ideológico firmado. Aliás, nessa época, entrar para o Partido não era fácil. Os
simpatizantes ficavam muito tempo em período de provação. Era mister dar provas
durante anos, principalmente no que se referia à submissão ideológica ao stalinismo.
Pois essa foi a fase mais temível do stalinismo, logo depois da morte de Lenine.
Quando me tornei trotskista, Trotski já fora, havia três anos, expulso da Rússia.
E o PC brasileiro de então já estava bem organizado. Talvez a rede não fosse
imensa, mas era estendida, ocupava todo o país. E uma vez que no sistema de 1930,
tempo de ilegalidade, ninguém podia ir abertamente se manifestar na rua,
aproveitavam-se, então, os movimentos liberais, como, por exemplo, a revolução de
São Paulo em 1932. A primeira vez em que o comunismo mostrou a cara na rua foi
em 1935; mas, antes disso, descoberto qualquer movimento ilegal, a repressão era
implacável. [...] (QUEIROZ; QUEIROZ, 1998, p. 73-74).
Imbuídos de um ideal, dispunham-se os militantes a
aceitar todas as submissões exigidas pelo Partido,
até mesmo a possibilidade de morrer, de matar, a fim
de conquistar a simpatia da cúpula dirigente. A
mocidade mais intelectualizada era dominada por
uma vontade, quase uma obrigação, de pertencer a
algum movimento político. O ídolo dos militantes
era Luís Carlos Prestes, o principal elemento de
contato com a União Soviética: "Tudo o que se
recebia de lá vinha através do Uruguai e era então
passado para o pessoal do Rio, que distribuía o
material para nós, nos estados. E tudo mal traduzido
do espanhol" (QUEIROZ; QUEIROZ, 1998, p. 37).
Em 1931, Raquel já estava, como muitos, "politizada" e "comunizada". A inserção no
PCB se dava na mais absoluta clandestinidade, por conta da repressão:
[...] Não me lembro de fazerem inscrições em livro ou mesmo em papel apropriado;
nem boletins, nem ordens de serviço, nada. Ao contrário, era preciso ter mais
cuidado com papéis, documentos e até livros, porque a polícia era brutal e levava
logo tudo para a cadeia. Papéis e pessoas (QUEIROZ; QUEIROZ, 1998, p. 37).
Nesse ano, regressou ao Ceará e levou consigo
credenciais do Partido e a missão de promover a
reorganização do Bloco Operário e Camponês,
esmagado pela polícia presidencial. Devido às
dificuldades encontradas para organizar um grupo
coeso - pois, em Fortaleza, havia um reduzido
número de militantes instruídos -, Raquel tornou-se
uma espécie de consultora, logo, promovida ao
cargo de secretária do PCB no Ceará - não por
mérito, diz ela, mas por ser capaz de escrever e
datilografar. Recebia as correspondências e o
material de propaganda e participava assiduamente
das reuniões clandestinas, sendo que várias delas
foram realizadas no Pici (sítio da família da
escritora), que era um ponto até então fora de