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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS
CURSO DE MESTRADO EM CIÊNCIAS MÉDICAS
FERNANDA NEVES PINTO
“AGREGAÇÃO FAMILIAR DA OBESIDADE E FATORES DE RISCO
ASSOCIADOS EM POPULAÇÃO ADSCRITA AO PROGRAMA MÉDICO DE
FAMÍLIA DE NITERÓI - RJ, BRASIL, ESTUDO CAMELIA.”
Niterói Rio de Janeiro
2009
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11
FERNANDA NEVES PINTO
“AGREGAÇÃO FAMILIAR DA OBESIDADE E FATORES DE RISCO
ASSOCIADOS EM POPULAÇÃO ADSCRITA AO PROGRAMA MÉDICO DE
FAMÍLIA DE NITERÓI - RJ, BRASIL, ESTUDO CAMELIA.”
ORIENTADORA: PROF
A
. DR
A
MARIA LUIZA GARCIA ROSA
CO-ORIENTADOR: PROF
O
. DR
O
GILBERTO PEREZ CARDOSO
Niterói Rio de Janeiro
2009
Dissertação apresentada ao Curso de
Pós-Graduação em Ciências Médicas
da Universidade Federal Fluminense,
como requisito parcial para obtenção
do grau de Mestre. Área de
concentração: Ciências Médicas.
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12
FICHA CATALOGRÁFICA
Pinto, Fernanda Neves
Agregação familiar da obesidade e fatores
de risco associados em população adscrita ao
Programa Médico de Família de Niterói RJ,
Brasil, Estudo Camélia / Fernanda Neves Pinto.
Niterói: [s.n.], 2009.
180f., 30 cm.
Dissertação (Mestrado em Ciências Médicas)
Universidade Federal Fluminense, 2009.
1. Obesidade. 2. Resistência à Insulina. 3.
Diabetes Mellitus Tipo 2. 3. Dislipidemias. 4.
Doenças Cardiovasculares. 5. Fatores de risco. 6.
Estilo de vida. 7. Médicos de Família. 8.
Comportamento Alimentar. I.Título.
CDD 616.398
13
FERNANDA NEVES PINTO
“AGREGAÇÃO FAMILIAR DA OBESIDADE E FATORES DE RISCO
ASSOCIADOS EM POPULAÇÃO ADSCRITA AO PROGRAMA MÉDICO DE
FAMÍLIA DE NITERÓI - RJ, BRASIL, ESTUDO CAMELIA.”
Aprovada em 21 de setembro de 2009.
BANCA EXAMINADORA
Prof
o
Dr
o
Maurício Cagy
Departamento de Epidemiologia e Bioestatística - UFF
Prof
a
Dr
a
Edna Massae Yokoo
Departamento de Epidemiologia e Bioestatística - UFF
Prof
o
Dr
o
Saint Clair dos Santos Gomes Junior
Instituto Fernandes Figueira IFF - FIOCRUZ
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação
em Ciências Médicas da Universidade Federal
Fluminense, como requisito parcial para obtenção do
grau de Mestre. Área de concentração: Ciências
Médicas.
14
DEDICATÓRIA
Aos meus pais...
Foi por vocês que cheguei até aqui e é por vocês que irei continuar...
15
AGRADECIMENTOS
São tantos e tão essenciais...
Inicialmente gostaria de compartilhar com todos, a imensa satisfação e sensação de
mais uma etapa cumprida de minha vida. Somente eu e os mais próximos, sabem o quanto
percorri em busca desta conquista, que antes era um sonho e agora se torna realidade.
Primeiramente, meus agradecimentos à Deus, senhor de todas as coisas, conhecedor
de todas as minhas aflições, do meu caminho e de meus sonhos... Obrigada Senhor por se
fazer presente em minha vida a cada momento!!! Aaqui sei que sempre esteve ao meu
lado...
À minha família, Ney (meu pai), “Minha” (minha mãe), Fernando (meu irmão),
Carolina (minha cunhada), Anna Clara (sobrinha de coração) e Maria Fernanda (minha
sobrinha e afilhada, a mais nova razão do nosso viver), por tudo que todos representam:
união, amor, fortaleza, amizade verdadeira, amparo, razão do meu existir e viver...
À Professora Maria Luiza Garcia Rosa, minha orientadora, apesar de nossas
divergências, pela sua receptividade, compromisso, determinação, dedicação, por tudo que
representou nessa conquista, pela mão que estendeu-me e que não me deixou no momento em
que fraquejei. Você foi mais do que mestra, foi acima de tudo humana. Muito obrigada Maria
Luiza!
Ao Professor Gilberto Perez Cardoso, meu co-orientador, quem me abriu as
“portas”.
À Professora Edna Yokoo Massae, por seu olhar e contribuição.
16
A todos os pesquisadores realizadores do Projeto CAMELIA, em especial as
nutricionistas “nutricameliantes”, desde as que desistiram no meio do percurso, até as que
permaneceram unidas e comprometidas do início ao fim e as que entraram no seu fim. Em
especial à Aline Nery, Mariana Costa, Omara, Soraya e Bárbara.
À Reila Taline Saraiva de Jesus, acadêmica de Medicina desta universidade, por sua
alegria, compromisso e suporte efetivo para tabulação dos dados e acervo bibliográfico.
Ao Augusto, meu namorado, e Dona Georgina, sua mãe, pelo companheirismo, pelos
conselhos e reflexões, pelo apoio e firmeza nas horas mais difíceis. Apoio fundamental na
reestruturação de minha “nova” vida...
À Gestora do Curso de Nutrição, Viviane Mukim, e à Diretora Acadêmica, Daniele
Mello, da Universidade Salgado de Oliveira, abonando minhas faltas quando precisei para
cumprimento de atividades do mestrado.
À Coordenação e ao Diretor, Dr. João Barbosa, da Policlínica da Fundação Oswaldo
Cruz que autorizaram antecipação de minhas férias para que eu conseguisse finalizar minha
dissertação em tempo.
Às secretárias, Luisiane, Luciana e Valéria da Policlínica da Fundação Oswaldo Cruz
que efetivamente contribuíram na mudança de minhas férias desmarcando as consultas e
remarcando todos os pacientes, tarefa árdua... O meu muito obrigado meninas!!!
À Coordenadora Programa Médico de Família de Niterói, à Secretaria de Saúde do
município de Niterói e a todos os pacientes assistidos por este programa de saúde que
participaram do Projeto CAMELIA.
À Coordenação e Secretaria do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas
da Universidade Federal Fluminense
17
RESUMO
Introdução: A obesidade tem etiologia multifatorial e a ocorrência nos pais está
associada com aumento da prevalência nos filhos. No Brasil, não estudos que permitam
avaliar a agregação familiar de obesidade e os fatores ambientais associados. Objetivo:
Investigar se há agregação familiar de obesidade e verificar a contribuição de variáveis
ambientais para esta associação em população assistida pelo Programa Médico de Família
(PMF) em Niterói-RJ. Métodos: Trata-se de um caso-controle familiar envolvendo famílias
cujos pais obesos foram classificados como casos e os não obesos, como controles. As
associações foram estimadas através do modelo de Equações de Estimação Generalizadas. As
correlações de obesidade foram estimadas com o FCOR. Resultados: Identificou-se agregação
familiar de obesidade para os diferentes pares familiares com correlações brutas e ajustadas
com significância estatística. A correlação entre casais foi semelhante à encontrada entre pais
e filhos e inferior à encontrada entre irmãos. Os coeficientes de correlação, após o controle
por sexo e comorbidades, diminuíram entre pais e filhos, sugerindo haver contribuição dessas
variáveis para a correlação bruta da obesidade. Após a inclusão do fumo e grupo alimentar,
houve um pequeno decréscimo na correlação entre irmãos, indicando haver contribuição das
duas variáveis. Entre casais, após a inclusão dos controles, a correlação aumentou, indicando
que a correlação de obesidade entre casais estava subestimada. Estes resultados apontam para
uma maior participação de variáveis ambientais na agregação familiar da obesidade. Para um
fenótipo cuja variação fosse totalmente atribuível a efeitos genéticos, as correlações entre
irmãos e entre pais e filhos deveriam ser próximas e a de casais, nula. No entanto,
encontramos pequena influência das variáveis ambientais nas correlações. Futuros estudos
devem ser realizados para explorar os riscos ambientais compartilhados pelas famílias,
visando reconhecer os grupos vulneráveis para melhor orientar ações em saúde e proporcionar
intervenção adequada à obesidade.
18
ABSTRACT
Introduction: Obesity has a multifactorial etiology and occurrence in parents is
associated with increased prevalence in children. In Brazil, we did not find studies that assess
the familial aggregation of obesity and associated environmental factors. Objective:
Investigate whether there is familial aggregation of obesity and determine the contribution of
environmental variables for this association in population assisted by the Family Health
Program (PMF) in Niterói. Methods: This is a case-control family involving families whose
obese parents were classified as cases and non-obese, as controls. Associations were
estimated by the model of generalized estimation equations. The correlations of obesity were
estimated with the FCOR. Results: We identified familial aggregation of obesity for different
pairs with crude and adjusted correlations with statistical significance. The correlation
between couples was similar to that between parents and children and smaller than that found
among siblings. The correlation coefficients after controlling for sex and comorbidities
decreased between parents and children, thus suggesting the contribution of these variables
for the correlation of crude obesity. After the inclusion of tobacco and food group, there was a
small decrease in the correlation between siblings, indicating a contribution of the two
variables. Among couples after the inclusion of the controls, the correlation increased,
indicating that the crude correlation between pairs of obesity was underestimated. Our results
indicate a greater contribution of environmental factors in familial aggregation of obesity. For
a phenotype whose variation was entirely attributable to genetic effects, the correlations
between siblings and between parents and children should be forthcoming and couples, null.
However we found little influence of environmental variables in the correlations. Future
studies should be conducted to explore the risks shared by families, aiming to recognize
vulnerable groups to better target public health efforts and provide appropriate intervention to
obesity.
19
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 25
REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................. 29
Prevalência da obesidade .......................................................................................... 29
Definição, diagnóstico e classificação de obesidade ................................................ 31
Impacto clínico da obesidade no mundo e no Brasil ................................................ 33
Comorbidades associadas à obesidade ..................................................................... 34
Resistência Insulínica e Diabetes Mellitus Tipo II (DMII) .................................. 35
Dislipidemia .......................................................................................................... 37
Distúrbios Cardiovasculares ................................................................................. 38
Outros agravos à saúde associados à obesidade ................................................... 40
Fatores associados à obesidade ................................................................................. 41
Fatores sócio-demográficos .................................................................................. 42
Fatores de Estilo de Vida ...................................................................................... 46
Programa Médico de Família (PMF) de Niterói-RJ ................................................. 65
Avaliação do consumo alimentar .............................................................................. 67
Instrumentos para investigação do consumo alimentar ........................................ 67
Criação de grupos alimentares .............................................................................. 71
Padrão alimentar como medida para avaliar a relação da dieta com desfechos em
saúde ................................................................................................................................. 72
Associação entre padrões alimentares e excesso de peso ..................................... 76
Agregação familiar e obesidade ................................................................................ 87
Concordância entre casais e obesidade ................................................................. 89
Separando ambiente da genética ........................................................................... 93
Agregação familiar, Padrão Alimentar e Obesidade ............................................ 95
Analisando associação entre exposição e desfecho em indivíduos agregados em
famílias ................................................................................................................................. 96
Estimação ajustada das correlações familiares efeitos das similaridades de
variáveis de exposição na correlação familiar do desfecho .............................................. 97
JUSTIFICATIVA ....................................................................................................... 99
OBJETIVO ................................................................................................................ 101
MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 102
20
Desenho e Local do Estudo .................................................................................... 102
População do presente estudo ................................................................................. 102
Critérios de inclusão e exclusão do Estudo CAMELIA ..................................... 102
Critérios de inclusão e exclusão do presente estudo ........................................... 103
Cálculo Amostral do Estudo CAMELIA ............................................................ 103
Procedimentos ..................................................................................................... 103
Classificação das variáveis ..................................................................................... 104
Desfecho ............................................................................................................. 104
Variáveis de exposição ....................................................................................... 105
Métodos estatísticos ................................................................................................ 110
Considerações Éticas .............................................................................................. 110
Financiamento e Recursos ...................................................................................... 111
RESULTADOS ......................................................................................................... 112
DISCUSSÃO .............................................................................................................. III
CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS ............................................................ XII
Vieses de seleção devido aos desvios do protocolo do estudo ............................... XII
Limitações do estudo ............................................................................................. XIII
Pontos positivos do estudo ..................................................................................... XIV
CONCLUSÃO ........................................................................................................... XV
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... XVI
ANEXOS .......................................................................................................... XXXVIII
Anexo 1: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................................. XXXIX
Anexo 2: Questionário do Estudo CAMELIA ....................................................... XLI
21
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1 Tendência temporal na prevalência de obesidade (imc 30 kg/m
2
) na população
brasileira, com 20 ou mais anos de idade, nas grandes regiões do brasil, segundo gênero. 21
Quadro 2 Pontos de corte para imc estabelecidos para adolescentes 24
Quadro 3 Pontos de corte para imc estabelecidos para adultos 24
Quadro 4 - Características dos estudos que avaliaram padrões de dieta definidos a priori e sua
associação com obesidade. 73
Quadro 5 - Características dos estudos internacionais que avaliam padrões de dieta definidos a
posteriori e sua associação com obesidade. 74
Quadro 6 - Características dos estudos nacionais que avaliam padrões de dieta definidos a
posteriori e sua associação com obesidade. 77
Quadro 7 Freqüência diária para cada opção de freqüência do QFSA 98
Quadro 8 - Agrupamento dos alimentos usados na análise de padrões alimentares conforme
características nutricionais, efeitos biológicos e freqüência de consumo grupos de alimentos
negativo. 100
22
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 - Freqüência descritiva de variáveis demográficas, socioeconômicas,
comportamentais, comorbidades e antecedentes familiares com excesso de peso. população
assistida pelo pmf de niterói, rio de janeiro, brasil 2006 a 2007 (n=974). 104
Tabela 2- Freqüência de presença ou ausência de obesidade de cada grupo de membro
familiar da população assistida pelo pmf de niterói, rio de janeiro, brasil 2006 a 2007 (n=974).
105
Tabela 3 Odds Ratio (OR) bruto
1
e ajustado
2
para obesidade segundo características
demográficas, socioeconômicas, comportamentais, comorbidades. população assistida pelo
pmf de niterói, rio de janeiro, brasil 2006 a 2007 (n=974) 106
Tabela 4 Odds Ratio (OR) bruto
1,2
e ajustado
2,3
do consumo por grupos de alimentos
segundo presença ou não de obesidade
4
. população assistida pelo pmf de niterói, rio de
janeiro, brasil 2006 a 2007. 107
Tabela 5 Odds Ratio (OR) ajustados
1
para obesidade
2
e variáveis demográficas,
comportamentais, comorbidades e grupos alimentares. população assistida pelo pmf
de niterói, rio de janeiro, brasil 2006 a 2007.
109
Tabela 6 Correlações brutas
1
e ajustadas
1,2,3,4
entre pares familiares e obesidade da
população assistida pelo pmf de niterói, rio de janeiro, brasil 2006 a 2007. 111
23
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
LDL
Lipoproteína de baixa densidade
QFA
Questionário de freqüência alimentar
WHO
World Healthy Organization
PMF
Programa Médico de Família
ENDEF
Estudo Nacional da Despesa Familiar
PNSN
Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
POF
Pesquisa com base no Orçamento Familiar
IMC
Índice de massa corpórea
DCNT
Doença crônica não transmissível
OMS
Organização Mundial de Saúde
AGL
Ácido graxo livre
IL
Interleucina
TNF
Fator de necrose tumoral
DM II
Diabetes Mellitus tipo 2
NHANES
National Healthy and Nutrition Examination Survey
GLUT-4
Transportador de glucose de células musculares e adiposas
CoA
Coenzima A
HDL
Lipoproteína de alta densidade
DCV
Doença Cardiovascular
VLDL
Lipoproteína de muito baixa densidade
EUFIC
Europian Food Information Council
SRA
Sistema renina-angiotensina
SM
Síndrome metabólica
SSE
Status socioeconômico
PIB
Produto Interno Bruto
OR
Odds Ratio
IC
Intervalo de confiância
EPIC
European PRospective Investigation into Cancer and Nutrition
NPY
Neuropeptídeo Y
TMB
Taxa metabolic basal
24
ETA
Efeito térmico dos alimentos
CDC
Centers for Disease Control and Prevention
AFL
Atividade física de lazer
TV
televisão
DP
Desvio padrão
Kcal
quilocalorias
g
grama
DM
Dieta meditrrânea
PMF
Programa Médico de Família
SUS
Sistema único de saúde
QSFA
Questionário semiquantitativo de freqüência alimentar
R24h
Recordatório de 24h
QFA
Questionário de freqüência alimentar
IQD
Índice de Qualidade da Dieta
IASA
Índice de Alimentação Saudável Alternativo
MESA
Multi-Ethnic Study of Atherosclerosis
RCQ
Razão cintura-quadril
PASC
Padrão alimentar saudável custo
PASR
Padrão alimentar de risco custo
EPIC
European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition
AF
Agregação familiar
HAS
Hipertensão Arterial Sistêmica
HFO
História familiar de obesidade
CAMELIA
Projeto cardio-metabólico-renal familiar
GEE
Equações de Estimação Generalizadas
FCOR
Family correlation
25
INTRODUÇÃO
Nos últimos 50 anos, a população brasileira experimentou intensas transformações nas
suas condições de vida, saúde e nutrição (Ferreira et al., 2006; Rinaldi et al., 2008). Dentre as
principais mudanças, destaca-se a obesidade, o problema nutricional de maior ascensão
observado nas últimas décadas (Pinheiro et al., 2004; Ferreira et al., 2006; Malta et al., 2006).
A obesidade é hoje considerada uma epidemia mundial presente tanto em países
desenvolvidos como naqueles em desenvolvimento, independente de condições econômicas e
sociais (Velásquez-Meléndez et al., 2004). Os danos acarretados por ela são extensos e constitui um
fator de risco importante para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, dislipidemia,
diabetes, resistência insulínica, hipertensão arterial e aterosclerose precoce (Francischi et al., 2000;
Mirmiram et al., 2002; Pi-Sunyer, 2002; Parillo et al., 2004; Pinheiro et al., 2004; Ferreira et al.,
2006; Malta et al., 2006), além de relacionar-se a outras enfermidades incluindo as
cerebrovasculares, certos tipos de câncer e prejuízos psicossociais que são responsáveis por uma
parcela significativa e crescente na carga de doenças no Brasil. No entanto, obesidade o é
preocupante apenas pelas implicações à saúde, mas também pela complexidade de seu tratamento e
controle (Rinaldi et al., 2008).
A etiologia da obesidade é uma das mais complexas, pois seu desenvolvimento é
multicausal e resulta de complexas interações entre fatores genéticos, psicológicos,
socioeconômicos, culturais e ambientais (Francischi et al., 2000; Abrantes et al., 2003;
Pinheiro et al., 2004). A epidemia da obesidade tem apontado o estilo de vida e o meio ambiente
como seus principais fatores causais, associados ao balanço energético positivo, devido ao
sedentarismo e mudanças nos padrões de consumo alimentar (Vesquez-Mendez et al., 2004). No
entanto, o efeito dos fatores de estilo de vida parece ser modulado por genes, devido à interão
entre o meio ambiente e a genética (Jacobson et al., 2007).
Padrões familiares de adiposidade implicam a contribuição genética, mas fatores
genéticos operam no contexto ambiental para produzir fenótipos. O ganho de peso é
expressado quando o indivíduo é exposto a um determinado ambiente (Bouchard e Perussé,
1988; Bouchard, 1991).
26
O ambiente familiar também tem sido foco de estudos que buscam estimar sua associação
com a prevancia da obesidade e de seus membros, seja a partir da idéia de assortative mating
entre casais, segundo a qual a escolha do par é influenciada pelas características fenopicas, ou a
partir da idéia de que a convivência aumenta a probabilidade de que os bitos sejam
compartilhados (efeito da coabitação). Segundo Di Castlenuovo et al. (2009), o assortative mating
influencia a concordância para pressão arterial, tabagismo, vel de glicose sangüínea, perfil de
lipoproteínas de baixa densidade (LDL-colesterol), peso corporal, índice de massa corporal e
circunferência de cintura. Em seu estudo de revisão sistetica, demonstrou concordância entre
casais estatisticamente significante para a maioria dos fatores de risco para doenças
cardiovasculares. Concluiu-se que a intervenção para reduzir os fatores de risco cardiovasculares
deve ser direcionada para ambos os membros do casal. Segundo Katzmarzyk et al. (2002), existem
similaridades entre esposos na adiposidade. A predisposição getica e as mutações para obesidade
são mais prevalentes entre pais obesos. A hipótese da formação de casais baseada nas características
externas e culturais (assortative mating ) para o desenvolvimento da obesidade confere um elevado
risco para o desenvolvimento da obesidade na geração de filhos (Jacobson et al., 2007).
A obesidade dos pais está associada com aumento da prevalência da obesidade dos
filhos, aumentando o risco de estes se tornarem obesos durante a fase adulta, independente do
estado de obesidade na infância. Isto indica que a concordância da obesidade entre pais constitui
um fator de risco importante e identificável que deve ser considerado no contexto dos fatores de
riscos associados ao desenvolvimento desta condição e parece contribuir para sua epidemia
(Dalcastag et al., 2008).
Pinheiro et al. (2004) argumentam que a hereditariedade da obesidade não é superior a
33%. Portanto, parece correto afirmar que, mesmo que a obesidade evolua dentro da
influência genética, os determinantes ambientais desempenham um papel predominante no
desenvolvimento desta condição. O aumento significativo nos casos de obesidade nos últimos
20 anos dificilmente poderia ser explicado por mudanças genéticas que tenham ocorrido neste
espaço de tempo. Sendo assim, os principais fatores envolvidos no desenvolvimento da
obesidade têm sido relacionados aos fatores ambientais (Pereira et al., 2003). Portanto, a
obesidade tende a agregar nas famílias como resultado da interação entre fatores ambientais e
genéticos.
A transição epidemiológica nutricional refere à mudança do estado nutricional da
população, resultante, em parte, de modificações do estilo de vida, alteração do consumo
alimentar, inatividade física e determinada pela inter-relação dos fatores econômicos,
27
demográficos e culturais ocorridos na sociedade, principalmente nas quatro últimas décadas
(Rinald et al., 2008).
O consumo alimentar é um dos principais fatores determinantes passíveis de
modificação, por isso é alvo de investigações (Garcia, 2003). Para que o consumo seja
caracterizado de forma adequada, é fundamental que seja estudada a dieta habitual dos
indivíduos. Dentre os instrumentos utilizados para se avaliar o consumo alimentar, o
Questionário de Freqüência Alimentar (QFA) tem sido o método mais empregado em estudos
epidemiológicos (Willett, 1998; WHO, 2003). Por meio dessa técnica, é possível caracterizar
o padrão alimentar em populações e observar a relação entre grupos alimentares e doenças
(Mondini et al., 1994; Velásquez-Melendez et al., 1997). Os padrões alimentares podem ser
definidos teoricamente, como a priori, quando as variáveis nutricionais são agrupadas de
acordo com critérios nutricionais escolhidos com precedência (Newby & Tucker, 2004). Essa
análise constitui uma abordagem muito usada para caracterizar o consumo alimentar habitual
dos indivíduos, analisar o efeito global da dieta e facilitar a compreensão das práticas
dietéticas, contribuindo assim para promoção da saúde, considerando a relação da alimentação
com o aparecimento de doenças (Hu, 2002).
A inatividade física está associada à transição nutricional. A urbanização e a
industrialização criaram um ambiente com reduzida prática de atividade física, devido à
exposição excessiva a televisão, jogos eletrônicos, computadores e serviços de pronta entrega
no domicílio. A prática freqüente de exercícios físicos diminui o risco de obesidade, atua na
regulação do balanço energético, influencia na distribuição do peso corporal, preserva e
mantém a massa magra, além de promover perda de peso corporal (Rinaldi et al., 2008).
O vel de escolaridade e renda tem sido identificado como variáveis que podem interferir
na forma como a população escolhe seus alimentos, na adão de comportamentos saudáveis e na
interpretação das informões sobre cuidados para a saúde, podendo, assim, influenciar a magnitude
da prevalência do sobrepeso e da obesidade. No Brasil, tem dimindo a associação positiva entre a
obesidade e o nível socioeconômico (Vesquez-Meléndez et al., 2004).
O fumo constitui fator de risco associado à obesidade (Klesges et al., 1997; Froom et al.,
1998). Fumantes freqüentemente apresentam menores índices de massa corporal, quando
comparados a não fumantes. A cessação do tabagismo resulta em aumento de peso corporal
tanto em homens como em mulheres, e mais de 75% dos fumantes ganham peso ao tornarem-
se abstinentes (Pomerleau et al., 2000; Klein et al., 2004).
A relação entre o consumo de bebidas alcoólicas e obesidade é controversa. Alguns
estudos apontam associação positiva (Panagiotakos et al., 2004), inversa (Williamson et al.,
28
1987; Liu et al., 1994) e inexistente (Marins et al., 2001; Artalejo et al., 2002; Tur et al.,
2005). Essa associação pode decorrer do efeito da causalidade reversa, pois indivíduos obesos
podem ter parado de consumir bebidas alcoólicas como meio de diminuir a ingestão de
energia (Henn, 2006).
Neste contexto, o propósito do presente estudo exploratório foi investigar se
agregação familiar de obesidade e verificar a contribuição de variáveis ambientais para esta
associação em uma amostra específica assistida pelo Programa Médico de Família (PMF) em
Niterói-RJ, um cenário ideal por abranger grupos familiares controlados, fornecendo conjunto
de dados pertinentes a este estudo.
Palavras chaves: agregação familiar, obesidade, padrão alimentar, tabagismo,
álcool, atividade física, hipertensão, dislipidemia e diabetes.
REVISÃO DA LITERATURA
Prevalência da obesidade
Evidências sugerem que a prevalência de sobrepeso e obesidade vem atingindo
proporções epidêmicas tanto em países desenvolvidos e subdesenvolvidos (Pereira et al.,
2003; Pinheiro et al., 2004), por isso, a obesidade está sendo considerada uma epidemia
mundial (Pereira et al., 2003). O aumento de sua prevalência no mundo vem se revelando
como um dos mais importantes fenômenos clínicos-epidemiológicos da atualidade (Velloso,
2006).
A Transição Nutricional predominante no Brasil é a epidemia emergencial do
sobrepeso e, particularmente da Obesidade, como evento de maior visibilidade
epidemiológica e de implicações correlatas com o comportamento da morbi-mortalidade
(Batista Filho et al., 2003). Esta resulta do aumento progressivo de sobrepeso e obesidade,
causado pelo sedentarismo imposto pela vida moderna e por modificações seqüenciais no
padrão de consumo alimentar, econômicas, sociais, demográficas e do perfil de saúde das
populações (Pinheiro et al., 2004).
No Brasil, o principal suporte para esta previsão é resultante de uma análise
comparativa entre os estudos nacionais realizados desde a década de 70 até o presente
momento, Estudo Nacional da Despesa Familiar (ENDEF) em 1974/1975, Pesquisa Nacional
sobre Saúde e Nutrição (PNSN) em 1989, ambos realizados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) (Pinheiro et al., 2004), Pesquisa com base no Orçamento
Familiar (POF), também realizado pelo IBGE em 2002/2003 (IBGE, 2004) e o Vigitel Brasil
realizado pelo Ministério da Saúde em 2006 e 2008 (Brasil, 2007; 2009).
O excesso de peso aumentou cinco vezes entre os homens adultos do Nordeste e três
vezes no Sudeste no período entre 1974-75 e 1989, passando a declinar no período
compreendido entre 1996 e 2002-03. A evolução de excesso de peso e obesidade entre
mulheres é distinta entre as três primeiras pesquisas: aumento de cerca de 50% entre 1974-
1975 e 1989 e relativa estabilidade entre 1989 e 2002-2003. Na avaliação realizada em 2002-
30
2003 pelo IBGE, a prevalência da obesidade se tornou praticamente equivalente entre os dois
sexos na região Sudeste (Batista Filho et al., 2003).
No Brasil, é possível acompanhar a tendência temporal da prevalência de obesidade
por regiões (Quadro 1). Em linhas gerais, o padrão de evolução da obesidade repete o
observado para o país como um todo, com exceção das mulheres, que apresentaram aumento
no período de 1989 a 2002-2003 na região Nordeste e declínio nas regiões Sul e Centro-Oeste
(IBGE, 2004).
Quadro 1 Tendência temporal na prevalência de obesidade (IMC 30 kg/m2) na população
brasileira, com 20 ou mais anos de idade, nas Grandes Regiões do Brasil, segundo gênero.
Regiões
Homens
Mulheres
1974-1975
1989
2002-2003
1974-1975
1989
2002-2003
Norte
3,8
6,6
7,8
7,3
11,8
11,2
Nordeste
1,4
2,5
6,8
4,7
9,0
11,5
Sudeste
3,1
5,6
9,8
8,7
13,6
13,3
Sul
3,9
7,5
9,7
10,5
16,8
14,5
Centro-Oeste
2,8
5,1
8,4
7,6
12,1
10,9
Fonte: Adaptado da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003 (IBGE, 2004).
O Vigitel Brasil constitui um levantamento realizado recentemente pela Vigilância de
Fatores de Risco de Proteção para doenças crônicas do Ministério da Saúde por intermédio de
inquérito telefônico que teve sua implantação no ano de 2006. Seu objetivo visa monitorar a
freqüência e a distribuição de fatores de risco (tabagismo, alimentação inadequada,
sedentarismo, hipertensão arterial, obesidade e consumo abusivo de álcool) e proteção para
doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) em todas as capitais dos 26 estados brasileiros e
no Distrito Federal. A pesquisa foi realizada por meio de entrevistas telefônicas, com
amostras probabilísticas da população adulta residente em domicílios servidos por linhas fixas
de telefone em cada cidade. Já foram realizados dois levantamentos, em 2006 e 2008 (Brasil,
2007; 2009). Dados do mais recente, Vigitel Brasil 2008, revelaram que aproximadamente
metade da população adulta (49%) está acima do peso. A obesidade, porém, aumentou
especialmente nos homens (Brasil, 2009). Em 2006, o número de brasileiros obesos no Rio de
Janeiro era 12,5%, já em 2008 essse número se elevou para aproximadamente 13% dos
adultos (Brasil, 2009).
Segundo Abrantes et al. (2003), a prevalência conjunta de sobrepeso e obesidade na
população brasileira é maior no sexo feminino, atingindo índices preocupantes, uma vez que
mais da metade das mulheres das regiões Nordeste e Sudeste do Brasil, com idade entre 40 e
79 anos, têm sobrepeso (IMC > 25 kg/m
2
). a prevalência do sexo masculino nestas duas
regiões do país estabiliza-se mais precocemente que no sexo feminino (Abrantes et al., 2003).
31
Dados mais atuais da população brasileira reforçam que a prevalência da obesidade
permanece superior no sexo feminino (Brasil, 2007; 2009).
O aumento da prevalência da obesidade no Brasil torna-se ainda mais relevante, ao
verificar-se que este aumento, apesar de estar distribuído em todas as regiões do país e nos
diferentes estratos socioeconômicos da população, é proporcionalmente mais elevado entra as
famílias de baixa renda (Sichieri et al., 1997; Francischi et al., 2000; Pinheiro et al., 2004;
Cassady et al., 2007; Vieira et al., 2008). Diferenças entre homens e mulheres são
encontradas quanto à relação entre renda e prevalência de excesso de peso. Entre homens, a
freqüência do excesso de peso aumenta de modo uniforme e intenso com a renda enquanto,
entre mulheres, a relação com a renda é menos intensa e tende a ser curvilínea, de modo que
as maiores prevalências de excesso de peso são encontradas nas classes intermediárias de
renda (IBGE, 2004).
O aumento de sua incidência está distribuído em quase todas as raças e idades, e atinge
principalmente a população de 25 a 44 anos (Francischi et al., 2000). Segundo dados do IBGE
(2004), a prevalência do excesso de peso tende a aumentar com a idade, de modo mais rápido
para os homens 20,3% entre 20 e 24 anos, 48,3% entre 35 e 44 anos e 51,5% de 45 a 54
anos e, de modo mais lento, porém mais prolongado, para as mulheres 18,7% entre 20 e
24 anos, 41,4 % entre 35 e 44 anos e 57,4 % entre 55 e 64 anos.
Definição, diagnóstico e classificação de obesidade
A obesidade é uma doença crônica representada pelo acúmulo excessivo de gordura
corporal em extensão tal que, acarreta prejuízos à saúde dos indivíduos (Pinheiro et al., 2004;
Velásquez-Meléndez et al., 2004; OMS, 2004; Ferreira et al., 2006). Esta constitui uma doença
multifatorial e um importante problema de saúde pública em países desenvolvidos e uma
epidemia global pela Organização Mundial de Saúde (OMS) (Abrantes et al., 2003).
A OMS indica a antropometria como método mais útil para identificar pessoas obesas
por ser o método mais barato, não invasivo, universalmente aplicável e com boa aceitação
pela população. Índices antropométricos são obtidos a partir da combinação de duas ou mais
informações antropométricas básicas (peso, sexo, idade e estatura) (Abrantes et al., 2003).
A avaliação da composição corporal é uma medida importante do estado nutricional de
indivíduos. Muitos métodos são utilizados para avaliar a composição corporal, no entanto,
somente poucos são aplicáveis a grandes grupos de indivíduos, como em estudos
32
epidemiológicos, devido principalmente ao alto custo dos mesmos. Um dos métodos mais
simples é o cálculo do Índice de Massa Corpórea (IMC) (Cervi et al., 2005).
O IMC, também conhecido como índice de Quételet, em homenagem ao seu criador
Adolphe Quételet, utilizado na avaliação do estado nutricional de populações, é obtido a partir
da divisão da massa corporal em quilogramas, pela estatura em metro, elevada ao quadrado
(kg/m2). Pode-se dizer que o IMC possui dois objetivos teóricos maiores: promover
facilmente estimativas comparáveis e interpretáveis de peso corporal padronizado pela
estatura e promover estimativa de gordura e composição corporal (Cervi et al., 2005). Através
deste parâmetro, os adolescentes são classificados como obesos de acordo com os pontos de
corte de IMC definidos segundo Cole et al. (2007) (Quadro 2), os adultos de acordo com
pontos de corte de IMC definidos segundo WHO (2000) (Quadro 3). O diferencial de peso
corporal entre os adultos deve-se à gordura, sendo essa uma das razões do IMC ser
considerado um indicador de adiposidade, entretanto essa relação pode ser diferente entre
idosos devido as mudanças que ocorrem na composição corporal com o envelhecimento
(Cervi et al., 2005). Por esse motivo, os pontos de corte de IMC dos idosos diferem dos
adultos, sendo definidos segundo Lipschitz (1994). Para os adultos, estes pontos de corte
permitem identificar indivíduos com excesso de peso e obesidade e o grau de risco para
comorbidades. Somente para os adolescentes (Cole et al., 2007) e adultos (WHO, 2000) são
considerados obesos quando o IMC encontra-se maior ou igual a 30kg/m
2
. Já os idosos, são
classificados com excesso de peso quando o IMC encontra-se maior que 27kg/m
2
(Lipschitz,1994).
33
Quadro 2 Pontos de Corte para IMC estabelecidos para Adolescentes
IMC (kg/m
2
)
Diagnóstico Nutricional
< 16
Baixo peso grau III
16 e < 17
Baixo peso grau II
17 e <18,5
Baixo peso grau I
18,5 e ≤ 24,9
Eutrofia
25 e ≤ 29,9
Sobrepeso
≥ 30
Obesidade
Fonte: Cole et al., 2007.
Quadro 3 Pontos de Corte para IMC estabelecidos para Adultos
IMC (kg/m
2
)
Diagnóstico Nutricional
Risco de Co-morbidades
< 18,5
Baixo Peso
Baixo, embora aumento o risco
de outros problemas clínicos
18,5 e ≤ 24,9
Adequado ou Eutrófico
Médio
≥ 25
Excesso de Peso
25 e ≤ 29,9
Sobrepeso ou Pré-obesidade
Aumentado
30 e ≤ 34,9
Obesidade Classe I
Moderado
35 e ≤ 39,9
Obesidade Classe II
Severo
40
Obesidade Classe III
Muito Severo
Fonte: WHO, 2000.
No entanto, o uso do IMC apresenta algumas limitações: a correlação com a estatura,
que apesar de baixa ainda é significativa; a correlação com a massa livre de gordura,
principalmente nos homens; e a influência da proporcionalidade corporal (relação tamanho
das pernas/tronco), tal que indivíduo com menor comprimento da perna tenha um valor de
IMC maior, em cerca de cinco unidades. Essas limitações poderiam pôr em risco a utilização
do IMC como indicador de gordura corporal. Apesar desses aspectos e ainda no fato do IMC
não expressar a distribuição de gordura corporal andróide e ginecóide, tem grande influência
na saúde, e especialmente para estudos epidemiológicos devido, principalmente, à ausência de
outro indicador que seja tão simples, seu uso é conveniente (Cervi et al., 2005).
Impacto clínico da obesidade no mundo e no Brasil
O aumento da prevalência da obesidade no Brasil e no mundo confere-lhe grande
importância como problema de saúde pública (Pereira et al., 2003; Ferreira et al., 2006). O
impacto da obesidade na saúde pode ser verificado através das taxas de mortalidade ou anos
de vida perdidos em decorrência do excesso de peso (WHO, 2000). Seu impacto clínico
independe dos fatores genéticos (Pi-Sunyer, 2002). Tal fato deve-se à grande associação
existente entre o excesso de gordura corporal e o aumento de morbimortalidade, pois essa
condição é fator de risco para várias DCNT, como doenças cardiovasculares, câncer, diabetes
34
mellitus e hipertensão arterial, que são doenças, geralmente, com tempo de evolução
prolongado, lesões irreversíveis e complicações que acarretam graus variáveis de
incapacidade ou óbito, e vêm ocupando um maior espaço no perfil de morbi-mortalidade de
populações latino-americanas (Pi-Sunyer, 2002; Mariath et al., 2007; Steemburgo et al.,
2007).
Os danos acarretados pela obesidade são extensos. Em estudos recentes do Banco
Mundial, as DCNT são responsáveis por uma taxa de 5 e 9 vezes maior de morte prematura
do que as doenças transmissíveis e taxas 5 e 10 vezes maiores de incapacidade (OMS, 2004),
tanto em homens e nas mulheres. No Brasil, assim como outros países em desenvolvimento,
convive com a transição nutricional, determinada pela má-alimentação e por prevalências
crescentes de excesso de peso, contribuindo para o aumento das DCNT (Coutinho et al.,
2008). O aumento da mortalidade proporcional por DCNT e causas externas está avançando
na transição, apresentando valores próximos ou superiores a 50% das causas de morte, o que
parece bastante semelhante ao que ocorre em países desenvolvidos (Pinheiro et al., 2004).
Nos países desenvolvidos estima-se que os gastos públicos com obesidade consumam
de 2% a 7% dos orçamentos de saúde, somando-se ainda prejuízos psicossociais relacionados
à questão da discriminação a indivíduos sob esta condição (Ferreira et al., 2006). No ano de
2002, o Ministério da Saúde do Brasil financiou a elaboração do primeiro estudo de carga de
doença, com o propósito de desenhar um retrato mais preciso do peso decorrente das doenças
mais prevalentes no País. Por serem doenças, geralmente, de longa duração, as DCNT são as
que mais demandam ações, procedimentos e serviços de saúde. Os gastos decorrentes dessa
demanda atingem cerca de R$3,8 bilhões em gastos ambulatoriais e R$3,7 bilhões em gastos
com internação que totalizam aproximados R$7,5 bilhões/ano em gastos com DCNT (Malta
et al., 2006).
Comorbidades associadas à obesidade
Nos últimos 10 anos, um grande levantamento de informações levou à transformação
conceitual de tecido adiposo como um passivo tecido de armazenamento de energia para um
tecido ativo na regulação da homeostase do sistema hormonal. Essas descobertas somam
pontos chaves para compreendermos a associação entre a obesidade e algumas comorbidades
(Redon et al., 2009).
35
Anormalidades na estrutura e função do tecido adiposo, principalmente da gordura
visceral, foram identificadas como sendo associados ao desenvolvimento de comorbidades. O
aumento do tecido adiposo é caracterizado por infiltração de macrófagos e também influencia
a regulação na liberação de ácidos graxos livres (AGL) dos adipócitos, a secreção dos
hormônios leptina e adiponectina, e de mediadores inflamatórios (interleucina (IL)-6 e fator
de necrose tecidual (TNF)-alfa). Além das mudanças estruturais, várias anormalidades
funcionais de tecido adiposo de produtos derivados de tem sido descritas, e estas incluem
aumento na liberação de AGL, leptina e citocinas, e redução na secreção adiponectina (Redon
et al., 2009).
Evidências na literatura apontam o papel potencial da obesidade na indução da
inflamação crônica e sistêmica, pois marcadores de inflamação sistêmica, a IL-6 e TNF-alfa,
têm sido altamente correlacionados com o grau de obesidade. A IL-6, citocina pró-
inflamatória, é produzida no tecido adiposo por macrófagos e adipócitos, participa
diretamente dos mecanismos que conduzem à aterosclerose e eventos cardíacos, podendo
ainda contribuir para outros danos cardiovasculares, por aumentar níveis de fibrinogênio, a
expressão de moléculas de aderência e ativar o sistema renina-angiotensina (Redon et al.,
2009).
O TNF-alfa, outro marcador inflamatório, contribui para a resposta inflamatória do
tecido adiposo e sua concentração também está diretamente relacionada ao conteúdo de
gordura corporal e resistência à insulina. É uma citocina sintetizada pelo tecido adiposo
macrófagos e produz importantes efeitos parácrino e endócrino. Provoca resistência à insulina
por interferir a sinalização de receptores de insulina e de substratos, aumenta a lipólise e reduz
a secreção da adiponectina (Redon et al., 2009).
Resistência Insulínica e Diabetes Mellitus Tipo II (DMII)
A obesidade, particularmente a localizada na região abdominal, constitui o maior risco
para o desenvolvimento de DM II, podendo elevar este risco em dez vezes (Francischi et al.,
2000).
O risco de desenvolver DM II eleva-se com o aumento do IMC (Pi-Sunyer, 2002;
Parillo et al., 2004). Mulheres obesas apresentaram um risco doze vezes maior de desenvolver
diabetes do que aquelas com peso normal (Parillo et al., 2004). Dados do terceiro National
Health and Nutrition Examination Survey (NHANES III 1988/1994) mostraram que homens
e mulheres americanos com menos de 55 anos e IMC igual ou superior a 40 kg/m
2
36
apresentaram risco 18 a 13 vezes maior, respectivamente, de desenvolver diabetes,
comparativamente aos participantes com IMC normal (Must et al., 1999). Após dez anos de
seguimento, enfermeiros e profissionais de saúde do sexo masculino americanos com IMC
igual ou superior a 35 kg/m
2
tinham risco 23 vezes maior de desenvolver DM II,
respectivamente, comparado aos seus pares com IMC entre 18,5 e 24,9 kg/m
2
(Field et al.,
2001).
O tecido adiposo exerce papel fundamental no desenvolvimento do diabetes associado
à obesidade. Pacientes obesos apresentam liberação aumentada de AGL que, dentre outros
efeitos, reduz a eliminação glicose em tecidos periféricos, induz a hiperinsulinemia e a
apoptose das células beta-pancreáticas. Portanto, o diabetes associado à obesidade se
desenvolve através do incremento de AGLs circulantes em níveis proporcionais aos níveis de
glicose e da produção hepática de glicose (Francischi et al., 2000; Redon et al., 2009).
Contudo a sensibilidade da ação insulínica no tecido adiposo pode manter-se inalterada,
favorecendo ainda mais para a lipogênese local. Nos demais tecidos, a resistência insulínica
pode ser atribuída à diminuição na concentração de receptores de insulina ou pela falha no
mecanismo de trânsito celular (Francischi et al., 2000; Pi-Sunyer, 2002).
Uma vez adquirido a hiperinsulinemia e resistência insulínica, inicia-se a cascata de
mudanças metabólicas que conduzem ao desenvolvimento de diabetes, dislipidemia,
hipertensão, hipercoagulabilidade e doenças cardiovasculares (Pi-Sunyer, 2002).
A perfeita conexão entre insulina e seus receptores de membrana celular acionam a
auto-fosforilação da tirosina, sinalizando o meio intracelular. Este evento culmina na
translocação de transportadores de glicose para a superfície de membrana para captar a
glicose do meio extraceluar e aumenta a sua disponibilidade no meio intracelular. A
obesidade está associada a defeitos pós-receptor da ação insulínica, incluindo: prejuízos na
degeneração do segundo mensageiro, diminuição do transporte de glicose e anormalidades em
alguns estágios enzimáticos envolvidos na utilização celular de glicose (Pi-Sunyer, 2002).
A resistência à insulina ocorre no músculo esquelético e no fígado, como resultado da
inibição do transportador de glicose por acúmulo de moléculas de acil CoAs (produtos do
metabolismo dos ácidos graxos) e diacilglicerol no citoplasma. Isso aumenta a atividade da
serinacinase, o que leva a supressão da insulina, reduzindo a sinalização dos transportadores
GLUT-4 (Redon et al., 2009). Também pode ser mediada por alterações funcionais de
estruturas protéicas produzidas pelo tecido adiposo, Leptina e Adiponectina. A Leptina é um
hormônio cujos níveis circulantes aumentam em proporção à adiposidade corporal. Porém,
indivíduos obesos, têm seletiva resistência à leptina no hipotálamo. Portanto, vias para reduzir
37
o apetite e aumentar a gasto energético não são ativadas, favorecendo a manutenção do
excesso de peso corporal. Do mesmo modo, em que resistência à leptina tem sido descrita nos
indivíduos obesos, não a supressão do apetite fica comprometida, mas também os seus
efeitos de sensibilizar a insulina nos tecidos periféricos. Em condições normais, a leptina é um
potente inibidor de apetite, ativador celular, estimulando a oxidação de ácidos graxos,
reduzindo lipogênese, aumentando a absorção e metabolização de glicose e diminuindo
drasticamente as reservas de gordura no tecido adiposo, fígado e músculo. A consequência da
resistência à leptina reforça a resistência à insulina. Além disso, a leptina é capaz de estimular
o sistema imune inato, contribuindo para um aumento na a quantidade de mediadores
inflamatórios. Em contrapartida, a adiponectina é uma proteína multifuncional secretada
também pelos adipócitos. Promove a sensibilidade de insulina, em parte, através do reforço da
intracelular da oxidação de ácidos graxos gordos no fígado e músculos. Os níveis diminuídos
de adiponectina em pacientes obesos aumentam mais ainda a resistência à insulina (Redon et
al., 2009).
A resistência à insulina e a conseqüente hiperinsulinemia associadas à obesidade
fortalecem a predisposição a outras comorbidades pois estão fortemente associadas à
dislipidemia e inflamação. Os distúrbios na tolerância à glicose também predispõem à
diabetes e dislipidemia, exercendo um papel importante na disfunção endotelial, hipertensão e
aterogênese (Redon et al., 2009).
Dislipidemia
A dislipidemia associada à obesidade caracteriza-se pela elevação de colesterol total,
lipoproteína de baixa densidade (LDL-colesterol), triglicerídeos circulantes e pela diminuição
de lipoproteínas de alta densidade (HDL-colesterol). Esse risco é acentuado quando o ganho
de peso é acompanhado pela inatividade física e elevado consumo de ácidos graxos saturados.
Para cada 10% de aumento no peso corporal, aumento na incidência de doenças
coronarianas em aproximadamente 20%, além da elevação no colesterol plasmático em torno
de 12mg/dl (Francischi et al., 2000).
Indivíduos obesos tendem a apresentar níveis elevados de triglicerídeos, LDL-
colesterol, e nível reduzido de HDL-colesterol (Dattilo et al., 1992; Field et al., 2001;
Matamoros et al., 2001; Thomas et al., 2005; Mann et al., 2005). Este perfil metabólico
parece ser mais freqüente em indivíduos obesos com elevado acúmulo de gordura na região
intra-abdominal e tem sido consistentemente correlacionado com um risco aumentado para
38
doença cardiovascular (DCV) (Dattilo et al., 1992). Existe associação linear entre perda de
peso e níveis de colesterol, onde a perda de peso explica 80% da variação no colesterol
plasmático (Poobalan et al., 2004). Uma perda de 10kg pode favorecer uma redução de 15%
dos níveis de LDL-colesterol e aumentar em 8% o HDL-colesterol (Dattilo et al., 1992).
A hiperinsulinemia, alteração associada à obesidade, aumenta a síntese de lipoproteína
de muito baixa densidade (VLDL-colesterol) e conduz ao distúrbio lipídico,
hipertrigliceridemia. Assim há aumento no transporte arterial de colesterol e eleva-se a síntese
de lipídeos endógenos. Posteriormente, há aumento na síntese o colágeno nas células da
parede vascular e na formação de placas de lipídeos nas artérias associada a diminuição de sua
remoção. Portanto, o obeso apresenta predisposição à aterogênese, elevando a probabilidade
de ocorrência de problemas cardiovasculares (Francischi et al., 2000; Faria et al., 2006;
Mathew et al., 2008).
Distúrbios Cardiovasculares
Em países como o Brasil, onde as desigualdades sociais são relevantes e persistentes,
as incidências e prevalências se apresentam desiguais entre regiões e grupos populacionais
brasileiros, onde o grupo social de baixa renda apresenta maiores índices de Hipertensão
Arterial Sistêmica (HAS) e DCV (Pinheiro et al., 2004).
As DCV incluem doença coronariana, infarto e doença vascular periférica. Estas
doenças são responsáveis por um terço das mortes em homens e em mulheres na maioria dos
países industrializados e suas incidências estão aumentando em países em desenvolvimento
(EUFIC, 2009).
A obesidade predispõe a diversos fatores de riscos cardiovasculares, incluindo
hipertensão e dislipidemia. Em mulheres, a obesidade é o terceiro maior preditor de DCV
perdendo para idade e pressão arterial (Hubert, 1983). O risco de ataque cardíaco em
mulheres obesas é aproximadamente três vezes maior que em mulheres magras de mesma
idade (EUFIC, 2009).
A obesidade aumenta o risco e a mortalidade por doença cardiovascular (Mathew et
al., 2008) por diferentes caminhos, que podem ser mediados através de fatores de risco como
dislipidemia, hipertensão (Thomas et al., 2005), intolerância à glicose, diabetes mellitus
(Mann et al., 2005) ou através de desordens do sono associadas à obesidade (Mathew et al.,
2008). Como descrito anteriormente, o excesso de tecido adiposo, principalmente na região
abdominal, aumenta os níveis de marcadores inflamatórios. Muitas adipocinas e mediadores
39
químicos estão aumentados no paciente obeso, por isso desencadeiam efeitos adversos ao
sistema cardiovascular propiciando estado pró-trombótico e pró-inflamatório, causando danos
endoteliais e hipertrofia vascular (Mathew et al., 2008).
A pressão arterial é produto do débito cardíaco e da resistência vascular sistêmica, e o
débito cardíaco é aumentado em pacientes obesos devido ao aumento do fluxo sanguíneo para
o tecido adiposo (Mathew et al., 2008). A hipertensão associada à obesidade decorre da
reduzida sensibilidade da ação da insulina e de seu excesso, que aumenta a retenção de
sódio pelas células e a atividade do sistema nervoso simpático (Francischi et al., 2000). A
associação entre obesidade e hipertensão está bem documentada (Kannel et al., 1967; Ashley
et al., 1974; Stamler et al., 1978; Paeratakul et al., 2002; Mokdad et al., 2003). Estima-se que
a obesidade explique 30 a 65% da ocorrência de hipertensão em populações ocidentais e que a
cada 10kg de aumento de peso haja uma elevação de dois a três mmHg na pressão arterial,
enquanto a perda de 1% do peso promove a redução de 1 a 2 mmHg na pressão (Francischi et
al., 2000; Mariath et al., 2007). A prevalência da hipertensão em indivíduos com excesso de
peso é aproximadamente três vezes mais elevada que em adultos com excesso de peso e o
risco de hipertensão em indivíduos com excesso de peso em idade entre 20 a 44 anos é
aproximadamente seis vezes maior que nos indivíduos sem excesso de peso (Francischi et al.,
2000; EUFIC, 2009). A hipertensão arterial, a qual está associada a fatores familiares,
genéticos e ambientais, acomete jovens adultos de 20 a 45 anos e prevalece seis vezes mais
em obesos do que em não obesos (Mariath et al., 2007).
A atividade do sistema renina-angiotensina (SRA) está aumentada na maioria dos
indivíduos obesos, não obstante, a obesidade é acompanhada pelo aumento da retenção de
sódio e volume extracelular, que ativam a liberação da renina pelos rins e a formação de
angiotensina II. A causa da ativação do SRA pode ser devido a maior produção de renina
devido a diminuição de sódio na mácula densa em conseqüência a sua maior reabsorção na
alça de Henle ou pelo aumento da atividade simpática, estimulando assim, a liberação de
renina pelos rins. Também, a formação aumentada do angiotensinogênio no do tecido adiposo
pode contribuir para a ativação SRA. O produto final da ativação SRA, angiotensina II,
aumenta a reabsorção tubular de sódio, aumenta a resistência arterial periférica e estimula o
sistema nervoso simpático (Redon et al., 2009).
Recentemente, o papel da aldosterona na obesidade associada à hipertensão arterial
tem sido enfatizado. Os níveis plasmáticos de aldosterona são elevados em pacientes
hipertensos com obesidade visceral. Embora os mecanismos envolvidos na superprodução de
aldosterona não sejam bem esclarecidos, atenção tem sido direcionada para a produção no
40
tecido adiposo de potentes fatores liberadores de mineralocorticóide, bem como a capacidade
de derivados oxidados do ácido linoléico para induzir a síntese de aldosterona. A Aldosterona
pode aumentar a pressão arterial na obesidade também através da ação sobre receptores de
mineralocorticóide localizados não apenas no rim, mas também nos vasos e no cérebro
(Redon et al., 2009).
Outros agravos à saúde associados à obesidade
A síndrome metabólica (SM) representa um conjunto de fatores de riscos que
promovem o desenvolvimento de DCV e de DM II. Os componentes básicos adotados para
sua definição são: obesidade (especialmente a obesidade abdominal), níveis pressóricos
elevados, distúrbios do metabolismo da glicose (representada pela resistência insulínica),
hipertrigliceridemia e/ou baixos níveis de HDL-colesterol. Entre os componentes da SM, a
obesidade abdominal é o fator que melhor prediz o risco cardiovascular e de diabetes
(Steemburgo et al., 2007; Redon et al., 2009).
O excesso de peso eleva a ocorrência de neoplasias. No sexo masculino acarreta maior
mortalidade por câncer colorectal e de próstata, em mulheres favorece ao desenvolvimento
de câncer de cólon uterino, ovariano e em especial o de mama (Francischi et al., 2000).
A obesidade está associada à doença mais comum do trato digestivo, a formação de
cálculo da vesícula biliar, denominada litíase biliar, sendo mais prevalente em mulheres com
idade entre 20 e 30 anos. A associação entre obesidade e litíase biliar deve-se a dois fatores:
aumento no colesterol circulante através da mobilização do estoque nos adipócitos e aumento
na excreção biliar de colesterol. No entanto, a formação do cálculo biliar depende da
precipitação do colesterol de bile saturada. Estima-se que para cada um quilo de gordura
corporal, aproximadamente 20mg/dlde colesterol seja sintetizado e, em obesos, a bile é muito
mais saturada em colesterol (Francischi et al., 2000).
Os obesos podem desenvolver diminuição uniforme no volume de reserva expiratório
e na capacidade vital. O aumento da quantidade de gordura acumulada na região peitoral e
abdominal limita os movimentos respiratórios e diminui o volume pulmonar. A medida que a
obesidade se agrava, ocorre sobrecarga muscular para a ventilação, resultando em disfunção
da musculatura respiratória (Francischi et al., 2000).
A relação entre artrite e obesidade consiste em problema mecânico e não metabólico.
O excesso de peso facilita a ocorrência de traumas, principalmente nas articulações, como a
41
osteoartrite no joelho. Contudo, o excesso de adiposidade pode atuar no metabolismo
esquelético, devido à alteração no metabolismo de estrógeno (Francischi et al., 2000).
Fatores associados à obesidade
A Obesidade é uma doença de etiologia não totalmente esclarecida, sendo uma das
mais complexas, pois seu desenvolvimento possui múltiplas causas e resulta de complexas
interações entre fatores genéticos, psicológicos, socioeconômicos, culturais e ambientais
(Francischi et al., 2000). As causas do seu aumento no mundo, ainda não estão
suficientemente esclarecidas (Pinheiro et al., 2004). No entanto, existe certo consenso na
literatura de que a obesidade é causada pela interação de diferentes fatores, o que confere a
esta enfermidade uma natureza ―multifatorial‖ (Ferreira et al., 2006).
As contribuições genéticas e ambientais para o desenvolvimento da obesidade são
reconhecidas. A variação do IMC pode ser 30% a 40% atribuído pela genética e 60% a 70%
pelos fatores ambientais. Por isso a interação entre a genética e os fatores ambientais também
é importante. Em uma determinada população, algumas pessoas são geneticamente
predispostas para o desenvolvimento da obesidade, mas o genótipo pode ser expressado
apenas sob certas condições ambientais adversas (Pi-Sunyer, 2002). Os princípios
mendelianos e a influência do genótipo na sua etiologia podem ser atenuados ou exacerbados
por fatores ambientais e interações psicossociais que atuam sobre mediadores fisiológicos de
gasto e consumo energético. Portanto, a ocorrência da obesidade nos indivíduos é reflexo da
interação entre fatores dietéticos e ambientais associados à predisposição genética (Francischi
et al., 2000).
A importância genética na etiologia da obesidade também tem sido foco de pesquisa
em todo mundo, porém o substancial aumento na prevalência da obesidade nos últimos 20
anos não pode ser justificado por alterações genéticas que teoricamente teriam ocorrido neste
pequeno espaço de tempo. Deste modo, a diferença na prevalência da obesidade em diferentes
grupos populacionais está sendo muito mais atribuída aos chamados fatores ambientais, em
especial à dieta e à atividade física que, interagindo com fatores genéticos, poderiam explicar
o acúmulo de excesso de gordura corporal em grandes proporções na população mundial
(Pereira et al., 2003).
Segundo Pinheiro et al. (2004), a hereditariedade da obesidade não é superior a 33%,
deduzindo que 66% da variação do IMC é determinada pelo ambiente. Portanto, parece
42
correto afirmar que, mesmo que a obesidade evolua dentro das restrições genéticas, os
determinantes ambientais desempenham um papel predominante no desenvolvimento desta
condição (Pinheiro et al., 2004).
O aumento na prevalência de obesidade no Brasil e no mundo tem grande dependência
dos fatores ambientais (Vieira et al., 2008). Bouchard e Perussé (1988) estudaram a
importância relativa dos componentes genéticos e não genéticos herdados e efeitos não
transmissíveis no fenótipo IMC após controle por idade e gênero. Os dados obtidos de 1698
indivíduos de 409 famílias revelaram uma variância total de aproximadamente 35%
transmissível através das gerações, porém um efeito genético de apenas 5%. A importância da
variância não transmissível, aproximadamente de 65%, pode ser devido particularmente ao
fato de padrões próprios de transmissão serem contribuídos pelo fenótipo ou que o IMC seja
susceptível a condições ambientais e de estilo de vida. Portanto, de maneira geral, estes dados
indicam que o IMC não é caracterizado por um componente hereditário significante
(Bouchard, 1991). Logo, a interação entre a genética e os fatores ambientais também é
importante.
Desordens endócrinas também podem conduzir à obesidade, como hipotireoidismo e
distúrbios hipotalâmicos, alterações no metabolismo de corticoisteróides, hipogonadismo em
homens, ovarectomia em mulheres e a síndrome do ovário policístico, a qual pode acarretar
alterações na função ovariana ou à hipersensibilidade no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e
problemas psicológicos também estão associados ao ganho de peso, tais como estresse,
ansiedade e depressão, influenciando principalmente o comportamento alimentar, logo o
consumo energético (Francischi et al., 2000).
Dentre os fatores associados à obesidade, destacam-se: os fatores cio-demográficos
e os fatores relacionados ao estilo de vida (comportamentais).
Fatores sócio-demográficos
Entre os fatores ambientais, considera-se consensualmente que o papel dos
determinantes sociais, apesar de apresentar pouca clareza, é estratégico na gênese da
obesidade e constitui um determinante da obesidade. Os fatores sociais seriam os maiores
responsáveis para a epidemia da obesidade (Wang e Beydoun, 2007; Vieira et al., 2008).
Os fatores sócio-demográficos associados à obesidade incluem: sexo, idade,
escolaridade e cor da pele. Os mais explorados são: ocupação, educação e renda, e o
43
comportamento destes fatores difere entre países de diferentes graus de desenvolvimento, no
que se refere a associação entre nível socioeconômico e obesidade (Vieira et al., 2008).
Sexo
O aumento da incidência da obesidade está distribuído em ambos os sexos (Francischi
et al., 2000), porém sua prevalência é mais freqüente em mulheres em diferentes culturas
(Abrantes et al., 2003; IBGE, 2004; Nishida et al., 2005; Brasil, 2007; Hajian-Tilaki et
al.,2007; Brasil, 2009).
Dados do NHANES 1999-2000 mostram que, entre os homens, a prevalência de
obesidade aumentou de 21,1% para 38,1% entre os 20-29 e 60-69 anos, enquanto que, entre as
mulheres, o aumento foi de 23,3% para 43,5% (Flegal et al., 2002).No Brasil, em 2003, o
excesso de peso acometia aproximadamente a mesma proporção de homens e mulheres, mas a
obesidade afetava 8,8% dos homens e 12,7% das mulheres adultos. Em todas as faixas etárias
a obesidade foi mais prevalente entre as mulheres (IBGE, 2004). Dados mais recentes obtidos
pelo Vigitel Brasilmostram aumento da obesidade tanto nos homens como nas mulheres,
11,9% e 13,1% em 2006 e 12,4% e 13.3% em 2008, respectivamente (Brasil, 2007; 2009).
Idade
A obesidade tende aumentar em função da idade em indivíduos de ambos os sexos
(Nishida et al., 2005), alcançando um pico entre os 50 e 59 anos, com redução simultânea da
massa magra (WHO, 1995). No Brasil, em 2002-2003, a obesidade aumentou com a idade,
tendendo a diminuir após os 55 e 65 anos entre homens e mulheres, respectivamente (IBGE,
2004).
Dados mais recentes da população brasileira, segundo Vigitel Brasil 2008 (Brasil,
2009) apontam que no sexo masculino, a freqüência da obesidade aumenta mais de três vezes
entre 18-24 e 45-54 anos, declinando nas faixas etárias subseqüentes. Entre as mulheres, a
freqüência da obesidade aumenta mais de seis vezes entre 18-24 e 55-64 anos e declina
apenas a partir dos 65 anos.
No mesmo estudo que avaliou 1299 mulheres acima de 35 anos em 1500 domicílios
selecionados contemplando 1 mulher por domicílio, as mais jovens apresentaram associação
negativa entre sobrepeso e obesidade. Entre as mais velhas, não foi observada associação
estatisticamente significante nem para sobrepeso e nem para obesidade (Vieira et al., 2008).
44
Cor da pele
A relação entre raça/etnia/cor da pele e excesso de peso apresenta resultados
controversos. Dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) realizado no período entre
2002 e 2003, mostraram que homens da cor branca apresentavam maior prevalência de
obesidade (10,2%) quando comparado aos de raça negra ou mistos (7,4%). Nas mulheres, não
foi detectada diferença entre as raças/cor da pele (~13%) (IBGE, 2004). Por outro lado, dados
de população adulta americana, obtidos pelo NHANES no período entre 1999 e 2002,
mostraram maior proporção de excesso de peso nos negros (70,7%) e hispânicos (72,5%) do
que entre brancos (63,3%), observando-se o mesmo comportamento para obesidade (Hedley
et al., 2004).
Velásquez-Meléndez et al. (2004), ao estudarem a prevalência de excesso de peso e os
fatores de risco na população metropolitana de Belo Horizonte- Brasil, com 1105 indivíduos
de idade superior a 18 anos, entre 1996 e 1997, observaram que a cor da pele não branca foi
associada significativamente para obesidade, porém somente nas mulheres (OR 1,72 IC95%
1,04-2,86). Dados concordantes foram observados por Gigante et al. (1997), que também
não observaram associação significativa entre a cor da pele e obesidade.
Escolaridade
Em países desenvolvidos a escolaridade apresenta-se como um dos principais
determinantes da obesidade (Vieira et al., 2008). No Brasil, ocorreu mudança substancial na
tendência secular da obesidade, segundo os níveis de escolaridade da população entre 1975 a
1989, na qual a prevalência da obesidade foi ascendente em todos os níveis de escolaridade,
tendendo ser maior nos indivíduos de maior escolaridade, porém, no período entre 1989 a
1997, a obesidade aumentou substancialmente nos indivíduos sem escolaridade (Monteiro et
al., 2003).
Escolaridade aumentada representa efeito protetor para obesidade, sugerindo que
quanto maior o nível de escolaridade, maior é o conhecimento a respeito das conseqüências da
obesidade e das formas de prevenção, além das pressões sociais e familiares serem maiores no
sentido de manter a imagem corporal (Perozzo et al., 2008).
Alguns estudos afirmaram existir associação inversa entre a prevalência de obesidade
e escolaridade (Gigante et al., 1997; Velásquez-Meléndez et al., 2004; Mc Laren, 2007; e
Vieira et al., 2008), enquanto outros observaram inconsistente a associação entre obesidade e
45
escolaridade por não encontrarem associação significativa (Ball et al.,2005; Hajian-Tilaki et
ali.,2007).
Segundo dados da população brasileira obtidos no Vigitel Brasil 2006, a associação
entre obesidade e nível de escolaridade foi diferente entre homens e mulheres: enquanto no
sexo feminino a freqüência da obesidade declinou fortemente com o aumento da escolaridade,
no sexo masculino as diferenças foram mínimas, havendo mais obesos nas categorias
extremas de escolaridade (Brasil, 2007). Dados mais recentes do Vigitel Brasil 2008
confirmam que a relação entre a freqüência de obesidade e escolaridade é fortemente inversa
no sexo feminino: 18% das mulheres são obesas no estrato de menor de escolaridade e 8,5%
são obesas no estrato de maior escolaridade e que no sexo masculino, a freqüência de obesos é
semelhante (em torno de 12-13%) em todos os estratos de escolaridade (Brasil, 2009).
Condição socioeconômica
A relação com excesso de peso com variáveis socioeconômicas, como renda,
escolaridade e ocupação, analisadas isoladamente ou de forma combinada, têm sido objeto de
importantes e extensas revisões (Sobal et al., 1989; Monteiro et al., 2004; Ball et al., 2005).
Essa relação é bastante complexa e multifatorial, vem demonstrando-se bidirecional: a baixa
condição socioeconômica determinaria o aumento da prevalência da obesidade, enquanto que
a alta prevalência de obesidade contribuiria para diminuição da condição socioeconômica, por
limitações funcionais, estéticas e culturais. Em países em desenvolvimento, a relação direta da
obesidade com as classes de melhor condição socioeconômica ainda é predominante (Pinheiro
et al., 2004).
Estabelecer a condição socioeconômica como um dos determinantes da obesidade
pode ser uma tarefa difícil e que exige cautela devido à complexidade da definição de
condição socioeconômica e da variação dessa associação ao longo do tempo (Molarius et al.,
2000; Vieira et al., 2008). Os indicadores da condição socioeconômica mais explorados são:
ocupação, educação e renda e o comportamento difere entre países de diferentes graus de
desenvolvimento, no que se refere a associação entre nível socioeconômico e obesidade
(Vieira et al., 2008).
Alguns estudiosos afirmam que a obesidade predomina entre grupos de menor
condição socioeconômica (Francischi et al., 2000; Pinheiro et al., 2004; Cassady et al., 2007;
Vieira et al., 2008).
Resultados de 144 estudos, realizados entre as décadas de 30 e 80, em várias partes do
mundo, utilizando diferentes indicadores de status socioeconômico (SSE) e definições de
46
obesidade, foram revisados para descrever a associação entre estas duas variáveis em adultos,
crianças e adolescentes As relações do SSE com obesidade foram descritas por nero e,
separadamente para países desenvolvidos e em desenvolvimento. Os dados revelaram que,
nos países desenvolvidos, a associação entre SSE e obesidade foi direta e forte para mulheres
(85% dos estudos) e menos consistentes para os homens, uma vez que se observou relação
inversa em 52%, direta em 30% e nenhuma associação em 17% dos estudos revisados. Por
outro lado, nos países em desenvolvimento, a relação entre SSE e obesidade foi direta tanto
para mulheres (91% dos estudos) quanto para homens (86% dos estudos), apenas um estudo
entre mulheres e dois entre homens não encontraram qualquer associação (Sobal et al., 1989).
Em estudo de revisão baseado em 26 estudos realizados em países desenvolvidos,
entre 1980 e 1990, analisando a associação entre nível socioeconômico e obesidade, foram
identificados quatro artigos com maior rigor metodológico, nos quais a adiposidade foi aferida
diretamente e houve seguimento dos participantes por pelo menos quatro anos. Entre os
principais resultados obtidos para os participantes não negros, destaca-se a associação inversa
entre ocupação e ganho de peso, para homens e mulheres. As associações de ganho de peso
com as outras variáveis socioeconômicas mostraram resultados menos consistentes para
educação e inconsistentes para renda (Ball et al., 2005).
Em relação a países em desenvolvimento, um estudo realizado por Monteiro et al.,
(2004) indica que a associação positiva entre vel socioeconômico, medido por diferentes
indicadores e obesidade está mudando, sobretudo para as mulheres, assemelhando-se à
encontrada os países desenvolvidos (Monteiro et al., 2004). Em 10 dos 14 estudos revisados
por Mendez et al. (2005), a associação foi inversa e estatisticamente significativa para as
mulheres, contrapondo-se à associação positiva encontrada para os homen em 50% dos
artigos consultados e à ausência de associação nos demais estudos. Observou-se ainda, um
aumento na proporção de obesidade nos estratos socioeconômicos inferiores à medida que
aumentou o Produto Interno Bruto (PIB) dos países (Mendez et al., 2005).
Fatores de Estilo de Vida
Tabagismo
O tabagismo é um sério problema de saúde pública na maioria dos países. Está
relacionado à cerca de 400.000 mortes anuais e aproximadamente um terço da população
adulta é fumante (Mackay, 2002). Em vários países, este número está diminuindo. Em 2002,
aproximadamente 23% da população adulta dos Estados Unidos era fumante, prevalência
47
semelhante a do Brasil (Carlini et al., 2002; Mackay, 2002). No Brasil, o percentual de
tabagistas tem diminuído. Dados do Vigitel Brasil2008, 14,8% dos jovens entre 18 e 24 anos
têm o hábito de fumar (Brasil, 2009). Esse número era 29% em 1989, o que mostra uma forte
tendência de queda do fumo no Brasil. 20 anos, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde e
Nutrição, 35% da população adulta era fumante. De acordo com o Vigitel Brasil 2008, esse
número caiu para 15,2% (Brasil, 2009).
A proporção de fumantes tem aumentado principalmente em populações de baixa
renda e baixo nível educacional, um fenômeno que se repete entre os países de menor
desenvolvimento em comparação aos mais desenvolvidos. Estima-se que cerca de 70% dos
fumantes, nos próximos 20 anos, serão habitantes de países não desenvolvidos, invertendo a
situação atual, em que a maioria encontra-se em países de primeiro mundo (Chatkin et al.,
2007).
A inter-relação entre tabagismo e peso corporal está bem estabelecida ( Klesges et al.,
1997; Froom et al., 1998). Fumantes freqüentemente apresentam menores índices de massa
corporal, quando comparados a não fumantes (Molarius et al., 1997; Klesges et al., 1998;
Chatkin et al., 2007). Além disso, estudos transversais clássicos neste assunto, observaram
associação significativamente inversa entre o uso regular de tabaco e o peso corporal,
tendendo este ser mais baixo entre os fumantes quando comparados aos não fumantes
(Molarius et al., 1997; Klesges et al., 1998).
Na Finlândia, um estudo que investigou cerca de 25.000 participantes de ambos os
sexos, com idade entre 25 e 64 anos (Lahti-Koski et al., 2002), verificou menor chance de
obesidade entre fumantes do sexo feminino (OR ajustada = 0,79; IC 95% 0,68 0,93), mas
não entre os homens (OR ajustada = 0,92; IC 95% 0,79 1,06) quando comparados a não
fumantes. Por outro lado, a chance de obesidade entre ex-fumantes foi significativamente
maior: 1,30 (IC 95% 1,09-1,59) para as mulheres e 1,65 (IC 95% 1,44-1,90) para os homens.
No entanto, em estudo com 22.059 indivíduos gregos, participantes do European
Prospective Investigation into Cancer and Nutrition (EPIC), observou-se que entre os
fumantes atuais, a quantidade de cigarros fumados tendeu a associar-se positivamente com
IMC, particularmente entre os homens (Bamia et al., 2004). em estudo conduzido em
Israel, jovens obesos de ambos os sexos, apresentaram maior prevalência de tabagismo
daqueles com sobrepeso ou IMC normal (43% vs. 37,1% e 34,9%, respectivamente)
(Zimlichman et al., 2005).
No âmbito familiar, o padrão de fumo de casais pode também refletir a influência
genética sobre o comportamento do tabagismo. Uma concordância significativa entre casais
48
para fumar pode implicar em uma potencial influência sobre o risco para a descendência de
fumar. A genética exerce grande influência no tabagismo, explicando 39-49% da variância
persistência do tabagismo entre os adultos e 86% (70-94%) do tabagismo entre os jovens
(Kuo et al., 2007).
O aumento ponderal decorrente da cessação do tabagismo é uma das dificuldades
apontadas para a manutenção da abstinência, principalmente em mulheres. Além disso, os
depósitos de gordura tendem a ser do tipo central, fator de risco bem determinado para
doenças cardiovasculares, diabetes e aumento da mortalidade em geral (Chatkin et al., 2007).
A cessação do tabagismo resulta em aumento de peso corporal tanto em homens como
em mulheres, e mais de 75% dos fumantes ganham peso ao tornarem-se abstinentes
(Pomerleau et al., 2000; Klein et al., 2004). O ganho médio de peso atribuído ao ato de parar
de fumar é de 2,8 kg e de 3,8 kg em homens e mulheres, respectivamente. Através de revisão
sistemática da literatura, atualmente estima-se que o ganho médio de peso corporal em
indivíduos que param de fumar pode chegar a 5 ou 6 kg, sendo que 13% dos ex-fumantes
podem engordar mais de 10 kg. Embora a maioria dos relatos sobre o ato de parar de fumar
aponte para ganho de peso a médio e longo prazo, outros estudos mostram que o período mais
crítico é o imediatamente após a interrupção do hábito de fumar (Froom et al., 1998).
Segundo O‘Hara et al. (1998), o incremento ponderal foi de 5,2 e 4,9 kg para mulheres e
homens, respectivamente, no primeiro ano após parar, com um adicional de 3,4 e 2,6 kg nos
anos seguintes. Nesse estudo, cerca de 1/3 dos ex-tabagistas engordaram mais do que 10 kg
após cinco anos do estudo. Embora, uma revisão mais recente, observou que o aumento médio
possa ter sido maior, da ordem de 9,7 kg em cinco anos entre 5887 fumantes avaliados
(Eisenberg et al., 2006). Froom et al. (1998), detectaram que o risco para ganho do peso é
mais alto durante os dois primeiros anos após parar de fumar. Por outro lado, em outro estudo
ao avaliarem mulheres pré-menopausadas, observou-se que já depois de uma semana de
abstinência começava a ser detectada diferença significativa no IMC dessas pacientes
(Pomerleau et al., 2000).
Entretanto, a maioria das informações associando abstinência tabágica e aumento
ponderal, entretanto, pode ser questionada do ponto de vista metodológico, que poucos
estudos foram desenhados especificamente para avaliar esta eventual associação. Assim, a
maioria das publicações apresenta vieses metodológicos, como a não validação bioquímica do
status tabágico (através da nicotina sérica ou do monóxido de carbono no ar exalado), relato
de altura e peso apenas pelo próprio paciente, não sendo mensurados, o que nem sempre são
confiáveis, períodos curtos de seguimento, avaliação pontual de prevalência dos percentuais
49
de abstinência sem a utilização de taxas continuadas de abstinência e delineamentos
transversais em detrimento de estudo de coortes (Eisenberg et al., 2006).
Mecanismos de ganho de peso na cessação do tabagismo
A procura do entendimento dos mecanismos que relacionam o aumento de IMC e a
cessação do fumo tem sido intensa nos últimos anos. A ação do fumo no peso corporal parece
ser mediada pela nicotina. Em humanos, o tabagismo aumenta a atividade adrenérgica, o que
induz termogênese e a conseqüente redução de peso corporal. Pacientes sob uso de terapia de
reposição nicotínica, em processo de abandono do fumo, apresentam retardo no aumento de
peso (Chatkin et al., 2007). Assim, provavelmente, o fumante também apresente o apetite
diminuído.
A maioria dos estudos mostra que a cessação do tabagismo parece resultar em ganho
ponderal principalmente através do aumento da ingestão calórica, embora possa ocorrer
aumento ponderal induzida por outros fatores. Nesta situação de cessação do tabagismo,
ocorre uma diminuição da taxa metabólica basal, podendo variar entre 4 e 16% (Filozof et al.,
2004).
O aumento de peso ao cessar o fumo, conseqüentemente, pode ser diferente entre
tabagistas de mesma carga nicotínica se o maior consumo de cigarros acontecia durante o
repouso ou durante as atividades diárias. Outro aspecto a ser considerado é o efeito direto da
nicotina sobre o metabolismo do tecido adiposo, ocorrendo maior oxidação de lipídeos em
relação aos não fumantes, o que ajuda a explicar um menor IMC destes em relação aos não
fumantes (Filozof et al., 2004; Chatkin et al., 2007). Na fase de cessação, o consumo
preferencial de alimentos especialmente ricos em gorduras e açúcares (Burke et al., 2000).
Mais recentemente, tem sido investigado o valor de recompensa ou de gratificação obtida com
determinados alimentos em fumantes e não fumantes (Chatkin et al., 2007).
Em ex-fumantes recentes, foram detectadas modificações neuroquímicas,
possivelmente na rota dopaminérgica (Chatkin et al., 2007). O binômio apetite/saciedade é
regulado por centros cerebrais, que, por sua vez, estão sob a regência de diversos fatores
intrínsecos. A relação de alguns desses fatores, como a serotonina e a dopamina com a
nicotina, tem sido estabelecida. Para outros, como leptina, grelina, neuropeptídios de efeito
anorexígeno e orexígeno, entre estes particularmente o neuropeptídio Y (NPY), esta relação
com o tabagismo apenas começou a ser estudada recentemente. A leptina tem despertado
interesse como eventual ligação entre o binômio apetite-saciedade, peso corporal e tabagismo.
Trata-se de um hormônio peptídico liberado pelo tecido adiposo que sinaliza ao cérebro as
50
informações sobre o tamanho do estoque de gorduras e sobre o estado nutricional do
organismo. A leptina, também denominada de hormônio da saciedade, liga-se aos receptores
hipotalâmicos, modulando a liberação de neuropeptídios de efeito anorexígeno e orexígeno.
Tal sinalização é captada no sistema nervoso central que, através da liberação de
neurotransmissores específicos, atenua ou aumenta a ingestão de alimento, o que está
associado ao respectivo aumento ou à diminuição da atividade metabólica. Esta cadeia de
eventos resulta na redução ou no incremento do peso. As concentrações de leptina circulante
estão relacionadas a nicotina inalada (Chatkin et al., 2007).
Seria razoável especular que níveis elevados de leptina sérica explicariam o IMC
menor dos fumantes em comparação ao dos não fumantes, pois ao se ligar com seus
receptores hipotalâmicos, a leptina promoveria a liberação dos neurotransmissores
anorexígenos, ocorrendo a diminuição do peso corporal (Nicklas et al., 1999). O uso crônico
de tabaco poderia aumentar a leptina sérica por dois mecanismos principais: sua maior
produção ou a diminuição de sua depuração renal. Além disso, a nicotina poderia induzir à
liberação de corticóides das adrenais, influenciando por sua vez a leptinemia, em um
complicado sistema de auto-regulação (Perkins et al., 2002).
Outra explicação para os níveis mais altos de leptina em fumantes poderia ser devido à
diminuição da sensibilidade hipotalâmica ao hormônio, em uma forma de resistência, levando
ao rompimento do sistema de auto-regulação (Nicklas et al., 1999). vários relatos que
corroboram a esta possibilidade (Nicklas et al., 1999; Perkins et al., 2002; Eliasson et al.,
1999). Entretanto, o achado de leptina sérica aumentada em tabagistas não é unânime na
literatura.( Perkins et al., 2002; Filozof et al., 2004).
A divergência de resultados também foi registrada em alguns estudos (Larsson et al.,
1999; Donahue et al., 1999) que apontaram que os níveis de leptina não estavam associados
com o comportamento tabágico. Outra possível explicação poderia ser que o tabagismo
aumentasse a sensibilidade à leptina e, em um sistema de retroalimentação, controlaria a
deposição de gorduras, levando à diminuição dos níveis de leptina. Portanto, a nicotina
indiretamente modificaria os níveis de leptina e causaria a manutenção do baixo IMC
(Chatkin et al., 2007).
Torna-se mais difícil chegar a uma conclusão devido a outras situações bastante
comuns e que interferem nos níveis de leptina, tais como gênero, menopausa, fase do ciclo
hormonal e tipo de adiposidade central ou periférica, as quais precisarão ser controladas no
delineamento dos futuros estudos (Chatkin et al., 2007). Porém, mais estudos são necessários
nessa direção dada sua complexidade.
51
O fumante, portanto, ingeriria menos alimentos devido à maior atividade de leptina
(ou de seus receptores), com conseqüente captação deste hormônio no hipotálamo,
paralelamente à diminuição da liberação de NPY, levando a sensação de saciedade. Por outro
lado, a falta de nicotina, por ocasião da cessação do tabagismo, ocasionaria decréscimo da
leptinemia e, conseqüentemente, diminuição dos seus efeitos inibitórios sobre o NPY. Isso
resultaria em aumento da produção deste neuropeptídio e, por conseguinte, do apetite (Jo et
al., 2002).
A grelina, peptídeo produzido no estômago, é outro agente envolvido nos fenômenos
saciedade/fome por ser indutor do apetite, em uma ação que se acredita que seja mediada pelo
NPY. Alguns estudos mostraram que o nível sérico deste hormônio pode ter relação com o
status tabágico do paciente, mas não com o número de cigarros fumados por dia (Bouros et
al., 2006). Mais recentemente, foi demonstrado que a concentração plasmática de leptina
aumentava e a de grelina diminuía após a cessação do tabagismo (Lee et al., 2006). Esses
resultados, opostos ao que seria de se esperar, induzem a outra especulação, como a de que as
modificações no sistema leptina-grelina-NPY produzidas em tecidos periféricos sejam
secundárias e não a causa da variação ponderal após a cessação do fumo, possivelmente
relacionada a efeitos diretos da falta de nicotina no sistema nervoso central (Lee et al., 2006).
Consumo de bebidas alcoólicas
No Brasil, segundo dados do Vigitel Brasil 2006 e 2008, houve aumento no consumo
de bebida alcoólica. Em 2008, 19% dos entrevistados declararam ter consumido álcool de
forma abusiva. Em 2006, esse percentual representava 16,1%. Segundo o Vigitel Brasil 2008,
o consumo tem sido mais frequente nas faixas etárias mais jovens: 30% dos homens e 10%
das mulheres entre 18 e 44 anos (Brasil, 2007; 2009).
Sabe-se que o álcool suprime a oxidação lipídica, favorecendo o acúmulo de gordura
no tecido adiposo (Suter et al., 1992), e indivíduos que bebem moderadamente tendem a
comer mais do que não bebedores (Westerterp-Plantenga et al., 1999). Apesar disso, os dados
disponíveis sobre a relação entre o consumo de bebidas alcoólicas e obesidade o
controversos, podendo a associação ser positiva (Panagiotakos et al., 2004), inversa
(Williamson et al., 1987; Liu et al., 1994) ou inexistente (Artalejo et al., 2002; Tur et al.,
2005).
É possível que o efeito do tabagismo sobre o peso explique parte das inconsistências
encontradas nos trabalhos que avaliaram a relação de álcool com obesidade. Estudo com
7.735 homens ingleses detectou uma associação positiva entre ingestão de bebidas alcoólicas
52
e peso corporal nos não fumantes, mas não entre fumantes moderados ou pesados
(Wannamethee et al., 1992). Entretanto, dados de 8.236 indivíduos não fumantes,
participantes do NHANES III, mostraram probabilidade significativamente menor de
obesidade entre os bebedores atuais (OR 0,73; IC 95% 0,55-0,97), naqueles que consumiam
menos de cinco drinques por semana (OR 0,62; IC 95% 0,46-0,82) e entre os que bebiam
mais dias durante o ano. Por outro lado, não beber ou beber compulsivamente aumentou a
chance de obesidade quase duas vezes, comparativamente aos bebedores não compulsivos
(Arif et al., 2005).
Similarmente, em um estudo francês que estudou 1.268 mulheres e 1.055 homens,
com idade entre 35 e 60 anos, o IMC foi menor entre os bebedores leves a moderados e
aumentou entre os abstêmicos e bebedores abusivos, sendo o resultado estatisticamente
significativo para os homens, quando se considerou o consumo total de álcool, e para ambos
os sexos quando a ingestão de vinho foi analisada (Lukasiewicz et al., 2005). A controversa
relação entre consumo de álcool e obesidade pode ser decorrente de pessoas obesas tenderem
subestimar a ingestão de alimentos e bebidas (Lafay et al., 2000), quanto também da
causalidade reversa, isto é, indivíduos obesos podem ter parado de beber como meio de
diminuir a ingestão de energia (Henn, 2006).
Quando a relação entre álcool e obesidade foi avaliada somente nos participantes do
National Health Interview Survey que referiram ingerir bebidas alcoólicas e não eram
fumantes, verificou-se que freqüência e quantidade de álcool associaram-se de maneira
distinta com IMC. À medida que a quantidade ingerida aumentou, o IMC elevou-se
significativamente, ocorrendo o inverso quando a freqüência aumentou. Indivíduos que
ingeriam maior quantidade de bebida, menos frequentemente, pesavam mais, e aqueles que
consumiam menores quantidades, mais frequentemente, eram mais magros (Breslow et al.,
2005). Como as análises se limitaram a não fumantes, isto poderia dificultar a generalização
dos resultados. Entretanto, em estudo consuzido no Texas, sem esta restrição, indivíduos que
consumiam bebidas alcoólicas cerca de três ou mais dias por mês também apresentaram uma
chance significativamente menor de serem obesos quando comparados aos abstêmicos (OR
ajustada = 0,49) (Rohrer et al., 2005). Limitações importantes deste estudo, no entanto, foram
à utilização de uma amostra de conveniência de usuários de baixa renda de serviços de saúde
e a não mensuração da quantidade de bebida alcoólica ingerida.
53
Sedentarismo
Em países em desenvolvimento, como o Brasil, é considerável o fenômeno da
urbanização e seu impacto sobre os padrões de atividade física (Pinheiro et al., 2004; Ferreira
et al., 2006). A inatividade física está aliada à transição nutricional. A sociedade moderna,
marcadamente industrializada, promove novos estilos de vida, em que a maioria das
ocupações, os transportes e as tarefas domésticas requerem menor esforço físico criarando um
ambiente com reduzida prática de atividade física, devido à exposição excessiva a televisão,
jogos eletrônicos, computadores e serviços de pronta entrega no domicílio induzindo desta
forma, um forte sedentarismo (Ciolac et al., 2004; Seabra et al., 2004; Rinaldi et al., 2008). Porém, a
prática freqüente de exercícios físicos diminui o risco de obesidade, atua na regulação do
balanço energético, influencia na distribuição do peso corporal, preserva e mantém a massa
magra, além de promover perda de peso corporal (Rinaldi et al., 2008). Segundo Pinheiro et al. (2004), o
declínio do dispêndio energético dos indivíduos constitui um importante determinante para o
desenvolvimento da obesidade.
Dentre os fatores de risco o sedentarismo mostra-se o fator com maior prevalência na
população, independentemente do sexo. Na maioria dos países em desenvolvimento, como o
Brasil, mais de 60% dos adultos que vivem em áreas urbanas não estão envolvidos em um
nível suficiente de atividade física. Dados do censo 2000 indicam que 80% da população
brasileira vivem em cidades, estando, portanto, sujeitos a desenvolver doenças associadas ao
sedentarismo. A atividade física também diminui com a idade, tendo início durante a
adolescência e declinando na idade adulta. A inatividade física é mais prevalente entre
mulheres, idosos (Secretaria de Políticas de Saúde/MS, 2002) e indivíduos de baixo nível
socioeconômico (Secretaria de Políticas de Saúde/MS, 2002; Vieira et al., 2008).
A prevalência de obesidade em adultos de meia idade tem alcançado proporções
alarmantes, o que se relaciona, em parte, ao estilo de vida moderno em que a maior parte do
tempo livre é gasto em atividades sedentárias, como assistir à televisão, usar computadores,
realizar viagens e passeios de carro (Secretaria de Políticas de Saúde/MS, 2002).
As elevadas prevalências de DCV e de obesidade na população brasileira, ao longo
dos anos, vêm sendo associadas à redução da prática de atividade física e a modificações no
padrão alimentar (Rêgo et al., 2006). Estimativas globais da OMS indicam que a inatividade
física é responsável por quase 2 milhões de mortes, por 22% dos casos de doença isquêmica
do coração e por 10% a 16% dos casos de diabetes e de cânceres de mama, cólon e reto
(Brasil, 2007).
54
A inatividade física decorrente da urbanização, da utilização de transporte para
locomoção, do desenvolvimento tecnológico e mecanização, tanto no ambiente de trabalho
quanto no ambiente doméstico, além de comportamentos sedentários, como assistir televisão e
usar o computador, vêm sendo considerados fatores de risco para a ocorrência de obesidade
(WHO, 2000; Hill et al., 1999). A modernização ocasiona estilos de vida mais sedentários
induzindo uma redução natural no gasto energético (Pereira et al., 2003).
Os principais componentes do gasto energético diário são: a taxa metabólica basal
(TMB), o efeito térmico dos alimentos (ETA) e prática de atividade física. Já existe relato na
literatura da relação inversa entre a redução da TMB e aumento de peso corporal. Deste
modo, o sedentarismo e os hábitos alimentares parecem representar o principal fator de risco
no desenvolvimento da obesidade no mundo (Pereira et al., 2003).
O balanço energético positivo decorre tanto pelo aumento na ingestão calórica, como
pela redução no gasto calórico total, ou da combinação dos dois fatores, constitui um
importante fator para o desenvolvimento da obesidade, promovendo aumento nos estoques de
energia e peso corporal. O início da manutenção de um balanço calórico positivo relativo às
necessidades do organismo pode ser conseqüência (Pereira et al., 2003).
A inatividade física, definida como prática semanal de menos de 150 minutos de
atividade sísica moderada ou menos de 60 minutos de atividade vigorosa (Pate et al., 1995),
foi superior a 50% em amostra da população americana com idade igual ou superior a 18
anos, participantes de Behavioral Risk Factor Surveillance System, em 2003 (CDC, 2005). Na
Austrália, a taxa de sedentarismo atingiu 68% em uma amostra aleatória avaliada no
Australian Healthy Survey, em 1995 (Burton et al., 2000).
De acordo com a Pesquisa sobre Padrões de Vida, o inquérito realizado entre 1996 e
1997 em amostra probabilística de 11.003 indivíduos de 20 anos ou mais de ambos os sexos,
residentes nas regiões Sudeste e Nordeste do Brasil, apenas 13% dos participantes realizavam
um mínimo de 30 minutos de atividade física em um ou mais dias da semana, e 3,3%
referiram realizar a quantidade mínima recomendada (Monteiro et al., 2003).
Resultados de estudos que avaliaram a relação entre atividade física e obesidade
parece refletir os achados descritos acima. Estudo conduzido em amostra representativa de
adultos australianos (Ball et al., 2001), por exemplo, identificou que em mulheres com níveis
moderado e alto de atividade física no laser (AFL) a chance de ter IMC inferior a 25 kg/m
2
foi
duas vezes maior daquelas sedentárias. Entre os homens, a associação foi significativa
naqueles com nível alto de AFL, porém, mais fraca do que a encontrada para as mulheres.
55
Porém, não detectou associação entre atividade ocupacional, incluindo o trabalho fora de casa
e atividades domésticas e obesidade.
De forma semelhante, não foi observada associação estatisticamente significativa entre
nível de atividade física relacionada ao trabalho e obesidade, ao se analisarem os dados de
uma amostra representativa da população adulta da Espanha. Por outro lado, quando se
considerou a AFL, uma relação dose-resposta negativa entre AFL e obesidade foi vista tanto
para homens quanto para mulheres (Gutiérrez-Fisac et al., 2002).
Associação entre atividade física e obesidade foi investigada em inquéritos
independentes realizados na Finlândia em 1982, 1987, 1992 e 1997, onde se mensuraram
diferentes dimensões da atividade física, tais como, AFL, tipo de locomoção para o trabalho e
atividade ocupacional (Lahti-Koski et al., 2002). Entre os principais resultados, destaca-se a
relação inversa, significativa e independente, entre o nível de AFL e obesidade. Nos
participantes que referiram nível alto de AFL a chance de obesidade foi 0,47 (IC 95% 0,37-
0,58) para os homens e 0,39 (IC 95% 0,31-0,49) para as mulheres. Associação da atividade
física ocupacional com obesidade, apesar de estatisticamente significativa, comportou-se de
maneira distinta entre os dois sexos. Enquanto atividade vigorosa preveniu a obesidade entre
os homens (OR 0,70; IC 95% 0,60-0,80), este mesmo nível de atividade aumentou o risco
entre as mulheres (OR 1,40; IC 95% 1,21 1,62).
Particular atenção tem sido depositada na relação entre comportamentos sedentários e
ocorrência de obesidade (Eisenmann et al., 2002). As horas em frente à TV, por exemplo,
substituem o tempo que poderia ser despendido em atividades com maior gasto energético
(Buchowski et al., 1996). Uma coorte, que acompanhou aproximadamente mil indivíduos dos
cinco aos 26 anos de idade, em Nova Zelândia, mostrou que a média de horas assistindo TV
dos cinco aos quinze anos associou-se positivamente com o IMC aos 26 anos. A fração
atribuível populacional indicou que 17% (IC 95% 0,07-0,25) do sobrepeso na idade adulta
poderia ser atribuído a um tempo superior a duas horas diárias assistindo TV (Hancax et al.,
2004).
Associação positiva e independente entre o tempo gasto assistindo TV e obesidade
também foi demonstrada em estudo de coorte com enfermeiras americanas, participantes do
Nurses‟ Health Study, entre 1992 e 1998. Na análise multivariada ajustada para idade,
tabagismo, nível de exercício físico, fatores dietéticos e outras co-variáveis, cada incremento
de duas horas no tempo gasto assistindo TV aumentou o risco de obesidade em 23% (IC 95%
0,17 0,30) (Hu et al., 2003).
56
Entre os participantes com mais de 14 anos, selecionados aleatoriamente para um
inquérito de saúde e nutrição, em 1994, na região de Valência, Espanha, indivíduos obesos
referiram gastar mais tempo assistindo TV (média desvio padrão (DP) = 3,6 1,5 h/dia) do
que os não obesos (3,0 1,4 h/dia). A chance de obesidade mais do que dobrou entre os que
assistiam quatro ou mais horas de TV por dia quando comparados aos que assistiram um hora
ou menos (Vioque et al., 2000).
Um estudo prospectivo, com 10 anos de seguimento, realizado em amostra aleatória de
adultos residentes em Copenhague, falhou para demonstrar associação entre o nível de
atividade física e obesidade, após controlar para potenciais fatores de confundimento. No
entanto, entre os indivíduos obesos, o risco de ser inativo foi 91% para as mulheres e 50%
para os homens (Petersen et al., 2004), sugerindo que a obesidade levaria à inatividade física.
Os métodos utilizados para avaliar o nível de atividade física na maioria dos estudos
são baseados em infromações auto-referidas pelos participantes, o que pode resultar em algum
grau de imprecisão na mensuração desta variável, especialmente quanto às atividades
ocupacional e doméstica (Wareham et al., 1998). Isto poderia explicar, pelo menos
parcialmente, as inconsistências ou resultados controversos encontrados na associação entre
atividade física e obesidade. Além disso, é possível que o ponto de corte utilizado para definir
o nível de atividade física não tenha sido suficientemente sensível para capturar a relação
desta variável com obesidade (Lahti-Koski et al., 2002). Por outro lado, a falta de associação
entre atividade ocupacional e obesidade poderia ser atribuída, pelo menos em parte, à dieta
(Gutiérrez-Fisac et al., 2002), uma vez que indivíduos em atividade ocupacional de alta
intensidade aumentam o consumo calórico (Paeratakul et al., 1998), neutralizando o gasto
energético da atividade. A maioria dos estudos não dispõe de dados sobre dieta,
impossibilitando o ajuste para ingestão calórica na análise. Dada à natureza transversal de
alguns dados, também não se pode desconsiderar a possibilidade de causalidade reversa.
Os resultados dos estudos apresentados indicam a necessidade de instrumentos mais
sensíveis para medir a atividade física, definição de pontos de corte para categorizar o nível
de atividade e obtenção de informações sobre dieta.
No âmbito familiar, Seabra et al. (2004) estudaram a agregação familiar (influência do
pai e da mãe) nos hábitos de prática desportiva dos filhos. A amostra foi constituída por 5850
crianças e jovens de ambos os sexos, com idades entre os 10 e os 19 anos, e observaram que a
prática desportiva da mãe é o determinante que melhor explica a propensão de uma criança e
de um jovem para praticar desporto; os descendentes do sexo masculino revelam uma maior
57
propensão para a prática desportiva quando comparados com os do feminino (Seabra et al.,
2004).
Na literatura disponível é extremamente fácil verificar a existência de uma
variabilidade substancial na magnitude da influência familiar nos níveis de atividade física e
desportiva de crianças e jovens. De fato, enquanto que em alguns estudos os resultados
mostram uma associação positiva e de magnitude diversa entre os valores de atividade física
dos progenitores e dos seus descendentes, existem outros, onde essa associação não se
verifica. Várias pesquisas realizadas têm identificado a existência de agregação familiar nos
hábitos de atividade física e desportiva de crianças e jovens, mostrando que pais fisicamente
ativos tendem a ter filhos igualmente ativos (Freedson et al., 1991; Wold et al., 1992; Aarnio,
1997; Biddle et al., 1996; Pereira, 1999; Andújar et al., 2000; Junior et al., 2000; Simonen et
al., 2002). Todos estes trabalhos são unânimes no reconhecimento da importância que os
progenitores têm na mediação e modelação de comportamentos associados à saúde,
nomeadamente na prática de atividades desportivas. De fato, muitos dos comportamentos
saudáveis são iniciados e mantidos no seio familiar, podendo os progenitores ser considerados
os principais elementos de âmbito social com capacidade para influenciar os seus
descendentes a adaptá-los (Junior et al., 2000; Seabra et al., 2004).
Aspectos nutricionais
O World Health Report 2002: Reduzing risks, promoting healthy life (WHO, 2002a)
situa dieta e nutrição entre as principais causas de doença não transmissíveis e de mortalidade.
Durante a última década estudos epidemiológicos de base populacional e ensaios clínicos
randomizados forneceram fortes evidências sobre o papel da dieta na prevenção e controle da
morbimortalidade devido às DCNT. Na Europa, 4,4% da carga global de doença foi atribuída
à baixa ingestão de frutas e verduras (WHO, 2002a; 2003).
A melhoria das condições de vida, a maior cobertura de saúde e o declínio da
fecundidade favoreceram a redução da desnutrição no nosso país. Em contrapartida, o
desenvolvimento econômico, o aumento da urbanização e da industrialização, induziram
grandes mudanças nos padrões de alimentação e atividade física, contribuindo desta forma
para a evolução do excesso de peso e, conseqüentemente, para as mudanças dos indicadores
nutricionais. Essas alterações na dieta, no trabalho e no lazer, a transição nutricional,
ocorreram nos países desenvolvidos mais tempo, enquanto que nos países em
desenvolvimento vem passando por este período somente algumas décadas, mas numa
velocidade muito maior (Ag Bendech et al., 1999; Popkin, 2002; WHO, 2002a; WHO, 2002b;
58
Ferreira et al., 2006). Em países industrializados, dados epidemiogicos apontam incremento da
obesidade em jovens devido ao sedentarismo e bitos alimentares hipercalóricos e hiperlipídicos
(Gabbay et al., 2003).
Alterações quantitativas e qualitativas caracterizam o período de transição. A redução
no consumo de alimentos ricos em carboidratos complexos e fibras, como as frutas, legumes e
hortaliças; dieta rica em gordura saturada e açúcar; aumento no consumo de alimentos
refinados e processados e o aumento do número de refeições realizadas fora de casa foram as
mudanças dietéticas que ocorreram com maior freqüência (Popkin, 2002; WHO, 2002a;
WHO, 2002b).
Duvigneaud et al. (2007) realizaram um estudo em adultos, objetivando investigar os
fatores dietéticos associados ao IMC e observaram que rios fatores dietéticos estão
associados com a obesidade central e generalizada.
As principais modificações no consumo alimentar, especialmente nos países em
desenvolvimento, nas últimas décadas são: 1) substituição de cereais tradicionais como milho
e sorgo por arroz e trigo refinados; 2) aumento do consumo de pães, que aumentou
conjuntamente com o número de refeições realizadas fora de casa e/ou pelo consumo de
refeições preparadas fora do domicílio; 3) redução no consumo e na comercialização de
aipim, inhame e batata doce e aumento no consumo de batata inglesa; 4) menor consumo de
leguminosas e conseqüente aumento do consumo e da disponibilidade de produtos de origem
animal, como leite, carne e ovos, e óleos vegetais; 5) aumento no consumo de açúcar e
bebidas açucaradas como os refrigerantes. Em relação às frutas e hortaliças existe uma
tendência de consumo que é diretamente relacionada com a disponibilidade de renda (WHO,
2002b).
Essas modificações no consumo e nos padrões da alimentação da população mundial
vêm sendo indicadas por alguns estudos. Bermudez & Tucker (2003) constataram que entre
os anos de 1995 a 1999, houve uma diminuição de 52% para 45% na contribuição de cereais,
tubérculos e leguminosas para a energia total, enquanto que a proteína animal aumentou de
14% para 17%. Monteiro et al. (2000) verificaram através dos dados das POF de 1988-1987
que o consumo de cereais, leguminosas e tubérculos vêm sendo substituídos por uma
alimentação mais rica em gorduras e açúcares e essas mudanças no padrão alimentar do Brasil
foram confirmadas pelas POF 1995-1996 e 2002-2003 (Levy-Costa et al., 2005).
A combinação de alta palatabilidade e o baixo custo dos alimentos ricos em gorduras e
açúcares favorece o aumento do seu consumo, em detrimento ao consumo de alimentos mais
saudáveis como as frutas, os vegetais e os grãos. Somado a este fator, o consumo alimentar
59
fora de casa é cada vez mais comum. Este, por sua vez, estimula um rápido crescimento do
setor econômico informal e formal do comércio de alimentos que se utiliza, além da
combinação sabor/custo, da praticidade, o que na sociedade atual pode colaborar para o
consumo de alimentos de alta densidade calórica (Ag Bendech et al., 1999; Drewnovski &
Darmon, 2005)
Porém, dados recentes do Vigitel Brasil 2008 (Brasil, 2009), revelam que o brasileiro
está comendo melhor, consumindo menos carne com excesso de gordura e mais alimentos
saudáveis. Atualmente 33,8% dos pesquisados a consomem, quase seis pontos percentuais a
menos do que em 2006. Em 2006, apenas 5,6% dos adultos consumiam a quantidade de frutas
e hortaliças recomendada pela OMS, que é de cinco porções em cinco ou mais dias da
semana. Hoje, o índice praticamente triplicou, chegando a 15,7%. O consumo regular de
alimentos saudáveis também aumentou no país. Ele subiu de 23,9%, em 2006, para 31,5%,
em 2008. Dos entrevistados no estudo, 56,5% tomam leite integral. Em todas as cidades
pesquisadas, o consumo de leite integral é elevado e não diferenças significativas entre
homens e mulheres. No total, mais da metade dos brasileiros (56,5%) consome o produto.
os refrigerantes são consumidos de maneira regular (cinco ou mais dias na semana) por 27,8%
da população brasileira. São os homens quem os bebem mais, especialmente os jovens de 18 a
24 anos 40% deles nessa faixa etária (Brasil, 2007; Brasil, 2009).
Densidade Energética
Dentre os fatores nutricionais relacionados à obesidade destaca-se o excesso de
energia e, principalmente de lipídeos, favorecendo ao aumento da adiposidade (Francischi et
al., 2000).
Em países em desenvolvimento, como o Brasil, é considerável o fenômeno da
urbanização e o seu impacto sobre as características da alimentação. Ao analisar dados sobre
tendência secular do consumo alimentar indireto POFs (restritos à comparação entre as áreas
metropolitanas do país), as alterações de maior destaque referem-se à tendência ao aumento
da densidade energética das dietas; observa-se isso, especialmente entre os inquéritos de
1974/1975 e 1987/1988, com o aumento de 2 a 7 pontos percentuais na proporção da energia
procedente do consumo de lipídeos (Pinheiro et al., 2004).
A densidade energética é a quantidade de energia (em quilocalorias (Kcal)) por peso
de alimentos consumidos em gramas (g). Alimentos de alta densidade energética, em sua
maioria, grãos refinados adicionados de açúcar, de gordura, são palatáveis, baratos e
60
convenientes. Entretanto, estes tipos de alimentos, têm sido correlacionados ao incremento do
consumo energético diário e dieta de baixo valor nutricional (Mendoza et al., 2007).
Estudos têm associado o aumento das taxas de obesidade com o consumo aumentado
de dietas de densidade energética elevada. Estes tipos de dietas constituem um fator preditor
independente para: obesidade, elevados níveis de insulina em jejum e SM em adultos
(Mendoza et al., 2007).
Em um estudo realizado por Johnson et al. (2008) em crianças com idade entre 5 a 9
anos, objetivou identificar o padrão dietético que explicasse a densidade energética, de fibras
e percentagem de energia consumida a partir de gordura e analisar sua relação com
adiposidade em crianças. Em relação à densidade energética, observou associação positiva
com adiposidade nas crianças.
O percentual de energia (kcal) consumido na forma de gordura foi significativamente
maior em homens obesos comparados aos homens com peso adequado (Duvigneaud et al.,
2007).
Um estudo prospectivo realizado com 50.026 mulheres no Nurses‘ Health Study II,
objetivou analisar em longo prazo, a relação entre a densidade energética da dieta e ganho de
peso relacionado à idade. Observou-se, que uma dieta com densidade energética elevada
desencadeia um padrão dietético caracterizado pelo elevado teor de gorduras saturadas,
gorduras trans e carboidratos refinados. Seu consumo aumentado foi associado positivamente
com o ganho de peso nas mulheres de meia idade durante os oito anos de estudo (Bes-
Rastrollo et al., 2008).
Além dos efeitos dos lipídeos e dos carboidratos na ingestão de energia e regulação do
peso, também se investiga o papel da densidade energética (kcal/g de peso) (Poppitt, 1995).
Estudo experimental mostrou que a densidade energética, independente do conteúdo de
lipídeo, afetou a quantidade de energia consumida. Mulheres magras e obesas que ingeriram
preparações ad libitum com diferentes conteúdos de gordura e com alta ou baixa densidade
energética, porém, com a mesma palatabilidade, apresentaram menor ingestão de energia total
na dieta de baixa densidade energética (1800kcal) do que na de alta densidade energética
(2250kcal) (Bell et al., 2001).
Consumo de alimentos
Em geral, as tendências no consumo de alimentos vistas durante as últimas décadas,
especialmente nos países em desenvolvimento, incluem a substituição de cereais tradicionais,
como sorgo e milho, por arroz e trigo refinados, com aumento no consumo de produtos de
61
panificação; aumento na comercialização e consumo de batata inglesa e redução do consumo
de mandioca, inhame, batata doce; menor consumo de leguminosas; maior disponibilidade e
utilização de óleos vegetais; aumento do consumo de açúcar, principalmente na forma de
refrigerante; aumento da oferta e ingestão de produtos de origem animal, como carne, leite e
ovos, e tendência de crescimento na oferta de vegetais e frutas, o consumo, porém,
relacionando-se diretamente com a renda (WHO, 2002b).
Análise das tendências nos padrões de dieta de países da América Latina revela que
houve uma redução de 52% para 45% na contribuição de cereais, raízes e leguminosas para a
energia total, entre 1995 e 1999. Ao mesmo tempo, a proteína animal, oriunda de carnes, aves,
peixes, ovos, leite e derivados, teve seu consumo aumentado de 14% para 17%, em paralelo a
uma redução na ingestão de frutas e vegetais (Bermudez et al., 2003).
No Brasil, dados das POFs, realizadas entre 1988 e 1996 mostraram aumento relativo
de lipídeos na dieta da população do Norte e Nordeste e aumento no consumo de ácidos
graxos saturados em todas as áreas metropolitanas do país. Maior ingestão de carnes, leites e
seus derivados (exceto manteiga) explicaram este aumento. No Centro-Sul, observou-se uma
redução no consumo de ovos, óleos e gorduras vegetais. A tendência de queda no consumo
também foi verificada para leguminosas, raízes, tubérculos, frutas, vegetais e legumes,
enquanto o consumo de cereais e derivados manteve-se estável no Centro-Sul ou aumentou
ligeiramente no Norte e Nordeste do Brasil (Monteiro et al., 2000). A análise detectou, ainda,
que a contribuição relativa do açúcar refinado e do refrigerante cresceu em todas as áreas
metropolitanas do país. Dados da POF 2002-2003 indicam a persistência deste padrão de
consumo alimentar pela população brasileira (Levy-Costa et al., 2005).
As mudanças que vêm ocorrendo na estrutura das dietas dos países emergentes têm
sido atribuídas a sua rápida urbanização, à crescente indústria de alimentos e a maior
exposição à mídia, todos contribuindo para um aumento no consumo de alimentos
processados, mais densos energeticamente, maiores em tamanho, a um custo menor
(Drewnowki et al., 1997; Popkin et al., 2003; Ledkwe et al., 2005). Esta combinação tem
resultado em uma hipótese econômica para obesidade, em que a alta palatabilidade e o menor
custo de alimentos com predomínio de gordura e açúcar favoreceria o seu consumo pelas
camadas mais pobres da população, em detrimento de dietas mais saudáveis, à base de frutas,
vegetais e grãos, porém, com custo elevado (Drewnowki et al., 2004; 2005).
62
Consumo de Lipídeos
Dietas com elevado teor de gordura, em especial a usada na preparação das refeições,
constituem fator de risco para a obesidade. Evidências apontam que a gordura dietética é
suficiente para explicar o ganho de peso populacional (Astrup et al., 2008).
Embora se reconheça a obesidade como o resultado, em longo prazo, de um balanço
positivo entre ingestão calórica e gasto energético, os fatores que favorecem o consumo
excessivo de alimentos e, consequentemente, de energia, permanecem controversos. Por
exemplo, o papel atribuído à gordura no desenvolvimento da obesidade tem sido questionado
(Willet, 1998). Comparações feitas entre países desenvolvidos e em desenvolvimento quanto
à ingestão desse nutriente e a prevalência de obesidade poderiam estar confundidas por
diferenças no padrão de atividade física e consumo total de alimentos. O argumento mais
simples é que, apesar de ter ocorrido um declínio na ingestão de gordura nos Estados Unidos,
a prevalência de obesidade continua aumentando (Henn, 2006).
Algumas características dos lipídeos poderiam explicar por que dietas ricas neste
nutriente promoveriam alto consumo de energia e hiperfagia. A gordura é energeticamente
mais densa, contendo duas vezes mais calorias por grama do que carboidrato e proteína;
parece promover menor saciedade do que os outros macronutrientes e é altamente palatável.
Do ponto de vista metabólico, enquanto as rotas oxidativas auto regulatórias do carboidrato e
da proteína são ativadas para rápida utilização destes nutrientes, somente uma pequena parte
da gordura é oxidada, o restante sendo estocado no tecido adiposo (Astrup, 2001). Com base
nos dados de 11.626 indivíduos adultos que participaram de dois estudos transversais, o
Scottish Heart Health Study (SHHS) e o projeto MONICA, nos distritos de Edinburgh e norte
de Glasgow, Inglaterra, verificou-se que maior razão entre gordura e carboidrato foi preditora
de sobrepeso e obesidade, independente da quantidade de energia consumida (Bolton-Smith et
al., 1994).
O papel atribuído à gordura no desenvolvimento da obesidade acabou mobilizando a
indústria alimentícia no sentido de reduzir o teor de lipídeos dos alimentos (Jeffery et al.,
2003). Este procedimento, no entanto, pode ter resultado em aumento no teor de carboidratos,
sobretudo dos açúcares de adição. Assim, alguns alimentos, embora pobres em gordura, são
ricos em carboidratos e, portanto, com alta densidade energética, promovendo o hiper
consumo de energia (Stubs et al., 2001).
A influência Ocidental para o consumo aumentado de fast-foods contribuiu para a
disseminação de hábitos alimentares prejudiciais (não saudáveis), que seu consumo
63
aumentado está associado com o ganho de peso corporal. Os fatores que explicam a
associação do consumo de fast-foods e excesso de adiposidade corporal são: porções grandes;
alta densidade energética devido ao elevado teor de lipídeos e pouca quantidade de vegetais,
frutas e produtos/grãos integrais; consumo abundante de bebidas com elevado teor de açúcar e
elevada concentração de gorduras trans (Astrup et al., 2008).
Astrup et al. (2008) relatam ainda que um consumo aumentado de gordura trans eleva
o risco para o ganho de peso e acúmulo de gordura na região abdominal, promovendo
portanto, a obesidade centralizada. O consumo de gordura elevado também foi associado com
aumento da adiposidade em crianças (Johnson et al., 2008).
Um estudo realizado por Guallar-Castillón et al. (2007) com 33.542 espanhóis adultos,
concluíram que o consumo de alimentos fritos foi associado à obesidade central e à
generalizada somente nos indivíduos que consumiram o maior quintil do consumo energético
a partir de alimentos gordurosos.
Consumo de Carboidratos e fibras
Muitos alimentos típicos da dieta ocidental, ricos em carboidratos, apresentam alto
índice glicêmico, o que promoveria a oxidação pós-prandial dos carboidratos, poupando a
oxidação de gordura, a qual seria estocada no tecido adiposo, favorecendo o ganho de peso
(Ludwig, 2000; Brand-Miller et al., 2002). Contrariamente, o consumo de grãos integrais,
ricos em fibra e com baixo índice glicêmico, poderia aumentar a saciedade e, com isto,
reduzir o consumo de energia (Roberts et al., 2000). Dados de 74.091 enfermeiras
americanas, participantes do Nurses‟ Health Sutdy, mostraram que, durante um período de 12
anos, todas as mulheres ganharam peso, entretanto, aquelas que aumentaram o consumo de
fibras na dieta ganharam cerca de 1,5kg a menos do que as mulheres que não alteraram a
quantidade ingerida. Também foi observado que mulheres no quintil mais alto de ingestão de
fibras tinham um risco 49% menor de ganho de peso excessivo (Liu et al., 2003).
O baixo consumo de fibras foi associado ao aumento da adiposidade em crianças
(Johnson et al., 2008). Em adultos, Duvigneaud et al. (2007) observaram, que o percentual de
energia a partir de carboidratos e fibras foram negativamente relacionados com o IMC em
homens, enquanto que em mulheres, um elevado consumo de carboidratos e fibras foi
positivamente associado com obesidade.
64
Consumo de Proteínas
Alguns benefícios são apontados em relação ao consumo de proteínas, controle de
peso corporal e saciedade. A proteína geralmente está associada com aumento da saciedade
com maior eficiência quando comparada a ação dos carboidratos e lipídeos e pode facilitar a
redução do consumo de energia sob condições ad libitum. O aumento da termogênese em
dietas hiperprotéicas também tem sido observado, pois além de influenciar a saciedade,
aumenta o dispêndio energético, contribuindo assim, para a baixa eficiência energética
proveniente do consumo protéico. Seu consumo favorece a manutenção ou aumento de massa
corporal livre de gordura, pois quando um consumo moderadamente elevado de proteína
dietética pode estimular efeitos anabólicos em nível muscular enquanto melhora o perfil
metabólico (Paddon-Jones et al., 2008).
Dieta Mediterrânea
A dieta mediterrânea (DM) é caracterizada por compenentes alimentares, tais como,
vegetais, frutas frescas, frutas secas oleaginosas, peixes, cereais integrais, óleo de oliva, vinho
tinto e pela elevada proporção de gordura monoinsaturada em relação às saturadas (Schröder
et al., 2004; Steemburgo et al., 2007) e constitui um padrão alimentar saudável com efeitos
protetores contra doenças crônicas (Schröder et al., 2004).
O estudo desenvolvido por Schröder et al. (2004) observou que o padrão dietético
mediterrâneo tradicional foi inversamente associado ao IMC e à obesidade.
Um estudo de revisão sistemática objetivou analisar a evidência epidemiológica sobre
DM na prevenção e tratamento da Obesidade abrangendo 21 estudos. Dentre estes, apenas 13
reportaram que a aderência à DM foi significativamente relacionada com menor excesso de
peso ou maior perda de peso. Oito desses estudos não observaram nenhuma evidência desta
associação (Bucklan et al., 2008).
Giugliano et al. (2008) estudou a relação entre a dieta mediterrânica e doenças
metabólicas, incluindo a obesidade, DM II e a SM e sugere que a DM pode servir como um
padrão de dieta anti-inflamatória, o que poderia ajudar a combater as doenças que estão
relacionadas com a inflamação crônica, incluindo a obesidade visceral, diabetes tipo 2 e da
síndrome metabólica.
A relação entre DM e excesso de peso é complexa e existem diferenças metodológicas
significantes e limitações nos estudos realizados. No entanto, apesar dos resultados
apresentados pelos estudos até o momento serem inconsistentes, a possibilidade da DM na
65
prevenção do excesso de peso e os mecanismos fisiológicos envolvidos, podem ser explicados
pelos possíveis efeitos protetores (Bucklan et al., 2008).
Programa Médico de Família (PMF) de Niterói-RJ
Niterói é um município da região metropolitana do Rio de Janeiro, com uma área
territorial de 132km
2
e uma população de 458.465 habitantes, segundo o Censo/IBGE 2000.
Apesar de registrar bom nível de instrução de sua população, uma taxa de urbanização de
100% e uma renda média e potencial de consumo elevado, apresenta grandes desigualdades
sociais, coexistindo, em alguns espaços, condomínios de alto luxo e áreas favelizadas,
características do fenômeno de metropolização da pobreza (Senna e Cohen, 2002). Porém,
Niterói proporciona uma boa qualidade de vida para a população, demonstrada através de
alguns indicadores gerais como baixas taxas de analfabetismo e de mortalidade infantil, renda
média mensal de 7,4 salários nimos, expectativa de vida de 70 anos, entre outros. Apesar
dessas características positivas, estima-se que uma parcela de aproximadamente 26% da
população do município (120.000 hab.) pode ser considerada de risco social (Terra & Malik,
1998).
A medicina familiar constitui-se uma nova forma de entender, aplicar e interpretar o
processo saúde-doença. Tem como princípio básico a acessibilidade de serviços de saúde a
uma determinada comunidade, oferecendo uma assistência centrada no perfil e nas
necessidades da população (Teixeira et al., 1999).
Em 1991 concretizou-se um conjunto de decisões políticas para adaptar em Niterói a
experiência cubana de medicina familiar e, a partir dessa etapa, foram desenvolvidos estudos
preliminares que culminaram na implantação do primeiro módulo do município em setembro
de 1992 (Teixeira et al., 1999). Portanto, Niterói vivencia, desde 1992, a construção de um
modelo de atenção que implementou os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde
(SUS), o PMF (Hübner et al., 2007). Dessa forma, a abrangência do PMF de Niterói, facilita a
compreensão dos fenômenos por meio da conjunção do saber clínico, epidemiológico social,
na perspectiva da qualidade de vida da população. Neste modelo, a acessibilidade dos serviços
a uma determinada comunidade, combinada com o diagnóstico local, oferece uma assistência
centrada no perfil e nas necessidades da população (Teixeira et al., 1999).
Na implantação de dulos do PMF de Niterói, o priorizadas as áreas onde se
concentra população considerada de risco social. Os 13 módulos implantados atingem uma
66
população de 46.000 habitantes, o que representa 40% do total da meta a ser alcançada (Terra
& Malik, 1998). A seleção de áreas para a implantação do modelo tem sido norteada pela
organização social das Associações de Moradores e por fatores de risco locais. As micro-
regiões territoriais encontram-se em bairros onde residem populações de risco social,
biológico, epidemiológico e ambiental, levando-se em consideração ao selecioná-las a renda
familiar, as condições concretas de trabalho, de subsistência, os problemas de saúde
identificados nas pessoas ena coletividade, a estrutura sanitária, a demografia e,
conseqüentemente, o risco de adoecer (Teixeira et al., 1999).
O PMF de Niterói constitui uma estratégia de eqüidade, uma vez que implantado nas
áreas de maior risco social e ambiental do município, privilegiando moradores com renda
familiar mensal inferior a cinco salários mínimos (Hübner et al., 2007). Os principais
objetivos deste programa são a mudança do modelo de atenção vigente e proporcionar
assistência integral à saúde da população, com ênfase nas atividades de prevenção e de
promoção. O meio adotado para atingir tais objetivos foi a utilização de médicos generalistas
e o investimento na capacitação e na educação continuada desses profissionais, que devem ser
capazes de resolver cerca de 70% dos problemas de saúde de sua área de abrangência. Além
disso, a equipe de saúde também deve atuar no plano coletivo, com um ―olhar integral‖ sobre
o indivíduo, sua família, a comunidade e as questões ambientais, sociais e econômicas que
influenciam o estado de saúde da população da área de cobertura, tais como educação,
abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de lixo, processo de urbanização etc
(Terra & Malik, 1998).
A operacionalização do Programa ocorre da seguinte forma: a Secretaria Municipal de
Ciência e Tecnologia desenvolveu um estudo inicial referente aos aspectos demográficos e
sócioeconômicos da região, definindo a área de abrangência de cada módulo, que é dividida
em setores com 200 a 250 famílias (totalizando um máximo de 1.200 pessoas). Logo após, é
feito o cadastramento das famílias de cada setor, que serão acompanhadas por uma equipe
composta de um médico 5 generalista e um auxiliar de enfermagem, devendo este último
residir na comunidade. Cada módulo é constituído por três ou quatro equipes, atendendo uma
clientela de cerca de 5.000 pessoas (Terra & Malik, 1998).
As atividades das equipes básicas são divididas entre visitas domiciliares e atendimentos
em consultório (tanto da demanda espontânea quanto da programada), sendo apoiadas e
complementadas por um grupo de supervisão multidisciplinar, que tem as funções de realizar
interconsultas (atendimentos conjuntos com o médico do módulo), desenvolver a capacitação
permanente dos profissionais médicos e auxiliares de enfermagem e avaliar a equipe. Do total
67
de recursos investidos na rede de assistência à saúde, cerca de 10% são utilizados na
implementação do PMF. A fonte destes recursos é integralmente municipal. Uma das
principais características do PMF é servir como agente de transformação da sociedade,
contribuindo para o resgate da cidadania. O trabalho de educação desenvolvido pelas equipes,
tanto nos módulos como nas visitas domiciliares, envolve a comunidade e a torna co-
responsável nas tarefas de prevenção e promoção de saúde, ao mesmo tempo em que promove
uma maior aproximação e integração da equipe de saúde com a população da área. O
Programa estimula a participação ativa da comunidade, através das associações de moradores
e dos conselhos de saúde, no processo de tomada de decisão relativo a questões que
influenciam indiretamente o estado de saúde da população, como ações sobre o meio
ambiente ou na área de educação. Uma das vantagens do PMF é atender a um dos principais
preceitos do Sistema único de saúde (SUS), o da eqüidade, além de proporcionar à sua
clientela um atendimento humanizado e de boa qualidade (Terra & Malik, 1998).
O PMF procura realizar os princípios do SUS, buscando articular o saber da vigilância à
saúde, a clínica exercida pelas equipes de PMF e de supervisores, com os elementos que
constituem uma rede social de proteção à saúde. Assim, a integralidade da ação é facilitada
pela inserção das equipes no contexto de vida dos usuários, a partir do processo de
cadastramento das famílias feito pelas mesmas e do trabalho de campo diário, que facilita a
compreensão dos determinantes do processo saúde/doença (Hübner et al., 2007).
Avaliação do consumo alimentar
Instrumentos para investigação do consumo alimentar
Diversos estudos têm evidenciado o efeito dos alimentos sobre a saúde. Sabe-se que a
alimentação adequada é relevante tanto para a prevenção como para o tratamento de doenças.
Assim, o reconhecimento do consumo de alimentos é de grande importância para a elaboração
e avaliação de estratégias de intervenção, tendo em vista a promoção da saúde e da
alimentação saudável. Dado que os métodos de avaliação de consumo de alimentos
apresentam limitações, o desenvolvimento e refinamento destes ganham cada vez mais
importância em pesquisas epidemiológicas (Cervato & Vieira, 2003)
Conhecer a ingestão alimentar de grupos ou mesmo de indivíduos é sempre uma tarefa
complexa pelas práticas alimentares estarem mergulhadas nas dimensões simbólicas da vida
68
social, envolvidas nos mais diversos significados, desde o âmbito cultural até as experiências
pessoais, conferindo a elas menos objetividade do que se espera ao abordá-las por meio de
métodos de investigação sobre consumo alimentar (Garcia, 2004).
Garcia (2004) menciona possíveis fontes de erros que podem distorcer as informações
sobre ingestão alimentar: a percepção do que se come; a memória do entrevistado; efeitos
decorrentes da idade, sexo e ambiente da entrevista; a própria coleta de dados pode afetar as
informações de ingestão; a variação alimentar diária e da sazonalidade, os dias em que são
realizadas as entrevistas podem ser mais ou menos representativos que outros; a habilidade do
entrevistador em obter informações e a disposição em colaborar com a investigação.
A avaliação do consumo alimentar é uma importante etapa nas pesquisas que
relacionam nutrição e saúde. Para medir esse consumo são necessários métodos que associem
facilidade na avaliação, validade, precisão e economicamente viáveis. Os métodos mais
utilizados são recordatório de 24 horas (R24h) e questionário semiquantitativo de freqüência
alimentar (QSFA) (Willet, 1998; Michels, 2003; Pereira & Sichieri, 2007).
Entre os instrumentos para avaliação do consumo alimentar estão aqueles que avaliam
o consumo atual, os prospectivos (R24h e registro alimentar) e aqueles que são
freqüentemente utilizados para avaliar o consumo habitual, os retrospectivos (QSFA) (Ocké et
al., 1997; Costa et al., 2006; Barbosa et al., 2007). Em função da variabilidade diária da
ingestão de alimentos, existe diferença considerável entre consumo alimentar atual e habitual.
Neste sentido, o conhecimento do consumo alimentar habitual seria de grande importância, ao
refletir o consumo de relevância etiológica, ou seja, uma medida que permite avaliar o grau de
exposição dos fatores dietéticos (Willett, 1998).
Recordatório de 24h (R24h)
O R24h consiste em definir e quantificar todo o consumo de alimentos e bebidas no
período anterior à entrevista, que pode ser às 24h precedentes ou, mais comumente, o dia
anterior (Willet,
1998; Fiesberg et al., 2005; Costa et al., 2006). Por ser um método que
descreve uma grande variedade de alimentos, é utilizado quando se deseja comparar a média
da ingestão de nutrientes e energia de diferentes populações
(Buzzard, 1998; Costa et al.,
2006). Trata-se de entrevista pessoal em profundidade e conduzida por um entrevistador
treinado, podendo ser realizada por telefone. A qualidade da informação dependerá da
memória e da cooperação do entrevistado, assim como da capacidade do entrevistador em
estabelecer um canal de comunicação em que se obtenha a informação por meio do diálogo. A
informação obtida por este método está determinada pela habilidade do indivíduo em
69
recordar, de forma precisa, seu consumo de alimentos. Tal habilidade é influenciada por
idade, sexo e nível de escolaridade, entre outros fatores. A idade é o fator que mais influencia
as respostas, sobretudo nas idades extremas, em que se requer que uma pessoa responsável
relate a informação. Isso também é válido para pessoas com algum tipo de deficiência
(Fiesberg et al., 2005).
Segundo Buzzard (1998), o método R24h mostra-se útil quando se deseja conhecer a
ingestão média de energia e nutrientes de grupos culturalmente diferentes, ou seja, o método é
sensível às diferenças culturais, que pode descrever um amplo número de alimentos e
hábitos alimentares.
O R24h, um método relativamente simples e barato, tem como propósito obter
informações que permitam definir e quantificar a alimentação consumida no dia anterior à
entrevista; quando aplicado uma única vez em amostras extensas, produz informação sobre o
consumo médio atual da população. Entretanto, se o estudo requer a estimativa dos consumos
individuais de energia e nutrientes, é recomendado que se replique a coleta de dados (Willett,
1998).
Os tipos de erros para avaliação dietética, particularmente inerentes ao R24h, são
devido às tabelas de composição de alimentos; às diferentes interpretações dos tipos de
alimentos ou preparações, bem como ao peso dos alimentos; aos alimentos informados
erroneamente; à sazonalidade da alimentação e aos erros sistemáticos (bias), como a variação
intrapessoal. (Bingham, 1987; Costa et al., 2006)
Pode ser considerado o método mais utilizado para avaliar o consumo alimentar atual
de indivíduos e grupos populacionais. Alguns autores ressaltam que a aplicação de um único
recordatório é adequado para a avaliação de grupos, onde cada entrevistador treinado conduz
a entrevista visando o relato de todos os alimentos e bebidas consumidas nas últimas 24 horas
de cada entrevistado. O entrevistador pode lançar mão de medidas caseiras, álbuns de fotos ou
réplicas de alimentos para obter maior precisão no relato das quantidades, volumes e do
tamanho das porções consumidas. A entrevista é conduzida para que o entrevistado relate o
consumo em ordem cronológica (Thompson & Byers, 1994; Willet, 1998; Pereira & Sichieri,
2007).
Entre as vantagens de utilização desse método incluem-se o baixo custo, a rápida
aplicação, recordação recente do consumo
(Buzzard, 1998; Costa et al., 2006), a população
estudada não precisa ser alfabetizada, além de ser o método que menos propicia alteração no
comportamento alimentar
(Thompson & Byers, 1994; Willet, 1998; Fiesberg et al., 2005;
Costa et al., 2006; Pereira & Sichieri, 2007).
70
Por outro lado, esse método requer memória e cooperação do entrevistado, assim
como da capacidade do entrevistador em estabelecer um diálogo com o entrevistado. A idade,
sexo e nível de escolaridade têm influência sobre a habilidade do entrevistado em informar
corretamente o consumo. Além disso, um único recordatório não reflete a ingestão habitual do
indivíduo, devido à variação intrapessoal (Thompson & Byers, 1994; Willet, 1998; Fiesberg
et al., 2005; Costa et al., 2006; Pereira & Sichieri, 2007).
Questionário Semiquantitatico de Freqüência Alimentar (QSFA)
De acordo com o relatório elaborando pela OMS sobre dieta, nutrição e prevenção de
DCNT, o consumo alimentar habitual constitui um dos principais fatores determinantes
passíveis de modificação para DCNT (Sartorelli et al.,2006). Para que essas associações
possam ser bem investigadas é fundamental estudar a dieta pregressa ou ―habitual‖, que
caracteriza o consumo alimentar durante um longo período de tempo (anos ou décadas)
(Willet, 1998).
Na pesquisa epidemiológica são necessários instrumentos de avaliação do consumo
alimentar de fácil aplicação, baixo custo e capazes de caracterizar a dieta habitual dos
indivíduos, objetivos estes que o QSFA contempla de maneira satisfatória (Lopes et al.,
2005).
O QSFA constitui-se um instrumento que conjuga uma lista de alimentos, uma lista
com os gradientes de freqüência de consumo e, adicionalmente, o tamanho padrão das
porções usualmente consumidas de cada item da lista; esse instrumento representa uma
alternativa quando o interesse é investigar a dieta praticada num período relativamente longo.
O QSFA é um instrumento de baixo custo, cujo processamento é rápido, portanto, valioso
para a pesquisa epidemiológica (Willett, 1998, Slater et al., 2003).
O QSFA possui basicamente dois componentes: uma lista de alimentos, e um espaço
para a freqüência do consumo de cada alimento. A freqüência de consumo foi registrada em
unidades de tempo: dias, semanas, semestres ou anos, podendo ou não contemplar
fracionamento destas unidades. Este leque de opções produz uma grande e detalhada escala de
freqüência, o que é importante, pois os alimentos consumidos menos de uma vez por semana
podem ter pouca representatividade no total de nutrientes consumido, porém podem ser
importantes para discriminar as categorias de indivíduos (Slater et al., 2003).
O QSFA tem sido considerado o método de escolha em estudos epidemiológicos para
avaliação do consumo dietético, em especial para avaliar a relação entre alimentos e
71
nutrientes da dieta e doenças crônicas não-transmissíveis (Willet, 1998; Lopes et al., 2003;
Slater et al., 2003; Pereira & Sichieri, 2007).
A preferência dos estudos epidemiológicos pelo QSFA está baseada na possibilidade
de medir a intensidade da exposição, permitindo classificar os indivíduos em categorias de
consumo, possibilitando estimativa da associação das categorias de consumo com o
desenvolvimento de enfermidades. Além do mais, por sua praticidade, tanto na obtenção
quanto na análise dos dados, o QSFA é adequado para extensos estudos de base populacional.
O QSFA não sofre o efeito da variação intra-individual, e por se tratar de método
retrospectivo, não leva à alteração do padrão de consumo dos indivíduos (Lopes et al., 2003;
Slater et al., 2003; Pereira & Sichieri, 2007).
Entre as vantagens que o QFA oferece está a rapidez da aplicação e a eficiência na
prática epidemiológica para identificar o consumo habitual de alimentos. O QFA comparado a
outros métodos, substitui a medição da ingestão alimentar de um ou vários dias pela
informação global da ingestão de um período amplo de tempo (Slater et al., 2003).
Criação de grupos alimentares
A tradicional abordagem da epidemiologia nutricional é centrada na avaliação do
consumo de energia, nutrientes ou alimentos como variáveis de exposição. Entretanto, esse
tipo de abordagem apresenta limitações, entre essas, a dificuldade em avaliar o papel de
associações entre o consumo de determinados alimentos. Por exemplo, o consumo de grãos
integrais está inversamente associado com o consumo de carne e positivamente associado
com o consumo de vegetais, frutas e peixes. Assim, ao associar o consumo de grãos integrais
com o menor risco de doenças crônicas, não podemos afirmar que esta associação não é
devida às diferenças no consumo de carne vermelha ou de frutas e vegetais (Fung et al.,
2001a; Jacques & Tucker, 2001; Alves et al., 2006).
Além disso, usualmente, as pessoas ingerem diferentes tipos de alimentos, contendo
várias combinações de nutrientes e outros componentes, como não-nutrientes, por exemplo,
fitatos, taninos e polifenóis. Sendo assim, do ponto de vista epidemiológico, a dieta representa
um complexo conjunto de exposições, que estão altamente correlacionadas. Por isso,
identificar o efeito do nutriente ou alimento isolado no risco de enfermidades é tarefa difícil,
que as análises de nutrientes e/ou de alimentos separadamente, com freqüência ignoram a
multilineariaridade existente entre os componentes de uma dieta na determinação do risco de
enfermidades (Jacques & Tucker, 2001; Sieri et al., 2004).
72
Outra forma de avaliar o consumo é a criação de grupos de alimentos que irão ajudar a
compreender algumas relações entre dieta e doença, que são mascaradas em análises baseadas
somente em nutrientes, facilitando a análise por componentes principais (Hu et al., 2000;
Fung et al. 2001b; Lockheart et al., 2007).
Os grupos de alimentos são formados a partir dos alimentos listados no QSFA,
levando-se em consideração as características nutricionais, freqüência de consumo, teor de
nutrientes, uso culinário, relação dieta-doença conhecidos previamente, entre outros (Hu et
al., 2000; Fung et al. 2001b; Lockheart et al., 2007).
Newman et al. (2007) foram os que além de basearem-se em semelhança de conteúdo
nutritivo também utilizaram a composição botânica para a formação dos grupos alimentares
(Newman et al., 2007). Outra abordagem é a que, além de agrupar pelo conteúdo nutricional,
deixa alimentos com composição nutricional específica em itens isolados e transforma itens
sobre adição de gordura e açúcar em grupos separados (Ibiebele et al., 2007). Dixon et al.
(2004) criaram seus grupos de acordo com o papel dos alimentos na dieta e também
considerou a relevância do alimento na etiologia do câncer. Já Nettleton et al. (2006)
classificaram os alimentos para a formação dos grupos de acordo com as semelhanças nas
características nutricionais, os efeitos biológicos e a freqüência de consumo. Além disto,
alimentos com freqüência de consumo elevada, efeito biológico suspeito e incapacidade de se
agrupar com outros alimentos por composição nutricional específica constituíram grupos
isolados.
Padrão alimentar como medida para avaliar a relação da dieta com
desfechos em saúde
O padrão alimentar constitui uma abordagem muito usada para caracterizar o consumo
alimentar habitual dos indivíduos, analisar o efeito global da dieta e facilitar a compreensão
das práticas dietéticas, contribuindo assim para promoção da saúde, considerando a relação da
alimentação com o aparecimento de doenças (Hu, 2002).
Tradicionalmente, a epidemiologia nutricional tem examinado a relação entre nutrição
e desfechos em saúde a partir da análise de um nutriente ou um alimento. Apesar de
importante, esta abordagem tem limitações, uma vez que as pessoas não comem nutrientes ou
alimentos isoladamente. Esses fazem parte de refeições, em combinações variadas e
complexas, em geral, associados a um padrão alimentar. Tal abordagem não permite analisar,
separadamente, os efeitos de nutrientes ou alimentos altamente correlacionados, se o grau de
73
variação independente for significativamente reduzido ao colocá-los, simultaneamente, em
um modelo estatístico multivariado (Kant, 1996; Hu, 2002; Henn, 2006). Assim, verificar a
associação entre ingestão de fibra e doença, por exemplo, pode ser dificultado pelo fato das
dietas ricas em fibra também serem ricas em vitamina C, folato, vários carotenóides, potássio
e magnésio. Ao controlar para o efeito destas variáveis, em uma análise multivariada, pode
haver confundimento residual decorrente de interações entre os nutrientes (Hu, 2002; Henn,
2006). Outro aspecto importante é que o efeito de um nutriente pode ser muito pequeno e,
portanto, de difícil detecção (Hu, 2002; Newby & Tucker, 2004; Henn, 2006).
Na tentativa de superar estas limitações, vários autores têm estudado o padrão
alimentar geral com diferentes propósitos, entre eles, investigar sua relação com
características sócio-demográficas e comportamentais, verificar sua associação com desfechos
em saúde e examinar o nível de adesão às diretrizes nutricionais (Henn, 2006). Essa
abordagem mais ampla leva em conta as combinações em que os alimentos são ingeridos; e a
elevada semelhança entre eles é vista como um aspecto positivo (Hu, 2002).
Criação de padrões alimentares
Análise do consumo alimentar também pode ser feita sob a forma de padrões
dietéticos, que oferece uma perspectiva diferente da tradicional onde o foco é um único
nutriente. Este método pode fornecer ferramentas para auxiliar na prevenção ou tratamento de
doenças, sendo utilizado em diversas configurações (Fung et al. 2001a; Fung et al. 2001b;
Nettleton et al., 2006).
São duas as formas de definir padrões alimentares: a priori, ou teoricamente, e a
posteriori, ou empiricamente (Newby & Tucker, 2004; Henn, 2006).
Tipos de Padrões Alimentares
Padrões alimentares definidos a priori
O padrão definido a priori adota procedimentos que avaliam a adesão da dieta habitual
às recomendações dietéticas ou a critérios definidos previamente. Os alimentos são agrupados
levando em consideração sua relação com algum desfecho de saúde de acordo com diretrizes
ou guias nutricionais ou de acordo com uma dieta considerada saudável, como por exemplo, a
dieta Mediterrânea (Hu, 2002; Newby & Tucker, 2004; Lockheart et al., 2007).
Os índices, onde as variáveis alimentares são quantificadas e somadas para fornecer a
medida global da qualidade da dieta, são exemplos de padrões definidos a priori. Entre eles
74
podemos citar: o Índice de Qualidade da Dieta (IQD), desenvolvido com o objetivo de criar
um instrumento de medida da qualidade global da dieta, que refletisse a variação de risco para
doenças crônicas relacionadas com a alimentação, agrupando os indivíduos segundo as
categorias de consumo alimentar possibilitando a detecção de possíveis associações com
variáveis como idade, renda e escolaridade, entre outras (Kant, 1996; Newby & Tucker,
2004); o Índice de Alimentação saudável (IAS), uma medida sumária da qualidade da dieta
que pode ser utilizada para monitorar mudanças no padrão de consumo e como parâmetro
para ações de educação nutricional e programas de saúde, além de medir a aderência às
diretrizes nutricionais (Kennedy et al., 1995); e o Índice de Alimentação Saudável Alternativo
(IASA), proposto como um aperfeiçoamento do IAS para um prognóstico do
desenvolvimento de doenças crônicas (McCullough et al. 2002).
Nos padrões alimentares definidos a priori, os alimentos são agrupados com base no
conhecimento prévio sobre sua associação com desfechos de saúde, de acordo com diretrizes
e recomendações nutricionais, ou conforme a composição específica de uma dieta considerada
saudável (Hu, 2002; Newby & Tucker, 2004; Henn, 2006).
Mais recentemente, com base no estudo Multi-Ethnic Study of Atherosclerosis
(MESA), Nettleton et al. (2008) criaram o The Comprehensive Healthy Dietary Pattern‖ que
utiliza um escore para avaliar a relação entre dieta e DCV. Para a criação deste escore, foi
utilizado um QSFA e a partir de seus itens alimentares foram criados grupos de alimentos
com base nas características nutricionais, nos efeitos biológicos e nas freqüências de
consumo.
O índice dietético consiste em um método de análise da alimentação de indivíduos
com a finalidade de determinar a qualidade da dieta através de um ou mais parâmetros, tais
como: ingestão adequada de nutrientes, número de porções consumidas de cada grupo de
alimentos (leite e substitutos, carnes, cereais, frutas e hortaliças), quantidade de diferentes
gêneros alimentícios presentes na dieta (Cervato & Vieira, 2003).
Com o objetivo de avaliar a adesão a um determinado padrão de dieta e associação
com desfechos em saúde, alguns pesquisadores criaram escores com base na distribuição do
consumo dos alimentos que caracterizam este padrão. Por exemplo, dois escores utilizados
para avaliar a adesão à dieta Mediterrânea (Martínez-González et al., 2002; Trichopoulou et
al., 2003) mostraram que os indivíduos com escores mais altos apresentaram redução no risco
de infarto do miocárdio e mortalidade por todas as causas.
75
Padrões alimentares definidos a posteriori
Os padrões definidos a posteriori não utilizam uma definição de padrão alimentar
saudável estabelecida ou diretriz alimentar. Eles são criados através de análise estatística,
que se baseia nas correlações entre os dados dietéticos contidas nos inquéritos alimentares. A
análise de agrupamento e a análise fatorial são os dois métodos mais usados para prover esses
padrões (Hu, 2002; Newby & Tucker, 2004).
Os padrões alimentares definidos a posteriori são gerados através de análise
estatística, com base nas correlações entre as variáveis alimentares contidas nos inquéritos
dietéticos. Esta abordagem não utiliza uma definição prévia de padrão alimentar saudável. Os
dois métodos mais frequentemente utilizados em epidemiologia nutricional para derivar
padrões empiricamente são: Análise de Agrupamente (―Cluster‖) e Análise Fatorial (Newby
& Tucker, 2004).
A análise de agrupamento ou cluster é um método de análise onde os indivíduos, com
propriedades comuns e semelhanças nos alimentos consumidos na dieta, são agregados em
grupos homogêneos, e ao mesmo tempo a heterogeneidade entre os grupos é maximizada.
(Hu, 2002; Newby & Tucker, 2004).
Na análise fatorial através de um modelo matemático os dados ou variáveis são
reduzidos, itens ou grupos alimentares, em padrões baseados nas correlações entre essas
variáveis. Para esta redução pode ser utilizada a análise de componentes principais, uma
técnica exploratória onde tanto a variância compartilhada como a exclusiva são analisadas,
não pressupondo a existência de erro (Newby & Tucker, 2004).
Limitações dos padrões alimentares definidos a priori e a posteriori
Padrões de dieta teoricamente definidos (a priori), geralmente incluem variáveis
alimentares diversas e com diferentes pesos, podendo resultar em índices que medem
dimensões diferentes de um comportamento alimentar saudável (Newby & Tucker, 2004;
Henn, 2006). Desta forma, dependendo dos alimentos que compõem um índice, este pode não
ser capaz de capturar a associação entre dieta e um determinado desfecho (McCullough et al.,
2002).
Quanto aos padrões empiricamente definidos (a posteriori), são derivados sem uma
hipótese a priori. Sendo assim, eles podem ser adequados para uma amostra particular, mas
não necessariamente representam padrões de dietas ideais (Hu, 2002; Jacques et al., 2001).
Além disso, por serem específicos para uma amostra, os padrões derivados empiricamente
76
podem não se repetir em outras populações, dificultando as comparações entre os estudos. As
especificidades, entretanto, refletem o comportamento alimentar real de uma população e
podem fornecer informações úteis para a elaboração de diretrizes nutricionais (Jacques et al.,
2001; Newby & Tucker, 2004). Alguns estudos, no entanto, têm derivado padrões alimentares
semlhantes (Hu et al., 2000; Chen et al., 2002).
Outra limitação é a subjetividade inerente a estes dois métodos (Newby & Tucker,
2004). Em vários momentos da análise, o investigador toma decisões que podem afetar o
número e tipo de padrões que são derivados, relatados e analisados. Primeiramente, o
investigador precisa decidir se agrupará os itens alimentares e quais serão os critérios
utilizados; a seguir, necessita definir como quantificar as variáveis e se essas serão
transformadas. Por último, deve decidir quantos padrões manter, como denominá-los e
analisá-los. Contudo, a subjetividade na condução destas análises não deve ser motivo para
abandoná-las, sendo recomendado um maior detalhamento na descrição de todas as decisões
tomadas e de mais estudos de validação (Newby & Tucker, 2004).
Apesar das limitações descritas, a associação dos padrões alimentares derivados a
priori e a posteriori com doenças (Hu et al., 2000; Chen et al., 2002; Nettleton et al., 2008)
bem como com biomarcadores (Fung et al., 2001a; Nettleton et al., 2006) tem sugerido que os
mesmos funcionam como uma medida adequada da ingestão alimentar e são biologicamente
significativos (Henn, 2006).
Associação entre padrões alimentares e excesso de peso
Estudos Nacionais
Estudos de identificação de padrões alimentares ainda são escassos no Brasil (Sichieri,
2002; Sichieri et al., 2003; Alves et al., 2006; Neumann et al., 2007). Registra-se apenas um
estudo que analisou a associação entre padrões alimentares e obesidade (Sichieri, 2002) e um
que analisou a associação entre padrões alimentares e fatores de risco para doenças
cardiovasculares (Neumann et al., 2007).
Neumann et al. (2007) identificaram os padrões de consumo alimentar de uma sub-
amostra sistemática de 700 pessoas de uma amostra probabilística de base populacional dos
residentes da área urbana do município de São Paulo e investigaram a associação desses
padrões com fatores de risco biológicos, sociodemográficos e comportamentais para DCV.
Foram identificados quatro padrões: ‗cafeteria‘ (leite integral, pães, massas, salgados, doces,
gorduras, presunto, sucos artificiais, refrigerante comum, feijoada, sucos naturais e frango),
77
‗tradicional‘ (cereais, feijões, folhosos, sopas, maionese, café, chá, gorduras, frutas e frango),
‗moderno‘ (leite desnatado, frutas, sucos naturais, peixes, refrigerante diet, adoçantes
artificiais, pães, não folhosos e sopas) e ‗aterogênico‘ (feijoada, carne de boi e miúdos, porco,
frango, lingüiça, ovo, bebidas alcoólicas e adição de sal na comida depois de pronta).
O padrão ‗cafeteria‘ associou-se com escolaridade média e superior e consumo de
álcool, e ainda positivamente com pressão sistólica e diastólica, IMC e relação cintura/quadril
(RCQ) e inversamente com o HDL. O padrão, ‗tradicional‘ associou-se positivamente com o
consumo de álcool, renda superior, glicemia e IMC e inversamente com triglicérides e RCQ.
O padrão ‗moderno‘ foi associado inversamente com a pressão arterial diastólica, colesterol
total, glicemia e LDL. O último padrão identificado, ‗aterogênico‘ associou-se positivamente
com escolaridade fundamental, tabagismo, consumo de álcool, colesterol total, triglicérides,
glicemia, IMC e RCQ. Os autores concluíram que tendências desfavoráveis no padrão
alimentar na população estudada, visto que três dos quatro padrões de consumo identificados
associaram-se de forma significativa com fatores de risco para DCV (Neumann et al., 2007).
Alves et al. (2006) exploraram a existência de padrões alimentares em 1.026 mulheres
de 20 a 60 anos de idade residentes em área urbana no Sul do Brasil e identificaram cinco
padrões alimentares, com 10 alimentos cada um, denominados seguindo dois critérios: a) se o
grupo de alimentos era protetor ou de risco para DCNT; e b) se o custo de cada grupo de
alimentos era baixo (custo 1), médio (custo 2) ou alto (custo 3). Os padrões alimentares
explorados foram classificados como: (a) ‗padrão alimentar saudável custo 1‘ (PASC1) –
formado por frutas, verduras e biscoito salgado; (b) PASC2 constituído por frutas um pouco
mais caras que o padrão anterior, peixes, bife de fígado e sorvete; (c) PASC3 composto por
alimentos considerados funcionais, com custo alto; (d) ‗padrão alimentar de risco custo1‘
(PARC1) composto de alimentos que requerem preparo para o consumo, ricos em
colesterol, gordura saturada e carboidratos simples; e (e) PARC3 que continha, basicamente,
alimentos industrializados, e, também, ricos em colesterol, gordura saturada e carboidratos
simples (Alves et al., 2006).
Em 2003, Sichieri et al. avaliaram os fatores que explicariam diferentes padrões de
consumo alimentar da população urbana brasileira, com base na Pesquisa sobre Padrões de
Vida, realizada no Nordeste e no Sudeste em 1996-1997. Foram incluídos os dados de
consumo familiar (últimos 14 dias a partir de uma listagem com 28 alimentos) de 5.121
adultos na faixa etária de 20 a 50 anos. Dois padrões de consumo alimentar foram
selecionados: ‗misto‘, no qual está presente o consumo de quase todos os alimentos e
‗tradicional‘, que apresenta características mais próximas da alimentação tradicional do
78
brasileiro, destacando-se arroz, feijão, farinha e açúcar. O padrão ‗misto‘ associou-se
inversamente com a região Nordeste, com a prática de atividade física e com a cor da pele
negra. o IMC associou-se positivamente a este padrão. Escolaridade e renda foram as
variáveis que mais explicaram o consumo alimentar, mas mesmo ajustando por elas, a região
de residência foi o terceiro maior componente explicativo, indicando que muitos são os
fatores responsáveis pela determinação de um dado padrão de consumo alimentar. Estes
resultados sugerem, ainda, que dificilmente variáveis associadas exclusivamente ao indivíduo
permitem entender a complexidade de um fenômeno como o padrão de consumo alimentar
(Sichieri et al., 2003).
Sichieri (2002) avaliou a associação entre padrões alimentares e obesidade em
indivíduos adultos, da cidade do Rio de Janeiro, e identificou três padrões alimentares
principais: ‗misto‘ (no qual todos os itens alimentares apresentaram carga fatorial similar,
exceto o arroz e o feijão), ‗tradicional‘ (caracterizado pelo consumo de arroz e feijão) e
‗ocidental‘ (caracterizado pelo consumo de gorduras, refrigerantes). Entre os indivíduos do
sexo masculino, o padrão ‗ocidental‘ incluiu ainda petiscos fritos e produtos lácteos. No
entanto, a relação entre padrão de dieta e adiposidade global e central foi inconsistente ou
contraditória. Enquanto a dieta baseada em arroz e feijão (Padrão Tradicional) reduziu em
13% e 14% o risco de excesso de peso em homens e mulheres, respectivamente, não se
observou qualquer associação do IMC com padrão caracterizado por alimentos ricos em
gordura, açúcar e refrigerantes.
Lobato et al (2009), ao investigarem a correlação entre o consumo de carboidratos
refinados e gorduras e a prevalência de obesidade em população adulta de 26 capitais
brasileiras, observaram que o consumo de frutas e vegetais apresentou correlação positiva não
significativa para obesidade e que o consumo de carboidratos refinados parece exercer papel
na prevalência de obesidade em mulheres, pois nos homens não foi observado qualquer
associação (Lobato et al., 2009).
Estudos internacionais
Padrões alimentares caracterizados pelo baixo consumo de frutas e vegetais, e elevado
consumo de gordura animal têm sido identificado como um fator de risco para obesidade, DM
II e DCV (Astrup et al., 2008).
Independente de como os padrões alimentares foram derivados, vários estudos
verificaram que indivíduos que ingeriam maior quantidade de frutas, vegetais, grãos e Aves e
peixes apresentavam menores valores de IMC e razão cintura-quadril (McCullough et al.,
79
2000a; McCullough et al., 2000b; Williams et al., 2000; McCullough et al., 2002), menor
percentual de gordura corporal (McCrory et al., 1999); baixa prevalência de obesidade
(Greenwood et al., 2000) e menores ganhos anuais no IMC e na circunferência da cintura
(Newby et al., 2003; Newby & Tucker, 2004).
Por outro lado, padrões de dieta caracterizados por elevado consumo de alimentos
refinados, laticínios integrais e carnes processadas associaram-se positivamente com IMC
(Wirfält et al., 1997; Van Dam et al., 2003; Maskarinec et al., 2000), IMC e circunferência da
cintura (Lin et al., 2003) e obesidade central (Wirfält et al., 2001).
Um estudo longitudinal com 12 anos de duração acompanhou 737 mulheres não-
obesas com média de 45 anos de idade, participantes da coorte Framingham Nutrition Studies
(Quatromani et al., 2002 - 169). Foram identificados cinco padrões de consumo alimentar por
meio da análise de cluster ao início do acompanhamento (baseline): (a) o ‗saudável para o
coração‘ (caracterizado pelo consumo de frutas, vegetais, desnatados, alimentos ricos em
fibras, peixes, aves); (b) o padrão ‗alimentos leves‘, que incluía bebidas dietéticas, aves e
cerveja; (c) o padrão ‗bebedores de vinho e comedores moderados‘, que se caracterizava por
vinho alimentos ricos em colesterol, laticíneos integrais e petiscos; (d) ‗gorduras‘, que se
baseava em cereais refinados, margarina e óleos, gordura vegetal hidrogenada e doces e (e)
‗calorias vazias‘, que era centrado no consumo de sobremesas, carnes, pratos mistos e bebidas
adoçadas. Ao final do período de seguimento o risco de desenvolvimento de sobrepeso foi de
29% no total, variando de 22% entre as mulheres classificadas como ‗bebedoras de vinho e
comedoras moderadas‘ e 41% para as mulheres que aderiam ao padrão ‗calorias vazias‘.
Logo, os participantes que consumiam uma dieta rica em açúcar e gordura e pobre em
alimentos com alto valor nutricional apresentaram risco maior de desenvolver excesso de
peso. Porém, ao se controlar para fatores de confundimento, esta associação desapareceu
(Quatromoni et al., 2002).
O estudo realizado na Dinamarca identificou três padrões alimentares para homens:
―Verde‖ (frutas, vegetais, pão integral, laticínios, peixe); ―Doce‖ (açúcar, chocolate, bolos,
biscoitos, geléias) e ―Tradicional‖ (batata, ovos, lingüiça, patê, manteiga, carne) e dois
padrões para mulheres: ―Doce‖ e ―Doce-Tradicional‖ (açúcar, chocolate, bolos, geléias,
batata, ovos, lingüiça, patê, manteiga, carne). Os padrões de dieta identificados neste estudo
não foram capazes de predizer mudanças no IMC ou o desenvolvimento de obesidade num
período de 11 anos (Togo et al., 2004).
Em um subgrupo de 466 homens participantes do Health Professionals Follow-up
Study examinou-se a associação entre padrão alimentar e biomarcadores de risco para
80
obesidade e doença cardiovascular. Padrão ―Ocidental‖, caracterizado pelo maior consumo de
carne vermelha, laticínios com alto teor de gordura e grãos refinados, correlacionou-se
positiva e significativamente com biomarcadores de obesidade, entretanto, o houve
qualquer associação com IMC (Fung et al., 2001a).
Associação negativa entre IMC e padrões caracterizados por alimentos ricos em açúcar
e gordura, e associação positiva com padrão constituído principalmente por alimentos pobres
em gordura, foram detectadas em homens e mulheres, respectivamente, que participaram do
European Prospective Investtigation into Cancer and Nutrition (EPIC) (Schulze et al., 2001).
Similarmente, padrão de dieta pobre em gordura e rico em fibras associou-se positivamente
com IMC, em uma amostra de adultos de ambos os sexos, que tornaram parte no Malmö Diet
and Cancer Study, na Suécia. Os indivíduos com este padrão, porém, apresentavam menor
risco de adiposidade abdominal, avaliada pela razão cintura-quadril (Wirfält et al., 2000).
Alguns dados insonsistentes encontrados em alguns estduos podem decorrer de
diferenças entre os sexos. Quando a relação entre um padrão alimentar composto por
alimentos saudáveis e adiposidade abdominal foi estartificada por sexo, verificou-se que a
associação negativa permaneceu estatisticamente significativa somente para os homens
(Wirfält et al., 2001). O padrão composto por alimentos ricos em sacarose associaou-se com
maior IMC entre os homens, mas não entre as mulheres (Wirfält et al., 1997). Comparado ao
primeiro quintil, o último quintil de padrão constituído de laticínios pobre em gordura, frutas
e fibra associou-se inversamente com mudança anual do IMC, esta associação, porém, foi
significativa para as mulheres (Newby & Tucker, 2004).
Paradis et al. (2006) investigaram homens e mulheres do Canadá e identificaram dois
padrões principais: ‗ocidental‘, caracterizado pelo consumo de carnes vermelhas e
processadas, aves, cereais refinados e doces, e ‗prudente‘ no qual destacaram-se os vegetais,
frutas, peixes e frutos do mar. O primeiro padrão associou-se inversamente com a idade e
positivamente com a prática de atividade física, com o tabagismo e com a renda per capita
entre os homens com histórico familiar de obesidade.
Fung et al. (2001a), ao investigar homens profissionais de saúde da Austrália,
identificaram também os padrões ‗ocidental‘, caracterizado pelo consumo de carnes
vermelhas, carnes processadas, batatas fritas, ovos, cereais refinados e doces, e ‗prudente‘,
caracterizado por frutas, vegetais, peixe, aves e cereais integrais. Tanto Paradis et al.
(2006)
como Fung et al. (2001a) observaram que o padrão ‗prudente‘ associava-se positivamente
com a prática de atividade física.
81
Carrera et al. (2007) analisaram os padrões alimentares de 659 mexicanos-
americanos maiores de 18 anos, utilizando dados do National Health and Nutrition
Examination Survey 2001-2002 e definiram quatro padrões alimentares: ‗aves e bebidas
alcoólicas‘, ‗leite e produtos assados‘, ‗mexicano tradicional‘ e carnes‘. Não foi identificado
um claro "padrão prudente" nesta população e embora a tradicional dieta mexicana contenha
relativamente elevada ingestão de leguminosas e fibra dietética, o padrão mexicano
tradicional associou-se positivamente com o Índice de Massa Corporal (IMC=peso/estatura
2
)
e com os valores da circunferência da cintura.
Em estudo de coorte realizado nos Estados Unidos - The Nurses‟ Health Study II,
51.670 enfermeiras com idades variando entre 26 e 46 anos foram acompanhadas entre 1991 e
1999 com o objetivo de verificar a associação entre a aderência a padrões dietéticos e
alterações do peso. Durante o período de acompanhamento, três QSFA com 133 itens foram
aplicados. Os padrões alimentares foram definidos com base em 39 grupos alimentares para
cada QSFA separadamente. Foram calculadas as alterações no peso ajustando-se para idade,
etilismo, prática de atividade física e tabagismo. Dois padrões alimentares principais foram
identificados: ‗prudente‘ e ‗ocidental‘. O primeiro caracterizou-se pelo consumo de frutas,
vegetais, cereais integrais, peixes, aves e saladas, e o segundo pelo consumo de carnes
vermelhas e processadas, cereais refinados, doces e sobremesas e batatas. Observou-se que as
mulheres que estavam fortemente associadas ao padrão ‗ocidental‘ tiveram o maior ganho de
peso (aproximadamente 5kg de 1991 a 1995 e cerca de 3kg de 1995 a 1999) do que as
mulheres que não se associavam a esse padrão (cerca de 3kg e de 1kg nos dois períodos). Os
autores concluíram que a adoção do padrão alimentar ocidental é associada com maior ganho
de peso nas mulheres, enquanto que o padrão alimentar prudente pode facilitar a manutenção
do peso (Schulze et al., 2006).
Outras limitações dizem respeito à possibilidade de sub-relato da dieta, ausência de
controle para idade, ingestão calórica, nível de atividade física e outros comportamentos; bem
como a falta de temporalidade dos estudos transversais (Togo et al., 2001; Newby & Tucker,
2004).
Os quadros 4, 5 e 6 resumem os resultados de estudos internacionais e nacionais que
investigaram a associação entre padrão de dieta, determinado a priori ou a posteriori, e
excesso de peso, respectivamente.
Quadro 4 - Características dos estudos que avaliaram padrões de dieta definidos a priori e sua associação com obesidade.
Referência
Delineamento População
No sujeitos/sexo
Idade
Padrão alimentar
Resultados
McCrory et al., 1999
Transversal
Indivíduos participando de
estudo de dieta e composição
corporal
13 homens
58 mulheres
30 73
(homens)
20 80
(mulheres)
Variedade no consumo dos
grupos alimentares;
Var(açúcar) doces; lanches;
alimentos ricos em
carboidrato e gordura
Var(vegetais) variedade de
vegetais
Var(açúcar) ajustado para idade e sexo associou-se positivamente com o
percentual de gordura corporal
Var(vegetais) ajustado para idade e sexo e a razão de variedade ajustada para
idade, sexo e gordura da dieta associou-se negativamente com percentual de
gordura corporal.
McCullough et al., 2000
Prospectivo
Nurse‘s Health Study
67272 mulheres
30 55
Escore do índice de Dieta
Saudável (IDS)
IMC médio mais baixo no quintil superior do IDS.
McCullough et al., 2000
Prospectivo
Nurse‘s Health Study
38622 homens
40 - 75
Escore do índice de Dieta
Saudável (IDS)
IMC médio mais baixo no quintil superior do IDS.
McCullough et al., 2002
Prospectivo
Health Professional‘s
Follow-up Study
Nurse‘s Health Study
38615 homens
67271 mulheres
40 75
(homens)
30 55
(mulheres)
Escore do Índice de Dieta
Saudável Alternativo (IDSA)
IMC médio mais baixo no quintil superior do IDSA.
Guo et al., 2004
Transversal
Participantes do Third
National Health and
Nutrition Examination Survey
10 930 adults
Escore de Índice de Dieta
Saudável (IDS)
Um baixo IDS indicava dieta ―pobre‖
Um baixo escore de IDS foi associado com sobrepeso e obesidade. Houve
aumento no OR para obesidade associado a categoria do IDS após ajustar por
idade, sexo, raça;etnia, atividade física, fumo, uso de álcool e educação..
Gao et al., 2008
Populacional Longitudinal
Baseado nos dados do Multi-
Ethnic Study of
Atherosclerosis
(MESA)
6814 homens e
mulheres
População: brancos,
negros, hispanicos e
chineses.
4584
Dois tipos de Escore do Índice
de Dieta Saudável (IDS)
Ambos os IDSs foram capazes em predizr sobrepeso e obesidade na
população branca. Entretando, não houve consistente evidência de associação
nas demais etnias estudadas.
Nettleton et al., 2008
Transversal
Participantes do Multi-Ethnic
Study of Atherosclerosis
(MESA)
5089 homens e
mulheres
45 - 84
Escore de padrão dietético
saudável
Insulina plasmática, IMC e circunferência de cintura foram inversamente
associados como o escore utilizado ajustado para fatores de confundimento
(demográficos e estido de vida) (P<0,001).
O menos IMC foi associado com o escore mais elevado.
83
Quadro 5 - Características dos estudos internacionais que avaliam padrões de dieta definidos a posteriori e sua associação com obesidade.
Referência
Delineamento População
No
sujeitos/sexo
Idade
Padrão alimentar
Resultados
Wilfält et al., 1997
Transversal
Funcionários voluntários de
universidades e voluntários obesos
de 2 estduos de intervenção
199 homens
323 mulheres
Refrigerantes
Massas
Leite desnatado
Carne
Carne-queijo
Pão branco
Padrão refrigerantes comparado com padrão leite desnatado e padrão
carne-queijo associou-se com mais alto IMC entre os homens
(30,5 0,76; 28,3 0,73; 28,0 0,59, respectivamente; p=0,034)
Não se verificou associação entre padrões e IMC nas mulheres.
Greenwood et al., 2000
Transversal
Participantes do UK Women‟s
Cohort Study
33971
mulheres
35
69
Onívoro monótono com baixa quantidade
Preocupação com a saúde
Carne tradicional, chips e pudim
Onívoros tradicionais com alta diversidade
Onívoros conservadores
Vegetariano com alta diversidade
A prevalência de obesidade foi menor entre as mulheres seguindo os
padrões vegetarianos 6 e 7 e o padrão preocupação com a saúde
(6%, 5% e 9%, respectivamente).
Nos demais padrões a prevalência variou de 10% no padrão onívoros
tradicionais com alta diversidade 12% no padrão onívoro monótono
com baixa quantidade.
Wirfält et al., 2000
Transversal
Uma amostra randômica dos
participantes do Malmö Diet and
Câncer Study
2206 homens
3151
mulheres
50
73
45 -
73
Padrões com variáveis
NÃO padronizadas
Padrões com
variáveis
padronizadas
Padrão muitos alimentos e bebidas apresentou um baixo riscopara
IMC<23,9 OR 0,84; IC95% 0,71 0,99
Padrão pobre em gordura e alto em alimentos rico em fibras
apresentou um baixo risco para IMC<23,9 OR 0,70; IC 95% 0,57
0,87
Padrão pão branco apresentou um baixo risco para IMC<23,9 OR
0,79; IC95% 0,63 0,98
Padrão sorvete e bolo associou-se com mais baixo risco para
IMC<23,9 OR 0,57; IC95% 0,40 0,81 e para IMC 23,9 26,9
OR 0,63; IC95% 0,50-0,95
Não houve associação significativa entre os padrões e a razão
cintura-quadril
Muitos alimentos e
bebidas
Pão rico em fibras
Pobre em gordura e alto
em alimentos rico em
fibras
Pão branco
Leite integral
Doces e bolos
Bebidas e frituras
Sorvete e bolo
Fazedores de dieta
Saudável
Tradicional
mediterrâneo
Maskarinec et al., 2000
Transversal
Mulheres de diferentes etnias
recrutadas em clínicas de
mamografia no Hawai
514 mulheres
35 -
85
Carne
Vegetais
Feijão
Alimentos frios
Associou-se positivamente com IMC:
Padrão carne (r=0,17; P=0,0001)
Associou-se negativamente com IMC:
Padrão feijão (r=-0,13; P=0,003)
Padrão alimentos frios (r=-0,13,P=0,003)
Não mostrou associação com IMC:
Padrão vegetais.
Williams et al., 2000
Transversal
Participantes do Isle of Ely Study
Reino Unido
379 homens
423 mulheres
40 -
69
Vegetais, frutas, peixe, massa e arroz
Doces, raízes, biscoitos, batata
Chocolate, doces, chips, queijo
Ovos, queijo, carnes processadas, alimentos
fritos
Padrão 1 correlacionou-se negativamente com a razão cintura-
quadril (r=-0,29; P<0,01).
Padrão 4 correlacionou-se positivamente com IMC (r=0,09; P<0,05)
e com a razão cintura-quadril (r=0,15; P<0,01).
Wirfält et al., 2001
Transversal
Participantes doMalmö Diet and
Câncer Study
2040 homens
2959
mulheres
45 -
68
Muitos alimentos e bebidas
Pão rico em fibras
Pobre em gordura e alto em alimento rico em
fibras
Pão branco
Leite integral
Doces e bolos
Padrão rico em fibras associou-se com menor risco de obesidade
central somente entre homens OR 0,61; IC95% 0,40 0,84.
84
Quadro 5 - Continuação.
Referência
Delineamento População
No sujeitos/sexo
Idade
Padrão alimentar
Resultados
Fung et al., 2001
Transversal
Sub-amostra dos participantes do Health
Professional Follow-up Study
466 homens
40 75
Prudente
Ocidental
Não houve associação dos padrões com IMC e com leptina plasmática.
O Padrão Prudente associou-se negativamente com insulina de jejum (r=-0,25.
P<0,01), já o Padrão Ocidental associou-se positivamente (r=0,28, P<0,01).
Schulze et al., 2001
Transversal
Participantes do European Prostpective
Investigation into Cancer and Nutrition-
Postdan study
8975 homens
13379 mulheres
40 64
(homens)
35 64
(mulheres)
Padrões para os
homens:
Cozinha simples
Doces; Cereais
Frutas e vegetais
Álcool
Laticínios ricos
em gordura
Pão e linguiça
Padrões para as
mulheres:
Cozinha simples
Pão e linguiça
Doces
Frutas e vegetais
Laticínios pobres
em gordura
Álcool
Cereais e carne
Associação entre padrões alimentares e IMC:
Homens:
Álcool - = 0,023
Doces - = -0,045
Cereais - = -0,019
Laticínios ricos em gordura - = -0,037
Mulheres:
Cozinha simples - = 0,021
Pão e lingüiça - = 0,017
Laticínios pobres em gordura - = 0,042
Quatromoni et al., 2002
Prospectivo
Participantes não obesas do Framingham
Nutrition Studies
737 mulheres
30 - 89
Frutas e cereais
Alimentação light
Vinho e comer
moderado
Alto em gordura
Caloria vazia
O risco de excesso de peso foi 70% maior nas mulheres seguindo padrão
caloria vazia, porém esta associação desapareceu na análise multivariada (RR
1,4; IC95% 0,9 2,2).
Van Dan et al., 2003
Transversal
Participantes do Monitoring Project on Risk
Factors and Chronic Diseases in the
Netherlands
9321 homens
10429 mulheres
20 65
Cosmo polita
Tradicional
Alimentos
refinados
Escores do Padrão Tradicional e do Padrão Alimentos Refinados associaram-
se positivamente com o IMC (P para tendência < 0,0001).
Newby et al., 2003
Prospectivo
Participantes do Blatimore Longitudinal
Study of Aging
240 homens
219 mulheres
30 - 80
Saudável
Pão branco
Álcool
Doces
Carnes e batatas
Mudança anual média no IMC 0,30 0,06 no padrão carne e batatas e
0,05 0,06 no padrão saudável (p<0,01)
Mudança anual na circunferência da cintura1,21 0,29cm no padrão pão
branco e 0,43 0,27cm no padrão saudável (p<0,05).
Padrão carne e batatas com maior aumento anual médio no IMC do que o
padrão saudável
Padrão pão branco e mudança anual média na CC três vezes maior que padrão
saudável
Lin et al., 2003
Transversal
Idosos participantes do Massachusetts
Hispanic Eldery Study)
1030 homens e
mulheres
60 92
Frutas e cereais
Vegetais alcalinos
Arroz
Leite integral
Doces
Padrão arroz associou-se positivamente com IMC OR 1,05(IC95% 1,02-
1,09) e com circunferÊncia da cintura OR 1,03 (IC95% 1,01-1,04)
Padrão Leite integral associou-se negativamente com IMC OR 0,95 (IC95%
0,91-0,99).
85
Quadro 5 - Continuação.
Referência
Delineamento População
No sujeitos/sexo
Idade
Padrão de ingestão
alimentar
Resultados
Newby & Tucker, 2004
Prospectivo
Participantes do Baltimore Longitudinal
Study of Aging
240 homens
219 mulheres
30
80
Laticínios baixo teor
de gordura, frutas e
fibra
Proteína e álcool
Doces
Gordura vegetal e
vegetais
Carnes gordas
Ovos, pão e sopa
(Padrões 4, 5 e 6 não
analizados)
Mudança anual no IMC:
5º quintil comparado com o 1º do Padrão lacticínios com baixo teor de gorduras,
frutas e fibras associou-se inversamente entre as mulheres: = -0,51 kg/m
2
(IC95% -0,82; -0,20; P para tendência <0,01)
quintil comparado com o quintil do Padrão Proteína e álcool associou-se
diretamente, em ambos os sexos: 0,20 kg/m
2
(IC95% 0,04;0,36): P para
tendência = 0,05.
Não houve associação estatisticamente significante no Padrão Doces.
Mudança anual na circunferência da cintura:
5º quintil comparado ao 1º quintil do Padrão lacticínios com baixo teor de
gorduras, frutas e fibras associou-se inversamente, em ambos os sexos: = -
1,06cm; IC95% -1,88; -0,24 (P para tendência =0,03)
quintil comparado ao quintil do Padrão Doces associou-se diretamente em
ambos os sexos: : 0,94 cm, P < 0,05 e P para tendência = 0,04.
Não houve associação estatisticamente significante no Padrão Proteína e álcool.
Togo et al., 2004
Prospectivo
Participantes dinamarqueses do MONICA
Study
1236 homens
1200 mulheres
30
60
Três padrões para os
homens:
Verde
Doce
Tradicional
Dois padrões para as
mulheres:
Verde
Doce-tradicional
Padrões Doce e Doce-tradicional foram inversamente associados com IMC na
linha de base
Padrão Tradicional associou-se com pequena mudança no IMC após 11 anos de
seguimento: = -0,40 kg/m
2
(IC95% -0,78; -0,01).
Padrão Doce-tradicional associou-se com pequena mudança no IMC após 5 anos
de seguimento: = -0,33 kg/m
2
(IC95% -0,54; -0,13)
Modelo completo não encontrou associações estatisticamente significantes entre
escores e subsequentemente mudanças no IMC ou ocorrência de obesidade.
Paradis et al., 2006
Transversal
Quebec (Canadá);
129 homens
197 mulheres e
adultos com IMC <30
kg/m
2
1. Ocidental
2. Prudente
Associações POSITIVAS:
Padrão ocidental e atividade física, tabagismo e renda nos homens
Padrão prudente e atividade física e nas mulheres
Associações INVERSAS:
Padrão ocidental e idade
Padrão prudente e IMC e idade nas mulheres
Schulze et al., 2006
Participantes do Nurses‘ Health Study II
Estados Unidos, 1991-1999
51.670 enfermeiras
do sexo feminino
1. Ocidental
2. Prudente
Associações POSITIVAS:
Padrão ocidental e ganho de peso
Aderência ao padrão ocidental concomitante menor aderência ao padrão
prudente e ganho de peso
Associações INVERSAS:
Aderência ao padrão prudente e ganho de peso
Nettleton et al., 2006
Estudo de base populacional
Participantes brancos, negros, hispanicos e
asiáticos do Multi-Ethnic Study of
Atherosclerosis (MESA)
2407 homens
2682 mulheres
45 -
84
Carnes processadas e
alto teor de gordura
Peixe e vegetais
Grãos, tomate e
grãos refinados
Grãos integrais e
frutas
Indivíduos que apresentaram escore elevado para o Padrão de Carnes
processadas e alto teor de gordura tiveram associação positiva com IMC e CC
mais elevados
Os Padrões dos Vegetais e peixe e Grãos integrais e frutas apresentaram
associação inversa ao padrão 1.
86
Quadro 5 - Continuação.
Referência
Delineamento População
No sujeitos/sexo
Idade
Padrão de ingestão
alimentar
Resultados
Carrera et al., 2007
Boston, 2007
659 Mexicano-
Americanos
18
anos
1. Aves e bebidas
alcoólicas;
2. Leite e produtos
assados;
3. Mexicano
tradicional;
4. Carnes
Associações POSITIVAS:
Padrão mexicano tradicional e IMC e valores da circunferência da cintura.
Associações INVERSAS:
Não foram encontradas
Esmaillzadeh et al., 2008
Transversal
Professoras Tehrani do sexo feminino
486 women
40
60
Padrão saudável
Padrão Ocidental
Padrão Iraniano
O padrão occidental apresentou associação positiva para obesidade central e
generalizada, baixo consumo de fibras e maior ingestão det al.esterol.
O padrão iraniano apresentou menor associação com obesidade generalizada e
maior associação com obesidade abdominal.
Quadro 6 - Características dos estudos nacionais que avaliam padrões de dieta definidos a posteriori e sua associação com obesidade.
Referência
Delineamento População
No sujeitos/sexo
Idade
Padrão de ingestão
alimentar
Resultados
Sichieri, 2002
Transversal
Amostra representativa da população
adulta da cidade do Rio de Janeiro
1198 homens
1528 mulheres
20
60
Misto
Tradicional
Ocidental
Padrão tradicional associou-se inversamente com risco de sobrepeso/obesidade em
modelo ajustado para idade, fatores dietéticos, atividade física de lazer e dispêndio
laboral de energia
O Padrão Tradicional associou-se com menor risco de sobrepeso/obesidade no modelo
de regressão logística ajustado para potenciais confundidores.
A redução foi 13% e 14% em homens e mulheres, respectivamente.
Sichieri et al., 2003
Participantes da Pesquisa sobre
Padrões de Vida, 1996-1997
Rio de Janeiro
5.121 adultos
20 -
50
1. Misto
2. Tradicional
Padrão misto associou-se positivamente com a região Nordeste e com o IMC e
inversamente com a prática de atividade física e cor da pele negra
Alves et al., 2006
Região do Vale do Rio
dos Sinos, Rio Grande do Sul, 2003.
1.026 mulheres
20 -
60
1. Saudável Custo
1-PASC1
2. PASC2
3. PASC3
4. Risco Custo1 -
PARC1
5. PARC3
Padrão saudável e padrão de custo alto associaram-se positivamente com alto grau de
escolaridade, com renda per capita no último Quartil, idade de 20 a 29 anos, estado civil
solteira
Padrão risco de baixo custo associou-se positivamente com mulheres das classes C, D e
E.
Padrões alimentares de baixo custo associaram-se positivamente com mulheres casadas
Neumann et al., 2007
São Paulo, 2001-2002
2.100 indivíduos de
ambos os sexos
15 -
59
1. Cafeteria
2. Tradicional 3.
Moderno
4. Aterogênico
Padrão cafeteria associou-se positivamente com a pressão arterial sistólica e diastólica,
IMC e RCQ e inversamente com o HDL.
Padrão tradicional associou-se positivamente com renda elevada, glicemia e IMC e
inversamente com triglicérides e RCQ.
Padrão moderno associou-se inversamente com pressão arterial diastólica, colesterol
total, glicemia e LDL.
Padrão aterogênico associou-se positivamente com escolaridade fundamental,
tabagismo, colesterol total, triglicérides, glicemia, IMC e RCQ.
87
Agregação familiar e obesidade
Sabe-se que fatores familiares exercem um papel na etiologia de vários agravos. A
análise da agregação familiar (AF) exprime, basicamente, a idéia que uma tendência para
determinados fenótipos se aglomerarem, com freqüência, entre familiares com graus de paisco
diferentes. Seja como reflexo do compartilhamento de genes ou pelo compartilhamento de
fatores ambientais entre indivíduos de uma mesma família (Maia et al.,2004; Fermino, 2007).
Dentre os aspectos de ordem sócio-econômica que interferem nas práticas alimentares
adotadas por um indivíduo, destaca-se o convívio social e familiar. Para Canesqui (1988), é
―por referência à família que se realiza e organiza o consumo alimentar, ainda que os seus
determinantes não se esgotem neste nível‖ (Canesqui, 1988; Garcia, 1997).
No entanto, a contribuição da influência genética no comportamento alimentar
também se tornou alvo de pesquisas, partindo da premissa de que a hereditariedade
desempenha papel importante em diversas doenças. Observou-se que traços de determinadas
doenças se agregam em famílias, ou seja, estas doenças acometem, com maior freqüência,
familiares de uma pessoa afetada do que a população em geral (Susser & Susser, 1989).
Recentemente, a epidemia da obesidade tem apontado como seus principais fatores causais,
o estilo de vida e o meio ambiente, associados ao balao energético positivo. Por outro lado, o
efeito dos fatores de estilo de vida parece ser modulado por genes, devido à interação entre o meio
ambiente e a genética. Sob este foco, pesquisas têm sido realizadas objetivando estudar a obesidade
sob esta ótica, baseadas em indivíduos gêmeos homozigóticos, demonstrando que os indivíduos
geneticamente idênticos, respondem similarmente para o índice de massa corporal e composição
corporal em relação às mudanças no balanço energético, enquanto que, a variabilidade é
considerável naqueles indiduos, cujos getipos são diferentes. Deste modo, a epidemia da
obesidade pode ser entendida pelo foco da influência que o meio e o estilo de vida exercem em
genes susceptíveis para o desenvolvimento da obesidade (Jacobson et al., 2007).
Uma das hipóteses relacionadas às causas da obesidade elucida a associação entre as
características genéticas e o ambiente como os principais fatores envolvidos na sua gênese.
Esta hipótese ressalta a possibilidade das populações apresentarem-se geneticamente mais
suscetíveis à obesidade e quando associado a determinados fatores ambientais, potencializam
o evento (Pinheiro et al., 2004).
88
Provencher et al. (2005) também afirmam que genética, ambiente, comportamento e fatores
sociais estão envolvidos no desenvolvimento da obesidade e que o ambiente familiar pode exercer
papel chave na formação do comportamento alimentar de crianças.
A obesidade é atribuída a padrões de dieta e características comportamentais que
atuam sobre a base genética do indivíduo, a qual determina a susceptibilidade ao ganho de
peso e às doenças relacionadas à obesidade (Lyon et al., 2005). Contudo, as rotas genéticas
que participam desta determinação ainda não foram elucidadas (Henn, 2006).
A associação entre obesidade e história familiar, realizada em alguns estudos, mostrou
que a obesidade dos pais é preditora de obesidade nos filhos. Em estudo realizado em Pelotas,
com amostra populacional representativa de indivíduos com idade entre 20 e 69 anos, aqueles
que referiram ter ambos os pais obesos apresentaram um risco de obesidade quase duas vezes
maior do que os participantes cujos pais não apresentavam esta característica (Gigante et al.,
1997).
Park et al. (2004) avaliaram a influência familiar nos fenótipos relacionados à
obesidade e examinaram a diferença entre os neros dos filhos adolescentes neste contexto e
observaram que a obesidade dos filhos foi mais significativamente correlacionada com as
mães do que com os pais, sendo a agregação familiar para obesidade das filhas apresentaram
significativamente mais forte com seus pais que os filhos.
Resultado similar foi identificado em estudo longitudinal com aproximadamente 155
meninas e meninos nascidos na Austrália e seus respectivos pais. O risco de sobrepeso, aos 20
anos de idade, foi cerca de quatro vezes maior que os participantes que tinham ambos os pais
obesos, em comparação àqueles cujos pais tinham peso adequado (Magarey et al., 2003).
Estudo que investigou a associação entre o IMC dos pais e excesso de peso de crianças
e adolescentes, na cidade do Rio de Janeiro, identificou que o IMC materno foi um preditor
independente do excesso de peso nos filhos (Marins et al., 2004).
O substancial aumento na prevalência de excesso de peso, entretanto, sugere que,
sobre esta predisposição ou suscetibilidade genética para obesidade, incidam fatores
ambientais relacionados ao estilo de vida (Marques-Vidal et al., 2002).
Fuentes et al. (2002) investigaram a AF para IMC em uma amostra de 184 familías
apresentando filhos jovens, destas apenas 144 foram analisadas. Observaram alta proporção
de crianças com excesso de peso quando a mãe era obesa e quando um ou ambos eram
obesos. Este estudo confirmou a existencia da AF. A consistente relação da obesidade entre
mães e filhos pode indicar seu papel chave na prevenção primaria da obesidade.
89
Guillaume et al. (1995) estudaram obesidade em crianças (6 a 12 anos). Foram
coletadas informações sobre peso ao nascer, peso e estatura dos pais, assim como problemas
relacionados à obesidade em avós. O IMC foi fortemente correlacionado entre crianças e seus
pais. No entanto, problemas de obesidade dos avós foram relacionados com o IMC dos pais e
também com o índice de obesidade nas crianças. Concluiu-se que a obesidade é prevalente em
famílias com predisposição e pode ser traçada através de três gerações. O consumo energético
é elevado e o nível de atividade física é baixo nestas crianças. Entretanto, análises estatísticas
sugerem que fatores familiares exercem um importante impacto comparando os fatores
ambientais no IMC das crianças. Sugerindo forte influencia genética para a obesidade nesta
população.
Mirmiram et al. (2002) objetivaram esclarecer a hipótese de que o consumo alimentar
dos pais estaria associado com o IMC de seus filhos em 117 famílias, n=474 incluindo 240
filhos de 3 a 25 anos. Observaram uma prevalência de excesso de peso de 11,8% nos filhos de
pais com peso normal; de 19% nos filhos de pais com excesso de peso e mães com peso
normal; de 25,4% dos filhos e mães com excesso de peso e de pais com o peso normal; de
40,8% dos filhos com ambos os pais com excesso de peso. Após ajuste pelo sexo, as chances
de filhos apresentarem excesso de peso foram mais elevadas nas mães obesas (OR=3,8;
IC95%1,5-9,2) e que apresentaram elevado consumo energético (OR=2,6; IC95%1,2-5,6); e
nos pais que apresentaram elevado consumo energético (OR=2,0; IC95%1,1-3,9) quando
comparados aos filhos de pais que não apresentaram excesso de peso (OR=2,1; IC95%1,5-
3,6) e vice-versa (OR=1,8; IC95%1,2-2,8).
Concordância entre casais e obesidade
O “assortative mating” (formação de casais baseada na semelhança entre características),
baseado na variedade fenotípica, no qual os indivíduos tendem a se casar com aqueles que
têm características semelhantes a si próprios, é um elemento particularmente importante na
avaliação da contribuição relativa dos fatores genéticos e influências ambientais sobre a
variação de uma determinada característica (Kuo et al., 2007).
O “assortative mating” ocorre quando o homem e a mulher se unem ao acaso em relão
às características fenotípicas e culturais. Tem sido observado para as seguintes características: altura,
atitudes de responsabilidade, educação, religião, política, idade, tabagismo e comportamento anti-
social (Speakman et al., 2007).
90
A hipótese do assortative mating” para o desenvolvimento da obesidade confere um
elevado risco para o desenvolvimento da obesidade na geração de filhos e isto, contribui para a
epidemia da obesidade. A concordância da obesidade entre pais constitui um fator de risco
importante e identificável que deve ser considerado no contexto dos fatores de riscos associados ao
desenvolvimento desta doença (Jacobson et al., 2007).
A epidemia da obesidade possui um componente genético mediado pelo incremento de
formação de casais baseada em características fenotípicas e culturais, ou seja, escolha de marido ou
esposa com características similares, em especial para gordura corporal. Teoricamente, as
conseqüências genéticas da formação de casais baseada nestes aspectos para determinadas
características complexas, como é o caso da obesidade, torna-se mais significante o aumento da
correlação entre getipo e fenótipo, ainda que a taxa de formação de casais baseada nas
características externas e culturais permaneçam constantes por gerões (Jacobson et al., 2007).
Um mecanismo possível que possa estar envolvido no aumento da obesidade é a formação
de casais baseada na similaridade entre características para adiposidade corporal (Katzmarzyk et al.,
2002). Segundo Katzmarzyk et al. (2002), existem similaridades entre esposos na adiposidade,
particularmente entre pais magros ou de filhos obesos em população canadense. A predisposição
genética e as mutações para obesidade são mais prevalentes entre pais obesos, enquanto aqueles que
pronunciaram magreza o mais prevalentes nos pais magros. Sugere-se que este fato possa ser
proveniente ao efeito getico sobre a adiposidade corporal. No entanto, a suscetibilidade genética
para a adiposidade corporal diminuída pode não ser expressa fenotipicamente em sociedade
modernizada e sendenria. Porém, a suscetibilidade getica para o incremento da gordura corporal
em casais com estilo de vida sedenrio, pode desencadear uma combinação para o ganho de peso.
Segundo Di Castlenuovo et al. (2009), a tenncia na formação de casais baseada na
similaridade entre características, influencia a concorncia para pressão arterial, tabagismo, vel
de glicose sanguínea, perfil de LDL-colesterol, peso corporal, índice de massa corporal e
circunferência de cintura. Em seu estudo de revio sistetica, demonstrou concordância entre
casais estatisticamente significante para a maioria dos fatores de risco para doenças
cardiovasculares. Concluiu-se que a interveão para reduzir os fatores de risco cardiovasculares
deve ser direcionada para ambos os membros do casal.
Dado a obesidade ser poligênica, na qual rios genes promovem influência no acúmulo de
gordura corporal, a formação de casais baseada na similaridade entre características pode
potencializar o efeito getico entre filhos de pais obesos. Em outras palavras, a chance de receber
mais genes obesos é teoricamente maior em filhos quando ambos, pai ee são obesos
(Katzmarzyk et al., 2002).
91
Mirmiram et al. (2002) observaram que o elevado consumo de gordura pelos maridos,
constitui um fator de risco independente para o aumento de chances de suas esposas estarem com
excesso de peso e vice-versa.
A formação de casais baseada em “assortative mating” parece ser mais freente nos
extremos da distribuão do IMC na população em geral (Katzmarzyk et al., 2002; Jacobson et al.,
2007). Tem sido observada em alguns estudos (Hebebrand et al., 2000; Katzmarzyk et al.,
2002; Silventoinem et al., 2003; Jacobson et al., 2007). Por outro lado, uma observão de
Jacobson et al. (2007), coloca em questão o reforço dosbitos de vida e obesidade entre casais. O
tempo de convivência parece inferir nas características entre casais. Jacobson et al. (2007)
demonstrou o forte efeito da formação de casais baseada na similaridade entre características, pois
foi observado uma correlação elevada entre casais que coabitavam por 5 anos ou menos, enquanto
que entre casais com duração longa de coabitação, a correlação foi inferior.
A formação de casais baseada em “assortative mating” pode ter contribuído para a
epidemia da obesidade devido ao aumento da „homozygosity‟ e pela probabilidade da
exposição de características recessivas prejudiciais. Esta contribuição é impossível quantificar
rigorosamente, a menos que a exata contribuição genética para a característica em questão e a
proporção da contribuição genética recessiva seja conhecida. Estes parâmetros ainda não
encontram-se disponíveis na literatura para a obesidade. Apesar disso, nós podemos estimar
grosseiramente os efeitos da formação de casais baseada na semelhança entre características
(Speakman et al., 2007).
Entretanto, existem inúmeros problemas com estudos prévios sobre a formação de
casais baseada na semelhança entre características para obesidade (Speakman et al., 2007).
Primeiro, a maioria dos estudos realizados usaram o IMC para avaliar a obesidade. A
inadequação do IMC para detectar obesidade a nível individual é bem estabelecido. Segundo,
o método objetiva entender a formação de casais baseada na semelhança entre características
através da análise da correlação das características observadas entre os casais (correlação
entre casais). A correlação entre casais, entretanto, é influenciada por inúmeros fatores que
precisam ser considerados. Associações falso positivo podem ocorrer devido a obesidade ser
relacionada a outras características que são associadas para formação de casais baseada na
semelhança entre características. A mais óbvia destas características é a idade. Devido às
pessoas geralmente acumularem gordura corporal durante o envelhecimento e tenderem
relacionarem-se com pessoas de mesma idade, quando é realizada uma correlação entre casais
de várias idades, produziuma associação positiva para obesidade devido pessoas de idade
avançada serem mais obesas. Outro fator complicador é a homogamia social, que representa a
92
tendência das pessoas formarem casais com parceiros que possuem mesma condição social.
Como a obesidade se correlaciona com a classe social, a formação de casais com base na
semelhança de características pode ser primariamente uma conseqüência da homogamia
social. Nem todos estudos já realizados consideraram estes efeitos (Speakman et al., 2007).
Além disso, os casais compartilham o mesmo ambiente na maior parte de suas vidas.
Alguma correlação entre características de casais associada à obesidade pode então refletir um
efeito ambiental partilhado (Speakman et al., 2007).
Uma revisão sistemática e meta-análise recentemente publicada, sobre concordância
entre casais para fatores de risco cardiovasculares, ressalta que a mais forte correlação entre
casais e IMC foi 0,15 (IC95% 0,05-0,25) e também que as razões de chance para
concordância de HAS, DM, fumo e obesidade entre os casais foram todas estatisticamente
significantes, variando entre 1,16 e 3,25. Destaca ainda que o assortative mating
influenciou a concordância para as variáveis estudadas incluindo o IMC (Di Castelnuovo et
al., 2009). Este fato sugere que influências ambientais constituem importantes fatores na
similaridade entre os casais, como foi confirmado por Jacobson et al. (2007).
Estudo australiano realizado com 1319 famílias envolvendo 4178 indivíduos adultos
no período entre 1966 a 1981 investigou as correlações familiares de alguns fatores de risco,
sendo um deles o IMC. Foi observado pequena variação entre os casais considerando a idade,
sugerindo que as correlações devem ser primariamente ao ―assortative mating‖ e não à
coabitação (Knuiman et al., 1996).
Bloch et al. (2003) avaliaram o papel do ambiente socioeconômico na distribuição da
HAS, obesidade e tabagismo e na concordância entre casais destes fatores de risco
cardiovasculares. Em 365 casais do Rio de Janeiro, observaram concordância entre casais
para a HAS, fumo e obesidade de forma heterogênea, segundo nível socioeconômico,
sugerindo que fatores ambientais, e não apenas os genéticos, podem contribuir para a
determinação de fatores de risco cardiovascular, em especial a obesidade, na medida que a
concordância entre casais pode refletir estilos de vida semelhantes.
Como entre casais não há reflexo de fatores genéticos, mas sim de fatores ambientais,
Inoue et al. (1996), estudaram a agregação familiar para fatores de risco de aterosclerose entre
casais, sugerindo que a correlação entre os mesmos refletem a influência do assortative
mating‖ e de fatores ambientais.
93
Separando ambiente da genética
O aumento na prevalência de obesidade no Brasil e no mundo tem grande dependência
dos fatores ambientais (Vieira et al., 2008).
Bouchard e Perussé (1988) estudaram a importância relativa dos componentes
genéticos e não genéticos herdados e efeitos não transmissíveis no fenótipo IMC após
controle por idade e gênero. Os dados obtidos de 1698 indivíduos de 409 famílias, revelram
uma variância total transmissível através das gerações de aproximadamente 35%, porém um
efeito genético de apenas 5%. A importância da variância não transmissível,
aproximadamente de 65%, pode ser devido particularmente ao fato de padrões próprios de
transmissão serem contribuídos pelo fenótipo ou que o IMC seja susceptível a condições
ambientais e de estilo de vida. Portanto, de maneira geral, estes dados indicam que o IMC não
é caracterizado por um componente hereditário significante (Bouchard, 1991).
Segundo Pi-Sunyer (2002), a variação do IMC pode ser 30 a 40% atribuído pela
genética e 60% a 70% por fatores ambientais. Logo, a interação entre a genética e os fatores
ambientais também é importante.
Pinheiro et al. (2004), deduzem que 67% da variação do IMC sejam determinados
pelo ambiente. Portanto, parece correto afirmar que mesmo que a obesidade evolua dentro das
restrições genéticas, os determinantes ambientais desempenham um papel predominante no
desenvolvimento desta doença.
É no ambiente familiar que são transmitidos os hábitos, atitudes e valores culturais
aceitos em uma determinada sociedade ou classe social. Essa idéia de que os progenitores
exercem forte influência em seus descendentes, se tornando agentes de socialização e modelo
de referencia para os hábitos e em diversos aspectos da vida é plenamente aceita (Maia et
al.,2004).
A AF da obesidade nos indivíduos resulta da interação entre fatores dietéticos e
ambientais associados à predisposição genética (Francischi et al., 2000). As evidências são
insuficientes para estabelecer se e como os fatores ambientais poderiam influenciar no habito
de uma dieta obesogênica. Os fatores ambientais influenciam na disponibilidade de alimentos,
os fatores sociais e culturais. O consumo alimentar sofre influencia dos hábitos alimentares
familiares, tanto em relação ao tipo de alimento, quanto à quantidade de calorias ingeridas
(Vieira et al., 2008).
A conduta alimentar representa um conjunto de ações que estabelecem relação do ser
humano com os alimentos. Se aceita geralmente que os comportamentos frente da
94
alimentação se adquirem através da experiência direta com a comida, pela imitação de
modelos, da disponibilidade de alimentos, a condição social, os simbolismos afetivos e as
tradições culturais. Além das influências sociais, as influencias genéticas e familiares
compartilhados, tem um impacto relevante sobre o padrão da ingestão , da conduta alimentar
e da obesidade infantil. Os estudos sobre ingestão de alimentos e obesidade tem se
concentrado principalmente em determinar a quantidade e o tipo de alimento da dieta
habitual, apresentando resultados controversos (Domínguez-Vásquez et al., 2008).
Esta interação entre fatores genéticos e ambientais partilhados entre membros da
família é observada por Pérusse et al. (2000) no seu estudo que relacionou medidas
antropométricas e AF na gordura subcutânea (Pérusse et al., 2000).
Deste modo, as investigações sobre AF em famílias nucleares têm como finalidade
averiguar a transmissão do patrimônio genético e cultural entre pais e filhos. Segundo
Fermino (2007) ―a existência da agregação pode ser verificada pela maior semelhança
fenotípica entre pais do que entre indivíduos não aparentados e a sua magnitude pode ser
estimada pela correlação fenotípica entre pares de indivíduos‖. Esta semelhança ou diferença
fenotípica pode ser vista mesmo entre pais, onde a relação entre pais-filhos (primeira e
segunda geração) em uma família nuclear parece ser maior do que na relação entre avós-netos
(primeira e terceira geração) em um pedigree extenso (Fermino, 2007).
A agregação pode ser verificada através da interpretação da grandeza dos coeficientes
de correlação (r) entre membros da família, intraclasse para membros do mesmo sexo e plano
geracional e interclasse a todos os outros; e como conseqüência da avaliação destes resultados
se obterá informações acerca dos efeitos genéticos nesta população (Fermino, 2007).
Em famílias nucleares é possível calcular oito correlações: cônjuges, pai-filho, pai-
filha, mãe-filho, e-filha, irmão-irmão, irmã-irmã e irmão-irmã. Se multiplicarmos o valor
do r por 100, criando um percentual, teremos uma medida que expressará o quanto da
variação total do fenótipo é regida por fatores compartilhados por cada membro da família,
tornado claro as diferenças nos padrões de semelhança ou AF (Maia et al., 1999; SAGE,
2008).
Estudos familiares têm sido realizados com o objetivo de distinguir fatores ambientais
de fatores genéticos nas causas da agregação, envolvendo práticas alimentares, procurando
verificar a presença indireta de transmissão vertical de fatores genéticos e ambientais entre
progenitores e descendentes nos diferentes fenótipos das dislipidemias e também dos padrões
de consumo alimentar (Pérusse et al., 1988; Feunekes et al., 1998; Ellison et al., 1999; Faith
et al., 2004; Wada et al., 2006).
95
Resultados do estudo biracial Lipid Research Clinics Princeton School District Study
em concordância com outras pesquisas sugerem a existência de concordância familiar na
ingestão calórica (Laskarzewski et al., 1980; Pérusse et al.,1988; Oliveria et al., 1992).
Estudo realizado por Feunekes et al. (1998) mostrou semelhanças no consumo de
alimentos gordurosos entre pais e filhos e também entre os cônjuges. Nesta população, os
amigos não parecem ter muita influência no consumo de gorduras destes adolescentes e
adultos (Feunekes et al., 1998).
Pérusse et al. (1988) observaram presença de agregação familiar na ingestão
energética, sugerindo fraca contribuição da hereditariedade e confirmaram o fato de que o
ambiente familiar é responsável pela semelhança no consumo (Pérusse et al., 1988).
Faith et al. (2004) investigaram o consumo de energia em crianças e a agregação
familiar e concluíram que a associação familiar e a ingestão total de energia e
macronutrientes, independente das medidas antropométricas, sugerem influências genéticas
ou ambientais (Faith et al., 2004).
Wada et al. (2006) investigaram até que ponto as histórias familiares de dislipidemia,
diabetes e hipertensão aumentam o risco de agregação destes transtornos. Verificaram que
indivíduos com a presença destas alterações metabólicas na família desenvolveram um ou
mais de um destes transtornos e que a história materna foi mais fortemente associada do que a
paterna para o desenvolvimento destas patologias (Wada et al., 2006).
Agregação familiar, Padrão Alimentar e Obesidade
Paradis et al. (2006) estudaram padrões alimentares em homens (129) e mulheres
(197) apresentando IMC < 30kg/m
2
, com e sem história familiar de obesidade (HFO). Dois
padrões alimentares foram identificados: Ocidental e Prudente. Em homens com HFO
positiva, o padrão ocidental foi negativamente associado com idade e positivamente associado
com atividade física, tabagismo e renda. Nas mulheres com HFO negativa, o padrão prudente
é negativamente associado com IMC e tabagismo e este foi positivamente associado com
idade e atividade física. Ressaltam que HFO não parece influenciar a aderência do padrão
alimentar, sugerindo que variáveis tais como: antropométricas, estilo de vida e
sociodemográficas quando associadas a padrões alimentares, diferem de acordo com HFO e
gênero (Paradis et al., 2006).
Jahnke et al. (2008) examinaram diferenças entre peso corporal e comportamento
alimentar em crianças pré-escolares (3 a 6 anos), a influência do comportamento alimentar
96
materno no das crianças. Observaram que crianças de mães obesas apresentaram um
comportamento alimentar emocional, ou seja, um consumo alimentar elevado. Mães
apresentando comportamento alimentar emocional e o IMC materno foram positivamente
preditoras para o comportamento alimentar de seus filhos (Jahnke et al., 2008).
A semelhança familiar na opinião, atitude e intenção para o consumo de 20 grupos de
alimentos que atribuem para a ingestão de gordura foi investigada em 97 mulheres adultas,
suas mães e avós. Foram observadas correlações estatisticamente significantes para atitudes
similares entre gerações mais jovens e de meia idade. Opiniões e atitudes de hábitos saudáveis
aumentam em gerações de idade avançada. Deste estudo, concluíram que mães e suas filhas
adultas se parecem em relação as suas opiniões, preferências alimentares, atitudes e intenções,
no entanto, a semelhança é fraca (Stafleu et al., 1995).
Parece ser um consenso que influências familiares nos hábitos alimentares são
importantes, mas poucos estudos têm direcionado esta abordagem. Vauthier et al. (1996)
estudaram se e como o consumo alimentar é agregado entre familiares. Para energia e todos
os macronutrientes, correlações entre ―esposo-esposa‖ e ―filho-filha‖ foram mais elevadas que
quando comparadas entre pais e filhos, sugerindo uma menor contribuição da genética e a
preponderante função cultural e ambiental. Quando aumenta-se o número de refeições juntas
entre gerações há aumento de 10% no consumo de gordura e carboidrato. Conclui-se, portanto
que, agregação familiar do consumo alimentar e que comportamentos individuais são
influenciados pelas características da unidade familiar, tais como número de refeições
realizadas juntas, o que leva a contribuir para programas de promoção à saúde em ter a família
como unidade de intervenção.
Billon et al. (2002) estudaram quando e como agregação familiar do consumo
energético do café da manhã em famílias francesas. Os achados deste estudo confirmaram que
a agregação familiar no consumo relativo e absoluto de energia foi significativo. Confirmou
ainda que hábitos familiares atuam na semelhança familiar para ambos os consumos
energéticos de café da manhã, absoluto e relativo.
Analisando associação entre exposição e desfecho em indivíduos
agregados em famílias
Alguns autores, ao utilizarem indivíduos de estudos sobre agregação familiar (Knox el
al., 2000; Djoussé el al., 2004; Djoussé el al., 2006; Lin el al., 2006), utilizaram o modelo de
97
Equações de Estimação Generalizadas (GEE), proposto por Liang e Zeger (1986). O GEE é
uma extensão dos modelos lineares generalizados (GLM), para dados correlacionados. As
estimativas no GEE têm propriedades assintóticas: quando o número de clusteres é grande as
estimativas dos parâmetros é consistente e têm distribuição normal. No GLM e por extensão
no GEE há três tipos de componentes: a) componente aleatório que é a variável resposta; b) o
componente sistemático que é combinação das variáveis explicativas incluídas no modelo
como uma função linear dos parâmetros ( 0 , h , X h) e 3); c) a função de ligação que é a
função da média da resposta g(µ), modelada linearmente em relação aos parâmetros da
regressão - serve para ligar a média da resposta aleatória e o conjunto de parâmetros lineares
fixos (Kleinbaum DG & Klein M, 2002). A escolha da função de ligação depende função de
distribuição. No nosso caso, a variável resposta é dicotômica, e a função de ligação é o logito.
O método GEE não explicita o modelo de variação entre clusteres. Ele enfoca e estima a
similaridade dos resíduos intra-cluster e utiliza essa correlação estimada, para reestimar os
parâmetros de regressão e para calcular os erros padrão. Uma vez que o GEE não contém
termos explícitos para a variação entre clusteres, os parâmetros estimados referem-se ao intra-
cluster, e não permitem a interpretação ―mantendo os outros fatores constantes‖ (Hanley et
al, 2003).
Estimação ajustada das correlações familiares efeitos das
similaridades de variáveis de exposição na correlação familiar do desfecho
Ellison et al. (1998), ao analisarem os efeitos da similaridade entre hábitos de vida na
agregação familiar de colesterol HDL e LDL, utilizaram o GEE no Family Heart Study
(NHLBI), por ser um estudo em cluster (famílias). Diferentemente dos artigos de Knox et
al.,2000; Djoussé et al., 2004, 2005, 2006; Lin et al., 2006, Ellison et al. (1998) tinham o
interesse de estimar a agregação familiar das lipoproteínas, dos hábitos de vida e as
similaridades entre os dois. Os autores utilizaram diferentes modelos de GEE para estimar
correlações entre estilos de vida, colesterol HDL ou LDL, ajustados por variáveis como idade,
idade
2
, para os membros da mesma família. Para avaliar em que medida a agregação familiar
devia-se à agregação familiar nos estilos de vida, ajustados, os autores examinaram,
inicialmente, a agregação familiar de estilos e hábitos de vida. Calcularam os resíduos
padronizados (média=0 e desvios padrão=1) para cada estilo de vida. Os resíduos foram
utilizados para o calculo da correlação entre pares familiares num programa específico
(FCOR software, disponibilizado pela Statistical Analysis for Genetic Epidemiology
98
S.A.G.E). Utilizaram as opções de pesos iguais para cada família nuclear e ajuste para
múltiplas comparações dentro de cada família. A seguir, os autores geraram resíduos
padronizados de diferentes conjuntos de variáveis, para avaliar em que medida os estilos de
vida, considerados individualmente e simultaneamente, afetaram a agregação familiar das
lipoproteínas, comparando os coeficientes de correlação antes e depois que os estilos de vida
foram adicionados. Os resíduos padronizados refletiam a parte da variância da correlação
entre as lipoproteínas e estilos de vida, controlados por co-variáveis, não explicada pelo
modelo (estimativas das correlações intra-familiares na presença de cluster familiar). Utilizar
esses valores para avaliar a correlação entre os membros das famílias equivaleria a utilizar a
parcela da variação dos valores de colesterol HDL e LDL não explicados pelas variáveis de
ajuste e dos estilos de vida. A magnitude da diminuição no coeficiente de correlação familiar
entre as lipoproteínas sem ajuste e as ajustadas, representadas pelos resíduos padronizados no
GEE, indicaria a magnitude da participação dos estilos de vida na agregação familiar das
lipoproteínas.
99
JUSTIFICATIVA
Nas últimas cadas a população brasileira experimentou intensas transformações nas suas
condições de vida, saúde e nutrão. A mudança do perfil epidemiológico brasileiro, com maior
carga de doenças e agravos não transmissíveis, é conseqüência da urbanização, de melhorias
nos cuidados com a saúde, de mudanças de estilo de vida e da globalização. Dentre as
principais mudanças destaca-se a obesidade, o problema nutricional de maior ascensão
observado nas últimas décadas. A obesidade é hoje considerada uma epidemia mundial
presente tanto em países desenvolvidos como naqueles em desenvolvimento independente de
condições econômicas e sociais. Os danos acarretados por elao extensos e constitui um fator de
risco importante para o desenvolvimento de DCV, dislipidemia, diabetes, resistência insulínica,
HAS e aterosclerose precoce, que são responsáveis por uma parcela significativa e crescente na
carga de doenças no Brasil. A etiologia da obesidade é multifatorial sendo uma das mais
complexas, pois seu desenvolvimento resulta de múltiplas causas e compartilha vários fatores
de riscos, genéticos, psicológicos, socioeconômicos, culturais e ambientais.
Niterói é uma cidade com infra-estrutura urbana razoável e boa qualidade de vida,
porém estima-se que uma parcela de aproximadamente 26% da população do município
(120.000 hab.) seja considerada de risco social. Uma das principais características do PMF de
Niterói-RJ é servir como agente de transformação da sociedade, contribuindo para o resgate
da cidadania. As atividades deste programa são divididas entre visitas domiciliares e
atendimentos periódicos em consultório, tanto da demanda espontânea quanto da programada,
sendo complementadas por um grupo de supervisão multidisciplinar, com função de realizar
interconsultas complementares às dos médicos do módulo. O trabalho de educação
desenvolvido pelas equipes envolve a comunidade e a torna co-responsável nas tarefas de
prevenção e promoção de saúde. Os principais objetivos desse programa são a mudança do
modelo de atenção vigente e proporcionar assistência integral à saúde da população, com
ênfase nas atividades de prevenção de doenças e de promoção da saúde.
Estudos apontam que a ocorrência da obesidade nos indivíduos é reflexo da interação
entre fatores de risco, dietéticos e ambientais, associados à predisposição genética e está bem
estabelecido que fatores genéticos têm influência neste aumento dos casos de obesidade. A
100
obesidade dos pais está associada com aumento da prevalência da obesidade dos filhos,
aumentando o risco destes se tornarem obesos durante a fase adulta, independente do estado
de obesidade na infância, indicando que a concordância da obesidade entre pais constitui um fator
de risco importante e identificável que deve ser considerado no contexto dos fatores de riscos
associados ao desenvolvimento desta doença. No entanto, o aumento significativo nos casos de
obesidade nos últimos 20 anos dificilmente poderia ser explicado por mudanças genéticas que
tenham ocorrido neste espaço de tempo. Sendo assim, os principais fatores envolvidos no
desenvolvimento da obesidade têm sido relacionados aos fatores ambientais. Logo, a
obesidade tende a agregar nas famílias como resultado da interação entre fatores ambientais e
genéticos. No Brasil não há estudos sobre agregação familiar de obesidade.
A necessidade de buscar explicações para o fenômeno da ―obesidade‖ tem estimulado
a investigação da associação de diferentes fatores que direta e indiretamente, podem
influenciar no desenvolvimento da obesidade no ambiente familiar. É importante identificar
os riscos ambientais nos indivíduos compartilhados pela família, visando reconhecer os
grupos vulneráveis para melhor orientar ações em saúde. Também não estudos sobre a
agregação familiar de fatores de risco ambientais para obesidade, nem tampouco sobre a
contribuição desses fatores para a agregação da obesidade.
101
OBJETIVO
Investigar se há agregação familiar de obesidade e verificar a contribuição de variáveis
ambientais nesta associação.
102
MATERIAL E MÉTODOS
Desenho e Local do Estudo
Trata-se de um estudo caso-controle familiar, também chamado por Susser (1989) de
coorte reconstituída, utilizando a população do Estudo CAMELIA (Projeto cardio-
metabólico-renal familiar), que envolveu indivíduos assitidos pelo Programa Médico de
Família de Niterói, Rio de Janeiro, Brasil. Um estudo familiar geralmente se inicia com a
identificação de um grupo de casos índices (probando) com o desfecho, e a comparação
daqueles sem a desordem. Aplicando a lógica usual de um desenho caso-controle, cada caso-
índice é um caso ou controle. É interessante notar que a antecedência da exposição, quando se
pretende isolar o componente genético, está sempre garantida.
População do presente estudo
Critérios de inclusão e exclusão do Estudo CAMELIA
Para o estudo CAMELIA, foram selecionados: indivíduos, pai ou mãe, vinculados ao
PMF de Niterói, hipertensos, diabéticos, hipertensos-diabéticos ou controles (não hipertensos
e não diabéticos), denominados ―índices‖, que tivessem pelo menos um filho biológico vivo,
com ―cônjuges‖ vivos, todos morando na mesma comunidade ou acessíveis; seus cônjuges
(parceiro do índice, pai/mãe natural de pelo menos um filho incluído na pesquisa; somente os
cônjuges dos controles tiveram sua condição pré-estabelecida: não ser hipertenso ou
diabético) e filhos naturais do casal de 12 a 30 anos no momento da pesquisa.
Foram excluídos os pais de primeiro grau de um índice selecionado, gestantes e
participantes portadores de doença que impedisse sua presença no ambulatório para a visita,
ou a compreensão sobre a pesquisa, e doenças associadas à baixa imunidade, ou que estejam
em uso de medicamentos que possam interferir nos resultados dos exames (corticóides,
103
citostáticos) e todas as famílias que tiverem um dos membros que não concordem em
participar da pesquisa.
Critérios de inclusão e exclusão do presente estudo
Para o presente estudo, foram incluídos os indivíduos (índices, seus cônjuges e filhos)
que participaram do Estudo CAMELIA que tiveram os dados antropométricos classificados
em obesos e não obesos. Sendo excluídos aqueles que afirmaram terem tido diagnóstico
médico prévio de: infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca,
doença renal crônica, fibrilação atrial ou câncer.
Cálculo Amostral do Estudo CAMELIA
Park et al (2004) incluíram 134 familias para o estudo de agregação familiar de
obesidade, e as correlações entre pares de familiares acima de 0,20 foram estatiticamente
signficativas, o mesmo acontecendo no estudo de Vizcaíno et al. (1999) onde participaram
307 filhos e 143 pares de pai e mãe. A partir dessas informações buscamos incluir 310 pais e
310 mães e 320 filhos, totalizando 930 indivíduos.
Selecionamos um módulo, de um setor de cada região do município de Niterói, para
avaliarmos a prevalência de casos índices dos quatro grupos a serem estudados. Estimamos
ser necessário envolver na pesquisa 13 módulos e sua escolha foi por conveniência, buscando-
se incluir todas as regiões político-administrativas do município de Niterói.
Procedimentos
Seleção dos índices
Foram chamadas todas as famílias que atendessem aos critérios de inclusão,
independentemente da condição do índice, assim como todos os filhos do casal que tivessem
entre 12 e 30 anos no momento do inquérito.
Estudo Piloto
Após a elaboração de protocolos de pesquisa, através de manuais de procedimentos,
tanto para a aplicação dos questionários utilizados, como para mensuração das medidas
104
antropométricas realizados pelos pesquisadores de campo (mestrandos e alunos de iniciação
científica), foi realizado o estudo piloto em uma unidade do PMF de Niterói não incluída no
estudo CAMELIA, objetivando testar os instrumentos e treinar todos os entrevistadores e
avaliadores. Para verificar a adequação do QSFA selecionado à população estudada, aplicou-
se um R24h em 96 indivíduos visando avaliar se todos os alimentos citados estavam
contemplados no QSFA, e se as freqüências e quantidades eram capazes de discriminar o
consumo alimentar entre os indivíduos da população. Os R24h foram aplicados por
nutricionistas da equipe em indivíduos que atendiam os mesmos critérios de inclusão do
estudo CAMELIA. Todos os alimentos citados no R24h estavam presentes no QSFA.
Procedimentos nas visitas aos módulos
De junho de 2006 a dezembro de 2007 foram realizadas visitas às comunidades para as
quais pais, cônjuges e filhos incluídos, foram convidados a uma primeira visita, com data e
hora agendadas, através de um convite por escrito, padronizado, que esclarecia o objetivo da
visita e constavam orientações pertinentes ao estudo. Inicialmente, todos os participantes
assinavam o termo de consentimento livre e esclarecido (se menores, assinado pelo pai ou
pela mãe) (Anexo 1). A seguir, foi realizada avaliação antropométrica, consulta médica com
registro de história patológica pregressa, história familiar (pai, mãe, irmãos e filhos) exame
físico e aplicação de um questionário de auto-preenchimento (com apoio de pesquisadores)
sobre condições sócio-demográficas, hábitos de vida e estado de humor (Anexo 2).
Classificação das variáveis
Desfecho
Os indivíduos foram classificados em obesos e não obesos, segundo Índice de Massa
Corpórea (IMC). O IMC é utilizado como um marcador prático para avaliar a obesidade,
muitas vezes referido como Índice de Quetelet, para o qual, o peso corporal em quilogramas é
dividido pelo quadrado da estatura em metros (kg/m
2
). É um indicador de peso ideal para a
saúde e difere dos cálculos de massa magra ou percentual de gordura corporal, uma vez que
só considera altura e peso (Cervi et al., 2005).
A obesidade, condição com uma proporção anormalmente elevada de gordura
corporal, é definida no presente estudo para adolescentes (Cole et al., 2007) e adultos (OMS,
105
2000), com IMC igual ou superior a 30 kg/m
2
, e os idosos, segundo Lipschitz (1994), com
IMC maior a 27 kg/m
2
.
Para obtenção do cálculo do IMC, foram utilizadas as medidas antropométricas
mensuradas, peso e estatura. O peso corporal (Kg) foi obtido uma única vez com os
participantes com o mínimo de roupa possível, usando o mínimo de roupas leves, sem
calçados e sem portar objetos pesados em balança digital da marca Filizola e modelo PL18
(Indústria Filizola S/A, Brasil) com capacidade de 150 kg e precisão de 100g.
A estatura foi mensurada uma única vez através de um estadiômetro digital portátil da
marca Shoenle® (Kirchnner & Wilhelm, Medizintechnik, Alemanha), com precisão de 1 cm,
com os participantes descalços, a cabeça livre de adereços, no centro do equipamento, sendo
mantidos em pé, eretos, com os braços estendidos ao logo do corpo, com os calcanhares
juntos, com a cabeça no plano horizontal olhando para um ponto fixo na altura dos olhos e em
apnéia no momento da aferição. Os procedimentos seguiram as recomendações do Ministério
da Saúde (Brasil, 2004).
Variáveis de exposição
Socioeconômicas
A renda per capita foi obtida através das perguntas: a) ―Qual a renda familiar (dos que
moram com você)?‖, anotada em reais e b) Incluindo você, quantas pessoas moram na sua
casa?‖. Dividimos a renda familiar pelo número de pessoas, chegando à renda per capita, e
classificada em três estratos: até R$ 200,00; mais que R$ 200,00 até R$ 400,00 e mais de R$
400,00. A escolaridade foi classificada em ―nunca estudei‖, ―alfabetizado‖ e as séries
cursadas classificadas em três estratos: ―estudou até a série‖, ―da a 8ª série‖ e ―do ano
do ensino médio e mais‖. Como a idade mínima de inclusão na pesquisa foi de 12 anos,
consideramos que, para todos, ter cursado até a série significava exposição a risco. A cor
foi classificada em pretos, pardos e brancos.
Atividade física de lazer
Para avaliação de atividades físicas, foi utilizado o questionário sobre atividade física
de lazer, que contém perguntas sobre as atividades físicas realizadas nos últimos 15 dias,
discriminando a atividade, o número de vezes praticado por semana e o tempo gasto em cada
vez (Salles-Costa et al., 2003). Serão considerados sedentários aqueles que praticavam menos
106
de 150 minutos de atividade física de lazer semanal (Haskell et al., 2007 e Azevedo et al.,
2008)
Tabagismo e consumo de álcool
Os participantes foram classificados em ―não fumantes‖, ―ex-fumantes‖ e ―fumantes
atuais‖, a partir de perguntas propostas por Chor (1997). Foram considerados não fumantes
aqueles que responderam negativamente à pergunta: ―Você é ou foi fumante, ou seja,
fumou, ao longo da sua vida, pelo menos 100 cigarros (cinco carteiras de cigarros)?‖. Foram
considerados ex-fumantes aqueles que, tendo respondido afirmativamente a pergunta acima,
responderam a pergunta ―Você já tentou parar de fumar? como ―sim, sou ex-fumante‖.
Foram considerados fumantes atuais os que responderam a primeira pergunta afirmativamente
e a segunda pergunta com ―não‖, ou ―sim, mas voltei a fumar‖. Para consumo de álcool,
foram utlizadas as respostas do consumo de bebidas no questionário de freqüência alimentar
para adultos e para adolescentes.
Consumo alimentar em adultos
Para investigar o consumo alimentar habitual da população, foi aplicado um QSFA,
previamente validado por Sichieri et al. (1998),
em estudo realizado em 1994, em uma
amostra de 91 funcionários de Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
O QSFA selecionado (Anexo 2) constitui-se de uma lista de alimentos, suas
respectivas quantidades medidas em colheres de sopa, concha, pegador, unidade, pedaço,
fatia, copo, xícara, posta, filé ou dose, de acordo com o alimento em questão e as respectivas
opções de freqüência de consumo no ano anterior à entrevista, e apresenta 8 opções de
respostas: (1) mais de três vezes por dia; (2) duas a três vezes por dia; (3) uma vez por dia; (4)
cinco a seis vezes por semana; (5) duas a quatro vezes por semana; (6) uma vez por semana;
(7) uma a três vezes por mês e (8) nunca ou quase nunca.
Para verificar a adequação do QSFA selecionado à população estudada, foi realizado
no Estudo Piloto em um setor do PMF de Niterói. Aplicou-se o R24h em 96 indivíduos,
visando avaliar se todos os alimentos citados estavam contemplados no QSFA, e se as
freqüências e quantidades eram capazes de discriminar o consumo alimentar entre os
indivíduos da população. Os recordatórios de 24h foram aplicados por nutricionistas treinadas
da equipe em indivíduos que atendiam os mesmos critérios de inclusão do estudo CAMELIA.
Todos os alimentos citados no R24 constavam no QSFA.
107
Para calcular a freqüência diária de ingestão de alimentos, a frequência reportada foi
convertida em frequência diária como descrito no Quadro 7.
Quadro 7 Freqüência diária para cada opção de freqüência do QSFA
Opção para frequencia do QSFA
Cálculo
Frequência diária
Nunca ou quase nunca
-
0
1 a 3 vezes por mês
2 ÷ 30
0,07
1 vez por semana
1 ÷ 7
0,14
2 a 4 vezes por semana
3 ÷ 7
0,43
5 a 6 vezes por semana
5,5 ÷ 7
0,79
1 vez por dia
1 x 1
1
2 a 3 vezes por dia
2,5 x 1
2,5
Mais de 3 ou 4 vezes por dia
3 ou 4 x 1
3 ou 4
Fonte: Sichieri & Everhart, 1998
Consumo alimentar em adolescentes
Para determinar o consumo alimentar habitual dos adolescentes, utilizou-se um QSFA
elaborado para investigar o consumo de alimentos de adolescentes do Rio de Janeiro com 90
itens e 17 perguntas sobre hábitos alimentares, de caráter qualitativo
1
(Anexo 2). A
freqüência de consumo relatada para cada um dos itens alimentares incluídos no QSFA de
adolescentes foi transformada em freqüência diária, como descrito para o questionário dos
adultos (Quadro 7).
Araújo et al. (2008) avaliaram a confiabilidade desse QSFA comparando duas
aplicações e observaram que este instrumento é capaz de produzir resultados similares quando
aplicado mais de uma vez e os coeficientes de correlação foram adequados para avaliação do
relato de consumo de aproximadamente 95% dos alimentos incluídos, afirmando que esse
instrumento apresenta adequada confiabilidade para os adolescentes.
Criação dos grupos alimentares
Os itens dos QSFA utilizados para adultos e para adolescentes foram agrupados em
grandes grupos, a partir de sub-grupos, segundo critérios estabelecidos por Nettleton et al.
(2006) (Quadro 8). As freqüências de consumo dos alimentos incluídos em cada sub-grupo
foram somadas para cada participante. Os alimentos foram classificados e agrupados em sub-
grupos e grupos, de acordo com semelhanças nas características nutricionais, efeitos
biológicos e freqüência de consumo. Alguns alimentos constituíram grupos específicos
devido ao elevado consumo relatado, como, por exemplo, café e arroz. Os alimentos
agrupados estão descritos no Quadro 8.
1
O questionário foi fornecido pela coordenadora do Projeto Prato Virtual, Rosângela Alves Pereira
108
A partir desses grupos, foi criado um ―escore de padrão alimentar", definido como
positivo (+) os favoráveis à prevenção/tratamento das DCV; negativo (-), os desfavoráveis e
neutros aqueles nem favoráveis e nem desfavoráveis. Os positivos receberam peso 1, os
negativos , -1 e os neutros não foram considerados. Assim, a soma das freqüências de
consumo dos alimentos incluídos nos grupos favoráveis foi multiplicada por 1, a dos
desfavoráveis por 1 e a dos neutros não foi incluída. Tanto o agrupamento dos alimentos,
quanto a pontuação dos grupos foram realizados a partir do proposto por Nettleton et al.
(2008), adaptado por nutricionistas vinculadas ao CAMELIA (Quadro 8). Quanto mais
elevado for o resultado obtido do escore, mais saudável é o padrão alimentar (Nettleton et
al.,2008).
No presente estudo, fizemos algumas modificações em relação ao proposto por
Nettleton et al. (2008). Consideramos o grupo de álcool negativo por se tratar de um estudo
sobre obesidade que bebidas alcoólicas constituem fonte de energia e estão associadas à
obesidade.
109
Quadro 8 Grupos de alimentos usados na análise de padrões alimentares e escore de padrão
alimentar conforme características nutricionais, efeitos biológicos e freqüência de consumo
1
.
Grupos de
alimentos
Sub-grupos de alimentos
Escore
Alimentos
Vegetais
Frutas, abacate , tomate ,
folhosos , vegetais
crucíferos , vegetais
amarelo escuro, outros
vegetais, suco natural de
frutas
(+)
laranja ou tangerina, banana, mamão ou papaia, maçã,
melancia ou melão, abacaxi, abacate, manga, limão,
maracujá, uva, goiaba, pêra, suco de frutas, tomate,
alface, chicória, repolho, couve, couve-flor, abóbora,
cenoura, pimentão, chuchu, abobrinha, pepino, vagem,
quiabo, beterraba milho, cebola e alho, lentilha, ervilha
e grão-de-bico, azeitona, palmito
Carnes
vermelhas e
processadas
carne vermelha, carne
processada, carnes ou peixe
conservados em sal
(-)
vísceras, carne de boi com osso, carne de boi sem osso,
carne de porco, hambúrguer, churrasco, frios, salsicha,
carne seca, bacalhau
Gorduras
gorduras e óleos, batata
frita, chips e amendoim
(-)
manteiga, margarina, maionese, bacon, batata frita,
chips, amendoim
Bebidas
alcoólicas
cerveja e outras bebidas
alcoólicas
(-)
cerveja e vinho e outras bebidas alcoólicas
Bebidas
cafeinadas
refrigerante diet/light, mate,
café
(+)
refrigerante diet/light, mate, café, refrigerante comum
Açúcares
açúcar adicionado,
refrigerante comum,
sobremesas, sorvete ,
bebidas açucaradas,
achocolatado
(-)
açúcar adicionado, refrigerante comum, chocolate
barra, caramelo, pudim, bolo, sorvete, suco
industrializado, achocolatado
Aves e peixes
peixes, peixes enlatados,
aves,
(+)
peixe, camarão, atum e sardinha enlatados, frango
nuggets
Arroz e feijão
arroz, feijões
(+)
arroz, feijão
Ovos
ovos
(0)
ovos
Laticínios
Leite, iogurte,
queijo/requeijão
(+)
leite, iogurte, queijo/requeijão
Amidos e
lanches
Batatas cozidas, pão,
macarrão, lanches e
salgadinho, pizza
(-)
batata cozida, mandioca, inhame, pão, farinha, arroz,
macarrão integral, pão de sal, macarrão, farinha de
mandioca, pão doce, biscoito doce, biscoito salgado
polenta, pipoca, pizza, salgadinhos, hamburguer,
cachorro quente, sanduíche, pão de queijo
1. Adaptado de Nettleton et al. (2008).
Comorbidades
Foram classificados como hipertensos, diabéticos ou dislipidêmicos os indivíduos que,
na consulta médica, afirmaram já ter tido diagnóstico feito por um médico.
110
Métodos estatísticos
O programa SPSS versão 17 (SPSS Inc., Chicago, Estados Unidos) foi utilizado para
gerar as frequências das variáveis estudadas e estimar as associações brutas e ajustadas,
através dos Odds Ratios com o modelo de Equações de Estimação Generalizadas (GEE),
utilizando a regressão logística, sendo a variável depedende a presença ou ausência de
obesidade (categoria de referência). Para a agregação familiar, as correlações de obesidade
entre pares de familiares (―pais e filhos‖; ―irmãos‖ e ―pai e mãe‖) foram estimadas com a
rotina Family Correlationdo programa FCOR (disponibilizado pela Statistical Analysis for
Genetic Epidemiology S.A.G.E). Para a estimação da agregação familiar ajustada, adotamos
os procedimentos realizados por Ellison et al. (1999). Todas as variáveis associadas à
obesidade com nível de significância <0,10 foram consideradas na análise múltipla. A
modelagem final foi feita verificando-se em cada passo a significância estatística da inclusão
da variável. Foram mantidas nos modelos finais, cujos resíduos foram analisados no FCOR,
todas as variáveis que permaneceram associadas à obesidade ao nível de p 0,05.
Considerações Éticas
O Estudo CAMELIA foi submetido à comissão de Ética do Hospital Universitário
Antonio Pedro, e foi aprovado (CEP CMM/HUAP no 220/05). Os procedimentos para o
levantamento de dados estiveram de acordo com o preconizado na Resolução 196/96 do
Ministério da Saúde, respeitando os princípios da autonomia, privacidade e da não
maleficência. Antes da realização da entrevista e coleta de dados, cada indivíduo foi
informado sobre os objetivos da pesquisa, os procedimentos a serem realizados e foi
reafirmada a garantia de sigilo e anonimato dos participantes. A participação na pesquisa foi
condicionada à assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 1) por
responsável ou pelo indivíduo com idade igual ou superior de 18 anos.
111
Financiamento e Recursos
O estudo CAMELIA recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) para compra de kits para os exames bioquímicos, da
Fundação Municipal de Saúde para realização de exames de sangue e urina, e foram
concedidas bolsas de estudo pela Universidade Federal Fluminense, Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e FAPERJ.
Alguns dos resultados dessa dissertação foram obtidos utilizado o programa
FCOR/S.A.G.E, que conta com financiamento do governo americano (U.S. Public Health
Service Resource Grant (RR03655) from the National Center for Research Resources).
112
RESULTADOS
O presente estudo analisou 359 famílias, 187 (52,1%) completas (dados não
apresentados), ou seja, com pai, mãe e pelo menos um filho, totalizando 974 indivíduos. Mais
da metade da amostra era de mulheres e sua maioria era adulta (20 a 59 anos), predominando
indivíduos não brancos. Um terço da amostra declarou ter estudado até a rie. A maioria
dos participantes informou renda mensal per capita inferior a um salário mínimo, afirmou
nunca ter fumado e foi considerada sedentária. Afirmaram ter diagnóstico médico prévio de
hipertensão 26,7%, de dislipidemia, 22,5% e de diabetes, 9,5%. O percentual máximo de não
respondentes foi de 1,8% (Tabela 1).
113
Tabela 1 Freqüência descritiva de variáveis demográficas, socioeconômicas,
comportamentais, comorbidades e antecedentes familiares com excesso de peso. População
assistida pelo PMF de Niterói, Rio de Janeiro, Brasil 2006 a 2007 (n=974).
Variáveis
n
%
Sexo
Feminino
515
52,9
Masculino
459
47,1
Faixa etária
≤ 19 a
242
24,8
20 29 a
173
17,8
30 39 a
106
10,9
40 49 a
238
24,4
50 59 a
171
17,6
≥ 60 a
44
4,5
Cor da pele
1
Preto
242
25,2
Pardo
442
45,9
Branco
278
28,9
Escolaridade
2
Até 4ª série
312
32,1
Da 5ª a 8ª serie
357
36,7
1
o
ano do ensino médio e mais
303
31,2
Renda familiar per capita
3
Até R$ 200,00
442
46,2
Mais que R$ 200,00 até R$ 400,00
354
37,0
Mais de R$ 400,00
160
16,7
Fumo
4
Nunca fumou
631
64,8
Ex-fumante
172
17,7
Fumante atual
158
16,4
Atividade física de lazer leve, moderada ou intensa
5
150 minutos ou mais por semana
366
37,8
Menos de150 minutos por semana
601
62,2
Comorbidades
Hipertensão
Não
714
73,3
Sim
260
26,7
Diabetes
Não
881
90,5
Sim
93
9,5
Dislipidemia
Não
755
77,5
Sim
219
22,5
1.Doze participantes sem informação
2.Dois participantes sem informação
3.Dezoito participantes sem informação
4.Treze participantes sem informação
5. Sete participantes sem informação
114
Dos indivíduos estudados foram classificados como obesos 19,8% (n=193). A
obesidade foi mais freqüente no sexo feminino, sendo a razão de feminilidade de 1,60
(p=0,002) para os pais e de 1,10 (p=0,571) para os filhos (Tabela 2).
Tabela 2- Freqüência de presença ou ausência de obesidade de cada grupo de membro
familiar da população assistida pelo PMF de Niterói, Rio de Janeiro, Brasil 2006 a 2007
(n=974).
Membros familiares
Total n(%)
Pais
n(%)
Mães
n(%)
Filhas
n(%)
Filhos
n(%)
Obeso
54 (28)
88 (45,6)
31(16,1)
20 (10,4)
193 (19,8)
Não Obeso
222 (72)
192 (54,4)
203(83,9)
163 (89,6)
781 (80,2)
A Tabela 3 mostra as razões de chances brutas e ajustadas por idade e sexo de
obesidade, segundo as características demográficas, socioeconômicas, comportamentais e
comorbidades, calculadas por GEE. Apresentaram maior chance de obesidade as mulheres, os
indivíduos entre 30 a 59 anos, em relação aqueles com menos de 20 anos, os ex-fumantes, em
relação aos que fumam atualmente e os que apresentavam hipertensão, dislipidemia e
diabetes, todos com p 0,05, sendo, portanto, incluídos nos modelos de GEE múltiplo.
Observou-se ainda, maior chance de obesidade nos indivíduos que estudaram até a série,
em relação aos que estudaram até o ensino médio ou mais, naqueles com renda per capita
igual ou inferior a 1 salário mínimo e nos sedentários, embora com p>0,10.
115
Tabela 3 Odds Ratio (OR) bruto
1
e ajustado
2
para obesidade segundo características demográficas, socioeconômicas, comportamentais,
comorbidades. População assistida pelo PMF de Niterói, Rio de Janeiro, Brasil 2006 a 2007 (n=974)
Variável
Não obeso
N (%)
Obeso
N (%)
Odds ratio
Bruto (IC 95%)
valor-p
Odds ratio
Ajustado
2
(IC 95%)
valor-p
Sexo
Masculino
385 (83,9)
74 (16,1)
1
-
-
Feminino
396 (76,9)
119 (23,1)
1,563 (1,140-2,144)
3
0,006
-
-
Faixa etária
≤ 19 a
216 (89,3)
26 (10,7)
1
-
-
20 29 a
148 (85,5)
25 (14,5)
1,403 (0,750 2,626)
0,289
-
-
30 39 a
76 (71,7)
30 (28,3)
3,279 (1,894 5,678)
3
< 0,001
-
-
40 49 a
178 (74,8)
60 (25,2)
2,800 (1,664 4,713)
3
< 0,001
-
-
50 59 a
126 (73,7)
45 (26,3)
2,967 (1,672 5,265)
3
< 0,001
-
-
≥ 60 a
37 (84,1)
7 (15,9)
1.572 (0,647 3,817)
0,318
-
-
Cor da pele
Preto
195 (80,6)
47 (19,4)
1
Pardo
354 (80,1)
88 (19,9)
1,031 (0,671-1,586)
0,888
-
-
Branco
221 (79,5)
57 (20,5)
1,070 (0,674-1,699)
0,774
-
-
Escolaridade
1o ano do ensino médio e mais
244 (80,5)
59 (19,5)
1
-
-
Da 5ª a 8ª serie
293 (82,1)
64 (17,9)
0,903 (0,616-1,325)
0,603
-
-
Até 4ª série
243 (77,9)
69 (22,1)
1,174 (0,779-1,770)
0,443
-
-
Renda familiar per capita
Mais de R$ 400,00
133 (83,1)
27 (16,9)
1
-
-
> R$ 200,00 até R$ 400,00
275 (77,7)
79 (22,3)
1,415 (0,779-1,770)
0,147
-
-
Até R$ 200,00
358 (81,0)
84 (19,0)
1,156 (0,616-1,325)
0,561
-
-
Fumo
Fumante atual
134 (84,8)
24 (15,2)
1
1
Ex-fumante
124 (72,1)
48 (27,9)
2,161 (1,283-3,641)
3
0,004
2,029 (1,198 3,473)
3
0,008
Nunca fumou
512 (81,1)
119 (18,9)
1,298 (0,818-2,060)
0,269
1,762 (1,061 2,925)
3
0,029
Atividade física de lazer leve, moderada ou intensa
150 minutos ou mais por semana
302 (86,7)
64 (13,3)
1
-
-
< 150 minutos por semana
473 (78,7)
128 (21,3)
1,277 (0,908-1,796)
0,160
-
-
Hipertensão
Não
619 (86,7)
95 (13,3)
1
1
Sim
162 (62,3)
98 (37,7)
3,942 (2,799-5,551)
3
<0,001
3,679 (2,432 5,564)
3
< 0,001
Diabetes
Não
720 (81,7)
161 (18,3)
1
1
Sim
61 (65,6)
32 (34,4)
2,346 (1,475-3,731)
3
<0,001
1,778 (1,089 2,902)
3
0,021
Dislipidemia
Não
641 (84,9)
114 (15,1)
1
1
Sim
140 (63,9)
79 (36,1)
3,175 (2,250-4,474)
3
<0,001
2,663 (1,803 3,933)
3
< 0,001
1. Calculado por GEE; 2. Ajustado por sexo e idade; 3. Valor p≤0,05
116
Na Tabela 4, são descritas as razões de chances brutas e ajustadas de obesidade
segundo consumo de grupos alimentares e escore de padrão alimentar, calculadas por GEE.
Para avaliação da significância estatística foi considerado o valor de p < 0,10. As razões de
chance brutas demonstram associação estatisticamente significativa para os grupos: ―vegetais‖
(obesos consumiram mais), ―açúcares‖ e ―arroz e feijão‖ (obesos consumiram menos), e para
o ―escore de padrão alimentar‖ (p<0,001). Além desses alimentos também foram incluídos
nos modelos múltiplos as carnes vermelhas e processadas‖, amidos e lanches‖ (obesos
consumiram mais), e ―gorduras‖ (obesos consumiram menos) com p<0,10. Os obesos
apresentaram maior chance de ―escore de padrão alimentar‖ mais elevado, indicando uma
alimentação mais saudável. Após ajuste para sexo e idade apenas o grupo alimentar ―amido e
lanches‖ e o ―escore de padrão alimentar‖ apresentaram p<0,10, não sendo incluídos nos
modelos seguintes.
Tabela 4 Odds Ratio (OR) bruto
1,2
e ajustado
2,3
do consumo por grupos de alimentos
segundo presença ou não de obesidade
4
. População assistida pelo PMF de Niterói, Rio de
Janeiro, Brasil 2006 a 2007.
Grupos alimentares
OR bruto
1
Valor p
OR ajustado
3
Valor
p
Vegetais
1,079 (1,037 - 1,121)
<0,001
1,047 (1,004 - 1,093)
5
0,033
Carnes vermelhas e processadas
1,190 (0,986 - 1,438)
0,070
1,254 (1,023 - 1,537)
5
0,030
Bebidas alcoólicas
1,124 (0,813 - 1,544)
0,478
-
-
Bebidas cafeinadas
1,000 (0,885 - 1,131)
0,994
-
-
Açúcares
0,848 (0,777 - 0,927)
<0,001
0,893 (0,816 - 0,977)
5
0,014
Aves e peixes
0,954 (0,682 - 1,335)
0,783
-
-
Amidos e lanches
1,065 (0,996 - 1,140)
0,065
1,050 (0,973 - 1,133)
0,212
Gorduras
0,882 (0,767 - 1,014)
0,077
0,992 (0,855 - 1,150)
5
0,091
Laticínios
0,906 (0,783 - 1,049)
0,186
-
-
Ovos
1,023 (0,591 - 1,771)
0,936
-
-
Arroz e feijão
0,806 (0,716 - 0,907)
<0,001
0,868 (0,759 - 0,992)
5
0,037
Escore de padrão alimentar
“CAMELIA”
1,053 (1,022 - 1,086)
<0,001
1,024 (0,987 - 1,061)
0,203
1. Total 958 16 participantes não responderam o QSFA
2. GEE
3. Ajustado por sexo e idade
4. Obesidade definida por IMC 30kg/m
2
5. Valor p<0,10
117
Na Tabela 5 são apresentados três modelos múltiplos de GEE com presença ou
ausência de obesidade como variável resposta. No primeiro, incluindo sexo, idade e
comorbidades, todos mantiveram a associação estatisticamente significativa com obesidade,
exceto diabetes. Os resíduos deste foram utilizados para modelar a agregação familiar,
controlando por variáveis socioeconômicas e comorbidades, no FCOR (Modelo 1 da Tabela
6). No segundo modelo, além do sexo, hipertensão e dislipidemia foi incluído o fumo, e todas
mantiveram significância estatística (valor-p 0,05). Seus resíduos foram para o Modelo 2
controlando também por hábitos de vida (Tabela 6). Por fim, foram incluídos os grupos de
alimentos ―vegetais‖, ―carnes vermelhas e processadas‖, ―gorduras‖, ―açúcares‖ e ―arroz e
feijão‖, onde somente o segundo manteve significância estatística (valor-p≤0,05). Seus
resíduos foram para o Modelo 3 controlando também para hábitos alimentares (Tabela 6).
118
Tabela 5 Odds Ratio (OR) ajustados
1
para obesidade
2
e variáveis demográficas, comportamentais, comorbidades e grupos alimentares.
População assistida pelo PMF de Niterói, Rio de Janeiro, Brasil 2006 a 2007.
Variáveis
Modelo 1
3
valor-p
Modelo 2
4
valor-p
Modelo 3
5
valor-p
OR (IC 95%)
OR (IC 95%)
OR (IC 95%)
Demográficas
Sexo
1,684 (2,365-1,199)
6
0,003
1,673 (1,187 - 2,358)
6
0,003
1,574 (1,071 - 2,313)
6
0,021
Idade
0,999 (0,9861,002)
0,875
-
-
Comorbidades
Hipertensão
3,213 (2,117- 4,875)
6
0,001
3,178 (2,170 - 4,655)
6
<0,001
2,851 (1,902 - 4,274)
6
<0,001
Diabetes
1,110 (0,661 1,865)
6
0,693
-
-
Dislipidemia
2,162 (1,428 3,274)
6
0,001
2,137 (1,4351 - 3,182)
6
<0,001
2,072 (1,368 - 3,138)
6
0,001
Hábitos de Vida
Fumante atual
1
1
Não fumante
1,560 (0,948 - 2,564)
0,079
1,694 (1,025 - 2,798)
6
0,040
Ex-fumante
1,758 (0,999 - 3,094)
0,050
1,699 (0,961 - 3,005)
0,068
Grupos de alimentos
Vegetais
1,029 (0,980 - 1,080)
0,253
Carnes vermelhas e processadas
1,327 (1,017 - 1,730)
6
0,037
Açúcares
0,921 (0,837 - 1,014)
0,095
Gorduras
1,025 (0,873 - 1,205)
0,760
Arroz e feijão
0,856 (0,733 -1,001 )
0,051
1. OR ajustados por GEE
2. Obesidade definida por IMC 30kg/m
2
3.Modelo 1: incluídas as variáveis sexo, idade e comorbidades (hipertensão, diabetes e dislipidemia)
4.Modelo 2: incluídas as variáveis sexo, comorbidades (hipertensão e dislipidemia) e fumo
5.Modelo 3: incluídas as variáveis do modelo 2 que permanceram significativamente associadas (valor p0,05) e os grupos de alimentos significativamente
associadas à obesidade (valor p<0,10) (“vegetais”, “carnes vermelhas e processadas”, “açúcares”, “gorduras” e “arroz e feijão”) (Tabela 5).
6.valor p≤0,05
As correlações familiares brutas e ajustadas de obesidade são apresentadas na
Tabela 6. A correlação bruta de obesidade entre ―pais e filhos‖ e ―mãe e pai‖ foram
semelhantes, 0,152 e 0,163, respectivamente, e entre ―irmãos‖ 0,206. Os resíduos dos
três modelos ajustados representam a variação da obesidade não explicada pelas
variáveis incluídas em cada um deles. Estes, quando trabalhados pelo FCOR, traduzem
a correlação familiar entre pares, independente das variáveis incluídas em cada ajuste. A
correlação ajustada no modelo 1 diminuiu para ―pais e filhos‖, mas manteve-se
constante entre ―irmãos‖ e aumentou para ―mãe e pai‖. Tais observações indicam que,
entre ―pais e filhos‖, a correlação do conjunto de variáveis controladas era maior do que
a correlação bruta para obesidade, e, entre mãe e pai‖, menor. Quando controlado
também pela variável fumo (Modelo 2), houve alteração da correlação somente entre
irmãos, indicando que nesse par o fumo exerceu pequena influência para a agregação da
obesidade. No modelo 3, houve pequena elevação da correlação entre ―pais e filhos‖ e
entre ―mãe e pai‖, indicando reduzida influência da alimentação na correlação entre
esses pares familiares e obesidade. Entre ―irmãos‖, foi observada uma diminuição da
correlação. Todas as correlações estimadas apresentaram valor p 0,05 à exceção da
última (Tabela 6).
II
Tabela 6 Correlações brutas
1
e ajustadas
1,2,3,4
entre pares familiares e obesidade da
população assistida pelo PMF de Niterói, Rio de Janeiro, Brasil 2006 a 2007.
Pais e filhos
Irmãos
Mãe e pai
No de pares
629
127
184
Correlação Bruta
Correlação (EP)
0,152 (0,043)
0,206 (0,088)
0,163 (0,072)
valor-p
<0,001
0,022
0,026
Modelo 1
2
Correlação (EP)
0,096 (0,046)
0,210 (0,088)
0,187 (0,071)
valor-p
0,031
0,021
0,011
Modelo 2
3
Correlação (EP)
0,092(0,044)
0,184 (0,089)
0,189 (0,071)
valor-p
0,039
0,042
0,010
Modelo 3
4
Correlação (EP)
0,099 (0,045)
0,165 (0,092)
0,201 (0,071)
valor-p
0,029
0,078
0,006
1. Teste estatístico aplicado: GEE
2. Modelo 1: incluídas as variáveis sexo, hipertensão e dislipidemia
3. Modelo 2: incluídas as variáveis sexo, hipertensão, dislipidemia e fumo
4. Modelo 3: incluídas as variáveis do modelo 2 e a variável dietética significativamente
associada à obesidade (“carnes vermelhas e processadas”)
III
DISCUSSÃO
No presente estudo, identificou-se agregação familiar de obesidade para os
diferentes pares familiares. Os resultados estão de acordo com outros estudos que
mostraram AF do IMC/obesidade (Guillaume et al., 1995; Rotimi et al.,1995; Knuiman
et al., 1996; Gigante et al., 1997; Pérusse et al., 1998; Fuentes et al., 2002, Hunt et al.,
2002; Mirmiram et al., 2002; Wu et al., 2003; Park et al., 2004; Jacobson et al., 2007).
A correlação bruta entre ―mãe e pai‖ foi de 0,163 (valor-p=0,026) e, depois de
ajustada por sexo e comorbidades, subiu para 0,187 (valor-p=0,009). Vários estudos
abordando a correlação entre IMC ou obesidade entre casais apontam magnitudes
semelhantes. Di Castelnuovo et al. (2009) publicaram uma revisão sistemática e
metanálise de estudos publicados a2008 sobre correlação de fatores de risco para
doenças cardiovasculares entre casais, entre eles o IMC. A medida resumo de 19
estudos para a correlação do IMC entre casais foi de 0,15. Identificamos alguns estudos
não incluídos na revisão de Di Castelnuovo et al. (2009), com resultados semelhantes
(Jeffery et al.,2002; Lee et al., 2003), e apenas um estudo não incluso nesta metanálise
encontrou uma correlação de 0,08 na população estudada (Vizcaíno et al., 1999).
Entre casais, não há reflexo de fatores genéticos, mas sim de fatores ambientais e
as causas da correlação de obesidade podem derivar do ―assortative mating (aqui
traduzido como formação de casais baseada nas características externas e culturais) e/ou de
fatores ambientais reforçados pela coabitação (Di Castelnuovo et al., 2009). Tais
influências variam segundo o período e a população estudada, havendo resultados
discordantes na literatura, alguns mostrando haver maior participação do assortative
mating‖, uma vez que a correlação diminuía com o tempo de coabitação (Knuiman et
al., 1996), e outros apontando na direção contrária (Inoue et cols, 1996; Lee et al.,
2003), sugerindo elevada influência ambiental nesta característica (Lee et al., 2003).
No presente estudo, encontrou-se maior correlação bruta entre irmãos (0,206) do
que entre pais e filhos (0,152). Ressalta-se que os filhos abrangeram não somente
adolescentes, mas também adultos com idade entre 20 a 30 anos. Para uma variável cuja
variação fosse totalmente atribuível a efeitos genéticos, a magnitude das correlações
IV
entre ―irmãos‖ e entre ―pais e filhos‖ deveria ser próxima e a de casais deveria ser nula.
Quando a correlação entre casais é similar ou superior àquela entre pais e filhos, ou
entre irmãos, a hipótese mais forte é que elevada influência ambiental (Lee et al.,
2003). No presente estudo, a correlação entre casais (―mãe e pai‖) foi semelhante à
encontrada entre ―pais e filhos‖, e inferior à encontrada entre ―irmãos‖. Tal padrão de
correlação foi similar ao encontrado em outros estudos (Rotimi et al., 1995; Pérusse et
al., 2000). Na coorte de Framingham, Lee et al. (2003), também observaram correlações
menores entre ―casais‖, encontrando correlação entre ―casais‖ de 0,16 nas visitas
realiadas entre 1971 e 1975, passando a 0,34 na visita de 1984-1987; entre ―pais e
filhos‖, de 0,21, que passou a 0,17; e entre ―irmãos‖, de 0,26, que passou a 0,18. Isto
sustenta uma influência maior de fatores ambientais. Os estudos de Knuiman et al.
(1996), com população australiana, e Wu et al. (2003), com população tailandesa,
apontam para a direção oposta. As correlações entre ―casais‖ foram de 0,10 e 0,08
respectivamente, enquanto a de ―pais e filhos‖ e ―irmãos‖ foram maiores ou iguais a
0,20 em ambos os estudos.
Nossos resultados apontam para uma maior participação ou influência de
variáveis ambientais do que genéticas na AF da obesidade.
A obesidade está associada a fatores socioeconômicos, de hábitos de vida e de
comorbidades, além de possível influência genética (Vieira et al., 2008). No presente
estudo, encontramos aproximadamente 20% de indivíduos obesos, superior ao
observado na POF 2002-2003 (10,5%) (IBGE, 2004) e no Vigitel 2006 (Brasil, 2007)
para o estado do Rio de Janeiro (12,5%). Tal fato era esperado porque a freqüência de
hipertensos na amostra estudada foi maior que a esperada para a população total e,
como associação entre as duas condições, esperava-se que também a frequência de
obesidade fosse mais elevada.
Os fatores sócio-demográficos associados à obesidade incluem: sexo, idade,
escolaridade e cor da pele (Vieira et al., 2008). A freqüência de obesidade, no presente
estudo, foi significativamente mais elevada nas mulheres (23,1%) que nos homens
(16,1%) (p=0,006). Segundo Francischi et al. (2000), o aumento da incidência da
obesidade está distribuído em ambos os sexos. Porém, sua prevalência é superior em
mulheres em diferentes culturas (Abrantes et al., 2003; IBGE, 2004; Nishida et al.,
2005; Hajian-Tilaki et al.,2007).
No nosso estudo, observamos que a freqüência de obesidade tende a aumentar
com a idade, apresentando freqüências mais elevadas nas faixas etárias entre 30 e 59
V
anos. Vários estudos apontam para o aumento da freqüência de obesidade com a idade
(OMS, 1995; Gigante et al., 1997; Francischi et al., 2000; Abrantes et al., 2003; IBGE,
2004; Nishida et al., 2005; Brasil, 2007).
Sichieri et al. (1997), Francischi et al. (2000) e Pinheiro et al. (2004)
observaram, em população brasileira, que a obesidade predominava entre famílias de
baixa renda, porém, dados da POF 2002-2003 (IBGE, 2004), observou-se maior
freqüência de obesos com maior renda per capita familiar. Monteiro et al. (2004)
corroboram nesta direção, afirmando que os mais pobres apresentariam um gasto
energético mais elevado associado à locomoção e ocupação, fato que os impediria de
ficarem obesos. As associações entre obesidade e fatores socioeconômicos estimadas no
presente estudo foram fracas e não estatisticamente significativas, indicando, porém,
que a chance de obesidade foi maior em pessoas com menor grau de escolaridade (até a
série) e baixa renda per capita (> R$ 200,00 até R$ 400,00), mesmo quando
considerados somente os maiores de 19 anos (dados não apresentados). A relação dos
determinantes sociais na gênese da obesidade é bastante complexa e multifatorial e vem
demonstrando ser bidirecional, onde uma baixa condição econômica determina o
aumento da prevalência da obesidade, enquanto que uma alta prevalência de obesidade
contribuiria para reduzir a condição econômica, devido a limitações funcionais, estéticas
e culturais (Pinheiro et al., 2004).
No Brasil, ocorreu mudança substancial na tendência secular da obesidade,
segundo os níveis de escolaridade da população entre 1975 a 1989, na qual a
prevalência da obesidade foi ascendente em todos os níveis de escolaridade, tendendo a
ser maior nos indivíduos de maior escolaridade; porém, no período entre 1989 a 1997, a
obesidade aumentou substancialmente nos indivíduos sem escolaridade (Monteiro et al.,
2003) e escolaridade aumentada representa efeito protetor para obesidade (Perozzo et
al., 2008), fato que sugere que quanto maior o nível de escolaridade, maior é o
conhecimento a respeito das conseqüências da obesidade e das formas de prevenção,
além de as pressões sociais e familiares serem maiores no sentido de manter a imagem
corporal.
A população aqui estudada é mais homogênea devido à similaridade entre
características sociais, culturais, econômicas e acesso a serviços de saúde, quando
comparada àquelas de estudos populacionais com amostras probabilísticas, o que pode
justificar a baixa associação encontrada entre obesidade, educação e renda.
VI
Não encontramos associação entre cor da pele e obesidade. Segundo dados da
população brasileira (IBGE, 2004), observaram maior prevalência de obesidade nos
homens brancos (10,2%) quando comparados aos negros ou pardos (7,4%) e nenhuma
diferença entre as mulheres brancas, negras ou pardas. Porém, estudos evidenciaram
aumento da incidência da obesidade distribuído em quase todas as raças na população
brasileira (Gigante et al., 1997; Francischi et al., 2000).
Entre obesidade e inatividade física, observamos associação positiva, porém
fraca e não estatisticamente significativa. A atividade física acompanha o ritmo da vida
moderna, ou seja, é cada vez maior o número de pessoas inativas que apresentam
quadro favorável ao incremento das taxas de sobrepeso e obesidade (Rêgo & Chiara,
2006). A obesidade e o sedentarismo representam problemas importantes para a saúde
pública, tanto pelo aumento acelerado em suas prevalências como pela associação com
efeitos adversos à saúde cardiovascular e metabólica em idades cada vez mais precoces
(Silva et al., 2008). Estudos epidemiológicos e coorte têm demonstrado forte associação
entre obesidade e inatividade física (Wareham et al., 1998; Ciolac e Guimarães, 2004),
assim como tem sido relatada associação inversa entre atividade física e índice de massa
corpórea (IMC) (Ciolac et al.,2004; Besson et al., 2009).
Identificamos associação positiva, porém fraca e não estatisticamente
significativa, entre obesidade e consumo de álcool. Na análise considerando somente
adultos, observou-se uma associação negativa entre freqüência de ingestão de álcool e
obesidade entre mulheres e positiva entre homens, porém sem alcançar associação
estatisticamente positiva (dados não apresentados). Estudos sobre a relação entre o
consumo de bebidas alcoólicas e obesidade são controversos. Panagiotakos et al. (2004)
observaram associação positiva. Segundo Westerterp-Plantenga et al. (1999) indivíduos
que bebem moderadamente tendem a comer mais do que os não bebedores. Embora
estudos tenham observado associação inversa (Williamson et al., 1987; Liu et al., 1994)
e associação inexistente (Marins et al., 2001; Artalejo et al., 2002; Tur et al., 2005).
Ainda, em um estudo francês com 1268 mulheres e 1055 homens, com idade entre 35 a
60 anos, o IMC foi menor entre os bebedores leves a moderados e aumentou entre os
abstêmicos e bebedores abusivos, sendo o resultado estatisticamente significativo para
os homens, quando se considerou o consumo total de álcool, e, para ambos os sexos
quando a ingestão de vinho foi analisada (Lukasiewicz et al., 2005). Em relação à
associação entre o consumo de bebida alcoólica e obesidade, pode haver o efeito da
VII
causalidade reversa, pois indivíduos obesos podem ter parado de consumir bebidas
alcoólicas como meio de diminuir a ingestão de energia (Henn, 2006).
Observamos no presente estudo, associação positiva entre não fumantes
(incluindo ex-fumante) e obesidade. O aumento ponderal decorrente da cessação do
tabagismo é uma das dificuldades apontadas para a manutenção da abstinência,
principalmente em mulheres. Além disso, os depósitos de gordura tendem a ser do tipo
central, fator de risco bem determinado para doenças cardiovasculares, diabete e
aumento da mortalidade em geral (Chatkin et al., 2007). A inter-relação entre tabagismo
e peso corporal está sedimentada através de vários estudos bem delineados e
publicados, em sua maioria, na década de 90 (Klesges et al., 1997; Froom et al., 1998).
Fumantes freqüentemente apresentam menores índices de massa corporal, quando
comparados a não fumantes, pareados por sexo e idade. Além disso, estudos
transversais, observaram significativa relação inversa entre o uso regular de tabaco e o
peso corporal, tendendo este a ser mais baixo entre os fumantes quando comparados aos
não fumantes (Albanes et al., 1987; Gigante et al. (1997); Molarius et al., 1997; Klesges
et al., 1998; Lahti-Koski et al., 2002). A cessação do tabagismo resulta em aumento de
peso corporal, fato observado em alguns estudos (Froom et al., 1998; O‘Hara et al.,
1998; Pomerleau et al., 2000; Klein et al., 2004; Eisenberg et al., 2006).
Nos indivíduos avaliados no presente estudo, as comorbidades referidas
(hipertensão, diabetes e dislipidemia) foram positivamente associadas à obesidade. A
obesidade predispõe a diversos fatores de riscos cardiovasculares, incluindo hipertensão
e diabetes (Mann et al., 2005; Thomas et al., 2005; EUFIC, 2009) e a elevação nos
níveis de colesterol total, de triglicerídeos, de LDL-colesterol, e nível reduzido de HDL-
colesterol (Dattilo et al.,1992; Field et al., 2001; Matamoros et al., 2001; Thomas et al.,
2005; Mann et al., 2005; EUFIC, 2009). A associação entre obesidade e hipertensão
está bem documentada (Kannel et al., 1967; Asheley et al., 1974; Stamber et al., 1978;
Paeratakul et al., 2002; Mokdad et al., 2003). No caso do diabetes mellitus tipo 2, a
obesidade constitui o maior risco para seu desenvolvimento, podendo elevar este risco
em 10 vezes (Francischi et al., 2000), à medida que o aumento do IMC (Pi-Sunyer,
2002; Parillo et al., 2004).
No Brasil, os padrões alimentares variam entre as diferentes regiões brasileiras,
dependendo do clima, das condições de produção de alimentos, das condições sócio-
econômicas da população e de suas características culturais. Porém, de maneira geral, o
padrão alimentar brasileiro vem sofrendo grandes modificações, caracterizadas por
VIII
redução da participação na dieta dos alimentos básicos e pelo aumento do consumo de
carnes e leites e derivados e de alimentos industrializados riscos em gordura, sal e
açúcar (Brasil, 2007).
Os dados encontrados aqui demonstram associação positiva estatisticamente
significativa entre obesidade e o consumo de vegetais e carnes vermelhas e processadas,
porém inversamente significativa, entre o consumo de alimentos altamente energéticos
(açúcares) e do arroz e feijão.
Sichieri et al. (2003) exploraram os padrões alimentares, suas associações com
fatores socioeconômicos, demográficos, atividade física de lazer e com o excesso de
peso com base na pesquisa sobre padrões de vida realizada no nordeste e sudeste do
Brasil no período entre 1996 e 1997 com 5121 adultos de idade entre 20 e 50 anos.
Encontraram associação positiva entre o IMC e o padrão misto, caracterizado por não
incluir arroz, feijão, farinha e açúcar. Estes dados convergem com os do presente
estudo, que também encontramos associação inversamente significativa entre
obesidade e o consumo do grupo de arroz com feijão e açúcares, exceto para o grupo
que incluía farinha, que apresentou associação positiva para obesidade, porém sem
significância estatística.
Os resultados encontrados no presente estudo também divergem de outros
estudos quanto à associação entre o consumo de frutas e vegetais e obesidade (Bes-
Rastrollo et al., 2006; Greenwood et al., 2008). Bes-Rastrollo et al. (2006) avaliaram a
associação entre a ingestão de fibras, frutas e vegetais com a probabilidade de ganho
de peso ao longo de 5 anos após análise transversal de 5094 homens e 6613 mulheres de
um estudo prospectivo realizado na Espanha, e observaram inversa associação
significativa entre o consumo de fibras, frutas, vegetais e ganho de peso. Greenwood et
al. (2008) afirmam que o consumo de alimentos de baixa densidade energética, como
frutas e legumes, pode ajudar a manter ou perder peso e não aumentá-lo.
Como estes estudos foram longitudinais, possívelmente puderam aferir que o
consumo de frutas e vegetais viria antes de um possível ganho de peso. o presente
estudo, não acompanhou o consumo alimentar ao longo do tempo, sugerindo, portanto,
que o maior consumo de frutas e vegetais por parte dos indivíduos obesos, seja
provavelmente posterior a obesidade, o que explicaria a diferença de resultados.
Um estudo longitudinal realizado em Baltimore estudou-se a etiologia
nutricional na mudança do IMC em 459 mulheres e homens e observou-se que, um
elevado consumo de frutas, vegetais, laticínios com reduzido teor de gordura, grãos
IX
integrais e reduzido consumo de carnes vermelhas e processadas, fast-food e
refrigerante, foi associado com menores ganhos do IMC (Newby et al., 2003). Tal
resultado foi discordante do obtido no presente estudo, que encontramos a associação
positiva para obesidade para o consumo maior dos grupos ―vegetais‖ e de ―carnes
vermelhas e processadas‖, com significância estatística. Ziegler et al. (2000) reforçam a
associação positiva entre o consumo de proteína, visto que carnes constituem alimentos
fontes deste macronutriente, quando observaram um consumo elevado de proteínas em
crianças como um fator de risco significativo para obesidade tardia. Maskarinec et al.
(2000), também observaram associação significativamente positiva entre o IMC e o
padrão ―carne(r=0,17; p=0,0001). Willians et al. (2000) analisaram 379 homens e 423
mulheres com idade entre 40 e 69 anos participantes do Isle of Ely Sutdy no Reino
Unido e identificaram quatro tipos de padrões alimentares, porém apenas o que
apresentou correlação estatisticamente significativa com o IMC (r=0,09; p<0,05) foi o
de ovos, queijos e carnes processadas.
Lobato et al. (2009) investigaram a correlação entre o consumo de carboidratos
refinados e gorduras e a prevalência de obesidade em 26 capitais brasileiras nos adultos
com idade entre 20 e 59 anos de 48470 famílias e observaram que o consumo de frutas e
vegetais apresentou correlação positiva não significativa para obesidade e que o
consumo de carboidratos refinados parece exercer papel relevante na prevalência de
obesidade. Estes dados sustentam o que foi encontrado neste estudo quanto ao consumo
de ―vegetais‖, porém são conflitantes, visto que, apesar de não apresentar significância
estatística, o consumo de ―amido e lanches‖ foi inversamente associado à obesidade,
assim como o grupo dos ―açúcares‖, embora este tenha apresentado associação inversa
com significância estatística.
Na tentativa de compreender o comportamento alimentar da população estudada
e sua associação com a obesidade é importante conhecer os fatores que norteiam o
comportamento alimentar e sua interface com a obesidade. Segundo Bernardi et al.
(2005), o indivíduo obeso, do ponto de vista psicológico, apresenta sofrimento
decorrente dos problemas relacionados ao preconceito social e à discriminação contra a
obesidade e que a sua ingestão alimentar parece ser influenciada por diferentes
condições emocionais, que consomem mais alimentos em situação de estresse
emocional e ainda ressalta que a influência dos aspectos socioculturais é marcante.
Sobre o comportamento alimentar ainda descrevem que os obesos referem ingestão
alimentar compatível com os parâmetros da normalidade. Portanto, é extremamente
X
difícil medir a quantidade e tipo de alimentos consumidos por estes indivíduos. No
presente estudo, não foram avaliados os aspectos emocionais que podem exercer grande
influência no comportamento alimentar.
Ainda com base na discordância dos resultados encontrados no presente estudo
da associação entre obesidade e consumo de grupos alimentares, é importante ressaltar
também que a população estudada é diferenciada por estar inserida em um programa de
assistência à saúde, PMF, o que reforça a possível influência do processo de educação
em saúde por este programa, que promove ações em saúde através de estratégias de
intervenção no combate aos principais fatores de risco de doenças crônicas, que o
consumo alimentar habitual constitui um dos principais fatores determinantes passíveis
de modificação para DCNT (Sartorelli et al., 2006). Esta característica reforça a
possibilidade de o estado de obesidade determinar o consumo alimentar e não vice-
versa, ou seja, a exposição sendo resultado da doença (―causalidade reversa‖).
Ajustamos as correlações entre pares familiares por sexo, idade, comorbidades,
fumo e grupos alimentares. Observamos pouca contribuição dessas variáveis, à medida
que as diferenças entre as correlações brutas e ajustadas foram pequenas.
Padrões familiares de adiposidade implicam a contribuição genética, mas fatores
genéticos operam no contexto ambiental para produzir fenótipos. Bouchard e Perussé
(1988) estudaram a importância relativa dos componentes genéticos e não genéticos
herdados e efeitos não transmissíveis no fenótipo IMC após controle por idade e gênero.
Os dados obtidos de 1698 indivíduos de 409 famílias revelaram uma variância total
transmissível através das gerações de aproximadamente 35%. Portanto, de maneira
geral, estes dados indicam que a correlação familiar de IMC não é caracterizada por um
componente hereditário predominante (Bouchard, 1991). Apesar de nossos dados
apontarem para a mesma direção, não foi possível identificar os fatores ambientais que
contribuíssem para essa agregação.
Não localizamos estudos que apresentassem correlações brutas e ajustadas de
obesidade ou IMC entre pares familiares. O fumo não apresentou uma associação linear
com obesidade, o que poderia justificar a baixa contribuição deste fator para a
correlação entre pares famililares de obesidade. Quanto ao consumo alimentar a
associação com obesidade foi positiva para vegetais e carnes vermelhas e negativa para
arroz com feijão e açúcar, podendo também justificar a não contribuição desse fator. É
importante ressaltar que indivíduos obesos tendem a referir uma ingestão alimentar
compatível com os parâmetros da normalidade e que o estado de obesidade pode
XI
determinar o consumo alimentar e não vice-versa (Bernardi et al., 2005).Temos também
que considerar a hipótese de os instrumentos utilizados não terem sido acurados para
estimar a freqüência de hábitos de vida para esta população. O QSFA contempla de
forma satisfatória seu uso em estudos epidemiológicos por ser de fácil aplicação, baixo
custo e capaz de caracterizar a dieta habitual dos indivíduos. No entanto, apresenta
algumas limitações por depender da memória dos hábitos alimentares passados,
demandar esforço e tempo, sofrer interferências em analfabetos e idosos, além de a
informação passada sofrer viés da informação atual (Fisberg et al., 2005).
XII
CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS
Para as hipóteses relacionadas à influência de fatores ambientais e à interação
entre fatores genéticos e familiares, inferências causais fortes têm necessidade de que a
antecedência da exposição em relação ao início da doença seja claramente estabelecida
no estudo (Susser et al.i 1989). No presente estudo, tal pressuposto não pode ser
garantido em filhos que não moram com os pais, no entanto esse é um pequeno
percentual do total de filhos.
Um dos limites do desenho aqui adotado é que os casos são identificados em
locais onde estão sendo tratados, não representando, portando, a totalidade os casos
(Susser et al., 1989). Tal limite é minimizado com o desenho aqui proposto. No
Programa Médico de Família, é feito cadastro dos moradores adscritos com coleta de
rápida história patológica pregressa. Para aqueles moradores que não são encontrados,
há o relato do familiar. A condição de saúde é identificada no cadastro, mesmo que este
morador não compareça à consulta agendada para confirmação do diagnóstico. Esse
cadastro é que originou o ―censo‖ a partir do qual foram selecionados aleatoriamente os
casos e controles (moradores não incluídos nos cadastros de hipertensos e/ou diabéticos)
da presente pesquisa; nos três primeiros módulos e nos demais módulos, foram
convidados todas as famílias que atendiam aos critérios de seleção.
Outro viés a ser considerado é o de classificação, pois os atributos dependem de
fatores familiares: tamanho da família, relações biológicas com o caso índice,
distribuição das idades dos familiares, assim como a prevalência da desordem (Khoury,
1993). Para tentar minimizar esse viés, estabelecemos que fossem incluídos de um a três
filhos de cada família e as relações familiares se restringiram a marido e mulher e pais e
filhos.
Vieses de seleção devido aos desvios do protocolo do estudo
Logo nos primeiros módulos visitados, pôde-se perceber o processo de seleção
não iria suprir todas as expectativas do projeto com relação ao número necessário de
XIII
participantes com índices de cada condição. Passou-se então a convidar todos os
elegíveis. Em princípio, esse procedimento não aumenta a probabilidade de viés de
seleção. No entanto, dado o alto número de não comparecimentos, podemos supor que
os que compareceram não representam uma amostra aleatória de todos os elegíveis. Por
exemplo, pode-se supor que os participantes que compareciam aos módulos nos dias de
visita do módulo do PMF rotineiramente ou que mantinham um vínculo com os
profissionais do setor foram os que mais compareceram. Por outro lado, a oportunidade
de fazer exames num sábado pode ter atraídos àqueles que não compareciam às
consultas costumeiramente e também àqueles extremamente preocupados com sua
saúde. Essa observação nos permite concluir que as estimações relativas à adesão aos
tratamentos terão que ser analisadas com o máximo de cuidado.
Limitações do estudo
O presente estudo apresenta alguns limites. O estudo foi desenhado para estimar
a agregação familiar de hipertensão e diabetes e, como já foi comentado, a freqüência de
obesidade foi maior que a observada para populações brasileiras selecionadas
aleatoriamente. Para lidar com essa limitação, ajustamos as correlações familiares por
sexo, idade e comorbidades e a correlação da obesidade entre casais aumentou, o que
indica que essa correlação independe dessas condições. Outra limitação do estudo é que
não atingimos o total de pais (276) e de mães (280) estimado ser necessário pelo cálculo
amostral, e embora tenhamos selecionado as famílias de forma aleatória, tivemos um
percentual de participação de cerca de 56%, dando lugar a um possível viés de seleção.
Esse percentual foi semelhante aos de outros estudos (Galea et al., 2007; Marques-
Vidal, 2008), e os motivos alegados pelos familiares dos faltantes foram: trabalho, não
ter feito jejum, não querer deixar de beber no dia anterior (6a feira). Podemos levantar a
hipótese de que os indivíduos com menor adesão ao PMF estejam sub-representados,
assim como aqueles apresentando obesidade e fatores de risco, por serem mais
resistentes às orientações médicas. Se tais hipóteses forem verdadeiras, as associações
observadas entre fatores de risco e obesidade podem estar subestimadas. A participação
dos filhos foi a menor, seguida dos pais, com maior percentual de participação das
mães. Em conjunto, as duas ocorrências podem ter levado a uma menor contribuição
dos fatores de risco na correlação familiar da obesidade. A validade exte
XIV
rna de nosso estudo também é limitada. Nas famílias incluídas pais e mães
coabitavam. Sabemos que grande parte dos lares brasileiros é chefiado por mulheres
(Censo demográficos IBGE, 2000) e os resultados de nosso estudo não podem ser
estendidos a essas famílias. Por outro lado, sabemos que, sobretudo em comunidades
como as atendidas pelo PMF, grande convivência de crianças com avós e outros, e
tais influências também não foram consideradas. No nosso estudo, incluímos filhos de
12 a 30 anos e o tempo de convivência com os pais não foi considerado, embora a idade
seja uma variável que, em parte, controle esse efeito. A mesma limitação refere-se ao
tempo de coabitação de casais.
Pontos positivos do estudo
O estudo aqui descrito é um caso-controle familiar de obesidade, assunto ainda
muito pouco explorado cientificamente em nosso país. Buscamos não somente estimar
as correlações de obesidade entre pares familiares, como também a contribuição de
fatores ambientais, abordagem que não vimos aplicadas a essa condição, seja em
estudos nacionais, seja em estudos internacionais. Outro ponto positivo deve-se ao fato
de a amostra ter sido selecionada de população assistida pelo PMF de Niterói-RJ, que
adota uma abordagem integral ao paciente. A pesquisa de fatores de risco para
obesidade nessa população também é uma informação nova. Este estudo é acrescido de
outras características que demarcam a sua contribuição para o conhecimento na área de
investigação da agregação familiar de obesidade e fatores a ela associados no Brasil: 1)
é o primeiro estudo de agregação familiar de obesidade desenvolvido no Rio de Janeiro;
2) possibilitou compreender a influência de fatores ambientais determinantes da
obesidade; 3) contribui para direcionar que as medidas de intervenção de saúde e
prevenção de doenças crônicas devem ser de âmbito familiar e não apenas individual; 4)
aplica uma modelagem estatística que pode servir de modelo para outros estudos de
abordagem epidemiológica familiar mais específica ou mais complexa; 5) possibilita
ampliar a investigação de agregação familiar a outras comorbidades crônicas e desta
forma melhor orientar ações em saúde e proporcionar intervenção mais eficaz.
XV
CONCLUSÃO
Os resultados do presente estudo permitiram observar que agregação familiar
de obesidade em correlações de pares familiares e apontam para predominância de
fatores ambientais e encontramos pequena influência do fumo e do consumo de carnes
vermelhas nas correlações entre irmãos. Futuros estudos devem ser realizados para
identificar os riscos ambientais compartilhados pela família, visando reconhecer os
grupos vulneráveis para melhor orientar ações em saúde e proporcionar intervenção
adequada à obesidade.
XVI
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XXXVIII
ANEXOS
XXXIX
Anexo 1: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Autorização para pesquisa
Responsável pela pesquisa: Maria Luiza Garcia Rosa
Departamento de Epidemiologia e Bioestatística Tel: 26299342
Nome do responsável:
Idade: Número da identidade:
Nome do adolescente:
Idade: Número da identidade:
Você autoriza seu filho a participar de uma pesquisa ? Queremos saber se seu filho (a) tem risco
de ter algum problema cardíaco, no futuro, relacionados aos hábitos de vida e talvez, a uma herança
genética (tendência na família, que passa dos pais para os filhos).
Durante toda pesquisa, tudo vai ser explicado a você e ao seu filho. Você pode decidir se quer
deixar que ele continue ou não, em qualquer momento.
Se ele entrar na pesquisa, ele vai ter que responder a um questionário com perguntas sobre o
nascimento, a família e os hábitos de vida. Vai ter sua pressão, peso e altura medidos e vamos coletar
amostras de urina de sangue, e fazer um eletrocardiograma. A amostra de urina será utilizada para fazer
exames ligados à diabetes, hipertensão e doenças nos rins. O sangue será utilizado para medir a glicemia
(açúcar no sangue), colesterol total e frações, triglicerídeos (gorduras no sangue), insulina de jejum, teste
da tireóide , ácido úrico e outros exames, e material genético. O material genético isolado do sangue pode
indicar uma tendência a diabetes, hipertensão e problemas de coração e renais futuros. Esse sangue ficará
armazenado, sob a guarda do Laboratório do Hospital Universitário Antônio Pedro, para estudos
relacionados à diabetes, hipertensão, doenças do coração e dos rins.
Tudo que você responder pelo seu filho será mantido em segredo. As informações obtidas serão
utilizadas exclusivamente neste projeto de pesquisa sem que seu nome seja revelado e estarão disponíveis
para o participante, mesmo para aqueles que, em algum momento, decidirem sair da pesquisa. As
amostras de sangue serão codificadas para garantir o sigilo e a confidencialidade dos resultados. Após 2
anos da 1ª visita, faremos uma 2ª visita quando todos os procedimentos serão repetidos.
O benefício esperado com este trabalho será entender melhor algumas causas da diabetes e da
hipertensão, e de algumas doenças dos rins e do coração interligadas, possibilitando a prevenção precoce
e tratamento mais eficaz.
Se você tiver alguma dúvida pode nos perguntar.
Se você, depois de ler todo esse documento, permitir que seu filho participe, por favor, assine
esta folha logo abaixo.
Sim, eu concordo que meu filho participe.
Data: ___________________________________
Assinatura ___________________________________________________
XL
Autorização para pesquisa
Responsável pela pesquisa: Maria Luiza Garcia Rosa
Departamento de Epidemiologia e Bioestatística Tel: 26299342
Nome:
Idade: Número da identidade:
Você quer participar de uma pesquisa ? Queremos saber se você tem risco de ter algum problema
cardíaco no futuro, relacionado aos hábitos de vida e talvez, a uma herança genética (tendência na
família, que passa dos pais para os filhos).
Durante toda pesquisa, tudo vai ser explicado a você. Você pode decidir se quer continuar ou
não em qualquer momento.
Se você entrar na pesquisa, vai ter que responder a um questionário com perguntas sobre
nascimento, a família e hábitos de vida. Vai ter sua pressão, peso e altura medidos e vamos coletar
amostras de urina, de sangue, e realizar um eletrocardiograma. A amostra de urina será utilizada para
fazer exames ligados à diabetes, hipertensão e doenças nos rins. O sangue será utilizado para medir a
glicemia (açúcar no sangue), colesterol total e frações, triglicerídeos (gorduras no sangue), insulina de
jejum, teste da tireóide , ácido úrico e outros exames, e material genético. O material genético isolado do
sangue pode indicar uma tendência a diabetes, hipertensão e problemas de coração e renais futuros. Esse
sangue ficará armazenado, sob a guarda do Laboratório do Hospital Universitário Antônio Pedro, para
estudos relacionados à diabetes, hipertensão, doenças do coração e dos rins.
Tudo que você responder será mantido em segredo. As informações obtidas serão utilizadas
exclusivamente neste projeto de pesquisa sem que seu nome seja revelado e estarão disponíveis para o
participante, mesmo para aqueles que, em algum momento, decidirem sair da pesquisa. As amostras de
sangue serão codificadas para garantir o sigilo e a confidencialidade dos resultados. Após 2 anos da
visita, faremos uma 2ª visita quando todos os procedimentos serão repetidos.
O benefício esperado com este trabalho será entender melhor algumas causas da diabetes e da
hipertensão, e de algumas doenças dos rins e do coração interligadas, possibilitando a prevenção precoce
e tratamento mais eficaz.
Se você tiver alguma dúvida pode nos perguntar.
Se você, depois de ler todo esse documento, concordar em participar, por favor, assine esta folha
logo abaixo.
Sim, eu concordo em participar.
Data: ___________________________________
Assinatura ___________________________________________________
XLI
Anexo 2: Questionário do Estudo CAMELIA
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