dia no seu grupo social. Dessa forma, iniciam sua escolarização com desvantagem em
relação às crianças da escola particular.
Cagliari (1992) aponta esta observação e nos diz que:
Uma criança que viu desde cedo sua casa cheia de livros, jornais, revistas, que
ouviu histórias, que viu as pessoas gastando muito tempo lendo e escrevendo,
que desde cedo brincou com lápis, papel, borracha e tinta, quando entra na
escola encontra uma continuação de seu modo de vida e acha muito natural e
lógico o que nela se faz. Uma criança que nunca viu um livro em sua casa,
nunca viu seus pais lendo jornais ou revistas, que muito raramente viu alguém
escrevendo, que jamais teve lápis e papel para brincar, ao entrar para a escola
sabe que vai encontrar essas coisas lá, mas sua atitude em relação a isso é bem
diferente da criança citada no parágrafo anterior. E a maneira como a escola
trata da sua adaptação pode lhe trazer apreensões profundas, até mesmo
desilusões (CALIGARI, 1992, p.21-22).
Soares (2005) analisa também as diferenças culturais, sócio-econômicas e
regionais da população, apontando repercussões diferentes na alfabetização conforme a
região ou camada da sociedade:
O processo de alfabetização não ocorre da mesma maneira em diferentes
regiões do país, porque a distância entre cada dialeto geográfico e a língua
escrita não é a mesma (sobretudo no que se refere à correspondência entre o
sistema fonológico e o sistema ortográfico) – esta seria uma das (poucas)
razões para a existência de cartilhas regionais. Outro exemplo, sem dúvida
mais grave para a realidade brasileira do que o exemplo anterior: a natureza do
processo de alfabetização de crianças das classes favorecidas, que convivem
com falantes de um dialeto oral mais próximo da língua escrita (a chamada
“norma padrão culta”) e que têm oportunidade de contato com material escrito
(por intermédio, por exemplo, de leituras que lhes são feitas por adultos) é
muito diferente da natureza do processo de alfabetização de crianças das
classes populares, que dominam um dialeto em geral distante da língua escrita
e têm pouco ou nenhum acesso a material escrito (p.20).
A criança que convive com a leitura e escrita no seu ambiente cotidiano,
ingressa na escola, para oficializar o conhecimento que já adquiriu em suas relações
familiares e sociais, sem grandes dificuldades. No entanto encontra uma instituição com
desafios a enfrentar, metas a cumprir e satisfações a dar (para pais, Núcleos Regionais
de Educação, psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, terapeutas, neurologistas,
equipe diretiva, orientadoras, coordenadoras) e as dificuldades destes alunos na
aprendizagem, são reais. Não tanto no que diz respeito à aprendizagem, mas na
adaptação ao novo sistema de aprendizagem. “Em suma, falhando na sua tarefa
pedagógica, a escola passa a apontar cada vez mais uma série de ‘patologias nas
crianças’” (SMOLKA, 1989, p.17). Não conseguindo dar conta do seu papel de ensinar,
a escola aponta fatores que passam a ser a causa do fracasso escolar, como dislexia,