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chamado “Vadico”, já com 33 anos, graças ao incentivo do produtor musical
Toninho Cerezzo, que morreu tragicamente, uma pessoa que me fez acreditar
mais em mim, pois eu gravava sempre como músico de estúdio (acompanhan-
te). Um pouco depois, eu comecei a tocar com o Toquinho e Vinícius. Eu entrei
porque eu era amigo de infância do Toquinho, da época da bossa nova, e ele
não queria colocar nenhum pianista, porque ainda tinha esperanças quanto ao
Tenório Júnior
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. Esse foi um divisor de águas, onde eu pude viajar o mundo
todo, me fixar profissionalmente, tendo tempo para escrever os arranjos do meu
disco solo que iria sair pelo Som da Gente, em 1981.
na música instrumental brasileira na década de 1980. “Aqueles músicos foram responsáveis por
um surto criativo absolutamente notável, que, à época, tinha seu pólo principal na cidade de
São Paulo. Geralmente, a maioria dos músicos responsáveis por aquele boom estavam ligados a
selos independentes, e não a grandes gravadoras, numa época pré-CD, muitas das gravações
permaneceram apenas em vinil. O mais radical e criativo conjunto surgido nessa fase foi o Gru-
po Um, liderado por Luiz Eduardo (Lelo) Nazário aos teclados e integrado por seu irmão Zé
Eduardo (bateria e percussão), Zeca Assumpção (contrabaixo) e Mauro Senise (sopros). O seu
disco de estréia, "Marcha sobre a cidade", de 1979, produzido pelo saudoso Lira Paulistana,
assombra pela total e furiosa liberdade criativa, em faixas como "A porta do 'sem nexo'" e "54754
P(4) D(3) 0". O disco constitui um verdadeiro manifesto free brasileiro [...] a música do Grupo
Um, resultado de um pensamento musical altamente estruturado, estava longe de ser caótica
e/ou maçante como a da maioria dos grupos free tradicionais, e dispunha ademais de uma es-
timulante pulsação, um beat especificamente brasileiro. O terceiro e último disco do grupo, "A
flor de plástico incinerada", celebra a aliança com a música experimental eletrônica, numa for-
mação que já trazia o talentoso Teco Cardoso aos sopros. [...] Se o Grupo Um representava o
rigor criativo e o experimentalismo, a potência telúrica estava com o Medusa. Em seu disco de
estréia, "Medusa", estão reunidos alguns dos melhores músicos brasileiros, responsáveis por
uma coesão harmônica e rítmica extraordinária: Amílson Godoy (piano), Cláudio Bertrami (con-
trabaixo fretless), o mestre Heraldo do Monte (guitarra, violão, bandolim) e Chico Medori (bate-
ria), contando ainda com Theo da Cuíca e Jorginho Cebion atuando na percussão. O "Medusa"
poderia ser sido uma das mais perfeitas máquinas instrumentais brasileiras [...] Os arranjos,
sempre objetivos e nunca prolixos, colocavam em relevo a incrível competência dos improvisa-
dores, especialmente Heraldo, cuja inventividade melódica parece inesgotável, e Bertrami, que
fazia o contrabaixo fretless cantar, proeza que Medori inexplicavelmente também conseguia
fazer com a bateria.” (BEZERRA, 1998).
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Francisco Tenório Cerqueira Júnior, pianista brasileiro, um dos profissionais brasileiros mais
requisitados pelos artistas na década de 1970, desapareceu misteriosamente em Buenos Aires no
dia 27 de março de 1976, enquanto acompanhava os artistas Toquinho e Vinícius de Moraes em
show na Argentina. Na ocasião, deixou no hotel um bilhete no qual estava escrito: Vou sair pra
comprar cigarro e um remédio. Volto Logo. Nunca mais voltou. Dez anos após o seu desapareci-
mento, Cláudio Vallejos, torturador e ex-integrante do serviço secreto da Marinha Argentina
revelou que ele tinha sido abordado por homens que trabalhavam para o regime militar. Se-
questrado, torturado e morto com um tiro na cabeça, Francisco Tenório tinha 33 anos e deixou,
na ocasião, quatro filhos e a esposa grávida de oito meses. Fora visto a última vez no ano de
1977 em uma prisão em La Plata, segundo entrevista de Elis Regina dada a Folha de São Paulo
em 3 de junho de 1979.