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coreiras, que com toda sua expressividade corporal, vibram com seus movimentos rítmicos
acompanhando o toque do tambor. O início se dá quando:
O coreiro, sobretudo o mais antigo, coordena a roda usando um apito para
dar inicio ou encerrar os toques. O meião “puxa o toque”, seguido do som
“repicado” do crivador, e, por último, do “rufar” do tambor grande. As
coreiras (…) com movimentos expressivos, uma delas entra, ocupa o centro
da roda, e reverencia os tambores dançando de forma livre (…) convite
expressado, de forma marcante, pela punga (MOTA, 2006, p. 106).
A punga
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é, sem dúvida, um traço muito forte e importante nesta dança. Ela funciona
como um convite para a coreira que esta dançando em frente ao Tambor, revezar a posição de
solista com outra brincante que está na roda. A pungada acontece quando as mulheres tocam
seus ventres saudando uma à outra. Em relação à punga Moraes e Ferretti (2002, p. 68)
constatam que “hoje a punga é dada de várias maneiras: no abdome, tórax, quadris, coxas ou
mesmo passando a palma da mão. A maneira de dar punga varia de dançante para dançante. É
comum observar na hora da punga, estalar os dedos e língua entre as dançantes”.
A punga adquire também um caráter de brincadeira dentro da roda, é comum o coreiro
querer roubar a punga da coreira pra brincar com ela, mas nem sempre esse roubo é bem
recebido, há quem fique chateado, mas depois elas terminam aceitando e continuam no jogo.
Em entrevista dada a Ferretti, Mestre Felipe esclarece como se dá a brincadeira: “(…) eu tô
aqui no tambô grande e a coreira tá lá dançando, aí eu marco a punga, aí quando ela vai
batendo o pé certo comigo, eu falho aqui, aí ela perde lá e fica doidinha de raiva” (apud
FERRETTI, 2002, p. 68), pois roubar a punga é impedir a coreira de dar a marcação certa
com o pé na frente do tambor grande de acordo com o ritmo.
Outra brincadeira comum relacionada à pungada, diz respeito à idéia de “emprenhar” a
coreira, essa expressão é usada, quando a coreira está dançando na roda, junto aos tambores,
demonstrando na roda sua performance, sua sensualidade e, de repente, o Tambor pára de
tocar, normalmente combinado entre os tambozeiros com a intenção de “emprenhar” a coreira
da vez, nesse momento ela fica sozinha lá no meio, e em coro os brincantes gritam que ela
emprenhou e, assim, ela permanece lá esperando o Tambor recomeçar para voltar a dançar e
dar seqüência à brincadeira. Seu José Domingos declara que “a punga é o símbolo do tambor
de crioula. Quer dizer, tem que ter, tem que existir (…) Ela rola ali, dá aquela rodada; quando
ela faz aquela meia lua, aí ela vai em cima do tambor. Quer dizer, certo com a punga do
tambor, ela também faz o jogo de corpo dela” (In FERRETTI et al, 2006, p. 108).
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A vítima ou o produto do furto cometido pelo punguista. Punguista é furtar.