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Era sábado, 16 de abril de 1911, quando os grupos carnavalescos Sereno de
Prata, Caprichosos de Madureira
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e Cornetas de Madureira decidiram sair, à noite,
pelas ruas da 6
a
Circunscrição Suburbana para realizar uma “passeiata”. Ao se
encontrarem no largo do Otaviano – cujo nome faz referência ao dono daquela venda
que proibiu a doméstica Eulália de fazer compras –, ocorreu uma briga entre os
membros dos grupos, da qual saíram feridos dois integrantes do Sereno de Prata: Juca
Bombacha, que não trabalhava mais como cigarreiro e sim como cozinheiro do navio
Pestroe, cuja residência a esta época não era em Madureira, mas no centro da cidade, na
rua Marquês de Pombal 61, e Leonel Rosa, brasileiro, criado doméstico, morador na
estrada Marechal Rangel número ignorado, ambos identificados como pardos no exame
de corpo de delito, com 27 anos e analfabetos. Mas também Beraldo Afonso da Costa,
membro dos Caprichosos de Madureira, brasileiro, sabendo ler e escrever, também
pardo, operário, 30 anos, cujo endereço era travessa Julio Fragoso 7
A
. Sendo o primeiro
a prestar declarações junto à polícia, Beraldo disse que:
[...] autorizado pela Polícia deste Distrito, esse grupo [Caprichosos de
Madureira] saiu em passeata, com destino ao Rio das Pedras a fim de
encontrar-se com o grupo “Corneta de Madureira”, e incorporados
regressaram para a estação de Madureira, que ao chegarem próximo à
respectiva sede que é nas proximidades do largo do Otaviano, surgiu o
Grupo Sereno de Prata, do qual fazem parte José de Almeida, vulgo
Juca Bombacha, Leonel Rosa, conhecido por Otavio, e José Rosa da
Silva, digo Leonel Rosa, Ernani Rosa, conhecido por Otavio, e sem uma
razão justa foi o Grupo Caprichosos de Madureira agredido por esses
indivíduos que se achavam armados de navalha, revólver e cacete,
resultando sair o depoente ferido, sendo o autor do seu ferimento Juca
Bombacha, e originando o conflito para outros também feridos, sabendo
depois que o dito Bombacha também recebeu um ferimento, assim
como Leonel Rosa; que esse conflito foi originado pelos principais
autores: Juca Bombacha, Leonel Rosa, Ernani Rosa e um preto que o
depoente não conhece, e apenas de vista.
José Rosa da Silva, membro do Sereno de Prata, brasileiro, 21 anos, solteiro,
trabalhador, residente na estrada de Inharajá, analfabeto, alegou que:
[...] sabe que o mesmo grupo tem rixa antiga com o Grupo Caprichosos
de Madureira, e depois de uma passeiata, este grupo, ao se aproximar da
sua sede, o grupo Sereno de Prata que também regressava à sua sede, no
largo do Octaviano, encontraram-se na rua Marechal Rangel, e aí surgiu
discussões e estabeleceu-se o conflito, resultando sair feridos: Beraldo
Afonso da Costa, Leonel Rosa, e José de Almeida, vulgo Juca
Bombacha; que o depoente soube que o autor do ferimento de Juca
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ARQUIVO NACIONAL, Série Processos Criminais, Notação 7G1630.