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Análise da Influência das
Interações Primárias em
Chuveiros Aéreos Estendidos
Pedro Viana Guimarães
Orientador: Eduardo S. Fraga
Co-orientador: João Torres de Mello Neto
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ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DAS INTERAÇÕES
PRIMÁRIAS EM CHUVEIROS AÉREOS ESTENDIDOS
Pedro Viana Guimarães
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Física do Instituto de Física da Universi-
dade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências
M.Sc. – (Física).
Orientador: Eduardo S. Fraga
Co-Orientador: João Torres de Mello Neto
Rio de Janeiro
Maio de 2008
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ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA INTERAÇÃO PRIMÁRIA
EM CHUVEIROS AÉREOS ESTENDIDOS
Pedro Viana Guimarães
Orientador: Eduardo Souza Fraga
Co-orientador: João Torres de Mello Neto
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Física, Instituto de
Física, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Mestre em Ciências – M. SC. – (Física).
Aprovada por:
___________________________________
Presidente, Prof. Eduardo Souza Fraga
___________________________________
Prof. João Torres de Mello Neto
___________________________________
Prof
a
. Carla Gobel Bulamaqui de Melo
___________________________________
Prof
a
. Ivone Freitas da Mota e Albuquerque
___________________________________
Prof. Luca Roberto Augusto Moriconi
Rio de Janeiro
Maio de 2008
G963a
Guimarães, Pedro Viana
Análise da Influência da Interação Primária em Chuveiros
Aéreos Estendidos. / Pedro Viana Guimarães - Rio de Janeiro: UFRJ/
IF, 2008.
x, 90f.: il.; 1,2 cm;
Orientador: Eduardo Souza Fraga
Tese (Mestrado) – UFRJ / Instituto de Física / Programa de
Pós-graduação em Física, 2008.
Referências Bibliográficas: f. 80-90.
1. Raios cósmicos. 2. Interações hadrônicas de altíssima
energia. 3. Produção de Condensados quirais desorientados. I. Fraga,
Eduardo Souza. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto
de Física, Programa de Pós-graduação em Física. III. Análise da
Influência da Interação Primária em Chuveiros Aéreos Estendidos.
Resumo
Análise da influência da Interação
Primária em Chuveiros Aéreos Estendidos
Pedro Viana Guimarães
Orientador: Eduardo Souza Fraga
Co-orientador: João Torres de Mello Neto
Resumo da Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Física do Instituto
de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do
título de Mestre em Ciências – M.Sc. – (Física).
O grande progresso experimental ocorrido na física de raios cósmicos tem atraído
crescente atenção da comunidade científica, incentivando a construção de novos obser-
vatórios que possibilitam que a base de dados seja refinada e ampliada. Por outro lado,
a abordagem computacional é fundamental para a reconstrução e análise dos eventos.
De fato, apesar de todo o empenho da comunidade científica, ainda existem dificuldades e
incertezas quanto à extrapolação dos modelos de interação hadrônica para altíssimas ener-
gias. Desta forma, existem flutuações nos observáveis que não são intrínsecas do evento
mas sim do modelo hadrônico utilizado. Em particular, é muito comum admitir que a co-
lisão primária iniciada por um núcleo equivale à superposição de vários chuveiros aéreos
estendidos (CAEs) iniciados por prótons livres. Inspirados pela observação de efeitos exó-
ticos (como os Centauros), estudamos a influência das interações hadrônicas de altíssima
energia na evolução dos CAEs e como estas impluenciam a construção de simuladores
de eventos e, consequentemente, alguns observáveis. Adicionalmente, realizamos um es-
tudo de caso onde substituímos a abordagem de superposição por uma descrição mais
elaborada, onde são considerados efeitos coletivos exóticos presentes na colisão primária,
neste caso a produção de condensados quirais desorientados. Especulamos também sobre
a sua conexão com os efeitos Centauro e anti-Centauro. O objetivo aqui é mensurar o
impacto da colisão primária e propor assinaturas que possam ser verificadas em experi-
mentos futuros de raios cósmicos. Resultados preliminares são apresentados e um estudo
mais elaborado está em preparação.
Palavras-chave: Raios Cósmicos, Chuveiros aéreos estendidos, interações hadrôni-
cas, condensados quirais disorientados.
Rio de Janeiro
Maio de 2008
Abstract
Analysis of the influência da First
Interactions in Extended Air Showers
Pedro Viana Guimarães
Orientador: Eduardo Souza Fraga
Co-orientador: João Torres de Mello Neto
Abstract da Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Física do Instituto
de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do
título de Mestre em Ciências – M.Sc. – (Física).
The great progress that cosmic ray physics has experienced recently has stimulated
the construction of new observatories and the improvement of the database. On the other
hand, the computational approach is fundamental for the analysis of cosmic ray events.
Currently, in spite of all the effort, there are many difficulties and uncertainties related
to hadronic interaction models in the ultra-high energy limit. Some fluctuations in the
observables do not come from the event itself but from the hadronic interaction models.
In fact, it is very common to suppose that the primary nucleus-nucleus collision is equi-
valent to a superposition of many extensive air showers (EAS) initiated by free protons.
Inspired by the Centauro events, we study the influence of the ultra-high energy collisions
on the EAS description and how they can impact the development of simulators and some
observables. We present a case study, in which the superposition approach is replaced by
an improved description, including collective phenomena at the primary collision, such as
disoriented chiral condensates. We also speculate about its connection with Centauro and
anti-Centauro events. The objective is to evaluate the primary collision impact and pro-
pose new signatures that could be observed in future and ongoing cosmic ray experiments.
Preliminary results are shown and a more elaborated study is forthcoming.
Key words: Cosmic Rays, Extensive Air Showers, hadronic interactions, desoriented
chiral condensate.
Rio de Janeiro
Maio de 2008
Agradecimentos
Escrever os agradecimentos é certamente uma das partes mais difíceis de todo o trabalho.
Existe, sem dúvida, uma infinidade de pessoas, animais, computadores e similares que
tiveram importância para que eu finalmente chegasse ao término desse trabalho. Infeliz-
mente não sou capaz de lembrar de todos e, portanto, vou agradecer apenas àqueles que
foram decisivos, principalmente nesta etapa final. Segue:
À minha família (às duas!). Simples: sem eles eu não seria ninguém.
Ao Eduardo Fraga. De fato, ele não é um cara comum. Um orientador e conselheiro
que dificilmente eu encontrarei igual.
Ao João Torres. Apesar dele ficar em Chicago e eu em SP, sua importância se fez
presente tentando manter os nossos pés no chão e direcionando a nossa discussão
sobre RCs.
Ao Grupo QCD-QGP. Fomos a alguns congressos juntos, tivemos boas discussões
sobre o trabalho de todos e demos muitas risadas.
Ao Rodrigo e ao Felipe. Basta dizer que são amigos - e que entendem desse “sofri-
mento”...
Ao Augusto. Por não me deixar trabalhar na tese em todos os finais de semana e
impedir que eu tivesse surtado há mais tempo.
Ao Philipe e ao Bruno Lazarotto. Meus gurus computacionais. Não fossem eles,
teria apanhado muito mais do linux...
À Letícia. Ela se encaixaria em outros itens mas ainda vai bancar o macaco
gordo, quebrar um galho e levar a minha tese para impressão. E ainda vai garantir
que fique pronta a tempo. (caso contrário, tenho receio do que acontecerá as pernas
do Dênis...)
Aos demais amigos que eu não vou citar nominalmente por falta de espaço. São
importantes simplesmente por serem amigos.
À memória de Oswaldo Fraga
Guimarães e Maria Helena de Campos Viana.
Índice
1 Introdução 1
2 Chuveiros Aéreos Estendidos 3
2.1 Um pouco de história . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2.2 Raios Cósmicos e CAEs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.2.1 Características Gerais dos RCs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.3 Características Gerais dos CAEs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.3.1 Cascata Eletromagnética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.3.2 Cascata Hadrônica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.4 Experimentos e observação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.4.1 Observatório Chacaltaya . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.4.2 Observatório Pierre Auger . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3 Conceitos Básicos Sobre Interações Hadrônicas 20
3.1 Espalhamento Profundamente Inelástico . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.2 Modelo de Pártons . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.3 Fenomenologia a pequeno x: DGLAP e BFKL . . . . . . . . . . . . . . 26
3.3.1 O formalismo DGLAP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.3.2 O formalismo BKFL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.4 Interações Macias e a Fenomenologia de Regge-Gribov . . . . . . . . . . 27
3.5 Interações Nucleon-Nucleon: Descrição Qualitativa . . . . . . . . . . . . 30
4 Simulações de Chuveiros Aéreos Estendidos 35
4.1 Como Simular Interações Hadrônicas de
Alta Energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
4.1.1 Produção de Minijatos e o p
t
cut-off . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.1.2 Efeitos Não-lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
4.1.3 Unitariedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
4.2 Impacto sobre os observáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
4.3 Grau de confiança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
5 Estudo de Caso: Condensados Quirais Desorientados 50
5.1 Motivação: Eventos Centauros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
5.2 O Papel da Simetria Quiral nas Interações
Hadrônicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
5.3 Condensados Quirais Desorientados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
5.4 O Cenário de Baked-Alaska . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
5.4.1 Principais Efeitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
5.4.2 Discussão sobre a observação dos efeitos . . . . . . . . . . . . . 61
5.4.3 Status Experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
5.5 Abordagem Computacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
5.6 Resultados Preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
5.7 Expectativas e projetos em andamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
5.7.1 Projetos em andamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
5.7.2 Expectativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
6 Conclusão 72
A Sobre simuladores de CAEs 74
A.1 Considerações Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
A.2 CORSIKA x AIRES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
Lista de Figuras
2.1 Espectro de energia dos raios cósmicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.2 Espectro de alta energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.3 Interações envolvidas em um CAE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.4 Fluxo vertical de partículas na atmosfera . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.5 Ilustração das cascatas hadrônicas e eletromagnética . . . . . . . . . . . 13
3.1 Ilustração esquemática de um DIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3.2 Invariância de escala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.3 Relação e Callan-Gross . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.4 Desvios do comportamento de escala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.5 Ilustração do pártons de valência de um próton . . . . . . . . . . . . . . 25
3.6 Interação hádron-hádron . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.7 Pomerons . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.8 Exemplos de superposição de cascatas de pártons . . . . . . . . . . . . . 29
3.9 Interação pomeron-pomeron . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.10 Espalhamento núcleo-núcleo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.11 Perfil do próton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.12 Etapas da colisão núcleo-núcleo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
4.1 Comparativo entre aceleradores e eventos de RCs . . . . . . . . . . . . . 38
4.2 Dependência da seção de choque inclusiva com o p
t
cut-off . . . . . . . . 39
4.3 Seção de choque total e elástica para colisões pp . . . . . . . . . . . . . . 42
4.4 Comparação da extrapolação da seção de choque total e elástica . . . . . 43
4.5 Dados atuais sobre a seção de choque p-ar e predições de modelos . . . . 44
4.6 Impacto do p
t
cut-off . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
4.7 Comparativo da multiplicidade de píons . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4.8 Comparativo do número de múons no solo entre EPOS 1.6 e QGSJETII.3 47
4.9 Comparativo do número de partículas carregadas no solo entre EPOS 1.6
e QGSJET II.3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
5.1 Ilustração do evento Centauro I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
5.2 Potencial efetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
5.3 Potencial efetivo com quebra explícita de simetria . . . . . . . . . . . . . 57
5.4 Evolução espaço-temporal dos CQDs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
5.5 Etapas do processo de simulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
5.6 Abordagem computacional para a incorporação dos CQDs . . . . . . . . . . . 65
5.7 Distribuição lateral de partículas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
A.1 Interpolação entre interações de alta e baixa energia . . . . . . . . . . . . 78
Capítulo 1
Introdução
Chuveiros aéreos estendidos (CAEs) oferecem um mecanismo para o estudo do fluxo,
tipo de partícula e direção de incidência dos raios cósmicos (RCs) primários a altíssimas
energias. Nos últimos anos a física de RCs viu um grande avanço nas técnicas de detecção
e um forte investimento, dedicado principalmente à construção de novos observatórios. O
objetivo era colher dados com mais acurácia bem como estudar em mais detalhes estes
eventos de altíssima energia. O estudo destes eventos raros pode fornecer diretrizes para
guiar os teóricos e até mesmo revelar uma física nova. Por outro lado, o arcabouço teórico
das intertações hadrônicas é tão importante quanto o avanço experimental na quantidade
e na qualidade da informação sobre os RCs. Durante o desenvolvimento do CAE, as in-
terações hadrônicas desempenham um papel central, produzindo secundários que podem
interagir novamente ou alimentar a componente eletromagnética da cascata. Seu papel
fica ainda mais evidente ao notarmos que simulações destes eventos são necessários para
a medição de alguns observáveis. Embora muito progresso tenha sido realizado neste
campo e muitos dados e testes estejam por vir através do novo LHC (Large Hadron Colli-
der), ainda existem muitas dúvidas e incertezas. A ausência de uma descrição satisfatória
para as interações hadrônicas de alta energia impacta diretamente o desenvolvimento dos
simuladores atuais, permitindo um universo de variações. A grande quantidade de parâ-
2
metros e a dificuldade em separar os diferentes regimes mostram que a incerteza compu-
tacional tem, na verdade, origens teóricas.
O objetivo deste trabalho é discutir a modelagem das interações hadrônicas de alta
energia focando em questões relacionadas à construção de simuladores de CAEs, sua
confiabilidade e poder preditivo. Esperamos detalhar, separar e compreender os diversos
fatores de incerteza, discutindo a relevância de cada um, suas correlações e impactos nos
observáveis de um CAE. Comentamos sobre métodos de comparação e como minimizar
estas incertezas dentro do cenário atual. Avaliamos a troca de informações com a física
de partículas e como realizar um caminho de mão dupla, onde podemos aprender com a
radiação cósmica sobre interações fortes e sobre a física além do Modelo Padrão. Por fim,
apresentamos um estudo de caso inspirado pelo efeito Centauro. Utilizando um modelo
simplificado, discutimos como a interação hadrônica primária de altíssima energia - e
somente esta - poderia afetar o desenvolvimento de um CAE através da produção de
condensados quirais desorientados (CQDs) e do consequente desbalanceamento da fração
dos píons.
A estrutura deste trabalho tem inicialmente uma apresentação sobre CAEs, seguida
por um capítulo de introdução à física hadrônica. Na seqüência discutimos sobre os di-
ferentes simuladores, suas diferenças e o impacto sobre os observáveis de um CAE. No
penúltimo capítulo apresentamos o nosso estudo de caso. Os resultados preliminares aqui
apresentados foram publicados (vide Referência [1]) e uma análise mais detalhada está
em preparação [2]. Na sequência, finalizamos com as conclusões.
Capítulo 2
Chuveiros Aéreos Estendidos
No último século, o estudo dos chuveiros aéreos estendidos (CAEs) possibilitou algumas
importantes descobertas, como os píons [3] e os eventos Centauros [4]. Houve um in-
teresse crescente nesta área e muito progresso foi realizado, inclusive com impacto no
campo da física de partículas elementares. Entretanto, eventos de alta energia ainda pos-
suem muitas incertezas, constituindo um campo fantástico para o estudo de fenômenos
exóticos da física além do modelo padrão. As informações obtidas através de CAEs ge-
rados por raios cósmicos (RCs) de ultra alta energia não poderão ser atingidas pelos prin-
cipais aceleradores no futuro próximo. O interesse recente impulsionou diversos experi-
mentos nos últimos anos, como o Kascade [5] e o Auger [6], com o objetivo de estimular
esta possibilidade bem como coletar informações mais precisas a respeito dos CAEs.
Neste capítulo apresentamos os chuveiros aéreos estendidos, dissertando sobre suas
características gerais, com ênfase na interação com a atmosfera.
2.1 Um pouco de história
A história começa com Pierre Auger que, em 1938, observou um CAE pela primeira vez
e inferiu sua energia em 10
15
eV [7]. Apenas 8 anos mais tarde, em 1946, através de
2.1 Um pouco de história 4
grupos liderados por Bruno Rossi, nos EUA, e Georgi Zatsepin, na Rússia, foram cons-
truídos os primeiros detectores de superfície (DS) para o estudo da estrutura dos CAEs.
Em 1947 destaca-se a descoberta do píon por Powell, Occhialini e Lattes [3]. Até o ad-
vento dos aceleradores, em 1950, os CAEs constituíam uma das principais ferramentas de
análise da física de partículas. Quase 15 anos depois, em 1962, John Linsley descobriu o
primeiro RC com 10
20
eV [8]. Eventos desta ordem de magnitude foram relatados durante
os próximos anos, mas em 1991 houve uma detecção clara de um evento de 3 · 10
20
eV, registrado pelo experimento Fly’s Eye [9]. Com a descoberta da radiação cósmica de
fundo em microondas (RCFM) no início dos anos 60, Kenneth Greisen, Vadem Kuzmin
e Georgi Zatsepin propuseram o limite GZK [10, 11], onde sugerem que a interação dos
RCs com a radiação cósmica de fundo em microondas limita a energia acessível a eles
1
.
Na década de 70, a Colaboração Brasil-Japão detectou eventos exóticos, com grande pro-
dução de hádrons e baixa produção de fotóns e elétrons [4]. Conhecidos como Centauros,
estes foram procurados em aceleradores posteriormente embora sem sucesso [12, 13, 14].
Na década de 80, impulsionada pela astronomia de raios-X e raios-γ, teve início o estudo
da direção de propagação dos RCs. A partir daí, começou a ser realizada uma série de
experimentos para a análise dos CAEs (Fly’s Eye [9], Agasa [15], Kascade [5] e outros),
culminando com o experimento Auger [6] em meados na década de 90
2
Quanto à relação atual com a física de aceleradores, ainda um intercâmbio muito
grande de informações. A próxima geração de aceleradores deve operar a uma energia de
aproximadamente 10
8
GeV
3
e poderá fornecer informações preciosas para a modelagem
1
Prótons de origem extragalática interagem com a RCFM quando a energia do centro de massa estiver
acima do limiar para a produção de píons. Píons provenientes desta interação carregam 20% da energia
do próton incidente e, portanto, constituem um mecanismo forte de perda de energia. Estas interações
ocorrem até que o próton incidente adquira uma energia menor que o limiar onde, então, a produção de
píons cessa.
2
O Observatório Auger Sul foi projetado durante a década de 90. Atualmente está em fase final de
desenvolvimento e já coleta dados.
3
Considerando o referencial do laboratório. Corresponde a 14 TeV no referencial do centro de massa.
2.2 Raios Cósmicos e CAEs 5
das interações hadrônicas, que são de fundamental importância para a reconstrução e
análise dos CAEs, como será discutido posteriormente. Em contrapartida, os eventos
ultra-energéticos ( 10
10
GeV) fornecidos pelos RCs permitem investigar a física além
do Modelo Padrão.
2.2 Raios Cósmicos e CAEs
Raios cósmicos são partículas energéticas provenientes do espaço que bombardeam a
Terra continuamente. Ao atingir a atmosfera, estas partículas induzem um chuveiro de
partículas secundárias de energia menor. Quando o primário incidente possui energia su-
ficiente para que as partículas secundárias cheguem ao solo, temos um chuveiro aéreo
estendido. Como as características do espectro de RCs são fundamentais para um enten-
dimento adequado dos CAEs, faremos uma breve descrição delas a seguir.
2.2.1 Características Gerais dos RCs
A radiação cósmica de baixa energia ( 10
14
eV) é majoritariamente constituída por pró-
tons ( 90%), embora núcleos atômicos como hélio, carbono e até mesmo ferro também
sejam frequentes ( 9%). Elétrons completam a lista. Ainda há indeterminações sobre a
composição da parte mais alta do espectro de energia e partículas exóticas ainda podem
ser procuradas. O espectro de energia de RCs é bastante rico e pode fornecer eventos
desde alguns poucos GeV até 10
11
GeV, com fluxos variando em até 30 ordens de gran-
deza: desde 1.000 partículas por metro quadrado por segundo, para alguns GeV, até uma
partícula por quilômetro quadrado por milênio, no caso de 100 EeV [8, 16].
Observando a Fig. 2.1, é fácil notar dois pontos onde o espectro muda de inclinação: o
Joelho (knee), situado a 3·10
15
eV, e o Tornozelo (ankle), situado a 4, 5·10
18
eV. ainda
um terceiro ponto, mais sutil, conhecido como segundo joelho, situado aproximadamente
a 10
17
eV.
2.2 Raios Cósmicos e CAEs 6
Figura 2.1: Espectro de energia dos raios cósmicos. O fluxo diferencial foi multiplicado por E
2,7
para facilitar a vizualização de variações no espectro. Retirado de [17].
A região anterior ao Joelho é a mais bem conhecida de todo o espectro. Possui um
fluxo de partículas extremamente alto, tipicamente 10
4
partículas por metro quadrado
por segundo e podem ser observados diretamente por satélites ou detectores na atmosfera,
suspensos através de balões [18]. Além disso, estas partículas não são capazes de gerar
um CAE na forma como definimos anteriormente.
Na região após o Joelho, o fluxo de partículas é 10 partículas por metro quadrado
por dia. Devido ao fluxo relativamente baixo nesta região do espectro, a medição direta
não é prática, embora possível, e a observação acontece indiretamente via detectores ter-
restres e análise do CAE desenvolvido. Usualmente estes detectores têm dimensões da
2.2 Raios Cósmicos e CAEs 7
ordem de 1 km
2
e precisam operar durante alguns anos para obter informação suficiente.
Ainda existem incertezas quanto à composição e apenas grupos de elementos podem ser
resolvidos (p, He, CNO e elementos pesados). Observações indicam que núcleos pesados
sejam mais raros e que a radiação seja principalmente composta por prótons [19].
Sobre a região após o tornozelo, a composição só pode ser inferida indiretamente por
meio da posição do máximo do CAE, denominado X
max
. Resultados preliminares su-
gerem que a incidência de elementos pesados é mais comum do que se esperava [20].
Para energias 10
20
eV, ainda muita discussão, dado que poucos eventos foram ob-
servados. Atualmente, a hipótese mais aceita é uma forte atenuação do espectro, devido
à interação dos RCs com a radiação cósmica de fundo em microondas, conhecido como
efeito GZK [10, 11].
Figura 2.2: Espectro de alta energia. Para detalhes dos experimentos, vide referências [21, 22,
23, 24]. Retirado de [17].
2.3 Características Gerais dos CAEs 8
2.3 Características Gerais dos CAEs
Um CAE consiste em uma superposição de uma cascata hadrônica, que compõe a parte
central, e uma cascata eletromagnética, iniciada por fótons provenientes de decaimento de
píons neutros produzidos pela parte hadrônica conforme esta atravessa a atmosfera (Fig.
2.3). A maior parte da energia do chuveiro é dissipada através de elétrons e pósitrons de
baixa energia presentes nos subchuveiros via ionização. O decaimento de káons e píons
carregados de baixa energia é o principal responsável pela produção de múons. Neutrinos
também são produzidos durante a evolução do CAE e fornecem uma contribuição para o
balanço de energia [8, 16].
Quanto ao número de partículas, este tipicamente atinge um máximo e então diminui
rapidamente, conforme estas atingem uma energia insuficiente para a produção de novas
partículas (e.g. via produção de pares e
+
e
) e efeitos de absorção sejam relevantes. No
caso dos múons, o número se mantém aproximadamente estável (Fig. 2.4), dada a baixa
interação com a atmosfera.
A evolução do CAE na atmosfera está fortemente conectada ao primário incidente. Os
principais observáveis são o perfil longitudinal do chuveiro (PLC), a distribuição lateral
de partículas (DLP) e o tempo de vôo (arrival time). O PLC descreve a evolução do CAE
na atmosfera, fornecendo o número de partículas carregadas ao longo do eixo principal
do chuveiro. Geralmente, é dado como função da profundidade, medida em gramas por
centímetro quadrado. A partir dele obtemos a profundidade onde ocorre o máximo de
partículas (X
max
) e a quantidade delas (N
max
). Apesar das flutuações inerentes à posição
da primeira interação, a partir destas quantidades podemos inferir a composição e a ener-
gia do primário incidente. A DLP fornece a densidade de partículas no solo como função
da distância ao eixo principal do chuveiro. É possível observar a componente eletromag-
nética e de múons separadamente. Tipicamente, hádrons (e, consequentemente, múons)
situam-se mais próximos ao eixo enquanto a componente eletromagnética é responsável
pela região mais afastada. O perfil da DLP varia de acordo com a energia: primários mais
2.3 Características Gerais dos CAEs 9
energéticos interagem primeiro na atmosfera e geram CAEs com maiores extensões. Fi-
nalmente, o tempo de vôo refere-se à distribuição no tempo das diferentes partículas que
atingem o solo. Em média, múons chegam primeiro, seguidos por elétrons, pósitrons e
fótons. A partir deste observável podemos reconstruir a direção de incidência [25].
Figura 2.3: Ilustração esquemática das interações envolvidas em um CAE.
Simulações detalhadas e calibrações cruzadas entre os diferentes tipos de detectores
(detectores de superfície e fluorescência) são necessárias para realizar uma descrição ade-
quada da evolução do CAE. Além de aparatos experimentais sofisticados, a descrição
de um CAE exige, portanto, uma modelagem teórico-computacional. A alta quantidade
de partículas envolvidas sugere naturalmente uma abordagem estatística, via técnicas de
Monte-Carlo (um CAE típico pode envolver 10
1011
partículas no seu máximo) [8, 16].
Usualmente, a modelagem considera a evolução de cada partícula do chuveiro
4
e as pro-
priedades de transporte na atmosfera, avaliando quais interações ou decaimentos podem
ocorrer durante sua trajetória. Embora as interações eletromagnéticas (ionização, efeito
Cherenkov e outras) e a interações fracas (decaimento de partículas instáveis) sejam bem
compreendidas, existem incertezas associadas às interações hadrônicas durante o desen-
4
Computacionalmente, é muito difícil gerenciar todas as partículas e uma técnica de aproximação co-
nhecida como thinning é amplamente utilizada.
2.3 Características Gerais dos CAEs 10
Figura 2.4: Ilustração do fluxo vertical de partículas na atmosfera com E > 1 GeV. Os pontos
mostram medidas de µ
com E > 1 GeV [26, 27, 28, 29]. Retirado de [17].
volvimento do CAE, principalmente aquelas com baixa transferência de momento
5
. Te-
oricamente, os modelos hadrônicos usados atualmente concentram-se em aspectos dife-
rentes da colisão, onde cada um deles segue uma abordagem (vide o próximo capítulo).
Experimentalmente, as informações são limitadas ao regime de baixa energia determi-
nado pelos aceleradores e necessitam de extrapolações de até seis ordens de grandeza
5
Interações deste gênero são denominadas interações macias (soft).
2.3 Características Gerais dos CAEs 11
para que sejam utilizados na física de RCs. Todas estas incertezas afetam a reconstrução
do chuveiro e devem ser consideradas durante a análise. Não bastassem as flutuações as-
sociadas à modelagem, existem ainda flutuações estatísticas do CAE devido a realizações
individuais do evento e das propriedades da interação (inelasticidade, multiplicidade dos
secundários e altura da primeira interação).
2.3.1 Cascata Eletromagnética
Os principais processos de alta energia que alimentam uma cascata eletromagnética são
a produção de pares e
+
e
e a bremsstrahlung. Outros efeitos como o espalhamento
Compton são menos relevantes e podem ser desconsiderados numa primeira abordagem
[16, 30]. Tipicamente, uma cascata eletromagnética atinge um máximo rapidamente,
sendo atenuada logo em seguida (Fig. 2.4). Isso ocorre porque os elétrons e pósitrons
presentes na cascata dissipam sua energia ionizando a atmosfera. Uma boa descrição
qualitativa da cascata é o Modelo de Heitler [31], que passamos a discutir agora. Uma
abordagem mais sofisticada, através de equações de difusão acopladas, pode ser encon-
trada em [16].
O Modelo de Heitler consiste em um processo de multiplicação, onde um fóton in-
cidente na atmosfera origem a duas novas partículas (elétron/pósitron ou fóton) via
produção de par ou bremsstrahlung (Fig. 2.5). Estas novas partículas carregam metade da
energia do fóton incidente e dão origem a mais partículas após percorrerem uma distância
característica, d = λ
em
onde λ
em
é o comprimento de radiação. O processo continua
repetidamente, conforme ilustrado na Fig. 2.5, até que a energia das partículas atinja um
valor crítico, ξ
c
em
, a partir do qual os processos anteriores não são mais dominantes e as
perdas por colisões superam as perdas por radiação.
Considere que o fóton primário tenha energia E
0
. Após n passos, temos o total de
partículas:
N
tot
= 2
n
= 2
X/λ
em
, (2.1)
2.3 Características Gerais dos CAEs 12
a profundidade de
X = n · d =
em
. (2.2)
O máximo da cascata ocorre quando as partículas atingem a energia crítica:
E
0
= N
max
· ξ
em
c
. (2.3)
Para obter X
max
, calculamos o número de interações necessárias para atingir o máximo:
2
N
c
= N
max
. (2.4)
Usando (2.3), obtemos
X
max
= N
c
· d =
λ
em
ln 2
· ln
E
0
ξ
c
em
(2.5)
As principais limitações do modelo estão associadas à múltipla emissão de fótons. A
ausência deste efeito superestima a razão e
+
e
. Apesar de bastante simplificado, o
modelo consegue descrever muito bem as principais características das cascatas eletro-
magnéticas. Os perfis típicos são compatíveis com as observações e são dados por:
N
max
E
0
,
X
max
λ
em
ln E
0
.
Relembrando a discussão sobre observáveis na seção anterior, aqui podemos ver cla-
ramente como determinar características dos primários através do perfil logitudinal que
as duas quantidades extraídas da observação possuem dependência direta com a energia.
Destacamos ainda a dependência com o comprimento de radiação. Este indica o livre
caminho médio dos elétrons e fótons na atmosfera e é reflexo direto da seção de choque
destes com ela. Grande parte das incertezas no perfil longitudinal são provenientes desta
variável.
2.3 Características Gerais dos CAEs 13
Figura 2.5: Desenvolvimento da cascata eletromagnética esquerda) e da cascata hadrônica
direita).
2.3.2 Cascata Hadrônica
Cascatas hadrônicas são iniciadas pela interação com a atmosfera de um nucleon ou de um
núcleo pesado. Boa parte da energia é utilizada para a produção de mésons secundários,
enquanto o restante segue com os nucleons expectadores, que colidem logo em seguida
produzindo mais mésons e dissipando o restante da energia. Estes mésons são princi-
palmente píons e káons ( 80 90%). Os píons neutros decaem logo em dois fótons,
dando origem e alimentando a cascata eletromagnética. Os píons carregados possuem
um tempo de decaimento mais longo e, por isso, podem interagir com a atmosfera, caso
tenham alta energia ( 100 GeV), enquanto os de energia mais baixa decaem em múons
e neutrinos/anti-neutrinos. Quanto aos káons, a maior parte também decai em múons
e neutrinos/anti-neutrinos ( 60%). A competição entre a componente hadrônica e a
componente eletromagnética determina a evolução do CAE. Algumas incertezas surgem
naturalmente na análise da cascata. A primeira é a complexidade da atmosfera, onde a
densidade varia fortemente com a altura. As demais estão associadas à interação: a altura
onde a primeira interação acontece e realizações individuais da interação hadrônica. A
2.3 Características Gerais dos CAEs 14
fim de ilustrar o desenvolvimento da cascata hadrônica e entender a dinâmica da cascata
completa, seguimos a abordagem de J. Mathews [30] e apresentamos um modelo simpli-
ficado baseado no Modelo de Heitler para obter propriedades básicas e comportamentos
típicos de alguns observáveis.
Consideremos uma colisão próton-próton perfeitamente inelástica, onde todos os se-
cundários são píons, respeitando uma proporção adequada. De modo análogo ao caso
anterior, vamos admitir que a energia é dividida em partes iguais entre os píons. Além
disso, vamos supor que os píons neutros decaem imediatamente, produzindo dois fótons -
que iniciam uma cascata eletromagnética, segundo o modelo anterior - enquanto os píons
carregados interagem novamente após uma distância d = λ
had
ln 2, produzindo uma nova
série de píons (Fig. 2.5). O processo de multiplicação tem fim quando os píons car-
regados atingem uma energia crítica ξ
c
π
a partir da qual decaem em múons. Como no
caso anterior, existem simplificações fortes e os parâmetros do modelo são considerados
como constantes. Em particular, para o intervalo de energia de 10
1417
eV esta última
aproximação não é tão dramática. Segundo Mathews, valores aproximados para os parâ-
metros seriam ξ
c
π
20 GeV, λ
had
120 g/cm
2
. Para as “constantes” associadas à cascata
eletromagnética, teríamos ξ
c
em
85 MeV, λ
em
37 g/cm
2
.
Seja N
total
= N
+
+ N
0
onde N
+
refere-se à quantidade de píons carregados e N
0
refere-se à quantidade de píons neutros. Então, após n interações, temos:
N
π
= (N
+
)
n
, (2.6)
E
π
=
N
+
N
n
total
· E
0
, (2.7)
De modo que a energia por píon carregado é dada por:
ε
π
=
E
π
N
π
=
E
0
N
n
total
(2.8)
Ao atingir o limiar crítico, ou seja, a energia de decaimento, temos ε
π
= ξ
c
π
. Portanto:
n
c
=
ln
E
0
ξ
c
π
ln N
total
. (2.9)
2.3 Características Gerais dos CAEs 15
De modo análogo ao caso eletromagnético, aproximamos o máximo da cascata por:
E
0
= ξ
c
em
N
max
em
+ ξ
c
π
N
max
π
. (2.10)
Abaixo da energia crítica, os píons carregados decaem em múons (π
+
µ
+
+ν
µ
( ¯ν
µ
)).
Considerando que o número de múons é aproximadamente constante (vide Fig. 2.4),
podemos estimá-los via:
N
µ
= N
max
π
= (N
+
)
n
c
. (2.11)
Usando (2.9), reescrevemos a equação anterior como
N
µ
=
E
0
ξ
c
π
α
, (2.12)
onde
α =
ln N
+
ln N
total
. (2.13)
Introduzindo f como a fração de píons neutros,
f =
N
0
N
total
, (2.14)
escrevemos:
α = 1 +
ln (1 f)
ln N
total
. (2.15)
Exceto para eventos exóticos, temos f
1
3
.
Para calcularmos a altura onde ocorre o máximo de partículas (X
max
), vamos admitir
que a componente eletromagnética domine a quantidade de partículas na cascata e vamos
desconsiderar a influência dos subchuveiros gerados posteriormente, i.e., a componente
eletromagnética proveniente da primeira série de píons neutros é a principal responsável
pela altura do máximo. Assim:
X
max
= λ
had
+ λ
em
ln
ε
em
ξ
c
em
. (2.16)
2.3 Características Gerais dos CAEs 16
O primeiro termo refere-se à posição onde a cascata eletromagnética tem início (Fig.
2.5) enquanto o segundo apenas reflete o máximo calculado na seção anterior. Sabendo
que a energia disponível para a componente eletromagnética e o número de fótons após a
primeira interação são dados, respectivamente, por:
E
γ
= E
0
·
N
0
N
total
, (2.17)
N
γ
= 2N
0
, (2.18)
obtemos:
ε
γ
=
E
0
2N
total
. (2.19)
Portanto,
X
max
= λ
had
+ λ
em
ln
E
0
2N
total
· ξ
c
em
(2.20)
A extensão para colisões núcleo-próton é feita considerando o Princípio de Superposi-
ção. Este admite que os nucleons desenvolvem cascatas independentes na atmosfera, com
energia
E
0
A
, onde A é a massa do núcleo primário. A evolução simultânea e superposta
destes CAEs refletiriam o comportamento adequado. Em outras palavras, os nucleons são
tratados de forma independente. Assim, fazemos E
0
E
0
A
e, portanto,
X
max
= λ
had
+ λ
em
ln
E
0
2N
total
· A · ξ
c
em
. (2.21)
Adaptando o número de múons:
N
µ
=
E
0
c
π
α
, (2.22)
onde
α =
ln N
+
ln N
total
. (2.23)
As duas equações anteriores guardam muitas propriedades dos CAEs. Primeiro, no-
tamos a dependência com a massa do primário. Ao compararmos prótons e núcleos inci-
dentes com a mesma energia E
0
, temos:
2.4 Experimentos e observação 17
N
nucleo
µ
= A
α
N
proton
µ
, (2.24)
X
nucleo
max
= X
em
max
+ λ
had
λ
em
ln A. (2.25)
A dependência como o logarítmo da massa é responsável por antecipar o máximo
do CAE. Além disso, α > 0 e, portanto, a produção de múons é maior para núcleos
incidentes. Aqui surge mais um observável relevante para a análise da composição: a
razão múon-elétron. Píons provenientes de um primário mais pesado atingem mais rápido
a energia de decaimento que a energia por nucleon é
E
0
A
. Portanto, interagem menos e
dissipam menos energia para a componente eletromagnética, de modo que a razão múon-
elétron é maior para primários mais pesados. Estes constituem o principal mecanismo
para a inferência de massa dos primários.
Observando as dependências com o livre caminho médio (λ
em
, λ
had
), a fração de píons
ou, de modo mais geral, de hádrons e a multiplicidade (N
total
), os principais responsáveis
pelos observáveis estão diretamente vinculados aos primeiros estágios do CAE. Eles resu-
mem a maior parte da incerteza na descrição dos CAEs. Modelos de interação hadrônica
com diferentes multiplicidades discordam no número de múons e na altura do máximo.
Por outro lado, f < 1 e, caso N
total
>> 1, a quantidade de múons é muito sensível à
fração f , embora a altura do máximo permaneça inalterada. A competição entre estes
parâmetros é fundamental para a simulação dos CAEs.
2.4 Experimentos e observação
Durante as últimas décadas, a física de RCs foi muito impulsionada por grandes expe-
rimentos que revelaram informações como o espectro de energia e a composição dos
RCs, e detalhes da evolução dos CAEs. Nesta seção, faremos uma breve discussão de
dois experimentos muito relevantes dentro do contexto desta dissertação. O primeiro é
2.4 Experimentos e observação 18
o Observatório Chacaltaya, onde os eventos Centauros foram observados, o segundo é o
Observatório Pierre Auger, de onde se esperam contribuições de impacto para a física de
RCs.
2.4.1 Observatório Chacaltaya
Liderado pelo físico brasileiro César Lattes, o observatório começou a operar em 1962,
constituindo uma das atividades da Colaboração Brasil-Japão [4]. Situado no Monte Cha-
caltaya, na Bolívia, a uma altura de 5.200 m, o laboratório utilizava placas (tipicamente de
chumbo) como alvos para a radiação cósmica, incitando interações hadrônicas. A energia
envolvida era 10
13
10
15
eV. Os secundários podiam ser observados através de uma
série de detectores fotosensíveis, compostos de filmes de raios-X e placas de emulsão
nucleares. Esse aparato é conhecido como Câmara de Emulsão. Foi nesse contexto que
estranhos eventos com excessiva produção de hádrons e baixa produção de píons neutros
foram detectados. Ficaram conhecidos como “Centauros” devido à sua assimetria nas
placas do detector. Adiaremos a discussão em detalhe desse fenômeno para o Capítulo
5. Vale ressaltar que o observatório também teve participação decisiva na descoberta do
píon.
2.4.2 Observatório Pierre Auger
Localizado em Malargüe, na Argentina, o Observatório Auger está em fase final de cons-
trução e já colhe dados desde 2004. Envolve aproximadamente 300 cientistas de 70 insti-
tuições espalhadas por 17 países. O experimento Auger conta com 1600 tanques distantes
entre si de 1, 5 km e 24 detetores de fluorescência, ocupando uma área de 3000 km
2
[6].
Experimentalmente, o Auger emprega uma técnica híbrida, utilizando medições in-
dependentes via detectores de fluorescência (semelhante ao experimento HiRes) e de-
tectores de superfície (semelhante aos experimentos AGASA e Kascade). A utilização de
mecanismos complementares e independentes implica uma alta qualidade na acurácia dos
2.4 Experimentos e observação 19
dados obtidos.
Apesar de jovem, o Observatório Auger foi capaz de realizar considerações a res-
peito de grandes questões da física de RCs. A colaboração do experimento confirma a
forte atenuação no espectro e indica que este reflete o corte GZK [23, 24]. Além disso,
uma anisotropia foi detectada e uma correlação com núcleos de galáxias ativas (NGA)
próximos foi identificada [32]. Deste modo, NGAs surgem como o principal candidato
a fontes do RC de ultra alta energia [33]. O experimento também sugere que a composi-
ção de RCs ultra energéticos seja ligeiramente mais pesada do que a inferida pelo HiRes.
Entretanto uma maior estatística é necessária para a confirmação desta hipótese.
* * *
Uma vez que discutimos as principais características e propriedades dos CAEs, volta-
mos a nossa atenção à simulação deste fenômeno. Esta exige um alto grau de sofisticação
para gerenciar todos os processos envolvidos e os diversos limites de energia existentes.
Como se não bastasse, para cada etapa do processo existem diversos pacotes disponíveis.
O próximo capítulo é dedicado à descrição dos conceitos básicos das interações hadrôni-
cos, que desempenham um papel fundamental construção dos simuladores de CAEs.
Capítulo 3
Conceitos Básicos Sobre Interações
Hadrônicas
Neste capítulo apresentamos os conceitos e definições básicas da física de interações ha-
drônicas. Não realizaremos uma descrição extensa e completa sobre o assunto mas sim
apresentaremos e discutiremos a física envolvida, considerando as suas limitações e mo-
delos existentes. O objetivo aqui é identificar os principais fatores de incerteza teórica e
as dificuldades pertinentes, visando a discussão no próximo capítulo sobre os simuladores
de colisões hadrônicas de alta energia.
3.1 Espalhamento Profundamente Inelástico
O espalhamento profundamente inelástico refere-se ao espalhamento entre um próton e
um elétron (e + p e + X), interagindo via troca de um fóton virtual. Variações deste
processo incluem a troca de bósons W
±
ou Z
0
e tornam-se relevantes para reações com
alta transferências de momentos. Embora este espalhamento utilize um elétron como
“carga de prova” para conhecer a estrutura do próton, nosso objetivo é apenas ilustrar as
principais características de um processo de espalhamento, de modo que os conceitos e
3.1 Espalhamento Profundamente Inelástico 21
definições estabelecidas aqui fiquem claros e sejam facilmente estendidos para interações
hadrônicas. A Fig. 3.1 ilustra o processo.
Figura 3.1: Variáveis cinemáticas em um espalhamento profundamente inelástico. Os momentos
iniciais k e P são conhecidos enquanto o momento final k
pode ser medido através do lépton
defletido. Retirado de [34].
A cinemática deste espalhamento pode ser caracterizada pelo seguinte conjunto de
variáveis:
s = (P + k)
2
, (3.1)
Q
2
= q
2
= (k k
)
2
, (3.2)
x =
Q
2
2P · q
, (3.3)
onde s refere-se ao quadrado da energia do centro de momento, Q
2
refere-se a quantidade
de momento carregado pelo fóton
1
e x, conhecida como variável de Bjorken, pode ser
interpretada como a fração de momento carregada pelo párton no interior do próton
2
.
A seção de choque total inclusiva para este espalhamento é dada pela soma de todos os
possíveis estados finais hadrônicos e não pode ser completamente calculada por métodos
1
Lembramos que o fóton trocado é tipo-espaço e, portanto, Q
2
> 0.
2
O conceito de párton será definido a posteriori.
3.2 Modelo de Pártons 22
pertubativos [34, 35, 36, 37]. De posse dos escalares de Lorentz definidos anteriormente
e através de cosiderações sobre simetria de reversão temporal e paridade, conservação da
corrente eletromagnética e de paridade da corrente eletromagnética, obtemos uma forma
fechada para a seção de choque no referencial de repouso do próton [36, 37]:
e
p
dEd
=
α
e
m
2
4ME
2
sin
4
θ
2
2F
1
sin
2
θ
2
+
M
2
P · q
F
2
cos
2
θ
2
. (3.4)
As funções F
1,2
= F
1,2
(x, Q
2
) são denominadas Funções de Estrutura e estão na base
do Modelo de Pártons, que discutimos a seguir.
3.2 Modelo de Pártons
A forma obtida anteriormente para a seção de choque (Eq. (3.4)) é muito semelhante à se-
ção de choque do espalhamento elétron-múon tendo, inclusive, as mesmas dependências
angulares [36, 37]. Este fato sugere que um próton seja composto de férmions pontuais,
denominados pártons, e que as funções de estrutura sejam responsáveis pela descrição
desta estrutura interna. Experimentalmente esta hipótese é apoiada pela observação das
relações de Callan-Gross [38] e da invariância de escala [39], que são resultados obtidos
naturalmente via Modelo de Pártons. A invariância de escala, conhecida como Bjorken
Scaling, diz respeito à invariância da função de estrutura com o momento transferido, Q
2
[40, 41]. A Fig. 3.2 mostra os valores experimentais de F
2
para um intervalo significativo
em Q
2
. Os pontos parecem todos coincidir sobre uma mesma curva, mostrando poucas
flutuações. Quanto à relação de Callan-Gross, esta refere-se à correlação entre as funções
F
1
e F
2
. A Fig. 3.3 exibe uma comparação entre F
L
= F
2
2xF
1
e F
2
como função de
x. Apesar dos poucos pontos para F
L
, podemos ver que ela é significativamente menor
que F
2
e bem próxima de zero, sugerindo que F
2
= 2xF
1
. Ressaltamos, porém, que estas
correlações e invariância são resultados aproximados (vide Fig. 3.4). Voltaremos a esse
assunto mais adiante.
3.2 Modelo de Pártons 23
De posse desta intuição sobre a estrutura do próton, definimos funções de densidade
partônicas, f
i
(x), normalizadas por
i
1
0
dx xf
i
(x) = 1, (3.5)
com as funções de estrutura dadas por [37]:
F
1
(x) =
1
2
e
2
i
f
i
(x), (3.6)
F
2
(x) = 2xF
1
. (3.7)
Figura 3.2: Resultados do SLAC sobre DIS: Invariancia de escala. Retirado de [34].
O sucesso deste modelo simplificado de pártons apesar de muito motivante é pertu-
bador, pois supõe que os pártons estejam livres dentro do próton, o que é completamente
inesperado, visto que não observação de pártons livres. Por outro lado, o fato destes
resultados serem aproximados indicam que existem detalhes sobre a estrutura interna que
necessitam ser compreendidos. Poder-se-ia pensar que estes resultados seriam dependen-
tes da visão simplista que adotamos para a discussão deste problema. Porém, pode-se
mostrar que mesmo em uma formulação via Teoria Quântica de Campos (TQC) a inva-
riância de escala e a relação de Callan-Gross podem ser obtidas [34, 37, 36]. Na inter-
pretação via TQC, o próton consiste de três quarks de valência, um mar de pares quark-
antiquark (em pequeno x) e mediadores da interação forte, conhecidos como glúons, que
3.2 Modelo de Pártons 24
Figura 3.3: Resultados do SLAC sobre DIS: Relação de Callan-Gross. Retirado de [34].
garantem o estado ligado dos pártons e são responsáveis pela maior parte da massa do
próton [42]. Em termos qualitativos, um próton constituído por férmions mediados por
glúons é ilustrado na Fig. 3.5. A figura da esquerda ilustra um próton a baixa energia.
A configuração inicial pode flutuar em estados que contenham gluons adicionais ou até
mesmo produzir pares quark-antiquark. Comparando com a figura da direita, que ilustra
um próton de altíssima energia, vemos que as flutuações são em menor número. Neste
segundo cenário, devido à dilatação de Lorentz, uma carga de teste poderia “visualizar” o
próton como quarks livres dentro e uma “sopa de glúons” e experimentar diversas intera-
ções com estes.
A questão que segue é como realizar uma descrição que inclua a presença destes me-
diadores consistente em toda a região cinemática. Em outras palavras, como conectar as
funções de estrutura às funções de densidade partônicas sem comprometer as proprieda-
des observadas. É neste contexto que surgem as equações DGLAP [43, 44, 45] e BFKL
[46, 47, 48, 49] que veremos a seguir, incorporando termos pertubativos que respondem
pela presença destes mediadores.
3.2 Modelo de Pártons 25
Figura 3.4: Desvios do comportamento de escala. Com o aumento de Q
2
a função de estrutura
F
2
aumenta para pequeno x e diminui para valores de x maiores. Dados provenientes do CDHS
counter experiment no CERN. Retirado de [37].
Figura 3.5: Ilustração dos pártons de valência de um próton e suas interações e flutuações. À
esquerda, proton a baixa energia e à direita, proton a alta energia. Retirado de [34].
3.3 Fenomenologia a pequeno x: DGLAP e BFKL 26
3.3 Fenomenologia a pequeno x: DGLAP e BFKL
A fenomenologia a pequeno x é atualmente tratada, em grande medida, através das equa-
ções de Dokshitzer, Gribov, Lipatov, Altarelli e Parisi (DGLAP) e Balitski, Fadin, Kutaev
e Lipatov (BFKL)
3
. Estas equações são expansões pertubativas que consideram corre-
ções logarítmicas de acordo com a região cinemática. Ressaltamos que estamos sempre
tratando de cromodinâmica quântica pertubativa (pQCD) e, portanto, a constante de aco-
plamento, α
s
<< 1 ou, equivalentemente, Q
2
s.
3.3.1 O formalismo DGLAP
O formalismo DGLAP leva em consideração correções do tipo (α
s
ln Q
2
)
n
, a fim de des-
crever a dependência da função de estrutura com Q
2
. Em linhas gerais, fornece equações
de evolução para a função de estrutura em termos das densidades partônicas dos quarks de
valência, dos quarks de mar e dos glúons, considerando processos de radiação em QCD.
Experimentalmente mede-se a função de estrutura em uma escala Q
0
4 GeV e a função
é evoluída até a escala desejada. Além do comportamento logarítmico em Q
2
, a evolução
DGLAP prevê um comportamento decrescente da função de estrutura com o aumento dos
valores de x [35].
Para este tipo de expansão, é necessário que os seguintes critérios sejam satisfeitos:
α
s
1, (3.8)
ln x ln
Q
2
Q
2
0
, (3.9)
α
s
ln Q
2
1. (3.10)
É importante notar que existe uma competição entre os valores de x e Q
2
, através da
desigualdade (3.9), e que esta aproximação pode não ser válida para valores de x muito
3
A fenomenologia em pequeno x tem recentemente visto um grande avanço na direção de efeitos de
saturação, em particular relacionados à produção de color glass condensates e derivados [34].
3.4 Interações Macias e a Fenomenologia de Regge-Gribov 27
pequenos [50]. Apesar dessa ressalva, vale comentar que o formalismo DGLAP tem
sucesso na descrição dos dados de HERA [51].
3.3.2 O formalismo BKFL
De maneira semelhante ao formalismo DGLAP, o formalismo BKFL busca correções
logarítmicas para a função de estrutura, porém voltadas para o limite onde x 0. Em
linhas gerais, sua equação de evolução admite que a região de pequeno x é dominada pelo
processo de desdobramento de glúons (g gg).
Para este tipo de expansão, é necessário que os seguintes critérios sejam satisfeitos:
α
s
1, (3.11)
ln x ln
Q
2
Q
2
0
, (3.12)
α
s
ln
1
x
1. (3.13)
De modo análogo ao caso anterior, temos uma competição. Quando comparado ao
formalismo DGLAP, o formalismo BKFL é aplicável para regiões de pequeno x porém Q
2
mais baixo. Este formalismo prevê um comportamento crescente da função de estrutura
com a diminuição dos valores de x. Experimentalmente, também concorda com os dados
de HERA e, portanto, não é possível distinguir qual dinâmica é vigente.
3.4 Interações Macias e a Fenomenologia de Regge-Gribov
De posse da teoria atual para descrever as interações fortes, a Cromodinâmica Quântica
(QCD), não é possível realizar uma descrição das interações macias (Q
2
s) por pri-
meiros princípios e somente uma teoria efetiva pode ser escrita. Utilizando o conceito
de pomeron como mediador efetivo da interação, o modelo de Regge realiza uma boa
3.4 Interações Macias e a Fenomenologia de Regge-Gribov 28
descrição dos dados e foi novamente requisitado para a descrição das interações macias
4
.
Neste cenário, a interação entre hádrons é medida por uma quasi-partícula, deno-
minada pomeron. Espera-se que existam múltiplas trocas de pomerons por espalhamento
(vide Fig. 3.6) e que a densidades muito elevadas, estes pomerons possam interagir, dando
origem a efeitos não-lineares. Microscopicamente, podemos pensar em pomerons como
cascatas de pártons geradas entre alvo e projétil (vide Fig. 3.7). Estas cascatas de pártons
guardam as informações de processos de re-espalhamentos que um párton inicialmente
emitido pode sofrer.
Figura 3.6: Interação hádron-hádron vista como troca de multiplos pomerons. Retirado de [52].
Tecnicamente, a abordagem de Regge consiste em uma parametrização da amplitude
de espalhamento que respeite a analiticidade. O termo dominante nesta parametrização
é o pomeron. Na abordagem de Regge-Gribov[53, 54, 55], que inclui múltiplos espalha-
mentos, a amplitude é dada pela soma sobre todos os contribuições (gráficos) com troca
de n pomerons. Efeitos não lineares refletem, na realidade, a superposição das casca-
tas de pártons ou, equivalentemente, interações entre pomerons (vide Figs. 3.8 e 3.9)
[19, 52, 56].
4
Antes do surgimento da QCD, a fenomenologia de Regge era a ferramenta utilizada para a descrição
das interações fortes.
3.4 Interações Macias e a Fenomenologia de Regge-Gribov 29
Figura 3.7: Interação hádron-hádron através de cascatas de pártons: pomerons. Retirado de [19].
Figura 3.8: Exemplos de superposição de cascatas de pártons. Retirado de [52].
Figura 3.9: Interação pomeron-pomeron. Retirado de [56].
Observe que a Teoria de Regge-Gribov (TRG) não é uma teoria voltada exclusiva-
mente para descrever os efeitos macios. Na realidade, elas realizam uma descrição efe-
tiva de toda a interação. O Modelo de Pártons naturalmente exige a presença de pártons
macios mesmo quando a interação tem origem dura. Basta notar que, embora o pár-
ton emitido inicialmente esteja na escala pertubativa, não garantias de que os pártons
re-espalhados que compõem a cascata também sejam duros. A própria natureza da in-
3.5 Interações Nucleon-Nucleon: Descrição Qualitativa 30
teração, onde os mediadores “não são cegos uns aos outros”, impede uma separação tão
ingênua. Assim, poder-se-ia pensar que a descrição anterior não é pertinente, dado que
ela não teria aplicação nos simuladores de CAEs. Entretanto, a parte dura é de funda-
mental importância, principalmente para o cálculo das seção de choque para a produção
de minijatos, como discutiremos no próximo capítulo. Além disso, é possível construir
pomerons semi-duros, que também têm papel de destaque em alguns simuladores e depen-
dem da física que apresentamos anteriormente [52, 57]. Esta física de pomerons possui
muitas variações e é muito vasta. Para um entendimento mais profundo sobre o assunto,
recomendamos [56].
3.5 Interações Nucleon-Nucleon: Descrição Qualitativa
Nas seções anteriores realizamos uma digressão sobre a interação forte, apresentando os
modelos e equações mais utilizados e que regem esta interação nas diferentes regiões ci-
nemáticas. Entretanto, ainda não abordamos a interação nucleon-nucleon como um todo,
analisando qual o impacto de cada contribuição e como estas se relacionam. Um espalha-
mento nucleon-nucleon pode ser visualizado como um processo de espalhamento múltiplo
entre dois hádrons, mediados por cascatas de pártons (quarks e glúons) conforme a Fig.
3.10 [58, 59]. Estas cascatas de pártons refletem a troca de glúons entre os nucleons e
respondem por processos que dão origem à produção de partículas (como a produção de
jatos na Fig. 3.10) e re-espalhamentos [52, 57]. Com o aumento da energia há uma com-
petição entre a densidade de pártons e a localização destes no espaço [52]. Relembrando
a Fig. 3.5, quando discutimos o modelo de pártons, já podemos avaliar o comportamento
da densidade de pártons com a energia, e entender porque esta deve ser maior a altas
energias. Quanto ao segundo fator, a localização, recorremos ao princípio da incerteza
para estimar o seu comportamento. Flutuações de pártons com baixo momento transverso
são caracterizadas por uma delocalização no plano tranverso pois, b 1/p
2
t
. Este tipo
de flutuação é dominante quando a escala de energia envolvida é baixa (α
s
>> 1) e as
3.5 Interações Nucleon-Nucleon: Descrição Qualitativa 31
flutuações de alto momento transverso (p
t
) são suprimidas. Nesta situação, o nucleon
aparece como uma estrutura difusa, de baixa densidade de pártons (Fig. 3.11.(a)). Em
contrapartida, flutuações de alto p
t
são bem localizadas e exigem energias maiores, o que
implica uma maior densidade de pártons, conforme ilustra a Fig.3.11.(b). Situações inter-
mediárias, onde temos predominância de flutuações macias porém a energias superiores, a
densidade partículas se eleva e forma uma região difusa, embora nem tanto quanto a ante-
rior, e de densidade elevada (Fig. 3.11.(c)). A última figura à direita, Fig. 3.11.(d), ilustra
a forma geral de um processo de altíssima energia, onde contribuições dos dois tipos são
relevantes. A região mais escura interna reflete a alta densidade de pártons, onde efeitos
de fusão e saturação tornam-se relevantes. O processo geral deve conter todas as contri-
buições, de modo que a região mais clara responde pela presença dos pártons de baixo
p
t
. A contribuição de cada parte é confusa e a separação entre elas é realizada de modo
rudimentar, inserindo um parâmetro de corte, denominado p
t
cut-off. Valores abaixo deste
corte são considerados macios e seguem a fenomenologia de Regge-Gribov, enquanto va-
lores acima são considerados duros e são descritos pela QCD pertubativa (pQCD). Não
bastasse a fragilidade em separar os diferentes regimes, cada regime tem individualmente
suas dificuldades. Como vimos na seção anterior sobre a TRG, uma série de parâmetros
é introduzida e, como veremos no capítulo seguinte, algumas aproximações realizadas po-
dem violar a conservação de energia. Na parte dura, a dificuldade reside principalmente
no tratamento dos efeitos não-lineares. A descrição do processo como uma superposição
de re-espalhamentos mediados por cascatas de pártons implica que a altíssimas energias a
densidade de pártons será muito elevada e as cascatas de pártons começam a se superpor
e influenciar umas as outras [52, 57]. Efeitos de saturação e parton shadowing são alguns
exemplos. Dentro do contexto da TRG esta superposição pode ser vista como interações
pomeron-pomeron.
3.5 Interações Nucleon-Nucleon: Descrição Qualitativa 32
Figura 3.10: Espalhamento nucleon-nucleon, com aprodução de um par quark-antiquark. Reti-
rado de [58].
Figura 3.11: Perfil do proton para interações macias (a), duras (b), semi-duras (c), e geral (d).
Retirado de [60].
Toda esta discussão anterior versa sobre a evolução e descrição da interação entre
os pártons. Para uma descrição completa do espalhamento, é necessário um modelo de
hadronização que suplemente a TRG e a pQCD. Embora o Modelo de Pártons da QCD
forneça informações sobre a divisão da energia entre os hádrons, não informação sobre
3.5 Interações Nucleon-Nucleon: Descrição Qualitativa 33
a divisão da energia entre os pártons que os compõem. A dificuldade é ainda maior
se considerarmos a componente macia da interação, onde não temos nem mesmo uma
interpretação microscópica clara. Somos, mais uma vez, levados a recorrer a modelos
fenomenológicos. Os mais utilizados são o Dual Parton Model (DPM) [61, 62] e o Quark-
Gluon String Model (QGS) [63], ambos baseados no modelo de strings. Neste modelo,
projétil e alvo são idealizados como objetos carregados de cor e que interagem através
da troca de cargas de cor, com os constituintes do projétil conectados aos constituintes
do alvo por tubos por onde o fluxo de cor. São estes tubos que denominamos strings
(cordas). A fragmentação destes tubos origem à produção de hádrons. A diferença
entre os modelos DPM e QGS reside no processo de fragmentação. Além do processo
de hadronização, é necessário um modelo para a descrição da “partícula líder”
5
(leading
particle production). Entretanto, não há atualmente uma compreensão clara e satisfatória
deste processo [52, 57, 58, 59].
Por fim, devemos lembrar que esta discussão abrange apenas colisões nucleon-nucleon.
Entratanto, a abordagem pode ser estendida para tratar de colisões núcleo-núcleo, desde
que as funções de onda dos nucleons dentro do núcleo sejam conhecidas. Sob certas con-
dições, o então conhecido tratamento clássico de Glauber pode ser obtido. O modelo que
realiza esta extensão é conhecido como Modelo de Glauber-Gribov [64].
A figura a seguir ilustra os diversos componentes necessários para se construir uma
colisão núcleo-núcleo. Destacamos a complexidade do fenômeno e a quantidade de teo-
rias e parâmetros requisitadas para descrevê-lo desde o momento inicial até a produção
dos hádrons finais.
* * *
Até agora abordamos os diferentes aspectos e teorias para a descrição da interação
núcleo-núcleo de alta energia. É claro que não pretendemos esgotar o assunto aqui. Tópi-
5
De modo simplificado, “partícula líder” refere-se ao fragmento do núcleo incidente que responde pela
maior parte da energia e pelo maior número de nucleons.
3.5 Interações Nucleon-Nucleon: Descrição Qualitativa 34
Figura 3.12: Ilustração esquemática das diversas “etapas” de uma colisão núcleo-núcleo.
cos como, por exemplo, o espalhamento difrativo, não foram abordados embora também
sejam relevantes. Optamos apenas por ilustrar os principais conceitos a fim de discutir
como os diferentes simuladores incorporam estas teorias e como os seus resultados são
afetados pelos parâmetros envolvidos. Na seqüência, avaliamos como essa incerteza afeta
os observáveis de um CAE.
Capítulo 4
Simulações de Chuveiros Aéreos
Estendidos
Infelizmente, um CAE é um evento complexo demais para ser completamente descrito
analiticamente. A alta quantidade de partículas envolvidas e os diferentes processos e
interações responsáveis pelo seu desenvolvimento praticamente tornam impossível uma
abordagem neste sentido. Atualmente, modelos baseados em métodos de Monte Carlo
são amplamente utilizados. Aplicados na análise e interpretação de dados, atuam como
ferramenta de teste para novos modelos e sugerem novos experimentos. Entretanto, para
eventos de altíssima energia, ainda há uma boa dose de incerteza nos resultados advindos
destes simuladores, principalmente no que concerne à descrição das interações hadrôni-
cas de alta energia, conforme discutido no capítulo anterior. Considerando essa influência
na análise dos CAEs, este capítulo visa realizar uma discussão sobre os simuladores de
alta energia, discorrendo sobre suas propriedades e limitações, e observando como im-
pactam os observáveis de um CAE. Neste capítulo, não pretendemos discorrer sobre o
gerenciamento de todo o CAE, entretanto, incluímos no Apêndice 1 uma breve descrição
das outras etapas, complementando a discussão.
4.1 Como Simular Interações Hadrônicas deAlta Energia 36
4.1 Como Simular Interações Hadrônicas de
Alta Energia
Modelos de Monte-Carlo (MC) são necessários para a simulação de propriedades de trans-
porte e interação de cada partícula do CAE, empregando o conhecimento atual sobre
interações, decaimentos e transporte através da atmosfera. Enquanto as interações ele-
tromagnéticas (responsáveis por sub-chuveiros eletromagnéticos, ionização e emissão de
radiação Cherenkov, dentre outros) e as interações fracas (responsáveis por decaimentos
de secundários instáveis) são bem entendidas, o conhecimento das interações hadrôni-
cas é limitado. Conforme discutimos anteriormente, uma mistura de modelos teóricos e
parametrizações de dados experimentais se faz necessária e mesmo os modelos mais mo-
dernos para a simulação de produção de hádrons têm base fenomenológica e hipóteses ad
hoc.
Tipicamente, as energias que envolvem estas interações nos CAEs variam desde o
limiar para a produção de partículas ( 1 GeV) até energias excedendo 10
20
eV. Compa-
rativamente a energia atingida pelos principais aceleradores, eventos de RCs estão ordens
de grandeza a frente (Fig. 4.1) e é possível imaginar a dificuldade em obter informações
destas interações para este intervalo de energia: dados disponíveis apenas para eventos
de baixa energia (até 10
6
GeV
1
)
2
e ausência de dados sobre diferentes combinações
projétil-alvo [17].
Atualmente, os modelos mais completos e sofisticados para a simulação destes eventos
são:
DPMJET II.5[65] and III[61, 62];
NEXUS 2.0 [66], 3.0 [67] e EPOS [68],
QGSjet 98 [69], 01 [70], e II[71];
1
Considerando o referencial do laboratório.
2
No contexto de RCs, este regime é considerado “baixa energia”.
4.1 Como Simular Interações Hadrônicas deAlta Energia 37
SIBYLL 1.6 [72, 73] e 2.1 [74].
De modo geral, estes seguem o roteiro traçado no capítulo anterior embora possam
apresentar algumas variações. Cobrem energias desde 100 GeV até 10
1112
GeV e consi-
deram a produção de minijatos responsável por um papel central na descrição da colisão.
Ajustam-se bem aos dados de aceleradores atuais e seus resultados não possuem grandes
discrepâncias. É possível, inclusive, reproduzir resultados de um simulador utilizando um
outro simulador desde que alguns parâmetros do segundo sejam reajustados. Vale lembrar
que estes simuladores não contemplam a produção de partículas charmosas
3
ou exóticas,
como, por exemplo, partículas supersimétricas. A seguir, apresentamos alguns pontos
onde os simuladores diferem e que geram impactos em alguns observáveis dos CAEs.
4.1.1 Produção de Minijatos e o p
t
cut-off
Uma consequência direta da interpretação de hádrons em termos de pártons é a produção
de jatos de partículas em colisões de alta energia, conforme ilustra a fig. 3.10. Quando o
momento transverso é da ordem de alguns GeV, denominamos estes eventos de minijatos.
Para energias 10
16
eV, minijatos começam a se tornar importantes e fornecem uma
contribuição dominante para a seção de choque dura. Esta contribuição pode ser obtida via
pQCD porém depende fortemente do parâmetro de corte, p
t
cut-off. Como comentado
anteriormente, este parâmetro separa os regimes duro e macio, onde a pQCD é aplicável
ou não. Portanto, ele tem papel crucial porque define o limite de integração a partir do
qual o regime pertubativo é válido. Se, por um lado, gostaríamos de um corte mais baixo
a fim de garantir a maior região possível para tratamento pertubativo, por outro lado,
quanto maior o corte, mais precisos seriam os resultados, visto que o Modelo de Pártons
tornar-se-ia mais confiável. Um fator 4 pode ser encontrado entre as seções de choque
para p
cutoff
t
= 2 GeV e p
cutoff
t
= 4 GeV (fig. 4.2). Mesmo experimentalmente, é
3
Embora soe como uma aproximação forte em um primeiro momento, a seção de choque de produção
destas partículas é baixa e, de fato, não devem representar uma contribuição significativa.
4.1 Como Simular Interações Hadrônicas deAlta Energia 38
Figura 4.1: Comparação dos limites de energia dos aceleradores atuais e das interações primárias
de RCs. Fluxo multiplicado por E
2,7
. Adaptado de [59].
difícil distinguir um valor adequado. Uma possibilidade para reduzir o efeito causado
pela presença do corte é incluir nele uma dependência com a energia. Com toda esta
diversidade e incerteza, é compreensível que nenhum modelo possua o mesmo corte. No
modelo QGSJET, o corte é fixo e dado por 2.5 GeV
2
. nos modelos DPMJET (II e III),
encontramos uma parametrização do corte com a energia, dada por:
p
cutoff
t
(
s) = 2.5 + 0.12
log
s
50
3
, (4.1)
enquanto encontramos no SIBYLL
p
cutoff
t
(
s) = 2.5 + 0.065 exp
0.9
s
. (4.2)
4.1 Como Simular Interações Hadrônicas deAlta Energia 39
Figura 4.2: Seção de choque inclusiva calculada para diferentes cortes em momento transverso.
A linha mais externa refere-se ao corte de 2 GeV, enquanto a mais interna refere-se ao corte de 8
GeV. Para comparação os dados de seção de choque total pp e p¯p são apresentados. Adaptado de
[58].
4.1.2 Efeitos Não-lineares
Uma questão muito relacionada ao entendimento da seção de choque para a produção de
minijatos é como extrapolar a densidade partônica para regiões além daquela observada.
A produção de minijatos está diretamente vinculada a esta variável. Intuitivamente, es-
peramos que uma colisão hádron-hádron frontal tenha uma produção de minijatos maior
quando comparado à uma colisão periférica. Ou seja, a produção de minijatos é proporci-
onal à densidade de pártons. Por outro lado, esta proporcionalidade não deve continuar in-
4.1 Como Simular Interações Hadrônicas deAlta Energia 40
definidamente pois, se assim o fosse, ela superaria a seção de choque total! (vide Fig.4.2)
Acredita-se, então, que efeitos não-lineares associados à alta densidade de pártons sejam
relevantes e controlem a evolução nestas condições, diminuindo a participação dos mi-
nijatos e estabilizando esta contribuição à seção de choque total. Dentro do contexto da
TGR, efeitos deste tipo teriam origem nas interações entre as cascatas de pártons, isto é,
interações pomeron-pomeron, conforme ilustra a Fig. 3.9.
Experimentalmente, o aumento da densidade de pártons a pequeno x é apoiado por
observações em HERA. Para um comportamento a pequeno x dado por
f(x, Q
2
)
1
x
∆+1
, (4.3)
obtemos
σ
jet
s
ln s. (4.4)
Antes de HERA, era admitido ∆ = 0, implicando um aumento moderado da seção de
choque. Versões anteriores do SIBYLL e do QGSJET apoiavam-se sobre esta hipótese.
Após as medidas de HERA, 0, 3 .. 0, 4, revelando um crescimento mais pronunciado.
Muito embora não haja uma conclusão definitiva sobre os efeitos desse aumento de
densidade, alguns autores afirmam que os dados provenientes de RHIC apoiam as idéias
de saturação de pártons. Apenas como exemplo, cabe ressaltar outros efeitos vinculados
à alta densidade partônica como a fusão de glúons e o parton shadowing.
Atualmente, os simuladores mais sofisticados para tratar estes efeitos são o QGSJET
II e o novo EPOS. O primeiro inclui um tratamento sofisticado da parte macia, somando as
contribuições de pomerons em todas as ordens
4
. Vale destacar que a versão mais recente
do SIBYLL recebeu uma atualização para incorporar efeitos não-lineares aos pártons du-
ros.
4
Para ser mais preciso, as contribuições são referentes à troca de n pomerons.
4.2 Impacto sobre os observáveis 41
4.1.3 Unitariedade
Unitariedade refere-se ao procedimento para calcular a seção de choque inelástica através
da seção de choque inclusiva. A exceção do Nexus e de seu sucessor, EPOS, os demais
modelos se utilizam da aproximação conhecida como eikonal. A principal dificuldade
desta aproximação é a ausência da conservação de energia-momento. Neste modelo, todas
as interações entre os pártons são tratadas como sendo completamente independentes e a
totalidade da energia das partículas espalhadas encontra-se disponível para cada interação.
A maneira de corrigir este problema é impor a conservação computacionalmente. Para
isso é utilizado um algoritmo de aceitação/rejeição, garantindo que a soma da energia
das interações entre pártons não ultrapasse a energia inicial. Os detalhes deste algoritmo
variam de modelo para modelo. A conservação de energia-momento no cálculo da seção
de choque é uma das hipóteses fundamentais do novo EPOS. Embora seja teoricamente
mais robusto, impõe duas dificuldades adicionais. A primeira referente à introdução de
uma nova função de distribuição dos momentos, necessária para determinar a fração de
energia disponível para cada interação entre os pártons, que é desconhecida. Já a segunda
é referente a soma dos diagramas de pomerons. Ao contrário da aproximação eikonal, esta
não tem uma forma fechada simples. Assim, a presença de termos alternados positiva e
negativamente gera instabilidades.
4.2 Impacto sobre os observáveis
Dentre os parâmetros sugeridos, os que causam maiores incertezas são aqueles associados
à extrapolação das seções de choque inelástica e da inelasticidade da interação hádron-ar,
que compreende a fração de energia transmitida aos secundários e a multiplicidade destes
[75, 76, 77, 78]. Para mensurar seu impacto nas simulações, é interessante entender o
comportamento destas variáveis e os limites experimentais existentes.
O gráfico da Fig. 4.3 refere-se ao comportamento da seção de choque (total e elástica)
4.2 Impacto sobre os observáveis 42
Figura 4.3: Seção de choque total e elástica para colisões pp. Retirado de [17]
para interações pp como função do momento do projétil. A seção de choque inelástica
pode ser obtida pela subtração da componente elástica do total. Aqui podemos ver o
comportamento não trivial desta variável e os limites experimentais. No caso de intera-
ções pp é possível atingir até 10
89
GeV. A situação é ainda mais dramática no caso de
interações envolvendo núcleos.
É interessante mostrar como o corte no momento desempenha um papel importante.
Apresentamos aqui um comparativo [58], onde consideramos dois modelos baseados em
adaptações do SIBYLL. No primeiro, consideramos um corte dependente da energia (Mo-
delo I) enquanto no segundo um corte constante (Modelo II). Conforme vemos na Fig.
4.4, ambos se ajustam de maneira adequada ao dados da seção de choque porém têm ex-
trapolações muito diferentes. Enquanto o Modelo I pre um crescimento moderado o
Modelo II prevê um crescimento acelerado.
A seção de choque inelástica tem impacto direto nos observáveis, visto que está dire-
tamente associada ao comprimento de radiação via:
4.2 Impacto sobre os observáveis 43
Figura 4.4: Comparação da extrapolação da seção de choque total e elástica. Retirado de [58]
λ
had
M
p
σ
inel
p
, (4.5)
Onde σ
inel
p
refere-se à seção de choque inelástica do primário com a atmosfera e M
p
refere-se à massa do primário incidente.
O impacto é imediato na posição do máximo do CAE (vide Eq. (2.20)). O aumento
da seção de choque antecipa a posição do máximo e, consequentemente, os CAEs mais
energéticos têm um desenvolvimento mais longo. A correlação entre variações nas seções
de choque pp e p ar podem ser parametrizadas por [79]:
X
max
X
max
=
2
7
·
σ
inel
pp
σ
inel
pp
, (4.6)
4.2 Impacto sobre os observáveis 44
X
max
X
max
=
5
7
·
σ
inel
pAr
σ
inel
pAr
. (4.7)
É interessante ressaltar que o caminho inverso pode ser realizado, ou seja, podemos
realizar uma medição indireta da seção de choque para interações de altíssima energia
através do comprimento de radiação. A figura a seguir contém alguns resultados recentes.
Mais uma vez, observamos o comportamento crescente com a energia.
Figura 4.5: Dados atuais sobre a seção de choque p-ar e predições de modelos. Retirado de [80].
A próxima variável relevante, refere-se à multiplicidade e à fração de energia trans-
mitida aos secundários, a inelasticidade.
Alta inelasticidade significa que a energia é dissipada rapidamente e que o CAE
desenvolve-se mais rápido, atingindo o máximo em uma posição mais alta da atmosfera.
Baixa inelasticidade significa que o espectador carrega a maior parte da energia levando a
um desenvolvimento mais lento e a um CAE longo. Lembramos ainda que λ
had
também
é função da energia como descrevemos anteriormente. Conectando com o nosso compa-
rativo, podemos ver como as multiplicidades também são afetadas pelo corte (vide Fig.
4.6).
4.2 Impacto sobre os observáveis 45
A importância da multiplicidade foi discutida no capítulo anterior e não retornare-
mos ao assunto aqui. Ilustramos apenas o comportamento frente a alguns dos principais
simuladores (Fig. 4.7). Como antes, também é possível estabelecer uma parametrização
entre o máximo do CAE e a inelasticidade:
X
max
X
max
1
2
·
N
N
1
10
·
K
K
, (4.8)
onde K
ine
refere-se a inelasticidade e N é a multiplicidade.
Figura 4.6: Predições para os Modelos I e II para CAEs induzidos por prótons incidentes a 45
graus. Retirado de [58].
Uma outra variável bastante importante e de conexão direta com a multiplicidade é
a produção de múons. Este observável é fortemente dependente da produção de káons e
4.2 Impacto sobre os observáveis 46
Figura 4.7: Comparativo dos simuladores para a multiplicidade de pions positivos (à esquerda) e
negativos (à direita) em colisões pp. Adaptado de [81].
píons das colisões primárias. Em particular, simuladores como QGSJET e SIBYLL dife-
rem aproximadamente em 15% para altas energias. A maior discrepância ocorre entre o
novo EPOS e o novo QGSJET. A discrepância entre eles pode chegar a até 40% [82] (vide
Fig. 4.9). Este excesso na produção de múons ocorre devido a um aumento na produção
de bárions e antibárions, causada pelo inclusão de efeitos não-lineares presentes nesta ver-
são do código. É interessante ressaltar que este aumento vem desacompanhado de uma
mudança na posição do máximo. Este foi um dos bons resultados obtidos pelo EPOS.
Medições realizadas pelo experimento Kascade indicavam que a produção de múons era
superior àquela determinada pelos principais simuladores. A maneira natural de contornar
o problema era supor um primário mais pesado, aumentando assim a produção de múons.
Porém, isso deslocava a posição do máximo, impedindo o acordo com a observação ex-
perimental.
Embora a análise aqui tenha sido separada, na prática é muito difícil distinguir estes
efeitos experimentalmente. Todos eles dependem diretamente da energia bem como os
próprios observáveis. Qualquer alteração em um deles vem acompanhada de alterações
nas demais quantidades e apenas um efeito global pode ser registrado. É interessante notar
que os efeitos discutidos no início do capítulo devem ser relevantes apenas a altas ener-
gias. De modo simplificado, poderíamos estimar que cada vez que temos novas partículas
produzidas a energia é diluída por uma ordem de grandeza. Com isso, os efeitos apresen-
4.2 Impacto sobre os observáveis 47
Figura 4.8: Comparativo do número de múons no solo entre EPOS 1.6 e QGSJETII.3. Retirado
de [82].
Figura 4.9: Comparativo do número de partículas carregadas no solo entre EPOS 1.6 e QGSJET
II.3. Retirado de [82].
4.3 Grau de confiança 48
tados provavelmente não estariam presentes além das primeiras gerações, o que mostra
que mesmo as colisões iniciais são de fundamental importância para o desenvolvimento
do CAE.
4.3 Grau de confiança
Uma vez entendido como os observáveis são influenciados por alguns parâmetros, dire-
cionamos a discussão para a validade das extrapolações realizadas. Existem inúmeras
fontes de incerteza na extrapolação dos modelos de interação hadrônica para altíssimas
energias. Primeiro, espera-se que efeitos não-lineares como fusão de glúons e saturação
sejam relevantes a altíssimas energias, onde a densidade de pártons é elevada [52, 58]. Por
outro lado, o limite de aplicação dos diversos formalismos para a evolução deste processo
ainda é objeto de intensa pesquisa e não é possível decidir se um modelo com multipli-
cidade elevada seria mais realístico [59]. Por último, não um bom entendimento da
“partícula líder” [59, 76]. Para isto é necessário uma compreensão mais acurada da parte
difrativa das seções de choque, que nem mesmo discutimos aqui. Somente o aumento da
quantidade de dados e resultados experimentais poderá dar a palavra final. Espera-se que
o LHC permita decidir entre os diferentes modelos, restrigindo as fontes de incerteza e
direcionando a extrapolação para altíssimas energias.
De modo geral, embora baseados em um mesmo cenário, cada modelo tem suas pecu-
liaridades e um conjunto particular de parâmetros a serem ajustados. Como não poderia
deixar de ser, cada modelo contempla apenas alguns dos possíveis mecanismos físicos
envolvidos. Logo, alguma informação importante pode ser perdida, principalmente de-
vido às altas energias envolvidas, muito distante do que podemos inferir nos aceleradores
atuais. Por outro lado, mesmo modelos em desacordo sobre algum observável podem
conter informações preciosas sobre uma segunda variável. Porém, a grande variabilidade
presente nos simuladores atuais pode impedir de discernir esta contribuição. De posse
do conhecimento teórico e experimental atual, é muito difícil distinguir quais simulado-
4.3 Grau de confiança 49
res seriam mais adequados e que contribuições seriam as mais relevantes. A diversidade é
boa para avaliar muitas possibilidades, todavia dificulta discernir os efeitos mais incisivos.
A alternativa a este cenário é a realização de testes de consistência através de medições
simultâneas por técnicas distintas e complementares ou até mesmo medições de observá-
veis independentes dos modelos. Um parâmetro independente de modelo muito comum
é a energia calorimétrica, que representa a energia depositada pelo CAE na atmosfera
via processos de ionização. Este observável pode ser facilmente mensurado através
detetores de fluorescência. Evitando hipóteses e considerações a respeito da massa do
primário, é possível medi-lo com precisão 20%, para energias 10
19
eV. Em geral,
observáveis independentes estão associadaos à medição da energia e não há sensibilidade
quanto à massa do primário [8].
* * *
Como enfatizado neste capítulo, um bom conhecimento das interações hadrônicas é
decisivo para uma descrição correta dos observáveis do CAE. Inspirados pelos eventos
Centauros, apresentamos no capítulo que segue um estudo de caso, simulando o impacto
de uma outra quantidade na evolução do CAE: a fração de píons neutros.
Capítulo 5
Estudo de Caso: Condensados Quirais
Desorientados
Uma vez que discutimos as principais características dos RCs, CAEs e modelos de inte-
ração hadrônica, estamos aptos a apresentar um estudo de caso. Discutiremos os motivos
que sugerem analisá-lo dentro do cenário de RCs e a abordagem fenomenológica empre-
gada no tratamento. Apresentaremos a técnica computacional, os simuladores utilizados,
as limitações envolvidas e as aproximações realizadas.
5.1 Motivação: Eventos Centauros
Os eventos Centauros foram observados em 1972 pela Colaboração Brasil-Japão, no Ob-
servatório Chacaltaya [4]. Esses eventos são caracterizados por uma produção excessiva
de hádrons desacompanhados de elétrons e fótons, o que sugere a ausência ou baixa pro-
dução de píons neutros (componente eletromagnética). Foram registrados alguns eventos
dessa natureza (vide tabela 5.1), sendo o evento mais dramático conhecido como Centauro
I.
A Fig. 5.1 ilustra a estrutura da câmara de emulsão. Basicamente, ela é composta por
5.1 Motivação: Eventos Centauros 51
Tabela 5.1: Principais Características dos 5 eventos Centauros. Os asteriscos (*) referem-se
a eventos com a altura determinada diretamente enquanto os duplos asteriscos (**) indicam a
energia do hádron mais energético. Adaptado de [83].
Identificação do evento ΣE
γ
+ ΣE
hadrons
(TeV) n
γ
+ n
hdrons
Altura (m)
I 9,0 + 221,5 1 + 49 50*
II 24,4 + 179,0 5 + 32 80
III 101,3 + 168,5 26 + 37 230
IV 139,3 + 147,7 68 + 39 500
V 79,4 + 270,6 25 + 40** 500*
um detector superior e um inferior, feitos de chumbo revestido por um material fotosen-
sível (filmes de raios-X e placas de emulsão nucleares), um alvo composto majoritaria-
mente por carbono e, finalmente, uma faixa de ar. O detector superior é reponsável por
blindar o aparato da radiação eletromagnética externa. O alvo tem o objetivo de promo-
ver a interação com o RC primário. Os jatos gerados durante a interação são conhecidos
por “jatos-C” e compreendem tanto hádrons quanto fótons, elétrons e pósitrons. O ma-
terial escolhido para o alvo é quase transparente à radiação eletromagnética. A faixa de
ar é reponsável por separar as diferentes componentes e, consequentemente, o registro no
detector inferior. Tipicamente, são observadas famílias de manchas no detector superior
maiores em quantidade e energia do que aquelas observadas no detector inferior. Chama
a atenção, no caso dos eventos Centauros, a inversão de papéis
1
. A interpretação mais
simples e intuitiva é assumir que os chuveiros observados no detector inferior são prove-
nientes de interações nucleares locais. Isto sugere que na interação com o alvo houve uma
produção múltipla de hádrons desacompanhados de píons neutros.
Essa assimetria entre a componente de hádrons e a componente eletromagnética ime-
1
Essa incoerência entre os detectores superior e inferior deu origem ao nome Centauro, dado que, uma
vez conhecida a parte superior, a parte inferior era inesperada.
5.1 Motivação: Eventos Centauros 52
diatamente estimulou os teóricos. Os cenários propostos dividem-se em primários exóti-
cos e interações exóticas. É neste segundo cenário que surge a proposta dos Condensados
Quirais Desorientados (CQDs). Dado o regime de energia das interações envolvidas em
CAEs e o papel da simetria quiral, esta hipótese soa bastante natural e induz um estudo
mais quantitativo, a fim de se entender qual seria o registro da presença destes na evolução
do CAE.
Figura 5.1: Ilustração do evento Centauro I. Retirado de [4]
Apesar de registrados em 1972, os eventos Centauros ainda hoje geram muita polê-
mica. Recentemente, Kopenkin, Fujimoto e Sinzi [84] revisaram os dados colhidos e as
informações obtidas na época e sugeriram que os eventos não teriam acontecido do modo
como foram apresentados, e que uma falha inerente ao sistema de detecção (manual e
pouco sofisticado) teria ocorrido. Para ser mais preciso, eles sugerem que uma dife-
rença entre os ângulos obtidos para os registros nas placas superior e inferior, de modo
5.2 O Papel da Simetria Quiral nas InteraçõesHadrônicas 53
que as duas observações não podem ser produtos da mesma interação. Eles atribuem os
registros na placa inferior a uma suposta família que teria atravessado a placa superior
através das frestas existentes entre as placas de emulsão nucleares. Entretanto, Oshawa,
Shibuya e Tamada [83] contestaram esta hipótese embora concordem que não há correla-
ção entre os registros das placas superior e inferior. Na visão deles, é mais provável que
uma família atmosférica tenha atravessado a placa superior sem deixar nenhum registro
de energia apreciável. Apesar da ausência de correlação, reafirmaram a existência dos
eventos Centauros e concluíram que o evento não pode ser completamente descrito por
um chuveiro atmosférico comum. Fato é que, 37 anos após a sua observação nenhum
evento com características similares foi observado. Por outro lado, não houve nenhum
experimento preparado e desenvolvido para a detecção destes eventos [85]. A discus-
são e a incerteza sobre estes eventos servem de fonte de estímulo para a busca de novas
observações e desenvolvimentos teóricos.
5.2 O Papel da Simetria Quiral nas Interações
Hadrônicas
A simetria quiral é exata para a QCD no limite em que os quarks têm massa nula. Entre-
tanto, as massas dos quarks não são nulas, embora a dos quarks leves (up e down) sejam
muito pequenas quando comparadas com as escalas hadrônicas envolvidas [17]. Neste
sentido, consideramos a simetria quiral como uma simetria aproximada das interações
fortes [86].
A simetria quiral compreende duas transformações, conhecidas por transformação ve-
torial [87],
Λ
V
: ψ exp(i
τ
2
·
θ)ψ (1 i
τ
2
·
θ)ψ, (5.1)
e axial:
Λ
A
: ψ exp(
5
τ
2
·
θ)ψ (1
5
τ
2
·
θ)ψ, (5.2)
5.2 O Papel da Simetria Quiral nas InteraçõesHadrônicas 54
onde τ são as matrizes de Pauli de isospin e ψ = (u, d) representa os quarks up e down.
Como salientado anteriormente, para o caso de férmions sem massa, a Lagrangeana é
invariante sob ambas as transformações, com uma estrutura de grupos SU(2)
V
×SU(2)
A
.
Estas transformações descrevem como mésons se comportam frente a rotações de
isospin dos férmions que os compõem. Seja φ = (π, σ) tal que:
π i
¯
ψτγ
5
ψ (5.3)
σ
¯
ψψ. (5.4)
Sob as transformações vetoriais, segue que:
π π +
θ ×π, (5.5)
σ σ, (5.6)
que não é nada além de uma rotação da direção do píon no espaço de isospin por um
ângulo θ. Para as transformações axiais, temos:
π π +
θ · σ, (5.7)
σ σ
θ ·π, (5.8)
de modo que o píon e o sigma são rotacionados um no outro.
Para realizarmos uma descrição efetiva das interações fortes, podemos adotar uma
abordagem fenomenólogica e escrever uma lagrangeana que respeite a simetria quiral e
as suas propriedades, conforme discutiremos em seguida. Este modelo foi desenvolvido
por Gell-Mann e Levy, muito antes da QCD ser utilizada como a descrição das intera-
ções fortes. Para construir tal modelo, devemos escrever a ação como um escalar de
Lorentz, invariante sob as transformações axiais e vetoriais simultaneamente. Incluímos
termos cinéticos e o acoplamento com férmions, para a descrição da interação entre píons
e nucleons. Por fim, adicionamos um potencial satisfazendo a simetria imposta pelas
transformações. Nada mais simples do que uma teoria do tipo λφ
4
. Satisfazendo todas
5.2 O Papel da Simetria Quiral nas InteraçõesHadrônicas 55
estas condições, Gell-Mann e Levy [88] propuseram a seguinte forma, conhecida como
Modelo Sigma Linear:
L =
1
2
µ
φ
a
µ
φ
a
+ i
¯
ψγ
µ
µ
ψ g
π
(
¯
ψψσ + i
¯
ψγ
5
τψπ)
λ
4
(φ
a
φ
a
f
2
π
)
2
. (5.9)
Os parâmetros estão relacionados às quantidades físicas de modo a reproduzir propri-
edades conhecidas do vácuo [87], i.e.,
σ = f
π
, (5.10)
π = 0, (5.11)
m
π
= 0, (5.12)
M
nucleon
= g
π
f
π
, (5.13)
m
2
σ
= 2λf
2
π
. (5.14)
Cabe ressaltar que f
π
significa a constante de decaimento dos píons.
Antes de considerarmos a massa dos quarks, vejamos quais são as propriedades deste
modelo e quais as reais motivações que levaram Gell-Mann e Levy a considerá-lo. A la-
grangeana (Eq.(5.9)) possui um mecanismo de quebra espontânea de simetria (QES), ou
seja, a simetria não é realizada no estado fundamental. Este mecanismo é fundamental
para resolver uma contradição gerada pelo confronto entre a assimetria de massas dos
mésons e o decaimento dos píons. De um lado, a lagrangeana simétrica frente à transfor-
mação axial implica que os estados são equivalentes, visto que a transformação apenas
rotaciona uns nos outros. Portanto, deveriam ter os mesmos autovalores, i.e., os mésons
σ e π deveriam ter a mesma massa - o que não é observado. Por outro lado, a conservação
da corrente axial é consistente com o decaimento dos píons, como fica claro nas relações
de CPCA (Conservação Parcial de Corrente Axial) e de Goldberger-Treiman [87]. O me-
canismo de QES resolve esta situação considerando os píons como bósons de Goldstone.
A Fig. 5.2 ilustra este ponto. Neste cenário, o vácuo é degenerado e não se localiza no
5.2 O Papel da Simetria Quiral nas InteraçõesHadrônicas 56
centro, tendo, portanto, um valor esperado diferente de zero, conforme eq. (5.11) Assim,
excitações na direção σ são radiais e custam energia enquanto excitações de píons são
rotações em torno do vale e não custam energia, refletindo, portanto, sua massa nula.
Figura 5.2: Potencial efetivo. (a) Sem quebra espontânea. (b) Com quebra espontânea. Retirado
de [87].
Para gerar um modelo mais realista e que comporte a “pequena” massa dos píons,
consideramos a massa não nula dos quarks incluindo um termo de quebra explícita de
simetria:
L =
1
2
µ
φ
a
µ
φ
a
+ i
¯
ψγ
µ
µ
ψ g
π
(
¯
ψψσ + i
¯
ψγ
5
τψπ)
λ
4
(φ
a
φ
a
f
2
π
)
2
+
a
φ
a
(5.15)
onde
a
(
0, ) aponta na direção σ no espaço quiral. Os parâmetros , λ e f
π
estão
relacionados às quantidades físicas via:
5.3 Condensados Quirais Desorientados 57
= f
π
m
2
π
, (5.16)
m
2
π
= λ(f
2
π
v
2
), (5.17)
m
2
σ
= 2λf
2
π
+ m
2
π
. (5.18)
Valores típicos são m
π
= 135 MeV, m
σ
= 600 MeV e f
π
= 92, 5 MeV [85].
A presença de uma quebra explícita implica que não mais a simetria de rotação
presente na Fig. 5.2. Agora, o vácuo é definido univocamente, embora o desequilibrio
gerado pela presença do termo
a
φ
a
seja suave frente a pertubações na direção σ (vide
Fig. 5.3). Neste sentido, esperamos que a dinâmica continue sendo dominada pelo me-
canismo de QES e admitimos uma simetria aproximada, em conformidade com as idéias
apresentadas no início da seção.
Figura 5.3: Potencial efetivo na direção σ do Modelo Sigma Linear com quebra explícita de
simetria. Retirado de [87].
5.3 Condensados Quirais Desorientados
O fenômeno dos CQDs tem origem na restauração da simetria quiral durante a evolu-
ção do sistema após uma colisão nuclear a altíssimas energias. Durante este processo, o
5.4 O Cenário de Baked-Alaska 58
parâmetro de ordem quiral (valor esperado do condensado) pode assumir um valor dife-
rente àquele do vácuo, que aponta na direção σ. Em outras palavras, teríamos um estado
intermediário onde a orientação do condensado de quarks no espaço de isospin não cor-
responde à orientação correta, i.e., à orientação do vácuo. Este desalinhamento se reflete
na produção de píons, gerando um estado coerente e um desbalanceamento na propor-
ção de píons produzidos. A seguir, apresentaremos os conceitos básicos do processo de
formação dos CQDs, discutindo estes efeitos.
5.4 O Cenário de Baked-Alaska
Um dos primeiros cenários apresentados para a formação de CQDs foi desenvolvido por
Bjorken e colaboradores [89, 90, 91] e é conhecido como Baked Alaska. Este cenário,
apesar de simplificado, contém os principais ingredientes do processo de formação dos
CQDs e produz os principais efeitos sugeridos na literatura, de modo que passamos a
discutí-lo em seguida. É claro que modelos mais sofisticados foram desenvolvidos, porém
não os apresentaremos aqui. Maiores detalhes podem ser obtidos em [85].
Consideremos uma colisão hádron-hádron de altíssima energia, com grande parte da
energia emitida no plano transversal à direção de incidência, porém sem a emissão de
jatos de grande momento transverso. Antes da hadronização, podemos imaginar que os
pártons carregam a maior parte da energia, produzindo uma “casca” que se expande na
direção radial à velocidade da luz (vide Fig. 5.4). Esta casca é responsável por isolar o
interior “frio” do meio externo, evitando a troca de informações. O foco aqui não é na
evolução desta casca externa mas sim a evolução do interior frio. Este tem, inicialmente,
a simetria restaurada. Durante o seu desenvolvimento, deve quebrá-la espontaneamente,
atingindo um estado de vácuo. A questão central é: qual vácuo?
No estágio inicial da colisão, o sistema tem a simetria subitamente restaurada (fig.
5.2.(a)). Conforme a evolução avança, o interior resfria e o que antes era um mínimo
global torna-se um máximo local (Fig. 5.2.(b)). A simetria é espontaneamente quebrada
5.4 O Cenário de Baked-Alaska 59
e um dos pseudo-vácuos deve ser “escolhido”, com uma ligeira preferência pelo vácuo
verdadeiro, devido à quebra explícita existente. Se o tempo de vida da casca for curto
o suficiente, o condensado de quarks desorientado no interior não pode restaurar a sua
posição de maneira suave, ficando exposto repentinamente à influência externa. A reo-
rientação induzida pelo contato externo reflete-se na radiação de píons produzida, a qual
será coerente e apresentará flutuações evento a evento [85].
Figura 5.4: Evolução espaço-temporal dos CQDs.
Admitindo que a região correlacionada é grande o bastante para ser descrita semi-
classicamente, utilizamos o Modelo Sigma Linear com quebra explícita para a descrição
da dinâmica. Quantitativamente, podemos representar a casca desta “bola de fogo” como
a fonte destas excitações de píons. :
( + m
2
π
)π(x) =
J(x), (5.19)
Onde as setas indicam vetores no espaço de isospin e
J(x) refere-se à casca:
J(x) =
J(t)Θ(t t
0
)δ(t r), (5.20)
5.4 O Cenário de Baked-Alaska 60
correspondendo a uma expansão esfericamente simétrica com raio inicial r
0
= t
0
, onde
t
0
é o instante onde a expansão tem início.
Enquanto do lado externo temos
Φ = σ = f
π
= 0, (5.21)
o interior apresenta
σ = f
π
cos(θ), (5.22)
π = f
π
sin(θ)ˆu. (5.23)
Aqui, ˆu representa um vetor unitário.
Definindo a fração de píons neutros em conformidade com o Capítulo 2:
f =
N
0
N
0
+ N
+
(5.24)
temos que a componente do vetor ˆu na direção π
0
determina f:
f = cos
2
φ, (5.25)
Admitindo que este vetor pode apontar em qualquer direção dentro de um esfera tridi-
mensional com probabilidades iguais, segue que [85]
dP
df
=
1
2
f
(5.26)
Com esta distribuição, a probabilidade de que 10% dos píons sejam neutros é da ordem
de 30%. Em alguns casos a deflexão ocorrerá na direção π
0
, produzindo excesso destes,
enquanto em outros casos o vetor será ortogonal a esta direção, produzindo excesso de
píons carregados.
5.4.1 Principais Efeitos
Os principais efeitos associados à produção de CQDs são [85]:
5.4 O Cenário de Baked-Alaska 61
Flutuações na fração: conforme apresentado no fim da seção anterior;
Coerência: Dado que o processo é semi-clássico, esperamos que domínios macros-
cópicos sejam formados ( 3 5 fm) e a produção de píons seja correlacionada;
Espectro de baixo momento transverso ( 0, 1 0, 5 GeV): Durante a evolução
fora de equilíbrio do sistema, flutuações de baixo comprimento de onda tendem
a ser suprimidas enquanto as flutuações de alto comprimento de onda tendem a
ser amplificadas. Este efeito está diretamente relacionado à propriedade anterior e
contribui para a coerência dos estados.
5.4.2 Discussão sobre a observação dos efeitos
Apesar de os efeitos descritos serem bastante relevantes, devemos ressaltar que a corre-
lação não abrange toda a região da colisão. Portanto, apenas uma pequena região pode
produzir este estado coerente de píons. É claro que pode ocorrer a formação de múltiplos
domínios ou até mesmo de um único domínio. Em qualquer caso, o tamanho destes domí-
nios é bem inferior frente à região total da colisão, correspondendo a apenas uma parcela
do total de píons produzidos. Assim, qualquer efeito gerado por um domínio é reduzido
pela presença do background produzido pelo restante da região. Vamos nos concentrar na
flutuação da fração f, dado que este é o sinal mais claro e que este está na base de nossa
abordagem computacional.
No caso de formação de mútiplos domínios, esse efeito pode ser agravado pela esta-
tística do “processo de decisão” dos domínios. Durante a restauração, cada um “escolhe”
uma direção arbitrariamente, visto que não correlação entre os domínios. Embora a
distribuição de probabilidades tenha um máximo deslocado de f =
1
3
, a composição dos
domínios geraria um efeito global reduzido. Neste caso, a chance de observação de um
evento com baixíssimo percentual de píons neutros ou, equivalentemente, píons carrega-
dos, seria desprezível.
5.4 O Cenário de Baked-Alaska 62
No caso de poucos domínios, uma outra possibilidade é que eles tenham orientações
ortogonais e gerem efeitos compensatórios, i.e., enquanto um domínio gera excesso de
píons carregados, outro pode gerar excesso de píons neutros e, mais uma vez, reduzir o
efeito global.
No contexto de RCs e CAEs, o processo de observação é diferente daquele utilizado
em aceleradores. Assim, qualquer estudo no sentido de mensurar o impacto causado
pela presença dos CQDs deve avaliar a sensibilidade dos observáveis à fração de hádrons
(píons e káons principalmente) produzidos na interação primária. De fato, não é óbvio o
comportamento que deve ser esperado, pois esta fração determina as “condições iniciais”
dos chuveiros eletromagnéticos e hadrônicos, que evoluem de modo distinto. Sob essa
perspectiva, é razoável considerar que os efeitos podem ser simplesmente suprimidos ou
até mesmo amplificados. Embora não tenham ocorrido novas evidências de Centauros,
devemos considerar que este não deve ser, de fato, um evento comum. Não bastassem
todas as dificuldades sugeridas na seção anterior, devemos lembrar que a produção de
CQDs só faz sentido dentro de um contexto de colisões núcleo-núcleo de altíssimas ene-
gias e que o espectro de RCs é dominado por primários leves, principalmente prótons,
sendo eventos de altíssima energia raros devido ao baixo fluxo. Portanto, encontrar uma
colisão núcleo-núcleo de altíssima energia e tal que o efeito provocado pelos CQDs seja
visível não é uma tarefa fácil.
Cabe ressaltar que embora os eventos Centauros sejam a inspiração para a busca de
CQDs, não existe garantias de que estes eventos sejam correlacionados. A existência de
um deles não está condicionada a existência do outro.
5.4.3 Status Experimental
Alguns experimentos tentaram inferir a existências desse estado em colisões núcleo-
núcleo no FermiLab[92], CERN SPS[93, 94, 95, 96], RHIC [97, 98] e, por último, no
experimento MiniMax [99]. Este último, sendo o mais dedicado/preparado para a busca
5.5 Abordagem Computacional 63
dos CQDs. Embora essa procura tenha estimulado o desenvolvimento de ferramentas de
busca de flutuações não-estatísticas e estruturas não-triviais em eventos de alta multipli-
cidade, não houve nenhum sinal claro reportado. Por outro lado, houve a imposição de
limites consistentes com cenários teóricos baseados na hipótese de “quench”.
5.5 Abordagem Computacional
Considerando que nosso problema envolve a manipulação de parâmetros da colisão pri-
mária, imediatamente surgem algumas questões. Como intervir na interação núcleo-
núcleo primária e não afetar o desenvolvimento das interações hádron-núcleo posteriores?
Como incorporar a produção de CQDs? Como avaliar o perfil do CAE em função apenas
da interação primária? Todas estas perguntas naturalmente sugerem um gerenciamento
independente da colisão primária, isto é, a manipulação e controle da interação primária
usando um simulador de colisão núcleo-núcleo desvinculado do simulador utilizado para
a evolução do CAE. Deste modo, os efeitos coletivos podem ser aplicados e controlados,
sem afetar as simulações subsequentes.
Esquematicamente:
Figura 5.5: Etapas do processo de simulação
As conexões entre as etapas são realizadas através de interfaces dependentes dos si-
muladores utilizados para a interação núcleo-núcleo primária e para a simulação do CAE.
Apesar de a abordagem anterior ser bastante coerente, ela é simples e aproximações
não podem ser evitadas. Estas aproximações têm duas origens distintas: transmissão de
5.5 Abordagem Computacional 64
informação e consideração de efeitos exóticos.
A primeira é inerente à simplicidade desejada, isto é, uma abordagem mais sofisti-
cada exigiria uma reestruturação do código do simulador do CAE a fim de incorporar
o gerador de eventos desejado para a descrição da colisão núcleo-núcleo primária. Esta
abordagem exigiria um conhecimento muito profundo dos códigos e da técnica de pro-
gramação envolvida, o que não é o objetivo desejado neste projeto. A alternativa imediata
à esta possibilidade é utilizar os módulos de “partículas especiais” disponíveis nos simu-
ladores de CAE, conforme a nossa abordagem. Detalhadamente, a dificuldade com essa
técnica é a transmissão da informação proveniente do gerador de eventos para o simulador
dos CAEs. A aproximação existente ocorre ao repassar toda a lista de partículas para o
simulador do chuveiro. Existem partículas provenientes do gerador de eventos que não
são reconhecidas pelo simulador do CAE e, portanto, é necessário tratá-las. A maneira
mais imediata é, sempre que possível, decaí-las em partículas conhecidas e repassá-las.
Isto pressupõe que estas partículas não interagem antes de decair. Caso ainda sobre al-
guma partícula não reconhecida, esta será ignorada. Embora pareça uma aproximação
grosseira, vale lembrar que píons e káons constituem basicamente 95% do resultado da
interação hadrônica [36].
A segunda aproximação envolve a consideração de efeitos exóticos. Em particular, os
efeitos exóticos são a produção de Condensados Quirais Desorientados (CQDs). Este é
um efeito que não está contido em nenhum dos geradores de eventos disponíveis e, por-
tanto, precisa ser imposto “à mão”. Nesta abordagem, não utilizamos completamente a
lista de partículas fornecida pelo gerador de eventos: repassamos ao simulador do CAE
apenas os píons, redistribuindo as suas cargas convenientemente (Fig. 5.6). Ao redistri-
buirmos a carga dos píons, as outras partículas devem ser obrigatoriamente descartadas,
já que estas não fazem mais sentido.
Embora a distribuição de momento transverso seja afetada pela presença dos CQDs,
vamos desconsiderar este efeito que em colisões da ordem de magnitude desejada o
5.5 Abordagem Computacional 65
momento transverso é muito menor que o longitudinal. Portanto, a descrição de momen-
tos obtida do gerador de eventos é satisfatória. Além disso, o foco é avaliar o efeito da
distribuição de carga dos píons nos observáveis do CAE, uma vez que este é o principal
efeito da presença dos CQDs.
Apesar de simples, esta abordagem permite entender qualitativamente o impacto da
distribuição de carga dos hádrons (píons) primários na evolução do CAE. Píons são a
componente majoritária da saída de uma colisão núcleo-núcleo, carregando consigo a
maior parte da energia e momento da colisão. Também são os principais responsáveis pela
produção de múons, o que ocorre nos primeiros momentos do desenvolvimento do CAE
[8, 16]. Como os múons são um canal aproximadamente estável (Fig. 2.4), esperamos
que este não seja sensível ao “excedente” da colisão primária
2
, refletindo adequadamente
o impacto da presença dos CQDs.
Figura 5.6: Abordagem computacional para a incorporação dos CQDs
2
As próximas partículas relevantes nesta hierarquia seriam os káons. Como estes não teriam a sua fração
alterada, o seu impacto seria diminuir ligeiramente os efeitos observados.
5.6 Resultados Preliminares 66
5.6 Resultados Preliminares
Para o desenvolvimento da simulação proposta aqui, utilizamos o PYTHIA [100] como o
gerador de eventos inicial. De posse da lista de partículas resultantes, extraímos os píons e
os repassamos de acordo com a carga desejada, em conformidade com a que descrevemos
na seção anterior. Nesta simulação, utilizamos o Sibyll 2.1 para o desenvolvimento do
restante do CAE e os resultados apresentado aqui são com base em simulações de 300
chuveiros, com thinning
3
relativo de 10
6
. A listagem de partículas foi extraída de uma
colisão pp para 10
5
e 10
8
TeV e as comparações foram realizadas entre eventos com fração
de pions neutros nula,
1
3
e 1.
Analisando a distribuição lateral de partículas no solo, observamos discrepâncias re-
levantes apenas para o número de múons em chuveiros de 10
5
TeV e quando comparamos
eventos de fração nula, i.e., sem a presença de píons neutros, a eventos de fração
1
3
. Na
Fig. 5.7 podemos ver que estas discrepâncias chegam a 30%.
Figura 5.7: Distribuição lateral de partículas no solo para um chuveiro de 10
5
TeV [1].
3
Uma breve descrição pode ser encontrado no Apêndice A.
5.6 Resultados Preliminares 67
É interessante notar que este efeito não foi observado na simulacão a 10
8
TeV. Este fato
pode ter ocorrido devido ao aumento da multiplicidade. Embora a fração seja a mesma,
o número absoluto de píons era maior para energias mais elevadas. Isso provavelmente
reduziu o impacto da variação dos múons.
No caso onde a f = 1, i.e., onde haviam somente píons neutros, somente desvios
da ordem de 5% foram observados, independente da energia do primário. É curioso por-
que neste caso poderíamos esperar uma baixa significativa na produção de píons, com
uma variação semelhante aquela que ocorreu no caso onde f = 0. Flutuações inerentes
ao CAE poderiam ser responsáveis pela flutuação tão pronunciada quanto àquela obtida
anteriormente, entretanto, a realização de 300 CAEs deveria ser suficiente para encobrir
flutuações tão extremas. A probabilidade de que houvesse diversas flutuações tendendo
para o mesmo comportamento para tantos eventos é desprezível.
A segunda quantidade analisada foi a posição da máximo do CAE. A tabela 5.2 mostra
os resultados obtidos, comparando-os ao máximo de um próton e de um ferro, ambos
completamente simulados pelo AIRES.
Tabela 5.2: Comparativo do X
max
para os diferentes primários e frações de píons neutros. À
esquerda, resultados para 10
5
TeV e à direita, resultados para 10
8
TeV.
Evento X
max
incerteza X
max
incerteza
p 678 39 863 41
Fe 575 28 848 44
f = 1/3 629 21 959 43
f = 0 628 26 950 40
f = 1 620 22 955 32
Existem alguns pontos que rapidamente podemos observar. O primeiro é variação
imperceptível da posição do máximo para as diferentes frações, independentemente da
energia. Comparando com a Eq. 2.21, vemos que a variação não era, de fato, esperada. A
5.6 Resultados Preliminares 68
posição do máximo apenas não possui dependência com a fração de píons. Por outro lado,
é fácil perceber a dependência com a energia e com o primário, como já era esperado. Por
fim, destacamos o impacto causado pela ausência das demais partículas. Note que uma
variação 10% quando comparamos a simulação completamente administrada pelo AI-
RES com a nossa simulação. Isso indica que as partículas descartadas não desempenham
um papel tão importante, em acordo com a nossa expectativa inicial quando discutimos a
validade do tratamento empregado.
Lembramos que esta simulação foi baseada em apenas uma lista de partículas prove-
niente de uma colisão pp e não de uma colisão núcleo-núcleo, que é onde esperamos que
os CQDs sejam realizados. Para interações com tantos nucleons, o resultado é que, em-
bora os píons sejam a fração dominante em número de partículas, a maior parte da energia
segue com os nucleons expectadores que não participam efetivamente da colisão. Estes
iniciarão novos subchuveiros e podem produzir mais múons, mascarando parte deste ex-
cesso apresentado, embora dificilmente a nova produção seja suficiente para eliminar uma
diferença tão elevada. Além disso, utilizamos uma única lista de partículas. Se, por um
lado, isso garante um resultado “puro” na medida em que não incluímos flutuações perti-
nentes ao resultado da colisão primária, por outro nos deixa vulneráveis visto que a lista
obtida pode conter eventos raros. De outro modo, pode apresentar desvios grandes em
relação aos valores médios. A análise desses eventos extremos, onde utilizamos fração
nula e fração 1, nos sugere limites superiores para os efeitos aqui apresentados. Adici-
onalmente, estas simulações não devem ser entendidas como um resultado definitivo e
sim como um indicativo de que as colisões primárias podem afetar o desenvolvimento e
a observação de quantidades relevantes.
5.7 Expectativas e projetos em andamento 69
5.7 Expectativas e projetos em andamento
5.7.1 Projetos em andamento
Os resultados apresentados anteriormente naturalmente induzem um estudo sistemático
e mais quantitativo a respeito do efeito da interação primária. Visando uma abordagem
mais robusta e resultados mais confiáveis, estamos preparando uma análise baseada na
comparação de observáveis e no resultado da colisão primária. Embora a técnica em-
pregada seja similar àquela utilizada anteriormente, optamos por recorrer a simuladores
que se concentram em descrever com precisão os dados atuais sobre interações hadrôni-
cas, com ênfase nas colisões núcleo-núcleo. Em substituição ao PYTHIA, utilizaremos
o HIJING (Heavy Ion Jet INteraction Generator) [101] e o EPOS. O primeiro é uma ex-
tensão do PYTHIA voltada para a descrição dos dados sobre interações próton-núcleo em
aceleradores recentes como RHIC (Relativistic Heavy Ion Collider), enquanto o segundo
possui uma abordagem alternativa para a descrição da colisão, privilegiando os dados de
RHIC. Além disso, o EPOS ganhou destaque pela elevada produção de múons e parece
fornecer uma descrição diferenciada do fenômeno. O objetivo é avaliar os observáveis
mais comuns do CAE e compará-los frente ao resultado da colisão primária fornecida
pelos EPOS e pelo HIJING.
Sobre a conexão de CQDs, utilizaremos o cenário construído anteriormente para obter
uma listagem de partículas proveniente de uma colisão núcleo-núcleo, ao invés de uma
colisão pp como realizamos previamente. Além disso, realizaremos simulações utilizando
diversas listas, a fim de captar as flutuações na distribuição de momentos que podem
ocorrer em uma colisão. Também esperamos avaliar a dependência com a fração de píons
para uma faixa de energia e estimar o impacto que a presença das demais partículas pode
causar nos efeitos observados.
5.7 Expectativas e projetos em andamento 70
5.7.2 Expectativas
Os dois simuladores escolhidos para avaliar o impacto da interação primária têm carac-
terísticas bem diferentes e permitirão uma análise bastante interessante. O HIJING é um
código desenvolvido com ênfase na descrição de dados experimentais, sendo uma exten-
são do PYTHIA. O seu foco não é a aplicação na física de RCs. Por outro lado, o EPOS é
um gerador desenvolvido para a simulação de CAEs, porém tentando incluir efeitos cole-
tivos, como saturação de pártons, de modo a descrever os dados existentes tão bem quanto
possível. São simuladores reconhecidos na comunidade científica embora voltados para
áreas diferentes. Tendo em mente os resultados preliminares apresentados na seção ante-
rior, é natural imaginar que o papel principal será agora dado pela distribuição de hádrons,
enquanto antes este papel era desempenhado pela fração de píons. As diferenças deste na
colisão inicial irão afetar a competição entre as componentes eletromagnética e hadrônica,
provavelmente gerando diferenças na distribuição lateral de partículas e na distribuição de
partículas. Cabe ressaltar que não esperamos diferenças tão extremas quanto aquelas que
supomos na análise preliminar dos CQDs e, portanto, a expectativa é que qualquer efeito
observado não deverá ser tão expressivo.
Para um estudo mais robusto sobre a produção de CQDs, realizaremos análises basea-
das nas distribuição de partículas provenientes de uma colisão núcleo-núcleo. Neste mo-
mento, já avaliamos a relevância da distribuição de píons do ponto de vista de quantidade
e de energia. Em média, representam 70% da quantidade de partículas porém carregam
10% da energia total. A maior parte da energia segue com os nucleons expectadores.
Apenas a colisão inicial pode gerar condições favoráveis à produção de CQDs embora
as colisões secundárias núcleon-atmosfera possam produzir mais píons. Com isso, temos
um background de píons sem correlação e com a fração próxima a 1/3, mascarando os
efeitos que os CQDs possam induzir na colisão primária. Por outro lado, os píons secun-
dários têm origem em uma interação de mais baixa energia e, como a multiplicidade e
a inelasticidade são dependentes da energia, a quantidade de píons produzidos deve ser,
5.7 Expectativas e projetos em andamento 71
em números absolutos, menor que na colisão inicial. Como o estudo inicial sugere um
efeito muito pronunciado, a expectativa é que qualquer efeito seja minimizado embora
não seja desprezível. O impacto maior deve ocorrer na distribuição lateral de múons e,
dificilmente, afetará a distribuição de energia destes, visto que os píons provenientes da
interação primária carregam pouca energia. Não esperamos que a posição do máximo seja
afetada, pois este depende majoritariamente da componente eletromagnética do CAE, que
também não deve sofrer alterações significativas. A utilização de diversas listas, a fim de
reproduzir flutuações provenientes da colisão primária deve propiciar um resultado mais
fiel àquele que poder-se-ia observar em experimentos de RCs.
Capítulo 6
Conclusão
O conhecimento das interações hadrônicas de altíssima energia é limitado e não uma
forma fechada capaz de descrever uma colisão nucleon-nucleon e, principalmente, uma
colisão núcleo-núcleo. São necessárias diversas teorias e parametrizações que não pos-
suem um intervalo de validade bem definido e que não podem ser fixadas experimental-
mente pela ausência de dados. Dentre os fatores de incerteza, identificamos a descrição
das interações macias (soft) e os efeitos não-lineares introduzidos pela alta densidade de
pártons como os efeitos mais importantes na descrição do processo e na construção dos
simuladores. Cabe ressaltar que outros fatores como a descrição dos processos difrativos
e a descrição da partícula líder não foram tratados aqui mas devem ser considerados como
fatores de incerteza.
A presença de tantos fatores de incerteza induz à construção de simuladores varia-
dos. Embora concordem sobre os princípios teóricos relevantes, cada simulador tem uma
maneira peculiar de tratá-los, enfatizando processos físicos que os seus autores acham
mais relevantes. Variam significativamente em sofisticação apesar de todos fornecerem
uma descrição razoável dos dados de aceleradores existentes atualmente. Não é possível
distinguir qual simulador é melhor nem do ponto de vista teórico nem do ponto de vista
experimental e, portanto, são necessárias comparações com dados de novos aceleradores
73
e observatórios para que uma restrição sobre os modelos possa ocorrer.
A variabilidade tem reflexo na descrição das seções de choque, da multiplicidade e da
inelasticidade que, consequentemente, impactam observáveis como X
max
e a produção
de múons. A medição simultânea e complementar de vários observáveis é necessária para
avaliar as extrapolações realizadas e traçar novas diretrizes.
Ressaltamos que colisões hadrônicas de altíssima energia têm lugar apenas no estágio
inicial de um CAE, não passando da terceira ou quarta geração de partículas. De posse
das variações observadas nas simulações e comparativos, que podem chegar a 20%, somos
levados a concluir que estas têm influência decisiva na análise de CAEs e que as colisões
iniciais são determinantes para a evolução do CAE. Em particular, acreditamos que a
colisão primária - e somente esta - pode afetar o desenvolvimento da cascata de modo
significativo. Efeitos exóticos devem ser investigados e a inclusão de efeitos coletivos para
a descrição desta colisão devem ser considerada. Deste modo, entendemos ser possível
estudar e aprender sobre transição de fase quiral, produção de plasma de quarks e glúons,
“color glass condensates” e outros fenômenos da QCD dentro do contexto de RCs. Um
estudo quantitativo, visando mensurar o efeito da primeira colisão, já está em andamento
e alguns resultados devem ser publicados em breve [2].
Quanto aos Eventos Centauros, seria muito interessante do ponto de vista teórico
conectá-los à produção de CQDs. Entretanto, efeitos de múltiplos domínios, a possibili-
dade de formação e CQDs na colisão secundária e a baixa quantidade de píons correlacio-
nados tornariam a observação de um evento com desbalanceamento de píons tão evidente
quanto os Centauros extremamente raros. Avaliando apenas a possibilidade de observa-
ção de CQDs, independentemente de sua possível correlação com os Eventos Centauro,
acreditamos que estes seriam muito raros e sua observação seria muito difícil.
Apêndice A
Sobre simuladores de CAEs
A.1 Considerações Gerais
A receita para a construção de um simulador de CAEs inclui pacotes para a simulação de
interações hadrônicas de alta e baixa energia, interações eletromagnéticas e um algoritmo
de thinning. A divisão entre baixa e alta energia é arbitrária e cada simulador de CAEs tem
o seu ponto de corte (tipicamente por volta de 100 GeV). Dentre as rotinas mais comuns
para a descrição de eventos hadrônicos de baixa energia destacam-se o GHEISHA [102],
UrQMD [103] e o Hillas splitting algorithm (HSA) [104]. Todos os modelos têm uma
abordagem fenomenológica e são fortemente vinculados aos resultados de aceleradores.
GHEISHA foi baseado em uma série de resultados experimentais para uma variedade de
combinações projétil-alvo na região de alguns GeV e, consequentemente, reproduz bem
as seções de choque e a produção de partículas. O modelo UrQMD (Ultra-Relativistic
Quantum Molecular Dynamics) foi desenvolvido para colisões de íons pesados e contém
uma abordagem teórica mais robusta quando comparado ao GHEISHA. A descrição de
Hillas é bastante simples mas, em contra-partida, é computacionalmente mais rápida. Em
linhas gerais, a energia inicial é distribuída aleatoriamente em pacotes cada vez menores,
com a identidade dos secundários sendo determinadas através de probabilidades forneci-
A.1 Considerações Gerais 75
das externamente. Apesar da simplicidade, o algoritmo de Hillas é capaz de reproduzir a
multiplicidade e a distribuição de energia dos secundários adequadamente. Entretanto, é
necessário fornecer como entrada as seções de choque e incluir procedimentos adicionais
para reproduzir o momento transverso. O algoritmo de Hillas também pode ser utilizado
para interpolar os limites das rotinas de baixa e alta energia, isto é, suavizar a descrição
da zona intermediária, onde as rotinas precisam ser extrapoladas e perdem parte do seu
poder preditivo (Fig. A.1).
Em contraste com as interações hadrônicas, as interações eletromagnéticas podem ser
precisamente calculadas via eletrodinamica quântica utilizando-se pacotes como EGS4
[105] e GEANT
1
[106]. Deve-se notar, porém, que uma variedade de efeitos desprezí-
veis a baixas energias tornam-se relevantes a altíssimas energias (e.g., γ µ
+
µ
) e,
usualmente, não são considerados nestes pacotes. Em geral, estas interações são bem co-
nhecidas e seus códigos são bem estabelecidos. Não pretendemos, portanto, realizar uma
discussão extensa aqui. Maiores detalhes podem ser encontrados em [107, 77].
Para finalizar o pacote de gerenciamento da simulação de CAEs é fundamental um
algoritmo de Thinning. A simulação de CAEs envolve um grande número de partículas
( 10
11
no seu máximo), tornando proibitiva a descrição completa de todas as partículas
durante sua evolução
2
. Para o gerenciamento computacional, Hillas introduziu o algo-
ritmo de thinning. Este algoritmo armazena apenas uma fração das partículas e associa a
elas um peso estatístico, com a finalidade de compensar as demais partículas descartadas.
O algoritmo atua cada vez que novas partículas são geradas. Apesar da redução do tempo
de processamento, este algoritmo é responsável por introduzir flutuações artificiais nos
observáveis. Entretanto, os parâmetros que regulam o thinning não afetam os valores mé-
1
Na realidade, este pacote é mais geral e apenas a parte que descreve as reações eletromagnéticas é
utilizada.
2
Na realidade, é possível simular alguns CAEs completamente, sem a necessidade do thinning. En-
tretanto, devido ao grande recurso computacional necessário e ao longo tempo de processamento, é inviável
realizá-lo na prática.
A.2 CORSIKA x AIRES 76
dios, somente as flutuações. Tipicamente, o método é mais eficiente para as regiões mais
próximas ao eixo principal do CAE, onde a densidade de partículas é maior, enquanto as
regiões mais afastadas possuem flutuações maiores.
A.2 CORSIKA x AIRES
Atualmente existem dois pacotes principais de programas responsáveis pelo gerencia-
mento e evolução dos CAEs: CORSIKA (COsmic Ray SImulation for KAscade) [108] e
AIRES (AIR Shower Extended Simulation) [25]. Ambos têm características semelhantes
e boa aceitação dentro da comunidade científica. Em linhas gerais, podem receber fótons,
prótons e núcleos como primários. Incluem correções para a superfície curva da Terra
e para o campo geomagnético em diferentes pontos. A U.S. Standard Atmosphere é o
modelo atmosférico assumido.
O AIRES foi baseado no código MOCCA e foi revisto e ampliado. Para o tratamento
de interações hedônicas de alta energia, inclui links para o Sibyll (versões 1.6 e 2.1) e
QGSJET (versões 98 e II). Para as interações de baixa energia, utiliza o HSA. Tem método
próprio para descrever as interações eletromagnéticas e utiliza uma versão adaptada do
algoritimo de thinning [25] desenvolvido por Hillas, incluindo um limitador para o peso
estatístico.
O CORSIKA foi desenvolvido durante os últimos 15 anos, em virtude do experimento
Kascade [5]. No que diz respeito as interações de alta energia, CORSIKA fornece acesso
a uma variedade de pacotes: HDPM [109, 110], Sibyll [72, 73, 74], DPMJET [61, 62],
VENUS [111], QGSJET [69, 70], NeXus [66, 67] e EPOS [68]. Para processo de baixa
energia, utiliza o GHEISHA e o UrQMD. Para interações eletromagnéticas, utiliza uma
versão adaptada do EGS4, a fim de incluir a densidade variável da atmosfera. Utiliza uma
versão otimizada para o thinning [77, 112], que também inclui limitadores para o peso
estatístico.
Resumidamente, CORSIKA prioriza a evolução detalhada do CAE, modelando cada
A.2 CORSIKA x AIRES 77
processo individualmente tanto quanto possível. O AIRES utiliza o HSA e técnicas pró-
prias para as interações eletromagnéticas, o que diminui o esforço computacional. Deste
modo, AIRES é 3.5 vezes mais rápido que o CORSIKA quando comparado com thin-
ning equivalente. Adicionalmente, os arquivos de saída gerados pelo AIRES são menores
do que aqueles gerados pelo CORSIKA, uma vez que o primeiro utiliza um formato pró-
prio de compactação. Numericamente, apesar de ambos guardarem 8 informações por
partícula, AIRES utiliza 18 bits por informação contra 32 do CORSIKA. Para simulações
de CAEs de altíssima energia, estes são fatores relevantes, principalmente se considerar-
mos limitações computacionais. Quantitativamente, as distribuições lateral e longitudinal
bem como os máximos (posição e número de particulas) fornecidos por AIRES e COR-
SIKA concordam razoavelmente, com discrepâncias de, no máximo, 20% [77].
A.2 CORSIKA x AIRES 78
Figura A.1: Número médio de secundários e proporção de píons (neutros + carregados) versus a
energia primária (no referencial do laboratório) para colisões p Ar. Os triângulos e quadrados
correspondem ao GHEISHA e ao QGSJET, respectivamente, e os círculos cheios mostram o HSA
ajustado para reproduzir GHEISHA na região GeV e o QGSJET na região acima de 100 GeV.
Adaptado de [77]
Glossário
CAE: Chuveiro Aéreo Estendido.
CPCA: Conservação Parcial de Corrente Axial.
CQD: Condensados Quirais Desorientados.
DLP: Densidade Lateral de Partículas.
DIS: Deep Inelastic Scattering (Espalhamento Porfundamente Inelástico).
DPM: Dual Parton Model.
LHC: Large Hadron Collider.
MC: Monte Carlo.
NGA: Núcleo de Galáxias Ativas.
PLC: Perfil Longitudinal do Chuveiro.
QCD: Quantum Chromodynamics (Cromodinâmica Quântica).
QES: Quebra Espontânea de Simetria.
QGS: Quark-Gluon String Model.
RC: Ráios Cósmicos.
RCFM: Radiação Cósmica de Fundo em Microondas.
TQC: Teoria Quântica de Campos.
TRG: Teoria de Regge-Gribov.
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