b” - Comprimento palmar: medida a partir da dobra do pulso até a base do
dedo médio; e
“c” - Largura da mão: medida a partir do metacarpo do dedo mínimo
(metacarpo ulnar) até o metacarpo do polegar (metacarpo radial), mantendo
o polegar encostado à palma da mão.
A mensuração de tais variáveis puderam ser utilizadas para correlacionar os
aspectos dimensionais das os dos sujeitos com a capacidade de aplicação de
torque e ainda contribuir para a ampliação da base de dados sobre a antropometria
infantil brasileira.
39
Para a medição do peso e da estatura dos sujeitos foram utilizados utensílios
de apoio, como pode ser observado na Figura 20. Tais elementos indicaram o local
onde deveriam se posicionar.
Figura 20: Medição da Estatura e Peso
A estatura e o peso dos sujeitos foram coletados no segundo intervalo das
medições de torque, ou seja, entre a coleta com a segunda e a terceira embalagem.
A estatura dos sujeitos foi medida a partir da fixação vertical da fita métrica em uma
parede regular, desde sua base; o sujeito foi posicionado em pé, olhando para frente
e alinhado à fita métrica e com o auxílio de um esquadro de acrílico foi medido o
ponto mais alto da cabeça. Para a medição de peso, os sujeitos posicionaram-se
sobre a balança pesadora com os pés sobre o apoio, distribuindo regularmente o
peso sobre o equipamento, e permaneceram estáveis por alguns segundos.
40
5.4.3. Análise e discussão dos resultados
A análise dos dados obtidos com o experimento foi realizada através da
estatística descritiva, aplicação de análise dos parâmetros da média aritmética e
aplicação de testes paramétricos para avaliação física, empregando o Test "t" de
Student (p 0,05) na verificação da presença de diferenças estatisticamente
significativas entre as mãos, os gêneros, as faixas etárias, bem como entre as
coletas com as três embalagens. Ressalta-se ainda que foi aplicado o Test "t" de
Student (p 0,05) na verificação da presença de diferenças estatisticamente
significativas entre as repetições de torque, para cada embalagem empregada.
Também se correlacionou os dados obtidos na coleta de torque com os dados
antropométricos dos sujeitos, obtendo-se para isso o coeficiente de correlação de
Pearson (r
2
) entre as três variáveis antropométricas e o torque exercido nas três
embalagens.
41
6. RESULTADOS
Os resultados foram divididos em duas etapas: a primeira compreende os
resultados descritivos, para antropometria e para torque, e apresenta os dados
dispostos em tabela, analisados através de estatística descritiva, por meio da
aplicação de análise dos parâmetros da dia aritmética. A segunda etapa
compreende os resultados analíticos, apresentando em tabelas os dados
analisados empregando o Test "t" de Student (p 0,05) na verificação da presença
de diferenças estatisticamente significativas, entre as mãos, os gêneros, e cada
grupo de idade, para a antropometria, bem como entre as embalagens analisadas.
Como já ressaltado no item 5.4.3, foi aplicado o teste estatístico na verificação
da presença de diferenças estatisticamente significativas entre as repetições de
torque para cada embalagem empregada. Os resultados são apresentados na
Tabela 4, onde estão descritos os valores médios da primeira coleta e de sua
repetição, bem como o resultado (“p”) da aplicação do teste estatístico.
Tabela 4: Análise estatística entre as coletas de Torque (Test "t" de Student)
Embalagens
Amarela
Vermelha
Laranja
Coletas de
Torque
Média
(D.P.)
“p”
Média
(D.P.)
“p”
Média
(D.P.)
“p”
0,989
0,634 0,796 Coleta 1
(N =102)
(D.P. 0,434) (D.P. 0,282) (D.P. 0,353)
1,024 0,606 0,812 Coleta 2
(N=102)
(D.P. 0,421)
0,04
(D.P. 0,266)
0,01
(D.P. 0,353)
0,29
Observação: Quando “p” 0,05 há diferença estatisticamente significativa
Observa-se que houve pequenas diferenças entre os valores dios de
torque entre as duas coletas, no entanto, foram significativas para as embalagens
amarela e vermelha.
42
Desta maneira, sendo o objetivo desta pesquisa especificar a força manual de
torção máxima exercida pelos sujeitos, optou-se por considerar, dentre as duas
coletas, apenas o maior valor de torque exercido pelo sujeito.
6.1. Resultados Descritivos - Antropometria
Tabela 5 apresenta as médias, desvios padrão e amplitude do peso e estatura
dos sujeitos, e a Tabela 6 apresenta as medidas antropométricas (médias, desvios
padrão e amplitude) das mãos dos sujeitos, e isso de acordo com o gênero e a idade
dos mesmos. Apresentam também resultados gerais em relação aos gêneros
feminino e masculino para cada idade (2, 3, 4 e 5 anos), resultados totalizados dos
sujeitos do gênero feminino () de 2 a 5 anos e do gênero masculino () de 2 a 5
anos e ainda resultados totalizados de ambos os gêneros para a faixa etária de 2 a 5
anos.
Tabela 5: Resultados Descritivos da Antropometria – Peso e Estatura
Peso Estatura
Gênero/
Idade (a)
n
Média (Kg)
D.P.
Amplitude (Kg) Média (cm)
D.P. Amplitude (cm)
/2
6 12,81 0,54 12,40 - 13,80 91,58 1,80 89,00 - 94,00
/2
5 15,71 2,37 13,40 - 18,45 98,10 3,75 94,50 - 103,00
Geral/2
11 14,13 2,16 12,40 - 18,45 94,55 4,34 89,00 – 103,00
/3
12 14,83 1,46 12,40 - 16,80 97,45 4,95 89,00 - 103,50
/3
13 16,41 2,39 12,30 - 22,30 101,77 4,52 96,00 - 111,00
Geral/3
25 15,65 2,12 12,3 - 25,4 99,70 5,13 89,00 – 111,00
/4
15 18,10 3,59 12,90 - 25,40 105,30 4,61 99,50 - 116,50
/4
18 18,67 3,11 14,40 - 28,10 107,14 4,68 99,50 - 119,00
Geral/4
33 18,41 3,29 12,9 - 28,1 106,30 4,67 99,50 – 119,00
/5
18 20,95 3,45 16,30 - 30,80 114,10 5,35 105,00 - 124,50
/5
15 21,36 4,36 15,40 - 29,90 113,47 5,57 104,00 - 123,50
Geral/5
33 21,13 3,83 15,4 - 30,8 113,81 5,37 104,00 - 124,50
Total / 2-5
51 17,71 4,11 12,4 - 30,8 104,95 9,30 89,00 - 124,50
Total / 2-5
51 18,59 3,85 12,3 - 29,9 106,75 7,05 94,50 - 123,50
Total/2-5
102 18,15 3,98 12,40 - 30,80 105,85 8,26 89,00 - 124,50
43
Tabela 6: Resultados Descritivos da Antropometria - Mãos
Comprimento da mão
Comprimento palmar
Largura da Mão
Gênero/
Idade (a)
n Mão
Média
(cm) D.P.
Amplitude
(cm)
Média
(cm) D.P.
Amplitude
(cm)
Média
(cm) D.P.
Amplitude
(cm)
D
10,40 0,32 9,9 - 10,7 5,92 0,16 5,7 - 6,2 6,05 0,28
5,8 - 6,4
/2
6
E
10,50 0,36 9,8 - 10,8 5,88 0,18 5,7 - 6,2 6,12 0,41
5,7 - 6,8
D
10,58 0,94 9,1 - 11,6 6,20 0,34 5,8 - 6,6 6,36 0,45
5,8 7,0
/2
5
E
10,74 0,63 9,8 - 11,5 6,20 0,25 5,9 - 6,6 6,32 0,42
5,9 7,0
D
10,48 0,64 9,1 - 11,6 6,05 0,28 5,7 - 6,6 6,19 0,38
5,8 7,0
Geral/2
11
E
10,61 0,49 9,8 - 11,5 6,03 0,26 5,7 - 6,6 6,21 0,41
5,7 7,0
D
10,91 0,49 9,8 - 11,3 6,24 0,29 5,7 - 6,7 6,48 0,38
5,6 - 6,9
/3
12
E
11,01 0,49 9,9 - 11,7 6,30 0,28 5,8 - 6,7 6,49 0,34
5,9 - 6,9
D
11,18 0,52 10,4 - 12,3
6,52 0,4 6 - 7,2 6,68 0,36
6,2 - 7,5
/3
13
E
11,40 0,52 10,5 - 12,6
6,56 0,36 6,2 - 7,3 6,82 0,46
6,2 - 7,6
D
11,05 0,52 9,8 - 12,3 6,39 0,37 5,7 - 7,2 6,58 0,38
5,6 - 7,5
Geral/3
25
E
11,21 0,53 9,9 - 12,6 6,44 0,35 5,8 - 7,3 6,66 0,43
5,9 - 7,6
D
11,57 0,65 10,4 - 12,4
6,68 0,37 6,1 - 7,2 6,71 0,47
5,9 - 7,7
/4
15
E
11,59 0,68 10,1 - 12,6
6,69 0,45 6 - 7,4 6,70 0,45
6,1 - 7,5
D
12,04 0,61 10,9 - 12,9
6,89 0,49 6,2 - 7,6 7,12 0,34
6,5 - 7,7
/4
18
E
12,02 0,71 10,4 - 13,2
6,90 0,44 6,2 - 7,7 7,04 0,34
6,5 - 7,5
D
11,83 0,66 10,4 - 12,9
6,79 0,45 6,1 - 7,6 6,94 0,45
5,9 - 7,7
Geral/4
33
E
11,83 0,72 10,1 - 13,2
6,80 0,45 6,0 - 7,7 6,88 0,42
6,1 - 7,5
D
12,52 0,62 11,4 - 13,8
7,22 0,42 6,5 - 8,0 7,06 0,42
6,3 - 7,6
/5
18
E
12,61 0,64 11,6 - 13,7
7,23 0,35 6,6 - 8,1 7,18 0,44
6,3 - 7,9
D
12,47 0,8 11,3 - 13,7
7,19 0,51 6,2 - 8 7,30 0,56
6,0 - 8,4
/5
15
E
12,54 0,68 11,5 - 13,7
7,19 0,46 6,5 - 8,1 7,21 0,59
6,1 - 8,5
D
12,50 0,70 11,3 - 13,8
7,20 0,45 6,2 - 8 7,17 0,49
6,0 - 8,4
Geral/5
33
E
12,58 0,65 11,5 - 13,7
7,21 0,40 6,5 - 8,1 7,20 0,50
6,1 - 8,5
D
11,61 0,95 9,8 - 13,8 6,68 0,58 5,7 - 8,0 6,70 0,52
5,6 - 7,7
Total / 2-5
51
E
11,68 0,96 9,8 - 13,7 6,69 0,58 5,7 - 8,1 6,75 0,55
5,7 - 7,9
D
11,81 0,92 9,1 - 13,7 6,82 0,55 5,8 - 8 6,99 0,52
5,8 - 8,4
Total / 2-5
51
E
11,89 0,85 9,8 - 13,7 6,83 0,51 5,9 -8,1 6,96 0,52
5,9 - 8,5
D
11,71 0,94 9,1 - 13,8 6,75 0,57 5,7 8,0 6,85 0,54
5,6 - 8,4
Total/2-5
102
E
11,79 0,91 9,8 - 13,7 6,76 0,55 5,7 - 8,1 6,86 0,54
5,7 - 8,5
Pode-se observar que em todas as variáveis coletadas o gênero masculino
apresentou medidas maiores que o feminino, exceto para a idade de cinco anos,
para as variáveis: comprimento da mão e palmar, as quais se apresentaram maiores
para o gênero feminino. Observa-se também que para todas as variáveis
antropométricas houve um aumento gradual com relação à idade dos sujeitos.
44
6.2. Resultados Descritivos – Torque
Os resultados do estudo experimental da coleta de torque, exercido pelos
sujeitos nas três embalagens, estão apresentados na Tabela 7.
Tabela 7: Resultados Descritivos da Coleta de Torque
Embalagem Amarela
Embalagem Vermelha
Embalagem Laranja
Gênero/
Idade (a)
n Mão
Média
(N.m) D.P.
Amplitude
(N.m)
Média
(N.m) D.P.
Amplitude
(N.m)
Média
(N.m) D.P.
Amplitude
(N.m)
D
0,543
0,047
0,466 -0,608
0,294 0,092
0,194 - 0,400
0,425
0,116
0,292 - 0,612
/2
6
E
0,494
0,176
0,260 - 0,674
0,356 0,109
0,208 - 0,530
0,464
0,114
0,316 - 0,630
D
0,720
0,373
0,374 - 1,234
0,470 0,146
0,282 - 0,640
0,636
0,255
0,264 - 0,858
/2
5
E
0,732
0,259
0,432 - 1,092
0,367 0,181
0,196 - 0,634
0,527
0,235
0,292 -0,906
D
0,624
0,256
0,374 - 1,234
0,374 0,146
0,194 - 0,640
0,521
0,212
0,264 - 0,858
Geral/2
11
E
0,602
0,240
0,260 - 1,092
0,362 0,138
0,196 - 0,634
0,493
0,172
0,292 - 0,906
D
0,766
0,155
0,558 - 1,058
0,519 0,127
0,343 - 0,720
0,669
0,155
0,342 - 0,902
/3
12
E
0,775
0,193
0,498 - 1,180
0,435 0,114
0,174 - 0,628
0,621
0,213
0,266 - 0,932
D
0,839
0,211
0,460 - 1,190
0,542 0,072
0,440 - 0,696
0,726
0,234
0,212 - 1,150
/3
13
E
0,805
0,174
0,530 - 1,126
0,505 0,148
0,210 - 0,824
0,705
0,221
0,212 - 0,990
D
0,804
0,187
0,460 - 1,190
0,532 0,101
0,343 - 0,720
0,699
0,198
0,212 - 1,150
Geral/3
25
E
0,791
0,180
0,498 - 1,180
0,472 0,135
0,174 - 0,824
0,666
0,217
0,212 - 0,990
D
1,026
0,296
0,650 - 1,618
0,651 0,222
0,296 - 1,060
0,767
0,206
0,440 - 1,254
/4
15
E
1,111
0,346
0,586 - 1,766
0,668 0,206
0,276 - 0,990
0,780
0,318
0,260 - 1,446
D
1,239
0,310
0,808 - 1,844
0,810 0,245
0,404 - 1,366
0,989
0,311
0,454 - 1,578
/4
18
E
1,339
0,379
0,572 - 2,104
0,843 0,198
0,486 - 1,250
1,078
0,351
0,514 - 1,838
D
1,142
0,318
0,650 - 1,844
0,738 0,245
0,296 - 1,366
0,888
0,287
0,440 - 1,578
Geral/4
33
E
1,236
0,377
0,572 - 2,104
0,764 0,218
0,276 - 1,250
0,943
0,364
0,260 - 1,838
D
1,333
0,327
0,740 - 1,816
0,756 0,244
0,312 - 1,184
1,097
0,272
0,720 - 1,602
/5
18
E
1,327
0,368
0,666 - 1,812
0,767 0,260
0,444 - 1,208
1,097
0,291
0,522 - 1,620
D
1,400
0,307
0,990 - 2,126
0,905 0,265
0,506 - 1,522
1,154
0,322
0,664 - 1,672
/5
15
E
1,626
0,461
0,662 - 2,412
1,001 0,306
0,568 - 1,732
1,184
0,446
0,586 - 2,072
D
1,364
0,315
0,740 - 2,126
0,824 0,262
0,312 - 1,522
1,123
0,292
0,664 - 1,672
Geral/5
33
E
1,463
0,434
0,662 - 2,412
0,874 0,302
0,444 - 1,732
1,137
0,366
0,522 - 2,072
D
1,017
0,380
0,466 - 1,816
0,616 0,247
0,194 - 1,184
0,820
0,311
0,292 - 1,602
Total / 2-5
51
E
1,036
0,418
0,260 - 1,812
0,612 0,253
0,174 - 1,208
0,818
0,348
0,260 - 1,620
D
1,134
0,382
0,374 - 2,126
0,737 0,266
0,282 - 1,522
0,936
0,341
0,212 - 1,672
Total / 2-5
51
E
1,228
0,494
0,432 - 2,412
0,757 0,316
0,196 - 1,732
0,961
0,412
0,212 - 2,072
D
1,075 0,384
0,374 - 2,126
0,676 0,262
0,194 - 1,522
0,878 0,329
0,212 - 1,672
Total/2-5
102
E
1,132 0,465
0,260 - 2,412
0,684 0,293
0,174 - 1,732
0,889 0,386
0,212 - 2,072
Observação: As letras D e E significam mãos direita e esquerda, respectivamente.
45
Os valores máximos absolutos de torque aplicados pelos sujeitos estão
apresentados na Tabela 8, relacionados de acordo com a mão, gênero e idade, para
cada embalagem utilizada na coleta.
Tabela 8: Resultados Descritivos da Coleta de Torque – Valores Máximos Absolutos
Embalagens
Amarela
Vermelha
Laranja
Variáveis
Máximo valor de
torque aplicado (N.m)
Máximo valor de torque
aplicado (N.m)
Máximo valor de torque
aplicado (N.m)
Direita 2,126 1,522 1,672
Mão
Esquerda 2,412 1,732 2,072
1,816 1,208 1,620
Gênero
2,412 1,732 2,072
2 1,234 0,640 0,906
3 1,190 0,824 1,150
4 2,104 1,366 1,838
Idade
5 2,412 1,732 2,072
Valor máximo 2,412 1,732 2,072
Observa-se que os maiores valores de torque foram exercidos por sujeitos do
gênero masculino, com 5 anos de idade, utilizando a mão esquerda, nas três
embalagens.
6.3. Resultados Analíticos – Antropometria
A Tabela 9 apresenta os resultados da análise estatística relacionando as
variáveis independentes (peso, estatura, comprimento da mão, comprimento palmar
e largura da mão) com as variáveis dependentes (mão, gênero e idade) objetivando
identificar diferenças entre essas últimas. Para isso, o valor dio de uma variável
desconsidera as diferenças das outras variáveis, por exemplo, o valor médio do
comprimento da mão direita dos sujeitos, independente do gênero e da idade é
11,71 cm (observar na quarta coluna da Tabela 9). No entanto, quando é identificada
46
a diferença estatisticamente significativa aplicando o Test "t" de Student, onde “p”
0,05, entre as variáveis analisadas, estas são consideradas: por exemplo,
identificou-se diferença significativa entre a o direita e esquerda dos sujeitos com
relação à variável “comprimento da mão”, logo a análise entre os gênero considerou
esta diferença.
Tabela 9: Resultados Analíticos da Coleta de Torque (Test "t" de Student)
Observação: Quando “p” 0,05 há diferença estatisticamente significativa
47
Dentre as variáveis antropométricas coletadas, observa-se que apenas para
“comprimento da mão” houve diferença significativa entre a mão direita e esquerda
dos sujeitos.
Com relação às diferenças entre a variável “gênero”, houve diferença
significativa apenas para a medida antropométrica “largura da mão”.
Observa-se que, com relação à idade, houve um aumento constante e
gradual para todas as variáveis antropométricas e a análise estatística indicou que
este aumento foi significativo, exceto para a variável peso, que apresentou um
aumento não significativo entre as idades de 2 e 3 anos.
6.4. Resultados Analíticos – Torque
A Tabela 10 apresenta os resultados da análise estatística relacionando as
variáveis independentes (embalagem amarela, vermelha e laranja) com as variáveis
dependentes (mão, gênero e idade) objetivando identificar diferenças entre essas
últimas. Apresenta também os resultados da análise estatística relacionando, entre
si, os valores médios de torque aplicados na coleta com cada embalagem, isto para
cada variável dependente (mão, gênero e idade).
48
Tabela 10: Análise estatística entre variáveis dependentes e independentes (Test "t" de Student)
Observação: Quando “p” 0,05 há diferença estatisticamente significativa
49
Não houve diferença significativa entre o máximo torque exercido pela mão
direita e esquerda dos sujeitos, para nenhuma das três embalagens.
Observa-se que houve diferenças significativas entre os gêneros masculino e
feminino na aplicação do torque, na média geral e nas médias entre idades, sendo
que o gênero masculino exerceu mais força de torção nas coletas com as três
embalagens.
Houve aumento significativo da capacidade de aplicação da força dos sujeitos
com relação à idade e ocorreu na coleta com as três embalagens.
Pela observação dos resultados, pode-se considerar que a embalagem
vermelha, com menor diâmetro de tampa, possibilitou menor aplicação de força de
torção pelos sujeitos.
Foi também obtido o coeficiente de correlação de Pearson (r
2
) entre as três
variáveis antropométricas e o torque exercido nas três embalagens. Os Resultados
estão descritos na Tabela 11.
Tabela 11: Correlação entre variáveis antropométricas e o torque exercido nas embalagens
Variáveis Antropométricas
Comprimento da
Mão
Comprimento
Palmar
Largura da Mão
11,75 6,75 6,85
Embalagens Médias
(D.P. 0,92) (D.P. 0,56) (D.P. 0,54)
1,104
Amarela
(D.P.0,427)
0,756 * 0,730 * 0,744 *
0,680
Vermelha
(D.P. 0,278)
0,678 0,640 0,693
0,884
Laranja
(D.P. 0,358)
0,709 *
0,698
0,732 *
Observação: * aponta: r
2
> 0,700, ou seja, correlação expressiva
50
Observa-se que a correlação entre a embalagem amarela e as três variáveis
antropométricas apresentou o coeficiente de correlação de Pearson (r
2
) superior a
0,700, indicando uma correlação expressiva entre o aumento das medidas das mãos
dos sujeitos e sua capacidade de aplicação de torque, para tal embalagem. Isso
também ocorre na correlação entre duas variáveis antropométricas e a embalagem
laranja. para a embalagem vermelha, o coeficiente de correlação de Pearson (r
2
)
foi inferior a 0,700, indicando uma baixa correlação entre o aumento das medidas
das mãos dos sujeitos e sua capacidade de aplicação de torque.
51
7. DISCUSSÃO
As tampas das embalagens possuem a função inerente de vedação, além
disso, tais peças podem permitir a dosagem de líquidos, a inviolabilidade dos
produtos no ponto de venda, a conservação das características dos mesmos após a
abertura, acrescentar valor estético à embalagem e, ainda, evitar intoxicações
dificultando o acesso das crianças a produtos tóxicos.
Nesse sentido, os elevados índices nacionais e internacionais de acidentes de
intoxicação envolvendo crianças, apresentados no item “Intoxicação”, confirmam a
necessidade da evolução do design de tampas para produtos com potencial tóxico.
A inexistência, no Brasil, de parâmetros biomecânicos da mão humana, em
especial os infantis, adequados ao design de produtos, apresenta-se como um
limitador para que a indústria ofereça embalagens com tampas realmente seguras.
Considerando que o estudo das forças manuais infantis pode contribuir para o
desenvolvimento de embalagens seguras, observa-se a necessidade de se
compreender como as capacidades manuais se desenvolvem nesta população
específica. Assim, os estudos revisados e apresentados no item “Forças Manuais
Infantis” sobre avaliações de FPP (Força de Preensão Palmar) e FPD (Força de
Preensão Digital) puderam contribuir no entendimento de algumas variáreis
envolvendo a aplicação de forças pela população infantil, apesar de apresentarem
objetivos e metodologias diferentes do presente estudo, bem como disponibilizarem
dados de difícil aplicação no design de produtos.
A partir da revisão dos estudos foi possível observar que algumas variáveis
podem influenciar as forças manuais realizadas pelo público infantil. E os aspectos
metodológicos merecem ser discutidos, uma vez que não são controlados de forma
completamente padronizada.
52
O estudo de Ager, et al. (1984) e de Fullwood (1986) utilizaram o
Dinamômetro Jamar, porém aplicaram procedimentos diferentes durante os testes, e
de acordo com Fees (1982 apud MATHIOWETZ et al., 1986), a força de preensão
manual varia com diferentes posicionamentos biomecânicos.
Dados baseados em diversos posicionamentos dificultam a comparação entre
os indivíduos (MATHIOWETZ, 1986). A American Society of Hand Therapist (ASHT)
sugere a necessidade de se padronizar a posição dos braços durante a avaliação de
força manual. No entanto, os estudos relatam algumas limitações quanto à
dificuldade de as crianças manterem uma mesma posição durante os testes.
Este cuidado com a padronização do posicionamento da postura corporal e
dos membros superiores dos sujeitos é relevante nas avaliações de força, no
entanto, quando uma simulação de atividade cotidiana, como foi objeto deste
estudo, é importante que haja liberdade de movimento análogo à realidade,
mantendo um padrão entre os indivíduos.
Outro aspecto capaz de trazer variações para os resultados das forças
manuais o os estímulos verbais aplicados, pois podem afetar o desempenho do
sujeito (DAVIS, 1974 apud MATHIOWETZ, 1986). Ressalta-se que em estudos nos
quais os sujeitos são crianças, a entonação das instruções e dos estímulos precisa
ser mais bem observada, pois muitas vezes é mais importante do que o conteúdo,
fato que foi considerado no presente estudo.
Observa-se também que há diferenças expressivas entre populações infantis
de países distintos. Em uma comparação realizada por Fullwood (1986), entre os
resultados de seu estudo e os de Ager et al. (1984), observou-se que os sujeitos
australianos têm maior força manual que os sujeitos norte americanos,
particularmente as crianças de 7 a 8 anos. Neste sentido, observa-se que a
53
diferença populacional pode ser outra variável importante para a pesquisa neste
setor.
Não é possível realizar comparações dos resultados desta pesquisa com os
estudos sobre FPP e FPD revisados, uma vez que os procedimentos metodológicos
são diferentes e, principalmente, a atividade biomecânica analisada é outra. No
entanto, algumas similaridades esperadas puderam ser observadas, como a
existência do aumento da capacidade de aplicação de força com relação à idade e
valores de força superiores do gênero masculino comparados aos do gênero
feminino, mesmo com diferenças não significativas.
Estudos que avaliam o uso de embalagens e que disponibilizam dados sobre
as capacidades biomecânicas dos usuários durante a interface com tais produtos,
como as avaliações de torque apresentadas no item “Avaliações de Torque na
Abertura de Embalagens”, são importantes e mais apropriados para o design de
embalagens adequadas.
As avaliações presentes na literatura privilegiam sujeitos adultos e idosos,
pois procuram a melhor interface para os usuários. No caso de avaliações com
embalagens de produtos com potencial tóxico, é necessária a realização de
simulações com as crianças, com o objetivo de conhecer suas capacidades na
manipulação desses produtos e utilizar tais capacidades como fator limitador para o
acesso desse público aos produtos.
Apesar de apenas um dos estudos revisados incluir crianças na amostra, o de
Peebles e Norris (2000), algumas discussões podem ser feitas relacionando os
dados das avaliações com a metodologia e resultados do presente estudo.
Com relação à metodologia, foi realizada, nesta pesquisa, uma repetição na
coleta de torque, para as duas mãos, sendo que foram encontradas diferenças
significativas entre a primeira e a segunda coleta para duas embalagens. Também
54
foi realizada uma repetição na avaliação feita no estudo de Voorbij e Steenbekkers
(2002), onde não foram encontradas diferenças significativas entre as coletas (sendo
que os pesquisadores optaram por utilizar a média entre as duas mensurações).
Observa-se que embora os procedimentos metodológicos sejam bastante similares,
como o posicionamento livre (em ) dos sujeitos, existe a diferença entre as idades
dos sujeitos dos dois estudos, uma vez que na referida avaliação os sujeitos eram
de idade superior a 20 anos, e no presente estudo os sujeitos eram crianças com
idade pré-escolar. A baixa idade dos sujeitos parece determinar a necessidade da
realização de pelo menos uma repetição em avaliações desta natureza, uma vez
que pode variar a capacidade de aplicação de força entre um momento e outro. É
importante também ressaltar que as diferenças estatisticamente significativas
encontradas entre as coletas são referentes às duas embalagens que possuíam as
duas tampas com as dimensões extremas, ou seja, com maior altura e menor
diâmetro, as quais estão relacionadas com os maiores e menores valores de torque
aplicados, respectivamente. Nesse sentido, as dimensões parecem também ter
determinado a capacidade de aplicação de maior ou menor força entre os dois
momentos de coleta, devido à diferença de superfície de contato com a mão dos
sujeitos.
Foram encontradas diferenças significativas entre os gêneros feminino e
masculino quanto à capacidade de aplicação de força de torção, sendo que o gênero
masculino apresentou os maiores valores de torque. Peebles e Norris (2000) não
encontraram diferenças entre os gêneros até a idade de 60 anos e somente a partir
desta idade é que os homens apresentam maior capacidade de aplicação de torque.
Endente-se que características particulares de amostras diferentes podem
determinar alterações na proporção de força entre os gêneros.
55
Não foram encontradas diferenças significativas entre a capacidade de
aplicação de torque entre as mãos direita e esquerda, embora os valores referentes
à mão esquerda sejam ligeiramente maiores. Ressalta-se que nesta faixa etária,
inferior aos 5 anos, a lateralidade ainda não está estabelecida (BEAR-LEHMAN et
al., 2002) e, por isso, a habilidade na execução de determinado movimento, como
girar a tampa no sentido anti-horário, não se relaciona a uma ou outra mão.
Com relação à antropometria, pode-se observar que dentre as três variáveis
antropométricas coletadas com os sujeitos desta pesquisa, para a variável
“comprimento da o” houve diferença significativa entre a mão direita e a mão
esquerda. Isto é corroborado pelo estudo de Bear-Lehman et al. (2002) o qual
encontrou, com relação à idade, um aumento significativo para a mão esquerda e
não significativo para a mão direita. Assim como aponta a literatura (IIDA, 2005), os
sujeitos do gênero masculino apresentaram-se, em média, mais altos e mais
pesados do que as meninas, embora com diferenças não significativas. Para as
variáveis antropométricas das mãos infantis, os meninos também apresentaram, em
média, dimensões superiores às meninas, com diferenças não significativas.
As diferenças significativas encontradas na aplicação de torque entre os
grupos de idade dos sujeitos demonstram que um aumento gradativo dessa
capacidade, o que é corroborado pelo estudo de Peebles e Norris (2000), os quais
encontraram este aumento gradual dos 2 aos 15 anos de idade.
O presente estudo avaliou tampas com diâmetros de 29, 35 e 36 milímetros.
Percebe-se que a diferença entre estas dimensões é pequena, porém combinadas
com outros elementos como a altura da tampa e ranhuras presentes na superfície,
possivelmente determinaram as diferenças estatisticamente significativas entre os
valores médios de torque referente às três embalagens analisadas.
56
Os maiores valores de torque foram alcançados nas tampas com maiores
diâmetros, 35 mm e 36 mm (embalagens amarela e laranja), resultado que corrobora
com o estudo de Peebles e Norris (2000) que avaliou tampas com três diâmetros
diferentes (45, 65 e 85 milímetros) e encontrou um aumento na capacidade de
aplicação de força de torção proporcional ao aumento do diâmetro das tampas, isto
tanto para as crianças quanto para os adultos e idosos.
Observa-se, no entanto, que no presente estudo, houve diferença
estatisticamente significativa entre os valores de torque aplicados nas tampas de Ø
35 e 36 mm, sendo que os valores médios na tampa de Ø 36 mm foram menores
que na de Ø 35 mm, isto ocorreu devido à tampa de Ø 35 mm apresentar altura
superior a da tampa de Ø 36 mm, aumentando a superfície de contato na interface
das mãos dos sujeitos com a mesma. Esta situação pode ser explicada (Tabela 11)
a partir da expressiva correlação entre a antropometria das mãos dos sujeitos e os
valores de torque aplicados na tampa da embalagem amarela 35 mm e maior
altura, portanto maior superfície de contato) e a baixa correlação entre antropometria
e força para a tampa da embalagem vermelha (menor diâmetro e altura).
Outro fato a ser considerado é descrito por Rohles et al. (1983 apud IMRHAN,
1994), os quais recomendam tampas com diâmetros de, no mínimo, 70 mm para
embalagens especiais de proteção à criança. Esta recomendação também é prevista
por Ivergard et al. (1979 apud IMRHAN, 1994), cujo estudo apontou que idosos
transmitem maiores valores de torque em tampas com diâmetros maiores enquanto
que as crianças aplicam menores valores de torque para estas tampas.
Neste sentido, os resultados obtidos no presente estudo e na avaliação
aplicada por Peebles e Norris (2000) não corroboram com as afirmações anteriores,
já que a tampa com menor diâmetro (29 mm) seria a mais recomendada para
embalagens que dificultassem a abertura por crianças, pois foi a que permitiu menor
57
aplicação de força por estes indivíduos. Peebles e Norris (2000) avaliaram tampas
com diâmetros superiores a 70 mm e, mesmo assim, as crianças continuam
aplicando maior força nestas do que nas de diâmetros menores.
O presente estudo não considerou o efeito do acabamento (liso ou ranhurado)
da superfície das tampas na aplicação de torque, pois utilizou apenas tampas de
embalagens reais, e todas estas apresentaram ranhuras, embora houvesse
diferentes espaçamentos entre os frisos verticais. Outros estudos apontaram que a
presença deste tipo de acabamento interfere no torque, melhorando a capacidade
de aplicar força devido ao atrito (PEEBLES e NORRIS, 2000). Outros ainda indicam
que dependendo do diâmetro da tampa, menores de 74 mm, a aplicação de força de
torção não é realçada com a utilização de ranhuras na superfície da mesma
(IVERGARD et al. (1979) apud IMRHAN (1994)).
Outro aspecto capaz de influenciar a aplicação de torque é a característica
formal (o design) da embalagem, como diâmetro, altura, ranhuras, enfim, elementos
que realizam interface com a mão que o sujeito utiliza para segurá-la enquanto
posiciona a outra na tampa da embalagem. No entanto, observa-se que a diferença
entre a morfologia das três embalagens utilizadas parece não ter interferido nos
resultados, uma vez que as mãos dos sujeitos apresentaram-se bastante pequenas
em relação às dimensões das mesmas, e assim as variações de forma, que
poderiam influenciar na melhor pega de uma ou outra embalagem, foram
indiferentes.
58
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A revisão da literatura acerca dos acidentes de intoxicação infantil e sua
relação com os domissanitários apontou o nexo causal entre o design inadequado
das tampas das embalagens destes produtos e a ocorrência de acidentes.
O objetivo proposto para o presente estudo foi alcançado satisfatoriamente,
uma vez que foi possível realizar uma avaliação biomecânica capaz de apresentar
parâmetros para o design ergonômico de tampas seguras. Os resultados obtidos
demonstram também que a aplicação de avaliação biomecânica por meio de
simulação é praticável com crianças na idade pré-escolar.
Os procedimentos para a mensuração do torque máximo foram baseados em
metodologias empregadas em estudos similares, com determinadas adaptações
relativas aos objetivos a serem alcançados. A simulação, utilizando embalagens
reais, foi possível a partir do posicionamento do instrumento de medição no interior
do próprio produto a ser analisado. Isso permitiu gerar dados confiáveis, obtendo
resultados representativos e de valores reais de torque aplicados pelos sujeitos,
além de poder ser empregada em outras abordagens.
Com relação aos estudos sobre avaliações de torque, empregando a
simulação de abertura de embalagens com tampas de diferentes diâmetros, pode-se
observar a existência de contradições e resultados conflitantes a respeito das
variáveis que influenciam esta ação biomecânica. Estas variações são determinadas
tanto pela falta de padronização metodológica dos procedimentos e dos
equipamentos empregados, como pelas diferenças específicas de cada amostra
populacional.
Dentre as diversas variáveis que influenciam a capacidade de aplicação de
torque, a principal é o design das tampas. Percebe-se que a melhor combinação de
59
características, para se desenvolver tampas seguras, não é completamente
conhecida, mas os resultados deste estudo apontam que a variação dimensional da
superfície de contato, otimizada pelo aumento do diâmetro e altura da tampa,
interfere de forma significativa na geração de força.
Os valores médios de torque alcançados nas avaliações com a tampa de
menor diâmetro (embalagem vermelha) apresentaram-se significativamente
inferiores se comparados às outras embalagens, com maiores superfícies de contato
das tampas.
Desta maneira, observando que o propósito deste estudo foi especificar
parâmetros mínimos para o design ergonômico de tampas seguras, as dimensões
recomendadas para as tampas de produtos com potencial tóxico devem ser
próximas às apresentadas pela tampa de menor diâmetro desta avaliação, cujo
design permitiu menor capacidade de aplicação de torque pelas crianças, o que
dificultaria o acesso das mesmas, numa situação real, ao produto tóxico.
Considerando que foram identificadas, durante a revisão de literatura e no
decorrer do estudo, diversas variáveis capazes de influenciar a aplicação de forças
relacionadas à interface com embalagens, são estabelecidas algumas sugestões:
Estudar a capacidade de aplicação de torque por outros grupos de
indivíduos (nas mesmas condições deste estudo);
Identificar a influência do acabamento superficial das tampas na geração
de força;
Avaliar a percepção infantil de conforto relacionada à aplicação de torque
em tampas com diferente design, a fim de conhecer se esta variável interfere
nos resultados.
Por fim, ressalta-se que os procedimentos adotados no presente estudo
alcançaram um propósito bastante específico, relacionado ao torque aplicado na
60
abertura de embalagens por crianças, no entanto, este movimento biomecânico é
também empregado em outras atividades da vida diária e, considerando que este
público realiza interface com diversos produtos, os parâmetros de força
estabelecidos podem contribuir para a melhor usabilidade e segurança relacionadas
a outros artefatos.
61
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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64
APÊNDICES
Apêndice A Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
65
Apêndice B Protocolo de Abordagem
66
ANEXOS
67
ANEXO A
Termo de concessão de bolsa de mestrado FAPESP
ANEXO B
Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Sagrado Coração
68
ANEXO C Aprovação da Secretaria Municipal da Educação da cidade de Bauru SP
69
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