A noção de sublime em Kant 35
composição, unifica elementos que não pertencem necessariamente um ao outro,
isto é, não se ligam a priori, mas arbitrariamente, como também, elementos
homogêneos, quer dizer, referentes a uma mesma faculdade do conhecimento. No
sublime matemático, a composição requerida pela grandeza em causa encontra-se
comprometida, pois o objeto que se apresenta ao ânimo não se presta a uma
síntese por composição. Neste juízo, faceamos grandezas que são infinitas, não
delimitáveis e, por isso, não quantificáveis, pelo menos, segundo um padrão de
medida numérico-conceitual onde possam se apoiar imaginação e entendimento.
Não que a composição, em si, apresente alguma dificuldade ao entendimento ou à
imaginação. Tudo que nos é dado à intuição é, a princípio, fenômeno, e por isso,
grandeza extensiva, ou seja, quantificável, mesmo que esta quantificação envolva
medidas excepcionais. Nesta medição, a imaginação coberta pelo entendimento, é
capaz de progredir infinitamente sem qualquer impedimento, desde que guiada
por conceitos numéricos. Trata-se, neste caso, de uma avaliação lógica de
grandezas (comprehensio logica), que concerne a conceitos e é conforme a leis. A
experiência sublime é estética, diz respeito à avaliação estética de grandezas
(comprehensio aesthetica), e nisto, a apreensão não se faz progressivamente e
segundo conceitos, mas em uma única intuição. No sublime, trata-se da grandeza
em si mesma, imediatamente percebida, não decomponível, não fenomenal. Um
absoluto além de toda medida, como diz Lyotard, e acrescenta, “[...] o infinito
como totalidade atualmente dada ao pensamento, não pertence ao mundo, é o seu
‘substrato’. E o pensamento que o concebe se chama razão”
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, como veremos.
A síntese dinâmica, que funciona por conexão, estabelece um nexo entre
elementos heterogêneos e que se ligam a priori, isto é, que necessariamente
pertencem um ao outro. No sublime dinâmico, a síntese realizada é igualmente
referida a elementos necessários mas heterogêneos, digo, a elementos respeitantes
a faculdades diferentes. Por um lado, existe a grandeza que se representa
sensivelmente, mesmo que por projeção, por outro, a causa desta projeção
sensível, que não se deixa apreender intuitivamente. É causalidade inteligível, nos
aponta Lyotard, que por esta designação entende “[...] o que num objeto dos
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LYOTARD, Jean-François. Op. cit. p. 110.