exibida cadela, ainda bem que é só no pardieiro dela
que mostra as vergonhas [...] E para Ehud, Hillé, foi
apenas uma letra D, primeira letra de Derrelição, doce
curva comprimindo uma haste, verticalidade sempre
reprimida, cancela trinco, tosco cadeado (HILST, 2001,
p. 28).
Para a vizinhança, Hillé é a “exibida”, e para Ehud, a esposa é signo
do que está fechado, como cancela, cadeados.
Fechada na representação redutora daqueles que só percebem a
exterioridade das palavras, Hillé se volta para a obscenidade latente na morte e no
gozo divino:
O olho dos bichos é uma pergunta morta.
E depois vi os olhos dos homens, fúria e pompa, e mil
perguntas mortas e pombas rodeando um oco e vi um
túnel extenso forrado de penugem, asas e olhos,
caminhei dentro do olho dos homens, um mugido de
medos garras sangrentas segurando ouro, geografias
do nada, frias, álgidas, vórtice de gentes, os beiços
secos, as costelas à mostra, e rodeando o córtice
homens engalanados fraque e cartola, de seus peitos
duros saíam palavras Mentira, Engodo, Morte,
Hipocrisia, vi o Porco-Menino estremecendo de gozo
vendo o Todo, suas mãozinhas moles reverberavam no
cinza oleoso, ele estendia os dedos miúdos para o alto,
procurava quem? Seu irmão gêmeo, estático, os olhos
cegos em direção ao próprio peito, a cabeça pendiam o
corpo perolado, excrescência e nácar (HILST, 2001, p.
31).
A imagem do menino criança na manjedoura e do homem
crucificado. O Porco-menino e seu gêmeo, ambos gozando a visão apocalíptica da
humanidade esbatendo-se contra si mesma, tentando em vão salvar-se da
inexorável morte é congruente a de Hillé, morrendo em gozo absoluto:
¿Se muere alguien?
Agora vamos, tira a roupa, pega, me beija, abre a boca,
mais não geme assim, não é para mim esse gemido,
eu sei, é pra esse Porco-Menino que tu gemes, pro