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criariam uma impressão na alma
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, tornando-se necessário fazer um julgamento racional
dessas representações, pois elas provocam uma tendência que impulsiona à ação. “Todo ser
animado racional precisa, para agir, ser previamente estimulado pela observação de algum
objeto; em seguida, põe-se em movimento e por fim surge o assentimento que confirma o
movimento adquirido” (CARTAS, 113,18). As ações devem se dar de acordo com as
regras da natureza, caso contrário se tornam paixões. Os estoicos consideram a paixão
como uma doença da alma, a qual tem origem em um erro de julgamento, uma opinião
falsa, uma adesão indevida a uma representação falsa, um movimento irracional da alma,
contrário à natureza; porém se a representação for julgada como verdadeira pela razão, ela
é assentida e torna-se uma representação compreensível.
Assim como os epicuristas, os estóicos atribuíam primariamente à lógica
a tarefa de fornecer um critério de verdade. E, como os epicuristas,
indicavam a base do conhecimento como a sensação, que é uma
impressão provocada pelos objetos sobre os nossos órgãos sensoriais, a
qual se transmite à alma e nela se imprime, gerando a representação.
Porém, segundo os estoicos, a representação veritativa não implica só
um “sentir”, mas postula ademais um “assentir”, um consentir ou
aprovar proveniente do lógos que está em nossa alma. A impressão não
depende de nós, mas da ação que os objetos exercitam sobre os nossos
sentidos, mas estamos livres para tomar posição diante das impressões e
representações que se formulam em nós, dando-lhes o assentimento
(synkatáthesis) do nosso lógos ou recusando dar-lhes nosso
assentimento. Só quando existe o assentimento é que temos a
“apreensão” (katálepsis). E a representação que recebeu nosso
assentimento é “representação compreensiva ou catalética”, constituindo
o único critério ou garantia de verdade (REALE, 1990, p.254-255).
Isto posto, a verdade no Estoicismo necessita de um assentimento, que constitui não
apenas uma sanção feita pelo pensamento à representação que se lhe apresenta, mas antes
uma resposta que vem ao encontro de um apelo mais forte gerado pela tendência da ação.
A resposta de assentimento ao apelo oriundo da tendência pode ser confundida com uma
norma, mas na realidade a tendência abre um espaço ao exercício da virtude, ao
comprometimento da ação com o ato voluntário de agir, em total conformidade com o
lógos universal. Assim a parte diretiva da alma exerce um papel muito mais de diretor de
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A alma, para os estoicos, é como um princípio material, pois age e padece, sendo então corpórea. Embora
seja uma, é dividida em oito partes: a parte chamada de hegemônico, que seria a parte central, ou seja, a razão
e que teria a capacidade de perceber, assentir, apetecer e raciocinar e as outras partes seriam os cinco
sentidos: visão, olfato, tato, paladar e audição; e mais a parte que preside à formação e a que preside à
geração. Portanto, é ela quem recebe as impressões via sentidos e responde a elas (REALE, 1990, p.260-
261).